Farmácia Portuguesa 167

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Farmácia

Portuguesa BIMESTRAL • N°167 • JANEIRO/FEVEREIRO 07

Compromisso com a Saúde

Unidade, o activo mais valioso da ANF

Campanhas 2007 Farmácias chamadas a informar FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 1


2 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


sumário

Janeiro/Fevereiro de 2007 • Ano XXIX • Nº 167 Publicação bimestral • ISSN 0870-0230 • DGCS 101528

8 Dossier UNIDADE, O ACTIVO MAIS VALIOSO DA ANF Esta foi a mensagem transmitida pelo presidente da ANF nas doze reuniões descentralizadas, onde deu a conhecer aos associados os últimos avanços legislativos e fez o ponto da situação do Compromisso com a Saúde. A estas reuniões aderiram duas mil farmácias, comprovando precisamente a unidade.

Editorial Editorial

5

Prevenção da transmissão vertical do HIV-1 Prevention of the vertical transmition of HIV-1

6

Unidade, o activo mais valioso da ANF Unity, the most valuable asset of ANF

8

Entrevista com Manuela Teixeira Interview with Manuela Teixeira

16

Restruturação do Cedime Cedime Restructuring

26

Informação Terapêutica - Disfunção Sexual Therapeutical Information - Sexual Disorder

30

Informação Terapêutica - Dor de Ouvidos Therapeutical Information - Earsache

38

Flashes Flashes

44

52

Campanhas 2007

OS ESPECIALISTAS DO MEDICAMENTO Os farmacêuticos são os verdadeiros especialistas do medicamento e é essa diferenciação que as primeiras campanhas de 2007 vão evidenciar.

Sifarma 2000 Sifarma 2000

46

Campanhas ANF 2007 ANF 2007 Campaigns

52

Participação portuguesa na Annals of Pharmacotherapy Portuguese participation on Annals of Pharmacotherapy

58

Informação Veterinária - Peladas Veterinary Information - Hairless patch

62

Museu da Farmácia Pharmacy Museum

64

Farmácia e os talentos The pharmacy and the talents

68

Medicamentos tradicionais à base de plantas Tradicional plants medicines

74

Reuniões e simpósios Meetings and simposia

77

Noticiário News

78

Homenagem Tribute

86

Cartoon Cartoon

89

Desta varanda From this balcony

90

A primeira reforça a importância da informação essencial sobre cada medicamento dispensado que o doente pode e deve esperar da Farmácia, a segunda é dirigida à segurança e efectividade da terapêutica nos idosos.

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 3


última hora

PROPRIEDADE

DIRECTOR DR. FRANCISCO GUERREIRO GOMES

Luz verde à aquisição da Alliance

SUB-DIRECTORES DR. LUIS MATIAS DR. NUNO VASCO LOPES COORDENADORA DO PROJECTO DRª MARIA JOÃO TOSCANO COORDENADORA REDACTORIAL DRª ROSÁRIO LOURENÇO Email: rosario.lourenco@anf.pt Telef. 21 340 06 50 PRODUÇÃO

Edifício Lisboa Oriente Av. Infante D. Henrique, 333 H, escritório 49 1800-282 Lisboa Telef. 21 850 81 10 - Fax 21 853 04 26 Email: farmaciaportuguesa@lpmcom.pt

A aquisição de 51 por cento da filial

to detidos pela JMS. O facto de, no

portuguesa da Alliance Unichem, pela

seu conjunto, esta ser uma quota

ANF e pela José de Mello Participa-

maioritária leva a Autoridade da

ções, não é susceptível de criar ou

Concorrência a colocar a hipótese de

reforçar uma po-

a multinacional ‒ a Alliance é líder na

sição dominante

distribuição grossista em Portugal e

CONSULTORA COMERCIAL SÓNIA COUTINHO soniacoutinho@lpmcom.pt Tel.: 96 150 45 80

da qual possam

a segunda empresa do sector na

Tel.: 21 850 31 00 - Fax: 21 853 33 08

resultar entraves

Europa ‒ ter de definir a sua estra-

à

tégia em consonância com os novos

significativos

concorrência

parceiros.

efectiva nos mer-

Recorde-se que, ao anunciar a en-

cados relevantes .

trada dos parceiros portugueses, a

O

entendimen-

Alliance Unichem, através do seu

to

pertence

à

director executivo, considerou que

da

se trata de uma aliança estratégica,

Concorrência

porquanto a ANF está excepcional-

(AdC) e está sub-

mente bem colocada como repre-

jacente à decisão

sentante profissional das farmácias

Autoridade

de aprovação do negócio, tomada a

de oficina portuguesas.

31 de Janeiro último, mais de um ano

A decisão de entrar no capital da

depois de ter sido notificada da aqui-

distribuidora europeia enquadrou-

sição, efectuada em Junho de 2005.

se na estratégia de reorganização da

No âmbito desta operação, a ANF

área empresarial da ANF, permitindo

passa a deter 49 por cento da

aos farmacêuticos reforçar a sua in-

Alliance, através da Farmindústria,

tervenção no sector da distribuição

sendo os restantes dois por cen-

grossista.

4 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

DIRECTOR DE PUBLICIDADE NUNO MIGUEL DUARTE nunoduarte@lpmcom.pt Tel.: 96 214 93 40

ASSINATURAS 1 Ano (12 edições) - 50,00 euros Estudantes de Farmácia - 27,50 euros Contacto: Margarida Lopes Telef.: 21 340 06 50 • Fax: 21 340 07 59 Email: margarida.lopes@anf.pt POWERED BY Boston Media IMPRESSÃO E ACABAMENTO RPO - Produção Gráfica, Lda. Depósito Legal nº 3278/83 Periodicidade: Bimestral Tiragem: 5 000 exemplares Distribuição

FARMÁCIA PORTUGUESA é uma publicação da Associação Nacional das Farmácias Rua Marechal Saldanha, 1 1249-069 Lisboa

www.anf.pt


editorial Combate ao pessimismo com imagem renovada Vários acontecimentos levaram-nos

ta de terreno exibindo uma política

a ir até à Farmácia Teixeira entre-

de bloco e a que, por outro lado,

vistar a sua directora técnica, Maria

aconselha a ANF a ser discreta, de-

Manuela Teixeira. É uma farmacêuti-

sarmando muito do que acumulou,

ca saliente no universo português do

desenvolveu e desenvolve.

desempenho profissional e os cole-

Esta política de comedimento que,

gas brasileiros decidiram atribuir-lhe

por exemplo, se traduz em conside-

uma medalha de recompensa pelo

rar que um governo maioritário não

apoio na área da formação que ela

deve ser confrontado (desafiado)

lhes vem dando.

com políticas alternativas.

Quem observa as tarefas em que esta

A coerência, a imaginação, a coragem

proprietária de farmácia se tem des-

ficam perplexos com estes conselhos

dobrado nos últimos vinte anos con-

ao sector.

firma que ela é o reflexo da definição

Mas para além do conteúdo ‒ a en-

de objectivos da Associação Nacional

trevista ‒ queremos salientar que,

das Farmácias, na qual se enquadrou

sendo esta a primeira revista do novo

de forma criativa e dedicada.

ano, aproveitámos para alterar o as-

Pela manutenção de uma imagem de

pecto gráfico e com ele a imagem da

competência e apoio da saúde públi-

Farmácia Portuguesa.

ca dos portugueses, acompanhando

Esperamos que com estas modifica-

um circuito de distribuição eficaz dos

ções, a revista se torne mais útil para

medicamentos, a Associação pôs em

o leitor, mais fácil e agradável de con-

marcha um verdadeiro plano Marshall

sultar e permita usar, na generalidade

sectorial, à semelhança do que após a

das farmácias, o conteúdo técnico por

segunda guerra mundial os america-

toda a equipa e o conteúdo político

nos fizeram para a Europa.

pelos decisores que a recebem e tem

As últimas eleições trouxeram à ribal-

de compreendendo, tomar posição.

ta do nosso dia-a-dia duas versões antagónicas desta imagem. A que ganhou a maioria dos votos e que se apoia na afirmativa e na conquis-

Francisco Guerreiro Gomes FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 5


política de saúde Prevenção da transmissão vertical do HIV-1 em Cabinda, Angola Patrícia Cavaco Silva e Nuno Taveira *

Dos cerca de 39 milhões de pessoas

do HIV-1 em países em vias de desen-

O diagnóstico da infecção por HIV-

infectadas por HIV em todo o mundo

volvimento, a Organização Mundial

1 em crianças até aos 18 meses de

no final de 2005, cerca de 24,5 mi-

de Saúde (OMS) recomenda o uso

idade não pode ser feito através dos

lhões residem na África sub-Sariana

de regimes terapêuticos profiláticos

testes serológicos devido à trans-

(UNAIDS, 2006). A infecção HIV-1 pe-

constituídos por nevirapina em dose

ferência passiva de anticorpos IgG

diátrica continua a ser um problema

unitária (NVP-DU), com ou sem zido-

maternos. Assim, até esta idade, o

de grandes dimensões apesar das

vudina (ZDV), administrada durante

diagnóstico da infecção HIV deve ba-

reduções substanciais da transmissão

períodos curtos (WHO, 2005). Um dos

sear-se na detecção directa do vírus

mãe-filho conseguidas na Europa e

inconvenientes da profilaxia terapêu-

ou dos seus componentes: determi-

América do Norte.

tica com NVP-DU é a rápida selecção

nação da carga viral plasmática que

de vírus resistentes à NVP pois uma

quantifica o RNA do HIV (WHO, 2005)

única mutação na transcriptase re-

e detecção de ADN proviral por PCR

versa confere um alto nível de resis-

em linfócitos.

Profilaxia terapêutica da transmissão vertical do HIV-1

tência à NVP. Os vírus resistentes à NVP podem persistir por mais de um ano nas mães e nas crianças, compro-

Estima-se que existam cerca de 2 mi-

metendo assim a terapêutica de alta

lhões de crianças com menos de 15

eficácia com NVP nesta população.

anos, infectadas sobretudo por via vertical, a qual pode ocorrer durante * Patrícia Cavaco Silva e Nuno Taveira Unidade dos Retrovírus e Infecções Associadas,

a gravidez, parto e amamentação. A maneira mais eficiente de diminuir

Infecção HIV em Angola Angola tem uma das mais baixas pre-

Diagnóstico da infecção perinatal

o número de crianças infectadas pelo

valências de infecção por HIV dos países do Sul de África, apontando os últimos dados para uma prevalência de 3,7% na população adulta (UNAIDS,

HIV na África sub-Sariana é prevenir

Nos países em vias de desenvolvimen-

2006). No entanto os variantes gené-

a transmissão perinatal do HIV da

to, muito poucas crianças infectadas

ticos de HIV-1 em circulação no Norte

mãe infectada para o filho através

por HIV fazem actualmente terapêu-

de Angola são muito diversificados

Portugal, Instituto Superior

do uso profilático de antiretrovirais

tica antiretroviral (WHO, 2005). Um

e complexos o que poderá ter con-

de Ciências da Saúde Egas

(Dabis & Ekpini, 2002). Na ausência

dos problemas que limita o acesso das

sequências importantes ao nível da

Moniz, Portugal.

de terapêutica antiretroviral a taxa

crianças seropositivas à terapêutica

transmissão do HIV-1 e da susceptibi-

de transmissão vertical do HIV-1 na

antiretroviral é a inexistência de testes

lidade viral à terapêutica.

África sub-Sariana é de 35-40%. Para

simples e baratos para efectuar o diag-

Em Cabinda foi implementado recen-

a prevenção da transmissão vertical

nóstico precoce da infecção perinatal.

temente um programa de prevenção

Centro de Patogénese Molecular, Faculdade de Farmácia de Lisboa,

6 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


comercialmente. No final deste trabalho, teremos produzido um novo teste de genotipagem de resistência da transmissão vertical da infecção

dos vírus em circulação em Cabinda

para todas as formas genéticas de

por HIV. É neste contexto que se in-

são previsíveis dificuldades no diag-

HIV-1, simples e económico e, que

sere este projecto de colaboração

nóstico virológico das crianças. Para

poderá ser empregue em Angola.

institucional entre Angola e Portugal,

maximizar a sensibilidade e especifi-

Estes métodos serão ainda utilizados

com o objectivo de monitorizar a

cidade do diagnóstico virológico, as

na caracterização genética dos vírus,

eficácia da terapêutica antiretroviral

crianças serão analisadas por três tes-

possibilitando assim investigar a in-

preventiva instituída.

tes complementares: 1) Amplificação

fluência dos subtipos na transmissão

por PCR em tempo real do ADN

vertical do HIV-1 e no desenvolvimen-

proviral em células sanguíneas; 2)

to de resistências aos antiretrovirais.

Projecto de investigação

Amplificação por PCR do ADN provi-

No final deste trabalho, ficará definido

ral em células sanguíneas utilizando

um algoritmo de diagnóstico labora-

um teste comercial; 3) Quantificação

torial da infecção vertical por HIV-1

O programa de prevenção da trans-

da carga viral plasmática (HIV-1 RNA)

adequado à realidade Angolana.

missão vertical da infecção por HIV,

com um teste comercial.

Adicionalmente, terão sido criadas as

recorre ao uso profilático de NVP-DU

Neste projecto será desenvolvido um

condições necessárias, a nível técni-

e ZDV e nele estão incluídas cerca

novo teste de PCR em tempo real para

co e humano, para que haja transfe-

de 400 grávidas/ano infectadas por

detecção de ADN proviral do HIV-1

rência para Cabinda dos métodos e

HIV-1. Neste projecto analisaremos

nas crianças que permita amplificar

tecnologias desenvolvidos durante o

amostras de sangue dos filhos nas-

todos os subtipos de HIV-1 angola-

projecto.

cidos das mães diagnosticadas com

nos. Será igualmente determinada a

infecção HIV recolhidas em cartões

frequência de transmissão vertical do

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

de papel de filtro, e a partir das quais

HIV-1 nesta população.

será efectuada a detecção qualitativa

Para analisar a seleção de vírus com

Dabis, F. and Ekpini, E. R. (2002). HIV-1/AIDS and maternal and child health in Africa. Lancet 359, 2097-2104.

de ADN proviral do HIV-1. Será reco-

mutações de resistência devido à te-

lhido plasma para determinar a carga

rapêutica antiretroviral, irão utilizar-se

viral (RNA) e efectuar a genotipagem

três metodologias complementares

de resistência dos vírus em circulação

de genotipagem de resistência à

tanto nas mães como nos filhos.

NVP e ZDV, duas desenvolvidas em

Dada a grande diversidade genética

laboratório e uma terceira disponível

Este projecto de investigação resulta de uma parceria entre o Hospital Provincial de Cabinda, Angola, a Faculdade de Farmácia

UNAIDS. (2006) Report on the global AIDS epidemic. Joint United Nations Programme on HIV/AIDS. 7-51.

de Lisboa e o Instituto

WHO. (2005).Antiretroviral treatment of HIV infection in infants and children in resourcelimited settings, towards universal access: recommendations for a public health approach (2005 revision). World Health Organization, 1-88.

Saúde Egas Moniz, e é

Superior de Ciências da

subsidiado pela Fundação GlaxoSmithKline das Ciências da Saúde.

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 7


dossier

UNIDADE, O ACTIVO MAIS VALIOSO DA ANF Esta foi a mensagem transmitida pelo presidente

unidade. E foi para falar dessa situação, para transmitir aos associados os

da ANF nas doze reuniões descentralizadas onde deu a conhecer aos associados os últimos avanços legislativos e fez o ponto da situação do Compromisso com a Saúde. A estas reuniões aderiram duas mil farmácias, comprovando

últimos avanços político-legislativos, que a direcção da associação promoveu estas reuniões descentralizadas, oportunidade ímpar para o diálogo directo com os associados. E para dar conta da atitude penalizadora que o Ministério da Saúde tem adoptado face às farmácias, traduzida

precisamente a unidade.

nos mais recentes diplomas através dos quais concretizou algumas das medidas contidas no Compromisso

Fala-se que a ANF tem muito poder,

cia daquelas palavras: Numa semana

com a Saúde, assinado em Maio de

mas o seu activo mais valioso é a uni-

pudemos contactar directamente com

2006. A direcção da ANF tem uma

dade e a confiança que existe entre

duas mil farmácias. Uma tal mobiliza-

atitude muito crítica relativamente

as farmácias e a direcção . As palavras

ção mostra que as pessoas sentem que

à forma desequilibrada como o do-

são do presidente da associação, João

vale a pena, que vamos continuar a ul-

cumento tem sido implementado.

Cordeiro, e foram proferidas a 12 de

trapassar as dificuldades .

Desde logo, porque o ministério da

Janeiro, em Lisboa, na sessão que en-

João Cordeiro admitiu que a situação

saúde se preocupou apenas em apli-

cerrou uma semana de reuniões des-

é difícil, mas também se mostrou con-

car as medidas mais prejudiciais para

centralizadas. E a adesão de Norte a Sul

victo de que as farmácias têm sabido

as farmácias, contornando os aspec-

do país permitiu comprovar a pertinên-

reagir de uma forma positiva, em

tos mais positivos nele consagrados.

8 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


A ANF está neste processo de boa fé, encarando o compromisso como tendo potencial positivo apesar dos aspectos negativos e comprometendo-se com o seu todo.

Assim, foi publicado o diploma que

do-se com o seu todo. Este não é, con-

permite a instalação de farmácias em

tudo, um entendimento partilhado

hospitais, foi aprovado o decreto-lei

pelo ministério de Correia de Campos,

que alarga o horário mínimo de fun-

que tem legislado de uma forma pe-

cionamento para 55 horas semanais

nalizadora para as farmácias.

e foi divulgado o anteprojecto de

Além disso, desde a assinatura do

proposta de lei sobre a liberalização

compromisso, o quadro económico

da propriedade. Em contrapartida,

do sector deteriorou-se, em conse-

ficaram na gaveta todas as medidas

quência de outras medidas gravosas

consideradas prioritárias pelas far-

tomadas pelo governo: os preços dos

mácias e sobre as quais a ANF enviou

medicamentos foram reduzidos uma

financeiro com as instituições oficiais.

oportunamente propostas de diplo-

segunda vez em seis por cento, a mar-

Por conhecer estão ainda os argumen-

ma. São medidas como a prescrição

gem de comercialização voltou a cair,

tos reais em que o governo se baseia

por DCI, única medida reconhecida

agora para 18,25%. Ambas as descidas

para legislar sobre a propriedade de

como urgente no compromisso com

em nome do equilíbrio das contas

farmácia, cumprindo uma intenção

a saúde, o alargamento do âmbito de

públicas, um argumento que justifica

liberalizadora anunciada há muito. É

actividade das farmácias e a dispensa

a redução de preços mas que não é

público que a ANF sempre defendeu

de medicamentos hospitalares.

aplicável à redução das margens.

que o regime jurídico em vigor no

Um cenário agravado pelo facto de,

A ausência de uma argumentação sus-

país é o que melhor serve os doen-

relativamente a alguns princípios, o

tentada caracterizou igualmente a de-

tes e a população. É, aliás, o regime

ministério ter legislado em sentido

núncia do acordo sobre fornecimento

que vigora na maioria dos países da

contrário ao Compromisso com a

de medicamentos a crédito aos benefi-

União Europeia, não se entendendo o

Saúde, pervertendo a sua filosofia

ciários do SNS: o Ministério da Saúde não

interesse ‒ público ou privado ‒ que

integrada. Um compromisso é isso

só não apresentou qualquer proposta

Portugal tem em antecipar-se-lhes.

mesmo: um documento que com-

de revisão como impôs unilateralmente

Perante esta realidade, a direcção da

promete ambas as partes que o subs-

as condições desse fornecimento.

ANF não pode deixar de considerar

crevem e que não pode ser interpre-

Uma imposição ilegítima a que a far-

que as farmácias estão a ser trata-

tado e aplicado arbitrariamente.

mácias responderam com a criação

das de uma forma altamente injusta

A ANF está neste processo de boa

da Finanfarma, uma sociedade de fac-

pelo Ministério da Saúde. Mas João

fé, encarando o compromisso como

toring para a qual foram transferidas

Cordeiro acredita que, unidas, irão

tendo potencial positivo apesar dos

as cessões de créditos das farmácia

vencer os ventos adversos que so-

aspectos negativos e comprometen-

e que assegurará o relacionamento

pram sobre o sector. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 9


dossier

Dispensa de medicamentos aos beneficiários do SNS

ANF reage a estratégia de dividir para reinar Os farmacêuticos de oficina iniciam 2007 com uma surpresa: a publicação do decreto-lei 242-B/2006 de 29 de Dezembro sobre a dispensa de medicamentos a beneficiários do SNS e o pagamento das respectivas comparticipações. Colocado na página oficial do Ministério da Saúde na noite de 29 de

Um procedimento que esteve presente desde o momento

Dezembro ‒ sexta-feira, último dia útil do ano ‒ dele não

em que expirou o acordo que vigorava desde 1988 entre

foi dada qualquer informação às farmácias, que iniciaram

o ministério e a associação. Contrariamente ao previsto no

o ano desconhecendo o seu conteúdo, mas formalmente

Compromisso com a Saúde e na própria carta de denúncia

vinculadas. A situação foi destacada pelo presidente da ANF

do acordo, não houve qualquer proposta ministerial ten-

durante as sessões descentralizadas. Uma situação decor-

dente à sua revisão. O que houve foi a publicação de um

rente da aplicação do artigo 5º daquele diploma: diz o seu

decreto-lei que visa impor por via legal acordos individuais

ponto um que os medicamentos comparticipados podem

com as farmácias numa tentativa de as dividir. A ANF ‒ re-

ser dispensados nas farmácias, mediante o pagamento pelo

cordou ‒ sempre esteve de boa fé neste processo, na con-

utente, no acto da dispensa, do valor correspondente à par-

vicção de que havia condições para uma revisão tranquila

te não comparticipada pelo Estado no PVP e diz o ponto

do acordo, satisfazendo os legítimos interesses do Estado

dois que a dispensa de medicamentos nestes termos con-

e das farmácias. Mas o que obteve em troca foi uma tenta-

substancia a adesão das farmácias ao sistema de pagamen-

tiva do ministério impor arbitrariamente a sua vontade.

to da comparticipação do Estado .

Remonta ao Orçamento de Estado para 2006, aprovado

Esta é, para João Cordeiro, uma norma caricata, na medida

em Outubro de 2005, o processo que haveria de conduzir

em que cria uma situação virtual ao determinar a adesão ao

a esta situação. Logo no seu artigo 8º se punha em causa

novo regime na primeira dispensa que a farmácia efectuar

o acordo com a ANF ao fazer depender de autorização do

a um beneficiário do SNS. O que está em causa ‒ sublinhou

governo as cessões de crédito que tivessem por objecto

‒ não é a dispensa de medicamentos a crédito aos beneficiá-

dívidas do SNS que não fossem a favor de instituições de

rios do SNS, pois a associação sempre defendeu que se efec-

crédito ou sociedades financeiras. Na prática, as cessões de

tuasse independentemente de haver ou não acordo com o

crédito de que a associação era titular tornavam-se nulas

Ministério da Saúde. O que está em causa é o modo como o

a 1 de Janeiro de 2006, pelo que foram transferidas para o

processo decorreu. De uma forma pouco transparente.

sector bancário.

10 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


das farmácias. Quer quando se tratou

boa memória. Sabemos muito bem o

de noticiar a denúncia do acordo,

que significa a intervenção da ANF ou

quer quando se tratou de anunciar

de outra estrutura nos pagamentos, sa-

a constituição da Finanfarma, a so-

bemos bem o que significa uma estru-

ciedade de factoring que vai permitir

tura forte e organizada , enfatizou.

à ANF adiantar às farmácias o paga-

Ao propor agora reduzir para 30 dias o

mento das comparticipações.

prazo de pagamento às farmácias, não estendendo a medida a outros forne-

Nova tentativa para impedir que a

Ministério privilegia farmácias?

cedores, estará o ministério a querer privilegiar as farmácias? Não, a única razão por que adoptou esta metodo-

ANF fosse intermediação financeira das farmácias aconteceu com o

A questão, em jeito de ironia, foi colo-

logia é querer relacionar-se directa-

Orçamento de Estado para 2007,

cada pelo presidente no seu contacto

mente com as farmácias e conseguir

com uma disposição idêntica à do

com os associados. E é justificada com a

as mesmas condições que impôs aos

ano anterior. O último desenvolvi-

criação pelo Ministério da Saúde de um

outros sectores por estes não se terem

mento foi o diploma publicado a

sistema de pagamento exclusivo para

organizado colectivamente .

29 de Dezembro, cujo conteúdo foi

as farmácias, deixando de fora os outros

Para dar resposta a esta tentativa de

enquadrado na promessa ministerial

fornecedores, incluindo aqueles a que o

divisão, a ANF avançou com a consti-

de cumprir os prazos de pagamento.

Estado mais deve e deve há mais tempo.

tuição de uma sociedade de factoring

A verdade é que todos os ministros

Deve à indústria farmacêutica, deve aos

- a Finanfarma, aprovada pelo Banco

prometeram, mas nenhum cumpriu

meios complementares de diagnóstico.

de Portugal em Novembro último. Esta

e, não fora a cessão de créditos, as

É um facto que o ministério não cum-

estratégia foi apoiada pela Assembleia

farmácias viveriam dias difíceis.

pre as suas obrigações para com os

Geral de Delegados realizada em

Todo este processo foi alimentado por

seus fornecedores. Há números que o

Dezembro e irá permitir adiantar às

sucessivas notícias na comunicação

atestam: às farmácias chegou a dever

farmácias o pagamento das compar-

social, sempre na perspectiva ‒ como

praticamente oito meses, o que corres-

ticipações independentemente do

disse João Cordeiro aos associados -

ponde a cerca de 750 milhões de euros.

prazo de pagamento e dos atrasos do

de que existe um conflito grave entre

O que aconteceria ‒ perguntou João

Ministério da Saúde.

o ministério e a associação e de que

Cordeiro ‒ se as farmácias tivessem

Enquanto entidade financeira, terá

uma guerra é inevitável. E transmitin-

acreditado nas promessas de paga-

melhores condições de financiamen-

do também a ideia de que o que está

mento do ministro de então (o mesmo

to e outra capacidade de intervenção

em causa são apenas os interesses

de agora, Correia de Campos)? Temos

junto dos devedores. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 11


dossier

Para os associados, tem vantagens inequívocas: o pagamento far-se-á a 8 dias úteis, e não aos 30 prometidos pelo governo, sendo que ainda este ano este prazo deverá ser reduzido para três dias, por via da factura electrónica. O Farmalink é uma ferramenta essencial, pois será através dele que a informação circulará.

Afinal, as farmácias cumprem as suas

É um facto que o regime da proprie-

Os tempos iniciais serão duros ‒ ad-

obrigações.

dade da farmácia foi sempre causa-

vertiu João Cordeiro, baseado na ten-

Esta estratégia associativa foi ratifi-

dor de alguma celeuma e que sem-

dência, verificada desde o início de

cada pela esmagadora maioria das

pre houve tentativas para o alterar,

2006, para o crescimento dos valores

farmácias, que cederam os seus cré-

merecedoras de acórdãos legais que

de rectificação face ao receituário to-

ditos à Finanfarma. Goram-se, assim,

justificavam a reserva legal, em exclu-

tal. Antevendo o agravamento deste

as expectativas de quem pensava que

sivo, para farmacêuticos.

clima de conflitualidade com as ARS,

o fim do acordo com o Ministério da

O tema voltou recentemente a ser

a ANF avançou com a criação de uma

Saúde era o fim da unidade do sector.

colocado na agenda política, por via

estrutura específica para análise das

Pelo contrário, as farmácias mostraram

de um anteprojecto de proposta de

rectificações de receituário e apoio à

que estão cada vez mais unidas e que

lei apresentado pelo governo aos

emissão de notas de débito e crédito.

a sua consciência associativa e solidá-

parceiros, diploma esse que carece

Daí também o aditamento à declara-

ria está mais forte do que nunca.

de aprovação pela Assembleia da

ção de cessão de créditos, por forma a dar resposta a problemas futuros. Foi neste contexto que a ANF se propôs assumir mais responsabilidades, defendendo os interesses das farmá-

República. Nele se liberaliza, com

Alterações à propriedade da farmácia

O que ganham os Portugueses?

pequenas limitações, o acesso à propriedade de farmácia. É, sem dúvida, uma matéria da legitimidade política do governo, que a ANF não contesta. O que contesta

cias por forma a que haja um equilíbrio de poderes.

Esta questão vai estar no centro de

são as soluções encontradas, delas

Aos associados, João Cordeiro deixou

um conjunto de conferências sobre o

discordando em particular como

a garantia de que a ANF e a Finanfarma

modelo europeu de farmácia, promo-

discorda, no geral e no absoluto, da

serão exigentes no cumprimento das

vido pela ANF à luz da intenção libe-

liberalização da propriedade.

obrigações do Ministério da Saúde.

ralizadora do governo português.

Uma discordância que assenta na re-

12 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


alidade portuguesa no que respeita

lização . É precisamente isso que as

se subordinará ao tema A farmácia

ao sector. Afinal, é reconhecido que

farmácias esperam do governo, que

na Europa: Lições para a evolução do

as farmácias de oficina funcionam

prove que a liberalização vai melho-

modelo farmacêutico português .

bem, com elevado nível de qualida-

rar a vida dos portugueses.

O Centro de Congressos de Lisboa

de e ao mais baixo custo da UE e que

O processo legislativo está em curso.

será palco das três sessões, uma

constituem, de todos os sectores da

O debate também. Para as conferên-

oportunidade para ponderar o rumo

saúde, aquele que os doentes e os

cias que se iniciam dia 6 de Março a

imprimido ao sector da farmácia em

consumidores avaliam como mais

ANF convidou todos os parceiros, ne-

Portugal em contraponto com outras

positivo. Não há, no país, dificuldades

les se incluindo aqueles que vão ter o

experiências europeias, designada-

de acesso aos medicamentos. Não

poder de legislar ‒ os deputados da

mente dos modelos vigentes em paí-

há também escassez de farmácias. O

Saúde.

ses de referência na Europa.

que faltam são os argumentos a favor

Na primeira sessão, estará em análise

da liberalização.

O modelo ibérico de propriedade da

Aplicação do Compromisso penaliza farmácias

Na óptica da direcção da ANF, a libera-

farmácia , uma oportunidade para

lização não terá as vantagens prome-

conhecer os regimes em vigor em

tidas: não determina necessariamente

Portugal e em Espanha. Já a segun-

o aumento da concorrência, a dimi-

da conferência, agendada para 10

nuição dos preços ou a contenção da

de Abril, permitirá ficar a conhecer

Desequilíbrio ‒ assim se pode descre-

despesa pública. E terá custos: o da

Os modelos nórdicos de proprieda-

ver o denominador comum de todos

degradação das farmácias, dos serviços

de de farmácia , estando designa-

os passos já dados pelo governo para

que prestam, da qualidade do empre-

damente em foco o modelo vigente

implementar o Compromisso com a

go, da qualidade do atendimento, da

na Finlândia e o exemplo de desre-

Saúde, subscrito em Maio de 2006 com

qualidade tecnológica e da sua capaci-

gulamentação aplicado na Noruega.

a ANF. Porque todas as medidas entre-

dade para continuarem a ser um sector

Finalmente, a 17 de Abril, serão

tanto aprovadas ou em processo legis-

de vanguarda na área da saúde.

apresentados os principais resulta-

lativo são penalizadoras para as farmá-

Apesar da sua posição, entende a as-

dos de um estudo efectuado pelo

cias. Porque nenhuma das propostas

sociação que o país carece de debate

Öbig (Instituto de Saúde Austríaco),

apresentadas pela associação teve o

e, por isso mesmo, decidiu promovê-

promovido durante a presidência

acolhimento necessário para serem

lo. Como justifica o presidente, João

portuguesa do Grupo Farmacêutico

vertidas em documentos legais.

Cordeiro, não se pode alterar sem

da União Europeia. O contexto será

Assim, o ministério já apresentou pro-

haver debate, sem definir o que os

a conferência de encerramento des-

jectos sobre a instalação de farmácias

portugueses ganham com a libera-

te ciclo promovido pela ANF, a qual

nos hospitais do SNS (aprovado e

Quase uma perseguição

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 13


dossier Pelo lado dos aspectos positivos, João Cordeiro enunciou a implementação da unidose.

publicado), o horário de funcionamento (aprovado e à espera de publicação), o preço máximo de venda de medicamentos comparticipados (aprovado), o pagamento das comparticipações do Estado às farmácias (aprovado) e a propriedade da farmácia (em discussão). De fora das decisões ministeriais ficaram as disposições que

Focando-se sobre os critérios de candidaturas, destacou

a ANF identificou como prioritárias, não obstante o ministro

a possibilidade de os proprietários de farmácia na zona

Correia de Campos ter solicitado à associação que as apre-

do hospital se agruparem e apresentarem uma proposta

sentasse acompanhadas de propostas de redacção dos pro-

conjunta, a qual terá preferência sobre os demais concor-

jectos conducentes à respectiva implementação . Esta dispo-

rentes. Mais controversa é a remuneração da concessão,

nibilidade não teve, contudo, correspondência em qualquer

com a ANF, bem como a Ordem dos Farmacêuticos, a

iniciativa legislativa. E o que está em causa é a prescrição por

pronunciar-se contra a existência de uma parcela variável

DCI, o alargamento do âmbito da actividade das farmácias

indexada à facturação e a defender, em contrapartida, que

e a dispensa pelas farmácias de medicamentos hospitalares.

a avaliação deveria basear-se na competência técnico-pro-

Há outros compromissos por assumir, mas estes estão na pri-

fissional, sob pena de se estar a criar uma fonte de rendi-

meira linha das preocupações da associação.

mento alternativa para os hospitais através da aplicação de regras similares às que vigoram nos centros comerciais.

Farmácias nos hospitais

Outro aspecto que merece o desacordo da associação diz

Mais uma batalha

respeito à possibilidade de serem instaladas farmácias em hospitais que não integram o SNS, uma possibilidade que

Foi em Julho, escassos dois meses após a assinatura do

não estava sequer contemplada no compromisso.

compromisso, que o Ministério da Saúde tornou pública a

A direcção reconhece que este é um processo com cus-

primeira das medidas ‒ a instalação de farmácias nos hos-

tos pesados para as farmácias, mas considera fundamental

pitais, uma das mais penalizadoras para o sector.

ganhar mais esta batalha. Para sustentar o envolvimento

Assumindo que este ponto foi o de redacção mais difícil

das farmácias foi criada uma estrutura específica através

durante as negociações do compromisso, João Cordeiro

da qual a ANF dará apoio conceptual, operacional e legal

apresentou aos associados os diversos contornos do di-

à definição do conceito e instalação numa perspectiva as-

ploma que o consagrou legalmente (decreto-lei 235/2006,

sociativa mas tendo em conta que cada situação será um

de 6 de Dezembro). Sublinhou, nomeadamente, o facto

caso específico. Em cada situação, a ANF assumirá a inter-

de a instalação da farmácia depender da verificação do

venção adequada e que as farmácias definirem, na convic-

interesse público relacionada com a acessibilidade dos

ção de que, com equilíbrio, bom senso e união, é possível

utentes à dispensa de medicamentos.

diluir as dificuldades impostas por esta legislação.

14 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 15


entrevista

Manuela Teixeira

uma carreira distinguida no Brasil

Farmácia Portuguesa ‒ Em Janeiro deste ano recebeu a Comenda da Ordem de Mérito atribuído pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF). Qual o significado, em termos profissionais e em termos pessoais, que tem para si receber esta distinção? Manuela Teixeira ‒ Como deve calcular, é difícil expressar numa frase todo o percurso que me levou a Brasília, no dia 18 de Janeiro, receber a Comenda. No fundo, em termos profissionais, penso que é extremamente importante que

ca se ouviu falar, por exemplo, Muarama e Macapá. Os co-

um país irmão, onde se fala a mesma língua, reconhece o

legas chamaram-me louca, por causa de todas as situações

trabalho de alguém que apostou uma vida inteira naquilo

de doença existentes, principalmente nesta última cidade

que considero, talvez, o core principal da actividade far-

atravessada pelo Equador, em que a cólera, o dengue, e a

macêutica: para ser bom farmacêutico é preciso ter uma

malária são doenças endémicas. Mas fui!

boa formação. Desenvolvi em Portugal muitos projectos

Eu nunca nego os convites dos colegas Brasileiros. Vou sem-

de formação e nesse contexto fui convidada em 1992

pre sem remuneração alguma, é uma nota importante que

pelo Professor Arnaldo Zubioli, enquanto Conselheiro

gostaria de deixar. Vou por amor. Nunca esperei chegar à

Federal do Estado do Panamá, e que posteriormente foi

Comenda. A Comenda é talvez o culminar, mas espero que

presidente do Conselho Federal de Farmácia, a ir ao Brasil

não seja o acabar desta relação. Penso que a minha relação

abordar o tema da orientação farmacêutica ao paciente

com o Brasil se vai manter e no futuro desejo consolidá-la.

em situações em que se usam MNSRM.

Desde essa altura, tenho estado em muitas cidades e os

Este convite surgiu no seguimento de um artigo que escrevi

convites não são só do Conselho Federal de Farmácia,

em 1985, na revista Farmácia Portuguesa. Esse artigo estava

dos Conselhos Regionais, são também de Universidades

relacionado com os MNSRM, em que eu tratava de critérios

e empresas privadas de formação, como a Racine de São

de selecção e dispensa deste grupo de medicamentos.

Paulo e o Centro de Excelência em Pós-Graduação em

A partir daí foi uma bola de neve, que me fez correr todo o

Saúde (CPS), com sede em Curitiba. Tem sido sempre um

Brasil, desde a Amazónia profunda a cidades em que nun-

desafio muito interessante que realizo com a maior sa-

16 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


Em Janeiro deste ano recebeu a Comenda da Ordem de Mérito, atribuída pelo Conselho Federal de Farmácia do Brasil. Em entrevista à Farmácia Portuguesa comenta o exercício da profissão em Portugal, o desafio constante que é lidar com os doentes e a diferenciação que preconiza para a classe. Criticando a actual revisão da Lei do sector, a única farmacêutica portuguesa a pertencer à Academia Nacional da Farmácia do Brasil aponta o caminho para o futuro: manter o associativismo forte e incrementar a intervenção das farmácias.

tisfação, porque levo o meu ânimo

siasmou mas que ao mesmo tempo

profissional tem sido, a meu ver, um

profissional, o meu saber-fazer. Neste

aumentou a minha responsabilidade.

modelo de muito valor e fundamental-

percurso, contei sempre, com a co-

Há uma coisa que me dá imenso gozo

mente de muito saber, baseado no sa-

laboração dedicada da colega Lígia

afirmar: é que, independentemente do

ber construir um caminho importante

Reis, que me apoiou na produção das

meu ânimo em transmitir o modelo

para o sector das farmácias.

apresentações melhorando sempre a

português, porque é para os nossos

Em termos pessoais, não vou dizer que

qualidade dos audiovisuais.

colegas brasileiros muito importante,

é uma vaidade, mas é reconfortante.

Ainda em termos profissionais tive há

estes sempre respeitaram e admi-

Neste país, normalmente as pessoas

3 anos um convite do Hospital de São

raram o nosso modelo de farmácia.

não louvam nem elogiam. E há tempos

Paulo para escrever um artigo sobre

Lamentavelmente,

actualidade,

li um artigo interessante da Clara Ferreira

cuidados farmacêuticos. Dediquei-

estamos mais nós a caminhar para o

Alves, em que dizia que, uma das capa-

me bastante. O artigo foi publicado

Terceiro Mundo, para a desregulamen-

cidades do povo brasileiro é saber elo-

num livro que aborda as experiências

tação que eles têm e que eles querem

giar e louvar. Está aqui a prova!

sobre esta temática em vários países.

modificar. Os colegas brasileiros sem-

Em 2006, o CBS desafiou-me a escre-

pre quiseram importar o modelo por-

FP ‒ Este prémio é o reconhecimen-

ver um livro dirigido às necessidades

tuguês. Podia ser o modelo europeu

to de um trabalho activo que tem

dos farmacêuticos comunitário brasi-

dos países nórdicos, mas não, é o por-

produzido no campo farmacêutico,

leiros. Foi um convite que me entu-

tuguês. O nosso modelo de exercício

não só em Portugal, mas também

na

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 17


entrevista

farmacêutico gerava-se um espanto

ANF durante 24 anos, tenho 33 anos

generalizado, porque o Brasil tem

de exercício profissional e no iní-

uma situação completamente anár-

cio não se falava na Sociedade do

quica ‒ quem é dono das farmácias é

Conhecimento. Hoje é que está muito

quem tem dinheiro, caindo por terra

em voga esta temática. A Sociedade do

o conceito de Farmácia como espa-

Conhecimento sempre foi, aquilo que

ço de saúde.

eu em termos profissionais entendi, a

Lamentavelmente o reconhecimento

mais-valia do nosso desenvolvimento,

vem do outro lado do Atlântico...

da nossa actividade profissional. No fundo, o saber é um activo, um activo

FP ‒ Sendo uma área que claramen-

que cada um de nós deve saber gerir,

te privilegia, é em prol dos projectos

deve saber aplicar. É quase como um

profissionais que se tem debatido ao

activo financeiro: saber gerir, aplicar,

longo dos tempos, quer como dirigen-

fazer render. O saber tem exactamen-

te da ANF, Direcção da qual fez parte

te as mesmas regras de aplicabilidade

no Brasil. Qual o contributo e qual a

durante anos, quer actualmente como

desse activo. Temos que saber inovar.

importância deste trabalho na for-

representante da Associação em áre-

Eu digo sempre que na farmácia comu-

mação da futura classe farmacêuti-

as, como a formação dos ajudantes,

nitária não há rotina. Todos os dias so-

ca Brasileira?

quer na sua actividade profissional

mos solicitados por pessoas diferentes,

MT ‒ No fundo, é tentar aplicar o mo-

diária. Uma das vertentes mais visíveis

com características diferentes, saberes

delo português. Mesmo que eu fos-

do seu trabalho foi a aposta na forma-

diferentes. Temos que saber adaptar-

se falar de Cuidados Farmacêuticos,

ção contínua dos farmacêuticos e na

nos a essas pessoas, temos de mostrar

Programas de Intervenção na Comu-

formação dos técnicos de farmácia.

que sabemos e que não somos só os

nidade, de Valormed, da Formação

Qual a importância, para a classe, des-

vendedores de caixinhas . Em relação

Contínua

de

tes projectos ao nível da melhoria da

à formação, sempre apreciei imenso o

Farmácia, uma coisa que os colegas

intervenção profissional? Porquê este

contacto com as faculdades, porque

brasileiros reconhecem é a mais-

envolvimento tão activo nesta área?

das faculdades é que vem o saber. Na

valia da organização farmacêutica

MT ‒ Essa pergunta abre-me horizon-

Direcção da Associação, entendemos

como estrutura profissional. E cada

tes para abordar uma série de aspec-

que era realmente importante apostar

vez que falava do sistema de saúde

tos. Em primeiro lugar, gostaria de di-

para além do que aprendemos nos

em Portugal, da maneira como o

zer que, independentemente do meu

bancos da faculdade. É o saber que

sector estava organizado e referia

entusiasmo e motivação, eu acredito

faz a diferenciação da nossa actividade

que a propriedade era exclusiva do

na formação. Estive na Direcção da

profissional. E o saber adquirido nos sí-

18 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

ou

Boas

Práticas


O saber envolve três elementos: saber-saber, saber-fazer e saber-estar. Nesses saberes, o farmacêutico tem de criar, cada vez mais, uma diferenciação.

ANF, pois começámos a formação para farmacêuticos em 1982. Dentro da Direcção, sempre lutei para que houvesse formação para ajudantes, não podia haver farmacêuticos a fazer formação elitista, chegar à farmácia e

tios certos. Quando a Associação optou

tremamente importante este activo do

dominar outras áreas do conhecimen-

por constituir este grupo de Formação

conhecimento, um activo que não tem

to, e depois haver ajudantes que não

Contínua, com várias áreas de interven-

de ser só na área cognitiva, no saber-

evoluíam nos seus conhecimentos. Era

ção, a ligação à Universidade foi extre-

saber, que aprendemos na faculdade

necessário ter colaboradores cada vez

mamente importante. Hoje mantenho

e que podemos ir complementando

mais sabedores, cada vez mais capa-

óptimas relações com professores

com formação pós-graduada, mas

citados, porque o objectivo major da

universitários, que me têm convidado

um activo na área do saber-fazer, ou

formação é desenvolver capacidades.

para ir trabalhar com eles, por exemplo,

seja, ter a certeza que quando alguém

Coimbra convida-me duas vezes por

vem de um curso tenha melhorado as

ano para ir à faculdade falar para os

suas capacidades. Uma coisa também

estudantes do 5º ano, numa cadeira

extremamente importante, e que nem

Caminhar para a especialização

de MNSRM e automedicação orientada

todas as faculdades ainda privilegiam,

Para mim, o saber envolve estes três

pela Prof. Isabel Vitória.

é a área do saber-estar: a parte socio-

elementos: saber-saber, saber-fazer e

Dentro da ANF, coordenei três profes-

lógica do nosso desenvolvimento, do

saber-estar. Nesses saberes, o farma-

sores catedráticos, o actual vice-reitor

contacto, do poder de comunicar com

cêutico tem de criar, cada vez mais,

da Universidade do Porto, o Prof.

os doentes e médicos e entre nós. O sa-

uma diferenciação. E eu sempre fui

Jorge Gonçalves, o vice-presidente do

ber ouvir, o saber gerir, o saber delegar

uma defensora de uma Especialização

Infarmed, o Prof. Hélder Mota Filipe

e o saber motivar, as faculdades não

em Farmácia Comunitária, das poucas

e a Prof. Isabel Vitória da Faculdade

ensinam. Conseguimos criar na ANF

áreas que não tem especialização na

de Farmácia da Universidade de

muitas áreas de formação com psicó-

Ordem dos Farmacêuticos. Sempre fui

Coimbra. Foi um grupo maravilhoso.

logos, que nos souberam transmitir

uma defensora de que devíamos par-

Sempre tive a humildade de saber que

conhecimentos nestas matérias.

tir para um farmacêutico especialista e

eu era a profissional que tinha as ne-

Essa vontade de aprender e essa von-

não ser um farmacêutico generalista.

cessidades do saber e sempre respeitei

tade de formar não é só dos farma-

Temos um conjunto de projectos de

as competências e os seus saberes, no

cêuticos mas também dos técnicos.

trabalho diário que obriga a saber algo

sentido de aproveitá-los, para os pôr ao

A situação dos técnicos também foi

mais. E esse algo mais é importante

serviço dos profissionais. Considero ex-

uma situação interessante dentro da

para os doentes e para nós próprios. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 19


entrevista

Eu tento, aqui no meu

vendo sete coordena-

espaço, que não haja

dores. Eu coordenava a

generalistas,

exis-

norma 7, da Educação

tam farmacêuticos com

e Promoção para a

competências

delega-

Saúde. Cada coordena-

das, quer na área da

dor escolhia grupos de

Qualidade, quer nos PIC,

colegas para poder tra-

quer nos PCF, mas, oficial

balhar, de acordo com

e lamentavelmente, não

as suas preferências,

há vontade política para

capacidades

que se caminhe para uma

nhecimentos. Fizemos

especialização. Muitas ve-

a apresentação pelo

zes, vinham alguns argu-

país e tentámos aplicá-

mentos contra de que a

las. Inicialmente sem a

especialização iria abalar a

vertente da auditoria,

lei da propriedade da far-

uma espécie de auto-

mácia. Ela foi abalada e a

auditoria.

que

ou

co-

especialização não foi criada. Se calhar se tivéssemos lutado

Evoluímos para a Implementação de Sistemas de Gestão da

por ela, quem sabe se hoje o Sr. Ministro não tinha tido tanta

Qualidade, porque era o passo mais importante e esse era,

facilidade em abanar a lei da propriedade da farmácia.

talvez, o grande objectivo: evoluir para a certificação. A nossa certificação tem uma característica especial: qualquer empre-

A vantagem da dupla certificação

sa pode ser certificada pela APCER, ou outra empresa deste âmbito, com a norma ISSO 9001:2000, mas nós temos a mais-

FP ‒ O projecto das Boas Práticas de Farmácia também

valia das BPF da OF. Temos assim uma dupla certificação.

lhe diz directamente respeito. A sua farmácia foi pionei-

Tenho uma equipa que se sente orgulhosa em trabalhar

ra na implementação do Sistema de Gestão da Qualidade

numa farmácia certificada. Deu muito trabalho, porque parti-

(SGQ). De que forma é que a certificação alterou a práti-

mos do zero, da elaboração do Manual da Qualidade a todas

ca profissional na Farmácia Teixeira?

as instruções de trabalho. Foi pesado em termos de trabalho

MT ‒ Pertenci ao grupo que, em 1994, adaptou o texto das

e em termos financeiros. Mas continuo a dizer que valeu a

BPF Europeias a Portugal e enquanto Direcção, percorre-

pena. Toda a equipa se envolveu, toda a equipa participou.

mos o país a divulgá-las. Éramos um grupo de farmacêuti-

Possibilitou que todos trabalhemos da mesma forma, te-

cos entusiasmado, que sabia muito bem o que queria. As

mos as mesmas regras. Todos sabem o que é que tem de

Boas Práticas de Farmácia (BPF) tinham sete normas, ha-

fazer, não existindo aqui o desconhecido. Uma das grandes

20 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


vantagens, em termos de estrutura

quire-se com a formação. A ética vem

interna, é não existir o desconhecido,

do berço, mas aprende-se, treina-se e

pois tudo tem instruções de trabalho e

pratica-se. Falo também da promo-

está documentado. Até um estagiário

ção da saúde, dado que como já referi

que chegue à farmácia lê uma instru-

coordenei essa norma das BPF e con-

ção de trabalho e dai a cinco minutos

sidero que a farmácia é um espaço de

está a fazer um pedido, uma gestão de

saúde onde se podem desenvolver

entrega ou uma determinação de uma

projectos de educação e promoção

glicemia, etc..

para a saúde. Os cidadãos expressam

Muitas vezes as pessoas têm necessidade de manter a sua terapêutica e é à farmácia que vêm, porque não têm consulta nem receita.

nos inquéritos de satisfação todas as

existe. Mas temos que ir mais longe,

suas críticas e sugestões e temos que

temos que partir para serviços mais di-

ir ao encontro delas. O valor acres-

ferenciados, saber fazer a gestão da te-

centado em saúde é a satisfação das

rapêutica do doente, fazer a gestão da

necessidades dos clientes. São esses

doença, saber acompanhar os doentes

os ganhos em saúde de que tanto se

nestes programas. Para tudo isto, a for-

Depois tem outra grande vantagem,

fala hoje e que tão pouco se avalia na

mação tem de estar associada. Não há

que eu considero talvez o aspecto vi-

área farmacêutica. Acho que é aí que

que se ser generalista, tem que se cada

sível da certificação, que é a que diz

temos que apostar.

vez mais diferenciar os conhecimentos

Satisfazer a necessidade do utente

respeito aos utentes. Fazemos inqué-

para que o farmacêutico evolua para

ritos de satisfação e esses inquéritos

FP ‒ A nível da intervenção profis-

essas áreas.

traduzem as necessidades e as suges-

sional, merecem o seu aval e dedica-

Estes programas vêm ao encontro

tões. No fim, fazemos a estatística dos

ção ainda os Programas de Cuidados

das necessidades dos doentes. O

resultados. Na Política da Qualidade

Farmacêuticos e os Programas de

nosso SNS não acolhe bem os seus

da minha farmácia, para além de

Intervenção Comunitária. Qual a

cidadãos. Pelo menos aqui, no meu

tudo o que é habitualmente referido,

mais valia desta intervenção para os

centro de saúde, há imensa falta

legislação, norma ISO, princípios de

utentes e para farmácia?

de médicos. Muitas vezes as pes-

gestão da qualidade, BPF, acrescen-

MT ‒ Actualmente fala-se de que a far-

soas têm necessidade de manter a

tei alguns aspectos que considero

mácia deve ter serviços essenciais e ser-

sua terapêutica e é à farmácia que

fundamentais na nossa actividade:

viços diferenciados. O serviço essencial

vêm, porque não têm consulta nem

a ética e a competência. São dois

é normalmente a rotina da farmácia:

receita. Temos que dar a esses cida-

aspectos de que eu não abdico no

a dispensa, a informação ao doente, a

dãos a satisfação dessa necessida-

dia-a-dia de falar e de transmitir aos

preparação de um medicamento ma-

de. Os toxicodependentes que têm

meus estagiários. A competência ad-

nipulado, aquilo para que a farmácia

condições para não ir aos CATs vêm FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 21


entrevista

à farmácia fazer a admi-

Agora está muito na moda falar em marketing. Mas, para mim, o único marketing que a farmácia pode fazer é dos seus serviços.

FP ‒ Pelo que foi anteriormente referido, é óbvia a

nistração de metadona. E temos uma prestação extremamente importante jun-

sua dedicação e entusiasmo na implementação dos di-

to dessas pessoas: a nível da reinserção social, a nível da

versos projectos desenvolvidos pela ANF e que servem

sua reinserção no próprio mercado de trabalho.

de suporte à actividade profissional. Contudo, existirão

Considero que estes são programas de que nos podemos

certamente melhorias a desenvolver. Qual é na sua opi-

orgulhar. São programas a que temos dedicado muito

nião, as estratégias a implementar para os tornar mais

tempo da nossa actividade e não são remunerados. Eu não

atractivos?

queria remuneração, queria reconhecimento, do Governo.

MT ‒ Agora está muito na moda falar em marketing. Mas,

Ninguém fala dos inúmeros doentes a fazer tratamentos

para mim, o único marketing que a farmácia pode fazer é

de metadona e que o farmacêutico faz isto de uma forma

dos seus serviços, bem como o marketing social. Não é o

dedicada, abnegada e gratuita.

marketing pelo marketing, porque este qualquer profissão ou actividade faz (marketing dos produtos, das pessoas).

O reconhecimento

Pode ser importante, mas o que é mesmo importante é apostar no marketing de serviços. Dizer o que a farmácia tem capacidade para fazer, como por exemplo, a medição

Fazendo um parêntesis, o professor Zubioli escreveu um

de parâmetros bioquímicos e fisiológicos ‒ o tal algo mais

livro, que se chama Profissão Farmacêutica, E Agora? .

para que os cidadãos vejam as suas necessidades satisfei-

A capa tinha uma farmácia com uma cruz vermelha e

tas. Aí é que nós podemos apostar: quer nos PCF, quer nos

uma frase a dizer pague 2 leve 3 . Estamos a trilhar esse

PIC, quer na Qualidade. Este é que é o futuro: diferenciar

caminho. E é isso que eu não quero. Mandei esse livro ao

a actividade, diferenciar todo o trabalho que fazemos e

Sr. Primeiro-Ministro. Nunca recebi resposta.

apostar no marketing de serviços, única e exclusivamente.

Um projecto que me deu muito gozo foi o Farmacêutico nas Escolas . Com o Eduardo Perestrelo, o designer do

FP ‒ Os cuidados farmacêuticos são programas de acção

cartoon da FP, a colega Clara Carneiro e com a Maria José

continuada e de acompanhamento do doente, exigindo

Justo, uma colega da indústria, fizemos um trabalho de-

a articulação com outros profissionais de saúde, nome-

licioso em cassete VHS, para ir às escolas falar do que é

adamente os médicos e enfermeiros. Dada a sua expe-

o farmacêutico, a farmácia e o medicamento. Isto tem a

riência nesta área, quais os passos que tem dado para

ver com a saída do farmacêutico para ir à comunidade. É

promover este relacionamento entre profissionais, em

um projecto de intervenção na comunidade que foi ins-

prol da saúde dos doentes? De forma a manter frutuoso

pirado numa apresentação de colegas holandeses neste

este relacionamento, o que se deve evitar? Quais são os

âmbito a que Prof. Aluísio Marques Leal assistiu num con-

conselhos que deixa aos colegas que pretendem dinami-

gresso da FIP.

zar este relacionamento?

22 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


MT ‒ Abordei em inúmeros congres-

cia, sempre que existe uma dúvida

excelente exemplo de como médicos

sos para estudantes a relação mé-

em relação a um medicamento ou a

e farmacêuticos podem coabitar sem

dico-farmacêutico, mas considero

uma receita, devem ser os próprios

atritos. Muitas vezes surgem algumas

um relacionamento perfeitamente

a contactar o médico, e não os téc-

coisas de pequena monta, mas que

normal, dentro dos parâmetros da

nicos. Consultar na base do respeito,

nós tentamos diluir. Este fórum, que

respeitabilidade. Tem que haver res-

da ética e da competência. Temos o

permite a médicos e farmacêuticos

peito, como em todas em profissões.

dever de os ajudar quando eles não

trocarem livremente impressões, é

A relação só é benéfica, conclusiva e

dominam todas as áreas do medica-

extremamente importante. O objecti-

útil se houver competência. Continuo

mento, como nós dominamos.

vo major será dialogar de uma forma

a apostar na competência. Ninguém pode dialogar com um médico sem saber aquilo que está a dizer. Nós

correcta, porque o nosso objectivo co-

Respeito, ética e competência

hoje temos na farmácia ferramentas

mum é tratar os doentes. Nessa perspectiva, só ganhamos em termos um bom relacionamento.

da

É importante treinar as técnicas de

Para os colegas novos, o bom relacio-

formação, temos o SIFARMA 2000,

comunicação. E treiná-las num as-

namento adquire-se com ética, res-

que nos permite trabalhar com

pecto. Nós não podemos ser submis-

peitabilidade e competência.

imensa segurança e temos o aces-

sos ao médico. Com todo o respeito,

so a Centros de Informação que nos

não há submissão do farmacêutico

FP ‒ A farmácia enquanto estabe-

permite trabalhar com qualidade.

ao médico. Somos ambos profissio-

lecimento prestador de cuidados

A promoção de reuniões com médicos

nais de saúde. O farmacêutico não

de saúde e enquanto profissão está

é extremamente importante e há mui-

tem que pensar que está abaixo da

a sofrer consideráveis mudanças,

técnicas,

independentemente

tos médicos abertos a essa evolução.

classe médica. Isto no Brasil acon-

promovidas pela nova legislação.

Eu sou extremamente bem aceite

tece todos os dias. Os colegas bra-

Estamos aqui a referir-nos ao facto

entre os médicos da minha zona, eles

sileiros têm um terror de falar com

dos MNSRM poderem ser vendidos

sabem que eu sei e tenho todo o gos-

um médico. São capazes de fazer

fora das farmácias, de as farmá-

to em colaborar. Tenho muitas vezes

a maior barbaridade e entregar ao

cias poderem vir a ser detidas por

as minhas questões em relação a de-

doente algo que não lhe seja útil ou

não farmacêuticos, entre outro.

terminadas prescrições, mas eu, com

indicado, porque não ousam, nem

Aproveitando esta onda de mudan-

toda a diplomacia e todo o respeito,

sequer um contacto telefónico.

ça, em sua opinião o que deve ser

vou trocar impressões com eles e di-

Nós temos um bom exemplo em

alterado e o que deve ser mantido?

zer que é necessário corrigir algo.

Portugal. Temos um fórum na Internet,

MT ‒ O sector cometeu erros. E apren-

Em relação aos colegas, queria dizer

de médicos de clínica geral e farma-

der com os erros não fica mal a nin-

que os farmacêuticos, na sua farmá-

cêuticos ‒ o MGFarm. O MGFarm é um

guém, porque aprender é um passo FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 23


entrevista

Geral, por Professores Universitários, por Farmacologistas. Era um grupo de elite, que conseguia, a nível nacional e veiculado através da OF, impor um determinado tipo de regras para fazer a dispensa de uma forma correcta, eficaz e segura. Tudo isso foi posto de lado.

Aprender com os erros

que damos em frente na nossa vida.

de saúde não são requisitos profissio-

Em Qualidade dizemos que um erro é

nais. O utente percebe quando é um

uma Oportunidade de Melhoria.

farmacêutico ou um técnico habilita-

É preciso manter um associativismo

do a dispensar um medicamento ou

Por isso, quando digo aprender com

forte, porque só unidos é que o sec-

quando é um qualquer vendedor,

os erros é porque realmente comete-

tor consegue chegar às conquistas

que tanto vende uma caixa de aspiri-

mos alguns e hoje estamos a pagá-los

que necessita de obter e nós estamos

nas como um par de peúgas.

muito caros. A ida dos medicamentos

a viver momentos conturbados.

Havia, também, um projecto inte-

para os supermercados dói a todos

Relativamente ao facto dos MNSRM

ressante, liderado pelo colega Pedro

nós. Não dói na bolsa, muito sincera-

terem ido para os supermercados

Cruz, anterior Presidente do Grupo

mente, porque eu não notei diferença

muita da culpa foi nossa. Por isso

Profissional da OF, que tinha a ver

nenhuma na minha farmácia. O que

digo que temos de aprender com os

com um projecto de protocolos de

me entristece profundamente. Foi a

erros do passado. A ANF tinha Cursos

intervenção em automedicação, que

falta de reconhecimento dos órgão de

de Formação de Automedicação no

foi interrompido. Foi uma pena não

cúpula relacionados com esta área.

âmbito da Farmacoterapia, que eu

se ter dado o devido valor. O objecti-

Gostaria, neste aspecto, que as fa-

coordenava, mas estes foram aban-

vo e o que foi desenvolvido no âmbi-

culdades fossem mais intervenien-

donados. Não era considerada uma

to deste projecto é fundamental que

tes, numa área que é core da activi-

área interessante ou importante. Isso

tenha o apoio do sector. Se ele tivesse

dade farmacêutica. A informação na

foi um aspecto extremamente nega-

surgido tínhamos mais qualificações

área da saúde no nosso país é de má

tivo, que eu lamento profundamente,

no aconselhamento dos MNSRM.

qualidade, é muito a dos media. E

porque é uma área do conhecimento

Era um óptimo exemplo também de

não é isso que eu defendo. As facul-

importante. As habilitações e com-

relação médico-farmacêutico, porque o

dades têm que dar mais evidência

petências dos indivíduos que estão

grupo era constituído por Farmacêuticos

à área do medicamento não sujeito

a dispensar medicamentos nas lojas

Comunitários, por Médicos de Clínica

a receita médica, que tem de ter as

24 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


mesmas regras dos que estão sujeitos a receita médica. E nessa pers-

A minha perspectiva para o futuro é manter a qualidade, a competência, manter as pessoas motivadas, satisfazer as necessidades dos doentes.

pectiva vejo com muito entusiasmo algumas faculdades preocuparemse com estas áreas. As faculdades e instituições, quer OF, quer ANF, devem apostar nesta formação, porque não podemos deixar fugir aquilo que é nosso. Também uma mais valia importante é o recém-criado serviço Informação Saúde, através

de aumentar as nossas capacida-

Não vou falar exaustivamente do

do qual recebemos na farmácia su-

des, competências, fazer a diferença.

Compromisso para a Saúde, porque

portes estrategicamente concebi-

Aproveitar o momento conturbado

essa não é a minha área de inter-

dos para nos apoiar na informação

para transformar as ameaças em

venção, mas apesar de tudo, temos

aos utentes de acordo com a situa-

oportunidades.

que o considerar como o futuro. É

ção específica de cada um. A revista

No futuro desejo manter e consoli-

isso com que nós vamos ter que nos

Farmácia Saúde, é também um ex-

dar as relações com os estudantes.

debater. O Dr. João Cordeiro teve

celente veículo de informação em

Participo, de uma forma entusiasma-

muita capacidade para negociar um

saúde dirigida aos utentes.

da, todos os anos no Concurso de

Compromisso para a Saúde que não

Aconselhamento ao Doente, o que

foi agradável para a classe. Foi o pos-

me dá muito gosto. Este grupo de jo-

sível, e até admiro como se chegou a

farmacêutico de oficina daqui a um

vens dinâmicos, inovadores, abertos

determinados consensos.

ano e daqui a cinco anos? Quais as

à mudança é a quem dá prazer trans-

Mas o futuro está nas mãos de cada

áreas em que deve investir?

mitir estas mensagens. Os estudantes

um de nós. Ser positivo, continuar a

MT ‒ Não pretendo mudar em nada

são o futuro.

trabalhar bem e manter a qualidade.

a minha postura para o futuro. Vou

A minha perspectiva para o futuro é

O importante para mim não é ter o

continuar a ser positiva. O farmacêu-

manter a qualidade, a competência,

emblema à porta, é demonstrar que

tico não pode viver na era do coita-

manter as pessoas motivadas, satis-

nós nos diferenciamos. Temos de ten-

dinho, do desgraçadinho, daquele

fazer as necessidades dos doentes.

der para ser especialistas e não gene-

que foi maltratado, ostracizado por-

Temos de ser pessoas com pró-activi-

ralistas. Gostaria de terminar a minha

que outras classes são mais visíveis.

dade e pôr os olhos no futuro e pen-

carreira profissional como especialista

A visibilidade depende de nós e nós

sar que tudo tem de continuar. Tudo

e não generalista. É essa a nota mais

temos que ser positivos no sentido

depende de nós.

importante que gostaria de deixar.

FP ‒ Uma última questão. Como vê o

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 25


cedime Restruturação em curso no CEDIME Acompanhar a mudança CEDIME está longe de se esgotar nes-

Procurou-se ‒ como salienta a directora

te diálogo directo com as farmácias.

técnica do centro, Sandra Lino ‒ confe-

Os especialistas em informação sobre

rir coerência às diversas actividades do

alicerçada na vontade de melhorar

medicamentos que nele trabalham

CEDIME, na medida em que todas elas

são a retaguarda de uma intervenção

assentam na informação sobre medi-

a prática, aumentar a efectividade,

mais vasta, traduzida no apoio à in-

camentos e saúde . Os serviços agora

tervenção farmacêutica nas suas mais

agrupados já existiam, mas dispersos,

diversas vertentes.

enquanto unidades com recursos hu-

O caminho percorrido desde 1985 é,

manos específicos: serviço de consultas,

sem dúvida, um caminho de assinalável

concepção e desenvolvimento de con-

sucesso. Todavia, o sector farmacêutico

teúdos técnicos, informação ao doente

está em constante mudança ‒ porven-

e Sifarma 2000. O que se entendeu foi

tura agora mais evidente do que nunca

que seria possível obter mais-valias em

‒, exigindo uma atitude de renovação a

termos de eficiência e qualidade unin-

Foi em Janeiro de 1985 que o CEDIME

fim de enfrentar novos desafios e apro-

do-os numa plataforma em que o de-

Foi esta a filosofia que presidiu à restruturação do CEDIME,

renovar a imagem e reforçar a credibilidade dos farmacêuticos enquanto especialistas em informação sobre medicamentos.

sobre

veitar novas oportunidades. Impõe-se

nominador comum é a informação.

Medicamentos iniciou o seu funcio-

um espírito de abertura, de receptivida-

O que ‒ argumenta Sandra Lino - faz

namento, assumindo-se como um

de. É preciso acompanhar a mudança e

todo o sentido, na medida em que as va-

suporte científico à actividade das far-

é essa a filosofia que está subjacente à

lências dos diversos serviços se cruzam

mácias. Desde então, tem-se afirmado

restruturação do CEDIME.

entre si e com outros departamentos da

uma ferramenta imprescindível para a

O que está em curso é uma evolução,

ANF, nomeadamente o da Formação e

prática profissional, um recurso valioso

de continuidade, não uma ruptura com

o dos Serviços Farmacêuticos. A direc-

no esclarecimento de dúvidas, na re-

o passado. O que está em curso é o

tora técnica do centro ilustra as vanta-

Centro

de

Informação

solução de problemas e na resposta às

aproveitamento dos recursos existentes

gens da nova organização, mostrando

necessidades práticas das Farmácias.

e a sua optimização mediante a criação

como é possível estar em consonância:

O serviço de consultas é a sua face

de sinergias, numa estratégia em que a

assim, um tema do Serviço Informação

mais visível, mas a actividade do

equipa assume crucial importância.

Saúde (folhetos para o doente) pode ir

26 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


Resolver a consulta O Serviço de Consultas é a plataforma mais directa de relacionamento entre as farmácias e o CEDIME. Como tal, está contemplada uma nova abordagem ‒ mais orientada para as necessidades dos doentes, de modo a que a farmácia responda de facto a essas mesmas necessidades e leve à obtenção de resultados positivos. Tal significa ir além da pergunta ‒ mais do que responder à questão, dar a resposta adequada ao problema colocado pela farmácia e assim dar resposta à necessidade do doente. Trata-se de resolver a consulta.

Melhorar a prática

bém do ponto de vista dos custos, pas-

Farmácia Portuguesa, ao mesmo tem-

Esta é uma restruturação com objec-

mação técnica, baseada na evidência

po que o Sifarma 2000 pode fornecer

tivos bem definidos: melhorar a ac-

com impacto ‒ informação que seja

informação actualizada sobre o mes-

tual prática do CEDIME, torná-lo mais

utilizada pela farmácia, que marque a

mo assunto. Já o serviço de consultas,

efectivo, ceder informação técnica aos

diferença . Trata-se de publicar com

por constituir uma fonte muito rica de

profissionais de saúde optimizando os

um objectivo : ter impacto junto dos

informação, pode funcionar como um

resultados obtidos junto dos doentes,

doentes.

barómetro de temas a tratar nas demais

renovar a imagem do centro perante as

Já renovar a imagem implica que as

plataformas informativas.

farmácias, promover os seus serviços e

farmácias tenham noção de que está

Do mesmo modo é possível a articu-

promover a imagem e credibilidade dos

lação com as campanhas emanadas

farmacêuticos enquanto especialistas

com o Departamento de Programas

em informação sobre medicamentos.

de Cuidados Farmacêuticos, mediante

Como sublinha Sandra Lino, o CEDIME

a produção de suportes informativos,

é um serviço de suporte à prestação

O novo CEDIME tem uma missão: gerir e

ou com o Departamento de Formação,

profissional das farmácias. Para que

disponibilizar informação técnica nas áreas da

na organização de acções formativas

seja considerado imprescindível, tem

saúde, do medicamento, dos produtos de saúde e

que se articulam, por sua vez, com

de saber e conseguir acompanhar a

dispositivos médicos, respondendo às necessidades

o Sifarma2000. Ou com o Museu da

mudança, dando resposta às reais ne-

dos profissionais de saúde e utentes. E enquanto

Farmácia, nomeadamente através da

cessidades de todas as farmácias que

suporte aos serviços farmacêuticos, contribuir para

produção de conteúdos de interesse

serve . E para isso é necessário que as

o desenvolvimento do sector e da farmácia como

infantil/juvenil a serem tratados no âm-

farmácias reconheçam nos serviços

centro de prevenção e terapêutica.

bito do Clube da Sara. Ou ainda com o

prestados pelo centro valor acrescido

Esta é uma missão assente numa visão: a de

Departamento de Marketing, aprovei-

à sua prática diária, que sintam neces-

criar uma equipa líder em informação sobre

tando o relançamento da Farmácia TV

sidade de recorrer aos seus serviços e

medicamentos e saúde ‒ afinal, a razão de ser do

para reforçar a mensagem dos folhetos

que valorizem esses mesmos serviços.

CEDIME.

para o público.

Tornar o CEDIME mais efectivo, tam-

ao encontro de um suporte de conteúdo técnico na Farmácia Técnica ou na

sa, nomeadamente, por ceder infor-

Uma missão, uma visão

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 27


cedime

CEDIME ‒ Ficha técnica São 11 os profissionais que constituem a equipa do CEDIME, entre farmacêuticos e técnicos, a que se juntam alguns colaboradores externos, sob direcção técnica de Sandra Lino. Com a restruturação em curso, que começou a ser programada em Novembro de 2005, o CEDIME agrupa um conjunto de áreas até então dispersas, cujo âmbito a seguir se sintetiza:

• Serviço de Consultas ‒ Acessível das 9h às 19h, resolve consultas colocadas maioritariamente por farmácias de oficina e por via telefónica. em curso uma restruturação assente na preocupação de

Parte destas consultas são resolvidas de forma

acompanhar a realidade. Quanto a promover os serviços

relativamente rápida, na medida em que visam dar

do CEDIME, implica passar a mensagem de que este de-

resposta a uma questão urgente suscitada com o

partamento ‒ como os demais da ANF ‒ trabalham para

doente na farmácia. Outras, no entanto, conduzem

que as farmácias tenham uma melhor prática profissional.

a pesquisas mais exigentes e mais elaboradas.

No que toca à imagem dos farmacêuticos enquanto espe-

• Concepção e Desenvolvimento de Conteúdos

cialistas em informação sobre medicamentos, o objectivo

Técnicos ‒ Estes conteúdos, sobre medicamentos,

é reforçar a credibilidade, a começar pela equipa da casa,

terapêutica, estilos de vida e produtos de saúde,

que desde sempre trabalha em informação. Tem, no en-

dirigem-se a profissionais de saúde e são publicados

tanto, um alcance mais amplo, já que estão em perspectiva

na Farmácia Técnica e na Farmácia Portuguesa.

acções de formação, sob a forma de estágios profissionalizantes dirigidos, numa primeira fase, a recém-licenciados.

• Informação Saúde ‒ Engloba a produção de conteúdos orientados para os doentes, mediante o desenvolvimento de folhetos de suporte

Funcionar como uma equipa

à intervenção da farmácia, visando informar, promover o aconselhamento e apoiar a dispensa.

São muitos os desafios. O primeiro é interno: ter o novo

• Sifarma2000 ‒ O CEDIME é responsável

CEDIME a funcionar como uma equipa. Sectores antes dis-

pela componente profissional da aplicação

persos, com profissionais adstritos a cada um, estão agora

informática das farmácias.

juntos, física e estrategicamente. Partindo desta nova realidade, o propósito é que esta equipa única funcione com um elevado grau de colaboração, promovendo-se relações de

tes, o que dá uma outra perspectiva e enriquece o serviço.

trabalho com um elevado grau de sucesso, criando sinergias

Desenvolvem-se competências, nomeadamente ao nível

de modo a que o resultado seja superior à soma das partes.

da comunicação.

Para atingir estas metas, está em marcha um processo de

Esta é a primeira fase da restruturação do CEDIME. A se-

circulação de recursos entre as diversas áreas do CEDIME, de

gunda será de desenvolvimento e partilha, a que se se-

modo a que todos os elementos da equipa se familiarizem

guirá a consolidação da mudança. Completar o processo

com cada um dos serviços e estejam em condições de res-

exige esforço e vai levar tempo. Disso está convicta Sandra

ponder na prática às distintas solicitações. Unir e melhorar

Lino. Mas também está optimista quanto ao desfecho,

é o que se propõe a directora técnica. Primeiro, a partilha

acreditando que desse esforço resultará uma equipa líder

de espaço vai permitir o conhecimento entre pessoas que,

em informação sobre medicamentos e saúde, com com-

antes, apenas se viam. Depois, os estágios internos, vão

petências técnicas diferenciadas em informação, de supor-

colocar novas pessoas a olhar para processos já existen-

te à prática profissional e em benefício dos doentes.

28 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 29


informacao terapeutica

DISFUNÇÃO SEXUAL Carmen Inês*

O século XX foi marcado por acentuadas mudanças na forma como a sociedade olha para a Sexualidade Apesar da disfunção sexual masculina

eréctil. Trata-se de uma situação

ter sido alvo de um maior enfoque de

que deve ser contextualizada caso

de mentalidades e

estudos nos últimos anos, estima-se que

a caso, e cujo tratamento pode

a disfunção sexual seja mais comum nas

passar por várias especialidades:

o desmistificar de

mulheres (cerca de 43%) do que nos

urologia, cardiologia, endocrinolo-

homens (cerca de 31%). Por este moti-

gia, psiquiatria, psicologia, sexolo-

vo, a disfunção sexual engloba também

gia, entre outras. Numa situação de

Humana. A mudança

tabus permite agora ver a Sexualidade

disfunção sexual feminina.

2

Com o desenvolvimento científico * Carmen Inês,

numa perspectiva

Farmacêutica do Cedime

mais abrangente, que para além de incluir a função reprodutora é também uma forma de transmissão de afectos e obtenção de prazer. 30 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

1

disfunção sexual, o conhecimento da história clínica assume particu-

e a investigação farmacológica tor-

lar relevância, devendo também,

na-se possível, na maioria dos casos,

sempre que possível, ser feita uma

dar respostas terapêuticas positivas à

avaliação conjunta do casal. O co-

Disfunção Sexual.

1

nhecimento da idade, das características do doente, da forma como

Compreender a Disfunção Sexual no Homem

aparece a disfunção (súbito ou insidioso), da presença ou não de erecções espontâneas, libido mantida ou não, presença ou não de ansiedade, permite indicar o carác-

A disfunção sexual masculina não

ter predominantemente orgânico

se restringe apenas a disfunção

ou psíquico da disfunção. 1


Fases do ciclo de resposta sexual no homem No homem o acto sexual implica uma série de eventos psicoorgânicos que se sucedem ordenadamente. Estes eventos são independentes, por exemplo pode existir disfunção eréctil com orgasmo e ejaculação ou disfunção ejaculatória sem

São vários os medicamentos que podem interferir negativamente com a função sexual.

Ejaculação

Orgasmo

Erecção

Desejo ou Libido

disfunção eréctil. 1

Os medicamentos e a disfunção sexual masculina São vários os medicamentos que podem interferir negativamente com a função sexual, dos quais se referem alguns exemplos: Grupo Terapêutico

Fármacos

Características da Disfunção Sexual

Indometacina

Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída

Naproxeno

Disfunção eréctil e/ ou ausência de ejaculação

Cimetidina

Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída

Ranitidina

Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída

Antidepressivos

Amitriptilina

Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída

Antipsicóticos

Lítio

Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída

Benzodiazepinas

Diazepam

Disfunção eréctil

Atenolol

Disfunção eréctil

Metoprolol

Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída

Propranolol

Disfunção eréctil

Verapamilo

Disfunção eréctil

Clorotalidona

Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída

Espironolactona

Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída

Glicosídeos digitálicos

Digoxina

Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída

Inibidores da bomba de protões

Omeprazol

Erecções nocturnas dolorosas

Propulsivos

Metoclopramida

Disfunção eréctil e/ ou libido diminuída

AINE s

Antagonistas dos receptores H2

Bloqueadores beta

Bloqueadores dos canais de cálcio Diuréticos

Tabela 1 ‒ Medicamentos que interferem com a função sexual masculina 1 FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 31


informacao terapeutica

hormona do sexo , actua

A disfunção sexual e a hipertrofia benigna da próstata

no homem e na mulher e é

A Hipertrofia Benigna da

responsável pela libido.1

ao nível do sistema límbico

Próstata (HBP) é uma desordem comum nos homens a

Terapêutica hormonal

partir dos 60 anos, podendo

de substituição

estar associada a sintomas

Alterações da libido asso-

do tracto urinário inferior e

ciadas a hipogonadismo

a disfunção sexual.

(baixos níveis séricos de

O tratamento farmaco-

testosterona) podem ser

lógico da HBP, com a ad-

tratadas recorrendo ao tra-

ministração de antagonistas dos alfa-adrenoreceptores

tamento hormonal de substituição com testosterona.1, 5

(tansulosina, alfuzosina e terazosina) ou finasterida, pode

A testosterona existe sob a forma de cápsula mole, gel e

3, 4

aumentar, em alguns casos, a disfunção ejaculatória.

solução injectável para administração intramuscular. A for-

O tratamento da HBP pode ainda implicar o recurso à cirur-

ma oral tem a desvantagem de ser pouco biodisponível,

gia, sendo uma das maiores preocupações as consequên-

pelo facto de ser metabolizada a nível hepático e a forma

cias que esta pode ter sobre a vida sexual. Na verdade,

muscular é pouco fisiológica, uma vez que cria picos sé-

raramente a função sexual fica seriamente afectada com a

ricos na altura da administração. A grande vantagem da

cirurgia, embora habitualmente se torne necessário aguar-

forma transdérmica (gel) é mimetizar o ritmo circadiano da

dar entre 3 a 12 meses para que ocorra regularização da

testosterona, tornando-se por isso mais fisiológicas.1,5

actividade sexual. A maior diferença que os homens sujei-

O recurso a testosterona exógena tem demonstrado me-

tos a cirurgia da próstata podem notar, em termos fisioló-

lhorar o ganho em massa muscular e aumentar a diminui-

gicos, é ao nível da ejaculação, com os chamados orgas-

ção da gordura corporal, prevenir a osteopenia e as frac-

mos secos , que caracterizam uma situação de ejaculação

turas ósseas, aumentar a libido e a qualidade de vida. Os

retrógrada (esperma não sai para o exterior, misturando-se

principais efeitos adversos associados a esta terapêutica

3, 4

com a urina na bexiga).

são o aumento da pressão arterial, apneia do sono, hematócrito e valores lipídicos alterados e alterações ao nível da

A disfunção da libido e a testosterona

próstata (ex. HBP).1,5

A diminuição do desejo sexual devido a desequilíbrio

O risco de desenvolvimento do cancro da próstata não

hormonal está por vezes associado a disfunção eréctil.

está associado a terapêutica de longo termo com testos-

Actualmente sabe-se que a testosterona é a verdadeira

terona.1,9

32 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


Disfunção eréctil

Abordagem Terapêutica

A disfunção eréctil é uma situação

A abordagem terapêutica apresenta pelo menos 3 níveis de actuação.

comum que afecta cerca de 10% Tratamento de 1ª Linha

de todos os homens, aumentando a sua prevalência significativamente com a idade.5 Estima-se que cer-

Grupo Terapêutico

Substância Activa

Perfil de Utilização e Segurança

ca de 20% dos casos de disfunção eréctil tenham causa orgânica ou

Sildenafil Tadalafil Vardenafil

- Devem ser administrados antes de uma previsível relação sexual, dado que implicam a existência de estimulação sexual - Contra-indicados de forma absoluta com os nitratos por risco de hipotensão marcada - Tadalafil (perfil de farmacocinética) apresenta a maior duração de acção (cerca de 24 h) - Efeitos secundários (relacionados com a classe) mais frequentes: cefaleias, dispepsia, rubor facial e rinite

Agonista dos receptores da dopamina a nível do SNC (Sistema Nervoso Central)

Apomorfina

- Facilitador pró-eréctil - Duração de acção de cerca de 2 h, com período de latência de 40 a 50 minutos - Sem contra-indicações absolutas - Efeitos secundários: náuseas, sudorese, sonolência e vómitos

Antagonista dos receptores adrenérgicos-2

Yoimbina

- Deve ser tomado de forma continuada - Eficácia moderada

psíquica única, havendo em cerca de 60% dos casos, situações orgânicas com componente psicológica associada. Em indivíduos com

Inibidores selectivos e reversíveis da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5)

menos de 40 anos, cerca de 90% da disfunção eréctil tem origem psíquica.1

Factores de risco e patologias Há vários factores de risco associados à disfunção eréctil: idade, stress, sedentarismo, tabagismo, ingestão alcoólica em excesso, toxicodependência e obesidade.1,5 Para além destes factores, estão também identificadas algumas pa-

Tratamento de 2ª Linha

tologias de risco para a disfunção eréctil, quer pelas lesões que provocam, quer pelos efeitos secundários resultantes do seu tratamento, por exemplo, diabetes, hipertensão

Administração intracavernosa de alprostadilo

- Desvantagem de ser administrado no pénis, o que implica o ensino da técnica de auto-injecção, requer titulação de dose e tem um elevado risco de priapismo associado (erecção permanente e dolorosa que ocorre sem estimulação sexual e que pode persistir durante 6 ou mais horas11)

arterial, hiperlipidemia, hiper e hipotiroidismo

1, 5

Tabela 2 ‒ Terapêutica Farmacológica da Disfunção Eréctil 1 FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 33


informacao terapeutica Quando o recurso ao tratamento de 1ª linha falha, ou nos

O diagnóstico correcto da causa da disfunção sexual feminina

casos de doentes com patologias graves associadas (dia-

é fundamental para o tratamento efectivo.6

béticos graves, doentes com doença aterosclerótica avan-

mais específicos, pode instituir a terapêutica de 2ª linha. 1

Fases do ciclo de resposta sexual na Disfunção Sexual Feminina

No caso de não obtenção de resultados positivos, passa-

A análise da disfunção sexual feminina deve ser feita tendo em

se para o tratamento de 3ª linha, com recurso a cirurgia e

conta as diferentes fases em que a disfunção se pode traduzir.

próteses penianas. 1

Há a realçar que a ausência de orgasmo durante o coito

çada) deve recorrer-se ao urologista, que após exames

Disfunção ejaculatória e orgásmica Tipo

pode ser normal e natural e não implicar disfunção sexual Fases do ciclo da resposta sexual na Disfunção Sexual Feminina

Possíveis causas e Abordagem Terapêutica

Desejo sexual (libido) diminuído

Ejaculação rápida, retardada e anorgasmia

Anejaculação e ejaculação retrógrada

- As causas podem estar associadas a distúrbios psicológicos e alguns medicamentos (ex. inibidores selectivos da recaptação da serotonina ‒ paroxetina, sertralina e fluoxetina ‒, antidepressivos tricíclicos ‒ clomipramina e imipramina -, trazodona) 1 - Intervenção a nível psicológico de grande valia - As causas podem estar associadas à toma de medicamentos (ex. anti-hipertensores, antipsicóticos, antidepressivos) - Quando a causa está associada ao uso de medicamentos, a interrupção da terapêutica, caso seja possível, pode resolver a situação 10

Desejo Aversão sexual

Excitação

Perturbação da excitação sexual na mulher

Orgasmo

Perturbação do orgasmo na mulher

Vaginismo (contracção dos músculos da porção inferior da vagina que impede total ou parcialmente a introdução do pénis) 6, 8

Dor Dispareunia (ocorrência de dor genital persistente ou recorrente associada à actividade sexual, a qual se pode manifestar antes, durante ou após o coito)

Tabela 3 - Disfunção ejaculatória e orgásmica

Disfunção Sexual Feminina

Tabela 4 ‒ Fases do ciclo da resposta sexual na disfunção sexual feminina 6

Até há alguns anos a disfunção sexual feminina era errónea e

Patologias associadas à disfunção sexual feminina

pejorativamente designada frigidez . 6

Algumas condições clínicas podem desencadear/poten-

Estudos demonstram que os contributos de factores psico-

ciar a disfunção sexual na mulher.

A disfunção sexual não é um problema exclusivo dos homens.

lógicos e do contexto sociocultural na expressão saudável da sexualidade na mulher são significativos.6 Há um conjunto de factores etiológicos que determinam a disfunção sexual feminina: estados emocionais negativos (raiva, depressão, ansiedade ou medo); baixa auto-estima, má imagem corporal e ansiedade de desempenho; experiências prévias traumáticas, com dor ou abuso sexual; factores educacionais e culturais e relacionamento com o parceiro.6 Contudo, nem sempre a origem desta situação reside em factores psicossociais e patologias crónicas, terapêuticas de longa duração, abuso de drogas e/ou álcool podem estar na base do aparecimento de disfunção sexual feminina.7

Doenças Endócrinas

Doenças que afectam o estado geral

Hiperprolactinemia

Doenças malignas

Hipotestosteronemia

Doenças renais

Hipotiroidismo

Doenças cardiovasculares

Insuficiência supra-renal

Doenças hepáticas

Doença de Addison

Doenças pulmonares

Síndrome de Cushing

Hemopatias

Diabetes mellitus

Tuberculose

Lesões neurológicas AVC Esclerose múltipla Espinha bífida Miastenia gravis Neuropatia periférica

Parkinson Alcoolismo Doença da tiróide HIV/ Sida

Tabela 5 ‒ Patologias associadas à Disfunção Sexual Feminina 6 34 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


Os medicamentos e a disfunção sexual feminina São várias as classes de fármacos e os fármacos que podem desempenhar um papel negativo na qualidade da actividade sexual feminina: 7 - Anticolinérgicos

- Inibidores da monoaminoxidase

- Anti-histamínicos

- Inibidores selectivos da recaptação da serotonina

- Antipsicóticos

- Cetoconazol

- Antidepressivos tricíclicos

- Clonidina

- Antidislipidémicos

- Danazol

- Anti-hipertensores

- Digoxina

- Barbitúricos

- Espironolactona

- Benzodiazepinas

- Indometacina

- Bloqueadores beta

- Lítio

- Contraceptivos orais

- Metildopa

As hormonas e a disfunção sexual feminina

Abordagem Terapêutica

Para além dos fármacos e patologias que podem estar na ori-

Actualmente não existe nenhum medicamento apro-

gem da disfunção sexual feminina, as hormonas endógenas

vado para a disfunção sexual feminina.

também desempenham um papel muito importante no acto

A intervenção psicológica é determinante em alguns

sexual e em algumas situações podem condicionar uma acti-

casos, consistindo, por vezes, a melhor abordagem

vidade sexual satisfatória, ao actuarem ao nível do desejo.

6

numa terapia combinada com recurso a tratamento médico e psicológico. 6

Efeito sobre o Desejo Sexual

A intervenção psicológica pode passar por uma cor-

Testosterona e Estrogénios

Potenciação

recta e desmistificante educação sexual, estimular a

Prolactina e Progesterona

Inibição

Hormonas

quebra de rotina no casal e implementar técnicas de distracção e comportamentos que possam desenvol-

Tabela 6 ‒ Papel das hormonas no Desejo Sexual 6

ver e potenciar fases do ciclo de resposta sexual como o Desejo e a Excitação. 6 No orgasmo, as dificuldades podem ser de origem psicológica, causadas por medicamentos ou por doenças

A ausência de orgasmo na mulher durante o coito pode ser normal e natural e não implicar disfunção sexual.

crónicas. O tratamento pode passar por recorrer a técnicas que aumentem a estimulação (ex. masturbação). 6 Quanto à dispareunia, o tratamento pode incluir o recurso à lidocaína (dispareunia superficial), lubrificantes (dispareunia vaginal), a mudança de posições durante o acto sexual e o uso de anti-inflamatórios não esteróides (dispareunia profunda). 6 No caso do vaginismo o tratamento deve consistir na

Menopausa

promoção do relaxamento muscular e dilatação vagi-

Há um conjunto de alterações fisiológicas que caracte-

nal com recurso a tampões/ cones dilatadores até ser

rizam a menopausa, entre elas a diminuição do nível de

possível a penetração peniana. 6

estrogénios e testosterona. Estes factores determinam o

Encontrando-se os níveis de testosterona diminuídos, a tera-

aumento da probabilidade de aparecimento de disfunção

pêutica hormonal com testosterona nas mulheres na meno-

sexual associada a uma diminuição do desejo, que condi-

pausa é bastante promissora, não só a nível da esfera sexual

ciona a diminuição da actividade sexual.

1

mas também no controlo da densidade mineral óssea, nas FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 35


informacao terapeutica CASO PRÁTICO 1. funções cognitivas e na diminuição da

ção de reacções adversas a medica-

fadiga, muitas vezes confundida com

mentos que possam estar na origem

depressão, e na melhoria do bem-estar

da disfunção e/ou aconselhamento

geral. Apesar da intensa investigação

sobre a mais correcta forma de admi-

em torno de algumas formulações,

nistrar os medicamentos garantindo

ainda nenhuma forma farmacêutica

a sua segurança e efectividade, são

com testosterona foi aprovada para

algumas das potencialidades da in-

esta indicação terapêutica. Dado que a

tervenção da Farmácia junto da po-

terapia hormonal de substituição com

pulação, nesta área.

A Disfunção Sexual é uma situaçãopuramente do foro psicológico.

2.

Disfunção Sexual masculina é sinónimo de Disfunção Eréctil.

3.

Após cirurgia à próstata podem verificar-se algumas alterações ao nível da ejaculação ‒ ejaculação retrógrada.

estrogénios não leva a uma adequada melhoria da função sexual e que a aplicação tópica de estrogénios melhora apenas o grau de lubrificação e de atro-

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

4.

A amitriptilina pode estar associada a Disfunção Eréctil e à

1. Associação Portuguesa de Urologia disponível em http://www.apurologia.pt/arvoredecisao/urologia.htm

Diminuição da Líbido.

fia da mucosa vúlvo-vaginal, aguardase com expectativa os resultados de ensaios

randomizados

controlados

com testosterona nestas mulheres. 1 O facto de não existir nenhum me-

2. Boone S A; Shields K M ‒ Dietary supplements for female sexual dysfunction ‒ AM j Health-Syst Pharm, vol 62, iss 6, p 574-580, 2005

5.

A testosterona, para tratamento de substituição, está autorizada para a Disfunção Sexual Masculina

3. Pereira, Nuno Monteiro ‒ Hipertrofia Benigna da Próstata ‒ disponível em http://www. apurologia.pt/temasurologicos3.htm

e Feminina.

dicamento indicado na Disfunção Sexual Feminina, faz com que algumas mulheres recorram a suplementos dietéticos com alegadas propriedades que melhoram a actividade sexual, entre eles o ginkgo biloba e a arginina. Contudo, estudos com estas substâncias ainda não demonstraram a sua efectividade neste campo. 2

Conclusões A Disfunção Sexual é uma realidade que não deve ser ignorada quer pelos doentes, quer pelos profissionais de saúde. A intervenção da Farmácia nesta área é determinante dada a proximidade aos utentes. A identificação dos sintomas e aconselhamento quanto à melhor forma de proceder, identifica36 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

4. Miner M; Rosenberg M T; Perelman M A ‒ Treatment of lower urinary tract symptoms in benign prostatic hyperplasia and its impact on sexual function ‒ Clin Ther, vol 28, iss 1, p 13-25, 2006

6.

Os inibidores selectivos da fosfodiesterase 5 estão contra-indicados de forma absoluta com os ni-

5. Consenso Português para Avaliação e Tratamento da Disfunção Eréctil da Sociedade Portuguesa de Andrologia, 2001 6. Pablo, Cristina; Soares, Catarina ‒ As disfunções sexuais femininas ‒ Revista Portuguesa Clínica Geral 2004; 20:357-70 7 Phillips, Nancy A. ‒ Female sexual dysfunction: evaluation and treatment ‒ em http:// www.aafp.org/afp/20000701/127.html.2000

tratos pelo risco de hipertensão.

7.

tosterona diminuem.

8.

10. Colpi, G. M.; Hargreave, T. B.; Papp, G. K.; Pomerol, J. M.; Weidner, W. ‒ Guidelines on Disorders of Ejaculation ‒ European Association of Urology

A toma de benzodiazepinas pode ter um efeito negativo sobre a ac-

8. Vaginismo em perturbações da função sexual ‒ Manual Merck disponível em http://www. manualmerck.net/artigos/ 9. Wayne J. G. Hellstrom, MD, FACS ‒ Update: Managing Sexual Dysfunction ‒ em http:// www.medscape.com/viewarticle/437092

Na menopausa os níveis de tes-

tividade sexual feminina.

9.

Alguns suplementos dietéticos podem ser eficazes no tratamento da Disfunção Sexual Feminina.

10. O vaginismo é uma situação 11. Silva, José Pereira; M. D. Wilson, Steven ‒ A impotência é reversível ‒ 8º Edição, em http://www.clinicaharmonia.pt

irreversível. 1)F; 2)F; 3)V; 4)V; 5)F; 6)F; 7)V; 8)V; 9)F; 10)F


FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 37


informacao terapeutica Dor de Ouvido Zaida Moreira*

A dor de ouvido é uma situação comum, particularmente nas crianças sendo uma situação para a qual a intervenção da equipa da Farmácia é solicitada com alguma frequência. A dor de ouvido pode ser provocada por uma inflamação

Anatomia do Ouvido

causada por infecções, tumores ou outras formações localizadas no ouvido médio ou externo.

O ouvido está dividido em três regiões principais: ouvido

Uma inflamação, mesmo que ligeira, do canal auditivo ex-

externo, ouvido médio e ouvido interno

terno, pode ser muito dolorosa e a inflamação da cartilagem auditiva externa (pericondrite) pode provocar dor aguda.

Ouvido Externo Composto pela aurícula, vulgarmente conhecida por ore-

A infecção do ouvido médio - otite média - é a causa

lha ou pavilhão, e pelo canal auditivo externo.

mais frequente da dor de ouvido nas crianças, provo-

A aurícula é composta por cartilagem, revestida por uma

cando uma inflamação dolorosa.6

camada muito fina de pele. A sua presença em ambos os lados da cabeça permite lo-

Causas Comuns da Dor de Ouvido

calizar a origem do som.1,2 O canal auditivo externo permite a passagem das ondas sonoras até à membrana do tímpano. A pele que cobre

A dor de ouvido ou otalgia é causada pela acumula-

a cartilagem do canal auditivo contém folículos pilosos e

ção de líquido, e por pressão no ouvido médio.

glândulas responsáveis pela secreção de cerúmen.1,2

* Zaida Moreira Farmacêutica do Cedime

O cerúmen lubrifica e aprisiona partículas que possam enA causa da dor de ouvido não é necessariamente uma do-

trar no canal auditivo formando uma barreira protectora. O

ença do ouvido. Infecções e outros problemas do nariz (in-

cerúmen semi-sólido é expelido naturalmente para o exte-

fecção dos seios perinasais), boca (infecção dentária ou das

rior do canal auditivo externo, ao mastigar ou ao falar.

gengivas), garganta (faringite, amigdalite) e articulação do

A pele do canal auditivo externo é resistente à água e tem

maxilar (artrite do maxilar) podem causar dor no ouvido.4

um pH que dificulta a proliferação bacteriana.1

As causas mais comuns da dor de ouvido são:

Ouvido Médio

• Obstrução do ouvido externo (por corpo estranho);

Situa-se atrás da membrana do tímpano dentro do osso

• Otites, externa e média;

temporal.

• Diferenças de pressão (viagens de avião);

O ouvido médio, está ligado à nasofaringe através da trompa

• Perfuração do tímpano.

de Eustáquio, o que permite o equilíbrio da pressão entre o

4

38 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


ouvido externo

ouvido médio

ouvido interno

auricula

canal auditivo membrana do tímpano

trompa de eustáquio

Figura 1- Ouvido, externo, médio e interno

ouvido médio e o ambiente exterior. Esta ligação está normalmente fechada, excepto ao mastigar, engolir ou bocejar.

1,2,3,7

A OE difusa também conhecida por otite do nadador ocorre após exposição prolongada do ouvido a água doce ou salgada (praias ou piscinas) e é mais frequente no verão.1,6,11,13

Ouvido interno Também designado por labirinto é o centro primário da

A OE, aguda ou crónica, secundária a infecção bacte-

audição e do equilíbrio e está dentro da caixa craneana.

riana é a mais frequente.6, 11

Contém os receptores do equilíbrio e da audição.1.2

As dermatites alérgicas de contacto estão associadas a 22% dos casos de OE e podem ser a causa ou a com-

Otite Externa (OE)

plicação da OE. É muito comum devido à aplicação tópica de medica-

Designação atribuída aos processos inflamatórios da aurí-

mentos nomeadamente, neomicina muitas vezes asso-

cula, canal auditivo externo ou superfície exterior da mem-

ciada a polimixina utilizada no tratamento da OE aguda.

brana do tímpano. A OE é mais comum na mulher do que

É também causada pela entrada de substâncias irritativas

no homem.

como laca, tinta do cabelo, cosméticos, perfume e metais

Pode ser difusa (afecta todo o canal auditivo), localizada (furún-

(níquel e crómio). 6, 11, 12

culos - afecta apenas uma zona reduzida), aguda ou crónica.

Causas

Sintomas

OE Localizada

Infecção localizada nos folículos pilosos causada por Staphylococcus aureus.

Os furúnculos provocam dor intensa e podem causar perda de audição em caso de oclusão do canal auditivo. Quando rebentam, libertam sangue e pus.

OE Aguda Difusa

Origem bacteriana (Pseudomas aeruginosa ou Staphylococcus aureus). Origem fúngica (otomicose), menos comum, causada por Aspergillus niger e Candida albicans, surge após aplicação prolongada de antibióticos e/ou corticosteróides tópicos.

Prurido, dor intensa e persistente, otorreia (corrimento de pus), perda de audição por edema do canal auditivo ou acumulação de pus. Canal auditivo externo com sensibilidade dolorosa intensa ao toque.

OE

Outras causas: dermatoses reactivas (eczema, psoríase, lúpus eritematoso, dermatite seborreica, de contacto, atópica, induzida por fármacos); trauma (lavagens de ouvido e inserção de corpos estranhos).

Na OE crónica existe prurido constante e desconforto moderado. Pode existir dor moderada.

Tabela 1 ‒ Causas e Sintomas da OE 6,11,13 FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 39


informacao terapeutica O canal auditivo limpa-se por si só, deslocando as células cutâneas mortas desde o tímpano até ao exterior.

OE Aguda localizada (furúnculos)

OE Aguda moderada

OE Aguda Grave

Terapêutica A terapêutica é determinada pelo tipo de OE e passa também pelo controlo ou eliminação dos factores predisponentes (ex-

Anti-sépticos e antibióticos tópicos não são recomendados.

Antibióticos

Flucloxacilina ou eritromicina por via oral, em caso de alergia à penicilina.13

Preparações tópicas de sulfato de polimixina B isolada ou em associação com hidrocortisona (4 a 5 gotas no ouvido afectado 3 a 4 vezes ao dia, continuando a terapêutica durante 2 a 3 dias após desaparecimento dos sintomas). 11 Preparações tópicas de ciprofloxacina (3 gotas no ouvido afectado 2 vezes ao dia durante sete dias). 11

posição prolongada a água do mar ou das piscinas, trauma, problemas congénitos, imunossupressão, diabetes), alívio da dor e do prurido e aspiração do canal auditivo muitas vezes Ciprofloxacina, 500 a 750 mg por via oral de 12 em 12 horas durante 10 dias. Cefalexina, 250 a 500 mg por via oral 4 vezes ao dia durante 10 dias no adulto e 25 a 50 mg/Kg/dia por via oral em 4 doses divididas durante 10 dias na criança. 11

necessária para facilitar a cicatrização e erradicação dos organismos patogénicos.11 O tratamento tópico com antibióticos ou corticosteróides não deve ocorrer por mais de 7 dias devido ao risco de infecções fúngicas secundárias.13

Prevenção • Durante o banho ou duche o champô e o sabão devem ser mantidos fora do canal auditivo, pois podem provocar irritação e prurido favorecendo a infecção; • Os ouvidos devem ser mantidos tão secos quanto possível. Após nadar ou tomar banho ou duche, deve-se abanar a cabeça para remover a água do canal auditivo, e secar os ouvidos suavemente com uma toalha;

Corticosteróides

Corticosteróides tópicos suprimem o processo inflamatório e as reacções alérgicas da pele associadas à OE, com alívio dos sintomas. A combinação de corticosteróides com antibióticos (neomicina com betametasona, hidrocortisona, triamcinolona ou prednisolona) é por vezes recomendada para diminuir o edema associado ao processo inflamatório e controlar situações de psoríase e dermatite atópica.11, 13

• O canal auditivo limpa-se por si só, deslocando as células cutâneas mortas desde o tímpano até ao exterior. O ouvido tem um sistema de auto - limpeza, como tal não se deve utilizar nada que empurre a matéria residual para o tímpano, onde se acumula. Os resíduos acumulados e a cera tendem a reter a água que entra no canal quando a pessoa toma banho ou nada. A pele molhada

Analgesia

Casos moderados - paracetamol e ibuprofeno. Casos graves - pode ser necessário o uso de paracetamol associado a codeína. O uso de compressas quentes, pode aliviar o desconforto e a dor.1, 11, 13

e macia do canal auditivo contrai infecções bacterianas ou fúngicas com mais facilidade. 1,6,12 • Os frequentadores de piscinas devem colocar tampões de silicone nos ouvidos. Alternativamente pode ser colocado algodão impregnado com vaselina, pois esta tor-

Tabela 2 ‒ Terapêutica da OE 40 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

na o algodão impermeável à água. 1, 6, 11, 12


• As pessoas mais susceptíveis, após nadar ou tomar duche, podem aplicar algumas gotas de ácido acético a 2%, devido às suas propriedades antibacterianas e antifúngicas - nos adultos, 3 a 5 gotas cada 4 a 6 horas e nas crianças a partir dos 3 anos, 3 a 4 gotas, 3 a 4 vezes por dia.

A otite média aguda (OMA) é uma infecção ou inflamação do ouvido médio, muito frequente nas crianças particularmente entre os 3 meses e os 3 anos de idade.

Otite Média Aguda criança se alimenta, possa haver passagem de alimento A otite média aguda (OMA) é uma infecção ou infla-

da garganta para o ouvido médio, através da trompa

mação do ouvido médio, muito frequente nas crian-

de Eustáquio. Isto ocorre especialmente em bebés ali-

ças particularmente entre os 3 meses e os 3 anos de

mentados a biberão, em que o leite passa para o ouvido

idade. Em geral, manifesta-se como uma complica-

médio, acumulando-se, o que favorece o crescimento

ção de uma constipação comum, dor de garganta ou

bacteriano.

outras infecções do tracto respiratório e ocorre so-

• Os adenóides nas crianças são maiores do que nos adul-

bretudo nos meses de inverno especialmente entre

tos. Devido ao seu tamanho, estes podem interferir com

Janeiro e Março.

a abertura da trompa de Eustáquio. Por sua vez estes também podem infectar, atingindo a infecção a trompa

Causas A etiologia da OMA pode ser bacteriana (Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis), viral (Respiratory suncytial virus, Parainfluenza virus, Influenza virus, Enterovirus, Adenovirus) ou mista. 5, 6, 7, 8, 10

de Eustáquio. 1, 8, 9

Sintomas Os principais sintomas da OMA são: dor de ouvido persistente e forte, febre, choro constante (no bebé), irritabilidade, desconforto, náuseas, vómitos, perda de apetite, diar-

A OMA é mais comum nas crianças do que nos adultos

reia, dificuldade em dormir. O tímpano inflama-se e pode

porque:

rebentar com saída de pus para o exterior.1, 6, 7, 8, 10

• O sistema imunitário ainda se encontra em desenvolvimento facilitando a infecção quando do contacto com

Factores de risco

bactérias;

Todas as crianças são susceptíveis de ter infecção nos ou-

• A trompa de Eustáquio é mais pequena que nos adul-

vidos, no entanto apresentam um maior risco, as crianças:

tos, permitindo o acesso mais fácil das bactérias e vírus

• Do sexo masculino;

ao ouvido médio;

• Com história de otite média recorrente;

• Nos adultos, a trompa de Eustáquio forma um ângulo

• Com história familiar de asma, alergias ou eczema;

de 45º com o ouvido médio, mas nas crianças este ân-

• Expostas a ambientes com muito fumo;

gulo é quase inexistente, o que permite que, quando a

• Que passam longos períodos de tempo em creches.7 FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 41


informacao terapeutica Terapêutica da OMA na Criança De acordo com as orientações técnicas da Direcção-Geral

Os anti-histamínicos ou os descongestionantes, não pa-

da Saúde, numa criança saudável, a terapêutica pode es-

recem ter grande benefício no tratamento da doença em

quematizar-se da seguinte forma:

crianças, pelo que não são recomendados por rotina. 8, 10

Prevenção da Otite Média na Criança Terapêutica de primeira linha

Terapêutica antibiótica de primeira linha

Em caso de persistência ou agravamento dos sintomas nas 48-72 h seguintes

Em caso de alergia à penicilina

Associação de amoxicilina e ácido clavulânico, em suspensão oral 400 mg/ 57 mg/ 5 mL, na dose de 80 mg/Kg/dia de amoxicilina.

Idade inferior a 6 meses: eritromicina (50 mg/Kg/ dia, de 8/ 8 h, durante 7 a 10 dias). Idade superior a 6 meses: azitromicina (10 mg/Kg/dia, 1 toma diária durante 3 dias).

As otites não se podem evitar completamente, no entanto o risco pode ser reduzido tomando vários cuidados: • Amamentar, pelo menos até aos quatro meses. Existe uma menor incidência de otites nos bebés amamentados, já que o leite materno confere imunidade;

Só paracetamol, sempre que possível. A dor ou febre devem ser tratadas com 15 mg/Kg, cada 6h podendo o intervalo ser encurtado para 4 a 5 h se necessário. A criança deve ser vigiada nas 24 a 72 h seguintes. Em caso de evolução desfavorável persistência de febre, otalgia/ irritabilidade - deve ser considerado o início de antibioterapia.

Amoxicilina 80 a 90 mg/Kg/dia, de 12/ 12 h ou 8/8 h durante 5 dias.

• Não alimentar as crianças na posição deitada; • Proteger a criança do fumo do tabaco, o que pode passar por evitar ou mesmo eliminar os hábitos tabágicos dentro de casa, no carro, restaurantes; • Vacinar a criança contra influenza e pneumococos; • Escolha de um infantário com menor número de crianças, se possível, e com idades semelhantes.1, 7, 10

Situações em que deve contactar o médico: • A criança queixa-se de dor de ouvido ou pressão no ouvido, acompanhada por febre que persiste durante mais de um dia;

Tabela 3 ‒ Terapêutica da OMA5,7

• Ocorre eliminação pelo ouvido de sangue ou pus; • Em crianças com idade entre os 4 e os 24 meses, os pais de-

Cerca de 70% das OMA resolvem-se espontaneamen-

vem estar atentos, sobretudo após uma constipação, se a

te em 5 dias. Os antibióticos não resolvem as infecções

criança dorme bem, apresenta irritabilidade ou falta de apeti-

causadas por vírus, para além de que o uso frequente

te por mais de um dia;

pode conduzir a situações de resistência, o que torna mais difícil o tratamento de infecções graves no futuro.

• Se após o diagnóstico de uma infecção, os sintomas não melhoram com o tratamento ou existe mesmo agravamento. 7

Publicações ANF Informação adicional sobre a dor de ouvidos pode ser encontrada nas seguintes publicações/ meios de divulgação ANF: www.anfonline.pt Folheto para o Doente disponível nas farmácias aderentes ao Serviço Informação saúde desde Janeiro 2007 PEREIRA, M. ‒ Afecções Óticas. In: SOARES, M.A. (ed.) - «Medicamentos não Prescritos, Aconselhamento Farmacêutico». Portugal: Publicações Farmácia Portuguesa, 2ª Edição. 2002. 943-960.

42 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


CASO PRÁTICO 1. A otite externa aguda é caracterizada por sensibilidade dolorosa ao toque.

Conclusões

2. A otite externa do nadador pode

A dor de ouvido pode ter diferentes etiologias, pelo que

3. O ouvido tem um sistema de

importa reconhecê-las para que a terapêutica seja dirigi-

ocorrer em qualquer altura do ano.

auto-limpeza.

da e efectiva. A otalgia pode ser resultante de infecções bacterianas, fúngicas ou virais ou estar associadas a dermatoses reactivas.

4.O tratamento tópico com antibióticos ou corticosteróides deve sempre ser usado durante 10 dias.

A otite externa e a otite média aguda constituem as duas principais causas de dor de ouvido, sendo a otite média

5. O tratamento de 1ª linha da OMA na

aguda a principal causa de dor de ouvido na criança.Para

criança é constituído pela associação

cada tipo de situação estão indicadas quer medidas pre-

de amoxicilina e ácido clavulânico.

ventivas, quer terapêuticas apropriadas, que devem ser conhecidas do doente e dos seus familiares. O recurso ao aconselhamento por profissionais de saúde

6. Em casos graves de OE recorre-se à associação de paracetamol com codeína para controlo da dor.

habilitados é indispensável para que a terapêutica a efectuar seja efectiva e segura.

7. A causa de OMA na criança pode ser devido a terem a Trompa de

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. PEREIRA, M. ‒ Afecções Óticas. In: SOARES, M.A. (ed.) - «Medicamentos não Prescritos, Aconselhamento Farmacêutico». Portugal: Publicações Farmácia Portuguesa, 2ª Edição. 2002. 943-960. 2. Hearing and Equilibrium - TORTORA, Gerard J e GRABOWSKI, Sandra R - Principles of Anatomy and Physiology. 10ª ed. USA: John Wiley & Sons, Inc, 2003 3. Atlas Temáticos: Anatomia Animal, Anatomia Humana, Corpo Humano, Homem, Cirurgia. Setúbal: Marina Editores, Lda., 1998 4. Dor de Ouvido. Disponível em: www.tudosobredor.com.br/paciente_template.php3?pagina=ouvido 5. Otite Média Aguda - Orientações Técnicas DGS. Urgências no Ambulatório em Idade Pediátrica. Disponível em: http://www.dgs.pt/

Eustáquio mais comprida, o que favorece as infecções. 8. Na OE aguda grave o antibiótico de eleição é a ciprofloxacina. 9. Os corticosteróides tópicos são utilizados na OMA para alívio do processo inflamatório.

1)V; 2)V; 3)V; 4)F; 5)F; 6)V; 7)F; 8) V; 9) F

6. Doenças do ouvido médio e do ouvido interno - BERKOW, Robert; BEERS, Mark H. FLETCHER, Andrew J - Manual Merck de Saúde Para A Família. . New Jersey: Merck& Co., Inc, 1998. Edição Portuguesa

10. Otitis media - Acute Clinical Review- Klasco RK (Ed): DISEASEDEX™ - Emergency Medicine. Thomson MICROMEDEX, Greenwood Village, Colorado (Edition expires [31/12/06]).

7. Mayo Clinic. Ear infection, middle ear. Disponível em: http://www. mayoclinic.com/print/ear-infections/DS00303/DSECTION=all&M ETHOD=print

11. Otitis externa - Acute Clinical Review - Klasco RK (Ed): DISEASEDEX™ - Emergency Medicine. Thomson MICROMEDEX, Greenwood Village, Colorado (Edition expires [31/12/06]).

8. National Institute on Deafness and Other Communication Disorders (NIDCD). Otitis media (Ear infection). Disponível em: http://www.nidcd.nih.gov/health/hearing/otitism.asp.

12. American Family Physician. Otits externa - Disponível em: http:// www.aafp.org/afp/20010301/941ph.html.

9. AFONSO, P.C - Ouvido- Algumas situações clínicas e abordagem terapêutica. Farmácia Portuguesa Nº 110- Março/Abril 1998.

13. Otitis externa - Prodigy Knowledge Guidance - Disponível em: http://www.prodigy.nhs.uk/ProdigyKnowledge/Assets/CommmmonUIControls/Print.asp. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 43


flashes Mercado mundial de venda de medicamentos a retalho cresce 5%

Directiva Serviços dá passo decisivo para a adopção

O mercado da venda a retalho de medicamentos cresceu

O Parlamento Europeu concluiu no dia 15 de Novembro

5%, entre Junho de 2005 e Junho de 2006, nos 13 principais

a sua segunda leitura sobre a proposta de Directiva re-

mercados farmacêuticos a nível mundial ‒ revela um relató-

lativa aos serviços no Mercado Interno. Ao adoptar, sem

rio da IMS Health. O mercado norte-americano aumentou

surpresa, a posição comum do Conselho (acrescentando

5%, atingindo USD202 mil milhões, enquanto que os cinco

apenas 3 alterações técnicas previamente acordadas com

principais mercados europeus cresceram 4%, totalizando

a Comissão), o Parlamento pôs praticamente o ponto final

USD91,8 mil milhões. No Reino Unido, as vendas baixaram

num processo legislativo que durou quase 3 anos.

1%, somando USD14,9 mil milhões. O grupo terapêutico

O Comissário europeu para o Mercado Interno, Charlie

que registou maior crescimento foi o dos medicamentos

McCreevy, recordou que a posição comum do Conselho

anti-cancerígenos (+13%), seguido dos medicamentos usa-

(adoptada em Maio último, apenas com as abstenções

dos em dermatologia, cujas vendas aumentaram 10%.

da Bélgica e da Lituânia) respeita e reflecte amplamente

In SCRIP, 15/09/2006

a posição do Parlamento em primeira leitura, com alguns pequenos ajustamentos técnicos.

Conselho da UE adopta novas regras para os medicamentos de uso pediátrico

Sendo de carácter transversal, a Directiva abrange um vasto leque de serviços prestados: - às empresas (business-to-business) ‒ nomeadamente nas

O Conselho da UE, ao aprovar todas as alterações que o

áreas de gestão, certificação, publicidade, recrutamento;

Parlamento Europeu introduziu à sua posição comum, adop-

- às empresas e aos consumidores (business-to-business

tou o Regulamento europeu sobre os medicamentos de

and consumer) ‒ como a consultoria jurídica e fiscal, os

uso pediátrico. Este novo Regulamento tem por objectivo

serviços das agências imobiliárias, das construtoras civis,

aumentar a disponibilidade de medicamentos devidamente

das feiras comerciais, do aluguer de viaturas e das agên-

testados e autorizados para serem utilizados em crianças. Os

cias de viagens;

laboratórios passam a estar obrigados a fornecer um plano

- aos consumidores (business-to-consumer) ‒ nomeada-

de investigação pediátrica no momento em que entregam

mente o turismo, o lazer e o desporto.

o pedido de autorização de introdução no mercado (AIM) de

Ficam de fora do âmbito da Directiva os serviços não

um determinando medicamento. Para evitar que este sistema

económicos de interesse geral (educação e saúde), os

atrase a entrada de novos medicamentos no mercado, estão

serviços sociais relativos à habitação social, ao auxílio à

previstas derrogações para que esses medicamentos possam

infância, à família e às pessoas mais carenciadas (assegu-

ser comercializados para adultos antes de estarem concluídos

rados pelo Estado ou por entidades por ele mandatadas,

os estudos pediátricos. Os medicamentos que observarem

bem como por instituições de solidariedade reconheci-

este procedimento beneficiam de um prolongamento da

das como tal), os serviços audiovisuais (incluindo o cine-

sua patente por seis meses, como incentivo aos laboratórios

ma), os jogos de sorte ou azar a dinheiro, as actividades

que detêm a sua AIM. O Regulamento prevê a criação de uma

ligadas ao exercício da autoridade pública, a segurança

comissão científica pediátrica no seio da Agência Europeia do

privada, os notários e os oficiais de justiça, bem como as

Medicamento (EMEA), com competência no desenvolvimen-

agências de trabalho temporário.

to e na avaliação de todos os aspectos relacionados com os

Depois da Directiva ser formalmente adoptada pelos

medicamentos que se destinam a ser utilizados pela popula-

Estados-Membros e publicada no JOCE, os Estados-

ção infantil. Este novo Regulamento europeu entrará em vigor

Membros terão até 3 anos para a transpor para a legislação

em Janeiro de 2007.

nacional. In SCRIP, 27/10/2006

44 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

In Bulletin Quotidien Europe, 16/11/2006


Fórum dos Medicamentos apresenta relatório de balanço O Fórum dos Medicamentos, criado em Junho de 2005 para promover a competitividade da indústria farmacêutica na Europa, apresentou o relatório de balanço do primeiro ano de actividade, durante a reunião anual realizada a 29 de Setembro último. Entre as suas principais conclusões destaca-se o seguinte: - São necessárias medidas para melhorar a informação sobre os medicamentos junto dos doentes. De forma a contribuir para este objectivo, um grupo de trabalho constituído no âmbito do Fórum irá desenvolver um formato de informação-modelo sobre a diabetes que possa ser distribuída aos doentes. Foram também enviados questionários a todos os Estados-Membros para determinar as melhores formas de comunicar e transmitir informação aos doentes. - No que respeita às questões relativas aos preços e comparticipações, os Estados-Membros devem trocar informação sobre mecanismos alternativos para o controlo da despesa com medicamentos. O objectivo deste exercício é encontrar o equilíbrio entre o controlo da despesa, a melhoria do acesso aos medicamentos e a recompensa da inovação . - Os Estados-Membros devem ser apoiados na implementação de sistemas concebidos para determinar a eficácia relativa dos medicamentos, de forma a estabelecer preços justos. O trabalho a desenvolver irá centrar-se na concentração das experiências da indústria farmacêutica e dos Estados-Membros, bem como no desenvolvimento de um consenso sobre o tipo de elementos necessários para avaliar a eficiência clínica e a relação custo-eficácia dos medicamentos. A

próxima

reunião

anual

do

Fórum

dos

Medicamentos terá lugar em Junho de 2007, para a qual se esperam resultados concretos das actividades dos grupos de trabalho nas áreas da informação ao doente, dos preços e comparticipações e da avaliação da eficácia relativa de medicamentos na fixação dos preços. In Pharma Pricing & Reimbursement, Novembro 2006 FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 45


sifarma 2000

A Cuidar dos Doentes Este novo sistema responde

um melhor e mais completo aconselhamento, suportado por uma plataforma de informação que cruza a informação asso-

à expectativa de estimular e agilizar uma melhor prestação da equipa da farmácia, com reconhecido valor acrescido na prática diária e na intervenção profissional.

ciada a cada medicamento, com o perfil da doente. Devidamente esclarecida e tendo autorizado o Acompanhamento Farmacêutico através do Sifarma 2000, é criada a sua Ficha de Utente.

A Construção do Perfil da Utente

A Farmácia melhora os cuidados que presta aos seus do-

Os dados que constroem gradualmente o perfil da Celeste,

entes, assegurando um aconselhamento seguro, efectivo

incluem o registo das determinações que faz com regu-

e com qualidade, e suporta os serviços farmacêuticos a

laridade, os medicamentos que já tomou e se encontra a

que aderiu e que desempanha na prática.

tomar, patologias, alergias, reacções adversas, entre ou-

A Farmácia onde a Celeste vai com regularidade, perto de

tros elementos que melhor ajudam a equipa da farmácia

casa, instalou recentemente um novo sistema informático,

a responder às suas necessidades, contribuindo para um

o Sifarma 2000.

melhor acompanhamento do seu estado de saúde e para

A Celeste tem 30 anos e é diabética há 5 anos. Está a tentar

assegurar uma maior segurança e efectividade dos medi-

engravidar há 3 anos, tendo passado por várias situações

camentos que toma (fig. 1, fig. 2).

de aborto. Desconfia agora estar grávida e vai à sua farmácia fazer um teste de gravidez. O resultado do teste de gravidez é positivo. A equipa da farmácia, que a conhece bem, até porque

Primeiro Atendimento com Acompanhamento

para além de dispensar à Celeste todos os seus medicamentos, mede muitas vezes a glicemia e pressão arte-

Em resultado da notícia da gravidez, a Celeste marca

rial, sabendo agora da gravidez da doente, propõe-lhe a

uma consulta com a sua médica que lhe passa uma re-

adesão ao Acompanhamento Farmacêutico através do

ceita de progesterona 100 mg (Utrogestan®) para apli-

Sifarma 2000.

cação vaginal.

Desta forma, a Celeste passa a usufruir de um acompanha-

A doente, agora com Acompanha-mento no Sifarma 2000,

mento diferenciado na sua farmácia. Cada dispensa integra

vai à farmácia com a receita da médica.

46 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


Avisos no Atendimento

ginal durante o 1º trimestre pode diminuir o risco de aborto.

Ao dispensar o medicamento prescrito, surge um aviso

Este aviso resulta do cruzamento da informação registada

que de imediato chama a atenção do elemento respon-

no Perfil Farmacoterapêutico da Celeste - Gravidez, com

sável pelo atendimento. Trata-se de um alerta de Contra-

a informação associada ao medicamento prescrito com

indicação de grau Grave ( fig. 3).

progesterona. Perante a informação associada ao aviso de

Ao consultar o aviso, acedendo ao detalhe da informação,

contra-indicação e conhecendo a história de abortos su-

verifica que a progesterona na via de administração oral não

cessivos da doente, é necessária a intervenção da Farmácia

é recomendada na gravidez, mas quando aplicada por via va-

para assegurar o melhor aconselhamento da doente (fig.5).

Fig 1 ‒ Dados do Perfil da Celeste: Perfil Farmacoterapêutico e Histórico Terapêutico

Fig 2 ‒ Registos dos resultados das determinações de Pressão Arterial e Glicemia FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 47


sifarma 2000

Fig 3 - Atendimento com Acompanhamento Fig 4 ‒ Aviso de contra-indicação de grau grave.

Para

tal,

a

consulta

da Informação Científica associada ao medicamento, em particular dos separadores Indicações Terapêuticas e Posologia e Doses , complementam a informação do aviso e permitem esclarecer de forma mais rigorosa e completa a Celeste, agora grávida e a tomar um novo medicamento. Após consultar a Informação Científica associada ao medi-

Fig 5 ‒ Informação Científica suporte ao aconselhamento Indicações Terapêuticas e Posologia e Doses

camento, o elemento responsável pelo atendimento confirma que, de facto, e de acordo com o deta-

exactamente que não deve tomar por

lhe do aviso de contra-indicação, esta

essa via o medicamento, mas sim ad-

substância, progesterona, está indicada

ministrá-lo por via vaginal. Há então

para prevenção do aborto durante o

que assegurar que a Celeste sabe exac-

1º trimestre de gravidez, mas apenas

tamente como aplicar o medicamento

quando administrada por via vaginal.

por via vaginal e de que está bem infor-

Visto a forma farmacêutica do medica-

mada sobre a posologia e a duração do

mento ser cápsulas que podem tam-

tratamento. Convém ainda alertá-la para

bém ser tomadas por via oral, é muito

a importância de cumprir exactamente

importante certificar que a Celeste sabe

as indicações da médica, não devendo

48 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

ultrapassar a aplicação de 4 cápsulas por dia e a administração até à 12ª semana de gravidez (fig. 4). Foi o aviso de contra-indicação grave entre o medicamento com progesterona e o estado fisiopatológico registado no perfil da Celeste - Gravidez que originou o aconselhamento mais cuidado e individualizado da farmácia neste atendimento em particular.


Fig 6 ‒ Interpretação e Justificação do aviso de Contra-indicação

Prestado o necessário aconselhamento à Celeste quanto à forma de

Determinações Analíticas

utilizar o novo medicamento, esta intervenção deve ficar documentada

Um mês após a primeira

por meio do registo de uma justifica-

consulta, a Celeste regres-

ção (fig.6).

sa à farmácia e pede o re-

É importante registar esta interven-

latório dos seus valores da

ção na prática uma vez que contribui

glicemia para levar na pró-

activamente para a prevenção do ris-

xima consulta médica.

co, e para a toma e utilização seguras

A Farmácia entrega à Celeste

do medicamento.

a impressão de um relatório

Este registo fica assim associado à

detalhado com todos os va-

ficha de utente da Celeste, permi-

lores de glicemia registados.

tindo o despiste e análise futura de

A alguns dos valores regis-

qualquer situação prática que tenha

tados foram associadas ob-

requerido a intervenção da Farmácia,

servações que, de alguma

face a esta doente em particular.

forma, justificam os desvios

O registo dos serviços que a farmácia

verificados.

presta no cuidado com os seus doen-

Para além do relatório, a re-

tes é determinante na comprovação

presentação gráfica destes

do valor acrescido e do impacto positi-

mesmos valores pode faci-

vo da intervenção profissional de uma

litar a avaliação do controlo

equipa de profissionais diferenciados.

glicémico da Celeste (fig.7).

Fig 7 ‒ Relatório e respectiva representação gráfica da evolução dos resultados das determinações de glicemia

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 49


sifarma 2000

Fig 8 - Atendimento da doente com Acompanhamento dispensa de MNSRM

Fig 9 - Separadores Posologia e Doses e Precauções suporte ao aconselhamento

Dispensa de Medicamento Não Sujeito a Receita Médica (MNSRM)

nariz entupido, porque a embala-

previsto para a duração da sua ad-

gem que tem em casa está a aca-

ministração (fig.8).

bar. Pelo que a doente conta ao

Por forma a garantir o uso correc-

pedir o medicamento, o elemento

to do medicamento, o responsá-

responsável por este atendimento

vel pelo atendimento consulta a

é levado a suspeitar do uso abu-

Informação

sivo do descongestionante nasal,

confirmando as doses máximas

Passado alguns dias a Celeste volta

comprovado pelo aviso de Terapia

e duração máxima da utilização,

à farmácia e pede uma embalagem

Duplicada que alerta para o facto

informação que encontra nos se-

de gotas para desentupir o nariz,

de a última embalagem do medi-

paradores

que já usa regularmente e várias

camento dispensado à doente se

Precauções , e que permite con-

vezes ao dia, sempre que sente o

encontrar ainda dentro do período

firmar o risco associado à utilização

50 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

Científica

associada,

Posologia e doses

e


Fig 10 - Aviso de Contra-indicação de grau Ligeiro na Gravidez.

Fig 11 - Aviso de Contra-indicação de grau Ligeiro na Diabetes

exagerada e prolongada deste me-

face ao perfil da Celeste (fig. 10 e

o mais indicado na gravidez e poder

dicamento.

11). Todos os avisos que surgem

alterar os valores de glicemia.

Uma rápida consulta da informação

integrados na linha que caracteriza

A percepção da Celeste do serviço

associada a este descongestionan-

cada medicamento dispensado, são

prestado pela sua Farmácia melho-

te nasal, em particular do separador

avisos específicos para o doente

rou consideravelmente.

Precauções , ajuda a complemen-

identificado, com acompanhamen-

O nível de confiança que já tinha

tar o aconselhamento, com infor-

to no Sifarma 2000, e para cada situ-

na equipa de profissionais que a

mação sobre a forma mais segura

ação de dispensa em particular.

acompanha, esclarecendo todas

e correcta de o utilizar e de como o

Consultando a informação associa-

as suas dúvidas e aconselhando-a

aplicar (fig. 9).

da a cada aviso e tendo em atenção

sempre que pertinente, aumentou.

No contexto da dispensa do des-

o perfil da Celeste (diabética e agora

A Celeste tem agora motivos acres-

congestionante nasal, surgem ain-

grávida), é reforçado o aconselha-

cidos para acreditar ainda mais no

da dois avisos de possível Contra-

mento, alertando a doente para o

apoio e aconselhamento da equipa

indicação, ambos de grau ligeiro,

facto de este medicamento não ser

da sua Farmácia. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 51


campanhas

Os especialistas do medicamento Os farmacêuticos são os verdadeiros especialistas do medicamento e é essa

e em que, com frequência, se centra o aconselhamento. E Pergunte na sua farmácia foi o mote escolhi-

diferenciação que as primeiras campanhas de 2007 vão evidenciar. A primeira reforçando a importância da informação essencial sobre

do porque um dos propósitos desta campanha é precisamente reforçar a comunicação com o doente, incentivando-o a procurar informação junto do farmacêutico, estimulando-o a

cada medicamento dispensado que o doente pode e deve esperar da Farmácia, a segunda

questionar e encorajando a equipa da farmácia a disponibilizar informação de uma forma espontânea e na-

dirigida à segurança e efectividade da

turalmente associada à prática, mas acima de tudo informação essencial

terapêutica nos idosos.

e dirigida a cada utente sempre que um medicamento ou produto de

As farmácias associadas da ANF vão

problema de saúde específico.

saúde é dispensado.

ser palco, de 26 de Fevereiro a 3 de

Tal como abrange todas as farmá-

O que está subjacente a estes propó-

Março, de uma campanha com con-

cias, também o universo dos desti-

sitos é a promoção da utilização ra-

tornos muito particulares. Trata-se,

natários é global ‒ todos os utentes.

cional, efectiva e segura dos medica-

por assim dizer, de uma campanha

E porquê? A justificação é dada pelo

mentos, aquela que é, afinal, uma pre-

de boas práticas, concebida como

mote da própria designação da cam-

ocupação dominante na intervenção

transversal à farmácia de oficina e

panha ‒ Pergunte na sua farmácia .

farmacêutica. Com base neste pres-

às diversas vertentes da sua prática.

Esta é uma iniciativa orientada para o

suposto, foram definidas duas etapas

Assim, ao invés de iniciativas ante-

medicamento, o cerne da actividade

da intervenção na farmácia, associa-

riores, não visa atingir um público es-

profissional e da intervenção farma-

das ao acto de dispensa. A primeira

pecífico nem está orientada para um

cêutica, no qual assenta a dispensa

envolve a recolha de informação

52 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


sobre o

Para

doente, os sintomas,

sustentar o ou-

reforço da comu-

tros problemas de

nicação entre doente

saúde relevantes e outros

e farmacêutico foram conce-

medicamentos. Já a segunda pren-

bidos materiais de apoio à intervenção

de-se com a disponibilização de in-

ele de prescrição médica ou de

profissional, nomeadamente um folhe-

formação necessária e suficiente so-

indicação farmacêutica: para que

to Informação Saúde sobre a utilização

bre o nome e a indicação terapêutica

serve, como e quando tomar, du-

de medicamentos, destinado a ser en-

do(s) medicamento(s) dispensado, a

rante quanto tempo, que cuidados

tregue aos utentes. Foi ainda lançado o

posologia, a duração da terapêutica

especiais se devem ter, que efeitos

cartão Os meus medicamentos , uma

e eventuais precauções a ter com a

adversos são possíveis e o que fazer

inovação nas farmácias portuguesas.

medicação.

se ocorrerem.

Neste cartão ficará registada toda a

A informação constante desta se-

São cinco questões-chave que, se

medicação do doente, mediante actu-

gunda etapa cobre, aliás, as cinco

feitas e respondidas, constituem

alização feita na própria farmácia.

áreas fundamentais sobre as quais o

meio caminho andado na optimiza-

Além disso, a Farmácia dispõe já de

próprio doente devo procurar infor-

ção da terapêutica e na minimização

outras ferramentas que podem auxi-

mar-se, colocando questões muito

de riscos. No pressuposto, é claro, de

liar o farmacêutico e equipa na opti-

concretas sobre o medicamento

que a informação obtida e as instru-

mização da informação prestada no

que lhe está a ser dispensado, seja

ções inerentes são respeitadas.

acto de dispensa. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 53


campanhas

Fazer a diferença Foi esta a temática seleccionada para o arranque das campanhas de intervenção farmacêutica em 2007. Uma escolha que está longe de ter sido ditada pelo acaso. Como destaca Suzete Costa, responsável pelo

farmácia. É importante aumentar a

Saúde e partilhada em Portugal pelo

Departamento de Programas de

cultura da informação , por forma a

Programa Nacional para a Saúde das

Cuidados Farmacêuticos da ANF, a

fazer sobressair aquela que é, indis-

Pessoas Idosas.

primeira iniciativa do ano preten-

cutivelmente, uma mais-valia da far-

O que está subjacente a esta cam-

deu distinguir o farmacêutico como

mácia e do farmacêutico.

panha é a própria realidade da far-

agente diferenciado e especialista do

Daí que esta campanha só simbolica-

mácia: a ela acorrem todos os dias

medicamento, face a outros profissio-

mente tenha sido delimitada no tem-

doentes com 65 e mais anos ‒ ido-

nais de saúde e a farmácia como es-

po. A sua filosofia deve prolongar-se

sos, segundo a classificação da OMS

paço de saúde com um histórico de

e ser assumida como um alicerce da

‒ com múltiplas patologias e, con-

relações de confiança e proximidade

intervenção farmacêutica.

sequentemente,

com os seus doentes que não encontramos noutros espaços de saúde e muito menos em outros pontos de venda de medicamentos .

Medicamentos e idosos

Uma Questão de Segurança

polimedicados;

todos os dias, a farmácia e os farmacêuticos lidam com situações de falta de adesão à terapêutica, de desperdício, de duplicação terapêutica não intencional, reacções adversas,

Sem desvalorizar o contributo de toda a equipa da farmácia, esta é

E o medicamento volta, aliás, a estar

de interacções medicamentosas cli-

uma campanha em que o farmacêu-

em foco na campanha sobre a segu-

nicamente relevantes (com elevada

tico assume um papel importante,

rança dos medicamentos no idoso,

gravidade e/ou probabilidade de

visando sensibilizá-lo para a impor-

agendada para a semana de 26 a 31

ocorrerem) entre outras situações, o

tância de utilizar os seus conheci-

de Março. Uma iniciativa que se en-

que coloca em evidência a questão

mentos e a sua experiência, com a

quadra numa preocupação global

do uso seguro e efectivo dos medi-

finalidade de promover uma atitude

com o envelhecimento progressivo

camentos nos idosos.

ainda mais activa na prestação de

das sociedades ocidentais, assumi-

Neste contexto, foi concebida uma

informação ao doente no espaço

da pela Organização Mundial de

campanha tripartida de promoção do

54 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 55


campanhas

envelhecimento activo, cuja primeira fase é orientada para o uso correcto, efectivo e seguro dos medicamentos. São alvo desta iniciativa os doentes com 65 ou mais anos e a tomar quatro ou mais medicamentos.

Não fume, nós ajudamos Este foi o mote da campanha de cessação tabágica promovida entre Maio e Setembro de 2006. Uma campanha a que aderiram 1433 farmácias e para a

Aos que, no período definido, visitarem uma farmácia aderente à campanha será solicitado que, numa segunda visita a marcar com o farmacêutico, sejam portadores de todos os medicamentos que tomam ‒ sujeitos a receita médica, de indicação farmacêutica ou produtos de saúde ‒ sendo-lhes entregue um saco próprio. No contacto posterior, o farmacêutico fará uma análise de todos esses medicamentos, de modo a separar aqueles que estão fora do prazo de validade e/ou fora de uso e a identificar possíveis duplicações terapêuticas não intencionais, problemas de adesão, reacções adversas, interacções clinicamente relevantes e outras situações. Essa avaliação permitirá ainda esclarecer dúvidas dos

qual foram recrutados 1202 fumadores, dos quais 57,6% do sexo masculino. Com uma idade média de 41 anos, os indivíduos abrangidos apresentavam idades extremadas entre um mínimo de 18 e um máximo de 85. Em média, decorreram quatro dias entre a data do recrutamento e o chamado dia D, aquele em que deixaram de fumar, com um mínimo de zero dias (a decisão tomada de imediato) e um máximo de 11. Três meses depois, a percentagem de ex-fumadores que continuava sem fumar era de 69,3%, mas nesta variável foram considerados dois outros cenários: o pior (considerando como fumadores os utentes para os quais não havia registo aos três meses) aponta para uma taxa de efectividade de 19,1%, enquanto o melhor (considerando como não fumadores os utentes para os quais não há registo aos três meses) dá uma taxa de efectividade máxima de 91,5%. Dos 499 utentes que deixaram de fumar em algum momento, 122 fumavam aos três meses após o recrutamento, o que corresponde a uma taxa de recaídas na ordem dos 24,5%. Perante estes dados, é possível concluir que a intervenção farmacêutica na cessação tabágica pode ter resultados positivos ao nível da decisão de deixar de fumar, bem como na manutenção da cessação .

doentes sobre os medicamentos que tomam. Neste processo, intervirá, de forma mais activa, uma nova ferramenta na

será entregue preenchido. Ao doente

As farmácias dispõem ainda de ou-

relação entre o doente, a farmácia e

será ainda facultado um folheto so-

tras ferramentas que poderão usar

o médico ‒ o cartão Os meus me-

bre os medicamentos no idoso. E se

nesta campanha ‒ Folha de Registo

dicamentos , lançado na campanha

necessário haverá encaminhamento

da Terapêutica e Carta de Referência

para uma consulta médica.

à Consulta Médica.

Pergunte na sua farmácia 56 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

e que


Naturalmente que as farmácias serão

Farmacêuticos, reconhece que esta

apoiadas na implementação desta

é uma campanha ambiciosa .

campanha. Às que aderirem serão

Para a sua concretização, conta

disponibilizados materiais de supor-

com diversas parcerias, como as

te, nomeadamente um guia prático

de sociedades médicas da área da

sobre a intervenção farmacêutica nos

Geriatria e Gerontologia.

idosos, folhetos Informação Saúde, o

As outras duas fases que se seguem,

cartão Os meus medicamentos de

no

terapêutica e uma matriz para registo

Activo, terão lugar daqui a largos

âmbito

do

Envelhecimento

da intervenção e que servirá, depois

meses em datas ainda a definir e in-

de recebida na ANF e tratada, para

cidirão sobre outras temáticas igual-

aferir da mais-valia desta iniciativa e

mente importantes para o idoso.

Os farmacêuticos dos Programas de Cuidados Farmacêuticos poderão e deverão aplicar a metodologia de seguimento na qual foram treinados.

como comprovativo para atribuição de créditos. Esta campanha é um seguimento natural da primeira campanha por-

Risco cardiovascular

que é igualmente centrada no medicamento mas mais ambiciosa porque envolve uma primeira abordagem a um futuro serviço de gestão da terapêutica / gestão da doença nas farmácias que ainda não possuem estes serviços diferenciados. Aliás, os farmacêuticos dos Programas de Cuidados Farmacêuticos poderão e deverão aplicar a metodologia de seguimento na qual foram treinados. Os restantes farão uma análise dos medicamentos que o doente traz no saco ‒ algo ao alcance de qualquer farmacêutico.

A identificação de indivíduos suspeitos de risco cardiovascular era o objectivo da campanha que decorreu de 14 a 28 de Novembro de 2005. Um objectivo alcançado de acordo com os primeiros resultados disponíveis. Assim, dos 40 mil indivíduos avaliados, verificou-se que 34% (entre os 35 e os 65 anos) apresentavam elevado risco de evento cardiovascular fatal nos dez anos seguintes. Das 2715 farmácias associadas aderiram 1508 (56%), tendo 885 reportados dados da respectiva intervenção que permitiram quantificar o impacte desta campanha.

Suzete Costa, do Departamento de

Programas

de

Cuidados FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 57


política profissional

Um olhar português em páginas internacionais A capacidade de ir mais além

Se fizeres o que sempre fizeste, terás apenas o que sempre tiveste . É com esta expressão que Suzete Costa, Cristina Santos e João Silveira inauguram o artigo sobre os serviços farmacêuticos em Portugal publicado no número de Dezembro da revista The Annals of Pharmacotherapy. 58 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

The Annals of Pharmacotherapy é

de Cuidados Farmacêuticos da ANF,

uma publicação mensal dirigida a far-

Cristina Santos, responsável pelo

macêuticos, médicos e outros pres-

projecto dos medicamentos hospi-

tadores de cuidados de saúde, com

talares, e João Silveira, vice-presiden-

mais de 40 anos de existência e que

te da ANF ‒ descrevem o estatuto

se apresenta como independente

actual do sector da farmácia de ofici-

de qualquer organização que possa

na em Portugal, nomeadamente os

influenciar o seu conteúdo .

últimos desenvolvimentos políticos

A escolha daquela frase para a aber-

e profissionais.

tura do artigo permite enquadrar o

Assim, começam por enquadrar o

espírito com que as farmácias enca-

sector, no que respeita às regras por

ram as mudanças em curso e aquelas

que se rege, bem como ao ensino das

que se avizinham ao nível legislativo.

Ciências Farmacêuticas em Portugal.

Em cinco páginas, integradas numa

O artigo focaliza-se depois na prática

série de artigos sobre os serviços

profissional, dando conta dos servi-

farmacêuticos de diversos países, os

ços disponibilizados pelas farmácias

autores ‒ Suzete Costa, responsável

e das mais recentes alterações a que

pelo departamento de Programas

tem sido sujeita.


comprovado nas 883 toneladas de resí-

foram adoptadas ou desenvolvidas

duos incineradas desde Maio de 2000.

metodologias e outras ferramentas e

Já o programa da troca de seringas,

apoiadas medidas de suporte à práti-

resultante de uma parceria estabele-

ca, incluindo a formação em farmaco-

Após este enquadramento, Suzete

cida em 1993 com a então Comissão

terapia, problemas relacionados com

Costa, Cristina Santos e João Silveira

Nacional de Luta Contra a SIDA, tem

medicamentos e comunicação.

optaram por centrar-se nos serviços de

como objectivo prevenir a infecção

Lançados os alicerces da intervenção

intervenção farmacêutica. Não sem fri-

por HIV/SIDA entre a população toxi-

farmacêutica, teve início em 2001 uma

sar que a legislação portuguesa é clara

codependente decorrente da partilha

experiência-piloto, envolvendo 88 far-

acerca do processo de dispensa e dos

de material potencialmente contami-

mácias e 356 doentes com asma, dia-

deveres dos farmacêuticos, mas não

nado. E, ao mesmo tempo, salvaguar-

betes e/ou hipertensão arterial. Uma

faz qualquer referência a serviços adi-

da a saúde pública, evitando que as

experiência devidamente monitorizada,

cionais . Não obstante, há mais de 20

seringas sejam abandonadas em es-

cujos resultados ‒ positivos ‒ permiti-

anos que as farmácias portuguesas os

paços públicos. Mais de 30 milhões de

ram efectuar os ajustes necessários e ex-

desenvolvem: determinação do peso,

seringas foram recolhidas, calculando-

pandir o programa a nível nacional.

pressão arterial, glicemia, colesterol to-

se que tenham sido evitados sete mil

Os ganhos em saúde conseguidos

tal e triglicerídeos; aconselhamento ao

novos casos de doença, o que se tra-

especificamente no programa de

doente; programas destinados a cor-

duz numa poupança significativa para

cuidados farmacêuticos no âmbito

Um compromisso para além da lei

responder a necessidades específicas

o Sistema Nacional de Saúde.

da diabetes conduziram à assinatu-

como a gestão dos resíduos de medi-

Quanto à substituição com metado-

ra de um acordo entre o Ministério,

camentos, troca de seringas, substitui-

na, permite o acompanhamento na

a Ordem e a ANF no qual se prevê,

ção com metadona, gestão da doença.

farmácia de indivíduos referenciados

pela primeira vez, a remuneração do

À excepção das medições de parâ-

pelos Centros de Atendimento a

serviço prestado pelos farmacêuticos.

metros clínicos, realizadas em todas

Toxicodependente, ao abrigo de uma

Um passo que, segundo os autores

as farmácias , o artigo apresenta o es-

política que visa reforçar a adesão à

deste artigo, devia ser considerado

sencial de cada serviço, destacando o

terapêutica e facilitar a integração so-

em relação a outros serviços de va-

envolvimento dos farmacêuticos com

cial dos doentes.

lor acrescentado para a saúde: Estes

os programas da troca de seringas e da

Refira-se que, em qualquer um destes

serviços deveriam ser elegíveis para

metadona, bem como com a gestão de

programas, o envolvimento das farmá-

remuneração numa base por doente

resíduos de medicamentos, todos eles

cias não é remunerado.

ou num sistema similar que fosse um

de claro interesse para a saúde pública.

Posteriores no tempo são os progra-

complemento da remuneração por

Este último programa visa contribuir

mas de cuidados farmacêuticos: O

margem para os farmacêuticos .

para o uso racional dos medicamentos

objectivo foi desenvolver programas

Ainda no domínio do contributo das

e a protecção do ambiente, encorajan-

centrados na farmácia consistentes

farmácias de oficina, Suzete Costa,

do os cidadãos a entregarem na far-

com a gestão da doença e os cuida-

Cristina Santos e João Silveira destacam

mácia os fármacos fora de uso e/ou de

dos farmacêuticos, apoiar os farma-

a investigação desenvolvida pela ANF

prazo e respectivas embalagens, para

cêuticos na sua implementação e

num contexto em que são poucos os

posterior tratamento. Com sucesso

avaliar o respectivo impacto . Assim,

estudos protagonizados pelas universiFARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 59


política profissional dades, com excepção das de Coimbra e Lisboa. Do trabalho emanado da ANF, destacam quatro áreas: monitorização do impacto da nova legislação sobre medicamentos e farmácia, farmacoepidemiologia, avaliação de resultados em saúde e farmacoeconomia.

Uma visão para o futuro

As farmácias estão a preparar-se para expandir o cerne da sua actividade, de modo a cobrir serviços de saúde inovadores. Enfrentam novos desafios mas também novas oportunidades e responsabilidades.

A visão para o futuro tem como pano de fundo a reforma do sector introduzida pelo actual governo, uma re-

perspectiva empresarial, mas tam-

o conhecimento e as competências

forma que é, naturalmente, apresen-

bém na perspectiva profissional está

dos farmacêuticos de modo a asse-

tada nas suas linhas essenciais e ana-

em curso um processo de reforço de

gurar um elevado nível de desempe-

lisada pelos autores. Foram recen-

competências e de alargamento do

nho profissional. Neste processo, são

temente introduzidas importantes

âmbito da intervenção farmacêutica.

ferramentas essenciais o desenvolvi-

alterações políticas que irão afectar

Assim, os serviços orientados para

mento profissional contínuo e os pro-

as farmácias nos próximos anos. Os

o doente foram reorganizados em

gramas de certificação de qualidade,

medicamentos não sujeitos a receita

dois níveis distintos: essenciais e di-

bem como o novo modelo de reno-

médica passaram a poder ser ven-

ferenciados, sendo que os primeiros

vação da carteira profissional.

didos fora das farmácias e, em Maio

podem ser prestados por qualquer

A finalizar, os autores deste artigo

de 2006, o governo anunciou que a

membro da equipa da farmácia e es-

sublinham que tudo o que foi con-

propriedade da farmácia deixará de

tão directamente relacionados com a

seguido e as estratégias adoptadas

ser restrita a farmacêuticos .

dispensa de medicamentos, enquan-

reflectem um elevado nível de organi-

As farmácias ‒ sublinham ‒ estive-

to os segundos envolvem acções

zação e de unidade entre as farmácias

ram contra esta decisão , mas, apesar

conducentes à efectividade e segu-

portuguesas. Os planos futuros devem

disso, negociaram com o governo

rança da terapêutica, podendo ape-

ter em consideração as prioridades e

os termos da mudança . Não obs-

nas ser prestados por farmacêuticos

as oportunidades da agenda política

tante,

enfrentam novos desafios,

com formação específica obrigatória.

e devem ser receptivos ao estabele-

bem como novas oportunidades e

Esta evolução desenvolve-se em parceria

cimento de parcerias e de serviços

responsabilidades . Estão a reorga-

com os doentes ‒ através da Plataforma

estratégicos e inovadores. Métodos e

nizar-se de modo a ser possível lidar

Saúde em Diálogo ‒ e sempre tendo no

ferramentas sólidas são importantes,

com eventuais concorrentes; estão a

horizonte o Plano Nacional de Saúde.

mas são inúteis sem uma clara visão

preparar-se para expandir o cerne da

E assenta numa estratégia sólida de

para a Profissão e uma estratégia fo-

sua actividade, de modo a cobrir ser-

desenvolvimento profissional con-

cada na sustentabilidade profissional

viços de saúde inovadores. Isto numa

tinuado, concebida para optimizar

e económica das farmácias .

60 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 61


informacao veterinária Aprender a conhecer e tratar peladas em Animais A queda de pêlo e as falhas na pelagem nos animais domésticos, mais comum entre os gatos e os cães, apesar de ser recorrente também em roedores, devem ser tratadas, sejam as mesmas resultantes de um período normal de perda ou uma consequência nefasta de uma doença. O corpo do animal é coberto de pêlo. Por isso, o aparecimento de doenças de pele, e consequentemente de perdas de pêlo, é comum, sendo fundamental o dono do animal estar atento às alterações e procurar aconselhamento junto de profissio-

as inflamações de pele e peladas. Os fungos surgem como

nais especializados, em primeira instância do farmacêutico.

consequência de deficiências a nível da higiene do animal, do

Para além de os problemas dermatológicos serem prejudi-

seu sistema imunitário e da sua alimentação, multiplicando-se

ciais aos animais e ter um período longo de recuperação,

e provocando inflamações e perda de pêlo localizada.

colaboração com a Dra.

podem ser zoonoses, ou seja, transmissíveis ao ser huma-

Apesar de surgirem e ter efeitos adversos tanto em gatos de

Ana Paula Abreu, Médica

no. Com um diagnóstico precoce, o problema pode ser

pêlo curto como em cães, são os gatos persas os verdadeiros

resolvido de uma forma mais rápida e eficaz.

senhores em termos de tratamentos especiais de pêlo.

Artigo elaborado em

Veterinária responsável

Como possuem pêlo longo, os persas devem ter uma hi-

pelo grupo Hospital Veterinário de Almada.

Pulgas, fungos e ácaros

Qualquer dúvida pode

giene cuidada, para evitar tratamentos dermatológicos prolongados e radicais, como a tosquia total do gato e a

ser colocada para o email

A rarefacção de pêlo em animais domésticos pode ter várias

desinfecção da casa.

hva@hvalmada.com

origens. A dermatite alérgica à picada da pulga, denominada

O tratamento pode durar entre 6 a 8 meses. O dono do ani-

pelas siglas DAPP, pode provocar inflamação da pele, uma

mal deverá consultar um dermatologista veterinário para

vez que a pulga, ao picar o corpo do animal, vai injectar uma

identificar o tipo de fungo e o antimicótico específico para

pequena quantidade de saliva dentro da pele. Alguns animais

o eliminar. Existem champôs medicamentados próprios

apresentam reacções alérgicas a esta saliva, começando a co-

para este tratamento. Os ácaros também podem provocar

çar-se e a automutilar-se. Formam-se inflamações, as denomi-

comichões nos animais, inflamações secundárias e perdas de

nadas dermatites. Esta reacção alérgica pode ter uma duração

pêlo. Estes podem provocar dois tipos de sarna: demodécica,

superior a duas semanas após a última picada.

que é passada de mãe para filho, surgindo, principalmente,

Eliminar as pulgas nos cães e nos gatos, através de despa-

na cabeça, e a notoédrica, que começa nas patas e no rabo e

rasitantes locais, bem como do meio ambiente, é a medi-

avança para o resto do corpo. Apenas o segundo tipo de sarna

da crucial para evitar os pruridos nestes animais e a conse-

passa com facilidade a outros gatos e cães, podendo passar

quente perda de pêlo.

também ao homem, ainda que com menos facilidade. Em am-

Provocadas por fungos, as micoses são outra das causas para

bos os casos, dá-se uma perda localizada de pêlo.

62 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


Dermatites em animais, culminantes nas chamadas peladas, são doenças comuns aos animais domésticos, sobretudo em cães e gatos. Saber dar resposta e aconselhamento às dúvidas dos utentes no que toca à saúde do animal e das pessoas que com ele coabitam deve ser uma preocupação dos farmacêuticos. Para evitar a sarna induzida por estes

O diagnóstico é facilmente realizado

parasitas há que fomentar uma boa

através de uma prova de alergia, com

higiene nos animais, por exemplo, le-

uma colheita de sangue, após uma

vando-os a profissionais especializados

observação realizada pelo médico ve-

(cabeleireiros de animais). Mais uma vez,

terinário ao animal e ao historial clínico.

os gatos persas necessitam de cuidados

Na prova de sangue, o animal vai ser

maniose. Esta doença, que surge atra-

extremados, sendo aconselhável a esco-

testado quanto à sua sensibilidade a

vés da picada de um mosquito no cão,

vagem quinzenal do pêlo. O diagnósti-

alergeneos como árvores, ervas, pólens,

sendo este mesmo insecto o veículo

co é realizado através da identificação

fungos e ácaros domésticos.

de transmissão da doença ao ser hu-

do tipo de ácaro e o tratamento é acon-

Existem animais alérgicos a inúmeros

mano, pode traduzir-se, por vezes,

selhado consoante o artrópode encon-

factores em simultâneo. Como se trata

em problemas dermatológicos, como

trado, podendo o animal ser tratado

de um problema genético, prevenir as

pêlo baço ou queda acentuada.

com medicamentos injectáveis ou com

alergias na sua totalidade não é possível.

Neste caso, o dono deve agir em

banhos terapêuticos, à semelhança do

Mas podem ser evitadas, se for evitado o

conformidade com o veterinário para

que acontece com os fungos.

contacto com o alergeneo em questão.

encontrar a melhor solução de pro-

O problema também pode ser contor-

tecção do animal.

As alergias

nado através da ingestão de alimen-

Tal como noutras doenças típicas de

tos hipoalergénicos, no caso de uma

animais, não se pode falar de soluções

As perdas de pêlo podem também

reacção a determinados alimentos, da

miraculosas, mas a base de um pêlo

ter origem em alergias ambientais ou

criação de auto-vacinas de dessensibi-

saudável é a alimentação, à semelhan-

alimentares. Por vezes, estas alergias

lização ao alergeneo ou do recurso a

ça do que acontece nos seres huma-

são mesmo o problema principal,

anti-histamínicos e champôs.

nos. Uma ração equilibrada e com-

acabando por provocar as inflama-

Pode falar-se ainda para causas de

pleta faz a diferença na prevenção de

ções de pele e as peladas.

quedas de pêlo decorrentes da leish-

doenças de pele. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 63


museu da farmácia O Museu da Farmácia no USS Enterprise A saúde em cenário de guerra Uma receita para juntar ao vasto

Chamam-lhe, carinhosamente, Big E, por via dos muitos e muitos dias que fazem desta máquina de guerra o lar de ho-

espólio do museu e a memória

mens e mulheres sem outro horizonte que não seja o mar.

e os olhos ainda cheios das

Em Lisboa, pisaram terra, a última antes de pisarem a sua.

imagens do primeiro porta-aviões

cas. E de terra subiram a bordo individualidades convidadas

nuclear do mundo foi o que João Neto trouxe da visita ao USS

Foram a terra, com critérios rigorosos e instruções específi-

pela embaixada dos Estados Unidos em Lisboa. Entre elas, o director do Museu da Farmácia, João Neto, no prosseguimento de uma política de intercâmbio com as diversas representações diplomáticas na capital portuguesa.

Enterprise, por alguns dias o centro das atenções no Tejo lisboeta.

Tudo no USS Enterprise é, naturalmente, motivo de interesse e de curiosidade. A descida ao interior deste colosso de mais de 93 mil toneladas, com 18 pisos e mais de 340 metros de comprimento permitiu comprovar que o imagi-

Regressava a Lisboa no final de uma longa missão no

nário de Hollywood se inspira com rigor na realidade.

Médio Oriente, o último palco de conflito mundial em que os aviões de guerra do USS Enterprise foram chamados a intervir. Regressava a Lisboa para uma curta escala antes

Autonomia para sobreviver à doença

do ansiado regresso a casa. Um descanso merecido para os mais de cinco mil tripulantes de um porta-aviões com

João Neto era, no entanto, portador de uma curiosidade

muita história para contar. Uma história de guerra, mais do

muito própria: como se cuida da saúde de uma tripulação

que de paz, ou não fora este um navio militar, o primeiro

de cinco mil pessoas, num porta-aviões que é protagonista

porta-aviões do mundo a propulsão nuclear.

constante de cenários de guerra? As explicações foram pron-

64 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 65


museu da farmácia

tas, na pessoa do médico-chefe do porta-aviões. São cerca de quatro dezenas os profissionais de saúde destacados para o USS Enterprise, entre médicos das mais diversas especialidades, enfermeiros, psicólogos e responsáveis pelos serviços farmacêuticos. Não há a bordo farmacêuticos propriamente ditos, mas pessoal especializado que assegura uma correcta dispensa dos medicamentos prescritos. Na farmácia, abastecida à partida para cada missão e com uma dimensão que garante autonomia durante as estadas no mar, medicamentos de marca e genéricos convivem pacificamente, com as receitas a serem, geralmente, passadas por DCI. Outras reservas chamam à atenção: a de sangue é uma delas. Há um banco de sangue com uma quantidade estratégica armazenada para responder a

gicas as principais urgências médicas

O USS Enterprise é um gigante dos

um eventual conflito. Mas há também

a bordo. Apesar de um elevado grau

mares, mas não se pense que o espaço

uma segunda linha, integrada por todos

de segurança, abundam as entorses e

que foge aos equipamentos bélicos e

quantos a bordo são dadores voluntá-

os membros partidos. Mas também

operacionais é muito. Todos os serviços

rios. Igualmente interessante foi a nota

as queixas relacionadas com a visão,

estão como que condensados, numa

que João Neto recolheu relacionada

fruto das operações nocturnas e do

organização irrepreensível que os tor-

com a potencialidade de uma guerra

trabalho em ambientes internos, ilu-

na funcionais apesar de relativamente

biológica: existe toda uma reserva de va-

minados artificialmente e onde os

exíguos. Assim é com o mini-hospital,

cinas, nomeadamente contra a cólera e

ecrãs de computador exigem um es-

com capacidade para três cirurgias em

o anthrax, a ameaça que pairou sobre o

forço permanente aos olhos de quem

simultâneo. E com uma enfermaria,

ocidente logo após o 11 de Setembro.

neles opera. Daí que salte à vista a re-

ainda que mínima, para os casos que

Sem uma guerra no horizonte, são

serva de lentes e óculos existente nos

requeiram isolamento. Além de um la-

sobretudo ortopédicas e oftalmoló-

serviços de saúde do porta-aviões.

boratório de análises clínicas.

66 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


Gerir os conflitos e os abusos

alcoólicas apenas quando o navio toca um porto, nunca em navegação.

O USS Enterprise

O mesmo cuidado é posto na administração de fármacos: apenas os in-

foi o primeiro porta-aviões de propulsão nuclear em todo o mundo. Foi lançado à água em

Zelar pela saúde da tripulação passa

dispensáveis, numa atitude que visa

também pela gestão de conflitos. Daí

prevenir o abuso. Daí que as receitas

a presença de uma equipa de psicó-

integrem o conceito de unidose e

logos, essenciais no apoio a homens e

que o kit de sobrevivência afecto a

mulheres que deixaram a família para

cada piloto contenha o mínimo dos

trás, que vivem um dia-a-dia de sobres-

mínimos. Por entenderem, conforme

salto, quer porque enfrentam a possi-

foi dito a João Neto, que mais vale su-

Mais de 340 metros de comprimento

bilidade de uma guerra, quer porque

portar a dor do que perder a noção

18 pisos de altura

enfrentam a heterogeneidade inerente

da realidade. Os pilotos, aliás, são su-

Mais de 93 mil toneladas de peso

ao facto de serem mais de cinco mil

jeitos a uma vigilância médica perma-

Cerca de 70 aviões de combate

indivíduos. Com origens tão diferentes

nente, de modo a acautelar eventuais

Mais de cinco mil tripulantes

como as da sociedade norte-ameri-

prejuízos em vidas e aeronaves. Pelas

Primeira missão: bloqueio a Cuba, em Outubro

cana, cuja convivência nem sempre é

mesmas razões, o pessoal envolvido

pacífica, sobretudo quando confinada

na defesa directa do navio, nomeada-

a um porta-aviões em mar alto.

mente no controlo aéreo e radares, é

Gerem-se os conflitos e previnem-se os

submetido à mesma avaliação.

comportamentos de risco. O que expli-

A bordo do USS Enterprise não se

ca a significativa reserva de preserva-

correm riscos. Em matéria de saúde,

tivos. As doenças venéreas espreitam

claro. Porque o risco é uma constante

em cada porto, nos muitos do mundo

inevitável na missão de um navio de

de apoio à presidente das Filipinas Corazón

em que o navio fundeia. Ademais, con-

guerra. Em tempo de paz, cultivam-

Aquino, contra uma tentativa de golpe rebelde

forme o director do Museu da Farmácia

se as relações sociais. E até se contri-

verificou pessoalmente, a tripulação

bui para enriquecer o espólio de um

apresenta uma média etária muito bai-

museu que tem procurado ir sem-

xa, o que corresponde a uma visa sexu-

pre mais além: o da Farmácia. Desta

almente activa.

vez, com uma receita de aspirina em

O risco anda também associado ao

nome de João Neto e um saquinho

consumo de álcool e, naturalmente,

concebido para acolher o conceito

de drogas. O rigor é extremo: bebidas

de unidose.

Setembro de 1960, tendo entrado ao serviço da Marinha norte-americana em Novembro de 1961. Eis algumas das principais características técnicas e das missões em que participou o Big E, como é designado:

de 1962 •

É o primeiro navio nuclear a entrar em combate, em Dezembro de 1965, durante a guerra do Vietname

Em Abril de 1986, é o primeiro navio nuclear a cruzar o canal do Suez

Em Dezembro de 1989 participa numa missão

Em Junho de 1996, integra o plano de bloqueio aéreo da Bósnia

Em Dezembro de 1998, participa na Operação Tempestade do Deserto, contra o Iraque

Em Outubro de 2001, participa na ofensiva contra o regime talibã, no Afeganistão

Em 2014-14, deverá ser desactivado, após mais de 50 anos no mar. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 67


laboratório rh A Farmácia e os Talentos (III) Como motivar colaboradores? Jaime Ferreira da Silva *

os despoletaram) do que procurarmos

rico), os interesses, os motivos (p.e.

penho profissional dos indivíduos, a

uma causa única na origem de tudo.

valores, aspirações), o estilo pessoal2.

motivação para o trabalho permanece

O modelo explicativo do mundo do

II. Biografia ‒ integra tudo aquilo que

porventura, a mais misteriosa e volá-

1

trabalho WOW (World of Work Model)

o indivíduo adquiriu por via da apren-

til. A observação dos comportamentos

agrupa as variáveis que explicam e

dizagem, nomeadamente as capaci-

de trabalho mostra-nos que uma mes-

condicionam

dades/competências,

ma tarefa tanto pode ser interessante

profissionais em 5 domínios, fornecen-

conhecimentos e experiência.

para um indivíduo como desprovida

do-nos uma chave de leitura muito útil

III. Vida Profissional ‒ integra todas

de qualquer chama para um outro,

para a compreensão do que está em

as dimensões que permitem descre-

situando-se ambos num mesmo pata-

jogo quando se fala de motivação.

ver, explicar, e eventualmente predi-

mar de qualificação para o efeito.

Figura 1

zer os comportamentos directamen-

t n en ias h e c i m

lo

Pos to i dade d c a p a C Ap t

Pares

Domínios: I

- Traços Pessoais

II - Biografia

te relacionados com o desempenho no trabalho. Este domínio estabelece

oc

Co

Externos

O

única e inequívoca para uma das

ordenação de equipas - Como moti-

vo s

to

Cu

demos que não existe uma resposta

quem tem responsabilidades de co-

ti

i Est bj a E i S xperiê nc ec tivo eis ltu Pap ex ra nt Subordinados Co

Pelo exposto, facilmente compreen-

interrogações mais frequentes de

Mo

temporais distintos.

III

- Vida Profissional

IV - Relações Socias V

qualificações,

s

empresa especializada em

pela mesma pessoa em momentos

recursos humanos

Atr i bu Chef ias i çõ n u es o F lh Pr o a b f iss ra c a i ç f i õ T l e a õe s e Qu e s I n t ere s idõ

es ss

avaliada positiva e negativamente

comportamentos

çã o

A mesma tarefa pode igualmente, ser

Director Executivo da RHM,

os

o

* Jaime Ferreira da Silva,

De todas as determinantes do desem-

- Organização

a ligação entre as variáveis relativas ao interior do modelo (indivíduo) e ao exterior (contexto). IV. Relações Sociais ‒ integra as variáveis que caracterizam as interacções sociais dentro e fora da Organização, com chefias, subordinados, pares, terceiros (clientes, fornecedores, parceiros). V. Organização ‒ integra as variáveis

var e envolver a minha equipa? . As causas do comportamento humano

Os domínios são representados no

organizacionais que podem ter im-

são complexas e multifactoriais, fazen-

modelo WOW pelas curvas concên-

pacto no desempenho dos indivídu-

do mais sentido falarmos de probabili-

tricas e são os seguintes (do centro

os, nomeadamente:

dades (de ocorrência de determinados

para a periferia):

a) Funções ‒ variáveis relativas à

comportamentos) e correlações (entre

I. Traços Pessoais ‒ integra as apti-

divisão e natureza do trabalho de-

os comportamentos e os factores que

dões (p.e. raciocínio verbal e numé-

senvolvido i.e. o conjunto de tarefas

68 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


sequentemente, introduzirão novas

faz a diferença na prestação profis-

exigências no atendimento, nos co-

sional dos indivíduos e que poderá

nhecimentos e nos traços pessoais a

incluir atitudes, aptidões, traços, co-

exibir. De igual modo, uma alteração

nhecimentos, experiência, etc.

nos traços pessoais e/ou biográficos

Competência poderá ser definida

de um elemento da equipa (p.e. in-

como conjuntos de comportamentos

cremento das qualificações, alteração

que são instrumentais para a conse-

do seu estado civil) poderá produzir

cução dos resultados desejados. As

impacto no seu desempenho profis-

competências não são coisas que

e procedimentos que os indivíduos

sional, positiva ou negativamente.

as pessoas tenham, mas comporta-

têm de executar no desempenho das

O modelo WOW é sistémico e inte-

mentos que poderão ser modificados

suas funções.

ractivo, influenciado tanto de dentro

através da aprendizagem. Acima de

b) Cultura ‒ sistema de crenças e va-

para fora como de fora para dentro

tudo, as competências exprimem-se!

lores que enquadram e têm impacto

e esse pulsar é permanente. Ignorá-lo

No âmbito desta reflexão alargada,

na definição dos objectivos e limites

pensando que o estado actual da equi-

desenvolveu-se um conceito adja-

das funções e na avaliação dos de-

pa tenderá a perpetuar-se no tempo é

cente ao de competência, que nos

sempenhos profissionais.

uma armadilha do pensamento, mui-

permite inferir sobre a probabilida-

c) Atribuições ‒ responsabilidades e

to perigosa em funções de gestão e

de de certa pessoa poder vir a ser

papéis que se espera que os titulares

coordenação de pessoas!

competente em determinadas cir-

das funções assumam.

Os conceitos de aptidão, atitude, ca-

cunstâncias. Falamos do potencial

d) Contexto ‒ definição do enqua-

pacidade, traço, estilo pessoal, têm

para a competência que abrange

dramento de cada função em ter-

sido utilizados desde há muito para

os atributos necessários (atitudes,

mos de nível hierárquico, localização

descrever o potencial de cada pessoa

conhecimentos, crenças, valores,

na estrutura, departamento/sector

para emitir determinados comporta-

aptidões, etc) para que determina-

que integra, relações com o exterior

mentos de trabalho. Frequentemente,

da pessoa possa vir a produzir os

da Organização (clientes, fornecedo-

ouvimos expressões de apreço e/ou

comportamentos desejados (com-

res, parceiros).

desagrado sobre terceiros, elogiando

petências).

da

a sua capacidade de lidar com clien-

O potencial para a competência

Farmácia Comunitária à luz deste

tes difíceis ou criticando a sua falta

é um conceito muito útil quando

modelo,

Se

analisarmos

a

facilmente

realidade

compreende-

de aptidão para assuntos burocráti-

se pretende avaliar pessoas para

remos que uma simples mudança

cos . Como a diversidade de concei-

determinados cargos (admissões,

de contexto (p.e. transferência de

tos introduz muitas vezes ruído na

promoções, mudança de funções),

instalações, nova urbanização na

comunicação, na década de oitenta

em que o valor preditivo das deci-

proximidade) produzirá uma série

do séc. passado desenvolveu-se o

sões que vierem a ser tomadas (p.e.

de impactos nas outras dimensões

conceito de competência (Boyatzis,

promover o indivíduo A em detri-

‒ relações sociais que se alteram (p.e.

1982) que se pretende mais abran-

mento do B, delegar no C a função

nova tipologia de utentes) e que con-

gente, designando esse algo que

Gestor da Qualidade) estabelecerá FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 69


laboratório rh a diferença entre sucesso e fracasso. A sua interligação

os indivíduos a empreender as acções necessárias à sua

com as competências, os resultados e o contexto po-

satisfação. Essas necessidades podem ser hierarquizadas,

derá explicitar-se da seguinte forma:

situando-se na base da pirâmide as necessidades mais bá-

Figura 2

sicas e elementares. Existe uma relação de subordinação das necessidades mais sofisticadas (nec. do Eu e de autore-

Potencial para as Competências

Competências

Resultados

Comportamentos

alização) em relação às mais elementares (nec. fisiológicas, de segurança e sociais) que as precedem. Aquelas só tenderão a emergir quando estas estiverem satisfeitas.

Contexto

Segundo Maslow, esta hierarquização das necessidades

Factores Situacionais

estaria relacionada com a evolução do Homem, na medida em que as necessidades mais primárias foram dominantes

Compreender as determinantes dos comportamentos

durante os primeiros estádios da evolução da espécie hu-

profissionais e sua interacção sistémica é um requisito fun-

mana, em que a luta pela sobrevivência num meio hostil

damental para uma boa GRH3 em qualquer Organização.

enformava o quotidiano.

A motivação para o trabalho é um construto complexo

A Teoria de Maslow aplicada ao mundo do trabalho, pode aju-

dada a abrangência do conceito e as inúmeras causas que

dar-nos a compreender as motivações dos trabalhadores com

poderão estar-lhe subjacentes. Genericamente, podere-

diferentes níveis de qualificação, ajudando-nos a perceber

mos definir motivação como a energia responsável pelo

como as necessidades do Eu e de Autorealização adquirem

desencadeamento, direcção, manutenção e intensidade

maior saliência quando as necessidades mais primárias estão

dos comportamentos (Pinder, 1998).

asseguradas; em contrapartida, quando isso não se passa (p.e.

Das inúmeras teorias da motivação produzidas nos últi-

desemprego ou doença prolongada), os indivíduos tenderão

mos 100 anos, 2 delas merecem especial destaque dada

a remeter para segundo plano as necessidades do topo, cen-

a sua funcionalidade operativa. Falamos da Pirâmide das

trando-se na resolução das necessidades mais básicas.

Necessidades de Maslow (1970) (fig.3) e do Modelo de

O Modelo de Definição de Objectivos de Locke & Latham,

Definição de Objectivos (Locke & Latham, 2002)

postula que o comportamento dos indivíduos é desencadeado e mantido através da sua vontade de atingir objectivos significativos. Para que essa motivação permaneça

Auto Realização

Figura 3

Subordinação e Precedências

Do EU (Ego) Socias Segurança Necessidades Fisiológicas

forte, desencadeando os comportamentos necessários à sua consecução, a definição dos objectivos em causa deverá ser SMART: S (specific) ‒ objectivos específicos M (measurable) ‒ objectivos mensuráveis A (attainable) ‒ objectivos atingíveis R (relevant) ‒ objectivos relevantes T (timely) ‒ objectivos situados no tempo A motivação neste processo é alimentada externamente por estes 5 factores e internamente por um factor que de-

A Teoria de Maslow parte do pressuposto que a motiva-

signamos de compromisso pessoal. Por princípio, a força

ção humana se fundamenta em necessidades por satisfa-

desse compromisso será tanto maior quanto maior a par-

zer, que constituem os motivos ( motores ) que impelem

ticipação dos envolvidos na definição desses objectivos

70 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 71


laboratório rh

ou, em alternativa, a sua margem de

tências da sua equipa e as que

liberdade na sua negociação.

são requeridas pela actividade.

Quando se fala de motivação dos co-

Estabeleça medidas correctivas

laboradores para o trabalho não exis-

dos desvios. Se antecipar no-

tem receitas únicas dado que cada

vas exigências profissionais que

pessoa é uma entidade complexa e

apelem a um reforço no investi-

única no modo de interagir no con-

mento em RH4 na sua Farmácia

texto. Poderemos contudo, extrair

(novas contratações, formação,

alguns princípios de acção inspirados

coaching), avalie o potencial para

nas teorias descritas e nas práticas que

as novas competências dos seus

temos observado ao longo dos anos:

colaboradores; se necessário, re-

12 Dicas Práticas para Motivar os Colaboradores 1.

4.

que não sejam suas. Valorize pu-

Verifique se os seus colaborado-

blicamente os contributos válidos

res estão alinhados nas atitudes

sem esquecer que os menos váli-

e nos comportamentos com os

dos são apenas degraus de acesso

valores da sua Farmácia, a sua missão e visão estratégica do

radores, nomeadamente, as suas

negócio. Identifique os desfa-

da sua Farmácia e do trabalho

idiossincrasias, os seus interesses

samentos, esclareça as causas e

que lá se desenvolve entusias-

e motivações (o que mais gostam

efectue os ajustamentos neces-

mam particularmente cada um

e menos gostam de fazer no tra-

sários. Muitas vezes, uma melhor

dos seus colaboradores. Procure

balho). Pelo menos uma vez por

comunicação (e mais frequente)

na medida do possível, que cada

à solução encontrada! 7.

lima as arestas necessárias. 5.

Procure conhecer que atributos

um deles vista o fato que me-

Mantenha o trabalho organizado

lhor lhe assente.

do conhecer a sua visão para os

e dividido com clareza pela equi-

próximos anos em termos profis-

pa. Um ingrediente essencial da

confiança em cada colaborador

sionais (e, se possível, pessoais).

motivação é o facto das pessoas

não se esqueça de delegar res-

8.

À medida que for adquirindo

Mantenha uma visão esclarecida

sentirem que trabalham numa

ponsabilidades. Estará dessa for-

sobre as competências profissio-

empresa estruturada, com colu-

ma, a criar estímulos poderosos

nais requeridas na actualidade

na vertebral .

ao desenvolvimento profissional

Crie condições para que os colabo-

de quem trabalha consigo.

em Farmácia Comunitária, pro-

72 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

especializada nessa avaliação.

sível cada um dos seus colabo-

privada com cada um, procuran-

3.

Implemente as boas ideias mesmo

Procure conhecer o melhor pos-

ano, mantenha uma conversa

2.

corra a uma assessoria externa

6.

curando identificar novas exigên-

radores sintam a Farmácia como

cias no curto/médio-prazo.

sendo um pouco deles, também.

sem esquecer a importância vital

Avalie periodicamente a sintonia

Partilhe

do compromisso individual na con-

/ desfasamento entre as compe-

tões, discuta princípios de acção.

ideias,

acolha

suges-

9.

Trabalhe com objectivos SMART

secução dos resultados colectivos.


Motivação - a energia responsável pelo desencadeamento, direcção, manutenção e intensidade dos comportamentos.

10. Pratique uma política salarial que contemple uma retribuição

rigir os erros que eventualmente

1

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

cometer!

dos Psicólogos Boyatzis

fixa e uma variável (em função

12. Inclua os seus colaboradores na

dos resultados da Farmácia e do

sua reflexão estratégica sobre o

colaborador), ancorada num sis-

devir da Farmácia. Se identificar

tema objectivo de avaliação dos

situações de fraco potencial para

desempenhos.

as

competências

Baseado nas investigações

futuramente

11. Ouça mais do que fale, procure

requeridas, accione planos de

liderar dando o exemplo. Não se

contingência. Adiar uma decisão

preocupe em ser super, procure

difícil sine die é alimentar um pro-

apenas ser justo e capaz de cor-

blema de gravidade crescente.

Boyatzis, R. E. The Competent Manager , in Robertson, I., Callinan, M. e Bartram, D. (2002) Organizational Effectiveness, John Wiley & Sons, West Sussex. Locke, E.A. e Latham, G.P. A Theory of Goal-Setting and Task Performance , in Robertson, I., Callinan, M. e Bartram, D. (2002) Organizational Effectiveness, John Wiley & Sons, West Sussex. World of Work Model SHL Group, in Robertson, I., Callinan, M. e Bartram, D. (2002). Organizational Effectiveness, John Wiley & Sons, West Sussex.

(1982), Mishel & Shoda (1995) e operacionalizado pela empresa internacional de Consultoria, SHL. 2

Habitualmente

designado de personalidade . 3

Gestão dos Recursos

Humanos. 4

Recursos Humanos.

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 73


consultoria jurídica Medicamentos

Tradicionais

à base de Pl

a

as nt

Filipe Nuno Azóia * e Sónia Romano ** Pelas suas características e pela quantidade de produtos disponíveis no mercado, tornou-se cada vez mais premente a necessidade de definir um enquadramento jurídico preciso, quanto à introdução no mercado, fabrico, rotulagem, comercialização e acondicionamento destes produtos, que garanta

o acesso a

medicamentos e preparações à base de plantas em condições de segurança, qualidade e com informa-

substâncias derivadas de

ção clara para o utilizador

plantas, uma ou mais prepa-

destes produtos.

* Advogado da PLMJ, Sociedade de Advogados

rações à base de plantas ou uma ou mais

Pela sua importância, fo-

substâncias derivadas de plantas em associação com

ram apresentados vários

uma ou mais preparações à base de plantas, que, cumulati-

Ante-projectos de Decreto-Lei sobre produtos à base de

vamente, (i) tenha indicações exclusivamente adequadas a

plantas, os quais nunca vieram a ser publicados. O Estatuto

medicamentos à base de plantas e, dadas a sua composição

do Medicamento, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 176/2006,

e finalidade, se destine e seja concebido para ser utilizado sem

de 30 de Agosto, decorrente também de legislação comunitá-

vigilância de um médico para fins de diagnóstico, prescrição

ria, transpõe para o direito interno a Directiva 2004/24/CE, do

ou monitorização do tratamento, (ii) se destine a ser admi-

Parlamento Europeu e do Conselho, de 31 de Março de 2004,

nistrado exclusivamente de acordo com uma dosagem e

regulando pela primeira vez, a matéria respeitante aos medi-

posologia especificadas, (iii) possa ser administrado por

camentos tradicionais à base de plantas.

uma ou mais das seguintes vias: oral, externa ou inala-

** Farmacêutica do Núcleo de Acordos, Receituário e Codificação da ANF

tória, (iv) já seja objecto de longa utilização terapêutica,

Conceito

de acordo com os dados bibliográficos ou pareceres de

«Medicamento tradicional à base de plantas», qualquer medica-

ou um medicamento equivalente, teve uma utilização

mento à base de plantas, ou seja, qualquer medicamento que

terapêutica durante os trinta anos anteriores, incluindo,

tenha exclusivamente como substâncias activas uma ou mais

obrigatoriamente, quinze anos num Estado membro, (v)

peritos que provem que o medicamento em questão,

74 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


Em regra, a autorização de comercialização de medicamentos tradicionais à base de plantas obtÊm-se atravÊs de um procedimento de registo de utilização tradicional.

%XPOSIÂ ĂŽO DE 0INTURA

seja comprovadamente não nocivo quando utilizado nas condiçþes especificadas, de acordo com a informação existente e reputada suficiente, e possa demonstrar, de acordo com informação existente e reputada suficiente, efeitos farmacológicos ou de eficåcia plausível, tendo em conta a utilização e a experiência de longa data.

Procedimentos Em regra, a autorização de comercialização de medicamentos tradicionais à base de plantas obtÊm-se atravÊs de um procedimento de registo de utilização tradicional (artigos 141.º, 142.º e 142.º). No entanto, o INFARMED pode determinar a sujeição de um medicamento tradicional à base de plantas ao procedimento de autorização de introdução no mercado de medicamentos (artigos 14.º a 39.º) ou ao procedimento de registo simplificado a que estão sujeitos os medicamentos

h!INDA HÉ AS FLORESv !,&2%$/ #/%,(/

)NAUGURAÂ ĂŽO DIA DE &EVEREIRO DAS HORAS ĂŒS HORAS #ONTAMOS #ONSIGO

homeopåtico que, cumulativamente, sejam administrados por via oral ou externa, apresentem um grau de diluição que garanta a inocuidade do medicamento, não devendo este conter mais de uma parte por 10000 de tintura-mãe,

DE DE &EVEREIRO A DE -AR O DAS H ĂŒS H DE 3EGUNDA A 3ÉBADO

nem mais de 1/100 da mais pequena dose eventualmente utilizada em alopatia, para as substâncias activas cuja presença num medicamento alopåtico obrigue a receita mÊdica, e não apresentem quaisquer indicaçþes terapêuticas especiais na rotulagem ou em qualquer informação relativa ao medicamento (artigo 137.º). PorÊm, a disposição do Estatuto do Medicamento que prevê a possibilidade de INFARMED determinar a sujeição de um medicamento tradicional à base de plantas ao procedi-

3EDE DA !SSOCIA ÎO .ACIONAL DAS &ARMÉCIAS 2UA -ARECHAL 3ALDANHA ,ISBOA


consultoria jurídica

mento de autorização de introdução

conhecimento mútuo (artigo 40.º)

lizador deve consultar um médico ou

no mercado de medicamentos ou ao

e o procedimento descentraliza-

outro profissional de saúde, designa-

procedimento de registo simplificado

do (artigo 47.º) são ainda aplicáveis

damente um farmacêutico, se os sin-

a que estão sujeitos os medicamen-

por analogia aos registos de utili-

tomas persistirem durante o período

tos homeopático (artigo 141.º, n.º 3)

zação tradicional sempre que tiver

de utilização do medicamento ou

não estabelece quais as circunstân-

sido elaborada uma monografia co-

se surgirem reacções adversas não

cias que determinam o afastamento

munitária de plantas medicinais res-

mencionadas no folheto informativo,

do regime regra do procedimento de

peitantes a medicamentos à base de

e (iii) a natureza da tradição associa-

registo de utilização tradicional.

plantas abrangidos pelo artigo 20.º

da ao medicamento em questão. Por

Na verdade, um medicamento tradi-

(uso clínico bem estabelecido) e a

último, resta referir que a publicida-

cional à base de plantas pode reunir

medicamentos tradicionais à base

de dos medicamentos tradicionais à

todas as condições que se encon-

de plantas em que o medicamen-

base de plantas obedece ao dispos-

tram previstas para estar sujeito a

to à base de plantas seja composto

to no Estatuto do Medicamento, e

um procedimento de registo de uti-

por substâncias derivadas de plantas,

é sempre acompanhada da menção

lização tradicional (artigo 141.º, n.º

preparações ou associações das mes-

«medicamento tradicional à base

1), o interessado pode apresentar o

mas constantes da lista comunitária.

de plantas, para utilização na ou nas indicações especificadas,

requerimento de registo de utilização tradicional que inclua todos os elementos descritos no artigo 142.º, n.º 1, acompanhado de todos os dados e

Rotulagem, folheto informativo e publicidade

documentos previstos no artigo 142. º, n.º 2, e o INFARMED, simplesmente,

A rotulagem e o folheto informativo

determinar a sua sujeição ao procedi-

de medicamentos tradicionais à base

mento de autorização de introdução

de plantas obedecem, com as ne-

no mercado de medicamentos ou ao

cessárias adaptações, ao disposto no

procedimento de registo simplificado

Estatuto do Medicamento, e contêm

a que estão sujeitos os medicamentos

ainda as seguintes informações: (i) a

homeopático.

menção de que se trata de um medi-

Estamos, pois, perante um poder dis-

camento tradicional à base de plantas

cricionário do INFARMED que, natu-

para utilização na ou nas indicações

ralmente, vem introduzir incerteza e

nele especificadas e baseado exclu-

insegurança nesta matéria.

sivamente numa utilização de longa

Finalmente, o procedimento de re-

duração, (ii) a indicação de que o uti-

76 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

baseado exclusivamente numa utilização de longa data».


reunioes e simpósios Internacionais DATA

EVENTO

16 de Março de 2007 Maputo ‒ Moçambique

10 anos da Licenciatura de Farmácia em Moaçambique ‒ Valor acrescentado da Intervenção Farmacêutica Informações: Ordem dos Farmacêuticos www.ordemfarmaceuticos.pt

22 a 25 de Abril de 2007 Amesterdão - Holanda

3rd World Congress of the Board of Pharmaceutical Sciences of FIP ‒ Optimising drug therapy: an imperative for world health Contactos: Registration & Abstract; Handling; NewBrooklyn; P.O. Box 73; NL-3620 AB Breukelen; The Netherlands; Tel +31 346 266110; Email: registration@newbrooklyn.nl

31 de Agosto a 6 de Setembro de 2007 Beijing - China

67th International Congress of FIP Contactos: Andries Bickerweg 5; P.O. Box 84200; 2508 AE The Hague; The Netherlands Tel.: +31-(0)70-302 1982/1981; Fax: +31-(0)70-302 1998/1999 E-mail: congress@fip.org; Website: http://www.fip.org/beijing2007

27 a 30 de Setembro de 2007 Dusseldorf - Alemanha

EXPOPHARM 2007 International Pharmaceutical Trade Fair Contactos: Gabriele Stadler; Carl-Mannich-Straße 26; 65760 Eschborn Phone: +49 6196 - 92 84 11; Fax: +49 6196 - 92 84 04 E-Mail:g.stadler@wuv.aponet.de; www.expopharm.de

Nacionais DATA

EVENTO

28 de Fevereiro de 2007 Porto

I Jornadas sobre Intoxicações: Intoxicações, Interacções e Reacções Adversas a Medicamentos Auditório Principal da Universidade Fernando Pessoa (Sede) Praça 9 de Abril, 349, 4249-004 Porto Inscrição e outras informações: http://www.ufp.pt/

6 de Março de 2007 Lisboa

1ª Conferência ANF sobre o modelo Europeu da Farmácia O Modelo Ibérico de Propriedade de Farmácia Centro de Congressos de Lisboa Informações: www.anfonline.pt Telef: 21 340 06 51/ 59

8 a 10 de Março de 2007 Lisboa

Congresso Anual dos Farmacêuticos ‒ Acrescentar Valor à Saúde Centro de Congressos de Lisboa Informações: Ordem dos Farmacêuticos www.ordemfarmaceuticos.pt

10 de Abril de 2007 Lisboa

2ª Conferência ANF sobre o modelo Europeu da Farmácia Os Modelos Nórdicos de Propriedade de Farmácia Centro de Congressos de Lisboa Informações: www.anfonline.pt Telef: 21 340 06 51/ 59

17 de Abril de 2007 Lisboa

3ª Conferência ANF sobre o modelo Europeu da Farmácia A Farmácia na Europa: Lições para a Evolução do Modelo Farmacêutico Português Centro de Congressos de Lisboa Informações: www.anfonline.pt Telef: 21 340 06 51/ 59

26 de Novembro a 1 de Dezembro de 2007 Albufeira

World Healthcare Student s Symposium 2007 ‒ Differents Rules, One Goal Para mais informações: http://whss2007.org/site

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 77


noticiário Professora Irene Silveira

Mérito Científico Reconhecido

ticular destaque para os esforços profícuos no âmbito da sua actividade como presidente do Conselho Científico da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra.

O mérito científico da Professora Irene Silveira voltou a ser reconhecido recentemente aquém e além fronteiras. O último desenvolvimento numa carreira repartida entre a docência e a investigação, com uma passagem pela intervenção político-profissional, foi corporizado com a nomeação

Anteriormente, esta condecoração do Estado brasileiro havia sido entregue a personalidades portuguesas do domínio político, como o ex-Presidente da República Ramalho Eanes, ex-primeiro-ministro António Guterres e o antigo presidente do Parlamento Ribeiro de Almeida.

para a presidência do Conselho Científico da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).

Uma carreira multifacetada

A eleição ocorreu na primeira reunião daquele órgão, em

Catedrática da Faculdade de Farmácia da Universidade de

Novembro último, por consenso de todos os membros pre-

Coimbra, a Professora Irene Silveira é actualmente direc-

sentes. Todos eles ‒ conforme o diploma que consagrou a

tora do Laboratório de Bromatologia. O seu percurso aca-

sua escolha ‒ personalidades de reconhecido mérito cien-

démico é longo e profícuo, quer enquanto docente e in-

tífico, ligadas a instituições de investigação consideradas de

vestigadora, quer enquanto membro de órgãos de gestão

referência ao nível nacional em áreas técnico-científicas que

da Universidade. Assim, de 1998 a 2003 ocupou o cargo

integram a temática da segurança alimentar .

de vice-reitora, tendo de 2004 a 2006 integrado o Senado.

Ao seleccionar os elementos que integram o Conselho

Durante este mesmo período, presidiu ao Conselho

Científico da ASAE, o governo visou, ainda segundo o

Científico da Faculdade de Farmácia. Ainda na faculdade

mesmo diploma, reforçar a confiança dos consumidores

é desde 2004 coordenadora do estágio de pré-licenciatura

e operadores económicos nos processos de tomada de

em Ciências Farmacêuticas.

decisão com bases eminentemente científicas.

A sua actividade científica abrange a participação e a co-

É este o valor reconhecido à Professora Irene Silveira e con-

ordenação de projectos nacionais e europeus, o desenvol-

sagrado com a sua eleição para presidir àquele organismo.

vimento e/ou aplicação de novas metodologias analíticas

O mesmo reconhecimento presidiu à atribuição da Ordem

em áreas como os resíduos de fármacos em alimentos.

Internacional do Mérito ao Descobridor do Brasil Pedro

É autora e co-autora de 130 artigos e resumos em publi-

Álvares Cabral. Constituída em 1968, esta ordem honorífica

cações nacionais e estrangeiras, tendo participado em

propõe-se distinguir as personalidades brasileiras e interna-

congressos nacionais e estrangeiros com cerca de 90 co-

cionais cujos méritos de honra, de trabalho, de solidariedade

municações científicas e proferido conferências em três

e de cooperação, entre povos e culturas, devam ser perpe-

dezenas de encontros e seminários.

tuados para conhecimento das gerações vindouras e para

Também a nível político-profissional se fez sentir o seu en-

público apreço dos respectivos países .

volvimento, tendo presidido à Secção Regional do Centro

Aposta em Abril de 2006 na Universidade de Coimbra, a con-

da Ordem dos Farmacêuticos de 1994 a 2000, em paralelo

decoração ‒ com o grau superior de Grã Cruz ‒ pretendeu

com o lugar de vogal da Direcção Nacional.

sublinhar o valor e a exemplaridade dos predicados que

O seu desempenho na Ordem dos Farmacêuticos abrange

envolvem a carreira da Professora Irene Silveira, com par-

ainda o lugar de presidente da Mesa da Assembleia Geral.

78 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


Formação e solidariedade no Centro

Parlamento recomenda unidose

A formação e a solidariedade estive-

ou não respeito aos medicamentos

A Assembleia da República aprovou, no passado dia 18

ram de mãos dadas na palestra de

propriamente ditos, afectam a acti-

de Janeiro, uma recomendação ao governo no sentido

Natal promovida pela Delegação

vidade da farmácia.

de adoptar a unidose na dispensa e comercialização

Centro da ANF. A farmácia na tran-

São novos desafios e foi sobre eles

dos medicamentos em todo o ambulatório .

sição do Sistema de Saúde foi o

que se pronunciou o Professor Batel

Esta recomendação integra-se numa resolução visando a

tema escolhido, com apresentação

Marques. Perante cerca de quatro

adopção de medidas de expansão do consumo de gené-

a cargo do Professor Francisco Batel

dezenas de pessoas reunidas na

ricos e de redução do desperdício de medicamentos pres-

Marques, da Faculdade de Farmácia

sede da associação em Coimbra,

critos e de orientações em diagnóstico e terapêutica .

no dia 13 de

Recorde-se que a unidose, há muito defendida pelos

Dezembro, co-

farmacêuticos, está por enquanto apenas prevista para

meçou por um

as farmácias de oficina a instalar nos hospitais, ao abri-

enquadramen-

go da legislação publicada em Dezembro último e que

to histórico do

aguarda ainda regulamentação.

SNS, após o

Além desta medida, o parlamento recomenda ao go-

que se centrou

verno o desenvolvimento de um programa que garan-

no presente e

ta o crescimento do mercado de genéricos, equiparável

futuro do sec-

ao verificado nos países mais desenvolvidos nesta área,

tor,

e ainda mecanismos conducentes a que os respectivos

apresen-

tando a nova

preços sejam efectivamente inferiores aos de marca.

legislação.

No texto publicado em Diário da República de 01 de

da Universidade de Coimbra.

Para os presentes, esta foi mais uma

Fevereiro, os deputados advogam igualmente o incenti-

Um tema pertinente à luz dos mais

oportunidade formativa e também

vo à prescrição de medicamentos genéricos nas unidades

recentes desenvolvimentos legis-

uma oportunidade de evidencia-

funcionais do SNS (unidades de saúde familiar, centros de

lativos, nomeadamente dos que

rem espírito solidário, na medida

saúde, serviços de urgência, serviços de consulta externa

concernem a farmácia e os farma-

em que foi efectuada uma recolha

hospitalar), em função dos objectivos nacionais .

cêuticos. Para o sector, o governo

de presentes destinados a crianças

Com o mesmo objectivo, sustenta-se nesta resolução

anunciou um modelo liberal, cujos

apoiadas por duas instituições da

que seja promovida a consolidação da actividade e

primeiros passos estão já vertidos

cidade.

competitividade da indústria farmacêutica, em parti-

em projectos de diploma.

O resultado desta solidariedade

cular no segmento dos genéricos.

No sector da saúde, outras medidas

contribuiu para tornar mais feliz o

Ao governo é ainda recomendado que adopte, em co-

estão em curso, nomeadamente a

Natal das crianças carenciadas do

laboração com as organizações profissionais do sector,

reorganização das urgências hospi-

Colégio de Órfãos de São Caetano

um manual ou guia das boas práticas em exames de

talares e a criação das unidades de

e da Casa da Infância Dr. Elísio de

diagnóstico e terapêutica , orientador e facilitador da

saúde familiar. Todas elas, digam

Moura.

prática profissional. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 79


noticiário Natal na ANF O Natal é indissociável das crianças e, por isso mesmo, foi a elas que a ANF dedicou a festa or-

Portugueses insatisfeitos com cuidados de saúde

ganizada no dia 9 de Dezembro último. Uma festa com muitas surpresas e, naturalmente, prendas. A animação esteve a cargo da Animarte, que levou à sede da associação, em Lisboa, uma peça de tea-

Mais de 60 por cento dos portugueses manifestou-se não estar

tro evocativa da época natalícia ‒ Um outro con-

satisfeito com o sistema de saúde do nosso país, 45 por cento

to de Natal , de Charles Dickens, foi representado

dos activos e 42 por cento dos reformados encontra-se pou-

por pequenos artistas dos 7 aos 15 anos.

co satisfeito e cerca de 26 por cento dos reformados confessa

Os espectadores mais novos receberam ainda a

mesmo estar nada satisfeito , com a qualidade dos cuidados

visita de Flip, guitarrista da banda da protagonista

de saúde em Portugal. Estas foram algumas das conclusões re-

da telenovela Floribela. Um encontro para recor-

tiradas da Axa Barómetro Reforma, que abrangeu um universo

dar sob a forma de um autógrafo.

de 16 países, dos quais Portugal é o que menos satisfação mos-

O que não pode faltar numa festa de Natal são

tra perante a actual situação do sistema de saúde.

prendas. Coube aos artistas da Animarte fazer a

Este estudo, realizado pela seguradora Axa, revela ainda que,

sua distribuição, normalmente o momento mais

comparando os activos e reformados que se sentem cheios de

ansiado pelos mais pequenos.

saúde , Portugal está no fim da lista dos países analisados. Apenas

Sempre bem recebido é o lanche, com o qual

os activos japoneses se sentem com menos saúde que os portu-

encerrou esta confraternização natalícia.

gueses. Mesmo assim, 83 por cento dos activos sente-se cheio de saúde ou com com saúde , sobretudo os homens com menos de 45 anos. Entre os reformados, a percentagem dos que se sentem com saúde está equilibrada com a percentagem dos que se sentem sem saúde (47 por cento contra 53 por cento). Relativamente à prática desportiva e à manutenção da forma física, o AXA Barómetro Reforma revela os portugueses são também os que menos desporto pratica. Só 42 por cento da população activa e 21 por cento da população reformada diz praticar desporto com regularidade. Realizado de Julho a Setembro de 2006, o AXA Barómetro Reforma pretendeu estudar e comparar as atitudes face à reforma e diversos índices, em 16 dos países: Alemanha, Austrália, Bélgica, Canadá, China, Espanha, Estados Unidos da América, França, Hong-Kong, Itália, Japão, Nova Zelândia, Países Baixos, Reino Unido, Singapura e Portugal. 80 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


11ª campanha de recolha de radiografias Farmácias premiadas A 11ª campanha de recolha de radio-

Lista das farmácias distinguidas

grafias, ao abrigo da parceria entre a Farmácia

Localidade

Distrito

Peso

Farmácia São Roque

Aguada de Baixo

Aveiro

100

Farmácia Martins Oliveira

Nogueira da Regedoura

Aveiro

70

Farmácia Fonseca

Beja (Santa Maria da Feira)

Beja

75

A assinalar os bons resultados, foram dis-

Farmácia da Misericórdia

Cuba

Beja

70

tinguidas as duas farmácias que, em cada

Farmácia Sousa Alves

Fafe

Braga

80

Farmácia Barbosa

Vila Nova de Famalicão

Braga

70

Farmácia Afonso

Vinhais

Bragança

15

Assistência Médica Internacional (AMI) e a ANF, resultou em mais um sucesso ao serviço da solidariedade.

distrito, mais quilos recolheram nos dias em que decorreu a campanha (5 a 23 de

Farmácia Albuquerque

Vinhais

Bragança

10

Junho último). A cada uma dessas farmá-

Farmácia Garcia Guerra

Oleiros

Castelo Branco

57

cias foi atribuído um prémio simbólico

Farmácia Morgado Duarte

Castelo Branco

Castelo Branco

30

Farmácia Cruz

Cantanhede

Coimbra

100

Farmácia Fonseca

Lousã

Coimbra

80

Farmácia Lima Natário

Miranda Do Corvo

Coimbra

80

O maior contributo esteve a cargo da

Farmácia da Misericórdia

Évora (Santo Antão)

Évora

77

Farmácia Fonte da Moura, em Lordelo

Farmácia Paços

Malagueira

Évora

71

Farmácia Crespo Santos

Faro (São Pedro)

Faro

220

Farmácia S. Brás

São Brás de Alportel

Faro

77

Farmácia Manaia

Seia

Guarda

25

Alto do Pina (Lisboa), com 260 quilos, e

Farmácia Patricio

Gouveia (São Pedro)

Guarda

20

da Farmácia Crespo Santos, de São Pedro

Farmácia Central

Melo

Guarda

20

Farmácia Pacheco

Vide

Guarda

20

Farmácia Paranhense

Paranhos

Guarda

20

Farmácia Duarte

Marinha Grande

Leiria

130

angariar fundos indispensáveis à prossecu-

Farmácia Medeiros

Avelar

Leiria

115

ção do trabalho humanitário da AMI, além

Farmácia Esperança Farmácia Central Carnaxide Farmácia Calado Lda.

Alto Do Pina

Lisboa

260

‒ o livro Histórias para adormecer 2 , editado pela AMI.

do Douro (Porto), com 300 quilos recolhidos, seguida da Farmácia Esperança, de

(Faro), com 220 quilos. A campanha de recolha de radiografias visa

de

Carnaxide

Lisboa

200

Ajuda, Salvador e Santo Ildefo

Portalegre

45

Farmácia Esteves Abreu Lda.

Portalegre

44

Farmácia Fonte da Moura

Lordelo do Ouro

Porto

300

Das radiografias entregues nas farmácias

Farmácia Das Oliveiras

Rio Tinto

Porto

105

(bem como noutras instituições aderen-

Farmácia Silva

Abrantes (São Vicente)

Santarém

108

tes) é retirada prata, cujo valor no merca-

Farmácia Mota Ferraz

Abrantes (São João)

Santarém

100

Farmácia Rainha Santa

Cova da Piedade

Setúbal

150 150

de contribuir para a preservação do ambiente na medida em que impede que as películas sejam deitadas no lixo comum.

do é canalizado para o projecto de acção

Farmácia Avelar da Silva

Cova da Piedade

Setúbal

social da AMI em Portugal, bem como

Farmácia Moderna

Viana do Castelo (Santa Maria

Viana do Castelo

80

para as suas missões internacionais.

Farmácia Nelsina

Viana do Castelo (Santa Maria

Viana do Castelo

60

Em 2005, foram conseguidas 96 tonela-

Farmácia Lopes

Barroselas

Viana do Castelo

60

Farmácia Seixas

Vila Real (Nossa Senhora da Conceição)

Vila Real

121

Farmácia Pereira da Silva

Santa Maria Maior

Vila Real

110

objectivo para 2006 era igualar ou ultra-

Farmácia Pessoa

Oliveira de Frades

Viseu

44

passar estes valores.

Farmácia Viso

Ranhados

Viseu

40

das que renderam quase 84 mil euros. O

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 81


noticiário Dívidas do Estado ultrapassam os 1500 milhões de euros O Estado deve mais de 1520 milhões de euros a fornecedores, dos quais mais de 70% são da responsabilidade do Ministério da Saúde, avança o Tribunal de Contas, no seu parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2005. Quase metade da dívida (46,8%) já deveria ter sido paga. O parecer, entregue em Janeiro, na Assembleia da

Medidas do Governo afectam bolsa dos doentes

República, por Guilherme D Oliveira Martins, conclui que o ministério de Correia de Campos tinha, no final do ano,

As medidas que irão afectar a bolsa dos doentes no

mais de mil milhões de euros de dívidas. A maioria dos

que diz respeito aos medicamentos entraram em vi-

credores são empresas ligadas a este mesmo sector, no-

gor no passado dia 1 de Fevereiro, um mês depois do

meadamente farmacêuticas, laboratórios e fornecedores

previsto. O Governo decidiu adiar a entrada em vigor

de material hospitalar. Entre a lista encontram-se nomes

das duas medidas anunciadas no final do ano passado

como a Abbott Laboratórios, Pfizer e GlaxoSmithKline, para

‒ a redução das comparticipações nos medicamentos

além da Associação Nacional das Farmácias, devido às di-

e a baixa de preços dos medicamentos comparticipa-

vidas das comparticipações de medicamentos vendidos a

dos ‒ para atenuar os efeitos na bolsa dos doentes.

crédito nas farmácias aos utentes do SNS.

A primeira reduz até 5% a comparticipação do Estado

Na relação das dívidas dos ministérios, aparecem em se-

nos medicamentos. A segunda, baixa em 6% o preço

gundo lugar o das Obras Públicas, com 9%, seguido do da

dos medicamentos.

Defesa (4,8%), do Ambiente (3,4%) e das Finanças (3,2%).

As duas medidas deveriam ter entrado em vigor no início de 2007, mas como a redução do preço obrigou os laboratórios a reembalar os medicamentos, o Ministério

Consiste Farma

da Saúde decidiu dar 30 dias à indústria para fazer as al-

Melhorar a relação com os associados da ANF

terações. Assim, ao entrarem em vigor as duas medidas, em simultâneo, as despesas dos doentes não sofrerão grande impacto.

Com o intuito de melhorar o serviço prestado aos associa-

Este aumento para os utentes deve-se a uma diminui-

dos e suprir as suas necessidades, a ANF, em conjunto com

ção da comparticipação do SNS, passando os medica-

a Consiste, criou uma área totalmente dedicada às farmá-

mentos do Escalão B a ser comparticipados em menos

cias portuguesas: a Consiste Farma.

1% (de 70 para 69%), os de Escalão C em menos 3%

A Consiste Farma absorverá uma parte significativa dos

(de 40 para 37%) e os de Escalão D em menos 5% (de

recursos da Consiste e funcionará como uma unidade au-

20 para 15%)

tónoma da mesma, com disponibilidade total e exclusiva

O Ministério da Saúde afirma que a aplicação das duas

para as farmácias e com mecanismos para uma ausculta-

medidas em conjunto trará uma poupança de 13 mi-

ção permanente dos Associados da ANF.

lhões de euros para os utentes e 115 milhões de euros para o Estado.

82 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


João Almeida Lopes é o novo presidente da Apifarma O novo presidente da Apifarma, João Almeida

em que exerce actualmente as funções de

Lopes, tomou posse no passado dia 15 de

presidente, a Medinfar.

Janeiro, substituindo João Gomes Esteves,

Aos 56 anos de idade assume um novo

Prémio Bial atinge recorde de candidaturas

no cargo há vinte anos e que ocupará ago-

compromisso. Para Almeida Lopes, tor-

ra a presidência da Mesa da Assembleia-

nar-se presidente da Apifarma foi

Geral. Juntamente com Almeida Lopes, do

passo difícil e muito meditado , porque a

Laboratório Medinfar, tomaram posse os no-

responsabilidade é grande . Foi o espírito

A Fundação Bial recebeu 49 can-

vos corpos gerentes, sendo Manuel Ferreira

de missão que o levou a aceitar o cargo e

didaturas ao Prémio Bial 2006: 31

Gonçalves, da GlaxoSmithKline, e Alberto

nortear a sua estratégia para a defesa do

de trabalhos portugueses, 9 de

Guilherme Pereira Aguiar, da AstraZeneca, os

acesso dos medicamentos ao mercado , o

Espanha (um número recorde) e,

vice-presidentes para este mandato.

primado das questões éticas e o fomento

pela primeira vez, 3 candidaturas

João Almeida Lopes licenciou-se em Finanças

das relações com as ordens profissionais,

dos EUA. Brasil, Bélgica, Alemanha

no actual ISEG. Iniciou a sua carreira profissio-

associações de doentes, farmácias e cadeia

e Holanda também apresentaram

nal no final dos anos 70, no Porto de Sines,

de distribuição .

candidaturas.

passando, mais tarde, a auditor nos CTT e na

O seu discurso de tomada de posse foi

Considerado um dos prémios de

Companhia Nacional Petroquímica. Entrou

crítico em relação às novas medidas do

investigação científica de maior

para a indústria farmacêutica em 1985, como

Governo para os medicamentos. Contudo,

prestígio na área da Saúde na

director-geral de uma pequena empresa, a

sublinhou o empenho da Apifarma em

Europa, o Prémio Bial atribui aos

Fermofer. Em 1990, ingressou no laboratório

contribuir para a sustentabilidade do SNS.

melhores projectos uma remu-

um

neração superior a 200 mil euros, distribuída pelas duas categorias

Vacina contra cancro do colo do útero já à venda

a concurso. A Bial distingue a investigação básica, através do

A primeira vacina contra o cancro do colo do útero já

Grande Prémio Bial de Medicina ,

se encontra à venda em Portugal. A vacina protege

e a medicina clínica, através do

contra a infecção do Papilomavírus Humano, respon-

Prémio Bial de Medicina Clínica .

sável pela formação de lesões cancerígenas no colo

Para além destes prémios, a

do útero. O Gardasil® deve ser administrado entre os

Fundação premeia, com quatro

9 e os 26 anos de idade e a sua protecção eficaz impli-

menções honrosas no valor de

ca a inoculação de três doses, que totalizam mais de

cinco mil euros cada, outros tan-

480 euros, não comparticipados pelo Estado, apesar

tos trabalhos na área da Saúde.

de já ter sido iniciado o processo de pedido de auxílio

A Fundação Bial pretende, com

estatal. O laboratório farmacêutico que produz a vaci-

estas distinções, distinguir os

na, a Sanofi Pasteur MSD, garante que esta profilaxia

trabalhos de investigação clínica

assegura uma protecção na ordem dos 100%, quando

que maior aplicabilidade prática

administrada nas doses recomendáveis no espaço de

têm na rotina dos centros de saú-

seis meses.

de e hospitais. FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 83


noticiário Genéricos permitiriam poupanças na saúde até 48% Um estudo da Universidade belga de

países europeus para desenvolver

Leuven revela que a aplicabilidade

o mercado de medicamentos ge-

de preços de referência é menos rí-

das medidas apropriadas na prescri-

néricos.

gido, como na Alemanha, Holanda

ção dos medicamentos genéricos

Entre as medidas que possibilitariam

e Reino Unido, em comparação com

permitiria poupanças entre 27% e

esta poupança encontram-se, o au-

Portugal, Espanha, França e Itália, onde

48% na despesa do sector da Saúde

mento da comparticipação do Estado

a regulação de preços é mais forte.

dos vários Estados-Membros.

em medicamentos genéricos, a cria-

A Apogen, por seu turno, acrescenta

O estudo, divulgado em Portugal

ção de incentivos (com recompensa

que os países europeus continuam a

pela Associação Portuguesa de

ou penalização) para os médicos e a

desperdiçar dezenas de milhões de

Medicamentos Genéricos (Apogen),

eliminação das margens fixas de co-

euros anualmente, que seriam uma

foi conduzido pelo investigador

mercialização para as farmácias.

poupança para os serviços de saúde,

Steven Simoens, que analisou as

O estudo indica ainda que a pene-

por não apostarem mais nos medica-

políticas seguidas pelos diversos

tração de medicamentos genéricos é

mentos genéricos .

Médicos sob investigação pela prescrição de medicamentos

mais forte em países onde o sistema

Ibéricos unidos no combate à Pandemia da Gripe

A Inspecção-Geral da Saúde enviou

ignoram os genéricos e prescrevem

Portugal e Espanha vão simular em conjunto, no segun-

ao Ministério da Saúde o relatório

medicamentos mais caros. Porém,

do semestre de 2007, um surto de gripe, cujo objectivo

sobre a forma como os médicos pres-

avança a investigação, esta situação

é testar os respectivos planos nacionais de preparação e

crevem medicamentos. Por seu turno,

não tem ligação com as promoções

resposta à Pandemia da Gripe.

o Ministério enviou-o ao INFARMED e

dos laboratórios farmacêuticos junto

A decisão foi tomada durante a 1ª reunião da Comissão

à Ordem dos Médicos para ser anali-

dos médicos, como a participação

de Acompanhamento Paritária, que tem como missão

sado por ambas as instituições.

em congressos.

promover a cooperação entre os dois países no que

O relatório indica que serão anali-

O Bastonário da Ordem dos Médicos,

toca a políticas para a Saúde.

sadas as receitas de 14 médicos, no

Pedro Nunes, reagiu a este relatório

Neste encontro, concluiu-se que Portugal e Espanha

sentido de verificar se a medicação

admitindo que os médicos envolvidos

devem aumentar a cooperação na área das políticas

recomendada é ou não a adequada

poderão ser punidos e até expulsos da

farmacêuticas e investigação biomédica. Discutiram-se

à patologia dos doentes. Indica ain-

Ordem , caso sejam provadas as sus-

ainda matérias relacionadas com a promoção da saúde,

da que o médico com maior valor de

peitas. Apesar de louvar que o relatório

como a luta contra o tabagismo e a obesidade. O que

receitas prescritas é de Aveiro, che-

tenha concluído que não existe ligação

sobretudo saiu da reunião foi a concertação no que diz

gando a 4.500 euros diários o valor

entre a prescrição de medicamentos

respeito à troca de informação nestas diversas matérias.

dos medicamentos receitados, cor-

e a participação de médicos em con-

Estiveram presentes a Alta-Comissária da Saúde, Maria

respondentes a 95 receitas.

gressos promovidos pelos laboratórios,

do Céu Machado, o Director-Geral da Saúde, Francisco

O relatório faz ainda saber que tam-

Pedro Nunes culpa o Ministério por

George, o Secretário-Geral de Saúde espanhol, José

bém os hospitais não controlam as re-

manter um sistema de vinhetas que

Martinez Olmos, e o Subdirector-Geral de Relações

ceitas médicas prescritas, encontran-

qualquer fotocopiadora de supermer-

Internacionais do Ministério da Saúde e Consumo de

do-se situações em que os médicos

84 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

cado consegue reproduzir.

Espanha, Jose Perez Lázaro.


Receita Electrónica

Crónica da Madeira Paulo Sousa *

O meu médico passou-me uma receita electrónica.

de qualquer dúvida que lhe venha a surgir.

E agora, o que é que eu faço?

Também o médico passa a ter a hipótese, através do mes-

Não se preocupe que embora este seja um cenário mais

mo código de saber se o seu utente levantou ou não a

do que provável no decorrer do próximo ano, não deverá

medicação prescrita.

dar azo a grandes inquietações.

Do ponto de vista de quem paga, ou seja do Estado, há

De facto, este é um processo que acarretará algumas mu-

também a hipótese de controlar muito mais detalhada-

danças de hábitos e procedimentos, mas é, estou conven-

mente toda a despesa com medicamentos.

cido, uma grande evolução de todo o sistema existente.

O que irá entrar em funcionamento a partir de Janeiro é

Só para começar e a nível de curiosidade, cada prescrição

uma evolução do que se fez em Portalegre nos últimos

médica que circula no nosso país, custa a o estado, desde

dois anos, com a vantagem de que temos uma cobertura

o seu fabrico à sua verificação cerca de 1,00 Euro.

farmacêutica muito melhor e dois anos de experiências. Se

Se pensarmos que circulam anualmente 55 milhões de re-

é importante aprendermos com os nossos erros, ainda é

ceitas por ano no nosso pequeno rectângulo e respectivas

mais importante aprendermos com os erros dos outros.

ilhas adjacentes,( como é bom ser adjacente, eheh ) che-

Em Portalegre existem 24 Postos Farmacêuticos que

gamos à conclusão que deitamos fora 55 milhões de euros

não têm capacidade para receber as prescrições electró-

por ano em papel e burocracias.

nicas, enquanto na RAM, para além de termos todas as

Em termos práticos e voltando ao primeiro parágrafo,

Farmácias informatizadas, teremos estou em crer den-

quando fôr ao seu médico de família ou outro qualquer

tro de pouco tempo a totalidade das mesmas com o

* Paulo Sousa, Director

que disponha do sistema, para além da tradicional consul-

Farmalink, uma rede de Intranet, o único requisito neces-

Técnico da Farmácia Santo

ta, o médico fará uma prescrição através de um computa-

sário para que possam receber o receituário electrónico.

dor, recebendo do SRS a validação da receita através de

Neste momento mais de 60% das Farmácias já a utilizam

um número de código. O médico dar-lhe-á um papel com

diariamente.

esse código.

Um crocodilo parado arrisca a transformar-se em bolsa de

Se perder o papel, bom, também não haverá qualquer pro-

senhora. Esta frase pitoresca da autoria de Edson Athaíde

blema pois desde que apresente o seu cartão de utente na

lembra-nos que se não evoluímos podemos pura e sim-

sua Farmácia a receita aparecerá no ecrã do computador

plesmente ser engolidos pelo progresso.

evitando assim quaisquer riscos de enganos de leitura da

Esta parece-me uma oportunidade de ouro para evoluir-

medicação. Naturalmente o seu farmacêutico dir-lhe-á o

mos como Sociedade.

modo de toma dos medicamentos e poderá esclarecê-lo

Mas podemos perdê-la se quisermos.

António na Madeira

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 85


noticiário Estudo reconhece eficácia da intervenção farmacêutica na adesão ao tratamento Um estudo divulgado nos EUA conclui

ber os nomes dos medicamentos, ex-

eficácia deles diminui , lembrando que

que os cuidados farmacêuticos melho-

plicou o motivo por que os toma e as

os idosos são uma população particular-

ram a adesão dos doentes à terapêutica.

doses, os efeitos secundários possíveis

mente em risco de má adesão, devido à

De acordo com o estudo FAME (Federal

e as eventuais interacções. Para além da

frequência da polimedicação por pato-

study of Adherence to Medications in

informação prestada, certificou-se que

logia crónica múltipla.

the Elderly), apresentado em finais do

o doente tomava os medicamentos na

ano passado nas sessões científicas da

hora certa e nas doses recomendadas.

Este programa completo de cuidados farmacêuticos conduziu a melhorias

American Heart Association, o programa

A má adesão à medicação é muito

substanciais na adesão medicamen-

completo de cuidados farmacêuticos

comum e muito difícil de resolver , afir-

tosa nos doentes idosos que recebem

melhorou substancialmente os níveis

mou Allen Taylor, do Walter Reed Army

regimes terapêuticos complexos , su-

de adesão dos doentes à terapêutica,

Medical Center, de Washington, durante

blinhou o orador, defendendo que a

verificando-se que tinha aumentado de

a apresentação do estudo. O especialis-

adesão à medicação pode levar a me-

61% para 96,9%.

ta frisou que se os doentes não tomam

lhorias significativas dos parâmetros

O farmacêutico auxiliou o doente a sa-

os comprimidos segundo a prescrição, a

de saúde .

homenagem António Pires Rodrigues No passado dia 10 de Janeiro de 2007, faleceu o profes-

Ferreira, está a sua presença como colaborador do grupo

sor Dr. António Pires Rodrigues, sócio desta Associação

de farmacêuticos voluntários e inovadores que foram os

Nacional das Farmácias e professor de muitos dos que fre-

membros da Difarma.

quentaram a Faculdade de Farmácia da Universidade de

Professor na antiga Escola Superior de Farmácia de Lisboa

Lisboa antes de Abril de 1974.

e a seguir na Faculdade de Farmácia de Lisboa.

A sua morte trouxe à nossa memória a colaboração que

Introduziu e desenvolveu em Portugal, a liofilização dos

este professor universitário manteve com a ANF quer ao

medicamentos e alimentos.

nível da direcção quer ao nível do grupo de voluntários

Foi professor da Escola Superior de Enfermagem da Cruz

da Difarma.

Vermelha Portuguesa.

Como consultor representou a Associação em grupos de

Ultimamente tinha-se dedicado à homeopatia tendo sido

trabalho com o Ministério da Saúde e deu pareceres téc-

admitido como membro do Comité Internacional dos far-

nicos em matéria do mesmo âmbito, como foram o regi-

macêuticos Homeopáticos.

mento de preços, os recentes medicamentos não sujeitos

Possuía o 1º Diploma do Curso de Homeopatia.

a receita médica.

Eleito Presidente da Sociedade Medica Homeopática

Foi encarregado de palestras nos cursos de Farmacoterapia

de Portugal. Em 2005 foi convidado pela Universidade

que funcionaram antes de 1982, aquando da criação dos

Lusófona a desenvolver uma aula sobre preparação de

programas de Formação Contínua.

medicamentos homeopáticos aos alunos do 5º ano de

Na memória de João Silveira, Luis Teodoro Francisco Matos

Farmácia.

86 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA


Lucinda de Matos Pinto Partiu para o além, tal como chegou, discretamente, no passado dia 6 de Janeiro, a nossa colega Lucinda de Matos Pinto, proprietária e directora técnica da Farmácia Diana em Évora. A convivência profissional que com ela mantive, ao longo de dezenas de anos, permite-me trazer-vos ao conhecimento algo sobre a personalidade, daquela nossa colega, que marcou a actividade da Farmácia de Oficina na cidade de Évora,

Como familiar e farmacêutico não posso deixar de prestar

ousaria dizer, mesmo para além dela.

a minha homenagem à minha madrinha Lucinda de Matos

A Lucinda iniciou a sua vida profissional em Évora com a aber-

que nos deixou no passado dia 6 de Janeiro.

tura da sua Farmácia nos idos anos de 1947 e, desde então,

Dela guardo a memória de uma farmacêutica que até ao

manteve-se à frente daquela até ao dia da sua partida.

fim dos seus dias esteve à frente dos destinos da sua far-

Podeis imaginar o que representam sessenta anos de activi-

mácia e foi exemplo do que deve ser um farmacêutico; re-

dade farmacêutica em que todos os dias se luta contra ad-

cordo que foram 63 anos de exercício profissional.

versidade mas, podeis crer, as que sofremos marcam defini-

Além da sua farmácia, teve um papel activo dentro da sua

tivamente a história da Farmacia Portuguesa . Foram tempos

classe profissional pois foi representante do Grémio das

difíceis em que a Lucinda esteve sempre entre os que estive-

Farmácias no distrito de Évora e mais tarde representante

ram na primeira linha e, por isso, sendo do grupo daqueles a

da ANF, também por Évora.

quem, hoje, a classe muito deve.

Em 1994, ano que marcou especialmente os familiares far-

Se nunca descurou os interesses dos seus utentes e da sua

macêuticos, foi agraciada ‒ juntamente com a minha mãe

farmácia a verdade é que nunca pôs menos empenho e en-

‒ com a medalha da nossa Ordem por, naquele ano, haver

tusiasmo na defesa dos interesses da sua classe profissional;

cumprido 50 anos de exercício profissional.

daí a minha homenagem.

Ficou a classe sem mais um daqueles farmacêuticos que

Da sua vida destacarei o facto de ter sido sócia, desde 1955,

marcaram uma época e deixaram um grande legado pois

do Grémio Nacional das Farmácias, que teve a sua sede na

a farmácia portuguesa só é e existe como tal, nos dias de

Rua da Madalena nº 171, 2º em Lisboa, e ter sido, conjunta-

hoje, graças a pessoas como a minha madrinha.

mente comigo, representante daquele, durante vários anos,

Diga-se aliás que ela fez parte de uma geração de ouro e de

diante das competentes autoridades na cidade de Évora.

uma família que marca a profissão farmacêutica pois além

Com o aparecimento da ANF viria, nos anos setenta e oiten-

do facto de ser uma entre 5 irmãos e cunhado farmacêu-

ta, a ser uma das suas delegadas mais representativas neste

ticos na primeira geração, tinha, entre as novas gerações

Alentejo que ela tanto amava.

da família, uma filha, um sobrinho, dois sobrinhos netos

Com o avançar da idade, foi-se afastando das lides associa-

farmacêuticos e é avó de um estudante de farmácia.

tivas mas mantendo-se firme ao leme dos destinos da sua

Lembremo-nos de que uma parte importante desses irmãos

farmácia e nunca deixando de apoiar a ANF e os seus colegas

e outros familiares receberam dela grande influência na es-

com a autoridade que a sua idade, passado e experiência lhe

colha profissional, não falando de outros que muito dela re-

permitiam.

ceberam como exemplo vivo do exercício e associativo.

Ainda que de forma sucinta, aqui fica a minha homenagem à

Os que com ela compartilharam a vida poderão viver

minha colega Lucinda com o relembrar do seu percurso pro-

um momento de tristeza mas não podem deixar de

fissional, em que fomos companheiros de jornada ao longo

sentir a felicidade de a terem conhecido e dela haver

de uma vida, com a esperança de que, aquele seu percurso,

recebido exemplo vivo do que é e deve ser um farma-

sirva de exemplo aos colegas de hoje e sempre.

cêutico de oficina.

Autor: Júlio Potes Director Técnico da Farmácia Galeno (Évora)

Autor: Francisco Matos Ferreira Director Técnico da Farmácia Nova Odivelas (Odivelas)

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 87


ficheiro mestre Instalação de Farmácia Farmácia dos Viveiros Estrada Dr. João Abel de Freitas N.º 39, R/Ch, Fr. B -Bl. 1 9050-012 FUNCHAL Dra. Cristina Maria Teixeira Rodrigues Cristina Rodrigues Unipessoal, Lda.

Alteração à Denominação Farmácia Central do Pinhal Novo Largo José Maria dos Santos, 37 2955-119 PINHAL NOVO Dra. Maria Alzira Monteiro Dias de Oliveira Maia Rotasanus, Unipessoal, Lda. Farmácia de Campanha Rua da Estação, 100-104 4300-171 PORTO Dr. José Agostinho da Silva Castro José Agostinho Silva Castro Unipessoal, Lda.

Alteração ao Pacto Social Farmácia Figueiredo Rua da Sofia, 107-109 3000-390 COIMBRA Dra. Capitolina M. F. Fernandes Pinho José Figueiredo Herd. Lda. Farmácia Confiança Morada Rua Formosa, 10 3500-134 VISEU Dra. Lucilia Manuela de Oliveira Ribeiro Simões Farmácia Confiança de Viseu Lda. Farmácia Nelsina Praça da República, 3-5 4900-524 VIANA DO CASTELO Dra. Luísa Maria Cardoso Vaz Cariano Cassina Santos & Filha Lda.

Cessão de Exploração Farmácia do Caniço Estrada João Gonçalves Zarco, 74 Código Postal 9125-018 CANIÇO Dr. João Paulo Verde Cerqueira Ilhafarma - Farmácia Lda. ‒ Cessionária

Farmácia de Campanhã Rua da Estação, 100-104 4300-171 PORTO Dr. José Agostinho da Silva Castro José Agostinho Silva Castro Unipessoal, Lda. Farmácia Alter Avenida Padre José Agostinho Rodrigues, 48 7440-014 ALTER DO CHÃO Dra. Marta Del Cazo Palos Marta Del Cazo Sociedade Unipessoal, Lda. Farmácia Antunes Dr. Fausto Lobo, Edifício B3, LJ 3-4 3220-000 MIRANDA DO CORVO Dra. Maria Isabel da Silva Antunes Farmácia Antunes, Unipessoal Lda.

Farmácia Vitória Rua de Talhô, 195 4580-281 BEIRE Dra. Cristina Maria Mesquita Teixeira Cristina Maria Mesquita Teixeira Unipessoal, Lda Farmácia do Monte Rua Clube Naval Infante Dom Henrique, 452 4420-412 VALBOM GDM Dr. Augusto Manuel Almeida Lopes Abreu Augusto Abreu - Farmácia do Monte Unipessoal, Lda.

Transferência provisória de Local

Farmácia Simões Ferreira Av. Dr. Castanheira de Figueiredo, LOTE 1 3420-302 TÁBUA Dra. Maria Jose da Silva Bolas Carniça Maria José da Silva Bolas Carniça Unipessoal,Lda.

Farmácia Firmeza Rua da Firmeza, 96 4000-228 PORTO Dr. Ricardo Augusto de Sousa Vieira da Silva Alves Farmácia Firmeza, Unipessoal, Lda.

Farmácia Silveira Suc. Rua de Mértola, 21 7800-475 BEJA Dra. Mariana Palma Duarte Mirrado Paisana Mariana Paisana Farmácia Unipessoal Lda

Farmácia Botto e Sousa Rua Duque da Terceira, 59 2600-429 Alhandra Dra. Maria Gabriela Onofre M. Plácido Sociedade Actifarma ‒ Actividades Farmacêuticas Lda.

Farmácia Batista Ramalho Av. Dr. C. Fernandes - E. Municipal 313, 5110-590 SÃO COSMADO Dra. Teresa Maria Batista Ramalho Farmácia Batista Ramalho, Unipessoal,Lda. Farmácia Magalhães Rua de São Pedro, 904 4510-431 SÃO PEDRO DA COVA Dra. Maria Manuela Ribeiro da Rocha Braga de Freitas Aires Maria Manuela Aires - Soc. Farmacêutica, Unipessoal, Lda. Farmácia Central da Lapa Rua dos Navegantes, 10 14 1200-731 LISBOA Dra. Ana Clara dos Santos da Costa Farmácia Central da Lapa, Lda.

Transferência de Local Farmácia Dias da Silva Rua Eng. Moniz da Maia, 67 2050-320 AZAMBUJA Dra. Maria João Amado Dias da Silva Farmácia Dias da Silva, Unipessoal Lda. Farmácia Ponta do Sol Estrada do V Centenário, 9360-215 PONTA DO SOL Dra. Ana Paula Severim Martins

Desvinculação de Farmácia

Alteração à Propriedade Farmácia Central do Pinhal Novo Largo José Maria dos Santos, 37 2955-119 PINHAL NOVO Dra. Maria Alzira Monteiro Dias de Oliveira Maia Rotasanus, Unipessoal, Lda. 88 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

Farmácia Santos Ferreira Rua Barão de Moçamedes, 9-B Lugar da Quinta da Vinha 2775-715 CARCAVELOS Dra. Paula Cristina dos Santos Ferreira Farmácia Santos Ferreira - Soc. Farmacêutica, Unipessoal Lda.

Farmácia São Jorge Largo do Leão, 3-A-B 1000-188 LISBOA Dra. Maria Judite Romão da Silva Farmácia S. Jorge Unipessoal Lda


cartoon

FARMÁCIA PORTUGUESA ¦ 89


desta varanda Um Sector Independente As farmácias não têm memória curta.

toring - a Finanfarma -, que iniciou a

E sabem com rigor o que significa o

sua actividade no mesmo dia em que

relacionamento individual e directo

terminou o Acordo com o Ministério

com o Estado.

da Saúde: 1 de Janeiro de 2007.

As farmácias recebem pontualmente,

E para desgosto dos que previam a

desde há muitos anos, as comparti-

destruição do sector, praticamente a

cipações nos medicamentos, apenas

totalidade das farmácias cedeu os seus

porque se organizaram e souberam

créditos sobre o SNS à Finanfarma,

resistir colectivamente aos atrasos

recusando o relacionamento directo

crónicos nos pagamentos do SNS.

com o Ministério da Saúde.

Não é por simpatia para connosco

As farmácias conhecem bem o valor

que o SNS paga às farmácias em pra-

da unidade associativa.

zo mais curto do que paga aos outros

Constituímos hoje o único sector da

fornecedores.

vida nacional que recebe as dívidas

Aqueles que confiaram no relaciona-

do Estado no prazo de 8 dias a contar

mento directo com o Ministério da

da data da factura!

Saúde, sempre receberam e continu-

Em vez da nossa destruição, evoluí-

Nos últimos dois anos, o fim anun-

am a receber com meses e até anos

mos para uma maior coesão.

ciado do Acordo entre o Ministério

de atraso.

Em vez de crise financeira, evoluímos

da Saúde e a ANF pairou na opinião

E não há nenhuma razão credível para

para uma maior estabilidade financeira.

pública como o prenúncio da destrui-

pensar que o Ministério da Saúde pa-

Em vez de prazos mais longos, evoluí-

ção do sector de farmácias

garia pontualmente às farmácias se

mos para prazos mais curtos.

O Acordo, julgavam alguns, era a úni-

estas tivessem optado por uma visão

Àqueles que nos julgavam depen-

ca razão pela qual o sector se manti-

individualista dos seus problemas.

dentes do Acordo, provámos a nossa

nha unido numa associação forte e

Pelo contrário, há todas as razões para

independência.

representativa.

pensar que, uma vez destruída a uni-

As farmácias não vivem de subsídios

Pensavam que, uma vez termina-

dade do sector, o Ministério da Saúde

ou favores do Estado.

do o Acordo, isso seria o fim da ANF

pagaria às farmácias tal como faz em

Vivem do seu trabalho, da sua capa-

e as farmácias ficariam à mercê do

relação aos demais sectores.

cidade técnica e profissional, da qua-

Ministério da Saúde.

Pagaria quando pudesse e quando qui-

lidade dos serviços que prestam e da

lançando

sesse, sem nos dar qualquer satisfação.

confiança dos doentes.

suspeitas sobre as vantagens do as-

E cada um de nós, individualmente,

Somos, de facto e com orgulho, um

sociativismo no sector e formulando

não teria a menor capacidade para

sector livre e independente.

apelos ao relacionamento directo das

obrigar o Estado a cumprir pontual-

farmácias com o Ministério da Saúde.

mente as suas obrigações.

Sempre tivemos a firme convicção

Preparámos, por isso, uma solução al-

de que tais objectivos não seriam

ternativa ao fim do Acordo, constituin-

atingidos.

do a nossa própria sociedade de fac-

Procuraram

90 ¦ FARMÁCIA PORTUGUESA

dividir-nos,

João Cordeiro




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