Farmácia
Portuguesa BIMESTRAL • N°167 • JANEIRO/FEVEREIRO 07
Compromisso com a Saúde
Unidade, o activo mais valioso da ANF
Campanhas 2007 Farmácias chamadas a informar FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 1
2 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
sumário
Janeiro/Fevereiro de 2007 • Ano XXIX • Nº 167 Publicação bimestral • ISSN 0870-0230 • DGCS 101528
8 Dossier UNIDADE, O ACTIVO MAIS VALIOSO DA ANF Esta foi a mensagem transmitida pelo presidente da ANF nas doze reuniões descentralizadas, onde deu a conhecer aos associados os últimos avanços legislativos e fez o ponto da situação do Compromisso com a Saúde. A estas reuniões aderiram duas mil farmácias, comprovando precisamente a unidade.
Editorial Editorial
5
Prevenção da transmissão vertical do HIV-1 Prevention of the vertical transmition of HIV-1
6
Unidade, o activo mais valioso da ANF Unity, the most valuable asset of ANF
8
Entrevista com Manuela Teixeira Interview with Manuela Teixeira
16
Restruturação do Cedime Cedime Restructuring
26
Informação Terapêutica - Disfunção Sexual Therapeutical Information - Sexual Disorder
30
Informação Terapêutica - Dor de Ouvidos Therapeutical Information - Earsache
38
Flashes Flashes
44
52
Campanhas 2007
OS ESPECIALISTAS DO MEDICAMENTO Os farmacêuticos são os verdadeiros especialistas do medicamento e é essa diferenciação que as primeiras campanhas de 2007 vão evidenciar.
Sifarma 2000 Sifarma 2000
46
Campanhas ANF 2007 ANF 2007 Campaigns
52
Participação portuguesa na Annals of Pharmacotherapy Portuguese participation on Annals of Pharmacotherapy
58
Informação Veterinária - Peladas Veterinary Information - Hairless patch
62
Museu da Farmácia Pharmacy Museum
64
Farmácia e os talentos The pharmacy and the talents
68
Medicamentos tradicionais à base de plantas Tradicional plants medicines
74
Reuniões e simpósios Meetings and simposia
77
Noticiário News
78
Homenagem Tribute
86
Cartoon Cartoon
89
Desta varanda From this balcony
90
A primeira reforça a importância da informação essencial sobre cada medicamento dispensado que o doente pode e deve esperar da Farmácia, a segunda é dirigida à segurança e efectividade da terapêutica nos idosos.
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 3
última hora
PROPRIEDADE
DIRECTOR DR. FRANCISCO GUERREIRO GOMES
Luz verde à aquisição da Alliance
SUB-DIRECTORES DR. LUIS MATIAS DR. NUNO VASCO LOPES COORDENADORA DO PROJECTO DRª MARIA JOÃO TOSCANO COORDENADORA REDACTORIAL DRª ROSÁRIO LOURENÇO Email: rosario.lourenco@anf.pt Telef. 21 340 06 50 PRODUÇÃO
Edifício Lisboa Oriente Av. Infante D. Henrique, 333 H, escritório 49 1800-282 Lisboa Telef. 21 850 81 10 - Fax 21 853 04 26 Email: farmaciaportuguesa@lpmcom.pt
A aquisição de 51 por cento da filial
to detidos pela JMS. O facto de, no
portuguesa da Alliance Unichem, pela
seu conjunto, esta ser uma quota
ANF e pela José de Mello Participa-
maioritária leva a Autoridade da
ções, não é susceptível de criar ou
Concorrência a colocar a hipótese de
reforçar uma po-
a multinacional ‒ a Alliance é líder na
sição dominante
distribuição grossista em Portugal e
CONSULTORA COMERCIAL SÓNIA COUTINHO soniacoutinho@lpmcom.pt Tel.: 96 150 45 80
da qual possam
a segunda empresa do sector na
Tel.: 21 850 31 00 - Fax: 21 853 33 08
resultar entraves
Europa ‒ ter de definir a sua estra-
à
tégia em consonância com os novos
significativos
concorrência
parceiros.
efectiva nos mer-
Recorde-se que, ao anunciar a en-
cados relevantes .
trada dos parceiros portugueses, a
O
entendimen-
Alliance Unichem, através do seu
to
pertence
à
director executivo, considerou que
da
se trata de uma aliança estratégica,
Concorrência
porquanto a ANF está excepcional-
(AdC) e está sub-
mente bem colocada como repre-
jacente à decisão
sentante profissional das farmácias
Autoridade
de aprovação do negócio, tomada a
de oficina portuguesas.
31 de Janeiro último, mais de um ano
A decisão de entrar no capital da
depois de ter sido notificada da aqui-
distribuidora europeia enquadrou-
sição, efectuada em Junho de 2005.
se na estratégia de reorganização da
No âmbito desta operação, a ANF
área empresarial da ANF, permitindo
passa a deter 49 por cento da
aos farmacêuticos reforçar a sua in-
Alliance, através da Farmindústria,
tervenção no sector da distribuição
sendo os restantes dois por cen-
grossista.
4 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
DIRECTOR DE PUBLICIDADE NUNO MIGUEL DUARTE nunoduarte@lpmcom.pt Tel.: 96 214 93 40
ASSINATURAS 1 Ano (12 edições) - 50,00 euros Estudantes de Farmácia - 27,50 euros Contacto: Margarida Lopes Telef.: 21 340 06 50 • Fax: 21 340 07 59 Email: margarida.lopes@anf.pt POWERED BY Boston Media IMPRESSÃO E ACABAMENTO RPO - Produção Gráfica, Lda. Depósito Legal nº 3278/83 Periodicidade: Bimestral Tiragem: 5 000 exemplares Distribuição
FARMÁCIA PORTUGUESA é uma publicação da Associação Nacional das Farmácias Rua Marechal Saldanha, 1 1249-069 Lisboa
www.anf.pt
editorial Combate ao pessimismo com imagem renovada Vários acontecimentos levaram-nos
ta de terreno exibindo uma política
a ir até à Farmácia Teixeira entre-
de bloco e a que, por outro lado,
vistar a sua directora técnica, Maria
aconselha a ANF a ser discreta, de-
Manuela Teixeira. É uma farmacêuti-
sarmando muito do que acumulou,
ca saliente no universo português do
desenvolveu e desenvolve.
desempenho profissional e os cole-
Esta política de comedimento que,
gas brasileiros decidiram atribuir-lhe
por exemplo, se traduz em conside-
uma medalha de recompensa pelo
rar que um governo maioritário não
apoio na área da formação que ela
deve ser confrontado (desafiado)
lhes vem dando.
com políticas alternativas.
Quem observa as tarefas em que esta
A coerência, a imaginação, a coragem
proprietária de farmácia se tem des-
ficam perplexos com estes conselhos
dobrado nos últimos vinte anos con-
ao sector.
firma que ela é o reflexo da definição
Mas para além do conteúdo ‒ a en-
de objectivos da Associação Nacional
trevista ‒ queremos salientar que,
das Farmácias, na qual se enquadrou
sendo esta a primeira revista do novo
de forma criativa e dedicada.
ano, aproveitámos para alterar o as-
Pela manutenção de uma imagem de
pecto gráfico e com ele a imagem da
competência e apoio da saúde públi-
Farmácia Portuguesa.
ca dos portugueses, acompanhando
Esperamos que com estas modifica-
um circuito de distribuição eficaz dos
ções, a revista se torne mais útil para
medicamentos, a Associação pôs em
o leitor, mais fácil e agradável de con-
marcha um verdadeiro plano Marshall
sultar e permita usar, na generalidade
sectorial, à semelhança do que após a
das farmácias, o conteúdo técnico por
segunda guerra mundial os america-
toda a equipa e o conteúdo político
nos fizeram para a Europa.
pelos decisores que a recebem e tem
As últimas eleições trouxeram à ribal-
de compreendendo, tomar posição.
ta do nosso dia-a-dia duas versões antagónicas desta imagem. A que ganhou a maioria dos votos e que se apoia na afirmativa e na conquis-
Francisco Guerreiro Gomes FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 5
política de saúde Prevenção da transmissão vertical do HIV-1 em Cabinda, Angola Patrícia Cavaco Silva e Nuno Taveira *
Dos cerca de 39 milhões de pessoas
do HIV-1 em países em vias de desen-
O diagnóstico da infecção por HIV-
infectadas por HIV em todo o mundo
volvimento, a Organização Mundial
1 em crianças até aos 18 meses de
no final de 2005, cerca de 24,5 mi-
de Saúde (OMS) recomenda o uso
idade não pode ser feito através dos
lhões residem na África sub-Sariana
de regimes terapêuticos profiláticos
testes serológicos devido à trans-
(UNAIDS, 2006). A infecção HIV-1 pe-
constituídos por nevirapina em dose
ferência passiva de anticorpos IgG
diátrica continua a ser um problema
unitária (NVP-DU), com ou sem zido-
maternos. Assim, até esta idade, o
de grandes dimensões apesar das
vudina (ZDV), administrada durante
diagnóstico da infecção HIV deve ba-
reduções substanciais da transmissão
períodos curtos (WHO, 2005). Um dos
sear-se na detecção directa do vírus
mãe-filho conseguidas na Europa e
inconvenientes da profilaxia terapêu-
ou dos seus componentes: determi-
América do Norte.
tica com NVP-DU é a rápida selecção
nação da carga viral plasmática que
de vírus resistentes à NVP pois uma
quantifica o RNA do HIV (WHO, 2005)
única mutação na transcriptase re-
e detecção de ADN proviral por PCR
versa confere um alto nível de resis-
em linfócitos.
Profilaxia terapêutica da transmissão vertical do HIV-1
tência à NVP. Os vírus resistentes à NVP podem persistir por mais de um ano nas mães e nas crianças, compro-
Estima-se que existam cerca de 2 mi-
metendo assim a terapêutica de alta
lhões de crianças com menos de 15
eficácia com NVP nesta população.
anos, infectadas sobretudo por via vertical, a qual pode ocorrer durante * Patrícia Cavaco Silva e Nuno Taveira Unidade dos Retrovírus e Infecções Associadas,
a gravidez, parto e amamentação. A maneira mais eficiente de diminuir
Infecção HIV em Angola Angola tem uma das mais baixas pre-
Diagnóstico da infecção perinatal
o número de crianças infectadas pelo
valências de infecção por HIV dos países do Sul de África, apontando os últimos dados para uma prevalência de 3,7% na população adulta (UNAIDS,
HIV na África sub-Sariana é prevenir
Nos países em vias de desenvolvimen-
2006). No entanto os variantes gené-
a transmissão perinatal do HIV da
to, muito poucas crianças infectadas
ticos de HIV-1 em circulação no Norte
mãe infectada para o filho através
por HIV fazem actualmente terapêu-
de Angola são muito diversificados
Portugal, Instituto Superior
do uso profilático de antiretrovirais
tica antiretroviral (WHO, 2005). Um
e complexos o que poderá ter con-
de Ciências da Saúde Egas
(Dabis & Ekpini, 2002). Na ausência
dos problemas que limita o acesso das
sequências importantes ao nível da
Moniz, Portugal.
de terapêutica antiretroviral a taxa
crianças seropositivas à terapêutica
transmissão do HIV-1 e da susceptibi-
de transmissão vertical do HIV-1 na
antiretroviral é a inexistência de testes
lidade viral à terapêutica.
África sub-Sariana é de 35-40%. Para
simples e baratos para efectuar o diag-
Em Cabinda foi implementado recen-
a prevenção da transmissão vertical
nóstico precoce da infecção perinatal.
temente um programa de prevenção
Centro de Patogénese Molecular, Faculdade de Farmácia de Lisboa,
6 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
comercialmente. No final deste trabalho, teremos produzido um novo teste de genotipagem de resistência da transmissão vertical da infecção
dos vírus em circulação em Cabinda
para todas as formas genéticas de
por HIV. É neste contexto que se in-
são previsíveis dificuldades no diag-
HIV-1, simples e económico e, que
sere este projecto de colaboração
nóstico virológico das crianças. Para
poderá ser empregue em Angola.
institucional entre Angola e Portugal,
maximizar a sensibilidade e especifi-
Estes métodos serão ainda utilizados
com o objectivo de monitorizar a
cidade do diagnóstico virológico, as
na caracterização genética dos vírus,
eficácia da terapêutica antiretroviral
crianças serão analisadas por três tes-
possibilitando assim investigar a in-
preventiva instituída.
tes complementares: 1) Amplificação
fluência dos subtipos na transmissão
por PCR em tempo real do ADN
vertical do HIV-1 e no desenvolvimen-
proviral em células sanguíneas; 2)
to de resistências aos antiretrovirais.
Projecto de investigação
Amplificação por PCR do ADN provi-
No final deste trabalho, ficará definido
ral em células sanguíneas utilizando
um algoritmo de diagnóstico labora-
um teste comercial; 3) Quantificação
torial da infecção vertical por HIV-1
O programa de prevenção da trans-
da carga viral plasmática (HIV-1 RNA)
adequado à realidade Angolana.
missão vertical da infecção por HIV,
com um teste comercial.
Adicionalmente, terão sido criadas as
recorre ao uso profilático de NVP-DU
Neste projecto será desenvolvido um
condições necessárias, a nível técni-
e ZDV e nele estão incluídas cerca
novo teste de PCR em tempo real para
co e humano, para que haja transfe-
de 400 grávidas/ano infectadas por
detecção de ADN proviral do HIV-1
rência para Cabinda dos métodos e
HIV-1. Neste projecto analisaremos
nas crianças que permita amplificar
tecnologias desenvolvidos durante o
amostras de sangue dos filhos nas-
todos os subtipos de HIV-1 angola-
projecto.
cidos das mães diagnosticadas com
nos. Será igualmente determinada a
infecção HIV recolhidas em cartões
frequência de transmissão vertical do
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de papel de filtro, e a partir das quais
HIV-1 nesta população.
será efectuada a detecção qualitativa
Para analisar a seleção de vírus com
Dabis, F. and Ekpini, E. R. (2002). HIV-1/AIDS and maternal and child health in Africa. Lancet 359, 2097-2104.
de ADN proviral do HIV-1. Será reco-
mutações de resistência devido à te-
lhido plasma para determinar a carga
rapêutica antiretroviral, irão utilizar-se
viral (RNA) e efectuar a genotipagem
três metodologias complementares
de resistência dos vírus em circulação
de genotipagem de resistência à
tanto nas mães como nos filhos.
NVP e ZDV, duas desenvolvidas em
Dada a grande diversidade genética
laboratório e uma terceira disponível
Este projecto de investigação resulta de uma parceria entre o Hospital Provincial de Cabinda, Angola, a Faculdade de Farmácia
UNAIDS. (2006) Report on the global AIDS epidemic. Joint United Nations Programme on HIV/AIDS. 7-51.
de Lisboa e o Instituto
WHO. (2005).Antiretroviral treatment of HIV infection in infants and children in resourcelimited settings, towards universal access: recommendations for a public health approach (2005 revision). World Health Organization, 1-88.
Saúde Egas Moniz, e é
Superior de Ciências da
subsidiado pela Fundação GlaxoSmithKline das Ciências da Saúde.
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 7
dossier
UNIDADE, O ACTIVO MAIS VALIOSO DA ANF Esta foi a mensagem transmitida pelo presidente
unidade. E foi para falar dessa situação, para transmitir aos associados os
da ANF nas doze reuniões descentralizadas onde deu a conhecer aos associados os últimos avanços legislativos e fez o ponto da situação do Compromisso com a Saúde. A estas reuniões aderiram duas mil farmácias, comprovando
últimos avanços político-legislativos, que a direcção da associação promoveu estas reuniões descentralizadas, oportunidade ímpar para o diálogo directo com os associados. E para dar conta da atitude penalizadora que o Ministério da Saúde tem adoptado face às farmácias, traduzida
precisamente a unidade.
nos mais recentes diplomas através dos quais concretizou algumas das medidas contidas no Compromisso
Fala-se que a ANF tem muito poder,
cia daquelas palavras: Numa semana
com a Saúde, assinado em Maio de
mas o seu activo mais valioso é a uni-
pudemos contactar directamente com
2006. A direcção da ANF tem uma
dade e a confiança que existe entre
duas mil farmácias. Uma tal mobiliza-
atitude muito crítica relativamente
as farmácias e a direcção . As palavras
ção mostra que as pessoas sentem que
à forma desequilibrada como o do-
são do presidente da associação, João
vale a pena, que vamos continuar a ul-
cumento tem sido implementado.
Cordeiro, e foram proferidas a 12 de
trapassar as dificuldades .
Desde logo, porque o ministério da
Janeiro, em Lisboa, na sessão que en-
João Cordeiro admitiu que a situação
saúde se preocupou apenas em apli-
cerrou uma semana de reuniões des-
é difícil, mas também se mostrou con-
car as medidas mais prejudiciais para
centralizadas. E a adesão de Norte a Sul
victo de que as farmácias têm sabido
as farmácias, contornando os aspec-
do país permitiu comprovar a pertinên-
reagir de uma forma positiva, em
tos mais positivos nele consagrados.
8 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
A ANF está neste processo de boa fé, encarando o compromisso como tendo potencial positivo apesar dos aspectos negativos e comprometendo-se com o seu todo.
Assim, foi publicado o diploma que
do-se com o seu todo. Este não é, con-
permite a instalação de farmácias em
tudo, um entendimento partilhado
hospitais, foi aprovado o decreto-lei
pelo ministério de Correia de Campos,
que alarga o horário mínimo de fun-
que tem legislado de uma forma pe-
cionamento para 55 horas semanais
nalizadora para as farmácias.
e foi divulgado o anteprojecto de
Além disso, desde a assinatura do
proposta de lei sobre a liberalização
compromisso, o quadro económico
da propriedade. Em contrapartida,
do sector deteriorou-se, em conse-
ficaram na gaveta todas as medidas
quência de outras medidas gravosas
consideradas prioritárias pelas far-
tomadas pelo governo: os preços dos
mácias e sobre as quais a ANF enviou
medicamentos foram reduzidos uma
financeiro com as instituições oficiais.
oportunamente propostas de diplo-
segunda vez em seis por cento, a mar-
Por conhecer estão ainda os argumen-
ma. São medidas como a prescrição
gem de comercialização voltou a cair,
tos reais em que o governo se baseia
por DCI, única medida reconhecida
agora para 18,25%. Ambas as descidas
para legislar sobre a propriedade de
como urgente no compromisso com
em nome do equilíbrio das contas
farmácia, cumprindo uma intenção
a saúde, o alargamento do âmbito de
públicas, um argumento que justifica
liberalizadora anunciada há muito. É
actividade das farmácias e a dispensa
a redução de preços mas que não é
público que a ANF sempre defendeu
de medicamentos hospitalares.
aplicável à redução das margens.
que o regime jurídico em vigor no
Um cenário agravado pelo facto de,
A ausência de uma argumentação sus-
país é o que melhor serve os doen-
relativamente a alguns princípios, o
tentada caracterizou igualmente a de-
tes e a população. É, aliás, o regime
ministério ter legislado em sentido
núncia do acordo sobre fornecimento
que vigora na maioria dos países da
contrário ao Compromisso com a
de medicamentos a crédito aos benefi-
União Europeia, não se entendendo o
Saúde, pervertendo a sua filosofia
ciários do SNS: o Ministério da Saúde não
interesse ‒ público ou privado ‒ que
integrada. Um compromisso é isso
só não apresentou qualquer proposta
Portugal tem em antecipar-se-lhes.
mesmo: um documento que com-
de revisão como impôs unilateralmente
Perante esta realidade, a direcção da
promete ambas as partes que o subs-
as condições desse fornecimento.
ANF não pode deixar de considerar
crevem e que não pode ser interpre-
Uma imposição ilegítima a que a far-
que as farmácias estão a ser trata-
tado e aplicado arbitrariamente.
mácias responderam com a criação
das de uma forma altamente injusta
A ANF está neste processo de boa
da Finanfarma, uma sociedade de fac-
pelo Ministério da Saúde. Mas João
fé, encarando o compromisso como
toring para a qual foram transferidas
Cordeiro acredita que, unidas, irão
tendo potencial positivo apesar dos
as cessões de créditos das farmácia
vencer os ventos adversos que so-
aspectos negativos e comprometen-
e que assegurará o relacionamento
pram sobre o sector. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 9
dossier
Dispensa de medicamentos aos beneficiários do SNS
ANF reage a estratégia de dividir para reinar Os farmacêuticos de oficina iniciam 2007 com uma surpresa: a publicação do decreto-lei 242-B/2006 de 29 de Dezembro sobre a dispensa de medicamentos a beneficiários do SNS e o pagamento das respectivas comparticipações. Colocado na página oficial do Ministério da Saúde na noite de 29 de
Um procedimento que esteve presente desde o momento
Dezembro ‒ sexta-feira, último dia útil do ano ‒ dele não
em que expirou o acordo que vigorava desde 1988 entre
foi dada qualquer informação às farmácias, que iniciaram
o ministério e a associação. Contrariamente ao previsto no
o ano desconhecendo o seu conteúdo, mas formalmente
Compromisso com a Saúde e na própria carta de denúncia
vinculadas. A situação foi destacada pelo presidente da ANF
do acordo, não houve qualquer proposta ministerial ten-
durante as sessões descentralizadas. Uma situação decor-
dente à sua revisão. O que houve foi a publicação de um
rente da aplicação do artigo 5º daquele diploma: diz o seu
decreto-lei que visa impor por via legal acordos individuais
ponto um que os medicamentos comparticipados podem
com as farmácias numa tentativa de as dividir. A ANF ‒ re-
ser dispensados nas farmácias, mediante o pagamento pelo
cordou ‒ sempre esteve de boa fé neste processo, na con-
utente, no acto da dispensa, do valor correspondente à par-
vicção de que havia condições para uma revisão tranquila
te não comparticipada pelo Estado no PVP e diz o ponto
do acordo, satisfazendo os legítimos interesses do Estado
dois que a dispensa de medicamentos nestes termos con-
e das farmácias. Mas o que obteve em troca foi uma tenta-
substancia a adesão das farmácias ao sistema de pagamen-
tiva do ministério impor arbitrariamente a sua vontade.
to da comparticipação do Estado .
Remonta ao Orçamento de Estado para 2006, aprovado
Esta é, para João Cordeiro, uma norma caricata, na medida
em Outubro de 2005, o processo que haveria de conduzir
em que cria uma situação virtual ao determinar a adesão ao
a esta situação. Logo no seu artigo 8º se punha em causa
novo regime na primeira dispensa que a farmácia efectuar
o acordo com a ANF ao fazer depender de autorização do
a um beneficiário do SNS. O que está em causa ‒ sublinhou
governo as cessões de crédito que tivessem por objecto
‒ não é a dispensa de medicamentos a crédito aos beneficiá-
dívidas do SNS que não fossem a favor de instituições de
rios do SNS, pois a associação sempre defendeu que se efec-
crédito ou sociedades financeiras. Na prática, as cessões de
tuasse independentemente de haver ou não acordo com o
crédito de que a associação era titular tornavam-se nulas
Ministério da Saúde. O que está em causa é o modo como o
a 1 de Janeiro de 2006, pelo que foram transferidas para o
processo decorreu. De uma forma pouco transparente.
sector bancário.
10 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
das farmácias. Quer quando se tratou
boa memória. Sabemos muito bem o
de noticiar a denúncia do acordo,
que significa a intervenção da ANF ou
quer quando se tratou de anunciar
de outra estrutura nos pagamentos, sa-
a constituição da Finanfarma, a so-
bemos bem o que significa uma estru-
ciedade de factoring que vai permitir
tura forte e organizada , enfatizou.
à ANF adiantar às farmácias o paga-
Ao propor agora reduzir para 30 dias o
mento das comparticipações.
prazo de pagamento às farmácias, não estendendo a medida a outros forne-
Nova tentativa para impedir que a
Ministério privilegia farmácias?
cedores, estará o ministério a querer privilegiar as farmácias? Não, a única razão por que adoptou esta metodo-
ANF fosse intermediação financeira das farmácias aconteceu com o
A questão, em jeito de ironia, foi colo-
logia é querer relacionar-se directa-
Orçamento de Estado para 2007,
cada pelo presidente no seu contacto
mente com as farmácias e conseguir
com uma disposição idêntica à do
com os associados. E é justificada com a
as mesmas condições que impôs aos
ano anterior. O último desenvolvi-
criação pelo Ministério da Saúde de um
outros sectores por estes não se terem
mento foi o diploma publicado a
sistema de pagamento exclusivo para
organizado colectivamente .
29 de Dezembro, cujo conteúdo foi
as farmácias, deixando de fora os outros
Para dar resposta a esta tentativa de
enquadrado na promessa ministerial
fornecedores, incluindo aqueles a que o
divisão, a ANF avançou com a consti-
de cumprir os prazos de pagamento.
Estado mais deve e deve há mais tempo.
tuição de uma sociedade de factoring
A verdade é que todos os ministros
Deve à indústria farmacêutica, deve aos
- a Finanfarma, aprovada pelo Banco
prometeram, mas nenhum cumpriu
meios complementares de diagnóstico.
de Portugal em Novembro último. Esta
e, não fora a cessão de créditos, as
É um facto que o ministério não cum-
estratégia foi apoiada pela Assembleia
farmácias viveriam dias difíceis.
pre as suas obrigações para com os
Geral de Delegados realizada em
Todo este processo foi alimentado por
seus fornecedores. Há números que o
Dezembro e irá permitir adiantar às
sucessivas notícias na comunicação
atestam: às farmácias chegou a dever
farmácias o pagamento das compar-
social, sempre na perspectiva ‒ como
praticamente oito meses, o que corres-
ticipações independentemente do
disse João Cordeiro aos associados -
ponde a cerca de 750 milhões de euros.
prazo de pagamento e dos atrasos do
de que existe um conflito grave entre
O que aconteceria ‒ perguntou João
Ministério da Saúde.
o ministério e a associação e de que
Cordeiro ‒ se as farmácias tivessem
Enquanto entidade financeira, terá
uma guerra é inevitável. E transmitin-
acreditado nas promessas de paga-
melhores condições de financiamen-
do também a ideia de que o que está
mento do ministro de então (o mesmo
to e outra capacidade de intervenção
em causa são apenas os interesses
de agora, Correia de Campos)? Temos
junto dos devedores. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 11
dossier
Para os associados, tem vantagens inequívocas: o pagamento far-se-á a 8 dias úteis, e não aos 30 prometidos pelo governo, sendo que ainda este ano este prazo deverá ser reduzido para três dias, por via da factura electrónica. O Farmalink é uma ferramenta essencial, pois será através dele que a informação circulará.
Afinal, as farmácias cumprem as suas
É um facto que o regime da proprie-
Os tempos iniciais serão duros ‒ ad-
obrigações.
dade da farmácia foi sempre causa-
vertiu João Cordeiro, baseado na ten-
Esta estratégia associativa foi ratifi-
dor de alguma celeuma e que sem-
dência, verificada desde o início de
cada pela esmagadora maioria das
pre houve tentativas para o alterar,
2006, para o crescimento dos valores
farmácias, que cederam os seus cré-
merecedoras de acórdãos legais que
de rectificação face ao receituário to-
ditos à Finanfarma. Goram-se, assim,
justificavam a reserva legal, em exclu-
tal. Antevendo o agravamento deste
as expectativas de quem pensava que
sivo, para farmacêuticos.
clima de conflitualidade com as ARS,
o fim do acordo com o Ministério da
O tema voltou recentemente a ser
a ANF avançou com a criação de uma
Saúde era o fim da unidade do sector.
colocado na agenda política, por via
estrutura específica para análise das
Pelo contrário, as farmácias mostraram
de um anteprojecto de proposta de
rectificações de receituário e apoio à
que estão cada vez mais unidas e que
lei apresentado pelo governo aos
emissão de notas de débito e crédito.
a sua consciência associativa e solidá-
parceiros, diploma esse que carece
Daí também o aditamento à declara-
ria está mais forte do que nunca.
de aprovação pela Assembleia da
ção de cessão de créditos, por forma a dar resposta a problemas futuros. Foi neste contexto que a ANF se propôs assumir mais responsabilidades, defendendo os interesses das farmá-
República. Nele se liberaliza, com
Alterações à propriedade da farmácia
O que ganham os Portugueses?
pequenas limitações, o acesso à propriedade de farmácia. É, sem dúvida, uma matéria da legitimidade política do governo, que a ANF não contesta. O que contesta
cias por forma a que haja um equilíbrio de poderes.
Esta questão vai estar no centro de
são as soluções encontradas, delas
Aos associados, João Cordeiro deixou
um conjunto de conferências sobre o
discordando em particular como
a garantia de que a ANF e a Finanfarma
modelo europeu de farmácia, promo-
discorda, no geral e no absoluto, da
serão exigentes no cumprimento das
vido pela ANF à luz da intenção libe-
liberalização da propriedade.
obrigações do Ministério da Saúde.
ralizadora do governo português.
Uma discordância que assenta na re-
12 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
alidade portuguesa no que respeita
lização . É precisamente isso que as
se subordinará ao tema A farmácia
ao sector. Afinal, é reconhecido que
farmácias esperam do governo, que
na Europa: Lições para a evolução do
as farmácias de oficina funcionam
prove que a liberalização vai melho-
modelo farmacêutico português .
bem, com elevado nível de qualida-
rar a vida dos portugueses.
O Centro de Congressos de Lisboa
de e ao mais baixo custo da UE e que
O processo legislativo está em curso.
será palco das três sessões, uma
constituem, de todos os sectores da
O debate também. Para as conferên-
oportunidade para ponderar o rumo
saúde, aquele que os doentes e os
cias que se iniciam dia 6 de Março a
imprimido ao sector da farmácia em
consumidores avaliam como mais
ANF convidou todos os parceiros, ne-
Portugal em contraponto com outras
positivo. Não há, no país, dificuldades
les se incluindo aqueles que vão ter o
experiências europeias, designada-
de acesso aos medicamentos. Não
poder de legislar ‒ os deputados da
mente dos modelos vigentes em paí-
há também escassez de farmácias. O
Saúde.
ses de referência na Europa.
que faltam são os argumentos a favor
Na primeira sessão, estará em análise
da liberalização.
O modelo ibérico de propriedade da
Aplicação do Compromisso penaliza farmácias
Na óptica da direcção da ANF, a libera-
farmácia , uma oportunidade para
lização não terá as vantagens prome-
conhecer os regimes em vigor em
tidas: não determina necessariamente
Portugal e em Espanha. Já a segun-
o aumento da concorrência, a dimi-
da conferência, agendada para 10
nuição dos preços ou a contenção da
de Abril, permitirá ficar a conhecer
Desequilíbrio ‒ assim se pode descre-
despesa pública. E terá custos: o da
Os modelos nórdicos de proprieda-
ver o denominador comum de todos
degradação das farmácias, dos serviços
de de farmácia , estando designa-
os passos já dados pelo governo para
que prestam, da qualidade do empre-
damente em foco o modelo vigente
implementar o Compromisso com a
go, da qualidade do atendimento, da
na Finlândia e o exemplo de desre-
Saúde, subscrito em Maio de 2006 com
qualidade tecnológica e da sua capaci-
gulamentação aplicado na Noruega.
a ANF. Porque todas as medidas entre-
dade para continuarem a ser um sector
Finalmente, a 17 de Abril, serão
tanto aprovadas ou em processo legis-
de vanguarda na área da saúde.
apresentados os principais resulta-
lativo são penalizadoras para as farmá-
Apesar da sua posição, entende a as-
dos de um estudo efectuado pelo
cias. Porque nenhuma das propostas
sociação que o país carece de debate
Öbig (Instituto de Saúde Austríaco),
apresentadas pela associação teve o
e, por isso mesmo, decidiu promovê-
promovido durante a presidência
acolhimento necessário para serem
lo. Como justifica o presidente, João
portuguesa do Grupo Farmacêutico
vertidas em documentos legais.
Cordeiro, não se pode alterar sem
da União Europeia. O contexto será
Assim, o ministério já apresentou pro-
haver debate, sem definir o que os
a conferência de encerramento des-
jectos sobre a instalação de farmácias
portugueses ganham com a libera-
te ciclo promovido pela ANF, a qual
nos hospitais do SNS (aprovado e
Quase uma perseguição
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 13
dossier Pelo lado dos aspectos positivos, João Cordeiro enunciou a implementação da unidose.
publicado), o horário de funcionamento (aprovado e à espera de publicação), o preço máximo de venda de medicamentos comparticipados (aprovado), o pagamento das comparticipações do Estado às farmácias (aprovado) e a propriedade da farmácia (em discussão). De fora das decisões ministeriais ficaram as disposições que
Focando-se sobre os critérios de candidaturas, destacou
a ANF identificou como prioritárias, não obstante o ministro
a possibilidade de os proprietários de farmácia na zona
Correia de Campos ter solicitado à associação que as apre-
do hospital se agruparem e apresentarem uma proposta
sentasse acompanhadas de propostas de redacção dos pro-
conjunta, a qual terá preferência sobre os demais concor-
jectos conducentes à respectiva implementação . Esta dispo-
rentes. Mais controversa é a remuneração da concessão,
nibilidade não teve, contudo, correspondência em qualquer
com a ANF, bem como a Ordem dos Farmacêuticos, a
iniciativa legislativa. E o que está em causa é a prescrição por
pronunciar-se contra a existência de uma parcela variável
DCI, o alargamento do âmbito da actividade das farmácias
indexada à facturação e a defender, em contrapartida, que
e a dispensa pelas farmácias de medicamentos hospitalares.
a avaliação deveria basear-se na competência técnico-pro-
Há outros compromissos por assumir, mas estes estão na pri-
fissional, sob pena de se estar a criar uma fonte de rendi-
meira linha das preocupações da associação.
mento alternativa para os hospitais através da aplicação de regras similares às que vigoram nos centros comerciais.
Farmácias nos hospitais
Outro aspecto que merece o desacordo da associação diz
Mais uma batalha
respeito à possibilidade de serem instaladas farmácias em hospitais que não integram o SNS, uma possibilidade que
Foi em Julho, escassos dois meses após a assinatura do
não estava sequer contemplada no compromisso.
compromisso, que o Ministério da Saúde tornou pública a
A direcção reconhece que este é um processo com cus-
primeira das medidas ‒ a instalação de farmácias nos hos-
tos pesados para as farmácias, mas considera fundamental
pitais, uma das mais penalizadoras para o sector.
ganhar mais esta batalha. Para sustentar o envolvimento
Assumindo que este ponto foi o de redacção mais difícil
das farmácias foi criada uma estrutura específica através
durante as negociações do compromisso, João Cordeiro
da qual a ANF dará apoio conceptual, operacional e legal
apresentou aos associados os diversos contornos do di-
à definição do conceito e instalação numa perspectiva as-
ploma que o consagrou legalmente (decreto-lei 235/2006,
sociativa mas tendo em conta que cada situação será um
de 6 de Dezembro). Sublinhou, nomeadamente, o facto
caso específico. Em cada situação, a ANF assumirá a inter-
de a instalação da farmácia depender da verificação do
venção adequada e que as farmácias definirem, na convic-
interesse público relacionada com a acessibilidade dos
ção de que, com equilíbrio, bom senso e união, é possível
utentes à dispensa de medicamentos.
diluir as dificuldades impostas por esta legislação.
14 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 15
entrevista
Manuela Teixeira
uma carreira distinguida no Brasil
Farmácia Portuguesa ‒ Em Janeiro deste ano recebeu a Comenda da Ordem de Mérito atribuído pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF). Qual o significado, em termos profissionais e em termos pessoais, que tem para si receber esta distinção? Manuela Teixeira ‒ Como deve calcular, é difícil expressar numa frase todo o percurso que me levou a Brasília, no dia 18 de Janeiro, receber a Comenda. No fundo, em termos profissionais, penso que é extremamente importante que
ca se ouviu falar, por exemplo, Muarama e Macapá. Os co-
um país irmão, onde se fala a mesma língua, reconhece o
legas chamaram-me louca, por causa de todas as situações
trabalho de alguém que apostou uma vida inteira naquilo
de doença existentes, principalmente nesta última cidade
que considero, talvez, o core principal da actividade far-
atravessada pelo Equador, em que a cólera, o dengue, e a
macêutica: para ser bom farmacêutico é preciso ter uma
malária são doenças endémicas. Mas fui!
boa formação. Desenvolvi em Portugal muitos projectos
Eu nunca nego os convites dos colegas Brasileiros. Vou sem-
de formação e nesse contexto fui convidada em 1992
pre sem remuneração alguma, é uma nota importante que
pelo Professor Arnaldo Zubioli, enquanto Conselheiro
gostaria de deixar. Vou por amor. Nunca esperei chegar à
Federal do Estado do Panamá, e que posteriormente foi
Comenda. A Comenda é talvez o culminar, mas espero que
presidente do Conselho Federal de Farmácia, a ir ao Brasil
não seja o acabar desta relação. Penso que a minha relação
abordar o tema da orientação farmacêutica ao paciente
com o Brasil se vai manter e no futuro desejo consolidá-la.
em situações em que se usam MNSRM.
Desde essa altura, tenho estado em muitas cidades e os
Este convite surgiu no seguimento de um artigo que escrevi
convites não são só do Conselho Federal de Farmácia,
em 1985, na revista Farmácia Portuguesa. Esse artigo estava
dos Conselhos Regionais, são também de Universidades
relacionado com os MNSRM, em que eu tratava de critérios
e empresas privadas de formação, como a Racine de São
de selecção e dispensa deste grupo de medicamentos.
Paulo e o Centro de Excelência em Pós-Graduação em
A partir daí foi uma bola de neve, que me fez correr todo o
Saúde (CPS), com sede em Curitiba. Tem sido sempre um
Brasil, desde a Amazónia profunda a cidades em que nun-
desafio muito interessante que realizo com a maior sa-
16 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Em Janeiro deste ano recebeu a Comenda da Ordem de Mérito, atribuída pelo Conselho Federal de Farmácia do Brasil. Em entrevista à Farmácia Portuguesa comenta o exercício da profissão em Portugal, o desafio constante que é lidar com os doentes e a diferenciação que preconiza para a classe. Criticando a actual revisão da Lei do sector, a única farmacêutica portuguesa a pertencer à Academia Nacional da Farmácia do Brasil aponta o caminho para o futuro: manter o associativismo forte e incrementar a intervenção das farmácias.
tisfação, porque levo o meu ânimo
siasmou mas que ao mesmo tempo
profissional tem sido, a meu ver, um
profissional, o meu saber-fazer. Neste
aumentou a minha responsabilidade.
modelo de muito valor e fundamental-
percurso, contei sempre, com a co-
Há uma coisa que me dá imenso gozo
mente de muito saber, baseado no sa-
laboração dedicada da colega Lígia
afirmar: é que, independentemente do
ber construir um caminho importante
Reis, que me apoiou na produção das
meu ânimo em transmitir o modelo
para o sector das farmácias.
apresentações melhorando sempre a
português, porque é para os nossos
Em termos pessoais, não vou dizer que
qualidade dos audiovisuais.
colegas brasileiros muito importante,
é uma vaidade, mas é reconfortante.
Ainda em termos profissionais tive há
estes sempre respeitaram e admi-
Neste país, normalmente as pessoas
3 anos um convite do Hospital de São
raram o nosso modelo de farmácia.
não louvam nem elogiam. E há tempos
Paulo para escrever um artigo sobre
Lamentavelmente,
actualidade,
li um artigo interessante da Clara Ferreira
cuidados farmacêuticos. Dediquei-
estamos mais nós a caminhar para o
Alves, em que dizia que, uma das capa-
me bastante. O artigo foi publicado
Terceiro Mundo, para a desregulamen-
cidades do povo brasileiro é saber elo-
num livro que aborda as experiências
tação que eles têm e que eles querem
giar e louvar. Está aqui a prova!
sobre esta temática em vários países.
modificar. Os colegas brasileiros sem-
Em 2006, o CBS desafiou-me a escre-
pre quiseram importar o modelo por-
FP ‒ Este prémio é o reconhecimen-
ver um livro dirigido às necessidades
tuguês. Podia ser o modelo europeu
to de um trabalho activo que tem
dos farmacêuticos comunitário brasi-
dos países nórdicos, mas não, é o por-
produzido no campo farmacêutico,
leiros. Foi um convite que me entu-
tuguês. O nosso modelo de exercício
não só em Portugal, mas também
na
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 17
entrevista
farmacêutico gerava-se um espanto
ANF durante 24 anos, tenho 33 anos
generalizado, porque o Brasil tem
de exercício profissional e no iní-
uma situação completamente anár-
cio não se falava na Sociedade do
quica ‒ quem é dono das farmácias é
Conhecimento. Hoje é que está muito
quem tem dinheiro, caindo por terra
em voga esta temática. A Sociedade do
o conceito de Farmácia como espa-
Conhecimento sempre foi, aquilo que
ço de saúde.
eu em termos profissionais entendi, a
Lamentavelmente o reconhecimento
mais-valia do nosso desenvolvimento,
vem do outro lado do Atlântico...
da nossa actividade profissional. No fundo, o saber é um activo, um activo
FP ‒ Sendo uma área que claramen-
que cada um de nós deve saber gerir,
te privilegia, é em prol dos projectos
deve saber aplicar. É quase como um
profissionais que se tem debatido ao
activo financeiro: saber gerir, aplicar,
longo dos tempos, quer como dirigen-
fazer render. O saber tem exactamen-
te da ANF, Direcção da qual fez parte
te as mesmas regras de aplicabilidade
no Brasil. Qual o contributo e qual a
durante anos, quer actualmente como
desse activo. Temos que saber inovar.
importância deste trabalho na for-
representante da Associação em áre-
Eu digo sempre que na farmácia comu-
mação da futura classe farmacêuti-
as, como a formação dos ajudantes,
nitária não há rotina. Todos os dias so-
ca Brasileira?
quer na sua actividade profissional
mos solicitados por pessoas diferentes,
MT ‒ No fundo, é tentar aplicar o mo-
diária. Uma das vertentes mais visíveis
com características diferentes, saberes
delo português. Mesmo que eu fos-
do seu trabalho foi a aposta na forma-
diferentes. Temos que saber adaptar-
se falar de Cuidados Farmacêuticos,
ção contínua dos farmacêuticos e na
nos a essas pessoas, temos de mostrar
Programas de Intervenção na Comu-
formação dos técnicos de farmácia.
que sabemos e que não somos só os
nidade, de Valormed, da Formação
Qual a importância, para a classe, des-
vendedores de caixinhas . Em relação
Contínua
de
tes projectos ao nível da melhoria da
à formação, sempre apreciei imenso o
Farmácia, uma coisa que os colegas
intervenção profissional? Porquê este
contacto com as faculdades, porque
brasileiros reconhecem é a mais-
envolvimento tão activo nesta área?
das faculdades é que vem o saber. Na
valia da organização farmacêutica
MT ‒ Essa pergunta abre-me horizon-
Direcção da Associação, entendemos
como estrutura profissional. E cada
tes para abordar uma série de aspec-
que era realmente importante apostar
vez que falava do sistema de saúde
tos. Em primeiro lugar, gostaria de di-
para além do que aprendemos nos
em Portugal, da maneira como o
zer que, independentemente do meu
bancos da faculdade. É o saber que
sector estava organizado e referia
entusiasmo e motivação, eu acredito
faz a diferenciação da nossa actividade
que a propriedade era exclusiva do
na formação. Estive na Direcção da
profissional. E o saber adquirido nos sí-
18 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
ou
Boas
Práticas
O saber envolve três elementos: saber-saber, saber-fazer e saber-estar. Nesses saberes, o farmacêutico tem de criar, cada vez mais, uma diferenciação.
ANF, pois começámos a formação para farmacêuticos em 1982. Dentro da Direcção, sempre lutei para que houvesse formação para ajudantes, não podia haver farmacêuticos a fazer formação elitista, chegar à farmácia e
tios certos. Quando a Associação optou
tremamente importante este activo do
dominar outras áreas do conhecimen-
por constituir este grupo de Formação
conhecimento, um activo que não tem
to, e depois haver ajudantes que não
Contínua, com várias áreas de interven-
de ser só na área cognitiva, no saber-
evoluíam nos seus conhecimentos. Era
ção, a ligação à Universidade foi extre-
saber, que aprendemos na faculdade
necessário ter colaboradores cada vez
mamente importante. Hoje mantenho
e que podemos ir complementando
mais sabedores, cada vez mais capa-
óptimas relações com professores
com formação pós-graduada, mas
citados, porque o objectivo major da
universitários, que me têm convidado
um activo na área do saber-fazer, ou
formação é desenvolver capacidades.
para ir trabalhar com eles, por exemplo,
seja, ter a certeza que quando alguém
Coimbra convida-me duas vezes por
vem de um curso tenha melhorado as
ano para ir à faculdade falar para os
suas capacidades. Uma coisa também
estudantes do 5º ano, numa cadeira
extremamente importante, e que nem
Caminhar para a especialização
de MNSRM e automedicação orientada
todas as faculdades ainda privilegiam,
Para mim, o saber envolve estes três
pela Prof. Isabel Vitória.
é a área do saber-estar: a parte socio-
elementos: saber-saber, saber-fazer e
Dentro da ANF, coordenei três profes-
lógica do nosso desenvolvimento, do
saber-estar. Nesses saberes, o farma-
sores catedráticos, o actual vice-reitor
contacto, do poder de comunicar com
cêutico tem de criar, cada vez mais,
da Universidade do Porto, o Prof.
os doentes e médicos e entre nós. O sa-
uma diferenciação. E eu sempre fui
Jorge Gonçalves, o vice-presidente do
ber ouvir, o saber gerir, o saber delegar
uma defensora de uma Especialização
Infarmed, o Prof. Hélder Mota Filipe
e o saber motivar, as faculdades não
em Farmácia Comunitária, das poucas
e a Prof. Isabel Vitória da Faculdade
ensinam. Conseguimos criar na ANF
áreas que não tem especialização na
de Farmácia da Universidade de
muitas áreas de formação com psicó-
Ordem dos Farmacêuticos. Sempre fui
Coimbra. Foi um grupo maravilhoso.
logos, que nos souberam transmitir
uma defensora de que devíamos par-
Sempre tive a humildade de saber que
conhecimentos nestas matérias.
tir para um farmacêutico especialista e
eu era a profissional que tinha as ne-
Essa vontade de aprender e essa von-
não ser um farmacêutico generalista.
cessidades do saber e sempre respeitei
tade de formar não é só dos farma-
Temos um conjunto de projectos de
as competências e os seus saberes, no
cêuticos mas também dos técnicos.
trabalho diário que obriga a saber algo
sentido de aproveitá-los, para os pôr ao
A situação dos técnicos também foi
mais. E esse algo mais é importante
serviço dos profissionais. Considero ex-
uma situação interessante dentro da
para os doentes e para nós próprios. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 19
entrevista
Eu tento, aqui no meu
vendo sete coordena-
espaço, que não haja
dores. Eu coordenava a
generalistas,
exis-
norma 7, da Educação
tam farmacêuticos com
e Promoção para a
competências
delega-
Saúde. Cada coordena-
das, quer na área da
dor escolhia grupos de
Qualidade, quer nos PIC,
colegas para poder tra-
quer nos PCF, mas, oficial
balhar, de acordo com
e lamentavelmente, não
as suas preferências,
há vontade política para
capacidades
que se caminhe para uma
nhecimentos. Fizemos
especialização. Muitas ve-
a apresentação pelo
zes, vinham alguns argu-
país e tentámos aplicá-
mentos contra de que a
las. Inicialmente sem a
especialização iria abalar a
vertente da auditoria,
lei da propriedade da far-
uma espécie de auto-
mácia. Ela foi abalada e a
auditoria.
que
ou
co-
especialização não foi criada. Se calhar se tivéssemos lutado
Evoluímos para a Implementação de Sistemas de Gestão da
por ela, quem sabe se hoje o Sr. Ministro não tinha tido tanta
Qualidade, porque era o passo mais importante e esse era,
facilidade em abanar a lei da propriedade da farmácia.
talvez, o grande objectivo: evoluir para a certificação. A nossa certificação tem uma característica especial: qualquer empre-
A vantagem da dupla certificação
sa pode ser certificada pela APCER, ou outra empresa deste âmbito, com a norma ISSO 9001:2000, mas nós temos a mais-
FP ‒ O projecto das Boas Práticas de Farmácia também
valia das BPF da OF. Temos assim uma dupla certificação.
lhe diz directamente respeito. A sua farmácia foi pionei-
Tenho uma equipa que se sente orgulhosa em trabalhar
ra na implementação do Sistema de Gestão da Qualidade
numa farmácia certificada. Deu muito trabalho, porque parti-
(SGQ). De que forma é que a certificação alterou a práti-
mos do zero, da elaboração do Manual da Qualidade a todas
ca profissional na Farmácia Teixeira?
as instruções de trabalho. Foi pesado em termos de trabalho
MT ‒ Pertenci ao grupo que, em 1994, adaptou o texto das
e em termos financeiros. Mas continuo a dizer que valeu a
BPF Europeias a Portugal e enquanto Direcção, percorre-
pena. Toda a equipa se envolveu, toda a equipa participou.
mos o país a divulgá-las. Éramos um grupo de farmacêuti-
Possibilitou que todos trabalhemos da mesma forma, te-
cos entusiasmado, que sabia muito bem o que queria. As
mos as mesmas regras. Todos sabem o que é que tem de
Boas Práticas de Farmácia (BPF) tinham sete normas, ha-
fazer, não existindo aqui o desconhecido. Uma das grandes
20 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
vantagens, em termos de estrutura
quire-se com a formação. A ética vem
interna, é não existir o desconhecido,
do berço, mas aprende-se, treina-se e
pois tudo tem instruções de trabalho e
pratica-se. Falo também da promo-
está documentado. Até um estagiário
ção da saúde, dado que como já referi
que chegue à farmácia lê uma instru-
coordenei essa norma das BPF e con-
ção de trabalho e dai a cinco minutos
sidero que a farmácia é um espaço de
está a fazer um pedido, uma gestão de
saúde onde se podem desenvolver
entrega ou uma determinação de uma
projectos de educação e promoção
glicemia, etc..
para a saúde. Os cidadãos expressam
Muitas vezes as pessoas têm necessidade de manter a sua terapêutica e é à farmácia que vêm, porque não têm consulta nem receita.
nos inquéritos de satisfação todas as
existe. Mas temos que ir mais longe,
suas críticas e sugestões e temos que
temos que partir para serviços mais di-
ir ao encontro delas. O valor acres-
ferenciados, saber fazer a gestão da te-
centado em saúde é a satisfação das
rapêutica do doente, fazer a gestão da
necessidades dos clientes. São esses
doença, saber acompanhar os doentes
os ganhos em saúde de que tanto se
nestes programas. Para tudo isto, a for-
Depois tem outra grande vantagem,
fala hoje e que tão pouco se avalia na
mação tem de estar associada. Não há
que eu considero talvez o aspecto vi-
área farmacêutica. Acho que é aí que
que se ser generalista, tem que se cada
sível da certificação, que é a que diz
temos que apostar.
vez mais diferenciar os conhecimentos
Satisfazer a necessidade do utente
respeito aos utentes. Fazemos inqué-
para que o farmacêutico evolua para
ritos de satisfação e esses inquéritos
FP ‒ A nível da intervenção profis-
essas áreas.
traduzem as necessidades e as suges-
sional, merecem o seu aval e dedica-
Estes programas vêm ao encontro
tões. No fim, fazemos a estatística dos
ção ainda os Programas de Cuidados
das necessidades dos doentes. O
resultados. Na Política da Qualidade
Farmacêuticos e os Programas de
nosso SNS não acolhe bem os seus
da minha farmácia, para além de
Intervenção Comunitária. Qual a
cidadãos. Pelo menos aqui, no meu
tudo o que é habitualmente referido,
mais valia desta intervenção para os
centro de saúde, há imensa falta
legislação, norma ISO, princípios de
utentes e para farmácia?
de médicos. Muitas vezes as pes-
gestão da qualidade, BPF, acrescen-
MT ‒ Actualmente fala-se de que a far-
soas têm necessidade de manter a
tei alguns aspectos que considero
mácia deve ter serviços essenciais e ser-
sua terapêutica e é à farmácia que
fundamentais na nossa actividade:
viços diferenciados. O serviço essencial
vêm, porque não têm consulta nem
a ética e a competência. São dois
é normalmente a rotina da farmácia:
receita. Temos que dar a esses cida-
aspectos de que eu não abdico no
a dispensa, a informação ao doente, a
dãos a satisfação dessa necessida-
dia-a-dia de falar e de transmitir aos
preparação de um medicamento ma-
de. Os toxicodependentes que têm
meus estagiários. A competência ad-
nipulado, aquilo para que a farmácia
condições para não ir aos CATs vêm FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 21
entrevista
à farmácia fazer a admi-
Agora está muito na moda falar em marketing. Mas, para mim, o único marketing que a farmácia pode fazer é dos seus serviços.
FP ‒ Pelo que foi anteriormente referido, é óbvia a
nistração de metadona. E temos uma prestação extremamente importante jun-
sua dedicação e entusiasmo na implementação dos di-
to dessas pessoas: a nível da reinserção social, a nível da
versos projectos desenvolvidos pela ANF e que servem
sua reinserção no próprio mercado de trabalho.
de suporte à actividade profissional. Contudo, existirão
Considero que estes são programas de que nos podemos
certamente melhorias a desenvolver. Qual é na sua opi-
orgulhar. São programas a que temos dedicado muito
nião, as estratégias a implementar para os tornar mais
tempo da nossa actividade e não são remunerados. Eu não
atractivos?
queria remuneração, queria reconhecimento, do Governo.
MT ‒ Agora está muito na moda falar em marketing. Mas,
Ninguém fala dos inúmeros doentes a fazer tratamentos
para mim, o único marketing que a farmácia pode fazer é
de metadona e que o farmacêutico faz isto de uma forma
dos seus serviços, bem como o marketing social. Não é o
dedicada, abnegada e gratuita.
marketing pelo marketing, porque este qualquer profissão ou actividade faz (marketing dos produtos, das pessoas).
O reconhecimento
Pode ser importante, mas o que é mesmo importante é apostar no marketing de serviços. Dizer o que a farmácia tem capacidade para fazer, como por exemplo, a medição
Fazendo um parêntesis, o professor Zubioli escreveu um
de parâmetros bioquímicos e fisiológicos ‒ o tal algo mais
livro, que se chama Profissão Farmacêutica, E Agora? .
para que os cidadãos vejam as suas necessidades satisfei-
A capa tinha uma farmácia com uma cruz vermelha e
tas. Aí é que nós podemos apostar: quer nos PCF, quer nos
uma frase a dizer pague 2 leve 3 . Estamos a trilhar esse
PIC, quer na Qualidade. Este é que é o futuro: diferenciar
caminho. E é isso que eu não quero. Mandei esse livro ao
a actividade, diferenciar todo o trabalho que fazemos e
Sr. Primeiro-Ministro. Nunca recebi resposta.
apostar no marketing de serviços, única e exclusivamente.
Um projecto que me deu muito gozo foi o Farmacêutico nas Escolas . Com o Eduardo Perestrelo, o designer do
FP ‒ Os cuidados farmacêuticos são programas de acção
cartoon da FP, a colega Clara Carneiro e com a Maria José
continuada e de acompanhamento do doente, exigindo
Justo, uma colega da indústria, fizemos um trabalho de-
a articulação com outros profissionais de saúde, nome-
licioso em cassete VHS, para ir às escolas falar do que é
adamente os médicos e enfermeiros. Dada a sua expe-
o farmacêutico, a farmácia e o medicamento. Isto tem a
riência nesta área, quais os passos que tem dado para
ver com a saída do farmacêutico para ir à comunidade. É
promover este relacionamento entre profissionais, em
um projecto de intervenção na comunidade que foi ins-
prol da saúde dos doentes? De forma a manter frutuoso
pirado numa apresentação de colegas holandeses neste
este relacionamento, o que se deve evitar? Quais são os
âmbito a que Prof. Aluísio Marques Leal assistiu num con-
conselhos que deixa aos colegas que pretendem dinami-
gresso da FIP.
zar este relacionamento?
22 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
MT ‒ Abordei em inúmeros congres-
cia, sempre que existe uma dúvida
excelente exemplo de como médicos
sos para estudantes a relação mé-
em relação a um medicamento ou a
e farmacêuticos podem coabitar sem
dico-farmacêutico, mas considero
uma receita, devem ser os próprios
atritos. Muitas vezes surgem algumas
um relacionamento perfeitamente
a contactar o médico, e não os téc-
coisas de pequena monta, mas que
normal, dentro dos parâmetros da
nicos. Consultar na base do respeito,
nós tentamos diluir. Este fórum, que
respeitabilidade. Tem que haver res-
da ética e da competência. Temos o
permite a médicos e farmacêuticos
peito, como em todas em profissões.
dever de os ajudar quando eles não
trocarem livremente impressões, é
A relação só é benéfica, conclusiva e
dominam todas as áreas do medica-
extremamente importante. O objecti-
útil se houver competência. Continuo
mento, como nós dominamos.
vo major será dialogar de uma forma
a apostar na competência. Ninguém pode dialogar com um médico sem saber aquilo que está a dizer. Nós
correcta, porque o nosso objectivo co-
Respeito, ética e competência
hoje temos na farmácia ferramentas
mum é tratar os doentes. Nessa perspectiva, só ganhamos em termos um bom relacionamento.
da
É importante treinar as técnicas de
Para os colegas novos, o bom relacio-
formação, temos o SIFARMA 2000,
comunicação. E treiná-las num as-
namento adquire-se com ética, res-
que nos permite trabalhar com
pecto. Nós não podemos ser submis-
peitabilidade e competência.
imensa segurança e temos o aces-
sos ao médico. Com todo o respeito,
so a Centros de Informação que nos
não há submissão do farmacêutico
FP ‒ A farmácia enquanto estabe-
permite trabalhar com qualidade.
ao médico. Somos ambos profissio-
lecimento prestador de cuidados
A promoção de reuniões com médicos
nais de saúde. O farmacêutico não
de saúde e enquanto profissão está
é extremamente importante e há mui-
tem que pensar que está abaixo da
a sofrer consideráveis mudanças,
técnicas,
independentemente
tos médicos abertos a essa evolução.
classe médica. Isto no Brasil acon-
promovidas pela nova legislação.
Eu sou extremamente bem aceite
tece todos os dias. Os colegas bra-
Estamos aqui a referir-nos ao facto
entre os médicos da minha zona, eles
sileiros têm um terror de falar com
dos MNSRM poderem ser vendidos
sabem que eu sei e tenho todo o gos-
um médico. São capazes de fazer
fora das farmácias, de as farmá-
to em colaborar. Tenho muitas vezes
a maior barbaridade e entregar ao
cias poderem vir a ser detidas por
as minhas questões em relação a de-
doente algo que não lhe seja útil ou
não farmacêuticos, entre outro.
terminadas prescrições, mas eu, com
indicado, porque não ousam, nem
Aproveitando esta onda de mudan-
toda a diplomacia e todo o respeito,
sequer um contacto telefónico.
ça, em sua opinião o que deve ser
vou trocar impressões com eles e di-
Nós temos um bom exemplo em
alterado e o que deve ser mantido?
zer que é necessário corrigir algo.
Portugal. Temos um fórum na Internet,
MT ‒ O sector cometeu erros. E apren-
Em relação aos colegas, queria dizer
de médicos de clínica geral e farma-
der com os erros não fica mal a nin-
que os farmacêuticos, na sua farmá-
cêuticos ‒ o MGFarm. O MGFarm é um
guém, porque aprender é um passo FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 23
entrevista
Geral, por Professores Universitários, por Farmacologistas. Era um grupo de elite, que conseguia, a nível nacional e veiculado através da OF, impor um determinado tipo de regras para fazer a dispensa de uma forma correcta, eficaz e segura. Tudo isso foi posto de lado.
Aprender com os erros
que damos em frente na nossa vida.
de saúde não são requisitos profissio-
Em Qualidade dizemos que um erro é
nais. O utente percebe quando é um
uma Oportunidade de Melhoria.
farmacêutico ou um técnico habilita-
É preciso manter um associativismo
do a dispensar um medicamento ou
Por isso, quando digo aprender com
forte, porque só unidos é que o sec-
quando é um qualquer vendedor,
os erros é porque realmente comete-
tor consegue chegar às conquistas
que tanto vende uma caixa de aspiri-
mos alguns e hoje estamos a pagá-los
que necessita de obter e nós estamos
nas como um par de peúgas.
muito caros. A ida dos medicamentos
a viver momentos conturbados.
Havia, também, um projecto inte-
para os supermercados dói a todos
Relativamente ao facto dos MNSRM
ressante, liderado pelo colega Pedro
nós. Não dói na bolsa, muito sincera-
terem ido para os supermercados
Cruz, anterior Presidente do Grupo
mente, porque eu não notei diferença
muita da culpa foi nossa. Por isso
Profissional da OF, que tinha a ver
nenhuma na minha farmácia. O que
digo que temos de aprender com os
com um projecto de protocolos de
me entristece profundamente. Foi a
erros do passado. A ANF tinha Cursos
intervenção em automedicação, que
falta de reconhecimento dos órgão de
de Formação de Automedicação no
foi interrompido. Foi uma pena não
cúpula relacionados com esta área.
âmbito da Farmacoterapia, que eu
se ter dado o devido valor. O objecti-
Gostaria, neste aspecto, que as fa-
coordenava, mas estes foram aban-
vo e o que foi desenvolvido no âmbi-
culdades fossem mais intervenien-
donados. Não era considerada uma
to deste projecto é fundamental que
tes, numa área que é core da activi-
área interessante ou importante. Isso
tenha o apoio do sector. Se ele tivesse
dade farmacêutica. A informação na
foi um aspecto extremamente nega-
surgido tínhamos mais qualificações
área da saúde no nosso país é de má
tivo, que eu lamento profundamente,
no aconselhamento dos MNSRM.
qualidade, é muito a dos media. E
porque é uma área do conhecimento
Era um óptimo exemplo também de
não é isso que eu defendo. As facul-
importante. As habilitações e com-
relação médico-farmacêutico, porque o
dades têm que dar mais evidência
petências dos indivíduos que estão
grupo era constituído por Farmacêuticos
à área do medicamento não sujeito
a dispensar medicamentos nas lojas
Comunitários, por Médicos de Clínica
a receita médica, que tem de ter as
24 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
mesmas regras dos que estão sujeitos a receita médica. E nessa pers-
A minha perspectiva para o futuro é manter a qualidade, a competência, manter as pessoas motivadas, satisfazer as necessidades dos doentes.
pectiva vejo com muito entusiasmo algumas faculdades preocuparemse com estas áreas. As faculdades e instituições, quer OF, quer ANF, devem apostar nesta formação, porque não podemos deixar fugir aquilo que é nosso. Também uma mais valia importante é o recém-criado serviço Informação Saúde, através
de aumentar as nossas capacida-
Não vou falar exaustivamente do
do qual recebemos na farmácia su-
des, competências, fazer a diferença.
Compromisso para a Saúde, porque
portes estrategicamente concebi-
Aproveitar o momento conturbado
essa não é a minha área de inter-
dos para nos apoiar na informação
para transformar as ameaças em
venção, mas apesar de tudo, temos
aos utentes de acordo com a situa-
oportunidades.
que o considerar como o futuro. É
ção específica de cada um. A revista
No futuro desejo manter e consoli-
isso com que nós vamos ter que nos
Farmácia Saúde, é também um ex-
dar as relações com os estudantes.
debater. O Dr. João Cordeiro teve
celente veículo de informação em
Participo, de uma forma entusiasma-
muita capacidade para negociar um
saúde dirigida aos utentes.
da, todos os anos no Concurso de
Compromisso para a Saúde que não
Aconselhamento ao Doente, o que
foi agradável para a classe. Foi o pos-
me dá muito gosto. Este grupo de jo-
sível, e até admiro como se chegou a
farmacêutico de oficina daqui a um
vens dinâmicos, inovadores, abertos
determinados consensos.
ano e daqui a cinco anos? Quais as
à mudança é a quem dá prazer trans-
Mas o futuro está nas mãos de cada
áreas em que deve investir?
mitir estas mensagens. Os estudantes
um de nós. Ser positivo, continuar a
MT ‒ Não pretendo mudar em nada
são o futuro.
trabalhar bem e manter a qualidade.
a minha postura para o futuro. Vou
A minha perspectiva para o futuro é
O importante para mim não é ter o
continuar a ser positiva. O farmacêu-
manter a qualidade, a competência,
emblema à porta, é demonstrar que
tico não pode viver na era do coita-
manter as pessoas motivadas, satis-
nós nos diferenciamos. Temos de ten-
dinho, do desgraçadinho, daquele
fazer as necessidades dos doentes.
der para ser especialistas e não gene-
que foi maltratado, ostracizado por-
Temos de ser pessoas com pró-activi-
ralistas. Gostaria de terminar a minha
que outras classes são mais visíveis.
dade e pôr os olhos no futuro e pen-
carreira profissional como especialista
A visibilidade depende de nós e nós
sar que tudo tem de continuar. Tudo
e não generalista. É essa a nota mais
temos que ser positivos no sentido
depende de nós.
importante que gostaria de deixar.
FP ‒ Uma última questão. Como vê o
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 25
cedime Restruturação em curso no CEDIME Acompanhar a mudança CEDIME está longe de se esgotar nes-
Procurou-se ‒ como salienta a directora
te diálogo directo com as farmácias.
técnica do centro, Sandra Lino ‒ confe-
Os especialistas em informação sobre
rir coerência às diversas actividades do
alicerçada na vontade de melhorar
medicamentos que nele trabalham
CEDIME, na medida em que todas elas
são a retaguarda de uma intervenção
assentam na informação sobre medi-
a prática, aumentar a efectividade,
mais vasta, traduzida no apoio à in-
camentos e saúde . Os serviços agora
tervenção farmacêutica nas suas mais
agrupados já existiam, mas dispersos,
diversas vertentes.
enquanto unidades com recursos hu-
O caminho percorrido desde 1985 é,
manos específicos: serviço de consultas,
sem dúvida, um caminho de assinalável
concepção e desenvolvimento de con-
sucesso. Todavia, o sector farmacêutico
teúdos técnicos, informação ao doente
está em constante mudança ‒ porven-
e Sifarma 2000. O que se entendeu foi
tura agora mais evidente do que nunca
que seria possível obter mais-valias em
‒, exigindo uma atitude de renovação a
termos de eficiência e qualidade unin-
Foi em Janeiro de 1985 que o CEDIME
fim de enfrentar novos desafios e apro-
do-os numa plataforma em que o de-
‒
Foi esta a filosofia que presidiu à restruturação do CEDIME,
renovar a imagem e reforçar a credibilidade dos farmacêuticos enquanto especialistas em informação sobre medicamentos.
sobre
veitar novas oportunidades. Impõe-se
nominador comum é a informação.
Medicamentos iniciou o seu funcio-
um espírito de abertura, de receptivida-
O que ‒ argumenta Sandra Lino - faz
namento, assumindo-se como um
de. É preciso acompanhar a mudança e
todo o sentido, na medida em que as va-
suporte científico à actividade das far-
é essa a filosofia que está subjacente à
lências dos diversos serviços se cruzam
mácias. Desde então, tem-se afirmado
restruturação do CEDIME.
entre si e com outros departamentos da
uma ferramenta imprescindível para a
O que está em curso é uma evolução,
ANF, nomeadamente o da Formação e
prática profissional, um recurso valioso
de continuidade, não uma ruptura com
o dos Serviços Farmacêuticos. A direc-
no esclarecimento de dúvidas, na re-
o passado. O que está em curso é o
tora técnica do centro ilustra as vanta-
Centro
de
Informação
solução de problemas e na resposta às
aproveitamento dos recursos existentes
gens da nova organização, mostrando
necessidades práticas das Farmácias.
e a sua optimização mediante a criação
como é possível estar em consonância:
O serviço de consultas é a sua face
de sinergias, numa estratégia em que a
assim, um tema do Serviço Informação
mais visível, mas a actividade do
equipa assume crucial importância.
Saúde (folhetos para o doente) pode ir
26 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Resolver a consulta O Serviço de Consultas é a plataforma mais directa de relacionamento entre as farmácias e o CEDIME. Como tal, está contemplada uma nova abordagem ‒ mais orientada para as necessidades dos doentes, de modo a que a farmácia responda de facto a essas mesmas necessidades e leve à obtenção de resultados positivos. Tal significa ir além da pergunta ‒ mais do que responder à questão, dar a resposta adequada ao problema colocado pela farmácia e assim dar resposta à necessidade do doente. Trata-se de resolver a consulta.
Melhorar a prática
bém do ponto de vista dos custos, pas-
Farmácia Portuguesa, ao mesmo tem-
Esta é uma restruturação com objec-
mação técnica, baseada na evidência
po que o Sifarma 2000 pode fornecer
tivos bem definidos: melhorar a ac-
com impacto ‒ informação que seja
informação actualizada sobre o mes-
tual prática do CEDIME, torná-lo mais
utilizada pela farmácia, que marque a
mo assunto. Já o serviço de consultas,
efectivo, ceder informação técnica aos
diferença . Trata-se de publicar com
por constituir uma fonte muito rica de
profissionais de saúde optimizando os
um objectivo : ter impacto junto dos
informação, pode funcionar como um
resultados obtidos junto dos doentes,
doentes.
barómetro de temas a tratar nas demais
renovar a imagem do centro perante as
Já renovar a imagem implica que as
plataformas informativas.
farmácias, promover os seus serviços e
farmácias tenham noção de que está
Do mesmo modo é possível a articu-
promover a imagem e credibilidade dos
lação com as campanhas emanadas
farmacêuticos enquanto especialistas
com o Departamento de Programas
em informação sobre medicamentos.
de Cuidados Farmacêuticos, mediante
Como sublinha Sandra Lino, o CEDIME
a produção de suportes informativos,
é um serviço de suporte à prestação
O novo CEDIME tem uma missão: gerir e
ou com o Departamento de Formação,
profissional das farmácias. Para que
disponibilizar informação técnica nas áreas da
na organização de acções formativas
seja considerado imprescindível, tem
saúde, do medicamento, dos produtos de saúde e
que se articulam, por sua vez, com
de saber e conseguir acompanhar a
dispositivos médicos, respondendo às necessidades
o Sifarma2000. Ou com o Museu da
mudança, dando resposta às reais ne-
dos profissionais de saúde e utentes. E enquanto
Farmácia, nomeadamente através da
cessidades de todas as farmácias que
suporte aos serviços farmacêuticos, contribuir para
produção de conteúdos de interesse
serve . E para isso é necessário que as
o desenvolvimento do sector e da farmácia como
infantil/juvenil a serem tratados no âm-
farmácias reconheçam nos serviços
centro de prevenção e terapêutica.
bito do Clube da Sara. Ou ainda com o
prestados pelo centro valor acrescido
Esta é uma missão assente numa visão: a de
Departamento de Marketing, aprovei-
à sua prática diária, que sintam neces-
criar uma equipa líder em informação sobre
tando o relançamento da Farmácia TV
sidade de recorrer aos seus serviços e
medicamentos e saúde ‒ afinal, a razão de ser do
para reforçar a mensagem dos folhetos
que valorizem esses mesmos serviços.
CEDIME.
para o público.
Tornar o CEDIME mais efectivo, tam-
ao encontro de um suporte de conteúdo técnico na Farmácia Técnica ou na
sa, nomeadamente, por ceder infor-
Uma missão, uma visão
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 27
cedime
CEDIME ‒ Ficha técnica São 11 os profissionais que constituem a equipa do CEDIME, entre farmacêuticos e técnicos, a que se juntam alguns colaboradores externos, sob direcção técnica de Sandra Lino. Com a restruturação em curso, que começou a ser programada em Novembro de 2005, o CEDIME agrupa um conjunto de áreas até então dispersas, cujo âmbito a seguir se sintetiza:
• Serviço de Consultas ‒ Acessível das 9h às 19h, resolve consultas colocadas maioritariamente por farmácias de oficina e por via telefónica. em curso uma restruturação assente na preocupação de
Parte destas consultas são resolvidas de forma
acompanhar a realidade. Quanto a promover os serviços
relativamente rápida, na medida em que visam dar
do CEDIME, implica passar a mensagem de que este de-
resposta a uma questão urgente suscitada com o
partamento ‒ como os demais da ANF ‒ trabalham para
doente na farmácia. Outras, no entanto, conduzem
que as farmácias tenham uma melhor prática profissional.
a pesquisas mais exigentes e mais elaboradas.
No que toca à imagem dos farmacêuticos enquanto espe-
• Concepção e Desenvolvimento de Conteúdos
cialistas em informação sobre medicamentos, o objectivo
Técnicos ‒ Estes conteúdos, sobre medicamentos,
é reforçar a credibilidade, a começar pela equipa da casa,
terapêutica, estilos de vida e produtos de saúde,
que desde sempre trabalha em informação. Tem, no en-
dirigem-se a profissionais de saúde e são publicados
tanto, um alcance mais amplo, já que estão em perspectiva
na Farmácia Técnica e na Farmácia Portuguesa.
acções de formação, sob a forma de estágios profissionalizantes dirigidos, numa primeira fase, a recém-licenciados.
• Informação Saúde ‒ Engloba a produção de conteúdos orientados para os doentes, mediante o desenvolvimento de folhetos de suporte
Funcionar como uma equipa
à intervenção da farmácia, visando informar, promover o aconselhamento e apoiar a dispensa.
São muitos os desafios. O primeiro é interno: ter o novo
• Sifarma2000 ‒ O CEDIME é responsável
CEDIME a funcionar como uma equipa. Sectores antes dis-
pela componente profissional da aplicação
persos, com profissionais adstritos a cada um, estão agora
informática das farmácias.
juntos, física e estrategicamente. Partindo desta nova realidade, o propósito é que esta equipa única funcione com um elevado grau de colaboração, promovendo-se relações de
tes, o que dá uma outra perspectiva e enriquece o serviço.
trabalho com um elevado grau de sucesso, criando sinergias
Desenvolvem-se competências, nomeadamente ao nível
de modo a que o resultado seja superior à soma das partes.
da comunicação.
Para atingir estas metas, está em marcha um processo de
Esta é a primeira fase da restruturação do CEDIME. A se-
circulação de recursos entre as diversas áreas do CEDIME, de
gunda será de desenvolvimento e partilha, a que se se-
modo a que todos os elementos da equipa se familiarizem
guirá a consolidação da mudança. Completar o processo
com cada um dos serviços e estejam em condições de res-
exige esforço e vai levar tempo. Disso está convicta Sandra
ponder na prática às distintas solicitações. Unir e melhorar
Lino. Mas também está optimista quanto ao desfecho,
é o que se propõe a directora técnica. Primeiro, a partilha
acreditando que desse esforço resultará uma equipa líder
de espaço vai permitir o conhecimento entre pessoas que,
em informação sobre medicamentos e saúde, com com-
antes, apenas se viam. Depois, os estágios internos, vão
petências técnicas diferenciadas em informação, de supor-
colocar novas pessoas a olhar para processos já existen-
te à prática profissional e em benefício dos doentes.
28 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 29
informacao terapeutica
DISFUNÇÃO SEXUAL Carmen Inês*
O século XX foi marcado por acentuadas mudanças na forma como a sociedade olha para a Sexualidade Apesar da disfunção sexual masculina
eréctil. Trata-se de uma situação
ter sido alvo de um maior enfoque de
que deve ser contextualizada caso
de mentalidades e
estudos nos últimos anos, estima-se que
a caso, e cujo tratamento pode
a disfunção sexual seja mais comum nas
passar por várias especialidades:
o desmistificar de
mulheres (cerca de 43%) do que nos
urologia, cardiologia, endocrinolo-
homens (cerca de 31%). Por este moti-
gia, psiquiatria, psicologia, sexolo-
vo, a disfunção sexual engloba também
gia, entre outras. Numa situação de
Humana. A mudança
tabus permite agora ver a Sexualidade
disfunção sexual feminina.
2
Com o desenvolvimento científico * Carmen Inês,
numa perspectiva
Farmacêutica do Cedime
mais abrangente, que para além de incluir a função reprodutora é também uma forma de transmissão de afectos e obtenção de prazer. 30 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
1
disfunção sexual, o conhecimento da história clínica assume particu-
e a investigação farmacológica tor-
lar relevância, devendo também,
na-se possível, na maioria dos casos,
sempre que possível, ser feita uma
dar respostas terapêuticas positivas à
avaliação conjunta do casal. O co-
Disfunção Sexual.
1
nhecimento da idade, das características do doente, da forma como
Compreender a Disfunção Sexual no Homem
aparece a disfunção (súbito ou insidioso), da presença ou não de erecções espontâneas, libido mantida ou não, presença ou não de ansiedade, permite indicar o carác-
A disfunção sexual masculina não
ter predominantemente orgânico
se restringe apenas a disfunção
ou psíquico da disfunção. 1
Fases do ciclo de resposta sexual no homem No homem o acto sexual implica uma série de eventos psicoorgânicos que se sucedem ordenadamente. Estes eventos são independentes, por exemplo pode existir disfunção eréctil com orgasmo e ejaculação ou disfunção ejaculatória sem
São vários os medicamentos que podem interferir negativamente com a função sexual.
Ejaculação
Orgasmo
Erecção
Desejo ou Libido
disfunção eréctil. 1
Os medicamentos e a disfunção sexual masculina São vários os medicamentos que podem interferir negativamente com a função sexual, dos quais se referem alguns exemplos: Grupo Terapêutico
Fármacos
Características da Disfunção Sexual
Indometacina
Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída
Naproxeno
Disfunção eréctil e/ ou ausência de ejaculação
Cimetidina
Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída
Ranitidina
Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída
Antidepressivos
Amitriptilina
Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída
Antipsicóticos
Lítio
Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída
Benzodiazepinas
Diazepam
Disfunção eréctil
Atenolol
Disfunção eréctil
Metoprolol
Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída
Propranolol
Disfunção eréctil
Verapamilo
Disfunção eréctil
Clorotalidona
Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída
Espironolactona
Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída
Glicosídeos digitálicos
Digoxina
Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída
Inibidores da bomba de protões
Omeprazol
Erecções nocturnas dolorosas
Propulsivos
Metoclopramida
Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída
AINE s
Antagonistas dos receptores H2
Bloqueadores beta
Bloqueadores dos canais de cálcio Diuréticos
Tabela 1 ‒ Medicamentos que interferem com a função sexual masculina 1 FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 31
informacao terapeutica
hormona do sexo , actua
A disfunção sexual e a hipertrofia benigna da próstata
no homem e na mulher e é
A Hipertrofia Benigna da
responsável pela libido.1
ao nível do sistema límbico
Próstata (HBP) é uma desordem comum nos homens a
Terapêutica hormonal
partir dos 60 anos, podendo
de substituição
estar associada a sintomas
Alterações da libido asso-
do tracto urinário inferior e
ciadas a hipogonadismo
a disfunção sexual.
(baixos níveis séricos de
O tratamento farmaco-
testosterona) podem ser
lógico da HBP, com a ad-
tratadas recorrendo ao tra-
ministração de antagonistas dos alfa-adrenoreceptores
tamento hormonal de substituição com testosterona.1, 5
(tansulosina, alfuzosina e terazosina) ou finasterida, pode
A testosterona existe sob a forma de cápsula mole, gel e
3, 4
aumentar, em alguns casos, a disfunção ejaculatória.
solução injectável para administração intramuscular. A for-
O tratamento da HBP pode ainda implicar o recurso à cirur-
ma oral tem a desvantagem de ser pouco biodisponível,
gia, sendo uma das maiores preocupações as consequên-
pelo facto de ser metabolizada a nível hepático e a forma
cias que esta pode ter sobre a vida sexual. Na verdade,
muscular é pouco fisiológica, uma vez que cria picos sé-
raramente a função sexual fica seriamente afectada com a
ricos na altura da administração. A grande vantagem da
cirurgia, embora habitualmente se torne necessário aguar-
forma transdérmica (gel) é mimetizar o ritmo circadiano da
dar entre 3 a 12 meses para que ocorra regularização da
testosterona, tornando-se por isso mais fisiológicas.1,5
actividade sexual. A maior diferença que os homens sujei-
O recurso a testosterona exógena tem demonstrado me-
tos a cirurgia da próstata podem notar, em termos fisioló-
lhorar o ganho em massa muscular e aumentar a diminui-
gicos, é ao nível da ejaculação, com os chamados orgas-
ção da gordura corporal, prevenir a osteopenia e as frac-
mos secos , que caracterizam uma situação de ejaculação
turas ósseas, aumentar a libido e a qualidade de vida. Os
retrógrada (esperma não sai para o exterior, misturando-se
principais efeitos adversos associados a esta terapêutica
3, 4
com a urina na bexiga).
são o aumento da pressão arterial, apneia do sono, hematócrito e valores lipídicos alterados e alterações ao nível da
A disfunção da libido e a testosterona
próstata (ex. HBP).1,5
A diminuição do desejo sexual devido a desequilíbrio
O risco de desenvolvimento do cancro da próstata não
hormonal está por vezes associado a disfunção eréctil.
está associado a terapêutica de longo termo com testos-
Actualmente sabe-se que a testosterona é a verdadeira
terona.1,9
32 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Disfunção eréctil
Abordagem Terapêutica
A disfunção eréctil é uma situação
A abordagem terapêutica apresenta pelo menos 3 níveis de actuação.
comum que afecta cerca de 10% Tratamento de 1ª Linha
de todos os homens, aumentando a sua prevalência significativamente com a idade.5 Estima-se que cer-
Grupo Terapêutico
Substância Activa
Perfil de Utilização e Segurança
ca de 20% dos casos de disfunção eréctil tenham causa orgânica ou
Sildenafil Tadalafil Vardenafil
- Devem ser administrados antes de uma previsível relação sexual, dado que implicam a existência de estimulação sexual - Contra-indicados de forma absoluta com os nitratos por risco de hipotensão marcada - Tadalafil (perfil de farmacocinética) apresenta a maior duração de acção (cerca de 24 h) - Efeitos secundários (relacionados com a classe) mais frequentes: cefaleias, dispepsia, rubor facial e rinite
Agonista dos receptores da dopamina a nível do SNC (Sistema Nervoso Central)
Apomorfina
- Facilitador pró-eréctil - Duração de acção de cerca de 2 h, com período de latência de 40 a 50 minutos - Sem contra-indicações absolutas - Efeitos secundários: náuseas, sudorese, sonolência e vómitos
Antagonista dos receptores adrenérgicos-2
Yoimbina
- Deve ser tomado de forma continuada - Eficácia moderada
psíquica única, havendo em cerca de 60% dos casos, situações orgânicas com componente psicológica associada. Em indivíduos com
Inibidores selectivos e reversíveis da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5)
menos de 40 anos, cerca de 90% da disfunção eréctil tem origem psíquica.1
Factores de risco e patologias Há vários factores de risco associados à disfunção eréctil: idade, stress, sedentarismo, tabagismo, ingestão alcoólica em excesso, toxicodependência e obesidade.1,5 Para além destes factores, estão também identificadas algumas pa-
Tratamento de 2ª Linha
tologias de risco para a disfunção eréctil, quer pelas lesões que provocam, quer pelos efeitos secundários resultantes do seu tratamento, por exemplo, diabetes, hipertensão
Administração intracavernosa de alprostadilo
- Desvantagem de ser administrado no pénis, o que implica o ensino da técnica de auto-injecção, requer titulação de dose e tem um elevado risco de priapismo associado (erecção permanente e dolorosa que ocorre sem estimulação sexual e que pode persistir durante 6 ou mais horas11)
arterial, hiperlipidemia, hiper e hipotiroidismo
1, 5
Tabela 2 ‒ Terapêutica Farmacológica da Disfunção Eréctil 1 FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 33
informacao terapeutica Quando o recurso ao tratamento de 1ª linha falha, ou nos
O diagnóstico correcto da causa da disfunção sexual feminina
casos de doentes com patologias graves associadas (dia-
é fundamental para o tratamento efectivo.6
béticos graves, doentes com doença aterosclerótica avan-
mais específicos, pode instituir a terapêutica de 2ª linha. 1
Fases do ciclo de resposta sexual na Disfunção Sexual Feminina
No caso de não obtenção de resultados positivos, passa-
A análise da disfunção sexual feminina deve ser feita tendo em
se para o tratamento de 3ª linha, com recurso a cirurgia e
conta as diferentes fases em que a disfunção se pode traduzir.
próteses penianas. 1
Há a realçar que a ausência de orgasmo durante o coito
çada) deve recorrer-se ao urologista, que após exames
Disfunção ejaculatória e orgásmica Tipo
pode ser normal e natural e não implicar disfunção sexual Fases do ciclo da resposta sexual na Disfunção Sexual Feminina
Possíveis causas e Abordagem Terapêutica
Desejo sexual (libido) diminuído
Ejaculação rápida, retardada e anorgasmia
Anejaculação e ejaculação retrógrada
- As causas podem estar associadas a distúrbios psicológicos e alguns medicamentos (ex. inibidores selectivos da recaptação da serotonina ‒ paroxetina, sertralina e fluoxetina ‒, antidepressivos tricíclicos ‒ clomipramina e imipramina -, trazodona) 1 - Intervenção a nível psicológico de grande valia - As causas podem estar associadas à toma de medicamentos (ex. anti-hipertensores, antipsicóticos, antidepressivos) - Quando a causa está associada ao uso de medicamentos, a interrupção da terapêutica, caso seja possível, pode resolver a situação 10
Desejo Aversão sexual
Excitação
Perturbação da excitação sexual na mulher
Orgasmo
Perturbação do orgasmo na mulher
Vaginismo (contracção dos músculos da porção inferior da vagina que impede total ou parcialmente a introdução do pénis) 6, 8
Dor Dispareunia (ocorrência de dor genital persistente ou recorrente associada à actividade sexual, a qual se pode manifestar antes, durante ou após o coito)
Tabela 3 - Disfunção ejaculatória e orgásmica
Disfunção Sexual Feminina
Tabela 4 ‒ Fases do ciclo da resposta sexual na disfunção sexual feminina 6
Até há alguns anos a disfunção sexual feminina era errónea e
Patologias associadas à disfunção sexual feminina
pejorativamente designada frigidez . 6
Algumas condições clínicas podem desencadear/poten-
Estudos demonstram que os contributos de factores psico-
ciar a disfunção sexual na mulher.
A disfunção sexual não é um problema exclusivo dos homens.
lógicos e do contexto sociocultural na expressão saudável da sexualidade na mulher são significativos.6 Há um conjunto de factores etiológicos que determinam a disfunção sexual feminina: estados emocionais negativos (raiva, depressão, ansiedade ou medo); baixa auto-estima, má imagem corporal e ansiedade de desempenho; experiências prévias traumáticas, com dor ou abuso sexual; factores educacionais e culturais e relacionamento com o parceiro.6 Contudo, nem sempre a origem desta situação reside em factores psicossociais e patologias crónicas, terapêuticas de longa duração, abuso de drogas e/ou álcool podem estar na base do aparecimento de disfunção sexual feminina.7
Doenças Endócrinas
Doenças que afectam o estado geral
Hiperprolactinemia
Doenças malignas
Hipotestosteronemia
Doenças renais
Hipotiroidismo
Doenças cardiovasculares
Insuficiência supra-renal
Doenças hepáticas
Doença de Addison
Doenças pulmonares
Síndrome de Cushing
Hemopatias
Diabetes mellitus
Tuberculose
Lesões neurológicas AVC Esclerose múltipla Espinha bífida Miastenia gravis Neuropatia periférica
Parkinson Alcoolismo Doença da tiróide HIV/ Sida
Tabela 5 ‒ Patologias associadas à Disfunção Sexual Feminina 6 34 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Os medicamentos e a disfunção sexual feminina São várias as classes de fármacos e os fármacos que podem desempenhar um papel negativo na qualidade da actividade sexual feminina: 7 - Anticolinérgicos
- Inibidores da monoaminoxidase
- Anti-histamínicos
- Inibidores selectivos da recaptação da serotonina
- Antipsicóticos
- Cetoconazol
- Antidepressivos tricíclicos
- Clonidina
- Antidislipidémicos
- Danazol
- Anti-hipertensores
- Digoxina
- Barbitúricos
- Espironolactona
- Benzodiazepinas
- Indometacina
- Bloqueadores beta
- Lítio
- Contraceptivos orais
- Metildopa
As hormonas e a disfunção sexual feminina
Abordagem Terapêutica
Para além dos fármacos e patologias que podem estar na ori-
Actualmente não existe nenhum medicamento apro-
gem da disfunção sexual feminina, as hormonas endógenas
vado para a disfunção sexual feminina.
também desempenham um papel muito importante no acto
A intervenção psicológica é determinante em alguns
sexual e em algumas situações podem condicionar uma acti-
casos, consistindo, por vezes, a melhor abordagem
vidade sexual satisfatória, ao actuarem ao nível do desejo.
6
numa terapia combinada com recurso a tratamento médico e psicológico. 6
Efeito sobre o Desejo Sexual
A intervenção psicológica pode passar por uma cor-
Testosterona e Estrogénios
Potenciação
recta e desmistificante educação sexual, estimular a
Prolactina e Progesterona
Inibição
Hormonas
quebra de rotina no casal e implementar técnicas de distracção e comportamentos que possam desenvol-
Tabela 6 ‒ Papel das hormonas no Desejo Sexual 6
ver e potenciar fases do ciclo de resposta sexual como o Desejo e a Excitação. 6 No orgasmo, as dificuldades podem ser de origem psicológica, causadas por medicamentos ou por doenças
A ausência de orgasmo na mulher durante o coito pode ser normal e natural e não implicar disfunção sexual.
crónicas. O tratamento pode passar por recorrer a técnicas que aumentem a estimulação (ex. masturbação). 6 Quanto à dispareunia, o tratamento pode incluir o recurso à lidocaína (dispareunia superficial), lubrificantes (dispareunia vaginal), a mudança de posições durante o acto sexual e o uso de anti-inflamatórios não esteróides (dispareunia profunda). 6 No caso do vaginismo o tratamento deve consistir na
Menopausa
promoção do relaxamento muscular e dilatação vagi-
Há um conjunto de alterações fisiológicas que caracte-
nal com recurso a tampões/ cones dilatadores até ser
rizam a menopausa, entre elas a diminuição do nível de
possível a penetração peniana. 6
estrogénios e testosterona. Estes factores determinam o
Encontrando-se os níveis de testosterona diminuídos, a tera-
aumento da probabilidade de aparecimento de disfunção
pêutica hormonal com testosterona nas mulheres na meno-
sexual associada a uma diminuição do desejo, que condi-
pausa é bastante promissora, não só a nível da esfera sexual
ciona a diminuição da actividade sexual.
1
mas também no controlo da densidade mineral óssea, nas FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 35
informacao terapeutica CASO PRÁTICO 1. funções cognitivas e na diminuição da
ção de reacções adversas a medica-
fadiga, muitas vezes confundida com
mentos que possam estar na origem
depressão, e na melhoria do bem-estar
da disfunção e/ou aconselhamento
geral. Apesar da intensa investigação
sobre a mais correcta forma de admi-
em torno de algumas formulações,
nistrar os medicamentos garantindo
ainda nenhuma forma farmacêutica
a sua segurança e efectividade, são
com testosterona foi aprovada para
algumas das potencialidades da in-
esta indicação terapêutica. Dado que a
tervenção da Farmácia junto da po-
terapia hormonal de substituição com
pulação, nesta área.
A Disfunção Sexual é uma situaçãopuramente do foro psicológico.
2.
Disfunção Sexual masculina é sinónimo de Disfunção Eréctil.
3.
Após cirurgia à próstata podem verificar-se algumas alterações ao nível da ejaculação ‒ ejaculação retrógrada.
estrogénios não leva a uma adequada melhoria da função sexual e que a aplicação tópica de estrogénios melhora apenas o grau de lubrificação e de atro-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
4.
A amitriptilina pode estar associada a Disfunção Eréctil e à
1. Associação Portuguesa de Urologia disponível em http://www.apurologia.pt/arvoredecisao/urologia.htm
Diminuição da Líbido.
fia da mucosa vúlvo-vaginal, aguardase com expectativa os resultados de ensaios
randomizados
controlados
com testosterona nestas mulheres. 1 O facto de não existir nenhum me-
2. Boone S A; Shields K M ‒ Dietary supplements for female sexual dysfunction ‒ AM j Health-Syst Pharm, vol 62, iss 6, p 574-580, 2005
5.
A testosterona, para tratamento de substituição, está autorizada para a Disfunção Sexual Masculina
3. Pereira, Nuno Monteiro ‒ Hipertrofia Benigna da Próstata ‒ disponível em http://www. apurologia.pt/temasurologicos3.htm
e Feminina.
dicamento indicado na Disfunção Sexual Feminina, faz com que algumas mulheres recorram a suplementos dietéticos com alegadas propriedades que melhoram a actividade sexual, entre eles o ginkgo biloba e a arginina. Contudo, estudos com estas substâncias ainda não demonstraram a sua efectividade neste campo. 2
Conclusões A Disfunção Sexual é uma realidade que não deve ser ignorada quer pelos doentes, quer pelos profissionais de saúde. A intervenção da Farmácia nesta área é determinante dada a proximidade aos utentes. A identificação dos sintomas e aconselhamento quanto à melhor forma de proceder, identifica36 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
4. Miner M; Rosenberg M T; Perelman M A ‒ Treatment of lower urinary tract symptoms in benign prostatic hyperplasia and its impact on sexual function ‒ Clin Ther, vol 28, iss 1, p 13-25, 2006
6.
Os inibidores selectivos da fosfodiesterase 5 estão contra-indicados de forma absoluta com os ni-
5. Consenso Português para Avaliação e Tratamento da Disfunção Eréctil da Sociedade Portuguesa de Andrologia, 2001 6. Pablo, Cristina; Soares, Catarina ‒ As disfunções sexuais femininas ‒ Revista Portuguesa Clínica Geral 2004; 20:357-70 7 Phillips, Nancy A. ‒ Female sexual dysfunction: evaluation and treatment ‒ em http:// www.aafp.org/afp/20000701/127.html.2000
tratos pelo risco de hipertensão.
7.
tosterona diminuem.
8.
10. Colpi, G. M.; Hargreave, T. B.; Papp, G. K.; Pomerol, J. M.; Weidner, W. ‒ Guidelines on Disorders of Ejaculation ‒ European Association of Urology
A toma de benzodiazepinas pode ter um efeito negativo sobre a ac-
8. Vaginismo em perturbações da função sexual ‒ Manual Merck disponível em http://www. manualmerck.net/artigos/ 9. Wayne J. G. Hellstrom, MD, FACS ‒ Update: Managing Sexual Dysfunction ‒ em http:// www.medscape.com/viewarticle/437092
Na menopausa os níveis de tes-
tividade sexual feminina.
9.
Alguns suplementos dietéticos podem ser eficazes no tratamento da Disfunção Sexual Feminina.
10. O vaginismo é uma situação 11. Silva, José Pereira; M. D. Wilson, Steven ‒ A impotência é reversível ‒ 8º Edição, em http://www.clinicaharmonia.pt
irreversível. 1)F; 2)F; 3)V; 4)V; 5)F; 6)F; 7)V; 8)V; 9)F; 10)F
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 37
informacao terapeutica Dor de Ouvido Zaida Moreira*
A dor de ouvido é uma situação comum, particularmente nas crianças sendo uma situação para a qual a intervenção da equipa da Farmácia é solicitada com alguma frequência. A dor de ouvido pode ser provocada por uma inflamação
Anatomia do Ouvido
causada por infecções, tumores ou outras formações localizadas no ouvido médio ou externo.
O ouvido está dividido em três regiões principais: ouvido
Uma inflamação, mesmo que ligeira, do canal auditivo ex-
externo, ouvido médio e ouvido interno
terno, pode ser muito dolorosa e a inflamação da cartilagem auditiva externa (pericondrite) pode provocar dor aguda.
Ouvido Externo Composto pela aurícula, vulgarmente conhecida por ore-
A infecção do ouvido médio - otite média - é a causa
lha ou pavilhão, e pelo canal auditivo externo.
mais frequente da dor de ouvido nas crianças, provo-
A aurícula é composta por cartilagem, revestida por uma
cando uma inflamação dolorosa.6
camada muito fina de pele. A sua presença em ambos os lados da cabeça permite lo-
Causas Comuns da Dor de Ouvido
calizar a origem do som.1,2 O canal auditivo externo permite a passagem das ondas sonoras até à membrana do tímpano. A pele que cobre
A dor de ouvido ou otalgia é causada pela acumula-
a cartilagem do canal auditivo contém folículos pilosos e
ção de líquido, e por pressão no ouvido médio.
glândulas responsáveis pela secreção de cerúmen.1,2
* Zaida Moreira Farmacêutica do Cedime
O cerúmen lubrifica e aprisiona partículas que possam enA causa da dor de ouvido não é necessariamente uma do-
trar no canal auditivo formando uma barreira protectora. O
ença do ouvido. Infecções e outros problemas do nariz (in-
cerúmen semi-sólido é expelido naturalmente para o exte-
fecção dos seios perinasais), boca (infecção dentária ou das
rior do canal auditivo externo, ao mastigar ou ao falar.
gengivas), garganta (faringite, amigdalite) e articulação do
A pele do canal auditivo externo é resistente à água e tem
maxilar (artrite do maxilar) podem causar dor no ouvido.4
um pH que dificulta a proliferação bacteriana.1
As causas mais comuns da dor de ouvido são:
Ouvido Médio
• Obstrução do ouvido externo (por corpo estranho);
Situa-se atrás da membrana do tímpano dentro do osso
• Otites, externa e média;
temporal.
• Diferenças de pressão (viagens de avião);
O ouvido médio, está ligado à nasofaringe através da trompa
• Perfuração do tímpano.
de Eustáquio, o que permite o equilíbrio da pressão entre o
4
38 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
ouvido externo
ouvido médio
ouvido interno
auricula
canal auditivo membrana do tímpano
trompa de eustáquio
Figura 1- Ouvido, externo, médio e interno
ouvido médio e o ambiente exterior. Esta ligação está normalmente fechada, excepto ao mastigar, engolir ou bocejar.
1,2,3,7
A OE difusa também conhecida por otite do nadador ocorre após exposição prolongada do ouvido a água doce ou salgada (praias ou piscinas) e é mais frequente no verão.1,6,11,13
Ouvido interno Também designado por labirinto é o centro primário da
A OE, aguda ou crónica, secundária a infecção bacte-
audição e do equilíbrio e está dentro da caixa craneana.
riana é a mais frequente.6, 11
Contém os receptores do equilíbrio e da audição.1.2
As dermatites alérgicas de contacto estão associadas a 22% dos casos de OE e podem ser a causa ou a com-
Otite Externa (OE)
plicação da OE. É muito comum devido à aplicação tópica de medica-
Designação atribuída aos processos inflamatórios da aurí-
mentos nomeadamente, neomicina muitas vezes asso-
cula, canal auditivo externo ou superfície exterior da mem-
ciada a polimixina utilizada no tratamento da OE aguda.
brana do tímpano. A OE é mais comum na mulher do que
É também causada pela entrada de substâncias irritativas
no homem.
como laca, tinta do cabelo, cosméticos, perfume e metais
Pode ser difusa (afecta todo o canal auditivo), localizada (furún-
(níquel e crómio). 6, 11, 12
culos - afecta apenas uma zona reduzida), aguda ou crónica.
Causas
Sintomas
OE Localizada
Infecção localizada nos folículos pilosos causada por Staphylococcus aureus.
Os furúnculos provocam dor intensa e podem causar perda de audição em caso de oclusão do canal auditivo. Quando rebentam, libertam sangue e pus.
OE Aguda Difusa
Origem bacteriana (Pseudomas aeruginosa ou Staphylococcus aureus). Origem fúngica (otomicose), menos comum, causada por Aspergillus niger e Candida albicans, surge após aplicação prolongada de antibióticos e/ou corticosteróides tópicos.
Prurido, dor intensa e persistente, otorreia (corrimento de pus), perda de audição por edema do canal auditivo ou acumulação de pus. Canal auditivo externo com sensibilidade dolorosa intensa ao toque.
OE
Outras causas: dermatoses reactivas (eczema, psoríase, lúpus eritematoso, dermatite seborreica, de contacto, atópica, induzida por fármacos); trauma (lavagens de ouvido e inserção de corpos estranhos).
Na OE crónica existe prurido constante e desconforto moderado. Pode existir dor moderada.
Tabela 1 ‒ Causas e Sintomas da OE 6,11,13 FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 39
informacao terapeutica O canal auditivo limpa-se por si só, deslocando as células cutâneas mortas desde o tímpano até ao exterior.
OE Aguda localizada (furúnculos)
OE Aguda moderada
OE Aguda Grave
Terapêutica A terapêutica é determinada pelo tipo de OE e passa também pelo controlo ou eliminação dos factores predisponentes (ex-
Anti-sépticos e antibióticos tópicos não são recomendados.
Antibióticos
Flucloxacilina ou eritromicina por via oral, em caso de alergia à penicilina.13
Preparações tópicas de sulfato de polimixina B isolada ou em associação com hidrocortisona (4 a 5 gotas no ouvido afectado 3 a 4 vezes ao dia, continuando a terapêutica durante 2 a 3 dias após desaparecimento dos sintomas). 11 Preparações tópicas de ciprofloxacina (3 gotas no ouvido afectado 2 vezes ao dia durante sete dias). 11
posição prolongada a água do mar ou das piscinas, trauma, problemas congénitos, imunossupressão, diabetes), alívio da dor e do prurido e aspiração do canal auditivo muitas vezes Ciprofloxacina, 500 a 750 mg por via oral de 12 em 12 horas durante 10 dias. Cefalexina, 250 a 500 mg por via oral 4 vezes ao dia durante 10 dias no adulto e 25 a 50 mg/Kg/dia por via oral em 4 doses divididas durante 10 dias na criança. 11
necessária para facilitar a cicatrização e erradicação dos organismos patogénicos.11 O tratamento tópico com antibióticos ou corticosteróides não deve ocorrer por mais de 7 dias devido ao risco de infecções fúngicas secundárias.13
Prevenção • Durante o banho ou duche o champô e o sabão devem ser mantidos fora do canal auditivo, pois podem provocar irritação e prurido favorecendo a infecção; • Os ouvidos devem ser mantidos tão secos quanto possível. Após nadar ou tomar banho ou duche, deve-se abanar a cabeça para remover a água do canal auditivo, e secar os ouvidos suavemente com uma toalha;
Corticosteróides
Corticosteróides tópicos suprimem o processo inflamatório e as reacções alérgicas da pele associadas à OE, com alívio dos sintomas. A combinação de corticosteróides com antibióticos (neomicina com betametasona, hidrocortisona, triamcinolona ou prednisolona) é por vezes recomendada para diminuir o edema associado ao processo inflamatório e controlar situações de psoríase e dermatite atópica.11, 13
• O canal auditivo limpa-se por si só, deslocando as células cutâneas mortas desde o tímpano até ao exterior. O ouvido tem um sistema de auto - limpeza, como tal não se deve utilizar nada que empurre a matéria residual para o tímpano, onde se acumula. Os resíduos acumulados e a cera tendem a reter a água que entra no canal quando a pessoa toma banho ou nada. A pele molhada
Analgesia
Casos moderados - paracetamol e ibuprofeno. Casos graves - pode ser necessário o uso de paracetamol associado a codeína. O uso de compressas quentes, pode aliviar o desconforto e a dor.1, 11, 13
e macia do canal auditivo contrai infecções bacterianas ou fúngicas com mais facilidade. 1,6,12 • Os frequentadores de piscinas devem colocar tampões de silicone nos ouvidos. Alternativamente pode ser colocado algodão impregnado com vaselina, pois esta tor-
Tabela 2 ‒ Terapêutica da OE 40 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
na o algodão impermeável à água. 1, 6, 11, 12
• As pessoas mais susceptíveis, após nadar ou tomar duche, podem aplicar algumas gotas de ácido acético a 2%, devido às suas propriedades antibacterianas e antifúngicas - nos adultos, 3 a 5 gotas cada 4 a 6 horas e nas crianças a partir dos 3 anos, 3 a 4 gotas, 3 a 4 vezes por dia.
A otite média aguda (OMA) é uma infecção ou inflamação do ouvido médio, muito frequente nas crianças particularmente entre os 3 meses e os 3 anos de idade.
Otite Média Aguda criança se alimenta, possa haver passagem de alimento A otite média aguda (OMA) é uma infecção ou infla-
da garganta para o ouvido médio, através da trompa
mação do ouvido médio, muito frequente nas crian-
de Eustáquio. Isto ocorre especialmente em bebés ali-
ças particularmente entre os 3 meses e os 3 anos de
mentados a biberão, em que o leite passa para o ouvido
idade. Em geral, manifesta-se como uma complica-
médio, acumulando-se, o que favorece o crescimento
ção de uma constipação comum, dor de garganta ou
bacteriano.
outras infecções do tracto respiratório e ocorre so-
• Os adenóides nas crianças são maiores do que nos adul-
bretudo nos meses de inverno especialmente entre
tos. Devido ao seu tamanho, estes podem interferir com
Janeiro e Março.
a abertura da trompa de Eustáquio. Por sua vez estes também podem infectar, atingindo a infecção a trompa
Causas A etiologia da OMA pode ser bacteriana (Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis), viral (Respiratory suncytial virus, Parainfluenza virus, Influenza virus, Enterovirus, Adenovirus) ou mista. 5, 6, 7, 8, 10
de Eustáquio. 1, 8, 9
Sintomas Os principais sintomas da OMA são: dor de ouvido persistente e forte, febre, choro constante (no bebé), irritabilidade, desconforto, náuseas, vómitos, perda de apetite, diar-
A OMA é mais comum nas crianças do que nos adultos
reia, dificuldade em dormir. O tímpano inflama-se e pode
porque:
rebentar com saída de pus para o exterior.1, 6, 7, 8, 10
• O sistema imunitário ainda se encontra em desenvolvimento facilitando a infecção quando do contacto com
Factores de risco
bactérias;
Todas as crianças são susceptíveis de ter infecção nos ou-
• A trompa de Eustáquio é mais pequena que nos adul-
vidos, no entanto apresentam um maior risco, as crianças:
tos, permitindo o acesso mais fácil das bactérias e vírus
• Do sexo masculino;
ao ouvido médio;
• Com história de otite média recorrente;
• Nos adultos, a trompa de Eustáquio forma um ângulo
• Com história familiar de asma, alergias ou eczema;
de 45º com o ouvido médio, mas nas crianças este ân-
• Expostas a ambientes com muito fumo;
gulo é quase inexistente, o que permite que, quando a
• Que passam longos períodos de tempo em creches.7 FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 41
informacao terapeutica Terapêutica da OMA na Criança De acordo com as orientações técnicas da Direcção-Geral
Os anti-histamínicos ou os descongestionantes, não pa-
da Saúde, numa criança saudável, a terapêutica pode es-
recem ter grande benefício no tratamento da doença em
quematizar-se da seguinte forma:
crianças, pelo que não são recomendados por rotina. 8, 10
Prevenção da Otite Média na Criança Terapêutica de primeira linha
Terapêutica antibiótica de primeira linha
Em caso de persistência ou agravamento dos sintomas nas 48-72 h seguintes
Em caso de alergia à penicilina
Associação de amoxicilina e ácido clavulânico, em suspensão oral 400 mg/ 57 mg/ 5 mL, na dose de 80 mg/Kg/dia de amoxicilina.
Idade inferior a 6 meses: eritromicina (50 mg/Kg/ dia, de 8/ 8 h, durante 7 a 10 dias). Idade superior a 6 meses: azitromicina (10 mg/Kg/dia, 1 toma diária durante 3 dias).
As otites não se podem evitar completamente, no entanto o risco pode ser reduzido tomando vários cuidados: • Amamentar, pelo menos até aos quatro meses. Existe uma menor incidência de otites nos bebés amamentados, já que o leite materno confere imunidade;
Só paracetamol, sempre que possível. A dor ou febre devem ser tratadas com 15 mg/Kg, cada 6h podendo o intervalo ser encurtado para 4 a 5 h se necessário. A criança deve ser vigiada nas 24 a 72 h seguintes. Em caso de evolução desfavorável persistência de febre, otalgia/ irritabilidade - deve ser considerado o início de antibioterapia.
Amoxicilina 80 a 90 mg/Kg/dia, de 12/ 12 h ou 8/8 h durante 5 dias.
• Não alimentar as crianças na posição deitada; • Proteger a criança do fumo do tabaco, o que pode passar por evitar ou mesmo eliminar os hábitos tabágicos dentro de casa, no carro, restaurantes; • Vacinar a criança contra influenza e pneumococos; • Escolha de um infantário com menor número de crianças, se possível, e com idades semelhantes.1, 7, 10
Situações em que deve contactar o médico: • A criança queixa-se de dor de ouvido ou pressão no ouvido, acompanhada por febre que persiste durante mais de um dia;
Tabela 3 ‒ Terapêutica da OMA5,7
• Ocorre eliminação pelo ouvido de sangue ou pus; • Em crianças com idade entre os 4 e os 24 meses, os pais de-
Cerca de 70% das OMA resolvem-se espontaneamen-
vem estar atentos, sobretudo após uma constipação, se a
te em 5 dias. Os antibióticos não resolvem as infecções
criança dorme bem, apresenta irritabilidade ou falta de apeti-
causadas por vírus, para além de que o uso frequente
te por mais de um dia;
pode conduzir a situações de resistência, o que torna mais difícil o tratamento de infecções graves no futuro.
• Se após o diagnóstico de uma infecção, os sintomas não melhoram com o tratamento ou existe mesmo agravamento. 7
Publicações ANF Informação adicional sobre a dor de ouvidos pode ser encontrada nas seguintes publicações/ meios de divulgação ANF: www.anfonline.pt Folheto para o Doente disponível nas farmácias aderentes ao Serviço Informação saúde desde Janeiro 2007 PEREIRA, M. ‒ Afecções Óticas. In: SOARES, M.A. (ed.) - «Medicamentos não Prescritos, Aconselhamento Farmacêutico». Portugal: Publicações Farmácia Portuguesa, 2ª Edição. 2002. 943-960.
42 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
CASO PRÁTICO 1. A otite externa aguda é caracterizada por sensibilidade dolorosa ao toque.
Conclusões
2. A otite externa do nadador pode
A dor de ouvido pode ter diferentes etiologias, pelo que
3. O ouvido tem um sistema de
importa reconhecê-las para que a terapêutica seja dirigi-
ocorrer em qualquer altura do ano.
auto-limpeza.
da e efectiva. A otalgia pode ser resultante de infecções bacterianas, fúngicas ou virais ou estar associadas a dermatoses reactivas.
4.O tratamento tópico com antibióticos ou corticosteróides deve sempre ser usado durante 10 dias.
A otite externa e a otite média aguda constituem as duas principais causas de dor de ouvido, sendo a otite média
5. O tratamento de 1ª linha da OMA na
aguda a principal causa de dor de ouvido na criança.Para
criança é constituído pela associação
cada tipo de situação estão indicadas quer medidas pre-
de amoxicilina e ácido clavulânico.
ventivas, quer terapêuticas apropriadas, que devem ser conhecidas do doente e dos seus familiares. O recurso ao aconselhamento por profissionais de saúde
6. Em casos graves de OE recorre-se à associação de paracetamol com codeína para controlo da dor.
habilitados é indispensável para que a terapêutica a efectuar seja efectiva e segura.
7. A causa de OMA na criança pode ser devido a terem a Trompa de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. PEREIRA, M. ‒ Afecções Óticas. In: SOARES, M.A. (ed.) - «Medicamentos não Prescritos, Aconselhamento Farmacêutico». Portugal: Publicações Farmácia Portuguesa, 2ª Edição. 2002. 943-960. 2. Hearing and Equilibrium - TORTORA, Gerard J e GRABOWSKI, Sandra R - Principles of Anatomy and Physiology. 10ª ed. USA: John Wiley & Sons, Inc, 2003 3. Atlas Temáticos: Anatomia Animal, Anatomia Humana, Corpo Humano, Homem, Cirurgia. Setúbal: Marina Editores, Lda., 1998 4. Dor de Ouvido. Disponível em: www.tudosobredor.com.br/paciente_template.php3?pagina=ouvido 5. Otite Média Aguda - Orientações Técnicas DGS. Urgências no Ambulatório em Idade Pediátrica. Disponível em: http://www.dgs.pt/
Eustáquio mais comprida, o que favorece as infecções. 8. Na OE aguda grave o antibiótico de eleição é a ciprofloxacina. 9. Os corticosteróides tópicos são utilizados na OMA para alívio do processo inflamatório.
1)V; 2)V; 3)V; 4)F; 5)F; 6)V; 7)F; 8) V; 9) F
6. Doenças do ouvido médio e do ouvido interno - BERKOW, Robert; BEERS, Mark H. FLETCHER, Andrew J - Manual Merck de Saúde Para A Família. . New Jersey: Merck& Co., Inc, 1998. Edição Portuguesa
10. Otitis media - Acute Clinical Review- Klasco RK (Ed): DISEASEDEX™ - Emergency Medicine. Thomson MICROMEDEX, Greenwood Village, Colorado (Edition expires [31/12/06]).
7. Mayo Clinic. Ear infection, middle ear. Disponível em: http://www. mayoclinic.com/print/ear-infections/DS00303/DSECTION=all&M ETHOD=print
11. Otitis externa - Acute Clinical Review - Klasco RK (Ed): DISEASEDEX™ - Emergency Medicine. Thomson MICROMEDEX, Greenwood Village, Colorado (Edition expires [31/12/06]).
8. National Institute on Deafness and Other Communication Disorders (NIDCD). Otitis media (Ear infection). Disponível em: http://www.nidcd.nih.gov/health/hearing/otitism.asp.
12. American Family Physician. Otits externa - Disponível em: http:// www.aafp.org/afp/20010301/941ph.html.
9. AFONSO, P.C - Ouvido- Algumas situações clínicas e abordagem terapêutica. Farmácia Portuguesa Nº 110- Março/Abril 1998.
13. Otitis externa - Prodigy Knowledge Guidance - Disponível em: http://www.prodigy.nhs.uk/ProdigyKnowledge/Assets/CommmmonUIControls/Print.asp. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 43
flashes Mercado mundial de venda de medicamentos a retalho cresce 5%
Directiva Serviços dá passo decisivo para a adopção
O mercado da venda a retalho de medicamentos cresceu
O Parlamento Europeu concluiu no dia 15 de Novembro
5%, entre Junho de 2005 e Junho de 2006, nos 13 principais
a sua segunda leitura sobre a proposta de Directiva re-
mercados farmacêuticos a nível mundial ‒ revela um relató-
lativa aos serviços no Mercado Interno. Ao adoptar, sem
rio da IMS Health. O mercado norte-americano aumentou
surpresa, a posição comum do Conselho (acrescentando
5%, atingindo USD202 mil milhões, enquanto que os cinco
apenas 3 alterações técnicas previamente acordadas com
principais mercados europeus cresceram 4%, totalizando
a Comissão), o Parlamento pôs praticamente o ponto final
USD91,8 mil milhões. No Reino Unido, as vendas baixaram
num processo legislativo que durou quase 3 anos.
1%, somando USD14,9 mil milhões. O grupo terapêutico
O Comissário europeu para o Mercado Interno, Charlie
que registou maior crescimento foi o dos medicamentos
McCreevy, recordou que a posição comum do Conselho
anti-cancerígenos (+13%), seguido dos medicamentos usa-
(adoptada em Maio último, apenas com as abstenções
dos em dermatologia, cujas vendas aumentaram 10%.
da Bélgica e da Lituânia) respeita e reflecte amplamente
In SCRIP, 15/09/2006
a posição do Parlamento em primeira leitura, com alguns pequenos ajustamentos técnicos.
Conselho da UE adopta novas regras para os medicamentos de uso pediátrico
Sendo de carácter transversal, a Directiva abrange um vasto leque de serviços prestados: - às empresas (business-to-business) ‒ nomeadamente nas
O Conselho da UE, ao aprovar todas as alterações que o
áreas de gestão, certificação, publicidade, recrutamento;
Parlamento Europeu introduziu à sua posição comum, adop-
- às empresas e aos consumidores (business-to-business
tou o Regulamento europeu sobre os medicamentos de
and consumer) ‒ como a consultoria jurídica e fiscal, os
uso pediátrico. Este novo Regulamento tem por objectivo
serviços das agências imobiliárias, das construtoras civis,
aumentar a disponibilidade de medicamentos devidamente
das feiras comerciais, do aluguer de viaturas e das agên-
testados e autorizados para serem utilizados em crianças. Os
cias de viagens;
laboratórios passam a estar obrigados a fornecer um plano
- aos consumidores (business-to-consumer) ‒ nomeada-
de investigação pediátrica no momento em que entregam
mente o turismo, o lazer e o desporto.
o pedido de autorização de introdução no mercado (AIM) de
Ficam de fora do âmbito da Directiva os serviços não
um determinando medicamento. Para evitar que este sistema
económicos de interesse geral (educação e saúde), os
atrase a entrada de novos medicamentos no mercado, estão
serviços sociais relativos à habitação social, ao auxílio à
previstas derrogações para que esses medicamentos possam
infância, à família e às pessoas mais carenciadas (assegu-
ser comercializados para adultos antes de estarem concluídos
rados pelo Estado ou por entidades por ele mandatadas,
os estudos pediátricos. Os medicamentos que observarem
bem como por instituições de solidariedade reconheci-
este procedimento beneficiam de um prolongamento da
das como tal), os serviços audiovisuais (incluindo o cine-
sua patente por seis meses, como incentivo aos laboratórios
ma), os jogos de sorte ou azar a dinheiro, as actividades
que detêm a sua AIM. O Regulamento prevê a criação de uma
ligadas ao exercício da autoridade pública, a segurança
comissão científica pediátrica no seio da Agência Europeia do
privada, os notários e os oficiais de justiça, bem como as
Medicamento (EMEA), com competência no desenvolvimen-
agências de trabalho temporário.
to e na avaliação de todos os aspectos relacionados com os
Depois da Directiva ser formalmente adoptada pelos
medicamentos que se destinam a ser utilizados pela popula-
Estados-Membros e publicada no JOCE, os Estados-
ção infantil. Este novo Regulamento europeu entrará em vigor
Membros terão até 3 anos para a transpor para a legislação
em Janeiro de 2007.
nacional. In SCRIP, 27/10/2006
44 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
In Bulletin Quotidien Europe, 16/11/2006
Fórum dos Medicamentos apresenta relatório de balanço O Fórum dos Medicamentos, criado em Junho de 2005 para promover a competitividade da indústria farmacêutica na Europa, apresentou o relatório de balanço do primeiro ano de actividade, durante a reunião anual realizada a 29 de Setembro último. Entre as suas principais conclusões destaca-se o seguinte: - São necessárias medidas para melhorar a informação sobre os medicamentos junto dos doentes. De forma a contribuir para este objectivo, um grupo de trabalho constituído no âmbito do Fórum irá desenvolver um formato de informação-modelo sobre a diabetes que possa ser distribuída aos doentes. Foram também enviados questionários a todos os Estados-Membros para determinar as melhores formas de comunicar e transmitir informação aos doentes. - No que respeita às questões relativas aos preços e comparticipações, os Estados-Membros devem trocar informação sobre mecanismos alternativos para o controlo da despesa com medicamentos. O objectivo deste exercício é encontrar o equilíbrio entre o controlo da despesa, a melhoria do acesso aos medicamentos e a recompensa da inovação . - Os Estados-Membros devem ser apoiados na implementação de sistemas concebidos para determinar a eficácia relativa dos medicamentos, de forma a estabelecer preços justos. O trabalho a desenvolver irá centrar-se na concentração das experiências da indústria farmacêutica e dos Estados-Membros, bem como no desenvolvimento de um consenso sobre o tipo de elementos necessários para avaliar a eficiência clínica e a relação custo-eficácia dos medicamentos. A
próxima
reunião
anual
do
Fórum
dos
Medicamentos terá lugar em Junho de 2007, para a qual se esperam resultados concretos das actividades dos grupos de trabalho nas áreas da informação ao doente, dos preços e comparticipações e da avaliação da eficácia relativa de medicamentos na fixação dos preços. In Pharma Pricing & Reimbursement, Novembro 2006 FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 45
sifarma 2000
A Cuidar dos Doentes Este novo sistema responde
um melhor e mais completo aconselhamento, suportado por uma plataforma de informação que cruza a informação asso-
à expectativa de estimular e agilizar uma melhor prestação da equipa da farmácia, com reconhecido valor acrescido na prática diária e na intervenção profissional.
ciada a cada medicamento, com o perfil da doente. Devidamente esclarecida e tendo autorizado o Acompanhamento Farmacêutico através do Sifarma 2000, é criada a sua Ficha de Utente.
A Construção do Perfil da Utente
A Farmácia melhora os cuidados que presta aos seus do-
Os dados que constroem gradualmente o perfil da Celeste,
entes, assegurando um aconselhamento seguro, efectivo
incluem o registo das determinações que faz com regu-
e com qualidade, e suporta os serviços farmacêuticos a
laridade, os medicamentos que já tomou e se encontra a
que aderiu e que desempanha na prática.
tomar, patologias, alergias, reacções adversas, entre ou-
A Farmácia onde a Celeste vai com regularidade, perto de
tros elementos que melhor ajudam a equipa da farmácia
casa, instalou recentemente um novo sistema informático,
a responder às suas necessidades, contribuindo para um
o Sifarma 2000.
melhor acompanhamento do seu estado de saúde e para
A Celeste tem 30 anos e é diabética há 5 anos. Está a tentar
assegurar uma maior segurança e efectividade dos medi-
engravidar há 3 anos, tendo passado por várias situações
camentos que toma (fig. 1, fig. 2).
de aborto. Desconfia agora estar grávida e vai à sua farmácia fazer um teste de gravidez. O resultado do teste de gravidez é positivo. A equipa da farmácia, que a conhece bem, até porque
Primeiro Atendimento com Acompanhamento
para além de dispensar à Celeste todos os seus medicamentos, mede muitas vezes a glicemia e pressão arte-
Em resultado da notícia da gravidez, a Celeste marca
rial, sabendo agora da gravidez da doente, propõe-lhe a
uma consulta com a sua médica que lhe passa uma re-
adesão ao Acompanhamento Farmacêutico através do
ceita de progesterona 100 mg (Utrogestan®) para apli-
Sifarma 2000.
cação vaginal.
Desta forma, a Celeste passa a usufruir de um acompanha-
A doente, agora com Acompanha-mento no Sifarma 2000,
mento diferenciado na sua farmácia. Cada dispensa integra
vai à farmácia com a receita da médica.
46 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Avisos no Atendimento
ginal durante o 1º trimestre pode diminuir o risco de aborto.
Ao dispensar o medicamento prescrito, surge um aviso
Este aviso resulta do cruzamento da informação registada
que de imediato chama a atenção do elemento respon-
no Perfil Farmacoterapêutico da Celeste - Gravidez, com
sável pelo atendimento. Trata-se de um alerta de Contra-
a informação associada ao medicamento prescrito com
indicação de grau Grave ( fig. 3).
progesterona. Perante a informação associada ao aviso de
Ao consultar o aviso, acedendo ao detalhe da informação,
contra-indicação e conhecendo a história de abortos su-
verifica que a progesterona na via de administração oral não
cessivos da doente, é necessária a intervenção da Farmácia
é recomendada na gravidez, mas quando aplicada por via va-
para assegurar o melhor aconselhamento da doente (fig.5).
Fig 1 ‒ Dados do Perfil da Celeste: Perfil Farmacoterapêutico e Histórico Terapêutico
Fig 2 ‒ Registos dos resultados das determinações de Pressão Arterial e Glicemia FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 47
sifarma 2000
Fig 3 - Atendimento com Acompanhamento Fig 4 ‒ Aviso de contra-indicação de grau grave.
Para
tal,
a
consulta
da Informação Científica associada ao medicamento, em particular dos separadores Indicações Terapêuticas e Posologia e Doses , complementam a informação do aviso e permitem esclarecer de forma mais rigorosa e completa a Celeste, agora grávida e a tomar um novo medicamento. Após consultar a Informação Científica associada ao medi-
Fig 5 ‒ Informação Científica suporte ao aconselhamento Indicações Terapêuticas e Posologia e Doses
camento, o elemento responsável pelo atendimento confirma que, de facto, e de acordo com o deta-
exactamente que não deve tomar por
lhe do aviso de contra-indicação, esta
essa via o medicamento, mas sim ad-
substância, progesterona, está indicada
ministrá-lo por via vaginal. Há então
para prevenção do aborto durante o
que assegurar que a Celeste sabe exac-
1º trimestre de gravidez, mas apenas
tamente como aplicar o medicamento
quando administrada por via vaginal.
por via vaginal e de que está bem infor-
Visto a forma farmacêutica do medica-
mada sobre a posologia e a duração do
mento ser cápsulas que podem tam-
tratamento. Convém ainda alertá-la para
bém ser tomadas por via oral, é muito
a importância de cumprir exactamente
importante certificar que a Celeste sabe
as indicações da médica, não devendo
48 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
ultrapassar a aplicação de 4 cápsulas por dia e a administração até à 12ª semana de gravidez (fig. 4). Foi o aviso de contra-indicação grave entre o medicamento com progesterona e o estado fisiopatológico registado no perfil da Celeste - Gravidez que originou o aconselhamento mais cuidado e individualizado da farmácia neste atendimento em particular.
Fig 6 ‒ Interpretação e Justificação do aviso de Contra-indicação
Prestado o necessário aconselhamento à Celeste quanto à forma de
Determinações Analíticas
utilizar o novo medicamento, esta intervenção deve ficar documentada
Um mês após a primeira
por meio do registo de uma justifica-
consulta, a Celeste regres-
ção (fig.6).
sa à farmácia e pede o re-
É importante registar esta interven-
latório dos seus valores da
ção na prática uma vez que contribui
glicemia para levar na pró-
activamente para a prevenção do ris-
xima consulta médica.
co, e para a toma e utilização seguras
A Farmácia entrega à Celeste
do medicamento.
a impressão de um relatório
Este registo fica assim associado à
detalhado com todos os va-
ficha de utente da Celeste, permi-
lores de glicemia registados.
tindo o despiste e análise futura de
A alguns dos valores regis-
qualquer situação prática que tenha
tados foram associadas ob-
requerido a intervenção da Farmácia,
servações que, de alguma
face a esta doente em particular.
forma, justificam os desvios
O registo dos serviços que a farmácia
verificados.
presta no cuidado com os seus doen-
Para além do relatório, a re-
tes é determinante na comprovação
presentação gráfica destes
do valor acrescido e do impacto positi-
mesmos valores pode faci-
vo da intervenção profissional de uma
litar a avaliação do controlo
equipa de profissionais diferenciados.
glicémico da Celeste (fig.7).
Fig 7 ‒ Relatório e respectiva representação gráfica da evolução dos resultados das determinações de glicemia
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 49
sifarma 2000
Fig 8 - Atendimento da doente com Acompanhamento dispensa de MNSRM
Fig 9 - Separadores Posologia e Doses e Precauções suporte ao aconselhamento
Dispensa de Medicamento Não Sujeito a Receita Médica (MNSRM)
nariz entupido, porque a embala-
previsto para a duração da sua ad-
gem que tem em casa está a aca-
ministração (fig.8).
bar. Pelo que a doente conta ao
Por forma a garantir o uso correc-
pedir o medicamento, o elemento
to do medicamento, o responsá-
responsável por este atendimento
vel pelo atendimento consulta a
é levado a suspeitar do uso abu-
Informação
sivo do descongestionante nasal,
confirmando as doses máximas
Passado alguns dias a Celeste volta
comprovado pelo aviso de Terapia
e duração máxima da utilização,
à farmácia e pede uma embalagem
Duplicada que alerta para o facto
informação que encontra nos se-
de gotas para desentupir o nariz,
de a última embalagem do medi-
paradores
que já usa regularmente e várias
camento dispensado à doente se
Precauções , e que permite con-
vezes ao dia, sempre que sente o
encontrar ainda dentro do período
firmar o risco associado à utilização
50 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Científica
associada,
Posologia e doses
e
Fig 10 - Aviso de Contra-indicação de grau Ligeiro na Gravidez.
Fig 11 - Aviso de Contra-indicação de grau Ligeiro na Diabetes
exagerada e prolongada deste me-
face ao perfil da Celeste (fig. 10 e
o mais indicado na gravidez e poder
dicamento.
11). Todos os avisos que surgem
alterar os valores de glicemia.
Uma rápida consulta da informação
integrados na linha que caracteriza
A percepção da Celeste do serviço
associada a este descongestionan-
cada medicamento dispensado, são
prestado pela sua Farmácia melho-
te nasal, em particular do separador
avisos específicos para o doente
rou consideravelmente.
Precauções , ajuda a complemen-
identificado, com acompanhamen-
O nível de confiança que já tinha
tar o aconselhamento, com infor-
to no Sifarma 2000, e para cada situ-
na equipa de profissionais que a
mação sobre a forma mais segura
ação de dispensa em particular.
acompanha, esclarecendo todas
e correcta de o utilizar e de como o
Consultando a informação associa-
as suas dúvidas e aconselhando-a
aplicar (fig. 9).
da a cada aviso e tendo em atenção
sempre que pertinente, aumentou.
No contexto da dispensa do des-
o perfil da Celeste (diabética e agora
A Celeste tem agora motivos acres-
congestionante nasal, surgem ain-
grávida), é reforçado o aconselha-
cidos para acreditar ainda mais no
da dois avisos de possível Contra-
mento, alertando a doente para o
apoio e aconselhamento da equipa
indicação, ambos de grau ligeiro,
facto de este medicamento não ser
da sua Farmácia. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 51
campanhas
Os especialistas do medicamento Os farmacêuticos são os verdadeiros especialistas do medicamento e é essa
e em que, com frequência, se centra o aconselhamento. E Pergunte na sua farmácia foi o mote escolhi-
diferenciação que as primeiras campanhas de 2007 vão evidenciar. A primeira reforçando a importância da informação essencial sobre
do porque um dos propósitos desta campanha é precisamente reforçar a comunicação com o doente, incentivando-o a procurar informação junto do farmacêutico, estimulando-o a
cada medicamento dispensado que o doente pode e deve esperar da Farmácia, a segunda
questionar e encorajando a equipa da farmácia a disponibilizar informação de uma forma espontânea e na-
dirigida à segurança e efectividade da
turalmente associada à prática, mas acima de tudo informação essencial
terapêutica nos idosos.
e dirigida a cada utente sempre que um medicamento ou produto de
As farmácias associadas da ANF vão
problema de saúde específico.
saúde é dispensado.
ser palco, de 26 de Fevereiro a 3 de
Tal como abrange todas as farmá-
O que está subjacente a estes propó-
Março, de uma campanha com con-
cias, também o universo dos desti-
sitos é a promoção da utilização ra-
tornos muito particulares. Trata-se,
natários é global ‒ todos os utentes.
cional, efectiva e segura dos medica-
por assim dizer, de uma campanha
E porquê? A justificação é dada pelo
mentos, aquela que é, afinal, uma pre-
de boas práticas, concebida como
mote da própria designação da cam-
ocupação dominante na intervenção
transversal à farmácia de oficina e
panha ‒ Pergunte na sua farmácia .
farmacêutica. Com base neste pres-
às diversas vertentes da sua prática.
Esta é uma iniciativa orientada para o
suposto, foram definidas duas etapas
Assim, ao invés de iniciativas ante-
medicamento, o cerne da actividade
da intervenção na farmácia, associa-
riores, não visa atingir um público es-
profissional e da intervenção farma-
das ao acto de dispensa. A primeira
pecífico nem está orientada para um
cêutica, no qual assenta a dispensa
envolve a recolha de informação
52 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
sobre o
Para
doente, os sintomas,
sustentar o ou-
reforço da comu-
tros problemas de
nicação entre doente
saúde relevantes e outros
e farmacêutico foram conce-
medicamentos. Já a segunda pren-
bidos materiais de apoio à intervenção
de-se com a disponibilização de in-
ele de prescrição médica ou de
profissional, nomeadamente um folhe-
formação necessária e suficiente so-
indicação farmacêutica: para que
to Informação Saúde sobre a utilização
bre o nome e a indicação terapêutica
serve, como e quando tomar, du-
de medicamentos, destinado a ser en-
do(s) medicamento(s) dispensado, a
rante quanto tempo, que cuidados
tregue aos utentes. Foi ainda lançado o
posologia, a duração da terapêutica
especiais se devem ter, que efeitos
cartão Os meus medicamentos , uma
e eventuais precauções a ter com a
adversos são possíveis e o que fazer
inovação nas farmácias portuguesas.
medicação.
se ocorrerem.
Neste cartão ficará registada toda a
A informação constante desta se-
São cinco questões-chave que, se
medicação do doente, mediante actu-
gunda etapa cobre, aliás, as cinco
feitas e respondidas, constituem
alização feita na própria farmácia.
áreas fundamentais sobre as quais o
meio caminho andado na optimiza-
Além disso, a Farmácia dispõe já de
próprio doente devo procurar infor-
ção da terapêutica e na minimização
outras ferramentas que podem auxi-
mar-se, colocando questões muito
de riscos. No pressuposto, é claro, de
liar o farmacêutico e equipa na opti-
concretas sobre o medicamento
que a informação obtida e as instru-
mização da informação prestada no
que lhe está a ser dispensado, seja
ções inerentes são respeitadas.
acto de dispensa. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 53
campanhas
Fazer a diferença Foi esta a temática seleccionada para o arranque das campanhas de intervenção farmacêutica em 2007. Uma escolha que está longe de ter sido ditada pelo acaso. Como destaca Suzete Costa, responsável pelo
farmácia. É importante aumentar a
Saúde e partilhada em Portugal pelo
Departamento de Programas de
cultura da informação , por forma a
Programa Nacional para a Saúde das
Cuidados Farmacêuticos da ANF, a
fazer sobressair aquela que é, indis-
Pessoas Idosas.
primeira iniciativa do ano preten-
cutivelmente, uma mais-valia da far-
O que está subjacente a esta cam-
deu distinguir o farmacêutico como
mácia e do farmacêutico.
panha é a própria realidade da far-
agente diferenciado e especialista do
Daí que esta campanha só simbolica-
mácia: a ela acorrem todos os dias
medicamento, face a outros profissio-
mente tenha sido delimitada no tem-
doentes com 65 e mais anos ‒ ido-
nais de saúde e a farmácia como es-
po. A sua filosofia deve prolongar-se
sos, segundo a classificação da OMS
paço de saúde com um histórico de
e ser assumida como um alicerce da
‒ com múltiplas patologias e, con-
relações de confiança e proximidade
intervenção farmacêutica.
sequentemente,
com os seus doentes que não encontramos noutros espaços de saúde e muito menos em outros pontos de venda de medicamentos .
Medicamentos e idosos
Uma Questão de Segurança
polimedicados;
todos os dias, a farmácia e os farmacêuticos lidam com situações de falta de adesão à terapêutica, de desperdício, de duplicação terapêutica não intencional, reacções adversas,
Sem desvalorizar o contributo de toda a equipa da farmácia, esta é
E o medicamento volta, aliás, a estar
de interacções medicamentosas cli-
uma campanha em que o farmacêu-
em foco na campanha sobre a segu-
nicamente relevantes (com elevada
tico assume um papel importante,
rança dos medicamentos no idoso,
gravidade e/ou probabilidade de
visando sensibilizá-lo para a impor-
agendada para a semana de 26 a 31
ocorrerem) entre outras situações, o
tância de utilizar os seus conheci-
de Março. Uma iniciativa que se en-
que coloca em evidência a questão
mentos e a sua experiência, com a
quadra numa preocupação global
do uso seguro e efectivo dos medi-
finalidade de promover uma atitude
com o envelhecimento progressivo
camentos nos idosos.
ainda mais activa na prestação de
das sociedades ocidentais, assumi-
Neste contexto, foi concebida uma
informação ao doente no espaço
da pela Organização Mundial de
campanha tripartida de promoção do
54 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 55
campanhas
envelhecimento activo, cuja primeira fase é orientada para o uso correcto, efectivo e seguro dos medicamentos. São alvo desta iniciativa os doentes com 65 ou mais anos e a tomar quatro ou mais medicamentos.
Não fume, nós ajudamos Este foi o mote da campanha de cessação tabágica promovida entre Maio e Setembro de 2006. Uma campanha a que aderiram 1433 farmácias e para a
Aos que, no período definido, visitarem uma farmácia aderente à campanha será solicitado que, numa segunda visita a marcar com o farmacêutico, sejam portadores de todos os medicamentos que tomam ‒ sujeitos a receita médica, de indicação farmacêutica ou produtos de saúde ‒ sendo-lhes entregue um saco próprio. No contacto posterior, o farmacêutico fará uma análise de todos esses medicamentos, de modo a separar aqueles que estão fora do prazo de validade e/ou fora de uso e a identificar possíveis duplicações terapêuticas não intencionais, problemas de adesão, reacções adversas, interacções clinicamente relevantes e outras situações. Essa avaliação permitirá ainda esclarecer dúvidas dos
qual foram recrutados 1202 fumadores, dos quais 57,6% do sexo masculino. Com uma idade média de 41 anos, os indivíduos abrangidos apresentavam idades extremadas entre um mínimo de 18 e um máximo de 85. Em média, decorreram quatro dias entre a data do recrutamento e o chamado dia D, aquele em que deixaram de fumar, com um mínimo de zero dias (a decisão tomada de imediato) e um máximo de 11. Três meses depois, a percentagem de ex-fumadores que continuava sem fumar era de 69,3%, mas nesta variável foram considerados dois outros cenários: o pior (considerando como fumadores os utentes para os quais não havia registo aos três meses) aponta para uma taxa de efectividade de 19,1%, enquanto o melhor (considerando como não fumadores os utentes para os quais não há registo aos três meses) dá uma taxa de efectividade máxima de 91,5%. Dos 499 utentes que deixaram de fumar em algum momento, 122 fumavam aos três meses após o recrutamento, o que corresponde a uma taxa de recaídas na ordem dos 24,5%. Perante estes dados, é possível concluir que a intervenção farmacêutica na cessação tabágica pode ter resultados positivos ao nível da decisão de deixar de fumar, bem como na manutenção da cessação .
doentes sobre os medicamentos que tomam. Neste processo, intervirá, de forma mais activa, uma nova ferramenta na
será entregue preenchido. Ao doente
As farmácias dispõem ainda de ou-
relação entre o doente, a farmácia e
será ainda facultado um folheto so-
tras ferramentas que poderão usar
o médico ‒ o cartão Os meus me-
bre os medicamentos no idoso. E se
nesta campanha ‒ Folha de Registo
dicamentos , lançado na campanha
necessário haverá encaminhamento
da Terapêutica e Carta de Referência
para uma consulta médica.
à Consulta Médica.
Pergunte na sua farmácia 56 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
e que
Naturalmente que as farmácias serão
Farmacêuticos, reconhece que esta
apoiadas na implementação desta
é uma campanha ambiciosa .
campanha. Às que aderirem serão
Para a sua concretização, conta
disponibilizados materiais de supor-
com diversas parcerias, como as
te, nomeadamente um guia prático
de sociedades médicas da área da
sobre a intervenção farmacêutica nos
Geriatria e Gerontologia.
idosos, folhetos Informação Saúde, o
As outras duas fases que se seguem,
cartão Os meus medicamentos de
no
terapêutica e uma matriz para registo
Activo, terão lugar daqui a largos
âmbito
do
Envelhecimento
da intervenção e que servirá, depois
meses em datas ainda a definir e in-
de recebida na ANF e tratada, para
cidirão sobre outras temáticas igual-
aferir da mais-valia desta iniciativa e
mente importantes para o idoso.
Os farmacêuticos dos Programas de Cuidados Farmacêuticos poderão e deverão aplicar a metodologia de seguimento na qual foram treinados.
como comprovativo para atribuição de créditos. Esta campanha é um seguimento natural da primeira campanha por-
Risco cardiovascular
que é igualmente centrada no medicamento mas mais ambiciosa porque envolve uma primeira abordagem a um futuro serviço de gestão da terapêutica / gestão da doença nas farmácias que ainda não possuem estes serviços diferenciados. Aliás, os farmacêuticos dos Programas de Cuidados Farmacêuticos poderão e deverão aplicar a metodologia de seguimento na qual foram treinados. Os restantes farão uma análise dos medicamentos que o doente traz no saco ‒ algo ao alcance de qualquer farmacêutico.
A identificação de indivíduos suspeitos de risco cardiovascular era o objectivo da campanha que decorreu de 14 a 28 de Novembro de 2005. Um objectivo alcançado de acordo com os primeiros resultados disponíveis. Assim, dos 40 mil indivíduos avaliados, verificou-se que 34% (entre os 35 e os 65 anos) apresentavam elevado risco de evento cardiovascular fatal nos dez anos seguintes. Das 2715 farmácias associadas aderiram 1508 (56%), tendo 885 reportados dados da respectiva intervenção que permitiram quantificar o impacte desta campanha.
Suzete Costa, do Departamento de
Programas
de
Cuidados FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 57
política profissional
Um olhar português em páginas internacionais A capacidade de ir mais além
Se fizeres o que sempre fizeste, terás apenas o que sempre tiveste . É com esta expressão que Suzete Costa, Cristina Santos e João Silveira inauguram o artigo sobre os serviços farmacêuticos em Portugal publicado no número de Dezembro da revista The Annals of Pharmacotherapy. 58 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
The Annals of Pharmacotherapy é
de Cuidados Farmacêuticos da ANF,
uma publicação mensal dirigida a far-
Cristina Santos, responsável pelo
macêuticos, médicos e outros pres-
projecto dos medicamentos hospi-
tadores de cuidados de saúde, com
talares, e João Silveira, vice-presiden-
mais de 40 anos de existência e que
te da ANF ‒ descrevem o estatuto
se apresenta como independente
actual do sector da farmácia de ofici-
de qualquer organização que possa
na em Portugal, nomeadamente os
influenciar o seu conteúdo .
últimos desenvolvimentos políticos
A escolha daquela frase para a aber-
e profissionais.
tura do artigo permite enquadrar o
Assim, começam por enquadrar o
espírito com que as farmácias enca-
sector, no que respeita às regras por
ram as mudanças em curso e aquelas
que se rege, bem como ao ensino das
que se avizinham ao nível legislativo.
Ciências Farmacêuticas em Portugal.
Em cinco páginas, integradas numa
O artigo focaliza-se depois na prática
série de artigos sobre os serviços
profissional, dando conta dos servi-
farmacêuticos de diversos países, os
ços disponibilizados pelas farmácias
autores ‒ Suzete Costa, responsável
e das mais recentes alterações a que
pelo departamento de Programas
tem sido sujeita.
comprovado nas 883 toneladas de resí-
foram adoptadas ou desenvolvidas
duos incineradas desde Maio de 2000.
metodologias e outras ferramentas e
Já o programa da troca de seringas,
apoiadas medidas de suporte à práti-
resultante de uma parceria estabele-
ca, incluindo a formação em farmaco-
Após este enquadramento, Suzete
cida em 1993 com a então Comissão
terapia, problemas relacionados com
Costa, Cristina Santos e João Silveira
Nacional de Luta Contra a SIDA, tem
medicamentos e comunicação.
optaram por centrar-se nos serviços de
como objectivo prevenir a infecção
Lançados os alicerces da intervenção
intervenção farmacêutica. Não sem fri-
por HIV/SIDA entre a população toxi-
farmacêutica, teve início em 2001 uma
sar que a legislação portuguesa é clara
codependente decorrente da partilha
experiência-piloto, envolvendo 88 far-
acerca do processo de dispensa e dos
de material potencialmente contami-
mácias e 356 doentes com asma, dia-
deveres dos farmacêuticos, mas não
nado. E, ao mesmo tempo, salvaguar-
betes e/ou hipertensão arterial. Uma
faz qualquer referência a serviços adi-
da a saúde pública, evitando que as
experiência devidamente monitorizada,
cionais . Não obstante, há mais de 20
seringas sejam abandonadas em es-
cujos resultados ‒ positivos ‒ permiti-
anos que as farmácias portuguesas os
paços públicos. Mais de 30 milhões de
ram efectuar os ajustes necessários e ex-
desenvolvem: determinação do peso,
seringas foram recolhidas, calculando-
pandir o programa a nível nacional.
pressão arterial, glicemia, colesterol to-
se que tenham sido evitados sete mil
Os ganhos em saúde conseguidos
tal e triglicerídeos; aconselhamento ao
novos casos de doença, o que se tra-
especificamente no programa de
doente; programas destinados a cor-
duz numa poupança significativa para
cuidados farmacêuticos no âmbito
Um compromisso para além da lei
responder a necessidades específicas
o Sistema Nacional de Saúde.
da diabetes conduziram à assinatu-
como a gestão dos resíduos de medi-
Quanto à substituição com metado-
ra de um acordo entre o Ministério,
camentos, troca de seringas, substitui-
na, permite o acompanhamento na
a Ordem e a ANF no qual se prevê,
ção com metadona, gestão da doença.
farmácia de indivíduos referenciados
pela primeira vez, a remuneração do
À excepção das medições de parâ-
pelos Centros de Atendimento a
serviço prestado pelos farmacêuticos.
metros clínicos, realizadas em todas
Toxicodependente, ao abrigo de uma
Um passo que, segundo os autores
as farmácias , o artigo apresenta o es-
política que visa reforçar a adesão à
deste artigo, devia ser considerado
sencial de cada serviço, destacando o
terapêutica e facilitar a integração so-
em relação a outros serviços de va-
envolvimento dos farmacêuticos com
cial dos doentes.
lor acrescentado para a saúde: Estes
os programas da troca de seringas e da
Refira-se que, em qualquer um destes
serviços deveriam ser elegíveis para
metadona, bem como com a gestão de
programas, o envolvimento das farmá-
remuneração numa base por doente
resíduos de medicamentos, todos eles
cias não é remunerado.
ou num sistema similar que fosse um
de claro interesse para a saúde pública.
Posteriores no tempo são os progra-
complemento da remuneração por
Este último programa visa contribuir
mas de cuidados farmacêuticos: O
margem para os farmacêuticos .
para o uso racional dos medicamentos
objectivo foi desenvolver programas
Ainda no domínio do contributo das
e a protecção do ambiente, encorajan-
centrados na farmácia consistentes
farmácias de oficina, Suzete Costa,
do os cidadãos a entregarem na far-
com a gestão da doença e os cuida-
Cristina Santos e João Silveira destacam
mácia os fármacos fora de uso e/ou de
dos farmacêuticos, apoiar os farma-
a investigação desenvolvida pela ANF
prazo e respectivas embalagens, para
cêuticos na sua implementação e
num contexto em que são poucos os
posterior tratamento. Com sucesso
avaliar o respectivo impacto . Assim,
estudos protagonizados pelas universiFARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 59
política profissional dades, com excepção das de Coimbra e Lisboa. Do trabalho emanado da ANF, destacam quatro áreas: monitorização do impacto da nova legislação sobre medicamentos e farmácia, farmacoepidemiologia, avaliação de resultados em saúde e farmacoeconomia.
Uma visão para o futuro
As farmácias estão a preparar-se para expandir o cerne da sua actividade, de modo a cobrir serviços de saúde inovadores. Enfrentam novos desafios mas também novas oportunidades e responsabilidades.
A visão para o futuro tem como pano de fundo a reforma do sector introduzida pelo actual governo, uma re-
perspectiva empresarial, mas tam-
o conhecimento e as competências
forma que é, naturalmente, apresen-
bém na perspectiva profissional está
dos farmacêuticos de modo a asse-
tada nas suas linhas essenciais e ana-
em curso um processo de reforço de
gurar um elevado nível de desempe-
lisada pelos autores. Foram recen-
competências e de alargamento do
nho profissional. Neste processo, são
temente introduzidas importantes
âmbito da intervenção farmacêutica.
ferramentas essenciais o desenvolvi-
alterações políticas que irão afectar
Assim, os serviços orientados para
mento profissional contínuo e os pro-
as farmácias nos próximos anos. Os
o doente foram reorganizados em
gramas de certificação de qualidade,
medicamentos não sujeitos a receita
dois níveis distintos: essenciais e di-
bem como o novo modelo de reno-
médica passaram a poder ser ven-
ferenciados, sendo que os primeiros
vação da carteira profissional.
didos fora das farmácias e, em Maio
podem ser prestados por qualquer
A finalizar, os autores deste artigo
de 2006, o governo anunciou que a
membro da equipa da farmácia e es-
sublinham que tudo o que foi con-
propriedade da farmácia deixará de
tão directamente relacionados com a
seguido e as estratégias adoptadas
ser restrita a farmacêuticos .
dispensa de medicamentos, enquan-
reflectem um elevado nível de organi-
As farmácias ‒ sublinham ‒ estive-
to os segundos envolvem acções
zação e de unidade entre as farmácias
ram contra esta decisão , mas, apesar
conducentes à efectividade e segu-
portuguesas. Os planos futuros devem
disso, negociaram com o governo
rança da terapêutica, podendo ape-
ter em consideração as prioridades e
os termos da mudança . Não obs-
nas ser prestados por farmacêuticos
as oportunidades da agenda política
tante,
enfrentam novos desafios,
com formação específica obrigatória.
e devem ser receptivos ao estabele-
bem como novas oportunidades e
Esta evolução desenvolve-se em parceria
cimento de parcerias e de serviços
responsabilidades . Estão a reorga-
com os doentes ‒ através da Plataforma
estratégicos e inovadores. Métodos e
nizar-se de modo a ser possível lidar
Saúde em Diálogo ‒ e sempre tendo no
ferramentas sólidas são importantes,
com eventuais concorrentes; estão a
horizonte o Plano Nacional de Saúde.
mas são inúteis sem uma clara visão
preparar-se para expandir o cerne da
E assenta numa estratégia sólida de
para a Profissão e uma estratégia fo-
sua actividade, de modo a cobrir ser-
desenvolvimento profissional con-
cada na sustentabilidade profissional
viços de saúde inovadores. Isto numa
tinuado, concebida para optimizar
e económica das farmácias .
60 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 61
informacao veterinária Aprender a conhecer e tratar peladas em Animais A queda de pêlo e as falhas na pelagem nos animais domésticos, mais comum entre os gatos e os cães, apesar de ser recorrente também em roedores, devem ser tratadas, sejam as mesmas resultantes de um período normal de perda ou uma consequência nefasta de uma doença. O corpo do animal é coberto de pêlo. Por isso, o aparecimento de doenças de pele, e consequentemente de perdas de pêlo, é comum, sendo fundamental o dono do animal estar atento às alterações e procurar aconselhamento junto de profissio-
as inflamações de pele e peladas. Os fungos surgem como
nais especializados, em primeira instância do farmacêutico.
consequência de deficiências a nível da higiene do animal, do
Para além de os problemas dermatológicos serem prejudi-
seu sistema imunitário e da sua alimentação, multiplicando-se
ciais aos animais e ter um período longo de recuperação,
e provocando inflamações e perda de pêlo localizada.
colaboração com a Dra.
podem ser zoonoses, ou seja, transmissíveis ao ser huma-
Apesar de surgirem e ter efeitos adversos tanto em gatos de
Ana Paula Abreu, Médica
no. Com um diagnóstico precoce, o problema pode ser
pêlo curto como em cães, são os gatos persas os verdadeiros
resolvido de uma forma mais rápida e eficaz.
senhores em termos de tratamentos especiais de pêlo.
Artigo elaborado em
Veterinária responsável
Como possuem pêlo longo, os persas devem ter uma hi-
pelo grupo Hospital Veterinário de Almada.
Pulgas, fungos e ácaros
Qualquer dúvida pode
giene cuidada, para evitar tratamentos dermatológicos prolongados e radicais, como a tosquia total do gato e a
ser colocada para o email
A rarefacção de pêlo em animais domésticos pode ter várias
desinfecção da casa.
hva@hvalmada.com
origens. A dermatite alérgica à picada da pulga, denominada
O tratamento pode durar entre 6 a 8 meses. O dono do ani-
pelas siglas DAPP, pode provocar inflamação da pele, uma
mal deverá consultar um dermatologista veterinário para
vez que a pulga, ao picar o corpo do animal, vai injectar uma
identificar o tipo de fungo e o antimicótico específico para
pequena quantidade de saliva dentro da pele. Alguns animais
o eliminar. Existem champôs medicamentados próprios
apresentam reacções alérgicas a esta saliva, começando a co-
para este tratamento. Os ácaros também podem provocar
çar-se e a automutilar-se. Formam-se inflamações, as denomi-
comichões nos animais, inflamações secundárias e perdas de
nadas dermatites. Esta reacção alérgica pode ter uma duração
pêlo. Estes podem provocar dois tipos de sarna: demodécica,
superior a duas semanas após a última picada.
que é passada de mãe para filho, surgindo, principalmente,
Eliminar as pulgas nos cães e nos gatos, através de despa-
na cabeça, e a notoédrica, que começa nas patas e no rabo e
rasitantes locais, bem como do meio ambiente, é a medi-
avança para o resto do corpo. Apenas o segundo tipo de sarna
da crucial para evitar os pruridos nestes animais e a conse-
passa com facilidade a outros gatos e cães, podendo passar
quente perda de pêlo.
também ao homem, ainda que com menos facilidade. Em am-
Provocadas por fungos, as micoses são outra das causas para
bos os casos, dá-se uma perda localizada de pêlo.
62 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Dermatites em animais, culminantes nas chamadas peladas, são doenças comuns aos animais domésticos, sobretudo em cães e gatos. Saber dar resposta e aconselhamento às dúvidas dos utentes no que toca à saúde do animal e das pessoas que com ele coabitam deve ser uma preocupação dos farmacêuticos. Para evitar a sarna induzida por estes
O diagnóstico é facilmente realizado
parasitas há que fomentar uma boa
através de uma prova de alergia, com
higiene nos animais, por exemplo, le-
uma colheita de sangue, após uma
vando-os a profissionais especializados
observação realizada pelo médico ve-
(cabeleireiros de animais). Mais uma vez,
terinário ao animal e ao historial clínico.
os gatos persas necessitam de cuidados
Na prova de sangue, o animal vai ser
maniose. Esta doença, que surge atra-
extremados, sendo aconselhável a esco-
testado quanto à sua sensibilidade a
vés da picada de um mosquito no cão,
vagem quinzenal do pêlo. O diagnósti-
alergeneos como árvores, ervas, pólens,
sendo este mesmo insecto o veículo
co é realizado através da identificação
fungos e ácaros domésticos.
de transmissão da doença ao ser hu-
do tipo de ácaro e o tratamento é acon-
Existem animais alérgicos a inúmeros
mano, pode traduzir-se, por vezes,
selhado consoante o artrópode encon-
factores em simultâneo. Como se trata
em problemas dermatológicos, como
trado, podendo o animal ser tratado
de um problema genético, prevenir as
pêlo baço ou queda acentuada.
com medicamentos injectáveis ou com
alergias na sua totalidade não é possível.
Neste caso, o dono deve agir em
banhos terapêuticos, à semelhança do
Mas podem ser evitadas, se for evitado o
conformidade com o veterinário para
que acontece com os fungos.
contacto com o alergeneo em questão.
encontrar a melhor solução de pro-
O problema também pode ser contor-
tecção do animal.
As alergias
nado através da ingestão de alimen-
Tal como noutras doenças típicas de
tos hipoalergénicos, no caso de uma
animais, não se pode falar de soluções
As perdas de pêlo podem também
reacção a determinados alimentos, da
miraculosas, mas a base de um pêlo
ter origem em alergias ambientais ou
criação de auto-vacinas de dessensibi-
saudável é a alimentação, à semelhan-
alimentares. Por vezes, estas alergias
lização ao alergeneo ou do recurso a
ça do que acontece nos seres huma-
são mesmo o problema principal,
anti-histamínicos e champôs.
nos. Uma ração equilibrada e com-
acabando por provocar as inflama-
Pode falar-se ainda para causas de
pleta faz a diferença na prevenção de
ções de pele e as peladas.
quedas de pêlo decorrentes da leish-
doenças de pele. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 63
museu da farmácia O Museu da Farmácia no USS Enterprise A saúde em cenário de guerra Uma receita para juntar ao vasto
Chamam-lhe, carinhosamente, Big E, por via dos muitos e muitos dias que fazem desta máquina de guerra o lar de ho-
espólio do museu e a memória
mens e mulheres sem outro horizonte que não seja o mar.
e os olhos ainda cheios das
Em Lisboa, pisaram terra, a última antes de pisarem a sua.
imagens do primeiro porta-aviões
cas. E de terra subiram a bordo individualidades convidadas
nuclear do mundo foi o que João Neto trouxe da visita ao USS
Foram a terra, com critérios rigorosos e instruções específi-
pela embaixada dos Estados Unidos em Lisboa. Entre elas, o director do Museu da Farmácia, João Neto, no prosseguimento de uma política de intercâmbio com as diversas representações diplomáticas na capital portuguesa.
Enterprise, por alguns dias o centro das atenções no Tejo lisboeta.
Tudo no USS Enterprise é, naturalmente, motivo de interesse e de curiosidade. A descida ao interior deste colosso de mais de 93 mil toneladas, com 18 pisos e mais de 340 metros de comprimento permitiu comprovar que o imagi-
Regressava a Lisboa no final de uma longa missão no
nário de Hollywood se inspira com rigor na realidade.
Médio Oriente, o último palco de conflito mundial em que os aviões de guerra do USS Enterprise foram chamados a intervir. Regressava a Lisboa para uma curta escala antes
Autonomia para sobreviver à doença
do ansiado regresso a casa. Um descanso merecido para os mais de cinco mil tripulantes de um porta-aviões com
João Neto era, no entanto, portador de uma curiosidade
muita história para contar. Uma história de guerra, mais do
muito própria: como se cuida da saúde de uma tripulação
que de paz, ou não fora este um navio militar, o primeiro
de cinco mil pessoas, num porta-aviões que é protagonista
porta-aviões do mundo a propulsão nuclear.
constante de cenários de guerra? As explicações foram pron-
64 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 65
museu da farmácia
tas, na pessoa do médico-chefe do porta-aviões. São cerca de quatro dezenas os profissionais de saúde destacados para o USS Enterprise, entre médicos das mais diversas especialidades, enfermeiros, psicólogos e responsáveis pelos serviços farmacêuticos. Não há a bordo farmacêuticos propriamente ditos, mas pessoal especializado que assegura uma correcta dispensa dos medicamentos prescritos. Na farmácia, abastecida à partida para cada missão e com uma dimensão que garante autonomia durante as estadas no mar, medicamentos de marca e genéricos convivem pacificamente, com as receitas a serem, geralmente, passadas por DCI. Outras reservas chamam à atenção: a de sangue é uma delas. Há um banco de sangue com uma quantidade estratégica armazenada para responder a
gicas as principais urgências médicas
O USS Enterprise é um gigante dos
um eventual conflito. Mas há também
a bordo. Apesar de um elevado grau
mares, mas não se pense que o espaço
uma segunda linha, integrada por todos
de segurança, abundam as entorses e
que foge aos equipamentos bélicos e
quantos a bordo são dadores voluntá-
os membros partidos. Mas também
operacionais é muito. Todos os serviços
rios. Igualmente interessante foi a nota
as queixas relacionadas com a visão,
estão como que condensados, numa
que João Neto recolheu relacionada
fruto das operações nocturnas e do
organização irrepreensível que os tor-
com a potencialidade de uma guerra
trabalho em ambientes internos, ilu-
na funcionais apesar de relativamente
biológica: existe toda uma reserva de va-
minados artificialmente e onde os
exíguos. Assim é com o mini-hospital,
cinas, nomeadamente contra a cólera e
ecrãs de computador exigem um es-
com capacidade para três cirurgias em
o anthrax, a ameaça que pairou sobre o
forço permanente aos olhos de quem
simultâneo. E com uma enfermaria,
ocidente logo após o 11 de Setembro.
neles opera. Daí que salte à vista a re-
ainda que mínima, para os casos que
Sem uma guerra no horizonte, são
serva de lentes e óculos existente nos
requeiram isolamento. Além de um la-
sobretudo ortopédicas e oftalmoló-
serviços de saúde do porta-aviões.
boratório de análises clínicas.
66 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Gerir os conflitos e os abusos
alcoólicas apenas quando o navio toca um porto, nunca em navegação.
O USS Enterprise
O mesmo cuidado é posto na administração de fármacos: apenas os in-
foi o primeiro porta-aviões de propulsão nuclear em todo o mundo. Foi lançado à água em
Zelar pela saúde da tripulação passa
dispensáveis, numa atitude que visa
também pela gestão de conflitos. Daí
prevenir o abuso. Daí que as receitas
a presença de uma equipa de psicó-
integrem o conceito de unidose e
logos, essenciais no apoio a homens e
que o kit de sobrevivência afecto a
mulheres que deixaram a família para
cada piloto contenha o mínimo dos
trás, que vivem um dia-a-dia de sobres-
mínimos. Por entenderem, conforme
salto, quer porque enfrentam a possi-
foi dito a João Neto, que mais vale su-
•
Mais de 340 metros de comprimento
bilidade de uma guerra, quer porque
portar a dor do que perder a noção
•
18 pisos de altura
enfrentam a heterogeneidade inerente
da realidade. Os pilotos, aliás, são su-
•
Mais de 93 mil toneladas de peso
ao facto de serem mais de cinco mil
jeitos a uma vigilância médica perma-
•
Cerca de 70 aviões de combate
indivíduos. Com origens tão diferentes
nente, de modo a acautelar eventuais
•
Mais de cinco mil tripulantes
como as da sociedade norte-ameri-
prejuízos em vidas e aeronaves. Pelas
•
Primeira missão: bloqueio a Cuba, em Outubro
cana, cuja convivência nem sempre é
mesmas razões, o pessoal envolvido
pacífica, sobretudo quando confinada
na defesa directa do navio, nomeada-
a um porta-aviões em mar alto.
mente no controlo aéreo e radares, é
Gerem-se os conflitos e previnem-se os
submetido à mesma avaliação.
comportamentos de risco. O que expli-
A bordo do USS Enterprise não se
ca a significativa reserva de preserva-
correm riscos. Em matéria de saúde,
tivos. As doenças venéreas espreitam
claro. Porque o risco é uma constante
em cada porto, nos muitos do mundo
inevitável na missão de um navio de
de apoio à presidente das Filipinas Corazón
em que o navio fundeia. Ademais, con-
guerra. Em tempo de paz, cultivam-
Aquino, contra uma tentativa de golpe rebelde
forme o director do Museu da Farmácia
se as relações sociais. E até se contri-
verificou pessoalmente, a tripulação
bui para enriquecer o espólio de um
apresenta uma média etária muito bai-
museu que tem procurado ir sem-
xa, o que corresponde a uma visa sexu-
pre mais além: o da Farmácia. Desta
almente activa.
vez, com uma receita de aspirina em
O risco anda também associado ao
nome de João Neto e um saquinho
consumo de álcool e, naturalmente,
concebido para acolher o conceito
de drogas. O rigor é extremo: bebidas
de unidose.
Setembro de 1960, tendo entrado ao serviço da Marinha norte-americana em Novembro de 1961. Eis algumas das principais características técnicas e das missões em que participou o Big E, como é designado:
de 1962 •
É o primeiro navio nuclear a entrar em combate, em Dezembro de 1965, durante a guerra do Vietname
•
Em Abril de 1986, é o primeiro navio nuclear a cruzar o canal do Suez
•
•
Em Dezembro de 1989 participa numa missão
Em Junho de 1996, integra o plano de bloqueio aéreo da Bósnia
•
Em Dezembro de 1998, participa na Operação Tempestade do Deserto, contra o Iraque
•
Em Outubro de 2001, participa na ofensiva contra o regime talibã, no Afeganistão
•
Em 2014-14, deverá ser desactivado, após mais de 50 anos no mar. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 67
laboratório rh A Farmácia e os Talentos (III) Como motivar colaboradores? Jaime Ferreira da Silva *
os despoletaram) do que procurarmos
rico), os interesses, os motivos (p.e.
penho profissional dos indivíduos, a
uma causa única na origem de tudo.
valores, aspirações), o estilo pessoal2.
motivação para o trabalho permanece
O modelo explicativo do mundo do
II. Biografia ‒ integra tudo aquilo que
porventura, a mais misteriosa e volá-
1
trabalho WOW (World of Work Model)
o indivíduo adquiriu por via da apren-
til. A observação dos comportamentos
agrupa as variáveis que explicam e
dizagem, nomeadamente as capaci-
de trabalho mostra-nos que uma mes-
condicionam
dades/competências,
ma tarefa tanto pode ser interessante
profissionais em 5 domínios, fornecen-
conhecimentos e experiência.
para um indivíduo como desprovida
do-nos uma chave de leitura muito útil
III. Vida Profissional ‒ integra todas
de qualquer chama para um outro,
para a compreensão do que está em
as dimensões que permitem descre-
situando-se ambos num mesmo pata-
jogo quando se fala de motivação.
ver, explicar, e eventualmente predi-
mar de qualificação para o efeito.
Figura 1
zer os comportamentos directamen-
t n en ias h e c i m
lo
Pos to i dade d c a p a C Ap t
Pares
Domínios: I
- Traços Pessoais
II - Biografia
te relacionados com o desempenho no trabalho. Este domínio estabelece
oc
Co
Externos
O
única e inequívoca para uma das
ordenação de equipas - Como moti-
vo s
to
Cu
demos que não existe uma resposta
quem tem responsabilidades de co-
ti
i Est bj a E i S xperiê nc ec tivo eis ltu Pap ex ra nt Subordinados Co
Pelo exposto, facilmente compreen-
interrogações mais frequentes de
Mo
temporais distintos.
III
- Vida Profissional
IV - Relações Socias V
qualificações,
s
empresa especializada em
pela mesma pessoa em momentos
recursos humanos
Atr i bu Chef ias i çõ n u es o F lh Pr o a b f iss ra c a i ç f i õ T l e a õe s e Qu e s I n t ere s idõ
es ss
avaliada positiva e negativamente
comportamentos
çã o
A mesma tarefa pode igualmente, ser
Director Executivo da RHM,
os
o
* Jaime Ferreira da Silva,
De todas as determinantes do desem-
- Organização
a ligação entre as variáveis relativas ao interior do modelo (indivíduo) e ao exterior (contexto). IV. Relações Sociais ‒ integra as variáveis que caracterizam as interacções sociais dentro e fora da Organização, com chefias, subordinados, pares, terceiros (clientes, fornecedores, parceiros). V. Organização ‒ integra as variáveis
var e envolver a minha equipa? . As causas do comportamento humano
Os domínios são representados no
organizacionais que podem ter im-
são complexas e multifactoriais, fazen-
modelo WOW pelas curvas concên-
pacto no desempenho dos indivídu-
do mais sentido falarmos de probabili-
tricas e são os seguintes (do centro
os, nomeadamente:
dades (de ocorrência de determinados
para a periferia):
a) Funções ‒ variáveis relativas à
comportamentos) e correlações (entre
I. Traços Pessoais ‒ integra as apti-
divisão e natureza do trabalho de-
os comportamentos e os factores que
dões (p.e. raciocínio verbal e numé-
senvolvido i.e. o conjunto de tarefas
68 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
sequentemente, introduzirão novas
faz a diferença na prestação profis-
exigências no atendimento, nos co-
sional dos indivíduos e que poderá
nhecimentos e nos traços pessoais a
incluir atitudes, aptidões, traços, co-
exibir. De igual modo, uma alteração
nhecimentos, experiência, etc.
nos traços pessoais e/ou biográficos
Competência poderá ser definida
de um elemento da equipa (p.e. in-
como conjuntos de comportamentos
cremento das qualificações, alteração
que são instrumentais para a conse-
do seu estado civil) poderá produzir
cução dos resultados desejados. As
impacto no seu desempenho profis-
competências não são coisas que
e procedimentos que os indivíduos
sional, positiva ou negativamente.
as pessoas tenham, mas comporta-
têm de executar no desempenho das
O modelo WOW é sistémico e inte-
mentos que poderão ser modificados
suas funções.
ractivo, influenciado tanto de dentro
através da aprendizagem. Acima de
b) Cultura ‒ sistema de crenças e va-
para fora como de fora para dentro
tudo, as competências exprimem-se!
lores que enquadram e têm impacto
e esse pulsar é permanente. Ignorá-lo
No âmbito desta reflexão alargada,
na definição dos objectivos e limites
pensando que o estado actual da equi-
desenvolveu-se um conceito adja-
das funções e na avaliação dos de-
pa tenderá a perpetuar-se no tempo é
cente ao de competência, que nos
sempenhos profissionais.
uma armadilha do pensamento, mui-
permite inferir sobre a probabilida-
c) Atribuições ‒ responsabilidades e
to perigosa em funções de gestão e
de de certa pessoa poder vir a ser
papéis que se espera que os titulares
coordenação de pessoas!
competente em determinadas cir-
das funções assumam.
Os conceitos de aptidão, atitude, ca-
cunstâncias. Falamos do potencial
d) Contexto ‒ definição do enqua-
pacidade, traço, estilo pessoal, têm
para a competência que abrange
dramento de cada função em ter-
sido utilizados desde há muito para
os atributos necessários (atitudes,
mos de nível hierárquico, localização
descrever o potencial de cada pessoa
conhecimentos, crenças, valores,
na estrutura, departamento/sector
para emitir determinados comporta-
aptidões, etc) para que determina-
que integra, relações com o exterior
mentos de trabalho. Frequentemente,
da pessoa possa vir a produzir os
da Organização (clientes, fornecedo-
ouvimos expressões de apreço e/ou
comportamentos desejados (com-
res, parceiros).
desagrado sobre terceiros, elogiando
petências).
da
a sua capacidade de lidar com clien-
O potencial para a competência
Farmácia Comunitária à luz deste
tes difíceis ou criticando a sua falta
é um conceito muito útil quando
modelo,
Se
analisarmos
a
facilmente
realidade
compreende-
de aptidão para assuntos burocráti-
se pretende avaliar pessoas para
remos que uma simples mudança
cos . Como a diversidade de concei-
determinados cargos (admissões,
de contexto (p.e. transferência de
tos introduz muitas vezes ruído na
promoções, mudança de funções),
instalações, nova urbanização na
comunicação, na década de oitenta
em que o valor preditivo das deci-
proximidade) produzirá uma série
do séc. passado desenvolveu-se o
sões que vierem a ser tomadas (p.e.
de impactos nas outras dimensões
conceito de competência (Boyatzis,
promover o indivíduo A em detri-
‒ relações sociais que se alteram (p.e.
1982) que se pretende mais abran-
mento do B, delegar no C a função
nova tipologia de utentes) e que con-
gente, designando esse algo que
Gestor da Qualidade) estabelecerá FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 69
laboratório rh a diferença entre sucesso e fracasso. A sua interligação
os indivíduos a empreender as acções necessárias à sua
com as competências, os resultados e o contexto po-
satisfação. Essas necessidades podem ser hierarquizadas,
derá explicitar-se da seguinte forma:
situando-se na base da pirâmide as necessidades mais bá-
Figura 2
sicas e elementares. Existe uma relação de subordinação das necessidades mais sofisticadas (nec. do Eu e de autore-
Potencial para as Competências
Competências
Resultados
Comportamentos
alização) em relação às mais elementares (nec. fisiológicas, de segurança e sociais) que as precedem. Aquelas só tenderão a emergir quando estas estiverem satisfeitas.
Contexto
Segundo Maslow, esta hierarquização das necessidades
Factores Situacionais
estaria relacionada com a evolução do Homem, na medida em que as necessidades mais primárias foram dominantes
Compreender as determinantes dos comportamentos
durante os primeiros estádios da evolução da espécie hu-
profissionais e sua interacção sistémica é um requisito fun-
mana, em que a luta pela sobrevivência num meio hostil
damental para uma boa GRH3 em qualquer Organização.
enformava o quotidiano.
A motivação para o trabalho é um construto complexo
A Teoria de Maslow aplicada ao mundo do trabalho, pode aju-
dada a abrangência do conceito e as inúmeras causas que
dar-nos a compreender as motivações dos trabalhadores com
poderão estar-lhe subjacentes. Genericamente, podere-
diferentes níveis de qualificação, ajudando-nos a perceber
mos definir motivação como a energia responsável pelo
como as necessidades do Eu e de Autorealização adquirem
desencadeamento, direcção, manutenção e intensidade
maior saliência quando as necessidades mais primárias estão
dos comportamentos (Pinder, 1998).
asseguradas; em contrapartida, quando isso não se passa (p.e.
Das inúmeras teorias da motivação produzidas nos últi-
desemprego ou doença prolongada), os indivíduos tenderão
mos 100 anos, 2 delas merecem especial destaque dada
a remeter para segundo plano as necessidades do topo, cen-
a sua funcionalidade operativa. Falamos da Pirâmide das
trando-se na resolução das necessidades mais básicas.
Necessidades de Maslow (1970) (fig.3) e do Modelo de
O Modelo de Definição de Objectivos de Locke & Latham,
Definição de Objectivos (Locke & Latham, 2002)
postula que o comportamento dos indivíduos é desencadeado e mantido através da sua vontade de atingir objectivos significativos. Para que essa motivação permaneça
Auto Realização
Figura 3
Subordinação e Precedências
Do EU (Ego) Socias Segurança Necessidades Fisiológicas
forte, desencadeando os comportamentos necessários à sua consecução, a definição dos objectivos em causa deverá ser SMART: S (specific) ‒ objectivos específicos M (measurable) ‒ objectivos mensuráveis A (attainable) ‒ objectivos atingíveis R (relevant) ‒ objectivos relevantes T (timely) ‒ objectivos situados no tempo A motivação neste processo é alimentada externamente por estes 5 factores e internamente por um factor que de-
A Teoria de Maslow parte do pressuposto que a motiva-
signamos de compromisso pessoal. Por princípio, a força
ção humana se fundamenta em necessidades por satisfa-
desse compromisso será tanto maior quanto maior a par-
zer, que constituem os motivos ( motores ) que impelem
ticipação dos envolvidos na definição desses objectivos
70 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 71
laboratório rh
ou, em alternativa, a sua margem de
tências da sua equipa e as que
liberdade na sua negociação.
são requeridas pela actividade.
Quando se fala de motivação dos co-
Estabeleça medidas correctivas
laboradores para o trabalho não exis-
dos desvios. Se antecipar no-
tem receitas únicas dado que cada
vas exigências profissionais que
pessoa é uma entidade complexa e
apelem a um reforço no investi-
única no modo de interagir no con-
mento em RH4 na sua Farmácia
texto. Poderemos contudo, extrair
(novas contratações, formação,
alguns princípios de acção inspirados
coaching), avalie o potencial para
nas teorias descritas e nas práticas que
as novas competências dos seus
temos observado ao longo dos anos:
colaboradores; se necessário, re-
12 Dicas Práticas para Motivar os Colaboradores 1.
4.
que não sejam suas. Valorize pu-
Verifique se os seus colaborado-
blicamente os contributos válidos
res estão alinhados nas atitudes
sem esquecer que os menos váli-
e nos comportamentos com os
dos são apenas degraus de acesso
valores da sua Farmácia, a sua missão e visão estratégica do
radores, nomeadamente, as suas
negócio. Identifique os desfa-
da sua Farmácia e do trabalho
idiossincrasias, os seus interesses
samentos, esclareça as causas e
que lá se desenvolve entusias-
e motivações (o que mais gostam
efectue os ajustamentos neces-
mam particularmente cada um
e menos gostam de fazer no tra-
sários. Muitas vezes, uma melhor
dos seus colaboradores. Procure
balho). Pelo menos uma vez por
comunicação (e mais frequente)
na medida do possível, que cada
à solução encontrada! 7.
lima as arestas necessárias. 5.
Procure conhecer que atributos
um deles vista o fato que me-
Mantenha o trabalho organizado
lhor lhe assente.
do conhecer a sua visão para os
e dividido com clareza pela equi-
próximos anos em termos profis-
pa. Um ingrediente essencial da
confiança em cada colaborador
sionais (e, se possível, pessoais).
motivação é o facto das pessoas
não se esqueça de delegar res-
8.
À medida que for adquirindo
Mantenha uma visão esclarecida
sentirem que trabalham numa
ponsabilidades. Estará dessa for-
sobre as competências profissio-
empresa estruturada, com colu-
ma, a criar estímulos poderosos
nais requeridas na actualidade
na vertebral .
ao desenvolvimento profissional
Crie condições para que os colabo-
de quem trabalha consigo.
em Farmácia Comunitária, pro-
72 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
especializada nessa avaliação.
sível cada um dos seus colabo-
privada com cada um, procuran-
3.
Implemente as boas ideias mesmo
Procure conhecer o melhor pos-
ano, mantenha uma conversa
2.
corra a uma assessoria externa
6.
curando identificar novas exigên-
radores sintam a Farmácia como
cias no curto/médio-prazo.
sendo um pouco deles, também.
sem esquecer a importância vital
Avalie periodicamente a sintonia
Partilhe
do compromisso individual na con-
/ desfasamento entre as compe-
tões, discuta princípios de acção.
ideias,
acolha
suges-
9.
Trabalhe com objectivos SMART
secução dos resultados colectivos.
Motivação - a energia responsável pelo desencadeamento, direcção, manutenção e intensidade dos comportamentos.
10. Pratique uma política salarial que contemple uma retribuição
rigir os erros que eventualmente
1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
cometer!
dos Psicólogos Boyatzis
fixa e uma variável (em função
12. Inclua os seus colaboradores na
dos resultados da Farmácia e do
sua reflexão estratégica sobre o
colaborador), ancorada num sis-
devir da Farmácia. Se identificar
tema objectivo de avaliação dos
situações de fraco potencial para
desempenhos.
as
competências
Baseado nas investigações
futuramente
11. Ouça mais do que fale, procure
requeridas, accione planos de
liderar dando o exemplo. Não se
contingência. Adiar uma decisão
preocupe em ser super, procure
difícil sine die é alimentar um pro-
apenas ser justo e capaz de cor-
blema de gravidade crescente.
Boyatzis, R. E. The Competent Manager , in Robertson, I., Callinan, M. e Bartram, D. (2002) Organizational Effectiveness, John Wiley & Sons, West Sussex. Locke, E.A. e Latham, G.P. A Theory of Goal-Setting and Task Performance , in Robertson, I., Callinan, M. e Bartram, D. (2002) Organizational Effectiveness, John Wiley & Sons, West Sussex. World of Work Model SHL Group, in Robertson, I., Callinan, M. e Bartram, D. (2002). Organizational Effectiveness, John Wiley & Sons, West Sussex.
(1982), Mishel & Shoda (1995) e operacionalizado pela empresa internacional de Consultoria, SHL. 2
Habitualmente
designado de personalidade . 3
Gestão dos Recursos
Humanos. 4
Recursos Humanos.
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 73
consultoria jurídica Medicamentos
Tradicionais
à base de Pl
a
as nt
Filipe Nuno Azóia * e Sónia Romano ** Pelas suas características e pela quantidade de produtos disponíveis no mercado, tornou-se cada vez mais premente a necessidade de definir um enquadramento jurídico preciso, quanto à introdução no mercado, fabrico, rotulagem, comercialização e acondicionamento destes produtos, que garanta
o acesso a
medicamentos e preparações à base de plantas em condições de segurança, qualidade e com informa-
substâncias derivadas de
ção clara para o utilizador
plantas, uma ou mais prepa-
destes produtos.
* Advogado da PLMJ, Sociedade de Advogados
rações à base de plantas ou uma ou mais
Pela sua importância, fo-
substâncias derivadas de plantas em associação com
ram apresentados vários
uma ou mais preparações à base de plantas, que, cumulati-
Ante-projectos de Decreto-Lei sobre produtos à base de
vamente, (i) tenha indicações exclusivamente adequadas a
plantas, os quais nunca vieram a ser publicados. O Estatuto
medicamentos à base de plantas e, dadas a sua composição
do Medicamento, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 176/2006,
e finalidade, se destine e seja concebido para ser utilizado sem
de 30 de Agosto, decorrente também de legislação comunitá-
vigilância de um médico para fins de diagnóstico, prescrição
ria, transpõe para o direito interno a Directiva 2004/24/CE, do
ou monitorização do tratamento, (ii) se destine a ser admi-
Parlamento Europeu e do Conselho, de 31 de Março de 2004,
nistrado exclusivamente de acordo com uma dosagem e
regulando pela primeira vez, a matéria respeitante aos medi-
posologia especificadas, (iii) possa ser administrado por
camentos tradicionais à base de plantas.
uma ou mais das seguintes vias: oral, externa ou inala-
** Farmacêutica do Núcleo de Acordos, Receituário e Codificação da ANF
tória, (iv) já seja objecto de longa utilização terapêutica,
Conceito
de acordo com os dados bibliográficos ou pareceres de
«Medicamento tradicional à base de plantas», qualquer medica-
ou um medicamento equivalente, teve uma utilização
mento à base de plantas, ou seja, qualquer medicamento que
terapêutica durante os trinta anos anteriores, incluindo,
tenha exclusivamente como substâncias activas uma ou mais
obrigatoriamente, quinze anos num Estado membro, (v)
peritos que provem que o medicamento em questão,
74 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Em regra, a autorização de comercialização de medicamentos tradicionais à base de plantas obtÊm-se atravÊs de um procedimento de registo de utilização tradicional.
%XPOSIÂ ĂŽO DE 0INTURA
seja comprovadamente nĂŁo nocivo quando utilizado nas condiçþes especificadas, de acordo com a informação existente e reputada suficiente, e possa demonstrar, de acordo com informação existente e reputada suficiente, efeitos farmacolĂłgicos ou de eficĂĄcia plausĂvel, tendo em conta a utilização e a experiĂŞncia de longa data.
Procedimentos Em regra, a autorização de comercialização de medicamentos tradicionais à base de plantas obtÊm-se atravÊs de um procedimento de registo de utilização tradicional (artigos 141.º, 142.º e 142.º). No entanto, o INFARMED pode determinar a sujeição de um medicamento tradicional à base de plantas ao procedimento de autorização de introdução no mercado de medicamentos (artigos 14.º a 39.º) ou ao procedimento de registo simplificado a que estão sujeitos os medicamentos
h!INDA HÉ AS FLORESv !,&2%$/ #/%,(/
)NAUGURAÂ ĂŽO DIA DE &EVEREIRO DAS HORAS ĂŒS HORAS #ONTAMOS #ONSIGO
homeopåtico que, cumulativamente, sejam administrados por via oral ou externa, apresentem um grau de diluição que garanta a inocuidade do medicamento, não devendo este conter mais de uma parte por 10000 de tintura-mãe,
DE DE &EVEREIRO A DE -AR O DAS H ĂŒS H DE 3EGUNDA A 3ÉBADO
nem mais de 1/100 da mais pequena dose eventualmente utilizada em alopatia, para as substâncias activas cuja presença num medicamento alopåtico obrigue a receita mÊdica, e não apresentem quaisquer indicaçþes terapêuticas especiais na rotulagem ou em qualquer informação relativa ao medicamento (artigo 137.º). PorÊm, a disposição do Estatuto do Medicamento que prevê a possibilidade de INFARMED determinar a sujeição de um medicamento tradicional à base de plantas ao procedi-
3EDE DA !SSOCIA ÎO .ACIONAL DAS &ARMÉCIAS 2UA -ARECHAL 3ALDANHA ,ISBOA
consultoria jurídica
mento de autorização de introdução
conhecimento mútuo (artigo 40.º)
lizador deve consultar um médico ou
no mercado de medicamentos ou ao
e o procedimento descentraliza-
outro profissional de saúde, designa-
procedimento de registo simplificado
do (artigo 47.º) são ainda aplicáveis
damente um farmacêutico, se os sin-
a que estão sujeitos os medicamen-
por analogia aos registos de utili-
tomas persistirem durante o período
tos homeopático (artigo 141.º, n.º 3)
zação tradicional sempre que tiver
de utilização do medicamento ou
não estabelece quais as circunstân-
sido elaborada uma monografia co-
se surgirem reacções adversas não
cias que determinam o afastamento
munitária de plantas medicinais res-
mencionadas no folheto informativo,
do regime regra do procedimento de
peitantes a medicamentos à base de
e (iii) a natureza da tradição associa-
registo de utilização tradicional.
plantas abrangidos pelo artigo 20.º
da ao medicamento em questão. Por
Na verdade, um medicamento tradi-
(uso clínico bem estabelecido) e a
último, resta referir que a publicida-
cional à base de plantas pode reunir
medicamentos tradicionais à base
de dos medicamentos tradicionais à
todas as condições que se encon-
de plantas em que o medicamen-
base de plantas obedece ao dispos-
tram previstas para estar sujeito a
to à base de plantas seja composto
to no Estatuto do Medicamento, e
um procedimento de registo de uti-
por substâncias derivadas de plantas,
é sempre acompanhada da menção
lização tradicional (artigo 141.º, n.º
preparações ou associações das mes-
«medicamento tradicional à base
1), o interessado pode apresentar o
mas constantes da lista comunitária.
de plantas, para utilização na ou nas indicações especificadas,
requerimento de registo de utilização tradicional que inclua todos os elementos descritos no artigo 142.º, n.º 1, acompanhado de todos os dados e
Rotulagem, folheto informativo e publicidade
documentos previstos no artigo 142. º, n.º 2, e o INFARMED, simplesmente,
A rotulagem e o folheto informativo
determinar a sua sujeição ao procedi-
de medicamentos tradicionais à base
mento de autorização de introdução
de plantas obedecem, com as ne-
no mercado de medicamentos ou ao
cessárias adaptações, ao disposto no
procedimento de registo simplificado
Estatuto do Medicamento, e contêm
a que estão sujeitos os medicamentos
ainda as seguintes informações: (i) a
homeopático.
menção de que se trata de um medi-
Estamos, pois, perante um poder dis-
camento tradicional à base de plantas
cricionário do INFARMED que, natu-
para utilização na ou nas indicações
ralmente, vem introduzir incerteza e
nele especificadas e baseado exclu-
insegurança nesta matéria.
sivamente numa utilização de longa
Finalmente, o procedimento de re-
duração, (ii) a indicação de que o uti-
76 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
baseado exclusivamente numa utilização de longa data».
reunioes e simpósios Internacionais DATA
EVENTO
16 de Março de 2007 Maputo ‒ Moçambique
10 anos da Licenciatura de Farmácia em Moaçambique ‒ Valor acrescentado da Intervenção Farmacêutica Informações: Ordem dos Farmacêuticos www.ordemfarmaceuticos.pt
22 a 25 de Abril de 2007 Amesterdão - Holanda
3rd World Congress of the Board of Pharmaceutical Sciences of FIP ‒ Optimising drug therapy: an imperative for world health Contactos: Registration & Abstract; Handling; NewBrooklyn; P.O. Box 73; NL-3620 AB Breukelen; The Netherlands; Tel +31 346 266110; Email: registration@newbrooklyn.nl
31 de Agosto a 6 de Setembro de 2007 Beijing - China
67th International Congress of FIP Contactos: Andries Bickerweg 5; P.O. Box 84200; 2508 AE The Hague; The Netherlands Tel.: +31-(0)70-302 1982/1981; Fax: +31-(0)70-302 1998/1999 E-mail: congress@fip.org; Website: http://www.fip.org/beijing2007
27 a 30 de Setembro de 2007 Dusseldorf - Alemanha
EXPOPHARM 2007 International Pharmaceutical Trade Fair Contactos: Gabriele Stadler; Carl-Mannich-Straße 26; 65760 Eschborn Phone: +49 6196 - 92 84 11; Fax: +49 6196 - 92 84 04 E-Mail:g.stadler@wuv.aponet.de; www.expopharm.de
Nacionais DATA
EVENTO
28 de Fevereiro de 2007 Porto
I Jornadas sobre Intoxicações: Intoxicações, Interacções e Reacções Adversas a Medicamentos Auditório Principal da Universidade Fernando Pessoa (Sede) Praça 9 de Abril, 349, 4249-004 Porto Inscrição e outras informações: http://www.ufp.pt/
6 de Março de 2007 Lisboa
1ª Conferência ANF sobre o modelo Europeu da Farmácia O Modelo Ibérico de Propriedade de Farmácia Centro de Congressos de Lisboa Informações: www.anfonline.pt Telef: 21 340 06 51/ 59
8 a 10 de Março de 2007 Lisboa
Congresso Anual dos Farmacêuticos ‒ Acrescentar Valor à Saúde Centro de Congressos de Lisboa Informações: Ordem dos Farmacêuticos www.ordemfarmaceuticos.pt
10 de Abril de 2007 Lisboa
2ª Conferência ANF sobre o modelo Europeu da Farmácia Os Modelos Nórdicos de Propriedade de Farmácia Centro de Congressos de Lisboa Informações: www.anfonline.pt Telef: 21 340 06 51/ 59
17 de Abril de 2007 Lisboa
3ª Conferência ANF sobre o modelo Europeu da Farmácia A Farmácia na Europa: Lições para a Evolução do Modelo Farmacêutico Português Centro de Congressos de Lisboa Informações: www.anfonline.pt Telef: 21 340 06 51/ 59
26 de Novembro a 1 de Dezembro de 2007 Albufeira
World Healthcare Student s Symposium 2007 ‒ Differents Rules, One Goal Para mais informações: http://whss2007.org/site
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 77
noticiário Professora Irene Silveira
Mérito Científico Reconhecido
ticular destaque para os esforços profícuos no âmbito da sua actividade como presidente do Conselho Científico da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra.
O mérito científico da Professora Irene Silveira voltou a ser reconhecido recentemente aquém e além fronteiras. O último desenvolvimento numa carreira repartida entre a docência e a investigação, com uma passagem pela intervenção político-profissional, foi corporizado com a nomeação
Anteriormente, esta condecoração do Estado brasileiro havia sido entregue a personalidades portuguesas do domínio político, como o ex-Presidente da República Ramalho Eanes, ex-primeiro-ministro António Guterres e o antigo presidente do Parlamento Ribeiro de Almeida.
para a presidência do Conselho Científico da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).
Uma carreira multifacetada
A eleição ocorreu na primeira reunião daquele órgão, em
Catedrática da Faculdade de Farmácia da Universidade de
Novembro último, por consenso de todos os membros pre-
Coimbra, a Professora Irene Silveira é actualmente direc-
sentes. Todos eles ‒ conforme o diploma que consagrou a
tora do Laboratório de Bromatologia. O seu percurso aca-
sua escolha ‒ personalidades de reconhecido mérito cien-
démico é longo e profícuo, quer enquanto docente e in-
tífico, ligadas a instituições de investigação consideradas de
vestigadora, quer enquanto membro de órgãos de gestão
referência ao nível nacional em áreas técnico-científicas que
da Universidade. Assim, de 1998 a 2003 ocupou o cargo
integram a temática da segurança alimentar .
de vice-reitora, tendo de 2004 a 2006 integrado o Senado.
Ao seleccionar os elementos que integram o Conselho
Durante este mesmo período, presidiu ao Conselho
Científico da ASAE, o governo visou, ainda segundo o
Científico da Faculdade de Farmácia. Ainda na faculdade
mesmo diploma, reforçar a confiança dos consumidores
é desde 2004 coordenadora do estágio de pré-licenciatura
e operadores económicos nos processos de tomada de
em Ciências Farmacêuticas.
decisão com bases eminentemente científicas.
A sua actividade científica abrange a participação e a co-
É este o valor reconhecido à Professora Irene Silveira e con-
ordenação de projectos nacionais e europeus, o desenvol-
sagrado com a sua eleição para presidir àquele organismo.
vimento e/ou aplicação de novas metodologias analíticas
O mesmo reconhecimento presidiu à atribuição da Ordem
em áreas como os resíduos de fármacos em alimentos.
Internacional do Mérito ao Descobridor do Brasil Pedro
É autora e co-autora de 130 artigos e resumos em publi-
Álvares Cabral. Constituída em 1968, esta ordem honorífica
cações nacionais e estrangeiras, tendo participado em
propõe-se distinguir as personalidades brasileiras e interna-
congressos nacionais e estrangeiros com cerca de 90 co-
cionais cujos méritos de honra, de trabalho, de solidariedade
municações científicas e proferido conferências em três
e de cooperação, entre povos e culturas, devam ser perpe-
dezenas de encontros e seminários.
tuados para conhecimento das gerações vindouras e para
Também a nível político-profissional se fez sentir o seu en-
público apreço dos respectivos países .
volvimento, tendo presidido à Secção Regional do Centro
Aposta em Abril de 2006 na Universidade de Coimbra, a con-
da Ordem dos Farmacêuticos de 1994 a 2000, em paralelo
decoração ‒ com o grau superior de Grã Cruz ‒ pretendeu
com o lugar de vogal da Direcção Nacional.
sublinhar o valor e a exemplaridade dos predicados que
O seu desempenho na Ordem dos Farmacêuticos abrange
envolvem a carreira da Professora Irene Silveira, com par-
ainda o lugar de presidente da Mesa da Assembleia Geral.
78 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Formação e solidariedade no Centro
Parlamento recomenda unidose
A formação e a solidariedade estive-
ou não respeito aos medicamentos
A Assembleia da República aprovou, no passado dia 18
ram de mãos dadas na palestra de
propriamente ditos, afectam a acti-
de Janeiro, uma recomendação ao governo no sentido
Natal promovida pela Delegação
vidade da farmácia.
de adoptar a unidose na dispensa e comercialização
Centro da ANF. A farmácia na tran-
São novos desafios e foi sobre eles
dos medicamentos em todo o ambulatório .
sição do Sistema de Saúde foi o
que se pronunciou o Professor Batel
Esta recomendação integra-se numa resolução visando a
tema escolhido, com apresentação
Marques. Perante cerca de quatro
adopção de medidas de expansão do consumo de gené-
a cargo do Professor Francisco Batel
dezenas de pessoas reunidas na
ricos e de redução do desperdício de medicamentos pres-
Marques, da Faculdade de Farmácia
sede da associação em Coimbra,
critos e de orientações em diagnóstico e terapêutica .
no dia 13 de
Recorde-se que a unidose, há muito defendida pelos
Dezembro, co-
farmacêuticos, está por enquanto apenas prevista para
meçou por um
as farmácias de oficina a instalar nos hospitais, ao abri-
enquadramen-
go da legislação publicada em Dezembro último e que
to histórico do
aguarda ainda regulamentação.
SNS, após o
Além desta medida, o parlamento recomenda ao go-
que se centrou
verno o desenvolvimento de um programa que garan-
no presente e
ta o crescimento do mercado de genéricos, equiparável
futuro do sec-
ao verificado nos países mais desenvolvidos nesta área,
tor,
e ainda mecanismos conducentes a que os respectivos
apresen-
tando a nova
preços sejam efectivamente inferiores aos de marca.
legislação.
No texto publicado em Diário da República de 01 de
da Universidade de Coimbra.
Para os presentes, esta foi mais uma
Fevereiro, os deputados advogam igualmente o incenti-
Um tema pertinente à luz dos mais
oportunidade formativa e também
vo à prescrição de medicamentos genéricos nas unidades
recentes desenvolvimentos legis-
uma oportunidade de evidencia-
funcionais do SNS (unidades de saúde familiar, centros de
lativos, nomeadamente dos que
rem espírito solidário, na medida
saúde, serviços de urgência, serviços de consulta externa
concernem a farmácia e os farma-
em que foi efectuada uma recolha
hospitalar), em função dos objectivos nacionais .
cêuticos. Para o sector, o governo
de presentes destinados a crianças
Com o mesmo objectivo, sustenta-se nesta resolução
anunciou um modelo liberal, cujos
apoiadas por duas instituições da
que seja promovida a consolidação da actividade e
primeiros passos estão já vertidos
cidade.
competitividade da indústria farmacêutica, em parti-
em projectos de diploma.
O resultado desta solidariedade
cular no segmento dos genéricos.
No sector da saúde, outras medidas
contribuiu para tornar mais feliz o
Ao governo é ainda recomendado que adopte, em co-
estão em curso, nomeadamente a
Natal das crianças carenciadas do
laboração com as organizações profissionais do sector,
reorganização das urgências hospi-
Colégio de Órfãos de São Caetano
um manual ou guia das boas práticas em exames de
talares e a criação das unidades de
e da Casa da Infância Dr. Elísio de
diagnóstico e terapêutica , orientador e facilitador da
saúde familiar. Todas elas, digam
Moura.
prática profissional. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 79
noticiário Natal na ANF O Natal é indissociável das crianças e, por isso mesmo, foi a elas que a ANF dedicou a festa or-
Portugueses insatisfeitos com cuidados de saúde
ganizada no dia 9 de Dezembro último. Uma festa com muitas surpresas e, naturalmente, prendas. A animação esteve a cargo da Animarte, que levou à sede da associação, em Lisboa, uma peça de tea-
Mais de 60 por cento dos portugueses manifestou-se não estar
tro evocativa da época natalícia ‒ Um outro con-
satisfeito com o sistema de saúde do nosso país, 45 por cento
to de Natal , de Charles Dickens, foi representado
dos activos e 42 por cento dos reformados encontra-se pou-
por pequenos artistas dos 7 aos 15 anos.
co satisfeito e cerca de 26 por cento dos reformados confessa
Os espectadores mais novos receberam ainda a
mesmo estar nada satisfeito , com a qualidade dos cuidados
visita de Flip, guitarrista da banda da protagonista
de saúde em Portugal. Estas foram algumas das conclusões re-
da telenovela Floribela. Um encontro para recor-
tiradas da Axa Barómetro Reforma, que abrangeu um universo
dar sob a forma de um autógrafo.
de 16 países, dos quais Portugal é o que menos satisfação mos-
O que não pode faltar numa festa de Natal são
tra perante a actual situação do sistema de saúde.
prendas. Coube aos artistas da Animarte fazer a
Este estudo, realizado pela seguradora Axa, revela ainda que,
sua distribuição, normalmente o momento mais
comparando os activos e reformados que se sentem cheios de
ansiado pelos mais pequenos.
saúde , Portugal está no fim da lista dos países analisados. Apenas
Sempre bem recebido é o lanche, com o qual
os activos japoneses se sentem com menos saúde que os portu-
encerrou esta confraternização natalícia.
gueses. Mesmo assim, 83 por cento dos activos sente-se cheio de saúde ou com com saúde , sobretudo os homens com menos de 45 anos. Entre os reformados, a percentagem dos que se sentem com saúde está equilibrada com a percentagem dos que se sentem sem saúde (47 por cento contra 53 por cento). Relativamente à prática desportiva e à manutenção da forma física, o AXA Barómetro Reforma revela os portugueses são também os que menos desporto pratica. Só 42 por cento da população activa e 21 por cento da população reformada diz praticar desporto com regularidade. Realizado de Julho a Setembro de 2006, o AXA Barómetro Reforma pretendeu estudar e comparar as atitudes face à reforma e diversos índices, em 16 dos países: Alemanha, Austrália, Bélgica, Canadá, China, Espanha, Estados Unidos da América, França, Hong-Kong, Itália, Japão, Nova Zelândia, Países Baixos, Reino Unido, Singapura e Portugal. 80 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
11ª campanha de recolha de radiografias Farmácias premiadas A 11ª campanha de recolha de radio-
Lista das farmácias distinguidas
grafias, ao abrigo da parceria entre a Farmácia
Localidade
Distrito
Peso
Farmácia São Roque
Aguada de Baixo
Aveiro
100
Farmácia Martins Oliveira
Nogueira da Regedoura
Aveiro
70
Farmácia Fonseca
Beja (Santa Maria da Feira)
Beja
75
A assinalar os bons resultados, foram dis-
Farmácia da Misericórdia
Cuba
Beja
70
tinguidas as duas farmácias que, em cada
Farmácia Sousa Alves
Fafe
Braga
80
Farmácia Barbosa
Vila Nova de Famalicão
Braga
70
Farmácia Afonso
Vinhais
Bragança
15
Assistência Médica Internacional (AMI) e a ANF, resultou em mais um sucesso ao serviço da solidariedade.
distrito, mais quilos recolheram nos dias em que decorreu a campanha (5 a 23 de
Farmácia Albuquerque
Vinhais
Bragança
10
Junho último). A cada uma dessas farmá-
Farmácia Garcia Guerra
Oleiros
Castelo Branco
57
cias foi atribuído um prémio simbólico
Farmácia Morgado Duarte
Castelo Branco
Castelo Branco
30
Farmácia Cruz
Cantanhede
Coimbra
100
Farmácia Fonseca
Lousã
Coimbra
80
Farmácia Lima Natário
Miranda Do Corvo
Coimbra
80
O maior contributo esteve a cargo da
Farmácia da Misericórdia
Évora (Santo Antão)
Évora
77
Farmácia Fonte da Moura, em Lordelo
Farmácia Paços
Malagueira
Évora
71
Farmácia Crespo Santos
Faro (São Pedro)
Faro
220
Farmácia S. Brás
São Brás de Alportel
Faro
77
Farmácia Manaia
Seia
Guarda
25
Alto do Pina (Lisboa), com 260 quilos, e
Farmácia Patricio
Gouveia (São Pedro)
Guarda
20
da Farmácia Crespo Santos, de São Pedro
Farmácia Central
Melo
Guarda
20
Farmácia Pacheco
Vide
Guarda
20
Farmácia Paranhense
Paranhos
Guarda
20
Farmácia Duarte
Marinha Grande
Leiria
130
angariar fundos indispensáveis à prossecu-
Farmácia Medeiros
Avelar
Leiria
115
ção do trabalho humanitário da AMI, além
Farmácia Esperança Farmácia Central Carnaxide Farmácia Calado Lda.
Alto Do Pina
Lisboa
260
‒ o livro Histórias para adormecer 2 , editado pela AMI.
do Douro (Porto), com 300 quilos recolhidos, seguida da Farmácia Esperança, de
(Faro), com 220 quilos. A campanha de recolha de radiografias visa
de
Carnaxide
Lisboa
200
Ajuda, Salvador e Santo Ildefo
Portalegre
45
Farmácia Esteves Abreu Lda.
Sé
Portalegre
44
Farmácia Fonte da Moura
Lordelo do Ouro
Porto
300
Das radiografias entregues nas farmácias
Farmácia Das Oliveiras
Rio Tinto
Porto
105
(bem como noutras instituições aderen-
Farmácia Silva
Abrantes (São Vicente)
Santarém
108
tes) é retirada prata, cujo valor no merca-
Farmácia Mota Ferraz
Abrantes (São João)
Santarém
100
Farmácia Rainha Santa
Cova da Piedade
Setúbal
150 150
de contribuir para a preservação do ambiente na medida em que impede que as películas sejam deitadas no lixo comum.
do é canalizado para o projecto de acção
Farmácia Avelar da Silva
Cova da Piedade
Setúbal
social da AMI em Portugal, bem como
Farmácia Moderna
Viana do Castelo (Santa Maria
Viana do Castelo
80
para as suas missões internacionais.
Farmácia Nelsina
Viana do Castelo (Santa Maria
Viana do Castelo
60
Em 2005, foram conseguidas 96 tonela-
Farmácia Lopes
Barroselas
Viana do Castelo
60
Farmácia Seixas
Vila Real (Nossa Senhora da Conceição)
Vila Real
121
Farmácia Pereira da Silva
Santa Maria Maior
Vila Real
110
objectivo para 2006 era igualar ou ultra-
Farmácia Pessoa
Oliveira de Frades
Viseu
44
passar estes valores.
Farmácia Viso
Ranhados
Viseu
40
das que renderam quase 84 mil euros. O
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 81
noticiário Dívidas do Estado ultrapassam os 1500 milhões de euros O Estado deve mais de 1520 milhões de euros a fornecedores, dos quais mais de 70% são da responsabilidade do Ministério da Saúde, avança o Tribunal de Contas, no seu parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2005. Quase metade da dívida (46,8%) já deveria ter sido paga. O parecer, entregue em Janeiro, na Assembleia da
Medidas do Governo afectam bolsa dos doentes
República, por Guilherme D Oliveira Martins, conclui que o ministério de Correia de Campos tinha, no final do ano,
As medidas que irão afectar a bolsa dos doentes no
mais de mil milhões de euros de dívidas. A maioria dos
que diz respeito aos medicamentos entraram em vi-
credores são empresas ligadas a este mesmo sector, no-
gor no passado dia 1 de Fevereiro, um mês depois do
meadamente farmacêuticas, laboratórios e fornecedores
previsto. O Governo decidiu adiar a entrada em vigor
de material hospitalar. Entre a lista encontram-se nomes
das duas medidas anunciadas no final do ano passado
como a Abbott Laboratórios, Pfizer e GlaxoSmithKline, para
‒ a redução das comparticipações nos medicamentos
além da Associação Nacional das Farmácias, devido às di-
e a baixa de preços dos medicamentos comparticipa-
vidas das comparticipações de medicamentos vendidos a
dos ‒ para atenuar os efeitos na bolsa dos doentes.
crédito nas farmácias aos utentes do SNS.
A primeira reduz até 5% a comparticipação do Estado
Na relação das dívidas dos ministérios, aparecem em se-
nos medicamentos. A segunda, baixa em 6% o preço
gundo lugar o das Obras Públicas, com 9%, seguido do da
dos medicamentos.
Defesa (4,8%), do Ambiente (3,4%) e das Finanças (3,2%).
As duas medidas deveriam ter entrado em vigor no início de 2007, mas como a redução do preço obrigou os laboratórios a reembalar os medicamentos, o Ministério
Consiste Farma
da Saúde decidiu dar 30 dias à indústria para fazer as al-
Melhorar a relação com os associados da ANF
terações. Assim, ao entrarem em vigor as duas medidas, em simultâneo, as despesas dos doentes não sofrerão grande impacto.
Com o intuito de melhorar o serviço prestado aos associa-
Este aumento para os utentes deve-se a uma diminui-
dos e suprir as suas necessidades, a ANF, em conjunto com
ção da comparticipação do SNS, passando os medica-
a Consiste, criou uma área totalmente dedicada às farmá-
mentos do Escalão B a ser comparticipados em menos
cias portuguesas: a Consiste Farma.
1% (de 70 para 69%), os de Escalão C em menos 3%
A Consiste Farma absorverá uma parte significativa dos
(de 40 para 37%) e os de Escalão D em menos 5% (de
recursos da Consiste e funcionará como uma unidade au-
20 para 15%)
tónoma da mesma, com disponibilidade total e exclusiva
O Ministério da Saúde afirma que a aplicação das duas
para as farmácias e com mecanismos para uma ausculta-
medidas em conjunto trará uma poupança de 13 mi-
ção permanente dos Associados da ANF.
lhões de euros para os utentes e 115 milhões de euros para o Estado.
82 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
João Almeida Lopes é o novo presidente da Apifarma O novo presidente da Apifarma, João Almeida
em que exerce actualmente as funções de
Lopes, tomou posse no passado dia 15 de
presidente, a Medinfar.
Janeiro, substituindo João Gomes Esteves,
Aos 56 anos de idade assume um novo
Prémio Bial atinge recorde de candidaturas
no cargo há vinte anos e que ocupará ago-
compromisso. Para Almeida Lopes, tor-
ra a presidência da Mesa da Assembleia-
nar-se presidente da Apifarma foi
Geral. Juntamente com Almeida Lopes, do
passo difícil e muito meditado , porque a
Laboratório Medinfar, tomaram posse os no-
responsabilidade é grande . Foi o espírito
A Fundação Bial recebeu 49 can-
vos corpos gerentes, sendo Manuel Ferreira
de missão que o levou a aceitar o cargo e
didaturas ao Prémio Bial 2006: 31
Gonçalves, da GlaxoSmithKline, e Alberto
nortear a sua estratégia para a defesa do
de trabalhos portugueses, 9 de
Guilherme Pereira Aguiar, da AstraZeneca, os
acesso dos medicamentos ao mercado , o
Espanha (um número recorde) e,
vice-presidentes para este mandato.
primado das questões éticas e o fomento
pela primeira vez, 3 candidaturas
João Almeida Lopes licenciou-se em Finanças
das relações com as ordens profissionais,
dos EUA. Brasil, Bélgica, Alemanha
no actual ISEG. Iniciou a sua carreira profissio-
associações de doentes, farmácias e cadeia
e Holanda também apresentaram
nal no final dos anos 70, no Porto de Sines,
de distribuição .
candidaturas.
passando, mais tarde, a auditor nos CTT e na
O seu discurso de tomada de posse foi
Considerado um dos prémios de
Companhia Nacional Petroquímica. Entrou
crítico em relação às novas medidas do
investigação científica de maior
para a indústria farmacêutica em 1985, como
Governo para os medicamentos. Contudo,
prestígio na área da Saúde na
director-geral de uma pequena empresa, a
sublinhou o empenho da Apifarma em
Europa, o Prémio Bial atribui aos
Fermofer. Em 1990, ingressou no laboratório
contribuir para a sustentabilidade do SNS.
melhores projectos uma remu-
um
neração superior a 200 mil euros, distribuída pelas duas categorias
Vacina contra cancro do colo do útero já à venda
a concurso. A Bial distingue a investigação básica, através do
A primeira vacina contra o cancro do colo do útero já
Grande Prémio Bial de Medicina ,
se encontra à venda em Portugal. A vacina protege
e a medicina clínica, através do
contra a infecção do Papilomavírus Humano, respon-
Prémio Bial de Medicina Clínica .
sável pela formação de lesões cancerígenas no colo
Para além destes prémios, a
do útero. O Gardasil® deve ser administrado entre os
Fundação premeia, com quatro
9 e os 26 anos de idade e a sua protecção eficaz impli-
menções honrosas no valor de
ca a inoculação de três doses, que totalizam mais de
cinco mil euros cada, outros tan-
480 euros, não comparticipados pelo Estado, apesar
tos trabalhos na área da Saúde.
de já ter sido iniciado o processo de pedido de auxílio
A Fundação Bial pretende, com
estatal. O laboratório farmacêutico que produz a vaci-
estas distinções, distinguir os
na, a Sanofi Pasteur MSD, garante que esta profilaxia
trabalhos de investigação clínica
assegura uma protecção na ordem dos 100%, quando
que maior aplicabilidade prática
administrada nas doses recomendáveis no espaço de
têm na rotina dos centros de saú-
seis meses.
de e hospitais. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 83
noticiário Genéricos permitiriam poupanças na saúde até 48% Um estudo da Universidade belga de
países europeus para desenvolver
Leuven revela que a aplicabilidade
o mercado de medicamentos ge-
de preços de referência é menos rí-
das medidas apropriadas na prescri-
néricos.
gido, como na Alemanha, Holanda
ção dos medicamentos genéricos
Entre as medidas que possibilitariam
e Reino Unido, em comparação com
permitiria poupanças entre 27% e
esta poupança encontram-se, o au-
Portugal, Espanha, França e Itália, onde
48% na despesa do sector da Saúde
mento da comparticipação do Estado
a regulação de preços é mais forte.
dos vários Estados-Membros.
em medicamentos genéricos, a cria-
A Apogen, por seu turno, acrescenta
O estudo, divulgado em Portugal
ção de incentivos (com recompensa
que os países europeus continuam a
pela Associação Portuguesa de
ou penalização) para os médicos e a
desperdiçar dezenas de milhões de
Medicamentos Genéricos (Apogen),
eliminação das margens fixas de co-
euros anualmente, que seriam uma
foi conduzido pelo investigador
mercialização para as farmácias.
poupança para os serviços de saúde,
Steven Simoens, que analisou as
O estudo indica ainda que a pene-
por não apostarem mais nos medica-
políticas seguidas pelos diversos
tração de medicamentos genéricos é
mentos genéricos .
Médicos sob investigação pela prescrição de medicamentos
mais forte em países onde o sistema
Ibéricos unidos no combate à Pandemia da Gripe
A Inspecção-Geral da Saúde enviou
ignoram os genéricos e prescrevem
Portugal e Espanha vão simular em conjunto, no segun-
ao Ministério da Saúde o relatório
medicamentos mais caros. Porém,
do semestre de 2007, um surto de gripe, cujo objectivo
sobre a forma como os médicos pres-
avança a investigação, esta situação
é testar os respectivos planos nacionais de preparação e
crevem medicamentos. Por seu turno,
não tem ligação com as promoções
resposta à Pandemia da Gripe.
o Ministério enviou-o ao INFARMED e
dos laboratórios farmacêuticos junto
A decisão foi tomada durante a 1ª reunião da Comissão
à Ordem dos Médicos para ser anali-
dos médicos, como a participação
de Acompanhamento Paritária, que tem como missão
sado por ambas as instituições.
em congressos.
promover a cooperação entre os dois países no que
O relatório indica que serão anali-
O Bastonário da Ordem dos Médicos,
toca a políticas para a Saúde.
sadas as receitas de 14 médicos, no
Pedro Nunes, reagiu a este relatório
Neste encontro, concluiu-se que Portugal e Espanha
sentido de verificar se a medicação
admitindo que os médicos envolvidos
devem aumentar a cooperação na área das políticas
recomendada é ou não a adequada
poderão ser punidos e até expulsos da
farmacêuticas e investigação biomédica. Discutiram-se
à patologia dos doentes. Indica ain-
Ordem , caso sejam provadas as sus-
ainda matérias relacionadas com a promoção da saúde,
da que o médico com maior valor de
peitas. Apesar de louvar que o relatório
como a luta contra o tabagismo e a obesidade. O que
receitas prescritas é de Aveiro, che-
tenha concluído que não existe ligação
sobretudo saiu da reunião foi a concertação no que diz
gando a 4.500 euros diários o valor
entre a prescrição de medicamentos
respeito à troca de informação nestas diversas matérias.
dos medicamentos receitados, cor-
e a participação de médicos em con-
Estiveram presentes a Alta-Comissária da Saúde, Maria
respondentes a 95 receitas.
gressos promovidos pelos laboratórios,
do Céu Machado, o Director-Geral da Saúde, Francisco
O relatório faz ainda saber que tam-
Pedro Nunes culpa o Ministério por
George, o Secretário-Geral de Saúde espanhol, José
bém os hospitais não controlam as re-
manter um sistema de vinhetas que
Martinez Olmos, e o Subdirector-Geral de Relações
ceitas médicas prescritas, encontran-
qualquer fotocopiadora de supermer-
Internacionais do Ministério da Saúde e Consumo de
do-se situações em que os médicos
84 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
cado consegue reproduzir.
Espanha, Jose Perez Lázaro.
Receita Electrónica
Crónica da Madeira Paulo Sousa *
O meu médico passou-me uma receita electrónica.
de qualquer dúvida que lhe venha a surgir.
E agora, o que é que eu faço?
Também o médico passa a ter a hipótese, através do mes-
Não se preocupe que embora este seja um cenário mais
mo código de saber se o seu utente levantou ou não a
do que provável no decorrer do próximo ano, não deverá
medicação prescrita.
dar azo a grandes inquietações.
Do ponto de vista de quem paga, ou seja do Estado, há
De facto, este é um processo que acarretará algumas mu-
também a hipótese de controlar muito mais detalhada-
danças de hábitos e procedimentos, mas é, estou conven-
mente toda a despesa com medicamentos.
cido, uma grande evolução de todo o sistema existente.
O que irá entrar em funcionamento a partir de Janeiro é
Só para começar e a nível de curiosidade, cada prescrição
uma evolução do que se fez em Portalegre nos últimos
médica que circula no nosso país, custa a o estado, desde
dois anos, com a vantagem de que temos uma cobertura
o seu fabrico à sua verificação cerca de 1,00 Euro.
farmacêutica muito melhor e dois anos de experiências. Se
Se pensarmos que circulam anualmente 55 milhões de re-
é importante aprendermos com os nossos erros, ainda é
ceitas por ano no nosso pequeno rectângulo e respectivas
mais importante aprendermos com os erros dos outros.
ilhas adjacentes,( como é bom ser adjacente, eheh ) che-
Em Portalegre existem 24 Postos Farmacêuticos que
gamos à conclusão que deitamos fora 55 milhões de euros
não têm capacidade para receber as prescrições electró-
por ano em papel e burocracias.
nicas, enquanto na RAM, para além de termos todas as
Em termos práticos e voltando ao primeiro parágrafo,
Farmácias informatizadas, teremos estou em crer den-
quando fôr ao seu médico de família ou outro qualquer
tro de pouco tempo a totalidade das mesmas com o
* Paulo Sousa, Director
que disponha do sistema, para além da tradicional consul-
Farmalink, uma rede de Intranet, o único requisito neces-
Técnico da Farmácia Santo
ta, o médico fará uma prescrição através de um computa-
sário para que possam receber o receituário electrónico.
dor, recebendo do SRS a validação da receita através de
Neste momento mais de 60% das Farmácias já a utilizam
um número de código. O médico dar-lhe-á um papel com
diariamente.
esse código.
Um crocodilo parado arrisca a transformar-se em bolsa de
Se perder o papel, bom, também não haverá qualquer pro-
senhora. Esta frase pitoresca da autoria de Edson Athaíde
blema pois desde que apresente o seu cartão de utente na
lembra-nos que se não evoluímos podemos pura e sim-
sua Farmácia a receita aparecerá no ecrã do computador
plesmente ser engolidos pelo progresso.
evitando assim quaisquer riscos de enganos de leitura da
Esta parece-me uma oportunidade de ouro para evoluir-
medicação. Naturalmente o seu farmacêutico dir-lhe-á o
mos como Sociedade.
modo de toma dos medicamentos e poderá esclarecê-lo
Mas podemos perdê-la se quisermos.
António na Madeira
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 85
noticiário Estudo reconhece eficácia da intervenção farmacêutica na adesão ao tratamento Um estudo divulgado nos EUA conclui
ber os nomes dos medicamentos, ex-
eficácia deles diminui , lembrando que
que os cuidados farmacêuticos melho-
plicou o motivo por que os toma e as
os idosos são uma população particular-
ram a adesão dos doentes à terapêutica.
doses, os efeitos secundários possíveis
mente em risco de má adesão, devido à
De acordo com o estudo FAME (Federal
e as eventuais interacções. Para além da
frequência da polimedicação por pato-
study of Adherence to Medications in
informação prestada, certificou-se que
logia crónica múltipla.
the Elderly), apresentado em finais do
o doente tomava os medicamentos na
ano passado nas sessões científicas da
hora certa e nas doses recomendadas.
Este programa completo de cuidados farmacêuticos conduziu a melhorias
American Heart Association, o programa
A má adesão à medicação é muito
substanciais na adesão medicamen-
completo de cuidados farmacêuticos
comum e muito difícil de resolver , afir-
tosa nos doentes idosos que recebem
melhorou substancialmente os níveis
mou Allen Taylor, do Walter Reed Army
regimes terapêuticos complexos , su-
de adesão dos doentes à terapêutica,
Medical Center, de Washington, durante
blinhou o orador, defendendo que a
verificando-se que tinha aumentado de
a apresentação do estudo. O especialis-
adesão à medicação pode levar a me-
61% para 96,9%.
ta frisou que se os doentes não tomam
lhorias significativas dos parâmetros
O farmacêutico auxiliou o doente a sa-
os comprimidos segundo a prescrição, a
de saúde .
homenagem António Pires Rodrigues No passado dia 10 de Janeiro de 2007, faleceu o profes-
Ferreira, está a sua presença como colaborador do grupo
sor Dr. António Pires Rodrigues, sócio desta Associação
de farmacêuticos voluntários e inovadores que foram os
Nacional das Farmácias e professor de muitos dos que fre-
membros da Difarma.
quentaram a Faculdade de Farmácia da Universidade de
Professor na antiga Escola Superior de Farmácia de Lisboa
Lisboa antes de Abril de 1974.
e a seguir na Faculdade de Farmácia de Lisboa.
A sua morte trouxe à nossa memória a colaboração que
Introduziu e desenvolveu em Portugal, a liofilização dos
este professor universitário manteve com a ANF quer ao
medicamentos e alimentos.
nível da direcção quer ao nível do grupo de voluntários
Foi professor da Escola Superior de Enfermagem da Cruz
da Difarma.
Vermelha Portuguesa.
Como consultor representou a Associação em grupos de
Ultimamente tinha-se dedicado à homeopatia tendo sido
trabalho com o Ministério da Saúde e deu pareceres téc-
admitido como membro do Comité Internacional dos far-
nicos em matéria do mesmo âmbito, como foram o regi-
macêuticos Homeopáticos.
mento de preços, os recentes medicamentos não sujeitos
Possuía o 1º Diploma do Curso de Homeopatia.
a receita médica.
Eleito Presidente da Sociedade Medica Homeopática
Foi encarregado de palestras nos cursos de Farmacoterapia
de Portugal. Em 2005 foi convidado pela Universidade
que funcionaram antes de 1982, aquando da criação dos
Lusófona a desenvolver uma aula sobre preparação de
programas de Formação Contínua.
medicamentos homeopáticos aos alunos do 5º ano de
Na memória de João Silveira, Luis Teodoro Francisco Matos
Farmácia.
86 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Lucinda de Matos Pinto Partiu para o além, tal como chegou, discretamente, no passado dia 6 de Janeiro, a nossa colega Lucinda de Matos Pinto, proprietária e directora técnica da Farmácia Diana em Évora. A convivência profissional que com ela mantive, ao longo de dezenas de anos, permite-me trazer-vos ao conhecimento algo sobre a personalidade, daquela nossa colega, que marcou a actividade da Farmácia de Oficina na cidade de Évora,
Como familiar e farmacêutico não posso deixar de prestar
ousaria dizer, mesmo para além dela.
a minha homenagem à minha madrinha Lucinda de Matos
A Lucinda iniciou a sua vida profissional em Évora com a aber-
que nos deixou no passado dia 6 de Janeiro.
tura da sua Farmácia nos idos anos de 1947 e, desde então,
Dela guardo a memória de uma farmacêutica que até ao
manteve-se à frente daquela até ao dia da sua partida.
fim dos seus dias esteve à frente dos destinos da sua far-
Podeis imaginar o que representam sessenta anos de activi-
mácia e foi exemplo do que deve ser um farmacêutico; re-
dade farmacêutica em que todos os dias se luta contra ad-
cordo que foram 63 anos de exercício profissional.
versidade mas, podeis crer, as que sofremos marcam defini-
Além da sua farmácia, teve um papel activo dentro da sua
tivamente a história da Farmacia Portuguesa . Foram tempos
classe profissional pois foi representante do Grémio das
difíceis em que a Lucinda esteve sempre entre os que estive-
Farmácias no distrito de Évora e mais tarde representante
ram na primeira linha e, por isso, sendo do grupo daqueles a
da ANF, também por Évora.
quem, hoje, a classe muito deve.
Em 1994, ano que marcou especialmente os familiares far-
Se nunca descurou os interesses dos seus utentes e da sua
macêuticos, foi agraciada ‒ juntamente com a minha mãe
farmácia a verdade é que nunca pôs menos empenho e en-
‒ com a medalha da nossa Ordem por, naquele ano, haver
tusiasmo na defesa dos interesses da sua classe profissional;
cumprido 50 anos de exercício profissional.
daí a minha homenagem.
Ficou a classe sem mais um daqueles farmacêuticos que
Da sua vida destacarei o facto de ter sido sócia, desde 1955,
marcaram uma época e deixaram um grande legado pois
do Grémio Nacional das Farmácias, que teve a sua sede na
a farmácia portuguesa só é e existe como tal, nos dias de
Rua da Madalena nº 171, 2º em Lisboa, e ter sido, conjunta-
hoje, graças a pessoas como a minha madrinha.
mente comigo, representante daquele, durante vários anos,
Diga-se aliás que ela fez parte de uma geração de ouro e de
diante das competentes autoridades na cidade de Évora.
uma família que marca a profissão farmacêutica pois além
Com o aparecimento da ANF viria, nos anos setenta e oiten-
do facto de ser uma entre 5 irmãos e cunhado farmacêu-
ta, a ser uma das suas delegadas mais representativas neste
ticos na primeira geração, tinha, entre as novas gerações
Alentejo que ela tanto amava.
da família, uma filha, um sobrinho, dois sobrinhos netos
Com o avançar da idade, foi-se afastando das lides associa-
farmacêuticos e é avó de um estudante de farmácia.
tivas mas mantendo-se firme ao leme dos destinos da sua
Lembremo-nos de que uma parte importante desses irmãos
farmácia e nunca deixando de apoiar a ANF e os seus colegas
e outros familiares receberam dela grande influência na es-
com a autoridade que a sua idade, passado e experiência lhe
colha profissional, não falando de outros que muito dela re-
permitiam.
ceberam como exemplo vivo do exercício e associativo.
Ainda que de forma sucinta, aqui fica a minha homenagem à
Os que com ela compartilharam a vida poderão viver
minha colega Lucinda com o relembrar do seu percurso pro-
um momento de tristeza mas não podem deixar de
fissional, em que fomos companheiros de jornada ao longo
sentir a felicidade de a terem conhecido e dela haver
de uma vida, com a esperança de que, aquele seu percurso,
recebido exemplo vivo do que é e deve ser um farma-
sirva de exemplo aos colegas de hoje e sempre.
cêutico de oficina.
Autor: Júlio Potes Director Técnico da Farmácia Galeno (Évora)
Autor: Francisco Matos Ferreira Director Técnico da Farmácia Nova Odivelas (Odivelas)
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 87
ficheiro mestre Instalação de Farmácia Farmácia dos Viveiros Estrada Dr. João Abel de Freitas N.º 39, R/Ch, Fr. B -Bl. 1 9050-012 FUNCHAL Dra. Cristina Maria Teixeira Rodrigues Cristina Rodrigues Unipessoal, Lda.
Alteração à Denominação Farmácia Central do Pinhal Novo Largo José Maria dos Santos, 37 2955-119 PINHAL NOVO Dra. Maria Alzira Monteiro Dias de Oliveira Maia Rotasanus, Unipessoal, Lda. Farmácia de Campanha Rua da Estação, 100-104 4300-171 PORTO Dr. José Agostinho da Silva Castro José Agostinho Silva Castro Unipessoal, Lda.
Alteração ao Pacto Social Farmácia Figueiredo Rua da Sofia, 107-109 3000-390 COIMBRA Dra. Capitolina M. F. Fernandes Pinho José Figueiredo Herd. Lda. Farmácia Confiança Morada Rua Formosa, 10 3500-134 VISEU Dra. Lucilia Manuela de Oliveira Ribeiro Simões Farmácia Confiança de Viseu Lda. Farmácia Nelsina Praça da República, 3-5 4900-524 VIANA DO CASTELO Dra. Luísa Maria Cardoso Vaz Cariano Cassina Santos & Filha Lda.
Cessão de Exploração Farmácia do Caniço Estrada João Gonçalves Zarco, 74 Código Postal 9125-018 CANIÇO Dr. João Paulo Verde Cerqueira Ilhafarma - Farmácia Lda. ‒ Cessionária
Farmácia de Campanhã Rua da Estação, 100-104 4300-171 PORTO Dr. José Agostinho da Silva Castro José Agostinho Silva Castro Unipessoal, Lda. Farmácia Alter Avenida Padre José Agostinho Rodrigues, 48 7440-014 ALTER DO CHÃO Dra. Marta Del Cazo Palos Marta Del Cazo Sociedade Unipessoal, Lda. Farmácia Antunes Dr. Fausto Lobo, Edifício B3, LJ 3-4 3220-000 MIRANDA DO CORVO Dra. Maria Isabel da Silva Antunes Farmácia Antunes, Unipessoal Lda.
Farmácia Vitória Rua de Talhô, 195 4580-281 BEIRE Dra. Cristina Maria Mesquita Teixeira Cristina Maria Mesquita Teixeira Unipessoal, Lda Farmácia do Monte Rua Clube Naval Infante Dom Henrique, 452 4420-412 VALBOM GDM Dr. Augusto Manuel Almeida Lopes Abreu Augusto Abreu - Farmácia do Monte Unipessoal, Lda.
Transferência provisória de Local
Farmácia Simões Ferreira Av. Dr. Castanheira de Figueiredo, LOTE 1 3420-302 TÁBUA Dra. Maria Jose da Silva Bolas Carniça Maria José da Silva Bolas Carniça Unipessoal,Lda.
Farmácia Firmeza Rua da Firmeza, 96 4000-228 PORTO Dr. Ricardo Augusto de Sousa Vieira da Silva Alves Farmácia Firmeza, Unipessoal, Lda.
Farmácia Silveira Suc. Rua de Mértola, 21 7800-475 BEJA Dra. Mariana Palma Duarte Mirrado Paisana Mariana Paisana Farmácia Unipessoal Lda
Farmácia Botto e Sousa Rua Duque da Terceira, 59 2600-429 Alhandra Dra. Maria Gabriela Onofre M. Plácido Sociedade Actifarma ‒ Actividades Farmacêuticas Lda.
Farmácia Batista Ramalho Av. Dr. C. Fernandes - E. Municipal 313, 5110-590 SÃO COSMADO Dra. Teresa Maria Batista Ramalho Farmácia Batista Ramalho, Unipessoal,Lda. Farmácia Magalhães Rua de São Pedro, 904 4510-431 SÃO PEDRO DA COVA Dra. Maria Manuela Ribeiro da Rocha Braga de Freitas Aires Maria Manuela Aires - Soc. Farmacêutica, Unipessoal, Lda. Farmácia Central da Lapa Rua dos Navegantes, 10 14 1200-731 LISBOA Dra. Ana Clara dos Santos da Costa Farmácia Central da Lapa, Lda.
Transferência de Local Farmácia Dias da Silva Rua Eng. Moniz da Maia, 67 2050-320 AZAMBUJA Dra. Maria João Amado Dias da Silva Farmácia Dias da Silva, Unipessoal Lda. Farmácia Ponta do Sol Estrada do V Centenário, 9360-215 PONTA DO SOL Dra. Ana Paula Severim Martins
Desvinculação de Farmácia
Alteração à Propriedade Farmácia Central do Pinhal Novo Largo José Maria dos Santos, 37 2955-119 PINHAL NOVO Dra. Maria Alzira Monteiro Dias de Oliveira Maia Rotasanus, Unipessoal, Lda. 88 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
Farmácia Santos Ferreira Rua Barão de Moçamedes, 9-B Lugar da Quinta da Vinha 2775-715 CARCAVELOS Dra. Paula Cristina dos Santos Ferreira Farmácia Santos Ferreira - Soc. Farmacêutica, Unipessoal Lda.
Farmácia São Jorge Largo do Leão, 3-A-B 1000-188 LISBOA Dra. Maria Judite Romão da Silva Farmácia S. Jorge Unipessoal Lda
cartoon
FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 89
desta varanda Um Sector Independente As farmácias não têm memória curta.
toring - a Finanfarma -, que iniciou a
E sabem com rigor o que significa o
sua actividade no mesmo dia em que
relacionamento individual e directo
terminou o Acordo com o Ministério
com o Estado.
da Saúde: 1 de Janeiro de 2007.
As farmácias recebem pontualmente,
E para desgosto dos que previam a
desde há muitos anos, as comparti-
destruição do sector, praticamente a
cipações nos medicamentos, apenas
totalidade das farmácias cedeu os seus
porque se organizaram e souberam
créditos sobre o SNS à Finanfarma,
resistir colectivamente aos atrasos
recusando o relacionamento directo
crónicos nos pagamentos do SNS.
com o Ministério da Saúde.
Não é por simpatia para connosco
As farmácias conhecem bem o valor
que o SNS paga às farmácias em pra-
da unidade associativa.
zo mais curto do que paga aos outros
Constituímos hoje o único sector da
fornecedores.
vida nacional que recebe as dívidas
Aqueles que confiaram no relaciona-
do Estado no prazo de 8 dias a contar
mento directo com o Ministério da
da data da factura!
Saúde, sempre receberam e continu-
Em vez da nossa destruição, evoluí-
Nos últimos dois anos, o fim anun-
am a receber com meses e até anos
mos para uma maior coesão.
ciado do Acordo entre o Ministério
de atraso.
Em vez de crise financeira, evoluímos
da Saúde e a ANF pairou na opinião
E não há nenhuma razão credível para
para uma maior estabilidade financeira.
pública como o prenúncio da destrui-
pensar que o Ministério da Saúde pa-
Em vez de prazos mais longos, evoluí-
ção do sector de farmácias
garia pontualmente às farmácias se
mos para prazos mais curtos.
O Acordo, julgavam alguns, era a úni-
estas tivessem optado por uma visão
Àqueles que nos julgavam depen-
ca razão pela qual o sector se manti-
individualista dos seus problemas.
dentes do Acordo, provámos a nossa
nha unido numa associação forte e
Pelo contrário, há todas as razões para
independência.
representativa.
pensar que, uma vez destruída a uni-
As farmácias não vivem de subsídios
Pensavam que, uma vez termina-
dade do sector, o Ministério da Saúde
ou favores do Estado.
do o Acordo, isso seria o fim da ANF
pagaria às farmácias tal como faz em
Vivem do seu trabalho, da sua capa-
e as farmácias ficariam à mercê do
relação aos demais sectores.
cidade técnica e profissional, da qua-
Ministério da Saúde.
Pagaria quando pudesse e quando qui-
lidade dos serviços que prestam e da
lançando
sesse, sem nos dar qualquer satisfação.
confiança dos doentes.
suspeitas sobre as vantagens do as-
E cada um de nós, individualmente,
Somos, de facto e com orgulho, um
sociativismo no sector e formulando
não teria a menor capacidade para
sector livre e independente.
apelos ao relacionamento directo das
obrigar o Estado a cumprir pontual-
farmácias com o Ministério da Saúde.
mente as suas obrigações.
Sempre tivemos a firme convicção
Preparámos, por isso, uma solução al-
de que tais objectivos não seriam
ternativa ao fim do Acordo, constituin-
atingidos.
do a nossa própria sociedade de fac-
Procuraram
90 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA
dividir-nos,
João Cordeiro