Querubim DE IVANA ARRUDA LEITE ADAPTAÇÃO PARA CINEMA: RICARDO FARIA
Cena I Interna: Num camarim de uma boate Estão duas dançarinas se maquiando, uma delas começa a contar a sua história, enquanto a outra somente escuta. Beth: Nasci e fui criada num convento das Carmelitas. Minha mãe deixou-me com as irmãs e sumiu no mundo. Minha vida era bem diferente da vida das outras moças. Nunca fui a um baile e nem tive namorado.
Cena II Interna: Dentro de uma igreja (Noite) Continuando a narração, a cena continua com a Beth com freira (Irmã Inocência) orando de joelhos no altar. Beth: Meu prazer eram as noites em vigílias, os jejuns e as orações. Minha alegria era servir ao Nosso Senhor.
Cena III Interna: Dentro da igreja com as irmãzinhas. Continuando a narração, nesta cena a Irmã Inocência está contando suas experiências com o Senhor. Beth: Por mais que explicasse as irmãs o que eram esses momentos de êxtase, elas não me compreendiam. As irmãs: Você é maluca! Beth: Diziam com desdém.
Cena IV Interna: Dentro da Igreja (Manhã), Na cena a irmã Inocência está dormindo. Continuando a narração, nesta cena a Irmã Inocência está dormindo no altar da igreja e já é de manhã; Madre superiora acorda a Irmã Inocência.
Beth: Era comum me encontrarem dormindo no chão da capela, pela manhã, aos pés do crucificado. Isto porque depois do jubilo, eu perdi os sentidos e caia no chão. Acordava com a madre superiora me chacoalhando aos berros. Entra Madre Superiora. Madre Superiora: Irmã Inocência acorda. O que aconteceu? Beth: Eu nunca sabia explicar. Irmã: Eu estava no meu quarto quando ouvi o Senhor me chamando. Depois disso não me lembro de mais nada.
Cena V Interna: No Quarto Continuando a narração da Beth, a cena agora ocorre no quarto de Irmã Inocência, ela está arrumando o altar e já está deitando. Beth: Certa noite acordei com alguém batendo na porta do meu quarto. Pensei ser uma das irmãs, mas não. Era um homem alto, loiro, forte, de barba rala e olhos azuis. Um querubim que chegou sem anúncio nem trombetas, sem raios nem vendaval. O anjo entrou e sentou-se na beira da cama e me disse estendendo as mãos: Querubim: Vem Inocência. Continuando a narração Beth: Eu obedeci. Só um anjo pegaria nos meus ombros me colocaria deitada com tanta delicadeza, colocaria minhas pernas sobre a cama e tiraria minha camisola tão devagar, poria as mãos em minhas coxas e as alisaria como se moldasse o barro da criação. Ao ver que estava sem calcinha, ele sorriu. (Numa retrospectiva, Beth volta ao passado e lembra de um fato com a Madre Superiora). Beth: Certa vez a Madre Superiora me disse que: Madre Superiora: Mulher que dorme sem calça espera a visita do demônio. Beth: Ela estava enganada, Sempre dormi sem calcinha e quem apareceu foi um emissário do Senhor, que encostou os lábios no meu ventre e me beijou bem ali, onde os pêlos começam e foi descendo a língua até chegar àquele ponto onde uma mulher não pode ser tocada sem que venha um desejo irrefreável de morrer. Procurei sua boca e enfiei nela minha língua, o mais fundo que pude. Ele lambeu meu pescoço, minha orelha e sugou meus seios com tamanha volúpia que eu quase perdi os sentidos. Abri as pernas e empurrei-o para dentro. Foi então que o anjo me enfiou-me a espada flamejante e rompeu meu sexo como o sol rompe a manhã. Devagar e completamente. Cravei as unhas em suas costas e pedi que ele o fizesse com mais força.
E o mais engraçado é que o tempo todo o anjo falava essas coisas que os homens costumam dizer para as mulheres com quem se deitam. Querubim: Aí que tesão, vem cá minha gostosa. Beth: O anjo era tão devasso como um qualquer. Parecia de carne o corpo do querubim. Se a espada dava ares de arrefecer (Esfriar, perder a energia), eu logo tratava de fazê-la flamejar de novo. Irmã Inocência: Mais forte, mais forte! Beth: Eu pedia.
Cena VI Interna: No quarto de Manhã Como a Madre Superiora e Irmã Inocência. Beth: Não sei quanto tempo depois, acordei com a Madre Superiora jogando água no meu rosto. Contei-lhe do querubim, mas ela duvidou e me chamou de louca. Madre Superiora: Além de santidade, falta-lhe também sanidade. Beth: De nada adiantou mostrar o lençol manchado de sangue, fui expulsa do convento e da congregação.
Cena VII Interna: No Camarim Beth: Dormi com muitos homens depois disso, mas nenhum como o querubim.
Cena VIII Interna: Na boate, dançando. Beth: Certa vez o jardineiro do convento apareceu na boate onde eu trabalhava. Um homem baixinho, troncudo, careca, negro como a noite e sem nenhum dente na boca. Ele ficou embasbacado ao me ver ali. Jardineiro: Irmã Inocência. Beth: Fique à vontade porque a inocência já foi embora há muito tempo. Eu lhe disse brincando. Quando ele colocou as mãos na minhas pernas eu me lembrei de tudo.