PUBLICAÇÃO trimestral • 198 • ABR/MAI/JUN ‘12
FARMÁCIA PORTUGUESA
Direção NACIONAL DEBATE
DCI COM AS FARMÁCIAS Programa Farmácias Portuguesas
Farmácias aderentes com melhores resultados de vendas
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PUBLICAÇÃO trimestral • 198 • ABR/MAI/JUN‘12
FARMÁCIA PORTUGUESA 06
Viagem aos bastidores da Direção
Inaugurámos, na anterior edi- ção, um ciclo de artigos sobre os elementos dos novos órgãos sociais da ANF, recentemente eleitos para o triénio 2012/2014. Depois do presidente, centramo-nos agora nos três vice-presidentes da Direção: Luís Matias, Paulo Duarte e Vitor Segurado.
04 última hora
42 política de saúde
05 Editorial 14 entrevista
Last minute
João Almeida De peito feito às balas João Almeida Facing the bullets with a full chest
18 flashes 23 formação
verificação de conhecimentos na farmácia knowledge check in pharmacy
Tromboembolismo Venoso Venous Thromboembolism
38 política profissional
Ordem divulga Normas de Orientação Terapêutica society discloses Therapeutic guidelines
40 consultoria jurídica
Revisão global do Contrato coletivo de trabalho Comprehensive review of the collective labor contract
Aníbal Cunha – Figura Eminente UP’2012 Aníbal Cunha - Eminent personality of Oporto University 2012
45 conversa com...
O CEFAR analisou a performance das Farmácias Portuguesas, e as suas conclusões vêm provar estatisticamente, pela primeira vez, que há vantagens económicas na adesão a este programa.
DCI: Agora é o utente quem mais ordena INN: the patient is the one who rules now
Ministério da Saúde distingue Odette Ferreira com o Grau de Ouro Ministry of Health distinguishes Odette Ferreira with Gold Grade
43 museu da farmácia
28 Informação Terapêutica
programa farmácias portuguesas
25 Reuniões Profissionais
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Adalberto Campos Fernandes: Futuro passa por novos papéis e nova remuneração Adalberto Campos Fernandes: Future means new roles and new remuneration
47 internacional
Farmácia tem que se divorciar do preço do medicamento Pharmacy has to divorce from the medicine price
50 informação veterinária
Pulgas e carraças dos animais Flea and tick in animals
51 outros
um dia de farmácia one day of pharmacy
54 noticiário
news
58 desta varanda
from this balcony
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FARMÁCIA PORTUGUESA Propriedade
Directora
Dr.ª Maria da Luz Sequeira Sub-Directores
Dr. Paulo Duarte Dr. Nuno Vasco Lopes Dr. João Silveira
última hora Relatório da Primavera 2012
Crise e saúde um país em sofrimento OPSS faz eco de alguns dos alertas já deixados pela ANF relativamente à crise no setor das farmácias.
Coordenadora do Projecto
Dr.ª Maria João Toscano
Coordenadora Redactorial
Dr.ª Rosário Lourenço Email: rosario.lourenco@anf.pt Tel.: 21 340 06 50 Produção
marketing
Edifício Lisboa Oriente Av. Infante D. Henrique, 333 H, 44 1800-282 Lisboa Tel.: 218 504 060 - Fax: 210 435 935
Consultora Comercial
Sónia Coutinho soniacoutinho@bmarketingcom.pt Tel.: 961 504 580
Distribuição gratuita aos associados da ANF Assinaturas 1 Ano (4 edições) - 50,00 euros Estudantes de Farmácia - 27,50 euros Contactos Telef.: 21 340 06 50 • Fax: 21 340 06 74 Email: anf@anf.pt
Impressão e acabamento RPO - Produção Gráfica, Lda. Depósito Legal n.º 3278/83 Isento de registo na ERC ao abrigo do artigo 9.º da Lei de Imprensa n.º 2/99, de 13 de Janeiro Periodicidade: Trimestral Tiragem: 3 000 exemplares
Distribuição
FARMÁCIA PORTUGUESA é uma publicação da Associação Nacional das Farmácias Rua Marechal Saldanha, 1, 1249-069 Lisboa
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www.anf.pt
O Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) deu a conhecer, recentemente, o seu “Relatório da Primavera 2012”, intitulado “Crise e saúde: um país em sofrimento”, concluindo que «o Ministério da Saúde (MS) desenhou e tem levado a cabo um conjunto de medidas de racionalização mais profunda do que aquele contido no Memorando de Entendimento (MdE)» com a Troika. Obtiveram-se assim «resultados assinaláveis, pelo menos no curto prazo, em alguns domínios», mas segundo se pode ler no documento, não existe «uma verdadeira política de Saúde que enquadre as medidas de racionalização e contenção de gastos e que minimize os seus efeitos negativos». Ao nível do medicamento, foram introduzidas alterações ao sistema de preços e comparticipações ainda antes da intervenção externa, e que reduziram «acentuadamente» os gastos no mercado ambulatório. «No entanto, o mercado hospitalar continua a crescer». Outras medidas posteriores foram tomadas e, sublinha o OPSS, algumas desconhecendo-se a sua base científica, ou estudos efetuados, designadamente para «determinar certos valores», como por exemplo «os países de referência escolhidos para efeitos de cálculo dos preços ou a alteração profunda do sistema de margens da distribuição», o que pode por em dúvida a
sua eficácia. Na análise ao setor das farmácias, as conclusões apontam para um progressivo aumento do número médio de horas de abertura ao público, ao mesmo tempo que se verifica um «considerável decréscimo no volume de vendas». Para o OPSS é claro que «o início de uma crise económica nas farmácias estará a perturbar o seu funcionamento, nomeadamente na capacidade de abastecimento e dispensa de medicamentos à população». O acesso aos fármacos «está a tornar-se uma questão preocupante», uma vez que «várias farmácias» não têm os stocks necessários, havendo casos em que se cobra «adiantadamente às pessoas para os poder adquirir junto dos fornecedores». O problema é acrescido pelo «empobrecimento» dos doentes. Faltou ao MS, segundo o OPSS, um estudo prévio sobre os impactos da crise e da implementação das medidas inscritas no MdE, «nomeadamente no consumo dos medicamentos, na acessibilidade dos doentes ou alterações dos hábitos de prescrição, bem como as implicações para as atividades dos setores envolvidos (indústria, distribuição e farmácias)». Por isso, fica um alerta: «deve ser acautelado o risco de uma rutura nos sistemas de distribuição, na garantia da qualidade do medicamento e no acesso à inovação».
EDITORIAL
Alterar sem adulterar
Uma filosofia a prosseguir A vida tem destas coisas. Corre como numa prova de velocidade a todo o tempo, apenas para, num repente, se deixar apanhar pela morte. Quando assim acontece com alguém que tinha o condão de imprimir aos que o rodeavam o gosto pela captura dos momentos e a delonga em pormenores, sentimos todos que se quebrou ali um elo irrecuperável, experimentamos o amargo sabor da perda. O Francisco Guerreiro Gomes assumiu a condução desta revista ao longo dos últimos sete anos, construindo um edifício de comunicação aberta, incitando à participação dos colegas, convidando-os a entrar nesta casa que é, afinal, de todos nós. E fê-lo de um modo brilhante. Inigualável. Singular, tal como ele mesmo o era. Senti-me, por esse motivo, extremamente lisonjeada com o convite que me foi dirigido para ocupar o lugar que tão precocemente foi deixado vago pelo Francisco, e acima de tudo sinto-me liminarmente responsável por fazer justiça ao seu legado. Pugnarei por isso, por manter viva a filosofia que defendia e os seus princípios estruturais, que também são os meus. Mas a mudança na forma e nos modos, embora paulatina, será inevitável; tão inevitável como incontestável é o facto de que todos somos diferentes e de que não há no mundo dois grãos de areia iguais. À semelhança do Francisco, convido o leitor a participar nesta que será, necessariamente, uma nova fase da nossa revista, enviando-nos críticas e sugestões para que, em conjunto, possamos continuar a fazer crescer este edifício.
Maria da Luz Sequeira
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anf Viagem aos bastidores da Direção
Os vice-presidentes Inaugurámos, na anterior edição, um ciclo de artigos sobre os elementos dos novos órgãos sociais da ANF, recentemente eleitos para o triénio 2012/2014. Depois do presidente, centramo-nos agora nos três vice-presidentes da Direção: Luís Matias, Paulo Duarte e Vitor Segurado. Tratam-se, indubitavelmente, de rostos já bem conhecidos das farmácias e que nos desvendam agora também um pouco sobre o seu percurso pessoal e associativo, e nos falam acerca das responsabilidades que adquiriram com o cargo e da sua visão do e para o setor.
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Luís Matias, vice-presidente da Direção
Um novo contexto, a mesma atitude Luís Matias é um dos novos vice-presidentes da ANF, mas tem já uma vasta experiência nas lides dirigentes desta casa. Apesar das diferentes incumbências, de que nos fala em entrevista, garante que a atitude perante as mesmas é igual. E curiosamente, embora composto por distintas pessoas, é uma idêntica motivação, semelhante convicção e um análogo sentido de missão que encontra no novo elenco dirigente.
Luís Matias, um dos três vice-presidentes da direção da ANF, à semelhança dos seus homónimos em cargo, é um profundo conhecedor dos “cantos da casa”, já que foi precisamente na ANF que iniciou a sua carreira profissional, na reta final da formação universitária, no início dos idos anos de 80. «Eu vim trabalhar para a ANF acompanhando o saudoso Francisco Guerreiro Gomes, cuja saída deste mundo todos sofremos com muita mágoa. Foi pela sua mão que comecei precisamente na área profissional, da intervenção farmacêutica, com a formação contínua,
a revista…», áreas de que detém agora o pelouro. «Considero a evolução para uma coordenação mais na área estratégica e política destas estruturas, ligada à Direção, como um desenvolvimento natural, dado o meu percurso e – por que não? - alguma experiência acumulada nestes domínios». Este mesmo sentir é extensível ao modo como encara a discrepância entre o atual lugar e o de vogal, que desempenhava na anterior Direção. «Há diferenças, obviamente, que decorrem das inerências do cargo, mas não julgo, honestamente, que haja uma mudança
na responsabilidade, ou melhor, na assunção dessa mesma responsabilidade. O contexto da minha ação mudou, de facto, um pouco, e de acordo com o que foi proposto pelo presidente, neste mandato irei preocupar-me sobretudo com questões de intervenção profissional, e assumirei, como disse, um papel mais preponderante de coordenação da área profissional, na área dos novos projetos e desafios que se coloquem ao setor, e ainda no marketing da ANF. No entanto, a atitude face às incumbências é a mesma». Posto isto, relembra Luís Matias, um
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sublinhado se impõe: estas áreas, traduzidas em projetos, «não são de pessoas, são de equipas. A nova Direção incorpora gente de diferentes gerações, muitíssimo competente e capaz, gente com uma enorme vontade de trabalhar, e o que procurámos fazer foi juntar a estas características a experiência de outros com um percurso consolidado no associativismo farmacêutico. Acreditamos que o trabalho que será desenvolvido poderá ser útil à profissão e aos restantes colegas, que é, afinal, o nosso objetivo».
À procura de saltos qualitativos Esmiucemos, então, um pouco mais aquilo a que se propõe em cada uma das áreas por que surge responsável. «Na área política - que partilho com o Dr. Paulo Duarte -, até pela sua especificidade, o objetivo é dar ao presidente todo o apoio que ele entenda poder ser dado e nas condições em que ele o entenda fazer. Quanto aos outros domínios, este meu envolvimento justifica-se por dois prismas: por experiência anterior e apetência pessoal. São áreas em que me sinto confortável e onde, de um ponto de vista individual, penso que posso dar um melhor contributo. No âmbito da intervenção farmacêutica, acredito, humildemente, que posso acrescentar alguma mais-valia, não só pela experiência acumulada, mas porque há já uma realidade anterior que importa continuar a desenvolver e potenciar. Sugerir novas ideias e iniciativas que ajudem a projetar a farmácia como entendemos que ela deve ser projetada é claramente um desafio. Não planeamos introduzir modificações muito pronunciadas àquilo que foi o trabalho desenvolvido e liderado pelo Dr. João Silveira, mas vamos provavelmente aproveitar o facto de estarmos noutros tempos, com outras necessidades, e sobretudo também com outras limitações, e focar-nos um
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pouco mais nas áreas de trabalho onde temos frentes abertas, procurando objetivar essas mesmas intervenções, para que possam ser as mais eficazes. Em suma, importa concentrarmo-nos na evolução e sermos consistentes e eficazes no essencial para a nossa vida profissional, considerando a crise económica e social que temos no país». Relativamente à ligação ao Marketing e ao Programa Farmácias Portuguesas, «para além de ver uma forte interligação com a área anterior, tenho um gosto especial pela parte da Gestão. Julgo que, neste momento, no panorama das farmácias em Portugal, há campo para podermos acrescentar informação neste domínio, e não apenas ao nível económico, mas também na gestão de recursos humanos, de stocks, do próprio espaço no ponto de venda, a forma como o organizamos, na relação que temos com o público e os diferentes parceiros… O objetivo passa, igualmente, por introduzir alguns aspetos que possam melhorar a eficiência e a competitividade da nossa já muito boa rede de farmácias. Em resumo, a minha presença nestas áreas não se fará de outro modo que não seja o de tentar contribuir, em conjunto com o resto da equipa, para que, se possível, tenhamos todos, enquanto setor, um desempenho cada vez mais adequado às necessidades da população e do setor».
«Movem-nos os mesmos desígnios» E é forçoso que se faça mais e melhor, até porque o momento presente é difícil, «e particularmente ao nível da Farmácia, pelas questões que todos nós conhecemos. Sabíamos que o percurso ia ser espinhoso, mas a sensação que temos na ANF é que, de facto, estamos a ser demasiado expostos a todos os problemas que decorrem des-
ta crise económica e social. Não pomos em causa os objetivos definidos para a retoma económica, aliás, sentimos essa mesma retoma como um desígnio nacional para o qual também temos que contribuir. Mas achamos que já o estamos a fazer por excesso, e isso está a criar dificuldades acrescidas à manutenção de um setor que sempre foi de primeira linha, em termos profissionais e de contributo para a saúde pública. E, em rigor, não sentimos que isso fosse absolutamente necessário. Não obstante, esta é, infelizmente, uma fase real, mas da qual iremos, mais uma vez e unidos, emergir. Teremos que ir buscar forças onde já não existem, é certo, mas a palavra de ordem é resistir». «A nossa missão é buscar sinais que apontem num sentido mais positivo para a evolução da farmácia e aproveitá-los profissionalmente, de modo a melhor servir as entidades e pacientes que nos procuram. Há um conjunto de medidas que estão agora a ver a luz do dia. A DCI, por exemplo. O que é aflitivo é que há mais de 20 anos esta matéria vinha sendo discutida e, incrivelmente, com consenso político absolutamente alargado, o que permite que tenhamos uma ideia sobre quem quer e quem não quer proporcionar reformas que são absolutamente necessárias. Estes são sinais importantes, mas muitos outros são necessários. É nesse sentido que batalharemos, com o intuito de chegarmos ao fim do mandato com a ideia do dever cumprido. É para isso que esta equipa diretiva trabalha, à imagem do que já acontecia no passado. Algumas pessoas mudaram, mas a garra, a tenacidade, a confiança, a convicção e o sentido de missão é igual. Não há nem mais nem menos motivação, aquilo que nos move é o mesmo, é a defesa da farmácia, e posso dizer que me sinto extraordinariamente confortável nesta equipa, como me sentia nas anteriores».
Paulo Duarte, vice-presidente da Direção
Resistir ao presente focado no futuro Paulo Duarte não é propriamente um rosto novo na ANF, já que é, desde 2003, o seu secretário-geral, mas é uma das caras novas no elenco diretivo, acumulando agora o cargo de vice-presidente. A apoiá-lo tem a experiência que lhe aporta o facto de ter colaborado de perto com aqueles que considera os principais farmacêuticos do Séc. XX, e o sentido de missão e foco na persecução de um futuro melhor para o setor que partilha com os restantes elementos da Direção. Paulo Duarte, vice-presidente da Direção da ANF, queria ter sido investigador na área da Saúde e foi por conselho da irmã que optou por Farmácia. Curiosamente, o destino que o levou, afinal, por caminhos bem distintos foi o mesmo que ditou que viria a trabalhar junto de uma das maiores investigadoras portuguesas, a professora Odette Ferreira. Mas isso seria mais tarde. Antes, de um modo quase inusitado, viu-se envolvido na vida associativa. «Mal entrei na faculdade, em 1991, acabei por fazer parte da comissão de ano e, passado pouco tempo, colaborava com a Associação de Estudantes». Em 1993 fez parte
da direção e em 1994 foi eleito presidente, numa lista «composta por muitas das pessoas que me têm acompanhado ao longo da vida em vários projetos». Chegado ao 5.º ano, «iniciei um estágio remunerado na Indústria Farmacêutica, na J&J, onde trabalhei na área regulamentar relacionada com dispositivos médicos». Haveria depois de chegar à fase final de um concurso para ocupar um lugar na empresa, mas que acabou por não se concretizar, «porque recebi um telefonema da professora Odette Ferreira a dizer que precisava que eu fosse trabalhar com ela para a Comissão Nacional de Luta Contra a
Sida». E assim foi. «Era uma equipa muito pequena e eu fiz de tudo, desde tratar das mudanças do edifício até apoiar a criação das comissões distritais, organizar concursos para a aquisição de bens e serviços, muita formação na área do VIH/SIDA em escolas, junto de grupos de escuteiros…». Entretanto, em finais de 1998, resolve que está na altura de mudar. «Os responsáveis pela Multicare estavam a pensar lançar o primeiro seguro em Portugal e queriam um gestor que fosse simultaneamente um técnico de saúde. Eu concorri, fui até à fase final, e quando estávamos a discutir as condições», a realida-
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-geral da Ordem dos Farmacêuticos. As condições estavam longe de ser as mesmas que as oferecidas na companhia, mas segui o meu instinto, que me dizia que me sentiria muito mais feliz na Ordem. Foi um risco, mas a adaptação foi rápida e correu tudo bem, até porque fui trabalhar com uma equipa fabulosa!». Ao lado de João Silveira viveu por dentro alguns dos momentos mais importantes da classe, «como o da publicação do novo estatuto profissional, mais moderno e adequado à realidade».
Um homem com sorte «Posso inscrever-me naquele grupo reduzido de indivíduos ditos de sorte, porque tenho feito coisas que me dão prazer e sempre junto de pessoas de grande experiência e visão dos problemas, com quem estamos sempre a aprender.»
de encontrou forma de se repetir, desta feita através de João Silveira. «Foi uma história parecida com a anterior: ligou-me, pediu-me que fosse falar com ele e acabou a convidar-me para o cargo de secretário-
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Em 2001, João Silveira terminava o seu segundo mandato e «o Dr. Aranda da Silva propôs-se a eleições. Quando o fez, combinámos que eu permaneceria pelo menos até ao final do ano, para que o trabalho pudesse ter alguma continuidade e nós pudéssemos avaliar se nos adaptávamos um ao outro. Assim foi, nunca tivemos qualquer problema, demo-nos sempre muito bem, mas eu considerei que estava novamente na altura de procurar uma alternativa». É então que surge em cena João Cordeiro. Neste ponto, Paulo Duarte revela aquele que considera ser um ativo de valor incalculável do seu currículo: «ter tido a sorte de trabalhar muito próximo dos principais farmacêuticos do século XX: a professora Odette Ferreira, o Dr. João Silveira e o Dr. João Cordeiro. Posso inscrever-me naquele grupo reduzido de indivíduos ditos de sorte, porque tenho feito coisas que me dão prazer e sempre junto de pessoas de grande experiência e visão dos problemas, com quem estamos sempre a aprender». «O Dr. Lopes Ribeiro queria deixar de assumir as funções de secretário-geral da ANF e o Dr. João Cordeiro achou que era altura de haver alguma renovação. Foi nesse âmbito que me convidou, em agosto de 2001, a vir para a ANF, com o objetivo de
substituir o Dr. Lopes Ribeiro, o que para mim foi uma honra, por se tratar de alguém que é uma referência de confiança, de credibilidade, discrição…, alguém com quem aprendi muito do que é ou deve ser a função de secretário-geral da ANF». Entrou no início de 2002 e a transição durou um ano. «Eu era seu adjunto, mas era conhecido o objetivo do processo, até que se reformou e passou a ser assessor da Direção e eu assumi o cargo de secretário-geral, a 1 de fevereiro de 2003». Nos quase dez anos que entremeiam o momento atual foram inúmeros os acontecimentos, muitos deles de caráter estrutural para a profissão e para o setor, que pôde acompanhar ativa e interventivamente, mas Paulo Duarte destaca dois, pela demonstração inequívoca e absoluta de união que as farmácias fizeram. «O fim do acordo com o Ministério da Saúde e a subsequente criação da Finanfarma são já hoje marcos indeléveis da história da ANF. Tratou-se de um processo importantíssimo e de enorme responsabilidade, onde foi necessário trabalhar muito e num ambiente de grande pressão para conseguirmos estar à altura das exigências dos associados, e a unidade das farmácias foi, de facto, basilar. Os nossos colegas gregos e espanhóis sabem bem o que é estar seis meses ou um ano sem receber qualquer pagamento do Estado!». Em 2006, uma nova e paralela aventura: «além de uma das minhas irmãs, tanto a minha mulher como a minha cunhada são farmacêuticas, conhecemo-nos na faculdade e nenhum dos lados tem relação histórica sabida com a farmácia, excetuando um bisavô delas, que foi boticário. Mas este é o nosso mundo, participamos nele ativamente, e nessa altura surgiu a possibilidade de adquirirmos uma farmácia, onde poderíamos implementar muito do que defendíamos, e resolvemos fazê-lo, os quatro, numa sociedade familiar. A sociedade tem hoje dois espaços em Lisboa, o primeiro
«Estas alterações que houve recentemente ao nível dos turnos, a disponibilidade do Governo para começar a discutir connosco mudanças no âmbito da remuneração, são os primeiros sinais do reinício, a curto prazo, de uma nova fase de esperança e confiança no futuro da farmácia.» é a Farmácia Estácio, no Rossio, e estamos há cerca de oito meses na zona de Xabregas, com a Estácio de Xabregas».
Manter o motor afinado Mais recentemente e desde as últimas eleições, Paulo Duarte acumula os cargos de secretário-geral e vice-presidente da Direção. «Há novos desafios. Ser membro da Direção é uma grande responsabilidade, porque do ponto de vista institucional e político, acabamos por ser o rosto e o motor de um importante setor de atividade. O dia-a-dia nesta casa é complexo, não há frequentemente muito tempo para decidir e as nossas decisões têm impacto imediato. Isto significa que não podemos falhar ou novos problemas advirão para as farmácias, que já os têm em demasia». Na ANF, defende, «não somos perfeitos porque procuramos a perfeição; os quadros e os colaboradores constituem uma equipa dedicada, que veste a camisola. Procuramos, por isso, manter o motor o mais afinado possível e, acima de tudo, a capacidade crítica, porque sabemos que há muitas coisas onde as farmácias têm expectativas que façamos melhor, e o mais importante é poder corresponder-lhes. Somos muito exigentes, não estamos habituados a estar em segundo lugar em nada, mas isso implica que temos que trabalhar muito, bem e seguros das nossas escolhas». Dos seus pelouros na Direção, identifica como sendo áreas de especial relevância no momento atual a ligação com a estrutura associativa e com as farmácias e
a área política e institucional. «A área associativa é um dos nossos pilares essenciais e nós estamos concentrados em dar-lhe todo o apoio necessário, em estarmos próximos, em ouvir as farmácias. Temos a grande responsabilidade de preservar um trabalho que estava a ser muito bem feito pela Dra. Maria da Luz Sequeira, ao mesmo tempo que procuramos estabelecer uma nova forma de relacionamento com a estrutura associativa, porque as pessoas na Direção são diferentes e é essencial que se construa uma relação de confiança». A área política e institucional, de relacionamento com o Governo, a Assembleia da República e os outros parceiros, «é algo que eu já fazia nas funções de secretário-geral, mas que agora, em colaboração com o Dr. Luís Matias e liderados pelo presidente, assumo de outra forma».
Rostos diferentes para um mesmo sentir A visão da ANF, em termos diretivos, segundo diz, pouco mudou. «Pensamos sempre a cinco ou a dez anos. Isto pode não ser sempre percetível, mas muitas das coisas que vieram a acontecer estavam a ser discutidas no seio da casa há dezenas de anos (são exemplo o novo sistema de remuneração, a prescrição e dispensa por DCI…). Seguramente não faremos diferente. Esta Direção, independentemente dos seus membros, o que quer é assegurar o futuro da farmácia não para amanhã ou depois, mas a dez anos. Claro que havendo pessoas novas, o mais importante, no início,
é construir uma equipa, e posso dizer que estes primeiros meses demonstram que a temos realmente: somos pessoas diferentes, com escolas e experiências de vida diferentes, mas todas alinhadas com um objetivo. Nesse aspeto, esta Direção é uma continuidade da anterior, com rostos novos. Depois, temos uma agenda para cumprir, com dois pilares: primeiro, apoiar a farmácia a sobreviver a esta fase. Podemos chegar ao fim da crise com mais ou menos feridas, mas vivos. Vamos defender a economia da farmácia, encontrar novas fontes de receita e métodos de remuneração e, simultaneamente, um sistema mais eficiente com menos custos, mais operacional, e que não ponha em causa o modelo que defendemos, que assenta no farmacêutico e na sua diferenciação profissional. Aliás, a negociação e o trabalho que fizemos em conjunto com o Sindicato dos Farmacêuticos é disso exemplo. No médio prazo, queremos continuar a estabelecer parcerias e a desenvolver projetos que permitam tornar este modelo viável». Mas, para já, o tempo é de resistir. «Está a ser muito difícil, mas temos os instrumentos necessários. Temos a população connosco, e não falo com ninguém que não tenha percebido já a realidade do setor, que já se foi muito mais longe do que era necessário e, o que é mais grave, mais longe do que era possível. Eu diria que estas alterações que houve recentemente ao nível dos turnos, a disponibilidade do Governo para começar a discutir connosco mudanças no âmbito da remuneração, são os primeiros sinais do reinício, a curto prazo, de uma nova fase de esperança e confiança no futuro da farmácia».
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anf Vitor Segurado, vice-presidente da Direção
«Temos uma equipa com sangue na guelra» Vitor Segurado tem sido o homem certo no lugar exato. Gosta dos processos e da organização. Por outras palavras, ou palavras mais adaptadas aos tempos modernos, gosta de sistemas de informação, uma das áreas que acompanha na Direção e no cargo de vicepresidente há já alguns anos. É, entre os diretores, o veterano, e essa experiência permite-lhe afirmar com sapiência que a atual equipa diretiva vai trazer um novo arrojo às farmácias.
Vitor Segurado é, dos três vice-presidentes, o veterano, transitando no cargo da última Direção. «Sou, para além do presidente, o diretor mais antigo. Há 14 anos que pertenço à Direção e antes disso fui delegado. Recebi um primeiro convite para a Direção no início dos anos 90, mas na altura estava dedicado a outros projetos, ainda jogava voleibol, e não tinha muito tempo disponível, pelo que recusei. Entretanto, acabo a integrar os corpos sociais da Codifar e o meu envolvimento nas matérias deu-me alguma visibilidade, ao que atribuo um segundo convite da ANF, o qual já não pude recusar». Mas por estar há mais tempo não significa que tenha tido maior visibilidade, até porque, conforme diz de si mesmo, é um homem com pouco gosto pela parte política, aquela que em princí-
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pio e obrigatoriamente traz maior exposição. «Não tenho jeito. Estou mais talhado para as áreas que se prendem com a gestão e a organização, e tenho um gosto particular pelos sistemas de informação. Sou, talvez, demasiado organizado, não conseguia viver sem papéis e agora sem ficheiros, e bem arrumados. O meu pensamento é estruturado e procuro que seja o mais simples possível, primeiro por economia de tempo, segundo para facilitar a emissão da informação aos que colaboram comigo. Assim as pessoas também sentem que as coisas estão controladas, e isso transmite segurança e confiança no trabalho». Aliás, diz, «a pior coisa que pode acontecer é ter uma equipa insegura ou sem autonomia para tomar determinadas decisões. Por isso mesmo, con-
sidero que não são só os serviços da ANF que têm de estar disponíveis para a Direção, o contrário também é verdade, e nesse aspeto o meu trabalho está atualmente muito facilitado. Colaboro há muito tempo com as mesmas pessoas, conheço-as bem e construímos uma relação de confiança mútua, com processos muito rotinados, e isso traz-me paz. Aliás, a ANF apostou num quadro de excelentes profissionais, pelo que nós damos as orientações e eles fazem o caminho. Esse é um dos fatores que me tranquiliza relativamente ao futuro. Deposito muita esperança no novo elenco diretivo, mas há uma certeza que tenho: os recursos humanos desta casa têm muito valor, sabem muito bem o que têm de fazer e estão muito bem enquadrados no setor. Conjugando isto com uma Direção
com pujança, com vontade de fazer coisas, obtemos uma combinação que só pode resultar bem».
Com vontade de “pôr cavalos no terreno” De resto, diz-se confiante quanto à nova Direção. «É bom termos uma equipa “com sangue na guelra” nesta fase complicada, em que me parece que os farmacêuticos estão a perder entusiasmo, andam desmotivados. São necessárias novas ideias para expurgar alguma da inércia e trazer um novo arrojo às farmácias, e eu sinto que estas novas caras trazem isso. Passou ainda pouco tempo, mas eu tenho já a nítida certeza de que temos uma belíssima equipa. Tenho feito reuniões com as pessoas que me acompanham nos pelouros por que sou responsável junto dos serviços, porque acho que devem perceber concretamente qual é a nossa responsabilidade e quais são as funções de cada um dos departamentos e colaboradores da casa, e posso afirmar que é a primeira vez que sinto que há uma certa quantidade associada a uma vontade de “pôr os cavalos no terreno”. Inclusive já tive de refrear algum ímpeto, porque uma coisa que aprendi foi que há um tempo certo para tudo». De resto, afirma, «tenho um plano temporal estabelecido, que passa por acompanhar os novos diretores no primeiro ano, ensiná-los, mostrar-lhes os cantos da casa, para no segundo já podermos fazer algumas coisas em conjunto e, no terceiro, estarem já a tomar as rédeas dos assuntos».
Transversalidade organizativa E que assuntos são esses? Começamos pelos sistemas de informação, que constituem um dos pelouros de Vitor Segurado e que este faz questão de sublinhar que congregam os sistemas
de informação e gestão de negócio das farmácias, como os Sifarmas, e algumas ferramentas de apoio, como o ANFOnline, entre outras coisas; mas também as muitas ferramentas informáticas usadas a nível interno da ANF e «que nos permitem suportar tudo o resto que fazemos. O nosso trabalho é o de definir os caminhos, para que os informáticos os possam concretizar, mas colaborativamente, em conjunto e do modo menos compartimentado possível, para que se gerem o máximo de sinergias e mais-valias». No que diz respeito ao pelouro administrativo e financeiro, «acaba por ir bater tudo novamente na organização, com uma particularidade: o rigoroso cumprimento dos timings estabelecidos e aos quais temos de estar atentos, porque uma das coisas implicadas passa pela responsabilidade de efetuar recebimentos e pagamentos junto das farmácias e os processos têm de estar todos muito bem oleados. Admito que para a maioria das pessoas a parte administrativa seja muito complexa e mesmo chata, mas eu gosto, e acredito também que é importante para quem tem de lidar com estas coisas, ter do outro lado alguém com alguma apetência». Nos acordos e receituário, impõe-se a mesma lógica de fundo organizativo. «Temos a noção que abrangemos cerca de 60 a 70% da atividade das farmácias nesta área, com as comparticipações, as regras de dispensa… Temos o Serviço de Retificação de Receituário… Tudo tem de estar igualmente afinado, sistematizado, temos que conseguir antecipar as dúvidas que nos vão ser colocadas… A dificuldade nesta área reside no facto de, durante muito tempo, termos procurado encontrar um padrão que nos permitisse funcionar de modo mais ou menos harmonizado com as muitas entidades com as quais temos acordos, até que chegámos a conclusão que isso era muitas vezes contraproducente, e até desvantajoso para as farmácias, pelo que não há um sistema único, e isso é mais trabalhoso e requer maior atenção». Em comum, para além da base orga-
nizativa, estas áreas têm o facto de um pequeno erro poder resultar, inadvertidamente, num risco para 2500 farmácias. «Fazemos um esforço verdadeiramente herculeano para não se errar. Mas cada vez integramos mais informação de diferentes fontes, ao nível dos sistemas informáticos há alterações de comparticipação todos os meses, alterações nos preços, informações oficiais que nos chegam do INFARMED ao dia 28 e 29, o que quase não nos dá tempo para processar os ficheiros … Por vezes, é inevitável, ocorrem falhas e nessa altura há que assumir responsabilidade e corrigir o mais rapidamente possível. Quando carregamos a informação de 10.000 produtos num mês, apenas são visíveis os 5 ou 10 em que às vezes cometemos erros! Mas é essa a nossa obrigação e é esse nível de serviço que as farmácias exigem e estão habituadas. Muito deste trabalho e rigor não são visíveis e, também por isso, às vezes não conseguimos explicar bem as dificuldades em chegar lá, em resolver este ou aquele problema específico de uma farmácia. No caso concreto do CEFAR, por exemplo, duvido que as pessoas sonhem sequer com o que ali se faz e o que implica fazer todos os estudos e análises de dados para que a parte política possa ter substância argumentativa, e não vá para as reuniões, quaisquer que elas sejam, falar de cor. Onde quer que se vá, deixam-se estudos, pareceres… Isto muitas vezes não é valorizado, porque as pessoas nem se apercebem da preparação que é preciso ter». Uma perceção que, em alturas como a que vivemos, é ainda mais difícil, «porque as pessoas acabam por se desinteressar. Eu assisto hoje a algumas atitudes semelhantes àquelas de que ouvia falar em finais dos anos 70, inícios de 80. Mas é preciso reagir, temos as ferramentas necessárias, uma associação focada nesse apoio e em dar a volta por cima, e acima de tudo temos uma missão a cumprir e uma imagem a manter, pelo que temos de ser mais imaginativos, temos de nos continuar a esforçar».
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entrevista João Almeida, presidente da Direção da Delegação Norte da ANF
De peito feito às balas
As causas não se abraçam, incorporam-se, e por isso João Almeida acredita que entrou na vida associativa no momento certo: o momento em que interiorizou esta ideia. Não se arrepende, pugna por uma causa e sente-se muito bem acompanhado nesse desiderato. Presidente da Direção da Delegação Norte, não ignora os problemas locais, mas recusa a ideia de regionalismos. As mazelas da crise sentem-se por todo o país, por isso, hoje, como nunca, a união faz toda a diferença. Farmácia Portuguesa - Fale-nos um pouco de si, de como começou a sua “carreira” associativa? João Almeida - Ao contrário do que é comum a muitos dos colegas envolvidos na estrutura associativa, a minha experiência neste âmbito é relativamente recente. Ou seja, não posso verdadeiramente dizer que tenha tido esta vivência enquanto estudante, por exemplo. Fui presidente
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da Assembleia-Geral da Associação de Estudantes (AE) na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), e muito embora a atividade deste órgão seja bastante menos intensa que a da Direção, de um modo geral as AE no meu tempo – eu licenciei-me em 1995 – pouco tinham a ver, em termos de labor, com o que vejo acontecer hoje, em que são muito mais interventivas.
Considero, por isso, que a minha atividade associativa se iniciou, de facto, na ANF, há cerca de oito anos, quando a delegada de círculo do Porto entendeu sair e me perguntou, achando eventualmente que eu teria perfil para isso, se a poderia substituir. Obviamente aceitei e, nesse mesmo período, fui convidado pela Dra. Madalena Nunes de Sá, que presidia a Delegação, para a Direção. Cumpri com ela um man-
dato, tendo seguido depois, com mais alguns colegas que me acompanham desde então, em mandatos sucessivos. Em suma, acho que o meu envolvimento associativo surgiu, em termos pessoais, no tempo certo, quando teve de ser, porque uma coisa que sempre senti é que as pessoas quando estão nas associações - sejam elas do tipo que forem - têm de estar de corpo inteiro. Isto é, quando ocupamos estes cargos, não vimos à espera de que alguém faça por nós, vimos para “dar a cara”; nem tão pouco de alcançar benefícios que ultrapassem a realização pessoal ou o sentido de defesa de uma causa justa e comum, porque não são lugares remunerados, são posições que nos ocupam muito tempo e que, por isso mesmo, implicam grande transtorno na vida pessoal e laboral. FP - É proprietário da Farmácia Moreno, no Porto. Como é que articula as duas atividades? JA - Fomo-nos ajustando. Em momentos económicos mais delicados, como o presente, a gestão torna-se um pouco mais complexa, porque a farmácia é uma unidade de saúde que tem de prestar os seus serviços à comunidade e para o continuar a fazer tem de dar os seus frutos, pelo que a falta de um quadro traz algumas contrariedades. Especialmente porque estamos a falar de uma farmácia pequena, com uma equipa igualmente reduzida, numa zona muito envelhecida da cidade do Porto, e a minha ausência sente-se, por vezes, de forma acentuada. Mas a equipa procura encaixar-se e tem sido um suporte fundamental. FP - Desde há algum tempo, os presidentes das Delegações Norte e Centro têm tido assento nas reuniões da Direção Nacional. Que aspetos gostaria de relevar desta situação? JA - É muito diferente estarmos na nossa Delegação a tratar dos assuntos em articulação com a Direção Nacional à distância, ou estarmos propriamente na sede com a Direção, a um tempo, a tratar desses mesmos assuntos. Eu julgo que esta nossa presença, minha e do colega da Delegação do Centro, o Dr. Miguel Silvestre, é bastante interessante: primeiro porque tem mais força, faz mais sentido, tem
mais propriedade manifestarmos a nossa opinião enquadrados nas discussões que se desenrolam no momento do que a posteriori; segundo porque, como temos um acesso mais imediato e completo à informação, podemos ver e entender melhor a evolução de muitas realidades e, com as reservas necessárias a muitos temas, ficamos mais capacitados para informar, mobilizar e/ou tranquilizar os colegas que estão na dependência das nossas delegações. A ANF tem várias assembleias-gerais de delegados por ano, mas como no nosso setor diariamente surgem novidades, o espaço que medeia essas reuniões, se não houvessem mecanismos como este, alternativos, seria demasiado longo numa atividade em que o branco hoje é preto amanhã. A nossa presença nestas reuniões é outro canal que fica disponível para uma melhor articulação entre as realidades locais e a nacional. Mas, acima de tudo, é extremamente gratificante verificar nas reuniões semanais, e não só, que a Associação se pauta por defender os interesses das farmácias. Pode haver quem não concorde com a linha que é seguida, com algumas orientações ou medidas que são tomadas, pode até haver quem trace caminhos distintos, mas ninguém poderá dizer, em consciência, que quem cá está não procura defender o setor. Isto para mim é inquestionável! As pessoas fazem-no o melhor que sabem, com as melhores intenções. Não é apenas o que sinto, é o que vejo, e isso deixa-me muito confortável e é motivador. Todos estão empenhados em levantar os problemas, e identificar e propor soluções. FP - Existe alguma questão a exigir maiores preocupações especificamente a Norte neste momento? JA - Essa é uma questão curiosa e a resposta é não; isto é, não considero que existam problemas que sejam específicos das farmácias do Norte. A nossa Delegação tem cerca de 800 farmácias que lhe são afetas e num número com esta dimensão encontramos casos muito diversos: farmácias grandes, farmácias pequenas, farmácias com dificuldades, outras sem problemas, casos que causam transtor-
nos aos colegas ou que, pelo contrário, são apaziguadores… Temos, claro, problemas no Norte bem sentidos e transversais, como os que se estão a acentuar em matéria de turnos, de dificuldades económicas, de descontos que, apesar de legais, interferem na realidade das próprias farmácias e das que lhes são vizinhas, uma prática de horários perfeitamente desregulada e que responde mais a questões de competitividade do que propriamente à missão de dar cobertura farmacêutica à população… Mas o facto é que tudo isto descreve não uma realidade regional, mas sim nacional. Nada disto é exclusivo do Norte, está perfeitamente disseminado por todo o país. FP - O momento atual da Farmácia é deveras complexo, e crê-se agora que as autoridades do país já o interiorizaram também. Acredita que estão criadas condições para que o setor possa finalmente ser alvo de uma atenção mais cuidada? JA - Essa é a opinião da Direção Nacional, a qual partilho inteiramente. Aliás, é preciso que se diga que muitos dos problemas que agora nos assolam há muito que haviam sido identificados e outros tantos, originados por diplomas recentes - como a questão das margens, dos descontos, da propriedade, dos horários, mesmo a dificuldade que sentimos na introdução dos genéricos, de que vínhamos falando há pelo menos 20 anos -, foram abordados na altura devida, com os avisos necessários para as suas consequências. Infelizmente, esbarramos frequentemente na não recetividade ao nosso argumentário! A última situação é a que nos está a ser colocada por esta política de preços, perfeitamente descontrolada a vários níveis, e que está a colocar em causa não só a sustentabilidade do sistema do medicamento, como também o da sua distribuição e dispensa. Estamos certos de que quer as autoridades quer todas as pessoas e entidades que gravitam à volta da farmácia já perceberam que ela não tem mais para dar, porque já está a dar mais do que tem, e, portanto, ou se faz alguma coisa para inverter esta situação e preservamos o modelo que temos, ou vamos começar a assistir ao fecho
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entrevista
dois anos, por acharmos que o modelo anterior estava esgotado, mudámo-lo. Basicamente, enviávamos os questionários por correio e o que estávamos a verificar é que as respostas vinham diminuindo e a amostra era cada vez mais exígua. Para além disto, tínhamos a sensação que quem respondia era quem ou achava muito bem ou achava muito mal, não havia o meio-termo. Por isso, resolvemos pegar numa amostra significativa – no caso, um terço dos associados, grosso modo 250 farmácias -, e colocar alguém externo à Delegação a fazer os inquéritos por contacto telefónico. Os resultados foram, quanto a mim, muito interessantes, assim como o são as sugestões feitas. Os níveis de satisfação dos associados com a Delegação são bastante bons e o ponto onde pecamos mais – e nós temos essa consciência - é no acesso ao contacto telefónico com a própria Delegação.
de farmácias, situação que caminhará muito rapidamente para a entrada numa espiral descendente acelerada. A ANF luta pela manutenção de um modelo assente na defesa dos interesses da população, de acesso aos medicamentos em proximidade, a preços controlados e em horários adequados, e este modelo está em risco de colapsar se não forem tomadas medidas que o assegurem. Um dos meios preconizados há já algum tempo e que o permitiria sustentar é uma mudança no sistema de remuneração da farmácia, passando esta a ser feita por ato farmacêutico ao invés de por uma margem, ou até mesmo um sistema misto. FP - De um lado a perceção do «colapsar» de um modelo com provas dadas; do outro uma via para solucionar esse problema. Por que se resiste, então, à tomada de medidas? JA - A interiorização de que existe de facto um problema é, quanto a mim, evidente. As autoridades estão perfeitamente cientes do que se está a passar no setor e das suas responsabilidades, pelo que terão de assumir uma posição muito rapidamente. A mudança é algo a que normalmente se resiste, porque implica um certo desconforto, mas caso isso não aconteça, caso não se desbloqueie esta situação, então estaremos perante um indício de questões mais graves. FP - Questões mais graves? JA - Sim, se existe um risco de assistência farmacêutica e não se tomam medidas para repor a normalidade, nomeadamente através de diferentes modelos de financiamento, só posso pensar que existem interesses por detrás dos interesses, mas que me abstenho de enumerar. FP - Recentemente foi elaborado um inquérito de satisfação relativo à atividade da Delegação Norte. Quais as conclusões essenciais que daí se retiram? JA - A Delegação encontra-se, atualmente, certificada, e esses inquéritos, que realizamos todos os anos, inserem-se nesse âmbito. Porém, há
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A ANF luta pela manutenção de um modelo assente na defesa dos interesses da população, de acesso aos medicamentos em proximidade, a preços controlados e em horários adequados, e este modelo está em risco de colapsar se não forem tomadas medidas que o assegurem.
FP - Por que é que existem esses problemas de contacto? JA - Tem a ver com o sistema que está hoje implementado. A Associação tem um centro de contacto a nível nacional, no qual estão envolvidas as Delegações, e quando as pessoas querem aceder à Delegação propriamente dita, têm que entrar neste circuito. O que acontece, por vezes, é que as nossas chamadas vão parar a Lisboa, assim como as de Lisboa vêm para o Porto. Sentimos que há aí uma oportunidade de melhoria, embora pretendamos, obviamente, estar integrados neste centro, não queremos estar isolados num cantinho. FP - E que outros parâmetros são avaliados nestes inquéritos? JA - Avaliamos também o nível de satisfação com os serviços que prestamos na Delegação, designadamente de Consultadoria Jurídica, Consultadoria Fiscal e Formação. No primeiro caso temos tido um aumento muito substancial da procura e, mesmo assim, com um nível de performance elevado. A consultadoria Fiscal também surge bem avaliada. A Formação não é dos itens em que estejamos melhor, mas os níveis de satis-
fação são bons. A nossa política nesta área, constituída essencialmente por palestras, é a de focarmos áreas complementares à Escola, assuntos que, por algum motivo consideramos mais quentes ou que julgamos nunca terem sido abordados. Organizamos três a quatro iniciativas destas anualmente; a 18 de abril, sobre “Medicamentos de marca versus Medicamentos genéricos - mitos e realidades”, uma temática que, à partida, já está muito trabalhada, mas que, por naquela altura estar prestes a entrar em vigor a prescrição por DCI, achámos que seria interessante para as farmácias. E tivemos o auditório cheio, com a participação de 340 pessoas nesta conferência, também porque o painel de oradores convidado era de peso, com o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, o presidente da APOGEN, o Prof. António Vaz Carneiro... Tivemos uma conferência no passado dia 20 de junho, sobre distúrbios gastrointestinais da criança no primeiro ano de vida, um tema mais técnico e onde contou também com um reputado pediatra do Porto. Achamos que este tipo de ações são importantes não apenas pelo seu significado formativo, mas porque constituem igualmente mais um motivo para trazer as pessoas à Delegação, para as por a conversar umas com as outras, para estarem, sentirem os problemas que existem… No fundo, são um motivo extra para se reunirem e também vivenciarem um espaço que lhes pertence. FP - Espaço esse que é novo… JA - Sim, estamos agora num local que nos oferece enormes potencialidades. Anteriormente, a Delegação estava sedeada num palacete, uma casa antiga de alguma dimensão, mas que não era adequada aos dias de hoje. Sempre que queríamos fazer uma ação de formação ou uma palestra tínhamos de alugar espaços, quando hoje a Escola tem aqui as suas instalações, temos um auditório… Tornou-se possível criar aqui um polo do Museu da Farmácia, o qual é bastante dinamizador… Para além disto, havia uma série de outras estruturas participadas pela Associação que estavam limitadas,
como a Glintt, que estava dispersa por vários pontos da cidade, ou a Alliance Healthcare, e que estão agora instaladas no Edifício ANF. Esta é, em suma, uma obra emblemática da visão não centralista da Direção da ANF, um investimento importante que se fez no Norte do país num momento muito distinto do atual. Isto é importante referir porque, muitas vezes e por se tratar de um edifício novo, as pessoas
são levadas a pensar que o projeto é igualmente recente, coisa que foge completamente da realidade e seria perfeitamente ilógica em face do momento de crise que atravessamos. Este foi um espaço projetado à medida das necessidades que existiam e pensando na sua rentabilização futura, mas, essencialmente, trata-se de um edifício das e para as farmácias, pensado na sua (re)união.
Figura Eminente da Universidade do Porto Delegação na homenagem ao Prof. Aníbal Cunha A Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto tem este ano a responsabilidade, incumbida pela reitoria, de escolher a Figura Eminente da Universidade (Ver rubrica Museu da Farmácia). No âmbito das celebrações evocativas que estarão assim associadas à figura do farmacêutico Prof. Aníbal Cunha, a Faculdade contactou a Delegação do Norte da ANF, procurando o seu envolvimento, desafio que foi aceite e se traduzirá num conjunto de iniciativas agora em preparação. «A Direção da ANF considerou que seria interessante esta participação, e delegou-nos essa missão. O Museu da Farmácia está a trabalhar, entre outras coisas, numa exposição temática que estará patente nas instalações da Universidade do Porto; vamos fazer algumas palestras sobre a profissão, o ensino e o legado farmacêutico, uma no edifício da Delegação; e gostaríamos também de envolver as farmácias, até para dar alguma visibilidade às celebrações». Neste sentido, «lembrámo-nos de organizar um roteiro pedonal pelas farmácias mais históricas do Porto, principalmente as inseridas na zona antiga da cidade, algo que está a ser desenvolvido pelo Museu e pela Faculdade e está previsto acontecer na segunda quinzena de julho. Para além disto, julgamos importante, porque se está a dar relevo à nossa profissão, envolver as restantes farmácias, pelo que estamos a planear lançar-lhes o desafio de, na segunda quinzena de setembro, coincidindo com as celebrações do Dia do Farmacêutico, desenvolverem uma montra temática alusiva ao Prof. Aníbal Cunha, generalizando a homenagem a toda a cidade do Porto».
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FLASHES BÉLGICA Farmacêutico substitui pelo medicamento mais barato Após um período transitório de um mês, os farmacêuticos belgas são obrigados a escolher e dispensar o “medicamento mais barato” com a substância ativa prescrita pelo médico. A regra, em vigor desde o início de maio, foi introduzida pelo instituto nacional dos seguros de saúde (INAMI), e aplica-se aos antibióticos e aos antifúngicos, que representam 10% das prescrições no país. A prescrição médica, efetuada obrigatoriamente por DCI, deve corresponder a um tratamento agudo. Estão previstas duas exceções à prescrição por DCI, por razões médicas: o doente é alérgico a determinado medicamento, ou uma razão de saúde justifica a escolha de uma marca específica. Em qualquer dos casos, o médico tem de registar no dossiê do doente a justificação. Através desta forma de substituição, o Ministério da Saúde prevê a obtenção de uma poupança de 22 milhões de euros, em 2012. Antes da introdução das novas regras de prescrição e dispensa de medicamentos, apenas 11% das receitas eram passadas por DCI.
ITÁLIA Cidadãos italianos e líderes de opinião valorizam ação da farmácia e do farmacêutico A farmácia e o farmacêutico mantêm intactos o capital de confiança e a imagem positiva junto da população, apesar das polémicas que acompanharam, nos últimos meses, a liberalização do setor em Itália, país que adotou legislação contrária aos interesses das farmácias, as quais vieram a público para se defender. Esta conclusão é do estudo que a Federfarma encomendou ao instituto ISPO, sobre a perceção que a população e os líderes de opinião têm acerca das farmácias e dos farmacêuticos. Cerca de 95% dos inquiridos faz uma apreciação favorável da farmácia e quase 80% entende que as farmácias constituem um grupo de interesse forte e organizado. A profissão de farmacêutico é considerada corporativista por 56% da amostra. A presidente da Federfarma, Annarosa Racca, salienta o “amplo consenso” à volta da qualidade do serviço prestado pela farmácia, também para 89% dos líderes de opinião. Em geral, a farmácia é vista como um serviço útil (para 90% da população e 97% dos líderes de opinião), ponto de referência territorial (88%; 81%) e dispensadora de bom aconselhamento (88%; 81%). 18
PGEU defende sustentabilidade do setor das farmácias O Grupo Farmacêutico da União Europeia (PGEU) adotou a declaração política «Farmácias Comunitárias Europeias Sustentáveis - Parte da Solução». O documento realça a “contribuição única” que as farmácias europeias fazem para os sistemas de saúde, tanto ao nível da qualidade dos cuidados prestados, como da sua custo-efetividade. Destaca a relevância social da atividade das farmácias, particularmente valiosa no atual contexto de crise económica, bem como a disponibilidade e a “elevada acessibilidade” às farmácias, que abrem, em média, 48 horas por semana na Europa, contra 62,5 horas por semana em Portugal. No âmbito da contribuição económica das farmácias, a declaração salienta a importante ação de educação para a saúde da população e a mais-valia do aconselhamento pelo farmacêutico, que ajuda a prevenir reações adversas, melhorando a adesão à terapêutica e evitando novas despesas com saúde. Através da declaração, o PGEU solicita aos governos dos países europeus que reconheçam o “ativo único” que a rede de farmácias representa, e que salvaguardem a contribuição significativa das farmácias para a efetividade e a eficiência dos sistemas de saúde.
Lexiviadores e funil para filtração a quente c. 1930
Farmácia portuguesa Alto Patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República
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CEFAR estuda performance no PFP
Farmácias aderentes com melhores resultados de vendas Em épocas de crise, mais facilmente se veem custos do que se identificam investimentos e, no momento atual, isto é especialmente verdade nas farmácias. Por isso, por vezes, é preciso demonstrar mesmo aquilo que à partida parece uma evidência. O CEFAR analisou a performance das Farmácias Portuguesas, e as suas conclusões vêm provar estatisticamente, pela primeira vez, que há vantagens económicas na adesão a este programa.
O Programa Farmácias Portuguesas (PFP) nasceu há sensivelmente quatro anos, quando se assistia já ao desenho de uma nova realidade no mercado dos medicamentos não sujeitos a receita médica e dos produtos de saúde, enquadrada num cenário de livre concorrência. O seu objetivo primordial: ajudar as farmácias a fidelizar os utentes através do acrescento de valor ao ato profissional de aconselhamento e dispensa. O PFP propunha-se então, como hoje, não apenas a ser gerador de com-
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pras na farmácia, mas acima de tudo ser um propulsor de motivação para a sua repetição, disponibilizando, para tal, um conjunto de instrumentos comerciais que atraem e fixam as pessoas ao seu espaço e as mantêm afastadas dos da grande distribuição e de outros pontos de venda. Por assentar - na vertente prática o vetor fidelização na atribuição de vantagens aos utentes da farmácia, o cartão das Farmácias Portuguesas é a face mais visível de uma panóplia de ferramentas, onde se incluem os
materiais de ponto de venda, publicações, as negociações feitas com os parceiros, as campanhas publicitárias, o seguimento e apoio das equipas de terreno e toda a informação resultante da agregação de dados dos programas de CRM - Customer Relationship Management. Por tudo isto, Pedro Casquinha, diretor executivo do PFP e responsável de Marketing da ANF, considera que «este é o programa mais custo eficiente que conheço neste e noutros setores, de entre todos os modelos
possíveis. Basta analisar o que se investe perante o que se obtém». E, de facto, para um pacote de serviços assim composto, o investimento, que é totalmente variável de acordo com a performance da farmácia, situa-se nos 3%, contra os pelo menos 10% inerentes a qualquer outro projeto de fidelização. Por outras palavras, uma farmácia que faça vendas no valor de 100 euros, retribui ao programa três, «e podemos garantir em absoluto que qualquer esforço comercial que se faça para o mesmo valor de vendas fora do programa, por exemplo em planos próprios de fidelização, será seguramente mais caro que três euros». Há ainda quem opte por efetuar descontos, «no que para além de lhes ser impossível concorrer com a grande distribuição, como é sabido não fideliza realmente ninguém». Logo, como diz o povo, são “contas de outro rosário”! Portanto, o PFP assume-se como a forma mais inteligente de fidelizar os utentes à farmácia, numa altura em que ficar de braços cruzados à espera de os ver entrar portas adentro oferece tantas probabilidades de futuro como as estratégias de sobrevivência adotadas pelos dinossauros.
Ganhos quantificados Nada disto é, porém e na verdade, desconhecido das farmácias aderentes. Foi através delas que nestes quatro anos foram rebatidos 2.5 milhões de produtos. O que por vezes escapa, pelo seu caráter intangível ou mesmo “solúvel” no tempo, são as outras leituras que se fazem deste valor: quantas vendas foram efetuadas para permitir este número de rebates? Que outras vendas foram potenciadas? Quantas pessoas foram conquistadas pelo aconselhamento e simpatia no ato da dispensa? Quantas deixaram de ir à grande distribuição? Que diferenças há, afinal, contabilizáveis em ser, especificamente, uma “Farmácia Portuguesa”? Foi exatamente para poder dar resposta a algumas destas questões que o CEFAR se envolveu na realização de um estudo onde compara o desempenho, em termos de vendas e seu crescimento, das Farmácias Portuguesas versus as farmácias não aderentes ao programa. «E as diferenças são interessantes!», faz notar Pedro Casquinha. A partir de uma amostra de 1.885
farmácias, construída através de clusters que emparelham Farmácias Portuguesas e farmácias não aderentes ao programa com valor de vendas semelhante em 2010 (ano baseline da análise), o Centro de Estudos debruçou-se sobre a evolução de quatro categorias de produto – a saber: Dermocosmética, Suplementos Alimentares, Universo Bebé e Higiene Oral – no decorrer dos dois últimos anos (Ver quadro). «As disparidades começam logo na comparação dos dados totais, quando verificamos que o crescimento do mercado de produtos de saúde, que se cifrou em -2.9%, foi nas Farmácias Portuguesas de -2.3% e nas outras -4.2%, ou seja, quase o dobro de diferença, o que traduz uma quebra mais acentuada». Na realidade, em todos os segmentos analisados, embora alguns resultados sejam mais significativos que outros, a performance das Farmácias Portuguesas foi sempre melhor, «com destaque para os Suplementos Alimentares, onde as Farmácias Portuguesas têm um crescimento considerável face às não aderentes (4,6% vs 1,8%), e no Universo Bebé têm menor quebra do que as não aderentes (-6,1% vs -11,5%), tal como acontece no segmento da Higiene Oral (-0,4% vs
Percentagem de crescimento em 2011 versus 2010 Segmento
No mercado
Nas Farmácias Portuguesas
Nas farmácias não aderentes
Produtos de Saúde
-2,9%
-2,3%
-4,2%
Dermocosmética
-6,3%
-5,1%
-7,0%
Suplementos Alimentares
3,9%
4,6%
1,8%
Universo bebé
-7,4%
-6,1%
-11,5%
Higiene Oral
-2,3%
-0,4%
-3,6%
Fonte: CEFAR
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programa farmácias portuguesas -3,6%) e na Dermocosmética (-5,1% vs -7,0%)». Eis pois a evidência estatística que faltava para suportar o facto de que «há uma razão económica por detrás de se fazer parte das Farmácias Portuguesas. E isto é importante, porque os custos do investimento feito na adesão ao PFP são visíveis, enquanto a perceção dos ganhos já não é tão imediata. Mas aqui estão eles, quantificados».
Maior dinâmica reverte-se em mais recursos Outra coisa que o CEFAR fez neste estudo foi medir se as vantagens económicas da adesão são superiores ao investimento efetuado, e o que
os dados indicam é que o custo do PFP é superado a partir de uma margem média de 30% nas categorias de Saúde & Bem-estar. Mais: «a análise de sensibilidade feita pelo CEFAR mostra que o grupo de farmácias onde a margem média é sempre superior ao custo é também o mais interessado e mais dinâmico dentro do programa. Há, portanto, uma relação de causa/efeito, a qual dita que quanto maior for o interesse pelo programa, mais o seu custo é abatido, mais vendas acrescidas se conseguem, mais recursos são gerados». Em suma: «estamos a falar de um investimento, de um negócio, numa altura em que é de negócio que as farmácias precisam». E isto através de um programa que não foi concebido primordialmente para dar lucro, mas para promover visitas à farmácia e minimizar a saída de consumidores para outros canais.
Outra coisa que o CEFAR fez neste estudo foi medir se as vantagens económicas da adesão são superiores ao investimento efetuado, e o que os dados indicam é que o custo do PFP é superado a partir de uma margem média de 30% nas categorias de Saúde & Bem-estar.
Nova campanha celebra aniversários Desde o início de fevereiro que o Programa Farmácias Portuguesas tem em ação uma nova campanha no âmbito do marketing relacional, a qual parabeniza os consumidores no dia do seu aniversário. Até final do mês de abril já tinham sido enviados perto de 72 mil emails, o que significa que cerca de 800 aniversariantes por dia receberam uma mensagem de parabéns personalizada na sua caixa de correio eletrónico, com o tradicional presente associado: no caso, a oferta do dobro dos pontos das compras efetuadas nos seguintes sete dias. «Os pontos, para serem obtidos, pressupõem uma compra na farmácia, e neste período imputámos já pontos a 12.500 pessoas!», sublinha Aníbal Oliveira, marketing manager do Programa Farmácias Portuguesas, que frisa ainda o importante reforço da relação com o consumidor. Pedro Casquinha revela que esta iniciativa se insere numa outra, mais vasta, que passa pelo incremento da imputação de pontos nos cartões dos consumidores sem custos adicionais para as farmácias. «O Programa tem feito um esforço grande para insuflar mais pontos no sistema através de autofinanciamento, como é o caso, ou financiados pela Indústria». As razões são várias, a começar pelo facto de se gerar mais movimento nas farmácias, logo mais vendas, e «suportadas com pontos que não são elas que custeiam». Por outro lado, «para os parceiros, como se obtém um efeito imediato em termos de vendas, estamos a incentivar o sell-out». Ou seja, é uma relação “win-win”! Por serem iniciativas que frequentemente passam despercebidas às farmácias, «embora sejam muito claras para
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o consumidor», Pedro Casquinha conta que tem havido um forte empenho na rentabilização do potencial da base de dados do Programa Farmácias Portuguesas, através de parcerias com algumas marcas. «Temos já dezenas de emailings feitos com oferta de pontos adicionais, porque, como conseguimos identificar targets específicos e fazer monitorização de resultados, os parceiros reconhecem aqui uma ferramenta útil e que, para as farmácias, se reverte, automaticamente, em vantagens, porque de repente veem os cartões dos seus consumidores com mais pontos que vão rebater, sem terem tido o custo de os emitir». Quanto à campanha de aniversários, Aníbal Oliveira diz que ela está para durar e aproveita para lançar um apelo às farmácias: «que nos ajudem a recolher os dados referentes a utentes que não têm o email registado, para que também eles possam beneficiar desta oferta» e, com isso, a própria farmácia.
formação
Custo muito abaixo do valor = oportunidade Mais de metade das questões que chegam ao Centro de Atendimento da ANF tem a ver com receituário, traduzindo dúvidas no ato da dispensa e mesmo retificações que obrigam as farmácias a desperdiçar parte do seu precioso tempo, resultando num custo que não pode ser negligenciado. Porque o verbo mais ecoado nos tempos que correm é “economizar”, as farmácias podem agora formar toda a sua equipa nestas matérias por 50 euros/ano, que é quanto custa o novo projeto formativo “Verificação de Conhecimentos na Farmácia - Acordos e Receituário”.
Hoje, mais que nunca, e face ao contexto político-económico adverso ao setor, há a preocupação de devotar um cuidado especial à gestão da farmácia. Tendo a certeza desta necessidade por pano de fundo, e por ser uma área core na sua atividade, geradora de muitas dúvidas e propícia a erros que se traduzem depois em custos, as matérias referentes aos acordos e receituário foram agora transpostas para uma nova ação formativa, desenvolvida em conjunto pelo Núcleo de Acordos, Receituário e Codificação (NARC) e pela Escola de Pós-Graduação em Saúde e Gestão (EPGSG), com a colaboração do Serviço de Retificação de Receituário.
Prevenir em vez de remediar António Salvador, responsável pelo NARC, revela que «são muitos os
contactos que recebemos diariamente das farmácias colocando-nos dúvidas neste âmbito, e o que sentimos é que as pessoas tentam, dia-a-dia, “apagar fogos”, quando o ideal seria que estivessem capacitadas para prevenir que os mesmos deflagrassem». Foi isso, conta, que se procurou fazer com este curso: «disponibilizar uma ferramenta de formação e atualização de conhecimentos que permita às equipas nas farmácias estarem preparadas para resolver os problemas que lhes vão surgindo».As vantagens elencadas são vastas «e extensivas às várias etapas do circuito do receituário: dispensa, faturação e retificações. A farmácia fica com mais tempo disponível para afetar a outras tarefas, com destaque para o relacionamento com o utente e, na vertente financeira, o realce vai para os ganhos que resultam de um menor impacto das retificações à fatura mensal do SNS e das outras entidades».
Acesso múltiplo e alargado O projeto formativo “Verificação de Conhecimentos na Farmácia Acordos e Receituário” foi concebido na plataforma de e-learning da EPGSG, formato cuja escolha não foi igualmente casual, obedecendo antes a diferentes intentos. Alexandrina Teles, responsável pela Formação na EPGSG, reforça que a sua origem e mesmo a sua estruturação procuraram ir ao encontro das necessidades identificadas junto das farmácias. «Pensámos e montámos uma proposta de formação que pudesse ajudá-las da melhor forma». O curso encontra-se, assim, dividido em três módulos distintos, sendo o primeiro dedicado ao relacionamento das farmácias com o SNS. Neste capítulo são abordadas as regras aplicáveis à prescrição e dispensa de medicamentos, os cuidados a ter na faturação das receitas, as regras
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formação
de comparticipação, entre outros temas. «O SNS representa hoje entre 80 a 85% da faturação das farmácias, pelo que sabemos que ao fazer um módulo sobre essa temática estamos a responder à maior parte das suas dúvidas», comenta António Salvador, acrescentando que o segundo módulo, dedicado ao relacionamento com outras entidades e laboratórios, «apesar de não ter tanta expressão em termos de faturação na farmácia, a diversidade e heterogeneidade de regras também suscita muitas dúvidas». Por fim, «temos previsto um terceiro módulo, sobre procedimentos de faturação e tratamento de retificações, que são matérias já mais específicas, mas igualmente importantes». Alexandrina Teles observa ainda que o «conteúdo deste curso, pelas características da matéria em estudo, nunca está fechado. Isto significa não só que as questões sofrem todas as atualizações necessárias, decorrentes das alterações legislativas que vão sendo operadas, mas também que podem ser incluídos novos assuntos». E este foi o principal motivo por que se decidiu ser este um curso com a duração de um ano. «Ao contrário de outras formações que temos disponíveis em e-learning, onde as pessoas, depois de inscritas, têm cerca de três meses de acesso para terminar a ação, aqui introduzimos o conceito de anuidade, ou seja, o acesso ao curso é válido até ao final do ano em que foi feita a inscrição». Os módulos não se encontram ainda todos disponíveis, porque outra característica desta formação passa pelo faseamento das matérias. «Estamos a falar de temas vastos, e não quisemos assoberbar as pessoas com conteúdos extensíssimos. Assim, optámos por fasear os testes por três períodos, tantos como os módulos».
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Já se encontra online o primeiro, o qual agora, com a recente publicação da legislação referente à prescrição obrigatória por DCI (Lei n.º 11/2012, de 8 de março, e Portaria n.º 137-A/2012, de 11 de maio), irá ser alvo de atualizações, e a escala desenhada configura que o segundo seja lançado no decorrer de junho e o terceiro em outubro. «As farmácias poderão inscrever-se em qualquer altura, e aceder aos testes que foram lançados até então».
Para toda a equipa Reparou que foram sempre mencionadas “as farmácias”, “as pessoas” e “as equipas”? Não foi inadvertido! É que a inscrição neste curso é válida para toda a equipa da farmácia. «No ato da inscrição, enviamos uma senha de acesso que é extensível a todos os elementos da equipa e sem limites de ingresso», expõe a responsável pela área da Formação, secundada por António Salvador, que começa por identificar neste esquema a vantagem de «possibilitar às farmácias que toda a sua equipa esteja em sintonia. Há muitos pormenores no receituário que podem por vezes levar a diferentes interpretações. Este curso “obriga” a que todos tenham a mesma “resposta” para as mesmas questões». Por outro lado, sublinha Alexandrina Teles, «o formato do curso é flexível, permite que as matérias sejam trabalhadas em equipa, que se possam medir os níveis de conhecimento e atualização dos diferentes elementos que a constituem, bem como formar novos recursos. Ele está todo estruturado em perguntas do tipo “verdadeiro ou falso” ou de escolha múltipla, e uma vez submetido, o
retorno é imediato, com um reforço explicativo tanto nas respostas em que se errou como naquelas em que se acertou, pois assim a informação fica mais consolidada. Isto permite, em suma, fazer uma aferição muito clara e muito rápida dos conhecimentos de cada um, e as avaliações podem ser repetidas quantas vezes forem necessárias». Foram e continuam a ser produzidos conteúdos para este curso, mas conforme relembra António Salvador, muitos outros já existiam, «sempre estiveram disponíveis no ANFOnline, em circulares, em mapas de apoio ao receituário. Este curso vai também ajudar a uma interação com estas fontes mais proveitosa e expedita». No final é atribuído um certificado de conclusão com aproveitamento pela EPGSG, o qual dá depois acesso a 1,2 CDPs da Ordem.
Preço: 50 euros Tal como atrás foi dito, esta ação formativa foi pensada para ajudar da melhor forma as farmácias num período complicado e de muitos desafios, e o preço reflete essa preocupação: 50 euros. Por farmácia inscrita. É, tal como frisam os dois responsáveis, «um valor perfeitamente simbólico e que podemos afirmar que serve unicamente para que haja uma responsabilização mútua». Claro que «é importante renovar as anuidades», alega Alexandrina Teles, «principalmente neste tema, onde as mudanças são constantes», mas ainda assim, releva António Salvador, «o retorno face ao investimento não é sequer comparável». Se pretender obter mais informações acerca desta ação de formação, aceda a www.escolasaudegestao.pt, no menu cursos, onde pode também inscrever cada colaborador.
reuniões profissionais DCI
Agora é o utente quem mais ordena Depois de ter sido presença assídua, durante anos, nos programas eleitorais dos vários partidos políticos e dos sucessivos governos, sem que, contudo, tivesse alguma vez, literalmente, passado do papel, eis que finalmente a prescrição e dispensa de medicamentos por DCI se torna numa realidade. A publicação da Lei n.º 11/2012 de 8 de março, regulamentada pela Portaria n.º 137-A/2012 de 11 de maio, entrou em vigor no dia 1 de junho e veio trazer novas regras de atuação neste âmbito. O presente artigo procurará explicitá-las.
O novo diploma legal estabelece que a prescrição de medicamentos de uso humano sujeitos a receita médica (abrangendo os medicamentos manipulados e aqueles contendo estupefacientes ou substâncias psicotrópicas) inclui «obrigatoriamente» a denominação comum internacional (DCI) da substância ativa, a forma farmacêutica, a dosagem, a apresentação e a posologia.
Exceções legais à prescrição por DCI Só excecionalmente a prescrição poderá ser feita por nome comercial ou do titular da autorização de introdução no mercado (AIM), e o legislador deixa, desde logo, definidas essas exceções. A saber: quando não exista um equivalente genérico comparticipado ou
só exista original de marca e licenças; quando haja uma justificação técnica do prescritor a impedir a substituição. Porém, nem todas as justificações são aceitáveis, sendo apenas «admissíveis» as seguintes: substância ativa com margem ou índice terapêutico estreito, conforme informação prestada pelo INFARMED, que identifica, na Deliberação n.º 070/CD/2012, de 24 de maio, três substâncias (ciclospori-
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reuniões profissionais
na, levotiroxina sódica e tacrolímus); a existência de uma «fundada suspeita, previamente reportada ao INFARMED, de intolerância ou reação adversa a um medicamento com a mesma substância ativa, mas identificado por outra denominação comercial»; quando a prescrição se destinar «a assegurar a continuidade de um tratamento com duração estimada superior a 28 dias».
Regras a considerar nas prescrições por marca Para além de apenas o poder fazer nos casos excecionais indicados, ao prescrever por nome comercial ou do titular da AIM o médico tem de cumprir um conjunto de regras no preenchimento das receitas que, caso não sejam plenamente observadas, é automaticamente assumido que a receita foi preenchida por DCI. Assim: - A cada medicamento de marca prescrito corresponderá uma, e só uma, receita. Pode haver mais que uma embalagem, mas não mais que um medicamento. Se este número for ultrapassado, a farmácia deverá entender que aquela prescrição foi feita por DCI. - No caso da prescrição eletrónica, as exceções têm que vir obrigatoriamente impressas na prescrição, não sendo aceites as que forem mencionadas manualmente ou através de carimbo após a impressão da mesma. - Nos casos de exceção, para que seja considerada a primeira justificação técnica - medicamento com margem ou índice terapêutico estreito -, o médico tem de mencionar na receita, em local próprio, ipsis verbis: “Exceção a)”. - Para que seja considerada a segunda justificação técnica - fundada suspeita, previamente reportada ao INFARMED, de intolerância ou reação adversa a um medicamento com a mesma substância ativa, mas identificado por outra ou através de
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carimbo denominação comercial -, o médico tem de mencionar na receita, em local próprio, ipsis verbis: “Exceção b) Reação adversa prévia”. Se o prescritor indicar na receita apenas “exceção”, “b)”, ou “Reação adversa prévia” ou outro descritivo qualquer, a farmácia deverá entender que aquela prescrição foi feita por DCI. - Para que seja considerada a terceira justificação técnica - medicamento destinado a assegurar a continuidade de um tratamento com duração estimada superior a 28 dias -, o médico tem de mencionar na receita, em local próprio, ipsis verbis: “Exceção c) Continuidade de tratamento superior a 28 dias”. Neste caso o doente pode optar sempre por escolher um outro medicamento, desde que de preço igual ou mais barato. Se o médico mencionar apenas “exceção”, “c)” ou “Continuidade de tratamento superior a 28 dias”, ou ainda outro descritivo qualquer, a farmácia deverá entender que aquela prescrição foi feita por DCI.
Prescrição de medicamentos não comparticipados A prescrição de medicamentos não comparticipados pode incluir a denominação comercial do medicamento, por marca ou indicação do nome do titular da autorização de introdução no mercado.
O direito de opção do utente O utente tem direito de escolha de entre os medicamentos que cumpram a prescrição médica, salvo no caso das justificações técnicas contidas nas exceções a) e b). Na situação da exceção C), de prescrição de medicamento destinado a assegurar a continuidade de um
tratamento com duração estimada superior a 28 dias, o doente pode optar por outro medicamento, desde que o seu preço seja igual ou inferior ao do prescrito. O utente pode ou não exercer o seu direito de opção, mas independentemente da sua escolha, deverá sempre demonstrá-la «através da respetiva assinatura, ou de quem o represente, em local próprio da receita médica, no momento da dispensa».
Os deveres das farmácias No momento de dispensa, o farmacêutico ou seu colaborador devidamente habilitado, deve informar o doente sobre o medicamento comercializado que, cumprindo a prescrição, apresente o preço mais baixo. As farmácias devem ter sempre disponíveis para venda três dos cinco medicamentos mais baratos em cada grupo homogéneo, com a mesma substância ativa, forma farmacêutica e dosagem, devendo as farmácias dispensar o medicamento de menor preço, salvo se for outra a opção do utente. Nesta fase de transição, que irá vigorar, no limite, até ao mês de novembro, altura em que serão adaptados os sistemas de prescrição, mantêm-se válidos os atuais modelos de receita, mas as regras de prescrição são as elencadas anteriormente. É ainda possível que, inicialmente, surjam receitas nas farmácias com data de prescrição anterior a 1 de junho e, nesses casos, e só nesses casos, são aplicáveis as regras que vigoravam à data da sua prescrição.
Enfrentar as dificuldades proativamente Todos os eventos iniciaram com um enquadramento internacional, onde
Se pretender mais detalhes sobre a informação divulgada nestas reuniões, encontra disponível o documento da apresentação no ANFOnline, e na sua newsletter especial de 21 de maio.
ressaltou a evidência de que os desafios colocados às farmácias só agora começaram e que Portugal não vive uma situação exclusiva de mudança: a fúria desreguladora da Comissão Europeia estendeu-se a todos os países, embora alguns tenham resistido mais e melhor que outros. A nível nacional, fruto de todas as medidas de restrição implementadas e por causa das reduções voluntárias e unilaterais da Indústria nos preços dos genéricos, Portugal recuou aos valores de há 10 anos em termos de despesa pública com medicamentos no ambulatório. Na área hospitalar, porém, nada de novo, verificando-se uma incapacidade por parte dos diferentes governos para controlar a despesa com medicamentos. Para a farmácia isto traduz-se no mesmo ou mais trabalho por uma compensação muito inferior, e cujos resultados ficaram bem patentes no estudo elaborado pela Universidade de Aveiro e pela Oliveira, Reis & Associados, indicando que, independentemente do escalão em que estejam inseridas, as farmácias apresentarão, em média, resultados líquidos negativos no final deste ano, caso nada seja feito entretanto que mude o panorama atual. Está também a ser preparado um outro estudo, com a Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, o qual pretende avaliar o impacto das medidas recentes da política do medicamento nas farmácias. Esperar um novo ambiente legislativo não basta, a ANF incita as farmácias a serem proativas e a fazer tudo o que delas depender para controlar custos, assim como conta com o seu apoio na
sensibilização das autoridades locais para a sua difícil situação.
Um novo modelo de remuneração A Direção concluiu também que este é o momento certo para se avançar com algo que há muito vem advogando: um novo modelo de remuneração das farmácias dissociado da margem sobre o preço, passando a ser exclusivamente
com base num valor fixo por escalão de preço dos medicamentos. Por fim, foram apresentadas as novidades ao nível das relações laborais, nomeadamente o ponto de situação das negociações que estão a decorrer com os sindicatos de farmacêuticos e técnicos. Se pretender mais detalhes sobre a informação divulgada nestas reuniões, encontra disponível o documento da apresentação no ANFOnline, e na sua newsletter especial de 21 de maio.
Reuniões descentralizadas Direção Nacional debate situação do setor com as farmácias
A Direção Nacional da ANF realizou, entre 23 de maio e 6 de junho, um dos maiores périplos de sempre pelo país, reunindo com mais de 2000 pessoas de cerca de 1500 farmácias, em 14 momentos e cidades diferentes, para a apresentação das novas regras de prescrição por DCI e debate de ideias em torno da situação económica atual das farmácias, a proposta de um novo modelo de remuneração do setor e a regulamentação coletiva de trabalho (em destaque, nesta revista, na rubrica “Consultoria Jurídica”). De fora ficou, para já, a Madeira, mas porque não se assinalaram expressivas mudanças legislativas, dado que a prescrição e dispensa por DCI já ali está implementada há mais tempo, perspetivando-se um próximo encontro naquela região autónoma na eventualidade de alterações significativas ao atual contexto. De resto, a união, a resiliência e a determinação das farmácias na superação da crise que o setor atravessa ficaram bem patentes no diálogo mantido com a Direção da ANF nestas sessões.
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informação terapêutica
Tromboembolismo Venoso Prevenir e tratar Sendo uma condição clínica comum, o Tromboembolismo Venoso (TEV) constitui um importante problema de saúde pública, não apenas por estar sub-diagnosticado, mas também pelas dificuldades que se colocam no seu tratamento e pelo elevado impacto em termos de morbimortalidade, e consequentes custos e consumo de recursos.
TEV A importância do aconselhamento da Farmácia A intervenção farmacológica na prevenção e tratamento do TEV está bem definida e é eficaz na prevenção da coagulação adicional e de uma embolia pulmonar potencialmente fatal. Diminui o risco de tromboembolismo recorrente e evita outras complicações como a insuficiência venosa. No entanto a adesão à terapêutica é dificultada nos casos em que há ausência de sintomas prévios
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a um primeiro evento e pela necessidade de monitorização intensiva. Acresce que a eficácia da terapêutica pode estar comprometida por múltiplas interacções com fármacos e alimentos. O aconselhamento da equipa da farmácia, sustentado em conhecimentos técnicos robustos, contribui para promover a monitorização e motivar a adesão à terapêutica, sensibilizando para a sua importância. Contribui ainda para a prevenção através do aconselhamento de medidas não farmacológicas, sendo também importante na identificação e aconselhamento de utentes com factores de risco como grávi-
das ou pessoas sujeitas a grandes períodos de imobilidade (ex.: cirurgia, viagens longas, etc…).
Tromboembolismo Venoso (tev) O TEV resulta da formação de um ou mais coágulos de sangue – trombos - na circulação venosa, geralmente nas veias dos membros inferiores. O trombo pode deslocar-se, resultando na oclusão total ou parcial de um vaso sanguíneo. É uma situação comum, sobretudo na população idosa, porém, por ser, muitas vezes, assintomático, nem sempre é reconhecido. O que é
certo, é que tem grande impacto na saúde pública, em termos de morbi-mortalidade.1 O TEV numa veia superficial de um membro inferior, com inflamação local - tromboflebite superficial - é de fácil identificação pela vermelhidão e calor ao longo da veia superficial, apresentando-se como um cordão duro e doloroso por baixo da pele. A evolução é benigna e as complicações são pouco frequentes, devendo, no entanto, ser sempre de referenciação ao médico.
Tromboembolismo Venoso Profundo (TVP) No TVP, há a oclusão de uma veia profunda no membro inferior, com consequente acumulação de sangue, que continua a ser bombeado para o membro através da artéria, não podendo fluir no sentido contrário, por a veia estar obstruída2. Fluxo sanguíneo em direcção ao coração e pulmões
Conhecer os factores de risco O reconhecimento dos factores de risco associados ao TEV é funda-
Tabela 1 – Factores de risco para tromboembolismo venoso1,3 Factores de Risco
Normal
Grandes cirurgias (torácicas, abdominais e ortopédicas)
História prévia de TEV ou embolia pulmonar
Tendo em conta o risco de tromboembolismo recorrente, a história prévia de TEV é considerada dos factores de risco mais importantes. Devido à lesão dos vasos e obstrução do fluxo sanguíneo, o risco de novo episódio de TEV encontra-se aumentado nos primeiros 6 a 12 meses, podendo persistir até 10 anos após o evento inicial. Embora ainda não muito documentada, a componente hereditária não deve ser menosprezada (um ou mais familiares em primeiro grau).
Hormonal
A terapêutica com estrogénios - contracepção oral ou terapêutica hormonal de substituição - tem sido relacionada com o aumento dos factores de coagulação. Entre as utilizadoras de contraceptivos orais, o risco de TEV é significativamente mais elevado para as que fumam e que têm uma idade superior a 35 anos. Durante a gravidez e no pós-parto imediato verificam-se alterações dos níveis séricos de estrogénios que podem resultar num aumento dos factores de coagulação com risco aumentado de TEV.
Insuficiência cardíaca congestiva
A diminuição do fluxo sanguíneo, aumenta o risco de formação de coágulos.
Doenças hereditárias que aumentam a coagulação
São doenças que conduzem a um estado adquirido e congénito de hipercoagulação que, naturalmente, constitui um factor de risco para o TEV.
Doença neoplásica
Embora o mecanismo anda não esteja totalmente esclarecido, pensase que que as células tumorais libertam substâncias que alteram o estado normal de coagulação (efeito pró-coagulante). Têm sido associadas ao TEV sobretudo as neoplasias do pâncreas, próstata, pulmão, mama, estômago e cólon.
Idade superior a 60 anos
Estudos epidemiológicos demonstram um aumento significativo da incidência de TEV depois dos 60 anos.
Obesidade
O risco de TEV parece aumentar com um IMC > 30 kg/m2 ou um perímetro abdominal > 100 cm.
Imobilidade (ex.: doentes acamados há mais de 3 dias, viagens longas)
A estase venosa decorrente de períodos de imobilidade, contribui para a ocorrência de TEV. O “síndrome da classe económica” caracterizase pelo desenvolvimento de TEV assintomático em viagens aéreas, geralmente de duração superior a 8 horas. Quanto maior a duração da viagem, maior o risco de desenvolvimento de embolia pulmonar.
Tabagismo
São conhecidos os efeitos vasoconstritores da nicotina, que conduzem a uma diminuição do fluxo sanguíneo e lesão endotelial, constituindo, por isso, um factor de risco para o TEV.
Insuficiência Venosa - veias varicosas
A ineficiência no retorno venoso ao coração, favorece fenómenos de estase venosa que predispõem para a formação de trombos.
TVP
Fig. 1 – Fluxo sanguíneo normal e fluxos anguíneo comprometido devido a um evento de TVP. (imagem disponível em: http://www.circulationfoundation.org.uk)
A sintomatologia é ao nível do membro afectado, sendo caracterizada por dor, edema, desconforto e dor à palpação, calor ou eritema cutâneo na área abaixo do trombo. Uma das complicações mais graves reside no facto de, através da veia cava inferior, o trombo poder chegar ao coração, de onde é bombeado até aos pulmões, dando origem a uma Embolia Pulmonar (EP), por vezes fatal2,3. Os sinais e sintomas mais comuns da EP são dispneia, hipóxia, taquicardia, hipotensão, tosse, síncope, dor no peito (toracalgia) 1,2.
Fundamento As grandes cirurgias comportam um risco elevado, sobretudo as cirurgias torácicas, abdominais e ortopédicas. O trauma cirúrgico e as consequentes alterações fisiológicas na hemostase que visam impedir hemorragia, constituem risco para o desenvolvimento de TEV. Este risco aumenta com a duração total da cirurgia e com a duração do período de imobilidade no pós-operatório. Nestas situações pode ser instituída terapêutica anti-trombótica como profilaxia farmacológica antes e após a cirurgia, que pode continuar em ambulatório.
Coágulo de sangue
Edema e inflamação abaixo da oclusão
mental para a avaliação do risco global do doente e para melhor orientar o aconselhamento. O risco de TEV aumenta de forma cumulativa e proporcional ao número de factores contribuintes do indivíduo, sendo que raramente está presente apenas um factor isolado1,3.
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informação terapêutica
Compreender a Terapêutica Farmacológica A terapêutica farmacológica com anticoagulantes é utilizada tanto no tratamento do TEV, como na profilaxia, sendo a melhor abordagem prevenir, antes de o evento ocorrer2. O tratamento agudo de episódio de TEV tem como objectivo impedir uma coagulação adicional, reduzir o risco de tromboembolismo recorrente e evitar o desenvolvimento de complicações (como a embolia pulmonar). A opção pode recair na terapêutica com heparinas e/ou anticoagulantes orais. As heparinas são administradas por via parentérica (endovenosa ou subcutânea), permitindo uma rápida acção. As heparinas de baixo peso molecular (HBPM) têm vindo a substituir as heparinas não fraccionadas (HNF), pois permitem uma fácil administração subcutânea pelo doente e estão disponíveis em diferentes dosagens, permitindo uma fácil adequação da dose a cada caso. As heparinas são utilizadas no tratamento de TVP e na profilaxia de tromboembolismo na sequência de cirurgia ou em situações de imobilização por doença prolongada ou em viagens longas. Os anticoagulantes orais podem ser utilizados em conjunto com as heparinas, no início do tratamento de TVP, para manter uma anticoagulaçao adequada e para prevenir o agravamento do coágulo. Posteriormente, como terapêutica a longo prazo, o anticoagulante oral é utilizado isoladamente para prevenir o tromboembolismo recorrente3. Até há pouco tempo os únicos fármacos anticoagulantes orais pertenciam à classe dos antagonistas da vitamina K (AVK) – varfarina e acenocumarol. No entanto, contingências associadas à sua utilização - interacções
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com medicamentos que alteram a sua metabolização pelo Citocromo P450, interacção com alimentos, variabilidade interindividual e estreita janela terapêutica com consequente necessidade de monitorização intensiva que representa custos e incómodo para o utente- contribuíram para o desenvolvimento de alternativas terapêuticas com um perfil de segurança mais favorável5. Recentemente surgiram duas novas classes de fármacos anticoagulantes orais: Inibidores Directos da Trombina (IDT) e Inibidores Directos do Factor Xa (ID Xa). A utilização destes fármacos em alternativa aos anticoagulantes clássicos (AVK) permite uma maior comodidade na terapêutica, uma vez que que não requerem tratamento inicial com anticoagulantes por via parentérica. A previsibilidade do seu efeito em conjunto com a escassa influência de interacções com alimentos ou outros medicamentos contribuem para que possa não ser necessária uma monitorização obrigatória, não sendo este um aspecto ainda totalmente estabelecido4,6. Apesar das vantagens, existem al-
guns aspectos a considerar associados à segurança. O principal prende-se com a possibilidade de hemorragia - efeito adverso característico dos anticoagulantes, neste caso, particularmente importante pela dificuldade na sua reversão. Enquanto que, em caso de hemorragia em resultado de hipocoagulação excessiva por AVK, a administração de vitamina K (IV) pode antagonizar o efeito do AVK sobre os factores de coagulação actuando, assim, como antídoto específico, para estas novas classes de anticoagulantes, não existem antídotos específicos. Nestes casos, o doente deve ser orientado, o mais rápido possível, para um serviço especializado, para que, de acordo com a gravidade e localização da hemorragia, possam ser utilizados tratamentos de suporte adequados. Há ainda a ter em conta o custo destes medicamentos, que é muito superior ao dos AVK, com efectividade equivalente4. Os antiagregantes plaquetários (ex.: AAS) não têm eficácia demonstrada na prevenção do TEV)1.
Tabela 2 - Medicamentos anticoagulantes disponíveis em farmácia de oficina7 Classe
Fármaco
Marca
Via de Administração
Dalteparina sódica
Fragmin
Subcutânea
Tinzaparina sódica
Innohep
Subcutânea
Enoxaparina
Lovenox
Subcutânea
Nadroparina cálcica
Fraxiparina, Fraxodi
Subcutânea
Heparina sódica
Heparina sódica B Braun
Endovenosa / Subcutânea
Antagonistas da Vitamina K (AVK)
Varfarina
Varfine
Oral
Acenocumarol
Sintrom
Oral
Inibidores Directos da Trombina (IDT)
Dabigatrano Etexilato
Pradaxa
Oral
Inibidores Directos do Factor Xa (ID Xa)
Rivaroxabano
Xarelto
Oral
Heparinas de baixo peso molecular (HBPM)
Heparinas não fraccionada (HNF)
e-Learning
VERIFICAÇÃO DE CONHECIMENTOS NA FARMÁCIA ACORDOS E RECEITUÁRIO CONTEÚDOS DESENVOLVIDOS COM BASE: NAS DÚVIDAS MAIS FREQUENTES MAIOR IMPACTO NA ACTIVIDADE DA FARMÁCIA REDUÇÃO DO NÚMERO DE RECEITAS DEVO DEVOLVIDAS Inscrição: Anual (2012) 3 módulos (12 horas) Para todos os colaboradores da Farmácia Créditos: 1,2 CDPs Preço: 50 €* (associados ANF)
Inclui todos os colaboradores da Farmácia
*Ao preço indicado acresce IVA à taxa em vigor
COMO FUNCIONA? » Inscrição: - A Farmácia pode inscrever-se em qualquer altura do ano; - Pode inscrever todos os colaboradores da Farmácia. » Realização de 3 módulos formativos: -Realização de questionários (Março, Junho, Outubro)com feedback formativo, através de fundamentos teóricos e fontes de informação enquadrados com as perguntas. » Temas dos questionários: - SNS; - Entidades e Laboratórios; - Facturação e Rectificações.
PARA MAIS INFORMAÇÕES
» Actualização das temáticas: - A Farmácia pode inscrever-se na anuidade em qualquer altura do ano pois as matérias dos 3 módulos estão sempre actualizadas, mas quanto mais cedo se inscrever, mais cedo terá acesso às informações, beneficiando assim da formação.
Rua Marechal Saldanha, 1 | 1249-069 LISBOA Tel. 213 400 712 | 213 400 600 Fax: 210 410 494
» Certificado: - Será emitido depois de concluídos os 3 questionários, com aproveitamentos mínimos Farmácia de 75%.
escola@anf.pt www.escolasaudegestao.pt
portuguesa
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informação terapêutica
Tabela 3 – Anticoagulantes Clássicos (AVK) vs Novos Anticoagulantes (IDT e ID Xa)4 AVK
Dabigatrano Etexilato
• Metabolizados pelo CYP 450 (interagem com um elevado número de fármacos metabolizados pela mesma via) • Interacção com alimentos ricos em vitamina K (espinafres, bróculos, etc) • O antídoto específico é a vitamina K • No início do tratamento está indicada a associação com heparinas administradas via parentérica, para obter um rápido início de acção. • Exige uma monitorização (com custos para o doente e para o SNS).
• Não é metabolizado pelo CYP 450. • Interacção com indutores da glicoproteína P*
Rivaroxabano • Metabolizado pelo CYP 3A4 e CYP2J2 • Interacção com inibidores do CYP3A4 e da glicoproteína P**
• Não estão descritas interacções com alimentos • Não existe um antídoto específico em caso de hemorragia • Rápido início de acção que permite a sua utilização em episódios agudos, dispensando a utilização de heparinas parentéricas. • Devido à previsibilidade de efeito dispensa uma monitorização tão intensiva quanto os AVK
*A administração concomitante com indutores da glicoproteína-P (tais como rifampicina, hipericão, carbamazepina ou fenitoína), pode resultar na diminuição das concentrações plasmáticas de dabigatrano. ** A administração concomitante de inibidores potentes do CYP3A4 e da glicoproteína P como antimicóticos azólicos (ex.: cetoconazol, itraconazol, voriconazol e posaconazol) ou inibidores da protease do VIH (ex.: ritonavir), pode aumentar as concentrações plasmáticas de rivaroxabano até um grau clinicamente relevante (em média 2,6 vezes) com consequente aumento do risco hemorrágico.
A importância de monitorizar o estado de coagulação O grande risco associado à terapêutica com qualquer anticoagulante é a possibilidade de hemorragia. Este risco obriga a uma monitorização do estado de coagulação. A monitorização é especialmente importante para os anticoagulantes orais AVK, por apresentarem as interacções já descritas, as quais, pela alteração do efeito anticoagulante, potenciam o risco de ocorrência de eventos tromboembólicos ou hemorrágicos. A monitorização da terapêutica anticoagulante é feita através da determinação do tempo de protrombina
(TP) expresso através de uma medida standardizada denominada INR – International Normalized Ratio ou Razão Normalizada Internacional. O INR é próximo de 1,0 em pessoas saudáveis sem tratamento anticoagulante. Sob terapêutica anticoagulante, o intervalo de valores de INR desejável varia com o quadro clínico, sendo definido pelo médico e estando normalmente compreendido entre 2 e 3,5 (estado de hipocoagulação). O doente deve estar devidamente instruído e esclarecido pelo médico sobre o intervalo ideal de valores de INR, sendo recomendável que entregue ao doente um plano de acção escrito e ainda que o doente tenha consigo um cartão para registo dos valores das determinações de INR. Interpretação dos valores de determinação do INR: Outros aspectos relativos à monitorização da terapêutica anticoagulante
Interpretação dos valores de determinação do INR: INR (Os intervalos de valores oretendidos para cada doente varia de acordo com o quadro clínico, e é definido pelo médicoa)
> superior ao pretendido
Probabilidade de ocorrência de hemorragias
< inferior ao pretendido
Risco de tromboembolismo
Identificar a causa: - Interacção com outros medicamentos - Infecção - Consumo de álcool* - Alteração na dieta - Esquecimento/ duplicação da terapêutica anticoagulante
* O consumo regular e prolongado de bebidas alcoólicas pode alterar o metabolismo, com prolongamento do tempo de semi-vida da varfarina e alterações no efeito terapêutico5
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podem ser consultados no CEDIME Informa “Anticoagulantes Orais – Segurança na Terapêutica”, publicado na Newletter ANFOnline de 4-Jan-2012 e consultável no portal ANFOnline, em menu Relação Institucional / submenu Newsletters. Apesar de não exigirem uma monitorização tão rigorosa pela previsibilidade do seu efeito, os novos anticoagulantes também apresentam risco de hemorragia. Desta forma, o aconselhamento deve incidir na sensibilização do doente para os sinais de alerta aos quais deve estar atento: hemorragia nasal frequente sem motivo, dificuldade em estancar o sangue de uma ferida / corte ou nódoas negras inexplicáveis.
O aconselhamento do doente com TEV Para além de monitorizar o estado de coagulação, é importante assegurar a adesão ao tratamento, particularmente quando há história prévia de eventos tromboembólicos em que a probabilidade de um novo evento é significativa. Motivar o doente a aderir à terapêutica instituída e a cumprir a rotina de monitorização, é determinante. É também
importante informar sobre as interacções com alimentos, medicamentos e suplementos alimentares. Na identificação de interacções medicamentosas, o Sifarma 2000 é um suporte imprescindível. Permite, durante a dispensa do medicamento anticoagulante, despistar interacções com outros medicamentos que estejam a ser dispensados ou que o doente se encontre a tomar (no caso de ter Ficha de Acompanhamento, através do registo no histórico terapêutico). Nestas situações surge um alerta de interacção (IN) que suporta o aconselhamento e permite informar o utente sobre as precauções a tomar.
Aconselhar medidas não farmacológicas A profilaxia mecânica é utilizada de forma complementar ao tratamento farmacológico, após um episódio de TEV e com o objectivo de prevenir o tromboembolismo recorrente. Actua promovendo o retorno venoso, diminuindo, assim, a estase venosa. Consiste na utilização de meias de compressão graduada, dispositivos de compressão pneumática intermitente, bombas venosas do pé1. A adopção de medidas não farmacológicas é também importante na prevenção de TEV, particularmente em indivíduos com vários factores de risco, em que a terapêutica farmacológica está contra-indicada devido a, por exemplo, risco aumentado de hemorragia ou hipersensibilidade.
Meias de compressão graduada As meias de compressão graduada, também designadas por meias
As meias de compressão devem exercer a pressão suficiente para reduzir o diâmetro das veias, facilitando a função das válvulas venosas, o que permite que o sangue volte a fluir mais rapidamente, impedindo a formação de trombos.
Com uma meia de compressão
Sem meia de compressão
Fig. 1 – Efeito proporcionado pela meia de compressão (imagem disponível em http://www.medi.pt)
de contenção elástica, podem ser aconselhadas, mesmo na ausência de ocorrência de qualquer episódio de TEV, desde que identificados factores de risco. A indicação farmacêutica deve incidir numa compressão Leve a Moderada (Classes A, I e II), (ver tabela 4), sendo que as classes de compressão mais acentuadas, devem ser alvo de recomendação médica. Actuam através da redução do diâmetro da veia, promovendo o retorno venoso e diminuindo, assim, a estase venosa. Nas veias profundas dos membros inferiores, o sangue flui lentamente através do sistema venoso. As válvulas destes vasos sanguíneos, assim como as contracções dos músculos permitem o fluxo de sangue de volta ao coração3. A lesão das válvulas ou períodos prolongados sem contracção mus-
cular conduzem à estase venosa. São, deste modo criadas condições que promovem a formação de trombos3. As meias de compressão devem exercer a pressão suficiente para reduzir o diâmetro das veias, facilitando a função das válvulas venosas, o que permite que o sangue volte a fluir mais rapidamente, impedindo a formação de trombos. A pressão deve ser decrescente desde o pé até a coxa, acelerando o fluxo de sangue de volta ao coração. Quando se movimenta a perna, a meia forma uma barreira externa para os músculos, proporcionando uma contracção muscular mais eficaz8. A gravidade da doença venosa determina a pressão necessária. Existem meias de compressão em cinco classes de compressão diferentes:
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informação terapêutica
Tabela 4 – Classificação das meias de compressão9 Classes de Compressão
Compressão no Tornozelo
Classe A - Leve
10 a 14 mmHg
Classe I - Suave
15 a21 mmHg
Classe II - Moderada
Classe III - Forte
Classe IV – Muito forte
23 a 32 mmHg
34 a 46 mmHg
Igual ou superior a 49 mmHg
Dependendo da localização do dano nas veias e do seu progresso, são usadas meias de compressão de diferentes comprimentos. Os modelos vão desde as meias até ao joelho, passando pelas meias até a coxa, até aos collants. Há modelos especiais para homens e para grávidas. Em situações especiais o médico pode recomendar meias de compressão com determinadas características específicas, por exemplo, meia aplicável a apenas um dos membros inferiores e, nos casos problemas associados aos dedos como por exemplo micoses, dedos em garra e joanetes podem ser indicadas meias com biqueira aberta. A graduação deve ser adequada de acordo com as instruções da marca, que pode recomendar a determinação da medida do tornozelo, da barriga da perna, da coxa, e da altura da perna9. A determinação correcta das medidas é sempre muito importante, sendo particularmente crítica no caso do doente diabético, que devido à perda de sensibilidade, pode não identificar uma compressão incor-
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Indicações - Sensação de peso ou cansaço nas pernas, dor, prurido, formigueiro, telangiectasias (aranhas, derrames) - Varicosidades ligeiras, sem tendência para edema - Varicosidades incipientes da gravidez - Queixas intensas (ex. edema marcado nas pernas, pés e tornozelos associado a veias varicosas pronunciadas) - Tumefacções pós-traumáticas - Após tromboflebites superficiais - Após tratamento esclerosante ou cirúrgico de varizes - Varicosidades graves da gravidez
- Consequências de uma insuficiência venosa constitucional ou pós-trombótica - Forte tendência para edema - Varicosidades tronculares - Após flebectomia ou esclerose venosa - Fase sub-aguda da TVP - Angiodisplasia (deformidade, dos tecidos vasculares por desenvolvimento anormal, dilatação degenerativa dos vasos sanguíneos) - Síndrome pós-flebítico - Linfedema - Elefantíase
recta, comprometendo o fluxo sanguíneo local. As meias de compressão podem e devem ser usadas todos os dias. Devem ser calçadas de manhã, ao levantar, logo depois do duche, antes do aparecimento do edema e devem ser retiradas à noite, ao deitar. É importante que a meia não seja esticada, deve ser apenas desenrolada para evitar rugas. Existem luvas de borracha e outros dispositivos médicos disponíveis nas farmácias adequados para apoiar e facilitar o correcto vestir e despir da meia. Se for mal calçada pode haver o risco de ir escorregando ao longo do dia, e ter o efeito de garrote. Também as meias de liga ou meia até ao joelho devem ser utilizadas com precaução por potenciarem este efeito8. Para descalçar deve-se ter em conta os mesmos cuidados, fazendo deslizar a meia e evitando dobrar.
Prevenção em situações especiais
• Viagens longas
As viagens longas de automóvel, avião ou comboio podem cons-
tituir um factor de risco para o TEV na medida em que se traduzem em períodos, mais ou menos longos, de imobilidade. Este risco aumenta quando estão associados outros factores de risco, sendo que, a indivíduos de alto risco, pode mesmo ser prescrita profilaxia farmacológica. A todos devem ser aconselhadas medidas gerais de prevenção e ponderada a utilização de meia de compressão graduada1.
Factores que podem aumentar o risco de TEV associado a viagens 10: • Realizar frequentemente viagens de longa duração; • Permanecer sentado durante toda a viagem, e dormir em posições que comprometem a circulação sanguínea, especialmente o retorno venoso dos membros inferiores; • Vestir roupa apertada (em particular junto à anca e membros inferiores) e que restrinja os movimentos; • As pessoas obesas têm maior imo-
Recomendações gerais: Beber bastante água durante o voo. Evitar roupa apertada junto à anca e membros inferiores. Evitar o consumo de bebidas alcoólicas e com cafeína antes e durante o voo. Evitar tomar comprimidos para dormir, pois o efeito destes irá limitar a mobilidade. Usar apoios de forma a elevar os pés. Fazer exercícios a cada meia hora. Os exercícios baseiam-se em flectir e esticar as pernas e os pés. Ocasionalmente, sempre que for seguro, dar um passeio no corredor do avião. As meias de compressão podem ser indicadas caso o indivíduo tenha factores de risco pré-existentes.
Exercícios durante o vôo10:
Promovem o fluxo de sangue dos membros inferiores para o coração. Os exercícios superiores do corpo destinam-se à melhoria da circulação em geral.
Levantar os pés do chão e mover ambos os pés em conjunto, desenhando um círculo imaginário com o dedo grande do pé, de modo a que cada pé rode em torno da articulação do tornozelo. Fazer o exercício várias vezes para a mesma direcção, e repetir na outra direcção.
Com os pés apoiados no chão levantar os calcanhares, com os dedos no chão. Depois baixar os calcanhares e levantar delicadamente os dedos flexionando o tornozelo tanto quanto confortável. Repetir várias vezes.
bilidade e desconforto causada pelo excesso de peso; • Pessoas mais altas podem ter a mobilidade condicionada por falta de espaço.
Factores que podem aumentar o risco de TEV nas viagens aéreas10: • A diminuição da pressão do ar causa distensão do abdómen, com consequente atraso no retorno venoso dos membros inferiores; • A diminuição dos níveis de oxigénio e/ou pressão, resulta no aumento da coagulação; • A diminuição da humidade altera o equilíbrio dos fluidos corporais; o efeito soma-se ao resultante do consumo de bebidas alcoólicas e com cafeína, que causam desidratação, com consequente diminuição do volume de sangue que fica, por isso, menos fluido, dificultando a circulação e potenciando a formação de trombos; • Devido a procedimentos de segurança, a mobilidade no avião pode estar reduzida; • Voos longos, sem escalas.
Depois do voo: Com os pés no chão, levante uma perna para cima, mantendo o joelho dobrado. Segurar por 2-3 segundos e depois baixar. Repetir a sequência, pelo menos, 20 vezes para cada perna.
Com as costas direitas, levantar delicadamente o joelho e segurar com ambos os braços, puxando a perna em direcção ao peito e inclinar o corpo para trás. Manter por 15 segundos e soltar gentilmente.
Um utente com sintomas de TEV que tenha feito uma viagem longa há menos de 1 mês deve ser encaminhado ao médico. Sintomas como uma perna inchada e dolorosa ou dificuldade respiratória, associados a um factor de risco (neste caso viagens longas) devem ser alvo de avaliação clínica imediata.
• Gravidez11,12
Com a cabeça numa posição vertical, delicadamente mover a cabeça para que a orelha direita se aproxime do ombro direito, tanto quanto for confortável. Girar a cabeça para a frente até conseguir visualizar o colo. Finalmente rodar a cabeça suavemente para cima em direcção do ombro esquerdo, e em seguida levantar a cabeça para a posição vertical. Alternar a direcção e repetir várias vezes.
Sentado confortavelmente, rolar os combros suavemente para trás, continuando com um movimento circular, várias vezes.
As alterações hormonais durante a gravidez sobretudo dos níveis de estrogénio, mas também de progesterona, influenciam o estado de coagulação. Estas alterações ocorrem com o intuito de diminuir o risco de hemorragias durante o parto. O estrogénio induz igualmente uma vasodilatação por inibição da contractilidade muscular lisa, com aumento da distensão venosa. Uma consequente estase
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venosa em conjunto com as alterações na coagulação pode levar à formação de trombos nos membros inferiores. As lesões nos vasos sanguíneos da pélvis decorrentes do parto, fazem com que o risco de TEV possa existir até 6 semanas após o parto. Há mulheres que apresentam um risco acrescido de TEV durante e após a gravidez. Tal, resulta da presença de um ou mais de um dos factores de risco já descritos anteriormente, ou de factores como idade superior a 35 anos, excesso de peso, cesariana e imobilidade durante vários dias antes do parto. Devido às alterações anatómicas e hemodinâmicas causadas pelas variações hormonais, é muito comum surgir também insuficiência venosa durante a gravidez. As manifestações da insuficiência venosa são dor, edema, sensação de peso e cansaço nos membros inferiores. Quando para além des-
tes sintomas, estão presentes alterações morfológicas e hemodinâmicas (veias subcutâneas dilatadas, tortuosas e com insuficiência valvular) está presente o síndrome varicoso (as varizes). Os sintomas podem surgir logo no primeiro trimestre da gravidez e invariavelmente agravam no seu decurso e em gestações futuras. É importante, desde o início da gravidez, evitar o desenvolvimento da doença venosa e as suas complicações, mediante a instituição de medidas preventivas.
Medidas gerais Para prevenção das complicações e de uma insuficiência venosa recomenda-se: • Evitar longos períodos em pé ou na posição sentada; • Elevar os membros inferiores por períodos regulares durante o dia e durante o repouso nocturno; • Realizar exercícios antiestáticos
dos membros inferiores (movimentos de flexão, extensão e rotação dos pés) de forma a promover o retorno venoso; • Aplicar meias de contenção elástica durante toda a gravidez; • Podem ser utilizados fármacos venotrópicos por indicação médica. A adoção de medidas gerais é benéfica também na prevenção do TEV, pois ajudam a melhorar o fluxo sanguíneo e a reduzir o edema nos membros inferiores. As futuras mães com outros factores de risco para além da gravidez, devem procurar aconselhar-se junto do médico, por forma a avaliar a necessidade de adopção de outras medidas para prevenção de TEV, as quais podem passar pelo recurso a terapêutica anticoagulante. Após o parto, o médico pode também aconselhar mobilização precoce – por exemplo, levantar-se o mais cedo possível após uma cesariana, para reduzir o risco de TEV. Elaborado por: Joana Pinto e Ana Lúcia Martins do CEDIME cedime@anf.pt
Referências Bibliográficas 1. Reis Abílio, et al, Normas para a prevenção, diagnóstico e tratamento do tromboembolismo venoso no doente médico, Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, 17 (Supl. I): 40-58, 2010. 2. Skinner Nancy, Moran Peter, CMAG – Deep Vein Thrombosis, Case Management Society of America, 2008. 3. Wood Bryan, Fitzpatrick Lori, Revisão sobre a prevenção e tratamento do tromboembolismo venoso, Patient Care – Edição Portuguesa, 163 (15): 36-57, 2010. 4. Stavroula Tsiara, Konstantinos Pappas, Dimitrios Boutsis, Mike Laffan, New Oral Anticoagulants: Should They Replace Heparins and Warfarin?, Hellenic J Cardiol, 52: 52-67, 2007. 5. Warfarin Sodium in DrugPoints® System [Internet database]. Greenwood Village, Colo: Thomson Reuters (Healthcare) Inc. Updated periodically. [acedido a 1505-2012]. 6. Reis Abílio, Prevenção e tratamento do tromboembo-
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lismo venoso: o lugar dos novos anticoagulantes orais, Revista Portuguesa de Cardiologia, 31 (Supl. I):45-50, 2012. 7. Infarmed - Infomed (Base de Dados de Medicamentos de Uso Humano) disponível em http://www.infarmed. pt/infomed/inicio.php [acedido a 18-04-2012]. 8. Tudo o que vale a pena saber sobre meias de compressão – Introdução à terapia de compressão, Medi, disponível em http://www.medi.pt [acedido a 08-03-2012]. 9. Pinto Joana, Pernas cansadas – Fadiga ou patologia crónica?, Revista Farmácia Portuguesa n.º 169: 44-51, 2007. 10. DVT and flying, disponível em http://mydr.com.au/travel-health/dvt-and-flying [acedido a 20-01-2012]. 11. Thrombosis & Pregnancy, disponível em www.thrombosis-charity.org.uk [acedido a 18-04-2012]. 12. Gomes Joana, Garcia Lígia, Cuidados com a mamã no pré e pós parto, Revista Farmácia Portuguesa n.º 195: 28-36, 2011.
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Política profissional Ordem divulga Normas de Orientação Terapêutica
Por uma prescrição e uso mais racional do medicamento A Ordem dos Farmacêuticos produziu e propôs ao ministro da Saúde um conjunto de Normas de Orientação Terapêutica em áreas que, conjugadas, foram responsáveis, em 2009, por 77% da despesa pública em ambulatório. Agora foi a vez de o público conhecer esta proposta, que visa contribuir para o imperativo de uma maior racionalidade nos gastos neste âmbito.
No início de 2011, a Ordem dos Farmacêuticos constituiu uma equipa de trabalho em Farmacoterapia com a missão de se debruçar sobre o uso racional dos medicamentos, principalmente nas patologias onde os grupos terapêuticos representaram, em 2009, o maior peso nos encargos do Serviço Nacional de Saúde em ambulatório - 10 grupos que, somados, foram responsáveis por 77% desta despesa pública com medicamentos. Primordialmente, a iniciativa da Ordem inseriu-se no seu quadro de cooperação com as autoridades, que por norma parte de um estudo sistematizado da realidade e que lhe permite, depois, suportar sugestões válidas à resolução dos problemas identificados. Neste caso, a «necessidade urgente» de colmatar a inexistência de protocolos terapêuticos, a qual, a manter-se, continuaria a
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chocar com a imprescindível racionalização da prescrição medicamentosa, a obrigatoriedade de uma mais elevada qualidade e coerência das terapêuticas, bem como com a indispensabilidade de uma maior moderação dos inerentes custos para as famílias e para o Estado. Entretanto - conforme refere o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Carlos Maurício Barbosa, no preâmbulo do documento agora tornado público -, por força da atualidade económica e financeira do país, este objetivo de prestar um contributo «para a racionalização da prescrição, dispensa e utilização de medicamentos» acabou por se revestir de uma ainda maior pertinência, ao confluir com «o estabelecido no memorando de entendimento entre o Estado português» e a denominada Troika, que consagra a instituição de normas para a prescrição em ambulatório.
Harmonizar e economizar Coordenado por Margarida Caramona, professora catedrática de Farmacologia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, o grupo de Farmacoterapia da Ordem começou então por elaborar uma lista com os medicamentos mais dispendiosos para o SNS e «para cada grupo terapêutico em análise foram elaboradas Normas, consoante as patologias mais comuns» (ver Quadro). Cada Norma surge depois estruturada «segundo um algoritmo de decisão, com os pontos-chave considerados em cada patologia, e termina na orientação seletiva para um subgrupo terapêutico ou substância ativa». Nos casos em que existam opções e que do ponto de vista clínico estas
sejam indiferentes, é recomendada a escolha economicamente mais vantajosa.
«Normas não substituem avaliação médica» Estas Normas de Orientação Terapêutica agora divulgadas pretendem ser um contributo para que
Grupos farmacoterapêuticos Anti-hipertensores
os prescritores possam basear as suas decisões farmacoterapêuticas «na mais recente evidência científica e num profundo conhecimento das relações benefício/ risco e custo/efetividade» e, tal como relembrou Maurício Barbosa no decorrer da conferência de Imprensa, existe já larga experiência estrangeira e mesmo nacional, embora incipiente e em poucas doenças, a nível hospitalar. O bastonário fez ainda questão de deixar sublinhado que esta proposta não substitui nem pode substiPeso nos encargos do SNS em 2009 19,9%
tuir «a imprescindível avaliação médica», assim como não constitui «para o médico, a única abordagem possível em cada caso», mas acredita que através desta ferramenta se pode harmonizar e uniformizar a intervenção dos profissionais de saúde, «garantindo aos doentes igualdade no acesso às terapêuticas». Esta proposta, ela encontra-se disponível para consulta a todos os membros da Ordem dos Farmacêuticos na área privada do seu portal online, em www.ordemfarmaceuticos.pt.
Patologias alvo nas Normas de Orientação Terapêutica Hipertensão arterial Insónia primária
Psicofármacos (Ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, antidepressores, antipsicóticos e lítio)
12,5%
Perturbação da ansiedade generalizada Depressão major Perturbação bipolar I Diabetes tipo 1
Insulinas, antidiabéticos orais e glucagom
8,6%
Antiácidos e antiulcerosos
8,4%
Dispepsia
Antidislipidémicos
7,3%
Dislipidemia
Diabetes tipo 2
Tromboembolismo venoso Anticoagulantes e antitrombóticos
4,2%
Prevenção secundária do AVC isquémico Fibrilhação auricular vs risco tromboembólico Infeções bacterianas respiratórias
Antibacterianos
4,2%
Infeção por Helicobacter pylori Infeções bacterianas geniturinárias
Anti-inflamatórios não esteroides
4,2%
Antiasmáticos e broncodilatadores (CFT 501)
3,9%
Medicamentos que atuam no osso e no metabolismo do cálcio
3,8%
Dor na osteoartrose Asma Doença pulmonar obstrutiva crónica Osteoporose
Fonte: “Normas de Orientação Terapêutica”, Grupo de Farmacoterapia da Ordem dos Farmacêuticos, Primeira Edição 2011
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consultoria jurídica Revisão global do Contrato Coletivo de Trabalho
Entre a ANF e o snf – Sindicato Nacional dos Farmacêuticos
Foi assinada em 31 de maio de 2012 a revisão global do Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) entre a ANF e o SNF – Sindicato Nacional dos Farmacêuticos, tendo sido publicado a 22 de junho no Boletim do Trabalho e Emprego e tendo entrado em vigor nos termos legais, a 27 de junho. Esta revisão do CCT vem trazer algumas alterações significativas ao regime atualmente vigente, passíveis de se traduzirem numa redução de custos para a farmácia, destacando-se as seguintes alterações:
a) Introdução de uma nova categoria de acesso à carreira e aumento do período de exercício de funções para progressão na carreira O acesso à carreira passa a ser feito através da categoria de Farmacêutico de Grau V, com a remuneração mensal mínima de € 1.000,00 (atualmente, o acesso à carreira fazia-se através da categoria de Farmacêutico de Grau IV, com a remuneração mensal mínima de €
40
1.314,67). O período de exercício de funções para progressão na carreira passa de um para dois anos, sendo que a partir de 1 de Janeiro de 2014, passará de dois para três anos.
b) Tempo de trabalho O período mínimo de intervalo de descanso é reduzido de uma hora para trinta minutos, passando assim o intervalo de descanso a poder ser fixado entre trinta minutos e duas horas. O número permitido de horas de trabalho consecutivo é aumentado de cinco para seis horas. O dia de descanso semanal obrigatório pode não ser o domingo quando o horário de funcionamento da farmácia abranja aquele dia e mediante acordo escrito entre a entidade empregadora e o farmacêutico, sendo, neste último caso, salvaguardado o gozo de um domingo como dia de descanso semanal obrigatório, em cada mês de calendário. No regime de banco de horas, o período normal de trabalho diário pode ser aumentado até 3 horas
(atualmente, o período normal de trabalho diário podia ser aumentado até 2 horas), mantendo-se as 200 horas por ano como limite do acréscimo.
c) Remunerações Aos farmacêuticos admitidos após a entrada em vigor da revisão do CCT aplica-se uma nova tabela remuneratória (Tabela B). As remunerações previstas na Tabela B têm valores inferiores em 10% aos previstos na Tabela A, com exceção da remuneração da categoria de Diretor Técnico, que tem o mesmo valor nas duas tabelas. Aos farmacêuticos que se encontrem em funções à data da entrada em vigor da revisão do CCT continuarão assim a aplicar-se as remunerações mínimas atualmente vigentes, e que passarão a estar previstas na Tabela A. A Tabela B só vigorará até ao dia 31 de dezembro de 2013, salvo acordo entre a ANF e o SNF em contrário, data a partir da qual se passará a aplicar a Tabela A a todos os farmacêuticos. No caso de a Tabela B deixar de vigorar, a nova categoria de Farmacêutico de Grau V transitará para a Tabela A, com a remuneração mínima de € 1.100,00 e com efeitos a partir de 1 de janeiro de 2014. As Tabelas A e B terão as remunerações seguintes:
TABELA A: Categoria
Remuneração mínima mensal
Diretor Técnico
€ 1.975,35
Farmacêutico – Grau I
€ 1.690,29
Farmacêutico – Grau II
€ 1.554,65
Farmacêutico – Grau III
€ 1.398,14
Farmacêutico – Grau IV
€ 1.314,67
TABELA B: Categoria
Remuneração mínima mensal
Diretor Técnico
€ 1.975,35
Farmacêutico – Grau I
€ 1.521,26
Farmacêutico – Grau II
€ 1.399,19
Farmacêutico – Grau III
€ 1.258,33
Farmacêutico – Grau IV
€ 1.183,20
Farmacêutico – Grau V
€ 1.000,00
O montante do subsídio de alimentação é aumentado para € 5,12, mantendo-se o valor das diuturnidades, do subsídio de disponibilidade e das taxas fixas por prestação de trabalho suplementar.
d) Acordos de redução da remuneração A farmácia e o farmacêutico (com excepção do Diretor Técnico e do Farmacêutico de Grau V) podem acordar, por escrito, na redução da remuneração, sem alteração de categoria ou de funções, por período determinado, o qual nunca poderá exceder a data de 31 de dezembro de 2013, desde que tal redução não implique o pagamento de uma remuneração mensal inferior à que está prevista na Tabela B para a categoria detida pelo farmacêutico. Assim, por exemplo, um farmacêutico que detenha a categoria profissional de Farmacêutico de Grau III, pode acordar com a farmácia na redução da sua remuneração mensal para o valor mínimo de € 1.258,33. Aos farmacêuticos que acordem na redução da remuneração será garantido um dia adicional de férias, o qual, por acordo escrito, pode ser aumentado até ao limite de dois dias de adicional de férias. No caso da redução da remuneração resultar num valor coincidente com a remuneração mensal prevista na Tabela B para a categoria detida pelo farmacêutico, este terá direito a três dias adicionais de férias. Este aumento do número de dias de férias não confere o direito a qualquer correspondente aumento do subsídio de férias.
e) Trabalho suplementar A partir da data de entrada em vigor da revisão do Código do Trabalho , o trabalho suplementar passa a ser remunerado com os acréscimos previstos na lei, ou seja, (i) dia normal – acréscimo de 25% na primeira hora ou fração e de 37,5% nas horas ou frações subsequentes; (ii) dia de descanso semanal ou feriado – acréscimo de 50%. Nos dias em que a farmácia estiver de serviço permanente, o trabalho suplementar prestado entre as 22 e as 09 horas do dia seguinte, é unicamente remunerado por taxa fixa, com os valores atuais, acrescida das taxas de chamada pagas pelos utentes. O farmacêutico que efetue serviço permanente noturno em dia útil, entre as 22 e as 09 horas do dia seguinte, deve descansar todo o período normal de trabalho desse mesmo dia (do dia seguinte), sem perda de remuneração e do subsídio de alimentação.
Elaborado por: Eduardo Nogueira Pinto e Eliana Bernardo, advogados PLMJ – Sociedade de Advogados
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Política de saúde Medalha de Serviços Distintos
Ministério da Saúde distingue Odette Ferreira com o Grau de Ouro A farmacêutica Odette Ferreira viu o seu palmarés ser recentemente aumentado, com a atribuição de mais um título à sua já muito premiada carreira. Desta feita, a homenagem foi da responsabilidade do Ministério da Saúde que, no dia 9 de abril, lhe outorgou o Grau de Ouro da Medalha de Serviços Distintos. Desde 1967 que o Ministério da Saúde distingue, anualmente, com este galardão pessoas ou entidades «que tenham praticado atos de abnegação, caridade, altruísmo ou beneficência, ou tenham prestado serviços relevantes à Saúde Pública ou à Assistência Social», conforme se pode ler no Decreto-Lei n.º 46 277, de 16 de abril de 1965. Constitui já tradição que as Medalhas de Serviços Distintos do Ministério da Saúde, a par do Prémio Nacional de Saúde concedido pela Direção-Geral da Saúde, sejam atribuídas na cerimónia comemorativa do Dia Mundial da Saúde, que se celebra a 7 de abril. Este ano não foi exceção. A efeméride – que em 2012 tem como o slogan “Envelhecimento ativo: uma oportunidade para dar mais vida aos anos” -, foi evocada dois dias depois, no Auditório do INFARMED, em Lisboa, num evento presidido pelo ministro da Saúde, Paulo Macedo. Para além da investigadora Odette
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Santos-Ferreira, foi ainda reconhecida com a mesma honra uma outra farmacêutica, Isabel Abreu, diretora do Gabinete de Aconselhamento Regulamentar e Científico do INFARMED, bem como 16 outras personalidades e duas instituições (Ver caixa). Quanto ao Prémio Nacional de Saúde, entregue pela primeira vez em 2006, o seu fim é o de consagrar personalidades que tenham contribuído para a obtenção de ganhos em saúde ou para o prestígio das organizações no âmbito do Serviço Nacional de Saúde. A eleição é feita anualmente por um júri - composto pelos bastonários das Ordens dos Farmacêuticos, Médicos e Enfermeiros, pelo diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e pelo médico e professor universitário Walter Osswald -, que, para a edição de 2011, apontou o médico Alexandre Linhares Furtado, responsável pelo primeiro transplante renal em Portugal, realizado em 1969.
Medalhas de Serviços Distintos Grau Ouro 2012 Ana Paula Silva Marques António José Cardoso Sousa Dias (a título póstumo) António José de Barros Veloso Artur Torres Pereira Emílio Rui da Veiga Peixoto Vilar Instituto Nacional de Emergência Médica, IP Isabel Maria Martins Portugal de Abreu João Alberto Baptista Patrício Joaquim António Machado Caetano José Alberto Santos Pereira José Alexandre Diniz Manuel Sobrinho Simões Maria Antónia Azevedo Silva Sousa Calhau Maria Augusta Sousa Maria do Carmo Fonseca Maria do Céu Soares Machado Maria Isabel Santos de Prado e Castro Maria Odette Santos-Ferreira Ordem Hospitaleira de S. João de Deus R. Adolfo Coelho Fonte: Portal da Saúde
MUSEU DA FARMÁCIA
Aníbal Cunha – Figura Eminente UP’2012
Museu associa-se à evocação do fundador da FFUP Todos os anos, desde há 10, a reitoria da Universidade do Porto desafia uma das suas faculdades a apontar uma personalidade notável da sua história, a qual celebra como Figura Eminente pelo seu contributo para o desenvolvimento da instituição e do próprio país. Este ano o repto foi lançado à Faculdade de Farmácia (FFUP), que elegeu o Prof. Aníbal Cunha, e o Museu será parceiro nas iniciativas que estão a ser preparadas para homenagear um homem que foi decisivo no Ensino da Farmácia em Portugal. O envolvimento do Museu da Farmácia, e especificamente do polo do Porto, nesta iniciativa acabou por surgir de um modo quase natural, conforme atesta o seu diretor, João Neto. «O Prof. Carlos Afonso, um dos responsáveis da FFUP pelo programa evocativo, contactou-nos e à Delegação Norte da ANF, manifestando um enorme interesse em ter nestas comemorações algo fortemente ligado à cultura e ao património farmacêuticos e, nesse sentido, a parceria com o Museu afigura-se-nos como algo óbvio. Mas é uma honra ver que o que para nós faz todo o sentido é confirmado por uma instituição com a relevância da Universidade do Porto, que reconhece o contributo proeminente
do Museu na área do património da Farmácia e enquanto repositório da memória de uma profissão». Por outro lado, acrescenta, a participação do Museu neste tributo «constitui uma oportunidade para consolidarmos a nossa estratégia de intercâmbio dinâmico com os alunos e os professores das faculdades de Farmácia». Esta é, aliás, a primeira ação de grande dimensão neste âmbito. «Queremos não apenas despertar os estudantes e os docentes para a sua herança cultural, mas torná-los orgulhosos difusores da mesma E, para tal, é preciso que estejam cientes de que os farmacêuticos portugueses têm algo que é único no mundo: têm o seu próprio museu de história universal, um meio exclusivo
para demonstrarem a identidade e a importância da sua profissão».
Entusiasmo contagiante A intervenção do Museu nestas celebrações, apelidada por João Neto como uma “joint venture” com a Reitoria da Universidade do Porto, a sua Faculdade de Farmácia e a Delegação Norte da ANF, irá traduzir-se numa série de eventos, enquadrados num programa mais vasto. «Seremos parceiros na realização da exposição “A Farmácia no tempo de Aníbal Cunha (1638-1931)”, comissariada pelo Prof. Carlos Afonso e pela Dra. Paula Basso; nas quatro
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MUSEU DA FARMÁCIA Aníbal Cunha
Traços de uma vida
conferências que se irão efetuar, sendo que uma delas, à nossa responsabilidade, irá abordar, precisamente, a importância do património para a identidade da profissão; na organização de um roteiro pedonal e na produção de um filme». Sobre a exposição, que vai estar patente no átrio de Química da Reitoria a partir de 28 de junho e até 13 de dezembro, e que, no fundo, serve como um catalisador para as restantes iniciativas mencionadas, Paula Basso, curadora do Museu, revela que o seu objetivo é retratar a história e os feitos de Aníbal Cunha, assim como a realidade do ensino e da própria Farmácia inseridas no seu tempo, ou seja, finais do século XIX, princípios do século XX. «Estamos a reunir algumas peças e fotografias para a mostra e vamos também criar um catálogo». Entretanto, diz, «a Delegação Norte pensou que fazia todo o sentido envolver nesta vertente cultural e do património as farmácias da cidade, designadamente aquelas mais históricas, de modo que se pudesse agregar a esta exposição uma outra dimensão e em cenário real». Daqui resultou a ideia de se organizar um roteiro pedonal, imediatamente acolhida pelas farmácias envolvidas: Vitália, Moreno, Lemos, Aliança, Antiga Porta do Olival e Campos. «A recetividade foi muito boa. Aliás, todo o universo farmacêutico portuense está a dar mostras de um grande envolvimento e entusiasmo». Para estas visitas, por exemplo, que serão feitas sempre de modo acompanhado por voluntários, «houve um
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número absolutamente gigantesco de estudantes inscritos, propondo-se como guias». João Neto corrobora esta ideia, observando que «há entre as faculdades uma espécie de competição pela qualidade, uma ambição nos organizadores destas evocações anuais da Universidade de fazer mais e melhor que os outros. É uma questão de brio, e o Museu, pela sua singularidade, representa uma boa munição para a Faculdade de Farmácia nesta espécie de guerra saudável».
E depois… um Museu A expectativa dos responsáveis do Museu é que, com estas iniciativas, se estreitem os elos de ligação com a academia. «Queremos que as pessoas sintam, para lá de 13 de dezembro, que têm no Porto um espaço que lhes é próximo e lhes pertence, que é uma referência das suas origens e do qual podem usufruir plenamente», revela Paula Basso. Até porque, conforme comenta João Neto, há no polo do Porto uma aura de retribuição. «Se havia e há em pessoas como o Salgueiro Basso, o João Cordeiro ou o Guerreiro Gomes uma consciência da profissão e da importância do património para a afirmação da sua memória, essa sensibilidade deve-se à Faculdade de Farmácia do Porto, onde se licenciaram, e aos seus professores, porque foram eles os seus transmissores e incentivadores».
Nascido no Porto em 1868, Aníbal Cunha foi, antes de farmacêutico, um militar. «Podemos encontrá-lo, por exemplo, como participante, enquanto sargento, na revolta liberal do Porto contra a monarquia a 31 de janeiro de 1891», conta Paula Basso, revelando que este mesmo episódio terá dado origem a um exílio de perto de quatro anos, partilhado entre Espanha e o Brasil, de onde regressou amnistiado. «Propôs-se então ao Curso Superior de Farmácia, e não mais abandonou a vida académica, onde fez carreira, investigando e lecionando, até chegar a professor catedrático, tendo sido vice-reitor da Universidade do Porto». «Foi, sem dúvida, uma figura determinante na área do Ensino de Farmácia. Até 1915 só existia a Escola de Farmácia, a qual esteve primeiro anexa à Escola MédicoCirúrgica e, depois, sob tutela da Faculdade de Medicina, e foi ele quem conseguiu, nesse ano, autonomizar o curso. A ele se deve também a subsequente elevação da Escola a Faculdade, seis anos mais tarde». É ainda de destacar o papel decisivo que desempenhou, enquanto diretor da FFUP e vice-reitor da Universidade, na construção do edifício que acolheu a Faculdade durante 94 anos (1918-2012), «inclusive através de investimentos próprios», bem como na manutenção do estatuto da Faculdade do Porto enquanto tal, numa altura em que tanto Coimbra (1928) como depois Lisboa (1932) se viram regressadas à qualidade de Escolas Superiores, situação que perdurou até 1968. Aníbal Cunha, entretanto elevado a tenente-coronel farmacêutico, morreu em São Mamede, em 1931.
Conversa com…
Adalberto Campos Fernandes
Futuro passa por novos papéis e nova remuneração Adalberto Campos Fernandes dispensa grandes apresentações, mas sempre avançamos, para os mais distraídos, que do seu currículo fazem parte cargos como o de presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte e, atualmente, da HPP Parcerias Saúde. No entanto, foi na sua condição de professor auxiliar da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) que acedeu a partilhar connosco a sua visão do setor das farmácias em Portugal. A conversa pauta-se, desde logo, por uma declaração inequívoca acerca da imagem que tem da Farmácia Comunitária: «é a melhor possível». E di-lo repetindo-o, conforme faz questão de sublinhar, pois que desde há muitos anos reconhece no setor, tal como julga acontecer com a generalidade das pessoas, «um dos pilares fundamentais do sistema de saúde» e, mais que isso, «um dos pilares da Saúde Pública em Portugal». As razões principais são duas: «primeiro por aquilo que tem a ver com a proximidade - o estar junto das pessoas, estar no bairro, na comunidade, conhecer os problemas até de natureza social, para além dos problemas
de saúde. Do ponto de vista da sua inserção no tecido social e no sistema de saúde, as farmácias têm sido prestadoras de cuidados, agentes na divulgação de informação e promotoras da saúde, mediadoras e muitas vezes reguladoras do acesso, dos cidadãos, ao sistema. Depois, pelo que chamaria de capilaridade, porque as farmácias foram, em certo sentido, precursoras na construção de uma verdadeira rede de cuidados de saúde no país. Independentemente das vicissitudes e de algumas polémicas a que assistimos, ninguém, na sua perfeita razão, poderá desvalorizar ou não reconhecer o relevante papel das farmácias comunitárias na
construção do sistema de saúde em Portugal».
Cooperativo vs competitivo Adalberto Campos Fernandes observa que as farmácias mudaram, de facto, muito nos últimos 30/40 anos. «Há poucos setores da Saúde em Portugal que tenham evoluído tanto e tão depressa no sentido de prestar um serviço que é, manifestamente, de qualidade, com segurança e amenidade. Há 30 anos, a farmácia, no essencial, vendia medicamentos; hoje, constitui uma zona
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Conversa com…
Adalberto Campos Fernandes observa que as farmácias mudaram, de facto, muito nos últimos 30/40 anos.
de prestação de serviços com impacto na melhoria do estado de saúde da população e cujo contributo poderia ser ampliado e desenvolvido». De que modo? «Vejo como muito positiva uma evolução que vá no sentido de incrementar a literacia dos cidadãos, através da informação em saúde. Por exemplo, uma área crítica é a da revisão terapêutica, onde os farmacêuticos estão particularmente habilitados para agir, promovendo uma maior compliance na utilização dos medicamentos prescritos». Mas só? Não. Não só. Numa perspetiva mais ampla, haverá espaço para muito mais, com ganhos do país e da população, defende o professor da ENSP. Porém, é preciso primeiro que se encare o sistema de saúde, ao nível das profissões, «como um sistema cooperativo e não competitivo». Trocando por miúdos: «a evolução dos sistemas de saúde em todo o mundo faz-se no sentido de uma progressiva recomposição dos perfis e das competências profissionais, tendo em vista a melhoria da resposta às necessidades das populações nos seus diferentes níveis». «Felizmente, o conhecimento progride, o que significa que o papel, os atributos e as responsabilidades também vão mudando. Hoje é possível que determinados profissionais façam coisas para as quais não estariam capacitados há 20 anos, porque não tinham habilitações nem treino suficientes. Mas tal só se traduzirá em ganho efetivo se as profissões cooperarem. Tem sido, aliás, nesse sentido que tenho vindo a defender que Portugal beneficiaria da existência de um Conselho Nacional das Profissões de Saúde, unicamente composto por técnicos, para que estes, em conjunto, num clima de grande abertura, debatessem este tipo de i
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“Se trabalha, não o consertes”.
questões e fossem capazes de fazer propostas aos poderes públicos para análise e eventuais tomadas de decisão».
A independência do preço Este redesenhar de perfil e de novas responsabilidades é ainda mais crítico no setor das farmácias, no momento atual, argumenta. «Ao que julgo saber, estão a passar por um momento particularmente difícil da sua existência, pelo que precisam de encontrar novos papéis no serviço aos cidadãos e às comunidades, prestando novos serviços e reduzindo a excessiva dependência tradicional do valor do medicamento». O interlocutor não esconde que vê «com grande preocupação a evolução de um setor que era bastante dinâmico, e mesmo poderoso do ponto de vista económico, para uma situação oposta, em que parecem emergir grandes dificuldades. Isto não é positivo para o país, uma vez que o setor das farmácias, para além da sua relevância económica e fiscal, representa uma importante área na geração de emprego qualificado. Por outro lado, o agravamento da situação compromete, sobretudo, o serviço prestado às populações mais desfavorecidas, que vivem no Interior ou em zonas onde muitas vezes não têm outro recurso de saúde». Por outras palavras, Adalberto Campos Fernandes concorda com uma remuneração feita com base no ato farmacêutico. Aliás, «parece-me que é uma evolução natural. Não digo que o seja totalmente, pode haver uma combinação de efeitos entre a componente margem variável e a componente fixa,
mas uma das formas de estabilizar o setor e de evitar que os seus níveis de rentabilidade crítica e a sua sobrevivência sejam atingidos é encontrar um ponto de equilíbrio. Creio que é algo inevitável, face à tendência que se avizinha, em que o preço médio dos medicamentos virá a ser cada vez mais reduzido».
«If it works, don’t fix it» Em suma, diria que o modelo de dispensa nacional é um modelo adequado às necessidades do país? «Embora não tenha um conhecimento tão aprofundado do setor que me permita um juízo técnico indiscutível, diria que, apesar da severidade da crise que vivemos, existem oportunidades de ajustamento e de recomposição do setor. Devemos ter esse espírito de abertura, porque ele é indispensável à criação de condições de estabilidade e de desenvolvimento do próprio sistema de saúde no seu conjunto. Agora, se me perguntar, em termos muito simples, se eu acho que em Portugal o problema fundamental do sistema de saúde é o funcionamento das farmácias, naquilo que é o seu desempenho na relação com o utente, acho que é provavelmente o último dos problemas». «A este propósito permitir-me-ia citar uma expressão que muito se ajustaria a esta situação: “If it works, don’t fix it”i. Ou seja, é essencial que se salvaguardem os aspetos muito positivos de uma construção de muitos anos, traduzida na realização de um serviço de grande qualidade, evitando que, a propósito do momento difícil que o país vive, sejamos confrontados com um retrocesso de muitas décadas».
internacional Secretário-geral do PGEU defende
Farmácia tem que se divorciar do preço do medicamento O secretário-geral do Grupo Farmacêutico da União Europeia esteve recentemente em Lisboa para participar na 53.ª Reunião Anual do GIRP Groupement International de la Répartition Pharmaceutique. À margem do evento, John Chave falou com a FARMÁCIA PORTUGUESA sobre a preocupante situação de crise que o setor atravessa na Europa. A tónica da conversa foi colocada nas estratégias a adotar para fazer frente aos desafios mais próximos e, em particular, na premência da implementação de um novo modelo de remuneração com base num fee profissional.
FARMÁCIA PORTUGUESA - Que leitura faz o PGEU do momento atual do setor da farmácia na Europa? John Chave - Durante muitos anos o setor viveu bem, remunerado por margens afetas a um largo espetro de medicamentos relativamente caros. Mas essa Era terminou e não vai haver um regresso ao passado. O futuro previsível, excetuando no caso das especialidades, será feito de uma maioria de medicamentos
baratos, cujos efeitos já se fazem sentir num grande número de países europeus, onde vimos assistindo ao declínio dos níveis de remuneração das farmácias. Paralelamente, na maior parte dos países a prescrição não está a diminuir, pelo contrário, vem dando mostras de um crescimento substancial ao longo dos últimos anos. Ou seja, estamos já hoje numa situação em que os farmacêuticos euro-
peus enfrentam mais trabalho, dispensam mais medicamentos, mas por menos dinheiro, e a tendência é para que isto se agrave, o que é perfeitamente insustentável. Muitos dos aspetos tradicionais da farmácia desapareceram, e é absolutamente crítico que o setor se adapte aos novos tempos. Para muitos de nós isto significa que precisamos mudar a forma como pensamos a remuneração da farmácia, porque
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internacional
a distribuição e tomar decisões para torná-la tão eficiente como poderia ser, adotaram-se medidas potencialmente destruidoras da rede de farmácias. Ninguém no mundo farmacêutico, não apenas em Portugal mas em qualquer outro país, pode dizer que a vida continua como há cinco ou dez anos. Ninguém discute a legitimidade de se querer colocar mais eficiência no sistema, mas não se pode deixar secar a rede de farmácias, como uma planta moribunda, permitindo que a sua remuneração se desvaneça devido às mudanças que se estão a operar no mercado, porque nos parece igualmente indiscutível que ter uma rede de farmácias sustentável, tanto no curto como no longo prazo, é um ganho para os sistemas de saúde.
se continuarmos ligados aos preços dos medicamentos, acompanharemos a sua queda vertiginosa. FP - Que diferentes realidades existem neste âmbito a nível europeu? JC - Há diversos sistemas. A maioria dos países ainda paga às farmácias num modelo puro de margem; noutros o pagamento é feito predominantemente à base de margem, com uma componente menor de fee; há dois anos, a Bélgica passou de apenas margem para uma predominância de fee com uma menor participação de margem; a França avançou para um sistema similar, mas mais equilibrado entre as duas componentes… Há discussões noutros países… Avançar para um sistema baseado em fees parece-nos a opção mais racional, porque a remuneração das farmácias deixa de estar sujeita às incertezas do preço do medicamento. Mas o debate sobre esta que, quanto a mim, é uma mudança necessária, não deverá circunscrever-se à questão da remuneração, e sim ser alargada ao nosso status profissional. Dizemos repetidamente que não somos lojistas, não somos comerciantes, somos profissionais de saúde. Então, por que não sermos pagos pelos serviços que prestamos ao invés de pelos produtos que dispensamos? É quase uma mudança filosófica! Podemos argumentar, de muitas maneiras, que estarmos presos ao produto não ajudou a profissão a evoluir aos níveis que poderia ter evoluído. FP - Como tem o poder político encarado estas alterações? JC - Havia a perceção em muitos países que os custos de distribuição poderiam ser diminuídos e, em particular, os farmacêuticos poderiam reduzir os seus rendimentos que mesmo assim continuariam a ter uma vida muito boa. Agora, na Europa, foi-se de um extremo ao outro, porque ao invés de olhar para
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Temos que aceitar que o mundo mudou e que há que pensar em novas estratégias, não só para proteger, mas aumentar a nossa posição e contributo no sistema de saúde, mostrando o nosso valor acrescentado. Ou seja, não podemos aceitar, honestamente, que seja suficiente enviar alertas ao poder político; temos de agir.
FP - Até há relativamente pouco tempo, o poder político em Portugal, possuído por uma fúria liberal, não partilhava dessa visão? JC - O que digo às autoridades, aos políticos e a todos os que começam por julgar que as farmácias são um custo desnecessário na cadeia de fornecimento de medicamentos é: tenham muito cuidado com o que desejam! No fim das contas, estamos a falar da disponibilidade daquela que é, sem dúvida alguma, a mais vasta e espalhada rede de infraestruturas sanitárias disponível na Europa, e que é usada a um nível que os políticos simplesmente não avaliam, particularmente nas comunidades locais. Se isto se perdesse, era todo o sistema que sairia prejudicado. Mas há uma lição que nós, farmacêuticos, temos a retirar daqui: temos de ser proativos na busca de soluções que defendam os nossos interesses dentro do contexto atual. Temos que aceitar que o mundo mudou e que há que pensar em novas estratégias, não só para proteger, mas aumentar a nossa posição e contributo no sistema de saúde, mostrando o nosso valor acrescen-
tado. Ou seja, não podemos aceitar, honestamente, que seja suficiente enviar alertas ao poder político; temos de agir. FP - Portugal, a par de outros países, está sob intervenção externa. Sendo a Grécia o caso mais extremado, que lições se podem dali retirar? JC - A Grécia é uma situação complicada, muito singular, e não apenas no setor da farmácia, pelo que é preciso algum cuidado quando pretendemos retirar do seu caso conclusões gerais. Mas há aspetos que, não obstante, devem ser tomados em consideração. Um deles dita que os governos não mais voltarão a autorizar um crescimento desenfreado do consumo farmacêutico. O consumo grego de medicamentos per capita de tão enorme, tornou-se insustentável, e cada vez mais será sublinhada a importância de uma prescrição racional. Para além de isto enfatizar ainda mais a necessidade de um novo modelo remuneratório, pode também significar uma oportunidade para os farmacêuticos, pois para racionalizar o uso de medicamentos, são precisos técnicos especialistas. O segundo aspeto tem a ver com um interesse cada vez maior dos governos no uso de tecnologias que permitam exercer um maior controlo sobre a prescrição: prescrição eletrónica, sistemas de verificação… A lição para nós é que precisamos de nos fazer ouvir, para defendermos os nossos interesses. Se nos deixarmos ficar para trás e permitirmos que os políticos tomem todas as decisões, iremos acabar, muito provavelmente, com algo que não seja consistente com os nossos interesses. O que a ANF tem vindo a fazer em Portugal está correto: não fica à espera, é proativa nos debates, nos serviços... Outra observação que pode ser feita relativamente ao caso grego é a seguinte: quando a Economia está
bem e a farmácia está bem, ninguém vê necessidade de mudar; mas depois, quando tudo se altera, estamos sempre a correr para acompanhar a mudança. A moral que daqui se retira é a que precisamos estar à frente do tempo, para nos podermos posicionar melhor. FP - Que opinião tem do setor das farmácias em Portugal? JC - As farmácias portuguesas são únicas na Europa e em vários sentidos. Primeiro, porque conseguiram avançar, elas próprias, para um leque mais vasto de serviços, só comparável ao que se verifica na Holanda e no Reino Unido. Portugal, aliás, é um exemplo de fornecimento de alguns serviços adicionais e alguns deles remunerados, como o da vacinação, e este é um dos caminhos adicionais a seguir pela farmácia no futuro. Depois, estão muito à frente do resto em termos de inovação e, o que é mais interessante, são elas próprias quem está a gerar essa inovação, não é o SNS ou outras entidades quem a está incentivar ou a fornecer - isso é realmente único e devem orgulhar-se disso. Por outro lado, o setor português é um exemplo de como o modelo mais tradicional de farmácia, em oposição às grandes cadeias, não está, de modo algum, ultrapassado. O fator crucial disto, quanto a mim, está numa liderança forte. Gostaria de focar, neste ponto, que nós, no PGEU, estamos conscientes da situação que Portugal atravessa e dos problemas que isso representa para as farmácias; problemas que, diga-se, têm uma dimensão europeia. A nossa mensagem é que estamos empenhados em trabalhar com os portugueses para procurar assegurar que esta crise não resulta tão desastrosa. Significa que temos de mudar um pedacinho, mas o PGEU está apostado em trabalhar no sentido do alcance das nossas expectativas.
A nossa mensagem é que estamos empenhados em trabalhar com os portugueses para procurar assegurar que esta crise não resulta tão desastrosa. Significa que temos de mudar um pedacinho, mas o PGEU está apostado em trabalhar no sentido do alcance das nossas expectativas Farmácia portuguesa
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informação veterinária
Pulgas e carraças dos animais
Um combate que não acaba Quem nunca ouviu dizer que “Um cão sem pulgas não é um cão”? A verdade é que os cães e os gatos são, com frequência, portadores destes parasitas externos, assim como de outros tais como as carraças. No entanto, valerá a pena entender um pouco melhor os danos que estes parasitas podem causar, como se desenvolvem e como se combatem. A maioria das pessoas que possuem animais de estimação não têm a noção exacta da forma como devem proceder para exterminar as pulgas. Muitas vezes aplicam nos cães e nos gatos produtos antiparasitários e não conseguem resolver o problema. Encaram essa batalha como perdida e partem do princípio de que o facto de os animais continuarem com pulgas se trata de uma fatalidade sem solução. Mas de facto não é assim. O que se passa é que se os animais aparecem com pulgas, isso é um sinal evidente de que o local que costumam habitar está infestado. O número de pulgas de um cão pode corresponder a cerca de 10% da população de pulgas existente no ambiente familiar nas suas diversas formas evolutivas, sem que se dê conta disso. As pulgas produzem mais de 100 ovos diários dos quais nascem
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larvas que em poucas semanas se convertem em pulgas adultas. Um dos motivos pelo qual as pessoas não sentem em si próprias essa infestação, deve-se à circunstância da pulga que parasita o cão e o gato ser de uma espécie diferente da que prefere o humano como hospedeiro. A pulga do cão ou do gato normalmente só se alimenta do sangue das pessoas na ausência prolongada daqueles animais. Nos animais as pulgas podem causar vários problemas, nomeadamente a dermatite alérgica por picada da pulga (DAPP), mas a preocupação também se deve ao facto da pulga ser o vetor de transmissão de uma parasitose humana causada por uma ténia, o Dipylidium caninum. Este parasita é ingerido pelas pulgas quando estão na forma larvar e posteriormente pelos cães infestados por pulgas, que quando se coçam com a boca, acabam por ingerir as pulgas inteiras e, dentro delas, o Dipylidium caninum. As crianças podem infetar-se ao entrar em contato com pelos e fezes de cães infetados. Os parasitas dos animais existem todo o ano mas com o aumento da temperatura ambiente na primavera e início do verão, criam-se as condições para a sua rápida multiplicação. Com o aumento destas pragas, os proprie-
tários dos animais tentam adquirir os antiparasitários mais adequados para cada situação e as farmácias são cada vez mais o local para a sua aquisição. As opções disponíveis no mercado são várias e algumas associam o combate das pulgas e carraças a outros parasitas, nomeadamente internos ou mosquitos (vetores de outras doenças), através de efeito repelente. Existe, por vezes, dificuldade em selecionar a opção mais conveniente para cada caso, tendo em conta o objetivo pretendido, a facilidade de aplicação e, cada vez mais importante, o preço do tratamento. Os medicamentos mais utilizados são compostos pela substância ativa fipronil e estão indicados para o tratamento de infestações por pulgas e piolhos mordedores/sugadores, assim como para o controlo da dermatite alérgica por picada de pulga. Para apoiar as farmácias na aquisição deste medicamento, a Globalvet comercializa o Flevox, em várias opções, em solução para unção puntiforme, com apresentações para cães de vários pesos e para gatos. Este medicamento é uma excelente opção que permite fazer o controlo das pulgas e carraças em dose individual e de preço mais baixo do que outros igualmente disponíveis no mercado.
outros O texto abaixo publicado foi elaborado pelo colega Nuno Barros, a pedido do Diretor da Revista Farmácia Portuguesa, recentemente falecido, Francisco Guerreiro Gomes.
Um dia de farmácia
Segunda-feira de um dia de Abril, algures em Portugal. A chuva que caíra durante o domingo de Páscoa tinha parado e o Sol começava a impor a sua presença, ainda discreto, como que envergonhado, por entre algumas nuvens que faziam questão de se moverem muito lentamente. Os computadores estavam ligados; os écrans em modo de repouso. No dia anterior, domingo de Páscoa, a Farmácia estivera de serviço permanente. B. foi o primeiro a chegar. Introduziu o nome no teclado e depois a palavra-chave. O cinzento passou a azul. Um novo dia começava; vendas, encomendas, ATC, ... mudança de utilizador, fim de trabalho. - Bom dia.... Bom dia... Bom dia... Bom dia... Bom dia
A equipa estava completa para mais um dia; “Sempre disponível, perto de si”. Mais um bom dia ecoou, desta vez pesado, sonolento, estremunhado, vindo do interior da farmácia. - Então, que tal a noite de Páscoa? Tinha sido calma. Três chamadas com receita médica, mais uma, às oito e trinta. - Às oito e meia foi o senhor José.; Creme de barbear, pediu desculpa, ia ter com a família da mulher, queria ir apresentável. No balcão central, F. cumprimentava a D. Felícia que pedia um medicamento para a tensão, aquele que costumava levar, o cor de rosa, não o redondo, o outro que parecia uma estrela. Ainda não o tomara nessa manhã e tinha de o tomar em jejum.
Se soubesse que a Farmácia estivera de serviço até tinha vindo mais cedo. E já agora aproveitava para medir a tensão e o açúcar, se fosse possível. Claro que era, então não havia de ser, a Dona Felícia queria descansar um bocado ou medir já? Era para medir já, se fizessem favor, disse. O favor, que o não era, foi feito e a pressão arterial medida, a glucose verificada: valores normais. Era bom tomar os medicamentos direitinhos. Graças aos amigos da farmácia que lhe tinha dado aquela caixinha e colocado lá os medicamentos para a semana toda. Agradecida. Dona Maria, escutava do outro balcão e perguntava porque é que não lhe faziam o mesmo. - Mas a senhora só toma um de manhã e um à noite. Ainda por cima é o
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outros
mesmo medicamento. Não se pode enganar. Bem, lá isso era verdade. Mas se viesse a precisar? Não haveria problemas. Teria o mesmo tratamento, porque era para isso que lá estavam. À saída cruzaram-se com Dona Ermelinda. Ia ser avó. Já sabiam? Sim, todos sabiam. Na farmácia sabia-se porque o genro viera no dia anterior comprar umas coisas que faltavam para levar para a clínica. A futura mamã já tinha vindo comprar biberões, chupetas e claro, gotinhas cor de rosa. Os parabéns à avó, que agradeceu comovida. Mas porque é que não lhe vendiam aquele medicamento que tão bem lhe fizera da última vez que estivera constipado. O senhor do balcão da esquerda devia estar enganado, porque aquele medicamento não era para a constipação, mas era difícil de convencer, não era cliente habitual e esses são sempre mais complicados. Quais eram os sintomas que tinha? Eram os de uma constipação, que lhe dessem qualquer coisa para isso. Espirros, dores musculares e de cabeça (então não sabiam?), sabiam sim senhor mas era conveniente confirmar, e que medicamentos tomava ( “porra, vocês são uns chatos!”) e outras coisas mais que aqui não interessam explorar. O senhor foi convencido, com dificuldade, e haveria de voltar uns dias depois a dizer que sim senhor, que estava contente porque lhe tinha passado tudo logo à segunda pastilha e que agora passaria a ser cliente daquela farmácia, que afinal até eram simpáticos. Complicados, sim, mas simpáticos. Eram sim senhor, quem o reforçava era o André, de vinte anos, cliente da farmácia desde o seu primeiro dia de
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vida, que ainda me lembro do pai entrar preocupado no fim da tarde do dia do seu nascimento, seu, André, que a mãe estava aflita que o moço ainda não fizera nada, se não havia qualquer coisa para ele fazer. Agora adulto, André já não vinha com tanta frequência à farmácia como em pequeno, quando passava horas a ver panfletos e a perguntar coisas sobre doenças, - sabe, é que eu gosto muito, - dizia ele. E disse a seguir: - Ó Zé e o nosso Benfica...lá voltou a empatar. E o Porto a rir-se, não é. Fiquei com tanta azia que até tive que tomar uma Rennie. Quem continuou a conversa foi o senhor Gomes, olhos papudos, faces rosadas, benfiquista ferrenho. - E eu com tanto stress que até me subiu a tensão. Por falar nisso, vinha medir o Colesterol e os Triglicerídeos mas já agora até media a tensão. Vai estar alta, claro. E não é só por causa do Benfica. O médico tinha-lhe receitado uns medicamentos mas ainda não os comprara; e já lá ia para aí um mês. Que tinha de os comprar, “carago”, concluiu o André, amigo do filho do dito senhor Gomes. - Hei, hei, ó menino, tento na língua, tá bem. Era a Tia Zinha. Tia do André, irmã da mãe. Que o desculpasse e já agora se estava boa? perguntou. E o tio António ? Já não estava com ele havia muito tempo e a última vez que o vira fora na farmácia. Na altura, estava a ver se tinha ácido úrico, por causa da carne de porco que a tia lhe dava e do vinho verde da tasco do Ferreira. E aquela coisa da próstata? - Olha, e ainda bem que ele cá veio. Sabes que acusou qualquer coisa, aqui o Doutor disse-lhe para ir ao médico, e se não ia parece que podia
ser um problema, pelo que o médico lhe disse. O pai dele morreu disso, da “posta”, ou lá o que é. Onze horas. Recebida, confirmada e arrumada a primeira encomenda do dia, resultante das vendas do dia anterior, eram horas de fazer outra. Verificase, confirma-se e envia-se. Já foi recebida do outro lado. Já mandaram por correio eletrónico as faltas. Vinte e três segundos. Incrível. Há quem ainda se lembre do velho bloco de pedidos, - “Ó Manel junte-me aí seis de Benu-ron supositórios” -”Sim.”.. - “dois de Brufen”. - ”tá?”...” - Tá, até logo”. - “Até logo, obrigado”. - “Mande-me isso depressa que estou a precisar”. - “Vai já, esteja descansado, Senhor Doutor”. - Senhor Doutor, SENHOR DOUTOR, não me houve? - Eh pá, desculpa lá, estava completamente fora daqui. Estava a sonhar. - Está lá fora a delegada do laboratório Z, que disse que queria falar consigo. Pede desculpa por não ter marcado, mas diz que é muito rápido. - Diz-lhe que já lá vou, para esperar só um bocadinho. O telefone tocou e anunciou-se o Doutor Y. Queria tirar uma dúvida sobre um medicamento; foi tirada. O fax debitou uma informação importante do INFARMED. Recebido, verificado, distribuído por todos para conhecimento. Rubricado. Arrumado. A Delegada só esperou um pouco mais. Informou sobre um novo medicamento. Deixou literatura. Foi lida, rubricada, datada, passada para a caixa da correspondência do dia para todos terem acesso e depois ser arquivada. Como toda a corres-
pondência de importância. Hora de almoço, normalmente mais calma. Verifica-se e organiza-se o receituário. Dá para relaxar, ouvir um pouco da musica que toca serena, o som saindo de duas colunas pequenas, colocadas perto do teto. A temperatura está agradável, nem é preciso ligar o ar condicionado. Chega o senhor Val de Escadas. Muito educado, como habitual. Gosta de vir à hora do almoço por ter menos gente. Sofre de Parkinson, mas está no início da doença e tem sido bem controlado. Disse que hoje não queria nada, só dois dedos de conversa. - Então ouvi na televisão que vocês agora também vendem cartões!? - Não, não é isso, senhor Escadas. Explicou-se-lhe. Compreendeu. Também queria um. Claro. Preencheu-se. Agradeceu. Despediu-se. Cruzou com o padre da freguesia. O senhor padre como estava, estava muito bem, muito obrigado, então que desejava, queira só pôr um anúncio na porta sobre uma viagem que iam fazer a Fátima, se podia, então era pergunta que se fizesse, claro que podia. Pôs, agradeceu, despediu-se, não sem
deixar de mandar uma boca sobre o Benfica. Sorridente, o clérigo, adepto ferrenho do Porto, disse: - Ó Zé, então e o teu Benfica? Lá se foram mais dois pontitos. E logo com o último. O Zé aguentou mais uma boca. Dezasseis horas. Um iogurte, uma peça de fruta ou um pão com qualquer coisa. Antes do início da tarde, normalmente com mais movimento, há-que repor calorias. As pessoas vão chegando. Pedindo. Conversando. Umas sorridentes outras nem por isso. Cansadas, se calhar. Nós, sempre disponíveis. Obrigatoriamente sorridentes, apesar de cansados. - Um champô para cabelos secos e espigados e outro para a caspa, se faz favor - Dê-me o genérico se faz favor – Não se importa de escrever na caixinha – Acha que posso tomar este medicamento com aquele que estou a tomar – Estou rouco - Aquela caixa azul que está ali se faz favor – Queira aquela pomada que me deu da outra vez que resultou muito bem – Chega na encomenda das cinco? – É para os ouvidos – Caí e arranhei-me todo. Pode-me fazer o curativo?
- Tem tido febre, mas baixinha. Que acha? Será preciso ir ao médico? – Eram dois Kits se faz favor – A minha Maria já me tinha dito para vir cá que os senhores faziam esse teste – Boa semana - Gosto muito do seu museu, vou ver se arranjo umas caixas antigas (e arranjou). No balcão da direita, mais personalizado, com um sofá para os clientes, Dona Adozinda acaba de contar a história da sua vida pela quinquagésima vez. Os pormenores vão aumentando de versão para versão. Dava para escrever um livro; Angola, Moçambique, França, Braga. Oitenta anos de vida a sério. - O Senhor Doutor desculpe, mas vocês aqui têm mais paciência que o Padre Lima e eu gosto muito de falar convosco. O falecido dizia que aqui só havia boa gente. - Ó Dona Adozinda, é sempre um gosto. Já sabe que além de estarmos perto, estamos sempre disponíveis. Dezanove horas e trinta; Um dia, três folhas A4 no livro da nossa vida. Amanhã é outro dia. Sempre igual, mas sempre diferente. Nós, sempre disponíveis.
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NOTICIÁRIO
Consulta é essencial no dia-a-dia da farmácia
O ANFOnline é hoje uma ferramenta de consulta fundamental na atividade e na gestão diárias da farmácia, com uma utilização crescente, ainda mais vincada nos últimos 12 meses. O número de acessos (login) pelas farmácias cresceu 92%, de 36.950 acessos no acumulado de janeiro a maio de 2011, para 71.002 no acumulado de janeiro a maio de 2012. Paralelamente, o número de páginas consultadas registou um aumento considerável (111%), passando para 169.323, o que demonstra que as farmácias estão conscientes da importância de utilizar o ANFOnline no quotidiano. Atualmente, em média, as farmácias visitam 2,4 serviços por acesso, sendo as Circulares, com a média mensal de 5.209 visitas, e os Destaques, com 4.694, os serviços do portal com maior tráfego. Realce especial merece a Newsletter, cuja leitura se tornou um hábito para as farmácias. A edição periódica, enviada por e-mail e disponibilizada no ANFOnline, reúne a principal informação da atualidade de que as farmácias necessitam, incluindo as circulares publicadas desde a última edição. É de salientar alguns serviços cuja utilização cresceu de forma muito significativa, como os Destaques (+285%), as Circulares (+138%), os Certificados (+122%), a Newsletter (+120%), a Informação Nacional (+103%), as Questões aos Serviços (+84%) e as Perguntas Mais Frequentes (+67%), entre vários outros. Para o crescimento das visitas à área
A utilização crescente confirma o ANFOnline como o meio de informação e comunicação privilegiado entre as farmácias e a ANF. de Destaques, muito contribuiu a disponibilização do ficheiro com os preços atualizados dos medicamentos, para apoio à gestão da farmácia, e também da listagem comparativa de PVPs e preços de referência, para apoiar a análise e o tratamento das retificações de receituário. Igualmente importante é a disponibilização da listagem de histórico de PVPs e preços de referência, para apoiar as farmácias na análise e no tratamento das reconferências. Outro indicador da evolução muito positiva que a utilização do ANFOnline tem vindo a registar é o número de farmácias que acedem. Atualmente, são já 2.590 as farmácias que estão a aceder às funcionalidades do portal, sendo o objetivo que a totalidade das farmácias esteja online com a informação disponibilizada tão rapidamente quanto possível. Conforme ficou demonstrado pela análise da utilização do portal, as farmácias já não dispensam esta ferramenta online, que se assume como um projeto válido e com valor, capaz de
Número médio mensal de Acessos
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potenciar uma relação de proximidade e confiança entre as farmácias e a ANF. Criado há quase oito anos, o ANFOnline disponibiliza às farmácias filiadas um conjunto alargado de funcionalidades de acesso fácil e utilidade crescente, em que a atualização e a inovação são preocupações constantes, com vista a ir ao encontro das necessidades das farmácias. Evidência deste dinamismo é o fato de, nos primeiros meses de 2012, terem sido disponibilizados novos e importantes serviços, como o carregamento mensal do ficheiro de faturação detalhada da ADSE (menu Aplicações), a adesão e encomenda à Ticket Restaurant (área reservada), e ainda a possibilidade de consultar e adicionar a intenção de compra ou venda de ações da Farminveste (menu Farminveste SGPS, SA).
Lembre-se • Se não está a receber a Newsletter, pode ter a caixa de e-mail cheia, ou não ter fornecido ainda à ANF o endereço de e-mail que consulta habitualmente. • Se ainda não tem os seus códigos de acesso ao ANFOnline (username e password), solicite-os aos serviços da ANF e comece imediatamente a utilizar o portal das farmácias! Visite-nos com frequência, em www.anfonline.pt.
Número de Farmácias com Acessos
TechnoPhage e SIMM assinam Protocolo de Colaboração tóide e outras doenças auto-imunes e inflamatórias na R.P. China. Este acordo irá permitir a entrada de uma empresa portuguesa que opera num setor altamente inovador no vasto mercado chinês, constituindo-se como um exemplo da afirmação das capacidades e competências das empresas nacionais na conquista de novos e exigentes mercados.
Foi assinado no passado dia 11 de Junho, um protocolo de colaboração entre o Shangai Institute of Materia Medica (SIMM), um Instituto de Investigação de referência na República Popular da China, e a TECHNOPHAGE, empresa de biotecnologia Portuguesa. Este protocolo prevê a realização de estudos pré-clínicos e clínicos na utilização do primeiro medicamento biológico desenvolvido em portugal, pela TechnoPhage, o anticorpo TA_101, e que se encontra em desenvolvimento para doenças inflamatórias e auto-imunes tais como a artrite reuma-
tóide. Os estudos de eficácia, desenvolvimento de processo e segurança / toxicologia estão actualmente em curso e a TechnoPhage tenciona apresentar um pedido de Clinical Trial Application para o TA_101 na Agência Europeia de Medicamentos (EMA) em 2012 para o tratamento da artrite reumatoide. A inédita parceria, que foi anunciada na aicep Portugal Global - Agência para o Investimento e Comércio, prevê gerar dados para apoio ao registo regulamentar de aprovação da comercialização do TA_101 para o futuro tratamento da artrite reuma-
A TechnoPhage é uma empresa de biotecnologia centrada na I&D de novas moléculas em diversas áreas terapêuticas, na qual a ANF tem participação. A estratégia da empresa assenta na utilização das suas várias plataformas tecnológicas, de forma a identificar novas moléculas com potencial em diferentes áreas terapêuticas. As moléculas identificadas prosseguem para a fase de desenvolvimento. Neste momento a empresa tem em curso 12 programas no seu pipeline de novas moléculas terapêuticas, estando um desses programas já em fase final dos ensaios pré-clinicos, para a indicação artrite reumatóide.
Assembleia-geral de delegados Reunião a 19 de maio Os delegados da ANF, no decorrer da última assembleia-geral, a 19 de maio, prestaram uma derradeira homenagem à memória do colega Francisco Guerreiro Gomes. À evocação dos seus valores pessoais e profissionais, partilhada pelo presidente da Direção, João Cordeiro, o presidente da Mesa da Assembleia, João Silveira, e Maria da Luz Sequeira, seguiu-se um minuto de silêncio, ficando assim referenciado formalmente o pesar de toda a estrutura associativa. Nesta que foi a primeira assembleia-geral realiza-
da com os novos órgãos sociais, foi ainda anunciada por João Silveira a decisão - tomada por deliberação unânime em reunião conjunta da Mesa da Assembleia e da Direção -, de condecorar Maria da Luz Sequeira com as Insígnias da ANF. A aposição das insígnias, que se fica a dever não apenas aos cargos exercidos no setor, mas sobretudo à relevância do desempenho e contributo de Maria da Luz Sequeira para o progresso da Farmácia, terá lugar no próximo Congresso Nacional das Farmácias.
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NOTICIÁRIO
Mário Beja Santos apresenta o seu mais recente livro na ANF “A viagem do Tangomau - Memórias da guerra colonial que não se apagam” é o título da mais recente obra ficcional de Mário Beja Santos. O autor escolheu o auditório da ANF como palco para a apresentação de mais este livro no dia 19 de junho, feito partilhado por Carlos Matos Gomes, militar de carreira, escritor e argumentista de cinema e televisão, e Leopoldo Amado, professor universitário e também ele escritor e investigador da história contemporânea africana. Neste romance, Mário Beja Santos continua o seu ciclo de publicações sobre a Guiné, relatando a história, em todas as suas dimensões, de um jovem português que nos anos de 1960 se vê envolvido nas lides da guerra colonial num país distante. “A viagem do Tangomau” é editada pela Temas & Debates do Grupo Bertrand/Círculo de Leitores.
Comissão de Saúde recomenda ao Governo que tome medidas para assegurar a atividade das farmácias A comissão parlamentar de Saúde aprovou o relatório sobre a petição “Impacto da legislação aprovada na sustentabilidade financeira das farmácias e nos serviços prestados”, da iniciativa da farmacêutica Carolina Mosca. A petição pretendeu alertar para os fatores que contribuíram para as crescentes dificuldades sentidas pelas farmácias, aos níveis económico e financeiro, e propõe a adoção de medidas que permitam inverter a evolução da situação possibilitando assim, manter a excelência no serviço prestado pelas farmácias portuguesas aos seus utentes . No supracitado relatório, a Comissão de Saúde reconhece que as sucessivas alterações ao quadro legislativo, contribuíram em grande parte para as crescentes dificuldades nas condições económicas e financeiras que as farmácias comunitárias tem vindo a sentir nos últimos anos. Tratando-se de uma petição individual, esta não será apreciada em plenário, embora as farmácias vejam reconhecidas as preocupações do setor, dada a votação da comissão de Saúde. Assim, a referida Comissão ao considerar a importância das farmácias enquanto estruturas de proximidade à população que desenvolvem uma função social relevante e que garantem a acessibilidade aos medicamentos recomenda ao Governo que tome medidas que assegure a actividade das farmácias.
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Delegação Norte da ANF Debate Medicamentos Genéricos vs Medicamentos de Marca
No passado dia 18 de abril o Auditório do Edificio ANF do Porto foi palco de uma Conferência/ Debate, subordinada ao tema :” Medicamentos Genéricos vs Medicamentos de Marca”. Promovida pela Delegação Norte da ANF, esta conferência em que participaram 243 pessoas, teve como orador o Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Carlos Maurício Barbosa. Após esta intervenção foi altura de debater o tema entre um painel de convidados que contou com a presença do Presidente da Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos, Paulo Lilaia, o Diretor do
Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, António Vaz Carneiro, e a Presidente da Associação Portuguesa de Asmáticos, Ana Maria Quintas. Numa altura particularmente conturbada para o setor do medicamento no ambulatório, e consequentemente para as farmácias, foi pertinente e salutar colmatar algumas lacunas, quer do ponto de vista técnico-científico, quer económico-financeiro deste segmento vital e estratégico para a sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde.
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa Formação Pós-Gradaduada: Abertas as candidaturas Estão a decorrer até 24 de agosto as candidaturas online para os mestrados, doutoramentos e cursos pós-graduados organizados pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa para o ano letivo de 2012-2013. Análises Clinicas, Medicamentos à Base de Plantas e Quimica Farmacêutica e Terapêutica são algumas das áreas de especialização disponíveis. Para mias informações visite a página da faculdade de farmácia na internet, em www.ff.ul.pt.
Farmacêutica distinguida com o “Portuguese Young Chemists Award 2012” A farmacêutica e investigadora da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), Marta Correia da Silva, foi distinguida, no dia 10 de maio, com o galardão “Portuguese Young Chemists Award 2012 (PYCA)”, pelo trabalho desenvolvido no decurso do seu doutoramento em Química Farmacêutica e Medicinal, intitulado “Pequenas moléculas sulfatadas: ao serviço do coração”. O PYCA é uma iniciativa do Grupo de Químicos Jovens da Sociedade Portuguesa de Química (GQJ), e visa distinguir a excelência da Química desenvolvida por jovens investigadores, com especial enfoque no impacto daquela ciência na sociedade. Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela FFUP em 2003, Marta Correia da Silva é mestre em Controlo de Qualidade (ramo Medicamentos e Plantas Medicinais) e obteve o grau de doutora em Ciências Farmacêuticas, ramo Química Farmacêutica e Medicinal, em 2011, pela mesma faculdade. Atualmente é bolseira de pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia e desenvolve o seu trabalho no Laboratório de Química Orgânica e Farmacêutica da FFUP.
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DESTA VARANDA
Fraudes Periodicamente, a opinião pública é confrontada com fraudes nos medicamentos. Desde há muitos anos, de tempos a tempos, surgem novos casos, com dimensão e natureza diferente, mas que têm em comum o facto de terem como centro de ação os medicamentos. A permanência destas situações durante tantos anos demonstra que os responsáveis pelo sistema de saúde, a todos os níveis, não foram capazes de resolver o problema. Noticiada a fraude e recolhidos os dividendos políticos, ninguém mais se preocupa em adoptar medidas que evitem a repetição dos factos. Nunca conseguimos compreender esta passividade do poder político. E muito menos compreendemos que as raras iniciativas tomadas no passado para controlar os medicamentos tenham sido inesperadamente abandonadas. Fala-se agora muito na receita electrónica, como medida necessária à fiabilidade do sistema. Mas, do que ninguém fala é que, em 2004, todo o distrito de Portalegre foi objecto de uma experiência piloto de prescrição electrónica, que foi abandonado sem que se conheçam até hoje as razões desse abandono. Essa experiência foi um projecto conjunto do Ministério da Saúde, da ANF e das farmácias de Portalegre, o qual, em poucos meses, apesar da sua natureza voluntária, reconverteu 65% da prescrição de manual em electrónica. Porque razão foi abandonada essa experiência? Que interesses se moveram para impedir o avanço do processo de prescrição electrónica?
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O que é que impede a generalização da prescrição electrónica a todo o sistema de saúde? Fala-se, agora, também, muito na necessidade de uma nova codificação dos medicamentos, capaz de identificar cada embalagem, como forma de combater à fraude. Não podemos estar mais de acordo. Mas, importa lembrar que já defendíamos essa solução em 1999. E nesse mesmo ano propusemos ao Ministério da Saúde que adoptasse como solução o código bidimensional datamatrix, que permitia identificar uma a uma as embalagens dos medicamentos. A Inspecção Geral das Finanças também defendia essa solução. Este sistema de codificação chegou mesmo a ser publicado em Despacho Normativo, para entrar em vigor em Janeiro de 2004. Mas, em janeiro de 2004, um novo Despacho Normativo revogou a solução… Que interesses se movem contra a prescrição electrónica e um novo sistema de codificação? Os responsáveis políticos só podem queixar-se de si próprios, porque têm ao seu dispor soluções técnicas para evitar as fraudes e não as implementam. As fraudes, obviamente, não têm desculpa. A ANF tem feito tudo o que está ao seu alcance para as combater. Temos estudado as soluções e apresentado propostas. Temos promovido e participado em projetos que visam a fiabilidade do sistema. E temos denunciado as fraudes quando chegam ao nosso conhecimento.
A fraude que agora veio a público foi denunciada ao Ministério Público pela ANF, há mais de um ano. Os factos eram evidentes. Num determinado centro de saúde, 60% da prescrição concentrava-se em quatro medicamentos! Esperamos que desta vez os factos tenham consequências e que, para além da punição das responsáveis, sejam adoptadas soluções para prevenir novas fraudes. As fraudes no Sistema Nacional de Saúde podem ser evitadas. As soluções técnicas existem. Julgamos que tem faltado, apenas, vontade política. As farmácias atravessam em Portugal uma crise profunda, que está a ameaçar cada vez mais a sua sobrevivência. Em poucos anos as farmácias deixaram de ser um setor sustentável para passar a ser um setor à beira de destruição. E as medidas que temos preconizado para ajudar o setor a ultrapassar a crise não tiveram até hoje o acolhimento que consideramos inadiável. Apesar disso, estaremos sempre ao lado do poder político na adopção de medidas que confiram credibilidade ao circuito do medicamento, evitando as fraudes e devolvendo confiança aos cidadãos.
João Cordeiro
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