Revista Temperamento

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A SEMENTE DO PARANÁ O sabor único do pinhão TESOUROS DA GASTRONOMIA Ostras combinam paladar e sofisticação

SICHUAN E MESCAL Gostos que explodem na boca



Inovação e alta tecnologia ao seu alcance.


(41) 3339-6006 Rua JĂžlia Wanderley, 1050 MercĂ?s - Curitiba - PR lerechaud@yahoo.com.br


Uma experiência gastronômica sem igual.

Le Réchaud


MENU

09 OPINIÃO

Carne de onça, uma instituição da culinária curitibana

10 SELFIE

Mi casa es su casa

14 14 saladas & antipastos Slow down, baby

15 OS TRADICIONAIS

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Um francês bem tradicional

16 bebidas

O incrível mundo de sabores das geladas

16 06

TEMPERAMENTO

20 new in

Uma novidade que vai rodar Curitiba


22 PRATO PRINCIPAL O Paraná, o pinhão e seus deleites

MENU 22

26 frutos do mar Delícias do mar em uma concha

28 exóticos

Explosão de sabores

31 COMENDO COM OS OLHOS

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2 ÀOPH PDLV GHOLFLRVR GR DQR

34 DE LÁ PRA CÁ

Curitiba e seu pedacinho da Alemanha

38 ÁGUA NA BOCA A coxinha é nossa

42 PIMENTA A GOSTO As delícias do gelato

38 TEMPERAMENTO

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STARTERS

saindo do

M

isture uma pitada de ousadia com uma colher de curiosidade. Em seguida, acrescente dedicação a gosto e mexa sem parar em fogo alto: é assim que se prepara a arte de escrever na Temperamento. Uma combinação com ingredientes tão fortes, só poderia ser quente e bem apimentada. As jornalistas não são lá cozinheiras de mão cheia, mas acreditaram que fome por um bom jornalismo acompanhado de boa comida já preenchem os requisitos.

TEMPERAMENTO Ano 01 | Edição 01 | Novembro 2014 Revista apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso Jornalismo PUCPR 2011-2014 revistatemperamento@gmail.com COORDENADORA DE REDAÇÃO: Luize Souza COORDENADORA DE PROJETO GRÁFICO: Letícia Strivieri Souza Rodrigues Moreira

Com uma receita que tem seus segredos, a primeira fornada da revista já vem com um cardápio bem variado para agradar todos os gostos. No prato principal, você vai saborear a versatilidade do pinhão, uma especialidade da nossa terra que nasce com um sabor único.

(FUTURAS) JORNALISTAS: Ana Carolina Weber Isadora Maria Thiesen Domingues Letícia Strivieri Souza Rodrigues Moreira Liris Weinhardt Luize Souza

Mas nosso menu não vão ficar só no tradicional. Os que gostam de se arriscar a descobrir novos sabores, serão tentados a conhecer uma bebida servida com uma larva ou ainda se aventurar com uma pimenta que anestesia a boca.

FOTOGRAFIAS: Ana Carolina Weber Isadora Maria Thiesen Domingues Letícia Strivieri Souza Rodrigues Moreira Liris Weinhardt Luize Souza Marcos Pratt

E para a sobremesa, uma viagem até a Itália vai fazer você se encantar com a preparação dos verdadeiros gelatos. E por falar em gelado, descubra que preparar a própria cerveja harmoniza muito bem com uma mesa rodeadas de amigos. Se você não quiser sair de casa, tudo bem. Os food trucks estão chegando perto de você com opções requintadas. E se preferir elaborar seu próprio jantar, desacelere e separe um tempo só seu para colocar a mão na massa e apreciar o slow food.

CAPA: $UWH *Ui¿FD Letícia Strivieri Souza Rodrigues Moreira )RWRJUD¿D Marcos Pratt 0DWpULD Isadora Maria Thiesen Domingues ORIENTADORA: Celina Alvetti

Todas essas delícias e muito mais foram preparadas e escritas com muito carinho para fazer você sentir água na boca. E se ler é saborear as palavras, eu desejo que sua experiência com as nossas páginas seja deliciosa, te deixando sempre com um gostinho de quero mais. Espero ainda que a nossa revista tempere sua rotina, porque não existe nada mais chato na vida do que uma história sem sal. Bom apetite! Quer dizer... Boa leitura.

A SEMENTE DO PARANÁ O sabor único do pinhão

Luize Souza

TESOUROS DA GASTRONOMIA Ostras combinam paladar e sofisticação

SICHUAN E MESCAL Gostos que explodem na boca

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OPINIÃO

Carne de Onça, Uma instituição da culinária Heros Schwinden

H

erança gastronômica dos imigrantes da Alemanha, a carne de onça (que de “onça”, para alívio dos ambientalistas, não tem nada) se popularizou em Curitiba no início do século passado. É provável que as primeiras “onças” tenham sido servidas, com o nome hackepeter ou mett, em clubes germânicos como Gesangverein Germânia, hoje Concórdia e o Sociedade de Cultura Física Jahn, hoje Duque de Caxias. O prato, aliás, é antiquíssimo, tendo sido consumido pelos antigos eslavos, germânicos e saxões e, provavelmente, pelos tártaros das estepes russas (o que explica o nome da variação anglo-saxônica da receita, “steak tartare”). Originalmente, o hackepeter ou mett era preparado com carne de porco, sem bacon. Na versão alemã, a carne não é processada ou moída, mas picada. No Paraná, e especialmente em Curitiba, a entrada ganhou novas interpretações, que também recebem inspiração do steak tartar ou biff tartar, em que a carne crua é temperada com conhaque. Tropicalizada e instalada no planalto curitibano, a carne de onça ganhou outra cara. É feita de carne bovina e pode ser preparada com vários temperos: sal, pimenta do reino, pimenta calabresa, azeite de oliva, crem (raiz forte eslava), páprica picante, gema de ovos, molho inglês, molho de pimenta, cheiro verde, cebola, alho, limão, mostardas preta e amarela. Além, é claro, das indispensáveis fatias de broa úmida de centeio. Mais do que a curiosidade despertada por um prato feito à base de carne crua, o nome da receita também chama a atenção. Por que, afinal “onça”? Na falta de uma resposta definitiva, entram em cena as teorias de antigos gourmets do acepipe. Para alguns, a origem está no hálito forte (o “bafo de onça”) deixado pela carne crua ricamente temperada; para outros, o consumo da carne “in natura” aproximaria o comensal dos hábitos alimentares do grande felino brasileiro.

Camargo. Recém empregado em um periódico da capital (graças, diz-se, à influência do pai), o jovem colunista mantinha uma página diária com as “notícias da sociedade curitibana”. Um belo dia, ao circular pela cidade, se indignou com a placa em frente a um modesto estabelecimento que anunciava: “Servimos Carne de Onça”. Em tom de denúncia, a coluna do dia seguinte cobrava das autoridades alguma ação contra o restaurante que preparava um prato feito a partir de um animal em extinção. Como descreveu Camargo em seu artigo, a história acabou assim: A coisa caminhava para uma nova guerra do pente quando interveio um habitué do bar, no caso, o anexo do restaurante. Ligou de um orelhão para um amigo do colunista: – Avise a anta que carne de onça é carne bovina moída sobre uma fatia de broa, devidamente temperada. Vai sal, azeite de oliva, cebolinha verde, salsa e pimenta do reino, ao gosto do freguês. Um petisco, aliás, muito apreciado numa tal cidade de Curitiba. Dado o recado, o colunista refluiu como se nada fosse com ele. Mas, em algumas rodas (há jornalistas e jornalistas) de “picadinho-relations”, como era conhecido, ele passou a ser chamado de o verdadeiro Amigo da Onça. T Heros Mussi Schwinden É jornalista, graduado na Pontifícia Universidade Católica do Paraná e mestre em comunicação e gestão política pela Universidade Computense de Madrid. Autor do livro Nova Culinária Paranaense, lançado pelo Grupo Canal/com. O texto desta coluna integra a obra.

Pois foi justamente o nome o responsável por uma das maiores gafes cometidas por um colunista social paranaense. Quem conta é o jornalista Francisco TEMPERAMENTO

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SELFIE

mi casa es su Conheça quem faz do La Boca um dos bares mais descontraídos de Curitiba liris weinhardt

E

ntre as ruas Visconde do Rio Branco e Padre Agostinho, uma série de oito portas comerciais dão cor à passagem dos curitibanos. Cada estabelecimento é pintado diferente: verde, rosa, roxo, amarelo, azul, pink, laranja e verde novamente. Esta última porta guarda o La Boca: bar, cujo nome foi inspirado no bairro dos nossos hermanos. Luiz Gustavo Ribas de Oliveira, o Guti, encontrou o ponto em 2011, enquanto estava à procura de um lugar para seu próprio negócio. Depois de uma boa reforma, abriu as portas em maio de 2012.

Guti nasceu e cresceu em Curitiba. Cursou a faculdade de direito e atuou na área durante três anos, mas o encanto pela profissão durou pouco. Por isso, Gustavo despertou para seguir um desejo antigo e sua simpatia pela gastronomia o levou a investir em um curso técnico de cozinha, no Senac. Seu primeiro passo profissional foi conseguir um estágio no restaurante D.O.M, comandado pelo chef Alex Atala, em São Paulo. Hoje, o D.O.M é considerado o 6° melhor restaurante do mundo pelo S. Pellegrino World’s 50 Best Restaurants, respeitado ranking da alta gastronomia. Com o lema “a gastronomia brasileira é sonho viável”, Atala inaugurou seu restaurante em 1999, época na qual os sabores brasileiros eram pouco utilizados. Gustavo conta que o chef foi um dos percussores na introdução de ingredientes nacionais como o açaí, jambu e o tucupi. Depois de São Paulo, Guti quis expandir seus horizontes. Foi para a Europa e em Londres teve sua primeira oportunidade. Sob a influência de um amigo, que também estava na mesma empreitada culinária, logo decidiu migrar para o litoral. “Como estava começando o verão, ele me indicou a região sudoeste da Inglaterra, onde eu poderia encontrar mais oportunidades”, disse Guti. Lá, permaneceu como cozinheiro, em um restaurante especializado em frutos do mar, por aproximadamente um ano.

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Isadora Domingues

Numa tarde de sexta-feira, entrei no bar para conversar com o proprietário. O lugar é pequeno e aconchegante. Atrás do balcão, Guti me esperava. Ele tem 38 anos e carrega um ar mais sério, um pouco por conta dos óculos de armação quadrada. Mas ao começar uma conversa, logo se nota sua simpatia, carisma e simplicidade.

O nome do bar foi inspirado em um bairro argentino

Em 2003, Gustavo partiu para a Oceania. Na Nova Zelândia, ele trabalhou com comida vegetariana. Outra oportunidade o levou a uma experiência em um mosteiro budista e de lá, decidiu conhecer a Ásia. Durante um mês, explorou a Malásia, conhecendo a cultura e gastronomia locais. No outro mês, em Bangkok, na Tailândia, fez um curso de culinária. Em 2004, Guti foi para o Rio de Janeiro ser chef de cozinha do Club Med Rio das Pedras, que pertence à famosa rede francesa, Club Mediterraneé. O resort está localizado em Mangaratiba, a 120 Km ao sul do Rio de Janeiro, entre o mar e a Mata Atlântica, num dos pontos mais belos da região. Trabalhando com a culinária francesa, durante dois anos esteve à frente da seção de comidas quentes. Em 2006, estava em São Paulo organizando buffets de festas, e mais tarde, trabalhou em um restaurante japonês. No ano de 2007, voltou para a capital paranaense e começou a lecionar no Senac. Ao mesmo tempo, seguia cozinhando em outro restaurante ocidental. Ainda dando aula, saiu do japonês e foi chef por um ano em um bistrô. Em mais dois anos, esteve à frente de uma cozinha vegetariana, até decidir abrir o seu próprio negócio.


SELFIE NOVAS OPÇÕES NO MENU SURGEM A CADA MOMENTO DE DESCONTRAĂ‡ĂƒO Desde que conheci o La Boca e comecei a frequentar o lugar, sempre me deparei com Gustavo fazendo seus pratos e drinks, no capricho. Vez em quando, ele testa novas receitas e serve seus clientes mais assĂ­duos para provarem e aprovarem os experimentos. Em um trabalho conjunto com o outro chef da casa, Edo, foi montando o menu. Novas opçþes surgem a cada momento de descontração. Um serve o outro, e depois Ă s suas “cobaiasâ€?. O balcĂŁo do La Boca, em vez de separar chef e cliente, funciona como uma ponte. Eles montaram um conceito diferente do que o mercado oferece em Curitiba, a regra para a dupla ĂŠ fugir do lugar comum. Da Europa, vieram os costumes de utilizar produtos pouco valorizados pelos cozinheiros brasileiros, com ingredientes que a maioria prefere nĂŁo arriscar. Começaram com o coração de peru, fĂ­gado de galinha, bucho de boi. Pratos mais elaborados foram surgindo, como o polvo espanhol na chapa e o lombo de lula (porção de lula e carne de porco em tiras salteados no molho de ostras e conhaque). AlĂŠm das receitas criadas, o menu tambĂŠm oferece opçþes mais tradicionais como hambĂşrguer, bolinho de carne (fornecido pela mĂŁe do Guti, que nĂŁo divide receita nem com o prĂłprio filho) e carne de onça. (QTXDQWR LVVR QR VHJXQGR DQGDU GR /D %RFD O pequeno imĂłvel de esquina, alĂŠm de seus dois salĂľes do tĂŠrreo, tem uma cozinha mais equipada no andar de cima. O segundo piso ĂŠ territĂłrio do Edo, tambĂŠm chef da casa. Edo Henrique Rotava tem 35 anos e uma trajetĂłria parecida com a do Guti, de profissĂľes anteriores nĂŁo tĂŁo bem sucedidas e viagens pelo mundo. Ele tambĂŠm ĂŠ uma pessoa mais reservada, desce algumas vezes da sua cozinha para conferir o ĂŞxito de seus pratos com os clientes. “O que importa ĂŠ fazer aquele prato que a pessoa come e fica satisfeita. Essa ĂŠ minha maior recompensaâ€?, conta Edo.

Isadora Domingues

Guti Ribas e Edo Rotava, chefs do La Boca Bar

Sua histĂłria começa na cidade de Pato Branco, onde nasceu. TambĂŠm iniciou sua graduação no curso de direito, mas nĂŁo terminou. AtĂŠ chegar Ă gastronomia, por acaso, passou por uma crise de escolha de carreira. Primeiro viajou para a Inglaterra, em 2005. Conseguiu um bico em uma agĂŞncia de buffet, lavando louça. Ă€s vezes, saĂ­a da pia para mexer nas panelas. Foi aĂ­ que surgiu sua paixĂŁo pela gastronomia. Depois, passou a trabalhar como ajudante de cozinha em um pub, nos finais de semana. Enquanto isso, durante a semana, ingressou em um curso de chef. Um espanhol que conheceu no ambiente de trabalho o indicou para outro restaurante, na Catalunha, Espanha. E ele foi. LĂĄ investiu em mais alguns cursos. Em 2006, jĂĄ estava de volta ao Brasil. A cena gastronĂ´mica de Pato Branco, segundo Edo, nĂŁo era das melhores. O fato o fez desanimar a seguir na gastronomia. Em mais uma tentativa de escolher sua profissĂŁo, partiu para Buenos Aires e no ano de 2008, ingressou no curso de medicina. Mas, novamente, percebeu que estava tentando fazer algo que nĂŁo gostava. Antes de largar o curso, se aproximou da sua atual esposa, que tambĂŠm saiu de Pato Branco para ir ao seu encontro. Em 2011, eles decidiram voltar ao Brasil, e desta vez, Edo apostou no que realmente gostava de fazer: cozinhar. Em 2012, o casal estava em Curitiba, onde ele fez outro curso de chef, ocasiĂŁo em que sua mulher conseguiu o contato do Guti. No começo de 2013, Edo passou a fazer companhia para o dono do La Boca. Hoje, ele estĂĄ completamente satisfeito com sua carreira e com o lugar que lhe acolheu. No ano que vem, pretende passar um mĂŞs em Lima, no Peru, com objetivo de incrementar o menu do La Boca. Como um apaixonado por comida e viciado em seu smartphone, Edo registra todos os pratos que faz. AtĂŠ esta edição, ele tem postadas cerca de 200 fotos e possui mais de 1.500 seguidores. Entre eles, estĂŁo o chef Alex Atala e Emeril Lagasse (chef americano percursor dos programas de gastronomia T com o formato atual).

6HUYLoR La Boca (41) 3323-5147 Rua Visconde do Rio Branco, 367 - MercĂŞs Aberto de segunda a sĂĄbado

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SALADAS & ANTIPASTOS

slow down, Baixar o fogo, aumentar o tempo e levar a vida em banho maria pode trazer nova perspectiva sobre a alimentação luize souza

E

m um mundo cada vez mais acelerado, trocar o fast food por uma comida sustentável pode alimentar não só o corpo, mas também a alma. Essa é a proposta do Slow Food, um movimento fundado em 1986, na Itália, por Carlo Petrini. Para a filosofia, que preza pela relação entre prato e planeta, é possível aliar tempo a uma alimentação de qualidade, quando se dedica um momento para saborear um alimento e tornar a vida mais prazerosa. E para alcançar esse objetivo, o alimento precisa preencher três requisitos: ser bom, limpo e justo. “O alimento bom é aquele que traz boas energias, saúde e comensalidade. Limpo, pois vem da terra, das mãos que produzem. E justo, porque na cadeia alimentar, desde sua produção até a mesa do consumidor, é preciso que todos ganhem com isso e possam perpetuar as culturas alimentares”, explica Carina Biancardi, integrante do movimento Slow Food Brasil, que está no país há dez anos e há três no Paraná.

0mR QD PDVVD Quando morava em Londres, o professor universitário Rene Eugenio Seifert, não resistiu ao desejo de comer um pão de qualidade. Mas longe da sua terra natal, só encontrava o alimento envolto em saco plástico, o que comprometia o sabor e a qualidade do produto. Foi 14

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Arquivo pessoal

Com o propósito de oferecer conteúdo nutricional e cultural, os pilares do slow food se apoiam na informação, pois é fundamental que os consumidores saibam a qualidade e a procedência do que ingerem. “Você deve ter conhecimento do que está comendo, de como aquilo foi produzido e quem o produziu, afinal, quando nos alimentamos estamos colocando dentro do nosso corpo substâncias que nos manterão vivos. E cada vez mais, surgem novas feiras orgânicas pela nossa cidade e os produtores estão se mostrando e ganhando reconhecimento. Além disso, a informação está muito acessível. Qualquer pessoa pode, pela internet, buscar receitas e caminhos para melhorar a sua alimentação, de maneira rápida e fácil”, afirma Renato Bedore, também integrante do movimento.

Para Rene, a arte de fazer pão combina uma alimentação prazerosa e diferenciada

então que decidiu comprar farinha, fermento e usou a receita da própria embalagem para produzir um pão. Mas a motivação para enfrentar o desafio foi muito além da vontade de comer. “Hoje temos alimentos que não geram vida, nem sabedoria. Ficamos dependentes de uma indústria para nos alimentarmos. Perdemos o conhecimento e domínio sobre o processo de muitas coisas. Se precisamos de um remédio, temos que recorrer a uma farmácia. Não sabemos mais qual planta é eficaz no tratamento, mas nossos antepassados sabiam. Este é um mundo frágil e dependente”, afirma Rene. T


OS TRADICIONAIS

um francês bem Restaurante Ile de France coleciona mais de 60 anos de muito CHARME E REQUINTE na capital paranaense ana carolina weber

P

raça 19 de Dezembro, região central de Curitiba, movimentada e com muitas histórias para contar. Do outro lado da rua, uma Torre Eiffel se destaca no topo de um predinho entre o caos do dia a dia. Três andares abaixo, uma porta, escadarias e dali para cima, um mundo totalmente oposto ao que está lá fora. A capital paranaense reúne dezenas de restaurantes que são considerados tradicionais, nesta edição, o destaque vai para um local que consegue mesclar seu requinte francês com a história de Curitiba.

Não foram apenas os curitibanos que se encantaram pelo local, o Ile de France também é referência para chefes de estado, artistas e atletas, quando de visita à

O POVO CURITIBANO, HISTORICAMENTE, SEMPRE FOI LIGADO A NOVIDADES E É CONHECIDO COMO UM PÚBLICO BASTANTE EXIGENTE CLARA DECOCK

Divulgação

O Ile de France foi fundado em 1953 pelos franceses Emile e Janine Decock. Localizado em uma região central de Curitiba, para os atuais donos, filhos dos fundadores, Jean-Paul Decock e Clara Chao Decock, o restaurante não só viu a cidade se desenvolver ao longo dos anos, como também cresceu junto com ela. “O povo curitibano, historicamente, sempre foi ligado a novidades e é conhecido como um público bastante exigente. Na época de seu lançamento, em 1953, existiam poucos restaurantes realmente diferenciados e o Ile de France chegou à cidade trazendo novas experiências gastronômicas, sempre calcado em qualidade e elegância, o que vinha diretamente de encontro com este público. Rapidamente o restaurante virou notícia e foi reconhecido como uma das grandes opções de culinária na cidade. A perpetuação da marca, hoje já com mais de seis décadas, segue o mesmo princípio de qualidade e tradição”, diz Clara.

Restaurante é destaque na região central de Curitiba

capital paranaense. Apelidado carinhosamente de “Ile” por seus clientes, o restaurante já recebeu grandes nomes como Mario Soares (presidente de Portugal), Naruhito (príncipe herdeiro do Japão), Chico Buarque, Tony Ramos, Caetano Veloso, Pelé, Roberto Carlos, Julio Iglesias, Fernanda Montenegro, Paulo Goulart, Paulo Autran, dentre outros. Para Jean-Paul e Clara, a tradição do restaurante não está apenas em sua história, ela também está refletida em sua essência. “O Ile de France mantém uma culinária extremamente fiel às receitas mais tradicionais da França, exatamente como é produzido até hoje no país, com produtos frescos e originais”, conta. T

6HUYLoR Ile de France (41) 3223-9962 Rua Riachuelo, 538 - Centro, Curitiba/PR Aberto de segunda a sábado

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BEBIDAS

o incrivel mundo de sabores das o refinamento do paladar de quem busca sabores e harmonizações diferentes traz um novo conceito ao ato de beber cerveja LETICIA MOREIRA

Leticia Moreira

Bicas de chope do Hop’N Roll

O

mercado de cervejas artesanais tem crescido exponencialmente no Brasil. Hoje em dia, já é comum se deparar com rótulos tanto importados como nacionais em supermercados e até mesmo em shoppings. Aproveitando o paladar apurado dos amantes das cervejas, novos (e antigos) negócios voltados a esse ramo começam a decolar. 16

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O Hop’N Roll, por exemplo, é um bar inaugurado há três anos no bairro São Francisco. Seus fundadores apostaram na variedade da bebida e hoje o bar disponibiliza mais de 120 rótulos de cerveja e 28 opções de chopes – todos artesanais – em um ambiente embalado pelo som do bom e velho rock ‘n roll.


BEBIDAS CURITIBA POSSUI ALGUMAS DAS MELHORES CERVEJARIAS DO PAÍS E DO MUNDO, QUE SERVEM DE INSPIRAÇÃO gabriel tourinho

Além do espaço de bar, também há uma cervejaria, na qual o público pode aprender mais sobre a produção artesanal e dar início ao processo de fabricação. Segundo Fabio Galvão, um dos quatro sócios do Hop’N Roll, a produção pode ser resumida em cinco fases: “o processo se resume em moagem dos maltes, fervura e filtragem. Após isso, a cerveja fica uma semana fermentando e três semanas maturando. Em seguida, é dada uma carga de CO2 para carbonatar e o chope está pronto para ser servido”, afirma. Cada aluno faz um lote de 40 litros. Ao final do curso, ele tem a possibilidade de levar o chope para casa ou fazer o envase de toda a sua produção. O curso dura de três a quatro horas e, ao final, ainda é possível criar um rótulo próprio. “O cliente escolhe uma receita, o processo de produção dura em torno de 3 horas. O cliente vivencia o processo de fazer a cerveja, desde seu início, na moagem dos maltes até o processo de envase, com a possibilidade de personalizar os rótulos”, diz Galvão.

Seguindo o projeto de produzir em pequena escala, uma vez que cria seus “monstros” em casa, como carinhosamente chama as suas cervejas, e ainda não tem autorização do governo, Tourinho faz lotes de cerca de 40 litros cada. “Até posso produzir menos, mas todos os cervejeiros de panela sempre dizem que a sujeira é a mesma, só que se produz menos cerveja”, brinca. O jovem ainda conta com o auxílio de familiares na produção, pois o processo é longo, cansativo e deve ser cauteloso. “É necessária uma sanitização cautelosa de todo equipamento, pois qualquer contaminação significa na perda de todo o lote, por isso toda ajuda é muito bem vinda”, explica. Antes de iniciar suas aventuras pela produção de cervejas artesanais, Gabriel fez um curso com dois mestres cervejeiros, no qual pode aprender todo o processo de fabricação, história da cerveja, insumos e escolas cervejeiras, além de ter a parte prática da produção. Quanto à sua cerveja própria, que ainda não possui nome definido, Gabriel busca um estilo estrangeiro. “A última cerveja que eu produzi é do estilo Brown Porter, uma cerveja da escola inglesa, que foi feita utilizando mel”, diz. Tourinho ainda conta de onde veio a inspiração. “Não diria que veio simplesmente de uma cerveja, mas sim cervejarias, tanto nacionais como internacionais. Atualmente, Curitiba possui algumas das melhores cervejarias do país e do mundo, que servem de inspiração”, completa. T

O mundo dos sabores das cervejas artesanais é encantador por suas infinitas possibilidades. Cervejas com mel, açaí e mesmo mandioca podem ser incorporadas às bebidas e podem parecer estranhas assim, por meio de palavras, mas conferem sabores marcantes e especiais.

Atualmente, Gabriel faz seus lotes na cozinha de casa, mas futuramente pretende aplicar os conhecimentos da engenharia à produção de seus chopes. “Fui pesquisar o modo como as cervejas são produzidas, para ver se era muito complexo ou não, e acabei descobrindo que o meu curso ainda ajudaria caso eu montasse a minha produção industrial”, diz.

Leticia Moreira

A libertação de um mercado de produção em massa, no qual todos os rótulos possuem basicamente o mesmo sabor, é um dos principais objetivos para quem busca um pouco mais ao se tratar de cerveja.Esse é o caso de Gabriel Tourinho, que encontrou uma forma de unir a engenharia, seu curso de formação, e a paixão repentina pelo mercado das cervejas artesanais. “Eu já conhecia cerveja artesanal antes de começar a fazer, mas foi a combinação entre estar cansado da engenharia, procurando algo que me fosse mais interessante profissionalmente, e essa paixão repentina pela cerveja”, comenta.

O bar do Hop’N Roll possui vista para a cervejaria

6HUYLoR Hop’N Roll (41) 3408-4486 Rua Mateus Leme, 950 - Centro Cívico Aberto de segunda a sábado

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Tel: 3015 9993 | Rua Jacarezinho, 21, Curitiba


NEW IN

uma novidade que vai rodar Tendência importada dos EUA combina flexibilidade, variedade e sabor luize souza

Luize Souza

Sócios importam tendência que promete trazer mais sabor à Curitiba

D

regularizar esse tipo de comercialização de alimentos. De acordo com a proposta, os veículos poderão estacionar em áreas particulares e públicas como feiras gastronômicas, com exceção das feiras livres.

O crescimento da tendência dos food trucks já fez circular pela Câmara Municipal de Curitiba, um projeto para

Embora o conceito seja o de “comida de rua”, o objetivo dessa tendência é oferecer ao público refeições de qualidade a qualquer hora e lugar. E quem pensa que os food trucks estão chegando apenas para comercializar cachorro-quente ou pastel, está muito enganado. Além da flexibilidade, os restaurantes estão apostando nas

esfilando nas ruas de Nova York e Londres, os restaurantes sobre rodas levam em suas cozinhas itinerantes o desafio de proporcionar o prazer de um prato elaborado em qualquer lugar da cidade. Mas agora, não será mais preciso viajar para desfrutar dessa modalidade gastronômica: quem circula por Curitiba, já começa a enxergar trailers, vans e caminhões como parte do cenário da cidade.

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NEW IN mais diferentes categorias de alimentação. 3DUD RV DPDQWHV GH MDSRQrV O trailer de 3,50m de cumprimento, 2,20m de altura e 2,50m de largura é o espaço que vai carregar o #PartiuTemaki, dos sócios Pedro Américo Duarte, químico ambiental, e dos publicitários Rafael Calil Trevisan e Rafael de Tarso Schroeder. Após algumas viagens para o exterior, eles perceberam que em outros países os trucks estimulam a economia local e a chamada culinária criativa. Com um olhar empreendedor, identificaram ainda o potencial de mercado para os food trucks em Curitiba, uma capital com grande abertura para eventos, negócios e novidades gastronômicas. Com a proposta de uma alimentação saudável, os sócios escolheram o temaki, um alimento de rápido preparo e que possibilita diversas combinações do peixe fresco, legumes e até opções como cream cheese. “Criamos a marca #PartiuTemaki porque queremos compartilhar essa experiência gastronômica. Em breve, vamos começar a circular pela cidade e queremos que as pessoas convidem os amigos e familiares para compartilhar um temaki em um momento único”, afirma Pedro. ( D VREUHPHVD" Nem mesmo os doces escaparam a essa moda. A nutricionista Miriam Ribeiro não resiste ao açúcar e acaba

QUEREMOS QUE AS PESSOAS CONVIDEM OS AMIGOS E FAMILIARES PARA COMPARTILHAR UM MOMENTO ÚNICO PEDRO DUARTE Luize Souza

Proposta de alimento saudável movimenta o #PartiuTemaki

de criar a Sugar to Go, uma bakery itinerante. De carona na tendência dos food trucks, a Sugar to Go tem como ingrediente a inspiração na gastronomia americana. Por isso, o que não vai faltar em seu cardápio são brownies, cinnamon rolls, cheesecake bars e muffins. Mas, o toque brasileiro não vai ficar de fora: os brigadeiros gourmets, com sabores especiais como toffee, limão siciliano e creme brulè, e os bolos de fubá, formigueiro e negamaluca, trazem ainda mais sabor ao doce trailer. “Poder se deliciar com um saboroso doce deveria ser um direito de todos. E para garantir esse prazer, a Sugar to Go estará por toda a cidade, com calendário pré-estabelecido divulgado em suas páginas na rede”, conta Mirian. T TEMPERAMENTO

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PRATO PRINCIPAL

O Paraná, o Pinhão e seuS Semente símbolo do estado confere sabor e elegância à gastronomia regional Isadora Domingues

P

inhão é o termo universal utilizado para designar a semente da árvore araucária – nativa da mata atlântica, no sul do país. Típico dos meses de maio a agosto, essa semente – que muitas vezes é confundida com o fruto da araucária (pinha) – foi a base da alimentação de muitas tribos indígenas do sul do país, tropeiros e camponeses.

alimentos, técnicas, e sabores sem desvalorizar o que é nosso. É plausível melhorar nossos velhos pratos, brincar com os ingredientes e valorizar a gastronomia da nossa região. “Ser regionalista é valorizar os ingredientes locais, aqueles que sabemos exatamente de onde vieram e que dão em penca nos nossos quintais. Isso impulsiona a economia e o turismo local”, defende Grabriela.

O estado com o maior número dessa árvore, é o Paraná, que tem o pinhão como um de seus símbolos. Na região de Curitiba, essa semente era tão comum que está até no nome da cidade - “curi”, do tupi significa pinheiro, enquanto “tiba” significa abundância. Nasce então, a cidade conhecida por possuir muitos pinheiros.

E é nesse cenário que se encontra a utilização do pinhão para a gastronomia local do Paraná. Apesar de a semente já ser muito difundida pelo Brasil, e ter se tornado comida típica das festas juninas, hoje em dia, é possível encontrar a semente a venda em praticamente todas as capitais, nos supermercados e em muito restaurantes, comercializada como uma especiaria típica do sul. “O Brasil é um país tão grande, tão plural que abriga imensos abismos sociais, culturais, e por que não dizer gastronômicos? Cada região, cada estado, até mesmo cada cidade difere em seus hábitos alimentares mais básicos. O país é um cardápio dos mais variados, tem para todos os gostos”, explica.

Algo tão presente na cultura paranaense, certamente não poderia ficar de fora da culinária local. Rico em diversos nutrientes como cálcio, ferro, fósforo e vitaminas A, B1 e C, o alimento ainda é bastante apetitoso. Para a chef Gabriela Halemback - jovem de apenas 24 anos formada em Gastronomia pelo renomado Cordon Bleu de Florença - a gastronomia regional é importante primeiramente, por ser um patrimônio cultural. “A gastronomia reflete diretamente os costumes e tradições das pessoas que vivem e que viveram em uma determinada região ao longo dos anos. Por meio da alimentação é possível se contar a história, a economia e a geografia de um local, está tudo intimamente ligado”, relata a chef. Para Gabriela, que já realizou estudos sobre a gastronomia regional, no mundo de hoje em que encontramos as nossas refeições prontas e enlatadas, sem saber a procedência, é muito importante reviver e não deixar morrer jamais as raízes gastronômicas de um povo. “Não quero ser puritana e dizer que não devemos assimilar outras culturas, isso seria impossível. Já assimilamos a pizza, o sushi, o fast food. Mas a cultura gastronômica brasileira é parte crucial da nossa identidade como povo”, afirma. O segredo é agregar, o que não significa subtrair e sim multiplicar. Para a chef, é possível assimilar novos 22

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A receita mais típica que se pode fazer com a semente é o famoso entreveiro de pinhão, uma mistura de carnes com temperos e a semente. Mas é possível inventar inúmeras delícias com o alimento . “De salgados eu faço muito o robalo em crosta de pinhão e ervas com purê de batata salsa. Preparo também o risoto aromático de pinhão com alcachofras, estrogonofe de pinhão e quibe de pinhão. Já nos doces, faço o bolo de pinhão com especiarias e ganache de chocolate. Todos são receitas minhas”, revela.

A CULTURA GASTRONÔMICA BRASILEIRA É PARTE CRUCIAL DA NOSSA IDENTIDADE COMO POVO Gabriela Halembeck


PRATO PRINCIPAL

Marcos Pratt

Deliciosa farofa de pinh達o TEMPERAMENTO

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PRATO PRINCIPAL O pinhão é uma semente extremamente neutra podendo ficar bem em pratos doces ou salgados. Ele se comporta como uma castanha, podendo virar farinha, farofa ou crosta para agregar valor e sabor aos pratos. Ainda que seja um alimento mais restrito aos meses frios, o pinhão pode ser consumido o ano todo. “A gastronomia de cada região não deve ser apenas importante economicamente e historicamente, ela deve ser motivo de orgulho e de expressão para cada comunidade”, conclui a chef. T

Marcos Pratt

Pinhão ao molho pesto e azeite de oliva 24

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DOP CUCINA

(41) 3022-1221 Teixeira Coelho, 235 Curitiba


FRUTOS DO MAR

delicias do mar em uma Refinadas e delicadas, as ostras são sempre uma boa pedida para os amantes de frutos do mar Letícia Moreira

N

ada melhor para caracterizar o sabor do mar, que o delicioso molusco nascido em concha - a ostra. Para seus amantes, é possível encontrá-la o ano inteiro em Curitiba. Além disso, suas diferentes maneiras de preparo agradam a todos os estilos. “Tradicionalmente, as ostras são muito consumidas in natura. Todavia, há outras formas de preparo, como as gratinadas que servimos no Vindouro”, diz. As ostras são carro-chefe de sua cozinha”, explica a Adriana de Nadai, chef do restaurante.

Leticia Moreira

Ostra gratinada ao molho beurre blanc, de Adriana de Nadai 26

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FRUTOS DO MAR A especialidade de Nadai é a ostra gratinada ao molho beurre blanc, um leve molho francês a base de vinho, manteiga e cebola. No entanto, a chef explica que para ter o sabor puro do molusco, o modo de preparo é diferente. “Sem dúvidas o sabor mais ressaltado é percebido na ostra in natura, que geralmente é acompanhada de limão”, conta. A ostra in natura é a ostra crua, preparada apenas com sal e limão e servida à meia concha. Ao saborear o prato é impossível não lembrar do oceano. “Ao comer uma ostra in natura bem preparada, me vem a mente o ‘sabor do mar’, devido ao frescor e ao sal natural que se encontra nela”, finaliza Adriana. No entanto, é necessário cuidado: para o consumo, as ostras devem estar sempre frescas, vivas e com armazenamento adequado. “Ao comprar ostras, é necessário observar onde ela é produzida, se o mar é

AO COMER OSTRA ME VEM A MENTE O SABOR DO MAR, DEVIDO AO FRESCOR E AO SAL NATURAL QUE SE ENCONTRA NELA ADRIANA DE NADAI

bom e não poluído, seu frescor. Se a ostra estiver aberta, por exemplo, é melhor não consumir, pois ela já estará morta”, diz Manoel Henrique Neto, chef do restaurante Ibérico. Geralmente, as ostras são servidas como prato de entrada, mas nada impede que o molusco seja harmonizado com massas e risotos, dando mais sofisticação aos pratos. Manoel dá a dica: “a ostra geralmente é servida sem acompanhamentos, mas também é possível servi-la em preparações mais elaboradas, como por exemplo o espaguete com ostras ao champagne”, explica. A bebida para harmonizar também é muito pessoal, mas o fruto do mar pode ser servido com vinho branco, espumante e até mesmo uma boa cerveja artesanal. T

- O local ideal para fazer as compras é em Florianópolis/SC. O sul da ilha é um lugar reconhecido como de excelente qualidade. - Limpe-as muito bem antes de abrir e consumir. - Deve-se abrir a ostra apenas na hora do consumo, com cuidado para não machucar o molusco. - Nos dias de calor excessivo, as ostras podem se decompor rapidamente, logo a atenção deve ser redobrada. - Ao bater na ostra, se o som feito for oco, significa que ela está morta e inapropriada para consumo. - Ao necessitar armazená-la em casa, atente-se em deixar a parte côncava para baixo, garantindo que a ostra se mantenha viva por mais tempo. - Não guarde-as por muito tempo. Elas vivem cerca de 7 dias após a retirada do mar. - A temperatura de conservação deve ser entre 10 e 12 graus.

6HUYLoR Vindouro (41) 3027-0700 R. Guarda-Mor Lustosa, 129 - Juveve Aberto todos os dias

Ibérico (41) 3524-2900 Av. Água Verde, 588 Água Verde Aberto todos os dias

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EXÓTICOS

explosão de Conheça o tempero e bebida exóticos que conferem uma nova experiência ao paladar LIRIS WEINHARDT

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U

ma experiência gastronômica não muito comum para os ocidentais: pratos temperados com a pimenta de Sichuan. Na verdade, não se trata bem de uma pimenta, mas sim de uma especiaria chinesa. Os pequenos grãos, que lembram a pimenta preta, são sementes do fruto do freixo espinhoso, ou Zanthoxylum Simulans, árvore nativa do leste da China, que cresce como um arbusto. De acordo com a Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, especialista em botânica, “o fruto é uma bolinha, tipo cápsula, de cor avermelhada, que se abre quando seca”, daí é possível retirar a semente. Os grânulos perfumados e fortes da pimenta Sichuan devem ser torrados em uma panela até ficarem dourados e seu aroma ser liberado. A pimenta de Sichuan é originária da província de Szechuan, no leste da China, por isso o nome dado à especiaria. Ele ainda tem outras duas variações: pimenta Szechuan ou gujart. Na culinária chinesa, a iguaria integra o condimento conhecido como cinco sabores chineses, uma mistura composta por quantidades iguais de pimenta de Sichuan, sementes de funcho, canela, anis-estrelado e cravo-da-índia. Todos moídos ao mesmo tempo, resultam no equilíbrio dos sabores doce, amargo e picante.

Fui conferir pessoalmente a singularidade da pimenta. Em uma mesa de bar, rodeada de amigos, pedimos um prato de camarão. Ao sermos servidos, eis que me deparo, pela primeira vez, com a Sichuan. O aroma estava bastante perfumado. Ao provar o prato, senti que os grãozinhos ofuscaram levemente o sabor do camarão. No início, o paladar era refrescante, depois de algumas garfadas comecei a sentir uma sensação de dormência na boca, como se estivesse sendo anestesiada. Olhei para meus colegas, todos pareciam gatos de Cheshire, sorrindo, se entreolhando e se perguntando se estavam passando pela mesma experiência. Os sorrisos, a princípio, se deram pela dormência que começa nos cantos da boca, daí a comparação com o gato que ri, do filme Alice no País das Maravilhas. Para a Dra. Katia Zuffellato, também uma apaixonada por cozinha, a pimenta pode fazer a combinação com pratos de sabor mais forte, como no caso do camarão, por exemplo. Uma experiência que vale a pena conferir, no maravilhoso país da gastronomia.

Leticia Moreira

A pimenta de Sichuan é na verdade a semente de um fruto originário da China 28

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EXĂ“TICOS A IGUARIA INTEGRA O CONDIMENTO CONHECIDO COMO CINCO SABORES CHINESES

Tamaulipas, Zacatecas e, sobretudo Oaxaca (pronunciase wa-ha-ka). Produtores tradicionais ainda empregam tĂŠcnicas de sĂŠculos atrĂĄs. Povos indĂ­genas hĂĄ muito tempo fermentavam o agave, mas foram os espanhĂłis que incorporaram o uso da destilação. O processo de produção da bebida ĂŠ meticuloso. De acordo com a cultura zapoteca, dos povos do sul do MĂŠxico, a primeira etapa envolve o desenraizamento do agave. De manhĂŁ, bem cedo, por volta das 5h, ĂŠ o melhor momento para o corte da planta. Quando extraĂ­do, o agave jĂĄ esteve na terra por cerca de oito anos. No palenque – fĂĄbrica artesanal de mescal (e nĂŁo as antigas construçþes maias) – ĂŠ o local onde sĂŁo retiradas as pinhas, a parte carnuda do agave, que tem certa semelhança com o abacaxi. SĂŁo necessĂĄrias cerca de 300 machadadas para extrair o talo de uma Ăşnica planta. Uma pinha pode chegar a pesar 160 quilos, com a qual poderĂŁo ser feitos apenas dez litros de mescal. Os prĂłximos passos dos mestres mescaleros sĂŁo a torrefação, a moagem, a fermentação em alambiques de madeira e a destilação. A eficiĂŞncia depende do mĂŠtodo de destilação e varia segundo a regiĂŁo. %HELHUHV VL HV FDSD] Leticia Moreira

3RU WRGR PDO PH]FDO SRU WRGR ELHQ WDPELHQ Como a caça a um tesouro, em uma boa busca por adegas Ê possível encontrar relíquias. E Ê no território do MÊxico, que nasce uma dessas pÊrolas: o mescal, a aguardente que tem incinerado línguas e queimado o fundo de gargantas. O Zapata Mexican Bar, restaurante tradicional de gastronomia mexicana, de nome inspirado no revolucionårio Emiliano Zapata Salazar, não abriu mão da bebida e a trouxe para apimentar o Brasil. O proprietårio do bar, Marcio Brasil, trabalha com duas marcas do produto, o Monte Alban (Mezcal Con Gusano) e o Scorpion Mezcal Repozado. O mescal ou mezcal (como Ê escrito no MÊxico) Ê uma bebida alcoólica destilada proveniente do sumo fermentado do agave, uma espÊcie de planta nativa do MÊxico. Pode-se dizer que a aguardente Ê uma prima da tequila, assim como o champanhe e o vinho. A principal diferença entre as bebidas Ê que a tequila Ê feita a partir de uma variedade específica de fruta do agave, produzida principalmente no Estado de Jalisco, e destilada duas o três vezes. Jå o mescal, Ê feito a partir de uma classe mais ampla da planta (os blends, misturas de diversos tipos de agave), destilado apenas uma vez, com um teor alcoólico geralmente acima de 40%. O mescal certificado Ê produzido nos estados mexicanos de Ganajuato, Guerrero, Durango, San Luis Potosí,

A classificação mais geral do Mescal ĂŠ dividida em trĂŞs grandes seçþes, segundo seu envelhecimento. Quanto mais longo for o processo, terĂĄ melhor sabor e maior o preço: o envelhecido, armazenado na barrica nĂŁo menos de um ano; repousado, deve durar na barrica entre dois meses e um ano; branco, aquele cujo repouso na barrica ĂŠ inferior a dois meses. Mas a bebida ĂŠ provavelmente mais conhecida por causa da larva na garrafa ou um escorpiĂŁo, que diga-se de passagem, tambĂŠm podem ser consumidos, para quem tiver coragem. Mas, com ou sem bicho, ela tende a descer queimando. Os animais dentro da garrafa sĂŁo um truque de marketing de algumas marcas do Estado de Oaxaca. Segundo Marcio Brasil, o Monte Alban (Mezcal Con Gusano), ĂŠ o mescal no qual foi introduzida a larva de uma borboleta chamada de gusano. Esta larva, que normalmente se desenvolve no meio das plantas do agave, mantĂŠm-se intacta se submetida a determinado teor alcoĂłlico na bebida. “Abaixo deste teor ela se desintegraâ€?, conta o proprietĂĄrio do Zapata. JĂĄ o Scorpion Mezcal Repozado, ĂŠ feito artesanalmente em pequenos lotes, com escorpiĂľes colocados dentro das garrafas. Nesta versĂŁo, chamada de “reposadoâ€?, ela fica de 2 a 11 meses envelhecendo em barris de carvalho de 200 litros. O mescal começou a ser importado comercialmente no Brasil em novembro de 2011, pela WLV Representação Comercial, Importação e Exportação. Segundo dados do Consejo Mexicano Regulador de la Calidad del Mezcal (Comercam), em sete anos o registro de marcas aumentou cerca de 500%. Nos Ăşltimos quatro, as exportaçþes subiram mais de 300%; o consumo em bares, mais de 100%; e a venda de mescal em lojas atacadistas, cerca de 260%. Mas esse aquecimento de mercado tambĂŠm TEMPERAMENTO

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EXÓTICOS

ShutterStock

Mescal é uma bebida alcoólica destilada proveniente de uma espécie de planta nativa do México tem seus riscos. Produtores, cooperativas e organizações sindicais se lembram do que aconteceu com a tequila e não querem passar pelos mesmos problemas. Hoje, quatro das cinco tequileras mais importantes pertencem ao capital estrangeiro. A escassez de agave nos anos 1990 e o sucesso comercial tiveram graves consequências para o mercado da tequila. As normas técnicas foram relaxadas e aprovou-se a produção de uma tequila tipo 2, com uma concentração de apenas 51% de agave azul (weberi) e 49% de outros açúcares; hoje, ela representa 60% da produção total. Na Cidade do México, foi formado um grupo chamado Mescales Tradicionales, cujo fundador, Cornelio Perez, é o porta-voz do mescal artesanal. Ele chegou a organizar uma campanha para que o mescal seja colocado na lista de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco. Perez vocifera contra a variedade comercial, que contém o selo oficial do conselho nacional de regulamentação, mas, na sua opinião, não tem sabor e autenticidade. No livro, O Poder dos Impotentes (Moc bezmocných), escrito em 1978, pelo dramaturgo e futuro presidente da Checoslováquia (1989–1992) e da República Checa (1993–2003), Vaclav Havel, o discurso sobre o mescal transcende a bebida e se enche de referências políticas e históricas. Quanto ao consumo da bebida, para Marcio Brasil, quando você está provando um mescal de alta qualidade, a dica é colocar uma gota na palma da mão e esfregar vigorosamente - você vai ser capaz de sentir o cheiro das 30

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A BEBIDA É CONHECIDA POR CAUSA DA LARVA NA GARRAFA OU UM ESCORPIÃO, QUE TAMBÉM PODEM SER CONSUMIDOS notas terrosas do agave. “A qualidade de mescal pobre só vai cheirar a álcool”, conta Marcio. O complemento para um gole de mescal é um gomo de laranja e uma pitada de sal, misturada com chili em pó. Segundo tradições mexicanas, o mescal é uma bebida de celebração, e já ganhou até um ditado “para algo de ruim na vida, mescal, por tudo de bom, também”. T

6HUYLoR Mescal: Zapata (41) 3352.9097 R. José Saboia Cortes, 383 Centro Cívico Aberto todos os dias Valores: Garrafa – R$ 248,00 Dose – R$ 18,50

Pimenta Sichuan: Box Verde Produtos Naturais (41) 3362.3955 Mercado Municipal, Banca 435/436 Av. Sete de Setembro, 1865 - Centro Aberto todos os dias


COMENDO COM OS OLHOS

o filme mais delicioso do História temperada com muito amor e diversão recheia as telas dos cinemas em 2014 isadora domingues

F

ilmes que envolvem gastronomia sempre fazem o maior sucesso nas telonas, e em 2014 não foi diferente. Conheça o último lançamento de dar água na boca! Prepare a pipoca e se delicie!

Lançado em 28 de agosto de 2014 Duração de 2h 3min Diretor : Lasse Hallström Atores: Helen Mirren, Om Puri, Manish Dayal Bilheteria no Brasil : 5.605 ingressos no dia de lançamento

O

filme se passa no sul da França e conta a história de Madame Mallory, uma solitária chef que comanda o único restaurante da cidade, frequentado pelo alto escalão de políticos franceses. É nessa cidade que chega a família de Hassan. Chefiada pelo seu pai, Papa Kadem, eles fogem da Índia e procuram abrigo na França. Hassan - que é um exímio cozinheiro - e sua família encontram, então, o lugar perfeito para abrir seu restaurante – a 100 passos do restaurante de Madame Mallory. Inicia-se então uma perfeita guerra: a briga entre a sutileza do paladar francês e a explosão de sabores da gastronomia indiana. O filme é uma produção de Steven Spielberg e Oprah Winfrey, como adaptação do livro “A Viagem dos 100 Passos” de Richard C. Morais. O enredo

narra uma história de superação, de xenofobia e diferenças culturais, com um pano de fundo gastronômico muito bem temperado mostrando o poder que a comida tem de unificar as pessoas. É uma história charmosa, envolvente, romântica e carismática. Os elementos fantasiosos, como fogos de artifícios e trilha sonora, transportam o espectador para um mundo de sonhos. Lasse Hallström traz de volta todo encantamento que colocou no filme “Chocolate” para essa trama gastronômica, que consegue fazer com que as pessoas queiram sair de frente da telona para conhecer pessoalmente as delcias da gastronomia étnica. T

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R. EUCLIDES DA CUNHA, 699 C - BIGORRILHO, CURITIBA - PR, 80730-360 (41) 3342-4576



DE LĂ PRA CĂ

curitiba e seu pedacinho da famílias da cidade ainda mantêm a tradição gastronômica teutônica isadora domingues

Isadora Domingues

Entrada do Schwarzwald, o Bar do AlemĂŁo

A

imigração alemã no Paranå Ê celebrada hå mais de 180 anos. No estado, existiram colônias por todo o território, sendo a primeira na cidade de Rio Negro, estabelecida ali em 1829. Logo após esse período, os germânicos instalaram-se nas cidades do sul da região, chegando a Curitiba em 1833. Representando 10% da imigração do Paranå, os alemães deixaram de herança alguns traços culturais vividos e festejados atÊ hoje pelos seus descendentes. E como toda boa FHOHEUDomR D FRPLGD QXQFD ¿FD GH IRUD A gastronomia alemã Ê reconhecida em Curitiba em três restaurantes típicos: o Cantinho do Eisbein, o 34

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Schwarzwald – popularmente conhecido com Bar do AlemĂŁo – e o Schimmel. Neles, a gastronomia teutĂ´nica ĂŠ encontrada e pode ser saboreada kĂśstlich deliciosamente em alemĂŁo! E nĂŁo ĂŠ por menos, jĂĄ que as receitas foram herdadas de imigrantes alemĂŁes. O restaurante Cantinho do Eisbein começou a ser formado em 1970 quando Arno Taruhn servia para os amigos receitas alemĂŁs que aprendeu com seu avĂ´. O sucesso foi tanto que, em 1986, foi fundado o Cantinho do Eisbein. Ele funcionava apenas nas sextas-feiras e com reserva marcada. Isso tudo quem conta ĂŠ Rodrigo 7DUXKQ ÂżOKR GH $UQR +RMH TXDQGR VH SHQVD HP


DE LĂ PRA CĂ IMIGRANTES ALEMĂƒES DEIXARAM DE HERANÇA ALGUNS TRAÇOS CULTURAIS VIVIDOS E FESTEJADOS ATÉ HOJE PELOS SEUS DESCENDENTES

culinåria alemã Ê difícil não lembrar da família. O forte do restaurante Ê o Eisbein (joelho de porco), como jå sugere o nome do lugar, seja assado frito ou cozido. A iguaria Ê uma das consideradas mais típicas da Alemanha, sem ser pertencente de uma determinada região do país. A carne de porco Ê muito utilizada pela gastronomia alemã. Depois do cachorro, foi este o animal que mais acompanhou os germânicos durante toda a sua história. Sendo assim, a maioria de seus pratos típicos envolve essa carne. Outros exemplos de comida típicas alemã são a Bratwurst e a Bockwurst. Ambas são salsichas, sendo a primeira branca e a segunda vermelha, feitas com carne de porco, vaca e vitelo. Apesar de serem consumidas por toda a Alemanha, são típicas da região da Baviera, onde ¿ FD VLWXDGD 0XQLTXH E Ê inspirado nessa região que nasce o Schwarzwald. 2 QRPH TXH VLJQL¿ FD )ORUHVWD 1HJUD VXUJH GHYLGR DR fato de que a alemã que administrava a cozinha do bar avistava a Schwarzwald de sua janela na Alemanha. O restaurante nasceu em 1979, despretensioso, como um

lugar para receber os amigos. Cresceu muito a ponto de estar sempre lotado, ganhar um nome popular – Bar do AlemĂŁo – e diversos prĂŞmios de comida ĂŠtnica. â€œĂ‰ o restaurante preferido dos grupos de folclore germânicosâ€?, conta Jorge Tonato, que ĂŠ um dos donos do restaurante. Esse reconhecimento veio do trabalho para deixar tudo o mais prĂłximo da Alemanha possĂ­vel. Desde o ambiente repleto de bandeiras atĂŠ a qualidade do chopp – bebida reconhecida internacionalmente como sĂ­mbolo alemĂŁo. Tonato conta que quanto mais fresco o chopp melhor ĂŠ, e por isso, ele realiza pedidos da bebida todos os dias. Para a culinĂĄria tĂ­pica, ĂŠ muito importante que o conhecimento dos pratos sejam proveniente do paĂ­s de origem. Tonato diz que ele e seu chef de cozinha estĂŁo constantemente se aprimorando em tĂŠcnicas alemĂŁs e chegaram a ir para o paĂ­s em 2013 realizar um curso de embutidos, algo muito marcante da culinĂĄria germânica. O prato mais caro do restaurante ĂŠ o Javali, e os mais baratos a Bratwurst e a Bockwurst. JĂĄ o Schimmel estĂĄ localizado em uma casa histĂłrica, que existe desde 1886, e que pertenceu a uma das mais tradicionais famĂ­lias alemĂŁs de Curitiba, a Schaffer. A casa estĂĄ toda decorada com detalhes alemĂŁes ou de referĂŞncia Ă cultura germânica para criar um clima todo especial quando se experimenta os pratos tĂ­picos ofertados por eles.

Isadora Domingues

Bockwurst, prato tĂ­pico alemĂŁo TEMPERAMENTO

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DE LÁ PRA CÁ Uma alemã no Brasil O que pensaria uma alemã vivendo a experiência dessa cultura teuto-brasileira? Ann-Katrin Siemens, 26 anos, chegou ao Brasil pela primeira vez aos 17 anos, no Mato Grosso do Sul. Ficou um ano, e após o seu retorno para a Alemanha, decidiu que gostaria de morar no país para o resto da vida. Veio então para Curitiba fazer faculdade. Ann-Katrin mora na cidade há cinco anos e é frequentadora assídua de restaurantes que oferecem a gastronomia de seu país. O restaurante que mais a faz se sentir perto de casa é o Schimmel, apesar de frequentar mais o Schwarzwald. “O Bar do Alemão remete totalmente ao sul da Alemanha, a Bavaria e eu sou do norte do país. Para mim, isso representa a mesma coisa que representaria para um

Curitibano comer em um restaurante do Nordeste. O espaço e o ambiente me encantam demais”, explica. Quando questionada os pratos que mais sente falta, Ann sita o Spätzle - um tipo de macarrão caseiro, que pode ser comido com queijo ou carne e molho. No entanto, o que mais sente falta mesmo é do pão: “eu tenho que rir quando falam de pão preto ou integral. No Brasil, é apenas o pão de forma mais escuro. Sinto muita falta de um pão preto e integral que precise ser mastigado de verdade”, comenta. Ann-Katrin, que é apaixonada tanto pela gastronomia brasileira quanto pela alemã. Ela conta que o que mais a encanta é que ambas são muito ricas com muitas variedades e opções, e que quando combinadas podem ser consideradas a mistura perfeita. T

Isadora Domingues

Serviço Cantinho Eisbein:

Schwartzwald:

Schimmel:

(41) 3329-5155

(41) 3223-2585

(41) 3078-4547

Avenida dos Estados, 863 - Água Verde.

R. Dr. Claudino dos Santos, 63 - São Francisco.

Av. Des. Hugo Simas, 1873 - Bom Retiro.

Aberto de terça a sextafeira.

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Aberto todos os dias.

Aberto de terça a domingo.



ÁGUA NA BOCA

a coxinha é Lapeanos reivindicam o tombamento da coxinha de farofa como patrimônio imaterial da cidade liris weinhardt

Liris Weinhardt

A iguaria lapeana existe desde a década de 1940

P

róximo ao Pantheon dos Heróis, o jornalista Cunha Pereira, sentado de pernas cruzadas e jornal nas mãos, tem o pé no mapa do Paraná, indicando a sua localização: há aproximadamente 70 km de Curitiba, está a cidade da Lapa. O antigo distrito, Vila Nova do Príncipe, foi elevado à condição de cidade em 1872. Por lá passaram tropeiros, que deixaram como legado o sabor do virado de feijão com torresmo e a quirera, e hoje, são 38

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lembrados no painel de azulejos de Napelon Potyguara, o Poty Lazzarotto, cartão de boas-vindas a moradores e visitantes. Por lá também pisaram os pés místicos de João Maria D`Agostins, o monge São João Maria, que fez morada em uma gruta, localizada na grande formação rochosa (hoje em estado de preservação) conhecida como Pedra do Monge. Esta pedra inspirou o nome da cidade – Lappa, que no latim, quer dizer


ÁGUA NA BOCA grande pedra. O município também carrega na história a passagem dos Maragatos, que fecharam o Cerco contra aproximadamente 900 homens, os Pica-paus. Junto a Dulcídio e Carneiro, os republicanos resistiram por 26 dias contra o avanço das tropas federalistas ao Rio de Janeiro, e fizeram da cidade, por conta desta batalha sangrenta, uma das regiões históricas mais importantes do estado do Paraná. A Lapa é uma cidade turística bastante conhecida pela sua história e apreciada por sua gastronomia. A dedicação praticada pelos seus habitantes na cozinha gerou reconhecimento e pratos únicos para a região. Além da comida típica tropeira, o município produz sua própria erva-mate, a Legendária, e um famoso suvenir, a cachaça “Na Bunda”, de confecção artesanal do Alambique do Lara. Porém, uma das iguarias mais conhecidas e saboreadas é a coxinha de farofa. O salgado é um prato simples, que consiste em uma massa de pastel recheada com farofa de frango, em formato de coxinha. Mas, além do sabor, o que a faz tão especial? Para os moradores da Lapa, ela é considerada sua obraprima. Hoje, são três os principais estabelecimentos que oferecem o produto: a tradicional Padaria Zeni, a Panificadora Fachini e a Casa do Pastel. O sucesso é confirmado pelas vendas. Segundo dados da publicação lapeana, a Tribuna Regional, a soma de unidades vendidas por dia chega a 2.500. O que dá mais de 75 mil coxinhas ao mês. A Padaria Zeni, vende, em média, 200 coxinhas de farofa, sem contar as mil unidades de coxinhas pequenas por dia. Já a Panificadora Fachini vende 120 unidades diariamente. E a Casa do Pastel é responsável por 1.200 unidades. O salgado, também é um prato típico da Festa de São Benedito, realizada no mês de dezembro, no Santuário Diocesano de São Benedito, o maior templo beneditino do mundo. A festa, como o próprio nome já diz, acontece em louvor a São Benedito, o “Santo Negro”. Nos primeiros anos da cidade, no dia 25 de dezembro, os senhores celebravam o nascimento de Jesus, e com os restos de comida deixados da ceia dos brancos, no dia seguinte,

PARA OS MORADORES DA LAPA, ELA É CONSIDERADA SUA OBRA- PRIMA

O SALGADO É UM PRATO SIMPLES, QUE CONSISTE EM UMA MASSA DE PASTEL RECHEADA COM FAROFA DE FRANGO, EM FORMATO DE COXINHA

os escravos se reuniam para festejar o seu o Natal. O Santuário de São Benedito foi construído entre os anos de 1947 e 1957 no lugar de uma capela usada pelos escravos e conserva até hoje a antiga imagem do santo protetor dos escravos. Hoje, a festa é realizada no final de semana que antecede o Natal, concomitante à apresentação da Congada, manifestação folclórica e religiosa na qual destacam-se as influências afro-brasileiras. E foi nesta festa que a coxinha de farofa surgiu. De acordo com o Embaixador Honorário da Lapa, Márcio Assad, na década de 1940, o evento já era comemorado. Em uma de suas edições, a visitação popular superou as expectativas e a comida não foi suficiente. Acabou o recheio do pastel, restando apenas a massa. O frango também estava praticamente no fim, mas ainda tinha bastante farofa. “Dona Maria da Glória Kuss, responsável pela comida servida na quermesse, precisou agir rápido. Assim, ela juntou a farofa e a massa de pastel que restaram e criou uma nova iguaria, que fez sucesso de imediato”, conta Marcio. A partir de então, a coxinha de farofa virou o salgado típico da Lapa. Outra versão diz que a coxinha de farofa nasceu das longas viagens de trem para Curitiba. “Como os lapeanos eram loucos por galinha recheada com farofa, passaram a ser chamados de farofeiros. A coxinha de farofa teria sido uma solução para que os moradores da Lapa pudessem continuar comendo sua combinação preferida, sem o estigma do apelido”, diz Marcio. Farofeiros ou não, com o tamanho sucesso da iguaria, os lapeanos agora querem o tombamento imaterial da coxinha de farofa. Para isso, já existe um abaixo assinado on-line, com o título “A coxinha é nossa!”, para dar entrada no IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, com o pedido para a garantia de autenticidade da comida lapeana. T

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Estilo e arte de servir café.

fRANSCAFE@FRANSCAFE.COM.BR


PIMENTA A GOSTO

as delícias do

isadora domingues

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cordei. Nervosa. Esse era um dia especial. Vestime e sai para a rua pouco me importando com a chuva que caia. Era mais um nascer do sol em Bologna, na Itália, e ali o tempo era precioso. Liguei para uma amiga, que estava tão nervosa quanto eu e nos encontramos no Centro. O trajeto foi longo, mas finalmente chegamos ao lugar marcado para o encontro com o grupo que apesar de ‘gente grande’ tinham no olhar a felicidade somente vista nos olhos de crianças. Entramos naquele edifício enorme, foi quando cruzei meu olhar com o seu. Eu estava vidrada, apaixonada e logo estaria prestes conhecê-lo melhor. Entrou uma mulher elegante. Seu olhar se perdeu entre tamanha excitação dos visitantes, mas logo nos acalmamos. Estávamos ansiando pela sua informação. Afinal, estávamos na primeira Universidade do Sorvete do mundo, e os sorvetes expostos pareciam me olhar de forma penetrante, me convidando para descobrir suas delícias. Todas as pessoas que conhecem apenas um pouco da culinária italiana já devem ter ouvido falar dos famosos “gelatos”, os melhores sorvetes do mundo, sem dúvidas.

O grupo entra então em uma sala, se ajeita e a jovem começa a discorrer sobre receitas. Enquanto escrevo, parece que sinto o cheiro daquele lugar, os sons das máquinas trabalhando e a nossa paixão por essa “neve com gostinho” aflorando de uma maneira que somente a Itália pode proporcionar. Aqueles não eram sorvetes. Eram segredos, eram olhos, eram vontade – aos que me acham exagerada, um convite para encerrar essa leitura. Ela é extremamente dedicada aos amantes do sorvete. Ah, esses sim me entenderão! E os sorvetes estavam ali, prontos para contar seus segredos a nós, meros mortais. E nossas mãos os bateram, adoçaram, temperaram aquela mistura. E quando tudo acabou, as dezessete pessoas ali presentes se despiram de vergonha, do pudor. Aliás, será que isso aconteceu apenas comigo? Difícil saber, estava muito compenetrada em experimentar aquela obra-prima – pasmem – feita por mim. E sentamos no chão, e nos deliciamos, e comemoss aquele sorvete que tinha sabor de Itália, tinha sabor daquilo que havíamos vivido naquela viagem. E conforme o sorvete acabava, acabava aquela experiência de vida, acabava a Itália, acabavam os sorrisos, distanciavam-se as amizades e ficava a lembrança. De recordação, apenas um diploma da Università del Gelato. Ah, mas como a vida seria linda se pudesse ser vivida dentro daquele potinho, como se aqueles momentos T durassem para sempre.

Luize Souza

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TEMPERAMENTO


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