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VAGOS SE AS PAREDES FALASSEM, QUE ESTÓRIAS CONTARIAM?

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A NÃO SER

A NÃO SER

Cada casa tem as suas estórias. Estórias feitas de memórias, conversas, gargalhadas, choros e promessas. Sobretudo, das pessoas que ergueram tijolo sobre tijolo e das que encheram salas com os seus projetos de vida. Um legado que permanece em lugares muito especiais do município de Vagos.

Dizem que o sonho comanda a vida. O de Claudino Domingues dos Santos levou-o até aos Estados Unidos da América. Em 1937, regressado a Portugal, estaria Claudino longe de imaginar que, um século mais tarde, a casa se tornaria um símbolo incontornável da Gândara. De portas abertas a quem a quiser descobrir, a Casa-Museu de Santo António de Vagos promete transportar os visitantes para o passado. E para um tempo em que as casas de banho não eram um elemento obrigatório em todas as residências.

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A Casa-Museu de Santo António de Vagos é feita em adobe e até a fachada transpira tradição: a sequência janela, porta, janela, portão e janela é típica do município de Vagos. Mas as suas características únicas não se esgotam na entrada. Lá dentro, existe um pátio interior que dá acesso não só ao lar propriamente dito, como também a celeiros, currais e galinheiros, essenciais para a subsistência da família nesta altura. Após entrarmos pelo portão – como manda a tradição – somos conduzidos ao que era antigamente um telheiro coberto e, ao lado, a uma adega. Por cima da adega existia um celeiro e, em frente, um pátio em terra, mais conhecida por estrumeira. Manuel Pereira, membro da direção do Grupo Folclórico de Santo António de Vagos, regressa ao passado para recordar que, duranta a época de outono, ia buscar-se mato para colocar no pátio, que servia de estrume na primavera.

Além da estrumeira e dos celeiros, existiam currais e galinheiros.

Mas se muita da acção se passava no exterior, não devemos relegar para um papel secundário a importância da cozinha, que simbolizava o centro da vida quotidiana da casa. Entre outras coisas, essa divisão nuclear possuía um borralho grande, que servia não apenas para cozinhar, mas também para fazer as chouriças. A este propósito, estima-se que só na década de 1970 do século passado é que os tetos de madeira foram pintados.

Mas continuemos a nossa visita. Passamos da cozinha para os quartos, que também nos ajudam a perceber a forma como as famílias se or-

De portas abertas a quem a quiser descobrir, a Casa-Museu de Santo António de Vagos promete transportar os visitantes para o passado ganizavam. O casal dormia num quarto com vista para o pátio, para ir acompanhando as rotinas. As regras para os filhos eram distintas. No caso das mulheres, ficavam numa divisão em frente às acomodações dos pais; no caso dos filhos, ficavam num quaro exterior, beneficiando de uma maior liberdade, podendo, dessa forma, sair à noite sem que os seus movimentos fossem notados. Aliás, há inclusivamente relatos de que houve quem tivesse feito cama no celeiro.

Mas a verdadeira joia do universo habitacional era a sala. Localizada no corpo frontal da casa, era possível aceder a ela através de uma porta que dava para rua. E sobre esta porta pendia uma regra fundamental: jamais se deve abrir, exceto para a visita pascal, em caso de doença ou de velório. De resto, médicos e padres eram os únicas figuras com direito a ser recebidas nesta sala, que agora se abre ao Mundo.

Nela percebemos que a sustentabilidade não é um valor dos tempos modernos, estando presente até nos tapetes que decoram a sala. Estes tapetes eram feitos a partir de roupa velha cortada em tiras, também usadas pelas raparigas para fazer passadeiras e mantas. Ao lado da sala principal, um quarto mais especial da casa e que se encontrava ao lado da sala principal. Aqui dormiam doentes, mulheres durante e depois do parto, e nubentes – todos a aguardar um recomeço.

O EX-LÍBRIS DA HABITAÇÃO ERA A SALA, LOCALIZADA NA FRENTE DA CASA, ACEDIDA PELA PORTA QUE DÁ PARA A RUA

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