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EDITORIAL

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04 Nota de abertura Redacção

Cara Leitora, Caro Leitor,

A

edição que o caro leitor tem em mãos, neste momento, revestese de características especiais, uma vez tratar-se da que assinala o nosso segundo aniversário. Acabamos, pois, de dobrar a esquina de mais um ano de existência, naquilo que é o contributo que a Gráfica AdMac propôs-se a dar à sociedade angolana, sem nada receber em troca, porque continuamos a ser uma publicação de distribuição gratuita. Como é óbvio, a nossa trajectória nesses dois anos de vida acha-se plasmada na presente edição. Aqui, fazemos uma resenha do que aconteceu durante esse período e renovamos o nosso compromisso de continuar na senda da informação diversificada e séria, obedecendo os padrões da ética e do profissionalismo. Nesse sentido, o caro leitor pode ficar descansado. A independência merece-nos igualmente tratamento diferenciado nesta edição, com um texto tão evocativo quanto actual. De forma sintética, explanamos os momentos que antecederam ao grande dia e os benefícios decorrentes da liberdade total, após a quebra das grilhetas coloniais. E não podia ser de outra forma, porque, afinal, o país faz a curva para o 40.º aniversário a celebrar-se já no próximo ano. Sendo costume da nossa revista, trazemos duas entrevistas, por coincidência, ambas do sector cultural. A primeira é com Yuma Tchissole, uma mulher empreendedora no verdadeiro sentido da palavra que adentrou o universo marcadamente masculino da promoção de espectáculos. Ela é uma das poucas, se não a única, agente de um grupo musical, no caso a conhecida Banda Maravilha. Na conversa, centramonos essencialmente na empresa que dirige, a Nova Energia, promotora do Show do Mês, um evento que afirma-se cada vez mais como uma referência do panorama artístico-cultural da cidade de Luanda. Na outra entrevista, a conversa é com o Doutor José Pedro, director do Instituto de Línguas Nacional, do Ministério da Cultura. O futuro dos idiomas nativos de Angola, o seu uso diário e, principalmente, as suas normas ortográficas são aqui tratadas com o

conhecimento de alguém formado numa das mais reputadas universidades do Mundo, a Sorbone, em França. O quadro sénior do Ministério da Cultura fala também da “vida íntima” das línguas nacionais e do seu uso na grande mídia, especialmente na rádio e na TV, numa entrevista reveladora. A reportagem deste mês é um preito às senhoras e aos jovens que trabalham como comerciantes nas ruas da vibrante cidade de Luanda. Conhecidas como zungueiras, a saga dessas mulheres e homens é escalpelizada com impressionantes pormenores. E isto só foi possível porque AngolaSim decidiu acompanhá-las na sua árdua tarefa durante uma jornada completa, de sol a sol, percorrendo os pontos da urbe onde elas são mais activas. Da nossa peregrinação resultou um texto rico em detalhes, com conversas interessantes de quem faz a zunga como ganha-pão. A sanduíche ganha espaço no nosso “cardápio” deste mês de Novembro porque no dia 3 celebrou-se o seu Dia Mundial. Comida rápida e de consumo quase diário na vida de muita gente, o prato merece honras de efeméride por tudo o que representa e pela sua história curiosa, uma vez que foi “criado” durante um jogo de cartas e ao longo de muitos anos, na Inglaterra oitocentista, fez as delícias de muitos jogadores de cartas em clubes afins. O percurso da sanduíche até à magoga dos nossos dias, nos principais centros urbanos do país, pode ser acompanhado no texto evocativo que produzimos para si, caro leitor. Na secção Arquivo Histórico, trazemos a trajectória da aviação em Angola. O quase século de história do sector é aqui esmiuçado com pormenores nunca antes publicados na imprensa nacional. Iniciamos a caminhada a partir de 1922 na cidade do Huambo, quando ainda era pouco mais do que um desalinhado conglomerado habitacional, e chegamos aos dias de hoje, em que a companhia aérea de bandeira possui das mais modernas aeronaves do Mundo. No percurso, passamos pelos primórdios da aviação comercial angolana, pela criação da Divisão de Transportes Aéreos (DTA), a antecessora da moderna TAAG, e pelo relevante papel que a aviação desempenhou no desenvolvimento dos correios. Outras escalas também foram feitas.

Petróleos, diamantes, internacionalização das empresas angolanas e Orçamento Geral do Estado para 2015 conformam as páginas de Economia, enquanto na Actualidade tratamos de temas como o empenho governamental para minorar a seca no Sul de Angola, o regresso à casa dos refugiados na RD Congo e a generosidade alemã na cura de crianças angolanas, entre outros assuntos. Cabe ainda na secção Eventos uma matéria pormenorizada sobre a segunda edição o Angola Wine Festival, ao passo que em Empresas voltamos a destacar a By-AE, firma que está a produzir joias “made in Angola” com assinalável sucesso. Por razões mais do que óbvias, os resultados preliminares do Censo Geral da População e de Habitação ganham uma abordagem cuidada, com a infografia a “dialogar” com o texto. Todos os dados sobre quantos somos, quem somos, quantas mulheres há são aqui modelados. Também incluímos elementos como a densidade populacional e a distribuição dos habitantes por província, num trabalho que demandou arte e engenho da parte do nosso creative designer para que melhor possa interpretar os dados disponíveis. No Desporto, uma novidade. Trata-se da apresentação da lista de campeões de Angola em basquetebol, desde a disputa do primeiro campeonato em 1960, algo resultante de uma longa e aturada pesquisa. Até agora, nenhum outro órgão de informação logrou publicar tal informação pela simples razão de que é um exclusivo AngolaSim, que surge incorporado na matéria relativa ao lançamento do BIC Basket, a principal prova da modalidade no nosso país. O pleno no pódio da 36.ª edição da Taça dos Clubes Campeões Africanos de andebol feminino, ganha pela primeira vez pelo 1.º de Agosto, é outro destaque nas páginas desportivas, ao passo que na Cultura damos especial ênfase ao disco de estreia do cantos e compositor Tonito. Os textos de Opinião, assim como as secções de entretenimento marcam presença com a pujança de sempre, destacando-se aqui o título de Mister Africa International’2014, realizado em Londres, e conquistado pelo Mister Angola’2014, José Arnaldo. Boa Leitura.

SUMÁRIO ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| 6-9 ENTREVISTA YUMA SIMÃO 10 EFEMÉRIDE 12-15 REPORTAGEM 16-18 EMPRESAS 20-24 ARQUIVO HISTÓRICO A REVISTA MENSAL DE ANGOLA

26-28 ECONOMIA 30-33 ENTREVISTA DR. JOSÉ PEDRO 34-35 CENSOS 36 CELEBRAÇÃO 38 EFEMÉRIDE

40-42 ACTUALIDADE 44-45 CULTURA 46-49 DESPORTO 50 CRÓNICA 51 ESCAPARATE

52-54 BELEZA 56 À MESA / CINEMA 57 HORÓSCOPO 58 ETC E TAL

FICHATÉCNICA: Direcção: Cristina Costa 929 555 515/914 403 435 cristinaangolasim@gmail.com Redacção: Sousa Fernandes Silva Candembo Coordenação: Manuel Costa Fotografia: Bruno Miguel Grafismo: Pedro Carvalho Colaboradores: Alexandrina Lobo, Ana Paula Antunes, Ana Raquel Veloso, António Santos, Hugo Teixeira, Jorge Santos, Maria Helena, Nelito Kioza, Nuno Albuquerque e Sérgio Tenreiro Magalhães. Publicidade: 929 555 515/ 914 403 435 Dep. Comercial: Cristina Costa Dep. Financeiro: Marinela Horácio Direcção de Produção: Arlindo Costa Impressão: Admac Gráfica, Lda Luanda Propriedade: Admac Gráfica, Lda Rua Ramalho Ortigão, 48 Alvalade Luanda Nº do Registo: MCS653/B/2012 Depósito Legal nº 328/12) Contactos: Email: geralangolasim@gmail. com Tel: 222 325 880 Tlm: 914 403 435 Tiragem: 10.000 Periodicidade: Mensal


EDITORIAL

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A REVISTA MENSAL DE ANGOLA


Yuma Tchissole

A Nova Energia da promoção cultural angolana

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la é jovem mas com todas as responsabilidades domésticas que os usos e costumes, assim como a tradição angolana assacam a uma mulher. Ou seja, cuida de casa, cuida dos filhos e, obviamente, do esposo, bem à moda das antigas donas de casa. Mas a sua actividade não se circunscreve às quatro paredes da casa. Longe disso. Apesar de ocupadíssima com assuntos domésticos, ainda resta-lhe tempo para outras tarefas, nomeadamente a de organizar eventos, principalmente culturais. A nossa entrevistada é Yuma Tchissole de Octávio Narciso Simão ou simplesmente Yuma. Formada em relações internacionais na UPRA, não seguiu carreira diplomática ou algo parecido. Preferiu enveredar pela promoção cultural, tarefa que desenvolve com inegável competência, até porque tratou de fazer um upgrade na sua formação, cursando produção executiva, produção técnica e direção de palco e agenciamento artístico, assim como planeamento de eventos, tudo na IATEC-Brasil. Por isso, em 2005 tornou-se agente da Banda Maravilha, sendo seguramente a primeira mulher a exercer tais funções no meio artístico angolano. Como mulher de Cultura, participou em vários eventos em Angola, Portugal e Brasil, além de ter marcado presença na Expo Saragoça’2009. Todo esse lastro proporcionou valências que a levaram a inserir no concorrido mercado cultural angolano um novo produto. Trata-se do Show do Mês, espectáculo musical que acontece mensalmente a Sul da cidade de Luanda e que já uma referência incontornável da programação cultural luandense. Muito bem aceite por várias gerações a partir mais ou menos dos 30 anos de idade, o evento oferece algo que os espectadores angolanos há muito se desabituaram. Glamour, intimidade e música de altíssima qualidade, suportada pela Banda Maravilha, independentemente da escolha do mês. Por tudo isso, decidimos ir à conversa com esta valente “guerreira” que conseguiu vencer num mundo dominado por “machos”.

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ENTREVISTA COM...

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AngolaSim (AS) – Como e em que circunstâncias surgiu a Nova Energia? Yuma Tchissole (YT) – A ideia surgiu há uns anos, sem pretensiosismos. Na verdade, foi numa brincadeira de amigos, entre o Yuri Simão, o Álvaro Fernandes e o Lucas Guimarães. Quando a brincadeira começou, não havia nenhuma perspectiva de evolução. Depois de algum tempo, decidimos avançar para um caminho mais sério e em 2003 a Nova Energia foi registada e começou a trabalhar dentro da legalidade. AS – Quais são os principais objectivos da Nova Energia?

AS – O Show do Mês é, neste momento, o principal produto da empresa. Que outros produtos tem para oferecer ao público? YT – Sem dúvida que o Show do Mês é o produto da Nova Energia com maior visibilidade. Isto resulta da exposição mediática e social que o evento cria. Mas além disso, estamos a fazer assessoria em comunicação para várias instituições. AS – Como classifica a adesão do público ao Show do Mês? YT – É óptima. Penso que a falta de espaços e conceitos como o que nos propusemos a criar cativou o público que já começa a ser muito exigente e gosta de coisas muito bem feitas. Isto faz-nos crer que o público que vai ao Show do Mês estava exactamente à espera de um espaço com este conceito, pois temos sempre a casa lotada em dias de espectáculo. AS – Qual foi o propósito que inspirou a criação do “Show do Mês”? YT – Foi uma ideia de Yuri Simão, o meu esposo, que juntou à mesa o Marito Furtado para com ele amadurecer a ideia. De sorte que, demorou dois anos para colocar em prática aquilo que tinha idealizado. A iniciativa teve em conta a falta de shows de qualidade em Angola, nos quais o artista seja efectivamente a “estrela” principal. Outro aspecto que pesou muito em todo esse processo é o cumprimento de horários e o respeito pelo público, que para nós é fundamental. AS – Financeiramente os resultados são animadores? YT – Não são animadores e nem poderiam ser, pois o showbiz não se faz sem patrocínios. A verdade é que o Show do Mês não possui patrocinadores, tendo embora uma grande base de apoio por via da Rádio Nacional de Angola (RNA) e do Royal Plaza Hotel. Para o próximo ano temos de conseguir um patrocinador a fim de nos ajudar a suportar os elevadíssimos custos de produção. A busca de patrocínios é uma exigência da própria qualidade apresentada pelo Show do Mês. Os clientes já estão habituados a um alto padrão e não queremos decepcioná-los.

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CONTINUA

Quando a brincadeira começou, não havia nenhuma perspectiva de evolução”

YT – A NE é uma empresa de comunicação e de promoção de eventos. Nessa perspectiva, tem como objectivo a organização de eventos desportivos e culturais, assessoria de imprensa e comunicação. Dedicamo-nos igualmente ao agenciamento. Em tudo isso vimos para agregar valor, trabalhando em moldes verdadeiramente empresariais e sérios. Só para ter uma ideia, o Show do Mês, por exemplo, jamais alguma vez atrasou um minuto. Começa sempre à hora marcada, o que se diferencia do que é prática no nosso mercado de entretenimento, onde há espectáculos que começam com meia hora ou mesmo uma de atraso.


AS – Sente que o “Show do Mês” pode crescer ainda mais? YT – Tenho efectivamente este sentimento de que vai crescer ainda mais. Até agora já produzimos oito Shows do Mês e a cada edição melhora substancialmente. Penso, aliás, que esse crescimento já é notório na recolha e resgate de músicos e músicas, bem como na criação de outras formas de divulgação e perpetuação do Show do Mês. Neste momento começamos a gravar os espectáculos em HD, a fim de divulgar e imortalizar música angolana de alta qualidade. Veremos como tudo correrá. A criação de merchandising também poderá ser outra forma de crescimento, assim como a venda de direitos destes shows para outras plataformas. AS – Com o “Show do Mês”, a Nova Energia terá conquistado já um amplo espaço no mercado musical angolano?

O “Show do Mês” está a melhorar a cada edição” A REVISTA MENSAL DE ANGOLA

YT – As repercussões do Show do Mês são mais do que evidentes. Está a cativar um público específico mas amplo, movido em grande parte pela nostalgia de bons velhos tempos. A feedback é tão forte que muitos dos músicos convidados para o Show do Mês estão a alavancar as suas carreiras, depois de muitos anos de actividade intermitente ou de inactividade pura. A grande qualidade dos espectáculos, a pontualidade e o rigor dos mesmos, aliados aos bons momentos vividos pelos espectadores, fazem-nos conquistar, a cada dia, um espaço maior no mercado. AS – Quais são os próximos passos do “Show do Mês”? YT – Tentar ser sustentável e rentável, fazer com que não apenas a música mas também outras formas de manifestação artística possam ser cartaz dos nossos eventos. Isto visa desenvolver, com qualidade, a nossa cultura de um modo geral e não apenas a música. Estamos a pensar também no teatro, na dança e na poesia.


ENTREVISTA COM...

AS – A Nova Energia ficará só pelos espectáculos, quando pela qualidade acústica da sala e condições luz daria, por exemplo, para gravar DVD’s ao vivo?

duração é exactamente de 01h45, embora na maior parte dos casos se estenda um pouco mais por causa dos constantes bis pedidos pelo público. Esta tem sido a nossa marca.

YT – Fizemos há pouco tempo, no Show do José Kafala, a gravação dos dois dias de espectáculo em HD para posterior consumo. Estamos a estudar a possibilidade de fazer o lançamento de um DVD para os Shows, mas neste particular estamos ainda apenas no âmbito das ideias, principalmente porque não temos os necessários suportes financeiros para materializarmos este projecto. Mesmo a gravação dos próximos shows já poderá ser condicionada, exactamente por ausência de recursos financeiros.

AS – Para já, a aposta da Nova Energia tem sido nos músicos nacionais. Projecta, eventualmente, alargar para músicos estrangeiros?

AS – Num mercado tão disputado como o angolano e no qual proliferam as empresas promotoras, enquanto principal rosto da Nova Energia, o que pensa fazer para manter e, se possível, melhorar o nível das performances? YT – Acho que temos vários tipos de públicos e estilos, razão por que a este nível estamos tranquilos. Estamos a atingir uma franja deste público, que faz a nossa sociedade. Temos um rigor na selecção musical, quer do artista, quer do repertório apresentado. Estes elementos fazem alguma diferença no mercado, no qual todos cabem, como digo inúmeras vezes. AS – Qual tem sido a reacção das outras empresas promotoras de espectáculos? Sente que há ciúmes, espírito de emulação ou outro sentimento qualquer... YT – Bem... com as empresas com as quais temos relações, tem havido uma grande camaradagem e colaboração. Luanda é uma cidade cosmopolita e que necessita de vários espaços, cada um com o seu estilo. Por exemplo, o Show do Mês não coloca o costume de ter comida e bebida, estando mais virado para o estilo de concerto, em que as pessoas vão apenas assistir o concerto, cuja

YT – Ainda não, no curto prazo. Acreditamos que temos mercado muito vasto a ser explorado ao nível nacional. Temos que agradecer aos músicos que têm abraçado o projecto com toda a sua limitação, sobretudo de ordem financeira, o que resulta em cachets bem mais baixos do que concorrência pode pagar. Nisso, o magnífico é que, independentemente do cachet, os músicos têm sido de um profissionalismo irrepreensível, proporcionando qualidade superior aos espectáculos. Isto está a ser reconhecido por todos ligados ao mundo da música. AS – Que critérios presidem a escolha dos artistas para o “Show do Mês”? Dá a impressão que vão buscar muitos bons artistas mas que não são tão comerciais quanto isso... falamos de Filipe Mukenga, Gabriel Tchiema, José Kafala e por aí adiante... YT – A Primeira base de escolha é obra feita e comprovada no mercado. À obra chamamos não apenas as músicas de sucesso, mas principalmente a qualidade das mesmas, das composições, das letras... Nesse caso, até a própria postura do artista é colocada na balança, pois temos um tipo de público composto por pessoas de várias idades. Baseamos a nossa selecção nesses critérios porque pretendemos contribuir para a educação (musical e não só) de uns e evitar que os outros percam a esperança de que é possível fazer ou assistir boas coisas da nossa cultura.

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A figura Nome: Yuma Tchissole de Octávio Narciso Simão Data de Nascimento: 28/08/1980 Naturalidade: Luanda Profissão: Produtora de eventos Ocupação: Várias... (risos) Estado Civil: Casada Filhos: Dois (Totó e Yuan Tchali) Escolaridade: Licenciatura em Relações Internacionais Músicos Angolanos: Banda Maravilha e Bangão Músicos Estrangeiros: Kassav e Jorge Neto (Livity) Músicas Angolanas: Nzala (Elias Dya Kimuezu), Embrião (Sabino Henda) e Nguxi (Banda Maravilha) Músicas Estrangeiras: Bits da década de 70,80 e 90 Escritores Angolanos: Vários Escritor Estrangeiro: Sydney Sheldon Livros: VIP (História verídica do maior vigarista do Brasil) Filmes: Pretty Woman (Júlia Roberts e Richard Gere) Sonho: Ter a minha mãe de volta Passatempo: Bater papo no Viber com as minhas primas Prato: Bacalhau à minhota Bebida: Refrigerante Fanta de laranja de... Angola (Risos) A REVISTA MENSAL DE ANGOLA


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sempre! 11 de Novembro,

Sousa Fernandes

caminha a passos largos para o desenvolvimento. “A situação económica e social do país é estável e a sua gestão macroeconómica tem sido conduzida com a necessária atenção, para se garantir o cumprimento dos indicadores estabelecidos no Orçamento Geral do Estado 2014, aprovados por esta augusta Assembleia. A taxa de inflação que em 2013 foi de 7,7 % (por cento), a mais baixa de sempre, situou-se no primeiro semestre do corrente ano em 6.9% (por cento). Por outro lado, a taxa de câmbio da moeda nacional temse mantido estável”, disse o Chefe de Estado angolano. Estas palavras são bem elucidativas de como Angola tem buscado o melhor para os seus filhos, tendo como pano de fundo a independência que tantos sacrifícios impôs aos combatentes da luta pela liberdade.

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ngola celebra mais um ano de independência. Será o 39.º, desde que a 11 de Novembro de 1975 o presidente Agostinho Neto proclamou, na praça 1.º de Maio, agora da Independência, perante a África e o Mundo, a liberdade de uma ex-colónia, tornada em país livre e soberano. Como há quase 40 anos, a data continua a revestir-se de grande importância, pois constitui marco imperecível da história recente de Angola. Quando o presidente do MPLA acabou o longo discurso em que proclamou a independência nacional “em nome do Comité Central do MPLA e do Povo Angolano”, consumava-se, então, o desejo de milhões de angolanos, ansiosos de liberdade e de uma vida decente, livre do trabalho forçado nos campos agrícolas e na minas, cujo resultado beneficiava em primeira instância a potência colonizadora. Baliza do início da construção de uma nova identidade para Angola e os seus filhos, o 11 de Novembro foi mais do que apenas a tomada do destino pelos angolanos nas próprias mãos. Foi o começo de uma marcha em direcção ao progresso social e ao bem-estar das populações, entretanto,

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ainda não alcançado plenamente. A caminhada conheceu muitos tropeços. Agressões externas, guerra imposta, miséria, deslocados de guerra e outros problemas pontuaram a existência sofrida do país. Passados quase 40 anos e olhando para trás, o sentimento é de que muitos dos sacrifícios valeram a pena, visto que não pode haver fruição sem antes se passar por privações. E foi exactamente isso que aconteceu no trajecto desses 39 anos de independência. Na verdade, o melhor preito para os filhos tombados nesse percurso é precisamente construirmos um país bom para se viver. Agora, o país comemora mais um ano de liberdade plena com esperanças renovadas num futuro melhor. Afinal, os indicadores económicos são cada vez mais encorajadores, a assistência médica e medicamentosa registou sensíveis melhorias, assim como a esperança de vida dos angolano, antes em níveis muito baixos. É verdade que muito ainda há a fazer, mas o caminho trilhado até agora augura um futuro de prosperidade e felicidade para os angolanos. Na sua alocução sobre o “Estado da Nação” a 15 de Outubro último na Assembleia Nacional, o Presidente da República deixou claro que o país

O que mais anima, porém, são os indicadores sociais. No referido discurso, José Eduardo dos Santos declarou que “de acordo com estudos independentes, cerca de metade da população de Angola saiu do limiar da pobreza absoluta. Várias instituições internacionais enfatizam os progressos alcançados pelo nosso país, revelando que a percentagem de angolanos com menos de dois dólares/dia passou de 92% (por cento) em 2000 para 54% (por cento) em 2014. Este ritmo de redução da pobreza, invulgar no nosso continente, anima-nos a prosseguir no sentido de alcançar a sua total erradicação. Dos muitos factores de que depende esse objectivo, o principal é um rendimento digno na actividade que cada um exerce, por conta própria ou de outrem, no sector privado ou público. Essa actividade deve ser de preferência produtiva e contribuir para a oferta crescente de emprego e para a expansão da riqueza nacional. As políticas públicas de redistribuição do rendimento, seja a nível fiscal seja no sector de segurança social e as despesas sociais e de apoio ao desenvolvimento, são também um instrumento essencial para se reduzir a pobreza e se promover uma sociedade mais justa e equitativa”. Por tudo isso, é justo reconhecer que valeu a pena. 11 de Novembro, sempre!


EDITORIAL

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12 REPORTAGEM

Gente que facilita a vida dos citadinos luandenses

Zungueiras, as laboriosas “formigas” da velha urbe

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Silva Candembo

zungueira é uma figura que há séculos é agregada ao cenário da cidade Luanda. Na verdade, quando em 1575 o explorador português Paulo Dias de Novais fundou aquela que viria a ser a capital de Angola, já o velho vilarejo de desalinhadas choupanas e escasso casario de pedras tinha as suas vendedeiras ambulantes. Depois que a vila virou Sam Paulo de Assumpçãm de Loanda, elas continuaram, perpassaram pelos séculos e adentraram os tempos modernos. Elas têm, pois, uma secular e rica história, que também faz parte das história da velha cidade nascida na Fortaleza de São Miguel, onde está actualmente instalado o Museu das Forças Armadas. Em boa verdade, pode-se dizer que as zungueiras cresceram com a cidade. Ou seja, à medida que o conglomerado foi-se expandindo, elas também aumentaram em termos numéricos, sendo hoje peça fundamental do comércio citadino e dos arredores. Há muitos séculos e imitando os mercadores de marfim, borracha e outros produtos, elas tomaram conta das ruas, deixando de fixar-se apenas num dos três pontos da cidade em que havia mercado, nomeadamente no largo do Palácio do Governo, na Caponte, junto ao Baleizão, e nos Kipakas, próximo do actual Porto de Luanda. Quando umas poucas vendedeiras decidiram começar a calcorrear a cidade de lés a lés, Luanda sequer era cidade. Estima-se que as primeiras vendedeiras eram as peixeiras, seguindo-se as fruteiras. Depois surgiram as sarrabulheiras, estas exclusivamente ao domingo, dia em que a iguaria por elas vendida fazia as delícias dos habitantes dos subúrbios da capital. Também era o dia de descanso das vendedeiras de peixe e de frutas, o que reflectia uma organização sem igual.

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Por terem deixado as quitandas (mercados) para andarilharem pela cidade é que ganharam o apodo de zungueiras, corruptela originária do verbo Kimbundu ku nzunga, que significa rodear, uma alusão ao itinerário de certo modo circundante que conformava a sua duríssima jornada se sol a sol. Vestidas de bessangana, as quitandeiras transformadas em zungueiras palmilhavam a cidade e os seus arredores vendendo essencialmente fruta e peixe. Enquanto percorriam Luanda diziam pregões musicalizados, qual deles o mais harmonioso. “É laranja, é laranja, é laranjééééééééé...”, gritavam, enquanto desfilavam elegantes com as kindas (balaios) equilibradas à cabeça sem necessidade de as segurarem, tal era a perícia com que as sustentavam no topo de uma cabeça encimada por um imaculado lenço a combinar com o restante das vestes. Nesse capítulo, a habilidade era tanta que inicialmente deixava boquiabertos os colonos europeus, fossem eles portugueses ou holandeses. Nas suas vestes compostas por pelo menos cinco peças – três panos, quimonos e lenços –, não faltava a ponda, um adereço de suma importância para a actividade que desenvolviam. A ponda era uma longa tira costurada de dois tecidos sobrepostos e com uma abertura ao meio. Amarrada à cintura, fazia as vezes de cinto mas a sua principal serventia era a de esconderijo do lucro diário. Hoje, os tempos mudaram. Com o êxodo rural para a grande Luanda, algo determinado pela guerra, o número de zungueiras cresceu exponencialmente. As vendedeiras já não são as senhoras da periferia vestidas de bessangana mas essencialmente as deslocadas de guerra que usam colants debaixo das saias e blusas leves por causa das altas temperaturas. Praticamente já

dispensaram o pregão cantado porque substituído por ruidosos anúncios gravados e difundidos por pequenos megafones de fabrico chinês, a fazer lembrar um pouco os sons dos velhos canudos azuis que propagavam o som dos gira-discos ou a sonoridade não menos rumorosa dos velhos gramofones. Agora já não vendem só peixe, fruta ou legumes mas também um sem número de produtos, quase todos sem o necessário controlo de qualidade, quase todos contrafeitos. Louça, roupas, calçado, frango, cadernos, livros escolares e toda a sorte de quinquilharias orientais... tudo é vendido. O espantoso, ou nem tanto assim, é que, o sarrabulho nosso de cada domingo desapareceu dos alguidares das vendedeiras. A mudança foi tão radical que, agora, não apenas mulheres fazem-se à rua para a nzunga diária. Decididamente, não. Jovens rapazes também o fazem, vendendo essencialmente frutas e legumes, enquanto outros, estes já mais estáticos, comerciam produtos como CD’s, DVD’s, relógios, óculos, perfumes e até pequenos aparelhos electrónicos como telefones celulares, tabletes e muito mais.


Este é o caso de Bebiana Lopes, chegada a Luanda há duas década quando o conflito pós-eleitoral incendiava a cidade no Kuito, na província do Bié. Atirada para um camião que conseguira escapar da “cidade mártir”, chegou à capital do país quando tinha 12 anos. Os pais morreram na guerra e durante muito tempo viveu com uma tia, em Viana, até que aos 16 anos engravidou-se e os parentes mostraram-lhe a porta de saída de casa. Ainda adolescente, amigou com um conterrâneo que conheceu no bairro. A primeira gravidez foi de gémeos e a segunda, aos 19 anos... também. Com quatro filhos para sustentar, o marido desempregado acusou o peso da responsabilidade

e entregou-se irrestritamente ao álcool até parar sete palmos abaixo da terra no cemitério de Viana. Sozinha, Beabiana foi obrigada a trabalhar. Mal o corpo do marido acabara de baixar à terra, saiu à rua ajudada por uma vizinha que já estava na nzunga há anos. Com um empréstimo de Kz 1.500,00 comprou quiabos, jimboa, couve, repolho, jindungu, beringela e um alguidar onde pôs toda a mercadoria. Na companhia da vizinha pegou um candongueiro e rumou para o centro da cidade, no Bairro Maculusso, bem ao lado da Liga Nacional Africana. Foi lá onde a encontramos. “O primeiro dia foi difícil. Muito mesmo. Foi um sábado, parei aqui e vendi quase tudo e de regresso à casa o resto da mercadoria acabou e consegui comprar o jantar dos miúdos. Mas cheguei cansadíssima. O cansaço era tanto que estive quase desistir. Mas tinha contas a pagar e continuei”, conta a viúva de 32 anos de idade.“Hoje as coisas melhoraram. Desço no Jumbo, venho andando até aqui e pelo caminho há sempre compradores.

Quando chego aqui, aproveito o grande movimento de pessoas na rua para vender o mais possível. Normalmente fico aqui até às 15h00, altura em que regresso à casa”, explica a vendedeira, enquanto come com as mãos um guisado de peixe fresco com óleo de palma na hora do almoço. Não revelou quanto ganha mas diz ser o suficiente para “dar comida, roupa e educação aos miúdos”. Rosa Kangumbe é uma mulher aparentemente frágil, não devendo pesar mais de 50 Kg. Mas pela musculatura enxuta da panturrilha dá para perceber quanto terreno já galgou ao longo da vida. Moradora em Cacuaco, de segunda a sábado anda pelas ruas do bairro São Paulo a vender peixe fresco e seco. Ela compra-o na praia da sua circunscrição e trá-lo a cidade. “Já ando nisto há seis anos. O meu marido é serralheiro e teve um acidente no qual perdeu a visão. Como trabalhava no privado, não recebeu qualquer indemnização e não tem o que fazer agora. Assim, eu virei pai e mãe em casa”, conta a senhora de 27 anos que diz ter três filhos e ainda espera ter pelo menos mais dois!

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CONTINUA

Passaram-se os tempos, mudaram-se os hábitos e costumes, as tradições foram sufocadas mas algo mantém-se intacto: o motivo do negócio. Como na velha Luanda seiscentista, hoje a razão que leva as zungueiras as ruas continua a ser a mesma. Ou seja, a necessidade de alimentar a família lá em casa. E se antigamente os proventos da nzunga serviam de complemento a renda familiar, actualmente, na maior parte dos casos, é a única fonte de receita da família.


14 REPORTAGEM

Para Rosa, a vida não tem sido fácil. Ela mesma diz que a rotina diária é pesada, reconhecendo ser necessária “para manter o fogão acesso”, o mesmo que dizer para ter comida diariamente lá em casa. Como todas as zungueiras, na volta ao lar, compra a comida do jantar que ainda terá de confeccionar, depois de uma árdua jornada de trabalho. “E não é só isso. Antes de sair de casa tenho de fazer o mata-bicho e deixar preparado um lanche que serve de almoço. Com o meu marido no estado em que está pouco pode ajudar, até porque o acidente aconteceu há pouco tempo e ainda está a habituar-se a ideia de viver assim para o resto da vida. Assim, a minha filha mais velha, de 11 anos, é praticamente a dona de casa, enquanto eu estou na rua”, confessa a mulher que diz ter um rendimento mensal de quase Kz 50.000,00 a vender peixe de casa em casa. “Há vezes que me pedem coisas especiais como mabanga ou lagosta e nessas ocasiões lucro mais porque os preços de revenda são muito bons”, informa a senhora que quase sempre recebe os produtos directamente dos pescadores, à consignação.

Zungueiras chegam de todas as províncias de Angola para trabalhar em Luanda A REVISTA MENSAL DE ANGOLA

Pemba Gabriel veio do Uíje com a mãe, também fugido do conflito armado que grassou um pouco por todo o país. Chegou há 20 anos, ainda bebé no colo da mãe. Mora no bairro dos Ossos, próximo da Cadeia Central de Luanda (CCL), popularmente conhecida por Comarca. Há três anos que palmilha a cidade com um carro-demão cheio de legumes. Tomate, batata do reino, cenoura, cebola, salsa e outros produtos – alguns já devidamente compartimentados em sacos de plástico – que compra no Mercado do Km 30 para revender na cidade. O seu espaço predilecto para a venda é antigo bairro do Café, o quadrado entre a Igreja Sagrada Família, e as ruas do PUNIV Central e a Kwame Nkruma. Baixo, tem os músculos bem definidos por causa da labuta diária de quase seis horas por jornada. “Todos os dias passo pelo bairro e já tenho algumas casas nas quais passo alternadamente para deixar os produtos. Também abasteço pequenas lanchotes e casas cujos quintais servem de improvisados restaurantes. Muitas vezes deixo-os para receber o pagamento depois”, explica o rapaz que diz ser o mais velho de uma prole de seis irmãos. Pemba esclarece que tem de trabalhar para ajudar na parca renda da casa, uma vez que a mãe, antiga vendedeira no Roque Santeiro, há muito anda acamada, molestada por dores lancinante numa perna que partiu, quando num final de tarde saía do trabalho com o sustento diário da família e foi colhida por um automobilista ébrio. O pai, conta com conformismo, é mutilado de guerra mas o valor da pensão por invalidez é insuficiente para o volume de despesas num lar de 10 pessoas, onde também habitam dois sobrinhos de um dos cônjuges. “O rendimento varia muito mas num mês posso chegar nos Kz 45.000,00 ou 60.000,00. Uma parte é para mim, outra dou em casa e o restante guardo para reinvestir e para poupança porque dentro de alguns anos quero fazer outro tipo

de negócio que exija fisicamente menos do que este”, projecta o jovem que diz querer abrir uma cantina no bairro em que mora desde que à Luanda chegou. Depois da breve conversa, colocou novamente o seu boné e levantou as hastes do carrinho para seguir o seu itinerário habitual pela urbanização erguida por volta da década de 1950. Passavam poucos minutos do meio-dia, quando demos com uma mulher alta, com um enorme volume quadrado à cabeça. Havia acabado de atravessar a movimentada Avenida Deolinda Rodrigues para encaminhar-se à Feira Popular. Enquanto trocávamos as primeira impressões acompanhamo-la na sua caminhada para o local que hoje é um pouco mais do que um mercado misto em que se vende alimentação já confeccionada, roupa e calçado em barracas, enquanto as zungueiras (e zungueiros também) comercializam toda a sorte de produtos. A nossa interlocutora chama-se Eva Pedro e é natural de Malanje, concretamente Kiwaba Nzoji. À cabeça leva uma caixa de cartão com copos de todos os tipos. Fabricado na China, o produto é adquirido nos armazéns dos senegalenses – na verdade há muitos mais nacionalidades, todas da África Ocidental – no bairro da Cuca. “Compramos a preços muito módicos”, começa por nos dizer para depois acrescentar: “Assim dá para obter um lucro bom, suficiente para viver sem aflições”. Antes, porém, de chegar à Feira Popular havia cumprido já uma quilométrica jornada, iniciada no bairro da Terra Nova, onde passou por algumas ruas, peregrinando depois pelos arredores do Mercado dos Congolenses. De segunda a sexta feira cumpre quase rigorosamente o mesmo itinerário e na volta à Vila da Mata – bairro próximo do Grafanil –, onde mora, faz como todas as outras zungueiras: leva a comida do dia para a família.


REPORTAGEM Na Feira passeia-se por várias barracas de comes e bebes, como diz o povo. Vende copos não só às proprietárias mas também aos comensais, principalmente senhoras, cujas despesas são pagas pelos acompanhantes de circunstância. “Os copos partem-se com facilidade e por isso têm muita saída”, comemora a senhora de 36 anos que antes se dedicara à venda de mercadoria como enlatados, açúcar, óleo vegetal e arroz saídos dos “esquemas” da Base Central de Abastecimento (BCA) das Forças Armadas.

o conteúdo do pratinho branco, daqueles vendidos por zungueiras como Eva Pedro. A cliente descascou um bichinho e com o polegar e o indicador passou-lhe no molho ajindungado e comeu com gosto, sorvendo de seguida o copo de cerveja à sua frente. A espuma do líquido desenhou um bigode branco no lábio superior, que ela eliminou habilmente com uma lambida. Indagada de como aquilo era possível, Esperança Campo não se fez rogada. “Muitos entram nas barracas de comes e bebes, desde jovens vendedores de CD’s e DVD’s a senhoras que vendem frutas. Como elas não fazem petiscos, o nosso trabalho é uma espécie de complemento ao delas, quando os clientes esperam pelo almoço ou muitas horas depois da refeição e de umas tantas garrafas de vinho ou de cerveja. É nessas alturas normalmente que nós surgimos e nesse sentido não há conflito”, recita.

“Antes trabalhava mesmo em frente da BCA. Comprava os produtos aos militares e depois revendia a retalho num mercado bem próximo da minha casa. Mas agora o «esquema» acabou e tive que dedicar-me a outro negócio”, narra a senhora com um sorriso nos lábios ao dizer que com o primeiro negócio conseguiu construir “uma casa boa”, onde mora com o marido, três filhos e a sogra. Eva Pedro diz não haver comparação entre o rendimento do primeiro negócio e do que faz actualmente. “No tempo da yula (negócios grandes) ganhava-se muito porque havia carência de muitos produtos no mercado. Hoje já há de tudo um pouco e os preços baixaram muito, o que também diminuiu os nossos lucros. Por isso e porque também o «esquema» chegou ao fim, mudei de negócio”, justifica e garante que dentro de pouco tempo voltará ao negócio de alimento, vendendo carne que pretende adquirir na Fescangol para fornecer a cozinhas como as da Feira Popular. Bem dentro da Feira Popular demos com Esperança Campos, moradora das redondezas, no bairro da Kalemba, onde nasceu há 25 anos. Transportava também à cabeça um pequeno alguidar vermelho com o qual adentrava várias

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barracas. Ela vendia camarão e caranguejo já cozidos, iguarias que serviam de petisqueira para os clientes das barracas dos comes e bebes. Isto chamou-nos a atenção por parecer redundante e, de certo modo, despropositado. Ou seja, como alguém vindo de fora entra numa lanchonete para vender comida aos clientes e sem que a proprietária se chateie? Acompanhamo-la a uma barraca. “Vai camarão?”, perguntou. Uma cliente pediu duas doses, cada com cerca de uma dezena dos pequenos bichos. Pô-los num pratinho gentilmente oferecido pela dona da barraca à comensal e o seu companheiro. Depois tirou um frasco de jindungu e com uma colherinha avermelhada na extremidade adubou

Esperança Campos começou por vender jinguba há um ano e meio e agora deu o “salto” para o marisco de pequeno porte, “graças aos lucros obtidos no negocio anterior”. Mãe solteira, com apenas um filho, diz que em média mensal faz algo em torno de Kz 40.000,00, sem contar com o dinheiro que reaplica para prover o aprovisionamento de camarão de origem fluvial que lhe chega do Kwanza Sul, abastecida por uma velha amiga. E assim, essas heroínas anónimas levam a vida, educando e alimentando com sacrifício as suas famílias. Peças importantes da grande urbe que é Luanda, as zungueiras facilitam a vida de muita gente, pois vão ao encontro do cliente. Numa cidade frequentemente engarrafada e com mais de seis milhões de habitantes, não há dúvidas da utilidade extrema do seu trabalho, equiparado ao das laboriosas formigas.

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16 EMPRESAS

Angola Wine Festival

pela segunda vez

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Pelo segundo ano consecutivo, o país celebrou e promoveu a cultura do vinho, algo que aconteceu entre 23 e 25 de Outubro no Angola WineFestival (AWF), realizado no Complexo Hoteleiro da ENDIAMA (CHE), no Miramar, um local único e emblemático da capital, que permite um envolvimento completo da cidade com o evento e inversamente. Numa organização da ViniPortugal, a segunda edição do evento acabou confirmando o sucesso da anterior, reforçando o interesse e fascínio que o universo do líquido motiva junto de profissionais e do público em Angola. Durante três dias o festival proporcionou experiências vínicas e gastronómicas únicas, permitindo um conhecimento mais aprofundado de marcas provenientes de vários países produtores de vinho. Num ambiente estético cuidado, inserido numa atmosfera contagiante e singular, o evento possibilitou a visitantes e a profissionais, um contacto de qualidade com enólogos e produtores de vinho, oriundos de vários continentes. A capacidade de criar relações fortes com marcas e produtos foi um dos pontos altos do concorrido festival e um factor que o eleva a

um nível superior. O programa foi de tal forma concebido que possibilitou, em ambientes muito cuidados e intimistas, um contacto de qualidade com o vinho, com produtores e enólogos, no fundo, a pedra angular do AWF. Nessa perspectiva, aconteceram uma Harmonização, três Provas Comentadas, duas Premium Wine Sessions e uma Wine Party , estas orientadas por Rodolfo Tristão, Presidente da Associação dos Escanções de Portugal, e Marco Alexandre, sommelier residente do hotel Epic Sana. O programa ficou completo com uma Wine Party no restaurante Caribe, na icónica Ilha do Cabo, além de Jantares Vínicos, Acções de promoção alargadas à cidade. Aqui, destaque para um lounge exclusivo no recinto com um wine bar onde foram acolhidos convidados e jornalistas. Enquanto as Premium Wine Sessions foram dirigidas aos parceiros comerciais,tratando temas como “A importância de um bom serviço de vinhos” e a “A importância de uma boa carta de vinhos”, as Provas Comentadas estiveram abertas ao público, tendo como temas, “O surpreendente mundo dos vinhos brancos e Rosés de Portugal”, “Descubra a elegância dos vinhos tintos de Portugal” e “Vinhos tintos poderosos que o vão surpreender”. Relativamente à Harmonização, os

participantes aprenderam “Como harmonizar as castas Portuguesas com comida Angolana”. Toda essa movimentação de milhares de pessoas objectivou a promoção e divulgação das marcas representadas junto dos consumidores do mercado angolano; o desenvolvimento de uma plataforma privilegiada para o estabelecimento de contactos entre as marcas representadas e os profissionais ligados ao sector (hotelaria, restauração, distribuidores, retalhistas, outros), assim como a criação de uma verdadeira cultura vínica entre todos os agentes económicos envolvidos no negócio do Negócio em Angola; Outro grande objectivo do AWF foi o desenvolvimento de condutas de serviço de qualidade associadas aos negócios da restauração, hotelaria e distribuição; a dinamização cultural, económica e turística da cidade e da província anfitriãs; a afirmação do evento como único e de cariz internacional no contexto geográfico da África Austral, permitindo alargar o seu impacto para além-fronteiras. Tal como na edição passada, Portugal, que tem Angola como um importante mercado de vinhos, teve a maior representação do AWF, fazendo-se presente com 30 produtores e distribuidores.



18 EMPRESAS

By-AE abre showroom

Primeiras jÓias Made in Angola já brilham em Luanda

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epois da apresentação feita a 4 de Outubro último em Luanda, a empresa angolana de fabrico e venda de jóias By-AE inaugurou no dia 14 do mês de Outubro, o seu showroom de atendimento personalizado, a par de uma unidade produtiva e criativa. O espaço acha-se no Condomínio Real Park, em Talatona, Sudoeste de Luanda e tem como propósito mostrar o brilho e encanto das primeiras jóias Made in Angola.

A aliança estratégica entre os empresários angolanos e a Ouronor permite a produção e a criação das primeiras peças de ourivesaria e joalharia em Angola, assim como a formação dos seus próprios ourives e artesãos, iniciandose um processo de aprendizagem em Luanda, ministrado pelos formadores, técnicos e ourives da conceituada empresa portuguesa.

Com esse passo, a By-AE torna-se na primeira empresa nacional do ramo a possibilitar ao público angolano o acesso a um vasto universo de jóias de qualidade, com valor acrescentado. O projecto resulta da aliança de dois empresários angolanos e do administrador da prestigiada Ouronor, empresa de referência portuguesa no sector.

produção e de criação. O destaque em tudo isso é o facto de todo o processo criativo valoriza a cultura e tradições angolanas. Além disso, a empresa dá a possibilidade única de os clientes acompanharem a produção da sua jóia personalizada ou do seu conserto da sua peça.

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A sessão inaugural incluiu uma visita guiada ao espaço expositivo, de

A By-AE está igualmente preparada para satisfazer e preencher todas as necessidades dos

seus clientes, disponibilizando serviços criativos e produtivos exclusivos, de acordo com os gostos individuais, com atendimento personalizado, reservado e seguro. A empresa assegura a escolha de materiais, acompanhamento técnico, bem como todo o acompanhamento pós-venda e de reparações de peças usadas. Desse modo, a By-AE pretende corresponder integralmente às necessidades e expectativas do exigente público angolano, propondo-se igualmente lançar em permanência inovações e novas criações no mercado. A nova empresa angolana deseja emprestar o seu contributo para o desenvolvimento económico e social do país, reduzindo a necessidade de importação de produto acabado e simultaneamente valorizando a matéria-prima local.


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20 ARQUIVO HISTÓRICO Quando há quase um século o Huambo era só “embrião” da Nova Lisboa

O “berço” da aviação nacional ou a história da primeira viagem aérea em Angola! Silva Candembo

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Divisão de Transportes Aéreos (DTA) de Angola, predecessora da moderna TAAG, foi criada por decreto legislativo de 17 de Julho de 1938 mas só passados dois anos sobre esse marco se realizaram os primeiros voos comerciais regulares no território, então sob administração colonial portuguesa. As primeiras carreiras da companhia aconteceram nas rotas LuandaMoçâmedes-Luanda (carreira Sul), LuandaCabinda-Ponta Negra-Luanda (carreira Norte) e Luanda-Lobito-Nova Lisboa-Lobito-Luanda (carreira Leste), num total de 3.250 km de extensão, o que para a época era um feito assinalável. Porém, a primeira viagem aérea em Angola tem raízes bem mais profundas no tempo, sendo necessário recuar à época em que o general José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos fora o alto-comissário da então colónia de Angola. Ele promoveu a instalação de uma esquadrilha militar de aeronáutica no vilarejo planáltico, isto no ano de 1922, uma década depois de ter fundado a cidade do Huambo que mais tarde seria baptizada de Nova Lisboa, hoje novamente Huambo, capital da província homónima, no Centro do país. Nessa altura, o Huambo já tinha administrativamente a categoria de cidade, mas não passava de apenas um prometedor vilarinho que ainda estava longe de ganhar foros de uma urbanização consentânea com uma verdadeira cidade. Huambo caíra nas graças do alto-comissário para a instalação da unidade por se tratar de um eixo estratégico. Foi, aliás, por esta razão que mais tarde, em 1928, o alto-comissário de Angola, Vicente Ferreira, elevou o então distrito à condição de capital de Angola. Com a concordância dos restantes elementos da hierarquia militar, designadamente o chefe de estado-maior, tenente-coronel Ernesto França Machado, e o seu adjunto, major Gonçalves Amaro, Norton de Matos decidiu começar tudo do zero para erguer a base. Esta foi construída, mas tudo muito modesto, desde os hangares para os aeroplanos, como então se chamavam

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os aviões, oficinas e residências para o pessoal ali instalado. Apesar das dificuldades extremas para levar a cabo tão portentosa empresa, Norton de Matos não estava disposto a parar. Efectivamente, o alto-comissário não soçobrou. E vai daí mandar construir o campo de aviação, ou seja, aquilo a que actualmente designamos por aeroporto, que era pouco mais do que uma... estrada de terra batida! Enquanto isso, foi formada a esquadrilha de aviação, composta por quatro aparelhos (dois de marca “Caudron” e outros tantos “Breguet”) e 10 oficiais aviadores, sendo quatro capitães-pilotos, dois tenentes-pilotos, dois tenentes e dois alferesobservadores. A estes juntava-se uma dezena de sargentos, dos quais oito mecânicos, sendo chefe da esquadrilha o capitão-aviador José Pereira Gomes. Nota curiosa é que quando o alto-comissário entregou-se a essa tarefa, passavam apenas oitos anos que a aviação militar havia sido instituída na Metrópole, como então se chamava a Portugal enquanto potência colonizadora. Nessa época, Portugal participara em operações da I Grande Guerra Mundial (1914-1918), embora a aviação militar nesse país só tivesse verdadeira corporização em 1926, portanto, quatro anos após a iniciativa de Norton de Matos. Nos primeiros meses desse ano de 1922 foram realizadas várias experiências de voo, todas com raios de acção muito limitados, abrangendo apenas os arredores do Huambo. Mas em Março de 1923, mesmo os aeroplanos não permitindo grandes veleidades, foi feito um voo mais longo – na verdade um raide –, saindo do Huambo para o litoral de Benguela, no que era uma verdadeira façanha. Foram tripulantes desse voo, efectuado por um “Breguet”, os capitães António da Cunha e Almeida, Aurélio Botelho Castro e Silva e o tenente-observador Álvaro Pinto da Cunha. Nesse verdadeiro feito, a equipagem conseguiu cobrir os cerca de 400 km em... duas horas e oito minutos! Nota importante a reter nessa aventura, é que depois de gretadas as nuvens do gigantesco morro do Lépi e seguindo pelo percurso Ganda e Catengue, a aterragem em

Benguela foi outra grande proeza porque a velha urbe de São Filipe não tinha... campo de aviação! Mas a aterragem acabou sendo bem sucedida, numa estrada de terra batida improvisada para o efeito e onde o minguado trânsito automóvel foi interrompido durante horas a fio. Foi, pois, com delirante entusiasmo que as populações de Benguela receberam a tripulação e o “seu” avião. Dada a importância de que se revestia o inaudito acontecimento, a receber a tripulação esteve uma multidão e, inclusive, o governador do distrito, coronel Eduardo Ramires de Macedo, acompanhado de uma delegação de alto nível. Depois, os aviadores – era assim que à época se chamavam os pilotos – foram recebidos no palácio do governo com todas e merecidas honrarias pela proeza acabada de cometer. O trajecto entre o local da aterragem e a residência oficial do governador foi coberto por um desfile entusiasticamente acompanhado por uma ululante turba, parte da qual acabou adentando também o palácio para vitoriar os seus heróis, no que foi uma “invasão pacífica”. As honras aos temerários aviadores continuaram com um deleitado almoço no palácio do governo, quando os intrusos já haviam sido convidados a retirar-se. Prosseguiram com uma recepção da Câmara Municipal de Benguela. Nesse evento, a figura de proa foi o presidente da edilidade benguelense, Cristovam Ribeiro, que enalteceu o arrojo dos tripulantes do “Breguet”, fazendo votos de progresso e acção prometedora da esquadrilha militar do Huambo. Apesar de na altura as comunicações em nada se compararem com as da actualidade, a notícia “varreu” a colónia – era assim mesmo que se designava e não ainda Província ou Estado como veio a acontecer mais tarde – de lés a lés e a intrépida proeza teve grande repercussão em todo o território. Com verdadeira emoção, em Angola só se falava daquela pesada máquina de madeira que fazia muito barulho e voava com qualquer grande ave. Cartas e telegramas circulavam por todo o rincão angolano gabando a façanha que os poucos e desnutridos jornais da época não se cansavam de glorificar.


Assunto aparentemente desconexo com a história da aviação em Angola, esse congresso esteve, entretanto, na base daquela que foi em termos concretos a primeira “viagem turística” de avião em Angola. Depois dos trabalhos, os congressistas foram convidados para um passeio ao Huambo, terra muito querida pelo então alto-comissário, Norton e Matos. Mas o Huambo era apenas um debutante aglomerado populacional, sede de uma circunscrição civil e centro de um modesto povoamento regional pontuado por núcleos de colonos pioneiros. Nessa altura, não existia ainda estação de comboio como tal! Os excursionistas partiram da capital para o Lobito no navio “Pedro Gomes”, fazendo escala em Novo Redondo, actual Sumbe. Da

cidade portuária, rumaram de comboio especial para o Planalto. As principais personalidades do grupo de viajantes tornaram-se hóspedes do administrador Victorino Casimiro Nogueira, ao passo que outros instalaram-se em bungalows do Estado ou em residências particulares porque hotel era coisa de outro mundo por aquelas paragens! Como recomenda a praxe, as autoridades e os residentes locais esmeraram-se nas hospitalidades e apresentações do que devia ser observado pelos visitantes, principalmente estrangeiros. Desse modo, o programa oficial da visita inscrevia idas às quedas do rio Kuíma e à Unidade de aviação militar. Foi, pois, na visita à base aérea que o comandante e alguns oficiais da esquadrilha tiveram a ideia de proporcionar a alguns visitantes um “passeio pelo ar”. Adentraram o aparelho médicos provenientes do Congo, de Moçambique e da Metrópole, contando-se entre os passageiros uma senhora, a esposa do renomado médico francês Joseph Vassal, chefe dos Serviços Médicos da África Equatorial Francesa, como à época se designava o Congo, sob administração colonial gaulesa. Quase todos faziam o seu “baptismo no ar”, uma vez que, naqueles tempos, as viagens de longo curso eram feitas exclusivamente

de navio. É que, em termos práticos, então a aviação apenas tinha serventia militar. Os excursionistas foram transportados por um “Caudron” tripulado pelo capitãoaviador Emídio de Carvalho, num voo de alguns minutos. De acordo com descrição de um passageiro, no caso o jornalista Mimoso Moreira, era uma aeroplano “construído de «pau e lona», onde os tripulantes enfiavam capacete, traçavam cintos, abrigando-se na capota móvel que servia de «doca»”. E assim, aconteceu o primeiro voo “turístico” ou, se não for exagerado, o primeiro voo civil, transformando o Huambo em “berço” da aviação em Angola, numa altura em que a cidade era apenas embrião daquilo que viria a ser Nova Lisboa. Depois dessas aventuras, passaram-se quase duas décadas para que a aviação civil se concretizasse em Angola, enquanto a aviação militar continuou até aos dias de hoje, sem qualquer interrupção. Fonte: jornal A Província de Angola, de 5 de Março de 1973

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CONTINUA

Ainda no ano de 1923, por proposta do Dr. António Damas Magalhães, chefe dos Serviços de Saúde do Alto-Comissariado, realizouse em Luanda o primeiro Congresso de Medicina Tropical, empresa que teve o melhor acolhimento junto da comunidade científica e não só, devido à quantidade e à qualidade de trabalhos e estudos apresentados. À colónia aportaram inúmeros especialistas portugueses e de outras paragens do Mundo, além, obviamente, dos angolanos.


22 ARQUIVO HISTÓRICO

Breguet 14

Caudon G.3

As primeiras jÓias O Caudron G.3 foi um biplano monomotor construído pelos irmãos Gaston e René Caudron, tendo sido amplamente utilizado na Primeira Guerra Mundial como aeronave de treinamento e reconhecimento. Foi o primeiro avião a realizar um loop em acrobacia aérea, em 1913 e a cruzar os Andes, em 1921. Em Angola destacou-se por um total de seis terem servido o Grupo de Esquadrilhas de Aviação de Angola, entre 1922 e 1924. Este avião foi projetado como um aperfeiçoamento do Caudron G.2 que o antecedeu. Essa aeronave fez o seu primeiro voo em Maio de 1914, no aeródromo Crotoy Le. Possuía uma fuselagem bem característica: biplano; cockpit curto, com o motor fixo ao nariz da nacele; e empenagens múltiplas. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial foi produzido em grandes quantidades:

2.450 exemplares na França, 233 na Inglaterra, e 166 na Itália. Por patriotismo, os irmãos Caudron não cobraram os direitos de licenciamento para a fabricação. Em Portugal, foram utilizados desde a primeira Escola Aeronáutica Militar portuguesa, em 1916. Também foi a primeira aeronave a ser produzida no país, a partir de 1922, sob licença, pelo Parque Militar de Aeronáutica, em Alverca, num total de 50 aviões que complementaram os 6 exemplares adquiridos em França, em 1916. Foram utilizados na Escola Militar de Aviação (EMA), em Sintra e permaneceram em serviço até 1933.

Construído em larga escala e com fabrico contínuo por muitos anos, mesmo após o fim da guerra, foi a primeira aeronave de produção em massa a utilizar grande quantidade de metal em vez de madeira na sua estrutura. Isto possibilitou que fosse mais leve do que as de estrutura de madeira comparadas com o mesmo comprimento, tornando-a mais veloz e ágil para o seu tamanho, capaz de superar muitos dos caças da sua época. Aguentava facilmente muitas avarias, pelo que foi considerado uma das melhores aeronaves da Primeira Guerra Mundial. Este biplano iniciou a carreira no domínio militar, como aeronave de reconhecimento e bombardeamento. O protótipo, que foi posto a voar pelo seu criador, Louis Breguet, em Novembro de 1916, deu origem a uma série de cerca de 4.000 aviões de observação e 1.600 bombardeiros, iniciando o serviço no Verão de 1917.

Além da função bélica, também foi usado no domínio civil. Foram exportados para todo o mundo com o propósito de serem utilizados como aviões de transporte. Possuia cabine fechada, enquanto o piloto tinha a cabeça ao ar livre. O modelo civil 14T permitiu a Louis Breguet criar a Compagnie des Messageries Aériennes. Algumas aeronaves desmilitarizadas foram compradas pela Sociedade Latécoère, depois de o seu patrão, Pierre Latécoère, decidir abrir linhas postais em África e na América do Sul. Depois da guerra, uma versão especial foi desenvolvida para as condições severas encontradas nas travessias oceânicas. Designava-se 14TOE (Théatres des Operations Extérieures).

DTA, a antecessora da TAAG foi ideada ao largo de Cabinda

A companhia gerada no mar!

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uriosamente, foi em pleno mar, num navio, em que a aviação civil ganhou asas para voar em moldes comerciais. Aconteceu concretamente em 1938, aquando da visita do então Chefe-de-Estado

português, marechal Óscar Carmona a Angola. Na ocasião, o aviador Joaquim de Almeida Baltasar organizou uma pequena esquadrilha para saudar com um raide o estadista, cujo navio se achava ancorado ao largo de Cabinda. O gesto causou impressão tal ao visitante que este decidiu receber a bordo os tripulantes.

Ainda na embarcação chegada de Portugal, o ministro da Colónias, Vieira Machado, também emocionado, instou Joaquim de Almeida Baltasar a criar uma companhia aérea em Angola para o que se propôs disponibilizar Esc. 2.700.000,00. Desse modo, nascia da DTA, Divisão de Transportes Aéreos de Angola, sacramentada pela portaria ministerial n.º 11, de 8 de Setembro de 1938, documento publicado no Boletim Oficial do governo-geral de Angola N.º 36, 1.ª série. Após a oficialização do acto administrativo, ficou determinado que a companhia iria funcionar no edifício da direcção dos Portos Caminhos de Ferro e Transportes (PCFT) de Angola. À criação da DTA seguiu-se a compra de três aviões do tipo DH-89A Dragon Rapid e dois Junkers JU-53m, aquisição superiormente autorizada pelo ministro das Colónias. A compra das duas últimas aeronaves, porém, viria a ser cancelada em virtude do rebentamento da II Guerra Mundial. Os alemães chegaram inclusive a disponibilizar a encomenda mas os ingleses proibiram o sobrevoo dos aviões nas suas colónias africanas, no trajecto para Angola.

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Características Fabricante: Breguet Entrada em serviço: 1916 Missão: Reconhecimento e bombardeamento Tripulação: 2 Dimensões: 8,87 mm (comprimento) X 14,36 m (envergadura) Altura: 3,30 m Área (asas): 47,50 m² Peso total: 1.010 Kg Peso bruto máximo: 1.536 kg Propulsão: Motor Renault 12Fe Velocidade máxima: 175 km/h Alcance bélico: 900 km Tecto máximo: 6.000 m Metralhadoras: 3 Bombas: 300 kg

Apesar de ter sido oficializada a criação da DTA, o ano de 1938 não marcou o início da aviação civil em Angola. Na verdade, a actividade debutou antes, a 27 de Junho em 1936, com a criação do Aero Clube de Angola (ACA), fundado pelo coronel Brandão de Melo, pelos capitães Francisco Correia de Barros e Ivo Cerqueira e pelo Dr. José Casanova Pinto. Como se pode confirmar, aqui estão presentes as impressões digitais dos militares... Na sequência da criação do ACA, em 1937 chegou a Luanda o capitão-aviador Joaquim de Almeida Baltasar, a pedido do governador-geral, coronel Lopes Mateus. Para o efeito criara o posto de adjunto militar aeronáutico, com o fito de instruir os candidatos a piloto do recém formado ACA. A missão inicial do tripulante foi uma deslocação a Leopoldeville, hoje Kinshasa, a fim de, na companhia do piloto civil Fernando Albuquerque Sóssa, buscar o primeiro avião para o ACA. Essa aeronave fora adquirida por via de uma subscrição pública promovida pelo jornalA Província de Angola. Tratava-se de um biplano monomotor de fabrico inglês, marca DeHavilland, modelo DH 606 Moss Major, baptizado de “Angola” e inscrito com a matrícula CR-BAA, a primeira da aviação civil angolana. Sensivelmente a meio do ano de1939, três tripulantes angolanos foram a Inglaterra, concretamente a Hatheld, frequentar um curso de conversão para os Dragon Rapid acabados de adquirir. O trio era formado por Reinaldo Dias de Barros (piloto), Francisco Branco (piloto-operador de rádio), Pedro Gomes (pilotomecânico), todos

saídos do ACA e contando cada com pouco mais de 40 horas (!) de voo em aparelhos do tipo Tiger Math. Nesse ano, a DTA adquiriu um mono-motor Klemm K 1 31A (matrícula CR-LAS) para treinamento dos pilotos acabados de entrar na companhia. Em 1940 chegaram finalmente os três Dragon Rapid, os primeiros aviões de transporte detidos pela DTA. Contudo, entre a sua criação e a chegada desses aparelhos, a novel companhia utilizou aviões do ACA para iniciar os seus voos de Luanda-Cabinda-Ponta Negra, transportando essencialmente correio, embora um ou outro passageiro mais destemido e com ligação de hidroavião da transportadora “Aeromaritime Française” arriscasse fazer a viagem. Então, os aviões usados eram o Cesna C37 Airmaster e o DH 85 Leopard Moth, inscritos com as matrículas CRLAC “Luanda” e CR-LAI “Leopardo”, respectivamente. Desse modo, no dia 3 de Maio de 1940 os três aviões foram alvo de um badalado “baptismo” em majestosa solenidade celebrada no aeródromo Emídio de Carvalho – bem próximo ao actual Largo da Independência –, o campo de aviação que em 1955 viria a ser substituido pelo moderno Aeroporto Internacional “Craveiro Lopes”, também conhecido por Belas. Como era usual nessas circunstâncias, fez-se presente o governador-geral Marques Mano, que teve ao seu lado o vigário-geral de Angola, reverendo Manuel Alves da Cunha para a necessária bênção. Com essa lufada de ar fresco, a DTA iniciou finalmente os seus voos regulares a 7 de Julho de 1940, com três rotas diferentes. Tratava-se da carreira do Norte (Luanda-CabindaPonta Negra-Cabinda-Luanda), da do Sul (Luanda-Moçâmedes-Luanda) e da do Leste (Luanda-Lobito-Nova LisboaLobito-Luanda). Os voos para Ponta Negra na então África Equatorial Francesa, hoje República do Congo, eram os únicos para fora da província, os quais permitiam a ligação para a Europa a partir do território sobre alçada gaulesa em hidroaviões da companhia “Aeromaritime Française”. Estes eram muito mais rápidos do que os navios. Nessa época, a companhia francesa operava um serviço postal ao longo costa ocidental africana, tendo começado em 1937 a servir Ponta Negra, donde partia para Paris, com algumas escalas, entre as quais em Dakar (Senegal), que fazia de interface para os voos chegados da América do Sul.

No decurso do ano de 1940 o capitão Joaquim de Almeida Baltasar foi substituído no cargo por Jacinto da Silva Medina. Com a II Guerra Mundial já recrudescida, a companhia ressentiuse imensamente dos seus efeitos, face à grande dificuldade na aquisição de peças de reposição e de combustível. Mas, depois de 1946, terminada a guerra, a companhia cresceu a olhos vistos. Ao ponto de em 1951 servir já regularmente ou por solicitação expressa 32 destinos, dois dos quais além fronteiras, numa extensão total de 5.855 quilómetros de rotas aéreas! Nesse ano, a DTA filiou-se à IATA que acabava de ser criada, tendo adquirido o número 118. Ainda a partir de 1951 a companhia passou a assegurar a extensão do voo da TAP para Loureço Marques (hoje Maputo). Depois disso, o crescimento da DTA nunca mais parou. De sorte que a 22 de Março de 1962 a sua designação era alterada para Direcção de Exploração dos Transportes Aéreos de Angola, ao abrigo do decreto-lei N.º 44.247, do ministro do Ultramar. Para trás ficavam os tempos em que, na Baía dos Tigres, o voo ido de Moçâmedes aterrava na rua principal da cidade, enquanto a igreja fazia as vezes de terminal de passageiros e não raras ocasiões o adro servia de hangar para abrigar as aeronaves das areias das dunas levadas pelas rajadas de vento muito comuns naquela região. Cada vez com aviões mais modernos e novas rotas, foi com naturalidade que em Outubro de 1973 a DTA adoptou a actual designação de TAAG, na sequência de uma reestruturação que a transformou em sociedade anónima. No ano seguinte, encomendou os seus primeiros aviões a jacto, os quais chegaram em Março de 1975, oito meses antes da independência nacional. Todo esse crescimento deveu-se muito à inauguração do novo aeroporto de Luanda na então chamada zona de Belas e ao célere desenvolvimento que Angola registou depois de 1961, ano do início da luta armada para a libertação nacional.

Fontes: jornal A Província de Angola de 5 de Março de 1973 www.voaportugal.org www.taag.com

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CONTINUA

Características Fabricante: Caudron Entrada em serviço: 1914 Missão: Reconhecimento Tripulação: 2 Dimensões: 6,40 m (comprimento) X 13,40 m (envergadura) Altura: 2,50 m Área (asas): 27 m² Peso total: 447 kg Peso bruto máximo: 735 kg Propulsão: Motores Gnome-Rhône Velocidade máxima: 115 km/h Alcance bélico: 360 km Tecto máximo: 3.500 m Metralhadoras: 2 Bambas: 0 kg


24 ARQUIVO HISTÓRICO

Marcos da nossa história aeronáutica 1974 Encomendados à construtora americana os dois primeiros aviões a jacto do tipo Boeing 737-200. Nessa altura a Palanca Negra Gigante foi adoptada como símbolo da companhia, cujas cores dominantes eram o verde e o preto.

1922 O então alto-comissário de Angola, José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos, ordenou a criação de uma esquadrilha de aviação militar que se instalou no Huambo, onde com quatro aviões fez os primeiros voos experimentais, todos no interior do distrito. 1923 Foi realizado o primeiro voo não experimental no mês de Março, cobrindo a distância de quase 400 Km entre o Huambo e Benguela, feito que mereceu viva manifestação de regozijo em terras de O’mbaka. Nesse ano também se realizou aquilo que se pode considerar a primeira “viagem turística” em Angola, quando um grupo de médicos participantes no 1.º Congresso de Medicina Tropical foi convidado a “dar uma volta” pelos céus do Planalto Central. 1936 Criado, em Luanda, o Aero Clube de Angola (ACA), primeira entidade aeronáutica civil. 1937 O ministro das Colónias de Portugal, Vieira de Melo, incumbiu o capitãoaviador Major Joaquim de Almeida Baltazar de dar corpo à primeira companhia de transportes aéreos em Angola, a qual chamou-se Divisão de Transportes Aéreos (DTA). Nesse ano, o oficial superior também foi indicado para ir a Leopoldeville, hoje Kinshasa, buscar um avião adquirido para o ACA. 1938 A DTA foi formalmente criada no mês de Setembro e começou a operar com aeronaves do ACA. 1939 Três piloto viajaram para a Inglaterra a fim de fazerem um curso de adaptação aos aviões Dragon Rapid. 1940 Chegam os primeiros três aviões, de marca Dragon Rapid, adquiridos pela DTA e em Julho desse ano realizaram-se os primeiros voos comerciais regulares no território e além fronteiras. 1944 Comprados no Congo Belga (hoje RDC) dois aviões do tipo Stinson Reliants para cobrir a costa de Angola. O seu tempo de operação

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1975 Oito meses antes da independência chegaram os Boeings encomendados no ano anterior.

foi efémero em razão da falta de peças de reposição e de combustível devido a I Guerra Mundial. 1945 Adquirido um Beechcraft UC 43 Traveler e dois Fairchild PT-26A Cornell, essencialmente usados para treinamento. 1946 A frota cresceu grandemente com a compra no Canadá de três aparelhos do tipo Douglas DC-3, os conhecidos Dakota. Nesse ano foram ainda adquiridos cinco Beechcraft D-18S novos, o que fez crescer a frota para 15 aeronaves. 1948 Mis três Dakotas foram comprados, sendo dois oriundos Companhia de Transportes Aéreos (CTA), então em vias de extinção. 1950 Acontece o primeiro acidente grave da DTA, traduzido na perda de um Dakota que se despenhou num voo entre o Lobito e Nova Lisboa. Nesse ano e até 1954 a companhia garantiu a extensão do voo da TAP até a actual Maputo, antiga Lourenço Marques. 1953 Ocorreu em Outubro a filiação na Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) e adquiriu mais dois Dakotas, vendidos por uma companhia canadiana. 1955 Inaugurado o aeroporto internacional “Craveiro Lopes”, o

actual “4 de Fevereiro”, em Luanda. 1960 Saíram de serviço os primeiros aparelhos adquiridos pela DTA, os Dragon Rapide. 1961 A DTA modernizou-se com a encomenda de dois Fokker F-27 MK-200 Friendship 1962 Chegaram a Angola os aviões encomendados dois anos antes. O naipe de Fokker’s subiu para sete até 1972, ano em que também perdeu em acidente no Lobito o seu primeiro aparelho desse tipo. Nesse sinistro sobreviveram três pessoas, uma das quais o antigo basquetebolista Vítor Alves, entrevistado por AngolaSim na edição de Maio de 2013. É também nesse ano que a DTA ganha nova designação, passando a chamarse Direcção de Exploração dos Transportes Aéreos de Angola, ao abrigo de um decreto-lei do ministro do Ultramar. Manteve, porém, o acrónimo. 1973 Após um processo de reestruturação a DTA passa a denominar-se Transportes Aéreos de Angola (TAAG) tornando-se sociedade anónima detida governo de Angola (51%), TAP (29%) e trabalhadores (20%). Iniciou nesse ano os voos para Windhoe e São Tomé. Um novo logótipo foi criado e nova pintura para toda a sua frota.

1976 A companhia foi nacionalizada pelo governo de Angola independente e adoptou uma nova identidade visual, com a Palanca Negra Gigante a ser estilizada de outra forma e imperar as colores laranja, vermelho e preto. 1980 – A TAAG adquiriu o novo Boeing 707. 1986 A TAAG alcançou a marca do milhão de passageiros, uma vez que as ligações eram essencialmente feitas por via aérea devido a guerra civil no país. 1991 Foram criadas duas novas subsidiárias da TAAG, designadamente Angola Air Charter, dedicada a voos fretados, transporte de carga e voos não calendarizados, e a Sociedade de Aviação Ligeira, virada para serviços de táxi aéreo e voos especializados com múltiplos propósitos. 1997 No mês de Julho, a companhia adquiriu o seu primeiro BOEING 747, baptizado “Cidade do Kuito”, em honra do povo mártir dessa cidade. 2006 A TAAG fez a sua maior compra ao adquirir de uma só sentada cinco aeronaves, designadamente três Boeing 737-700NG e dois Boeing 777-200E. Quando a 11 de Novembro um dos Boeings 777200ER chegou a Luanda quebrava um recorde mundial no seu voo inaugural de Seattle para Luanda, ao voar 16 horas e 40 segundos sem reabastecer. Também foi quebrado um recorde do fabricante por ter sido esta a primeira ocasião em que cinco novos aviões foram entregues de uma só vez.



26 ECOMOMIA

Angola reforça vantagem sobre a Nigéria na venda de petróleo aos EUA

A

ngola exportou diariamente para os Estados Unidos, em Agosto do corrente ano, 129 mil barris de petróleo, cerca de duas vezes e meia mais do que a Nigéria, com a qual disputa o título de maior produtor da África sub-saariana. De acordo com os dados da unidade de estatística (EIA) do Departamento de Energia norteamericano, a que a agência Lusa teve acesso, as entregas diárias de petróleo angolano aos Estados Unidos cifraram-se em 129 mil barris em Agosto último. Estes números mantêm Angola como principal fornecedor do mercado americano na África sub-saariana, mas representam uma quebra face a Julho, quando o país exportou diariamente 159 mil barris de petróleo. Já o fornecimento nigeriano continua em forte quebra, passando de 187 mil barris diários, em Abril, para 61 mil e depois 48 mil barris, respectivamente em Julho e Agosto, segundo os mesmos dados da EIA. Diariamente, em Agosto, os Estados Unidos importaram 9.309 milhões de barris de petróleo. Ou seja, menos 163 mil barris diários, face ao mês anterior.

Em relação ao nosso país, estes números confirmam a tendência do primeiro semestre, quando exportou diariamente, em termos médios, 131,1 mil barris de petróleo, tornandose no maior fornecedor americano de produtos petrolíferos na África subsaariana, destronando então a Nigéria. Em 2014, as entregas diárias de petróleo de Angola aos Estados Unidos variaram entre mínimos de 94 mil barris, em Janeiro, e

máximos de 178 mil barris, em Maio. Já a Nigéria, que está à frente de Angola na produção petrolífera global na África subsaariana, vendeu ao mercado americano, em média, 113,3 mil barris de petróleo por dia no primeiro semestre do ano, segundo os dados da EIA. Os números também reflectem uma quebra generalizada nas compras americanas do petróleo africano, mas com Angola a conseguir minimizar esse efeito. O desenvolvimento de tecnologias alternativas ao petróleo convencional, como o gás de xisto, é apontado pelos analistas como estando na origem da quebra nas importações dos Estados Unidos desde África. Entretanto, a Agência Internacional de Energia divulgou uma previsão, apontando que Angola será o maior produtor de petróleo da região entre 2016 e 2020, destronado a Nigéria. Para tal, Angola necessita de atingir a marca de dois milhões de barris produzidos por dia. O registo actual ronda os 1,8 milhões de barris diários.

Diamantes renderam o equivalente a € 52 milhões em impostos até Setembro

O

Estado angolano arrecadou mais do equivalente a € 52 milhões em impostos sobre a venda de diamantes entre Janeiro e Setembro do corrente ano, indicam dados do Ministério das Finanças. De acordo com os números em referência, Angola exportou em nove meses mais de 6,5 milhões de quilates de diamantes, um acréscimo superior a 171 mil quilates em comparação com o mesmo período de 2013. Em termos de receitas fiscais, Angola arrecadou, com estas vendas, AKZ 6.480 milhões (mais de € 52 milhões). Trata-se, segundo informação do Ministério das Finanças compilada pela Lusa, de um aumento que ronda os € 11 milhões em comparação com o período entre Janeiro e Setembro de 2013. As receitas deste ano resultam do pagamento de imposto industrial, no valor de AKZ 3.206 milhões (€ 25,7 milhões), e de royalties, no valor de AKZ 3.273 milhões de (€ 26,3 milhões).

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Até Setembro, cada quilate foi vendido por Angola a um preço médio de 146,84 dólares (117,2 euros), quando a média de 2013 se cifrou em 135,95 dólares (108,5 euros). A produção angolana de diamantes está avaliada em cerca de 8,3 milhões de quilates por ano, correspondendo a uma receita bruta perspectivada na ordem de 1,1 mil milhões de dólares (cerca de 870 milhões de euros). A produção de diamantes em Angola - o segundo produto de exportação a seguir ao petróleo -, em termos de actividade industrial e artesanal, é gerida pela empresa pública Endiama, concessionária do sector. No caso da produção artesanal, a actividade pode ser desenvolvida, segundo informação da concessionária, com recurso a enxadas, catanas, pás e picaretas, exclusivamente através de “métodos e meios artesanais, não mecanizados e sem tecnologia mineira industrial”. A actividade de exploração artesanal é permitida mediante um título designado por “senha mineira”, acessível

apenas a cidadãos angolanos. O Ministério da Geologia e Minas, liderado por Francisco Queiroz, fixou a meta de aumentar a produção total de diamantes, até 2015, em termos médios, em cinco por cento ao ano.


Sonangol vende petróleo à Indonésia a partir de Janeiro de 2015

A

estatal Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) pretende começar a vender petróleo em rama à Pertamina, a sua congénere da Indonésia, a partir de 2015, disse recentemente em Jacarta o presidente do conselho de administração da empresa angolana, Francisco de Lemos José Maria. A Indonésia não tendo conseguido atrair suficiente investimento para procurar inverter a tendência de queda que se regista na produção petrolífera do país, actualmente cerca de metade do pico de 1,6 milhões de barris registados em 1995, quando necessita de cinco vezes mais para atender às necessidades e consumo da sua população e da indústria. Angola, por seu turno, tem actualmente uma produção de 1,6 milhões de barris por dia e pretende aumentá-la a curto prazo para 2 milhões de barris. O presidente da Pertamina, Muhammad Husen, disse que a empresa está a analisar a eventual constituição de uma parceria em três ramos distintos – a jusante da extracção, refinação e

SONANGOL vende direitos de projectos a empresas nacionais

comercialização e acrescentou “estamos a pensar iniciar a importação no início de 2015.” Por seu turno, Francisco de Lemos José Maria disse ainda que caso seja alcançado um acordo os envios de petróleo podem iniciar-se dentro de dois a três meses e acrescentou que as partes estão a discutir a possibilidade de construir uma refinaria na Indonésia, com uma capacidade entre 200 mil e 300 mil barris por dia. No imediato, as duas empresas estatais assinaram no final de Outubro um acordo quadro de cooperação, no âmbito da visita à Indonésia do vice-presidente de Angola, Manuel Domingos Vicente.

A Sonangol vai repassar para empresas nacionais as participações que detém em cinco projectos petrolíferos, que estão em vias de desenvolvimento. A medida da concessionária nacional de combustíveis visa promover a inserção de empresas nacionais no processo de desenvolvimento da actividade petrolífera em Angola. De acordo com o administrador da Sonangol para o desenvolvimento industrial e conteúdo local, Mateus Neto, o processo vai dar-se por meio de um concurso público. “A Sonangol vai explorar cinco blocos e nós pensamos o seguinte; em cada um dos blocos onde a Sonangol vai entrar com 50 por cento de investimento, em caso de haver sucesso pensamos em vender parte dos nossos direitos, através de um concurso público limitado, às empresas nacionais para fomentar o empresariado nacional”, informou o responsável da petrolífera angolana.

CEEIA debate internacionalização das empresas angolanas em fórum

A

Comunidade de Empresas Exportadoras e Internacionalizadas de Angola (CEEIA) realizou, em Luanda, no princípio do corrente mês o Fórum “Importância da Internacionalização e Exportação de Empresas Angolanas”, no âmbito das comemorações do seu primeiro aniversário, celebrado a 6 de Novembro. O fórum abordou a internacionalização das empresas angolanas, bem como o impacto das exportações de produtos nacionais na diversificação da economia angolana. Tratou ainda de consolidar as relações existentes com os membros da CEEIA, ao mesmo tempo que enalteceu a importância de apoiar a internacionalização das empresas nacionais, como forma de levar além-fronteiras os produtos com o selo “Feito em Angola” e de potencializar os negócios dos empresários particulares. Marcaram presença no evento ilustres convidados como membros do Executivo Angolano, membros da CEEIA, empresários, entidades interessadas na internacionalização e esteve igualmente presente o embaixador de Portugal em Angola, Felipe Lampreia, que realçou a importância da internacionalização e das exportações de Angola para um desenvolvimento e crescimento sustentado do país dado ao grande potencial que apresenta

em indústrias. Agostinho Kapaia, Presidente da CEEIA, referiu na ocasião que “Angola tem imensas potencialidades para produzir em vários sectores da economia, permitindo a exportação de produtos e serviços para outros países e levando além-fronteiras a imagem do nosso País. Este Fórum representa um incentivo aos empresários nacionais para continuarem a investir na internacionalização dos seus produtos, apresentando as vantagens da internacionalização dos produtos nacionais como estímulo para o crescimento económico e empresarial de Angola.”“Compete à CEEIA, apoiar o empresariado nacional na sua luta de expansão para outros mercados, de forma a fomentar o crescimento e a dinamização da economia nos sectores não petrolíferos”, referiu Agostinho Kapaia. A temática da “Importância da Internacionalização e Exportação de Empresas Angolanas”, abordada no presente Fórum, foi de encontro aos desafios do Executivo Angolano propostos no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, no sentido de abrir portas para a internacionalização dos produtos “Feito em Angola”. O Fórum “Importância da Internacionalização e Exportação de Empresas Angolanas” contou com o apoio institucional do Ministério da Economia e do Instituto do Fomento Empresarial, assim como com o suporte do Grupo Opaia, Bongani Energia e Ensa como patrocinadores. A Comunidade de Empresas

Exportadoras e Internacionalizadas de Angola conta actualmente com 27 Membros. Em 2014 a CEEIA registou um crescimento de 16% das exportações angolanas nos sectores não petrolíferos, um valor acima do objectivo estipulado pelo Plano Nacional de Desenvolvimento que estabelece como meta um crescimento anual de 9,5%. Os Emirados Árabes Unidos e a Suíça absorvem a maior parte das exportações angolanas, quase 75%. Os principais produtos exportados são pedras preciosas, reactores nucleares, aparelhos e instrumentos mecânicos, obras de ferro fundido, ferro ou aço, peixes, crustáceos, moluscos, instrumentos e aparelhos de óptica, medida, controle ou de precisão, entre outros. Para potencializar ainda mais as exportações angolanas foi proposta a reabilitação e o reforço de infra-estruturas, a promoção internacional da marca “Feito em Angola”, a implementação de sistemas de qualidade e segurança industrial para o cumprimento das normas dos mercados-alvo, a promoção da cultura exportadora, criação de sistema de incentivos à expansão do comércio externo, e realização de acções de diplomacia comercial. Recorde-se que a criação da CEEIA foi impulsionada pelo Instituto do Fomento Empresarial (IFE) e permite representar algumas das mais importantes empresas angolanas no estrangeiro. O IFE é a entidade que a representa junto do Ministério da Economia de Angola. A REVISTA MENSAL DE ANGOLA


28 ECOMOMÍA

OGE para 2015 investe no sector social O titular da pasta das Finanças afirmou que o referido deficit deverá, essencialmente, cobrir a despesa de capital (investimentos que em momento nenhum podem ser paralisados, dada a sua importância para alterar o quadro do ambiente de negócios da economia nacional). O referido crédito deverá ser financiado com recurso ao financiamento interno e externo, sendo que as actividades do crédito estão já mobilizadas. Considerou ser um exercício que o Executivo foi fazendo ao longo do ano em curso, criando as condições necessárias para o efeito. “É dos grandes investimentos da carteira do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013/2017”, assegurou.

Função social concentra despesas

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proposta de Lei do Orçamento Geral do Estado (OGE) para o exercício económico de 2015 foi debatida recentemente pelo Conselho de Ministros e prevê receitas na ordem de AKZ 4.017 triliões e despesas aproximadas no valor de AKZ 5.200 triliões. Por altura do fecho da presente edição, estava na comissão de especialidade da Assembleia Nacional, que a aprovou por maioria absoluta. Segundo o ministro das Finanças, Armando Manuel, que falava no final da 9ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, o diferencial entre as receitas e as despesas consubstanciase no deficit orçamental. Referiu que não obstante o quadro incerto da economia global, o sector económico do país deverá verificar um crescimento satisfatório no exercício de 2015. De acordo com o governante, essa perspectiva de crescimento foi tomada como uma das referências dominantes da proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) do próximo ano económico. “Temos estado a assistir um aumento significativo da oferta do petróleo decorrente da reanimação da economia americana e do baixo crescimento da China, fazendo com que o país asiático importa menos”, frisou. Referiu que o excesso de oferta está a dar lugar ao remanescente e, por força do equilíbrio entre a procura e a oferta, resulta na baixa do preço do crude no mercado internacional. Nessa perspectiva, declarou que como pressuposto para

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Ainda quanto à composição da despesa, o ministro Armando Manuel disse que o exercício 2015 deverá concentrar-se na Função Social, que deve absorver 34 porcento da despesa total. Depois na função social, segue-se os Serviços Públicos que irão absolver 17,93% da despesa total. Já os Serviços Económicos deverão absorver 14.52%, enquanto os órgãos de Defesa e Segurança vão ficar com 14.12 %. OGE de 2015 teve-se em conta um preço médio do petróleo na ordem de 81dólares por barril. Armando Manuel garantiu que em 2015 o “executivo continuará a desencadear políticas com vista a assegurar a estabilidade e a redução dos preços no mercado interno”. O sector não petrolífero continuará a crescer, afirmou. Disse tratar-se de um crescimento esperado na casa dos 9.2%, o que agregado ao crescimento de 10.7% do sector petrolífero vai permitir uma taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 9.7.

Baixa do Preço do Petróleo

Relativamente à baixa do preço do petróleo, que se regista no mercado internacional, Armando Manuel disse que o abaixamento da receita num valor aproximado a dez mil milhões de dólares americanos, levou o governo a ajustar a composição da despesa. Realçou ser nesse quadro que se prevê assegurar os programas de continuidade e limitar a entrada de novos projectos, pelo facto da receita não petrolífera não ser, ainda, suficiente para fazer face a uma perda significativa na receita petrolífera. Esse quadro, prosseguiu o ministro, coloca o país perante o alargamento do deficit público. “Aqui a receita fiscal deverá representar 31 porcento do PIB, devendo corresponder a 38.6 % do Produto Interno Bruto, o coloca o orçamento perante um deficit na ordem de 7.6% do PIB”, explicou.

Limitação de algumas despesas

Referiu que na sequência da baixa do preço do petróleo que afecta o nível de despesas e de receita fiscal do país, devem ser limitadas um conjunto de despesas no próximo ano económico. Fruto dessa realidade, no exercício 2015 vão ser cativados projectos para os quais não se tiver garantias de fonte de financiamento e posteriormente poder desactivá-los logo que seja confirmado financiamento.

Limitação de novas admissões

Com excepção dos sectores da saúde e educação, o documento, que deverá ir a votação para aprovação na Assembleia Nacional, prevê limitar novas admissões e processos de promoção nas empresas públicas. Com isso, referiu Armando Manuel, deverá ser prestada maior atenção aos concursos públicos, de modo a que a afirmação de preços dos contratos possam conhecer patamares mais realistas e racionais que permitem assegurar a sustentabilidade da política fiscal. “Deveremos continuar a utilizar um conjunto de despesas, como subsídios, de tal modo a manter a função social, por estar associada ao nível de vida das pessoas”, afirmou.


ACTUALIDADE

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30 ENTREVISTA

Dr. José

Pedro

director do Instituto de Língua Nacionais

Falta dar maior espaço e protecção jurídica às línguas nacionais”

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s línguas nacionais são um importante elemento identitário da angolanidade. São também uma prova inequívoca de resistência ao colonialismo português, pois mesmo após cinco séculos de subjugação, os povos de Angola continuaram a falar os seus idiomas nativos, o que é algo bastante significativo. Terá sido, eventualmente, por essas razões que, em 1987, o Conselho de Ministros reputava as línguas nacionais como “suporte e veículo das heranças culturais” que “exigem um tratamento privilegiado, pois constituem um dos fundamentos importantes da identidade cultural do povo angolano”, como consta do preâmbulo da Resolução 3/87 de 23 de Maio daquele órgão. Antes disso, já em 1980, o Instituto Nacional de Línguas publicava a obra «Histórico Sobre a Criação dos Alfabetos em Línguas Nacionais» que tornou possível esboçar, pela primeira vez, os sistemas fonológicos e projectos de alfabetos das línguas Kikongo, Kimbundu, Cokwe, Umbundu, Mbunda e Kwanyama (Oxikwanyama). Em 1985, o Instituto de Línguas Nacionais procedeu à revisão dos referidos sistemas fonológicos e projectos de alfabetos, que culminou com a elaboração de uma brochura intitulada “Esboço”, entretanto, ainda por publicar. Tudo isso levou a que em 2012, na sequência de um seminário realizado pelo Instituto de Línguas Nacionais (ILN) em parceria com o Centro de Estudos Avançados de Sociedades Africanas (CASAS) fosse publicado um obra intitulada “Harmonização Ortográfica das Línguas Nacionais de Angola”. Para elucidar-nos sobre a problemática das línguas nacionais entrevistamos o Dr. José Pedro, director do ILN. Quadro sénior do ministério da Cultura, ele é doutorado em linguística africana pela prestigiada Universidade de Sorbone, em França. Por isso, é uma autoridade na matéria. Daí a nossa escolha.

AngolaSim (AS) – Qual é neste momento a situação das línguas nacionais? José Pedro (JP) – As línguas nacionais continuam a ser estudadas do ponto de vista científico, pelo Instituto de Línguas Nacionais e a serem implementadas gradualmente no sistema de ensino através do Instituto de Investigação e Desenvolvimento do Ensino (INIDE) do Ministério da Educação e da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto. Também estão bem ao nível da Rádio Nacional de Angola e da Televisão Pública de Angola. AS – Há algum risco de algumas línguas nacionais, como o Kimbundu, por exemplo, desaparecer? JP – Uma língua só desaparece quando ela deixa de ser utilizada, e não me parece que seja o caso das nossas línguas nacionais. O que falta é dar-lhes maior espaço e protecção jurídica. Aguardamos até hoje pela aprovação do Estatuto das Línguas Nacionais que depois de ter sido aprovado pelo Conselho de Ministros e pela Assembleia Nacional, na generalidade, aguarda pela sua discussão na especialidade. AS – Em cidades como o Huambo e Menongue, por exemplo, ainda é comum ouvirmos pessoas comunicando-se no idioma nativo, o que há muito não acontece em Luanda. Até que ponto isso preocupa as autoridades, incluindo o ILN? JP – As cidades do interior do país não sofreram tanto assim a influência do português como as cidades do litoral, em geral, e a de Luanda, em particular. Luanda é a capital do país, é o centro do poder político, o português é a língua oficial, enfim tudo isso conta muito. Antigamente Luanda era habitada por falantes de Kimbundu. Devido à situação de guerra que o país viveu, Luanda tem hoje falantes de quase todas as línguas nacionais.

AS – O que acha que deva ser feito para mantermos vivas as nossas línguas nacionais? Neste sentido quais são as políticas do ILN? JP – Para que as nossas línguas nacionais se mantenham vivas é necessário que elas sejam utilizadas nos mais variados domínios da vida pública nacional sem qualquer descriminação em relação ao português. É preciso a adopção de uma política de complementaridade entre as línguas nacionais e o português. Temos de reconhecer que o nosso país, como qualquer outro país africano plurilingue, não se desenvolve sem a participação das suas línguas nacionais. AS – Na verdade, quantas línguas nacionais temos e em que regiões são faladas? JP – Juridicamente falando, a Resolução nº 3/87 de 23 de Maio do Conselho de Ministros aprovou a título experimental os alfabetos de seis línguas nacionais, a saber, Kikongo, Kimbundu, Cokwe, Mbunda e Oshikwanyama. Na verdade, hoje reconhecemos que para além destas línguas há outras cujas descrições científicas ainda não foram concluídas. Deixa-me dizer-lhe que cada uma das línguas nacionais desdobra-se num certo número de variantes ou dialectos e, em muitos casos, nem sempre é fácil a distinção entre língua e variante. Daí a dificuldade na identificação do número exacto de línguas nacionais existentes no país. De uma maneira geral, sabemos que em Cabinda fala-se Ifyoti, no Zaire e no Uíje, Kikongo; em Malanje, Kimbundu e Songo; no Kwanza Norte, Kimbundu; no Kwanza Sul, Kimbundu e Umbundu; no Bengo, Kimbundu; no Bié, Huambo e Benguela, Umbundu; na Lunda Norte, Cokwe e Lunda; na Lunda Sul, Cokwe; no Moxico, Cokwe, Luvale, Lunda, Mbunda e Lucazi; no Kwando Kubango, Nkung e Ngangela; na Huila, Olunhyaneka e Umbundu; no Cunene, Oshikwanyama; no Namibe, Oshihelelo; e em Luanda, Kimbundu e quase todas as outras línguas nacionais.

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32 ENTREVISTA

O futuro das línguas nacionais é de muita esperança”

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AS – Quais as principais resoluções tomadas no Encontro de Línguas Nacionais realizado em Setembro no Kuando Kubango? JP – É verdade. De 8 a 10 de Setembro de 2014, realizamos na província do Kwando Kubango, o V ENCONTRO SOBRE AS LÍNGUAS NACIONAIS, no âmbito das actividades do II Festival Nacional de Cultura, o FENACULT 2014. O V Encontro teve debruçou-se sobre a “Harmonização Ortográfica das Línguas Nacionais” e teve uma grande participação quer de Membros do Governo Provincial, Entidades Religiosas, Autoridades Tradicionais, Professores Universitários, Directores Provinciais da Cultura ou seus representantes, Locutores da Rádio Nacional de Angola (Rádio Ngola Yetu), ANGOP, Jornal de Angola e da TPA, bem como representantes da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto, do INIDE, da Sociedade Bíblica de Angola, da Comunidade San e outros convidados. No final dos trabalhos os participantes recomendaram a utilização da ortografia harmonizada das línguas Bantu, uma ortografia utilizada em todos os países da zona Bantu que vai do Sul dos Camarões até a África do Sul. Trata-se de uma ortografia simples, prática e económica, onde reina o princípio segundo o qual «para cada som uma única grafia». AS – Que futuro augura para as nossas línguas nacionais? JP – Em Angola, por exemplo, o futuro das línguas nacionais é de muita esperança, olhando para as medidas tomadas e que vêm sendo tomadas pelo governo. Estou a falar, por exemplo, na inserção das línguas nacionais no sistema de ensino, da alfabetização em línguas nacionais, da criação do Instituto de Línguas Nacionais para o estudo científico das línguas nacionais, do ensino de quatro línguas nacionais na Faculdade de Letras, da organização pelo Ministério da Cultura de vários debates sobre a importância das línguas nacionais, etc., etc. AS – A maior parte da população angolana está radicada nos principais centros urbanos, onde praticamente só há comunicação em português. O que isso pode representar para as línguas nativas? JP – A maior parte da nossa população tem como língua materna uma língua nacional. Embora a comunicação oficial seja feita em português, a comunicação do dia a dia das nossas populações é feita nas línguas que elas melhor dominam que, tal como disse, é sempre uma língua nacional, na sua maioria. AS – Enquanto director do ILN pode explicar-nos qual a razão por que

nos últimos tempos a comunicação social voltou a grafar os topónimos nativos à moda portuguesa. Cuanza Sul, Cuando Cubango, rio Cuanza e por aí adiante… JP – Isso é um assunto que só o MAT poderá explicar e que ainda se encontra em discussão e análise. AS – Parece-me que o Centro Internacional de Civilização Bantu (CICIBA) e o sistema de Alfabeto Fonético Internacional (AFI) têm normas claras e devidamente estabelecidas para a escritas das línguas bantu. O que falta para serem aplicadas em Angola? JP – Quer o CICIBA como a Academia Africana de Línguas (ACALAN), uma instituição da União Africana para as questões de línguas, que são referências obrigatórias em matéria de línguas africanas, ou qualquer outra instituição africana vocacionada para o estudo das línguas africanas defendem o mesmo princípio que anteriormente citamos, ou seja, «para cada som uma única grafia». AS – Qual o caminho, quais as políticas a seguir para que as novas gerações falem os idiomas nativos, tendo em atenção que quase não leem e estão mais ligados às novas tecnologias, onde a presença das línguas nativas é nula? JP – Sobre isso, a ACALAN apontou caminhos muito claros sobre as políticas a seguir, sendo o principal, o desenvolvimento das línguas nacionais com vista a sua utilização nos vários domínios, em particular na educação, comunicação, tecnologia e legislação. AS – O ILN tem noção exacta ou vaga de quantos falantes de línguas nacionais há em Angola? JP – Antes era difícil, mas agora com a realização muito recentemente do Censo da população é só uma questão de aguardarmos pela publicação dos resultados do mesmo no que diz respeito às línguas faladas no país. Deixa-me dizer-lhe que o Instituto Nacional de Estatística foi bastante inteligente ao integrar nas suas equipas de trabalho uma equipa constituída por falantes das várias línguas nacionais, o que permitiu uma maior participação das nossas populações no processo do Censo. Esta equipa trabalhou sem poupar esforços, atendendo telefonemas vindos de vários cantos do país para esclarecimentos sobre o Censo.

JP – Trata-se de um processo que vem sendo conduzido pelo INIDE do Ministério da Educação e que agora chegou a vez da província de Cabinda integrar o processo de «Estratégia de Inserção das Línguas Nacionais no Ensino Primário». AS – Que condições há (material didáctico e sobretudo professores) para outras províncias seguirem o exemplo de Cabinda? JP – É o contrário. Cabinda é que está a seguir as outras províncias.

A figura Nome: José Domingos Pedro Nascimento: 09 de Dezembro de 1962 Naturalidade: Bairro Prenda, Município da Maianga, Província de Luanda Formação Académica: Doutorado em Linguística Africana pela Universidade René Descartes, de Paris V, Sorbone (França). Profissão: Docente universitário e Investigador Ocupação: Director Geral do Instituto de Línguas Nacionais do Ministério da Cultura Estado Civil: Solteiro Filhos: Cinco filhos Prato Preferido: Cozido de corvina Bebida Preferida: Sumo de múkwa Sonho: Erradicação do analfabetismo em Angola Passatempo: Leitura e música.

AS – A província de Cabinda decidiu que a partir do próximo ano haverá aulas de Ifyoti nas escolas locais. O que isso efectivamente representa para a manutenção das línguas nacionais?

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34 CENSOS Dados preliminares do Censo da População e de Habitação’2014

Quase “meio país” vive em Luanda! Sousa Fernandes

O

ponto mais alto do discurso do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, durante a alocução sobre o “Estado da Nação” proferida na abertura da 3.ª Sessão, da 3.ª Legislatura da Assembleia Nacional, foi a divulgação parcial dos resultados preliminares do Censo da População e de Habitação realizado entre 16 e 31 de Maio último. Na ocasião, o Chefe de Estado lançou apenas os dados mais importantes, sendo o principal o número de habitantes do país e da sua capital. Mas o Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou, pouco depois do discurso do titular do poder executivo, os resultados preliminares do Censo’2014. De acordo com os dados divulgados, o número de habitantes de Angola é de 24.383.301, residindo a maioria na área urbana. Esta totaliza 15.182.898, o que equivale a 62,1 %, residindo 6.542.944 na capital, Luanda, número equivalente a 26,9 %. Nas áreas rurais do país vivem 9.200.403, o que representa 37,9 %. Globalmente, as mulheres estão em maioria, sendo a sua população de 12.579.813 (52 %) contra 11.803.488 homens (48 %). Apesar de ser a província mais pequena, nos seus 18.834 Km2, Luanda alberga mais pessoas do que qualquer outra. Na verdade, nenhuma das outras chega a 10 % do total dos habitantes de Angola. Com os principais centros urbanos do país – Huíla (9,7 %), Benguela (8,4%), Huambo (7,8 %) Kwanza Sul (7,4 %), Uíje (5,9 %) e Bié (5,5 %) –, a capital acolhe 71,5 % do total da população vivente em Angola. Em contraponto, Bengo figura como a província com menor número de habitantes, vivendo nela apenas 351.579, equivalente a 1,4 % do total. Abaixo dos 3 % acham-se outras seis províncias. São Kwanza Norte com 427.971 (1,8 %), Namibe com 471.613 (1,9 %), Kwando Kubango, com 510,369 (2,1 %), Lunda Sul com 516.077 (2,1 %) Zaire, com 567.225 (2,1 %) e Cabinda com 688.285 (2,8 %).

Todas estas províncias albergam apenas 3.181,54 de pessoas, perfazendo 12,8 % do total, num espaço territorial de 430.438 Km2, que representa 34,52 % de toda a extensão territorial do país, de 1.246.700 Km2. A densidade populacional global do país é baixa, pois só 19 pessoas vivem em média num Km2. E nesse capítulo, os extremos são efectiva e diametralmente opostos. Dada a relação directa entre a sua superfície e o número de habitantes, Luanda possui a maior densidade populacional, contando 347,4 habitantes por Km2, uma situação que pode ser facilmente explicada pelas construções verticais e também pelo êxodo rural determinado pela guerra, uma vez que a capital tornou-se no porto seguro dos deslocados. Nesse quesito, seguem-se Cabinda (94,4), Huambo (56,9), Benguela (51,9), Kwanza Sul (32,3). Aqui, apesar de ser a segunda província mais populosa do país, a Huíla tem uma densidade de apenas 29,9 pessoas por Km2, ocupando o sexto lugar da categoria, no que é seguido pelo Uíje, com 22,9. Outrora considerada “Terras do Fim do Mundo”, o Kwando Kubango é, em contraponto, a que apresenta a mais baixa densidade populacional, apesar da sua potencial riqueza hídrica e mineral, assim como da imensidão de terras aráveis. Foi, porém, durante o conflito armado, das mais afectadas. Aqui, aliás, travaram-se das mais importantes batalhas da nossa história recente, tais como as do Kuito Kwanavale e de Mavinga. Nessa província do extremo Sudeste de Angola a densidade é de 2,5 habitantes por Km2. Quem também não anda muito longe disso é o Moxico, com 3,6 pessoas por Km2, seguido por Lunda Sul (6,2) e Lunda Norte (8,1). As quatro totalizam 603.468 Km2 e representam quase metade da totalidade do território angolano. Ou seja, uma média de 19,4 % dos habitante vive numa imensidão de 48,40 %! Quanto ao índice global de masculinidade do país, é de 94. Trata-se do rácio entre homens e mulheres, o que quer dizer que em toda Angola há 94 homens para cada 100 mulheres. Os

números divulgados pelo INE revelam que esta tendência é transversal a todo o país, havendo apenas uma execepção. É a província da Luanda Norte, onde existem 105,7 homens para cada 100 mulheres. Esta é uma situação que pode encontrar explicação no grande número de garimpeiros de diamantes, idos de várias pontos do país e até do estrangeiro, quase sempre desacompanhados da família. Ainda no que diz respeito ao índice de masculinidade, a província que se acha mais próxima da Lunda Norte é o Zaire (98,8), seguido do Bengo (98,4) e da Lunda Sul (96,7). Nesse item, o Cunene tem o menor rácio, sendo de 87,6 homens para 100 mulheres. A outra província que está abaixo dos 90 é Benguela, com 89,4 e próximo disso acham-se Huambo e Huíla, ambos com 90,3, assim como o Bié, com 90,6. Os dados sobre habitação, agregados familiares e outros como internet, telefone, etc. serão divulgados dentro de poucos meses. Após este último passo, deixarão de ter validade os resultados preliminares que nos serviram de elementos-base para o presente texto. Vários órgãos empenharam-se na árdua tarefa, destaca-se o Conselho Coordenador do Censo, coordenado pelo Presidente da República, e a Comissão Interministerial de Apoio ao referido conselho, coordenado pelo ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República. Outros órgãos foram o Gabinete Central do Censo e os grupos técnicos provinciais, municipais e comunais do Censo. Este foi o primeiro Censo realizado após a independência do país em 1975 e no qual estiveram envolvidos 105 mil agentes a trabalhar nas mais diversas áreas. O último aconteceu em 1970 e contabilizou a população de Angola em 5.646,166 de habitantes. Doravante e seguindo as norma das Nações Unidas para a questão, o Censo será realizado a cada 10 anos


População residente por província e área de residência, segundo o sexo Província/Área Total Homens Mulheres de Residência N.º % Nº % Nº % Angola

24 383 301

100

11 803 488

100

12 579 813

100

Urbana

15 182 898

62,3

7 373 503

62,5

7 809 395

62,1

Rural

9 200 403

37,7

4 429 985

37,5

4 770 418

37,9

Cabinda

688 285

2,8

337 068

2,9

351 217

2,8

Zaire

567 225

2,1

281 892

2,1

285 333

2

Uíge

1 426 354

5,9

698 958

5,9

727 396

5,8

Luanda

6 542 944

26,9

3 205 346

27,2

3 337 598

26,6

Cuanza Norte

427 971

1,8

208 933

1,8

219 038

1,7

Cuanza Sul

1 793 787

7,4

865 021

7,3

928 766

7,4

Malanje

968 135

4

471 788

4

496 347

4

Lunda Norte

799 950

3,3

411 030

3,5

388 920

3,1

Benguela

2 036 662

8,4

961 484

8,2

1 075 178

8,6

Huambo

1 896 147

7,8

899 690

7,6

99 6457

7,9

Bié

1 338 923

5,5

636 370

5,4

702 553

5,6

Moxico

727 594

3

353 986

3

373 608

3

Cuando Cubango

510 369

2,1

247 983

2,1

262 386

2,1

Namibe

471 613

1,9

227 653

1,9

243 960

1,9

Huila

2 354 398

9,7

1 117 342

9,5

1 237 056

9,9

Cunene

965 288

4

450 814

3,8

514 474

4,1

Lunda Sul

516 077

2,1

253 768

2,2

262 309

2,1

Bengo

351 579

1,4

174 362

1,5

177 217

1,4

Províncias

Fonte: INE, RGPH 2014, Resultados Preliminares


AngolaSim, dois anos a divulgar o melhor do país

A

Sousa Fernandes

té parece que foi ontem que começámos, mas já lá vão dois anos desde que a revista AngolaSim entrou em contacto com o público leitor. Foi precisamente em Novembro de 2012, num verdadeiro preito à independência nacional, que surgimos pela primeira vez no concorrido mercado editorial angolano. É com incontido e justificado orgulho e sentimento de dever cumprido que nesta edição dobramos mais uma curva para seguir o caminho de um ano que nos espera lá à frente, agora o terceiro, no qual pretendemos continuar a surpreender e a agradar o público leitor. Novas rubricas e propostas editoriais figuram na nossa agenda para o ano de 2015. Afinal, depois de termos engatinhado e dado os primeiros passos, agora pretendemos andar mais rápido, sem nunca, entretanto, descurar a segurança que se exige nessas circunstâncias. A nossa jornada foi feita sempre drapejando o estandarte da ética e da deontologia profissionais. Esta bandeira continuará a ser despregada ao longo do percurso desta revista. Isto porque, além do desiderato da pura informação, o nosso intento é continuar a divulgar o que de melhor acontece em Angola. Com essa postura, queremos ser um veículo para ajudar no crescimento e consequente desenvolvimento do país, na educação e na promoção do bem estar dos angolanos, conforme prometemos na nossa primeira edição. O nosso compromisso era e continua a ser o exercício de um jornalismo responsável em que pontua a divulgação dos destaques que acontecem no país, privilegiando o sector social,

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o entretenimento e a História. Mas, não falta a política, a economia e o desporto, além da promoção de empresa bem-sucedidas e do consumo, outras grandes apostas da nossa revista. Desse modo, nos últimos 12 meses demos ênfase às grandes realizações e feitos dos angolanos, tais como o início do funcionamento do Catamarã, em Luanda, e a perspectiva de o país passar a ser o maior produtor de petróleo na África Sub-sahariana. Entrevistamos figuras de proa da sociedade angolana, de músicos a escritores, de docentes universitários a cientistas. Pelo meio, embrenhamo-nos nas profundezas das raízes da nossa história, produzindo textos como o da primeira fábrica de cerveja em Angola, no século XVIII, ou o início do fornecimento de luz à cidade de Luanda já em pleno século XX. Efectivamente, muito da história e dos acontecimentos mais recentes acabaram plasmados nas páginas de AngolaSim, hoje uma referência incontornável do mercado editorial angolano. Para tanto, um grupo de profissionais labuta diariamente com o propósito de oferecer ao leitor o melhor que o país produz, seja no âmbito político, económico, social, cultural ou desportiva. A nossa equipa tem em si, caro leitor, o ponto de partida e de chagada, razão por que se esmera para oferecer-lhe o melhor possível. Reconhecemos que, apesar de tudo, precisamos melhorar cada vez mais e que o caminho a trilhar ainda é longo e prenhe de escolhos. Mas a excelência informativa e formativa, estas, são as nossas metas. Um dos aspectos mais marcantes dessa trajectória é o facto singular de continuarmos a ser uma publicação de distribuição gratuita. Com isso, perseguimos dar informação de qualidade a todos os leitores, independentemente da sua posição

social ou do seu poder de compra. É, de resto, por esta razão que a nossa distribuição merece cada vez mais acuidade, colocando a revista em locaischave das principais cidades do país, pois temos em conta que Angola é um todo que merece o melhor que ela própria produz. E este melhor fazemo-lo por publicar neste órgão. Em face da gratuitidade da nossa publicação, os nossos registos contabilísticos não são empolgantes, porque a publicidade, esta que deveria ser o suporte de toda a edição, não surge com a constância que nos permite cobrir todas as despesas. Mesmo diante de cenário tão desolador, o último ano de AngolaSim junto do grande público enche-nos de orgulho porque já somos praticamente pertença do grande público, se na Huíla, no Zaire ou Cunene, onde chegamos com o prestimoso apoio do Ministério da Administração do Território. Por isso e pelo feedback que temos recebido amiúde dos leitores, estamos em condições de dizer que apesar da saturação do mercado em matéria de publicações, AngolaSim não é só mais uma revista. É, na verdade, a revista mensal de Angola, das raríssimas genuinamente de informação generalista, o que a torna transversal a todos os angolanos, pois tanto aborda de temas tão complexos como a indústria petrolífera ou assuntos com maior pendor de entretenimento como a moda, ou ainda tópicos arrebatadores como o desporto e a música. Pensamos, pois, ter dado o nosso melhor nos últimas 12 meses, em obediência ao nosso compromisso com a defesa dos nossos valores da angolanidade, do nosso património histórico e da promoção espiritual e material do país que todos ajudamos a crescer com o nosso contributo.


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38 EFEMÉRIDE

Sanduíche nossa de cada dia... Outro dias que contam em Novembro

O

3 de Novembro é mundialmente consagrado como o Dia da Sanduíche. Celebrada anualmente em todo o Mundo, a data, conhecida também por “Sandwich Day”, é motivo de vários festejos, nos quais, obviamente, torna-se o prato principal em restaurantes e cafés snack-bar.

seguida, o “snack” foi adoptado em quase todas as casas de apostas inglesas.

Popularmente conhecida por sandes (ou sanduba, para os brasileiros), a sanduíche é um prato rápido composto por duas fatias de pão, guarnecida no centro com iguarias como queijo, fiambre, presunto e outros alimentos a gosto, tais como alface, tomate e cebola. As combinações que se podem fazer são variadas. Para o mesmo objectivo, pode-se igualmente usar um pão inteiro, geralmente de pequenas dimensões. Em regra, são consumidos ao lanche ou como uma refeição rápida, durante o almoço ou o jantar. Também costumam integrar a ementa do pequeno almoço, mesmo nos tempos actuais em que cereais e frutas assumem o protagonismo na mesa do mata-bicho.

Em Angola também, trazida pelos colonizadores portugueses e tudo dependia das posses de cada. Carne, chouriço, presunto, peixe-frito, sardinha e atum enlatados, tudo dava, dependendo do bolso. Ao longo dos tempos, porém, os hábitos alimentares foram-se moldando em função das disponibilidades e, embora, esses acompanhantes continuem a servir muitas mesas, surgiram outros tipos de sanduíches, agora conhecidas entre nós por magoga.

De acordo com o historiador britânico Edward Gibbon, o termo sanduíche teria sido originado em 1762, por causa de John Montagu, quarto conde de Sandwich, aristocrata inglês do século XVIII, que tinha o hábito de comer pedaços de carne entre duas fatias de pão durante as suas intermináveis partidas de uíste (jogo de cartas). Uma das ocupações preferidas por John Montague era o jogo de apostas, com cartas. Tudo começou, porém, numa noite de jogatinas, farra e muita bebida, em que teria ficado horas na mesa de jogo. Depois de devidamente bebido e extenuado, o Conde Sandwich pediu aos criados algo para comer, ordenando-lhes que trouxessem carne, mas no meio de duas fatias de pão, para que não sujasse os dedos com gordura. Essa demanada, então algo estranho, tinha como propósito evitar emporcalhar o baralho, a fim de impedir que os seus adversários pudessem adivinhar as suas cartas por via da gordura. A estratégia funcionou e, de A REVISTA MENSAL DE ANGOLA

A partir dessa altura, a sanduíche, nos seus mais distintos formatos, popularizou-se mundialmente, sobretudo em países como Inglaterra, Holanda e Alemanha. Na Itália, por exemplo, surgiu a bruschetta, o tramezzino, e o panino, aos passo que nos Estados Unidos foi criado o cachorroquente, hambúrguer...

A magoga é, no fundo, uma sanduíche mais robusta, comercializada nas ruas de Luanda por vendedoras ambulantes. Feita com metade de pão-cassete, a nova “iguaria” das ruas da capital e não só é acompanhada só de frango frito, iscas, salsicha ou fiambre enlatado, servido em doses generosas. Conforme o gosto do comensal, adiciona-se-lhe repolho ou outros legumes, assim como katchup, maionese e ou mostarda. Este tipo de sanduíche bem angolana não é apenas uma refeição ligeira. Na verdade, é a principal refeição de muita gente que trabalha na rua, contando-se entre estes vigilantes de empresas de protecção física, roboteiros (a designação original é bagageiro) e até zungueiras. Com um refrigerante em cima, a refeição fica fechada e o estômago devidamente saciado. Tal como acontece noutros países, hoje, em Angola, a sanduíche também não goza de grande credibilidade. Afinal, em regra, é tachada de “alimentação rápida e nutricionalmente inadequada”. Muitas vezes, não sem razão!

1 (Sábado) – Dia de Todos os Santos 1 (Sábado) – Dia do Sector dos Petróleos em Angola 1 (Sábado) – Dia Mundial do Veganismo 2 (Domingo) – Dia dos Finados (Feriado Nacional) 3 (Segunda-feira) – Dia da Sanduíche 3 (Segunda-feira) – Dia da Dona de Casa 5 (Quarta-feira) – Dia Mundial do Cinema 6 (Quinta-feira) – Dia do Saxofonista 7 (Sexta-feira) – Dia Internacional da Preguiça 8 (Sábado) – Dia Mundial da Radiologia 10 (Segunda-feira) – Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento 11 (Terça-feira) – Dia da Independência Nacional 11 (Terça-feira) – Dia de São Martinho 12 (Quarta-feira) – Dia do Diplomata Angolano 14 (Sexta-feira) – Dia Mundial da Diabetes 16 (Domingo) – Dia Internacional da Tolerância 17 (Segunda-feira) – Dia Mundial do Não Fumador 17 (Segunda-feira) – Dia Mundial da Criatividade 19 (Quarta-feira) – Dia Mundial da Casa de Banho 19 (Quarta-feira) – Dia Internacional do Homem 20 (Quinta-feira) – Dia da Industrialização de África 20 (Quinta-feira) – Dia Internacional dos Direitos das Crianças 21 (Sexta-feira) – Dia Mundial da Televisão 22 (Sábado) – Dia Nacional do Educador 23 (Domingo) – Dia Nacional da Indústria 24 (Segunda-feira) – Dia Mundial da Ciência 25 (Terça-feira) – Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres 27 (Quinta-feira) – Dia da Fundação da Vila do Cazombo, Município do Alto Zambeze 27 (Quinta-feira) – Dia de Nossa Senhora das Graças 29 (Sábado) – Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestiniano Novembro de 2014 têm 19 dias úteis, cinco sábados, igual número de domingos e dois feriados, um dos quais no Domingo, dia 2.


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40 ACTUALIDADE

Mais de Seis Mil refugiados angolanos na RD Congo já regressaram a casa

M

ais de seis angolanos deixaram a República Democrática do Congo desde o início da última operação de repatriamento, a 19 de Agosto, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

nesta fase. “É difícil dizer se é suficiente. Pode depender de família para família, mas as pessoas que regressam a Angola têm de refazer a vida, encontrar os meios de subsistência, em princípio, por eles próprios. Não existe nenhuma regra fixa que determine quanto tempo é que pessoas que regressam ao seu país podem ou devem - que não é desejável - ficar dependentes de ajuda”, apontou Lans Hans Lunshof.

Citado pela imprensa da RD Congo, o responsável do ACNUR naquele país, Stefano Severe, disse ainda que o número de refugiados que pretendem regressar a Angola subiu para cerca de 37.000, no âmbito de uma operação cujo termo está aprazado para 31 de Dezembro próximo. Este repatriamento está a ser feito até próximo da fronteira com Angola por comboio e depois por via terrestre até às províncias de destino. Deveria envolver, segundo o levantamento de Julho último, 29.659 pessoas. Deste total, mais de seis mil já regressaram a Angola. Os grupos de refugiados angolanos que fugiram de décadas de conflito civil no país e que regressam voluntariamente, estão a ser organizados a um ritmo praticamente semanal, recebendo alguns apoios públicos já em Angola. Em causa está o compromisso do executivo

Na altura, o responsável também admitiu a possibilidade de o processo de repatriamento se prolongar para 2015, tendo em conta dificuldades sentidas na fronteira angolana na verificação da situação legal destes refugiados. angolano, através do Ministério da Assistência e Reinserção Social, de fornecer a estes refugiados, que regressam voluntariamente, apoios, nas zonas de origem/destino, como acesso à terra, para agricultura, materiais de construção, para edificarem uma habitação por família e alimentos para seis meses. Questionado pela Lusa, em Setembro, o representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em Angola, entidade que suporta os custos com o transporte destas famílias desde a RD Congo até às províncias de destino, admitiu tratar-se do apoio possível,

Neste processo, as autoridades angolanas emitem documentação permitindo o regresso a Angola destes cidadãos, conforme acordo tripartido envolvendo ainda o Governo da RD Congo e o ACNUR. Para concretizar a operação, aquele organismo das Nações Unidas conta com fundos de USD 1,7 milhões, assegurados também por doadores internacionais. Do total de refugiados angolanos na RD Congo, 18.192 tinha optado, em Julho, pela integração local, que deveria ser regularizada até 2016.

Empresas recrutam angolanos em Portugal

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entenas de jovens quadros angolanos e de outras nacionalidades concorreram para oportunidade de trabalho no país, no decorrer da 5ª edição da Feira de Emprego de Lisboa, realizada no princípio de Novembro, durante três dias, no Centro de Congressos de Lisboa. Numa parceria entre o Consulado Geral de Angola em Lisboa e a Associação de Estudantes Angolanos em Portugal (AEA-Portugal), mais de 20 empresas aproveitaram a iniciativa para tentarem recrutar profissionais angolanos residentes em Portugal, a fim de trabalharem em Angola. Os candidatos concorreram para empregos em 24 empresas dos sectores da banca, gestão, hotelaria, psicologia, saúde, construção civil, recursos humanos e consultoria, naquilo que muitos candidatos angolanos consideram “uma

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oportunidade de regresso e contribuírem para o desenvolvimento de Angola”. Houve mais de duas mil inscrições, muitas de portugueses que ali acorreram em busca de uma oportunidade. Em alguns dos stands, como o da empresa de bebidas Refriango, ou o da consultora para o ambiente Cobangola, a maioria dos que acorreram a entregar currículos eram portugueses. “Dos mais de 500 currículos que recebemos nestes três dias, apenas 60 eram de angolanos, e os restantes eram maioritariamente de portugueses”, adiantou ao jornal português Diário de Notícias Rita Cândido, responsável pela área de desenvolvimento de recursos humanos da Refriango. Já na Cobangola, dos 80 currículos recebidos, só 30% eram de jovens quadros angolanos. “Os restantes foram sobretudo entregues por portugueses e também cabo-verdianos”, explicou Graça Rebelo, representante da empresa na feira de emprego.

Muitos dos que ali acorreram foram essencialmente estabelecer contactos e poderão ainda enviar os seus currículos durante os próximos dias.


Alemanha prestou assistência médica a mais de três mil crianças angolanas

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m grupo de 61 crianças regressou em princípios de Novembro ao país, depois de tratadas em hospitais da Alemanha, no âmbito do programa Kimbo Liombemwa, que em 20 anos beneficiou cerca de 3.000 menores angolanos com

dificuldades.

Trata-se de uma parceria estabelecida em 1994 entre a organização alemã Friendsdorf International e a angolana Kimbo Liombembwa, prevendo duas viagens anuais para tratar crianças com problemas ortopédicos, oftalmológicos, dermatológicos, queimaduras e alguns tipos de malformação congénita, seleccionadas em todo o país. Foi o caso de domingos José da Cruz, que recebeu hoje a sua filha de cinco anos, tratada na Alemanha a um tumor na garganta. Em declarações à agência Lusa, o embaixador da Alemanha em Angola, Rainer Muller, elogiou

a iniciativa da sociedade civil, sublinhando os resultados positivos que tem registado. Por sua vez, a secretária-geral da Kimbo Liombembwa, Severina Albano, explicou que, após o regresso deste grupo, outras 83 crianças partem quinta-feira para Alemanha. Vão receber o mesmo tipo de tratamento médico, mas desde já a responsável apela a uma maior atenção dos pais para o problema das queimaduras. “Porque é uma patologia que demora algum tempo, vão e voltam (várias vezes) para que a criança tenha realmente uma fisionomia aceitável”, referiu a médica. A falta de documentos é um problema que este projecto tem vindo a enfrentar, já que muitas destas crianças não têm cédula, dificultando a conclusão do processo.

mas realmente é necessário que se expandam os registos, porque há muita gente ainda que não tem registo, não existem para o país”, adiantou. As crianças angolanas representam o maior grupo de pacientes beneficiários de assistência médica na Alemanha, no âmbito deste programa.

“Tem sido um problema. O Instituto Nacional da Criança (INAC) tem-nos ajudado nesse sentido,

Barragens para minorar efeitos da seca no Sul da província da Huíla

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s consequências da seca que afecta regularmente o sul da província da Huíla vão ser minoradas com a construção nos próximos dias, na Kihita, Chibia, e contíguo à embala dos Gambos, de duas barragens capazes de armazenar 550 milhões de litros de água.

Por outro lado, o Governo Provincial continua a promover programas de fomento da agricultura destinados a aumentar e diversificar a produção de alimentos e combater a pobreza nas zonas de seca. Mais de nove mil habitantes do município dos Gambos já consomem água potável proveniente de cinco novos sistemas de captação e distribuição.

A instalação dos reservatórios, em zonas do percurso do rio Kaculuvar, orçada em cerca de AKZ 75.000 Milhões, permitirá às famílias das zonas afectadas pela estiagem cultivar diversos produtos em terras aráveis. O governador provincial da Huíla, que visitou recentemente as áreas dos futuros reservatórios, disse que o programa enquadra-se num conjunto de acções destinadas a solucionar definitivamente o problema da seca. A seca, afirmou, atrasa o desenvolvimento das povoações, comunas e do município, por prejudicar os animais e o cultivo de vários produtos. “Somente as barragens são capazes de proporcionar água em abundância por um longo período”, referiu o governador João Marcelino Tyipinge.

Uma equipa multi-sectorial vai desenvolver campanhas de sensibilização e de ensino de técnicas de cultivo de cereais e hortofrutícolas junto das famílias que se dedicam apenas à criação de gado, de modo a que comecem a trabalhar também na agricultura. O programa inclui igualmente a construção de reservatórios nas comunas de Impul e Arimba, cada com capacidade de armazenamento de 150 milhões de litros de água. Na comuna de Arimba está prevista a edificação de uma Estação de captação e tratamento de água para abastecer os habitantes da nova centralidade da Eiva.

Os sistemas, instalados nas localidades de Munailongo, Viriabundo, Ompapa, Nhoca e Katoho estão equipados com reservatórios, lavandarias e painéis solares que alimentam as bombas. Os criadores tradicionais de gado dos Gambos utilizam, além de outros fontanários, chimpacas reparadas e alargadas, que acumulam durante muito tempo razoáveis quantidades de água das chuvas. A comuna é muito quente e seca, embora em algumas alturas a chuva caia intensamente. Até agora foram instalados no município dos Gambos mais de 15 fontanários de grande capacidade e 14 chimpacas. Uma das fontes de aquisição de água para as pessoas e para o gado é o rio Caculuvar, que em breve passa a ter represas de enorme capacidade.

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42 ACTUALIDADE

Cinco províncias com condições para produção de biocombustíveis

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s províncias de Malanje, Zaire, Cabinda, Uíge, Kwanza Norte e Bengo dispõem de condições climáticas para a produção de matérias primas utilizadas na produção de biocombustíveis, concluíram os participantes ao V seminário regional sobre o sector, realizado no princípio deste mês de Novembro. Segundo os participantes, a produção de biocombustíveis na região vai impulsionar a criação de indústrias a montante e a jusante, bem como a promoção das exportações, o que consideraram ser um valor acrescentando para a economia do país.

não deve competir com a produção alimentar no país, devendo preservar o ambiente e o desenvolvimento sustentável, tendo em conta a redução das emissões dos gases que provocam as alterações climatéricas. Nas recomendações, encorajaram os governos das sete províncias participantes a cumprirem com a legislação sobre a produção de biocombustíveis, tendo em vista a rápida materialização do processo do referido processo na região norte do país. Promovido pelo Ministério dos Petróleos, o seminário visou divulgar a estratégia e lei sobre os biocombustíveis no país. Enquadra-se no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013/2017.

Realçaram que a produção de biocombustíveis

Nova entidade para regular jogos de sorte

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de jogos”, é outra das missões, a par do poder de sancionar, em caso de infracção.

ntidade recém-criada, o Instituto de Supervisão de Jogos (ISJ) de Angola vai substituir a Empresa Nacional de Lotarias na função de regulador, supervisor e fiscalizador dos jogos de fortuna e azar do país, conforme decisão do executivo angolano.

Ao ISJ caberá a função de emitir parecer técnico sobre estudos e projectos relacionados com a exploração da actividade do jogo em Angola, mas também na formulação de propostas para o regime tributário do sector.

O ISJ foi criado por decreto presidencial de 14 de Outubro, ficando na tutela directa, segundo o seu estatuto orgânico, do Ministério das Finanças, de acordo com a agência Lusa que veiculou a notícia. Com sede em Luanda, terá como atribuições a regulamentação e supervisão das actividades de jogos de fortuna ou azar em Angola, “em conformidade com a política económica e financeira nacional”, além de impulsionar “o desenvolvimento equilibrado e eficiente do mercado” e a definição de regras para o “bom

funcionamento do sector de jogos e actividades afins”. A fiscalização e normalização do funcionamento das empresas intervenientes no sector, bem como dos diversos agentes “intervenientes no mercado

Plano de aproveitamento na Bacia do Kubango

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plano geral de utilização dos recursos hídricos da bacia do Rio Kubango, na região Sul do país, foi apresentado em princípios do corrente mês de Novembro pelo ministro angolano da Energia e Águas, João Baptista Borges. O plano, cujo desenvolvimento começou em 2012, visa estabelece as regras e criar condições para uma melhor gestão dos recursos hídricos. Por esta razão, o governo angolano criou há alguns anos o Instituto de Gestão da Bacia do Rio Kubango. Na cerimónia de apresentação do plano, o ministro João Baptista Borges destacou que

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“apesar de o país possuir uma extensa rede hidrográfica, os níveis de aproveitamento de tais recursos ainda são escassos”. E explicou que “este plano é uma ferramenta de triagem necessária para o uso sustentável dos recursos hídricos desta importante bacia hidrográfica”. O rio Kubango nasce na província de Huambo, na região planáltica centra de Angola, e desce para Sudeste, num percurso de 1.700 Km a sudeste, passando pelas províncias do Bié, Moxico, Cunene, Huíla e Kwando Kubango até desaguar no Botsuana, passando antes pela Faixa de Caprivi, na Namíbia. O seu delta, o maior de interior do Mundo, constitui importante ponto de ecoturismo.

Deverá ainda “colaborar com os demais órgãos no combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo”, lê-se no estatuto orgânico do ISJ. O funcionamento deste instituto será assegurado através de transferências do Estado, entre outras receitas, mas também com recurso a prémios de concessão (20 por cento) e pela receita bruta mensal da concessionária (10%), estabelece o mesmo documento.


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44 MÚSICA

Grupo Mener persegue internacionalização da música angolana por via dos AMA

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esmo depois de a edição 2014 ter conhecido o seu epílogo no FENACULT em Setembro último, os Angola Music Awards (AMA) não param. A 15 de Novembro a organização do evento fez desfilar na MEO Arena, de Lisboa, quatro figuras vencedoras de distintas categorias do concurso, naquilo que foi o concerto “Angola ao Vivo – Festival da Dipanda”, em comemoração dos 39 anos de independência do país. Os escolhidos foram N’soki, Kyaku Kyadaff, Sandra Cordeiro e DJ Paulo Alves. O evento enquadra-se na política de promoção internacional e valorização da música e dos músicos angolanos além fronteiras e de descentralização da Gala de entrega de prémios. Também é uma forma de divulgar a terceira edição do AMA, que já está em marcha A internacionalização encetada pelos organizadores do evento musical que começa a afirmar-se no cenário cultural angolano conheceu o seu primeiro passo em Outubro último, quando estabeleceu uma parceria com o Mozambique Music Awards (MMA). Ao abrigo desse acordo

Gabriel Tchiema e DJ Paulo Alves, vencedores de duas categorias do AMA, actuaram como convidados na gala de premiação do MMA. Na verdade, o processo começou um pouco antes, com os acordos de promoção externa da música angolana já firmados com a Namíbia, África do Sul, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Dois dias após o espectáculo lisboeta, concretamente a 17 de Novembro iniciam as inscrições para os AMA’2015. Esta edição traz novidades, sendo uma das principais o registo de participação via online em www.angolama. com. Com isso, a organização pretende facilitar todo o processo de inscrição dos candidatos, o qual alarga-se até 16 de Janeiro de 2015. Desse modo, poderão registar-se todos os artistas com trabalhos editados em 2014. Relativamente a novidades o Grupo Mener, organizador dos ANA, preparou outras. Tratase da inclusão de mais duas categoria, estas destinadas a programas de Rádio e TV que cumprem com a nobre missão de promover a música angolana. No leque de premiações, a partir de 2015 a província anfitriã passará a receber uma Menção Honrosa.

A Gala dos AMA’2015 terá lugar em 30 de Maio de 2015, na cidade de Saurimo, Província da Lunda Sul. Paralelamente a este evento, será será acompanhada de uma conferência empresarial. A gala final e todo o processo de inscrição e votação é são da responsabilidade do Grupo Mener, em parceria com o Governo Provincial da Lunda Sul, dos Ministérios da Cultura, da Juventude e Desportos e da Hotelaria e Turismo. Também comparticipam a União Nacional dos Artista e Compositores (UNAC) e a Sociedade Angolana dos Direitos de Autores (SADIA)

Waldemar Bastos brilha fora do palco, em Berlim

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conceituado músico angolano Waldemar Bastos foi orador na Conferência Anual sobre Diplomacia Cultural realizada entre 7 e 10 de Novembro em Berlim (Alemanha) em evento que celebrou um quarto de século sobre a queda do Muro de Berlim. A edição deste ano do evento designou-se “A World Without Walls” (Um Mundo Sem Barreiras).

É essa faceta humanista do cantor e compositor angolano que esteve em destaque na conferência mundial. Waldemar Bastos terá como “colegas” oradores individualidades bem conhecidas do showbiz universal, tais como David Hasselhoff, actor americano que participou em séries como Baywatch e Knight Rider; Jermaine Jackson, cantor do grupo The Jackson 5 e irmão de Michael Jackson; e Marcia Barrett, vocalista dos Boney M. Ao todo, o evento reuniu mais de 300 líderes mundiais, académicos e artistas reconhecidos.

O fórum contou com oradores e delegados de quase todo o mundo e Waldemar Bastos foi uma dessas figuras, tendo sido convidado para o feito pelo Instituto para a Diplomacia Cultural. O convite é na prática um reconhecimento pela carreira notável do cantor.

Com 60 anos de idade, o cantor angolano tem sete álbuns publicados e várias distinções onde se destacam, em 2012, o segundo lugar no International Songwriter Competition (EUA), categoria World; em 2010, foi nomeado nos Mobo Awards (Reino Unido) na categoria “Best African Act” e foi incluído no livro “1000 recordings to hear before you die” (1000 Discos Para Ouvir Antes de Morrer), de Tom Moon.

O artista, que já viveu em Berlim, falou sobre o seu percurso pessoal e profissional, marcado pela dedicação à música, nomeadamente à música angolana e à sua promoção pelos quatro cantos do Mundo. Durante a sua intervenção, Waldemar Bastos interveio também sobre como a arte e, em especial, a música, é importante no quebrar A REVISTA MENSAL DE ANGOLA

de barreiras, sejam elas culturais, espirituais ou físicas, e como isso ajudará a criar um mundo melhor.


MÚSICA

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Finalmente, Tonito!...

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m dos maiores compositores da Música Popular Urbana de Angola, Tonito, vai lançar proximamente o seu primeiro disco. Finalmente, depois de uma carreira de mais de quatro décadas. E a obra que está a caminho intitula-se Mafumeira, um CD com 11 faixas musicais, sendo algumas inéditas, as quais o público conhecerá em Dezembro próximo quando o disco for lançado.

Depois de muitos anos a compor e em palco, chegou finalmente a sua hora, tão esperada pelas gentes de várias gerações de angolanos e também por estudiosos da música nacional. E não fez por menos. Aparece em grande, recrutando para o seu disco uma equipa de músicos com créditos firmados no mercado nacional e internacional. Jovem embora, mas competente quanto baste, Simmons Mansini ocupou-se da produção artística, enquanto a produção executiva ficou a cargo da firma Kissanji Produções, Lda. Gravado em Luanda, Paris e Lisboa, o disco conta com participações de peso. Além dos conceituados músicos angolanos constantes na correspondente ficha técnica, há aqui a destacar o concurso do baterista camaronês Conti Bilong, uma presença constante nos shows do grande Manu Dibango. Incorporou uma quarteto de metais franceses com larga experiência de música africana, assim como caprichou na percussão ao agregar o grupo Nguami Maka, Joãozinho Moragado e Dalu Roger. Enfim, juntou no disco gente realmente conhecedora do metier... Possivelmente que entre as novas gerações, muita gente nunca ouviu falar de Tonito. Outros provavelmente ouviram muito vagamente. Mas ele é “só” um dos maiores compositores angolanos de sempre, como provam as músicas por feitas e cantadas por nomes sonantes do nosso music-hall. Entre estes, contam-se Euletério Sanches (“Monangambé”), Trio Melodia (“Maria Sessá”) Sara Chaves (“Kurikutê”) Lilly Tchiumba, Rui Mingas (“Marimbondo” e “Mu Ndengue Uami”), Belita Palma (“Monami Xico” e “Caminho do Mato”), Duo Ouro Negro, Carlitos Vieira Dias (“Nzala”), Dionísio Rocha (“Palamé), Bonga, Martinho da Vila, Dódó Miranda, MB Genius, Té Macedo, Carlos Lopes, J. Lourenzo e muitos mais. Na verdade, António Pascoal Fortunato, nome de baptismo de Tonito, é um compositor de cariz antológico que integra o naipe de músicos angolanos que conceptualmente construíram a visão da música Angolana moderna. Por isso, é, com razão, referenciado por aqueles que partilharam momentos da sua carreira musical e também por estudiosos da nossa música, como sendo “um dos mais inspirados compositores angolanos de sempre”. A razão dessa quase unanimidade quanto à sua qualidade como compositor é simples: o longo alcance metafórico e a grandeza melódica das canções que criou, algumas das quais clássicos incontornáveis do cancioneiro angolano. Antigo vocalista do histórico Ngola Ritmos, por via do qual teve a suprema honra de compor com “monstros” da igualha de Liceu Vieira Dias, Euclides Fontes Pereira “Fontinhas” e Catarino Bárber, Tonito entregou-se também a colocar a sua pedra nos alicerces da nova Angola, saída da independência. E fê-lo musicando poemas de Agostinho Neto, Jofre Rocha e Manuel Alegre, respectivamente “Caminho do Mato”, “O Engraxador”, “Menino Triste” e “Trova ao Vento que Passa”. Ainda no campo do engajamento revolucionário dos primórdios da dipanda, compôs as canções que conformaram a trilha sonora da peça teatral “História de Angola”, montada e exibida em estreia no ano de 1976. Toda essa trajectória foi coroada com uma merecida homenagem na 14.ª edição do Festival da Canção de Luanda, promovido pela Luanda Antena Comercial (LAC). Nesse dia, 23 de Setembro, ele e os espectadores tiveram a subida honra de verem os 10 finalistas do concurso interpretar apenas músicas suas. É um preito devido apenas aos melhores! Por isso, já há muito se esperava por um disco de Tonito...

Ficha técnica do Mafumeira

Título do CD: Mafumeira Músicas: 11 Produção Executiva: Kissanji Produções, Lda. Produção Artística: Simmons Mansini Concepção Gráfica e Design: Edson Macedo Edição e Mistura: Cyrille Traclet (Estúdio Cybersound, Paris) Masterização: Jeremy Henry (Studio La Villa, Paris) Tambores: Joãozinho Morgado Percussão: Dalu Roger Bateria: Dinho “Rei do Swuing” Piano Acústico: Nino Jazz Cordas e Teclas: Simmons Mansini Bateria: Hélio Cruz Coros: Carla Moreno Coros: Sara Dem Coros: Rosa Baptista Coros: Totó Coros: Gari Sinedima Coros: Alexandre Silva “Dedé” Coros: Aninhas Percussão e Coros: Grupo Nguami Maka: Harmónica: Oliver Ker Ourio Bateria: Conti Bilong Metais: Crhistian Rantinez, Tierry Farrugia e Philippe Henry Acordeão: João Frade Congas: Gregory Louis A REVISTA MENSAL DE ANGOLA


46 DESPORTO

Marinha de Guerra estreia-se na prova

“Nacional” de basquete com novidades! Silva Candembo

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gora com o patrocínio do banco BIC e agora designado BIC Basket, o Campeonato Nacional de Seniores Masculinos de basquetebol arranca a 21 do corrente mês, naquela que é a sua 37.ª edição. Sob jurisdição da correspondente federação, a FAB, a compita relativa à temporada 2014/15 vai apresentar algumas novidades, além de que iniciativas há muito desaparecidas voltam a morar no universo da “bola ao cesto” angolana. Para início de conversa, a grande novidade é a estreia da equipa da Marinha de Guerra na prova, na qual será orientada por Aníbal Moreira, antigo técnico da selecção feminina. Outra boa nova é a da bola oficial, de marca Molten, a mesma usada nas competições da FIBA. Ou seja, o campeonato será jogado com apenas uma marca, indicada pela FAB. Além disso, a equipa visitada está regulamentarmente obrigada a

dispor na mesa de jogo de um computador, impressora, modem e leitor de cartões, a fim de proceder a recolha estatística e a transmissão de dados informáticos. O anfitrião obriga-se a ter uma unidade de alimentação de energia de emergência, onde deverão ser ligados todos os equipamentos informáticos e o equipamento técnico de cronometragem do jogo, a fim de manter o equipamento em funcionamento em caso de falha no fornecimento de emergia na rede pública. De acordo com as novas disposições, as formações anfitriãs ficam igualmente obrigadas a promover a filmagem do jogo, em suporte DVD e entregar uma cópia a equipa visitante, no prazo máximo de 72 horas, após o final do desafio. O visitante também pode registar imagens de vídeo, sem necessitar de autorização especial para o efeito. De regresso, estão os “play off” no sistema de disputa da derradeira etapa da prova. Ou seja, depois de

duas voltas em formato de Liga, as 10 equipas ficam divididas em dois grupos, ficando os seis primeiros classificados no A e os restantes quatro no B. Nas duas séries joga-se no sistema de extremos (primeiro com último e por aí adiante) a uma volta. Os vencedores desses agrupamentos passam para a etapa posterior com um ponto de bonificação. Segue-se a fase de qualificação, a disputar em dois grupos de cinco equipas cada, com o primeiro congregando os cinco melhores do A da fase de grupos e o último a juntar-se aos quatro do B. Também designam-se A e B. Após uma volta de disputa, os quatro primeiros do A passam para os play-off, ao passo que o quinto junta-se às formações do grupo B para disputar as classificativas do 5.º ao 10.º lugar. Os dois últimos colocados descem de divisão. A decisão do título oporá o primeiro ao quarto e o segundo ao terceiro do grupo A de qualificação, no que serão as meias-finais, a disputar a melhor de cinco partidas.

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Os vencedores batem-se pelo ceptro a melhor de sete jogos, o que vai conferir às duas equipa finalistas a invejável soma de 41 jogos só no “Nacional”, sem contar com a Taça de Angola, uma média óptima para conferir competitividade aos jogadores. Os derrotados jogam pelo terceiro lugar. Quando tudo acabar, estará igualmente de volta o festival de encerramento da temporada, conformado pelo jogo All Stars entre duas formações compostas pelos melhores, além de concursos de smashs e de lançamentos triplos. Como já aconteceu em algumas ocasiões. Como é óbvio, na busca do troféu e do AKZ 1,5 Milhão de compensação pecuniária, o campeão em título Recreativo do Libolo é um dos candidatos. Mas, não corre sozinho para a revalidação. Terá a companhia de 1.º de Agosto e Petro-Atlético de Luanda. O ASA, não sendo um candidato natural ao título, pode desequilibrar a balança dos favoritos, roubando preciosos pontos.


De 1960 a 2014 Palmarés de todos os tempos

Participantes Clube Recreativo e Desportivo Libolo Atlético Sport Aviação-ASA Clube Desportivo 1° de Agosto Universidade Lusíada Atlético Petróleos de Luanda Futebol Clube Vila Clotilde Sporting Clube de Benguela Progresso Associação do Sambizanga Grupo Desportivo Interclube Marinha de Guerra

Prémios Como acontece há muitos anos, em função das estatísticas serão, no final das contas, apurados o MVP, Melhor Marcador, Melhores percentagens de dois e três pontos, assim como de lances-livres, Melhor Assistente, Melhor Ressaltador, Melhor Recuperador e Atleta Fair Play. Merecerão igualmente distinção o Treinador do Ano e o Árbitro do Ano. Para a primeira categoria votarão oficiais da FAB, representantes da Comunicação Social e da Associação de Treinadores. Para a segunda, serão praticamente os mesmos elementos, com a diferença de que neste caso a Associação será a de Árbitros e de Oficiais de Mesa.

O primeiro Campeonato de Angola em basquetebol foi disputado em 1960, ainda à época em que o território era província ultramarina de Portugal. Curiosamente e apesar da instabilidade política e militar que se viveu às vésperas da independência, o basquetebol foi a única modalidade que em 1975 conseguiu fazer disputar o seu campeonato, então já chamado por alguns de “Nacional” e por outros de “Angolano”, deixando o “Provincial” para trás. Depois de três anos sem competições regulares, a prova reatou em 1979 e de lá para cá o 1.º de Agosto tem sido dominador. Para a perenidade e por curiosidade, eis a lista de campeões de Angola de todos os tempos:

BIC é o novo patrocinador Depois de o banco BAI ter patrocinado a competição de 2008/09 a 2013/14, agora é a vez de o BIC associar-se àquela que é das modalidades mais tituladas do desporto angolano, só superada pelo andebol. O BIC e a Federação Angolana de Basquetebol (FAB) assinaram a 10 do corrente mês de Novembro um acordo que confere à instituição financeira o estatuto de Patrocinador Oficial do Campeonato Nacional de Basquetebol Sénior Masculino para a época desportiva de Novembro 2014 a Maio 2015. O acordo a ser celebrado terá a duração de uma época desportiva e permitirá ao Banco BIC associar as suas actividades de negócios e de promoção a mais uma modalidade desportiva de forte impacto nacional. O patrocínio do Banco BIC insere-se numa estratégia de marketing e de negócio que privilegia o contacto directo com as populações que se pretende servir, numa lógica de proximidade e disponibilidade para fazer parte da vida diária dos clientes nos locais onde vivem e desenvolvem actividades económicas.

A pizza dos títulos clube

33% 20%

11% 8%

6% 4% 4% 2% 2% 2%

8%

1.º de Agosto Petro-Atlético de Luanda Benfica de Luanda Sporting de Benguela Sporting de Luanda Atlético Sport Aviação (ASA) Futebol Clube de Luanda CDR Libolo Atlético de Nova Lisboa CDUA Ferroviário de Angola

TÍTULOS 17 11 6 4 4 3 2 2 1 1 1

1960 – Sporting de Benguela 1961 – Sporting de Benguela 1962 – Atlético de Nova Lisboa 1963 – Sporting de Benguela 1964 – Benfica de Luanda 1965 – Sporting de Luanda 1966 – Sporting de Benguela 1967 – Benfica de Luanda 1968 – Benfica de Luanda 1969 – Sporting de Luanda 1970 – Benfica de Luanda 1971 – Benfica de Luanda 1972 – Benfica de Luanda 1973 – FC Luanda 1974 – FC Luanda 1975 – CDUA 1979 – Ferroviário de Angola 1980 – Desportivo da TAAG (*) 1981 – 1.º de Agosto 1982 – Leões de Luanda 1983 – 1.º de Agosto 1984 – Leões de Luanda (**) 1985 – 1.º de Agosto 1986 – 1.º de Agosto 1987 – 1.º de Agosto 1988 – 1.º de Agosto 1989 – Petro de Luanda 1990 – Petro de Luanda 1991 – 1.º de Agosto 1992 – Petro de Luanda 1993 – Petro de Luanda 1994 – Petro de Luanda 1995 – Petro de Luanda 1996 – Atlético Sport Aviação 1997 – Atlético Sport Aviação 1998 – Petro de Luanda 1999 – Petro de Luanda 2000 – 1.º de Agosto 2001 – 1.º de Agosto 2002 – 1.º de Agosto 2003 – 1.º de Agosto 2004 – 1.º de Agosto 2005 – 1.º de Agosto 2006 – Petro de Luanda 2007 – Petro de Luanda 2008 – 1.º de Agosto 2009 – 1.º de Agosto 2010 – 1.º de Agosto 2011 – Petro de Luanda 2012 – Recreativo do Libolo 2013 – 1.º de Agosto 2014 – Recreativo do Libolo (*) Designação transitória do ASA (**) Designação transitória do Sporting de Luanda A REVISTA MENSAL DE ANGOLA


48 DESPORTO

Taça dos Clubes Campeões Africanos de Andebol

Finalmente Dagosto conquista título continental!

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equipa do 1.º de Agosto acabou com o “mito Petro-Atlético”, ao conquistar pela primeira vez na sua história a Taça dos Clubes Campeões de andebol feminino, disputada entre 9 e 18 de Outubro último na capital tunisina, Túnis. A formação “rubro-negra”, comandada pelo luso-ucraniano Viktor Tchikolaev, triunfou na final por apertados 27-25 diante do “tricolor”, quebrando assim uma hegemonia que em 21 anos rendeu ao arqui-rival 19 títulos, 17 dos quais consecutivos! No final das contas, o pódio de honra do campeonato foi totalmente angolano, como aconteceu na edição passada, em Marrakesh (Marrocos). Completou o triunvirato a equipa do Progresso do Sambizanga que repetiu o terceiro lugar de 2013, após bater por 28-25 o Etoile du Congo, com o qual havia já cruzado e empatado (23-23) na fase de grupos. Desde muito cedo, aliás, era dado adquirido que o pódio pintar-se-ia de vermelho e preto, as cores da bandeira nacional e do... 1.º de Agosto. O que ficava por saber era qual das duas “gigantes” angolanas conquistaria o título continental, para o qual se batiam pela quinta vez. Nas

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contas do ceptro, o Progresso estava afastado, à partida, por se achar desportivamente uns furos abaixo dos principais candidatos. Ainda assim, a formação “sambila” situava-se acima dos restantes concorrentes. O sinal de que o pódio seria tomado de assalto pelas angolanas foi dado ainda no início da prova, quando os três emblemas passaram sem dificuldades de maior sobre os seus oponentes. Assim, somando vitória em todos os desafios com formações estrangeiras, as equipas nacionais chegaram sem problemas aos quartos de final. Na primeira fase, só o Progresso perdera pontos diante de um emblema estrangeiro, quando empatou com o Etoile du Congo. Tudo o resto foi um passeio para as formações angolanas até chegarem às meias-finais, como atestam os números folgados das suas campanhas. Ao conquistar o inédito título, as “militares” coroam uma trajectória iniciada em 2009 nesta prova. Desde a estreia até agora, a turma do “Rio Seco” esteve presente em todas as finais, com excepção da de 2010, quando esteve ausente da prova. Nessas decisões, a equipa “rubro-negra” sempre perdeu para o Petro-Atlético. Este ano, porém, a história foi bem diferente.

Em masculinos, classe em que Angola não se fez presente, os anfitriões bem tentaram imitar Angola em femininos. Mas não alcançaram o pleno, o pódio. Desse modo, o campeão foi o Club Africain local, seguido pelo Al Ahly (Egipto) e Esperánce de Túnis.


Resultados Gerais Data Resultado Grupo

Classificação 1.º - 1.º de Agosto (ANGOLA) 2.º - Petro-Atlético (ANGOLA) 3.º - Progresso (ANGOLA) 4.º - Etoile du Congo (Congo) 5.º - FAP (Camarões) 6.º - África Sports (Costa do Marfim) 7.º - Nairobi Water (Quénia) 8.º - Mikishi (RD Congo) 9.º - HC Nuru (RD Congo) 10.º -Phoenix (Gabão)

Palmarés Tendo iniciado a participar nas provas africanas de clubes em 1980, Angola já conta 20 títulos em 35 edições até agora disputadas. O caminho foi aberto pelo Ferroviário de Angola, em Owerri, no ano de 1987, sendo nota curiosa o facto de o país nunca ter organizado esta competição. Eis a lista de campeões:

09/10/14 Etoile, 36 – Nairobi Water, 29 Phoenix, 17 – Progresso, 24 FAP, 37 – HC Nuru, 17 Africa Sports, 33 – Mikishi, 20 10/10/14 HC Nuru, 11 – Petro, 45 Etoile, 23 – Progresso, 23 1.º de Agosto, 35 - Nairobi Water, 15 Mikishi, 26 – FAP, 30 11/10/14 Etoile, 28 – Phoenix, 22 Mikishi, 19 – Petro, 33 1.º de Agosto, 32 – Progresso, 25 FAP, 19 - Africa Sports, 28 13/10/14 Africa Sports, 17 – Petro, 29 Nairobi Water, 17 – Progresso, 30 HC Nuru, 21 – Mikishi, 30 Phoenix, 12 – 1.º de Agosto, 35 14/10/14 Africa Sports, 29 – HC Nuru, 13 Nairobi Water, 25 – Phoenix, 20 Petro, 41 – FAP, 22 1.º de Agosto, 33 – Etoile, 27 16/10/14 HC Nuru, 28 – Phoenix, 27 Petro, 38 – Nairobi Water, 14 1.º de Agosto, 43 – Mikishi, 15 Progresso, 29 – FAP, 19 Africa Sports, 27 – Etoile, 28 17/10/14 Africa Sports, 31 – Mikishi, 21 Nairobi Water, 14 – FAP, 16 Etoile, 19 – 1.º de Agosto, 29 Petro, 30 – Progresso, 19

B B A A A B B A B A B A A B A B A B A B 9.º/10.º ¼ de Final ¼ de Final ¼ de Final ¼ de Final 5.º/6.º 7.º/8.º ½ Final ½ Final

18/10/14 Etoile, 25 – Progresso, 28 3.º/4.º 1.º de Agosto, 27 – Petro, 25 Final

Ano Cidade Campeão 1979 Cairo (Egito) Al Ahly (Egipto) 1980 Bouaké (Costa do Marfim) SC Gezira (Egipto) 1981 Dakar (Senegal) Air Afrique Bouaké (Costa do Marfim) 1982 Bouaké/Yamussoukro Grasshoppers (Nigéria) 1983 Brazzaville (Congo) ASC Bouaké (Costa do Marfim) 1984 Dakar (Senegal) ASC Bouaké (Costa do Marfim) 1985 Rabat (Marrocos) Etoile du Congo (Congo) 1986 Libreville (Gabão) Etoile du Congo (Congo) 1987 Owerri (Nigéria) Ferroviário de Luanda (ANGOLA) 1988 Cotonou (Benin) Grasshoppers (Nigéria) 1989 Abidjan/Bouaké USC Bassam (Costa do Marfim) 1990 Brazzaville (Congo) Etoile du Congo (Congo) 1991 Kano (Nigéria) Africa Sports (Costa do Marfim) 1992 Yamoussoukro Africa Sports (Costa do Marfim) 1993 Túnis (Tunísia) Petro-Atlético (ANGOLA) 1994 Cotonou (Benin) Etoile du Congo (Congo) 1995 Cotonou (Benin) Petro-Atlético (ANGOLA) 1996 Cotonou (Benin) Africa Sports (Costa do Marfim) 1997 Niamey (Níger) Petro-Atlético (ANGOLA) 1998 Cotonou (Benin) Petro-Atlético (ANGOLA) 1999 Cotonou (Benin) Petro-Atlético (ANGOLA) 2000 Cotonou (Benin) Petro-Atlético (ANGOLA) 2001 Benin City (Nigéria) Petro-Atlético (ANGOLA) 2002 Libreville (Gabão) Petro-Atlético (ANGOLA) 2003 Cotonou (Benin) Petro-Atlético (ANGOLA) 2004 Casablanca (Marrocos) Petro-Atlético (ANGOLA) 2005 Abidjan (Costa do Marfim) Petro-Atlético (ANGOLA) 2006 Abidjan (Costa do Marfim) Petro-Atlético (ANGOLA) 2007 Cotonou (Benin) Petro-Atlético (ANGOLA) 2008 Casablanca (Marrocos) Petro-Atlético (ANGOLA) 2009 Yaoundé (Camarões) Petro-Atlético (ANGOLA) 2010 Casablanca (Marrocos) Petro-Atlético (ANGOLA) 2011 Kaduna (Nigéria) Petro-Atlético (ANGOLA) 2012 Tanger (Marrocos) Petro-Atlético (ANGOLA) 2013 Marrakech (Marrocos) Petro-Atlético (ANGOLA) 2014 Túnis (Tunísia) 1.º de Agosto (ANGOLA) A REVISTA MENSAL DE ANGOLA


50 AO PÉ DA LETRA

Fidel, Dilúvio, Barrigana e outros apodos Silva Candembo

A

o certo, não sei porquê mas, desde tempos de antanho, é bastante comum professores serem “baptizados” por alunos com alcunhas que em regra expressam um ou vários traços da personalidade, da fisionomia ou da indumentária do mestre. Na maior parte das vezes, os nomeados desconhecem terem sido levados à pia baptismal para o competente sacramento. Ou seja, quase sempre ignoram que ter um cognome, que invariavelmente faz as delícias dos estudantes quando entre si tocam a maldizer os professores. Nas mais da vezes os apodos que lhes são dedicados nada têm de simpáticos. No meu modesto entendimento, esse comportamento decorre essencialmente da necessidade que o aluno tem de sair da condição de subalternidade em relação ao mestre. Também resulta de uma precisão ainda maior de um “ajuste de contas” em razão da sujeição imposta pelos educadores nas aulas, nas provas e, sobretudo, nas chamadas orais. Noutros tempos, essa “desforra” acontecia igualmente por causa da tabuada de multiplicar, que muitas palmatoadas e chicotadas renderam a meninos menos aplicados ou cuja inteligência não foi motivo da atenção divina. Provavelmente por haver só um professor em cada turma, na escola primária poucas crianças se atreviam a apodar o mestre. Além disso, a este nível os bufos estavam muito predispostos a delatarem os seus colegas com a língua solta e qualquer escorregadela podia ser premiada com castigo severo, mesmo que as normas pedagógicas proibissem o recurso à “Maria da Dores”. Aquela mesmo que acariciou as palmas das mãos de tanto garoto que hoje é homem feito a desfilar de fato e gravata em escritórios de consultoria económica, de elegantes jeans em ateliers de arquitectura, de toga em sumptuosas salas de tribunais ou ainda de imaculada bata branca e estetoscópio a descer-lhe da nuca para o peito, num consultório médico. A partir do ciclo preparatório é que as coisas mudavam de figura. Na descoberta de novos mundos, os alunos expandem-se, têm novas experiências e tornam-se muitas vezes mais temerários, sendo também mais frequentes os “baptismos” dos mestres. Quando há quase quatro décadas entrei para o 1.º Ano do ciclo preparatório, espantei-me com a profusão de apodos dedicados aos professores. Muitos deles com tal fantasia que, se usada para a criação de um texto literário, podia gerar obra da dimensão de Quem Me Dera Ser Onda! Mais pasmado ainda me quedei porque quase todos, salvo raríssimas excepções, tinham alcunhas, incluindo senhoras. Havia um jovem professor de Desenho, cujo nome de registo era José Carlos Braga mas preferia que o chamassem “Zeca”, como lá em casa. Era um sujeito bem parecido, alto, corpo atlético e por quem as meninas morriam de amores. Por ele, suspiravam literalmente. Seguramente por isso, provocara a inveja incontida de alunos que não conseguiam conviver com o delírio colectivo das moçoilas, as quais com o mestre sonhavam na intimidade nocturna do leito e também de dia. O “Zeca” era todo ele simpatia e quando sorria o tufo de barba – na verdade um tufinho – que a muito custo nascera e se alojara no seu queixo proeminente quase desaparecia. A gritante escassez de filamentos capilares revelou-se uma arma de arremesso para os mandriões. Apodaram-no de “Barbudo”. “Fidel” também valia. Quando o homenzinho de Deus faltasse e o sino sinalizava borla, um discípulo, com um sorriso maroto desenhado nos lábios gretados, dizia “Viva el companhero Fidel”, numa alusão à farta barba do líder comunista, ligando-o ao pobrezinho do “Zeca Barbudo”, como também era chamado nos corredores da escola. Era um

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daqueles alunos que sentavam no fundo da sala para melhor costurar as suas travessuras. Mas, no caso em apreço, o rapaz tinha razão. Nesse quesito, o professor de Desenho estava mesmo liso e por mais que tentasse, aqueles faltos filamentos recusavam-se a crescer mais do que aquilo. Coitado! O fulano que leccionava a disciplina de Moral e Religião era de uma magreza cadavérica, capaz de rivalizar com os etíopes atingidos pelos devastadores efeitos da seca dos princípios da década de 1980, a qual motivou a solidariedade de músicos americanos reunidos no projecto “USA For Africa”. Chamava-se Luís de Carvalho e usava invariavelmente camisa branca e calça preta ou azul-escura, ao estilo dos funcionários da antiga Fazenda e Contabilidade. Só que as calças do homem choviam copiosamente, como as calças justíssimas muito queridas pelos funcionários bancários dos dias de hoje. Na gíria da época, chover significava calça cuja bainha se achava acima do chamado olho do pé, um pouco a imitar calças de palhaço. O homem guiava uma barulhenta motocicleta de marca Zundap que, julgo, deixou de ser fabricada. Pareceme, aliás, que todas as Zundapes eram insuportavelmente barulhentas. Para azar dos pecados, à hora da largada, quando montava a sua mota, a calça chovia ainda mais ao flexionar os joelhos para acertar os pés nos pedais. Isto provocava comentários jocosos e abafados risos de troça, pois naquela época, calça a chover era motivo de chacota. Como a chuva das calças do professor Luís de Carvalho era torrencial, cognominaram-no “Dilúvio”. Este desventurado mestre também não sabia que provocava cheias de... risos! Mas em toda a escola os alunos conheciam o stor “Dilúvio” e alguns caloiros até chegaram mesmo a pensar que aquele era o sobrenome do magérrimo mestre! Nos primeiros anos de independência a carência era de tal ordem que sequer havia caras de bacalhau no Natal, para não falar já no lombo. A comida era racionada, o vestuário também. Ainda assim, o professor Vasco da Gama, de Trabalhos Manuais, exibia uma protuberância abdominal em nada condizente com os tempos revolucionários que se viviam. Afinal, em plena revolução, não era “politicamente correcto” ter uma barriga que denunciasse vida fausta e hábitos pequeno-burgueses. Embora doente, porque obesidade é na verdade doença, algumas pessoas dirigiam-lhe olhares reprovadores, como que a lembrarem aquela canção do trovador português Zeca Afonso, nos anos quentes da “Revolução do Cravos”. “Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada...”. O “nome de colono” e o nutrido bojo causavam-lhe duplo embaraço. Mas os alunos pouco se importavam com o seu nome de baptismo, seguramente escolhido com muito orgulho pelo pai. De resto, isso não dá pano pra manga, no que ao escárnio diz respeito. O foco dos alunos era o descomunal bandulho do mestre que, provavelmente, em virtude da fartura de tecidos adiposos – em linguagem terraa-terra, pode-se dizer banhas baloiçantes – quase sempre transpirava em bicas. E não foi preciso muito esforço. A alcunha surgiu com naturalidade: Barrigana, que significa exactamente barrigudo, sendo um sobrenome bem lusitano e, em Portugal, até houve um guarda-redes assim chamado. Nesse caso, o Barrigana sabia que para os alunos ele era o Barrigana. Mas não se incomodava ou fingia não ligar porque, naqueles tempos de “fervor revolucionário”, Barrigana era um mal menor, bem mais confortável do que Vasco Gama, ainda que alguém ameaçasse partir os dentes à pequena-burguesia!


ESCAPARATE

Breve Antologia do Conto Angolano

“Balada dos Homens que Sonham”

Autor: União dos Escritores Angolanos Género: Conto Editora: União dos Escritores Angolanos Páginas: 189 Lançamento: 9 de Outubro de 2014

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extos literários de 10 autores, que se revelaram publicamente entre 1980 e 2010, dão corpo a esta compilação antológica, editada por iniciativa da União dos Escritores Angolano (UEA), para promover a literatura angolana a nível internacional. As páginas do livro são assinadas por Timóteo Ulika, Eduardo Bettencourt Pinto, E. Bonavena, José Luís Mendonça, António Fonseca, Frederico Ningi, João Tala, Zetho Cunha Gonçalves, José Eduardo Agualusa e Carmo Neto, escolhidos devido à forma de abordagem, ao contexto e realidade, bem como à consciência colectiva e às escolhas estéticas e temáticas de Angola e dos angolanos. Nas palavras de Manuela Costa Ribeiro em “Correntes d’Escrita” a “Balada dos Homens Que Sonham” é um livro de estórias que tecem a História de um país em construção, escritas por autores que se apropriam do português para escreverem com respiração própria, muito sua. A simplicidade das temáticas contrasta com a complexidade de um quotidiano feito de recortes e de uma geografia retalhada de olhares. É, por isso, muito peculiar a realidade idiossincrática grafada e sentida nestes textos, de outras cores e magias, de outros sons e sonhos, de todos os contrastes, a perder de vista, com Angola toda lá dentro.

51

ANGOLA e o Movimento Revolucionário dos Capitães de Abril em Portugal

Memórias (1974-1976)

Autor: Manuel Pedro Pacavira Género: Histórico Páginas: 319 Editora: Mayamba Lançamento: 13 de Agosto de 2014

P

refaciado pelo jornalista e político Aldemiro Vaz da Conceição, ANGOLA e o Movimento Revolucionário dos Capitães de Abril em Portugal – Memórias (1974-1976) representa um contributo inestimável para a compreensão do processo de descolonização e os acontecimentos políticos na antiga colónia portuguesa, entre o 25 de Abril de 1974 e Março de 1976, data em que se retiraram de Angola os invasores sul-africanos. As Memórias de Manuel Pedro Pacavira sobre este período exaltante da História de Angola, escritas num ritmo empolgante e sublinhado pela oralidade, que é a matriz da moderna literatura angolana, revelam factos, situações e protagonistas que ajudam a compreender o que estava em jogo num período em que a “Guerra-Fria” estava no auge em África. Isso terá contribuído para a nomeação de Pacavira como Representante de Angola junto da ONU (1988-1991), onde faz o papel de Embaixador de BonsOfícios junto das Instituições do Estado americano, tendo aberto caminhos para o posterior reconhecimento de Angola pelos Estados Unidos da América. Não é, aliás, sem razão, que o Presidente José Eduardo dos Santos escreve na contracapa que “com o registo das nossas memórias históricas, estamos sempre a prestar um valioso contributo, para que as novas e futuras gerações conheçam as situações e personagens da gesta de Libertação Nacional”.

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52 BELEZA

O PODER DAS CORES Lídia Araújo

Esteticista/Consultora de imagem 928823422 La.lidiaraujo@hotmail.com

H

á várias formas de as pessoas se expressarem, mas escolher bem as cores e as roupas pode definir quem somos. Está provado que a cor ajuda o nosso cérebro a processare armazenar informação visual de forma mais fácil do que experiências sem cor. Pensamos em céu, vem o azul, em folhas o verde, em alcatrão, o preto, estes são alguns exemplos facilmente visualizados pelo nosso cérebro com base nas cores. Usar as cores certas pode influenciar o nosso espírito. As cores claras dão energia, enquanto que as cores escuras podem retirar essa energia. O primeiro passo é saber quais as cores que nos favorecem, uma vez que influenciam o nosso aspecto.

Há cores que nos ficam melhores que outras, e isto tem a ver com a coloração natural da nossa pele, olhos e cabelo. Escolher cores erradas pode dar-nos um aspecto triste, ou às vezes até de doentes. Quando usamos cores que estão em harmonia com a nossa coloração natural, podemos adquirir um visual mais jovem, elegante e até mais saudável. A escolha das cores pode também influenciar a percepção de volume do nosso corpo. Se queremos parecer mais magros, devemos usar cores mais escuras nas zonas que queremos disfarçar. Se queremos parecer mais formes é exactamente o contrário, a escolha de cores claras.

O SIGNIFICADO DAS CORES BRANCO: Significa frescura e pureza espiritual. Mostra uma personalidade positiva, equilibrada, optimista e individualista; PRETO: Autoridade, disciplina. Pode significar pouca autoconfiança. CASTANHO: Cor terra, descontracção. Conota simpatia, uma atitude séria. È a cor do desejo de querer ser aceite por todos. BEGE: Ideal para substituir o preto e castanho no verão. Não agressiva, simpática e ajuda a aproximarmo-nos dos outros. Ideal para quem tem empregos na área do coaching ou recursos humanos, onde a boa relação é fundamental. AZUL: Cor da lógica,activa a mente. Transmite confiança, paz e ordem. COR-DE-ROSA: Sugere simpatia, dá um toque feminino. Pode também significar pouca confiança e dependência. ROXO: Criatividade, sensibilidade e autocontrolo. Pode às vezes conotar arrogância e individualismo. VERMELHO: Cor da energia. Dá autoconfiança e autocontrolo. Estimula e mostra forte personalidade. È também uma cor agressiva e pode caracterizar alguém com carácter dominante e impaciente. VERDE: Sugere calma e simpatia. Mas por vezes significa imaturidade ou pessoas que não confiam facilmente nos outros. USE AS CORES DO SEU VESTUÁRIO PARA OPTIMIZAR A COMUNICAÇÃO COM AS PESSOAS À SUA VOLTA

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LUXOS

53

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54 BELEZA

Mister Africa International é o angolano

José Arnaldo

A

ngola continua a dar cartas nos concursos de beleza. Se na classe feminina as candidatas angolanas em regra conseguem boas classificações, na masculina o potencial de Angola começa agora a despontar. Prova disso mesmo foi dada por José Arnaldo Manuel que venceu o concurso Mister Africa International’2014 realizado em Londres no primeiro dia deste mês de Novembro. Com este título, sucede a Jaydon Anderson, do Botsuana, como o “homem mais belo” do continente. Agenciado pela Hadja, o angolano disputou o ceptro com outros 29 candidatos em representação de distintos países, incluindo da Europa e dos Estados Unidos da América. Ele foi o eleito dos internautas que votaram por via da rede social facebook. De acordo com os números da votação, o representante do Gabão foi o segundo classificado, recebendo o título “Mister Africa Ambassador” e o do Tchad foi o terceiro, cabendo-lhe o “Mister Africa Tourism”. A gala que consagrou o rapaz nascido no Bié decorreu no 4th Floor Studios. O curioso é que para concorrer ao Mister Africa International’2014, José Arnaldo Manuel Antunes tornou-se Mister Angola’2014 por obra do acaso. Ou seja, acabou conquistando o cobiçado ceptro por desqualificação do vencedor original, Marlon Pacheco. Este viu-se despojado do título pela Organização por conduta inapropriada e incumprimento do contrato.



56 CINEMA

Raptadas

O

ponto de partida deste filme é muito comum a tantos outros já vistos no cinema ou na televisão: duas meninas desaparecidas sem deixar rasto quando brincavam à porta de casa; dois casais de pais desesperados e atarantados com a situação e um polícia diligente e dedicado sem saber muito bem por onde começar a investigação. Denis Villeneuve, cineasta canadiano que adaptou recentemente um romance de José Saramago para o cinema (Enemy/ O Homem Duplicado), agarra o filme (e o espectador) aparentemente comum e já muito visto e consegue ainda assim construir um enredo pleno de suspense, perturbante e original. Quem vê o filme lembrar-se-á de “O Silêncio dos Inocentes”, de Jonathan Demme, e, não sendo um clássico com a envergadura deste, também é certo que não o desmerece! Filme construído com muita habilidade, doseando sobre o espectador tensão e ansiedade quanto baste, já que o tema é, por si só, pesado e perturbador; excelentes interpretações (fico sempre fascinado com as interpretações do já recorrente vilão Paul Dano), sendo certo que Denis Villeneuve consegue tecer uma teia de relações humanas e morais muito ambivalentes.

Ainda que o final me pareça um pouco inverosímil, certo é que estamos na presença de um bom filme policial sem recurso a tiros, perseguições automóveis e grandes efeitos especiais. Recomendo!

Sinopse: Sentindo-se abandonado pela lei, depois da sua filha de 6 anos e uma amiga dela serem sequestradas, um homem faz uma tentativa desesperada para descobrir o que se passou, enfrenta o departamento de polícia e o jovem detective encarregue do caso. Raptadas Título original: Prisoners/ Raptadas; Realização: Denis Villeneuve; Intérpretes: Hugh Jackman, Jake Gyllenhaal, Terrence Howard, Melissa Leo, Paul Dano, Viola Davis, Maria Bello; Origem: Estados Unidos;

À MESA

Caril de gambas Ingredientes

Preparação:

2 Maças 50gr de Caril 8 Gambas Azeite q.b Sal q.b 1 lata de Leite de coco 20gr de Coco ralado

Colocar uma maçã a cozer em água e transformar em puré. A outra cortar aos cubos e reservar no frio. Descascar as gambas deixando o rabo. Colocar azeite a ferver com o Caril e mexer bem. Juntar o leite de coco e a maçã aos cubos. Depois, colocar as gambas já descascadas e, finalmente, o puré de maçã e o coco ralado. Deixar ferver e temperar a gosto. Servir com arroz basmati.

Bom apetite! A REVISTA MENSAL DE ANGOLA


EDITORIAL

03

Carta Dominante: O Louco, que significa Excentricidade. Amor: No que se refere ao amor, seja responsável. Não faça alguém sofrer pela sua falta de atenção. Saúde: Tenha mais cuidados consigo e com a sua saúde. Dinheiro: Apesar de não dar muita importância aos bens materiais, esforce-se por conseguir um aumento de salário. Se mostrar empenho verá que consegue. Números da Semana: 1, 3, 24, 29, 33, 36 Pensamento positivo: Vivo o presente com confiança!

Carta Dominante: 7 de Copas, que significa Sonhos Premonitórios. Amor: Surpreenda o seu amor com uma viagem que vos permitirá partilhar maior intimidade. Está a fazer falta à vossa relação uma maior convivência a dois, sem interferência de outras pessoas. Saúde: Cuide da sua alimentação. Dinheiro: Reconheça o seu verdadeiro valor. Não permita que o subvalorizem nem que abusem da sua boa vontade. Números da Semana: 7, 11, 18, 25, 47, 48 Pensamento positivo: Eu tenho pensamentos positivos e a Luz invade a minha vida!

Carta Dominante: A Torre, que significa Convicções Erradas, Colapso. Amor: O seu par poderá exigir-lhe mais atenção. Procure ser um pouco mais carinhoso. Saúde: Tendência para as alergias. Previna-se antecipadamente. Dinheiro: Poderá ter de reajustar a sua forma de trabalhar. Elabore uma estratégia que lhe permita adaptar-se às novas realidades da sua empresa. Números da Semana: 4, 6, 7, 18, 19, 33 Pensamento positivo: procuro ser compreensivo com todas as pessoas que me rodeiam.

Carta Dominante: 3 de Espadas, que significa Amizade, Equilíbrio. Amor: A sua cara-metade vai dar-lhe provas do amor que tem por si. Vai sentir-se muito feliz, aproveite este período de romance e amor. Saúde: Poderão surgir alguns problemas relacionados com a coluna. Dinheiro: Faça valer os seus pontos de vista de uma forma civilizada. Não exija fazer prevalecer a sua opinião, saiba ouvir. Números da Semana: 9, 11, 25, 27, 39, 47 Pensamento positivo: O Amor invade o meu coração.

Carta Dominante: Valete de Copas, que significa Lealdade, Reflexão. Amor: Poderá sentir necessidade de fazer um balanço da sua relação amorosa e perceber que afinal não valeu a pena ter lutado tanto. Procure acima de tudo a sua felicidade, seja com quem for. Saúde: Pense mais em si e cuide da sua saúde. Dinheiro: Período protegido profissionalmente. Apresente os seus projectos com segurança. Números da Semana: 10, 20, 36, 39, 44, 47 Pensamento positivo: Eu sei que posso mudar a minha vida.

Carta Dominante: Ás de Espadas, que significa Sucesso. Amor: Poderá conhecer alguém que o fará pôr em causa a sua actual relação amorosa. Pense bem nas consequências dos seus actos antes de se lançar de cabeça na paixão. Saúde: Durante este período a tendência é para que tudo corra bem no domínio físico. Dinheiro: Defina os seus projectos e ponha-os em prática. O sucesso financeiro está favorecido, por isso não tenha medo de arriscar. Números da Semana: 7, 18, 19, 26, 38, 44 Pensamento positivo: Sou optimista, espero que me aconteça o melhor!

Carta Dominante: A Papisa, que significa Estabilidade, Estudo e Mistério. Amor: Poderá conhecer alguém que o deixará completamente apaixonado. Avance com prudência, procure conhecer melhor a pessoa antes de se envolver. Saúde: Evite alimentos demasiado salgados. Dinheiro: Período de estabilidade financeira, contudo guarde algum dinheiro porque pode vir a precisar. Números da Semana: 1, 8, 42, 46, 47, 49 Pensamento positivo: Eu tenho força mesmo nos momentos mais difíceis!

Carta Dominante: Rainha de Ouros, que significa Ambição, Poder. Amor: Esteja atento ao seu coração e siga a sua intuição. Não fuja do amor, ele vai correr atrás de si. Saúde: Durante esta quinzena estará mais susceptível a sofrer pequenos acidentes domésticos. Acautele-se. Dinheiro: Boas oportunidades para iniciar um negócio na área do turismo. Números da Semana: 4, 9, 11, 22, 34, 39 Pensamento positivo: Eu acredito que todos os desgostos são passageiros, e todos os problemas têm solução.

Carta Dominante: 6 de Copas, que significa Nostalgia. Amor: Poderá sentir-se um pouco melancólico e com saudades de um amor que o marcou muito no passado. Saúde: Período agitado e esgotante. Dinheiro: Esteja atento à sua conta bancária e faça os possíveis por controlar os gastos. Não estará com uma boa capacidade de gestão, por isso peça ajuda nesse sentido a alguém da sua confiança. Números da Semana: 1, 2, 8, 16, 22, 39 Pensamento positivo: O Amor enche de alegria o meu coração!

Carta Dominante: O Mágico, que significa Habilidade. Amor: Não se isole nem se feche dentro de si mesmo. Abra as portas do seu coração ao amor. Mostre a pessoa maravilhosa que é, e pode fazer alguém muito feliz. Saúde: Tendência para o desgaste físico. Dinheiro: Estabilidade financeira. Aproveite para fazer algumas compras ou investir em melhoramentos para a sua casa. Números da Semana: 7, 13, 17, 29, 34, 36 Pensamento positivo: Vivo de acordo com a minha consciência.

Carta Dominante: 8 de Ouros, que significa Esforço Pessoal. Amor: Preocupe-se mais com o bem-estar da sua família. Esteja mais presente. Saúde: O bom humor e o optimismo pautarão a sua vida. Dinheiro: Viverá um momento de prosperidade, no entanto procure não emprestar dinheiro a alguém em quem não confie plenamente, oiça a sua intuição. Números da Semana: 7, 11, 19, 24, 25, 33 Pensamento positivo: O meu único Juiz é Deus.

Carta Dominante: Rainha de Espadas, que significa Melancolia, Separação. Amor: Uma separação forçada poderá fazer com que sinta falta do carinho e conforto da sua família. Saúde: Não faça esforços desnecessários. Dinheiro: Poderá receber um convite para chefiar um departamento. Pense bem se pretende tamanha responsabilidade. Números da Semana: 5, 25, 33, 49, 51, 64 Dia mais favorável: quinta-feira Pensamento positivo: Esforço-me por dar o meu melhor todos os dias.

Contacte o Centro Maria Helena através de 21 318 25 99 ou consultas@mariahelena.pt Visite o site www.mariahelena.tv

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58 ETC & TAL...

Conversa de mulher na ZAP Viva O canal ZAP Viva continua em maré de estreias, o que lhe deixa cada vez mais próximo do público telespectador. Depois de em Setembro último ter lançado na sua grelha o programa Estrada da Vida, apresentado pela Miss Angola’2000 Karina Manita, em Outubro, aconteceu outro lançamento. Trata-se, agora, de um programa em formato talk-show, onde conhecidas mulheres da sociedade angolana debatem uma série de assuntos de forma desassombrada. A estreia ocorreu no dia 26 de Outubro passado. E lá estiveram Mell Chaves, a promotora de moda Karina Barbosa, Neide Sofia, a cantora Noite e Dia e as residentes do programa apresentado pelo humorista Calado Show. A estação promete que serão sempre conversas animadas e sem tabus, nas quais a busca da diversão é incessante.

Novela angolana Windeck em exibição no Brasil A telenovela angolana intitulada “Windeck” estreou a 10 do corrente mês de Novembro na TV Brasil, segundo informou a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), gestora do canal. Desse modo, esta será a primeira novela africana a ser exibida no Brasil. Para a gerência da EBC, a exibição dessa telenovela é apenas um primeiro passo em relação à ampliação do conteúdo lusófono exibido na TV Brasil. Para o próximo ano, quando Angola e outros países lusófonos de África celebrarem 40 anos de independência serão exibidos conteúdos especiais produzidos pela emissora em parceria com produtores africanos e portugueses. “Windeck” foi produzida em 2012 pela Semba Comunicação, tendo sido exibida primeiro pela TPA e posteriormente pela RTP1, em Portugal. A novela esteve entre as quatro indicadas para o prestigiado prémio Emmy Internacional de 2013, ano em que a brasileira “Lado a Lado” recebeu a distinção. A REVISTA MENSAL DE ANGOLA

Troféu da NBA esteve em Luanda A Super Sport e a NBA trouxeram em Outubro último o mítico troféu da NBA à Angola. A Super Sport e a NBA trouxeram em Outubro último o mítico troféu da NBA a Angola. Tratou-se da primeira vez que um dos mais valiosos troféus desportivos do mundo visitou o continente africano, com Angola a ter a primazia. O troféu foi apresentado no dia 17 de Outubro, em conferência de imprensa na Galeria dos Desportos, tendo contado com a ilustre presença do Secretário de Estado dos Desportos de Angola, Albino da Conceição. Depois, a 19, a taça esteve ainda em exibição pública no Belas Shopping, entre as 15 e as 16 horas, com centenas de pessoas a tomarem contacto com a taça. “Este Tour do Troféu NBA tem como objectivo promover a prática do basquetebol no continente”, referiu a organização. Antes de Angola, o ceptro da NBA passou pelo Brasil, Argentina, França e Austrália. Depois do nosso país, seguiu para a África do Sul, donde partiu para casa. Ou seja, para os Estados Unidos da América.

Sharam Diniz carimba o gordo Na primeira semana de Novembro a top-model angolana Sharam Diniz foi uma das convidadas do Programa do Jô, da brasileira TV Globo. Elegantíssima e glamorosa, a menina nascida em Luanda foi toda ela espectáculo. Respondeu sem tartamudear às perguntas colocadas por Jô Soares, demonstrando uma extraordinária bagagem cultural e um à vontade pouco comuns em muitas das nossas figuras públicas. Num palco onde até personalidades de maior grandeza apresentam-se com os nervos à flor da pele e muitas vezes acabam pondo os pés pelas mãos, Sharam foi “enorme”, a começar pela forma sóbria mas belíssima como se apresentou e acabando com o seu articulado discurso. No final, quando se despediu, carimbou a bochecha do gordo com terno beijo que deixou lá a sua marca de... batom bem vermelho. A marca foi tão forte que no bloco posterior e já entrevistando outro convidado, Jô Soares fez questão de mostrar baboso o carimbo da top-model. E quando entrevista acabou, a plateia soltou um sonoro aaaahhhhhhhhh, como que a dizer “soube a pouco”.


CULTURA

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