v2 ARTIGO Alexandre Castro Patricia Helena

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Projeto Teatro Shakespeare em Inglês: uma experiência de ensino de Língua Inglesa em curso de Jornalismo Alexandre Castro1 Universidade Positivo

Patrícia Helena Rubens Pallu2 Universidade Positivo

Resumo O presente trabalho tem o objetivo de relatar a experiência de busca de aperfeiçoamento do ensino de Língua Inglesa realizada em 2008 pelo curso de Jornalismo da Universidade Positivo. A experiência foi desenvolvida em atividade de extensão por meio do Projeto Teatro Shakespeare em Inglês e baseou-se na premissa de que atividades especiais facilitam o aprendizado de um segundo idioma por alunos de idade adulta. Um grupo de 23 alunos – com nível heterogêneo de conhecimento da Língua Inglesa – preparou durante oito meses a encenação de excertos de seis obras do dramaturgo inglês William Shakespeare. A estréia ocorreu em novembro, com resultados promissores. Palavras-chave: Ensino. Inglês. Jornalismo. Teatro.

Abstract This work has as its main goal to report on the 2008 experience on enhancing the teaching of English Language at the Journalism School at Positivo University. The experience was developed by the “Shakespeare in English Theater Project”, based upon the premise that special activities make the learning of a second language easier for adult students. A group of 23 students with heterogeneous levels of English worked for eight months on a theater production of excerpts from six works by British playwright William Shakespeare. The premiere was in November, showing promising results. Keywords: Teaching. English. Journalism. Theatre.

Introdução 1 Alexandre Castro é coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Positivo e diretor de Planejamento do Instituto Cultural de Jornalistas do Paraná, graduado em Jornalismo Gráfico e Áudio-Visual (UFRGS), especialista em Pensamento Contemporâneo Século 20 (PUCPR) e mestrando em Administração (Universidade Positivo). jornalismo@up.edu.br 2. Patrícia Helena Rubens Pallu é professora da Universidade Positivo e integrante do Conselho de Coordenação do curso de Jornalismo, graduada em Letras-Inglês (UFPR) e em Administração de Empresas (FAE), mestra em Educação e Cultura (UDESC), coordenadora do Centro de Línguas Positivo e orientadora de pesquisas da UFPR/SEED. patypalu@ gmail.com


Projeto Teatro Shakespeare em Inglês: uma experiência de ensino de Língua Inglesa em curso de Jornalismo

O presente trabalho tem o objetivo de relatar a experiência de busca de aperfeiçoamento do ensino de Língua Inglesa realizada em 2008 pelo curso de Jornalismo da Universidade Positivo, situada na cidade de Curitiba – Paraná, Brasil. A experiência foi desenvolvida por meio do Projeto Teatro Shakespeare em Inglês e baseou-se na premissa de que atividades especiais facilitam o aprendizado de um segundo idioma por alunos de idade adulta. Um grupo de 23 alunos – com nível heterogêneo de conhecimento da Língua Inglesa – preparou durante oito meses a encenação de excertos de seis obras do dramaturgo inglês William Shakespeare. A estréia ocorreu em novembro, com resultados promissores. O trabalho será dividido em seis seções. Após esta introdução, será feita uma breve exposição sobre a Universidade Positivo, destacando-se os seus valores e tradição em atividades culturais. Na sequência, será apresentado um histórico do Grupo de Teatro do Curso de Jornalismo, passando-se então à descrição do Projeto Teatro Shakespeare em Inglês, objetivo central do trabalho. À seção de conclusão seguir-se-ão as referências bibliográficas.

2 A Universidade Positivo A Universidade Positivo originou-se das Faculdades Positivo, criadas em 1988, e então compostas pelos cursos de Administração de Empresas, Administração Rural, Comércio Exterior, Pedagogia e Informática. Em 1999, foi implantado o Centro Universitário Positivo (UnicenP), que contava com um total de 18 cursos – os cinco das Faculdades Positivo e 13 novos: Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Ciências Econômicas, Ciências Contábeis, Turismo, Educação Física, Ciências Biológicas, Fisioterapia, Nutrição, Engenharia Civil, Engenharia da Computação, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica. Posteriormente, foram criados os cursos de Direito, Marketing, Design – Projeto de Produto, Design – Projeto Visual, Psicologia, Farmácia, Odontologia e Medicina. No dia 30 de janeiro de 2008, o Governo Federal autorizou a transformação do Centro Universitário Positivo em Universidade Positivo. Já sob esse status, em 2009 foi criado o 27º curso de graduação da instituição, o de Enfermagem. A Universidade Positivo conta também com os cursos de mestrado em Administração, Odontologia e Gestão Ambiental, de doutorado em Administração e dezenas de cursos de especialização e extensão. A Universidade está instalada desde o ano 2000 em um câmpus de 415 mil metros quadrados, no qual circulam diariamente 11 mil pessoas, entre alunos, professores e funcionários. São 170 mil metros quadrados de área construída, que abrigam 180 salas de aula, 190 laboratórios, 2.700 computadores, seis auditórios, 120 mil livros numa biblioteca de cinco andares, dois teatros – um deles o maior do Brasil –, o mais moderno Centro de Convenções do País, dois ginásios de esportes, campo de futebol 144 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO


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e 11 estacionamentos para 3.500 veículos. Essa infraestrutura é emoldurada por 245 mil quadrados de natureza, onde há um lago natural e inúmeras espécies de árvores nativas.

2.1 Valores A Universidade Positivo tem como missão formar não apenas profissionais competentes em suas especialidades, mas cidadãos com ampla formação cultural e capazes de entender o seu papel na sociedade. Essa missão é operacionalizada pelo desenvolvimento de quatro Valores Institucionais, assim definidos no Projeto Pedagógico Institucional da Universidade Positivo (2008): “SABER Saber é a consciência que o homem tem do universo e das teorias criadas para explicar a natureza, a vida e os seus mistérios. O homem cria o saber, e este o transforma, propondo-lhe novos desafios. O saber é a luz que permite, ao homem, escolher seu caminho. ÉTICA Ética é a arte de bem proceder, caminho único para se alcançar o bem supremo: a felicidade. Para tanto, não deve o homem apenas deixar de fazer o mal, mas fazer o bem sempre que possível, como forma de evitar algum mal que resulte de não haver praticado o bem. TRABALHO Trabalho é a aplicação das forças e faculdades humanas (razão, sentimento e vontade), para alcançar determinado fim. O verdadeiro trabalho não se faz só com as mãos, mas também com a razão e o coração; enquanto trabalha, o homem transforma a natureza, a sociedade e, principalmente, a si mesmo. PROGRESSO Progresso é movimento, marcha para a frente, avanço, evolução, melhoria, civilização e desenvolvimento, do qual resulta a acumulação de bens materiais e crescimento intelectual e moral capazes de transformar a vida e de conferir-lhe maior significado.”

2.2 Tradição em cultura O Grupo Positivo tem sólida tradição em incentivo a atividades culturais. Há 27 anos, por exemplo, publica anualmente, em formato de livro, o “Palavra Viva”, coletânea de poemas, contos, crônicas e outros textos literários escritos por professores, COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO | 145


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alunos e funcionários das suas escolas de Ensino Médio, selecionados por meio de concurso organizado pela Academia Paranaense de Letras. Do “Palavra Viva” inicial originaram-se o “Palavrinha Viva”, voltado à publicação de trabalhos dos alunos do Ensino Fundamental, e o “Palavra Viva” da área específica da Universidade Positivo. No âmbito da Universidade, a Pró-Reitoria de Extensão desenvolve, desde 2005, o projeto Domingo no Câmpus, que tem por objetivo popularizar a música erudita. Todos os domingos, às 11h, são promovidas no Teatro Positivo Pequeno Auditório, com capacidade para 800 lugares, apresentações como da Orquestra Sinfônica do Paraná, Camerata Antíqua de Curitiba, Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, Quarteto de Brasília, bem como de recitais-solo e corais, além do próprio Ensemble Universidade Positivo. Antes das apresentações é feita uma exposição didática contextualizando o período em que as obras foram escritas e a vida dos compositores, para que o público conheça mais sobre o programa. Os preços das apresentações são simbólicos – justamente pelo objetivo de incentivar e popularizar a cultura – e o público-alvo são não apenas os alunos, professores e funcionários da Universidade, mas a comunidade em geral. Ainda como exemplo de incentivo à cultura, a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Positivo desenvolveu, em 2008, o projeto Teatro Grego, em que professores e alunos encenaram excertos de tragédias gregas clássicas, e criou o Coral da Universidade Positivo, também formado por professores, alunos e funcionários. Além disso, o Grupo Positivo construiu, no câmpus da Universidade, o maior e mais moderno teatro do Brasil – o Teatro Positivo Grande Auditório, com capacidade para 2.500 expectadores. Inaugurado em março de 2008, com uma apresentação do tenor José Carreras, o teatro abriga apenas espetáculos de grande qualidade cultural.

3 O Grupo de Teatro do Curso de Jornalismo O Grupo de Teatro do Curso de Jornalismo foi criado em 1999, primeiro ano de funcionamento do então Centro Universitário Positivo. A idéia foi apresentada à coordenadoria do curso por um grupo de alunos que já cursavam Artes Cênicas em outra instituição de Curitiba. O Projeto Pedagógico de sustentação do Grupo foi construído sobre dois grandes pilares. O primeiro, de desenvolver nos alunos autoconfiança, auto-estima, capacidade de expressão, segurança para enfrentar platéias, capacidade de improviso, capacidade para trabalhar em equipe, redução da timidez e de problemas de relacionamento, entre outros. O segundo, de colocar os alunos em estreito contato com grandes obras da dramaturgia brasileira e mundial, aprofundando assim a sua formação cultural e humanística.

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Tais eixos do projeto, evidentemente, enriqueceriam a formação e as competências dos futuros jornalistas. No aspecto técnico, eles estariam melhor preparados para, por exemplo, atuarem em programas televisivos e radiofônicos e em entrevistas coletivas. E, no aspecto cultural, ficariam mais bem dotados de informações para aprofundarem os conteúdos de suas entrevistas, reportagens, artigos e matérias em geral. O Grupo de Teatro foi estruturado como Atividade de Extensão – portanto, não integrante da Grade Curricular do curso – e sem custos aos alunos. As aulas, de participação voluntária dos alunos, foram marcadas para os sábados pela manhã, com quatro horas de duração. A partir do ano seguinte, o ano 2000, foram abertas duas turmas: uma pela manhã, para os alunos que iniciariam suas atividades teatrais, e outra à tarde, para os alunos que já haviam participado de atividades teatrais, fosse no próprio curso, fosse por experiências em outros grupos ou instituições. Desde sua criação, o Grupo é dirigido por diretora teatral especialmente contratada, a professora Marília Gomes Ferreira, que, nos projetos em Língua Inglesa, mais adiante descritos, passou a atuar em conjunto com a professora Patrícia Helena Rubens Pallu. Em nove anos de funcionamento, o Grupo já teve a participação de mais de 300 alunos. Muitos deles atuaram durante os quatro anos do curso e mesmo depois de deixarem a instituição – de vez que a coordenadoria do curso reserva vagas para exalunos, dentro da filosofia de manter vínculos com os egressos. O Grupo já encenou 18 peças – três delas por dois e até três anos seguidos, tendo feito apresentações tanto nos auditórios e teatros da própria Universidade Positivo quanto em escolas de Curitiba e cidades da Região Metropolitana, e inclusive nas dependências da Câmara Municipal da Capital.

3.1 Eixos de atuação O trabalho do Grupo de Teatro do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo é desenvolvido em três vieses. O primeiro é o da encenação de grandes peças de autores brasileiros e internacionais, como, no caso das nacionais, “A Falecida”, de Nelson Rodrigues, e “O Bem Amado”, de Dias Gomes, e, no caso das estrangeiras, “A Mãe”, de Bertolt Brecht, “Um Inimigo do Povo”, de Henrik Ibsen, e “O Inspetor Geral”, de Nicolai Gógol – além de excertos de William Shakespeare, como adiante será descrito. O segundo viés é o de projetos sociais com textos especialmente produzidos. O primeiro desses casos, desenvolvido entre os anos de 2001 e 2002, foi o projeto Crianças Desaparecidas, realizado em parceria com a Organização Não-Governamental (ONG) Movimento em Defesa das Crianças Desaparecidas. O Paraná, especialmente nas décadas de 1980 e 1990, foi uma das regiões brasileiras mais atingidas pela chaga do sumiço de crianças – não somente bebês, mas na primeira infância – em circunstâncias nunca esclarecidas.

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Nesta peça, de cunho didático e lúdico, dirigida para crianças de até cerca de 10 anos de idade, eram expostas as principais situações de riscos de raptos. Encenada em dezenas de escolas, em intenso trabalho voluntário dos alunos – que chegavam a fazer até três apresentações por semana –, a peça foi assistida por nove mil crianças. O segundo projeto de cunho social, desenvolvido nos anos de 2006, 2007 e 2008, foi Criança Segura, realizado em parceria com a Organização Não-Governamental Criança Segura e com a Secretaria Municipal de Educação de Curitiba. Nesta encenação, também de caráter didático e lúdico, são retratados os principais riscos de acidentes com as crianças – tanto domésticos quanto de trânsito e em parques. Igualmente apresentada em sistema de frequentes apresentações voluntárias pelos alunos, a peça já foi assistida por 17 mil crianças, de centenas de escolas da Capital e de municípios vizinhos. O terceiro projeto de cunho social foi dirigido a outra chaga da sociedade brasileira – o drama do abuso sexual infantil. Coletânea de casos reais, a peça “É um assassinato mas não é um crime” foi encenada inicialmente, em 2007, para alunos, professores e funcionários da Universidade Positivo. Posteriormente, em 2008, a pedido da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, foram feitas quatro apresentações especiais para os 1.200 funcionários daquela instituição que trabalham em todas as escolas da rede pública da cidade e lidam com adolescentes em potencial situação de risco. E o terceiro viés dos trabalhos do Grupo passou a ser, a partir de 2008, o de buscar novas formas de ensino da Língua Inglesa para alunos adultos. Tal eixo pedagógico, centro do presente trabalho, será adiante detalhado.

3.2 Espetáculos A seguir, apresentamos a relação completa das peças encenadas pelo Grupo de Teatro do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo entre os anos de 1999 e 2008. PEÇAS ENCENADAS ENTRE 1999 E 2008 ESPETÁCULO O Bem Amado O Crime Roubado A Falecida Controle Remoto A Mãe Crianças Desaparecidas Crianças Desaparecidas Elas Por Eles Uma História do Velho Oeste

AUTOR Dias Gomes João Bettencourt Nelson Rodrigues Adaptação de obra de Luis Fernando Verissimo Bertolt Brecht Marília Ferreira Marília Ferreira Colagem de textos de vários autores Marília Ferreira

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ANO 1999 2000 2000 2001 2001 2001 2002 2002 2003


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Todos Contra o Rei Lisístrata – Ou A Greve do Sexo Um Inimigo do Povo Delírios O Palácio dos Urubus O Inspetor Geral O Inspetor Geral Criança Segura Criança Segura É Um Assassinato Mas Não É Um Crime Criança Segura Como Revisar um Marido Shakespeare’s Dreams

Marília Ferreira: Adaptação de obra de Mário Frias Aristófanes Henrik Ibsen Marília Ferreira: Adaptação de obra de Woody Allen Ricardo Meirelles Nicolai Gógol Nicolai Gógol Marília Ferreira/ONG Criança Segura Marília Ferreira/ONG Criança Segura Marília Ferreira

2003

Marília Ferreira/ONG Criança Segura Oraci Gemba Marília Ferreira: Adaptação de obras de William Shakespeare

2008 2008 2008

2003 2004 2004 2005 2005 2005 2006 2007 2007

4 Projeto Teatro Shakespeare em Inglês Objeto de permanentes inovações, o Grupo de Teatro do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo ampliou, no início de 2008, não apenas a sua estrutura e suas atividades, mas o seu próprio Projeto Pedagógico. A coordenadoria do curso decidiu implantar o Projeto Teatro Shakespeare em Inglês. Com ele, seria, por um lado, dado prosseguimento aos dois pilares iniciais da criação do Grupo – possibilitar aos alunos o desenvolvimento de capacidades pessoais que melhoram o seu desempenho técnico como jornalistas (maior desenvoltura, autoconfiança, capacidade de expressão etc) e aproximá-los de grandes obras do pensamento humano. Além disso, no entanto, o projeto tinha o objetivo de implantar um novo eixo pedagógico ao Grupo: o de auxiliar no ensino da Língua Inglesa para alunos adultos, utilizando meios lúdicos que favorecem o rompimento de barreiras de aprendizado. Para o desenvolvimento do projeto, foi designada uma professora de Língua Inglesa para orientar os alunos e formada uma nova turma do Grupo – desta vez aberta também à participação de alunos do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade. A seguir, apresentaremos as linhas gerais do embasamento pedagógico do projeto.

4.1 Por que Inglês?

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Os Estados Unidos saíram da Segunda Guerra Mundial como a primeira potência mundial da história, e são conhecidos os estudos do seu Departamento de Estado – executados sempre que surgiram oportunidades – para subordinar aos interesses econômicos do país àquilo que denominaram de “Grande Área”, composta pelo Hemisfério Ocidental, a Europa Ocidental, o Oriente, o antigo Império Britânico, as grandes fontes de energia do Oriente Médio, o resto do Terceiro mundo e, se possível, o mundo inteiro. (CHOMSKI, 1996, PALLU, 2008). Independentemente de juízo de valores, após a Segunda Guerra Mundial tornou-se clara a influência econômica e cultural dos EUA no Brasil e no mundo, e a solidificação do uso da língua inglesa nas comunicações em âmbito internacional. Estimativas de Crystal, ainda em 1997 (apud Pallu, 2008, p. 27), davam conta de que 75% de toda a comunicação por escrito entre os continentes, 80% da informação armazenada nos computadores de todo o mundo e 90% do conteúdo da internet estivessem em Inglês. “Atualmente, a busca de informação e a necessidade de comunicar-se em nível mundial fizeram da Língua Inglesa o idioma mais aceito internacionalmente. (...) Como foi dado ao Inglês o papel de língua global, esse idioma se tornou uma das ferramentas mais importantes para o indivíduo, tanto do ponto de vista acadêmico quanto profissional” (Pallu, 2008: 28).

Na mesma obra, retratando a penetração da Língua Inglesa no Brasil, a autora observa que desde o momento em que a classe média acorda e a classe menos favorecida pula da cama para ir trabalhar, o povo brasileiro é bombardeado por palavras de Língua Inglesa, cujo significado, frequentemente, não é entendido por muitos daqueles que as ouvem. Escova-se os dentes com Close Up, Colgate ou Phillips. Usa-se meias Hangten, tênis Nike, Reebok, Snoopy; calças feitas com blue jeans. Depois de vestir-se com Master Stormy, Golden Cup, Copper Summer Lina, ou tantas outras marcas de roupas, as pessoas vão até a cozinha, sobretudo as de classe média, em busca do café da manhã. Comem biscoitos cream-cracker, waffles ou cookies com o café a ser mantido na garrafa térmica Aladdin Pump-A-Drink. Os estudantes ao sair para o colégio pegam sua mochila da Kipling com seus objetos: canetas Roller Ball da Parker, Bic Soft Touch, Paper Mate, Uniball, Pentel ou um Pilot que estão dentro do estojo made in Taiwan. Ao entrar numa lanchonete pede-se uma light-coke e come-se um hot-dog, um hamburger ou um cheeseburger. Nos finais de semana pode-se ir a uma steak house, ou ao restaurante self-service. E à noite toma-se um whisky em um scotch bar e depois sai-se para dançar num disc club. A Língua Inglesa está presente nos quatro cantos de uma residência onde aparelhos de rádio, televisão, vídeo, etc. são ligados e desligados com as indicações on e off. Nos catálogos comerciais, de academias a auditores, encontram-se Academia Muscle Ltda, Steel Center Ltda, Bic Loc, Trade Center, Golden Center, Selfs Alimentos 150 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO


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Ltda, Holly Mix Comida Kilo, Rubberplast Indústria e Comércio, Help, Habit, World Sales Corretagem, Price Waterhouse Auditores, Academia Be Happy, Body Center, Master Gym. Na procura por um imóvel de alto padrão para comprar, tem-se que usar um dicionário Português-Inglês para entender a descrição dos imóveis e fazer a escolha. Os imóveis podem possuir penthouse gardens, suítes master, flat service, coffee shops, e um brasileiro que não aprendeu Inglês não saberia dizer se essas peculiaridades deixam o imóvel melhor ou não. Enfrenta-se atualmente, até, o problema da adoção do “gerundismo”, que pode ter se originado das traduções literais de expressões em Inglês tais como: “I’ll be putting you through” (“Eu vou estar transferindo a sua ligação”), que são indiscriminadamente utilizadas, por exemplo, pelos operadores de telemarketing – treinados com manuais americanos traduzidos sem o cuidado de identificar que a melhor tradução para o português brasileiro de “I’ll be putting you through” não é “Eu vou estar transferindo a sua ligação”, mas “Eu vou transferir a sua ligação”. Diante do quadro brasileiro, que poderia ser ampliado indefinidamente (e reiterando que aqui não se está entrando em juízo de valores), pode-se afirmar que aprender a Língua Inglesa neste início de milênio é tão importante quando aprender uma profissão. O idioma Inglês é necessário para a vida atual porque em muitas profissões é indispensável pelo menos um certo domínio de Inglês. Alguns motivos que levam as pessoas a estudar Inglês são: conseguir um bom emprego, promoção de cargos nas empresas, fazer turismo, conseguir uma bolsa de estudos para o Exterior, usar a internet, entre outros. É muito comum, inclusive, a publicação de artigos em Inglês em revistas editadas no Brasil pela comunidade científica. O argumento é que com isso a revista científica pode circular e ser lida nos países do Exterior, enquanto se ela fosse publicada em Português sua circulação seria restrita ao Brasil. Com isso, o Brasil não daria a conhecer suas produções científicas no Exterior, porque o Português não é uma língua universal, como é o caso do Inglês.

4.2 As dificuldades do aluno adulto São evidentes as dificuldades dos adultos em geral de aprender um segundo idioma. Enquanto as crianças apresentam grande facilidade, adquirindo compreensão perfeita, fluência e pronúncia igual à dos nativos da língua, os adultos enfrentam inúmeras dificuldades e bloqueios, não raro intransponíveis. Trata-se de um cipoal psicológico que faz com que, ao se aprender uma segunda língua em idade adulta, esteja-se como que assumindo uma nova identidade – o que pode ser aterrorizante. Pode também haver resistências do adulto de assimilação do idioma de países com os quais ele cultiva divergências culturais, políticas, econômicas e sociais. E há, ainda, dificuldades apontadas em relação à própria idade do aprendiz e aos métodos didáticos utilizados pelas escolas (PALLU, 2008). COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO | 151


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Na obra, analisando os trabalhos de numerosos autores, como Pinker (2002) e Lenneberg (1967), Chomski (1996), Freud (1911, 1914), Revuz (2002), Signorini (2002), Rajagopalan (2003) e Krashen (1988), a autora detém-se, entre outros, em três aspectos principais.

4.2.1 A idade do aprendiz Um deles é o da idade do aprendiz. Segundo Pinker (2002), o sucesso em aprender uma segunda língua em idade adulta em situação de sala de aula existe mas é raro e depende de “puro talento”. Ele defende a hipótese de que a aquisição de uma linguagem normal, isto é, a primeira língua, é garantida até a idade de seis anos; é comprometida de seis até pouco depois da puberdade; e é rara desse momento em diante. Ele especula sobre o “período crítico” e o explica por mudanças maturacionais no cérebro, que podem ser o declínio da taxa de metabolismo e do número de neurônios durante a idade escolar e de diminuição do metabolismo e do número de sinapses cerebrais na adolescência. Teórico do “instinto” da linguagem, sua especulação pauta-se pela linha do desenvolvimento físico e fisiológico do organismo e, em razão disso, ele supõe que a partir da adolescência adquirir uma segunda língua tornar-se-ia difícil, pois nos aspectos biológicos o organismo já atingiu a maturidade, e que a partir dessa faixa etária o processo de aprender será sempre mais difícil, mais demorado e, talvez, não possa mais se realizar a contento, pelo menos quando comparado com a aprendizagem em tempo mais favorável, que seria dentro do “período crítico”. Também Lenneberg , (Lenneberg ,1967: 158) é enfático nessa linha: “Depois da puberdade, a capacidade de auto-organização e ajuste às demandas psicológicas do comportamento verbal declinam rapidamente. O cérebro comporta-se como se tivesse se fixado daquela maneira e as habilidades primárias e básicas não adquiridas até então geralmente permanecem deficientes até o fim da vida”.

4.2.2 Uma nova identidade? Autores como Revuz (apud Signorini, 2002) apontam que toda a tentativa de aprender uma outra língua vem perturbar, questionar, modificar aquilo que está escrito em cada um com as palavras da sua primeira língua. Muito antes de ser objeto de conhecimento, a língua seria o material fundador de nosso psiquismo e de nossa vida relacional. Dito de outra forma, ao aprender um segundo idioma em idade adulta pode parecer ao aprendiz que está adquirindo uma segunda identidade – o que pode causar temor e, em decorrência, rejeição. “Iniciar o estudo de uma língua estrangeira é colocar-se em uma situação de

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total ignorância, é retornar ao estágio de infans, do bebê que ainda não fala. É retornar ao estágio de impotência no se fazer entender. Isso é reforçado quando o método utilizado é o que privilegia o trabalho oral que focaliza sons e ritmos. Esse método de apropriação pela boca dos novos sons parece que não é ‘natural’, se levarmos em conta os risos que provoca em quem nos ouve e os bloqueios que suscita no aprendiz (...) Pode haver aí um sentimento de impotência que pode parecer com o desamparo. Agora já não sei dizer o que quero? Estou à mercê dos outros? Perdi minha identidade, minha autonomia?”. (Pallu, 2008: 132).

Rajagopalan (2003) também reforça que quem aprende uma língua nova está se redefinindo como pessoa nova. E é difícil para muitos adultos tornar-se um outro eu – eles temem perder a identidade materna, temem esse outro eu ainda desconhecido. O envolvimento afetivo vivido na infância na aquisição da língua materna – e que não existe em sala de aula – pode gerar desmotivação, fixidez na língua materna, preconceito contra línguas, recusa em adquirir uma outra identidade linguística, sentimento de que não vai conseguir, antipatia com o professor, entre outras.

4.2.3 Dificuldades metodológicas Outro fator que dificulta o aprendizado de uma segunda língua em idade adulta são as metodologias utilizadas por inúmeras escolas. Uma delas é a que se baseia na crença de que a aprendizagem ocorre numa sequência – ouvir, pensar, falar, ler e escrever, quando, na realidade, o pensamento e a fala estão inter-relacionados, isto é, um não se constrói separado do outro, e no adulto esse processo deve ser orientado nessa ordem. Há escolas que se assentam em metodologias tradicionais desatualizadas – como as de simples tradução de palavras e frases prontas. Em geral, tais metodologias cultivam alunos submissos e passivos, que acreditam que é o professor quem sabe e ensina, não percebendo que é o aprendiz, pelo seu próprio esforço, quem se apropria do conhecimento.

4.3 Por que Shakespeare? Poucas escolhas poderiam ter mais numerosos e sólidos motivos para adequar-se ao eixo do projeto pedagógico do Grupo de Teatro de aproximar os alunos dos grandes autores da dramaturgia mundial. Amplamente considerado o maior dramaturgo de todos os tempos, William Shakespeare (1564-1616) descreveu com rara profundidade, ao longo de 38 peças que chegaram até nosso tempo, toda a gama dos mais complexos sentimentos humanos. Para a encenação, foram escolhidos excertos de seis de suas obras. Para retratar o amor em toda a sua plenitude e lirismo, o texto, naturalmente, foi COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO | 153


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o de Romeu e Julieta – com a tocante despedida de Julieta a seu amado: “Parting is such a sweet sorrow that I could say good night till it be tomorrow” – a despedida é uma tristeza tão doce que eu poderia dizer boa noite até amanhã... A luta pelo poder esteve em Macbeth – que assassina o rei para usurpar-lhe o trono. A descrição do arrependimento, em todo o seu desespero, recaiu na enlouquecida Lady Macbeth – que inspirou o marido ao crime e passou a sentir nas mãos o cheiro do sangue que “nem todos os perfumes das Arábias” fariam desaparecer. A vingança – o fantasma do rei morto persuade o filho: “Escuta, Hamlet. Se algum dia amaste teu carinhoso pai, vinga o seu assassínio estranho e torpe”. A traição e a infidelidade – sem confiar em mulher alguma, Benedito desafia Maria: “Se em qualquer tempo provardes que eu perdi mais sangue com o amor do que possa recuperar com o vinho, arrancai-me os olhos e pendurai-me à porta de um bordel, com o emblema do cego Cupido...” A transcendência – “There are more things in heaven and earth, Horatio, that are dreamt of than in your philosophy”, há mais coisas no céu e na terra do que sonha sua filosofia. A vida e a morte – ser ou não ser, eis a questão... Dormir, morrer, mais nada... “To be or not to be – that is the question. What is nobler in the mind to suffer the slings and arrows of outrageous fortune or to fight against a sea of troubles...” A magia – as fadas e os duendes que Próspero libertou das rochas e que agora trabalham para ele… Escritas há mais de 400 anos, as obras de Shakespeare mantêm permanente atualidade. E, ainda justificando pedagogicamente a sua escolha, é de se ressaltar que, apesar da popularidade do nome Shakespeare, e mesmo do fato de que vários trechos de suas obras transformaram-se em ditos populares – “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”, “ser ou não ser, eis a questão” etc –, tinha-se como certo (e como realmente se verificou depois) que boa parte das platéias estaria assistindo Shakespeare pela primeira vez.

4.4 Resultados do projeto Inscreveram-se no Projeto Teatro Shakespeare em Inglês 23 alunos – 15 moças e oito rapazes – dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Sob direção cênica da professora Marília Gomes Ferreira e direção em Língua Inglesa da professora Patrícia Helena Rubens Pallu, a turma trabalhou nas manhãs de sábado de março a novembro de 2008. O nível de domínio da Língua Inglesa pelos alunos era bastante heterogêneo – na verdade, pela própria natureza do projeto, não havia pré-requisito de conhecimento.

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Alexandre Castro - Patrícia Helena Rubens Pallu

Alguns alunos haviam estudado Inglês desde crianças, tendo fluência e pronúncia perfeitas, outros haviam inclusive feito intercâmbios no Exterior, enquanto muitos situavam-se entre um nível de conhecimento do iniciante ao intermediário. Os alunos que entraram no Grupo com domínio da língua tiveram a oportunidade de aprimorar a sua pronúncia e entonação, além de praticar sua capacidade de improviso na língua estrangeira. Percebeu-se também durante os ensaios que alguns alunos possuíam ótimo conhecimento da língua, mas nunca haviam sentido necessidade de usá-la, o que os havia deixado inseguros em situações reais de comunicação verbal. Esses alunos tiveram a oportunidade de vencer seus medos de falar Inglês em público durante os ensaios e no dia da estréia enfrentaram a platéia com segurança. Havia no Grupo duas alunas cujo conhecimento de Inglês era bem básico. Ambas tiveram uma atitude muito positiva em relação à sua suposta desvantagem perante o restante do Grupo e com sua dedicação nos ensaios obtiveram um resultado final surpreendente. Uma delas conseguiu até improvisar uma fala num momento em que seus colegas de cena haviam perdido uma sequência de falas. A peça estreou com sucesso dia 24 de novembro, com apresentação no Teatro Positivo Pequeno Auditório, para um público composto por professores, alunos e funcionários da Universidade, além de amigos e familiares dos alunos/atores. Em 2009, será dada continuidade aos trabalhos em Língua Inglesa no Grupo de Teatro – com textos ainda a serem definidos – para possibilitar uma análise mais acurada dos resultados na aquisição de conhecimento de um segundo idioma por aprendizes adultos.

5. Conclusão O presente trabalho teve o objetivo de relatar a experiência de busca de aperfeiçoamento do ensino de Língua Inglesa realizada em 2008 pelo curso de Jornalismo da Universidade Positivo, situada na cidade de Curitiba – Paraná, Brasil. A experiência foi desenvolvida por meio do Projeto Teatro Shakespeare em Inglês e baseou-se na premissa de que atividades especiais facilitam o aprendizado de um segundo idioma por alunos de idade adulta. Um grupo de 23 alunos – com nível heterogêneo de conhecimento da Língua Inglesa – preparou durante oito meses a encenação de excertos de seis obras do dramaturgo inglês William Shakespeare. A estréia ocorreu em novembro, com resultados promissores. O projeto terá continuidade em 2009 para, por meio de textos diversificados, possibilitar uma análise mais acurada dos resultados na aquisição de conhecimento de um segundo idioma por aprendizes adultos.

6. Referências

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Projeto Teatro Shakespeare em Inglês: uma experiência de ensino de Língua Inglesa em curso de Jornalismo

CHOMSKI, N. O que o Tio Sam realmente quer. 2 ed. Brasília, UnB, 1996. CRYSTAL, D. The Cambridge encyclopaedia of language. 2 ed. Cambridge University Press, 1997. FREUD. S. O inconsciente. In: A história do movimento psicanalítico. Artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1914. __________ O caso de Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos. ESB, v. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1911. KRASHEN, D. Second language acquisition and second language learning. London: Prentice-Hall International, 1988. LENNEBERG, E. H. Biological Foundations of Language. New York: Wiley, 1967. PALLU, P. H. R. Língua Inglesa e a dificuldade de aprendizagem da pessoa adulta. Curitiba, Pós-Escrito, 2008. PINKER, S. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem. São Paulo, Martins Fontes, 2002. RAJAGOPALAN, K. Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. REVUZ. In: SIGNORINI, I. (org.) Lingua(gem) e identidade: elementos para uma discussão. São Paulo, Fapesp, 2002. SHAKESPEARE, W. Obras citadas: A tempestade, Hamlet, Macbeth, Muito barulho por nada, Romeu e Julieta, Sonhos de uma noite de verão. SIGNORINI, I. (org.) Lingua(gem) e identidade: elementos para uma discussão. São Paulo, Fapesp, 2002. UNIVERSIDADE POSITIVO. Projeto Pedagógico Institucional, Curitiba, 2008.

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