revista
vagalume
RISTA
EI
MA
LOQ
U
POE
A SI
edição 1 | agosto de 2013
luz no asfalto poesia nos fatos art_lharia
1 n
editorial
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sem pretensao
contatorevistavagalume@gmail.com Aos 11 anos de existência, ainda à deriva, o Coletivo Poesia Maloqueirista - através de seu selo nômade/flutuante - vem lançar aos ares um novo projeto de publicação editorial, pela primeira vez, virtual. Anteriormente, houveram experiências intensas nas edições, dos livretos em fotocópia à revista não funciona, de antologias eixada e varal de poemas à atual coleção de bolso, que conta com diversos títulos e distribuição em larga escala feita pelos próprios autores. A Revista Vagalume foi idealizada por Renato Limão, poeta emblemático e um dos fundadores do movimento, de extrema importância ao contexto, não somente interno, mas de toda uma geração. E como sempre nosso aprendizado se deu fazendo, indo pra cima, no front e ao vento, este recomeço reflete a mesma condição, sem a pretensão de superar expectativas que possam criar devido ao nosso histórico, mas continuar experimentando possibilidades de produção criativa, neste caso, sem edital, grana e apoio, só de nós a nós mesmos, por enquanto. Seguimos em frente, para o alto e bons vôos!
expediente editor
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Renato Limao conselho editorial
Caco Pontes -
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pinturas e instalacao
Mauro Neri (Imargem) -
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diagramacao e arte
carol araujo -
revisao
juliana bernardo textos
Caco Pontes Cairo de Assis Trindade Daniel Minchoni -Giovanni Baffo Guilherme Coruja Juliana Bernardo nei costa Pedro TostesRenato Limao Rodolfo Rodrigues Sinha Victor Rodrigues
Cairo de Assis Trindade
Celebração do instante “yo soy/ el dia/ de hoy”, d. pedro casaldaliga Para daysi salim Hoje é sempre melhor do q ontem pq hoje é hoje, Esta coisa mágica, única, surpreendente, q se acaba De repente. Hoje é melhor do q amanhã, pq hoje é hoje E estamos vivos e plenos de tanto, até não se sabe Como e quando Hoje é sempre melhor q sempre, pq hoje foge, Amanhã é um mistério e ontem é só memória, história, Já era. Hoje é sempre o maior presente, pq a vida é agora, Esta hora de som e luz e festa, e este instante é tudo o Q nos resta.
Petites morts A gente morre um pouco Quando nasce, quando cresce, Quando muda, quando perde. A gente morre quando Vai embora, quando chora, Quando goza, enquanto dorme. A gente morre sempre A cada passo, a casa hora. A vida ĂŠ vĂŁ. A morte, enorme.
Metr么 Fofoca Somos isso Somos aquilo Somos isso aqui 贸.
Lapa-rj
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G iov an ni Ba f f o
Malandro foi o rato Que morou sem pagar No meu quarto de hotel barato.
Fosse sonho C茅u azulejado Inaugurando Nova era.
escorre prata dispara outro nome vomita outras cores
Jogavam de noite A bola ninguém via Chutaram a lua cheia.
Leminski Neruda Paulo e Pablo Viajam lado a lado No ônibus lotado.
Chove e me molho Faz sol vou por marquises Carregando sonhos leves Evitando o sono pesado Todo canto é casa Todo pranto passado.
ski Lemin tou ei Mosqu o que pin ud Nem t nei. si Eu as
Um cão de rua Uivou pra lua Numa fria madrugada Ela escutou e ficou apaixonada Felizes eles vão Se encontrando em poças d’água
Ana Carolina Fino fio de fumaça Pinta perfume
Fu Li nci Pú ris ona bl mo ic o?
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Gio van n i B a f f o
Em
pr eg o
Pele agasalhando alma Alvos dentes e ossos Nuvens estudando saltos.
Bandeira Ando sem sol, sem sal E sem saber Se Dorinha meu amor Não seria uma prostituta.
Perdeu-se Rinoceronte Branco Gratifica-se bem Criança doente.
J uli a n a ber n a r d o
provavelmente
fui feliz na Bahia tão feliz que antes de partir já voltei a ser infeliz sabendo que tudo que me aconteceu na Bahia na Bahia ficaria eu também ficaria na Bahia por tudo que me aconteceu e sobretudo pelo que não aconteceu mas poderia
primeiro poema quando criança, sonhei que tinha um coelho branco chamado sorte, mas ele morreu entrevado
mora na filosofia
ju l i a n a b e r n a r d o
era uma vez uma pessoa que odiava carnaval era uma vez uma pessoa que amava carnaval por um final feliz, eram a mesma pessoa
tempo tempo invenção elástica malandra dádiva
pra tudo que a gente não sabe dizer, já fizeram um samba
m te
cê o v e ua u q r vi da inha já pio edr es co p ta
as t i mu
s la e n ja
zen se conseguir esperar cem dias e, principalmente, cem noites debaixo da minha janela serei sua, disse a princesa e o soldado trouxe um banquinho fez palavras cruzadas, bordado, tai chi chorou, tomou barbitúricos, vitaminas, drinks tomou inverno, verão então na nonagésima nona noite mobiliou novamente seu corpo pondo os ossos de pé dobrou o banquinho e nunca mais olhou pra trás
isso de querer que o outro seja exatamente aquilo que a gente espera não nos levará a lugar algum
o mundo é um moinho vasto e oculto e em meio a tudo isto caminha o espírito.
Palavras ao vento podem ser estilingues > mas também bumerangues <
Sementes plantadas no concreto geram sombras de dúvidas
Respiração
Não confundir amor próprio com egocentrismo a linha é tênue — mas grande o abismo (...)
Liberdade Pra poder ser O que sé
central (do interior) das gentes
Constantemente Tenho notado que Uma sucessão de fatores Levam ao poema
cac o p on te s
pessoas não podem evitar contato físico nos coletivos cheios.
Família ninguém dorme Menino Jesus de Rua Fiquem sabendo senhores Que, Se toda criatura Vem do céu E ponte da divindade É a criança que vem a terra Só é preciso então Que os senhores abram as pernas Pra que nasça mais uma criança sem amor e que a falta de amor salve toda a terra.
Quase não durmo Mais não me humilho Se ela não paga o almoço Faço faca dar tiro
CANIBALISM O Pimenta nos olhos dos outros é tempero
CANISMO
LĂngua Portuguesa
Os engasgos de outrora Hoje guela a fora Com sede e suor Tem sombra e duvida Todo grito que eu dava Outro cachorro latia E uma palavra acordava
Degustei do orgasmo Em efeito do vinho, Lambi, literalmente Tua lĂngua portuguesa
R o dolfo R odr ig ues
Curti tua boca em beijos Para que o desejo Do teu corpo Te enfeitice.
N ei Cos t a
Coragem dividida em partes O medo não se importa Em conhecer o não dito Triste sorriso perdido Eterno silêncio Apavora meu estímulo...
Inspirar a sutileza amena Fronte ao eco que fica Águas passadas Sutileza de pensamentos distraídos Atenuam os tempos agora Quase esquecidos Sobre a face deleita lágrimas Sussurram os lábios aflitos A poesia vive sempre presente Contida, para logo ser alheia novamente Aos ouvidos daqueles, no passeio Há tempos, muito cedo no centro Buscam com esperança O sentido de sempre
Quando exploramos nossas vidas Encontramos caminhos perdidos. Ocultamos nossos olhos com tristeza E quando precisamos conversar, As dúvidas surpreendem o censo Interrompe as noites O medo embriagado ao frio, latente Tanto tempo perdido Se esquecemos de nós mesmos Trocamos nossa história por ilusão Ficamos de frente com o fim
Daniela
G uil he rm e C o r u j a
A vida dói No lixo e no ouro Na canção e no grito. A vida dói na vida. É sopro de tuberculoso, E pranto de criança ida. A vida dói duída. Em meio às rosas e girassóis Dói colorida E o perfume da dor se torna doce, Enquanto durmo espero O fim da dor, O findador.
Desculpe-me Ó presídio ingrato, Cárcere da minha mente, Grave em ti minhas palavras O reflexo das minhas desilusões, Lágrimas do spleen, Tolos olhos que não buscam Uma verdade sequer, Mais se esbarra nela o cada momento: Ops! Desculpe-me, desculpe-me.
Previsão do tempo Outra Clarisse Meus cabelos dançam e minha boca se abre. O sol se apaga, eu me arrepio, penso em coisas me distraio. O tempo tem pressa... O tempo tem pressa. Volto ao princípio. À inocência A tristeza dorme A saudade morre Teus olhos brilham, se ascende o sol Vida mais clara.
Chuva! Lua cheia encoberta, Doces lágrimas ativas Lança-me o ser a tristeza .[de insana beleza Chuva amiga.
Inventário ainda tenho 32 dentes e a impressão de estar sendo seguido sempre pela minha sombra o direito de ficar calado angustias matinais desejos inconfessáveis
Ped ro T os t es
ainda tenho muito tempo pela frente e alguns demônios para trás amigos fiéis uma ideia fixa pedras para tirar do sapato dor de cabeça quando fumo demais ainda tenho ressaca de cerveja fatias de pizza na geladeira dois gatos que derrubam tudo
maneiras de dizer pendências não resolvidas vontade de acordar tenho dias e noites em branco marujos no meu estômago pontes quebradas na rua mas tanto faz o que importa
pois é que ainda tenho.
O amor este jardim minado por onde caminhamos abraçados lado a lado com o inimigo. Este conto de safadas esta farsa mal contada - mentira reinventada na qual sempre acabamos caindo novamente. Olha,
olha alí.
lado da pista! não é ali?! o coração
Do outro
Não é ali?!
que morreu atropelado por um taxista?
v i c t o r r o d r i gu e s
cai como nunca caiu transborda como nunca transbordou enche o saco de uns o barraco de alguns mas cai pra todos para tudo como se o céu pedisse atenção despejando sobre nossas cabeças pedaços de si reivindicando seu momento sua intervenção cai aos montes montanhas morros o mundo por todo lado de cima a baixo pancadas deixam hematomas tombam árvores tombam carros tombam arcas em segundos
é bíblico nostradâmico apocalíptico messiânico é buda oxalá um toró tá na torá o final a profecia é maia é natural enquanto isso um indigente de banho tomado quintal lavado numa boa aguarda o fim do dia do mundo do temporal
ainda que a vida seja um mar de mágoa quem rio riu
doses de versos matam a sede de justiça de vingança de atenção
teimosia poesia é remédio sara febre tira tédio é simpatia traz o amor no mesmo dia poesia é comida caseira medicina popular é tempero brasileiro pra qualquer paladar é menino de rua e ainda que expulsem que cuspam que chutem continua em todo lugar
estrada
victor rodrigues
vidro entreaberto, vejo pela fresta: árvores, aonde vão com tanta pressa?
candidatura eu, se eleito não prometo porque sou homem e não cumpro
tudo porque se eleito não sou prefeito deputado ou presidente sou poeta e como poeta sou gente sou da gente, sou a gente e como poeta sou também indigente marginal, delinquente atravesso as vielas da alma habito as esquinas da mente
não compro seu voto nem me comprometo mas construo mais hospitais e mais leitos por mais doentes internados então me candidato pra mais visitantes e mais visitados a ser eu, mas também você construo mais igrejas pela simples tarefa de viver pra que pecadores possam comer e beber e festejar a vida sem medida porque como poeta inauguro mais restaurantes sei que posso fazer pra que meninos vendam balas e flores porque como poetas e esfomeados peçam comida nós temos esse poder abro mais bares pra que o João e o José desçam uma caninha sem dó e curem suas dores com baralho e dominó levanto mais pontes só pra abrigo de mendigos mais semáforos por mais trânsito pra que ambulantes e malabaristas aumentem a clientela mais ruas e calçadas pra mais feiras e camelôs, mais pipa e futebol organizo mais favelas pra mais rap, mais samba mais moleque em casa bamba
s i nha
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na festa dos urubus empoleirados elas eram as mais bonitas. a pele vestida de palavras no claro do caminho se escondia. uma mancha no vestido insistia em brotar pra escorrer com a รกgua o que era vida. das saudades que conhecia ficou estranho na dobra do dia como se esperasse o chamado e voasse pra dentro das penas escuras.
daniel minchoni
sampaulo a previsão é de chuva fina no meu pára-brisas . os vagalumes costuram o trânsito apago as cigarras. fumo mesmo assim vendo o trâfego. marginal . do quarto pra sala o trânsito é lento nos corredores 155km de engarrafamento no menor metroquadrado com vista pra nada . nesta cidade fila.......... de solidão nesta cidade fila.......................fila da puta
in dócil bom mesmo é estilhaçar virar caquinhos eis que no meu mundo sou moinho infestado de cupins. o sol da manhã? espanca os sonhos. bom é explodir radicalizar, sumir. queria lobotomizar meu ser pra ir não ter vontade ficar e... de vez em quando, dormir.
1 ainda que só tarde é por do sol 2 manhã sem som passarinho rouco janela trancada
Três tragédias
fechei a janela com violência agredi o vento. me senti só. tinha uma pedra no caminho vendendo poema.
acendi uma vela, e... que incêndio.
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R En a t o l i m a o
Av. Afonso Pena
gramática, desgraça no meu poema.
In-sonia é que toda vez que acordo com uma mulher que não amo não amanheço
Transi to trafego num trêbado par de pés descalços, despidos de empáfias. mas os pensamentos? estes andam sóbrios demais o pior é que acordam cedo e fazem barulho.
R En a t o li ma o
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É a porra do medo que nos mantém vivos, nem sempre nos une a porra do medo será que eu tenho que ser assim? voador de duas pernas, amante dos equívocos e egocêntrico pra caralho. Que porra é essa que nos une? Quero um repelente pra artistas, “artista é o caralho, é o caralho” vou vagar na margem do erro aceitável Furar comigo mesmo meu arsenal de desculpas. Vou assumir essa porra de amor, ou sumir de vez ou sei lá, Não sou nem capaz de omitir Não quero meu reflexo nos outros Outros de mim? Não suportaria.
araujo
ju l i a n a
b er n a r d o nasceu no dia dos namorados de 89. Mora em São Paulo, onde caminha junto ao coletivo Poesia Maloqueirista e Projeto Praga. Publicou “Carta Branca” e “Vitamina” (Ed. Patuá, 2011 e 2013). Escreve em orugidodoleaonaocabenajaula.wordpress.com orugidodoleaonaocabenajaula@gmail.com finado, foi poeta e divulgou amplamente seus libretos em diversas cidades do território nacional, intitulados “Nossa Poesia”, em que assinava os textos e ilustrações.
gu i l he rme c o r u j a é poeta e divulga seu trabalho nas ruas de Belo Horizonte. autor do libreto “mais ou menos”.
designer gráfico criativa, praga e maloqueira. Desenha por paixão, é poeta por acaso e adora brincar e clicar nas horas não vagas. carolgaraujo.daportfolio.com imaginarol.wordpress.com
nei costa
daniel
mi nc ho n i daniel minchoni é sarau do burro, cabaret revoltaire, menor slam do mundo e poesia esporte clube. seu livro de cabeceira é escolha o título (jovens escribas, 2006).
é poeta, escritor, estudou direito e comunicação, tem quatro livros de poesia publicados, participa de várias antologias; faz recitais e performances poéticas pelo Brasil, com A Dupla do Prazer. dirige a Gang Edições e a Editora Contemporânea. ministrou também Oficinas de Criação Literária no Sindicato dos Professores SINPRORio. é copydesk e colaborador da Agenda da Tribo (São Paulo).
carol
é poeta, artista multifuncional e ex-extelionatário. tem a Poesia Maloqueirista como professora, amante e a vedete Virgínia Lane como prima. autor de “o incrível acordo entre o silêncio & o alter ego (ed. annablume, 2008)” e “Sensacionalíssimo (ed. kazuá, 2013)”. foi um dos editores da “Revista Não Funciona”, entre 2004 e 2009. é pai de Martim e conduz os projetos “Arrimo, Minimal e Itinerário”, mesmo sem possuir habilitação, mas segue na tentativa, estudando o curso de direção da sp escola de teatro.
Cairo de Assis trindade
ca c o p on t es
BI OS OS
ma ur o n er i
Gi ov a n n i ba ffo
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é poeta paulistano do signo de escorpião. divulga seu trabalho na rua brasis adentro. publicou diversos libretos, entre eles “poemas na contramão”, “só curto poema curto” e “analfabeto funcional funcionando”. ajudou a organizar a coleção de literatura descartável “peri go”, no rio de janeiro. autor de “delitos e deleites” (2010) e “pequenos golpes” (2012), pelo selo edições maloqueirista.
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Rod o l fo r o d r i g u e s
s inh a
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é poeta e divulga seu trabalho nas ruas de Belo Horizonte. autor do libreto “estação abandonada”. quer o sagrado das ruas e a calma de estar em mim longe da frieza dos mundos amor por tintas palavras. sinhacrua.tumblr.com
p ed r o t o s t es
poeta paulistano, aos quinze anos saiu de casa e morou em diversos hotéis, pagando a diária com a venda de seus libretos. em 2002 participou da fundação do movimento poesia maloqueirista, que mais tarde se tornou coletivo e plataforma de produção cultural interdisciplinar. autor de “in dócil”, vols. 1 e 2 (edições maloqueirista, 2012). atualmente vive em rolândia, no paraná.
é poeta, produtor, agitador e outras atividades correlatas. publicou em diversos jornais, revistas, sites e coletâneas literárias desde 2006. autor de “o mínimo” (ibis libris, 2003) e “descaminhar” (annablume, 2008). almeja desaprender muitas coisas que não lhe ensinaram, mas todos sabem.
Victor Rodrigues
rena t o l i m a o
formado em Artes Visuais. frequenta a Accademia de Bellas Artes de Bolonha, Italia. nas ruas descobriu ser um artista com estilo único e intrigante. hoje contabiliza quase mil graffitis entre o Brasil e a Itália. integrante do projeto “Imargem”, um grupo de artistas e educadores que realizam ações multidiciplinares, envolvendo a comunidade na conservação ambiental e na construção de obras de arte através de oficinas, murais e esculturas construídas com materiais descartados, expostas na margem da represa Billings, em São Paulo.
é poeta, escritor, produtor cultural e praticante dessas coisas que parecem não caber no nosso dia. acredita que que é preciso ter coragem de dizer. gosta de pensar e imaginar. autor de “praga de poeta” (2012) e “sinceros insultos”(2013), ambos pelo selo edições maloqueirista. tem suas dúvidas se ainda acredita no mundo, daí vai atrás da arte pra inventar outros.
MA
LOQ
EI
RISTA
A SI
U
POE
revista
vagalume