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ASSIMETRIAS OLÍMPICAS E ECONÔMICAS

ASSIMETRIAS OLÍMPICAS

E ECONÔMICAS

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FERNANDO VALENTE PIMENTEL*

AOlimpíada de Tóquio demonstrou haver uma relação direta de causa-efeito entre o grau de desenvolvimento das nações e a conquista de medalhas. O Brasil, é verdade, vem melhorando sua performance e até quebrou seu recorde de pódios nos jogos da capital japonesa, mas ainda está distante dos primeiros colocados.

É importante o destaque nas principais competições mundiais, pois isso contribui para a autoestima, confiança e fortalecimento dos valores nacionais e no desenvolvimento dos indivíduos, pois o esporte é um fio condutor da interação humana, do progresso pessoal e da capacitação para o trabalho em equipe e estímulo à consecução de projetos. No entanto, também é prioritário competir de modo mais eficaz no contexto da economia global. Infelizmente, nesse quesito, estamos desproporcionalmente atrás de nossas posições nos quadros de medalhas olímpicas e paralímpicas, cujas conquistas expressam, em grande parte, o esforço de superação individual e dedicação de muitos atletas, independentemente do apoio que recebem.

O exemplo de nossos representantes nessas competições, e não apenas dos medalhistas, pode ser um grande referencial para reagirmos nos rankings do crescimento econômico, do desenvolvimento, da educação, da pesquisa e da inclusão social, sob o parâmetro das transformações estabelecidas pela tecnologia, aceleradas e sedimentadas pela pandemia que ainda enfren-

“TEMOS EM COMUM COM OS ATLETAS AS METAS E A CONSCIÊNCIA SOBRE OS OBSTÁCULOS QUE NOS IMPEDEM...”

tamos. O atleta tem metas estabelecidas, conhece em profundidade seus potenciais e treina com abnegação, disciplina e persistência para corrigir seus problemas e superar seus próprios limites, na luta incessante por seus objetivos.

Numa analogia com a economia brasileira, temos em comum com os atletas as metas e a consciência sobre os obstáculos que nos impedem de frequentar os pódios do fomento socioeconômico. Entretanto, evidencia-se que nos têm faltado, enquanto nação, o mesmo grau de dedicação, renitência e ações sistemáticas para vencer tais barreiras e buscar os resultados que precisamos para nos tornar um país de renda alta, socialmente mais justo e aderente ao fomento do PIB atrelado à prática de TESG (sigla para Tecnologia Meio Ambiente, Social e Governança Corporativa).

Fernando Valente Pimentel

Na Olimpíada de Seul, em 1988, quando foi promulgada a Constituição Federal brasileira, o vencedor da maratona masculina, o italiano Gelindo Bordin, completou os 42,195 quilômetros (percurso oficial estabelecido pela Federação Internacional de Atletismo) em duas horas, 10 minutos e 32 segundos. Vinte anos depois, em 2008, o então recorde olímpico foi estabelecido pelo queniano Samuel Wanjiru, com a marca de duas horas, seis minutos e 32 segundos, nos Jogos de Pequim; três décadas após, o também queniano Eliud Kipchoge, que venceu no Rio, em 2016, e em Tóquio, este ano, quebrou a marca mundial, em 2019, em corrida disputada em Viena, com o incrível tempo de uma hora, 59 minutos, 40 segundos e dois décimos.

Nesses 30 anos desde 1988, a melhora sucessiva e expressiva das performances na prova mais simbólica das olimpíadas, assim como ocorre nas demais modalidades, deve-se à determinação dos atletas, exercício sistemático, planejamento, evolução da tecnologia dos uniformes e dos métodos de fisiologia, bem como dos pisos das pistas, tênis e métodos de treinamento. No mesmo período, a economia brasileira em nada melhorou suas marcas, crescendo numa média anual pífia. Na última década, nosso PIB acumulou avanço de apenas 3%, ante 30% da média global.

O arcabouço legal do País, ao contrário da modernização de todos os processos atrelados à quebra de recordes esportivos olímpicos e mundiais, continua obsoleto. A Constituição de 1988, marco importante da democracia e das instituições do País, representou avanços relevantes, mas há muitos aspectos que exigem atualização.

Embora tenhamos consciência e diagnósticos abundantes do que é preciso fazer e aonde gostaríamos de ir, os progressos têm ficado muito aquém do ritmo necessário para performarmos com ênfase na competitividade econômica e no crescimento sustentado do PIB. Tal falta de sincronia leva-nos a buscar simultaneamente soluções relativas ao presente, mas também referentes a questões dos séculos 19 e 20, nas quais seguimos patinando.

Na maratona global, continuamos numa posição intermediária, como país de renda média. Temos conquistas importantes, como a própria Carta de 88, as reformas trabalhista e previdenciária e o novo marco do gás. A rigor, contudo, nosso conjunto de leis e normas, inclusive tributárias, administrativas e burocráticas, é mais parecido com uma corrida de obstáculos, que não temos sabido superar para cumprir as metas do desenvolvimento e da justiça social.

RT

*Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

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