Farmácia Portuguesa 195

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PUBLICAÇÃO bimestral • 195 • setembro/outubro ‘11

FARMÁCIA PORTUGUESA

Resistir e Mudar

Compromisso da comissão directiva

Prioridade absoluta: Defesa da economia da farmácia


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PUBLICAÇÃO bimestral • 195 • setembro/outubro‘11

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Defesa da economia da farmácia é prioridade absoluta

Resistir e Mudar é o compromisso da comissão directiva que irá reger os destinos da ANF até à eleição dos órgãos sociais, em Janeiro. Uma comissão eleita pela esmagadora maioria dos sócios numa Assembleia Geral em que foi feito o retrato da crise em que o sector está mergulhado e dos esforços de diálogo - infrutíferos - desenvolvidos pela associação junto do governo. No final, ficou a garantia de que a defesa da economia da farmácia é a prioridade absoluta da gestão transitória, mas também a certeza de que, para ser bem sucedido, o combate tem de ser assumido por todas as farmácias.

04 Última Hora

05 Editorial 06 ANF

Na última assembleia geral da ANF, o presidente da direcção demissionária e actual membro da comissão directiva da associação, João Cordeiro, lançou um repto às farmácias no sentido de desenvolverem acções junto do poder político, nacional e local, alertando para a grave situação económico-financeira em que se encontra o sector. Um repto que as farmácias não ignoraram.

Manuel Mira Godinho, presidente da Comissão Executiva da Glintt Manuel Mira Godinho, Chief Executive Officer of Glintt

40 consultoria jurídica

O regime das faltas No código do trabalho the absence regime IN THE LABOUR CODE

44 informação veterinária

Afecções urinárias dos cães e gatos URINARY DISORDERS OF DOGS AND CATS

46 MUSEU DA FARMÁCIA

Serviços educativos com novos programas EDUCATIONAL SERVICES WITH NEW PROGRAMS

48 hobbies

20 Política Profissional

50 Noticiário

Farmácias sensibilizam políticos

Formação à medida das farmácias Training for pharmacies

09 Flashes 10 Entrevista

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Last Minute

Mensagem do bastonário no Dia do Farmacêutico Message of the President on the Pharmaceutical Day

23 Reuniões Profissionais

71.º Congresso da FIP 71st Congress of FIP

28 informação

terapêutica

Cuidados com a Mamã no Pré e Pós Parto CARING FOR MOM IN PRE AND POST DELIVERY

Um farmacêutico com espírito de coleccionador A PHARMACIST WITH A COLLECTOR SPIRIT news

52 formação

training

54 ficheiro mestre

master file

57 desta varanda

from this balcony

38 consultoria fiscal

A sobretaxa extraordinária de Dezembro DECEMBER EXTRAORDINARY surcharge

Farmácia portuguesa

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FARMÁCIA PORTUGUESA

última hora

Propriedade

Director

Dr. Francisco Guerreiro Gomes Sub-Directores

Dr. Luís Matias Dr. Nuno Vasco Lopes Coordenadora do Projecto

Drª Maria João Toscano

Coordenadora Redactorial

Drª Rosário Lourenço Email: rosario.lourenco@anf.pt Tel.: 21 340 06 50

Produção

Farmácias escolhem órgãos sociais da

ANF em Janeiro

Redacção: Edifício Lisboa Oriente Av. Infante D. Henrique, 333 H, Escritório 49 1800-282 Lisboa Tel.: 21 850 81 10 - Fax: 21 853 04 26 Email: farmaciasaude@lpmcom.pt

Consultora Comercial

Sónia Coutinho soniacoutinho@lpmcom.pt Tel.: 96 150 45 80 Tel.: 21 850 81 10 - Fax: 21 853 04 26

Distribuição gratuita aos associados da ANF Assinaturas 1 Ano (12 edições) - 50,00 euros Estudantes de Farmácia - 27,50 euros Contactos Telef.: 21 340 06 50 • Fax: 21 340 06 74 Email: anf@anf.pt

Impressão e acabamento RPO - Produção Gráfica, Lda. Depósito Legal n.º 3278/83 Isento de registo na ERC ao abrigo do artigo 9.º da Lei de Imprensa n.º 2/99, de 13 de Janeiro Periodicidade: Bimestral Tiragem: 5 000 exemplares

Distribuição

FARMÁCIA PORTUGUESA é uma publicação da Associação Nacional das Farmácias Rua Marechal Saldanha, 1, 1249-069 Lisboa

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www.anf.pt

Os novos órgãos sociais da ANF vão ser eleitos a 28 de Janeiro próximo, nos termos dos estatutos da associação e do regulamento eleitoral aprovado na Assembleia Geral de Delegados realizada a 18 de Outubro último. Os sócios serão, assim, chamados a pronunciar-se sobre a constituição da Mesa da Assembleia Geral, o Conselho Disciplinar, o Conselho Fiscal e a Direcção, ao abrigo de caderno eleitoral a afixar até 14 de Dezembro na sede nacional da ANF e nas delegações do Norte e do Centro. Será ainda divulgado no portal ANFOnline. Até 28 de Dezembro deverão ser entregues na sede da associação as listas concorrentes a este acto eleitoral, sendo que podem eleger e ser eleitos os sócios em pleno gozo dos seus direitos sociais, inscritos na ANF à data da afixação do caderno eleitoral. Com a ressalva de que não poderá haver candidatos integrados em mais do que uma lista. No prazo máximo de três dias, a con-

tar do limite de entrega das listas, a Mesa da Assembleia Geral reunir-se-á, na presença de representantes de cada lista, para decidir sobre a elegibilidade dos candidatos, a regularidade e a identificação das listas. O representante de cada lista será notificado, via postal, das decisões dessa reunião, tendo dois dias para reclamar. Cada sócio receberá, até dez dias antes das eleições, os boletins de voto, podendo a votação ser feita presencialmente ou por correspondência. Neste último caso, o voto deverá chegar à sede da ANF até seis dias após a data das eleições, com data de correio igual ou anterior a essa data. No dia das eleições – isto é, a 28 de Janeiro – e uma vez terminada a votação, as mesas de votos procedem de imediato ao apuramento aos resultados, que serão provisórios até reunião da Assembleia Geral seis dias após a eleição. Nesse dia, se saberá em definitivo quem conduzirá a associação nos três anos seguintes.


EDITORIAL

A crise não pode fazer esquecer Os farmacêuticos, ditos de oficina, queixam-se de que a sua presença na sociedade passa despercebida e, quando se nota, não se revela pelos motivos profissionais que desejariam – os melhores motivos profissionais. A razão de ser deste contra-senso, desta situação, deve-se a que a nossa classe não faz, organizadamente, um esforço para tomar atitudes exemplares. Sai da Faculdade, onde aprende muitos conceitos éticos de comportamento perante a sociedade e, depois, toma caminhos individualistas fechando-se em si mesma. Do exterior olhamos para uma farmácia, observamos por vezes a sua semelhança com lojas de finalidades completamente diferentes. Depois, entramos lá dentro, somos envolvidos por uma diversidade de produtos que também, frequentemente, se afastam do âmbito da saúde e que são para retirar das prateleiras sem qualquer contacto obrigatório com um dos profissionais presentes no atendimento. Sem estar afixado um sinal de apoio à saúde e sobretudo um efeito negativo do possível tratamento. Quando chegamos aos balcões, somos atendidos com frieza, recebemos o que pedimos, pagamos e nem se despedem de nós, desejando por exemplo as melhoras. Claro que este comportamento não é frequente mas acontece sem que pareça que seja combatido por alguém. Estamos aqui a estimular a Ordem dos Farmacêuticos, que sabemos estar mergulhada neste assunto e está a preparar iniciativas. Gostaríamos mais uma vez de ser claros, pois para além da informação, o farmacêutico deve desenvolver capacidades dos seus utentes, tornando-os autónomos e capazes de gerir a sua saúde (esta é a máxima da promoção da saúde). A crise não pode fazer-nos esquecer isto, embora estejamos a atravessar um período de terríveis constrangimentos, financeiros, económicos, de leis sobre circulação de medicamentos, bem como dos seus preços. Rodeados estamos também de doentes limitados nos seus gastos com saúde e, portanto, com medicamentos.

Francisco Guerreiro Gomes

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anf Três maneiras diferentes de tirar partido do modelo

Formação à medida das farmácias Conferir às farmácias a possibilidade de fazerem formação ao ritmo das suas necessidades e dos seus interesses é o objectivo do modelo de formação à medida, proporcionado pela Escola de Pós-Graduação em Saúde e Gestão. Um modelo já experimentado, entre outras, pelas farmácias do Caniço (Madeira) e Dias (Avintes) e por um grupo de farmácias de Portalegre. Três experiências diferentes, mas com o mesmo resultado: uma melhor intervenção profissional.

A formação de farmacêuticos e demais elementos da equipa da farmácia, no sentido da valorização da intervenção profissional e da prestação de um serviço de excelência à comunidade, é a razão de ser da Escola de Pós-Graduação em Saúde e Gestão (EPGSG). Com esse objec-

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tivo, todos os anos a escola renova o seu plano de formação, procurando responder – e antecipar – às necessidades formativas das farmácias. E é esse mesmo objectivo que está na origem do modelo de formação à medida, uma oferta inovadora que permite às farmácias ter uma

voz ainda mais activa no delinear do seu próprio percurso formativo, escolhendo os temas que são mais pertinentes para o seu desempenho profissional. Graças a este modelo, é a formação que, por assim dizer, vai ao encontro das farmácias, dado que cabe às farmácias, em articulação com


a escola, definir quando e onde a acção formativa vai decorrer, isto, naturalmente, para além da selecção do tema. Esta é uma opção que resulta na optimização de recursos aos vários níveis, porquanto há poupanças de custos – relativos, por exemplo, a

deslocações – mas também de tempo e de funcionalidade do quotidiano da farmácia, uma vez que não há necessidade de um ou mais elementos da equipa estarem ausentes. Tem, além disso, a vantagem de a transmissão de informação acontecer

ao mesmo tempo para toda a equipa – ou para todos os elementos designados para receber a formação – o que se traduz numa maior homogeneidade de conhecimentos, logo, numa maior harmonização de procedimentos.

Farmácia do Caniço:

“Atingir um bom desempenho” Esta foi, precisamente, uma das vantagens identificadas pelo director técnico da Farmácia do Caniço (Madeira), João Cerqueira. A farmácia solicitou à escola formação à medida no âmbito dos Programas de Cuidados Farmacêuticos, por esta ser “uma área cada vez mais relevante para o futuro”. É uma área em que, segundo o director técnico, a farmácia quer apostar e “atingir um bom nível de desempenho”. Já havia, aliás, sido iniciada formação, mas de uma forma parcial, tendo sido sentida necessidade de aprofundar os conhecimentos para depois os programas serem, efec-

tivamente, implementados. Assim, foi delineado um plano, prevendo 77 horas e abrangendo temas como “Problemas relacionados com medicamentos e intervenção farmacêutica”, “Comunicação com o médico e com o doente”, “Marketing de serviços farmacêuticos”, “Factores de risco cardiovascular”, “Dislipidemias”, “Asma e DPOC”, “Diabetes mellitus” e “Hipertensão arterial”. Destas oito sessões, foram realizadas três: é que, como explica João Cerqueira, a formação teve de ser interrompida no período de Verão e também devido a mudança de instalações da farmácia. Será retomada oportunamente.

Para o director técnico da Farmácia do Caniço, entre as vantagens deste modelo está o facto de reunir toda a equipa, permitindo uma homogeneidade na transmissão de conteúdos. Por outro lado, se a formação não fosse à farmácia dificilmente a equipa se poderia ter deslocado a Lisboa sem prejuízo do funcionamento da farmácia. Quanto à avaliação, remete uma opinião mais concreta para quando todas as sessões tiverem sido ministradas. Mas, para já, a experiência “está a correr bem”. “Falta levar à prática”, comenta. E essa é a grande meta: disponibilizar todos os Programas de Cuidados Farmacêuticos.

A farmácia do Caniço solicitou à Escola formação à medida no âmbito dos Programas de Cuidados Farmacêuticos, por esta ser “uma área cada vez mais relevante para o futuro”. Farmácia portuguesa

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Graças a este modelo, é a formação que, por assim dizer, vai ao encontro das farmácias, dado que cabe às farmácias, em articulação com a Escola, definir quando e onde a acção formativa vai decorrer, isto, naturalmente, para além da selecção do tema.

Farmácia Dias:

A importância de impulsionar as vendas A directora técnica da Farmácia Dias, em Avintes, também tinha um objectivo muito concreto quando enveredou pela formação à medida: impulsionar as vendas no segmento da dermocosmética, de modo a compensar os sucessivos cortes nas margens das farmácias. Isabel Costa identificou a necessidade de uma melhor preparação da sua equipa, sobretudo no aconselhamento, tendo em conta que a formação académica não acompanha a evolução do mercado. “Há sempre produtos novos,

novas questões que se colocam e a equipa tinha necessidade de formação”, justifica. A opção pela formação à medida foi tomada por considerar que “era mais proveitoso” estarem todos juntos. Houve também uma preocupação com os custos, quer em deslocações, quer em tempo de trabalho perdido. “Compensou”, conclui. A formação realizou-se em horário pós-laboral, no total de cinco horas distribuídas por dois dias. Participaram três farmacêuticos, três técnicos e uma estagiária, pelo que também foi uma oportunidade

de conviverem fora do ambiente profissional. O balanço é positivo: Isabel Costa elogia sobretudo o cariz prático da formação, muito orientada para os produtos, o que – diz – foi possível porque a formadora era uma farmacêutica, com conhecimento da realidade da farmácia. E os resultados já estão à vista: “Conseguimos crescer nalguns produtos, o que é difícil nesta altura, mas foi graças a um melhor conhecimento dos mesmos”. Além disso, a formação “fez crescer a equipa”.

Farmácia Cunha Miranda:

Poupar tempo e dinheiro A Farmácia Cunha Miranda, em Portalegre, foi a anfitriã de uma formação à medida diferente das frequentadas pelas equipas das farmácias do Caniço e Dias: é que não abrangeu uma equipa de uma farmácia, mas sim elementos de mais de uma dúzia de farmácias do círculo. A formação conjunta em Farmacoterapia foi proposta ao Departamento de Apoio ao Associado (DAA) numa reunião do círculo de Portalegre. Os temas mais específicos foram debatidos pelas farmácias, tendo a escolha recaído em “Interacção alimento-medicamento”, “O medicamento e o idoso” e “O bole-

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tim de análises clínicas”. Margarida Cunha Miranda, directora técnica da Farmácia Cunha Miranda, explica a pertinência de cada um deles. Na sua opinião, o mais pertinente relacionava-se com a interpretação dos resultados de análises clínicas, dado que as guidelines vão sendo alteradas e é necessário que as farmácias estejam actualizadas. Quanto à relação entre medicamentos e idosos, é uma questão que faz parte do quotidiano profissional da farmácia num distrito onde existe uma significativa população reformada e idosa. O terceiro tema está ligado a este, na medida que, entre os idosos mas

também entre os utentes em geral, se colocam, com frequência, problemas de interacção entre alimentos e medicamentos. O facto de a formação ter decorrido em Portalegre foi importante pela poupança que permitiu, quer nos custos das deslocações, quer no tempo que seria preciso alocar para que um ou mais membros da equipa a ela tivessem acesso. A partir da sua percepção, Margarida Cunha Miranda afirma que as farmácias participantes valorizaram a formação. Pessoalmente, sustenta que “o saber não ocupa lugar” e foi isso que a fez participar.


FLASHES

Irlanda Governo prepara substituição genérica e sistema de preços de referência

Grécia Escassez de medicamentos no mercado deve-se aos preços baixos

No âmbito das medidas de austeridade previstas pela troika, o Ministério da Saúde irlandês está a preparar legislação para permitir a substituição genérica pelo farmacêutico e a introdução de um sistema de preços de referência. As medidas, a implementar em 2011, representam uma poupança anual de €78 milhões para o Estado. Os doentes também beneficiam, devido ao preço mais baixo dos genéricos. A agência do medicamento vai criar uma lista positiva de 100 medicamentos de marca que poderão ser substituídos. Na Irlanda, apenas 18% dos medicamentos são prescritos por DCI, uma das taxas mais baixas na UE.

Para a agência do medicamento da Grécia (EOF), os problemas de escassez de medicamentos importantes no mercado, desde há vários meses, devem-se principalmente ao preço baixo dos medicamentos. Recordando a redução do preço dos medicamentos imposta pelo Governo em 2010, sob pressão do FMI, o presidente da EOF afirma que os preços baixos são um poderoso incentivo à exportação e à venda de medicamentos a preços elevados, pelos grossistas, para outros Estados-Membros da UE, e a cortes no abastecimento ou mesmo à retirada desses medicamentos pela indústria farmacêutica. Para evitar novas rupturas, a EOF adoptou várias medidas, como a proibição temporária de exportação de 28 medicamentos.

In The Sunday Business Post online, 24/04/2011 ANF INFORMA – Internacional, 3/2011

In SCRIP Intelligence, 4/03/2011 ANF INFORMA – Internacional, 3/2011

Itália Meia centena de medicamentos passa do hospital para a farmácia A agência italiana do medicamento (AIFA) publicou uma lista de 47 apresentações de medicamentos de uso hospitalar que foram transferidos para as farmácias e podem ser dispensados em ambulatório. Entre estes medicamentos, encontram-se anticoagulantes, antineoplásicos, anti-retrovirais orais, antibacterianos e medicamentos para tratar a hipertensão pulmonar. A decisão política foi tomada há um ano, no quadro de um conjunto alargado de medidas destinadas a conter a despesa pública com medicamentos. A indústria, os grossistas e as farmácias serão financeiramente responsabilizados se o tecto máximo definido para a despesa farmacêutica em ambulatório for ultrapassado. In Pharma Pricing & Reimbursement, Fevereiro 2011 ANF INFORMA – Internacional, 3/2011

Farmácia portuguesa

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entrevista Manuel Mira Godinho, presidente da Comissão Executiva da Glintt

“Criámos a Glintt Pharma para servir melhor as farmácias” Consolidar numa estrutura única a oferta para as farmácias foi o objectivo subjacente à criação da Glintt Pharma. A intenção é servir melhor o sector, ajudando-o a atravessar a actual conjuntura económica. Quem o diz é o novo presidente da Comissão Executiva da Glintt, Manuel Mira Godinho, em entrevista a propósito do processo de reestruturação da empresa. Farmácia Portuguesa – Assumiu a presidência da Comissão Executiva da Glintt em Janeiro último. O que o levou a aceitar este desafio? Mira Godinho – A decisão de aceitar este desafio prende-se com o meu progresso em termos profissionais. Desenvolvi uma carreira internacional na Accenture, onde estava bem e era, aliás, sócio há dez anos. Mas a verdade é que já há 20 anos que fazia o mesmo. Por isso, quando o dr. João Cordeiro e o dr. Abel Mesquita me lançaram o desafio da Glintt, comecei a pensar que era uma oportunidade de liderar uma empresa portuguesa e de fazer algo diferente. E oportunidades destas não surgem todos os dias. Pode dizer-se que abdiquei do meu

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conforto profissional para pegar numa empresa portuguesa e transformá-la. A minha percepção era que a Glintt tinha algumas dificuldades e que havia necessidade de algumas mudanças e o desafio foi, de certa forma, pessoal. O que pensei foi sou português, tenho a oportunidade de fazer algo por uma empresa portuguesa, que já tem uma certa escala (emprega 1300 pessoas, factura mais de 100 milhões, está cotada em bolsa…). Farmácia Portuguesa – Qual foi o primeiro passo? MG – A primeira fase foi conhecer as pessoas. Constituída a comissão executiva, procurei conhecer os directores de primeira linha, as várias empresas que fazem parte do universo Glintt, o tipo de oferta e de clientes. Foi uma fase de diagnóstico e de comunicação com as pessoas. E ao mesmo tempo de transmitir confiança, no sentido em que não vínhamos para dispensar pessoas. Foi um duplo processo, em paralelo: conhecer e tranquilizar a empresa. Farmácia Portuguesa – Que diagnóstico fez da empresa? MG – Depois de conhecer a empresa, lançámos uma iniciativa interna – o plano estratégico a cinco anos. Temos uma visão sobre os desafios de futuro da Glintt e das empresas portuguesas e foi em função dessa visão que começámos a arrumar as peças do puzzle, isto é, a traçar linhas de orientação relativamente diferentes da situação que encontrámos. Farmácia Portuguesa – Uma dessas linhas é a internacionalização. Com que metas? MG – Um dos eixos é, efectivamente, o da internacionalização. E se no princípio do ano assim o pensávamos, agora, com as dificuldades que o País enfrenta e as complexidades do mercado, nomeadamente a dificuldade dos nossos clientes em investirem em projectos e serviços, estamos 100 por cento certos de que é o caminho. A

Glintt já tinha iniciado um processo de internacionalização, mas ainda estava pouco acelerado. Neste momento, temos 80 por cento da nossa facturação em Portugal.

Glintt Pharma para optimizar cadeia de valor Farmácia Portuguesa – No arrumar de casa que mencionou uma das medidas passou pela criação da Glintt Pharma. O que justificou a autonomização desta área de negócio? MG – Criámos a Glintt Pharma com o objectivo de consolidar numa única estrutura a nossa oferta para as farmácias, visando ter uma oferta mais coordenada e mais consistente com esses clientes e, ao mesmo tempo, um posicionamento diferenciador, com qualidade e competitivo. Identificámos que estávamos um pouco dispersos em termos do serviço que prestávamos às farmácias. Não estávamos articulados, não tínhamos optimizada a cadeia de valor em termos de custos e qualidade do serviço. Para o cliente, que neste caso é o farmacêutico, não pode haver duas Glintt, tem de haver só uma e esta tem de lhe resolver o problema. Daí a Glintt Pharma: trata-se de consolidar numa estrutura única as competências da empresa para melhor servirmos os nossos clientes no sector da farmácia. Farmácia Portuguesa – Ainda a propósito da reorganização, há também uma aposta forte na área da energia. O que a justifica? MG – Criámos a Glintt Energia, porque queremos ter uma aposta diferenciadora nesta área, que já existia na empresa mas era muito embrionária. É um negócio distinto, que não podia nascer junto dos 600 consultores de sistema de informação… O perfil é diferente, os interlocutores são completamente diferentes, os clientes também.

Consultoria: estar nas maiores empresas e com relevância Farmácia Portuguesa – Um quarto eixo do plano estratégico é a consultoria. Qual é o posicionamento da Glintt neste mercado? MG – Começámos por fazer um diagnóstico da posição da Glintt no mercado da consultoria e por definir as metas a atingir se queremos ser uma empresa de referência nesta área. A diferença entre os dois pontos deu-nos o plano de acção. Na análise do posicionamento da Glintt, constatámos que a nossa presença nas 20 maiores empresas do País é, de um modo geral, diminuta. Ora, uma empresa da nossa dimensão não pode ficar à margem deste “mercado”. Fizemos também uma análise no lado das ofertas. Se estimamos, por exemplo, que o mercado de SAP vale mais do 150 milhões de Euros em Portugal e a Glintt factura menos de um milhão, isso significa que estamos completamente fora deste mercado. Se na banca se gastam mais de 400 milhões em consultoria e serviços e a Glintt factura poucos milhões, mais uma vez estamos perante uma situação em que a Glintt tem espaço para crescer. Além disso, uma parte significativa das receitas na área da consultoria vem de pequenas contas, de pequenas / médias empresas que, hoje em dia, têm dificuldade em pagar e em investir. É onde estamos mas não é só onde queremos estar. Para consolidar a nossa posição de empresa de topo, na área da consultoria, temos de crescer no “mercado” das grandes empresas, pelo que necessitamos de realinhar a nossa oferta e nossa forma de abordar o mercado, isto é, traçar uma estratégia especifica para a área da consultoria. Farmácia Portuguesa – E onde querem estar na consultoria? MG – A partir desse diagnóstico, iden-

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entrevista

Projectos da Glintt Pharma

tificámos os sectores onde queremos estar. A banca é uma prioridade, as telecomunicações e a administração pública também, e, é claro, a saúde, onde já temos uma presença forte. Também definimos com que oferta queremos estar nesse mercado, o que passou por identificar que softwares internacionais queremos representar e implementar em Portugal, que tipo de linguagem de programação queremos ter… enfim, começámos a orientar a nossa máquina para as necessidades concretas daqueles sectores. Queremos ser vistos como uma das consultoras de referência. Temos de estar nas principais empresas em volume de negócios e com projectos relevantes.

Farmácias podem esperar qualidade, inovação e preço competitivo Farmácia Portuguesa – Situemo-nos na Glintt Pharma. No actual contexto, quais são as prioridades da oferta para as farmácias? MG – Por ser uma estrutura única, a Glintt Pharma está melhor apetrechada para perceber as tendências do sector e as necessidades das farmácias. Estamos em condições de ver até que ponto a nossa oferta

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estava adequada. Um bom exemplo é a venda de equipamentos. Perante um mercado mais difícil e mais concorrencial, em que as farmácias têm menor capacidade de investimento, a nossa reacção foi procurar produtos de qualidade igual ou até superior mas a custos inferiores. Para responder a este desafio, começámos a conceber produtos Glintt. Fizemos parcerias com fornecedores locais para adaptarmos produtos já existentes e com produtores portugueses para fabrico de produtos próprios. Numa primeira fase, Portugal será o nosso terreno potencial de venda destes produtos, mas depois pretendemos expandi-lo, desde logo a partir de Espanha, onde temos uma rede de cerca de dez mil farmácias nossas clientes e cerca de 100 distribuidores nossos parceiros de negócio, ou seja, um canal de escoamento privilegiado. O facto de termos criado a Glintt Polónia também nos abre portas para introduzir os nossos produtos além-fronteiras. Na mesma linha de melhor servir as farmácias, demos prioridade à restruturação do site, enquanto meio de comunicação com as farmácias. Além disso, tentamos antecipar as necessidades das farmácias em termos de produtos e serviços e nesse sentido temos feito sessões de brainstorming, quer apenas entre a equipa de coordenação, quer com o contributo de convidados. Beneficiamos também do diálogo com a estrutura da própria ANF e directamente com as farmácias, através da nossa rede de comerciais e técnicos que está no exterior.

Farmácia Portuguesa – O que é que as farmácias podem esperar da nova Glintt? MG – Rigor, qualidade, inovação e preço competitivo. Sabemos que o preço vai ser cada vez mais decisivo e ou temos uma atitude passiva ou uma atitude proactiva. Isto é, não se trata de fazer descontos, há que encontrar ou desenvolver produtos alternativos, com um bom nível de serviço mas um preço mais reduzido. Entre inovação, preço e qualidade, não há muitas mais variáveis num negócio e é neste triângulo que vamos ter de actuar.

Contribuir para a sobrevivência do sector Farmácia Portuguesa – De qualquer forma, a Glintt parte com uma posição confortável, já que é o principal fornecedor das farmácias? MG – É verdade que temos 80 por cento do mercado em Portugal. Mas funcionamos numa lógica de que é preciso ajudar os nossos clientes a ter sucesso, porque, se eles tiverem sucesso, continuamos a ter clientes e a progredir no negócio. O que queremos evitar é essa ideia de que por termos 80 por cento do mercado podemos estar tranquilos. É uma posição de suicídio. Se adormecermos, se não inovarmos, os outros vão-nos retirar quota de mercado. Sermos líderes é mais um perigo do que uma vantagem.


Começámos a conceber produtos Glintt. Fizemos parcerias com fornecedores locais para adaptarmos produtos já existentes e com produtores portugueses para fabrico de produtos próprios.

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Mas, não é só a concorrência que está em causa. É contribuir para a sobrevivência do sector das farmácias. Não adianta fazer obras inovadoras a custarem fortunas se as farmácias tiverem dificuldades em pagar. Há que descer à realidade. Farmácia Portuguesa – É a ligação à ANF que vos dá essa sensibilidade? MG – Não é tanto a ligação à ANF, que é nossa accionista, mas a ligação ao sector das farmácias. Nós gerimos o negócio com princípios de negócio. Quarenta por cento da nossa facturação depende das farmácias: se fizer um bom trabalho, 40 por cento da facturação é saudável, se não fizer um bom trabalho ponho em perigo 40 por cento da facturação… Estamos muito dependentes no bom e no mau sentido. É uma lógica puramente economicista, não proteccionista. É claro que também há um lado afectivo, pois há pessoas na Glintt que fizeram toda a sua carreira a prestar serviço às farmácias, que têm confiança e orgulho no que se foi construindo e que não se pode defraudar. Farmácia Portuguesa – No actual contexto, não há um risco maior? MG – Isso só dá força à nossa estratégia. Porque é que criámos uma Glintt Pharma? Porque, para a Glintt Pharma, o sector das farmácias representa 100 por cento da facturação. Ao alinharmos uma área da Glintt com um sector estarmos a criar condições para que toda a energia seja canalizada para

as farmácias e não se disperse com outros negócios e outros clientes. Isso obriga a que esta área entre também pela vertente da inovação: se o negócio tradicional diminuir temos de avançar com novas ideias para gerar receitas para nós e para as farmácias. Posso ter um excelente serviço nas farmácias, mas se o sector cair dez por cento, a Glintt Pharma cai dez por cento. Daí o termos criado outras estruturas Glintt, daí o reposicionamento noutros clientes e a aposta no internacional – é que permite ir buscar receitas para compensar as quedas. A Glintt precisa de captar mais receitas vindas do exterior, para equilibrar os riscos da economia portuguesa. A Glintt tem uma exposição muito grande à economia portuguesa, que está em retracção, e precisa compensar os riscos dessa contracção. Mas há que ter um crescimento sustentado, não podemos fazer investimentos megalómanos: podíamos abrir uma Glintt em todos os países da Europa, mas isso matava a empresa. É um jogo de equilíbrios. Farmácia Portuguesa – Que balanço faz do processo em curso? MG – Mudanças há muitas, em termos de metodologia, organização, novas contratações, entrada em novos mercados, mas a relevância das mudanças nos resultados ainda é diminuta, até porque o processo de restruturação tem custos. Tem sido um desafio. Estou convencido de que estamos no caminho certo. Temos cometido pequenos erros, por

TÉCN

ICAS

vezes apenas por não colocarmos a energia suficiente neste ou naquele projecto, mas corrige-se. Faz parte da gestão. Daqui a cinco anos gostaria de olhar para a Glintt e, mais do que ter resultados, ter uma máquina sólida geradora de resultados que permita à empresa viver sozinha, independentemente de quem está à frente do negócio.

Da Accenture para a Glintt Manuel Mira Godinho, 45 anos, é presidente da Comissão Executiva da Glintt, S.A. desde Janeiro de 2011. Com um bacharelato em Engenharia Electrónica e Telecomunicações, é detentor de uma carreira internacional em consultoria. Foi partner da Accenture Portugal desde o ano 2000 e membro da Comissão Executiva desde 2005, tendo sido o administrador responsável pela Accenture Tecnhology Solutions e pela unidade Cross Technology, que integra a área de consultoria tecnológica e a implementação e manutenção de sistemas de informação.

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política PROFISSIONAl

Compromisso da comissão directiva

Defesa da economia da farmácia é prioridade absoluta Resistir e Mudar é o compromisso da comissão directiva que irá reger os destinos da ANF até à eleição dos órgãos sociais, em Janeiro. Uma comissão eleita pela esmagadora maioria dos sócios numa Assembleia Geral em que foi feito o retrato da crise em que o sector está mergulhado e dos esforços de diálogo – infrutíferos - desenvolvidos pela associação junto do governo. No final, ficou a garantia de que a defesa da economia da farmácia é a prioridade absoluta da gestão transitória, mas também a certeza de que, para ser bem sucedido, o combate tem de ser assumido por todas as farmácias. A Associação Nacional das Farmácias vai ser gerida até às eleições para os órgãos sociais, marcadas para 28 de Janeiro próximo, por uma Comissão Directiva eleita na Assembleia Geral de 22 de Outubro último, na sequência da demissão da Direcção. A eleição deste órgão transitório de gestão constituiu um importante momento de união do sector, tendo recolhido os votos favoráveis de 97% dos participantes. A pró-

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pria Assembleia Geral, que decorreu na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, foi das mais participadas de sempre, a atestar a mobilização das farmácias perante a necessidade de encontrar rapidamente soluções para inverter a situação de crise em que o sector está mergulhado. Esta assembleia foi determinada pela demissão da Direcção da ANF, a 29 de Setembro, na sequência do

anúncio, pelo governo, da redução da margem das farmácias, feito sem que o conteúdo e os fundamentos da decisão tenham sido alvo de diálogo com a Associação. Concluindo que foi marginalizada da discussão de uma problemática vital para os doentes e para a sobrevivência das farmácias, numa altura em que atravessam uma gravíssima crise económica e financeira, a Direcção entendeu apresentar a demissão.


João Cordeiro, ao usar da palavra na Assembleia Geral, fez um detalhado enquadramento da situação da ANF, do seu Universo Empresarial e das Farmácias. Chamou em primeiro lugar a atenção para as recentes notícias publicadas na imprensa sobre a situação financeira da ANF e das empresas que classificou como “tentativas de desestabilização do sector”. Fez um detalhado enquadramento desta situação tendo apresentando aos associados a execução orçamental na primeira metade de 2011 e a previsão de fecho de contas da ANF, da Finanfarma e da Farminveste. Referiu que os tempos actuais não são fáceis e que não podem ser ignoradas as dificuldades. Mas, referiu também que a estrutura financeira da ANF é “extremamente forte” e, que “temos todas as condições para ultrapassar as dificuldades”. Garantiu, a propósito, que a Associação continua a ter o crédito necessário junto da banca para assegurar o pagamento às farmácias, embora esse crédito seja cada vez mais caro.

Agendas pessoais ditaram ofensiva ao sector Reportando-se à actual situação do sector, João Cordeiro responsabilizou os últimos anos de governação pela crise do sector, por “não se terem tomado medidas estruturais para lhe fazer face”. As “agendas pessoais” dominaram a política da saúde, ignoraram os Programas do Governo e penalizaram o sector do medicamento com reduções sucessivas de preços e margens, sem qualquer avaliação das suas consequências. Referiu-se também, na sua intervenção, ao desvario dos descontos, descontos e mais descontos feitos pelas

farmácias a uma série de entidades, na ânsia de sobreviverem, mas que objectivamente têm contribuído para agravar a crise do sector. A Autoridade da Concorrência mereceu também uma referência, enquanto muleta do Governo no apoio à destruição do sector, com base num estudo encomendado para esse fim, cujas conclusões foram divulgadas publicamente pelo presidente da Autoridade da Concorrência antes mesmo de ter sido concluída a sua elaboração.

Novo governo sacrifica farmácias Debruçando-se sobre o novo governo, denunciou a tomada de medidas rápidas e drásticas para o sector privado, sem que haja diálogo ou avaliação do impacto dessas medidas. Foi, aliás, o que esteve na origem da demissão da Direcção da ANF. São medidas que ultrapassam em muito as exigências do memorando assinado entre Portugal e a troika. A poupança prevista, nesse memorando, para 2011 é de 50 milhões de euros, sendo que a despesa pública com medicamentos deverá situar-se nos 1,25% do PIB, em 2012, e em 1% do PIB no ano seguinte. Mas as decisões do Governo implicam para as farmácias um sacrifício maior do que o pedido pela troika, tendo sido tomadas sem diálogo com a ANF, apesar de representar 98% das farmácias portuguesas.

Diálogo… a uma só voz Um diálogo que a ANF sempre procurou através de ofícios sucessivos dirigidos tanto ao Ministério da Saúde, como ao Ministério da Economia, documentados em dossiê entregue aos sócios na Assembleia Geral.

João Cordeiro, membro da comissão Directiva da Associação Nacional das Farmácias

Reportando-se à actual situação do sector, João Cordeiro responsabilizou os últimos anos de governação pela crise do sector, por “não se terem tomado medidas estruturais para lhe fazer face”.

O primeiro desses ofícios data de 13 de Setembro, tendo como destinatário o secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira, na sequência de uma audiência no mesmo dia. Na carta, João Cordeiro reitera a sur-

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presa da associação com a forma como estava a ser conduzido o processo de alteração dos preços e margens dos medicamentos: a evolução da despesa com medicamentos em farmácias em 2011 está já a cumprir por excesso os objectivos definidos no memorando celebrado com a troika, pelo que “não parece haver motivo para uma revisão apressada das margens da distribuição”. No mesmo dia é enviado ao secretário de Estado do Empreendedorismo, Carlos Oliveira, um ofício em que a direcção da ANF dá conta de ter sido informada pelo secretário de Estado da Saúde da existência de “um consenso entre o Ministério da Economia e o Ministério da Saúde quanto aos novos países de referência para determinação dos preços em Portugal, que passariam a ser a Espanha, Itália e Eslovénia”. Uma alteração que estaria “suportada em estudos efectuados pelo Ministério da Economia”, sendo que o seu impacto nos preços em Portugal “era nulo ou praticamente nulo desde que se mantivesse a redução de seis por cento sobre o PVP”. No mesmo ofício, a associação dava conta de que o secretário de Estado da Saúde havia apresentado uma proposta da

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Economia sobre margens das farmácias, sem estar acompanhada de qualquer justificação, inclusive quanto ao seu impacto. Uma situação que deixou a ANF “estupefacta”, dado que esta é uma matéria vital para o sector. Uma missiva com o mesmo teor destas duas foi endereçada ao ministro da Saúde, Paulo Macedo, solicitando que a discussão de matérias tão importantes fosse precedida de “um diálogo transparente e construtivo com a associação” de modo a que fosse encontrada “uma solução equilibrada e justa”. Em resposta, o secretário de Estado do Empreendedorismo sustentou que a informação “alegadamente veiculada na reunião com a Secretaria de Estado da Saúde não tem aderência com o compromisso” do Ministério da Economia, “uma vez que as referidas matérias se encontram ainda em fase de definição”. Concluía Carlos Oliveira: “Creio tratar-se de mero lapso de entendimento”. A ANF dirigiu-se igualmente ao ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, manifestando, em ofício de 29 de Setembro, preocupação com a forma como o processo estava a

ser conduzido e salientando que a proposta do ministério, “cujos fundamentos são desconhecidos”, terá como consequência que a rentabilidade média das farmácias passe a ser negativa, que 1800 farmácias fiquem em risco de sobrevivência, que a indústria farmacêutica continue a ser privilegiada. O governo – sublinhou João Cordeiro – “prometeu sacrifícios distribuídos com equilíbrio e justiça”, mas, “não há a mínima justiça na solução proposta pelo Ministério da Economia”. Reiterou, ainda assim a disponibilidade para colaborar num “diálogo construtivo” para encontrar soluções que evitem a destruição do sector. No mesmo dia era endereçada nova carta ao ministro da Saúde: nela, considerando que o governo tem dúvidas quanto à proposta da ANF apresentada em Agosto, a direcção propunha, em complemento, “uma garantia de reembolso ao SNS de 50 milhões de euros, que é o montante definido no memorando de entendimento com a troika, a suportar pelas farmácias, calculado sobre a sua margem, de acordo com escalões de facturação”. “É um ónus adicional que estamos disponíveis para aceitar, para evitar que seja


“Nenhuma razão de urgência pode justificar a marginalização das farmácias na discussão de uma matéria vital para o seu presente e para o seu futuro”

aprovada a proposta (…) que significará a destruição do sector”. O envio desta missiva acabaria por coincidir com a aprovação, em conselho de ministros, do novo regime de preços e margens dos medicamentos, motivo para uma segunda carta aos ministros Paulo Macedo e Álvaro Santos Pereira dando conta da surpresa da associação. “Nenhuma razão de urgência pode justificar a marginalização das farmácias na discussão de uma matéria vital para o seu presente e para o seu futuro”, afirma João Cordeiro, deixando um pedido de esclarecimento: “Já existe uma versão definitiva do novo regime? Podemos ter acesso a essa versão antes de ser publicada em diploma legal? O governo estimou o impacto desta medida no sector das farmácias? Qual é esse impacto? Podemos ter acesso a essas estimativas? – são algumas das questões que viriam a ficar sem resposta. Esta não foi verdadeiramente uma troca de correspondência, pois a ANF recebeu apenas um ofício do secretário de Estado do Empreendedorismo.

Metas da troika ultrapassadas no ambulatório Depois de partilhar com os presentes o esforço desenvolvido para o diálogo com o governo, o presidente da direcção demissionária apresentou números que comprovam que as metas definidas pela troika já foram, efectivamente, cumpridas e até ultrapassadas no ambulatório. De Janeiro a Outubro, a despesa com

medicamentos em ambulatório foi reduzida em 21 por cento, enquanto nos hospitais continuou a crescer, na ordem dos três por cento. O mercado de medicamentos desceu 13,5 por cento em valor e cerca de quatro por cento em volume, o que traduz menos 21 por cento nos encargos para o SNS. Até Agosto, a despesa pública havia sido reduzida em 88 milhões, calculando-se que até final do ano esse corte atinja os 114 milhões. “Estamos acima das exigências do memorando”, concluiu João Cordeiro, comentando: “Estamos desconfiados de que o Ministério da Saúde o que pretende é criar uma almofada no sector privado para compensar se não houver controlo nos hospitais”. Ainda assim, a ANF apresentou à tutela uma proposta de revisão da metodologia de preços e margens que responde ao memorando. Tendo em conta que o preço médio do medicamento ronda os 16,60 euros e que a remuneração média da distribuição é de 4,46 euros, propôs que a margem fosse de 10 por cento até aos sete euros, acrescida de um fee profissional, e a partir daí reduzida. “Uma proposta moderada”, com um impacto para o SNS na ordem dos 22 milhões (poupança) e para os utentes de três milhões. Todos os medicamentos do top 20 baixaram de preços, excepto alguns de marca, mas com genéricos. E, avaliando as 100 DCI mais prescritas no SNS, em que 75 por cento dos medicamentos são comparticipados, introduziria uma redução de 10,6 milhões para os utentes. Esta proposta foi ignorada, tal como

foi a garantia de reembolso dos 50 milhões de euros a suportar pelas farmácias, uma “situação limite”, como reconheceu João Cordeiro. O novo regime foi aprovado e terá “consequências brutais sobre o sector”. “Há coisas que não conseguimos entender”: é o caso dos países de referência e é o caso do “inacreditável” fee profissional, entre os cinco e os 25 cêntimos. Ao contrário do ministério, que não apresentou qualquer estudo de impacto destas medidas, a ANF avaliou-o e concluiu que 1800 farmácias ficaram em inviabilidade económica. “O ministro da Saúde está completamente autista relativamente ao nosso sector”, sustentou, recordando que manteve reuniões “duras mas positivas”, em que Paulo Macedo não apresentou qualquer tipo de argumento. O argumento – ironizou – é que as farmácias são ricas e, portanto, têm de participar na redução da despesa pública.

Resistir e mudar, o compromisso Face a este cenário, a direcção da ANF decidiu demitir-se, assim responsabilizando o governo. Em consequência foram convocadas eleições para os órgãos sociais – serão a 28 de Janeiro próximo. Até lá, a associação carecia de uma gestão transitória, não regulada pelos estatutos: na Assembleia Geral de Delegados de 15 de Outubro o presidente da Mesa da Assembleia Geral foi mandatado para desenvolver diligências no sentido de encontrar uma solução. Foi assim

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definida uma comissão directiva, não hierarquizada, colocada ao escrutínio dos sócios: são seus membros (por ordem alfabética) João Almeida (Farmácia Moreno, Porto), presidente da Delegação Norte; João Cordeiro (Farmácia das Fontainhas, Cascais), presidente da direcção cessante; João Silveira (Farmácia Suissa, Estoril), vice-presidente demissionário; Luís Matias (Farmácia Veritas, Oeiras), vogal da direcção demissionária; Maria da Luz Sequeira (Farmácia da Luz, Lisboa), vice-presidente demissionária; Miguel Silvestre (Farmácia Cela, Coimbra), presidente da Delegação Centro; e Vitor Segurado (Farmácia Nova, Setúbal), vice-presidente demissionário. Apresentaram-se à assembleia com o compromisso Resistir e Mudar, dado a conhecer por Maria da Luz Sequeira. As farmácias – reafirmou – estão à beira da destruição, arrastadas pela crise do País: “Nós construímos, os

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outros destruíram”. Os governos, tal é a dimensão da crise, tornaram-se insensíveis às dificuldades das pessoas e dos sectores. A crise é profunda, será longa e “não podemos assistir passivamente à destruição que provoca”. Resistir é, assim, a palavra de ordem. E a primeira prioridade é a situação financeira: “Temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para evitar o seu agravamento”. Daí que a manutenção da data de pagamento das comparticipações às farmácias, o dia 20 de cada mês, seja prioridade absoluta: “Se for preciso alinear património da ANF para garantir a manutenção dessa data, essa alienação deve ser feita. Não haverá excepções. Se for preciso alienar o museu, aliena-se; se for necessário alienar a sede, aliena-se. Vamos mandar avaliar o património da associação”. A alteração da data – assegurou Maria da Luz Sequeira – será a última medida a adoptar. Mas – advertiu – as farmácias também

têm de mudar: “Muitos dos nossos sonhos e ideais caíram por terra. Somos obrigados a encarar o futuro de uma forma diferente”. E a prioridade tem de ser a redução dos custos operacionais: “Não é fácil, mas não temos alternativa para garantir a sobrevivência”. É ainda necessária maior atenção à política de stocks, os medicamentos de preços mais elevados devem ser alvo de especial atenção, os aspectos financeiros, em particular a negociação com fornecedores e instituições de crédito, também. Há que lutar pela redução do serviço de turnos e respectivos encargos, pela eliminação do horário semanal de 50 horas, pela eliminação da obrigatoriedade de um segundo farmacêutico, pela criação da lista de medicamentos não sujeitos a receita médica de dispensa exclusiva em farmácias. Há ainda que reavaliar a política de recursos humanos e de equacionar a questão do alargamento


“Temos de estar unidos, mais disponíveis para nos envolvermos na estratégia associativa. Temos de lutar, mas sobretudo saber lutar. E o local prioritário da nossa luta são as nossas farmácias. O objectivo é conquistar os portugueses para as nossas posições”.

dos produtos e serviços de saúde a prestar pela farmácia. A ANF deve orientar a sua actividade para ajudar as farmácias na prossecução destes objectivos. No plano político prevê o respeito pelas obrigações internacionais assumidas pelo Estado português: “Mas seremos firmes na responsabilidade dos órgãos de soberania pela crise económica e financeira em que está mergulhado o sector. Seremos combatentes esclarecidos pela causa da farmácia”. Mas – sublinhou – “resistir à crise não é apenas um problema da ANF, é um problema de todos e cada um de nós. Confiamos, por isso, que todos se mobilizarão nesse combate. Procuraremos deixar aos órgãos sociais a eleger o caminho aberto para que possam dar continuidade, de acordo com as suas próprias concepções, à defesa da farmácia”.

Ganhar os portugueses para a causa Depois de apresentado o compromisso, voltou a usar da palavra João Cordeiro, agora na qualidade de membro da comissão directiva

candidata à gestão da associação até às eleições. Para reafirmar que a ANF não assistirá passivamente à destruição do sector: “Saberemos resistir, conforme fizemos no passado recente, mas temos de resistir com inteligência, unidos, repudiando campanhas e manobras que nos possam dividir. Não podemos pôr em causa o nosso activo mais importante, que resultou de 30 anos de trabalho intenso, de muito profissionalismo, de elevada competência, que são os fundamentos da elevada confiança que os portugueses têm nas farmácias e nos farmacêuticos”. A propósito, defendeu o reforço da relação de confiança com os doentes, informando-os com rigor e seriedade sobre as razões da crise, explicando como o sector está a ser destruído – a ANF dará às farmácias todo o suporte para esta acção informativa. “Se necessário trabalharemos ainda mais na defesa dos interesses dos doentes portugueses”, garantiu, afirmando ter assegurado ao ministro da Saúde que, ao contrário de rumores que circulam, as farmácias não irão suspender os fornecimentos a crédito. Os 300 mil portugueses que diariamente entram nas farmácias são a “principal arma para este combate”.

A prioridade absoluta – reiterou João Cordeiro – será a situação financeira das farmácias: “Os interesses das farmácias estão acima de tudo. Todos os activos, incluindo as jóias da coroa, deverão ser disponibilizados para garantir o pagamento às farmácias. Calcularão o que me custa estar a dar-vos esta notícia mas defenderemos até ao limite a economia das farmácias”. João Cordeiro deixou um apelo: “Não pode haver espaço para o desânimo, para a desorientação. Temos de estar unidos, mais disponíveis para nos envolvermos na estratégia associativa. Temos de lutar, mas sobretudo saber lutar. E o local prioritário da nossa luta são as nossas farmácias. O objectivo é conquistar os portugueses para as nossas posições. O momento é de luta e nós contamos convosco”. A concluir, afirmou-se determinado e confiante no sucesso deste combate: “Quanto maiores as dificuldades, maior a minha confiança no futuro das farmácias”. Confiança foi precisamente o que obteve a comissão directiva que se apresentou ao sufrágio da Assembleia Geral: dos 1276 votos, 1223 foram-lhe favoráveis (97 por cento) e 17 contrários (1,3 por cento). Registaram-se 21 abstenções (1,7 por cento) e 15 votos brancos ou nulos.

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Mensagem do bastonário no Dia do Farmacêutico

Só estabilidade económica garante exercício profissional irrepreensível A ideia de que a estabilidade económica dos operadores, nomeadamente das farmácias, é indispensável a um exercício profissional irrepreensível foi deixada pelo bastonário Carlos Maurício Barbosa, no simpósio que inaugurou as comemorações do Dia do Farmacêutico.

João Carlos Figueiredo de Sousa, professor catedrático da Universidade Fernando Pessoa, Carlos Maurício Barbosa, Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos

Ao escolher o tema “Os farmacêuticos e as grandes questões da saúde” para o simpósio inaugural das comemorações do Dia do Farmacêutico em 2011, a Ordem dos Farmacêuticos propunha-se “contribuir para perspectivar novas soluções e novos caminhos para o sistema de saúde português e, muito especialmente, para o Serviço Nacional de Saúde, tendo em conta as grandes interpe-

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lações que hoje se colocam”. Assim o afirmou o bastonário Carlos Maurício Barbosa na intervenção de abertura do simpósio, realizado no Porto a 23 de Setembro. “Em prol da saúde dos portugueses, todos temos o dever de, continuamente, recriar um melhor sistema de saúde, colocando o cidadão no centro dos nossos objectivos e prioridades”, justificou. No centro do debate tem estado a

capacidade do País para manter a universalidade e a tendencial gratuitidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), uma questão que – lembrou não é propriamente nova, mas que a crise transformou num desafio que é preciso enfrentar com objectividade e pragmatismo. A sustentabilidade do SNS é, para a Ordem dos Farmacêuticos, cada vez mais, “assunto de grande pre-


“Nunca deixaremos de defender a viabilidade económica de todos os operadores do circuito do medicamento: a indústria farmacêutica, a distribuição grossista e, de um modo particular, as farmácias, que são os operadores de menor dimensão”.

ocupação”: “Na actual conjuntura, todos temos de estar conscientes de que a sustentabilidade do SNS torna imperioso seguir um caminho reformista, na busca de soluções eficientes e equitativas. Caso contrário, corremos o risco de perder o SNS e, por essa via, perder muito do que tem de positivo para os cidadãos”, advertiu. E foi a propósito da sustentabilidade que o bastonário introduziu a questão da difícil situação económica que as farmácias enfrentam. Para dar uma garantia: “Nunca deixaremos de defender a viabilidade económica de todos os operadores do circuito do medicamento: a indústria farmacêutica, a distribuição grossista e, de um modo particular, as farmácias, que são os operadores de menor dimensão”. E isto porque “somente em clima de viabilidade económica dos operadores é possível garantir aos cidadãos que os farmacêuticos exercem a profissão de forma irrepreensível do ponto de vista técnico-científico e deontológico, com autonomia e independência”.

Farmácias não podem ser mais penalizadas Socorrendo-se dos números que apontam para uma diminuição da despesa do Estado com medica-

mentos em ambulatório na ordem dos 160 milhões de euros nos primeiros seis meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2010, o bastonário sublinhou que “contrariamente a outros sectores da economia, o do medicamento em ambulatório já se encontra a contribuir efectivamente para a redução da despesa pública”. Importa, pois, “clarificar que o saneamento financeiro do Serviço Nacional de Saúde já não passa pelos medicamentos em ambulatório”, mas que continua, sim, “a haver um grande espaço para procedimentos de racionalização e de combate ao desperdício no SNS e na própria estrutura do Ministério da Saúde, que podem e devem ser adoptados”. E com esse objectivo a Ordem há muito preconiza um novo modelo de remuneração da farmácia: em alternativa ao actual baseado numa margem fixada percentualmente sobre os preços dos medicamentos, defende um sistema misto, em que uma parte da margem é substituída por um valor respeitante ao acto farmacêutico subjacente ao processo de dispensa dos medicamentos. Porém, não aceita que a redefinição do modelo de remuneração das farmácias “seja aproveitada para as penalizar economicamente ainda mais”: “Neste momento, temos as mais fundadas reservas ou mesmo absolutas objecções quanto à adopção de medidas suplementares que possam trazer novas fragilidades e

vulnerabilidades às farmácias”. “É do domínio público que várias centenas de farmácias se encontram mergulhadas numa crise económica e financeira que até há pouco tempo era inimaginável. E que a grande maioria das outras está no limite das condições necessárias à sua sobrevivência”. O que são precisas são “medidas que introduzam racionalidade, tenham carácter estrutural e melhorem expressivamente os índices de eficácia e eficiência”. É que – sublinhou – “não só através de cortes, especialmente quando eles são avulsos e pontuais, se garante a sustentabilidade do sistema de saúde”. Referia-se a medidas como a prescrição por DCI, a instituição de protocolos terapêuticos no ambulatório e a prescrição electrónica, envolvendo a desmaterialização da receita.

Farmacêuticos mal aproveitados pela sociedade Carlos Maurício Barbosa lamentou ainda que haja um desequilíbrio “incompreensível” entre a capacidade técnica e científica dos farmacêuticos portugueses e a utilização actual que a sociedade dela faz: “É um desperdício social e assume especial importância precisamente se tivermos em conta o actual contexto económico e social do país”.

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Visita à Farmácia Saraiva, Avintes

O país devia – defendeu – apostar e investir no reforço das competências do farmacêutico e no alargamento da sua intervenção no sistema de saúde, em benefício dos cidadãos, tendo em conta as recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Conselho de Ministros da União Europeia. Foi com estas críticas que o bastonário lançou as comemorações do Dia do Farmacêutico, centradas no Porto e que prosseguiram, nesse mesmo dia, com o concerto “O génio de Beethoven”, na Casa da Música. No Dia do Farmacêutico propriamente dito, 26 de Setembro, Maurício Barbosa deslocou-se a alguns locais onde os farmacêuticos exercem a profissão: primeiro o Hospital de São João, no Porto, onde visitou os serviços farmacêuticos, depois a Farmácia Saraiva, em Avintes, onde tomou conhecimento das iniciativas desenvolvidas junto da comunidade. A sessão solene evocativa teve como palco o Palácio do Freixo e foi ocasião para a Ordem distinguir personalidades que se evidenciaram na profissão: Teresa Barrosa, da comissão instaladora do Colégio

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de Especialidade de Farmácia Hospitalar, João Carlos Figueiredo de Sousa, professor catedrático da Universidade Fernando Pessoa, João Almiro, fundador do laboratório Labesfal, Henrique Santos Silva, fundador da Associação Portuguesa de Analistas Clínicos, e Paulo Ivo Garrido, ex-ministro da Saúde de Moçambique. Homenageados foram também os farmacêuticos que completaram 50 anos de exercício profissional, bem como os jovens farmacêuticos, através da atribuição dos prémios da Sociedade Farmacêutica Lusitana. Em destaque esteve igualmente o farmacêutico Nuno Lunet, da Faculdade de Medicina do Porto, vencedor da primeira edição do Prémio de Investigação Científica Professora Doutora Maria Odette dos Santos Ferreira pelo trabalho “Prevalência e determinantes da infecção por helicobacter pylori no início da vida: resultados de uma coorte de nascimento portuguesa”. Um jantar, a que compareceu o secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira, encerrou as comemorações.

Acção nas farmácias As comemorações do Dia do Farmacêutico 2011 passaram directamente pelas farmácias, através de uma campanha de educação para a saúde subordinada ao tema “Saúde sexual e reprodutiva”. Promovida pela Ordem dos Farmacêuticos, com o apoio da Associação Portuguesa dos Estudantes de Farmácia, visou particularmente a contracepção de emergência com o objectivo de dar suporte à intervenção farmacêutica em tudo o que respeita a promoção de um uso correcto, efectivo e seguro da chamada “pílula do dia seguinte”. Para o efeito, foi desenvolvida e actualizada pela Ordem uma orientação para a intervenção farmacêutica neste domínio, tendo sido facultado às farmácias um protocolo de actuação, um folheto com informação sobre o tema para entrega no momento do aconselhamento ou dispensa de medicamentos com indicação na contracepção de emergência e um questionário para os utentes envolvidos.


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71.º Congresso da FIP

A farmácia como garantia da segurança dos medicamentos Pela primeira vez, um Chefe de Estado esteve presente num congresso da Federação Internacional Farmacêutica (FIP): aconteceu na 71.ª edição, que decorreu de 3 a 8 de Setembro último em Hyderabad. A presidente da Índia salientou o papel dos farmacêuticos na promoção do uso correcto dos medicamentos e exortou-os a contribuírem activamente para o combate à contrafacção. Cerca de dois mil profissionais do sector farmacêutico estiveram reunidos na cidade indiana de Hyderabad, entre 3 e 8 de Setembro último para mais uma edição do congresso anual da FIP. Este ano, com uma particularidade inédita – a presença da presidente da Índia, Pratibha Devi Singh Patil. Em 70 anos de FIP, esta foi, de facto, a primeira vez que um Chefe de Estado participou na sessão de abertura de um congresso da federação. E fê-lo para sublinhar quer a importância da

localização do evento – uma região que alberga o cluster nacional da indústria farmacêutica – quer a pertinência do tema – o compromisso entre a segurança e a qualidade dos medicamentos. É – disse – “um tópico muito apropriado, pois a segurança e a qualidade dos medicamentos, juntamente com o uso responsável, constituem uma área crítica nos cuidados de saúde”. A propósito, chamou a atenção para o facto de se estimar que mais de 50 por cento dos medicamentos em todo

o mundo serem prescritos, dispensados ou vendidos inapropriadamente e de 50 por cento dos doentes não os tomarem correctamente, com graves consequências para a saúde. Uma questão que levou o governo indiano a, “consciente da enorme tarefa de garantir um uso dos medicamentos judicioso e seguro”, criar um programa nacional de farmacovigilância. Em sua opinião, as medidas para promover o uso racional do medicamento põem em evidência o papel dos

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Sessão de Abertura presidida pela Presidente da Índia

profissionais de farmácia, na medida em que os doentes precisam de mais aconselhamento: “A farmácia é uma importante componente do sector multidisciplinar da saúde. Os farmacêuticos devem ter novos conhecimentos e competências e, por isso, muitos países estão a introduzir grandes reformas na formação académica destes profissionais”. Ainda sobre o tema do congresso, sustentou que é responsabilidade dos profissionais de saúde e das organizações de saúde de cada país garantirem que a qualidade e a segurança dos medicamentos não são comprometidas: “Existem exemplos de fármacos nocivos para a saúde que estão a ser produzidos. Isto é um crime e uma prática anti-ética. Por isso, é tão importante o tema deste encontro”.

Boas práticas actualizadas Este foi o último congresso antes das comemorações do centenário da FIP, pelo que um dos tópicos em cima da mesa, na reunião do Conselho – que congrega representantes das organizações membros – foi precisamente a Declaração do Centenário, centrada no

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uso, no desenvolvimento e na distribuição responsável de medicamentos com vista a melhorar a saúde global. Na versão em análise – a declaração final não foi ainda aprovada – os mais de dois milhões de farmacêuticos das 124 organizações que têm assento na FIP manifestam a sua convicção de que o acesso a medicamentos seguros e eficazes é um direito humano fundamental e, em consequência, aceitam a sua responsabilidade na promoção desse direito. Reconhecendo que existem grandes diferenças no que respeita ao uso, desenvolvimento e distribuição responsáveis dos medicamentos, e que o valor dos medicamentos aumenta quando essas diferenças diminuem, os farmacêuticos comprometem-se com a optimização dos resultados terapêuticos através de cuidados centrados nos doentes. Da reunião de 2011 do Conselho saiu ainda um documento crucial para a farmácia de oficina: as Boas Práticas de Farmácia, já aprovadas pela FIP e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Trata-se das mais recentes guidelines do exercício profissional visando a excelência da prestação e dos serviços. “As Boas Práticas de Farmácia são o

centro, a essência da profissão. Mais do que isso, expressam o nosso compromisso com o doente”, escreve o presidente da FIP, Michael Buchmann. A primeira edição das boas práticas remonta a 1993, tendo desde então sido sujeitas a actualização em função da evolução dos desafios que são colocados à profissão. “Novos papéis são propostos à profissão, não apenas por ela própria, mas também pelas outras profissões de saúde e pelas autoridades nacionais e internacionais. Estas normas visam ter suficiente alcance e ser suficientemente flexíveis na sua abordagem de modo a permanecerem relevantes à medida que esses novos papéis se consolidam”, justifica Buchmann. Assim, o documento define padrões de boas práticas considerando quatro papéis a desempenhar pelo farmacêutico de oficina: (1) Preparar, obter, armazenar, proteger, distribuir, administrar, dispensar e eliminar medicamentos; (2) Proporcionar uma gestão terapêutica farmacológica efectiva; (3) Manter e melhorar o desempenho profissional; (4) Contribuir para a melhoria da eficiência do sistema de saúde e da saúde pública. Aprovado foi igualmente um compromisso conjunto da FIP e da OMS


visando o envolvimento dos farmacêuticos no combate à tuberculose. “São necessários esforços sistemáticos para permitir que os farmacêuticos desenvolvam o seu potencial no combate e controlo da tuberculose. Isto pode implicar sensibilizar quer os programas nacionais de combate à tuberculose, quer as associações farmacêuticas nacionais sobre os benefícios de trabalharem juntos”. Na ocasião, o director-geral assistente da OMS, Hiroki Nakatanim, sublinhou que os farmacêuticos podem funcionar como gatekeepers para os serviços de saúde vitais no combate à tuberculose. Por sua vez, o presidente da FIP assegurou que a federação apoiará a OMS no estabelecimento de programas de combate à doença e apelará às associações nacionais de farmácias e de farmacêuticos para que fortaleçam a sua intervenção. Em destaque na reunião do Conselho esteve ainda o problema da falta de medicamentos. Isto porque – conforme se lê na declaração aprovada – “muitos países enfrentam faltas de medicamentos sujeitos a receita médica críticos”, o que “tem dado origem a perturbações nos tratamentos em patologias como a epilepsia, a diabetes, doenças infecciosas e cancro, resultando em cuidados menos eficazes e, às vezes, mesmo na ausência de cuidados”. Daí

o apelo a todos os parceiros, incluindo governos, indústria e distribuidores, entre outros, bem como à profissão farmacêutica, para “avaliarem urgentemente esta questão e trabalharem de modo a garantirem a continuidade do fornecimento de medicamentos, de modo a que os doentes possam iniciar e manter o tratamento apropriado”.

Portugueses em foco Como habitualmente, Portugal esteve representado neste congresso através da Ordem dos Farmacêuticos e da ANF. E, também à semelhança de edições anteriores, os farmacêuticos portugueses estiveram activamente envolvidos nos trabalhos, nomeadamente na moderação e intervenção em sessões, e na apresentação de posters. Foi o caso de Suzete Costa, directora do CEFAR, convidada a participar, no dia 7 de Setembro, em representação da ANF, no simpósio sobre o desenvolvimento de novos serviços e inovação, reservado exclusivamente a altos dirigentes das organizações integrantes da FIP. Portugal foi um dos três países seleccionados para apresentar um best case de projecto. Suzete Costa abordou o “Pagamento das comparticipações às farmácias

através da ANF”, em que teve oportunidade para dar a conhecer aos demais participantes a génese, missão e pilares estratégicos da associação. Centrando-se no tema propriamente dito, fez uma síntese da evolução do sistema de pagamentos do Ministério da Saúde às farmácias em vigor até 2005, ano em que o Estado denunciou o acordo com o sector, introduzindo no Orçamento uma cláusula que proibia a associação de funcionar como intermediária financeira das suas associadas. Foi esta decisão político-legislativa que conduziu à criação da Finanfarma, a sociedade de factoring em que assenta actualmente o pagamento às farmácias e que veio a evoluir com modalidades de apoio para prestação de serviços a outras entidades. Em evidência esteve igualmente Ema Paulino, da Secção de Farmácia Comunitária da FIP e, à data do congresso, vogal da direcção da ANF (que entretanto se demitiu na sequência da aprovação do novo regime de preços e margens): foi um dos moderadores da sessão sobre “Tendências em Farmácia de Oficina – debatendo o futuro da profissão”, realizada a 6 de Setembro. No mesmo dia, Ema Paulino foi um dos oradores da sessão que se propôs traçar “Um olhar sobre a farmácia de

Reunião do Concelho da FIP

Farmácia portuguesa

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reuniões profissionais

Cristina Santos, Departamento de Serviços Farmacêuticos da ANF e Suzete Costa, CEFAR

oficina em 2020”, em que apresentou a estratégia da Secção de Farmácia de Oficina da FIP. À luz da visão da FIP para 2020, decidiu a secção dar-lhe seguimento, reflectindo sobre a necessidade e pertinência de desenvolver a sua própria visão da

farmácia de oficina para aquele horizonte e, ao mesmo tempo, contribuir para a construção da visão global da própria federação. Uma reflexão que começou no congresso de Lisboa, em 2010, em que a Secção de Farmácia de Oficina

“olhou para a bola de cristal” e colocou a seguinte questão: “Como irão ser e trabalhar as farmácias de oficina em 2020?”. Também a responsável pelo Departamento de Serviços Farmacêuticos (DSF) da ANF, Cristina Santos, teve uma participação activa: foi a 8 de Setembro, no “Ask your Pharmacist Day”, em que apresentou como case-study o papel das farmácias portuguesas na vacinação. Cristina Santos fez igualmente a apresentação oral de um poster sobre a campanha de prevenção do risco cardiovascular nas farmácias portuguesas, da responsabilidade do DSF. São também autoras do trabalho Rita Santos, do DSF, e Suzete Costa e Zilda Mendes, do CEFAR.Outro poster com assinatura da ANF teve como tema a campanha de protecção solar nas farmácias: são suas autoras Isabel Jacinto, do DSF, Zilda Mendes e Suzete Costa, do CEFAR, além de Cristina Santos. Em exibição estiveram também outros seis trabalhos de investigação desenvolvidos por farmacêuticos e investigadores portugueses.

Congresso regressa a Amesterdão no centenário O congresso de 2012 da FIP realiza-se em Amesterdão, regressando, assim, em ano de centenário à cidade de origem da federação. Será de 3 a 8 de Outubro subordinado ao tema “Promover a saúde através do uso responsável dos medicamentos”. Para a FIP, o congresso do centenário constitui não apenas uma oportunidade única de dar um passo significativo na concretização da sua visão e missão, como um ponto de viragem para a profissão a nível global – “Todos os presentes irão definir o cenário para o futuro com base em 100 anos de progresso”, lê-se no anúncio do evento. Além do congresso anual propriamente dito, o centenário será assinalado por uma cimeira de ministros da Saúde, a ser organizada pelo governo holandês, tendo como denominador comum o tema do uso responsável

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dos medicamentos. A cimeira culminará numa declaração conjunta e na criação de um mapa com vista a um sistema de cuidados de saúde mais custo-efectivo. Paralelamente, decorrerão mesas-redondas envolvendo governantes, indústria, organismos reguladores e organizações de profissionais de saúde e de doentes, convidados a discutir o tema do congresso, a partir de ideias como “o medicamento certo, o doente certo”, “adesão aos medicamentos”, “sistemas de informação e conhecimento” e “como pode a inovação proporcionar soluções”. Está igualmente a ser organizada uma exposição comemorativa, que se desenvolverá em torno de oito tópicos correspondentes a outros tantos marcos na história da FIP e do seu contributo para a criação do futuro da farmácia. Quanto ao congresso, desdobrar-se-á em sessões sobre temas como “A equipa

de saúde do futuro – como podemos ter impacto”, “Os medicamentos do futuro e o seu impacto na prática farmacêutica”, “Medicamentos seguros, doentes seguros – quão seguro é?”, “O core da farmácia agora e no futuro – garantindo um uso responsável dos medicamentos” e “A cadeia de fornecimento de medicamentos do futuro – reforçando o elo mais fraco”. Em foco estarão ainda “O futuro da economia dos cuidados de saúde – iremos nós moldá-lo ou será ele a moldar-nos?”, “Adesão – ajudando os doentes a usar os medicamentos correctamente” e “De volta ao futuro da farmácia”.


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informação terapêutica

Cuidados com a Mamã no Pré e Pós Parto Elaborado por Joana Gomes Revisto por Lígia Garcia, cedime@anf.pt

Os períodos pré e pós parto são etapas de grandes alterações físicas e emocionais na vida da mulher. Por isso, nunca são demais os cuidados a ter nestas alturas.

A Farmácia é um dos locais mais visitados pelas utentes nestes períodos especiais. Com uma equipa de profissionais de saúde, dispõe dos suportes e conhecimentos necessários para melhor aconselhar as suas utentes no pré e pós parto.

A gravidez: 9 meses de conhecimento mútuo A futura mãe – cuidados essenciais Há um conjunto de cuidados, transversais a toda a gravidez, que é necessário assegurar.

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Higiene e hidratação Uma correcta e cuidada higiene pessoal é fundamental, há, no entanto, que tomar alguns cuidados. Evitar os banhos de imersão, sendo mesmo aconselhado, 6 semanas antes do parto, optar em exclusivo pelo duche. Os banhos de imersão podem conduzir a um desequilíbrio da flora saprófita vaginal e desta forma, propiciar o desenvolvimento de infecções genitais. Já o duche deve ser tomado com água morna, pois a água fria provoca vasoconstrição, sendo a água quente responsável por uma vasodilatação excessiva, com aumento da sobrecarga cardíaca, já naturalmente aumentada. Para que sejam evitadas quedas, é ainda aconselhado


recorrer a tapetes e a suportes adequados para auxiliar a entrada e saída da banheira. Na selecção dos produtos de higiene corporal, devem ser preferidos agentes de limpeza com pH neutro, evitando-se produtos com corantes e perfumes, pelo risco acrescido de alergias. Na higiene íntima recomendam-se produtos que respeitem o pH ácido (3,8 – 4,2) desta zona. Uma boa hidratação, durante e após o banho, pode ajudar a prevenir o aparecimento de estrias. E uma vez instaladas, a promoção da melhor hidratação possível é imprescindível para minorar o seu agravamento e contribuir para a recuperação da pele (ver tabela 2A).

Alimentação No decorrer da gravidez, a prática de um regime alimentar adequado contribui para prevenir alguns incómodos característicos deste período como as náuseas, vómitos, azia, obstipação, entre outros. É fundamental que a alimentação seja completa, equilibrada e variada, por forma a assegurar o aporte de nutrientes, vitaminas, água e sais minerais, respondendo a todas as necessidades da futura mãe e do feto em desenvolvimento. É normal que a grávida aumente de peso no decorrer da gravidez. Este peso extra deve Uma alimentação ideal durante a gravidez não significa comer por dois, mas sim, comer duas vezes melhor!

Água

Deve ser dada especial atenção ao aporte hídrico, sendo recomendada a ingestão de cerca de 1,5 a 2 L diários de líquidos, preferencialmente água. A ingestão deste volume diário de líquidos é o mesmo que o recomendado para uma mulher não gestante.

Aporte calórico e proteico • Hidratos de carbono (ex. Pão, massas, arroz, batatas, leguminosas) • Lípidos (ex. Óleos vegetais, azeite, manteigas, queijos) • Proteínas (Leite e derivados, carne, peixe, ovos)

A partir do 2º trimestre da gravidez é aconselhado um aporte extra de 300 kcal/dia, a acrescer às 1600-2200 kcal/dia normalmente recomendadas, devido a um aumento das necessidades energéticas do bebé. As principais fontes energéticas são os hidratos de carbono, que contribuem com cerca de 60% da energia fornecida, e os lípidos. Além do aporte energético, os lípidos são importantes fontes de ácidos gordos e vitaminas lipossolúveis (A,D,E e K). É ainda necessário assegurar um aumento do aporte de proteínas na alimentação. As proteínas são importantes para responder a alterações como o crescimento do útero e mamas, a formação da placenta e aumento da volémia.

Fibras (ex. Legumes, leguminosas, hortaliças, cereais, frutas)

Durante a gravidez assegurar o correcto aporte de fibras é muito importante na prevenção da obstipação (muito frequente na grávida). As fibras contribuem para o aumento da saciedade (logo, para o controlo do peso), para o equilíbrio da flora intestinal e para a estabilização dos níveis glicémicos.

corresponder essencialmente ao peso do bebé, placenta, mamas, útero e líquidos (água, sangue e líquido amniótico). O aumento de peso ideal durante a gravidez depende do peso antes de engravidar. Em média, de acordo com a curva do peso descrita no boletim de saúde da grávida, é esperado que o peso aumente aproximadamente cerca de 12 Kg às

40 semanas e 13 Kg às 44 semanas. Contudo, estes limites para o aumento de peso podem variar, sendo inferiores ou superiores consoante o peso anterior à gravidez seja substancialmente inferior ou superior, ao peso médio. Durante a gravidez são desaconselhadas dietas de emagrecimento.

Tabela 1 – Alimentos não recomendados e a evitar na Gravidez

A evitar

Não recomendado

Alimentos

Porquê?

Doces, bolos e refrigerantes

Contêm elevadas quantidades de açúcar e calorias e são escassos em vitaminas e minerais

Café e chá preto ou verde (> 300 mg/dia)

A cafeína (café) e a teína (chá) são estimulantes do SNC podendo provocar restrição do crescimento fetal e contracções

Álcool

A variabilidade individual, nomeadamente ao nível do metabolismo, impossibilita a indicação de valores considerados seguros de consumo de bebidas alcoólicas na gravidez. A recomendação passa por evitar, sendo que um consumo excessivo pode provocar a síndrome alcoólica fetal (malformações, alterações cognitivas)

Mariscos, ovos crus

Risco de Salmonelose

Carne mal passada, carnes fumadas, legumes crus e fruta mal lavada

Risco de Toxoplasmose e Listeriose

Queijo fresco e requeijão de leite não pasteurizado e queijo de pasta mole artesanal

Risco de Brucelose e Listeriose

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informação terapêutica

A prática de actividade física regular durante a gravidez ajuda a melhorar a circulação sanguínea, a reduzir o risco de obstipação e a aliviar o stresse.

Alguns cuidados a aconselhar à grávida quanto à alimentação: avar muito bem os alimentos consumidos crus L (por exemplo vegetais, como a alface) e descascar a fruta; • C ozinhar os alimentos de forma simples, preferindo confeccionar grelhados e cozidos; • B eber cerca de 1,5 L de água por dia, assim como entre 0,5 a 1 litro de leite ou seus derivados; • Retirar sempre a gordura visível da carne e evitar as partes que tenham ficado queimadas ao cozinhar; • Evitar reaquecer os restos de comida (por risco de contaminação com listéria); • Reduzir o consumo de alimentos muito condimentados e com demasiado sal. •

O ferro é essencial para a produção de hemoglobina. Durante a gravidez, há um aumento do volume plasmático e ocorre transporte activo de ferro para o feto, através da placenta. É por estes motivos que pode ser recomendada a suplementação em ferro. Durante a gravidez, a dose diária recomendada é de 30 mg, dos quais apenas 3 mg são absorvidos pelo organismo, visto que a biodisponibilidade oral do ferro é de apenas 10%. Uma maior biodisponibilidade oral do ferro pode ser obtida se se aumentar a ingestão de alimentos que favorecem a absorção do ferro, de que é exemplo a vitamina C, presente em frutas cítricas, tomates e bróculos. O ferro não absorvido é eliminado via fecal o que torna as fezes mais escuras, podendo provocar obstipação ou agravar um quadro de obstipação preexistente. A suplementação em ferro é particularmente importante durante o 2º e 3º trimestre da gravidez onde se observa um aumento das necessidades de ferro no feto. A partir do 6º mês de gravidez, o feto inicia o “armazenamento” de ferro no seu fígado para que após o parto possa colmatar as suas necessidades neste mineral até iniciar dieta com alimentos sólidos.

Compreender a suplementação na grávida

Exercício físico

Como aporte a uma alimentação equilibrada, variada e adequada é, por vezes, necessária suplementação, no que respeita sobretudo, a algumas vitaminas e sais minerais essenciais para o melhor desenvolvimento do feto e bemestar da futura mãe.

A prática de actividade física regular durante a gravidez ajuda a melhorar a circulação sanguínea, a reduzir o risco de obstipação e a aliviar o stresse. A actividade pela qual optar pode ir desde a prática de pilates, de caminhadas, até à natação, o importante é a intensidade ser moderada e o tipo de actividade adequada à condição física da mulher e à etapa da gravidez em que se encontra. Assim, a actividade física recomendada depende fundamentalmente do estado de saúde da grávida. As aulas de preparação para o parto são também uma boa opção de exercício físico para mulheres grávidas. Nestas são realizados exercícios de fortalecimento da musculatura, articulações e ligamentos envolvidos no trabalho de parto, bem como treinadas técnicas respiratórias a ter em atenção durante o mesmo. As mulheres que praticam exercício físico durante a gravidez suportam melhor as contracções e têm um trabalho de parto mais rápido.

Ácido fólico (vitamina B9) O ácido fólico actua na síntese e replicação do ADN, desempenhando um importante papel no crescimento e desenvolvimento dos tecidos, principalmente do tubo neural do embrião (futuro cérebro e espinal medula). A suplementação em ácido fólico é assim fundamental na prevenção de malformações no feto, como a espinha bífida, que normalmente se desenvolve nos primeiros 28 dias de gravidez. Deve-se iniciar a suplementação com ácido fólico ainda numa fase anterior à concepção, aproximadamente um mês antes, devendo a mesma manter-se até indicação do médico. A posologia e a duração da toma de ácido fólico devem ser estabelecidas pelo médico assistente. Normalmente, durante a gravidez, é recomendado 0,4 a 1 mg de ácido fólico/dia, valor que pode ser aumentado, até cerca de 4 mg/dia, especialmente no caso de mulheres com história prévia de gravidezes com ocorrência de malformações do tubo neural.

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FERRO

Alterações observadas durante a gravidez Durante a gravidez, a mulher passa por diferentes alterações fisiológicas. Embora algumas sejam mais frequentes numa determinada etapa ou trimestre, podem ocorrer em qualquer altura.


Tabela 2A - Alterações características do 1º Trimestre de gravidez Alterações observadas

Características

Medidas não farmacológicas a aconselhar

Náuseas/ Vómitos

Embora de causa exacta desconhecida, podem dever-se a alterações hormonais (flutuações nas concentrações das hormonas gonadotrofina coriónica humana, estrogénio e progesterona) e/ou a hipoglicemia (daí que este sintoma seja mais frequente de manhã).

Comer alimentos pouco calóricos, saciantes e fáceis de digerir (ex. tostas, bolachas de água e sal, fruta, cereais) antes de se levantar de manhã e evitar jejuns prolongados (comer de 2 em2 horas).

Alterações nos seios

Devido às alterações hormonais, os seios aumentam de tamanho e tornam-se mais firmes e tensos, preparando-se para o período da amamentação.

Utilizar um sutiã adequado, confortável, sem armações, com alças largas para não pressionarem muito os ombros e que ofereça uma boa sustentação do peito por forma a prevenir o aparecimento de flacidez e estrias.

Estrias

Provocadas pelo estiramento rápido e excessivo da pele. Surgem principalmente na região abdominal, seios, coxas, ancas, nádegas e parte lateral do tronco.

Para prevenção deve ser aplicado, regularmente e desde o início da gravidez, um creme hidratante (anti-estrias). Nas grávidas que já apresentem estrias instaladas é recomendada a aplicação de cremes específicos para o seu tratamento.

Alteração da Pigmentação

Saúde Oral

Os mamilos ficam mais escuros e podem surgir manchas acastanhadas no rosto – pano gravídico ou cloasma. A linea negra, que atravessa verticalmente o abdómen, pode escurecer à medida que a gravidez progride, tornando-se cada vez mais visível.

As alterações hormonais podem aumentar a sensibilidade das gengivas, favorecendo o aparecimento de inflamações e infecções (ex. gengivite).

Deve ser usado no rosto um creme com factor de protecção solar elevado. As manchas hiperpigmentadas, em geral, desaparecem pouco depois do parto, sem que seja necessário recorrer a nenhum tratamento. No entanto, se persistirem, o recurso a cremes despigmentantes ou a esfoliação pode representar uma opção. Lavar os dentes após as principais refeições e ao deitar. Utilizar uma escova de dureza suave, para que não seja agressiva para as gengivas. O recurso a colutórios com flúor e cloro-hexidina na sua composição, em particular a partir do 6º mês de gravidez, é manifestamente benéfico na prevenção de cáries de causa bacteriana.

Tabela 2B - Alterações características do 2º Trimestre de gravidez Alterações observadas

Características

Medidas não farmacológicas a aconselhar

O aumento da frequência, com que ocorre a vontade de urinar, é provocado pelo aumento da produção de progesterona, que causa um relaxamento da bexiga, e pelo aumento da circulação sanguínea, que estimula o funcionamento dos rins.

A grávida deve ir à casa de banho sempre que necessário. Reter a urina pode aumentar o risco de infecção.

Hemorragias e congestão nasal

Causadas pelas alterações hormonais e pela vasodilatação, provocada pelo aumento da volémia.

Para alívio da congestão nasal fazer lavagens com uma solução salina e dormir com a cabeça mais elevada em relação ao corpo. Aplicar um creme hidratante ou vaselina nas mucosas nasais para evitar a desidratação. Para prevenção das hemorragias deve assoar o nariz suavemente.

Obstipação

Pode surgir como consequência das alterações hormonais que, ao provocarem o relaxamento da musculatura intestinal, atrasam a expulsão das fezes ou devido à presença de fissuras anais ou hemorróidas que podem desencadear um espasmo reflexo do esfíncter anal. Este espasmo pode atrasar a evacuação e diminuir a vontade de evacuar, como forma de evitar a dor anal. Também a toma de suplementação em ferro, necessária durante a gravidez, pode desencadear ou agravar um estado de obstipação.

Beber 2 a 3 L de água por dia. Evitar alimentos que causam flatulência (ex. couves, bróculos) e preferir alimentos que auxiliam no alívio da prisão de ventre (ex. sementes de linhaça, ameixas, abacaxi). Em certos casos pode ser necessário o recurso a laxantes (ver tabela 3).

Polaquiúria

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informação terapêutica

Tabela 2C - Alterações características do 3º Trimestre de gravidez Alterações observadas

Características

Medidas não farmacológicas a aconselhar

Varizes

O aumento do volume de sangue em circulação pode provocar vasodilatação, com consequente aparecimento de varizes sobretudo nos membros inferiores.

Elevar as pernas sempre que possível, por forma a promover o retorno venoso. Usar calçado com salto baixo (3-5 cm) e se necessário, meias de compressão de classe 1 na prevenção ou de classe 2 em caso de problemas vasculares já existentes ou de marcada retenção de líquidos.

Dores nas costas

Surgem principalmente na região lombar ou sacro-ilíaca, causadas pelo peso da barriga.

Desenvolver a musculatura, através do exercício e alongamentos, ajuda no alívio do esforço exercido pelas costas. Evitar pegar em pesos e manter uma postura correcta.

Insónias

A sonolência que por vezes se faz sentir no início da gravidez pode dar lugar à insónia, pela dificuldade em encontrar uma posição confortável para dormir. As alterações hormonais também podem provocar alterações no padrão do sono e na reacção ao stresse, favorecendo o aparecimento de insónias.

Adoptar as medidas de higiene do sono, como ingerir uma bebida morna (leite) antes de deitar e procurar relaxar. Usar almofadas para apoiar as costas e barriga quando deitada, para um maior conforto.

Pirose/ Azia

A pressão da barriga sobre o estômago impede o esfíncter de funcionar correctamente, o que leva a que o conteúdo ácido do estômago possa passar para o esófago.

Comer pequenas porções, várias vezes ao dia e evitar alimentos condimentados e com muita gordura. Em certos casos pode ser necessário o recurso a antiácidos (ver tabela 3).

Hemorróidas

A obstipação associada às alterações hormonais provoca o estiramento da parede do recto e do canal anal, favorecendo a dilatação das veias hemorroidárias.

Evitar estar sentado por longos períodos de tempo e aplicar gelo ou compressas frias para reduzir o inchaço. Para prevenção deve-se aumentar a ingestão de fibras e água por forma a diminuir o risco de aparecimento de um quadro de obstipação.

Cãibras

Ocorrem essencialmente como consequência do aumento de peso e das alterações circulatórias, mas também devido à pressão exercida pelo bebé em crescimento sobre os nervos e vasos sanguíneos.

A realização de exercícios de alongamento e a ingestão de alimentos ricos em magnésio (ex. feijão, frutos secos, nozes). Em certos casos pode ser necessário recorrer a suplementos de magnésio.

Edemas

As alterações hormonais juntamente com o aumento da volémia e da pressão sanguínea podem aumentar a propensão para a retenção de líquidos.

A grávida deve deitar-se e elevar as pernas acima do nível do coração, sempre que possível. Praticar actividade física regular (jogging, natação).

Medicamentos e gravidez As anomalias congénitas são provocadas, em cerca de 2 a 3%, pela acção de medicamentos. Tal contribui para que, durante todo o período de gravidez, deva ser garantida a maior segurança associada à toma de medicamentos. Existem, no entanto, algumas classes de fármacos, com perfis de segurança perfeitamente estabelecidos, indicados no tratamento e alívio de alguns dos sintomas mais característicos da gravidez (tabela 3). Em caso de febre e/ou dor o paracetamol é o fármaco de eleição. A aspirina e os anti-inflamatórios não esteróides (AINE’s) podem induzir o encerramento prematuro do canal arterial fetal (ductus arteriosus) pelo que não são indicados durante a gravidez. A esta classe de fármacos foram também associados casos de aborto espontâneo e malformações congénitas

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(recomenda-se consulta do CEDIME Informa divulgado na Newsletter ANFOnline de 14 de Setembro de 2011).

Parâmetros a controlar evitar complicações na gravidez Durante a gravidez há que ter uma atenção redobrada na monitorização de alguns parâmetros, como a glicemia e a pressão arterial. Quando descompensados estão na origem de algumas das mais graves complicações – Diabetes e Hipertensão gestacional.

Diabetes gestacional A diabetes gestacional reflecte uma intolerância, de grau variável, aos hidratos de carbono, que surge no decorrer da


Tabela 3 – Exemplos de Medicamentos indicados no alívio de alguns sintomas característicos da Gravidez Medicamentos (composição)

Posologia e recomendações de toma

Doxilamina+Piridoxina+Dicloverina (ex.Nausefe[2])

2 comprimidos ao deitar mais 1 comprimido ao levantar. Em caso de persistência dos sintomas pode tomar mais 1 comprimido a meio da tarde.

Metoclopramida* (ex.Primperan[2])

1-2 comprimidos ou 1 colher de sobremesa 3x/dia, antes das refeições (aprox. 15 min).[1] Respeitar um intervalo mínimo de 6h entre tomas, mesmo em caso de vómitos, para evitar sobredosagem.

Sais de cálcio e magnésio* (ex.Tums[3], Rennie Digestif[3], Gaviscon[3], Gavigard[3])

1-2 pastilhas/comprimidos mastigados ou chupados, de preferência 1 hora após as refeições e antes de deitar, até um máximo de 16 pastilhas/comprimidos por dia ou 1-2 saquetas (5-10ml) até um máximo de 4x/dia.[1]

Lactulose (ex.Colsanac[3], Duphalac[3], Laevolac[3])

Dose inicial (3 dias): 10-45 ml/dia (1 a 2 colheres de sopa ou 1 a 2 saquetas de 15 ml) em toma única (pequeno-almoço) ou dividida em duas tomas. [1] Dose de manutenção: Deverá ser metade da dose inicial. O xarope pode ser tomado com alimentos (ex. iogurte) ou com líquidos (ex. sumos, água).

Ispagula (tegumento) + Ispagula (semente) (ex.Agiocur[3])

2 colheres de chá após o jantar (pelo menos uma hora antes de deitar), e, se necessário, 1 colher de chá antes do pequeno-almoço.[1] Tomar com 1-2 copos com água, sem mastigar. Recomenda-se uma ingestão diária de água de 1–2 litros.

Sintomas

Náuseas e Vómitos

Pirose/ Azia

Obstipação

Legenda: [1] Posologia descrita no RCM para um adulto saudável; [2] MSRM; [3] MNSRM.

gravidez e termina, normalmente, após o período de gestação. As mulheres que desenvolvem diabetes gestacional têm maior probabilidade de desenvolverem diabetes tipo 2 no futuro. A identificação precoce da diabetes gestacional possibilita uma intervenção atempada, evitando problemas para a mãe e para o bebé. A hipertensão é a complicação mais frequente decorrente da hiperglicemia materna, já no que respeita ao recém-nascido estão associadas morbilidades como a macrossomia, hipoglicemia neonatal, hiperbilirrubinemia, hipocalcemia e traumatismos de parto. A prova de rastreio da diabetes gestacional deverá ser efectuada entre a 24ª e 28ª semana, e caso o resultado seja negativo, deve ser repetida às 32 semanas de gestação. Esta prova consiste na determinação da glicemia 1 hora após a ingestão de 50g de glucose em 200ml de água. Este rastreio é considerado positivo se a glicemia plasmática for ≥140 mg/dl, devendo o diagnóstico da diabetes gestacional ser confirmado através da realização de uma Prova de Tolerância Oral à Glucose (PTOG).

de gestação e que pode manter-se até às 12 semanas pós-parto. A pré-eclâmpsia é uma das complicações mais comuns da hipertensão na grávida, caracterizada por um aumento da pressão arterial (≥140/90mmHg) associado a proteinúria ou retenção de líquidos (edema). Este estado hipertensivo é mais frequente nas primeiras gravidezes e em mulheres com pressão arterial elevada ou com problemas venosos prévios à gravidez. O maior risco associado à pré-eclâmpsia é o descolamento prematuro da placenta da parede uterina que pode levar ao aborto. A monitorização regular dos valores da pressão arterial durante a gravidez, especialmente após as 20 semanas de gestação, possibilitam o diagnóstico precoce de uma possível hipertensão gestacional. Só desta forma são tomadas medidas que evitam possíveis complicações no decorrer da gravidez.

Hipertensão na grávida

A Mala da Mamã e do Bebé: o que levar?

A hipertensão arterial é a complicação associada à gravidez com maior prevalência, afectando entre 5 a 10% de todas as gravidezes. É caracterizada por um aumento dos valores da pressão arterial, que surge por volta das 20 semanas

A mala da mamã e do bebé deve ser preparada com alguma antecedência, por volta das 28 semanas de gestação, para fazer face a qualquer imprevisto e para que nada de importante seja esquecido!

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informação terapêutica Exemplo de uma mala de maternidade para a mãe para o bebé:

Para a Mãe

Para o bebé

- 3 Camisas de dormir; - 1 Roupão; - 2 pares de Chinelos (quarto e duche); - Toalhas; - 6 Cuecas (de preferência descartáveis); - Pensos higiénicos; - Soutien de amamentação e discos absorventes; - Creme para os mamilos; - Cinta pós-parto; - Estojo higiene pessoal (escova e pasta de dentes, champô, escova, desodorizante, creme hidratante); - Secador de cabelo; - Boletim de saúde; - Resultados dos últimos exames; - Documentos pessoais.

- 4 mudas de Roupa (body, babygrow); - Meias ou botinhas; - Babetes; - Gorro; - Toalha de banho; - Fraldas descartáveis para 2/3 dias (12-18 unidades); - Toalhetes húmidos; - Soro fisiológico unidoses; - Mantinha; - Casaco (opcional); - Estojo higiene pessoal (tesoura para as unhas, creme/gel de banho corpo e cabelo, creme para a muda da fralda, creme hidratante).

Pós-Parto: os cuidados O pós-parto representa uma etapa na vida da mulher onde ocorrem várias modificações físicas num curto espaço de tempo, especialmente a recuperação dos órgãos genitais das alterações sofridas durante a gravidez e parto e a iniciação da amamentação. Por tudo o que está envolvido durante este período, é recomendado que, sempre que possível, a nova mãe aproveite as pausas para descansar. Durante este período há que ter em atenção alguns cuidados especiais, nomeadamente no que concerne à higiene pessoal e ao processo de amamentação.

dispositivos próprios para o efeito, durante curtos períodos de tempo (até 20 minutos ou quando sentir a zona dormente) para não danificar as terminações nervosas, a cada 2 ou 4 horas. As dificuldades em sentar podem ser superadas com recurso a almofadas com furo central. Em caso de dores agudas e persistentes pode ser preciso recorrer a analgésicos (ex. paracetamol, tramadol), sempre indicados pelo médico, sendo de extrema importância garantir que estes são tomados de forma segura durante a amamentação.

Aleitamento materno Durante o parto, após a expulsão da placenta, ocorre uma diminuição da produção de estrogénios e de progesterona. Em resposta ao acto de sucção do bebé aquando da amamentação, a prolactina começa a ser secretada pela hipófise anterior, iniciando-se a produção de leite. O que desencadeia a libertação do leite produzido pelos seios é a acção da hormona ocitocina, libertada pela hipófise posterior, que ocorre como consequência da sucção do bebé ou como resultado de uma resposta emocional da mãe, este processo designa-se por reflexo da ocitocina. No caso de haver grande produção de leite, ou mesmo por outros motivos (ex. ausência da mãe no horário da mamada) é possível recorrer à extracção do leite manualmente ou com recurso a bombas manuais ou eléctricas. Durante a mamada é importante que a mãe procure que o bebé esvazie completamente a mama. O leite materno contém todos os constituintes necessários (nutrientes, minerais, enzimas, anticorpos) ao crescimento saudável do bebé mas não é sempre igual, variando a sua composição ao longo da mamada e de acordo com o crescimento do bebé. No início da mamada o leite é produzido em maiores quantidades (com maior volume de água), e é mais rico em lactose, proteínas e outros nutrientes. O leite final, produzido no fim da mamada, apresenta uma cor mais esbranquiçada e é rico em gorduras, permitindo manter o bebé saciado por mais tempo. Durante as primeiras semanas de amamentação podem surgir gretas ou fissuras nos mamilos, que causam dor a amamentar, podendo inclusive sangrar. Há um conjunto de medidas a adoptar que contribuem para a prevenção do aparecimento de gretas nos mamilos ou, caso estas já se encontrem presentes, das acções a desenvolver no processo de tratamento.

A Higiene pessoal A mulher deve retomar os seus hábitos de higiene diários após o parto. Estes são importantes, entre outros aspectos, na promoção da regeneração e cicatrização do períneo. É normal nos primeiros dias após o parto, haver algumas perdas vaginais de sangue que, com o passar do tempo, vão diminuindo. Há por isso, que manter a região genital limpa e utilizar pensos higiénicos durante o período de sangramento, os quais devem ser mudados frequentemente (4 em 4 horas). No pós-parto, após cada ida à casa de banho, é recomendado a lavagem da zona genital externa com água tépida. A secagem da região genital pode ser feita com compressas de não tecido (para não aderirem aos pontos) ou através do ar frio do secador. Para o alívio da dor e inchaço decorrente da episiotomia podem ser aplicadas bolsas de gelo, compressas geladas ou outros

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Tabela 4 – Vantagens da amamentação para o bebé e para a mamã Bebé Alimento ideal, do ponto de vista nutricional, e de fácil digestão Fornece anticorpos, prevenindo infecções e alergia (atopia) Previne diarreia e prisão de ventre Diminui a taxa de mortalidade e morbilidade

Mãe Favorece a recuperação do peso inicial Reduz o sangramento pós-parto Reduz a incidência de doenças crónicas, como o cancro da mama e dos ovários e a osteoporose


Prevenção

Tratamento

• Segurar correctamente o bebé durante a amamentação;

• Correcção da pega;

• Lavar os mamilos apenas uma vez ao dia, aquando da higiene diária;

• Iniciar a mamada sempre pelo mamilo não doloroso;

• Deixar que seja o bebé a terminar a mamada; • Se a mamada tiver de ser interrompida, colocar um dedo no canto da boca do bebé (interrompe a sucção).

• Aplicar algumas gotas de leite materno no mamilo antes de começar a amamentar e após a mamada; • Expor os mamilos ao ar entre as mamadas; • Evitar usar protecções ou roupa húmida sobre os mamilos; • Aplicar, entre as mamadas, um regenerador adequado (por exemplo, com lanolina).

Na página da internet Amamentar (disponível em http://www. amamentar.net) são referidos os “Hospitais Amigos dos Bebés” presentes em Portugal. Esta iniciativa visa a “promoção, protecção e apoio ao aleitamento materno”, onde a nova mãe poderá encontrar profissionais de saúde especializados e preparados para a auxiliar no processo de amamentação.

Outros contactos úteis: • Mama Manter – Associação de Aleitamento

Materno em Portugal – 919 422 852 • SOS Amamentação – 213 965 650 ou

http://www.sosamamentacao.org.pt

Medicamentos e amamentação Alguns medicamentos ou os seus metabolitos activos podem ser eliminados pelo leite materno em quantidade significativa, aumentando o risco de efeitos nocivos para o bebé. Caso a mãe tenha de tomar medicamentos absolutamente necessários, a altura ideal para os tomar deve ser imediatamente depois de amamentar, 3-4 horas antes da próxima mamada, evitando assim que a concentração máxima do medicamento no sangue e no leite coincida com o período de amamentação. No que respeita aos medicamentos a indicar para uma mãe a amamentar deve ser tida em atenção: • A quantidade do medicamento a passar para o leite materno; • O tempo de semi-vida do medicamento; • A biodisponibilidade oral do medicamento para o bebé; • As características do bebé – idade e peso. Se a mulher estiver a amamentar em exclusividade, normalmente não ocorre ovulação até sensivelmente 10 ou 12 semanas após o parto. Contudo, é possível ovular e engravidar antes do reaparecimento da primeira menstruação após o parto. É assim aconselhado o recurso a métodos contraceptivos para prevenção de uma nova gravidez, dos quais os contraceptivos orais (CO) são, muitas vezes, os eleitos. As mães em período de amamentação que desejem

iniciar a toma de CO devem fazê-lo com pílulas contendo apenas progestagénios (ex. Desogestrel), pois os estrogénios, presentes em vários CO combinados ou isoladamente, podem reduzir a quantidade de leite produzido bem como as concentrações de proteínas e de gordura no leite.

O aconselhamento activo da Farmácia no que respeita os cuidados primários a ter no pré e pós parto é valorizado pelas suas utentes grávidas que, neste período de grandes mudanças na sua vida, buscam informação útil, prática e fidedigna. A Farmácia dispõe dos conhecimentos e competências necessários à prestação do melhor aconselhamento - um Aconselhamento de Qualidade.

Como suporte ao aconselhamento em situações relacionadas com Cuidados na gravidez e pós-parto, tem disponível os suportes iSaúde Gravidez – nove meses de saúde e bem-estar, Acessórios de Alimentação e Conforto – Escolhas seguras dos 0 aos 4 meses, A Higiene do Bebé – cuidados mil e Criopreservação – Células especiais, de forma integrada no atendimento no Sifarma 2000 e também disponível através do ANFOnline. No menu Publicações do sítio da Associação Nacional das Farmácias (www.anf.pt), poderá aceder a informação dirigida aos profissionais de saúde no Boletim Farmácia Prática Nº 21 (Fev09) – Pele do Bebé: os cuidados de higiene.

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informação terapêutica Sifarma 2000 Alertas de segurança na Gravidez e Amamentação

No atendimento a uma utente identificada com acompanhamento, com o Estado Fisiopatológico “Gravidez” ou “Amamentação” registado no Perfil Farmacoterapêutico da sua Ficha de Acompanhamento, aquando da dispensa de um medicamento, surge, sempre que aplicável, proactivamente, o aviso de contra-indicação.

O botão “Info. Cient.” presente no ecrã do atendimento dá acesso a uma plataforma de informação técnica e científica associada a cada medicamento, na qual encontra o separador “Contraindicações”. Neste estão contempladas as contra-indicações do medicamento com relevância clínica, incluindo as associadas a condições particulares como a gravidez e amamentação. As contra-indicações estão classificadas por grau de gravidade e caracterizadas com o mecanismo de acção que justifica essa contra-indicação, acção recomendada ao farmacêutico e mensagem a transmitir ao utente.

Bibliografia 1. P ortal da Saúde. [Online] [Citação: 29 de Agosto de 2011.] http:// www.min-saude.pt/portal/conteudos/informacoes+uteis/ gravidez+e+sexualidade/viveragravidezemsaude.htm. 2. Medscape. [Online] [Citação: 2 de Setembro de 2011.] http:// www.medscape.com/. 3. The American Congress of Obstetricians and Gynecologists. [Online] [Citação: 29 de Agosto de 2011.] http://www. a c o g . o rg / p u b l i c a t i o n s / p a t i e n t _ e d u c a t i o n / a b 0 0 5 . cfm?printerFriendly=yes. 4. Healthy Eating during Pregnancy and Breastfeeding. OMS. [Online] [Citação: 15 de Setembro de 2011.] http://www.euro. who.int/__data/assets/pdf_file/0020/120296/E73182.pdf. 5. American Pregnancy Association. [Online] [Citação: 16 de Setembro de 2011.] http://www.americanpregnancy.org/. 6. Micromedex Healthcare Series. [Online] [Citação: 2 de Setembro de 2011.] 7. Manual Merck. [Online] [Citação: 30 de Agosto de 2011.] http:// www.manualmerck.net/.

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8. Treating Common Problems in the Pregnant Patient. Pray, W. Steven. 9, s.l. : US Pharm, 2009, Vol. 34. 12-15. 9. INFARMED. [Online] [Citação: 28 de Julho de 2011.] http:// www.infarmed.pt. 10. Diabetes gestacional: uma doença, duas gerações, vários problemas. Queirós, Joana, Magalhães, Ângela e Medina, José Luis. Porto : REVISTA PORTUGUESA DE ENDOCRINOLOGIA, DIABETES E METABOLISMO, 2006, Vol. 2. 19-24. 11. Maternidade Alfredo da Costa. [Online] [Citação: 5 de Setembro de 2011.] http://www.mac.min-saude.pt/pdfs/ revista7.pdf. 12. Saraiva, Helena. Aleitamento Materno - Promoção & Manutenção. s.l. : Lidel, 2010. 13. Aleitamento Materno - Prevalência e Factores Condicionantes. Sandes, Ana Rita, et al., et al. Lisboa : Acta Med Port, 2007, Vol. 20. 193-200.


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consultoria fiscal

A sobretaxa extraordinária de Dezembro (publicação, entrada em vigor e aspectos práticos) Foi publicado a 7 de Setembro, em Diário da República, entrando em vigor no dia seguinte, o diploma - Lei n.º 49/2011 - que cria uma sobretaxa extraordinária (dita para ajustamento orçamental) sobre os rendimentos auferidos, no ano em curso de 2011, pelos sujeitos passivos de IRS, residentes fiscais em território português. Esta sobretaxa extraordinária foi introduzida no Código do IRS, onde se passou a dispor que a mesma recairá sobre a parte do rendimento colectável - isto é, antes das deduções à colecta, mas após as deduções específicas - que resulte do englobamento, acrescida dos seguintes rendimentos: • as gratificações auferidas pela prestação de trabalho, ou em razão dessa

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prestação, quando não atribuídas pela entidade patronal nem por entidade que com esta mantenha relações de grupo, domínio ou simples participação; • o saldo positivo entre as mais-valias e menos-valias, resultante, quer da alienação onerosa de partes sociais, incluindo a sua remição e amortização com redução de capital, e de outros valores mobiliários, bem como o valor atribuído aos associados em resultado da partilha que, nos termos do Código do IRC, seja considerado como mais-valia, quer de operações relativas a instrumentos financeiros derivados (excepto quanto aos ganhos decorrente de operações de swaps cambiais,

swaps de taxa de juro, swaps de taxa de juro e divisas e de operações cambiais a prazo, que são considerados rendimentos de capitais) e, bem assim, de operações relativas a warrants autónomos e a certificados que atribuam ao titular o direito a receber um valor de determinado activo subjacente (com excepção da remuneração decorrente de certificados que garantam ao titular o direito a receber um valor mínimo superior ao valor de subscrição); • os rendimentos líquidos das categorias A (trabalho dependente) e B (trabalho independente) auferidos em actividades de elevado valor acrescentado, com carácter científico, artístico ou técnico, por resi-


dentes não habituais em território português; e • os acréscimos patrimoniais não justificados, de valor superior a € 100.000. A sobretaxa extraordinária será de 3,5%, sendo dedutível à sua colecta a importância correspondente a 2,5% do valor da retribuição mínima mensal garantida (€ 485, em 2011), por cada dependente ou afilhado civil que não seja, ele próprio, sujeito passivo de IRS. Assim, o valor dedutível por cada dependente ou afilhado civil será de € 12,13. Deduzir-se-ão, ainda, as importâncias previamente retidas na fonte (em Dezembro), as quais, quando sejam superiores à sobretaxa devida pelo sujeito passivo em causa, conferirão a este o direito ao reembolso do montante excedente. Em termos operacionais, prevê-se que as entidades devedoras dos rendimentos de trabalho dependente - como será o caso das Farmácias relativamente aos seus trabalhadores que desempenham as respectivas funções ao abrigo de um contrato de trabalho - e de pensões, sejam obrigadas a reter uma importância correspondente a 50% da parte do subsídio de Natal, ou da prestação adicional correspondente ao décimo terceiro mês que, após ser efectuada a retenção na fonte de IRS e de serem deduzidas as contribuições obrigatórias para a segurança social, exceda o valor da retribuição mensal mínima garantida. Para este efeito, considerase abrangido pelo âmbito de aplicação da sobretaxa extraordinária o subsídio de Natal ou a prestação adicional correspondente ao décimo terceiro mês cujo pagamento ou colocação à disposição do respectivo beneficiário esteja a cargo da segurança social. Quando o subsídio de Natal ou a prestação adicional sejam pagos fraccionadamente, deverá ser retida, no momento de cada pagamento, a parte proporcional da sobretaxa extraordinária. Prevê-se, ainda, que os montantes retidos sejam entregues nos locais de pagamento previstos na lei, no prazo

de oito dias a partir do momento em que se procedeu à respectiva retenção na fonte, nunca podendo ser entregues após 23 de Dezembro. As entidades devedoras dos rendimentos do trabalho dependente - como é o caso das Farmácias - e de pensões estão, ainda, obrigadas a declarar os pagamentos assim efectuados na declaração Modelo 10 (Rendimentos e retenções não liberatórias de sujeitos passivos residentes), a entregar até ao final do mês de Fevereiro do ano seguinte ao que respeitam os rendimentos, neste caso 2012. Imaginemos então, como exemplo, um trabalhador de uma Farmácia, residente no Continente, casado e com um dependente, que aufere, a título de subsídio de Natal, € 1.000. Considerando que o subsídio de Natal é sempre sujeito a retenção na fonte de IRS de forma autónoma, será retido um valor de € 80, de acordo com as Tabelas em vigor. A título de contribuições obrigatórias para a segurança social deverá deduzir-se € 110. Nesta medida, o valor do subsídio de Natal em causa, líquido da retenção na fonte de IRS e das contribuições obrigatórias para a segurança social é de € 810, excedendo em € 325 o valor da remuneração mínima mensal garantida para 2011. Considerando que a retenção na fonte por conta da sobretaxa extraordinária corresponderá a 50% desse valor, a colecta assim apurada será de € 162,50. Em termos finais, ou seja, quando a Administração tributária proceder à liquidação do IRS devido a final, após a entrega da declaração de rendimentos relativa ao ano de 2011 (a entregar em 2012) será feito o acerto final, aplicando-se a sobretaxa de 3,5% ao rendimento colectável do agregado familiar, após deduções específicas, diminuído da remuneração anual mínima garantida apurada relativamente a cada sujeito passivo de imposto. Ao valor assim apurado, aplicar-se-á a dedução à colecta da sobretaxa extraordinária em função do número de dependentes do agregado familiar,

deduzindo-se, também, o valor retido na fonte, em Dezembro de 2011, por conta da sobretaxa extraordinária devida em termos finais, podendo, até, resultar um reembolso a favor do trabalhador dependente. Já os trabalhadores independentes, quer nos casos em que o regime de determinação do rendimento tributável seja o simplificado, quer nos casos em que seja o da contabilidade organizada, serão afectados pela aplicação da sobretaxa extraordinária apenas em 2012, após a entrega da declaração de rendimentos relativa ao ano de 2011, não sofrendo, portanto, a tributação adicional deste ano decorrente da retenção na fonte. É, pois, nesta medida que os trabalhadores dependentes e os pensionistas acabam por ser penalizados, já que, quanto a estes, existe uma antecipação da disponibilização da receita a favor do Estado, ainda que, no próximo ano, possam ser reembolsados em virtude de o montante retido na fonte ser superior à sobretaxa extraordinária efectivamente devida. Apesar de controversa, esta é uma medida cujo carácter extraordinário é justificado por ser temporária e pelos tempos de crise e de emergência em que vivemos e com a qual os trabalhadores dependentes e pensionistas e, bem assim, as entidades devedoras destas categorias de rendimentos como sucede com as Farmácias quanto aos rendimentos do trabalho dependente -, deverão contar, já no próximo mês de Dezembro, sendo importante que estas entidades devedoras tenham em mente, não só a obrigação de retenção na fonte que sobre elas recai, e que implica ajustamentos a nível do processamento salarial do último mês do ano, mas, também, as obrigações acessórias que deverão cumprir e que se estendem, como vimos, até 2012. Elaborado por: Área Pratica de Prática Fiscal da PLMJ Rogério M. Fernandes Ferreira Mónica Respício Gonçalves Advogados (arfis@plmj.pt)

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consultoria jurídica

O regime das faltas no código do trabalho Caso a ausência do trabalhador se reporte a um lapso de tempo inferior ao período normal de trabalho diário, os tempos de ausência são somados até perfazerem o período correspondente ao período normal de trabalho diário e, assim, corresponderem a uma falta.

a) Faltas Justificadas1:

Os artigos 248.º a 257.º do Código do Trabalho estabelecem o regime das faltas justificadas e injustificadas dadas por trabalhador. Nos termos da lei, considera-se falta a ausência de trabalhador do local onde deve desempenhar a actividade, durante o seu período normal de trabalho diário. Se a ausência do trabalhador for inferior ao período normal de trabalho diário, nem por isso ela deixa de ter impor-

tância, nomeadamente para efeitos de cumulação de tempo até à determinação da falta por completo. No caso de a duração do período normal de trabalho diário não ser uniforme, isto é, no caso de o trabalhador prestar um número diferente de horas em cada dia (designadamente em decorrência do regime da adaptabilidade), o período normal de trabalho diário será aferido em termos médios.

São consideradas justificadas, as seguintes faltas: • As faltas dadas, durante 15 dias seguidos, por altura do casamento; • As faltas dadas por força do falecimento de cônjuge não separado de pessoas e bens (ou de pessoa que viva em união de facto ou economia comum com o trabalhador, nos termos previstos em legislação específica), parente ou afim no 1.º grau da linha recta, até ao limite de 5 dias consecutivos, ou de outro parente ou afim na linha recta ou no 2.º grau da linha colateral, até ao limite de 2 dias consecutivos; • As faltas dadas por trabalhadorestudante para realização de prova em estabelecimento de ensino, com os limites previstos no artigo 91.º do Código do Trabalho; • As faltas dadas por impossibilidade de prestação de trabalho devido a facto não imputável ao trabalhador, como por exemplo a observância de prescrição médica no seguimento de recurso a técnica de procriação medicamente assistida, doença, acidente ou cumprimento de obrigação legal. • As faltas dadas por força de prestação de assistência inadiável e imprescindível a filho, a neto ou a membro do agregado familiar de trabalhador

As normas previstas no Código do Trabalho relativas aos motivos justificativos de faltas e à sua duração não podem ser afastadas por instrumento de regulamentação colectiva de trabalho, salvo em relação a trabalhador eleito para estrutura de representação colectiva dos trabalhadores nos termos do artigo 409.º do Código do Trabalho e desde que em sentido mais favorável ao trabalhador, ou por contrato de trabalho. 1

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de acordo, respectivamente, com o previsto nos artigos 19.º, 50.º ou 252.º do Código do Trabalho; • As faltas dadas por motivo de deslocação a estabelecimento de ensino responsável pela educação de menor por ocasião da situação educativa deste, pelo tempo estritamente necessário, até quatro horas por trimestre, por cada um; • As faltas dadas por trabalhador eleito para estrutura de representação colectiva dos trabalhadores, nos termos previstos no artigo 409.º do Código do Trabalho; • As faltas dadas por trabalhador candidato a cargo público, de acordo com a lei eleitoral; • As faltas autorizadas ou aprovadas pelo empregador. • As faltas assim consideradas em lei especial. A justificação da falta não se basta, todavia, com a recondução da ausência do trabalhador a uma das situações acima enumeradas. Com efeito, é ainda requisito necessário que o trabalhador tenha cumprido o dever de comunicação da sua ausência ao empregador, acompanhado da indicação do motivo justificativo, com a antecedência mínima de 5 dias ou, perante a imprevisibilidade da situação, logo que seja possível. Se a falta durar mais do que o previsto, a comunicação deve ser renovada. Isto, ainda que a ausência se mantenha por mais de um mês e redunde na suspensão do contrato de trabalho. No caso de trabalhador candidato a cargo público, a comunicação pode ser feita até 48 horas antes da falta. A sanção para o incumprimento do dever de comunicação é a conversão da falta justificada em falta injustificada. Nos 15 dias seguintes à comunicação de ausência, o empregador tem a faculdade de exigir ao trabalhador prova dos factos invocados para a justificação, a prestar em prazo razoável, sendo que as situações de doença são provadas mediante atestado médico ou declaração do estabelecimento de saúde. O empregador pode ainda requerer aos serviços da segurança social, a verificação da situação de doença do trabalhador. O incumprimento da obrigação de apresentação de justificação ou a oposição à verificação da situação de doença determina que a falta que se considere como injustificada. Refira-se,

ainda, que a apresentação ao empregador de declaração médica com intuito fraudulento constitui falsa declaração, podendo ser considerada como justa causa de despedimento. Apesar de justificadas, as faltas podem implicar a perda de retribuição correspondente ao período de ausência. Assim acontece com: • As faltas por motivo de doença, desde que o trabalhador beneficie de um regime de segurança social de protecção na doença; • As faltas por motivo de acidente no trabalho, no caso de o trabalhador ter direito a subsídio ou seguro; • As previstas no artigo 252.º do Código do Trabalho (relativas a assistência a membro do agregado familiar); • As faltas autorizadas ou aprovadas pelo empregador; • As faltas justificadas por lei especial, quando excedam 30 dias por ano. Sublinhe-se que as faltas justificadas podem ainda obstar completamente à majoração de dias de férias, concedida pela lei justamente com o objectivo de premiar a produtividade e combater o absentismo, caso sejam em número superior a três ou a seis meios-dias. No entanto, se o trabalhador, no ano a que as férias se reportam: • Tiver uma falta justificada, ou dois meios-dias, terá direito a uma majoração correspondente a três dias de férias; • Tiver duas faltas justificadas, ou quatro meios-dias, terá direito a uma majoração correspondente a dois dias de férias; • Tiver três faltas justificadas, ou seis meios-dias, terá direito a uma majoração correspondente a um dia de férias.

b) Faltas Injustificadas Toda a ausência do local de trabalho durante o período normal de trabalho diário que não seja tida como falta justificada nos termos acima referidos, será forçosamente considerada falta injustificada. A falta injustificada acarreta a perda de retribuição correspondente ao período de ausência, bem como a desconsideração desse mesmo período para efeitos de contabilização da antiguidade, determinando ainda a perda da majoração

das férias do ano a que correspondem. Refira-se ainda que a falta injustificada consubstancia a violação do dever de assiduidade do trabalhador, sendo por essa razão uma infracção disciplinar. Aliás, e no limite, a falta injustificada pode consubstanciar justa causa de despedimento, ou seja, um comportamento culposo do trabalhador de tal forma grave que ponha em crise a subsistência da relação de trabalho. Assim acontece caso a falta implique prejuízos ou riscos graves para a empresa ou que, independentemente de prejuízo ou risco, seja a quinta seguida ou a décima interpolada. Além disso, saliente-se que quando a falta injustificada a um ou meio período normal de trabalho diário imediatamente antes ou após dia ou meio-dia de descanso ou feriado, constitui a prática de uma infracção grave por parte do trabalhador. Podem ainda suceder situações de atraso injustificado, i.e., o trabalhador não inicia ou não recomeça a prestação de trabalho dentro do horário a que estava adstrito. Caso o atraso seja superior a 60 minutos e ocorra no início do período de trabalho diário, o empregador pode não aceitar a prestação de trabalho durante todo o período diário e o trabalhador registará uma falta injustificada completa. Já se o atraso for superior a 30 minutos, o empregador pode não aceitar a prestação de trabalho durante essa parte do período de trabalho (parte da manhã ou parte da tarde, consoante a hora do atraso), e o trabalhador registará meia falta injustificada. Como última nota, importa referir que a perda de retribuição por motivo de faltas pode ser substituída por renúncia expressa do trabalhador a dias de férias, sem que este no entanto deixe de gozar pelo menos 20 dias úteis. Esta renúncia a dias de férias não implica a perda do subsídio de férias relativo à totalidade do período de férias vencido. A perda de retribuição por motivo de faltas pode ainda ser substituída por prestação de trabalho em acréscimo ao período normal, até ao limite de 4 horas por dia e 60 horas por semana, desde que tal seja permitido pelo instrumento de regulamentação colectiva de trabalho, eventualmente aplicável.

Elaborado por: Eduardo Nogueira Pinto e Eliana Bernardo, advogados PLMJ – Sociedade de Advogados

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Política Associativa

Farmácias sensibilizam políticos

Na última assembleia geral da ANF, o presidente da direcção demissionária e actual membro da comissão directiva da associação, João Cordeiro, lançou um repto às farmácias no sentido de desenvolverem acções junto do poder político, nacional e local, alertando para a grave situação económicofinanceira em que se encontra o sector. Um repto que as farmácias não ignoraram. José Manuel Furtado, proprietário da Farmácia Moderna, em Monchique, foi um dos sócios que lhe correspondeu de imediato, através de uma missiva endereçada ao

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Presidente da República, ao primeiroministro e ao ministro da Saúde, aos grupos parlamentares e aos órgãos regionais (do Algarve) dos diversos partidos polítcos. Nela chama a atenção para a “problemática das farmácias e da distribuição de medicamentos” e, em concreto, para “a aflição em que actualmente vive grande parte das farmácias deste país, em particular das existentes em meios rurais, cada vez mais desertificados”. “Será muito difícil, se não impossível, continuar a prestar um serviço farma-

cêutico (de qualidade e durante todas as horas de cada ano) a uma população que vê diariamemte serem-lhe negados outros serviços a que terão direito, inclusive na área da saúde. As farmácias comunitárias já deram tudo o que podiam dar”, sublinha. Adverte ainda que “todas as medidas que impeçam a sustentabilidade das farmácias, como as anunciadas para o Orçamento de Estado para 2012, reflectir-se-ão inevitável e muito negativamente nas populações, ficando muitas destas sem cobertura farmacêutica de proximidade em consequência do encerramento de farmácias e de postos farmacêuticos (como já começou a acontecer)”. O apelo de José Furtado assumiu ainda a forma de um poema, endereçado às mesmas entidades e que, sob o título “Esta cruz que carrego”, reflecte o seu olhar sobre o actual contexto das farmácias. Um contexto sentido muito particularmente pelos farmacêuticos de alguns dos bairros de Lisboa considerados problemáticos, conforme testemunha uma carta endereçada por António Herculano Melo, da Farmácia Boavista, em seu nome e das farmácias Marvila, Padre Cruz e Alto do Lumiar. Na carta, dirigida ao presidente da câmara municipal de Lisboa e com conhecimento às demais autoridades nacionais, os representantes das quatro farmácias afirmam-se “sumamente preocupados com o caminho trilhado nos últimos tempos no que se refere às condições de subsistência de farmácias um pouco por todo o País”. Salientando que “há muitas em Lisboa condenadas a fechar”, entre elas as dos bairros camarários, o porta-voz das quatro farmácias apela ao autarca António Costa para que use da “sua influência sobre as entidades responsáveis pela saúde em Portugal, no sentido de se debruçarem mais afincadamente sobre o problema do acesso seguro e rápido aos medicamentos”.


Esta cruz que carrego “Já vai o tempo em que os leds me traziam alegria, Me pintavam de esperança o verde no cumprir dos dias, Quais vitaminas contra as debilidades provocadas Pelos governos no meu corpo, no meu funcionamento. Mas com ataques tão virulentos, Tão bem e mal estudados, Para os quais não há medicamentos, Foram-me minando a estrutura E aumentando-me os cuidados. Agarrada à vida, que é por ela que trabalho, Espero que morra o vírus, a peçonha criatura, Talvez a única coisa que me valha Nesta dolorosa e calvárica aflição, Se não houver quem me ajude, me dê a mão, Quem me veja o penar, não seja cego, E me alivie da pesada cruz que carrego”.

“A aflição em que actualmente vive grande parte das farmácias deste país, em particular das existentes em meios rurais, cada vez mais desertificados”.

Em nome das Farmácias dos Bairros Camarários de Lisboa Em 1999, por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, foi constituida a “comissão de acompanhamento das novas urbanizações do concelho de Lisboa”. Esta comissão estabeleceu um convénio com o infarmed, a ordem dos farmacêuticos e a associação nacional das farmácias, para em conjunto resolverem as necessidades da cobertura farmacêutica dos novos bairros camarários. havia consciência da indispensável presença de um Farmacêutico e sua Farmácia entre a população. Quatro farmacêuticos tomaram a decisão de aderir ao projecto de instalação de Farmácias e do exercício profissional nos Bairros que eram considerados problemáticos – Bairro da Boavista, Padre Cruz, Marvila e Alto do Lumiar. Sem pretender encarecer o acto de cidadania, lembramos que por esses

tempos, em França , por exemplo, o governo concedia incentivos fiscais às Farmácias que se estabelecessem nos chamados “Bidom Villes” ?!... Convenhamos que não é fácil nem desprovido de perigos o exercício da nossa profissão em locais como estes, e que a mentalidade e forma de vida dos seus habitantes não se modificam a curto prazo, só porque foram realojados em habitações condignas!... Decorridos 20 anos de sacrifícios e de intensa acção social sobre as populações dos Bairros Camarários, têm vindo os últimos Governos do País a tomar medidas “ad hoc”, sem estudos e apreciações fundamentadas que estão a determinar o encerramento de Farmácias um pouco por todo o País. Neste momento há muitas em Lisboa condenadas a fechar. Entre elas, as Farmácias dos Bairros Camarários

estão todas com saldos negativos, o que nos leva a comunicar a V.Ex.cia que nos debatemos com a decisão de termos de encerrar as portas, se as autoridades responsáveis não tiverem, a curto prazo, uma tomada de consciência que altere as condições a que duma forma persecutória e desumana estão sujeitando as Farmácias e a população. Este nosso testemunho tem o fim de garantir ao Sr. Presidente a necessidade e a premência de usar a sua influência sobre as entidades responsáveis pela Saúde em Portugal, no sentido de se debruçarem mais afincadamento sobre o problema do acesso seguro e rápido aos medicamentos. Não podemos esquecer a sábia máxima do nosso povo- “vão-se os anéis; fiquem os dedos. Não queiram alterar a sabedoria do povo e impor-lhe que “fiquem os anéis e se vão os dedos”.

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informação veterinária

Afecções urinárias dos cães e gatos que consideram uma ”infecção urinária” dos seus animais. Nestes casos, os profissionais de farmácia deverão ter o cuidado de esclarecer os utentes sobre as possíveis causas da afecção urinária e do tipo de ajuda veterinária a procurar.

Tratamento Sempre dirigido à causa subjacente e ao órgão envolvido. Contempla procedimentos médicos, cirúrgicos e medicação específica. As afecções urinárias obstrutivas normalmente requerem internamento e fluidoterapia. As afecções urinárias são urgências médicas que têm um impacto sério na saúde dos animais. Quando não detectadas e tratadas atempadamente podem, inclusivamente, conduzir a lesões irreversíveis ou à morte. As afecções urinárias dos cães e dos gatos podem ser variadas, levando os proprietários dos animais a procurar frequentemente aconselhamento veterinário e informação junto dos profissionais da farmácia.

uretral; Causas iatrogénicas; causas idiopáticas. Afecções da Próstata: Prostatite; Abcessos prostáticos; Neoplasia; Hiperplasia quística; Quistos paraprostáticos.

Órgãos afectados

Os sinais comuns à maioria das afecções do tracto urinário e mais facilmente identificáveis pelos proprietários dos animais são a disúria (dificuldade em urinar ou micção dolorosa) e a polaquiúria (perda frequente de pequenas quantidades de urina). A incontinência urinária é também um dos sinais indicadores de doença.

No grupo das doenças do aparelho urinário inferior estão incluídas todas a que envolvem a bexiga, a uretra e a próstata, individualmente ou em conjunto.

Causas

Afecções da Bexiga: Infecção urinária por bactérias, vírus, fungos, parasitas ou micoplasmas; Urolitíase; Neoplasia; Traumatismos; Anomalias anatómicas; Atonia do músculo detrusor; Fármacos; Causas iatrogénicas, Causas idiopáticas. Afecções da Uretra: Infecção; Urolitíase; Tampões uretrais; Neoplasia; Traumatismos; Anomalias anatómicas; Hipertonicidade do esfíncter

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Sinais

Diagnóstico O diagnóstico das afecções urinárias é da inteira responsabilidade do MédicoVeterinário, com o recurso a exames complementares de diagnóstico (análises ao sangue, análise à urina, radiografia e ecografia). Os utentes procuram habitualmente, na farmácia, aconselhamento sobre os procedimentos a adoptar nas situações

Medicamentos e produtos mais utilizados Medicamentos de prescrição médicoveterinária: Ypozane® (afecções prostáticas); Propalin® (incontinência urinária). Produtos de uso veterinário: Omniuri®; Lesperim®

Obstruções urinárias As obstruções urinárias ocorrem sempre que a uretra fica bloqueada (os urólitos são a principal causa) e a urina retida na bexiga. Quando não resolvidas atempadamente conduzem a urémia, desequilíbrios electrolíticos e falência renal, podendo causar a morte do animal. São uma das urgências Médico-Veterinárias mais comuns, sobretudo em gatos.


Farmรกcia portuguesa

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MUSEU DA FARMÁCIA

Serviços educativos com novos programas

Outros olhares sobre o Museu

Atrair novos públicos para o Museu da Farmácia, fidelizando ao mesmo tempo os públicos actuais, é o objectivo dos novos programas dos Serviços Educativos. Sem perder o espírito que está subjacente ao projecto desde a sua génese.

O Museu da Farmácia está apostado em conquistar novos olhares para a sua colecção, um património inestimável da farmácia e dos farmacêuticos portugueses, mas também da Cultura e da História, da Saúde e da Humanidade. É esse o propósito que está na origem da criação de novos programas pelos Serviços Educativos, da responsabilidade da conservadora do

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museu, Paula Basso. São programas que, como explica o director, João Neto, visam aproximar a colecção dos visitantes indo para além do modelo tradicional de visitas e contacto com as peças expostas. O ponto de partida foram precisamente os temas que dão corpo ao museu – a farmácia, mas também a saúde, a ciência, a arte, o homem. É assim que se explica o regresso

das conferências ao museu, numa tentativa de reforçar as pontes entre a História e a Ciência e valorizar o potencial da instituição como guardiã de património que testemunha séculos de avanços científicos. A exposição Beautiful Science, da Welcome Collection, de Londres, inaugurará esta nova abordagem: trata-se de um conjunto de magníficas fotografias de imagens captadas


Fotografias da Exposição Beautiful Science

Chegar a novos públicos é outra das metas a alcançar. E aqui as famílias são uma prioridade da Direcção do museu.

por potentes microscópios e que são bem a prova de como a investigação científica pode ter muito de artístico. Este pode ser perfeitamente um dos motivos a justificar uma primeira visita ao museu mas também o regresso de visitantes habituais. Porque o objectivo da diversificação da oferta cultural e educativa é fidelizar o público, proporcionando-lhes outras perspectivas da colecção. Chegar a novos públicos é outra das metas a alcançar. E aqui as famílias são uma prioridade da direcção do museu. Mas o que se propõe não é apenas uma visita ao museu, é a possibilidade de actividades em conjunto sob a forma de ateliês e workshops, aos sábados ou aos domingos à tarde. A pensar apenas nos adultos, o museu estabeleceu uma parceria com o restaurante Pharmacia, que funciona no primeiro piso da sede da ANF em Lisboa, de que resultou o programa “À noite no museu” dedicado à cozinha molecular, com experimentação das técnicas e degustação no final. Esta é uma parceria com valor acrescentado nos dois sentidos: afinal, porque não terminar uma visita de final de tarde ao

museu com um jantar ou uma bebida no Pharmacia ou porque não conhecer a colecção a seguir a saborear as propostas culinárias do restaurante? João Neto salienta, a propósito, o papel que o restaurante tem desempenhado na divulgação do museu. Na forja estão outros projectos, nomeadamente o de introduzir alguma teatralidade num espaço que é de gastronomia e convívio mas também pode ser de divulgação cultural. E assim está já a ser pensada uma dramatização a partir da obra de Agatha Christie mostrando como a farmácia e a investigação criminal caminham lado-a-lado na escrita da romancista policial britânica. O director do Museu da Farmácia admite que pode ser arriscado introduzir novos programas em tempo de retracção económica, mas acredita que esta pode ser uma oportunidade para o museu – para inovar e assim atrair novos públicos. Sempre – sublinha – com a preocupação de não desvirtuar o conceito do museu, nomeadamente o seu carácter universal. Do que se trata é, acima de tudo, de reforçar os laços com o público.

Novidades Até final do ano, o Museu da Farmácia vai funcionar com horário alargado aos fins-desemana e à noite. Isto para poder acolher as novas iniciativas programas pelos Serviços Educativos: • Ateliês ao sábado – O tema é “No fio da História”: trata-se de uma iniciativa em conjunto com a exposição Sidelines, da Experimenta Design, e aborda os fios existentes no museu, das tiras de linho usadas na mumificação do Antigo Egipto às faixas de gaze do século XX. No final, o público é convidado a construir o seu próprio fio ou pulseira. • Domingos no museu – Foram concebidos dois programas, dirigidos às famílias: “Da mó ao pó – a evolução do almofariz” e “Caixinhas de saúde”. • À noite no museu – Sob a forma de workshops, o tema é “Cozinha molecular alia a ciência e as técnicas de laboratório à cozinha contemporânea”. • Festas de aniversário – “Na cozinha com moléculas”, aos sábados. • Natal no museu – Actividades de férias para crianças dos seis aos oito anos.

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hobbies Francisco Guerreiro Gomes

Um farmacêutico com espírito de coleccionador Foi um desafio aos filhos que revelou o espírito de coleccionador de Francisco Guerreiro Gomes. Hoje, o director de Farmácia Portuguesa tem uma colecção de mais de 700 peças alusivas aos bombeiros.

Francisco Guerreiro Gomes, Farmácia Mendes Gomes

Francisco Guerreiro Gomes tem espírito de coleccionador. Mas a primeira peça da sua colecção não lhe foi oferecida nem a comprou para si: comprou-a para os filhos. É um carro de bombeiros em miniatura e destinou-se a premiar o esforço dos filhos na preservação dos

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brinquedos. É o próprio que explica que os seus dois rapazes não eram propriamente cuidadosos com os brinquedos, que acabavam por ter vida curta. Uma situação difícil de aceitar para quem, como ele, já adulto, ainda conservava os carros com que brincava na infância. Decidiu-se

então por uma abordagem diferente: porque não entusiasmá-los com a promessa de um prémio? Foi essa promessa que o conduziu à loja de brinquedos onde encontrou a primeira peça de uma colecção que hoje já ultrapassou as 700, sempre alusivas ao tema do carro de bom-


Peças de origens muito distintas, de diferentes épocas e diferentes países. E há um conjunto de seis carros de bombeiros, réplicas legítimas saídas do projecto de um grupo internacional de amigos dos bombeiros.

beiros em miniatura que lhe captou a atenção. No fim desse mês, uma segunda miniatura juntou-se à primeira. Os filhos começaram a gostar e, entre os quatro, cinco anos e os doze, outros carros de bombeiros foram engrossando o espólio, que extravasou para um móvel na entrada de casa. “Fui comprando, fui comprando…”. Hoje ocupam uma divisão inteira e um móvel extra, de muitas prateleiras, na casa de férias da família. Guerreiro Gomes mantém-se fiel ao tema do brinquedo original – os bombeiros. Mas há muito que alargou o seu espírito de coleccionador a outros objectos que não os carros: há relógios, livros, canetas, estandartes, chávenas, chapéus, vestuário, legos, bonecos, brinquedos e até um tapete. Há peças verdadeiramente originais como um carro de bombeiros feito de

arame, à mão por um miúdo da antiga Lourenço Marques, hoje Maputo: foi em 1998, o miúdo vendia na rua, à porta do hotel onde o director da revista Farmácia Portuguesa se encontrava a participar num congresso de farmacêuticos de língua portuguesa. Há também uma ambulância feita de lixo, um carro de bombeiros com bombeiros e tudo, moldada em loiça como se fora um cartoon, apropriadamente inspirada nos desenhos animados. Uma máscara de bombeiro talhada à mão em madeira e uma casa “em chamas”, que, quando ligada à electricidade, evoca um incêndio. Peças de origens muito distintas, de diferentes épocas e diferentes países. E há um conjunto de seis carros de bombeiros réplicas legítimas saídas do projecto de um grupo internacional de amigos dos

bombeiros. E nesta colecção que nasceu quase como um desafio há uma peça com a qual Francisco Guerreiro Gomes tem uma ligação muito especial: uma miniatura de um carro da Cruz Vermelha oferecido pela mãe – “uma das primeiras farmacêuticas de Lisboa”, diz, com orgulho - quando ele tinha dez anos. Estava-se em 1958. Esta é a maior colecção de Guerreiro Gomes. Mas outras ameaçam seguir-lhe o caminho: tomado o gosto, há colecções embrionárias de chávenas e de telefones antigos. Nada que se compare, porém, com a de bombeiros: seria, aliás, um contributo ímpar para um museu dos soldados da paz. Pela diversidade, pelo valor histórico de algumas peças. Todavia, o coleccionador não pretende desfazer-se da sua obra: afinal, há nela muito sentimento investido.

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NOTICIÁRIO

“Conheça os Valores do Seu Coração” Farmácias contribuem para identificar doentes em risco cardiovascular No mais recente Congresso da FIP, este ano na Índia, as farmácias portuguesas demonstraram, uma vez mais, o seu precioso contributo para a saúde dos portugueses, com a apresentação dos resultados da última campanha cardiovascular de Maio de 2010 – “Conheça os valores do seu coração”. Esta campanha nacional, em parceria com o Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva e a Faculdade de Motricidade Humana, teve como destinatários os utentes das farmácias com mais de 18 anos e foi lançada com os principais objectivos de sensibilizar a população para os valores de referência da pressão arterial e do colesterol total e de incentivar a medição destes parâmetros na farmácia, reforçando o papel da farmácia como centro de cuidados de saúde. A campanha teve lugar de 10 a 15 de Maio e os resultados das 412 farmácias que participaram activamente e partilharam os seus resultados sugerem que as farmácias podem ter um impacte positivo na identificação precoce de indivíduos com os seus valores descompensados e na referenciação destes utentes a uma consulta médica para posterior avaliação. A intervenção farmacêutica consistiu na medição da pressão arterial, colesterol total, peso e altura, na informação sobre os valores de referência e sobre os benefícios do exercício físico para a saúde cardiovascular e saúde em geral. Os utentes com valores acima dos de referência ou dos objectivos terapêuticos foram referenciados para uma consulta médica. Esta iniciativa avaliou cerca de 13 mil pessoas, em farmácias de todo o país, tendo sido realizadas cerca de 70 mil medições de parâmetros (peso, altura, pressão arterial e colesterol total).

Cerca de metade dos portugueses com risco elevado Os resultados demonstram que 44,9 por cento dos indivíduos avaliados apresenta

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um elevado risco de ter um evento cardiovascular fatal nos 10 anos seguintes (SCORE>5%). Ainda durante esta campanha, os farmacêuticos identificaram 37,6 por cento de indivíduos suspeitos de sofrerem de hipertensão e 65,4 por cento de indivíduos suspeitos de sofrerem de dislipidemia, ou seja, com valores superiores aos de referência e sem estarem medicados. No que diz respeito aos doentes já medicados, os farmacêuticos identificaram 48,3 por cento de doentes hipertensos não controlados e 47,3 por cento de doentes dislipidémicos não controlados. Dos doentes com pressão arterial, colesterol total ou score acima dos valores de referência, foram referenciados ao médico 21,2%. Destes, 47,0% regressaram à farmácia com um início ou alteração da terapêutica (anti-hipertensora ou antidislipidémica).

Doenças Cardiovasculares O reconhecimento das doenças cardiocerebrovasculares como a principal causa de morte no país vem reforçar a importância da abordagem integrada de todos os factores de risco de morbilidade e mortalidade cardiovascular modificáveis,

tendo em vista o controlo destes factores de risco e a consequente diminuição do risco cardiovascular global. Quando não matam, estas doenças provocam um elevado grau de incapacidade, o que representa um pesado encargo emocional e financeiro para as famílias, e uma crescente fonte de despesas para o Estado. Prevenir os seus principais factores de risco – entre eles a obesidade, a hipertensão e a dislipidemia – é, assim, urgente! A farmácia, como centro de prevenção e tratamento, tem todas as ferramentas necessárias para contribuir para o controlo destas doenças, quer pela proximidade à população quer pela competência técnico-científica dos seus quadros, assumindo-se como parceiro privilegiado para a identificação precoce de indivíduos suspeitos de risco cardiovascular. A articulação com os restantes profissionais de saúde e a monitorização destes doentes na farmácia contribui para o controlo dos factores de risco modificáveis e para a redução da morbilidade e mortalidade por doença cardiovascular. Um agradecimento especial a todos os farmacêuticos e utentes que participaram activamente nesta campanha.


Professor Pádua conversa sobre o coração “Conversas no meu consultório” é a mais recente obra do Professor Fernando de Pádua, presidente do Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva. O livro dá seguimento à missão a que Fernando de Pádua se tem dedicado ao longo da vida: sensibilizar os portugueses para a importância da prevenção do risco cardiocerebrovascular e, assim, contribuir para reduzir a mortalidade associada às doenças do coração. Este não é um livro sobre doenças: em “Conversas no meu consultório”, responde a dúvidas e medos sobre o coração a partir de, como o título indica, conversas entre médicos e vários pacientes. “Às vezes dói-me o coração. Será que tive um enfarte?”, “Um sopro no coração. Vou ter de ser operada?”, “Acha que vou ter um AVC? Dizem que tenho o colesterol alto…” são apenas algumas das questões que passam pelo consultório de Fernando de Pádua, agora colocadas em livro. O objectivo é o que sempre tem norteado o médico: aproximar a medicina dos cidadãos. Publicado

DCI finalmente aprovada Quatro diplomas sobre a prescrição por Denominação Comum Internacional (DCI) foram aprovados pela Assembleia da República no dia 28 de Outubro. Um deles é uma proposta de lei do governo, que estabelece a obrigatoriedade da DCI e mereceu os votos favoráveis de todos os partidos à excepção do Socialista. Outro é um projecto de lei do PS, que reforça a prescrição por DCI como regra no Serviço Nacional de Saúde e foi aprovado pelos deputados socialistas e com a abstenção das restantes bancadas parlamentares. Um terceiro diploma foi proposto pelo Bloco de Esquerda (BE), também estabelecendo a obrigatoriedade de prescrição por DCI, aprovado por todos os partidos, à excepção do PS, que se absteve. Finalmente, foi aprovado o projecto de lei do PCP com o mesmo objectivo e que contou com os votos favoráveis de todos os partidos, sendo que o Socialista se absteve. Na mesma sessão, foram rejeitados três projectos de lei do BE,

pela Âncora Editora, “Conversas no meu consultório” foi lançado a 29 de Setembro na Sociedade Portuguesa de Cardiologia, com apresentação do sociólogo Manuel Villaverde Cabral numa sessão presidida pela deputada e ex-ministra da Saúde Maria de Belém Roseira. Professor catedrático de Medicina Interna e de Cardiologia da Universidade de Lisboa, Fernando de Pádua é fundador do Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva e da Fundação Professor Fernando de Pádua, bem como coordenador científico em Portugal do Programa CINDI, da Organização Mundial de Saúde.Este ano viu o seu trabalho pedagógico reconhecido pelo júri do Prémio Gulbenkian de Educação. um que pretendia estabelecer a “obrigatoriedade de dispensa do medicamento mais barato dentro do mesmo grupo homogéneo, salvo em situações excepcionais ou quando a opção do utente seja por outro medicamento”, um segundo que visava estabelecer “medidas destinadas a reforçar o rigor e a transparência dos preços de venda ao público dos medicamento” e um terceiro que incidia sobre a “atribuição das competências em matéria de fixação do preço dos medicamentos em exclusivo ao Infarmed”. Antes da votação, os genéricos estiveram em foco, tendo sido defendidos pelos partidos do governo e pelo BE, com críticas à campanha “alarmista” contra a substituição destes medicamentos nas farmácias. Os diplomas agora aprovados no plenário do parlamento serão ainda alvo de apreciação na especialidade, o que significa que podem ainda sofrer alterações. Dessa discussão, na Comissão Parlamentar de Saúde, resultará um documento único, que será a versão final e definitiva da lei a publicar em Diário da República. A entrada em vigor da obrigatoriedade da prescrição por DCI está, assim, dependente do desenrolar deste processo.

Farmácias Portuguesas chegam ao Facebook Estar ainda mais próximo e mais presente na vida dos consumidores foi o que levou a marca Farmácias Portuguesas a criar uma página oficial no Facebook. Aproveitando a crescente penetração das novas plataformas de comunicação, a marca – que já tinha uma página institucional na Internet - decidiu actualizar a sua presença online com uma página na rede social mais utilizada pelos portugueses. Assim, em http://www.facebook.com/ farmaciasportuguesas, os consumidores encontram temas especializados em saúde e bem-estar, conselhos úteis, desafios e informação sobre promoções e campanhas a decorrer nas Farmácias Portuguesas. Ao mesmo tempo, têm a possibilidade de fazer comentários e expor dúvidas sobre questões de saúde e bem-estar: desta forma, consolidando a interactividade entre as farmácias e os consumidores, um dos objectivos que esteve na origem da criação da marca Farmácias Portuguesas. Nesta nova forma de se relacionar com os portugueses, a marca apresenta, também na sua página do facebook, a aplicação Ver para Querer, relacionada com a cessação tabágica: os consumidores são desafiados a descobrir, de uma forma divertida, o que têm a ganhar se adoptarem hábitos saudáveis. Esta é também mais uma forma de aproximar os consumidores das Farmácias, aumentando a fidelização ao canal e incentivando a visita às Farmácias Portuguesas. A capacidade da marca em atrair e envolver os consumidores pode ser verificada na obtenção de mais de 6.000 “likes” (fãs) em apenas 11 dias desde o lançamento da página

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formação Plano de Formação Curso

Data

Local

Duração

Nº CDP’s

Preço*

Associados ANF*

6 Dezembro

Porto

7h

0.7

175 €

140 €

Gestão e Desenvolvimento de Recursos Humanos

12 e 13 Dezembro

Porto

14 h

1.4

250 €

200 €

Negociação e Compras

28 e 29 Novembro

Porto

14 h

-

250 €

200 €

6 Dezembro

Coimbra

7h

0.7

175 €

140 €

12 Dezembro

Lisboa

7h

0.7

175 €

140 €

13 Dezembro

Lisboa

7

0.7

-

140 €

6 Dezembro

Lisboa

7

0.7

175 €

140 €

Zona Norte GESTÃO Análise da Fiscalidade da Farmácia

Zona Centro FARMACOTERAPIA Alzheimer e Parkinson Zona Sul e Ilhas FARMACOTERAPIA Interacção Alimento Medicamento INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA PRM’s e Intervenção Farmacêutica GESTÃO Criar Equipas Positivas

Formação a Distância Acesso: http://e-formacao.anf.pt ou http://www.escolasaudegestao.pt

Plataforma de e-learning

Data/Situação

Duração

Nº CDP’S

Preço*

Associados ANF*

Ansiedade e suas perturbações

Disponivel

7h

0.7

125 €

100 €

Doença de Refluxo Gastroesofágico e ÚlceraPéptica: Fisiopatologia, Clínica e Terapêutica

Disponivel

7h

0.7

125 €

100 €

DPOC

Disponivel

7h

0.7

125 €

100 €

Infecções Vaginais: Higiene e Terapêutica

Disponivel

7h

0.7

125 €

100 €

Obesidade e Controlo do Peso - Tudo o que o Farmacêutico deve saber

Dísponível

25 h

2.5

125 €

100**

SHST (Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho)

Dísponível

30 h

3

125 €

100***

*- Aos preços indicados acresce IVA à taxa em vigor. **- 50% de desconto no preço da segunda inscrição e seguintes, para elementos da mesma Farmácia. ***- Preço unitário por Farmácia - Permite a inscrição de todos os elementos que compõem a equipa da Farmácia.

Rua Marechal Saldanha, 1, 1249-069 Lisboa Telf: 21 340 06 00 (geral) • Telf: 21 340 06 45/610/756/712 Fax: 21 340 07 59 • E-mail: escola@anf.pt

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ficheiro mestre Alterações assinaladas a verde Farmácia Alentejo Rua António José de Almeida, 35 7200-53 MONTOITO Velez Valadeiro - Pharma, Lda. Farmácia Alter Avenida Padre José Agostinho Rodrigues, 48 7440-14 ALTER DO CHÃO Marta Del Cazo, Lda. Farmácia Alves Rua Dr. Abílio Torres, 1078 4815-552 VIZELA Domingos Gomes Ferreira de Almeida Farmácia Andrade Rua Dr. Adriano Paim, 142-A 9760-253 LAJES VPV Ana Maria Mendonça Machado S. Andrade Farmácia Araújo Largo Dr. Aguiar Cardoso, 4-A 4520-167 SANTA MARIA DA FEIRA Casterfarmácia, Lda. Farmácia Atena Avenida Almirante Reis, 88 1150-21 LISBOA Farmácia Atena, Unipessoal, Lda. Farmácia Atlântico Avenida Abade de Baçal, Lote A nº57 5300-68 BRAGANÇA Farmácia Atlântico, Lda. Farmácia Avenida Avenida Luís Martins, 68 B6 R/C 3500-719 VISEU António & Helena Moura Lda. Farmácia Azevedo Carvalho Rua da Fonte de São João, 3A e 3B 4860-140 CABECEIRAS DE BASTO Farmácia Azevedo Carvalho, Sociedade Unipessoal Lda. Farmácia Baptista Rei Rua D. José I 2230-862 CARVALHAL ABT Farmácia Baptista Rei, Lda. Farmácia Beatriz Godinho Rua de Leiria 2405-4 MACEIRA LRA Farmácia Beatriz Godinho, Unipessoal Lda. Farmácia Belém Rua Tristão Vaz, 33 A, Fracção A 1400-350 LISBOA Farmácia Belém, Unipessoal, Lda. Farmácia Bento Lino Avenida Vale de Milhaços, 34 2855-386 CORROIOS Farmácia Bento Lino, Unipessoal Lda. Farmácia Boavida Rua 25 de Abril, nº 14 2560-48 A DOS CUNHADOS Filipa Raquel Pereira Lopes Henriques

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Farmácia Borges de Figueiredo Largo Luís de Camões 4870-153 RIBEIRA DE PENA Maria José Miranda de Figueiredo - Cabeça de Casal da Herança de

Farmácia Correia de Sampaio Avenida Comunidades Portuguesas 4920-279 VILA NOVA DE CERVEIRA Correia de Sampaio Sociedade Farmacêutica Unipessoal, Lda.

Farmácia Brás Marques Lugar de Sendim de Cima, Avenida Central 4935-573 CASTELO DO NEIVA Sónia Alexandra de Oliveira Brás Marques

Farmácia D’Izeda Rua da Ataquilha, nº 1 5300-593 IZEDA Maria José Franco Mendes Ferreira Brás

Farmácia Brito Avenida da República, 38-40 8700-310 OLHÃO Driblêxito, Unipessoal Lda.

Farmácia da Cordinha Avenida D. Manuel I, 26 3405-32 ERVEDAL OHP Ervedal Farmácia Monteiro, Lda.

Farmácia Brito Praça da República, 43 a 45 4910-453 VILA PRAIA DE ÂNCORA Paula Alexandra Barbosa da Ponte Pereira de Brito

Farmácia da Estação Avenida de São Miguel, nº 42 e 46 6300-864 GUARDA Nuno José Canedo Linhares de Castro

Farmácia Cabarrão Rua do Outeiro, nº 126 6000-500 CEBOLAIS DE CIMA Maria de Fátima Batista Cabarrão Farmácia Capão Filipe Rua D. Sancho I, nº 33 3800-144 AVEIR Maria da Glória F. Capão Filipe Farmácia Cardoso Rua de Camilo, Bloco 2,Loja 9 4490-485 PÓVOA DE VARZIM Ascensão e Ribeiro - Atividade Farmacêutica, Lda. Farmácia Carnide Rua José Farinha, nº 30B e Estrada Correia nº 75 1500-700 LISBOA Farmabridal, Lda. Farmácia Cartaxo Avenida da Igreja, 21-C 1700-231 LISBOA Alves Martins - Farmácia, Lda. Farmácia Castro Rua da Ferreirinha 5050-261 PESO DA RÉGUA Fontes e Saúde, Lda. Farmácia Central Rua General Humberto Delgado, 268 2485-127 MIRA DE AIRE Farmácia Central de Mira de Aire, Sociedade Unipessoal, Lda. Farmácia Central da Amora Rua Movimento das Forças Armadas, nº 22-A 2845-380 AMORA Fan Farma, Unipessoal Lda. Farmácia Correia Rua General Humberto Delgado, 64 4690-40 CINFÃES Emporiutopia - Farmácia, Unipessoal Lda.

Farmácia da Misericórdia Rua 5 de Outubro, 69 3600-126 CASTRO DAIRE Farmácia Misericórdia, Lda. Farmácia da Praia da Vieira Rua 5 de Outubro, nº 3 2430-678 VIEIRA DE LEIRIA Farmácia Praia da Vieira Unipessoal, Lda. Farmácia da Ria Estrada Nacional 125 Ria Shopping Loja 0.08 8700-180 OLHÃO Farmácias Pacheco Mendes Segundo, S.A. Farmácia das Oliveiras Rua D. Afonso Henriques, 646 4435-6 RIO TINTO MIDDLEPHARMA - Unipessoal Lda. Farmácia Diana Portas de Moura, 36 7000-647 ÉVORA Alves Martins - Farmácia, Lda. Farmácia Dias Rua Direita, 154 3660-489 SÃO PEDRO DO SUL Casimiro Dias - Farmácia Unipessoal, Lda. Farmácia do Amial Rua do Amial, nº 1245 4200-63 PORTO José Maria da Costa Almeida Farmácia do Borel Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, nº 7-B 2720-197 AMADORA Luisa Sereno Sociedade Unipessoal, Lda. Farmácia do Carmo Largo do Phelps, 8 9050-25 FUNCHAL Farmácia do Carmo, S. A. Farmácia do Sabugo Avenida General Barnabé António Ferreira nº 29 C 2715-454 ALMARGEM DO BISPO Maria Madalena Fialho Inácio Pereira


Farmácia dos Navegantes Avenida D. João II, Lote 1.03.2.1C 1990-92 LISBOA Farmácia Fonte Luminosa, Sociedade Unipessoal Lda.

Farmácia Leitão Rua Guilherme Gomes Fernandes, 62-A 2675-367 ODIVELAS Ana Rita Palminha Amaral - Sociedade Farmacêutica, S.A.

Farmácia Esperança Rua da Praia, 3 9100-167 SANTA CRUZ Farmácia Esperança Unipessoal, Lda.

Farmácia Lima Delgado Estrada da Paz, 366 R/C Esq. 4905-261 DEOCRISTE Elisabete Novo Lima Delgado

Farmácia Estácio Xabregas Rua Bispo de Cochim, nº 1 1900-455 LISBOA A3I - Serviços Integrados de Saúde Lda.

Farmácia Machico Rua Manuel dos Passos, Edifício Flor do Campo - Bloco A, Fra. Ab 9200-121 MACHICO Rita Bela de Sousa Nóbrega Calaça, Unipessoal, Lda.

Farmácia Fátima Avenida das Descobertas, 17-Loja B 2670-383 LOURES Maria Teresa Raposo Cardoso Farmácia Ferraria Paulino Rua D. Afonso Henriques, nº 167-A 2040-366 RIO MAIOR Cristina Isabel Ferraria da Silva Paulino Solnado Farmácia Ferreira Rua Principal, 7 3040-716 CASTELO VIEGAS Kura, Unipessoal Lda. Farmácia Findor Avenida Lusíada-Centro Comercial Colombo, loja 79 1500-392 LISBOA Farmácia Findor Lda. Farmácia Furtado Rua D. Francisco Gomes de Avelar, 8 8670-83 ALJEZUR Hibiscomed Unipessoal, Lda. Farmácia Galeno Avenida da Liberdade, 61 6005-150 ESCALOS DE BAIXO Cecília Dias, Farmácia, Sociedade Unipessoal Lda. Farmácia Gardon Rua Marginal do Alva, nº 35 3400-576 PENALVA DE ALVA Nuno Augusto, Unipessoal Lda. Farmácia Herculano Rua de Bolama, nº 199 4200-139 PORTO Soares Reis, Unipessoal, Lda. Farmácia Laborinho Avenida Rainha Santa Isabel, 254 2445-207 PATAIAS Farmácia Laborinho, Lda. Farmácia Leal Rua Quinta das Palmeiras, 86 2780-86 OEIRAS Farmácia Ana Leal, Unipessoal Lda.

Farmácia Marinho Fernandes Rua José Florêncio Soares, nº 12 4820-710 SÃO MARTINHO SILVARES Teresa da Conceição M. Fernandes Farmácia Marques Livramento 2665-15 AZUEIRA Farmácia Mota Marques, Lda. Farmácia Matos Rua de Moçambique, nº 87-C e D 2685-356 PRIOR VELHO Alberto Arnaldo Fernandes Garcia Lopes Cabeça de Casal da Herança de Farmácia Matos Fernandes Avenida da Liberdade, 34-A 7400-216 PONTE DE SOR Alves Martins - Farmácia, Lda. Farmácia Mendes Segundo Rua Dr. Virgílio Inglês, 48 8700-32 FUSETA Farmácias Pacheco Mendes Segundo, S.A. Farmácia Miranda Rua O Conimbricence, 40635 3030-504 COIMBRA Ema Gabriela Barreto Ferreira Marques Martins Ferreira Farmácia Moderna Avenida 25 de Abril, 111 4495-322 PÓVOA DE VARZIM Farmácia Portas do Parque, Lda. Farmácia Moderna Rua Brito Capelo, 808 4450-68 MATOSINHOS Mendes Reis, Lda. Farmácia Moderna Rua Bulhão Pato, 60-62 2870-257 MONTIJO Farmácia Manuela Cola, Lda. Farmácia Moderna Avenida Marques de Pombal, 58 2590-41 SOBRAL DE MONTE AGRAÇO António José Henriques Cuco

Farmácia Mondego Estrada Nacional 16 nº 18 A 6300-170 PORTO DA CARNE Farmácia Mondego, Lda. Farmácia Monteiro Rua Dr. Francisco Borges Mendes Cruz nº 2 3405-193 LAGARES OHP Farmácia Monteiro, Lda. Farmácia Morais Sarmento Rua Alexandre Herculano, 22 5370-299 MIRANDELA Farmácia Morais Sarmento, Unipessoal, Lda. Farmácia Mota Capitão Avenida Edmundo Lima Bastos, 19-B/C 2790-485 CARNAXIDE Farmácia Mota Capitão Unipessoal, Lda. Farmácia Moura Gaveto da Avenida Jesuíno Magano com a E.N. 118, nº 10 e 12 2140-56 CHAMUSCA Cristina Neves Santo, Unipessoal Lda. Farmácia Nacional Rua São João da Praça, 26 1100-520 LISBOA Sanabrás - Comércio de Produtos Farmacêuticos, Lda. Farmácia Nave Ribeiro Alameda D. Afonso Henriques, 12-A 2715-665 MONTELAVAR Farmácia Nave Ribeiro, Lda. Farmácia Nova Rua António Antunes Silva, 6 2300-335 TOMAR Farmácia Nova de Tomar, S.A. Farmácia Nova de Resende Avenida Dr. Francisco Sá Carneiro, nº 653 4660-226 RESENDE Resfarma, Lda. Farmácia Nova de São Teotónio Praça da República 7630-648 SÃO TEOTÓNIO Margarida Afonso Viegas Vargues Ladeira Farmácia Nova de Tabuaço Lugar da Môa, Fracção N, R/C S/N Loja 2 5120-371 TABUAÇO Maria Elisabete Loureiro Marques Farmácia Nova do Dafundo Travessa José Maria da Costa, 6 1495-723 CRUZ QUEBRADA-DAFUNDO Farmácia Nova do Dafundo, Lda. Farmácia Nova Lda. Rua Arquitecto Ventura Terra, 1 4490-478 PÓVOA DE VARZIM Farmácia Nova Lda.

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ficheiro mestre Alterações assinaladas a verde

Farmácia Oliveira Suc. Rua Zeca Afonso, 30 7800-522 BEJA Farmácia Maria Amélia Palma Duarte, Lda. Farmácia Pacheco Rua Capitão João Carlos Mendonça, 22-24 8700-375 OLHÃO Farmácias Pacheco Mendes Segundo, S.A. Farmácia Pacheco de Medeiros Rua Açoreano Oriental, 12 9500-13 PONTA DELGADA Farmácia de Venília Margarida da Costa Ponte, Sociedade Unipessoal Lda. Farmácia Palma Rua D. Estefânia, 197 B-C 1000-155 LISBOA Farma Anselmo - Actividade Farmacêutica, Lda. Farmácia Palmeira Edifício Varandas da Cidade, Rua da Várzea, Lote 3, R/C Esq. F 2350-433 TORRES NOVAS Farmácia Palmeira, Unipessoal Lda. Farmácia Paula Martins Rua Teixeira Pascoais, 71-B 4800-73 GUIMARÃES Emanuel Martins, Lda. Farmácia Pindelo dos Milagres Largo Central, Edifício da Junta de Freguesia 3660-170 PINDELO DOS MILAGRES João Paulo dos Santos Moura - Sociedade Farmacêutica, Lda. Farmácia Pinheiro Praça da República, 55 8100-270 LOULÉ Driblêxito, Unipessoal Lda. Farmácia Pinheiro Manso Rua José Alves Leite, 36 4720-22 AMARES Farmácia Pinheiro Manso, Lda.

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Farmácia Quinta da Piedade Rua José Afonso, nº 9 2625-171 PÓVOA DE SANTA IRIA Farmácia Mundial Laboratórios A.B.C Sociedade Unipessoal Lda. Farmácia Rogil Avenida 16 de Junho, nº 143 8670-440, ROGIL Maria do Rosário Marreiros Duarte Santos Farmácia Santa Luzia Rua Augusto Rosa, 22 1100-59 LISBOA PP - Sociedade Farmacêutica, Lda. Farmácia Santo António Largo do Salão Paroquial, 8 2560-712 PONTE DO ROL Cordeiro Fernandes, Lda. Farmácia Santos Rua da República, 29 6400-440 PINHEL Ana Sofia Lopes, Unipessoal Lda. Farmácia São Felix Estrada de Brito, nº 512 4410-206 SÃO FELIX DA MARINHA Ana Elisabete de Oliveira Pinho, Unipessoal Lda. Farmácia São João Rua Manuel Sequeira Nobre, nº 7 2040-460 SÃO JOÃO DA RIBEIRA Farmácia Santa Maria Madalena Unipessoal, Lda. Farmácia São José Rua do Comércio 3780-124 SANGALHOS Ângela & Domingos Lima, Lda. Farmácia Sena Avenida Bombeiros Voluntários Urbanização dos Martinhos, 157, R/C CTE 6270-532 SEIA Nuno Augusto, Unipessoal Lda.

Farmácia Portas do Parque Avenida 25 de Abril, 111 4495-322 PÓVOA DE VARZIM Farmácia Portas do Parque, Lda.

Farmácia Silva Abitureiras 2005-129 ABITUREIRAS H.J.D. - Comercialização de Medicamentos, Lda.

Farmácia Proença Praça Jacob Rodrigues Pereira, 14-15 2520-249 PENICHE Maria da Conceição Ferreira de Carvalho, S.A.

Farmácia Silva Esteves Avenida Dr. Francisco Sá Carneiro, nº 653 4660-226 RESENDE Daniel António Miranda Lima

Farmácia Progresso Avenida Prof. Dr. Aníbal Cavaco Silva, Edifício Qualidade A2, 5, Loja B 2740-296 PORTO SALVO Andrade & Gonçalves, Comércio e Serviços Farmacêuticos, Lda.

Farmácia Sousa Avenida Dr. Francisco Sá Carneiro, 23-A/B 4520-164 SANTA MARIA DA FEIRA Daniela Valente Casimiro

Farmácia Sousa Pires Rua da Liberdade, 4-C, Ap. 344 8400-369 LAGOA Farmácia Sousa Pires, Unipessoal Lda. Farmácia Teles Largo da Feira dos Dez, 97 4535-35 LOUROSA João Manuel de Resende Coelho Farmácia Tuna Ferreira Estrada Nacional, nº 15, nº 80 5000-368 VILA REAL Farmácia Tuna Ferreira, Unipessoal Lda. Farmácia Tunes Rua do Correio 8365-235 TUNES Feelingzen, Unipessoal Lda. Farmácia União Rua Saraiva Carvalho, 145-F 1350-300 LISBOA QBQ - Quanto Baste Para, Farmácia, S.A. Farmácia Valente Rua de Quintela, nº 27 3720-551 SÃO MARTINHO DA GÂNDARA Mabela Maria P. Valente Ferraz Farmácia Vieira Santos Rua das Forças Armadas, 35 8400-60 ESTOMBAR Farmácia Vieira Santos, Unipessoal, Lda. Farmácia Vitta Centro Comercial Alegro Castelo Branco, Loja 15 6000-459 CASTELO BRANCO Cecília Dias, Farmácia, Sociedade Unipessoal Lda. Farmácia Viva Avenida Pedro Nunes, nº 10 B 2635-317 RIO DE MOURO Farmisin - Farmácia, S.A. Farmácia Viva Rua do Comércio, 30 3840-124 COVÃO DO LOBO Farmácia Viva, Lda.


DESTA VARANDA

A origem da crise A única farmácia da vila mais portuguesa de Portugal – Monsanto – está à venda por um euro! O simbolismo deste facto merece reflexão. É isso que tentaremos fazer em seguida. O sector de farmácias está à beira da destruição. Passámos de uma situação em que as farmácias eram valorizadas e a sua transacção muito fácil, para uma situação em que as farmácias estão desvalorizadas e a sua transacção é muito difícil. Inesperadamente, a oferta excede largamente a procura de farmácias. Como foi possível chegar a esta situação? Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que o problema não é de agora. A crise das farmácias não resulta das medidas de austeridade impostas pelo Memorando da Troika, assinado em 2011. É muito anterior a ele. Iniciou-se em 2005, quando o Governo

Sócrates entendeu que a venda de medicamentos nos supermercados era uma vitória sobre os lóbis e que a resolução do défice financeiro do SNS podia ser resolvido à custa dos medicamentos. As farmácias, em 2005, constituíam um sector que funcionava bem, estável, sustentável, embora com rentabilidade inferior aos sectores congéneres europeus, e que prestava às populações um serviço de qualidade. Infelizmente, em Portugal, estas características são sinónimo de ser rico. E, assim, a partir de 2005, as farmácias passaram a representar, por decisão do Governo, o papel de lóbi rico que era preciso vencer. Por lóbi entenda-se um sector organizado, que lutava e luta pelos legítimos interesses dos seus associados. Começou, então, a destruição pro-

gramada do sector. Sob a capa da liberdade, as grandes cadeias de supermercados realizaram o sonho de distribuir medicamentos. A ideia de que as farmácias tudo aguentariam levou a programas sucessivos de austeridade com o argumento de que era preciso sanear o SNS. Os “PEC´s” impostos ao sector de farmácias não são de agora, vêm dessa época. O sector foi causticado a partir de 2005 com medidas penalizadoras sucessivas, sem avaliação das suas consequências, que foram deteriorando a capacidade das farmácias prestarem um serviço de qualidade à população. Liberalizou-se a venda de medicamentos fora das farmácias (2005). Autorizou-se a instalação de farmácias de venda a público nos hospitais do SNS (2006). Liberalizou-se a propriedade de

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desta varanda

A partir de 2005, as farmácias passaram a representar, por decisão do Governo, o papel de lóbi rico que era preciso vencer.

farmácia (2007). Institui-se a prática de descontos pelas farmácias (2007). Alterou-se o sistema de preços e comparticipações (2007). Autorizou-se a publicidade das farmácias (2007). Autorizou-se a venda de medicamentos ao domicílio e pela internet (2007). Impôs-se às farmácias um período de abertura semanal de 55 horas (2007). Impôsse às farmácias a prestação gratuita de serviço de turnos, com proibição de cobrança de taxas adicionais pela prestação desse serviço (2007). Reduziu-se a margem das farmácias, por duas vezes, apesar de ser já então a margem mais baixa da Europa (2005 e 2007). A par destas medidas, o Estado iniciou em 2005 a prática de reduzir os preços dos medicamentos que ele próprio tinha aprovado, para reduzir a despesa. Reduziu os preços dos medicamentos por seis vezes, entre 2005 e 2010. Fez uma primeira redução de 6% (2005). Fez uma segunda redução de 6% (2007). Fez uma terceira redução de 30% no preço de todos os medicamentos genéricos (2008). Fez uma quarta redução de 7%, em média, no preço dos medicamentos de marca (Julho de 2010). Fez uma quinta redução, entre 20% e 35%, no preço de alguns medicamentos genéricos (Agosto de 2010). Fez uma sexta redução de 6% (Outubro de 2010). Foi este ataque sucessivo iniciado em 2005 que conduziu as farmácias à situação de crise profunda

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em que actualmente se encontram. Os dados da crise são do domínio público. Mais de 700 farmácias (25% do número total de farmácias) têm os fornecimentos suspensos pelos grossistas. Mais de 1.000 farmácias encontramse em elevado risco de insolvência. Não foi, por isso, a Troika internacional, nem o acordo de resgate assinado com o nosso País que conduziu as farmácias a esta situação. Foi o massacre sistemático que se abateu sobre o sector desde 2005. Foi a ideia conveniente de que as farmácias aguentariam tudo aquilo que o Governo lhes quisesse impor. Foi a descida contínua de preços e margens que nos trouxe até aqui. Mas, se é certo que a Troika internacional e o seu Memorando não têm responsabilidades quanto ao passado, não é menos certo de que vão tê-las quanto ao futuro. Em cima de “PEC’s” sucessivos que se abateram sobre as farmácias, entre 2005 e 2010, a Troika impôs novas medidas de austeridade, como se nada se tivesse passado anteriormente, transparecendo do seu documento que considera as farmácias com margem para continuar a sofrer medidas de austeridade. Para cúmulo de tudo isto, ultrapassando o Memorando da Troika, o Governo preparou novas medidas penalizadoras para as farmácias, tais como uma nova descida das mar-

gens que, nunca é demais lembrar, são já as mais baixas da Europa.O Governo não tem, parece-nos, uma consciência clara das consequências devastadoras das medidas que se prepara para assumir. A consequência mais negativa é a destruição de um serviço público de dispensa de medicamentos à população, implantado em todo o País, da aldeia mais distante ao centro da cidade mais populosa, acompanhando a distribuição demográfica da população e cumprindo, nessa medida, os princípios de equidade e de justiça social devidos pelo sistema de saúde a todos os portugueses. Esta política está a destruir aquilo que é uma das redes mais importantes de cuidados primários de saúde existente no nosso País. Parece que ninguém se importa, apesar de os doentes estarem já a sentir na sua própria pele a crise das farmácias. A venda da farmácia de Monsanto por 1 € é o corolário de seis anos de PEC’s sucessivos sobre o sector de farmácias Ninguém deve ficar surpreendido. Apesar de tudo, é nossa obrigação não desistir. Não desistiremos. Mas, começa a ser difícil acreditar no futuro.

João Cordeiro


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