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House of Cards

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Little Mix

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CHEGA DE DOR

por JULIANA ALMEIDA (@)

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Baseada na obra homônima de Michael Dobbs, House of Cards foi por muitos anos um dos carros chefes da Netflix. Lançada em 2013, a série conta a história de Francis Underwood, que ao ter um cargo recusado no governo do presidente eleito, utiliza as mais perversas artimanhas para alcançar o poder dentro da residência mais famosa do mundo. No decorrer dos anos, assistimos Frank e Claire Underwood abrirem caminho para o cargo da presidência dos Estados Unidos, passando por cima de todos que tentam impedi-los de cumprir seus planos, e até deixando cadáveres para trás se necessário. Por cinco temporadas, Kevin Spacey e Robin Wright dividiram as telas como co-protagonistas, se tornando um dos casais mais famosos, amados e odiados da política.

Porém, em 2017, após diversas acusações de assédio, Spacey teve seus laços com o projeto cortados, deixando muitos fãs preocupados com o que aconteceria. Ao se pronunciar sobre o assunto, a Netflix anunciou que a série contaria com uma sexta e última temporada sem a participação do ator. Claire Underwood, personagem de Robin, tomaria as rédeas da história e se tornaria protagonista de seu próprio governo. Felizmente, nas últimas temporadas, a personagem já ia se encaminhando para seu mais novo posto de poder, deixando a resolução dos produtores de torná-la o centro da série muito bem estruturada e conveniente, fazendo com que a mudança não fosse brusca e desconfortável para aqueles que acompanhavam o enredo desde o começo.

A CASA DE CARTAS DE LADY MACBETH

A sexta temporada começa três meses após a renúncia de Francis, com a presidente ouvindo ameaças de morte, mostrando logo de início que o mandato não será fácil. Claire, no entanto, volta a se mostrar como uma mulher forte e destemida, não se deixando intimidar. Apesar disso, no decorrer dos episódios, é possível ver as ameaças se tornarem mais reais e próximas, sendo de forma tão intensa que começamos a temer pela vida da protagonista. O ex-presidente já não se encontra mais a vista, e logo é explicado o destino que recebeu. Mesmo assim, o personagem é mencionado várias vezes durante a temporada, fazendo com que Claire tenha que lidar com as promessas e os crimes cometidos por seu marido que podem fazer com que sua casa de cartas venha a ruir. Ainda assim, com a quebra da quarta parede, a mulher não deixa de nos provocar: “Sente falta do Francis?”, ela indaga, nos mostrando que ele está no passado e será ela quem dará as ordens agora.

O tempo todo observamos a personagem ser subestimada, tendo diversas vezes o seu gênero utilizado como contra argumento a suas decisões. Entretanto, Claire sabe reverter à situação, usando o ambiente machista a seu favor, mesmo que isso signifique ser temporariamente mal vista por seus eleitores. Mais estrategista do que nunca, Underwood apresenta uma incrível capacidade de manipulação, antes vista apenas no próprio Frank. A perversidade da personagem chega a níveis tão elevados que beira a loucura, fazendo aqueles que estão ao seu redor compararem-na a Lady MacBeth, a rainha louca que acaba atormentada pelas ações que fez seu marido tomar na tragédia clássica de Shakespeare. Sem escrúpulos algum, ela joga buscando a vitória, não importa o que isso venha a lhe custar.

A loucura, entretanto, está próxima a outro personagem. Nesta temporada, Doug Stamper (Michael Kelly) ganha uma notoriedade maior, se tornando um verdadeiro problema para Claire. Buscando honrar o nome do antigo chefe de qualquer maneira, Doug tem movimentos calculados e ao mesmo tempo confusos, deixando sempre quem o assiste perdido. Mesmo quando ocorrem diálogos abertos, os telespectadores continuam de fora, acreditando e desacreditando na devoção do personagem, tendo dúvidas até sua decisão final.

O ÚLTIMO ATO PRESIDENCIAL

Durante toda a temporada, o medo de que Claire falhe em carregar a série sozinha se torna mais presente enquanto vemos os planos da personagem serem frustrados repetidamente. Todavia, quem assistiu House of Cards com muita atenção sabe muito bem que até mesmo atrás das falhas existe uma motivação. Desta vez não poderia ser diferente. Como era de se imaginar, a protagonista levou seus planos até a cena final, onde nos surpreendemos com revelações impactantes.

Com apenas oito episódios, cinco a menos que as temporadas anteriores, os produtores tiveram que se preocupar em distribuir a história de forma coerente, tarefa essa que cumpriram muito bem. A passagem de tempo, no entanto, se torna confusa entre um capítulo e outro, de forma que não sabemos o que ocorreu neste meio tempo. Ainda assim, isso não atrapalhou diretamente no desenvolver do enredo, mas deixou levemente a sensação de que perdemos algumas decisões no decorrer dos acontecimentos.

Nesta temporada, Robin Wright nos mostrou sua melhor atuação, e com um tempo maior de tela vemos que todos os anos admirando a atriz não foram em vão. Claire Hale Underwood é uma personagem redonda e bem construída, feita perfeitamente para ser interpretada por Wright, que a veste muito bem. É frequente esquecermo-nos durante os episódios que se tratar de uma mulher ficcional, o que torna tudo mais interessante e ao mesmo tempo assustador. Além da excelente atuação, a atriz nos mostrou mais uma vez sua incrível capacidade em dirigir. Tomando para si o fardo da direção do último episódio da série, ela faz com que quem a assiste fique na ponta do sofá até o último instante, que, ao acabar, libera uma enorme necessidade de mais.

Entretanto, quem espera grandes resoluções nesta temporada talvez acabe decepcionado, já que os produtores e roteiristas não tiveram como prioridade atar as pontas soltas que restaram das outras temporadas, deixando algumas das sub-tramas esquecidas. A casa de cartas construída a anos teve seu fim, a última ação da presidente Underwood foi nos mostrar como fazer uma saída triunfal de uma das maiores e mais importantes séries já produzida pela e para a Netflix, sem perder a classe e a compostura presidencial. //

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