TCC - Centro Cultural Meu Lugar

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UNIVERSIDADE PAULISTA

RHAFAEL DE LIMA PAZ

CENTRO CULTURAL MEU LUGAR PIACATU-SP

ARAÇATUBA 2017


RHAFAEL DE LIMA PAZ

CENTRO CULTURAL MEU LUGAR - PIACATU-SP

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Arquitetura e Urbanismo apresentado à Universidade Paulista – UNIP – campus de Araçatuba (SP).

Orientadora: Profa Ma Priscilla Lacerda Duarte David Coorientador: Prof. Esp. Márcio Barbosa Fontão

ARAÇATUBA 2017


RHAFAEL DE LIMA PAZ

CENTRO CULTURAL MEU LUGAR - PIACATU-SP

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Arquitetura e Urbanismo apresentado à Universidade Paulista – UNIP – campus de Araçatuba (SP).

Aprovado em 12 de junho de 2017.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Profa Ma Priscilla Lacerda Duarte David Universidade Paulista – UNIP

________________________________________ Prof. Esp. Ricardo Utimura Sueta Universidade Paulista – UNIP

________________________________________ Prof. Me Antonio Luceni dos Santos Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo - IFSP


DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus, aos meus pais, amigos e às crianças que são atendidas no Centro Educacional. O privilégio de conviver com vocês tem me permitido ver a vida com um olhar mais positivo e humano, contribuindo para que eu me torne, a cada dia, uma pessoa melhor.


AGRADECIMENTOS

Quero agradecer a Deus por me presentear com a vida e a oportunidade de aprender diariamente com meus erros, na busca de ser uma pessoa melhor e por me permitir a concretização do sonho de me tornar Arquiteto-Urbanista. Também agradeço aos meus pais, Maria e Luiz, por sempre estarem ao meu lado, não medindo esforços para me ajudar na realização desse sonho. Amo muito vocês! Agradeço aos meus mestres, em especial meus orientadores Priscilla Lacerda Duarte David e Márcio Barbosa Fontão, que dedicaram seu tempo, conhecimento e amizade para a concretização deste estudo. Sem o auxílio e entrega de vocês nada disso seria possível. Agradeço também aos amigos que conquistei durante esses cinco anos de jornada. Conviver com vocês foi uma experiência muito rica. A vivência acadêmica foi um período de enorme amadurecimento pessoal e profissional. Muito obrigado, meu Deus!


“No fundo, vejo a arquitetura como serviço coletivo e como poesia.” (Lina Bo Bardi)


RESUMO A cultura é uma importante ferramenta de transformação social, por meio dela os indivíduos têm a oportunidade de ampliar seus conhecimentos, tornando-se cidadãos mais críticos e, consequentemente, mais engajados nas questões políticas e socioeconômicas do lugar onde vivem. Os centros culturais são instituições presentes no mundo contemporâneo que contribuem consideravelmente para que a cultura atinja progressivamente um maior número de pessoas, independentemente da condição social que apresentem. A cidade de Piacatu possui, atualmente, um Centro Educacional responsável por atender crianças em situação de vulnerabilidade social, oferecendo a elas atividades culturais e esportivas. Contudo, o espaço apresenta instalações com pouca infraestrutura, dificultando a realização destas práticas. Assim, o presente trabalho acadêmico propõe a criação de um Centro Cultural para crianças em outra localização na malha urbana do município, dispondo de uma arquitetura adequada às necessidades deste tipo de instituição, contribuindo, dessa maneira, para o desenvolvimento das crianças no que se refere aos aspectos emocionais e cognitivos, que terão grande importância na sua formação humana. Para tanto, foram realizadas pesquisas bibliográficas e consultas de obras correlatas para referência projetual. Como resultado, propõe-se um edifício longilíneo, que se integra à paisagem e ao contexto local, por meio de uma solução que valoriza a simplicidade formal, a fim de oferecer à população um equipamento de qualidade por meio de uma arquitetura que estimula a aprendizagem e as relações humanas. Palavras-chave: Centro Cultural, Piacatu, Vulnerabilidade Social, Cultura.


ABSTRACT Culture is an important tool of social transformation, through which individuals have the opportunity to broaden their knowledge, becoming more critical citizens and, consequently, more engaged in the political and socioeconomic issues of the place where they live. The cultural centers are institutions present in the contemporary world that contribute considerably to the culture progressively reaching a greater number of people, regardless of the social condition they present. The city of Piacatu currently has an Educational Center responsible for attending children in situations of social vulnerability, offering them cultural and sports activities. However, the space presents installations with little infrastructure, making difficult the accomplishment of these practices. Thus, the present academic work proposes the creation of a Cultural Center for children in another location in the urban network of the municipality, having an architecture adapted to the needs of this type of institution, thus contributing to the development of the children in relation to the emotional and cognitive aspects, which will have great importance in their human formation. For that, bibliographical researches and consultations of related works were carried out for design reference. as a result, a long-lined building is proposed that integrates with the landscape and the local context, through a solution that values the formal simplicity, in order to offer the population quality equipment through an architecture that stimulates learning and human relations.

Key words: Cultural Center, Piacatu, Social Vulnerability, Culture.


LISTA DE IMAGENS

IMAGEM 1 - Fachada Centro Cultural Georges ................................................... 22 IMAGEM 2 - Vista aérea do Centro Cultural São Paulo ....................................... 23 IMAGEM 3 - Centro de Lazer Sesc Fábrica da Pompeia ..................................... 24 IMAGEM 4 - Vista panorâmica do CEU Pimentas................................................ 31 IMAGEM 5 - Vista aérea do CEU Pimentas e seu entorno .................................. 32 IMAGEM 6 - Planta de implantação do CEU Pimentas ........................................ 32 IMAGEM 7 - Planta baixa pavimentos inferior e térreo ........................................ 33 IMAGEM 8 - Acesso principal do CEU Pimentas ................................................. 33 IMAGEM 9 - Detalhe: sheds na cobertura ............................................................ 34 IMAGEM 10 - Praça de convivência coberta ........................................................ 34 IMAGEM 11 - Corte transversal do CEU Pimentas .............................................. 35 IMAGEM 12 - Circulação: praça interna ............................................................... 35 IMAGEM 13 - Piscinas e ginásio ao fundo ........................................................... 36 IMAGEM 14 - Detalhe dos brises de alumínio e vidros U-Glass .......................... 36 IMAGEM 15 - Fachada da biblioteca com fechamento em U-Glass .................... 37 IMAGEM 16 - CCHC em funcionamento no prédio de madeira ........................... 38 IMAGEM 17 - Vista aérea do CCHC e seu entorno ............................................. 39 IMAGEM 18 - Planta de implantação do CCHC ................................................... 39 IMAGEM 19 - Entrada secundária do CCHC ....................................................... 40 IMAGEM 20 - Disposição dos pátios entre os blocos ........................................... 41 IMAGEM 21 - Pátios internos da edificação ......................................................... 41 IMAGEM 22 - Detalhe do formato da lanchonete ................................................. 42 IMAGEM 23 - Planta baixa do pavimento térreo .................................................. 42 IMAGEM 24 - Planta baixa do pavimento superior .............................................. 43 IMAGEM 25 - Corte Longitudinal 1....................................................................... 43 IMAGEM 26 - Corte Longitudinal 2....................................................................... 44 IMAGEM 27 - Esquemático das áreas abertas e fechadas do projeto ................. 44 IMAGEM 28 - 3D externo do projeto .................................................................... 45 IMAGEM 29 - Planta de implantação do Centro Cultural de Sedan ..................... 46 IMAGEM 30 - Vista aérea do Centro Cultural e seu entorno ................................ 46 IMAGEM 31 - Situação do edifício no terreno ...................................................... 47 IMAGEM 32 - Praça pública com sinalizadores em concreto ............................... 47 IMAGEM 33 - Planta baixa do pavimento térreo .................................................. 48 IMAGEM 34 - Vista interna da sala multiuso ........................................................ 49 IMAGEM 35 - Planta baixa do pavimento superior ............................................... 49 IMAGEM 36 - Escada próxima a uma das entradas do Centro ............................ 50 IMAGEM 37 - Corte longitudinal ........................................................................... 50 IMAGEM 38 - Fachada do Centro Cultural de Sedan .......................................... 51


IMAGEM 39 - Crianças durante aula em uma das salas de oficina ..................... 51 IMAGEM 40 - Fachada do Centro de Sedan ........................................................ 52 IMAGEM 41 - Rio Meuse e o Centro de Sedan ao fundo ..................................... 52 IMAGEM 42 - Visita ao CCSP .............................................................................. 54 IMAGEM 43 - Visita ao CCJ ................................................................................. 55 IMAGEM 44 – Visita ao SESC Pompeia .............................................................. 56 IMAGEM 45 – Localização de Piacatu no Brasil .................................................. 57 IMAGEM 46 – Localização de Piacatu no estado de São Paulo .......................... 58 IMAGEM 47 - Climograma de Araçatuba - dados médios mensais 1961-1990 ... 59 IMAGEM 48 – Croqui Centro Educacional ........................................................... 60 IMAGEM 49 – Entrada Principal e Pátio/Refeitório .............................................. 61 IMAGEM 50 – Cozinha e Playground ................................................................... 61 IMAGEM 51 – Lazer/Pátio coberto e Informática ................................................. 62 IMAGEM 52 – Localização do terreno na malha urbana ...................................... 63 IMAGEM 53 – Localização dos equipamentos públicos ....................................... 64 IMAGEM 54 – Mapa de uso e ocupação do solo (entorno) .................................. 65 IMAGEM 55 – Mapa de cheios e vazios .............................................................. 66 IMAGEM 56 – Gabarito das construções do entorno ........................................... 67 IMAGEM 57 – Dimensões do terreno ................................................................... 68 IMAGEM 58 – Planta topográfica do terreno ........................................................ 68 IMAGEM 59 – Corte transversal do terreno ......................................................... 69 IMAGEM 60 – Corte longitudinal do terreno ......................................................... 69 IMAGEM 61 – Mapa de visadas do terreno e entorno imediato ........................... 70 IMAGEM 62– Vistas 01 a 04 do mapa de visadas ............................................... 70 IMAGEM 63 – Vistas 05 a 08 do mapa de visadas .............................................. 71 IMAGEM 64 – Vista 09 e 10 do mapa de visadas ................................................ 71 IMAGEM 65 – Estudo de Insolação e Ventos Predominantes ............................. 72 IMAGEM 66 – Mapa do sistema viário – entorno do projeto ................................ 73 IMAGEM 67 – Setorização do projeto em planta ................................................. 75 IMAGEM 68 – Croqui volumetria inicial do projeto ............................................... 76 IMAGEM 69 – Croqui ideias para a sala de leitura ............................................... 76 IMAGEM 70 – Concepção final da volumetria do projeto ..................................... 77 IMAGEM 71 – Planta de estudo preliminar .......................................................... 78 IMAGEM 72 – 3D de estudo preliminar ................................................................ 79 IMAGEM 73– Programa de necessidades setores público e administração ........ 80 IMAGEM 74 – Programa de necessidades setores cultura e serviços ................ 81 IMAGEM 75 – Áreas gerais do projeto ................................................................. 82 IMAGEM 76 – Setorização do projeto .................................................................. 83 IMAGEM 77 – Fluxograma do projeto .................................................................. 83 IMAGEM 78 – Evolução do conceito .................................................................... 84 IMAGEM 79 – Axonometria explodida da estrutura ............................................. 86 IMAGEM 80 – Diagrama de vegetações e paisaigsmo ........................................ 87 IMAGEM 81 – Diagrama de simulação da insolação no edifício .......................... 88 IMAGEM 82 – Corte esquemático – estratégias de conforto ............................... 89 IMAGEM 83 – Estudo de fluxo da ventilação no projeto ...................................... 90 IMAGEM 84 – Corte esquemático – ventilação cruzada ...................................... 90


IMAGEM 85 – Diagrama de técnicas sustentáveis e estratégias de conforto ...... 91 IMAGEM 86 – Diagrama acessibilidade no projeto .............................................. 92 IMAGEM 87 – Planta baixa do projeto ................................................................. 93 IMAGEM 88 – Corte transversal do projeto .......................................................... 94 IMAGEM 89 – Corte longitudinal do projeto ......................................................... 95 IMAGEM 90 – Planta cobertura do projeto ........................................................... 96 IMAGEM 91 – Fachada principal do edifício ........................................................ 97 IMAGEM 92 – Fachada lateral do edifício ............................................................ 98 IMAGEM 93 – Implantação geral do projeto ........................................................ 98 IMAGEM 94 – Diagrama de acessos ao edifício .................................................. 99 IMAGEM 95 – Corte perspectivado - sala multiuso .............................................. 100 IMAGEM 96 – Diagrama - divisórias coloridas ..................................................... 100 IMAGEM 97 – Jardim de convivência .................................................................. 101 IMAGEM 98 – Axonometria explodida – sala de leitura ....................................... 102 IMAGEM 99 – Paginação - piso do pátio ............................................................. 102 IMAGEM 100 – Diagrama - usos do pátio ............................................................ 103 IMAGEM 101 – Diagrama - composição das aberturas ....................................... 104 IMAGEM 102 – Comunicação visual do edifício................................................... 105 IMAGEM 103 – Corte perspectivado do refeitório ................................................ 106 IMAGEM 104 – Corte perspectivado da recepção ............................................... 106 IMAGEM 105 – Espaço aberto de lazer e convivência ........................................ 107 IMAGEM 106 – 3D - perspectiva geral do projeto ................................................ 108 IMAGEM 107 – Diagrama - paleta de cores dos brises ....................................... 108 IMAGEM 108 – 3D - perspectiva área de lazer do projeto ................................... 109 IMAGEM 109 – 3D - perspectiva do pátio de convivência do projeto ................... 110 IMAGEM 110 – Diagrama - possibilidade de expansão do edifício ...................... 110 IMAGEM 111 – Diagrama - expectativas do projeto ............................................ 111


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 15 1.1 Objetivos ....................................................................................................... 16

2 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 17

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 18 3.1 A cultura e sua importância social ............................................................. 18 3.2 Centros Culturais ......................................................................................... 20 3.3 Contexto Histórico ....................................................................................... 21 3.4 Design Universal e Acessibilidade ............................................................. 25 3.4.1 Acessibilidade ............................................................................................. 26 3.4.2 A importância de um espaço público acessível ........................................... 27 3.5 Conforto Ambiental ...................................................................................... 28

4 REFERÊNCIAS PROJETUAIS ......................................................................... 31 4.1 CEU Pimentas ............................................................................................... 31 4.2 Centro Cultural “A História Que Eu Conto” ............................................... 38 4.3 Centro Cultural de Sedan ............................................................................ 45 4.4 Visitas Técnicas ........................................................................................... 53 4.4.1 Centro Cultural São Paulo ........................................................................... 53 4.4.2 Centro Cultural da Juventude ...................................................................... 54 4.4.3 Centro de Lazer – Sesc Fábrica da Pompeia .............................................. 55

5 ANÁLISES ........................................................................................................ 57 5.1 Histórico do Município ................................................................................. 57 5.2 Centro Educacional Existente ..................................................................... 59 5.3 Análise Urbana ............................................................................................. 62 5.3.1 Localização do terreno ................................................................................ 62 5.3.2 Equipamentos Públicos ............................................................................... 63 5.3.3 Uso e ocupação do solo .............................................................................. 64 5.3.4 Mapa de cheios e vazios ............................................................................. 65 5.3.5 Gabarito das construções............................................................................ 66


5.4 Análise do Terreno ....................................................................................... 67 5.4.1 Dimensões .................................................................................................. 67 5.4.2 Topografia ................................................................................................... 68 5.4.3 Mapa de visadas do terreno e entorno imediato ......................................... 69 5.4.4 Estudo de Insolação e Ventos Predominantes ............................................ 71 5.5 Sistema viário ............................................................................................... 72 5.6 Normas Vigentes e Órgãos Regulamentadores ........................................ 73

6 PROJETO ......................................................................................................... 75 6.1 Desenvolvimento projetual .......................................................................... 75 6.2 Programa de Necessidades......................................................................... 79 6.3 Quadro de áreas do projeto ......................................................................... 82 6.4 Volumetria setorizada e fluxograma ........................................................... 82 6.5 Conceito ........................................................................................................ 84 6.6 Partido ........................................................................................................... 85 6.7 Sistema construtivo ..................................................................................... 85 6.8 Paisagismo ................................................................................................... 86 6.9 Sustentabilidade Ambiental ........................................................................ 87 6.10 Acessibilidade ............................................................................................ 91 6.11 Proposta ...................................................................................................... 93

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 112

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 113


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1 INTRODUÇÃO

Para Leão (2000) é perceptível a desvalorização atribuída ao ensino da arte, que se manifesta apenas como atividade recreativa e de lazer em um processo extremamente mecânico. Como maneira de reverter essa realidade, os Centros Culturais surgem como espaço integrador, que permite às crianças desenvolverem-se de modo saudável, por meio de experiências sociais e culturais que irão colaborar para sua formação humana. [...] quanto mais experiências alicerçadas em relacionamentos sociais, mais possibilidades as crianças terão de ampliar seus conhecimentos e de se desenvolver. Ao se relacionar harmoniosamente com a natureza, ao se apropriar dos saberes da cultura e transformá-los, as crianças irão se desenvolver física e afetivamente, bem como do ponto de vista cognitivolinguístico, social, ético e estético, construindo sua identidade, autonomia e formando-se como cidadãs. (FARIA; SALLES, 2012, p. 48).

Os Centros Culturais para Crianças são instituições responsáveis por desenvolver um trabalho que visa complementar a formação oferecida no ambiente escolar, a partir da oferta de atividades ligadas à cultura, ao esporte, ao meio ambiente e à cidadania. Na cidade de Piacatu – SP há um Centro Educacional em funcionamento, entretanto, as atividades que nele ocorrem, enquadram-se no perfil de um centro cultural. Suas instalações apresentam pouca infraestrutura, o que consequentemente dificulta a realização das práticas às quais a instituição municipal se propõe a ofertar. Assim, o presente trabalho acadêmico propõe a criação de um Centro Cultural para Crianças no município de Piacatu, cujo objetivo é oferecer espaços com infraestrutura adequada para a realização de atividades culturais e desportivas, que visam contribuir para o desenvolvimento saudável, para o fortalecimento dos vínculos afetivos e sociais e para despertar nas crianças um sentimento de gratidão e respeito para com a sociedade. O projeto também almeja ressaltar a importância da natureza através da interação entre o edifício e o seu entorno, possibilitando aos usuários estabelecer uma relação valorosa com o meio ambiente, instigando a importância da preservação do espaço natural.


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1.1 Objetivos

Os objetivos deste estudo para a conclusão do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo são: a) proporcionar à população infantil de Piacatu um espaço com arquitetura digna e adequada para as práticas culturais, esportivas e de lazer que lhes serão oferecidas. b) contribuir para a melhoria da qualidade de vida das crianças, estimulando o convívio social, a cidadania e a preocupação com a preservação do meio ambiente.


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2 MATERIAIS E MÉTODOS

Inicialmente foram realizados estudos bibliográficos envolvendo a temática da cultura, sua contextualização histórica, sua importância e seu uso como ferramenta de transformação social. Também foram analisadas obras correlatadas, além de visitas técnicas à três instituições culturais na cidade de São Paulo, a fim de contribuir para o desenvolvimento do projeto. Em seguida, foi efetuado um levantamento do local onde será desenvolvida a proposta do projeto arquitetônico, por meio de estudos topográficos, conforto ambiental e entorno imediato. Posteriormente, houve o desenvolvimento do projeto arquitetônico. Para apresentar o resultado, foram elaborados desenhos técnicos, maquete eletrônica e maquete física, como representação descritiva deste estudo.


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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 A cultura e sua importância social

A cultura, de modo simplificado, diz respeito às práticas, costumes e vivências de um determinado povo. Segundo Santos (1996), ao se discutir sobre cultura tem-se em mente a riqueza e a variedade de formas de existência. Desde o século passado há interesses sistemáticos em estudar e discutir as

culturas humanas. Entretanto, toda essa preocupação não resultou em uma definição clara e aceita por todos (SANTOS, 1996). Assim, compreende-se que “em sua conceituação mais ampla, cultura remete à ideia de uma forma que caracteriza o modo de vida de uma comunidade em seu aspecto global, totalizante.” (COELHO,1997, p. 102). Para Coelho (1997), cultura aponta para atividades determinadas do ser humano que, no entanto, não se restringem às tradicionais (literatura, pintura, cinema - em suma, as que se apresentam sob uma forma estética) mas se expande a uma rede de significações ou linguagens, incluindo tanto a cultura popular (carnaval, folclore), como a publicidade, a moda, o comportamento (ou a atitude), a festa, o consumo e o estar-junto. Ao se refletir sobre a sociedade, percebe-se que a cultura é uma preocupação contemporânea em entender os muitos caminhos que conduziram os grupos humanos às relações presentes e suas perspectivas acerca do futuro. (SANTOS, 1996). A história registra com abundância as transformações por que passam as culturas, seja movidas por suas forças internas, seja em consequência desses contatos e conflitos, mais frequentemente por ambos os motivos[...]. São complexas as realidades dos agrupamentos humanos e as características que os unem e diferenciam, e a cultura as expressa. (SANTOS, 1996, p. 7)

Nesta linha de raciocínio, fica evidenciado que “cada realidade cultural tem sua lógica interna, a qual devemos procurar conhecer para que façam sentido as suas práticas, costumes, concepções e às transformações pelas quais estas passam.” (SANTOS, 1996, p. 8). É preciso ressaltar que o estudo da cultura contribui no combate a preconceitos, oferecendo uma base firme para o respeito e a dignidade nas relações humanas (SANTOS, 1996).


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Nesse sentido, segundo Santos (1996), pode-se entender a cultura como uma dimensão do processo social e a utilizá-la como instrumento para compreender as sociedades contemporâneas. O que não se pode fazer é discuti-la, ignorando as relações de poder dentro de uma sociedade ou entre sociedades. Até mesmo porque, “a cultura é um produto da história coletiva por cuja transformação e por cujos benefícios as forças sociais se defrontam”. (SANTOS, 1996, p. 80). Isso se deve ao fato de que as relações entre os membros dessas sociedades são marcadas por desigualdades profundas, de tal modo que a apropriação dessa produção comum se faz em benefício dos interesses que dominam o processo social. E como consequência disso, a própria cultura acaba por apresentar poderosas marcas de desigualdade. (SANTOS, 1996, p. 84-86)

É necessário que as diferentes culturas de grupos, meios sociais, classes e segmentos de classes mantenham, cada uma, sua particularidade ao mesmo tempo que entram em equilíbrio com as demais, sem que se possa registrar entre elas uma relação de domínio. (COELHO, 1997). Em suma, evidencia-se que as lutas pela universalização dos benefícios da cultura são também lutas contra as relações de dominação entre as sociedades contemporâneas, e contra as desigualdades básicas das relações sociais. Tratam-se de lutas pela transformação da cultura. (SANTOS, 1996). Nenhuma sociedade faz a Cultura essencial porque lhe sobram recursos, mas, ao contrário, porque há carências a serem superadas. Os países mais desenvolvidos são aqueles que mais investem nas atividades educacionais e na Cultura, nos programas de informação, nas formas que a sociedade encontra para tornar o conhecimento acessível a todos os cidadãos e nos esforços que faz para ampliar o conhecimento. (MILANESI, 1997, p. 269)

Dessa forma, compreende-se que “o conhecimento não é apenas fundamental para produzir riquezas, mas para dividi-las.” (MILANESI, 1997, p. 296). Somente a partir deste ideal será possível a construção de um país igualitário, cujas políticas públicas atendam indistintamente a todos os cidadãos.


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3.2 Centros Culturais O centro de cultura é uma instituição que “deve permitir a concretização das ações básicas: informar, discutir e criar – integradas.” (MILANESI, 1997, p.197). No entanto, definir com clareza o que é um centro cultural não é uma tarefa fácil, como aponta Neves (2013): Não existe um modelo para centro cultural, mas sim uma ampla base que permite diferenciá-lo de qualquer outro edifício (um supermercado, um shopping, uma academia, [...]) possibilitando a discussão e a prática de criar novos produtos culturais. Porém, pode-se ressaltar que, qualquer hall de banco ou shopping é chamado de centro cultural ou corredor cultural e, qualquer antessala é considerada uma galeria. Mas, quem entra num centro cultural deve viver experiências significativas e rever a si próprio e suas relações com os demais. (NEVES, 2013, p. 3).

Este tipo de construção deve estabelecer laços com a comunidade e os acontecimentos locais, atuando como um equipamento informacional, no qual proporciona cultura para os diversos grupos sociais, com o objetivo de promover a interação entre eles. (NEVES, 2013). Contudo, observa-se muitas vezes que o Centro Cultural pode ter sua definição associada a seu uso, ou seja, as atividades às quais ele se propõe a desenvolver. Estas variam entre prestação de serviços especializados, como também de múltiplo uso, propiciando opções como: consultas, leitura em biblioteca, realização de oficinas, exibição de filmes e vídeos, audição musical, apresentação de espetáculos, aulas de danças, dentre outras práticas, tornando-se um espaço que acolhe diversas expressões a ponto de oferecer uma circulação dinâmica da cultura. (NEVES, 2013, p.2). É interessante também compreender que a sociedade contemporânea experimenta um fenômeno no qual: A cidade, tornada mercadoria e vendida como “modelo” por meio de estratégias de marketing, é inserida no mercado global de cidades, que tem emergência nessa nova fase. Na construção desse mercado, impera uma orientação político-estratégica de circulação de “modelos”, com o intuito de engajar os governos de cidade numa competição desenfreada para favorecer capitais globais, nacionais ou locais em nome do “desenvolvimento” e da “inserção das cidades no mundo globalizado”. (SÁNCHEZ, 2010, p.248-249).


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Como consequência, é perceptível a proliferação de centro culturais como elemento de status, identificado como civilidade, principalmente pelos órgãos públicos, que enxergam nestas obras uma maneira de construir uma imagem emblemática das cidades (NEVES, 2013). “Em função disso, normalmente, a preocupação maior está voltada para a forma do edifício e menos para a sua funcionalidade, assim inclina-se para o discurso de cidade culta.” (NEVES, 2013, p.2). Não é à toa que a arquitetura torna-se exuberante quando projeta obras ligadas à esfera cultural. O caráter monumental diz que a própria beleza é um discurso ligado à Cultura como posse. Um centro cultural feio seria uma contradição. Tudo isso leva a apontar para a supremacia do caráter formal dos prédios que proliferam com essa denominação sobre a sua própria razão de existir. (MILANESI, 1997, p.71).

A construção de centros culturais é uma das várias medidas adotadas pelos governantes para difundir a imagem das cidades no mundo globalizado. O marketing urbano, possibilita identificar as profundas conexões existentes entre os campos da cultura, da comunicação e da política que atuam na cidade para tornar hegemônicas determinadas leituras do espaço. Essa junção é operada pelos meios de comunicação e informação, que por desempenharem a função de veículos de construção ideológica em massa, atuam como acelerados culturais, definindo e revelando traços do espírito da época a ser seguido. (SÁNCHEZ, 2010). Como resultado, o espetáculo gerado em torno das cidades, promovido pelas elites políticas e econômicas, busca corrigir as percepções negativas associadas a imagem urbana, a partir de esforços que se limitam a criar imagens estereotipadas, de modo seletivo, de determinados espaços urbanos, refletindo uma visão particular da sociedade, fragmentada, distorcida, simplificada e, consequentemente, excludente (SÁNCHEZ, 2010).

3.3 Contexto Histórico

O conceito de Centro Cultural é aparentemente recente, no entanto, o surgimento destes espaços são datados do período correspondente ao reinado de Alexandre, O Grande, onde a biblioteca servia como espaço para armazenar os importantes documentos da época, ao mesmo tempo, em que atuava como centro de saber, onde ocorria a difusão do conhecimento entre os cidadãos gregos.


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Provavelmente, discutia-se “Cultura” na Biblioteca de Alexandria. Sempre houve um espaço para armazenar as ideias, quer registradas em argila, papiro, pergaminho, papel ou cd-rom. Da mesma forma, o homem nunca deixou de reservar áreas para trocar ideias. Por uma convergência de fácil explicação, a área para armazenar documentos e para discutir, inclusive discuti-los, passou a ser a mesma. Por isso, a Biblioteca de Alexandria pode ser caracterizada como o mais nítido e antigo centro de Cultura. (MILANESI, 1997, p.77).

De acordo com Neves (2013), os centros culturais ingleses são os pioneiros da história da era moderna. Estes surgem no século XIX intitulados centros de artes e, somente no final da década de 1950, na França, é que se percebe a presença dos centros culturais com o intuito de oferecer aos operários franceses espaços de lazer e de estreitamento das relações sociais entre os trabalhadores. Neves (2013) afirma que a França atraiu o olhar mundial após a construção e divulgação do Centre National d’Art et Culture Georges Pompidou, que serviu como incentivo para o surgimento de centros culturais em todo o mundo. Tornou-se referência no setor cultural ao impor um novo estilo de centro cultural, atribuído à sua grandiosidade física e a qualidade das ações ali realizadas (imagem 1). Imagem 1 – Fachada Centro Cultural Georges Pompidou

Fonte:< http://www.archdaily.com/tag/centre-pompidou>. Acesso em 20 set. 2016.

Tido como um modelo de museus e centros culturais do contexto pós-moderno e, projetado em 1972 por Richard Rogers e Renzo Piano, a arquitetura do Pompidou faz uso das possibilidades tecnológicas e de uma imagem de certo modo futurista, para comunicar o pluralismo funcional que aguarda os visitantes em seu interior, que ultrapassa a ação de expor obras de arte, oferecendo várias outras funções ao público. (ALVES, 2010).


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Aproximando-se do histórico nacional, percebe-se que no Brasil, o interesse por centros culturais apresenta-se a partir dos anos de 1960, entretanto, esse desejo efetiva-se apenas na década de 1980, com a criação do Centro Cultural do Jabaquara e do Centro Cultural São Paulo, ambos em São Paulo. (NEVES, 2013). Desde seu surgimento, o Centro Cultural São Paulo - CCSP (imagem 2) foi comparado ao Centro Cultural Georges Pompidou, que com sua arquitetura em tubos e estruturas aparentes, constituía-se num grande polo de atração na capital francesa, ao unir de modo multidisciplinar informação, cultura e artes, além de um museu de artes. O CCSP revelava intenções muito semelhantes ao modelo francês, porém, enquanto o Pompidou se apresenta alto e imponente, o CCSP se mostra achatado, submerso em uma forma mais plana e linear (CENNI, 1991). Imagem 2 – Vista aérea do Centro Cultural São Paulo

Fonte: <http://www.centrocultural.sp.gov.br/CCSP>. Acesso em 20 set. 2016.

Embora houvessem semelhanças e distinções com o Pompidou, o CCSP tornou-se muito mais famoso por suas complicações de construção e seu questionado projeto arquitetônico, do que por sua atuação como centro cultural. A construção evidencia, por meio de seus problemas construtivos, o descaso próprio daquilo que é público em países subdesenvolvidos. O espaço público torna-se território de ninguém, gerando uma dificuldade de acreditar que em algum momento possa haver uma genuína boa vontade por parte do governo. Além disso, o centro está sujeito às variações políticas da administração municipal, portanto, corre o risco de ficar sob o comando de pessoas que não têm nenhuma afinidade com a cultura, podendo transformá-lo em um joguete a serviço de outros interesses. (CENNI, 1991).


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“Apesar de todos os problemas aparentes, as pessoas se sentem bem no CCSP, vendo-o como um prolongamento de suas casas, e marcando muitos encontros e mesmo reuniões nas suas dependências.” (CENNI, 1991, p.123). Outro grande exemplo integrante da esfera cultural brasileira é a instituição privada Sesc, que visa o atendimento da classe comerciária do país e especializouse em lazer. Sua principal unidade cultural é o Centro de Lazer Sesc Fábrica da Pompeia, instalada em uma antiga fábrica inglesa restaurada, cujo projeto é de autoria da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (imagem 3). A princípio, o espaço dedicouse a realizar propostas de vanguarda e hoje atua como um complexo no qual as práticas esportivas e as preocupações assistenciais somaram-se à área cultural. (CENNI, 1991). Imagem 3 – Centro de Lazer Sesc Fábrica da Pompéia

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-53205/classi cos-da-arquitetura-sesc-pompeia-slash-lina-bo-bardi> Acesso em 20 set. 2016.

Com relação às instituições culturais, há diversos aspectos a serem analisados tanto no Brasil quanto no exterior. Porém, no âmbito nacional, o que se pode observar é que estes espaços tiveram um enorme crescimento, principalmente nos últimos anos, devido aos investimentos pelas leis de incentivo à cultura. Atualmente, a construção de espaços culturais é a ação mais realizada por órgãos públicos nacionais. (NEVES, 2013, p.4-5). Entretanto, “[...] é impossível indicar


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quantos centros de Cultura existem no país. Ou, pelo menos, quantas destas instituições foram registradas com esse nome.” (MILANESI, 1997, p.23). Para que estes espaços sejam efetivamente utilizados pelo maior número de pessoas possível é necessário que aspectos como acessibilidade (item 3.4) e adequação ao clima local (item 3.5) estejam presentes nestas construções.

3.4 Desenho Universal e Acessibilidade

O conceito de Desenho Universal está relacionado a ideia de que todo ambiente, objeto e produto criado possa ser utilizado pelo maior número de pessoas possível, independentemente de suas características e/ou limitações físicas (CAMBIAGHI, 2012). Ao longo da história da humanidade, o ser humano foi modificando o meio natural, visando obter espaços que se enquadrassem aos seus usos. Assim também o fez com as cidades, as casas e os objetos. No caso das construções, para que um ambiente seja considerado confortável é importante que ele se adeque às necessidades dos usuários. Caso ocorra o contrário, ele pode tornar-se mais inóspito que o meio natural (CAMBIAGHI, 2012). Por isso, é importante que os profissionais ligados às áreas de arquitetura, urbanismo, engenharia e design, considerem, durante o processo de concepção projetual, a diversidade dos usuários no que diz respeito ao sexo, a idade, a cultura, as dimensões, dentre outras características que, se ignoradas, podem limitar o conforto dos espaços a uma parcela reduzida da população (CAMBIAGHI, 2012). Nesse sentido, o Desenho Universal pode ser compreendido como um processo muito importante, que visa elaborar a melhor solução possível no que diz respeito ao uso do ambiente e de produtos, considerando para isso, o contexto físico, social e econômico no qual o problema está inserido. Este processo ultrapassa o ato de solucionar um problema com recursos tecnológicos, ele proporciona a garantia dos direitos dos cidadãos por meio do estabelecimento do acesso e criação de oportunidades nos âmbitos do trabalho, educação, saúde, dentre outras práticas (BITTENCOURT, 2002). De acordo com um estudo realizado pela Universidade da Carolina do Norte (EUA), envolvendo um grupo composto por sete profissionais (“The Center Of


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Universal Design”), existem sete princípios para o desenvolvimento de projetos que levam em consideração o Desenho Universal (NCSU, 1997), são eles: 1 - Uso equitativo: design útil, atraente, comercializável e para às pessoas com diversas habilidades, evitando segregar ou estigmatizar quaisquer usuários. 2 - Flexibilidade no Uso: o design envolve uma considerável diversidade de preferências e habilidades individuais. 3 - Uso simples e intuitivo: o design permite a fácil assimilação de uso por parte do usuário. 4 - Informação perceptível: o design apresenta as informações ao usuário de forma clara e objetiva, independentemente das condições ambientais ou habilidades do usuário. 5 - Tolerância ao erro: o design atua de modo a minimizar os riscos e consequências adversas de ações acidentais ou não intencionais. 6 - Baixo esforço físico: o design pode ser utilizado de forma confortável e eficiente, com o mínimo de fadiga. 7 - Tamanho e espaço para acesso e uso: relaciona-se com o tamanho e espaço apropriado para a abordagem, o alcance, a manipulação e o uso, independentemente dos atributos físicos do usuário. Em síntese, um espaço acessível deve possibilitar a todos os usuários o ingresso, a utilização e a circulação em todos os ambientes e não somente parte deles. Pois o objetivo maior do desenho universal é estabelecer acessibilidade a todos de forma integrada, independentemente de serem ou não pessoas com deficiência (CAMBIAGHI, 2012).

3.4.1 Acessibilidade

A acessibilidade é um fator muito importante que deve estar incorporado na ação de projetar, pois possui a capacidade de promover a igualdade de uso dos espaços a todas as pessoas. No Brasil, a principal referência para os profissionais do setor da construção civil e planejamento urbano é a norma NBR 9050, terceira edição de 11.09.2015 ABNT (2015), que estabelece as diretrizes e técnicas para a acessibilidade à edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos. De acordo com a ABNT (2015), a acessibilidade possibilita o alcance, a percepção e o entendimento para a utilização, com segurança e autonomia, de


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espaços, mobiliários, edificações, transportes, equipamentos urbanos, informação e comunicação – incluindo seus sistemas e tecnologias – além de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, existentes nas zonas urbana ou rural, por pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Entretanto, percebe-se que o crescimento das cidades ocorre de modo a ignorar, mesmo durante o desenvolvimento de projetos urbanísticos, fatores como a autonomia e a independência dos indivíduos no uso do espaço urbano, principalmente daqueles que possuem alguma deficiência física ou limitação, dificultando a socialização e o desenvolvimento do acesso e participação nas atividades ofertadas nestes espaços (BITTENCOURT, 2002). De modo amplo, os ambientes urbanos não apresentam sintonia com a diversidade de necessidades dos seres humanos (BITTENCOURT, 2002). O meio edificado exibe padrões mínimos de conforto ambiental e segurança, e a “acessibilidade” não consta das exigências legais de aprovação de projetos, tão pouco da fiscalização de obras. As poucas recomendações, e soluções, geralmente se referem às tentativas de adaptação dos ambientes às pessoas com limitações motoras, considerando apenas algumas necessidades essenciais, como circular, entrar e sair de um determinado local. (BITTENCOURT, 2002, p. 70).

Para Bittencourt (2002), pode-se compreender a acessibilidade como um processo que possibilita a liberdade individual do ser humano, por meio da mobilidade. Pois permite que as pessoas possam vivenciar o espaço construído de maneira plena, independentemente se apresentam-se em condições físicas normais ou sob o efeito de limitações variadas, garantindo ao indivíduo o direito de cidadania, por meio da participação nas atividades que proporcionam a sua integração à sociedade.

3.4.2 A importância de um espaço público acessível

As pessoas, principalmente as que habitam as cidades, necessitam deslocarse pelo espaço por diversos motivos. Sabe-se que esses deslocamentos devem ocorrer, levando em consideração a autonomia e segurança dos indivíduos, bem como a acessibilidade e a mobilidade (CAMBIAGHI, 2012). Esses princípios devem ser considerados desde o momento de planejamento dos projetos até a execução das obras dos ambientes urbanos, a fim de possibilitar uma mobilidade sustentável, expressão que resume e define as


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políticas que visam garantir a eficiência das cidades sem abrir mão do respeito aos interesses coletivos. (CAMBIAGHI, 2012, p. 180).

É importante que exista uma relação de funcionalidade entre todos os elementos que integram um meio urbano, para que, dessa forma, os espaços sejam considerados agradáveis e cômodos pelos usuários. Em síntese, deve-se possibilitar o acesso a todos os lugares, inclusive aos edifícios públicos e privados, além de proporcionar a utilização de todas as instalações públicas e privadas e dos espaços externos em que elas estão inseridas (CAMBIAGHI, 2012). Segundo Cambiaghi (2012), a aplicação desses requisitos irá assegurar a mobilidade, a acessibilidade e o pleno uso do ambiente para o perfeito desenvolvimento das atividades dos indivíduos.

3.5 Conforto Ambiental

Compreende-se o Conforto Ambiental como o conjunto de condições ambientais que propiciam ao homem seu bem-estar térmico, acústico, visual e antropométrico, bem como a garantia de qualidade do ar e seu conforto olfativo. (LAMBERTS et al. 2014). Atualmente, a Arquitetura Bioclimática tem sido um assunto muito discutido por profissionais da construção civil. Sua aplicação nas edificações almeja a melhoria das condições de conforto sem a necessidade do uso de equipamentos elétricos. A arquitetura bioclimática, uma etapa atual do movimento climáticoenergético, é uma forma de desenho lógico que reconhece a persistência do existente, é culturalmente adequada ao lugar e aos materiais locais e utiliza a própria concepção arquitetônica como mediadora entre o homem e o meio. (Romero, 2007, p. 28).

Embora a definição de Arquitetura Bioclimática seja ampla, o termo relacionase tanto à arquitetura integrada - que trata-se da adaptação ao ambiente físico, socioeconômico e cultural, utilizando materiais próprios da região e técnicas tradicionais que auxiliam na integração visual e diminuem o impacto ambiental -, quanto à arquitetura de alta eficiência energética, que visa a economia da energia por meio de sua captação, produção e/ou transformação no interior das construções, contribuindo para a redução do consumo energético e a suposta poluição ambiental. (CORREA, 2001).


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Correa (2001) afirma que o Brasil é um país rico em recursos naturais, mas suas potencialidades não são devidamente aproveitadas. Além do mais, soma-se a isso o fato de que a maioria da população não tem condições econômicas de incorporar sistemas de calefação ou de ar condicionado em suas habitações. Por isso, cabe aos arquitetos a função de adotar sistemas passivos e estratégias benignas, aliadas a escolha correta de materiais que sem dúvidas, irão proporcionar à população maior conforto ambiental com maior economia. É importante compreender que adequar a arquitetura ao clima de um determinado local significa construir espaços que ofereçam ao homem as condições de conforto, visando tanto amenizar as sensações de desconforto impostas por climas muito rígidos, tais como os de excessivos calor, frio ou ventos, ao mesmo tempo em que propõe ambientes que sejam, no mínimo, tão confortáveis como os espaços ao ar livre em climas amenos. (FROTA; SCHIFFER, 2001). Nesse contexto, a NBR 15220-3 é uma norma brasileira responsável por definir os parâmetros de Desempenho Térmico das Edificações. Segundo a ABNT (2005), esta norma estabelece um conjunto de recomendações técnico-construtivas objetivando a melhoria do conforto térmico das construções, por meio da divisão do território brasileiro em oito zonas bioclimáticas distintas. A cidade de Araçatuba, região em que a cidade de Piacatu é inserida, está classificada na zona bioclimática 5, cujas técnicas a serem incorporadas nos projetos são as seguintes: 

Aberturas médias para ventilação devem possuir entre 15% a 25% da área total do piso do ambiente.

Sombreamento das aberturas.

Parede leve refletora, que deve ter seu índice de Transmitância Térmica menor ou igual a 3,60W/m².K. Exemplos: Parede de tijolos maciços (10,0 x 6,0 x 22,0cm) assentados na menor dimensão; parede de blocos cerâmicos de 3 furos (13,0 x 28,0 x 18,5 cm).

Cobertura leve isolada, cujo índice de Transmitância Térmica deve ser menor ou igual a 2,00 W/m².K. Exemplos: Cobertura de telha de fibrocimento com forro de madeira; cobertura de telha de barro com forro de madeira.

Ventilação cruzada no verão

Vedações internas pesadas no inverno, que podem contribuir para manter o interior da edificação aquecido.


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Ventilação noturna. Ainda que esses parâmetros sejam aplicados, em dias muito quentes pode ser

necessário o uso de equipamentos elétricos, como ar-condicionado, para propiciar condições adequadas de conforto aos usuários de um edifício inserido na região (ABNT, 2005).


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4 REFERÊNCIAS PROJETUAIS

4.1 CEU Pimentas

O uso do edifício CEU Pimentas não está diretamente ligado com o tema central dessa pesquisa: centro cultural. No entanto, os materiais utilizados, a disposição espacial dos usos e a sua relação com o entorno foram fatores determinantes para sua escolha como objeto de análise. O Centro Educacional Unificado Pimentas (CEU Pimentas) está localizado na Estrada do Caminho Velho em Guarulhos/SP, no bairro das Pimentas - um local carente de espaços comunitários nas áreas de educação, lazer e esporte. Construído no ano de 2010, o projeto de autoria do escritório Biselli e Katchborian arquitetos tinha como objetivo inicial ser um centro de arte e educação, mas posteriormente foi adaptado para se tornar uma unidade CEU (imagem 4). Imagem 4 – Vista panorâmica do CEU Pimentas

Fonte: <http://www.bkweb.com.br/projects/public/centro-de-artes-e-edu cac-o-dos-pimentas>. Acesso em 10 set. 2016.

A área de implantação do projeto é pouco adensada; compõe seu entorno: o prédio da UNIFESP (situado ao lado direito), alguns lotes vazios (no lado esquerdo e ao fundo). Em um raio de distância um pouco maior, concentram-se algumas residências e edificações industriais/serviços. À frente do CEU - a região mais populosa do entorno -, percebe-se a presença de residências.


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A cerca de 200m da construção está situado o Terminal Rodoviário de Guarulhos,

responsável

por

facilitar

o

acesso

à

edificação

para

os

usuários/funcionários que habitam em bairros próximos ou mesmo em localidades mais distantes (imagem 5). Imagem 5 – Vista aérea do CEU Pimentas e seu entorno

Fonte: Adaptado do Google Maps, 2016.

O terreno de 30.780m² de área é estreito, comprido e plano. Tais características determinaram à construção um formato linear, que fixa-se no centro do lote, mantendo um recuo frontal de aproximadamente 25 metros (imagem 6). Imagem 6 – Planta de implantação do CEU Pimentas

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-bisellimais-katchborian-arquitetos>. Acesso em 10 de set. 2016.


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Com 16.000m² de área construída, o projeto, predominantemente em concreto e estrutura metálica, dispõe de alguns ambientes em um pavimento inferior (piso meio enterrado), além de pavimentos térreo e superior, e mezaninos (imagem 7). Imagem 7 – Planta baixa pavimentos inferior e térreo

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-maiskatchborian-arquitetos>. Acesso em 10 de set. 2016.

O acesso principal à edificação é realizado através de uma extensa calçada pavimentada que culmina no portão de entrada principal, contíguo à guarita. A cobertura projeta-se a frente no intuito de proteger contra as intempéries, como é possível observar na imagem 8. Imagem 8 – Acesso principal do CEU Pimentas

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-bisellimais-katchborian-arquitetos>. Acesso em 10 de set. 2016.


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O edifício possui uma extensa cobertura metálica de aço - tipo painel com isolamento térmico e acústico - com 250m de comprimento e 30m de largura, que abriga em suas bordas longitudinais os blocos que compõem os usos diversos, estes variam entre concreto pré-fabricado e concreto moldado in-loco. Há uma alternância de trechos ora abertos (sheds), ora fechados (imagem 9); Imagem 9 – Detalhe: sheds na cobertura

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-bisellimais-katchborian-arquitetos>. Acesso em 10 de set. 2016.

A construção apresenta um vazio central: uma praça coberta (em nível meio enterrado), responsável por proporcionar a convivência, organizar os blocos do edifício e sugerir os percursos pelo térreo e pontes que permitem o acesso/circulação aos mezaninos do pavimento superior (imagem 10). Imagem 10 – Praça de convivência coberta

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli -mais-katchborian-arquitetos>. Acesso em 10 de set. 2016.


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Com relação ao pé-direito, o projeto apresenta variações de dimensões. A biblioteca, por exemplo possui mezanino, que oscila as alturas de pé-direito entre 2,95m (o simples) e 6,75m (o duplo). A praça central tem dimensão de 10,25m de pédireito (imagem 11). Imagem 11 – Corte transversal do CEU Pimentas

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-mais-katchborian-arquitetos>. Acesso em 10 de set. 2016.

Escadas, pontes e uma extensa rampa se encarregam de viabilizar a conexão entre os pavimentos. As escadas, distribuídas em diversos pontos do projeto, contribuem para escoar os usuários nos horários de fluxo intenso (imagem 12). Imagem 12 – Circulação: praça interna

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-bisellimais-katchborian-arquitetos>. Acesso em 10 de set. 2016.


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Os equipamentos culturais (auditórios, biblioteca, salas de música e dança) e o refeitório estão dispostos no lado oeste do eixo da edificação; no lado oposto concentram-se os equipamentos esportivos (ginásio, quadras e piscinas). Os vestiários estão em nível meio enterrado, próximos às piscinas (imagem 13). Imagem 13 – Piscinas e ginásio ao fundo

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentasbiselli-mais-katchborian-arquitetos>. Acesso em 10 de set. 2016.

Por ser um projeto de intenso uso público, os materiais escolhidos refletem a preocupação dos arquitetos com a simplicidade e a praticidade na manutenção. Pisos em concreto aparente, forros em placas nas salas, paredes pintadas, estrutura aparente nas paredes próximas à praça, janelas em vidros U-Glass, brises de alumínio (nas aberturas voltadas para a face oeste) compõe a construção (imagem 14). Imagem 14 – Detalhe dos brises de alumínio e vidros U-Glass

Fonte: <http://www.bkweb.com.br/projects/public/centro-de-artese-educac-o-dos-pimentas/>. Acesso em 10 set. 2016.


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Contudo, a partir da análise feita em planta, nota-se que na mesma fachada noroeste os arquitetos solucionam a questão da insolação de maneiras diversas: enquanto o bloco administrativo recebe uma proteção em painéis de brises, o bloco da biblioteca tem o seu fechamento realizado por meio de vidros U-Glass, sem qualquer proteção do sol oeste (imagem 15). Imagem 15 – Fachada da biblioteca com fechamento em U-Glass

Fonte: <http://www.bkweb.com.br/projects/public/centro-de-artes-e-edu cac-o-dos-pimentas/>. Acesso em 10 set. 2016.

Durante a pesquisa não foi possível constatar se o vidro U-Glass possui algum tipo de proteção térmica, ou mesmo se os profissionais fizeram uso de alguma técnica para garantir conforto adequado no interior da biblioteca que não tenha sido mencionada pelos mesmos. Contudo, o CEU Pimentas propõe soluções interessantes que podem contribuir para o exercício projetual deste estudo, a exemplo da cobertura metálica que integra os diversos usos do complexo, a escolha de materiais de fácil manutenção e o uso pontual das cores como elemento de identificação dos espaços e fuga da monotonia. Em suma, pode-se concluir que o projeto oferece um equipamento público de qualidade, proporcionando à população serviços de educação, esporte e lazer por meio de uma arquitetura adequada que dialoga com o contexto urbano e vai ao encontro das necessidades locais, objetivando suprimi-las, ou pelo menos, atenuálas.


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4.2 Centro Cultural “A História Que Eu Conto” O Centro Cultural “A História que eu Conto” – CCHC é um projeto não executado, de autoria do escritório Estúdio Chão1. A localização do edifício é na Estrada do Taquaral com a Rua Antenor Correia e a Rua Paulo B. Neves, na Vila Aliança, Bangu, Rio de Janeiro - RJ. A instituição já existe há cerca de dez anos e ocupa o prédio de uma escola pública de madeira que foi abandonada por ser alvo constante de balas perdidas devido aos tiroteios ocorrentes na região (imagem 16). Imagem 16 – CCHC em funcionamento no prédio de madeira

Fonte: <http://estudiochao.com/Centro-Cultural-a-Historia-que-eu-Conto-CCHC>. Acesso em 28 set. 2016.

O entorno do lote de implantação do projeto é composto predominantemente por residências e alguns estabelecimentos comerciais e de serviços (imagem 17).

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Neste estudo de caso, devido à escassez de informações referentes ao projeto, fez-se necessário o contato com os autores do mesmo via e-mail. Como resultado, o escritório Estúdio Chão forneceu gentilmente as pranchas do projeto que foram enviadas à prefeitura do Rio de Janeiro. É valido ressaltar que algumas das informações apresentadas no texto a seguir foram extraídas dos detalhes técnicos contidos neste material.


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Imagem 17 – Vista aérea do CCHC e seu entorno

Fonte: Adaptado do Google Maps, 2016.

O terreno apresenta um formato triangular e a construção de 1.951m² de área total se divide em dois corpos: o maior deles se estende da base maior da forma do terreno até um pouco depois do centro do lote, mantendo uma distância de aproximadamente 22m do outro corpo, que localiza-se rumo a direção mais estreita do terreno, mantendo um recuo de cerca de 35m de distância do mesmo (imagem 18). Imagem 18 – Planta de implantação do CCHC

Fonte: <http://estudiochao.com/Centro-Cultural-a-Historia-que-eu-Conto-CCHC>. Acesso em 28 set. 2016.


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O acesso principal à edificação (imagem 19) ocorre pela Estrada do Taquaral; no entanto, há outros dois acessos na Rua Antenor Correa, sendo que um deles se caracteriza como acesso secundário e o outro permite o acesso ao teatro multiuso. Todo o perímetro da construção tem seu fechamento em metalon com gradil em chapa expandida de aço galvanizado com malha, inclusive os portões (de correr e de abrir) presentes nas entradas. Imagem 19 – Entrada secundária do CCHC

Fonte: <http://estudiochao.com/Centro-Cultural-a-Historia-que-eu-Conto -CCHC>. Acesso em 28 set. 2016

A construção se configura como uma grande laje progressivamente inclinada, sustentada por uma malha assimétrica de pilares circulares em concreto. Sob a laje, há a distribuição, ao redor de pátios internos, de módulos fechados em concreto, que abrigam as salas de atividades e os demais usos (imagem 20).


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Imagem 20 – Disposição dos pátios entre os blocos

Fonte: <http://estudiochao.com/Centro-Cultural-a-Historia-que-eu-Conto-C CHC> Acesso em 28 set. 2016.

Essa disposição, possibilita que os pátios recebam iluminação natural através das aberturas na cobertura, garantindo conforto térmico adequado ao mesmo tempo em que oferece espaços de descanso e interação (imagem 21). Imagem 21 – Pátios internos da edificação

Fonte: <http://estudiochao.com/Centro-Cultural-a-Historia-que-eu-ContoCCHC> Acesso em 28 set. 2016.


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Embora os pátios possuam formas mais orgânicas, a planta apresenta formas mais ortogonais para a solução dos ambientes, com exceção da lanchonete, cujo formato aproxima-se de um elipse (imagem 22). Imagem 22 – Detalhe do formato da lanchonete

Fonte: Estúdio Chão, 2016.

A partir de análise da planta baixa (imagem 23), pode-se perceber que o programa de necessidades do projeto é composto por salas multiuso, salas de dança, de costura, de música, lanchonete, teatro multiuso, camarins, estamparia, museu/loja, sanitários, sala de reunião, bloco administrativo (recepção, diretoria, almoxarifado, copa), estúdios de gravação e de vídeo com ilhas de edição. Imagem 23 – Planta baixa do pavimento térreo

Fonte: <http://estudiochao.com/Centro-Cultural-a-Historia-que-eu-Conto-CCH C>. Acesso em 28 set. 2016.


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O pavimento superior abriga os estúdios, a sala de música e uma varanda. O acesso a esses ambientes é realizado por meio de uma escada em placas de concreto engastadas na parede e uma plataforma elevatória (imagem 24). Imagem 24 – Planta baixa do pavimento superior

Fonte: Estúdio Chão, 2016.

Com relação ao pé-direito, a maioria dos ambientes possuem 3,06m de altura, exceto o teatro, cuja altura é de 6,82m e o pátio com 4,45m. Como é possível observar nas imagens 25 e 26. Imagem 25 – Corte Longitudinal 1

Fonte: <http://estudiochao.com/Centro-Cultural-a-Historia-que-eu-Conto-CCHC>. Acesso em 28 set. 2016.


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Imagem 26 – Corte Longitudinal 2

Fonte: <http://estudiochao.com/Centro-Cultural-a-Historia-que-eu-Conto-CCHC>. Acesso em 28 set. 2016.

O conceito do projeto é propor uma grande sombra, que protege na mesma medida em que acolhe os usuários e estabelece, por meio de um terraço-jardim (imagem 27) na cobertura, um ponto de encontro para os habitantes locais, funcionando como uma praça pública. O acesso a esse espaço realiza-se por meio de uma extensa rampa e uma escada contíguas. O terraço propõe diversos usos como: pergolados com mobiliário para contemplação, pipódromo, espelho d’água com chuveirões, horta comunitária, práticas de atividades físicas. No térreo, na parte externa à construção, há uma pista de skate e uma quadra poliesportiva abertas à população. Imagem 27 – Esquemático das áreas abertas e fechadas do projeto

Fonte: <http://estudiochao.com/Centro-Cultural-a-Historia-que-eu-Conto-CCHC >. Acesso em 28 set. 2016.

A ideia do terraço na cobertura é atuar como equipamento público (imagem 28) para a população do entorno, bem como para os usuários da instituição. Essa ideia


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gera nas pessoas um sentimento de pertencimento, de conexão com o Centro, que protege os usuários sem romper com a relação existente do edifício e a paisagem exterior, o que reforça a preocupação dos arquitetos, em estabelecer uma harmonia com o entorno, mantendo uma continuidade do prédio com o tecido urbano. Imagem 28 – 3D externo do projeto

Fonte: <http://estudiochao.com/Centro-Cultural-a-Historia-que-eu-Conto-CCHC>. Acesso em 28 set. 2016.

O projeto do CCHC faz adoção de medidas simples que podem contribuir no desenvolvimento do projeto deste estudo, a exemplo os pátios para gerar iluminação e ventilação entre os blocos, a escolha de materiais de baixa manutenção, o uso da cor de forma pontual e a presença marcante de vegetações, no intuito de ofertar ambientes agradáveis e de clima ameno aos usuários. É interessante enfatizar que o projeto ultrapassa a barreira de instituição cultural, abrindo-se, literalmente, às necessidades dos moradores locais, oferecendo espaços públicos que estimulam o lazer, a convivência e a prática do encontro.

4.3 Centro Cultural de Sedan

O Centro Cultural de Sedan está localizado na Rua Ternaux, área central da cidade de Sedan, na França. Construído em 2012, o projeto de autoria do escritório Richard + Schoeller Architectes situa-se às margens do Rio Meuse (imagem 29).


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Imagem 29 – Planta de implantação do Centro Cultural de Sedan

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-cultural-de-sedanslash-richard-plus-schoeller-architectes>. Acesso em 20 out. 2016.

O entorno adensado do projeto (imagem 30) é composto por edificações horizontalizadas de caráter residencial, comercial e de prestação de serviços. As construções no geral, apresentam um gabarito padronizado, que corresponde a uma altura de até 5 pavimentos. Imagem 30 – Vista aérea do Centro Cultural e seu entorno

Fonte: Adaptado do Google Maps (2016).

O edifício de 1.987m², encontra-se em um terreno extenso, plano, cuja forma remete a um triângulo. Na base maior concentram-se as vagas de estacionamento e


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na base menor encaixa-se a construção, criando um grande pátio aberto entre as polaridades do terreno (imagem 31). Imagem 31 – Situação do edifício no terreno

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-cultural-de-sedan-s lash-richard-plus-schoeller-architectes>. Acesso em 20 out. 2016.

Este espaço funciona como uma grande praça pavimentada, que possui pouca arborização e paisagismo. Sua delimitação é feita com sinalizadores em concreto dispostos no solo, indicando que o local é inclusivo para pedestres (imagem 32). A vegetação é mais intensa na área que compreende o estacionamento. Imagem 32 – Praça pública com sinalizadores em concreto

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-cultural-de-sedanslash-richard-plus-schoeller-architectes>.Acesso em 20 out. 2016.


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O projeto dispõe de cinco acessos nas quatro fachadas que abrem-se para as quatro ruas do entorno. Configura-se em apenas dois pavimentos: térreo (imagem 33) e superior. O seu programa de necessidades é distribuído em quatro paralelepípedos em balanço, apoiados por um grande bloco que compõe os usos do térreo, incluindo a sala multiuso. Estes módulos suspensos partem do centro do corpo do edifício, projetando-se para frente, no intuito de estabelecer uma conexão com o entorno, por meio de uma exploração formal que permite à construção enquadrar-se à paisagem local, consolidando o diálogo entre ambas. Imagem 33 – Planta baixa do pavimento térreo

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-cultural-de-sedan -slash-richard-plus-schoeller-architectes>. Acesso em 20 out. 2016.

A sala multiuso (imagem 34) é equipada com palco e plateia retráteis, com 197 lugares, entretanto, possibilita ampliar sua capacidade, transformando-se num espaço livre com 350m².


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Imagem 34 – Vista interna da sala multiuso

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-culturalde-sedan-slash-richard-plus-schoeller-architectes>.Acesso em 20 out. 2016.

O pavimento térreo também abriga uma oficina de culinária, escritórios da administração, sanitários, camarins, lobbys, halls e bastidores. O pavimento superior (imagem 35) é dedicado aos alunos matriculados no centro. Nele concentram-se sete salas de oficinas (sendo uma delas de dança e a outra de expressão corporal), um estar, escritório e sanitários. Imagem 35 – Planta baixa do pavimento superior

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-cultural-de-sedan-slash-richard-plusschoeller-architectes>. Acesso em 20 out.2016.


50

A circulação vertical no edifício ocorre por meio de um elevador e três escadas dispostas em local estratégico, como por exemplo: próximo às entradas (imagem 36). Imagem 36 – Escada próxima à uma das entradas do Centro

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-cultural-de-sed an-slash-richard-plus-schoeller-architectes>. Acesso em 20 out. 2016.

Com relação ao pé-direito, não é possível afirmar suas dimensões com exatidão, pois os arquivos disponíveis para análise não contém tais informações, contudo, percebe-se que os halls e sanitários apresentam alturas idênticas, enquanto que a oficina de culinária, as salas de oficinas e os corredores de circulação possuem outra altura. A oficina de dança apresenta pé-direito um pouco maior e a sala multiuso possui pé-direito duplo (imagem 37). Imagem 37 – Corte longitudinal

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-cultural-de-sedan-slash-richard-plusschoeller-architectes>. Acesso em 20 out. 2016.


51

O uso predominante de materiais como o concreto e o vidro evidenciam a composição geométrica da obra (imagem 38). A escolha de cores quentes variadas nas aberturas envidraçadas garantem ludicidade à arquitetura marcante do edifício. Imagem 38 – Fachada do Centro Cultural de Sedan

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-culturalde-sedan-slash-richard-plus-schoeller-architectes>. Acesso em 20 out. 2016.

Enquanto que o concreto gera uma base neutra, aguçando o olhar das pessoas para as grandes aberturas, que possibilitam observar as atividades que estão acontecendo no interior da edificação, convidando-as a adentrar os espaços (imagens 39 e 40). Imagem 39 – Crianças durante aula em uma das salas de oficina

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-cultural-de-se dan-slash-richard-plus-schoeller-architectes>. Acesso em 20 out. 2016.


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Imagem 40 – Fachada do Centro de Sedan

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-1 35742/centro-cultural-de-sedan-slash-richar d-plus-schoeller-architectes>. Acesso em 20 out. 2016.

A fachada principal do Centro Cultural de Sedan inclina-se para o rio, consolidando a conexão da construção com a paisagem local (imagem 41). Imagem 41 – Rio Meuse e o Centro de Sedan ao fundo

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-135742/centro-cultural-desedan-slash-richard-plus-schoeller-architectes>. Acesso em 20 out. 2016.


53

O projeto apresenta uma arquitetura impactante, que destoa do contexto ao qual está inserido. Contudo, consegue estabelecer uma relação com as construções mais tradicionais que o circundam. As soluções arquitetônicas presentes nesta obra contribuirão para o desenvolvimento da proposta projetual deste estudo. É interessante destacar a forma como são trabalhados os acessos à edificação, o respeito ao gabarito de altura das construções do entorno, a simplicidade na escolha dos materiais e a ideia de uma praça pública que atua como espaço acolhedor para a contemplação, a prática de esportes, atividades físicas e lazer, ou mesmo como local de transição. Em síntese, tais combinações resultam em uma arquitetura voltada à escala humana, que estimula as relações interpessoais e que consegue despertar nos habitantes um sentimento de conexão com o edifício. Este projeto internacional foi escolhido com o objetivo de evidenciar as semelhanças e distinções que um centro cultural pode apresentar considerando determinados fatores que influenciam no projeto final, tais como a cultura, o local de implantação e seu entorno, as necessidades a serem atendidas e a missão à qual a instituição foi confiada a cumprir.

4.4 Visitas Técnicas

Este trecho traz uma breve análise sobre as impressões obtidas a partir da visita a três instituições culturais localizadas na cidade de São Paulo. O principal objetivo era compreender os usos e vivências que os espaços oferecem aos usuários, no intuito de reunir informações que contribuam para o desenvolvimento projetual deste estudo.

4.4.1 Centro Cultural São Paulo

O Centro Cultural São Paulo (imagem 42), projeto de autoria dos arquitetos Eurico Prado Lopes e Luiz Telles, localiza-se no centro de São Paulo, próximo à estação de metrô vergueiro, com um de seus acessos pela Av. 23 de maio. O edifício, antes de qualquer coisa, anseia ser ponto de encontro cotidiano entre as pessoas. O espaço abriga e estimula as diversas formas de expressão artística, atraindo um público diversificado, o que consolida seu caráter democrático.


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Ao explorar a transparência do vidro (Sala Adoniram Barbosa, por exemplo) o projeto estabelece a conexão visual entre os espaços que compõem o edifício, resultando em uma arquitetura pública, acessível e que prioriza as relações humanas. Imagem 42 – Visita ao CCSP

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

4.4.2 Centro Cultural da Juventude

O Centro Cultural da Juventude - CCJ (imagem 43) é um equipamento público gerenciado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Localiza-se na Av. Dep. Emílio Carlos, Vila Nova Cachoeirinha – SP. É considerado referência na área de espaços públicos dedicado aos interesses da juventude. As atividades oferecidas tem enfoque na cultura jovem, explorando a prática de manifestações artísticas, o que inclui aquelas que ainda são consideradas tabus para a sociedade, como o grafite, o movimento LGBT, o empoderamento feminino, o racismo, o hip hop e o funk. Embora a instituição seja destinada aos jovens, no período das férias escolares, devido à grande demanda da região, realiza atividades voltadas às crianças.


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Com relação à arquitetura, o edifício é amplo e visualmente livre. O que permite que os usuários façam uma rápida leitura espacial, identificando com facilidade as atividades que estejam acontecendo simultaneamente nos diversos ambientes. A utilização de paredes de vidro nas salas da gestão, no laboratório Fab Lab e na biblioteca consolidam a permeabilidade visual, reforçando a ideia de espaço receptivo e ampliando as relações entre usuários e funcionários da instituição. Imagem 43 – Visita ao CCJ

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

4.4.3 Centro de Lazer – Sesc Fábrica da Pompeia

O Centro de Lazer Sesc Fábrica da Pompeia (imagem 44) é um projeto de autoria da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. Localiza-se na Rua Clélia, no bairro Vila Pompeia, em São Paulo. A instituição é uma das várias unidades espalhadas pelo estado, mantidas pelo SESC - Serviço Social do Comércio. No início, a entidade almejava oferecer serviços de lazer para a classe operária do setor comerciário, mas posteriormente ampliou suas práticas e, consequentemente, seu público. Atualmente, a instituição dispõe de


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atividades culturais, esportivas e de lazer, além da prestação de serviços assistenciais (clínicas odontológicas, por exemplo). Visando a expansão da qualidade de experiência para os usuários, a instituição conta com uma estrutura de serviços como: lanchonete, restaurante selfservice e uma choperia. Quanto à arquitetura, o edifício apresenta uma harmonia entre os galpões fabris preservados e os blocos prismáticos verticalizados em concreto aparente com os novos usos. O resultado é um complexo atemporal que, por meio da arquitetura, propõe o convite à reflexão da vivência no espaço urbano. Seus espaços promovem a prática do encontro e da convivência humana na cidade, consolidando a pluralidade de seu público frequentador. Imagem 44 – Visita ao SESC Pompéia

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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5 ANÁLISES

5.1 Histórico do Município O projeto está inserido no município de Piacatu – SP (imagem 45), cuja fundação data de 08 de novembro de 1953, há exatos 63 anos. Seu nome vem da linguagem indígena Tupi Guarani e significa “Ver Bem” ou “Coração Bom”. Imagem 45 – Localização de Piacatu no Brasil

Fonte: Adaptado do Google Earth, 2016.

Localizado a 530 km da capital (imagem 46), o município pertence a mesorregião de Araçatuba e a microrregião de Birigui. Sua extensão territorial é de 232,543 km² e apresenta uma população de 5.739 habitantes (segundo estimativa do IBGE para o ano de 2015). Sua economia está baseada na agropecuária, no comércio local e nas industrias do ramo calçadista.


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Imagem 46 – Localização de Piacatu no estado de São Paulo

Fonte: Adaptado do Google Earth, 2016.

Por se tratar de um município pequeno, Piacatu não possui muitas informações relacionadas ao seu clima, entretanto, por integrar a região de Araçatuba, serão utilizados os dados climatológicos desta cidade como forma de nortear o desenvolvimento deste estudo. De acordo com Minaki (2012), o clima de Araçatuba apresenta duas estações do ano bem definidas: verão quente e chuvoso no período de outubro a março e inverno ameno e seco no período de abril a setembro. Dados históricos (1961-1990) mostram que os valores médios de temperatura foram: 23,2ºC, com mínima de 17,4ºC e máxima de 29,1ºC e com precipitação média anual de 1200,3 mm (imagem 47).


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Imagem 47 - Climograma de Araçatuba - dados médios mensais 1961-1990.

Fonte: Minaki (2012) a partir dos dados de Somar Meteorologia.

5.2 Centro Educacional Existente

O Centro Educacional de Piacatu (imagem 48) é uma instituição municipal, que tem por objetivo principal atender crianças entre quatro e dez anos de idade, que estão em

situação

de

vulnerabilidade

social.

Atualmente,

o

espaço

atende

aproximadamente 160 crianças distribuídas em dois períodos: manhã e tarde. A instituição atua como complementação do ensino regular, em horário adverso ao período de aula das crianças, desenvolvendo atividades a partir de projetos temáticos que se concretizam por meio de oficinas de leitura, informática, recreação, artes plásticas, música, artes cênicas, dança, dinâmicas, dentre outras. Deste modo, as práticas oferecidas neste espaço, contribuem como apoio pedagógico para o desenvolvimento das crianças no que diz respeito aos aspectos emocionais e cognitivos. O prédio, que no passado abrigava uma creche, apresenta pouca infraestrutura, alguns ambientes sofreram adaptações grosseiras que comprometem a qualidade de realização das atividades oferecidas às crianças. Além disso, a edificação está situada acima de um rio canalizado, em uma área rebaixada da cidade, que apresenta um sistema de drenagem de águas pluviais deficitário. Nos períodos de chuva ocorrem alagamentos, sobrecarregando a rede de esgoto e, como consequência, fazendo com que os dejetos retrocedam pelos ralos


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dos sanitários do Centro Educacional, submetendo os usuários a condições sanitárias inadequadas, tornando-os vulneráveis ao contágio de doenças e contaminações. Imagem 48 – Croqui Centro Educacional

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Para melhor compreensão deste estudo, fez-se necessário o levantamento fotográfico do Centro Educacional para evidenciar as necessidades que a instituição possui. Esta análise possibilita uma leitura do espaço e seus ambientes, no intuito de diagnosticar sua carências. Na entrada principal não há uma portaria de identificação ou acessos independentes destinados às crianças, funcionários e ao público em geral, bem como não possui nenhum tipo de proteção contra as intempéries no caminho a ser percorrido entre o portão e a construção. Com relação ao refeitório e o pátio de convivência, estes dividem o mesmo espaço, dificultando o êxito de ambas atividades (imagem 49).


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Imagem 49 – Entrada Principal e Pátio/Refeitório

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

A instituição não está equipada com uma cozinha industrial, item indispensável em locais que realizam a preparação de alimentos. A que está em funcionamento não atende aos requisitos exigidos pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uma cozinha industrial. Faltam ambientes para determinadas etapas de cocção; não há um setorização dos espaços, comprometendo a higienização correta, o manuseio e preparo adequado dos alimentos (imagem 50). Imagem 50 – Cozinha e Playground

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

A área destinada ao lazer compromete o conforto dos usuários, por não oferecer sombreamento adequado. O pátio coberto e as salas de leitura e informática não estão integradas ao corpo principal do edifício e também não apresentam nenhum tipo de elemento de conexão (marquise ou cobertura), prejudicando o deslocamento dos usuários entre esses espaços nos dias chuvosos, por exemplo.


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Uma das paredes da sala de informática faz divisa com um grande muro de arrimo, o que culminou em problemas estruturais e infiltrações nas paredes e parte da laje (imagem 51). Imagem 51 – Lazer/Pátio coberto e Informática

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

No geral, pode-se concluir que a edificação carece de reparos de ordem estrutural; fluxo/circulação pelo espaço; ambientes adequados aos usos; setorização dos usos; estabelecimento de áreas públicas e privadas; segurança, acessibilidade e conforto para os usuários. Devido aos problemas acima descritos, pode-se concluir que uma reforma seria demasiadamente onerosa, justamente por envolver intervenções na infraestrutura urbana, tornando a obra inviável ao orçamento público do município. Como solução, este estudo propõe a criação de um novo edificio para abrigar a instituição em uma outra localização na malha urbana.

5.3 Análise Urbana 5.3.1 Localização do terreno

O terreno escolhido para o desenvolvimento da proposta localiza-se no município de Piacatu, no estado de São Paulo (Latitude: 21º 35' 32" S e Longitude: 50º 35' 57" W). Sua face frontal está situada na Avenida Roque Brambilla, no bairro Centro. O mapa a seguir (imagem 52), apresenta a localização do terreno na malha urbana do município.


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Imagem 52 – Localização do terreno na malha urbana

Fonte: Adaptado do Google Earth, 2016.

Há uma vicinal situada próxima ao lote e que permite o acesso à entrada da cidade. O fundo do terreno faz divisa com uma propriedade onde ocorre o cultivo de café.

5.3.2 Equipamentos Públicos

A seguir, o mapa (imagem 53) indica a localização dos equipamentos públicos (prefeitura,

instituições

educacionais,

sociais

e

demais

serviços

públicos);

equipamentos de saúde (centro de saúde) e os equipamentos de lazer (praças, campos, ginásios, dentre outros).


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Imagem 53 – Localização dos equipamentos públicos

Fonte: Adaptado do Google Earth, 2016.

5.3.3 Uso e ocupação do solo

As construções que compõem o entorno do terreno (imagem 54) escolhido para desenvolvimento da proposta de projeto, são predominantemente residenciais, com exceção de alguns estabelecimentos comerciais próximos: como mercearias.


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Imagem 54 – Mapa de uso e ocupação do solo (entorno)

Fonte: Elaborado a partir do arquivo da Prefeitura Municipal de Piacatu, 2016.

5.3.4 Mapa de cheios e vazios

Ao analisar o mapa de cheios e vazios do entorno do terreno (imagem 55), pode-se perceber que o espaço urbano é composto, em sua maior parte, por lotes com construções, no entanto, há algumas áreas vazias, que apresentam potencial construtivo. Essa situação permite compreender a dinâmica do espaço urbano, cujas mudanças demonstram que a cidade, no seu ritmo, está em constante transformação.


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Imagem 55 – Mapa de cheios e vazios

Fonte: Elaborado a partir do arquivo da Prefeitura Municipal de Piacatu, 2016.

5.3.5 Gabarito das construções

O mapa de gabarito do entorno do terreno (imagem 56) evidencia o perfil das edificações

que

constituem

o

entorno

do

terreno.

As

construções

são

predominantemente térreas. Existem algumas construções com 2 pavimentos no perímetro urbano do município, contudo, nenhuma delas localizam-se nas imediações do terreno escolhido para a proposta de implantação do projeto.


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Imagem 56 – Gabarito das construções do entorno

Fonte: Elaborado a partir do arquivo da Prefeitura Municipal de Piacatu, 2016.

5.4 Análise do Terreno

5.4.1 Dimensões

O terreno escolhido tem formato retangular (imagem 57), possui 36,00m de largura (o fundo) por 100,00m de comprimento (a frente), com área total de 3.600,00m².


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Imagem 57 – Dimensões do terreno

Fonte: Elaborado a partir do arquivo da Prefeitura Municipal de Piacatu, 2016.

5.4.2 Topografia

O terreno, em sua maior parte é nivelado, no entanto, apresenta um aclive de aproximadamente 90 cm de altura que vai em direção a face voltada para a Rua Felipe dos Santos, como é possível observar nas imagens (58, 59 e 60) a seguir. Imagem 58 – Planta topográfica do terreno

Fonte: Elaborado a partir do arquivo da Prefeitura Municipal de Piacatu, 2016.


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Imagem 59 – Corte transversal do terreno

Fonte: Elaborado a partir do arquivo da Prefeitura Municipal de Piacatu, 2016. Imagem 60 – Corte longitudinal do terreno

Fonte: Elaborado a partir do arquivo da Prefeitura Municipal de Piacatu, 2016.

5.4.3 Mapa de visadas do terreno e entorno imediato

O mapa a seguir permite a compreensão do terreno a partir de sua relação visual com o entorno (imagem 61). Na sequência, são apresentadas as características físico-espaciais da área de desenvolvimento da proposta (imagens 62, 63 e 64).


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Imagem 61 – Mapa de visadas do terreno e entorno imediato

Fonte: Adaptado do Google Earth, 2016. Imagem 62– Vistas 01 a 04 do mapa de visadas

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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Imagem 63 – Vistas 05 a 08 do mapa de visadas

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Imagem 64 – Vista 09 e 10 do mapa de visadas

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

5.4.4 Estudo de Insolação e Ventos Predominantes

O estudo de insolação e ventos predominantes (imagem 65) demonstra a incidência dos raios solares no lote escolhido para a proposta do projeto. Pela manhã os raios incidem a face leste do terreno, avançando em direção a face norte. No período da tarde, os raios incidem com maior intensidade nas faces oeste e noroeste do terreno. Com relação aos ventos predominantes na região, estes são provenientes do sudeste em direção ao noroeste.


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Imagem 65 – Estudo de Insolação e Ventos Predominantes

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

5.5 Sistema viário

O sistema viário de Piacatu (imagem 66) é simples, não possui semáforos, limitando-se apenas à sinalização básica (placas, lombadas, faixas de pedestres, dentre outras). Apresenta duas vias principais: a Avenida Dr. José Benetti e a Rua Felipe dos Santos, que cruzam o centro da cidade e são responsáveis por distribuir o fluxo para as vias de acesso secundárias e, consequentemente, no interior dos bairros. Com relação ao logradouro onde localiza-se o terreno da proposta, o mesmo tem acesso direto a uma vicinal, que permite a saída para o município de Santópolis do Aguapeí, que faz divisa territorial com Piacatu e também está próximo a uma das principais vias da cidade, a Rua Felipe dos Santos, facilitando o acesso ao local de implantação do projeto.


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Imagem 66 – Mapa do sistema viário – entorno do projeto

Fonte: Adaptado do Google Earth, 2016.

5.6 Normas Vigentes e Órgãos Regulamentadores

Para o desenvolvimento desta proposta de projeto serão utilizadas determinadas normas, responsáveis por garantir que qualquer projeto, ao ser executado, apresente segurança, qualidade e conforto aos usuários. O município de Piacatu não possui Plano Diretor, no entanto, a Prefeitura Municipal, no seu poder de órgão fiscalizador, exige que os projetos executados no município cumpram as exigências do Código Sanitário do Estado de São Paulo, bem como as diretrizes de acessibilidade da Norma 9050: 

Código Sanitário de São Paulo é um decreto de nº 12.342 de 1978, lançado pelo governo do estado, que estipula normas e parâmetros mínimos sanitários para todos os tipos de edificações, levando em consideração aspectos como:


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saneamento básico, iluminação, ventilação, dimensões e áreas mínimas dos ambientes. 

NBR 9050, terceira edição de 11.09.2015, que de acordo com a ABNT (2015), estabelece as diretrizes e técnicas para a acessibilidade à edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos. Contribuindo, dessa maneira, para garantir que todos os indivíduos tenham o direito de acesso e permanência nos espaços, independente das deficiências ou limitações físicas que possuam.


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6 PROJETO

Este capítulo divide-se em três partes. Inicialmente serão apresentados croquis de desenvolvimento da ideia, além de estudos preliminares. Na sequência, programa de necessidades, quadro de áreas gerais, volumetria setorizada, fluxograma, conceito, partido, sistema construtivo, paisagismo, sustentabilidade ambiental e acessibilidade. Por fim, será apresentada a solução do projeto por meio de plantas, cortes, elevações, diagramas e imagens 3D.

6.1 Desenvolvimento projetual

Durante o período de desenvolvimento do projeto foram realizados diversos estudos a fim de definir a proposta que melhor compatibilizasse com o programa de necessidades e as características do terreno. A imagens 67 e 68 a seguir apresentam, respectivamente, uma planta de setorização e um croqui inicial da volumetria do edifício. Imagem 67 – Setorização do projeto em planta

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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Imagem 68 – Croqui volumetria inicial do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

O esboço (imagem 69) abaixo, traz as ideias iniciais para a sala de leitura, por meio do levantamento de possíveis elementos construtivos e de mobiliário. Imagem 69 – Croqui ideias para a sala de leitura

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Após diversas experimentações formais, construtivas e de layout, houve a definição da proposta mais adequada para o projeto, como é evidenciado na perspectiva (imagem 70).


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Imagem 70 – Concepção final da volumetria do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

No estudo preliminar (imagens 71 e 72) da página a seguir, é possível identificar alguns traçados, setorizações e composição formal da ideia em estado prematuro. O decorrer do processo contribuiu para sua maturação.


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Imagem 71 – Planta de estudo preliminar

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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Imagem 72 – 3D de estudo preliminar

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

6.2 Programa de Necessidades

O programa de necessidades (imagens 73 e 74) teve sua definição pautada no objetivo de ampliar a capacidade de vagas para atender a demanda de crianças na lista de espera, visto que a instituição existente não tem conseguido atendê-las.


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Imagem 73 – Programa de necessidades setores atendimento público e administração

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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Imagem 74 – Programa de necessidades setores cultura e serviços

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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6.3 Quadro de áreas do projeto

Na imagem 75 é possível compreender as áreas gerais do projeto, tais como: área do terreno, taxa de ocupação do edifício, permeabilidade do solo e área útil da construção. Imagem 75 – Áreas gerais do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

6.4 Volumetria setorizada e fluxograma

A volumetria adotada para o edifício é resultado de experimentações da distribuição dos usos e atividades por blocos. Por fim, o programa de necessidades divide-se em quatro blocos principais: cultural, administrativo, serviços e atendimento público, como é demonstrado no diagrama abaixo (imagem 76).


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Imagem 76 – Setorização do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

O fluxograma (imagem 77) apresentado na sequência indica os acessos e conexões entre os ambientes e setores que compõem o projeto. Imagem 77 – Fluxograma do projeto

Acessos

Público

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Administração

Cultura / Lazer

Serviços


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6.5 Conceito

A ideia primordial do projeto (imagem 78) foi de conceber um edifício longilíneo, que se integra à paisagem e ao contexto local, por meio de uma solução que valoriza a simplicidade formal, a fim de oferecer à população um equipamento de qualidade a partir de uma arquitetura que estimula a aprendizagem e as relações humanas. No recuo frontal do lote, propõe-se uma praça pública, visando estabelecer a conexão entre habitantes do entorno, transeuntes e usuários do centro cultural. O projeto faz o uso predominante de materiais em seu estado aparente, dispensando ornamentações e acabamentos, no intuito de reduzir os custos na execução e manutenção da construção. Aliado a isso, a proposta convida os usuários a enxergar o espaço sob uma nova perspectiva, onde os ambientes são idealizados para se adaptarem aos diversos usos. Essa dinâmica possibilita um melhor aproveitamento dos espaços, evitando sua subutilização ou mesmo seu pleno desuso. Nessa lógica, evidenciar a materialidade do edifício, compreende nutrir uma relação entre as crianças e a arquitetura. E é justamente nesse gradativo processo de aproximação e descoberta que floresce o sentido de pertencimento à instituição. Imagem 78 – Evolução do conceito

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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6.6 Partido

O projeto se configura em três corpos principais de blocos de concreto estrutural com lajes em painel de concreto treliçado, ligados por um grande pátio de convivência. Sobre eles, uma cobertura metálica espacial independente, que atua como elemento integrador do edifício, articulando os usos e orientando a circulação pelo espaço.

6.7 Sistema construtivo

A definição do sistema construtivo (imagem 79) para o projeto levou em consideração fatores como agilidade na execução, economia no custo da obra e nas futuras manutenções. O edifício é predominantemente em blocos de concreto estrutural, o que possibilita que as paredes atuem tanto como elemento de vedação quanto elemento estrutural, suportando todas as cargas atuantes na construção. Por se tratar de um sistema de alvenaria estrutural, dispensa o uso de pilares e vigas, reduzindo o tempo e o custo total da obra. O refeitório é o único espaço que utiliza o sistema construtivo de alvenaria convencional (blocos cerâmicos para vedação e pilares embutidos atuando como elementos estruturais), devido à necessidade de um ambiente amplo, com grandes vãos a serem vencidos e livre de barreiras físicas. Para remover a malha de pilares, associou-se a esse sistema o uso de vigas metálicas (sobrepostas e parafusadas), visto sua potencial capacidade estrutural para vencer vãos maiores. Todo o edifício apresenta lajes em painel de concreto treliçado aparente, dispensando, assim, o uso de forros. Estas são cobertas por telhas metálicas com 9% de inclinação. O projeto possui uma grande cobertura espacial metálica com telhas termoacústicas (inclinação 5%), responsável por integrar os três blocos em que se divide a construção. Elevada seis metros do solo, a cobertura estrutura-se por meio de vigas metálicas perfil I, sobrepostas e parafusadas e duas fileiras de pilares metálicos.


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Imagem 79 – Axonometria explodida da estrutura

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

6.8 Paisagismo

O projeto se configura em formas ortogonais e a composição paisagística atua como elemento reforçador dessa característica. Para tanto, optou-se por trabalhar com canteiros de formatos retangulares e, para garantir maior segurança às crianças (público alvo da proposta) não serão utilizados arbustos, devido à possibilidade destes tornarem-se barreiras físicas/visuais, restringindo a liberdade e a autonomia dos usuários. Foram escolhidas quatro espécies de vegetações para compor o paisagismo: pau-ferro, pitangueira, cambuci e plátanus. As áreas permeáveis alternam entre gramado, pedriscos e cascalhos, estimulando nas crianças o contato com diferentes texturas, como é possível observar na imagem 80.


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Imagem 80 – Diagrama de vegetações e paisaigsmo

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

6.9 Sustentabilidade Ambiental

Este trecho aborda as técnicas sustentáveis e as estratégias de conforto a serem incorporadas ao projeto. O estudo realizado com o software de modelagem Sketchup a partir de uma ferramenta de geolocalização, possibilitou a simulação da incidência de raios solares na edificação (imagem 81) nos períodos de equinócio da primavera (22 e 23 de setembro) e solstício de verão (20 e 21 de dezembro). Analisando o diagrama, é possível observar que apesar da variação da posição do sol no decorrer de um período ao outro, as faces da construção que estão voltadas para a direção oeste (fachada principal) são semelhantemente afetadas pela insolação da tarde.


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Imagem 81– Diagrama de simulação da insolação no edifício

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Visando solucionar essa incidência solar (imagem 82), serão utilizados brises de correr com placas móveis, pois estes possibilitam mudanças de configuração das posições de acordo com o nível de insolação incidente em cada período do dia. Para proteger as janelas pivotantes de vidro (utilizadas no refeitório), serão instalados brises fixos com placas móveis, potencializando o conforto dos usuários sem comprometer a ventilação natural no interior do ambiente.


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Imagem 82 – Corte esquemático – estratégias de conforto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

A construção se apropria das potencialidades climáticas do local, canalizandoas a seu favor, por meio da aplicação de determinadas técnicas que otimizam o conforto dos usuários. A planta a seguir (imagem 83) demonstra o fluxo dos ventos predominantes da direção sudeste a percorrer nos ambientes da edificação.


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Imagem 83 – Estudo de fluxo da ventilação no projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

No esquemático abaixo (imagem 84) é possível compreender como ocorre a ventilação cruzada adotada em determinados pontos do edifício, como as salas multiuso e o refeitório. Imagem 84 – Esquemático fluxo da ventilação no projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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A compatibilização entre técnicas sustentáveis e de conforto (imagem 85) contribui para a redução de desperdícios dos recursos naturais e consequentemente da destruição do meio ambiente. As soluções propostas apresentam resultados a curto e longo prazo. Neste sentido, a arquitetura cumpre seu papel enquanto objeto de uso para as pessoas, sem que, para isso, estabeleça uma relação desarmoniosa com o ambiente natural. Imagem 85 – Diagrama de técnicas sustentáveis e estratégias de conforto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

6.10 Acessibilidade

A presença da acessibilidade nos projetos de arquitetura contribui para ampliar o direito de acesso, circulação e uso dos espaços pelo maior número de indivíduos possível, independentemente das limitações e/ou deficiências, temporárias ou permanentes, que estes possuam. O projeto segue as diretrizes contidas na norma NBR 9050, terceira edição de 11.09.2015. O diagrama (imagem 86) abaixo, exemplifica algumas das medidas adotadas para garantir a autonomia dos usuários na utilização do edifício.


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Imagem 86 – Diagrama acessibilidade no projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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6.11 Proposta

A proposta do projeto compreende-se em blocos ortogonais, resultando em um solução formal longilínea, na qual a funcionalidade rege a disposição dos ambientes em planta (imagem 87). Imagem 87 – Planta baixa do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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Os espaços, em sua maior parte, apresentam pé-direito de três metros – como é o caso das salas do bloco administrativo e do laboratório de informática. Localizada imediatamente acima, a grande cobertura metálica espacial possui seis metros de altura, como é possível observar no corte transversal (imagem 88) abaixo. Imagem 88 – Corte transversal do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

O corte longitudinal (imagem 89), indica o pé-direito de três metros das salas multiuso e dos sanitários infantis.


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Imagem 89 – Corte longitudinal do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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A planta de cobertura (imagem 90) a seguir, permite compreender que embora a edificação disponha de uma grande cobertura espacial em telhas metálicas termoacústicas, cada bloco possui coberturas independentes, estas formadas por lajes pré-fabricadas sob telhas metálicas. É importante ressaltar que a área de projeção da cobertura espacial não compreende todo o perímetro da edificação. Imagem 90 – Planta cobertura do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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Na fachada cardeal (imagem 91) é possível observar o formato longilíneo do edifício. Imagem 91 – Fachada principal do edifício

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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A fachada lateral (imagem 92), permite a visualização do talude voltado para a via Felipe dos Santos, que faz parte da proposta de projeto. Imagem 92 – Fachada lateral do edifício

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

A implantação geral (imagem 93) abaixo, ilustra as principais áreas que compõem o edifício. Imagem 93 – Implantação geral do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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O diagrama de acessos ao edifício (imagem 94) ressalta a preocupação com a escala humana, ao definir as áreas públicas e privadas da edificação, bem como seus acessos. Imagem 94 – Diagrama acessos ao edifício

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Atualmente na arquitetura, a flexibilização dos espaços tem sido uma premissa cada fez mais recorrente e valorizada nos projetos. Nessa perspectiva, para que a proposta final resultasse em um projeto adequado aos usos e cujas necessidades da instituição fossem supridas, optou-se por explorar a flexibilidade dos espaços. O corte perspectivado (imagem 95) na próxima página apresenta o interior das salas multiuso.


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Imagem 95 – Corte perspectivado sala multiuso

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

No fundo do lote, entre o bloco cultural e o muro, conforma um corredor de 2,70m de largura por aproximadamente 54m de comprimento, que recebeu divisórias em alvenaria alinhadas as dimensões das salas, com o objetivo de configurar pequenos jardins de convivência. As divisórias (imagem 96) apresentam cores variadas, contrastando com a base cinza presentes nas paredes em blocos de concreto estrutural aparente. Imagem 96 – Diagrama divisórias coloridas

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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Nos jardins de convivência (imagem 97) é possível a realização de diversas atividades e brincadeiras mediadas pelo professor. Imagem 97 – Jardim de convivência

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

O programa do projeto incluía um auditório (ou em última instância uma sala de convenções) para os dias de apresentações, reuniões e demais atividades abertas aos pais e a comunidade em geral. No entanto, optar pela primeira alternativa seria economicamente inviável e a segunda, estaria sob o risco de tornar-se um ambiente ocioso. A solução foi propor um palco em concreto que ocupa ¼ da área total da sala de leitura (imagem 98) e projeta-se para fora, em direção ao pátio de convivência. As portas do tipo pivotantes, facilitam a “entrada em cena” nas apresentações de teatro / dança realizadas pelas crianças.


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Imagem 98 – Axonometria explodida – sala de leitura

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Por ser um local de intenso uso, o pátio recebeu um toque de ludicidade, obtido a partir da escolha de cores que variam entre os tons de amarelo e laranja para compor sua paginação (imagem 99). Imagem 99 – Paginação do pátio

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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Este grande espaço de convivência, quando necessário, além de garantir a diversão das crianças, atua também como saguão para exposição dos trabalhos desenvolvidos por elas, exibe filmes em sessões de cinema comunitário e acolhe o público formado pelos pais e a comunidade nos demais eventos da instituição; como é demonstrado no diagrama (imagem 100) a seguir. Imagem 100 – Diagrama usos do pátio

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

A composição de vidros (imagem 101) fixos jateados e vidros transparentes (de correr/abrir/basculante) presentes na fachada e reprisados em trechos internos dos blocos cultural, de atendimento público e administrativo, evidencia a dinâmica do edifício em funcionamento, ao permitir a visualização dos ambientes em uso. Essa vivacidade do espaço manifesta-se por meio da projeção (nos vidros) de vultos e silhuetas dos usuários/funcionários desempenhando suas atividades cotidianas.


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Imagem 101 – Diagrama composição da aberturas

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

A comunicação visual (imagem 102) do projeto é explorada por meio de simbologias e grafismos. Tal decisão parte do pressuposto de que boa parte dos usuários ainda não foram alfabetizados ou estão vivenciando essa etapa. Portanto, é importante que a arquitetura do edifício consiga estabelecer diálogo com todos as pessoas, sem exceções. Optar pelos desenhos – algo tão recorrente no universo infantil – foi uma escolha igualmente crucial e estimulante.


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Imagem 102 – Comunicação visual do edifício

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

O refeitório (imagem 103) possui paredes em tom neutro (branco gelo) com o objetivo de evidenciar o mobiliário em amarelo e as vigas metálicas em tons de azul e verde.


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Imagem 103 – Corte perspectivado do refeitório

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

O espaço da recepção (imagem 104) prioriza a simplicidade. Livre de excessos, traz leveza e aconchego na medida certa. A paleta em matizes de cinza atuam como pano de fundo, destacando o mobiliário em tom de azul. Imagem 104 – Corte perspectivado da recepção

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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Por priorizar as relações humanas, a proposta oferece diversos espaços que estimulam a coletividade. Como a área de lazer e convivência (imagem 105) a seguir. Imagem 105 – Espaço aberto de lazer e convivência

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Foram utilizados materiais de baixa manutenção e em seu estado aparente, a fim de compor uma paleta de cores frias, mas que apresentasse alguns elementos lúdicos, obtidos pelo uso de cores mais vivas. A perspectiva (imagem 106) a seguir, demonstra a neutralidade dos blocos de concreto, destacando os brises coloridos presentes na fachada.


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Imagem 106 – 3D perspectiva geral do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

A imagem 107 abaixo, exibe os brises utilizados na fachada principal do edifício. Predominam matizes azuis e verdes associadas a tons mais quentes como o magenta, laranja imperial, amarelo pavão, sonho de verão e bala de uva. Imagem 107 – Diagrama paleta de cores dos brises

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Na área dedicada ao lazer (imagem 108), há um playground em alumínio e madeira de demolição, que mescla a típica “casa na árvore” com brinquedos tradicionais como o balanço e o escorregador. Nessa proposta, os pneus descartados ganham novas funções (assentos dos balanços e obstáculos para o circuito). Os morros de terra cobertos por grama funcionam como pequenas montanhas para


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escalada e os tambores reutilizados transformaram-se em túneis. O playground reforça a ideia de que reutilizar pode e deve ser uma experiência divertida. Imagem 108 – 3D perspectiva área lazer do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

O pátio de convivência (imagem 109) estimula a ação de brincar e se relacionar com o próximo, contribuindo para o desenvolvimento saudável e o fortalecimento do vínculo entre as crianças e a instituição.


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Imagem 109– 3D perspectiva do pátio de convivência do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

O projeto tem capacidade para atender 240 usuários nos períodos manhã e tarde. No entanto, se no futuro houver a necessidade de abrigar mais usuários, o edifício possui condições de receber uma ampliação (imagem 110). Sobre o bloco cultural podem ser construídas mais salas multiuso, com a liberdade de repetir o sistema construtivo já adotado no proposta, ou mesmo recorrer a outro método construtivo de rápida execução e menor geração de entulhos, como o drywall por exemplo. Imagem 110 – Diagrama possibilidade de expansão do edifício

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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Sabe-se que todo projeto de arquitetura nasce do desejo de suprir necessidades, a partir de determinadas premissas. O Centro Cultura Meu Lugar não é diferente. Com sua concretização, espera-se que mudanças positivas aconteçam na vida das crianças que frequentam a instituição, bem como na de seus familiares e, consequentemente, de toda a comunidade. Na imagem 111, a seguir, são apresentadas as expectativas com relação aos frutos que a execução desta proposta pode gerar. Imagem 111 – Diagrama expectativas do projeto

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.


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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cultura é uma das mais expressivas formas de manifestação do ser humano. Poro meio dela é possível compreender o passado, o presente e os anseios de uma sociedade. Este estudo busca enfatizar a importância da atuação de instituições culturais no cenário das cidades brasileiras. Por meio das práticas oferecidas nestes espaços, os indivíduos têm a oportunidade de estabelecer uma relação mais próxima com o conhecimento, tornando-se seres mais críticos e, portanto, mais engajados na luta por uma nação justa e igualitária. Desse modo, este estudo propõe a implantação de um Centro Cultural para crianças no município de Piacatu, que promoverá a democratização do acesso à cultura aos habitantes, ao oferecer um espaço de aprendizagem e difusão do conhecimento, mas que, acima de tudo, auxiliará no estreitamento das relações sociais humanas.


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REFERÊNCIAS ALVES, G. C., O lugar da arte: um breve panorama sobre a arquitetura de museus e centros culturais. In: II Seminário Internacional Museografia e Arquitetura de Museus, 2., 2010, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: FAU/PROARQ, 2010. p. 11. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 15220 Desempenho térmico de edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. ABNT, 2015. BITTENCOURT, M. C. estudos de percursos acessíveis aos portadores de necessidades especiais em espaços abertos na cidade de Maringá. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2002. CAMBIAGHI, Silvana. Desenho Universal: métodos e técnicas para arquitetos e urbanistas. 3 ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2012. CENNI, Roberto. Três centros culturais na cidade de São Paulo. 1991. 167f. Dissertação (Mestrado em Artes Plásticas) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991. COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural. 1 ed. São Paulo: Iluminuras, 1997. CORREA, Celina Britto. Arquitetura bioclimática: Adequação do projeto de arquitetura ao meio ambiente natural. Vitruvius, Pelotas, Abr. 2002. Disponível em: < http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/02.004/1590>. Acesso em: 02 out. 2016. FARIA, Vitória; SALLES, Fátima. Currículo na Educação Infantil: diálogo com os demais elementos da Proposta Pedagógica. 1ª edição. São Paulo: Scipione, 2012. FROTA, Anésia Barros; SCHIFFER, Sueli Ramos. Manual de Conforto Térmico.5 ed. São Paulo: Studio Nobel, 2001. LAMBERTS, Roberto; DUTRA, Luciano; PEREIRA, Fernando O. R. . Eficiência energética na arquitetura. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora PW, 2014. LEÃO, Raimundo de Matos. A arte no espaço educativo. Revista de Educação CEAP, Salvador, v. 1 n. 4, p.1-94, 2000. MILANESI, Luís. A casa da Invenção: Biblioteca Centro de Cultura. 3 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 1997.


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