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SACA SÓ

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algoritmo é padrão

Após ter sua conta banida repetidamente, Polly Oliveira começou #OExperimento no Instagram e concluiu queestar fora do padrão não é bem visto pela rede social

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Fotos INSTAGRAM @POLLYOLIVEIRAREAL

Publicação feita por Polly em seu instagram pessoal em que mostra a beleza de seu corpo real e livre

MUITO SE ESPEcULA sobre os algoritmos do

Instagram – melhores horários para postar, quais conteúdos bombam mais em quantos minutos é preciso curtir uma foto para que ela seja entregue para os todos seus seguidores, como aumentar o alcance dos stories e como o engajamento funciona. Fato é, no entanto, que pouco se sabe sobre a tecnologia que controla a ordem dos posts e quais os critérios que definem para quem eles são mais ou menos entregues desde que a rede social deixou de mostrar um feed cronológico. Polly Oliveira já trabalha como criadora de conteúdo há seis anos e, de dois anos pra cá, reparou que seus posts eram repetidamente tirados do ar, com a desculpa de que eram sexualizados demais para as diretrizes da rede. No entanto, suas postagens sempre foram sobre autoestima, corpo livre e liberdade feminina, em conversas com mulheres sobre padrões, machismo e a sociedade patriarcal que tanto insiste em controlar nossos corpos.

criou #OExperimento para provar que corpos que não são padrão têm suas postagens boicotadas pelas plataformas

“Sempre que eu expunha meu corpo, postava vídeos dançando de biquíni ou lingerie, que é algo que sempre fez parte do meu conteúdo, recebia muitas notificações de que perderia minha conta, que eu estava ferindo as diretrizes”, conta Polly. No dia 31 de dezembro de 2020, o Instagram derrubou sua conta – sem chance de retorno – por conta de um vídeo seu dublando um vídeo de Mayra Cardi. O vídeo original da “líder em emagrecimento natural” curiosamente continua no ar.

Depois de ter seu perfil devolvido por pressão das denúncias feitas por veículos, sua história. Polly criou #OExperimento na tentativa de provar que os corpos fora do padrão não têm suas postagens entregues e são boicotadas pela plataforma. Começou a estudar o comportamento e quais eram as publicidades feitas pelas maiores influenciadoras do ramo – todas brancas, magras e, em sua maioria, loiras –, que anunciavam toda sorte de produtos de chás emagrecedores a géis redutores de medida com supostos resultados milagrosos. Avisou suas seguidoras sobre qual seria seu conteúdo daqui pra frente, para que elas soubessem o que estava por vir e deu início a sua experiência inédita.

Oliveira é uma influenciadora que incentiva amor ao próprio corpo e liberdade feminina. À esquerda a foto tratada para parecer mais magra e à direita a foto original

Nas semanas seguintes, Polly começou a postar sobre produtos milagrosos, usando os mesmos jargões que já conhecemos, escovou seu cabelo cacheado, falou que havia feito cirurgias plásticas e publicou fotos com bastante Photoshop.Como resultado sua conta foi tirada do Shadow Ban (uma prática do Instagram que consiste em deixar a conta ‘invisível’. Funciona assim: além de não conseguir encontrar o perfil pela busca clássica, o conteúdo não aparece para quase ninguém, a não ser que você digite exatamente o arroba da pessoa e entre no perfil) e suas postagens começaram a serem entregues

para todos os seus 358 mil seguidores.

Polly descobriu também, que o Instagram ainda associa um corpo fora do padrão a fast-foods, dada a mudança de anúncios que ela recebia antes de começar #OExperimento – onde se viam hambúrgueres e propagandas de aplicativo de delivery, agora Polly recebe ads de cirurgias plásticas e produtos fit. Além disso, percebeu que, ao postar um conteúdo que era sexualizado, suas fotos eram entregues à milhares de homens, financiando uma cultura de objetificação do corpo da mulher.

A verdade é que talvez isso não seja novidade para quem trabalha com redes sociais, mas #OExperimento provou por a+b que o algoritmo privilegia um tipo de corpo, de cor de pele e de conteúdo específicos: os do grupo dominante. Isso é algo que deve ser combatido para quem acredita no fim desses padrões que matam e aprisionam e para quem vive de Instagram e pode ver seu “reinado” desmoronar. “O algoritmo muda constantemente e, cada vez mais, a cara que eles querem os representando é o jovem, branco, magro, dentro do padrão. É absurdo que essas mulheres que ainda lucram com isso hoje não percebam que nosso tempo está contado. Ou nós mudamos isso ou a gente só vai continuar empurrando merda ladeira abaixo”, concluiu a influêncer Polly.

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