Raconteur – O Livro

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Raconteur. em franc锚s: contador de hist贸rias. pessoa conhecida por contar hist贸rias com habilidade e intelig锚ncia.



Sou cheio de remendos, carcomido , esquecido e rabiscado. Abrigo bêbados, semteto, amantes e até pombos. Enqu anto os pombos me enchem de me rda, volta e meia vem um bêbado me lambuzar de vin ho. A merda é que é sempre suav e e mais doce que banho de açúcar. Nunc a um Chileno seco, meu favorito . Mas preciso confessar… sinto um certo calaf rio quando derramam aquele líq uido roxo dos deuses sobre minha pele est igmatizada e maltratada pelo tem po! Não esboço quaisquer reações adver sas, mas pelo contrário! Ah, dei xo mesmo é que ele escorra por mim, entre minha s partes, me pintando por uma inf inidade incontável de dias até que seq ue e seja parte inseparável de mim. Um brinde.



Desde qu e vim vi ver aqui , uma coi tomado p sa não m elo peso uda: bas das gran ta o azu d e l do céu s e cinzen gritando ser t , não tem as, eu fi co só. Nã casal de o tem mo mãos dad não tem lecada c as achan gostosa orrendo do que a desfilan e v i d d o a , n é ão tem t cai é ác bela, nã urista a ido. Ning o tem vend trás da uém se a edor enc l e r n r hendo o t i e s , c não tem a. Mas é os carro saco, ninguém só água. s e as b uzinas. em mim. P Água qu Á e anula gua que arece qu ver. Que o movime e o que embaça m fica bat n i t n o h na praça a visão, ucando e mesmo qu e multip m mim, n de novo. e, nestes lica esse rit Que tran m d o i a i s r , não ha ritantem sforma o ja muito ente con jardim a jatear, j o que stante. D qui atrá ustamen epois pa s numa i te naque r a . Depois mensa po las part começa ça de la es onde m a o sol nã nojenta, raios e o bate. Á que insi ventos c gua que ste em m om sede e t antas ve de destr u z ição, que es veio inteiras acompan .. Duvida jogaram hada de ? Estão em cima aqui as de mim g minhas m alhos e não mud até árvo arcas pr a a soli res a provar dão que cai do c . Desde q éu nos d ue vim v última v ias de n iver aqu ez, um ab u i, v e ns gran obado me des e ci deixou d nzentas e compan ter feit . Da o falta. hia uma Pra mim, sombrinh foi só u a. Pra el m peso. e, deve Ela não sabia qu e sabia falar.


ntavam para ssoas ainda se se pe as e qu em a oc Numa ép or à cultura uma época anteri , ar ss pa da vi a conversar e ver as finas se da, um par de pern na a pr o mp te o do não tenh pernas após dia, o par de a Di u. se mo co u mo aproximou e me to abria sol, se ajeitava e do er sc na o m co chegava junto pigarreava da minha solidão, se es ub so se mo Co o jornal. dia, nversa. Dia após co a ss No . so ur sc e começava seu di , cada palavra a mim, em voz alta pr a li , na gi pá página após Dia pós cias. Lia pra mim. tí no as s da to m mi impressa. Lia pra aproximava pernas finas se de r pa le ue aq , dia, durante anos smo a lugar que eu não iria me de a ez rt ce a m co sem pressa, al. Meu mpre o mesmo ritu Se o. aç br do o ix ba algum. O jornal de tro. Ou no veio. E nem no ou o nã .. a. di um e favorito. Até qu a em diante, o r que, daquele di ta ei ac e qu ve ti outro. E eu ltaria luz. aridade, mas me fa cl a ia ar tr re nascer do sol semp



atrás , Alice, curiosa, entrou no buraco Como foi bom quando aqui, do meu lado a de m de cada detalhe da odisséia guerreir do coelho. Lembro como se fosse onte andas Gale. Lembro do perfume doce das quit Ulisses e da viagem mágica de Dorothy de na boca e me lembravam da comilança da Bertoleza, que me deixavam com água eram Lady McBeth, Policarpo Sancho. Bem aqui, em cima de mim, morr de mim, Dona Flor amou dois Quaresma e Diadorim. Bem aqui, em cima inho e sua mente enlouquecida homens ao mesmo tempo, enquanto Bent Capitu. Vi Capitão Nemo imaginava se era ele o único amor de fugir de tudo aqui em cima, escolher a vida debaixo d´água pra única chance de fuga seria a enquanto Macabéa descobria que sua que se achava tão gente quanto morte. Aqui, bem aqui, dormiu Baleia, ia. ema... e dos lábios falantes de Emíl eu. Lembro dos lábios de mel de Irac s tentando ntrarem cura no amor e vi Brás Cuba Vi as deformações de Quasímodo enco com de sentir o peso de todas as amantes encontrar a fama na morte. E depois na mal sou obrigado a aguentar uma solteiro as quais Don Juan se deitou em mim, o bam ridícula e mal escrita, que se acha comida suspirando por uma personagem porra? orgasmos uma virgem. Quer pornografia, bam bam da conquista por fazer ter ue dessa s quando vier ler em cima de mim. Porq Que seja Marquês de Sade. Pelo meno o mais ca na praça em tarde de domingo, tenh porcaria que tem vendido mais que pipo já teve Macunaíma. preguiça do que toda a preguiça que




Certa vez, levaram-na para outro lugar. As más línguas preferiram dizer que ela simplesmente havia cansado de me ver todos os dias, inerte, sem ação, fitando-a como se não houvesse amanhã. Eu não, preferi acreditar, pelo resto dos meus dias, que ela apenas fora realizar nosso sonho de

conhecer o mar, apaixonou-se por ele e que, por fim, resolveu ficar. Era o que ela mais desejava nessa vida. E era uma das únicas coisas que eu não podia dar para ela nesse meu mundo particular. A liberdade. Não fico triste por isso. Falo sério. Triste mesmo é viver só de solidão.



há santo merda. Assim não de da vi a ss de nsei Puta que pariu! Ca quase m uma jamanta de mi de ma ci de ir a de sa que aguente! Acab a de nordestino em fest e qu do es jõ ro ltou mais 1 tonelada, que so unto. ! Por que, eu perg ha rc mu a nd bu se vem agora es São João... e me jeans osa de shortinho st go la ue aq m mi não senta em Por que?! Por que a que, eu cesa ali da esquin in pr la ue aq Ou nte? que passou pela fo lta tá correndo em vo e qu a E . ha in lc sem ca tenho certeza: tá sua a em mim com essa nt Se ! or am , ui aq da praça? Volta a madeira o mas garanto que lh ve Tô a! nh di la calça co ! u muito resistente tá firme! E eu so Ô, vida de merda!


Tem noite que eu odei o ser banco. Noite fr ia, com ou sem estrel a. Com ou sem a gostosa do prédio da esquina de camisola na varand a. Noite de fome. Noite de triste za e de vazio. Noite que vem sem eu ter a chance de aceitar ou não. Vem chegando descalça, ch eia de tranqueira de baixo do braço e com aquele cheiro de falta de banho qu e invade a praça mesm o quando com as damas da noite. Ve m chegando sem pressa , sem vontade. Sem op ção. A noite deita em cima de mim, agarrada às suas tral has e fazendo tremer até mesmo meus pés de ferro fi ncados no chão. Trem er de frio. Tremer co m a porra do frio a porra da no ite que de vez em qu ando me faz querer se r qualquer coisa, menos uma porc aria de um banco de praça inútil.




Quando chegu ei aqui, há dezenas de t rilhões de a nos, quando em ser o esp você nem son ermatozóide hava mais esperto , eu brilhav a. Era a per marca. Nem u feição. Nenh m único arra uma nhão. Nenhum a bosta de p ombo resseca açucarada. V da. Nenhuma irgem. E aí mancha veio você, a chando que e r a o dono do da bala chit lugar. O bon a. E aí veio itão você, tirand o da boca es sa borracha e, não sei p que não derr or que carga ete s d´água, ac hando que eu sou depósito veio você, m etendo o mão de lixo. E a zão embaixo í de mim pra p regar em min porcaria. Va has pregas e zia de gosto ssa , cheia de c uspe. Faz is s o porque não que passar p ela porra da sabe o que é restauração! ter P o r q u e n ã o sabe o que é vir fervendo uma lixa gig pra cima de ante você, queren do seu corpo . Que foi? T frescura? Po á achando qu is te digo, e é seu bosta: v ocê não ague nta nem no d volta aqui, edinho do pé que tô falan . E do com você! Adolescentes aprender a r de merda. Qu espeitar os ando é que v mais velhos? ão


Há quem não acredite, mas eu também já fui herói. Meu coração é bom. Sim, cambada de putos incrédulos, mesmo que no fundo, ele é bom. Houve uma vez em que Miguel, o vendedor de pipoca (que hoje é mais surdo e esclerosado que o Raul, aquele pombo cagão), se meteu numa confusão que eu nem consigo definir. Num entardecer de um domingo qualquer vendendo sua pipoquinha salgada, um delinquente filho de uma puta tentou furtar a bolsa de uma mulher que estava na fila. O espírito bondoso de Miguel fez com que ele corresse ferozmente atrás do bandido que, ao olhar pra trás pra ter certeza de que Miguel não o alcançaria, não percebeu que eu havia esticado minha perna metálica logo à frente, então tropeçou e foi ao chão como uma jaca rejeitada pelos galhos. Miguel, sem pestanejar, montou em cima do safado que, imóvel, pedia desculpas sem parar e prometia que devolveria a bolsa. Mesmo sem muito obrigado ou coisa do tipo, eu, herói por um dia, quem diria?




Passei a vida olhando pra lá . Quando cheguei, a fonte já existia. Mas vi a re forma da casa amarela e o nascimento de todos os pr édios ao seu redor, onde antes existiam outras casas. Acompanhei o crescimento das árvores e todos os casais de pássaros que, ao longo do te mpo, fizeram nelas seus ninhos. Eu me acostume i com os rostos e pés que por lá passavam todos os dias. E depois os esqueci, quando deixaram de passar. Eu sempre vi o nascer do sol. Nunca o vi se pôr. Nunca. Até agora. Não olho mais pra lá. Me mo veram. Me movi. O que vejo agora, além do pôr do so l? Vejamos...


IEC - PUC Minas Processos Criativos em Palavra e Imagem

A naelisa Scalon R aphael Felício R aquel Fávaro R icardo Faria

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