Memória de um vazio urbano: reconexão, masterplan e vitalidade urbana em Passo Fundo, RS.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

MEMÓRIA DE UM VAZIO URBANO

Reconexão, masterplan e vitalidade urbana em Passo Fundo

Arq. e Urb. Rafael Fernando Giarettta Prof. Dr. Arq. e Urb. Adriana Marques Rossetto Março 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

Rafael Fernando Giaretta

MEMÓRIA DE UM VAZIO URBANO: RECONEXÃO, MASTERPLAN E VITALIDADE URBANA EM PASSO FUNDO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito à obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Adriana Marques Rossetto

Doutora em Arquitetura e Urbanismo Orientadora

Veridiana Atanasio Scalco

Pós-doutora em Arquitetura e Urbanismo Colaboradora

Adriana Carvalho da Silva Storch

Pós-doutora em Arquitetura e Urbanismo Colaboradora

Florianópolis, março de 2016

Banca examinadora:

Guido Paulo Kaestner Neto

Mestre em Arquitetura e Urbanismo

Vanessa Goulart Dorneles

Doutora em Arquitetura e Urbanismo

Carlos Eduardo Versoza Vaz

Doutor em Engenharia Civil

Memória
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em Passo Fundo. 2 UFSC
de um vazio urbano. Reconexão, masterplan
urbana

Agradecimento

Agradeço aos meus pais Rogério e Olíria pela oportunidade de estudar, que nunca pouparam esforços para me dar formação superior. Ao meu irmão Junior pelos conselhos e o exemplo de dedicação e a minha irmã Chana pelo apoio emocional durante os 5 anos e meio de graduação longe da família. Dedico este trabalho especialmente ao meu avô Alcides Giaretta, que trabalhou no Frigorífico Costi desde a construção das paredes até a sua aposentadoria como açougueiro. É seu exemplo de dedicação, trabalho e respeito ao próximo que pretendo levar para toda a vida profissional como Arquiteto e Urbanista.

Agradeço também aos amigos da faculdade, aos professores e funcionários da Faculdade de Arquitetura da UFSC, em especial a minha grande conterrânea e orientadora professora Adriana Marques Rossetto, as professoras Veridiana Atanasio Scalco e Adriana Carvalho da Silva Storch, ao professor Arnoldo Debatin Neto, a professora Vera Moro Bins Ely e aos membros do grupo PET Arquitetura e Urbanismo pelos anos de aprendizado e amadurecimento pessoal, ao colegas do Laboratório de Conforto Ambiental da UFSC, em especial o professor Fernando Simon Westphal e aos escritórios ENE Consultores, Ateliê da Cidade IPUF e ARK 7 Arquitetos pelo respeito, companheirismo e conhecimento compartilhado. Também agradeço a todos os amigos que tive a felicidade de conviver e aprender durante o intercâmbio na Itália e nas cidades que visitei, especialmente a famiglia CABUM.

Sem todos vocês, nada disso teria sido tão valioso. Muito obrigado!

Memória de um vazio urbano. Reconexão, masterplan e vitalidade urbana em Passo Fundo. 3 ÍNDICE INTRODUÇÃO ........................................................ 05 OBJETIVOS ............................................................ 05 CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................. 06 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ..................... 10 DIAGNÓSTICO DO TERRENO .................................. 17 DESENVOLVIMENTO DA PPP .................................. 19 PROPOSTA GERAL E IMAGENS ............................... 25 BIBLIOGRAFIA ........................................................ 32
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INTRODUÇÃO

Segundo Roberta Gradin (apud HIGUERAS, 2016), no meio urbano é de fundamental importância que se considere alguns aspectos: analisar critérios ambientais nas cidades atuais, como um ecossistema; considerar as necessidades dos edifícios do ponto de vista de construção, higiene, estética para atender às necessidades da sociedade do século XXI; estudar e avaliar o sistema de transporte para a mobilidade da população atual e para detectar tendências indesejáveis; avaliar os déficits de doações e equipamentos urbanos ou serviços e infraestrutura em determinadas áreas urbanas.

É sabido que um bom planejamento territorial e urbano contribui para a redução dos impactos ambientais e para avançar rumo à sustentabilidade. Dentro do espaço urbano, encontram-se divisões importantes, com características e peculiaridades próprias, que diferenciam os espaços. É sabido que os subcentros possuem papel importante para a oferta de qualidade de vida dos moradores, em termos de saúde, cultura, economia, e a compreensão do conceito de sustentabilidade relacionado à mobilidade urbana. Ou seja, a qualidade de um espaço está ligada a perpepção sensorial que ele proporciona, que por sua vez garante vitalidade e identidade ao espaço urbano.

A partir da experiência de viver em uma cidade extremamente conectada e viva como Milão, na Itália, o trabalho em questão busca reunir toda essa experiência e propor uma outra proposta de ocupação de um vazio urbano na cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. O objetivo é que ela responda melhor às necessidades de crescimento da região, ao passo que também preserve a memória do lugar e seja mais adequada ao que se discute para o futuro das cidades.

Então, a partir de levantamentos de referenciais bibliográficos e documentais sobre a estrutura urbana da cidade de Passo Fundo, realizou-se estudos de uma nova proposta urbana para a região tendo em vista a deficiência desses espaços na cidade. Considerando-se como itens relevantes identificar a disponibilidade aos serviços de educação, saúde, abastecimento, comércio e serviços no bairro e fora do bairro, também busca-se trabalhar itens relevantes como o uso do solo, a disponibilidade de equipamentos urbanos e os deslocamentos realizados como consequência do novo projeto, bem como o novo papel do subcentro do bairro São Cristóvão em relação à cidade de Passo Fundo.

OBJETIVO GERAL

Entender a dinâmica da região e elaborar proposta urbana de uso do solo que una os instrumentos tradicionais de dimensionamento morfológico ao bioclimático através de espaços qualificados, buscando auxiliar na reconexão do bairro e na promoção do bem estar da cidade.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

RECONEXÃO: elaborar uma proposta urbana de reconexão da malha urbana;

ARTICULAÇÃO: propor um outra alternativa de uso do solo buscando a mistura dos usos na área;

VITALIDADE: potencializar a vivência social e urbana de modo a oferecer um novo cardápio urbano para o bairro e a cidade;

PERMANÊNCIA: incentivar projetos de interação social através de espaços públicos qualificados para a população;

CONFORTO AMBIENTAL: dialogar de maneira harmônica com o sítio físico por meio das condicionantes ambientais da região.

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Vitalidade urbana. Corso Vittório Emanuele II, Milão. Itália. Arquivo pessoal, 2014.

CONTEXTUALIZAÇÃO

O caráter de uma rua agradável depende de muitos fatores. O seu posicionamento na cidade, a sua história, a sua atratividade ligada às funções (comerciais, sociais) que se desenvolvem nela, a usabilidade, a qualidade ambiental global (microclima, luz, temperatura, sons). Já a qualidade ambiental está ligada ao aspecto espacial de como se relacionam os limites das fachadas de edificações circundantes, aos dispositivos de sentido ambiental (vegetação, água, sistemas de proteção) de orientação, e a continuidade da rua no tecido urbano. Tudo isso contribui muito com a vitalidade desta rua. Nesse aspecto, as demandas de requalificação dos espaços urbanos da cidade pública e privada se apresentam sempre como demandas por qualidade de espaços confortáveis, cheios de vida, que são a estrutura base da vida civil. Estes são os nossos “bens comuns cívicos” que, além de responder as exigências mínimas de segurança, sustentam de modo confortável a interação social e urbana que Kevin Lynch sintetiza no planejamento ambiental.

Muitas vezes associamos a qualidade de um espaço a uma percepção sensorial específica. Esta percepção de alto nível de conforto ambiental polisensorial (visivo, térmico, sonoro, olfativo/qualidade de ar e tátil) contribui a dar sentido de vitalidade e identidade a um espaço público, também de modo cognitivo. Atualmente é quase comum o controle do dimensionamento bioclimático do edifício (as regras de orientação, dispositivos de permeabilidade e transparência das fachadas, capacidade inercial, divisão dos cômodos, forma e cores dos espaços internos), entretanto não é muito comum o controle das qualidades dos espaços externos, em particular nas fases iniciais, portanto traz prejuízos ao entorno como um todo.

A morfologia geral é constituida dos materiais com os quais os espaços são construídos, principalmente da relação altura/largura para as vias e da relação altura/largura/comprimento para as praças. São esses componentes que formam as paredes do espaço público e modificam as interações das forças ambientais bioclimáticas, tais como: a influência da geometria, orientação, dimensões e tipos de materiais que determinam a radiação recebida ou refletida a partir do fator de vista do céu; as áreas sombreadas ou ensolaradas que provocam/auxiliam/são a causa os movimentos de ar; ruídos ou temperatura emitida por equipamentos ou automóveis.

A CIDADE, A URBE. Pesquisas, textos e discussões ao longo do processo do TCC1 e TCC2:

Segundo a Carta de Atenas, as cidades são lugares onde as pessoas se locomovem, moram, trabalham, divertem-se, mas, acima de tudo, a cidade é o lugar das trocas, do encontro e da circulação. O conceito de urbanidade, entretanto, é diferente dos preceitos do urbanismo modernista pois busca configurar espaços de bem-estar e segurança ao cidadão. Através dos estudos de Figueiredo (2010), Jacobs (2000), Rogers (2001) e Gehl (2010), RODRIGUES identifica 6 estruturas facilitadoras de urbanidade:

1. Diversidade de atividades. A variedade de usos acarreta co-presença de interesses, idades e classes sociais distintas pois gera fluxo de pessoas durante todo o dia. Esse fluxo contínuo de pessoas é responsável tanto pelo aumento da segurança nos espaços públicos quanto pelo impacto positivo na economia local. Porém, é preciso identificar e preservar as características do local, pois existem verdadeiros vilões disfarçados de ambientes de urbani-

dade. Os não-lugares, como shopping-centers, condomínios fechados, aeroportos, são espaços de enclausuramento de pessoas disfarçados de espaços públicos além de excluirem partes da população. Portanto, a qualidade de um espaço está intimamente ligada as percepções sensoriais e espaciais que garantem vitalidade e identidade.

2. Diversidade (e qualidade) de transportes: Para que haja urbanidade, é importante que os meios de transporte de uma áreas sejam diversificados, de forma que se complementem, priorizando os transportes públicos e os deslocamentos não-motorizados. Também é importante que haja uma separação de cada modalidade ou uma hierarquia de cuidados e circulação prevalescendo sempre o menor sobre o maior. A diversidade dos meios de transporte priorizando o público é uma iniciativa sustentável pois diminui os congestionamentos, os ruídos emitidos pelos automóveis e melhora a qualidade do ar. Já os deslocamentos não-motorizados contruibuem para a saúde pública, pois aumenta a qualidade de vida uma vez que diminui o sedentarismo, o número de acidentes e as doenças respiratórias. Infelizmente, as políticas públicas de transporte estão indo na contra-mão da solução do problema.

Observa-se incentivos ao transporte individual como reducão de impostos sobre automóveis e motocicletas em detrimento a investimentos em transporte público ou na malha viária. Com isso, perde-se muito tempo de locomoção para atividades rotineiras como casa-escola ou casa-trabalho.

3. Uso limitado do automóvel: O automóvel une independência e liberdade de escolha de horários na mobilidade. Porém, nada mais é que um retrato do consumismo e do individualismo na sociedade atual que são uma ameaça à vitalidade urbana. É sabido que quanto mais carro, mais vias e mais vias representam diminuições no espaço destinado ao pedestre, como estreitamento de calçadas, criação de estacionamentos, necessidade de passarelas em altura, etc.

A popularização desse meio de transporte ditou novos padrões de ocupação do solo. Com essa facilidade, as pessoas puderam se espalhar mais sobre a malha urbana gerando o espraiamento urbano (urban sprawl) e assim

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Espaços ocupados por diferentes modais. Pôster do Departamento de Trânsito de Munique. Disponível em <http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2014/08/grupo-testa-ocupacao-de-carros-onibus-e-bicicleta-em-rua-de-vitoria.html>

um maior gasto com infraestruturas (redes de água e esgoto, transporte e iluminação pública, recolhimento de lixo, asfaltamento de vias, equipamentos de saúde e segurança) até essas comunidades. A maior ironia disso é que em horários de rush, os carros das pessoas que moram longe estão todos no congestionamento desenvolvendo a mesma velocidade de uma bicicleta.

Para resolver o problema do tráfego, algumas medidas como pedágio urbano, melhoria no transporte público ou não motorizado devem ser tomadas. No Brasil, através da Política Nacional de Mobilidade Urbana, lançada em 2012, é reconhecido a prioridade dos modos de transporte não motorizados ou público coletivo sobre o transporte individual motorizado.

4. Espaços públicos (convidativos) de qualidade: Os espaços públicos desempenham diversas funções de recreação, circulação, possibilidade de encontros e trocas, comércio e serviço, embelezamento e amenização das temperaturas no espaço urbano. Gehl (2011) categoriza essas atividades externas em necessárias (trabalho, espera do ônibus, compras, etc.), opcionais (caminhar e tomar sol ou um pouco de ar fresco) e sociais (pessoas no espaço público como crianças brincando, feiras ao ar livre, passeio em família, ver e ouvir outras pessoas).

Ele acredita então que “quando áreas externas são de qualidade ruim, somente atividades estritamente necessárias acontecem“ (GEHL, 2011, p.11) por isso é necessário melhorar a qualidade dos espaços públicos.

5. Ausência de muros e de tipologias segregativas: Para Jacobs, o principal atributo de um centro urbano próspero é as pessoas se sentirem seguras e protegidas na rua, mesmo em meio a tantos desconhecidos. A lógica é simples: quanto mais pessoas nas ruas, mais seguras elas se tornam. Os “olhos da rua” são as pessoas – a vigilância informal que exercem, voluntária ou involuntariamente, quando ocupam o ambiente urbano. Para que as pessoas transitem nas ruas e ocupem os espaços públicos, a rua precisa ser iluminada, com edificações que proporcionem contato com a rua através de portas, janelas, balcões e sacadas (fachadas ativas). Calçadas bem dimensionadas e com espaço para circulação, mobiliário urbano e vegetação para, quando necessário, fornecer sombra ou barrar o vento. Jan Gehl defende também que a altura das edificações pode ser um fator determinante da urbanidade local. Segundo ele, a partir do quinto andar não se pode mais ver ou estar em contato com a vida urbana, pois perde-se o controle dos acontecimentos anulando os fenômeno dos “olhos da rua“.

Os muros cada vez mais altos e com cercas elétricas também é uma medida paliativa que só aumenta o ciclo vicioso da falta de segurança. As ruas passam a ser cânions urbanos de fachadas cegas e inseguras, diminuindo a urbanidade desejada. Um exemplo disso são os condomínios fechados ou edifícios altos que além de serem segregativos e enclausurar os moradores, também geram dispersão urbana pois barram a passagem de pedestre ou do transporte motorizado através da sua extensão. A vitalidade urbana também pode ser alcançada a partir de tipologias arquitetônicas mistas com comércio ou serviço ao nível do solo e residências com grande número de janelas e balcões nos níveis superiores.

6. Alta densidade urbana: Cidades sustentáveis buscam a ocupação e renovação dos espaços vazios urbanos, a concentração e aumento da densidade em detrimento da expansão territorial (urban sprawl). Esse espraiamento gera uma baixa densidade com altos custos de infraestrutura.

É preciso ter em mente que uma altíssima densidade urbana também não favorece a diversidade urbana, como nas cidades japonesas onde existe

tantas pessoas que ninguém se conhece e não há a relação de vizinhança. A dose correta que Arquitetos e Urbanistas devem conseguir chegar depende, então, da disponibilidade de infraestrutura e serviços na região. Esse modelo de cidade compacta procura priorizar os meios de transporte pouco poluentes, poupar o meio-ambiente dos problemas da urbanização e assim economizar os combustíveis não-renováveis.

Ou seja, a vitalidade urbana depende fundamentalmente de espaços públicos de qualidade que fomentem a ocupação e utilização das áreas comuns da cidade. O espaço público tem a função de promover o encontro, de trocas e de circulação de uma comunidade. Por isso, as ruas, praças, parques, calçadas e ciclovias devem ser abertos aos indivíduos sem diferenciação. Um conceito importante para isso são as Ruas Completas, implantadas em diversos municípios no Brasil e fora dele, cuja proposta é tornar o ambiente acessível e seguro através do design. Mas, além do desenho, algumas cidades acrescentam ainda uma pitada de criatividade para resgatar a conexão entre as pessoas e o espaços públicos. Montreal, Canadá, realizou a iniciativa 21 Balançoires, com balanços que reproduziam notas musicais, fazendo música à medida que as pessoas brincavam! De forma coletiva ou individual, a rua é para todos e pode ser aproveitada de diversas maneiras, desde intervenções urbanas até um piquenique no parque, ou simplesmente uma caminhada pelo bairro: toda apropriação positiva do espaço é válida.

Balançoires em Montreal, Canadá. Disponível em <http://vejasp.abril.com.br/blogs/ pop/2012/09/24/21-balancoires-balancos-musicais-em-montreal/>

OS TIPOS DE CIDADE

A cidade tradicional era adequada para que as pessoas se deslocassem a pé, suas praças eram concebidas para abrigar mercados, encontros, paradas, procissões, etc. Os espaços públicos serviam simultaneamente como um lugar de encontro, de compra e venda de mercadorias e como espaço de deslocamento.

A cidade invadida é a cidade onde o tráfego e os locais de estacionamento dominam o espaço. Não sobra muito lugar para as pessoas e, quando

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sobra, é desagradável, barulhento e poluído. Como geralmente soma-se ainda a isto um aspecto visual deteriorado, a vida na cidade fica empobrecida. Caminhar é desagradável e difícil, e é impossível permanecer em espaços públicos devido aos problemas ambientais. Somente as atividades essenciais ainda ocorrem.

A cidade abandonada é o lugar onde as tradições urbanas são fracas e a cultura do automóvel teve tempo para se desenvolver. O tráfego para pedestres tornou-se impossível e a vida pública nos espaços públicos desapareceu. Os centros das cidades são mares de asfalto e todo o movimento ocorre dentro do contexto do tráfego individual. Os cidadãos da cidade abandonada são altamente dependentes do carro.

A cidade de Reconquistada é o lugar onde o espaço público para a vida pública foi re-inventado, onde esforços específicos para reorganizar o tráfego foram realizados, de modo a permitir um transporte eficiente, sem deteriorar o espaço público. Cidades tais como: Lyon, Curitiba, Portland, Melbourne e muitas outras têm investido em seus espaços públicos e, com isso, melhorado a qualidade de vida.

Priscila Pacheco, 27 de Maio de 2015. The City fix Brasil:

As cidades não são apenas conjuntos de dados demográficos: são lugares ocupados pelas pessoas, sobre os quais elas desenvolvem percepções, nos quais vivem suas experiências cotidianas. Os espaços públicos são fundamentais para a dinâmica da vida nas cidades: são espaços de encontro, e as percepções que essas áreas despertam nas pessoas estão diretamente relacionadas com o papel que vão desempenhar dentro da cidade.

É a qualidade dos espaços públicos que vai determinar o uso que as pessoas farão deles, bem como as condições do ambiente em seu entorno: se acessíveis, atrativos e seguros, estimulam diversos usos, atraem as pessoas e se tornam locais que inspiram segurança. Em contrapartida, quando abandonados e descuidados, passam inevitavelmente por um processo de degradação, tornando-se ambientes em que as pessoas passam a ter medo de estar.

É aí que entra a “Teoria das Janelas Quebradas” (The Broken Windows Theory), consiste na visão de que a desordem urbana (ambientes com pequenos focos de degradação, como o da foto) dão margem a problemas cada vez maiores (atraindo criminosos e afastando os demais cidadãos). O metrô de NY começou a reprimir pequenos delitos, como lixo nas estações e no interior dos trens, consumo de bebidas alcoólicas, pichação e não pagamento do passe, e obteve, com isso, resultados positivos.”

Essa relação foi estudada e explicada por Jane Jacobs, escritora e jornalista que desenvolveu o conceito de olhos da rua. Para Jacobs, o principal atributo de um centro urbano próspero é as pessoas se sentirem seguras e protegidas na rua, mesmo em meio a tantos desconhecidos.

A lógica é simples: quanto mais pessoas nas ruas, mais seguras elas se tornam. Os “olhos da rua” são as pessoas – a vigilância informal que exercem, voluntária ou involuntariamente, quando ocupam o ambiente urbano. Para que as pessoas transitem nas ruas e ocupem os espaços públicos, porém, a cidade precisa oferecer condições para que isso aconteça.

- Espaços para caminhar: Calçadas amplas permitem que mais pessoas estejam na rua; Ruas com alto fluxo de pedestres tendem a ser mais seguras;

- Contato entre o térreo das edificações e a rua: Muros altos impedem a visão da rua, contribuindo para a falta de segurança. O contato visual entre as edificações e a rua aumenta a sensação se segurança e a circulação de

pedestres;

- Espaços atrativos: Espaços públicos de qualidade são atrativos para as pessoas. E quanto mais pessoas ocuparem esses espaços, mais seguros eles se tornam.

- Iluminação: Iluminação eficiente e voltada para as pessoas facilita a ocupação dos espaços públicos também durante a noite, aumentando a segurança. A segurança nas cidades, assim, não é somente uma questão de policiamento: está diretamente relacionada com a qualidade dos espaços públicos e de sua capacidade de atrair as pessoas para a rua, promovendo a ocupação e a utilização das áreas comuns da cidade.

Espaços públicos, como pessoas, não podem ser ilhas – isolados do ambiente ao redor. Espaços públicos têm a ver com gente, têm a ver com vida, têm a ver com trocas e encontros. A vitalidade das cidades está nas pessoas: para muito além das paredes que nos cercam, é na rua que a vida acontece – nos espaços públicos, que são a essência da vida urbana.

FICHAMENTO LIVRO NEW CITY LIFE - GEHL, JAN - 2006

Nas últimas cinco décadas, o uso do espaço público mudou drasticamente e a vida urbana era caracterizada por atividades relacionadas ao trabalho. Atualmente, a vida urbana está cada vez mais dominada por atividades relacionadas com recreação e cultura num novo ritmo de vida. O livro de Jan Gehl é um manual descrevendo a forma de melhorar a qualidade de vida na cidade, respondendo aos desafios que as cidades enfrentam no século 21, além de traçar novos rumos para elas. No livro os urbanistas estabeleceram 12 critérios para determinar o que é um bom espaço público:

1. PROTEÇÃO CONTRA O TRÁFEGO [segurança para os pedestres, sem motivos para temer o tráfego.]

2. SEGURANÇA NOS ESPAÇOS PÚBLICOS [circulação de pessoas, espaços que tenham vida de dia e de noite, boa iluminação.]

3. PROTEÇÃO CONTRA EXPERIÊNCIAS SENSORIAS DESAGRADÁVEIS [abrigo de vento, chuva e sol, áreas verdes que amenizem altas temperaturas, poluição e barulho.]

4. ESPAÇOS PARA CAMINHAR [fachadas interessantes, ausência de obstáculos, superfícies regulares, acessibilidade a todos.]

5. ESPAÇO DE PERMANÊNCIA [locais públicos agradáveis para permanecer, fachadas e paisagens interessantes para contemplar.]

6. TER ONDE SENTAR [mobiliário público direcionado às atrações, passagem de pessoas, vista,etc, locais para descansar.]

7. POSSIBILIDADE DE OBSERVAR [vistas e paisagens que não estejam escondidas.]

8. OPORTUNIDADE DE CONVERSAR [baixos níveis de ruído, mobiliário urbano que convide a interação entre as pessoas.]

9. LOCAIS PARA SE EXERCITAR [equipamentos públicos para praticar esportes, entretenimento e atividades na rua de dia e de noite, no verão e no inverno.]

10. ESCALA HUMANA [prédios e espaços projetados para a escala humana – a cidade vista da perspectiva dos olhos das pessoas.]

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11. POSSIBILIDADE DE APROVEITAR O CLIMA

[locais para aproveitar cata estação, de acordo com o clima e a topografia da cidade.]12. BOA EXPERIÊNCIA SENSORIAL

[árvores, plantas e cursos d’água acessíveis, mobiliário urbano feito com bons materiais, design e acabamento de qualidade.]

A INOVAÇÃO BIOCLIMÁTICA NA TRADIÇÃO: O PLANO CERDÁ PARA BARCELONA.

O plano Cerdá constitui o exemplo mais interessante de plano urbano bioclimático na cultura urbanística do século XVII que alimentou as grandes transformações das capitais européias.

Cerdá utiliza no plano de Barcelona a sua teoria geral de projeto urbanístico que prevê, segundo os preceitos higienistas do século XVIII, alguns princípios de plano morfo-bioclimático extremamente interessante e inovativo. Cerdá assume o pátio aberto como modelo fundamental do parcelamento na tradição da morfologia a pátio. A tipologia em pátio gera um tecido urbano contínuo, mas rotaciona a quadra 45 graus a norte, com uma orientação equisolar, que permite uma ótima insolação a sul-leste e sul-oeste, uma boa iluminação a norte-oeste e a norte-oeste, bem como uma ótima ventilação dos quadrantes sul-leste e sul-oeste.

As quadras se agregam a quatro ou em sequencia, dando origem a espaços públicos e semipúblicos lineares e concentrados. Infelizmente, em algumas quadras foram modificados com o aumento da densidade fundiária que acabou por fechar o pátio e aumentar muito as alturas máximas das construções. Porém, o modelo baseado sobre características ambientais de aceso

ao sol, permeabilidade do vento e a mobilidade pedonal foi de vanguarda e ainda hoje serve como exemplo.

Além disso tudo, o clima local é um dos fatores de maior relevância no que diz respeito a projetos edílicos e urbanísticos pois influencia fortemente as condições de bem estar alcançados ou desejáveis através do específico contexto considerado.

Ou seja, enquanto a arquitetura tradicional incorpora as condições climáticas locais, como resultado de um processo de erro e acerto secular nos projetos, o estudo dos materiais e das funções para ambientes urbanos impõe uma nova relação entre edifício e clima, que necessita um atenta avaliação. Porém, uma avaliação difícil no projeto urbano visto o grande número de variáveis em jogo, climáticas e arquitetônicas.

Atualmente já foram desenvolvidos alguns instrumentos, simples mas eficazes, para fornecer um guia nas fases iniciais do processo de projeto. Entre eles, o gráfico de Givoni, que usa como base um diagrama psicrométrico e permite, através de eixos de temperatura e umidade, verificar quanto se está longe (e quando) das condições de conforto, fornecendo também as possíveis estratégias para compensação do problema (ventilação, inércia térmica, resfriamento evaporativo). Desse modo, é sabido que existe dificuldade em se conseguir isso com um pequeno período de estudos, mas é necessário que os instrumentos de dimensionamnto morfológico estejam de acordo com os instrumentos de dimensionamento ambiental também em espaços públicos. Cabe, portanto, aos Arquitetos e Urbanistas organizar a sua experiência em prol deste desafio.

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LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A CIDADE DE PASSO FUNDO

Passo Fundo é um município brasileiro da região sul, situada no planalto sul-rio-grandense, na cota média de 680 m acima do nível do mar. É a maior cidade do norte do estado devido ao grande volume de estudantes e pessoas de outros municípios quem vem à trabalho. Possui um grande número de edifícios, sendo uma das cidades mais densas do Estado. A renda per capita é de aproximadamente R$ 36.928,93 (Dados IBGE 2015). A cidade é conhecida como “Capital do Planalto Médio”, “Capital Nacional da Literatura”, “Lugar de ser Feliz” e “Capital do Norte”, já que é a maior cidade do Noroeste Rio-grandense.

O processo de formação da cidade de Passo Fundo remonta ao início do século XIX com os tropeiros paulistas que utilizavam a região como caminho para levar gado à feira de Sorocaba, em São Paulo.

Em 1898 o transporte ferroviário contribuiu para um desenvolvimento significativo da cidade e região. Por volta de 1870, houve uma significativa entrada de imigrantes de varias nacionalidades no município; eram alemães, italianos, portugueses, franceses, uruguaios, paraguaios e espanhóis que imprimiram seu panorama à cidade. O comércio foi implementado com maior vigor e novas técnicas foram introduzidas para revitalizar o setor primário. O

primeiro ciclo econômico da cidade de Passo Fundo foi o cultivo de erva-mate. Outro ciclo desenvolvido no município foi a pecuária, mostrando, dessa forma uma proximidade com a produção estadual do Rio Grande do Sul, mas que não despontava com resultados promissores.

Em 1902, o terceiro ciclo econômico da cidade foi através da indústria madeireira, pois iniciou-se uma exploração intensiva das florestas de pinhais. Após isso, a cidade seguiu através da agricultura e em seguida desenvolveu no ramo de prestação de serviços, sendo atualmente um pólo nacional nos ramos de saúde e educação, ostentando os prêmios de Melhor Cidade Média do Brasil em Saúde e uma das 50 melhores cidades do Brasil para investimentos. A dimensão econômica e populacional que apresenta o município de Passo Fundo na região o torna um pólo de desenvolvimento regional, e, portanto, determinante do perfil de desenvolvimento econômico da região. Segundo FERRETO (2013), devido a:

1. Localização geográfica onde se encontram os principais entroncamentos rodoviários eu o ligam a diversas regiões do Brasil e do Mercosul;

2. Aos microclimas da região, que permitem a produção de culturas e atividades pecuárias para a industria e serviços que, em conjunto, dinamizam

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1ª cidade média do BR em Saúde 8ª maior economia do RS 50+ cidades para investir do BR 196.739 habitantes IBGE2015 Cfa subtropical úmido PIB R$ 6,7 milhões IBGE2015 Universidade de Passo Fundo Inst. Fed. Sul-rio-grandense IMED - Faculdades Meridional FAPLAN - Anhanguera Faculdades Portal Fundação Getúlio Vargas UFFS 759,4 km² IDH 0,776 IBGE2015 Serviços 66% Comércio 31% Indústria 3% 5 Hospitais (2 particulares) 2 Institutos de Especialidades
Cidade de Passo Fundo. Imagem de satélite. Google Earth, 2015.

o agronegócio;

3. A um povo empreendedor com uma força inovadora, que visualizou, há décadas, a necessidade de qualificar o capital humano em todas as áreas do conhecimento pela criação da primeira universidade comunitária do país (a UPF) e atualmente disponta como pólo de ensino no norte do RS;

4. À implementação e consolidação do atacado, varejo e prestação de serviços de ponta com grande importância no sul do país.

1919

Eng. Sanit. Saturnino de Brito

Saneamento da cidade e estação de tratamento d esgoto, abastecimento de água, embelezamento e crescimento da cidade. Mapeamento de importantes mananciais da cidade.

CONFORMAÇÃO DA CIDADE

A análise dos planos diretores, no período de 1919 até a atualidade, busca facilitar a compreensão da ocupação do espaço urbano. Dessa forma, foi elaborado a seguinte linha do tempo em forma de resumo:

1932 1953 2006 1984

Eng. Eduardo Paiva

Arq. Demétrio Ribeiro Arq. Edgar Graeff

Ocupação e uso do solo; Orientar o crescimento urbano; Localizar grandes equipamentos de uso coletivo e público. Área urbanizada de 1400 hectares.

GAPLAC Prefeitura Municipal de Passo Fundo Conter a expansão dentro da área formada pelas vias perimetrais sul e leste. Regulação do uso do solo. Consolidar a cidade como capital regional em nível estadual.

Fomento de indústrias Valorização do centro urbano; Verticalização da área central enconomica-cultural, distribuição de usos, intensidade de ocupação do solo, estrutura de polarização, circulação e expansão urbana.

Em 1922, nota-se uma expansão da urbanização em direção ao rio Passo Fundo, no entorno da estação ferroviária e ao longo da avenida Progresso, atual avenida Presidente Vargas. Alargamento da atual avenida Brasil.

Vetores de expansão e análises setoriais; Estabeleceu parâmetros de uso e taxa de ocupação, índices de aproveitamento, incentivou a renovação urbana na zona central. Densificação em regiões ao sul e sudeste

Dividiu o município em macrozonas; Criação da Zona de Proteção dos Recursos Hídricos, Zona de Proteção da Mata Nativa, Zona de Recuperação Ambiental, Zona de Ocupação Controlada Um e Dois; Introduz a Zona Especial de Interesse Social; Busca a multicentralidade através da criação dos eixos indutores. Inserção da taxa de permeabilidade dos lotes. Recuos laterais e de fundos, beneficiando a ventilação e iluminação. Planos complementares, como o Plano de Patrimônio Histórico e Cultural.

Crescimento da mancha urbana de Passo Fundo. ALMEIDA, 2014

“Na questão relativa ao meio urbano, as diretrizes de expansão urbana, densificação e estrutura viária necessitam ser articuladas com áreas de vazios urbanos, interesse social, proteção de mananciais e áreas de vegetação nativa, bem como investimentos em equipamentos urbanos e comunitários, de forma a abranger a população como um todo. Dessa forma, poderá ser minimizada e diversificação e a exclusão social e urbana existentes, tomando como uma das ações o planejamento e a gestão do espaço urbano e municipal.”

TRECHO DO PLANO DIRETOR DE PASSO FUNDO. 2006

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Início da povoação 1930 1857 1953 1902 2013

Cabe salientar ainda que o êxodo rural decorrente da modernização agrícola e de alterações na estrutura fundiária da região configurou-se como fator de urbanização, assim o desempenho econômico do município foi consequência do incremento nos setores secundário e terciário, que são tradicionais geradores de emprego no meio urbano.

Com o boom do plano de 1984, a qualidade do espaço urbano, preservada razoavelmente na área central, mais antiga e consolidada, somente na última decada do séc XX passou a ser buscada e exigida igualmente em espaços mais periféricos, em bairros não-centrais. Ou seja, a tendência de descentralização urbana, iniciada paulatinamente pela ocupação habitacional e de grandes negócios, nos últimos anos, mesmo sem incentivo direto, foi impondo-se como alternativa de qualificação e democratização da cidade.

Em 1999 iniciou-se o processo de elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) que terminou em 2006, pautado através do Estatuto da Cidade. (TEDESCO et al, 2007)

Portanto, é interessante verificar que em pouco menos de 150 anos, ocorreu um interessante processo de urbanização e o município ganhou contornos de capital regional. O comércio, portanto, aparece como indutor desde

DIMENSÃO AMBIENTAL

Passo Fundo está situada em um relevo montanhoso a uma altitude média de 680 metros e com clima temperado, apresenta um clima do tipo fundamental úmido (f) com variação especifica subtropical úmido (Cfa). Os invernos tendem a ser úmidos e amenos, e não raramente durante os picos de frio observam-se temperaturas máximas de apenas um digito e mínimas abaixo de 0ºC. Nos meses mais frios é comum a formação de geada e, mais ocasionalmente, a ocorrência de neve. A chuva é bem distribuída durante o ano, tendo o mês de setembro o maior volume. A média mensal da umidade fica em torno de 70% e não há ocorrência de seca.

Expansão urbana de Passo Fundo. Fonte: Ferreto, 2013.

os tropeiros, da estrada de ferro, até a realidade atual, onde os eixos viários e comerciais foram estruturadores da malha urbana. Desse modo, entre outras diretrizes, esta proposta de Trabalho de Conclusão de Curso está vinculada ao fomento de novas formas de comércio e serviço contemporâneos, como a indústria criativa.

Zona de conforto, temperaturas e pluviosidade. Fonte: projeteee.ufsc.br

Gráfico de ventos predominantes. Fonte: projeteee.ufsc.br

BAIRRO SÃO CRISTÓVÃO NA HISTÓRIA

O crescimento na direção sudeste, no eixo da atual Avenida Presidente Vargas, é justificado por Gosh (2002) como resultado das boas condições técnicas da estrada que conectava Passo Fundo à rodovia de acesso à capital do estado (RS324), passando por colônias agrícolas prósperas como Marau e

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Pluviosidade média mensal. Fonte: Embrapa Passo Fundo. O

Guaporé. Deste modo, a antiga Avenida Progresso, firmou-se como caminho rodoviário principal para escoamento da produção em direção a Porto Alegre. Entre as décadas de 1950 e 1980, a indústria frigorífica apresentou grande dinamismo econômico para Passo Fundo. Entre o final da década de 1940 e meados dos anos de 1980 foram instaladas indústrias na porção sudeste, como o Frigoríficos Z. D. Costi (1948), sendo este o maior e mais importante, o Frigorífico Planaltina (1956), o Matadouro Mavepal (1970), comprado pela Frangosul em 1986 e a Semeato (1950), sendo esta uma indústria pioneira na fabricação de máquinas e implementos agrícolas na cidade.

Desde então, o Bairro Exposição, atual São Cristóvão não passava de uma área praticamente desabitada, sem nenhuma infra-estrutura e distante do centro. Muitos funcionários e diretores passaram a residir nas proximidades destes frigoríficos, o que impulsionou a construção da infra-estrutura necessária para atender a população deste bairro.

Segundo Capella (2007), a origem do nome “Bairro Exposição” surgiu a partir de um galpão destinado a

de animais, localizado na atual Rua Albino Lazaretti, local

A INSTALAÇÃO DO FRIGORÍFICO Z. D. COSTI

O frigorífico Z. D. Costi, de Zeferino Demétrio Costi, foi o primeiro frigorífico da região, sendo instalado às margens da então Avenida Mauá, atual Presidente Vargas, antigo Bairro Exposição, denominado a partir de 1967, São Cristóvão.

Costi e Ribeiro (2003) afirmam que na área ainda não havia infra-estrutura urbana nem incentivos públicos para a instalação de indústrias. Os atrativos eram a disponibilidade de matéria-prima (criação de suinos na região), e a possibilidade de escoamento da produção através da atual RS 324. Outro empecilho era a escassez de mão-de-obra, que exigiu que se recrutassem moradores do meio rural e de outras cidades dispostos a viver em Passo Fundo.

A localização do frigorífico naquele momento era bastante periférica e de difícil acesso, devido a escassez de transporte público. Em função disso, o proprietário, Zeferino Demétrio Costi, optou pela construção de uma vila operária, com intuito de fixar os trabalhadores do frigorífico em suas imediações. Estruturou-se assim, o primeiro núcleo fabril de Passo Fundo, composto por matadouro, frigorífico, prédio administrativo, residência do diretor e por dois conjuntos de casa de operários.

A indústria chegou a empregar mais de mil funcionários, se destacou a partir da fabrição de produtos e subprodutos suinos (banha, salame, couro, sabão), atendendo a mercado regional e também exportando para países como Estados Unidos, Chile, Grécia e Bélgica. Segundo TEDESCO (2005), no período de 1950 – 1990, o cenário desta parte do município de Passo Fundo foi sendo construído a partir da instalação deste e de outros frigoríficos, que tiveram grande contribuição socioeconômica, movimentando produtores, comerciantes, funcionários, atingindo o mercado interno e externo brasileiro e atraindo pessoas para a zona urbana.

O apito da chaminé dos frigoríficos ficou na memória dos moradores, funcionários ou não, que por vários anos dispensaram o relógio guiando-se pelo seu apito para marcar as atividades do dia. Costi também patrocinou

festas e a construção de equipamentos para a comunidade. Segundo Luiz e Mercilda Della Valentina, antigos funcionários do frigorífico, foi Costi que doou o terreno e materiais para obras dos colégios e das paróquias do bairro.

O frigorífico Costi prosperou até meados da década de 1980 quando a crise econômica, entre outros fatores, ocasionou a falência da empresa, em 1993. (Tedesco et al, 2005, p. 291, 292). Exigências legais impediram a venda do frigorífico e o núcleo fabril permaneceu como patrimônio inerte até 2007, caracterizando um grande vazio urbano na porção sudeste da cidade.

Em 2007, por decisão judicial a área foi posta a leilão e adquirida por um empresário local, que já implantou um condomínio residencial vertical, estando em fase de construção um centro comercial Shopping Center. Este será o quarto Shopping Center da cidade de 180 mil habitantes.

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feiras onde atualmente se encontra o Clube Recreativo Industrial. Imagem 1: Vista aérea do Frigorífico Z. D. Cosi, através da atual Av. Pres. Vargas. Imagem 2 e 3: Exposições do frigorífico à comunidade. Imagem 4 e 5: Festas comunitárias organizadas para os funcionários. Fonte: Luiz e Mercilda Della Valentina, antigos funcionários do Frigorífico. Imagem 1 Imagem 2 Imagem 4 Imagem 3 Imagem 5

OS SUBCENTROS DA CIDADE: A ANÁLISE DO ATUAL BAIRRO SÃO CRISTÓVÃO

A definição de centralidade se dá pelos movimentos ocorridos pelas vias e fluxos, isto é, pela circulação contínua de consumidores, automóvel, mercadorias, trabalhadores, além de informações e ideias, bem como da minimização de tempo de deslocamento para busca de suas necessidades, o que traz consigo uma definição de territórios (GRADIN, 2013 apud MILANI; SILVA, 2009).

O subcentro então é caracterizado por possuir uma atividade ou por conjuntos de atividades que conferem características de centralidade aquele espaço urbano. Os subcentros ou centro regional formam um conjunto de atividades a partir da presença de determinados empreendimentos geradores de viagens cujo porte confere à sua área de influência características de centralidade, atraindo atividades e alterando os padrões de uso e ocupação do solo. “O subcentro consiste, portanto, numa réplica em tamanho menor do centro principal, com o qual concorre em parte sem, entretanto, a ele se igualar. Atende aos mesmos requisitos apenas para uma parte da cidade, e o centro principal cumpre-os para toda a cidade” (VILLAÇA, 1998).

Os planos diretores embasados no Estatuto da Cidade têm como finalidade não apenas o ordenamento territorial físico, mas a busca pela justiça social, pelo direito de acesso aos benefícios da cidade e pela promoção de cidades sustentáveis, enfatizando que os resultados do planejamento e da gestão urbana devem beneficiar o conjunto da população e preservar o meio ambiente físico e cultural.

Diante disso, entende-se que a análise da sustentabilidade urbana em uma cidade como Passo Fundo requer o estudo e então planejamento do desenvolvimento dos seus subcentros. Conforme Leite (2012), as necessidades básicas do morador são tudo aquilo que lhe faz falta no seu dia a dia usual: serviços e equipamentos urbanos básicos, espaços verdes, comércio local e acesso ao sistema de transporte coletivo.

Dentro deste aspecto e numa maior escala, Gradin explica que a conexão entre essas diferentes centralidades é dada através da capacidade de mobilidade urbana de seus habitantes. Esse deslocamento é influenciado por alguns fatores, tais como: dimensões do espaço urbano, complexidade das atividades nele presente, disponibilidade de serviços de transporte, a forma como a cidade é planejada e as características da população.

De acordo com Macário (2005), as condições de mobilidade afetam diretamente o desenvolvimento econômico das cidades, podendo atrair ou afastar pessoas, investidores, indústrias e empregos.

O agravamento dos problemas de transporte e a necessidade de uma nova forma para o planejamento da mobilidade têm elevado o uso de conceitos de sustentabilidade pelos gestores, visando assim uma melhor utilização das características das vias urbanas e melhor utilização desses recursos. Do contrário, acontece o Urban Spraw (espraiamento urbano), caracterizado por criação de ocupações nas periferias das cidades, demandando assim maior gasto com infraestruturas como transporte, energia elétria, saneamento básico e maior tempo gasto em transporte.

O subcentro do bairro São Cristóvão se distância 2,5 km do Centro. Caracteriza-se por ser um setor intensamente urbanizado com uma população aproximada de 21102 habitantes. Seu principal eixo dinamizador é a Avenida Presidente Vargas, que se inicia no centro da cidade e que tem, em seu entorno, as principais atividades de comércio, prestação de serviço e lazer.

Essa avenida, além de ter uma comunicação centro-bairro, liga-se à perimetral Leste e à RS 324, saída para Marau, municípios da região da Serra e Porto Alegre. Neste bairro tem-se como destaque o Quartel da Brigada

Militar, que tem papel histórico e representa forte ligação com as questões de segurança. No bairro também encontra-se a Igreja São Cristóvão e o Posto de Saúde Dr. Luiz Fragomeni, este localizado na Avenida Scarpelini Ghezzi, que, além de atender a população do bairro, atende a população de outros bairros e loteamentos, bem como moradores de municípios vizinhos, como Marau e Mato Castelhano.

Por caracterizar-se em região de acesso ao município vizinho Marau, a áreas rurais e à região da Serra, região Metropolitana e região Nordeste do estado, apresenta potencial logístico estratégico. Por isso potencializa e mantém o uso do solo nas proximidades da Avenida Presidente Vargas para atividades de estabelecimentos de comércio e distribuição, e serviços de atendimento ligados ao transporte e logística, com surgimento de residencial multifamiliar vertical ou uso misto. Nas áreas mais laterais apresenta uso residencial unifamiliar.

Apresenta ainda grandes vazios urbanos, especialmente em áreas de preservação nas proximidades de córregos ou em pontos de topografia acidentada, sendo também estoque imobiliário aguardando valorização.

O resultado do uso do solo no subcentro confirma as atividades predominantes de comércio e serviços, conforme a previsão de zoneamento com zona de transição do Plano Diretor, confirmando a tendência de concentração dessas atividades ao longo da av. Presidente Vargas, sendo o setor analisado uma centralidade secundária da cidade.

Em termos de subcentro de cidade média, pela concepção de França (2010), também está ocorrendo descentralização do núcleo central, com surgimento de nova centralidade e de novas formas comerciais, justificando assim o surgimento de subcentros de comércio e serviços.

Gradin explica ainda que conforme os tipos de subcentros definidos por Giuliano e Small (1991 apud O’SULLIVAN, 1996) o subcentro do Bairro São Cristóvão trata-se de subcentro misturado de serviços, ainda restrito. Mas que poderá se constituir como o centro tradicional se fornecer uma maior variedade de serviços.

Em seguida, é possível conferir imagens do entorno do terreno. Vale ressaltar que em algumas fotos foi escolhido as fotos da Empresa Google por mostrarem mais fielmente o ambiente do cotidiano com angulações maiores.

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Imagem 1: Subcentralidade do Bairro São Cristõvão. Fonte: Google Earth Street View. Captura da imagem pela empresa Google: março de 2015.

Imagem 2: Armazém e casa de carne Lazzaretti. Edificações da mesma época do frigorífico que busca-se preservar como memória. Fonte: Google Earth Street View. Captura da imagem pela empresa Google: março de 2015.

Imagem 3: Vista da entrada do terreno através da Av. Presidente Vargas. Nele já existe uma edificação para comercialização dos ambientes do futuro empreendimento comercial. Fonte: Google Street View. Captura da imagem pela empesa Google: março de 2015.

Imagem 6: Vista do terreno pela Rua Marquês de Caravela. Atrás destas casas corre o Arroio Santo Antônio. No caso, as residências seriam retiradas para dar lugar a via de conexão proposta. As famílias seriam realocadas conforme acordo onde ganhariam uma área no novo projeto, de forma a continuarem na sua vizinhando atual. Fonte: Google Earth Street View. Captura da imagem pela empresa Google: julho de 2015.

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Imagem 5: Vista do terreno pela Rua Prof Anes Dias. Esta segunda parte do terreno servia para pastagem do gado que chegava com as tropas. Fonte: Google Earth Street View. Captura da imagem pela empresa Google: julho de 2015. Imagem 4: Vista da rua Paraná em direção a Avenida Pres. Vargas. Um vazio urbano na cidade de Passo Fundo. Fonte: Arquivo pessoal. Captura da imagem: Agosto de 2015.

EVENTOS DE ENCONTRO E USO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

Algumas iniciativas que visam integrar a população e proporcionar horas agradáveis de convivência nos espaços públicos de Passo Fundo têm se multiplicado no último ano. Conforme entrevistas informais aos organizadores, essas iniciativas têm a finalidade de reunir pessoas de grupos diversificados com o mesmo senso comum de divertimento cultural, gastronômico e de entretenimento para a comunidade de Passo Fundo num ambiente aberto e de compartilhamento, uma vez que notou-se uma diminuição do uso dos espaços públicos da cidade. Na Marechal Floriano acontece o Urbana. Com a sua segunda edição em janeiro de 2016, o encontro reúne música discotecada e exposições de artistas visuais, entre outras interferências artísticas. Na Praça Santa Terezinha, acontece o Piquenique Noturno. Este evento surgiu da vontade de reunir os jovens dos anos de 70 e 80. Uma das organizadoras, Márcia Krauze Diehl explica a origem da ideia: “A saudade motivou a criação de um grupo que reúne jovens que viveram em Passo Fundo nas décadas de 70 e 80. “Criei o grupo naquele momento de vida em que percebemos que absolutamente todas as pessoas que passaram em nossas vidas foram fundamentais de alguma forma e, criaram laços de afeto, amor. Sentia uma saudades absurdas de Passo Fundo, imaginariamente percorria suas ruas... de ponta a ponta como tantas vezes fiz pela Av. Brasil. Relembrava os bares, as reuniões dançantes da época, dos clubes, das bandas que ouvíamos, das roupas originais de jovens que sabiam o que era o movimento hippie, rock and roll e iê iê iê. Como resgatar tudo isso juntamente com o principal: as pessoas que fizeram parte de tudo isso nos anos 70 e 80?”

O pároco da Igreja Santa Terezinha, Pe. Maicon Rodrigo Rossetto, disse estar muito satisfeito com o piquenique, pois reuniu várias famílias e, segundo ele, “é importante esta interação familiar. A Paróquia se dispõe a ser parceira de edições seguintes do piquenique. Achamos até que deveria ter mais edições por ano”. Quanto a edições futuras, Lisete diz que não tem nada marcado ainda, pois a proposta é que o piquenique seja algo espontâneo, sem que seja firmado um compromisso em ter que realizá-lo de tempo em tempo, pois “o melhor do piquenique é justamente essa espontaneidade que ele tem”, conclui. Publicada em: 15/11/2014 - 07:50 , por Sammara Garbelotto

Ainda na Praça Santa Terezinha, já aconteceram duas edições do Artesana Food. Organizado por duas produtoras de eventos da cidade, a proposta do Artesana é juntar gastronomia, música, artes e cultura para ocupar os espaços públicos de Passo Fundo.

Na Praça Antônio Xavier, a Prefeitura Municipal em parceria com a Associação Passo-Fundense de Músicos e Compositores (APMC) organiza o projeto Música na Praça, que atende um anseio de muitos artistas, através do cronograma de shows de músicos da cidade, organizado para valorizar a cultura e abrir espaço para os talentos locais.

Urbana e Pique Rock Nique. Eventos que tem animado e chamado a população de Passo Fundo a ocupar os espaços públicos da cidade.

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DIAGNÓSTICO DO TERRENO

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Processo de urbanização da cidade

Zoneamento urbano atual

Densidade domiciliar e equipamentos da cidade

Característica dos subcentros da cidade e pólos geradors de tráfego Fonte dos mapas: Informações da Secretaria Municipal de Passo Fundo, Tese de Mestrado de Diego Ferreto e elaboração própria.

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AS RELAÇÕES DA CIDADE X TERRENO

O processo de urbanização da cidade remonta a época dos tropeiros, que, saindo da região do Pampa rio-grandense, cruzavam por Passo Fundo ao levar o gado para Sorocaba, em São Paulo. Na cidade eles pernoitavam e desde aquela época desenvolveram a vocação de prestação de serviços de Passo Fundo.

A pesquisa dos subcentros da cidade mostra que eles se desenvolvem linearmente ao longo das principais avenidas da cidade, sem se igualar ao centro principal mais desenvolvido. Os Pólos Geradores de Tráfego são caracterizados através das instituições de ensino, shopping centers e hipermercados, com especial destaque ao centro médico.

O uso do solo é pautado pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 2006, em revisão desde 2013. Na região do vazio urbano, verifica-se a definição de zonas mais densas perto das vias de maior fluxo diminuindo ao passo que se aproxima da outra ponta do terreno, com o Arroio Santo Antônio sendo circundado como uma zona de recreação e turismo. No meio do terreno, existe uma área de Eixo Indutor, justificando assim a inflexão proposta na malha urbana, verificada posteriormente onde está previsto o Centro Cultural.

O Plano Municipal de Áreas Verdes foi seguido como base para definiir as futuras áreas de urbanidade. Destaca-se o plano de ciclovia na Av. Presidente Vargas e também no Parque Linear ao longo do Arroio Santo Antônio. Por fim, segundo o mapa de Eixos Indutores verifica-se o plano de expansão em direção aos bairros Integração e Santa Martha (em amarelo). Porém, diante de toda essa análise, defende-se a ocupação dos vazios urbanos existentes a

fim de conferir compacidade ao município freando o espraiamento urbano, o qual gera custos onerosos a administração pública referentes a instalação de infraestrutura de água, luz, segurança, saúde, transportes e perda de tempo nos deslocamentos cotidianos dos habitantes.

DESENVOLVIMENTO

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Informações
Passo Fundo, Tese de Mestrado de Diego Ferreto e elaboração própria. Plano
dos mapas:
da Secretaria Municipal de
Municipal de Áreas Verdes e Espaços Livres de uso público Ocupação e eixos de crescimento
DO PROJETO A Parceria Público Privada
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do solo no entorno
Vias do entorno Via arterial Via coletora Via local Ferrovia
Um vazio urbano para reconectar Usos
Relevo

Estratégia morfológica: reconectar a malha viária adaptando ao relevo.

Estratégia social: desenvolver a rua como espaço público.

Estratégia ambiental: valorizar os córregos e criar ruas arborizadas.

Mapa de uso do solo previsto: Uma nova centralidade

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Tipos de caixas de via

a. Via arterial

Via arterial Via compartilhada 1

Via coletora Via compartilhada 2

Via local

3m 3m 3m

c. Via local

3m 3m 3m

3m 3m 3m

b. Via coletora

3m

3m

3m 3m 3m 3m 3m

3m 3m 3m 3m

3m

3m 3m

3,5m 3,5m 3,5m 3m

3m 3m 3m

3m 3m

3m 3,5m

Via residencial 3,5m pé-direito: 3,5m 3,5m 3m

Memória
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de um vazio urbano.
masterplan
Os respectivos perfis viários representam a caixa da via em toda sua extensão. O gabarito, por sua vez, está conforme sua localização marcado em preto no mapa acima. 3m 3,5m
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d. Via compartilhada 1
f. Via residencial 3,5m 3,5m 3,5m
e. Via compartilhada 2 3,5m 3,5m 3,5m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m 3m

Zona Especial de Interesse Social

Zona predominante comercial

Zona predominante residencial

Zona mista

Zona institucional

Área verde

À esquerda, esquema de ocupação: Ocupação do vazio urbano, definição das conexões com a malha viária externa formando eixos de continuidade que irradiem outras transformações no tecido urbano, usos do solo (áreas residenciais, comerciais, mistas, livres, de serviço e institucionais), dimensões dos terrenos, taxas de ocupação e índice de aproveitamento.

Abaixo: estudos de sombreamento ao longo do ano.

20 de março, equinócio de outono. 21 de junho, solstício de inverno.

22 de setembro, equinócio de primavera. 21 de dezembro, solstício de verão.

Análise da média de radiação no inverno: Poucas áreas sombreadas no inverno, contribuindo para o ganho de calor dos edifícios.

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1 2 4 5 3

1. Armazéns da família Lazzaretti: Composto por duas edificações da mesma época do frigorífico, pretende-se mantêlas e oportunizar a continuação da venda de produtos coloniais, carnes e frios, base econômica e histórica do nascimento do bairro Exposição, atual São Cristóvão.

2. Centro comercial permeável: Um ambiente aberto para circulação e permanência de pessoas, voltado ao comércio, lojas, cafés, restaurantes. Sua arquitetura polivalente permite diferentes layouts, além de explorar o relevo do local para proporcionar mirantes com paisagens para o parque da lagoa.

3. Habitação de Interesse Social: Espaço destinado a moradia social misturando as classes sociais, conectada as vias do entorno e ao parque da lagoa. Busca trazer dignidade e cidadania para famílias de baixa renda.

4. Centro de Produção Cultural: Espaços para artes performáticas, projetos culturais, artes visivas, multimidial, projetos culturais e artísticos gerais em um novo ponto de referência para a produção e agregação cultural em Passo Fundo.

5. Equipamento público e social: Situado na área verde do parque da nascente, esta edificação propõe-se a servir como equipamento polivalente de apropriação da comunidade do entorno, para cursos, festas e reuniões da comunidade, esportes e lazer em geral.

PROPOSTA FINAL E IMAGENS

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Mapa da proposta geral. Nele foram especificados os equipamentos propostos, que traduzem as estratégias e fornecem identidade ao conjunto da ocupação do terreno na busca da vitalidade urbana, funcionando como um novo cardápio urbano contemporâneo para os habitantes do entorno e da cidade.

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Imagem 2 Imagem 5 Imagem 6 Imagem 4 Imagem 1 e 3 Imagem 7 Imagem 8

O masterplan para a área do antigo Frigorífico Z. D. Costi busca requalificar, conectar e criar espaços de vivência na porção sudeste da cidade de Passo Fundo. A intenção é fazer uma costura entre a cidade e o bairro São Cristóvão, que sempre esteve separado da cidade por meio da antiga indústria e o Quartel da Polícia Militar da cidade, trazendo assim mais desenvolvimento, oportunidades e vivência urbana para o bairro.

A partir do estudo do papel do terreno de 25 hectares na morfologia da cidade, buscou-se fazer uma costura da malha urbana circundante respeitando ao máximo o relevo presente pensando na mobilidade pedonal. O projeto se inspira na urbanidade das cidades européias, que apresentam compacidade e usos mistos, evitando o espraiamento urbano e os prejuízos com infraestrutura que isso traz. Desse modo, prevê a realização de um grande jardim urbano com função de costurar as malhas viária do entorno garantindo permeabilidade para os habitantes vizinhos.

No seu interior se desenvolve um eixo verde, pedonal e ciclável, que busca se transformar em um novo Boulevard da cidade. Ao longo deste Boulevard se juntam uma série de edifícios que garantem os olhos da rua e são destinados a lojas de funções afins à escala urbana que está inserida. De um lado, pela Avenida Presidente Vargas, o eixo verde se inicia com um ambiente aberto que busca abraçar quem passa pela avenida e pelos equipamentos de transporte público e a ciclovia, levando- os para dentro do Boulevard. No eixo do subcentro do bairro São Cristóvão, também é criado uma entrada ao projeto por meio de ruas compartilhadas e arborizadas.

Nesse espaço encontram-se edifícios de maior densidade destinados a um hotel e salas comerciais para instalação da indústria criativa, uma vez que esta é a que mais cresce na cidade em função da existência de tantas unidades de ensino. Também está previsto uma praça com estacionamento subterrâneo e um edifício permeável que estruturam o início de um grande eixo do projeto e possibilita o fluxo de grande número de pessoas. Neste entorno encontram-se dois equipamenos ligados a memória do terreno. De um lado, a edificação do antigo Armazém Lazaretti, de outro, uma praça da memória com

Eixos conectores da malha. Em azul, o eixo estruturador principal. Em verde, o eixo boulevard. Em amarelo e laranja, os eixos transversais conectores da malha viária do entorno.

Corte AA. A definição das vias conectoras, bem como da tipologia dos edifícios através dos afastamentos e gabaritos máximos foram definidos em conjunto a partir do levantamento do relevo existente. Isso se deu com o objetivo de gerar uma morfologia urbana concisa e adequada as condicionantes ambientais da região.

um chafariz no lugar exato onde antigamente era a icônica chaminé do frigorífico. Também existe ambientes de estar e contemplação de fotos e registros que contam o processo de crescimento do bairro e a importância da indústria. Neste entorno, próximo a todos os equipamentos, está localizado uma área de 15 mil m² destinado a ZEIS. No parque aberto é retomado o cuidado ambiental com a antiga lagoa, criando espaços para prática de esportes, feiras ao ar livre, feiras de foodtruck e principalmente ambientes para dar suporte aos eventos de pique-nique diurno e noturno, festivais de música e de skate iniciados na cidade em 2014. Exatamente no centro do masterplan, limitado por dois eixos de transporte, é proposto uma edificação polivalente, para abranger esses eventos em dias de tempo chuvoso.

Descendo em direção ao limite do inferior do terreno, existe o arroio Santo Antônio, que deságua no Rio Passo Fundo e é um dos eixos do projeto municipal de estruturação dos espaços verdes. Nesta região, com escala mais de bairro, está previsto uma edificação com ambiente de lazer e reunião da comunidade, para cursos e eventos em geral. Como respeito aos fatores climáticos, a morfologia urbana foi pensada a não criar corredores de vento, de forma também que os edifícios se adaptem ao entorno e não gerem impacto negativo nas edificações vizinhas, bem como sejam utilizados materiais de baixa emissividade e refletância.

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Av. Pres. Vargas Rua Paraná Rua M. de Caravela

Imagem 1: Entrada pela Avenida Presidente Vargas: Calçadas largas e arborizadas, edifícios com térreo de uso comercial para cafés, mercados, farmácias, barbearia, serviços de manutenção de computadores e celulares a fim de atender a população do bairro e fornecer vida e segurança para a rua. Nos pavimentos superiores, usos como consultórios, academias, escritórios de contabilidade, advocacia, fisioterapia e demais necessidades.

Imagem 2: Praça da Memória. Neste local é retomado a história da evolução urbana e a importância do antigo frigorífico no processo de crescimento da cidade com um chafariz pequeno representando a antiga chaminé que era um marco visual do bairro, ainda presente no imaginário dos moradores.

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Imagem 3: Equipamentos e mobilidade urbana. Respeito ao pedestre, com elevação da calçada ao nível do pedestre no cruzamento com a Av. Presidente Vargas, um importante eixo viário e des deslocamento da cidade. Inserção de equipamentos e mobiliário urbano, como ponto de ônibus para possibilitar o uso deste importante modal e uma estação do Projeto Passo Fundo Vai de Bici, que disponibiliza bicicletas compartilhadas para a população.

Imagem 4: Permeabilidade. Edífícios permeáveis com térreo ativo que permitam segurança e possibilidades distintas de efetuar os deslocamentos através de ambientes conectados. Neste exemplo, mostra-se o eixo estruturador principal, que conecta a praça comercial na Av. Presidente Vargas ao parque da nascente, na ponta nordeste do terreno, próxima ao Arroio Santo Antônio.

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Imagem 5: Centro comercial permeável: Um ambiente aberto para circulação de pessoas e voltado ao comércio e restaurantes. Imagem 6: Eixos de ligação. Áreas de lazer e recreação dos mais diferentes tipos de usuários.

Imagem 7: Equipamento polivalente. Edifício permeável com aproximadamente 6 mil m² no centro da proposta com espaços para artes performáticas, projetos culturais, artes visivas, multimidial, projetos culturais e artísticos gerais em um novo ponto de referência para a produção e agregação cultural em Passo Fundo.

Imagem 8: Parque da nascente: Área comunitária de lazer próxima à nascente que desagua no Arroio Santo Antônio. Além disso, é onde termina o eixo principal que inicia na praça comercial com ponto de ônibus da Av. Presidente Vargas. Nesta área, está previsto a construção de um centro comunitário para cursos e eventos para a comunidade, além de pista de skate, campo poliesportivo e brinquedos para crianças.

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Memória de um
Reconexão,
e vitalidade urbana em Passo Fundo. 32
vazio urbano.
masterplan
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO MEMÓRIA DE UM VAZIO URBANO Reconexão, masterplan e vitalidade urbana em Passo Fundo Arq. e Urb. Rafael Fernando Giarettta Prof. Dr. Arq. e Urb. Adriana Marques Rossetto Março 2016

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