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Três dimensões, óculos de papel, indústria do entretenimento, estereoscopia, ilusão.


Mas não é só dessa forma que compreendemos tal conceito. Profundidade, sombra, uma outra dimensão além da superfície plana cartesiana, corpos. Tudo é 3D. Arquitetura, construções de papel, luzes e cores foram as inspirações para esta edição da Sopro, que traz dois editoriais de moda, colunas de moda, gastronomia, arte e design, seções de ilustração e fotografia, e uma entrevista com o artista e diretor de Criação, Jum Nakao.

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EDITORIA


Sopre com a gente em qualquer dimens達o.


06 MODA - (ciber) ItineraRios 10 Inter_Fluxos 66 Urbanidade -

76 ENTREVISTA - JUM NAKAO 98 TOMATES&BATATAS - Frozen yogurt: leveza e sabor 106 138 ARTE - Os por ques e os porquês... ARQUITETANGULOS

144 MOLDURA - Lookbook de antigamente gera gentileza, 158 DESIGN - Gentileza inovação gera evolução 162 RETRATO 170 IN OFF


Revista Sopro Edição 03 Abril de 2011 Belém - Pará Edição: Isaac Lôbo Coordenação Editorial: Yorrana Maia Direção de Criação e Fotografia: Klébeson Moura Direção de Moda: Graziela Ribeiro Direção de Arte: Maécio Monteiro Revisão - Paulo Xavier e Ize Sena Web Master - Rafael Guerra Apoio: Avisi Comunicação

Fone: + 55 91 8119 5255 / 8156 5872 / 8412 7001 / 8299 6951 E-mail: contato@revistasopro.com www.revistasopro.blogspot.com www.twitter.com/revistasopro www.issuu.com/revistasopro

www.revistasopro.com


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(ciber) ItineraRios Yorrana Maia

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orque era domingo e havia um quase silêncio, com uma trilha sonora ao fundo, bem lá no fundo, com algum samba daqueles antigos e magoados. Porque era domingo, um perfeito dia para passeios, navegações, viagens. Porque era domingo, eu começava minha manhã por aí vagando entre dezenas de janelas, nuvens, redes, links, posts. E porque eu não sou como um marujo que navega, preciso, em um imenso silêncio, em uma noite escura qualquer, me entrego à imprecisa viagem por ondas virtuais.

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Passo 36 horas em São Paulo. Escuto um fado. Resquícios de um carnaval. Budapeste. O que é a tristeza para você? O amor? Rede. Corpo. Mito. Zoran Music. Vestidos brancos. The sartorialist.

Como um ciber flâneur, em um outro tipo de silêncio aparente, observo por entre janelas abertas diante de mim. Uma polifonia. Conversas com tantos outros. Delicadezas, descobertas, sentidos exaltados. Fragmentos e cenários por devir.


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Janelas vão se abrindo. Janelas vão se fechando. Ciber itinerários que constituem nossa subjetividade. Outros tantos que criamos para manifestar nossas visões do mundo. Espaços desterritorializados na contemporaneidade. Identidades múltiplas, vestindo e despindo corpos em metamorfoses.

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(ciber) ItineraRios Fotos: Mari Chiba, Isaac Lôbo e Klébeson Moura Layout: Klébeson Moura

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Yorrana Maia é bacharel em Design pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), pós-graduada em Moda e Criação pela Faculdade Santa Marcelina e mestranda em Comunicação, Linguagem e Cultura pela Universidade da Amazônia (Unama). Atualmente é professora do curso de Bacharelado em Moda da Universidade da Amazônia. Tem experiência na área de desenho industrial, com ênfase em moda, atuando principalmente em processo de criação, pesquisa em moda e desenvolvimento de coleção.


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Produção: Karllana Cordovil Fotografia: Bruno Carachesti Modelos: Jéssica Mota e Marco Normando Make up: Ivy Guimarães Assistente de produção: Tita Padilha Locação: Kalamazoo Agradecimentos: Loja Colabora, Casa Bricolada e Aparelhagem Rubi Boy Marcas: Angélica Carneiro Citron Pressé Dinah Raiol Hello Punk Yorrana Maia


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Nos novos tempos, um novo tempo. , , Natural, tecnologico, pessoas, maquinas. v

Vivencias reais, virtuais, reais-virtuais e virt

Realidade e web: paralelas, tangentes, conv v

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Inter-relacoes , v

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Interconexoes Intertemporal Volume-auditivo. Volume-espaco. , v

v

Sentidos, pele, envolvimento, interacao. ,


tuais-reais.

vergentes, divergentes.











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Urbanidade Nathália Petta Fotos: Rogério Uchôa

Quando você pensa em grandes centros urbanos, quais imagens vêm imediatamente a sua cabeça? Carros,

engarrafamentos, barulhos, sirenes, caos, modernidade. Apesar das diferenças e semelhanças que toda metrópole possui, a interpretação que fazemos delas ganha um toque particular: o olhar de cada um. Os espaços urbanos vêm sofrendo modificações significativas e naturais com a evolução da humanidade. Para alguns, as cidades estão cada vez mais homogêneas; para outros, singulares e especiais.

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As mudanças em nossos espaços urbanos podem agregar ou não a nossa cultura. Para Fábio Castro, professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura na Amazônia, da Universidade Federal do Pará (UFPA), a cidade possui características do espaço urbano que demonstram uma certa mudança em nosso cenário. “Belém tem peculiaridades, como muitas cidades, e, tal como elas, também possui características comuns às cidades de seu porte. Dentre as peculiaridades da capital paraense está um processo de hibridação cultural forte, que sintetiza muitas influências culturais, em geral sem ter consciência disso”, afirma o professor. Há um processo de homogeneização das cidades, uma espécie de “dna da urbanidade”, que nem sempre se aplica aos costumes e hábitos de cada região ou cidade. É o que explica a professora Maria de Nazaré Sarges, do Departamento de Geografia da UFPA. “Com certeza, não temos nada a ver com os costumes e hábitos de outras regiões que são bem diferentes da

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nossa. Esse é o efeito da globalização, que tenta “homogeneizar” os habitantes deste planeta, como se fosse possível tornar todos iguais”. Para entender o que a professora está falando, basta

pensar o quanto é difícil andar de paletó e gravata no calor escaldante de Belém ou imaginar como adequar o centro histórico de ruas estreitas para um fluxo grande de carros. Nossos olhares tendem a perceber apenas um processo caótico dos centros urbanos, que crescem sem o acompanhamento de um plano de desenvolvimento. “Cada cidade tem sua historicidade. Desse modo, temos as nossas especificidades, mas também temos problemas como as outras, como a ocupação desordenada do espaço, a falta de moradias, as habitações precárias, falta de saneamento e todas as mazelas de uma cidade brasileira do século XXI”, explica a professora.


“Por incrível que pareça, no passado, éramos mais glamourosos e modernos do que somos hoje” Bob Menezes


Para o fotógrafo Bob Menezes, a desordem é o que herdamos de ruim de outras cidades. “Absorvemos o pior que a urbanidade e a modernidade podem oferecer. Por incrível que pareça, no passado, éramos mais glamourosos e modernos do que somos hoje”, aponta. A professora Maria de Nazaré defende que não é necessário renegar os hábitos e costumes amazônicos, para conviver com os benefícios da globalização sem perder a identidade. Já Fábio Castro enfatiza que “a vida é maior que a identidade. Quem preserva a identidade, não vive a identidade”, finaliza.


“A vida é maior que a identidade. Quem preserva a identidade, não vive a identidade” Fábio Castro

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Foto: Alexandre Perroca

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“O mundo não precisa de pessoas bem vestidas; o mun

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m 1966, ele nasceu. Em algum momento, começou a desconstruir para entender. “Continuo até hoje desconstruindo para entender e construindo para o outro entender”, releva.

Acreditou, por um período, que o suporte do seu trabalho poderia ser a eletrônica e a computação, mas, em seguida, considerou os estudos desse setor extremamente distantes do olhar humano. Na moda, Jum Nakao percebeu a possibilidade desta aproximação. Em 1984, iniciou sua formação, através da Coordenação Industrial Têxtil (CIT). Cursou, nos anos seguintes, Licenciatura em Artes Plásticas, na Faculdade Armando Álvares Penteado, e fez extensão universitária em História da Vestimenta, no Instituto de Museologia de São Paulo, e História da Moda, no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Foi considerado, em 1996, a grande revelação da 6ª Edição do Phytoervas Fashion e ocupou o cargo de Diretor de Estilo da Zoomp, onde ficou por seis anos. De lá para cá, foi convidado pela Du Pont para ser o estilista parceiro no Projeto Internacional Hotel Lycra, foi diretor criativo da VivaVida, desenvolveu uma linha premium para a Nike, assinou as coleções do tenista Guga Kuerten, lançou uma série de bolsas em parceria com a Curtlo.

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Em 2004, realizou uma performance no São Paulo Fashion Week, em que, ao final do desfile, as modelos rasgaram as roupas feitas de papel vegetal, confeccionadas em mais de 700 horas de trabalho. Este trabalho, “A costura do invisível”, foi considerado o desfile da década, durante a comemoração de dez anos de moda no Brasil, no SPFW. Em 2005, participou da microssérie Hoje é dia de Maria , da Rede Globo, sendo o responsável pela concepção e criação de uma corte real. Representou o Brasil na mostra internacional dos mais representativos trabalhos de moda de todo o século XX até hoje, no Festival Bienal de Artes da Nova Zelândia, no Museu de Arte Contemporânea de Tokyo, no Festival della Creatività em Firenze, na Feira de Design de Milão, na mostra Please me Fashion em Mantova (Itália), entre outros. Nas páginas a seguir, conheça um pouco do que pensa este grande nome da culura brasileira. E acesse também www.jumnakao.com.

Foto: studiopedrocolon.com

ndo precisa de pessoas melhores”.


Geringonças Animadas: instalação participante do Mostra Sesc de Artes, em novembro de 2007

SoprO

JUM NAKAO

Em que momento o Jum Nakao estilista tornou-se o Jum Nakao professor? Vontade própria ou partiu de alguma percepção, necessidade do mercado?

Nunca me passou pela cabeça ser professor; foi acontecendo. Em 2004, realizei no São Paulo Fashion Week aquele que foi meu último desfile - o desfile de papel que ficou conhecido como a Costura do Invisível. Após este desfile, encerrei as atividades da minha confecção. Não tinha planos e interrompia 25 anos dedicados à indústria. Uma assistente, que contratara na época, viu frustrada sua expectativa de continuar seu aprendizado comigo e disse: “acabei de entrar e você vai parar? Você ainda tem 80

muito para me ensinar. O que você vai fazer com todo este seu conhecimento?”. Respondi que simplesmente não tinha planos e pedi desculpas. Logo após, fui convidado pela Diretoria da Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), onde fui aluno, para realizar uma palestra sobre minha trajetória. Logo ao término da palestra, o diretor da Faculdade de Artes Plásticas me cumprimentou e confidenciou: “geralmente fico apenas no


Fotos: divulgação

início das palestras para voltar às atividades da diretoria, mas sua fala me cativou e permaneci o tempo todo encantado com a sua aula. Você nunca pensou em ser professor?”. Fiquei lisonjeado e, internamente, iniciei uma reflexão.

empresário e estilista de moda implicava numa renúncia e num embrutecimento de afetos. O mundo não precisa de pessoas bem vestidas; o mundo precisa de pessoas melhores.

Depois de 25 anos dedicados à indústria de moda, percebia que minha atuação como estilista pouco tinha transformado a sociedade. A decisão de parar inclusive decorria deste fato e da constatação do efeito reverso: a minha sobrevivência como

Conclui que a educação seria o próximo passo do meu caminho. Atenderia os anseios da minha ex-assistente e o ensejo do diretor. Compartilharia conhecimento, vivências, saberes. Para transformar uma sociedade é necessário transFORMAR o indivíduo. 81


Fotos: Cia de fotos

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Passando por cursos de moda e conhecendo várias pessoas que trabalham na área, como analisas o olhar que as pessoas têm em relação à moda?

Para o senso comum, moda e roupa são quase sinônimas. Quem seriam os grandes responsáveis pela difusão desse imaginário? Os próprios agentes do campo da moda?

A glamourização atraiu muitos olhares para a Moda. Estes olhares míopes e iletrados detiveram-se apenas na superfície da linguagem e não no seu entendimento. Enxerga-se apenas o produto e não a linguagem de Moda. Precisamos de educação e cultura para entendimento e articulação destes símbolos.

Creio que a falta de educação e cultura, tanto de quem faz, quanto de quem consome, seja a principal causa deste quadro.

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“Não é somente na mágica que reside a magia, mas na predisposição do observador em ser encantado”. Foto: divulgação

A exposição Quase Líquido, do artista plástico Eduardo Srur, ocorreu nas margens do rio Tietê, com 20 garrafas PET infláveis gigantes. Jum foi convidado para transformá-las em mochilas. Foram produzidas 2.500 unidades - distribuídas para os alunos da rede pública e ONGs parceiras do projeto

Como é possível transformar as pessoas em sala de aula?

Cabe não somente ao professor, mas, também, ao aluno esta construção de momentos singulares e transformadores. Não é somente na mágica que reside a magia, mas na predisposição do observador em ser encantado. Lux de Lix

Passando por cursos de moda e conhecendo várias pessoas que trabalham na área, como analisas o olhar que as pessoas têm em relação à moda?


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Fotos: divulgação

“Educar é uma forma do criador manter diálogos diretos com o real de uma forma viral.”

Hoje é dia de Maria, microssérie da Rede Globo


Fotos: Gui Mohallem

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Sobre o teu método de modelagem, ele partiu de alguma percepção? De alguma outra técnica?

Os Duplos – Concepção do figurino

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É necessário sonhar grandes sonhos para trazermos um pouco deles à realidade, e um sonho sonhado sozinho é utopia e não realidade. Por este motivo, creio que a materialização de uma obra não pode ser mecânica. Para que as obras tenham vida, é fundamental tanto a participação ativa do observador, quanto da equipe que a faz. Todos que trabalham devem ter a compreensão do processo na sua complexidade. Para criar este

entendimento, desenvolvi este processo de modelar que tem a pele como ponto de partida.Afinal, a roupa é uma segunda pele. Para criar esta segunda camada, a roupa, é imprescindível decodificar e compreender a primeira pele. É um processo onde não é necessário conhecimento de técnicas de modelagem. Para os já iniciados em modelagem plana ou moulage, o processo aprimora a compreensão dos seus princípios e amplia

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Fotos: Divulgação

Memórias transportáveis, sonhos encaixotados - móvel para a Dpot

suas aplicabilidades. A descoberta proposta por este processo de modelagem é a percepção da volumetria do corpo no espaço e suas infinitas possibilidades de vestí-lo, a partir de uma visão escultórica e volumétrica de linhas e traços no espaço ao redor de um corpo.

Além do objetivo claro da técnica de modelagem, que é modelar com a sensibilidade e lógica, sem grandes fórmulas, há alguma outra razão que te faz querer repassar esse método a outras pessoas?

Conhecimento é como água: deve circular para oxigenar a sociedade. Compartilhar conhecimento, educar, é transformar o outro diretamente para potencialidades adormecidas capazes de transformar o real. A educação liberta, outorga ao indivíduo a possibilidade da escolha ativa, permite que o invisível vislumbre para que uma nova história possa ser escrita e lida.

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ENTREVIST

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Fotos: Sandra Bordin


Fotos: Marquinhos

“Uno pontos e costuro retalhos para vestir um novo olhar�.


Fotos: divulgação

Vestidos multiprismáticos para o lançamento da operadora de telefonia celular Oi em SP

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JUM

A costura do invisível

Como tu concilias os teus projetos pessoais com os workshops?

Como surgem as ideias para os teus projetos pessoais? Te apaixonas por algo ao ponto de querer falar, pesquisar sobre aquilo?

Workshops fazem parte dos meus projetos pessoais. Educar é uma forma do criador manter diálogos diretos com o real de uma forma viral.

Procuro viver de forma simples, conectado com o entorno, andando de bicicleta, ouvindo os sons da cidade, respirando o ar que me rodeia, observando invisíveis e imperceptíveis. Sou um turista da vida. Me encanto com potências poéticas e gosto de compartilhar encantamentos com o outro. Neste exercício de compartilhamento, mergulho em busca de sínteses capazes desta tradução, não me atendo à unicidade de linguagem, purismos e regras. Uno pontos e costuro retalhos para vestir um novo olhar.

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Fotos: divulgação

Uma cegonha de papel, articulada, batendo as asas e levando no bico, uma lava-roupas. Lançamento da mini-lavadora de roupas Eggo, da Brastemp.

Museu Lasar Segall

Tu falas que a viagem é tão Como é teu processo de criação? importante quanto chegar ao destino. DeZenhar com Z e ter fé fazem Tu acreditas que há espaço e tempo parte do teu dia a dia? para isso no mercado de moda? Esse é um caminho para encontrar um estilo próprio de criação?

Se você está atrás de respostas, é necessário ir atrás delas. Somente se deslocando é possível conseguir novos ângulos de visão para a realidade e,ao mesmo tempo,reflexos capazes de nos reconfigurar enquanto criadores. Sem percursos, não há deslocamento, não há evolução. Este é o único caminho para sairmos do lugar-comum. Se não há espaço, criamos um nicho. Se não há tempo, estabelecemos uma nova velocidade. Somente assim criaremos novos mercados de moda, ou qualquer outro mercado.

Dezenhar com Z é sonhar. Sem sonhos, não há o que se desenhar. Dezenho e desenho todos os dias. Assim é meu processo de criação.

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Fotos: divulgação

Moradias Transitórias

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Mini-refrigeradores PLA - Brastemp Collection


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Como propor novos caminhos para a moda brasileira?

Escolhi o caminho da educação, que liberta os homens, e da arte, que sensibiliza para um novo possível. Talvez, costurando todas as respostas deste questionário, possa vestir alguma ideia. O

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Frozen yogurt: leveza e sabor Lorena Filgueiras

“Inverno amazônico? O que tem de diferente para que o inverno seja amazônico?”

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eu amigo Álvaro esteve há algumas semanas em Belém – pela primeira vez – e após “desidratar” na capital paraense, decidiu ficar no hotel por uma noite inteira e, zapeando entre os canais de televisão, estacionou num noticiário. Enquanto via a cidade desaparecer sob as águas de uma chuva histórica, ouviu a expressão “inverno amazônico”. Na manhã seguinte, encontrei-o no café da manhã, já recuperado. Ao que ele perguntou – meio que já sabendo a resposta – o que era o inverno amazônico. “É diferente, mesmo?”

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Explico para ele que, no restante do País, o inverno é marcado por baixas temperaturas, vento frio e, na Amazônia, a “estação” assume contornos diferenciados. Chuva, muita chuva. Uma redundância, é fato. Mas, de novembro até março (passa de março, é bem verdade), as chuvas ocorrem com muito mais força. Ah, e o calor continua inclemente... “Sorvete no meio da tarde de Belém é uma redundância, isso sim”. E assim Álvaro convidou-se a resfriar o corpo (e o espírito!). As sorveterias de Belém são passeios obrigatórios. A textura de nossos gelattos é muito peculiar: há muito leite nas fórmulas deles, fato que garante mais cremosidade. Passeando por uma avenida, reduto das compras, no centro de Belém, deparamo-nos com uma franquia de “sorveteria” de frozen yogurt. Para aplacar a sensação térmica nas alturas, estacionamos por lá.

Frozen yogurt não é sorvete Sorvete é sorvete. Frozen yogurt é frozen yogurt. A confusão talvez resida na aparência de sorvete que todo frozen yogurt tem, mas vamos às diferenças: Sorvete leva leite, ovos, creme de leite, gordura, frutas, polpas, corantes... a lista vai mais além. Frozen yogurt: iogurte. Solamente.

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TOMATES

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Converso com o proprietário da “iogurteria”, que explica que frozen yogurt tem consistência de sorvete, mas não há qualquer tipo de gordura. Nem de açúcar. E as calorias são um argumento que conta muitos pontos a favor: 120 g de frozen yogurt têm 100 calorias, aproximadamente. Contra quase o dobro (250 cal.) de um sorvete de creme tradicional. “O frozen yogurt é um produto leve, para quem quer qualidade de vida, com pouca caloria e muito sabor”, explicou o Bernardo Altieri, um dos sócios da Yoforia, franquia que há oito meses chegou no Pará e que revolucionou o segmento. O carro-chefe da Yoforia é o frozen yogurt natural e, de longe, a calda de amarena (uma cereja italiana) é a mais pedida pelos clientes. Ao chegar em casa, depois de um festival de degustação na frozen iogurteria (caldas e acompanhamentos... hum...), decidi buscar – e testar – uma receita de frozen yogurt e de calda (claro!!!) para os leitores da Sopro.

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Vamos lá?

Frozen Yogurt de limão siciliano da Sopro Ingredientes (rendimento: aproximadamente 1 kg de frozen yogurt) 600 g de iogurte natural Suco de 1 limão siciliano (se você não encontrar, use o normal. Uma dica: antes de espremer, raspe um pouco da casca do limão e reserve) 3 folhas de gelatina incolor 230 ml de água mineral 20 g de mel (mais ou menos 2 colheres – das de sopa – cheias) 120 g de açúcar* (eu não uso açúcar, portanto optei por mais mel) Um pouco de água fria para hidratar a gelatina

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Modus Operandi

1. 2. 3.

4.

Misture o iogurte com o suco de limão e reserve. Hidrate a gelatina em um pouco de água e reserve. Despeje a água em uma panela e leve ao fogo. Esquente a água e misture o açúcar (eu não usei) e o mel (quantidade maior, no meu caso), até que você tenha uma mistura homogênea. Retire a panela do fogo e espere esfriar. Já fria, adicione o iogurte e a gelatina hidratada, espremida e dissolvida. Bata no liquidificador para homogeneizar. Leve ao congelador, em uma vasilha, por 1 hora. Após esse tempo, retire e bata em velocidade máxima, na batedeira (uns 10 minutos). Leve de volta ao freezer (ou congelador) e repita essa operação por mais 4 vezes, a cada 30 minutos. Na última “rodada”, deixe por mais uma hora no congelador até firmar e sirva. (Lembra das raspas do limão? Acrescente na última batida).

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Calda de maracujá Em uma panela, coloque a polpa de 2 maracujás (com semente e tudo), três colheres de açúcar demerara (se não encontrar, use o cristal, mas diminua a quantidade) e 200 ml de água. Só isso. Deixe cozer até reduzir. Desligue e deixe esfriar.

Dicas: Servir com pedaços de frutas: kiwi, manga, morango... Vá além e teste outras caldas

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Lorena Filgueiras é jornalista, adora comer e beber bem. Estudou uma pá de coisas, além do jornalismo: Língua Inglesa, cozinha, vinhos e até tentou fazer crochê, mas foi vencida pela falta de coordenação motora. Ama Saramago, Fernando Pessoa e Oscar Wilde, apesar de ser viciada nos gibis da Turma da Mônica. Escreve um blog, ao qual apelida de “minha cozinha virtual” (www.tomatoepotato.blogspot.com). Twitter: @lorefil



ARQUITET

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TANGULOS

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TANGULOS 107 57




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Ângulos retos quebrados, vez ou outra, por círculos. Domínio das cores primárias. Pinceladas - aqui e ali - de cores mais fortes, como o laranja; ou sóbrias, como o cinza. .





A simplicidade é o futuro. Quando chegarmos lá, será uma revolução.


Revolução que a gente quer simples, mas com toda a beleza do design.



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O futuro ĂŠ

3D. É feito de pessoas.

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Produção: Úrsula Ferro Fotografia: Lyna Oikawa Assistente de produção: Nathasha Alves Modelo: Mayara Abdul – Amazon Models Make up: Luddy Costa Agradecimentos: Casa Bricolada, Loja Colabora e Loja das Marias Marcas: Badulaques Cadi Citron Pressé Eubelém Maria Belém Mariana Bibas Yorrana Maia ARQUITETANGULOS O


Os por ques e os porquês... Graziela Ribeiro Fotos: Rogério Uchôa e Alexandre Baena

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Viver é como entrar em vários lugares diferentes em um mesmo dia. Ouvir várias músicas, sentir vários cheiros, ver coisas diferentes. Tenho andado meio errante por alguns cenários que marcam uma cartografia instigante de referências. Feiras, caos, subúrbios, casas, cheiro de cachorro, de cafezinho, de chuva, de vala. Bebendo água em copos com vestígios olfativos de um peixe-frito no almoço. Comércio, Guamá, São Brás, Pedreira, Marambaia, Jurunas. Cidade velha ou nova.


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Percursos por uma metrópole, viagens pela periferia, quase sempre embaladas por música: tecnobrega, brega, tecnomelody, melody, seja lá o que for... No rádio, nos auto-falantes... a batida está lá quase seguindo o ritmo do coração. Se meus olhos tirassem fotos e, ao mesmo tempo, registrassem o áudio, se o tempo parasse, se eu pudesse registrar tudo e depois falar de tudo o que vejo nesses sobrevoos, ficaria feliz em enquadrar estes momentos e colocá-los na parede da minha sala, junto com meus bibelôs de porcelana “fake”, dos portaretratos de plástico dourado que imitam metal, das minhas plantas de plástico de R$ 1,99.

pernas. Certa vez, filosoficamente, me falaram que cada marca no seu corpo é uma lembrança da sua própria história de vida. Eu tenho muitas, portanto tenho uma história! É! Também há poética no carapanã!

Fico pensando: será que isso é semiótica, estética ou etnocenologia? Espetacular, performático ou teatral? Por que sempre queremos dar sentido a todos estes pequenos mundos que habitam em nós? Que autor ou teórico me daria suporte? Tudo e todos? Nacionais ou importados? Da antropologia ou da sociologia? Perguntas, perguntas... faça sua problemática, justifique, procure seus “amigos” teóricos para te dar Os registros ficam no próprio uma ajudinha nesses seus objetivos corpo, em forma de memória ou de responder sobre algo que te fez de mordidas dos carapanãs nas ter vontade de chorar. 141


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Mas lembre que essa pode não ser a obra da sua vida! O

Graziela Ribeiro Baena é graduada em Letras pela Universidade Federal do Pará e Moda pela Universidade da Amazônia - Discente do Programa de Mestrado em Artes da Ufpa e do Curso Técnico de Figurino (Experimental) da Escola de Teatro e Dança da Ufpa. É estilista, figurinista, maquiadora e professora colaboradora do curso de Design de Moda da Estácio de Sá- Faculdade do Pará. Msn:graziela_ribeiro@hotmail.com


Lookbook Brincar de vestir um corpo, de variar estilos, formas e possibilidades. Um corpo de carne, um corpo de papel, um corpo de boneca, de paper dolls.

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de antigamente As primeiras bonecas de papel surgiram, como muitas outras brincadeiras, com a moda, em Paris, no século XVIII, no reinado de Luís XV, por meio dos fabricantes de roupas da época, funcionando como um lookbook. Com o passar dos tempos, esta produção passou a se popularizar como brinquedo, sobretudo durante o XX, até os anos 70, antes do domínio de outras bonecas, com roupas de tecido. A prática do vestir em pedaços de papel recortados, equilibrados por dobraduras brancas, como suporte da segunda pele.

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Olga Garcia A boca que protege, conforta e acaricia minhas m達os. @olag_garcia

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Rebeca Pimentel Desbloquear, perceber e criar. @mattosrebeca

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Ronnielly Abranches Uma inspiração pode vir do lugar menos esperado. @ronnyabranches

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Samela Santana Forma, cor e som. samela-santana@hotmail.com

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Demy Ferreira A sobreposição, o tom-sobre-tom, o frio sob o quente. Novas perspectivas dando vida ao inanimado @DemyFerreira

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Nayara Lins A conectividade pode ser antag么nica e desconexa @nayaralins

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Marco Normando Desgaste mental, fĂ­sico e emocional. @purple.outcast

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Saori Tanno O metafórico sensacional coadunase com a hibridação em um leve movimento dialético artístico. @saoritanno

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Natália Dutra Texturas, formas, movimentos, percepções aos extremos. @natalyadutra

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Dayse Sila Cores para colorir a vida.

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Liliana Do ch達o ao teto, do teto ao ch達o. @porrapati

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Micaele Mendonça O catavento que até então é vermelho, inspira e faz soltar ventos coloridos para os telhados das casas com arquitetura simples.

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Gentileza gera gentileza, evolução gera inovação Qual é o grande desafio de quem trabalha com criação? Criação... a palavra, por si só, já é forte. Vem do verbo criar, que significa dar existência, gerar, produzir, originar, inventar, nascer, entre outros. O que nos motiva a desenvolver tal atividade, tão pretensiosa, vista por esse lado? Antes de tentar responder o questionamento, lanço outras perguntas: por que criar? Por que modificar, alterar, inovar formatos e fórmulas consolidadas? Tenho um palpite, mas, antes, vou contar para vocês uma historinha, para ilustrar a minha posição sobre o assunto. Ao final de uma atividade, uma pequena reforma em uma sala, feita com um grupo de alunos, uma pessoa se aproximou e perguntou: “E quando precisarmos nos reunir com muitas pessoas, como fica?”. Vale ressaltar que, mesmo depois da reforma, seria possível reunir mais gente no espaço... Mas, pensado bem, essa não é a função primordial do local. Se não é, por que dar tanta importância para isso? Mesmo com tantas mudanças tecnológicas e com formas alternativas de ver a vida, há aspectos que não mudam: ainda existem pessoas míopes que só se preocupam com aquilo que o seu raio de visão alcança. Elas deixam de lado todo o contexto e as pessoas envolvidas, pensando somente nos seus interesses.

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Saí dali meio desapontado, meio reflexivo. O processo de criação é assim mesmo. Não dá para agradar a todos. Isso é ilusão. Devemos atender ao máximo as necessidades e levar em consideração o comportamento dos envolvidos, ou da maioria deles. Então, por que não deixar o local como estava antes? Sem mudanças, sem novidades, sem exigências, sem críticas. Todos os usuários já estavam acostumados com o ambiente anterior e continuariam satisfeitos com a comodidade que o local já lhes oferecia – mesmo sabendo que não estava em condições ideais. Por que mudar algo que um grupo já está habituado? Por que alterar o layout de um site se todos os usuários já estão acostumados a navegar nele? Por que modificar a forma de vestir uma camisa se aquela é a que todos já fazem sem nenhum esforço? Então, por que correr o risco de não agradar com algo novo? Porque esse é o nosso papel. Quem trabalha pensando o novo, arrisca diariamente... tem que dar a cara a tapa. Alguém precisa pensar em evolução para que haja inovação, ou em inovação para evolução.

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Klébeson Moura – é bacharel em Design pela UEPA, é atualmente é designer gráfico na agência Avisi Comunicação. Já foi professor do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-PA) e gerente da Incubadora de Empresas da UEPA. Atua na área de Design, com ênfase em gestão do design, design gráfico, comunicação e design de produtos.

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AVISI


Tereza Maciel

Ed. Manoel Pinto da Silva - PA

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Tereza Maciel

Ed. Manoel Pinto da Silva - PA

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Tereza Maciel

Pinacoteca - SP

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Tereza Maciel

Bairro da Liberdade - SP

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Mari Chiba

Igreja de Santo Ant么nio de Lisboa - PA

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Mari Chiba

Bairro da Cremação - PA

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Mari Chiba

Bairro Batista Campos - PA

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Mari Chiba

Bairro da Cremação - PA

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