TFG Arquitetura: Espaço MIAL - Centro de Cultura e Memória - Memória de Gato Preto (Cajamar) e Perus

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espaço Misto de Incentivo ao Aprendizado

Figura 01: Esplanada de Gato Preto Fonte: Diário de Cajamar editado pelo autor

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Lembrança

Figura 02: A Tube Spring Fonte: Peñalver editado pelo autor


Efímero es algo breve, de poca duración. Efímero es un segundo en tu historia. Efímera es tu historia en la historia de la humanidad. La humanidad es efímera. Las cosas materiales son efímeras. Esto es una cachipolla.

Solo vive uno o dos dias. También lo inmaterial es efímero. Una mirada, un orgasmo, un saludo, un susto, un beso. Efímero es este color. este. e este. También las cosas que no son y las que ya no son pero fueron algún día: Esos días en la playa, ese dios al que rezaste, esa euforia que sentiste. Incluso la próxima persona que conozcas. Son efímeros los “likes” de tu foto de perfil. Y tu seguidores. Todo sucumbe ante la fugacidad del tiempo. El tiempo convierte en efímera toda existencia y pensamiento. Y es que al fin del cabo, todos somos cachipolla. Por: Francis J. Quirós (Cucko)

Figura 03: Vanitas (Bombolles) Fonte: TRIVIÑO, Albert editador pelo autor


Sumário

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espaço Misto de Incentivo ao Aprendizado e a Lembrança

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora do curso de Arquitetura e Urbanismo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob orientação da professora Carolina Maria Bergamini de Lima. Richard de Melo da Silva 2020

JUSTIFICATIVA O QUE É CULTURA? CENTROS CULTURAIS CONTEXTO HISTÓRICO SITUAÇÃO ATUAL ANÁLISES DO TERRITÓRIO PROPOSTAS VIABILIDADE DO PROJETO PROGRAMA CONCEITO E PARTIDO PLANO DE MASSAS FLUXOGRAMA PLANTAS CORTES PERSPECTIVAS

14 16 20 32 58 72 112 126 128 130 132 146 148 164 172


Lista de Figuras

Figura 36: Escombros das casas em 2013

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Figura 37: Indicação do Gato Preto como patrimônio Cultural em 2012

66

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Figura 38: Voluntários em Perus

66

Figura 02: A Tube Spring

1

Figura 39: O Eco-museu em Perus

67

Figura 03: Vanitas (Bombolles)

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Figura 40: Mapa de localização do município de Cajamar

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Figura 01: Esplanada de Gato Preto

Figura 04: Demolição do Gato Preto em 2013

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Figura 41: Mapa Composição de Cajamar

Figura 06: Frans Boas com roupas de pele natural dos Inuit, 1885

15

Figura 42: Mapa Presença indsutrial no município

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Figura 07: Centro Cultural Georges Pompidou - Paris, França

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Figura 43: Complexo Prologis 1

74

Figura 08: Centro Cultural São Paulo - São Paulo, SP

18

Figura 44: Centro de Distribuição Cajamar (Marabraz)

74

Figura 09: Centro Cultural Jabaquara, São Paulo, SP

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Figura 45: Complexo Prologis 2

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Figura 12: Lista de traços utilizados no questionário

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Figura 46: Maap Presença cultural no município

77

Figura 13: Centro de arte “Shed”, acima do High

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Figura 47: Biblioteca Municipal em Jordanésia

78

Figura 14: Escala de 10 pontos para mensuração da personalidade de marca

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Figura 48: Centro Cultural de Polvilho

78

Figura 15: Média dos traços de personalidade de cidades

26

Figura 49: Casa da Cultura em Jordanésia

78

Figura 16: Construção de um forno metálico - 1912

31

Figura 50: Centro de Eventos Walter Ribas, o “Boiódromo”

79

Figura 17: Locomotiva e operários em uma das pedreiras de Gato Preto

33

Figura 51: Mapa Composição do distrito de Jordanésia

81

Figura 18: Mina de calcário em Água Fria

34

Figura 52: Av. Joaquim Barbosa, presença de comércios e bancos

82

Figura 19: Carregamento de calcário com destino a Perus – 1970

35

Figura 53: Av. Domingos Alonso Lopes, forte presença de super mercados

82

Figura 20: Mapa Geral da Estrada de Ferro Perus Pirapora

36

Figura 54: Foto aérea do distrito de Jordanésia

83

Figura 21- Vagonete carregado vindo das pedreiras de Gato Preto aprox. 1940

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Figura 55: Mapa Composição do bairro Gato Preto

85

Figura 22- Fábrica de Cimento em Perus (CBCPP)

41

Figura 56: Mapa Principais localidades do bairro Gato Preto

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Figura 23: Esporte Clube Gato Preto aprox. 1950

42

Figura 57: Mapa uso e ocupação do bairro Gato Preto

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Figura 24: Escola em Gato Preto aprox. 1980

42

Figura 58: Mapa condicionantes físicas do bairro Gato Preto

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Figura 25: O “M”, vagão misto

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Figura 59: Foto aérea do bairro Gato Preto

93

Figura 26: Edificações do Gato Preto extinto

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Figura 60:Acesso principal da Casa das Histórias Paula rego

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Figura 27: epósito de cimento em um silo na Portland

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Figura 61: Casa das Histórias Paula Rego, destaque para materialidade e aberturas

97

Figura 28: Passeatas dos pelegos e queixadas em nome dos trabalhadores

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Figura 62: Planta do pavimento térreo Casa das Histórias Paula Rego

98

Figura 29: Pavimentação de trecho da via anhanguera em 1947

51

Figura 63: Implantação Casa das Histórias Paula Rego

99

Figura 30: 100 de anos de Gato Preto: Linha do tempo do bairro de 1914 à 2014

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Figura 64: Centro Cultural Comunitário Teotitlán del Valle na paisagem

100

Figura 31: Gato Preto alagado em 2016

55

Figura 65: Plantas Centro Cultural Teotitlán del Valle

101

Figura 32: Terreno em que existiam edificações de serviço e moradia

57

Figura 66: Sala de exibição textil Centro Cultural Teotitlán del Valle

102

Figura 33: Moradias em renque no Gato Preto em 2020

59

Figura 67: Torres de Satélite

104

Figura 35: A quadra do bairro destruída em 2013

63

Figura 68: Torres de Satélite e a escala da cidade

105

Figura 34: Brinquedos deixados para trás em 2013

63

Figura 69: Torres de Satélite na cidade noturna

107

6

7


Figura 70: Compilado das propostas

111

Figura 54: Foto aérea do distrito de Jordanésia

83

Figura 71: Mapa de mobilidade do bairro Gato Preto

113

Figura 55: Mapa Composição do bairro Gato Preto

85

Figura 72: Mapa Zoneamento existente no Gato Preto

114

Figura 56: Mapa Principais localidades do bairro Gato Preto

87

Figura 73: Mapa Proposta de um novo zoneamento para o Gato Preto

115

Figura 57: Mapa uso e ocupação do bairro Gato Preto

89

Figura 74: Foto aérea do terreno do projeto

118

Figura 58: Mapa condicionantes físicas do bairro Gato Preto

91

Figura 75: Dimensões do terreno do projeto

119

Figura 59: Foto aérea do bairro Gato Preto

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Figura 77: Compilado dos materiais usados

121

Figura 60:Acesso principal da Casa das Histórias Paula rego

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Figura 78: Possiveis públicos para o projeto

123

Figura 61: Casa das Histórias Paula Rego, destaque para materialidade e aberturas

97

Figura 79: Carregamento de calcário com destino a Perus - 1970

125

Figura 62: Planta do pavimento térreo Casa das Histórias Paula Rego

98

Figura 80: Diagrama de partido arquitetônico do projeto

126

Figura 63: Implantação Casa das Histórias Paula Rego

Figura 81: Colagem do conceito do projeto

127

Figura 64: Centro Cultural Comunitário Teotitlán del Valle na paisagem

100

Figura 82: Elevação e repetição presentes no bairro Gato Preto

127

Figura 65: Plantas Centro Cultural Teotitlán del Valle

101

Figura 83: Croquis de evoluções projetuais

128

Figura 66: Sala de exibição textil Centro Cultural Teotitlán del Valle

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Figura 84: Plano de massas enviado na primeira entrega

131

Figura 67: Torres de Satélite

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Figura 85: Diagrama explicativo sobre a modulação do projeto

132

Figura 68: Torres de Satélite e a escala da cidade

105

Figura 86: Modulação geral do projeto

133

Figura 69: Torres de Satélite na cidade noturna

107

Figura 87: Croquis com intenções de fachada

134

Figura 70: Compilado das propostas

111

Figura 88: Renderização com destaque para Pav. superior

138

Figura 71: Mapa de mobilidade do bairro Gato Preto

113

Figura 89: Corte com destaque para cobertura metálica

138

Figura 72: Mapa Zoneamento existente no Gato Preto

114

Figura 90: Diagramas de insolação e ventilação

139

Figura 73: Mapa Proposta de um novo zoneamento para o Gato Preto

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Figura 91: Coeficientes de construção do projeto

140

Figura 74: Foto aérea do terreno do projeto

118

Figura 92: Galpão “invadindo” bairro residencial

141

Figura 75: Dimensões do terreno do projeto

119

Figura 93: Fluxograma do projeto

143

Figura 77: Compilado dos materiais usados

121

Figura 94: Plantas do Projeto

147

Figura 78: Possiveis públicos para o projeto

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Figura 95: Cortes do projeto

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Figura 79: Carregamento de calcário com destino a Perus - 1970

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75

Figura 80: Diagrama de partido arquitetônico do projeto

126

Figura 46: Maap Presença cultural no município

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Figura 81: Colagem do conceito do projeto

127

Figura 47: Biblioteca Municipal em Jordanésia

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Figura 82: Elevação e repetição presentes no bairro Gato Preto

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Figura 48: Centro Cultural de Polvilho

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Figura 83: Croquis de evoluções projetuais

128

Figura 49: Casa da Cultura em Jordanésia

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Figura 84: Plano de massas enviado na primeira entrega

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Figura 50: Centro de Eventos Walter Ribas, o “Boiódromo”

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Figura 85: Diagrama explicativo sobre a modulação do projeto

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Figura 51: Mapa Composição do distrito de Jordanésia

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Figura 86: Modulação geral do projeto

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Figura 52: Av. Joaquim Barbosa, presença de comércios e bancos

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Figura 87: Croquis com intenções de fachada

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Figura 53: Av. Domingos Alonso Lopes, forte presença de super mercados

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Figura 88: Renderização com destaque para Pav. superior

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Figura 96: Perspectivas do projeto

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171Figura 45: Complexo Prologis 2

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Figura 89: Corte com destaque para cobertura metálica

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Figura 90: Diagramas de insolação e ventilação

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Figura 91: Coeficientes de construção do projeto

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Figura 92: Galpão “invadindo” bairro residencial

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Figura 93: Fluxograma do projeto

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Figura 94: Plantas do Projeto

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Figura 95: Cortes do projeto

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Figura 96: Perspectivas do projeto

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JUSTIFICATIVA Desde a década de 2010, o distrito de Jordanésia, no município de Cajamar, região metropolitana de São Paulo, vem sofrendo com um processo intensificação de urbanização. Emcabeçados pelas industrias e condomínios logísticos, esses grandes empreendimentos são os principais ativos econômicos do município e ocupam cada vez mais espaço na cidade. Enquanto esse setor cresce com grande facilidade em Cajamar, a cena cultural da cidade não acompanha o progresso com a mesma velocidade. Não há na cidade uma rede consistente de equipamentos culturais, os estabelecimentos voltados a cultura não recebem atenção e investimento devido e até pouco tempo atrás essas edificações voltadas a cultura eram de caráter de improvisação, com antigos galpões casas ou academias sendo alugadas e transformadas em centros culturais. Entre outras ignorâncias está o bairro do Gato Preto. O primeiro bairro de Cajamar. Ajudou a formar o município. Foi arrasado pela metade em 2013 e hoje vive em uma espécie de transitoriedade permanente. Ninguém sabe se o lugar vai ou fica. Se vai se consolidar ou desaparecer de vez. A proposta de um centro de cultura e memória no bairro busca reafirmar a presença e o desejo de ficar, dos moradores. Assim como criar uma alternativa cultural para todos os moradores do município que tanto carecem de um bom espaços públicos e de cultura. Se afastando de uma proposta bairrista, o projeto foi pensado para que o público de outras regiões também possam visitar o espaço e conhecer a sua história, reforçando o desejo de consolidação do bairro. Por fim, não poderia deixar de dizer que o trabalho é também uma homenagem à história do bairro que documenta as origens da Cajamar, município onde onde cresci e vivo. 12

Figura 04: Demolição do Gato Preto em 2013 Fonte: Oloeaê Filmes editado pelo Autor

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O QUE É CULTURA? Buscando os significados mais antigos sobre cultura, encontra-se o termo em latim “Colere” que se refere ao ato de cuidar das plantas e animais. Também por isso, cuidar do solo pode ser entendido como uma cultura, “agricultura”. Agricultura, floricultura, apicultura e todos com o mesmo sufixo, sempre indicando a ação de cuidar e cultivar. (MILANESI, 1997). A primeira lembrança que tenho desse termo vem dos desenhos animados transmitidos pela TV Cultura, muito assistida nos anos de 1990 e 2000. Se perguntássemos o que é cultura para qualquer criança dessa época, certamente surgiria na mente do pequenino o bonequinho verde de braços abertos, marca registrada da emissora. Entre divertir e entreter, a TV Cultura ensinava de maneira única, promovendo desenvolvimento cultural e educacional. Das centenas de programas exibidos por ela, muitos eram os que ensinavam o público infantil. As crianças podiam aprender desde tarefas simples como lavar as mãos, até trabalhos mais complexos como fazer uma pipa, um pão, ou o processo de revelação de uma fotografia. Tais explicações muitas vezes envolviam breves representações do

processo histórico, fazendo os pequenos conhecer não apenas o processo produção do objeto, mas também conhecer povos e tradições distintas da sua, “cultivando” a mente dessas crianças.

Uma Lava outra, lava uma (mão) Lava outra, lava uma mão (mão)

Já no mundo dos adultos, Geertz (2008), diz que o homem pode ser entendido como um animal preso em teias de significados que ele mesmo teceu. Nesse sentido, as culturas são teias simbólicas e repletas de significados, a qual estamos colados e indissociáveis. Sobre o entendimento da cultura, Geertz, acrescenta que o estudo sobre essas teias, não devem buscar leis para explicações, mas sim funcionar como uma ciência interpretativa dos significados, aceitando o caráter único e formador de identidade que cada grupo pode ter. Porém nem sempre foi assim, a cultura já foi pensada por muito tempo de forma evolucionista. O antropólogo britânico, Edward Tylor ¹, autor de uma das primeiras definições de cultura, buscava nas ciências naturais, base teórica para a defesa de que cultura era um fenômeno natural. Essa afirmação totalmente fora de discussão atualmente implicava em dizer que o homem já nascia com cultura (ou sem ela), descartando um dos pontos mais essenciais sobre cultura, o caráter de aprendizado e transmissão. (LARAIA, 1999)

¹ Edward Burnett Tylor foi um antropólogo britânico. Nasceu no Reino Unido e viveu de 1832 a 1917.

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O QUE É CULTURA? Entendido como um antropólogo “antievolucionista”, ²Franz Boas, dedicou grande parte de sua vida ao estudo de sociedades consideradas primitivas. Em dezembro de 1883, Franz boas, faz um importante escrito sobre os esquimós da ilha de Baffin, no Canadá, deixando claro seu ponto de vista e “provando” a inexistência de culturas superiores ou inferiores. (LARAIA, 1999) “Não é realmente um belo costume”, observou Boas, “que estes ‘selvagens’ sofram todo tipo de privações em comum, mas nos momentos de alegria, quando alguém traz um butim da caçada, eles se juntem para comer e beber? Eu muitas vezes me pergunto quais as vantagens que a nossa ‘boa sociedade’ possui sobre a desses ‘selvagens’. Quanto mais observo seus costumes, mais me convenço de que não temos por que nos considerarmos superiores. Onde, em nossa sociedade, encontraríamos tamanha hospitalidade? [...] Os esquimós estão sentados ao meu redor, as bocas cheias de fígado de foca cru (a gota de sangue no verso do papel mostra que eu também participei). Como ser pensante, o resultado mais importante desta viagem para mim está no fortalecimento do meu ponto de vista de que o conceito de um indivíduo “cultivado” é meramente relativo, e que o valor de uma pessoa deve ser julgado pelo seu Herzenbildung. (MINTZ, 2010, p.4)

O termo alemão Herzenbildung, evocado por Boas, pode ser traduzido livremente como a “educação do coração” ou “cultivação do coração”. O termo usado no trecho destaca o rompimento de hierarquia da relação entre ocidentais e “selvagens” feito por Boas, deixando a vista que todas as sociedades “primitivas” ou não, são dotadas de cultura. (RUBIM, 2011) Hoje, em um mundo muito mais veloz, a cultura assim como diversos outros segmentos da sociedade, não está a caminho de, mas já é uma espécie de mercadoria. A transição da produção cultural local como grupos de teatro, cinemas de rua e igrejas, substituídos pelo o entretenimento passivo, baseado no rádio e televisão, dá início a uma revolução no modo em que fazemos cultura no Brasil e no mundo. Incorporando padrões ditados pelo rádio e televisão, cidades grandes e pequenas começam a perder sua individualidade passando a ter comportamentos cada vez mais padronizados. As pessoas começam a trocar suas vestes pois não estavam em acordo com a moda. A transição entre belo e feio nunca foi tão rápida. Essa cultura cada vez mais homogênea e globalizada, sacrificou tradições e particularidades locais ao ponto que hoje, tudo parece ser tão igual, cidades, pessoas, carros, que talvez por um surto de saudade, nasce a fetichização do que é local e tradicional. Para muitos, quanto mais longe e isolado da cultura de massa melhor. (MILANESI, 1997)

² Franz Boas nasceu em Minden, Alemanha e viveu de 1858 a 1942. É frenquentemente citado como “O pai da antropologia moderna”

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Figura 06: Frans Boas com roupas de pele natural dos Inuit, 1885 Fonte: APPIAH, Kwame Anthony (2020) editado pelo autor

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CENTROS CULTURAIS A partir do momento de cultura passa a ser elemento conferidor de status, a produção dos centros culturais, no formato atual, se inicia pelo mundo. Como já elucidado no pensamento de Coelho (1989, p.8), “embora já se falasse do assunto nos tempos do próprio Mário (de Andrade) e de Gustavo Capanema [...]em 1945 - só no final da década de 70 é que se começam a construir centros de cultura, intensificandose a discussão sobre seu instrumento privilegiado, a ação cultural.” O tema demorou a chegar, mas quando chega alastra-se e se intensifica rapidamente. Todas as cidades e cidadezinhas brasileiras sonharam primeiro com uma biblioteca. Depois, com um teatro e, mais tarde, um cinema. Em seguida foi a vez dos museus - ainda que servissem apenas para guardar a foto da vovó e o sapato roto de algum poderoso de duvidosa reputação. Agora, chegou definitivamente a vez dos centros de cultura. (COELHO, 1989, p.9)

Entre outros traços culturais importados do exterior, o interesse por esses centros de cultura ganha força nunca antes vista após Centro Cultural Georges Pompidou, inaugurado na França em 1975. A obra francesa rapidamente se tornou referência mundial e fez com que muitos outros centros culturais pipocassem ao redor do globo. Com o exemplo de sucesso desse título, os centros de cultura passaram a ser desejados não só pela população, mas especialmente por prefeitos, que passaram a enxergar na cultura uma grande oportunidade de investimento econômico e atrativo turístico para suas cidades. Nesse sentido, os centros de cultura já nascem como proposta de um novo ativo financeiro. O mercado imobiliário que já atuava na produção em massa de habitação estandardizada, de baixa qualidade e lucro máximo, vê na cultura uma nova oportunidade para expansão do capital. (MILANESI, 1997).

Figura 07: Centro Cultural Georges Pompidou - Paris, França Fonte: La Parola editado pelo autor

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CENTROS CULTURAIS Duas décadas após o Pompidou, o Brasil firma seu interesse por centros de cultura com a construção dos primeiros centros de cultura do país, na década de 1980, o Centro Cultural Jabaquara e o Centro Cultural de São Paulo, ambos localizados na cidade de São Paulo e financiados pelo governo. (NEVES,2013). Em 2006, o estado de São Paulo tinha o maior número de centros culturais do país. Segundo um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), São Paulo era a maior representatividade em números absolutos de estabelecimentos culturais com cerca de 2.200 estabelecimentos. Curiosamente, a mesma pesquisa revela que apesar da maior representatividade em números absolutos, os estados do sudeste, em especial São Paulo e Rio de Janeiro, não eram os estados com maior a proporção de estabelecimentos culturais. São Paulo tinha uma média de 5,3 estabelecimentos por 100 mil habitantes, enquanto Tocantins, que tinha a “melhor” média da pesquisa, contava com 24 estabelecimentos para cada 100 mil habitantes. O Piauí ocupava o segundo lugar na lista com uma média de 14,3 estabelecimentos de cultura para cada 100 mil habitantes.

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Figura 08: Centro Cultural São Paulo - São Paulo, SP

Figura 09: Centro Cultural Jabaquara, São Paulo, SP

Fonte: História das Artes editado pelo autor

Fonte: ArchDaily editado pelo autor

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CENTROS CULTURAIS Ao contrário do que o entendimento popular pode sugerir, o centro cultural não é, ou pelo menos não deveria ser, sinônimo de lazer. Segundo Milanesi (1997) o centro cultural deve contemplar 3 requisitos básicos para um centro de cultura. Os três pilares são: informar, discutir e criar. Informar: O centro cultural deve assegurar a população o acesso à informação, pois só a partir da informação é possível discutir e posteriormente criar. O espaço para esse tipo de atividade pode ser bibliotecas midiatecas. Discutir: Se relaciona com a criação de oportunidades, a partir de espaços de discussão será possível reflexões e críticas. Para que a discussão seja possível são necessários espaços para palestras, seminários, debates ou reuniões. O ato de discutir é a potencialização da informação, deixando clara a correlação entre os itens. Criar: Para Milanesi, a criação permanente é o principal objetivo do centro de cultura. O ato de criar é o que dá sentido aos outros dois anteriores e só é possível após o acesso à informação e a troca de ideias. Para que a criação seja possível, serão necessários espaços como laboratórios, ateliers ou oficinas. Também é de extrema importância a relação do centro cultural com o local onde será implantado. 22

Neves (2013) constata que o centro de cultura não deve apenas contar com infraestrutura e programa adequado, mas chama atenção para a impossibilidade da criação de um centro cultural afastado da realidade onde se encontram os grupos sociais. É papel desses centros, também, criar vínculos com a comunidade e acontecimentos locais. Acrescenta-se que a questão popular pode inclusive levar a criação desses títulos para fora do centro da cidade, em direção às zonas menos favorecidas como favelas e áreas carentes, como é o caso do projeto que será desenvolvido para este trabalho. O Centro Cultural Casa Amarela é um bom exemplo de como a questão popular pode levar esses centros de cultura para longe dos grandes centros urbanos. O Centro Cultural foi um projeto idealizado por um fotógrafo frances, inaugurado em 2008, com intuito de levar cultura a um lugar que quando não é esquecido, é lembrado por conflitos. Atuando por meio de oficinas e aulas ministradas por artistas, moradores, ativistas e voluntários, a Casa Amarela oferece aulas de pintura, desenho grafites, inglês, francês, dança afro, hip hop e ioga e até culinária. A iniciativa foi tão bem recebida que artistas do mundo todo visitam o estabelecimento. O projeto atende mais de 100 crianças e 40 adultos que depois de um dia de escola ou trabalho, podem exercitar seu lado criativo. (CAN ART CHANGE THE WORLD?, 2020) 23


CENTROS CULTURAIS Tendo provado seu potencial econômico desde o início, a arquitetura cultural hoje marca sua presença cada vez mais nos grandes centros. Essas obras surgem não como resposta a uma demanda cultural, mas são pensadas para o turismo e consumo. (NEVES, 2013) Talvez um dos maiores exemplos desse tipo de produção arquitetônica seja o Museu Guggenheim, de Frank Gehry. O caso foi apelidado de “o milagre de Bilbao” pois a construção do museu foi capaz de reerguer a cidade que já estava em crise por anos desde a decadência da indústria metalúrgica. (LIMA, 2018) Por uma espécie de efeito dominó em casos de sucesso, após a construção dessas super construções que supostamente surgem em prol da cultura, diversas outras obras acontecem na região, valorizando os imóveis locais e muitas vezes resultando na gentrificação, fenômeno caracterizado pela troca de público de uma determinada região. Os mais pobres, via de regra,são redirecionados para as periferias, longe da infraestrutura e equipamentos urbanos, inclusive de cultura. O “efeito Bilbao” também pode ser encontrado de forma semelhante no High Line, em Nova Iorque. Baseado na ideia de requalificação urbana, o projeto transforma uma linha férrea abandonada em uma área de convívio, cultura e lazer. Hoje o trajeto da linha férrea é recheado de obras que pouco tem a ver com cultura, mas revelam a espetacularização da cidade com obras emblemáticas e high tech. Essas obras acabam funcionando meramente como “iscas” para o consumo, que naturalmente irá servir as classes com alto poder de compra e não moradores locais. Resultado do efeito cascata iniciado pelo High Line, uma caminhada atualmente pela via elevada é coroada por obras de Zaha Hadid, Diller Scofidio, Bjarke Ingels Group (BIG), e muitos outros arquitetos de renome mundial, conhecidos como os starchitects. 24

Figura 11: Museu Guggenheim Bilbao – Bilbao, Espanha Fonte: Ulbra TV editado pelo autor

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CENTROS CULTURAIS As marcas não só fazem as pessoas se identificarem com um ser inanimado, que é a cidade, mas também passam a enxergar nela, um conjunto de traços e personalidades humanas, como se a própria cidade fosse uma pessoa. As facetas de uma cidade podem ser medidas, inclusive de forma matemática através de pesquisas que orientam políticas ações. (PETROSKI, BAPTISTA; MARCHETTI, 2010). O marketing territorial vem sendo cada vez mais explorado na busca pela criação de uma imagem a ser vendida e qualidades humanas são frequentemente atribuídas às cidades, afim de conceder personalidade a esses seres inanimados. Quem não gostar de visitar para uma cidade “aconchegante”? Ou “romântica” na lua de mel? A partir consultas com psicólogos e turismólogos especialistas em cidades, Petroski, Baptista e Marchetti (2010) elaboraram, de forma pioneira em âmbito nacional, uma lista com 75 traços que podem representar a personalidades humanas no contexto das cidades.

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Figura 12: Lista de traços utilizados no questionário

Figura 13: Centro de arte “Shed”, acima do High

Fonte: Petroski, Baptista e Marchetti (2010)

Fonte: Vitruvius editado pelo autor

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CENTROS CULTURAIS Foram selecionadas para o estudo as cidades de Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, por serem cidades mais conhecidas pela população. Para cada um dos 75 traços acima o respondente deveria pensar na cidade como uma pessoa e determinar qual pontuação a cidade merecia numa escala de 1 a 10, isso para cada traço.

O motivo para tais pontuações podem ser vários, Petroski, Baptista e Marchetti (2010) apontam o fato de Rio de Janeiro e Salvador já terem sido capital do país, assim como suas extensões litorâneas e atrativos turístico, que podem conceder a percepção de charme e empatia. Já São Paulo e Curitiba não foram beneficiados com os mesmos elementos, mas se encontram em regiões estratégicas, o que propicia o grande desenvolvimento de atividades econômicas. Tais dados não servem apenas para identificar personalidades, funcionam como ferramenta para orientação de planejamento. Tendo as amostras, o estrategista de marcas nesse caso pode indicar ações para atingir ou manter traços importantes para a cidade. (PETROSKI, BAPTISTA, MARCHETTI, 2010)

Figura 14: Escala de 10 pontos para mensuração da personalidade de marca Fonte: Petroski, Baptista e Marchetti (2010)

Um total de 484 pessoas iniciaram a pesquisa das quais 81 não concluíram o questionário. Como amostra de resultados foram elaboradas cinco tabelas nas quais as cidades são entendidas em quatro facetas diferentes, empatia, equilíbrio, funcionalidade, charme (cada faceta analisada em uma tabela) e uma tabela “geral” (figura a seguir) que mostra uma média dos traços de personalidade das cidades. São Paulo por exemplo, na visão da maioria alcança maior pontuação (7,57) em funcionalidade, e mostra deficiência em aspectos como charme (5,29) e equilíbrio (3,86). Curitiba e Rio de Janeiro tem como principal são reconhecidas como cidades charmosas. Salvador tem a empatia como destaque (8,33).

Cultura e economia hoje andam juntas, em uma direção convergente. Tendo as duas partes, participação ativa na criação da sensação de cidadania através de atividades culturais que desenvolvem criatividade e autoestima na população. A cultura tem se tornado parte tão decisiva no mundo dos negócios a ponto de se tornar mais ou menos parecidas a construção de um grande museu ou uma montadora. Talvez por esse motivo, vivemos na era do descartável e paradoxalmente somos a geração que mais constrói museus. (ARANTES, 2014). Sobre a produção da arquitetura cultural nacional que viemos discutindo nesse trabalho, Arantes (2014) diz que do ponto de vista de arquitetura como grande negócio, não estamos nenhum pouco atrás dos centros urbanos mundo afora. Muito mais desenhada pela especulação imobiliária do que por projetos urbanos racionais, a desmesura das nossas cidades é de tal ordem que se pode mesmo dizer que sequer se pode falar em “cidades-empresas” (na expressão de Peter Hall); estamos aquém ou além destas, acumulamos os exemplos de cidades “pós-urbanas” de que fala Koolhaas. Ao mesmo tempo seus gestores não deixam de apostar na fórmula dos grandes eventos e grandes projetos, como propõe o receituário do “planejamento estratégico”, tal como o formularam os catalães: Copas, Olimpíadas, Capital Mundial da Cultura, etc. com projetos de grande porte, como estão sendo os estádios, ou de marketing, onde ainda uma vez a cultura comparece, com seus museus: MIS de Scofidio & Renfiro, Museu do Amanhã do discutível Calatrava, Palácio da Música de Portzamparc, todos no Rio, o Palácio da Dança. de Herzog e De Meuron em São Paulo, e assim por diante, sem falar na produção local de tais equipamentos (ARANTES, 2014).

Figura 15: Média dos traços de personalidade de cidades Fonte: Petroski, Baptista e Marchetti (2010)

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CONTEXTO HISTÓRICO

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A MEMÓRIA

Apesar de os mais superticiosos acreditarem no azar ao cruzar com um Gato Preto, no município de Cajamar, região metropolitana de São Paulo, o bairro do Gato Preto esteve por um bom tempo no imaginário das pessoas, como símbolo de prosperidade. Na virada do século XIX para o XX, houve na capital de São Paulo um intenso processo de urbanização, o grande salto populacional aliado a construção de grandes prédios, rodovias e viadutos fez a demanda de cal na construção civil aumentar significativamente. A grande presença da rocha calcário no bairro do Gato Preto ajudou a formar as primeiras ocupações do município. Segundo Ferreira (2008), as terras de Gato Preto já eram exploradas para esse fim desde pelo menos 1908, por uma família chamada “Beneduce”, que junto a empresários interessados instalou no lugar uma fábrica de cal. Além das próprias pedreiras e dos fornos que produziam a cal, foi construída uma estrada de ferro que levaria a produção até Perús. De lá a cal poderia ser distribuída por onde fosse, pois o bairro de São Paulo era servido pela São Paulo Railway. Em torno dessa fábrica de cal construida pelos Beneduce e companhia, se instalaram trabalhadores de várias regiões, ajudando a popular e desenvolver o povoado de Água Fria, primeiro nome de Cajamar, ainda pertencente ao município de Santana de Parnaíba, desmembrando-se apenas em 1959. Figura 16: Construção de um forno metálico - 1912 Fonte: Santos (2018) editado pelo autor

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Figura 17: Locomotiva e operários em uma das pedreiras de Gato Preto Fonte: Santos (2018) editado pelo autor

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A MEMÓRIA A estrada de ferro e a fábrica, tanto como as pedreiras, tinham vida única. Os bairros Água Fria e Gato Preto viviam em função um do outro e todo material produzido era transportado para Perus, e de lá iria para várias construções em São Paulo e no Brasil. (FERREIRA, 2008)

Figura 18: Mina de calcário em Água Fria Fonte: Blog Nidão e suas Histórias editado pelo Autor

Criar uma estrada de ferro tão curta, foi defendida por um motivo religioso: transportar os romeiros de Perus até o Santuário de “Vila de Pirapora”, hoje Pirapora do Bom Jesus. Mas a ferrovia que deveria seguir serpenteando as margens do Rio Juqueri até chegar em Pirapora de Bom Jesus, sofre um brusco desvio em direção ao bairro do Gato Preto na altura do km 15, revelando o verdadeiro interesse dos empresários: Escoar a produção da Fábrica de Cal Beneduce e das caieiras de Gato Preto até a capital paulista. Dessa forma, a Estrada de Ferro Perus Pirapora é inaugurada em 1914, com seus trilhos conectando o bairro de Água Fria, atual distrito sede de Cajamar, e o bairro do Gato Preto até a estação de Perus. (FERREIRA, 2008) 36

Figura 19: Carregamento de calcário com destino a Perus – 1970 Fonte: Blog “Nidão e suas histórias” editado pelo autor

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Jundiaí

Mapa Gera da Estrada de Ferro Perus Pirapora Fonte: Base do Google Earth editadaautor pelo

Via Anhanguera Rodovia dos Bandeirantes Linha CPTM Rio Juqueri Ferrovia Perus Pirapora (EFPP)

Caieiras Jordanésia

Pedreiras Portland Perús (CBCPP)

Gato Preto

Cajamar Centro

Pirapora do Bom Jesus

(km 15) Figura 20: Mapa Geral da Estrada de Ferro Perus Pirapora Fonte: Google Earth editado pelo autor

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Perús (km 0)

empresa Natura

Polvilho São Paulo

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Figura 21- Vagonete carregado vindo das pedreiras de Gato Preto aprox. 1940 Fonte: Blog do Ralph GIESBRECHT (2009) editado pelo autor

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A MEMÓRIA

A relação entre Cajamar e Perus que já era estreita até então, foi intensificada a partir de 1924, quando é fundada Companhia Brasileira de Cimento Portland Perús (CBCPP). Essa fábrica de cimento passou a receber toda a materia prima que vinha Cajamar e a transformava em cimento para ser usada nas diversas construções. A fábrica foi construída ao lado da ferrovia São Paulo Railway, para que toda a produção pudesse ser transportada com facilidade. A sua primeira gestão ficou conhecida como a “administração canadense”, com o Dr. Smith, grande especialista em cimento e que ajudou na criação da fábrica, sendo o diretor-gerente da companhia. Embora algumas outras fábricas de cimento tenham sido abertas antes da Portland Perus, todas foram entendidas como tentativas precárias. Sendo que a própria Associação Brasileira de Cimento Portland entende que o ramo cimenteiro só foi efetivamente instalado no no páis em 1926 com a CBCPP. (SIQUEIRA, 2001) Até 1957, ano de inauguração da fábrica Cimento Santa Rita, em Itapevi (implodida no ano de 2009), a Portland Perus teve grande domínio do mercado, forneceu cimento para a construção de diversos edifícios na capital de São Paulo, incluindo a Biblioteca Mario de Andrade, túneis e viadutos da Avenida 9 de julho, nas obras da Light em Santos e no trecho inicial da Via Anhanguera. (SIQUEIRA, 2001) Entre 1920 e 1940, São Paulo teve um salto populacional de 579.000 habitantes para 1.326.000. O intenso processo de urbanização da capital paulista aumentou a demanca de cimento para a construção de avenidas, viadutos, pontes e arranha-céus. 42

Figura 22- Fábrica de Cimento em Perus (CBCPP) Fonte: Blog “Estrada de Ferro Perus Pirapora” editado pelo autor

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A MEMÓRIA

Figura 23: Esporte Clube Gato Preto aprox. 1950 Fonte: Jeronymo (2006) editado pelo autor

Figura 24: Escola em Gato Preto aprox. 1980 Fonte: Jeronymo (2006) editado pelo autor

Ainda nos anos 20 e 30 surgiram vilas operárias dentro e fora do perímetro do fábrica em Perus, o mesmo acontece em Cajamar, onde é possível ver a mesma configuração de casas organizadas em renque. (SIQUEIRA, 2001) A companhia oferecia aos operários serviços como escolas, ambulatório, restaurante, entreposto, armazéns, oficinas, igrejas, clubes, sede social e campo de futebol. Essa oferta de serviços desenvolveu nos operários uma certa dependência das instalações vinculadas a fábrica, inclusive da própria estrada de ferro, que transportava os moradores das vilas de Gato Preto e Água Fria até Perus, no famoso “M”, vagão misto que transportava passageiros, sacos de pão, cimento, etc. (JERONYMO, 2016) 44

Figura 25: O “M”, vagão misto Fonte: Ferreira (2008) editado pelo autor

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A MEMÓRIA

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Ao lado esquerdo da Via Anhanguera, esse é o extindo Gato Preto. Até a construção do trecho São Paulo/Jundiaí da via Anhanguera por volta de 1948, o bairro funcionava de forma diferente, com fabrica de cal, moradias, igreja e clube de futebol fazendo parte de uma unidade. A passagem desse tronco viário alterou a dinâmica do bairro, tornando-o mais isolado e mais fraco. 46

Ferrovia 01 - Moradias 02 - Oficinas 03 - Casas do pátio ferroviário 04 - Forno de cal e chaminé 05 - Bar 06 - Conjunto fornos metálicos 07 - Estação (escritório) 08 - Trilhos para transporte 09 - Paradas 10 - Ponte ferroviária metálica 11 - Vila operária em renque

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Figura 26: Edificações do Gato Preto extinto Fonte: Google Earth editado pelo autor

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O ESQUECIMENTO

Em 1951, sob as pressões do Estado Novo e o controle do governo nos preços do cimento, a administração canadense é forçada a vender a Portland Perus, que é comprada e passa a ser administrada pelo dono de um dos maiores impérios do Brasil, José João Abdalla. Dono de um império, industrial, bancário e agropecuário. Um dos homens mais poderosos do país e também um dos mais reservados, com raríssimas aparições e fotos reveladas. (SIQUEIRA, 2001; FERREIRA, 2008) Adquiriu no mesmo ano, segundo Siqueira (2001), fábrica, ferrovia, pedreiras de calcário, o Sítio Santa Fé (fazenda de reflorestamento situada em Perus, à beira da ferrovia cimenteira) e terras que cobrem aproximadamente 60% do território do atual Município de Cajamar. Em contraponto com a gestão zelosa dos canadenses, onde as peças das máquinas eram substituídas antes de apresentar defeito e o estoque tinha reserva de peças para uma década, foi na gestão de Abdalla que um dos fornos mais modernos da fábrica explode devido a dispensa de funcionários qualificados para a montagem, ferindo pelo menos 40 operários. Baseado em uma gestão que buscava lucro máximo, Abdalla desativa os equipamentos de filtragem com objetivo de dispensar funcionários, fazendo da fábrica grande geradora de poluição. Há relatos de moradores que faziam reparos em casa apenas com o cimento que varria no quintal. (SIQUEIRA, 2001) 48

Figura 27: epósito de cimento em um silo na Portland Fonte: cervo Fernanda Boutros editado pelo autor

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O ESQUECIMENTO Além da administração não zelosa, a gestão de Abdalla foi marcada por grandes movimentos operários. Siqueira (2001) diz que desde 1958 a fábrica já sofria com greves, mas foi em 1968 que houve a maior delas, que ficou conhecida como a greve (ou luta) dos “pelegos e queixadas”, uma greve marcada pela resistência não violenta, com duração de sete anos. Motivados por constantes atrasos de salários, os grevistas ficaram conhecidos como “pelegos”, termo usado para ofender os operários que chegaram a voltar ao trabalho após uma intervenção militar na fábrica. E “queixadas”, se referindo a capacidade de organização dos grevistas, em referência ao animal queixada, que quando sozinho e acuado, foge para junto dos demais e retorna em grupo, batendo os dentes. (FERREIRA, 2008) De meados da década de 1950 até o encerramento da empresa no final da década de 1980, a Companhia atravessou períodos de greves operárias expressivas fundamentadas em reivindicações por melhores condições de trabalho e de vida do trabalhador. Tais manifestações somavam-se, naquele momento, aos movimentos sociais que eclodiam na região metropolitana de São Paulo, buscando romper os mecanismos repressores instaurados pelo regime ditatorial, representados, principalmente, pelo arrocho salarial, desigualdades e a proibição do direito de greve. (JERONYMO, 2016, p.52)

A greve dos pelegos e queixadas tem fim em 1969, com uma vitória parcial dos funcionários. Os operários instáveis, aqueles com menos de dez anos de trabalho na empresa não receberam nenhuma indenização, enquanto os estáveis, receberam em 1974, os atrasados entre 1962 e 1969. (FERREIRA, 2008). O lema da luta dos queixadas foi “Firmeza Permanente”, também foi reconhecida como “A Violência dos Pacíficos”. 50

Figura 28: Passeatas dos pelegos e queixadas em nome dos trabalhadores Fonte: Destaque Regional editado pelo autor

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O ESQUECIMENTO Devido aos constantes conflitos entre patrão e funcionários, aliado à queda vertiginosa na produção de cimento, inúmeros confiscos sofridos por dividas, desativação de estrada de ferro e pedreiras, além do grande apelo popular, faz a Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus ruir e fechar definitivamente em 1987. (SIQUEIRA, 2001) Algumas cidades paulistas têm tão pouco patrimônio histórico que a regra seria proteger o mínimo para ter o que contar para a posteridade. O município de Cajamar, vizinho de São Paulo é um deles. Pequeno, relativamente novo, quase nada lá existe para contar a história da região. E o pouco que existia – mesmo sendo de suma importância – foi arrasado recentemente. (NASCIMENTO, 2014).

Na visão de Nascimento (2014) o declínio do Gato Preto começou com a construção da via Anhanguera, por volta de 1948, quando o trecho São Paulo - Jundiaí é inaugurado. Essa via que hoje é um dos principais troncos viários do Brasil partiu o bairro ao no meio, deixando residências e igreja separadas da fábrica que ficou do lado oposto da via. Se o surgimento e a prosperidade do Gato Preto se deu em parte pela existência da Portland Perus, a decadência do bairro também está ligada a fábrica. Com o fechamento da Portland Perus, o bairro do Gato Preto perdeu importância no quadro socio-econômico do município e acabou em estado transitório. Nessa situação entre existir ou desaparecer, nunca houve no Gato Preto o interesse pela requalificação e muito menos pela valorização do patrimônio histórico e cultural ali presente. Por outro lado, as frequentes violações que o bairro sofreu, como desapropriações, demolições e o descaso, provam que os planos para essa terra não se encontram em dar o melhor uso para a cidade mas extrair dessas terras o maior lucro possível. 52

Figura 29: Pavimentação de trecho da via anhanguera em 1947 9Fonte: G1 editado pelo autor

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1914 Inauguração da EFPP e instalação de sete fornos metálicos em Gato Preto

1951 Sob nova direção! Grupo Abdalla adquire a fábrica Portland Perus

1969 Início da greve dos 7 anos em Perus

1930 Construção das vilas operárias em Perus e Gato Preto

1910 São Paulo em franca expansão tem grande demanda por cal na construção civil

1926 Abertura da fábrica Portland Perus com administração canadense

1948 Via Anhanguera divide o Gato Preto ao meio

1964 Início da ditadura militar

2014 Demolição e remoção de metade do bairro

1985

2006

Fim da ditadura militar

Primeiros condomínios logísticos em Cajamar

1976 Fim da greve dos 7 anos

1986 Portland Perus fecha as portas

2013 CONDEPHAAT indica Gato Preto como de interesse cultural

Figura 30: 100 de anos de Gato Preto: Linha do tempo do bairro de 1914 à 2014 Fonte: Autor


SITUAÇÃO ATUAL À altura do quilômetro 36 e abaixo do nível dos olhos, não é exagero dizer que o bairro do Gato Preto está sujeito a desaparecer. A qualquer momento. Vivendo às margens e abaixo da via Anhanguera, os moradores do local sofrem com as enchentes há muito tempo. Situação agravada ainda mais com expansão de condomínios logísticos nas proximidades. Desconectado do distrito de Jordanésia e sem perspectivas de retorno financeiro, o bairro vive esquecido quase todo o tempo, exceto em época de eleição, tempo em que os políticos se dirigem ao bairro e prometem consolida-lo no município. Vale lembrar que Gato Preto não se trata de uma “invasão”, como se convencionou chamar as ocupações por moradia. Embora não todos, a maioria dos moradores são filhos de operários tanto da estrada de ferro, como fábrica de cal e também do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), concedendo assim, legitimidade a resistência no lugar. Talvez inspirados pela luta dos Pelegos e Queixadas, como mostrou o filme “O sepulcro do Gato Preto”, os moradores do bairro resistem à remoção como podem por anos. O Decreto 1175-83 indica que três anos antes do fechamento total da Portland Perus (1986) o bairro já sofria com demolições indiscriminadas. A destruição de cerca de 294 casas perfeitamente habitáveis que poderiam ser renegociadas com as familias, pertencentes ao Grupo J.J. Abdalla, deixou o povo revoltado. Em 2013 o bairro voltou a sofrer com demolição. Dessa vez metade do bairro arrasado. As casas foram destruídas e os moradores realojados em bairros vizinhos, em moradias inadequadas e às vezes não finalizadas. 56

Figura 31: Gato Preto alagado em 2016 Fonte: Diário de Cajamar editado pelo autor

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SITUAÇÃO ATUAL

Hoje, tudo o que restou de todo o complexo Gato Preto foi a vila em renque e a vila DER, além das pedreiras abandonadas. Em frente ao grande terreno em que se alocavam as edificações de serviços e centenas de moradias está a placa da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), que autoriza a empresa FAJA Desenvolvimento Urbano, a construir desde que preserve o remanescente da gleba. A FAJA Desenvolvimento Urbano tem como principal atividade a incorporação de empreendimentos imobiliários. Também tem como um de seus membros administradores, Antonio João Abdalla Filho, mais conhecido como “Toninho Abdalla”, ultimo gestor da Fábrica de Cimento em Perus e primo do já falecido “JJ Abdalla”, magnata conhecido em todo o município por seus “feitos”. Estaria a história prestes a se repetir? Figura 32: Terreno em que existiam edificações de serviço e moradia Fonte: Google Maps editado pelo autor

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Figura 33: Moradias em renque no Gato Preto em 2020 Fonte: Acervo Letícia Hayashi editado pelo autor


PROTEÇÕES FANTASMAS Em 1983, após a demolição de centenas de casas no bairro e revolta da população, a prefeitura de Cajamar faria uma das únicas proteções reais ao bairro. A partir do decreto Nº 1175/83 a prefeitura se posiciona: “CONSIDERANDO, finalmente, que a Administração municipal não poderia ficar de braços cruzados presenciando a demolição de cerca de 294 casas, numa verdadeira afronta ao povo [...] DECRETA: Ficam declarados, de utilidade pública, para serem desapropriadas, amigável ou judicialmente, todos os imóveis residenciais abaixo descritos...”

Apesar do decreto, o bairro teve seu território arrasado no fim de 2013, com casas destruídas e moradores removidos. Os motivos não foram a público, mas em todo o espaço foi feita a terraplanagem. Atualmente, o Plano Diretor municipal traça diretrizes para preservação da memória por meio de icentivos à criação de museus e centros de cultura. Por outro lado, a lei complementar Nº 181/2019 que dispõe sobre o uso e ocupação do solo no município, revela os verdadeiros planos que o município tem para o lugar. Com excesão da vila DER, que é demarcada como uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), o instrumento que poderia ser usado para a proteção local, classifica ambos os lados da via anhanguera como uma Zona de Uso Predominantemente Industrial (ZUPI). 62

Os fatos revelam uma visão contraditória entre plano que diz se preocupar com suas memórias e ação, que ignora qualquer valor histórico do bairro que documenta a história do município.


MEDOS REAIS Esse capítulo apresenta alguns depoimentos de moradores do Gato Preto com o intuito de dar ao trabalho um uma perspectiva interna e um panorama real do bairro. É entendido a essa altura, que o depoimento adquire tanta relevância quanto as fontes “oficiais”. Todos os discursos são reais e de livre acesso na internet, retirados de um documentário chamado “O sepulcro do Gato Preto”. O CONDEPHAAT veio e “fez o tombamento” histórico de tudo. A juiza colocou uma placa, a primeira coisa que eles derrubaram foi a placa e derrubaram o forno. Os trilhos que tinham retiraram tudo, foi tudo retirado. Foi saqueado para dizer bem a verdade. [...] Na época presenciei a situação de ver caminhão carregado de trilho sendo vendido para o ferro velho. E tiraram o povo daqui que nem um cachorro. Falaram: Vocês tem que sair daqui. E acabou. Eles tirando o povo das casas e as máquinas derrubando as casas. Derrubaram o patrimônio histórico alegando que iriam derrubar o patrimônio histórico mas iriam fazer um teatro, para repor esse patrimônio.

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Um teatro lá no Polvilho para repor esse patrimônio que foi destruído. Onde que se repõe uma coisa que foi destruída? Destruiu ta destruído.” A escola os caras reformaram em um ano, e no outro ano eles derrubaram. A escola era colada com uma casa. Quando eles vieram derrubando essas casas, o argumento deles foi: Na hora que derrubaram essa casa colada com a escola, rachou as paredes da escola e tinha perigo. Todo mundo que trabalhou na companhia morava nas casas aqui. Nós se “mudemo” para cá, estamos aqui até hoje. Não foi nada invasão, ninguém invadiu nada aqui. Figura 34: Brinquedos deixados para trás em 2013

Então quando a companhia faliu, eles foram embora e a gente ficou.

Fonte: Oloeaê Filmes editado pelo autor

Os caras vem com as máquinas, vem empurrando vem empurrando terra. Ai a juíza vai e da área de risco. Aqui no nosso bairro nunca existiu área de risco. Uma área de risco que eles criaram. Então eu vi eles aterrar a pedreira lá. foi limpando limpando empurrando essas terras para cá... a mina d’água lá caiu um “tucho” de água. Eu cheguei a chorar quando eu fui ver aquilo lá. Eles aterrando tudo. O primeiro bairro que Cajamar teve. O primeiro bairro se chama Gato Preto, é bairro que a gente mora [...] e ninguém tem uma consideração pelo povo daqui.

Figura 35: A quadra do bairro destruída em 2013 Fonte: Oloeaê Filmes editado pelo autor

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MEDOS REAIS Saía daqui o calcário para Perús. As “maquininhas” funcionando... meu pai era mecânico, meu finado sogro era maquinista, o tio da minha esposa também era maquinista. Não nasci aqui mas vim para cá com um ano, me sinto como se tivesse nascido aqui. Estudei na escolinha do Gato Preto, ia todo dia de a “pézinho”, ia brincando, passava pelo forno, passava pelas máquinas, subia descia. Era muito gostoso nessa época por que você tinha ali máquina de ferro, os vagões, os fornos. Muitas pessoas que saiu do lado de lá, que eram antigos mesmo, pessoas velhas que amam esse lugar aqui. Sairam daqui, mudou para Cajamar (centro), não foi três ou quatro meses, morreu. Desgosto” As casas que eles construiram lá, lá era um lixão. [...] Uma única parede dividindo, não é nem uma parede colada na outra. Quando é calor é pó, quando chove é lama. E tem uma fábrica de argamassa do lado.

Perguntados sobre o processo de realocação dos moradores: Não teve processo. Eu fiz a casa e você vai morar. Foi muito depressa. A maioria das pessoas que tinham móveis grandes, perderam tudo porque as casas são muito pequenas.

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Em 2006 eu tive acesso a um documento que dizia assim “Polo Logísticso Nacional”, em 2020. Então Cajamar vai se tornar um galpão de aluguel. Os interesses dos poderosos que querem acabar com isso aqui é por que tem o rodoanel, tem a via anhanguera, tudo acesso para esses galpões. Aqui é saída para todo lado.

A gente “ta” aqui “naquela”. Ou sai ou não sai... ninguém fala a verdade para a gente.

Eles estão alegando que quando chega aqui o progresso para, e de Jundiaí para frente ele continua. É interesse para eles fazer aterramento e começar a construir. Hoje em dia, você pega um pedaço dessa terra, vai carpir e plantar para ver. Na hora os caras já vem e te barra. Tem uma fiscalização aqui. Se você encosta um bloco com uma areia... Se você der inicio para as coisas, ai complica mais. Ai ja vem polícia, ja vem isso, já vem aquilo. A primeira coisa que é a ideia da associação é garantir a permanência aqui. É unir os moradores. Trazer benfeitorias para o bairro, tirar essas molecada do óssio. A última administração do município talvez queira transformar a cidade numa máquina. E no final das contas é mais facil para eles destruir, tirar tudo daqui e vamos fazer um galpão aqui que da mais dinheiro.

Há muito tempo vem se falando isso ai... vai sair, não vai, vai sair não vai...

Figura 36: Escombros das casas em 2013 Fonte: Oloeaê Filmes editado pelo autor

Ninguém que fosse retirado daqui hoje iria se conformar...

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TOMBAMENTOS A Estrada de Ferro Perus Pirapora foi tombada pelo CONDEPHAAT em 1987. Sendo inviável a restauração de toda a linha férrea, o CONDEPHAAT junto aos proprietários da estrada de ferro, selecionaram um trecho de 15 km de extensão para que uma organização não governamental pudesse revitalizar. Desde 2001 o Instituto de Ferrovias e Preservação do Patrimônio Cultural (IFPPC) vem trabalhando na restauração dos trilhos e locomotivas com a força de trabalho voluntário e apoio de pequenos empresários. Hoje o trecho reativado, cerca de 3 km, funciona para fins educacionais e turísticos. Figura 37: Indicação do Gato Preto como patrimônio Cultural em 2012

Em Gato Preto, embora em 2013 o CONDEPHAAT tenha indicado suas ruínas como de interesse cultural para a cidade. A placa que tinha como propósito inibir a ação destruidora no local, foi a primeira ser derrubada e logo em seguida as ruínas também foram condenadas.

Fonte: Estações Brasileiras editado pelo autor

Portanto, essa que seria uma das poucas luzes no fim do túnel do Gato Preto, não foi forte o suficiente ao combater a especulação imobiliária local. Após a demolição das ruínas, o lugar recebeu terraplanagem indicando um empreendimento eminente, mas até hoje (2020) nada foi feito no local. Do outro lado da via Anhanguera, as moradias em renque - as mais antigas moradias do complexo - seguem sem nenhum tipo de proteção, enquanto a vila DER, é demarcada como um Zona Especial de Interesse Social (ZEIS). Além disso, nenhuma medida real de proteção a esses bens foram tomadas.

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Figura 38: Voluntários em Perus

Figura 39: O Eco-museu em Perus

Fonte: Blog EFPP editado pelo autor

Fonte: Blog EFPP editado pelo autor

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ANÁLISES DO TERRITÓRIO

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O MUNICÍPIO

Território: 131,386 km População: 76.801

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04 Estado de São Paulo no Brasil

Região metropolitana de São Paulo

Cajamar se localiza na região metropolitana do estado do estado de São Paulo, a aproximadamente 20km da capital. O bairro do Gato Preto é indicado no mapa com a letra (D) e faz parte do distrito de Jordanésia. O município é composto por três grandes distritos com centralidades próprias, estando a prefeitura localizada em Cajamar Centro (C). As áreas mais desenvolvidas compartilham do mesmo potencial: Proximidade com a via Anhanguera. Quanto mais articulado com essa via, maior a diversidade de uso, quantidade de escolas, emprego e unidades de saúde. Essa via importante atravessa Jordanésia e Polvilho, considerados os principais distritos de Cajamar. Bairros afastados como Ponunduva, Vau Novo e Guaturinho, são formados por moradias, serviços essenciais e pequenos comercios. 72

Cajamar na Região metropolitana de SP

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Figura 40: Mapa de localização do município de Cajamar Fonte: Blog EFPP editado pelo autor

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06 Via Anhanguera Rodovia Bandeirantes Distrito de Jordanésia 01: Acesso a Jundiaí 03: Capital Ville 04: Ponunduva 05: Jordanésia (Centro comercial) 06: Cajamar Centro 07: Gato Preto 08: Vau Novo 09: Gaturinho 10: Polvilho (Centro comercial) 11: Acesso a São Paulo

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Figura 41: Mapa Composição de Cajamar Fonte: Google Earth editado pelo autor


PRESENÇA INDUSTRIAL

Desde 2010 o distrito de Jordanésia, no município de Cajamar, vem sofrendo um processo intenso de industrialização e ocupação do seu território. Atualmente empresas e condomínios logísticos são os principais ativos econômicos do município. Esses grandes empreendimentos ocupam cada vez mais espaço nesse município de aproximadamente 70.000 habitantes. 74

Via Anhanguera Rodovia Bandeirantes Cond. Logísticos Condomínios logísticos Empresas

Figura 42: Mapa Presença indsutrial no município Fonte: Google Earth editado pelo autor

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Figura 43: Complexo Prologis 1 Fonte: Acervo Kaio Ignácio editado pelo autor

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Figura 44: Centro de Distribuição Cajamar (Marabraz)

Figura 45: Complexo Prologis 2

Fonte: Autor

Fonte: Click Galpões editado pelo autor

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PRESENÇA CULTURAL

Enquanto o setor industrial cresce com grande velocidade em Cajamar, a cena cultural da cidade não acompanha o progresso com a mesma velocidade. Não há no município uma rede cultural consistente. Cajamar carece de uma boa biblioteca, não há um teatro, centro de estudos ou bons espaços públicos ativos. A cultura aparece no município e forma pontual e com pouca força. Até pouco tempo atrás, as edificações voltadas a cultura em Cajamar eram de caráter de improvisação, com antigas casas, galpões e academias sendo alugadas pelo poder público e transformadas em “centros culturais de remendo” Por falta de interesse e investimento na área, a Casa da Memória, único estabelecimento museológico do município, está fechado desde 2019 por não ter estrutura adequada para receber o público com segurança.

Via Anhanguera Rodovia Bandeirantes Centros culturais Bibliotecas Ginásio de esportes

Figura 46: Maap Presença cultural no município Fonte: Google Earth editado pelo autor

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Figura 47: Biblioteca Municipal em Jordanésia Fonte: Google Maps editado pelo autor

Figura 48: Centro Cultural de Polvilho Fonte: Google Maps editado pelo autor

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Figura 49: Casa da Cultura em Jordanésia

Figura 50: Centro de Eventos Walter Ribas, o “Boiódromo”

Fonte: Google Maps editado pelo autor

Fonte: Acervo André Barrado editado pelo autor

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O DISTRITO Jordanésia

Nesse trabalho os estudos se concentram ao distrito de Jordanésia, distrito onde se localiza o bairro Gato Preto e onde é possível ver de maneira mais acentuada o contraste entre produção industrial e cultural de Cajamar. Jordanésia já possuía empresas em seu território desde a década de 1970, como explicou Ferreira (2008). Mas um importante passo a intensificação desse setor no município aconteceu em 2003, com a promulgação da lei municipal Nº 1.090, mais conhecida como “lei de isenção fiscal”, cujo objetivo era o de atrair empresas para Cajamar. Em 2006, Jordanésia recebe os primeiros grandes empreendimentos, com pioneirismo da marca Marabraz, inaugurando o maior centro de distribução da américa latina no distrito. A partir desse momento, houve a rápida expansão desses empreendimentos e também o surgimento de um novo segmento, os condomínios logísticos, que nada mais são que o conjunto de diversas empresas compartilhando o mesmo espaço físico. Jordanésia tem seu centro comercial bem próximo aos acessos ao norte. O motivo pode ser histórico, pois a mesma região foi onde surgiram as primeiras edificações do distrito. Nesse mapa também é possível ver a relação do bairro com as pedreiras e o quão isolado está do centro comercial do distrito. 82

Via Anhanguera Rodovia Bandeirantes Acesso ao distrito Centro comercial Gato Preto Pedreiras

Figura 51: Mapa Composição do distrito de Jordanésia Fonte: Google Earth editado pelo autor

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Figura 52: Av. Joaquim Barbosa, presença de comércios e bancos Fonte: Google Maps editado pelo autor

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Figura 53: Av. Domingos Alonso Lopes, forte presença de super mercados

Figura 54: Foto aérea do distrito de Jordanésia

Fonte: Google Maps editado pelo autor

Fonte: Acervo André Barrado editasdo pelo autor

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O BAIRRO Atualmente o bairro está concentrado totalmente em um lado da via Anhanguera, embora por muito tempo a maior concentração de estruturas estivesse do lado oposto, conjunto que foi arrasado no final de 2013. A composição do bairro é simples: vila DER acima e vila operária em fileira abaixo, além de ume um grande espaço vegetado entre esses dois núcleos. O único resgistro oficial que diz sobre o número de moradores locais é o decreto municipal nº 1.189 de 1983, que contabiliza 140 casas no conjunto Gato Preto. Porém, com o passar do tempo novos moradores se instalaram no bairro e através de análise baseada em imagem de satélite “street view”, eleva-se esse número para próximo das 200 moradias, sempre com mais de 3 moradores por residência. A dificuldade nessa contagem é que além das moradias visíveis da rua, muitas casas estão “escondidas” ao fundo, por esse motivo a contagem pode se alterar para um número ainda maior. O espaço vazio entre as duas vilas acabam deixando a comunidade segregada, por isso o local escolhido para o projeto é nesse espaço intermediário, com o objetivo de unir as partes e fortalece-las.

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Nesse “vazio” central há ajuntamentos de moradias pontuais e um caminho de terra, que se inicia no asfalto e dá acesso às moradias, vilas de cima e de baixo.

Território Aprox.: 408.000 m² População Aprox.: 200 moradias

Por todo território há uma grande presença de vegetação não roçada variando de aproximadamento 30 centímetros até 2 metros de altura. Além de diversas árvores que circundam adentram o terreno. Dessa forma, é entendido que o lugar tem uma grande relação com o meio natural e essa caracterísitca deverá ser respeita e potencializada em estapa projetual.

VILA DER

MORADIAS PONTUAIS

VILA OPERÁRIA FILEIRA

Via Anhanguera Área de projeto Rio Juqueri-mirim Gato Preto Território industrial

EM

BAIRRO EXTINTO

Figura 55: Mapa Composição do bairro Gato Preto Fonte: Google Earth editado pelo autor


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PRINCIPAIS LOCALIDADES

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O bairro é formado basicamente por duas vilas que estão distantes aproximadamente 450 metros uma da outra. É possivel encontrar no bairro uma antiga sede social que hoje está fechada, duas igrejas, pequenos bares e restaurantes, uma oficina mecânica, e um campo de futebol, que está inutilizável por conta das enxurradas. Também é possivel ir até duas pedreiras abandonadas, parte da herança industrial do bairro. Não há no lugar um mercado, açougue ou comércios maiores, por esse motivo os moradores precisam se deslocar até Jordanésia para fazer suas compras. 88

Via Anhanguera Área de projeto Rio Juqueri-mirim 01 - Acesso a Jordanésia/Jundiaí 02 - Condomínio logístico 03 - Balança e guarda rodoviária 04 - Campo de Futebol 05 - Vila DER 06 - Pedreira abandonada 07 - Moradias pontuais 08 - Igreja católica 09 - Moradias em renque 10 - Extinto Gato Preto 11 - Antiga Sede social 12 - Acesso a Polvilho/SP

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11 Figura 56: Mapa Principais localidades do bairro Gato Preto Fonte: Google Earth editado pelo autor

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USO E OCUPAÇÃO

A predominância do uso do solo em Gato Preto é residencial, assim como no passado. O isolamento que o morros causam no bairro impossibilita seu crescimento e surgimento grandes estabelecimentos. Ao longo do tempo os moradores construiram alguns estabelecimentos comerciais como restaurantes e oficina mecânica, que aproveitando a localização próxima a via anhanguera como uma oportunidade para vender alimentação para um público transitório e serviços para automóveis. Além disso diversas garagens improvisadas existem no lugar, assim como algumas residências pontuais desmembradas das vilas principais. Na área de projeto existe um caminho alternativo, estrada de terra que liga liga as duas vila. Uma ramificação desse caminho alternativo corta a área escolhida para o projeto ao meio. Esse caminho será preservado pois caso contrário, os moradores só poderiam acessar suas residências dando uma grande volta. O caminho também será incorporado como a entrada principal do projeto. 90

Via Anhanguera Área de projeto Rio Juqueri-mirim Residências Garagens Comercial Serviço Religioso Esportivo

Figura 52: Mapa de uso de ocupação do bairro Gato Preto Fonte: Google Maps editado pelo autor

Figura 57: Mapa uso e ocupação do bairro Gato Preto Fonte: Google Earth editado pelo autor

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CONDICIONANTES FÍSICAS Gato Preto é conhecido por sofrer com frequentes inundações. Essas enchentes prejudicam não só os moradores como também a mobilidade da Via Anhanguera, que é parcialmente inundada e interditada, gerando perdas materiais e transtornos aos moradores. Esse fato pode ser explicado através de dois pontos: 1: Sua condição natural: Pois o bairro é localizado em frente ao rio Juqueri-mirim e como todo corpo hídrico, tem sua área natural de cheia durante os períodos de chuva. Além disso o bairro está cercado por morros o que faz toda a água ser direcionada para o bairro.

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A área escolhida para abrigar o projeto é uma área segura, um espaço intermediário entre as duas vilas, com o intuito de promover o encontro dos moradores. Outro ponto seguro do bairro é a área da igreja do bairro, pois está acima do nível da rua. É nessa área também que será proposta uma diretriz para construção de um abrigo para móveis. Um pátio aberto e coberto, que abriga os móveis dos moradores durante as enchentes, e funciona como praça no resto do ano.

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2: Sua condição artificial: Após a construção da via Anhanguera no ano de 1948, as águas que antes eram amortecidas por árvores e gramados, passam a escorrer muito mais rapidamente para as cotas mais baixas. Essa água carrega toda a sujeira presente na via como óleo, borracha e pedaços de plásticos. Mais tarde foram construídos os galpões logísticos que é outro agravante da situação. Em Jordanésia, esses empreendimentos só são possíveis através da execução de terraplanagem nos morros que antes eram permeáveis e cobertos por vegetação. A proximidade dos empreendimentos com o bairro é outro fator a ser considerado. 92

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Via Anhanguera Corpos H. aterrados Corpos H. visíveis Área de inundação Território industrial

Figura 58: Mapa condicionantes físicas do bairro Gato Preto

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800 765

Fonte: Google Earth editado pelo autor

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MORRO DO ROSÁRIO

IGREJA SAGRADOCORAÇÃO DE JESUS

RIO JUQUERI-MIRIM ACESSO AO BAIRRO

VILA OPERÁRIA EM FILEIRA ACESSO AO BAIRRO (retorno)

(retorno) TERRENO DO PROJETO

ANTIGA SEDE SOCIAL

VILA DER

Figura 59: Foto aérea do bairro Gato Preto Fonte: Acervo André Barrado editado pelo autor

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ESTUDOS DE CASO

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INSPIRAÇÕES Casa das Histórias Paula Rego Arquiteto: Eduardo Souto de Moura Localização: Cascais, Portugal Ano: 2009 Em uma tradição onde as memórias estão presentes apenas nos objetos em que o edifício protege, Eduardo Souto de Moura busca na arquitetura da vila local inspiração e identidade para o seu projeto, incorporando esse elemento (memória) não apenas no que vai dentro do edifício mas também no que pode se ver por fora. Destaque na paisagem, as duas estruturas piramidais são inspiradas em uma das casas da vila, de autoria do arquiteto Raul Lino.

Essas estruturas não apenas funcionam para iluminar o os espaços, mas também estabelece hierarquia no projeto, dando destaque para o eixo de entrada. Nesse projeto, Souto de Moura mantém as árvores e terreno original, respeitando o existente, mas cria o contraste necessário através da volumetria “simples” marcada por linhas retas e pela cor terra cota, conseguida através do uso do concreto pigmentado. Essa obra ganhou o Prémio Secil Arquitectura 2010 pelo uso exemplar do concreto e está entre uma das mais simbólicas do arquiteto.

Figura 60:Acesso principal da Casa das Histórias Paula rego Fonte: Kim (2011)

Figura 61: Casa das Histórias Paula Rego, destaque para materialidade e aberturas Fonte: Kim (2011)

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Na organização do programa, é fácil perceber que o elemento organizador do projeto são os salões de exibições fixas e temporárias. Esses ambientes ocupam a maior parte do piso térreo e as demais dependências acontecem ao seu redor. Enquanto o piso térreo abriga primordialmente as áreas culturais, o piso inferior é onde estão os ambientes dedicados ao funcionamento do museu, como sala de arquivo, depósitos e centrais de segurança.

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Figura 62: Planta do pavimento térreo Casa das Histórias Paula Rego

Figura 63: Implantação Casa das Histórias Paula Rego

Fonte: Kim (2011) editado pelo autor

Fonte: Google Earth editada pelo autor

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INSPIRAÇÕES Centro Cultural Comunitário Teotitlán del Valle Arquitetos: PRODUCTORA Localização: Teotitlán del Valle, Oaxaca, México Ano: 2017 Diferente da obra anterior onde o objetivo era criar contraste entre o natural e o construído, o Centro Cultural Comunitário Teotitlán del Valle tem como proposta a integração ao meio existente, tanto natural quanto construído, isso foi alcançado principalmente por sua altura, materiais e suas cores empregadas.

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O projeto é composto por dois volumes. O volume principal faz a transição da cota mais alta para mais baixa por meio de uma escadaria que perpassa a construção e guarda o acervo têxtil e arqueológico Teotitlán del Valle. A planta desse volume mostra como as áreas de exibição do acervo tomam a maior parte da edificação, ao passo que as demais áreas são posicionadas nas bordas e ao fundo do volume, aproveitando o volume que é bem linear da melhor forma possível.

Figura 64: Centro Cultural Comunitário Teotitlán del Valle na paisagem

Figura 65: Plantas Centro Cultural Teotitlán del Valle

Fonte: Centro Cultural Comunitário Teotitlán del Valle (2020)

Fonte: Centro Cultural Comunitário Teotitlán del Valle (2020) editado pelo autor

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Foi importante para a melhor conservação das peças, evitar aberturas que dão para as salas de exibição. Com exceção da sala de exibição têxtil, todas as salas de exibição são completamente sem aberturas, talvez pelo fato de resistência dessas peças. Entendo nessa questão o sacrifício inevitável para os arquitetos de perder o que seria as melhores vistas do terreno.

Como pode ser visto tanto em seu exterior quanto no interior, o Centro Comunitário busca ao máximo se integrar a paisagem local, há pouca diversidade de material na proposta justamente por esse motivo. O tom amarelado que o concreto pigmentado busca pode ser visto tanto nas ruas e residências do entorno quanto na paisagem cultural, englobando elementos naturais e construídos.

Figura 66: Sala de exibição textil Centro Cultural Teotitlán del Valle Fonte: Centro TV (2019)

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INSPIRAÇÕES Torres de Satélite Arquiteto: Luis Barragán e Mathias Goeritz Localização: Naucalpan, México. Ano: 1958

Essa obra que surge da colaboração entre um arquiteto e um artista escultor tem como principal objetivo marcar o acesso a um novo loteamento chamado “Cidade Satélite” que hoje é uma das obras mais emblemáticas do município de Naucalpan, Cidade do México.

Apesar de não se tratar de uma obra habitada e sim de um experimento unificador de arte e arquitetura, as Torres de Satélite de Luis Barragán foram estudadas por conta de sua condição semelhante a encontrada nesse trabalho.

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Figura 67: Torres de Satélite

Figura 68: Torres de Satélite e a escala da cidade

Fonte: Duque 2016

Fonte: Duque 2016

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O conjunto de volumes cegos que se elevam até 52 metros são formados por 5 elementos de altura e cores diferentes um do outro. A obra é feita para se apreciar em velocidade e em movimento através da via, criando um marco na paisagem. Olhando de frente pode ser visto um retângulo cravado no solo, mas ao avançar na via os volumes se alteram em espessura, podendo se tornar flechas que apontam para o céu. O movimento e a velocidade, portanto, têm grande importância para sua criação e transformação constante. As cores que podem ser vistas em muitas obras posteriores de Barragán são conseguidas por pintura e não por pigmentação na composição do concreto, por isso elas podem e já foram coloridas de diversas cores diferentes. Não é difícil perceber que esses elementos não são feitos para a escala do pedestre e sim para a escala da cidade, da velocidade e do movimento, por esse motivo eles foram pensados para serem altos e visíveis a longa distância, funcionando como um ponto de referência na paisagem urbana que se criava na década de 60, onde o carro e as vias estavam em pleno desenvolvimento.

Figura 69: Torres de Satélite na cidade noturna Fonte: Duque 2016

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PROPOSTAS

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A PROPOSTA Por meio de um espaço que valorize a história, a cultura e a paisagem local, a presente proposta não mira o fim da produção de empresas e condomínios logísticos e entende sua importância para o quadro econômico municipal. O objetivo do projeto é alcançar maior equilibrio nessa lógica de produção de cidade que há muito tempo ignora as necessidades culturais de um povo. O Espaço MIAL é um espaço público cultural, de lazer e memória. A proposta pode ser resumida em:

1: O projeto em si. Um conjunto de edificações que estimulam a cultura, lazer e memória;

1 2

2: Um novo trecho viário, conectando o bairro novamente a Via Anhanguera; 3:

Três pontos de ônibus novos, facilitando o acesso ao projeto e ao bairro, levando as paradas para próximo das casas e em frente ao projeto;

3

4: Uma praça seca, que pode funcionar como área de lazer e praça de alimentação. Essa praça faz a ligação da área de projeto com a Vila Operária em renque., através de uma rampa de acesso.

5: Um abrigo para os móveis dos moradores em dias ruins. Que será usado como praça cobertura no resto do ano.

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6: Um novo zoneamento, protegendo de fato o bairro e sua paisagem, que é um patrimônio histórico e cultural de Cajamar;

Sendo o ponto 1 (as edificações) e o 6 (novo zoneamento) os pontos mais detalhados e os demais, diretrizes que apontam uma direção de mudanças e melhorias, mas que prezam por maiores estudos.

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Figura 70: Compilado das propostas Fonte: Autor


MOBILIDADE

O bairro hoje é atendido por 4 pontos de ônibus, três estão localizados na Via Anhanguera e um em uma via local. A intervenção de mobilidade que é proposta nesse trabalho está na escala micro (escala do bairro) e macro (escala do município). A intenção que o projeto tem de conectar as duas vilas, através dos caminhos e paisagismo, está na escala micro. A proposta de uma reconexão do bairro diretamente com a Via Anhanguera está na escala macro. A proposta de um novo trecho asfaltado torna bairro mais convidativo e facilita o acesso a ele, tanto de carro como de transporte público. O bairro já é acessado por uma linha de transporte público, porém os pontos estão as margens da Via Anhanguera. Por isso serão propostos 3 novos pontos de ônibus em locais mais seguros e confortáveis, aproveitando tmbém a proposta do trecho viário. 114

Via Anhanguera Área de projeto Rio Juqueri-mirim Proposta trecho de via Pontos de ônibus existentes Pontos de ônibus propostos

Figura 71: Mapa de mobilidade do bairro Gato Preto Fonte: Google Maps editado pelo autor

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UM NOVO ZONEAMENTO Um novo zoneamento para a área do Gato Preto representa o cuidado e o preocupação em preservar o patrimônio que temos. A organização do solo não está nada favorável a conservação do nosso patrimônio histórico e cultural de Cajamar. Estamos perdendo a nossa vegetação nativa, nossos morros, nossas edificações históricas. A nossa lembrança desses tempos que faz parte de quem somos já não é tão forte como antes.

Situação existente ZUI

Situação desejada ZMU

ZER 1

As novas propostas de uso do solo são: ZEIHC - Zona Especial de Interesse Histórico e Cultural Vilas Operárias Pedreiras abandonadas 116

ZER 2

ZIA

ZIA

Um novo zoneamento para a área do Gato Preto representa o cuidado e a preocupação em preservar o patrimônio que não estamos tendo. Resumidamente a proposta se trata da criação de um polígono cultural que envolve todo o Gato Preto. Com demarcações das Vilas operárias e das pedreiras abandonadas identificadas. Também foi pensado na ampliação da Zona de Interesse Ambiental que na situação desejada se une ao gato preto e estimula a prática do ecoturismo que já acontece nesse território.

ZMU

ZEIS

ZEIS ZER 3

ZIA ZEIHC

ZMI ZUPI 1

ZUPI 1

ZUI ZIA

ZIA ZUI - Zona Urbana Inteligente ZMU - Zona Mista Urbana ZEIS - Zona Especial de Interesse Social

Figura 72: Mapa Zoneamento existente no Gato Preto

Figura 73: Mapa Proposta de um novo zoneamento para o Gato Preto

Fonte: Google Maps editado pelo autor

Fonte: Google Maps editado pelo autor

ZIA - Zona de Interesse Ambiental ZER - Zona de Uso Predominantemente Residencial ZUPI - Zona de Uso Predominantemente Industrial

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Espaço MIAL espaço misto de incentivo ao aprendizado a lembrança

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TERRENO DO PROJETO

O terreno é um espaço intermediário entre as duas vilas restantes do bairro Gato Preto, a vila DER e a Vila Operária em Renque. Tem uma área de 13.142 m² e está localizado em um lugar com muita presença de vegetação nativa local. Suas principais características são o formato triangular, sua frente que mede por volta de 195 metros voltada para Via Anhanguera e um caminho de terra central, que leva a algumas moradias pontuais atrás do lote e que corta o terreno ao meio.

²

Como o terreno ocupa o meio entre as duas vilas, era importante conectar o projeto com as duas extremidades. Por isso foi dada atenção devida ao entorno, com propostas que buscam conectar o projeto ao bairro. Os recuos adotados foram de 5 metro para frente e 3 metros para laterais de fundo.

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Figura 74: Foto aérea do terreno do projeto

Figura 75: Dimensões do terreno do projeto

Fonte: Acervo André Barrado editado pelo autor

Fonte: autor

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SISTEMA CONSTRUTIVO E MATERIAIS

O sistema construtivo adotado foi o convencional. Estruturas de concreto armado com fechamento em alvenaria de bloco cerâmico, revestido com reboco e pintura avermelhada. O concreto já é um material conhecido do bairro, visto que faz parte do seu histórico industrial e minerador. Também foi adotado pela questão de viabilidade. O concreto ainda é um dos materiais mais baratos para se construir, essa desição torna o projeto mais próximo da realidade local e possível de ser concretizado. A escolha dos materiais, foi feita sobretudo por motivos estéticos, com a intenção de criar contrastes de formas e cores na paisagem. Assim como a “Casa das Histórias Paula Rego” do arquiteto Eduardo Souto de Moura, o projeto busca em suas cores o contraste com o que já existe e é imutável, a natureza. O verde das árvores e o azul do céu foram o ponto de partida para a escolha do vermelho das paredes, o vermelho ferrugem do aço corten e do alaranjado da pavimentação feita de tijolos. 122

Figura 77: Compilado dos materiais usados Fonte: autor

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VIABILIDADE DO PROJETO

PÚBLICO ALVO

POTENCIALIDADES

Tomando distância de uma proposta bairrista, o espaço estará aberto a todos, visando receber moradores, estudantes ou apaixonados pela história ferroviária Brasileira. A público alvo certamente seria os Cajamarenses, mas a ideia é que o publico também venha de regiçoes vizinhas como Jundiaí, Várzea Paulista, Caieiras e Santana de Parnaíba.

O bairro é bem articulado tanto com a capital quanto com o interior paulista graças a proximidade com a via Anhanguera. É cercado por montanhas e mata, lhe concedendo grande valor paisagístico. Um Centro de cultura e memória no contexto de Cajamar cria oportunidades de emprego, para os moradores do bairro e para o município, contribuindo também para economia regional. Além de gerar uma alternativa cultural para o município, reeduca e aproxima o público de questões como a valorização da paisagem, da memória e desenvolvimento cultural, setor tão ignorado no contexto de Cajamar.

A motivação para a visita do público vizinho está no programa, que mescla espaços de aprendizagem e lazer. Na facilidade de acesso, pois a Via Anhanguera é caminho obrigatório para muitos deslocamentos. E na própria arquitetura, que é destaque na paisagem e a torna evidente e convidativa, aguçando até mesmo a curiosidade de quem passa na via.

palestras

escolas

exposições

DEFICIÊNCIAS Percebe-se tanto na legislação quanto nos mapas de ordenamento do solo, o grande interesse em desenvolvimento industrial, que passam por cima inclusive, dos próprios patrimônios, revelando a contradição entre legislação e prática. Apesar da Lei complementar Nº 179 de 18 de dezembro de 2019 (plano diretor municipal) indicar a importância da ação pela valorização da memória e da cultura, não existe no município estrutura e interesse que suporte o desenvolvimento de uma medida real de preservação e desenvolvimento cultural.

espaço MIAL

universidades

turismo

famílias Figura 78: Possiveis públicos para o projeto Fonte: autor

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PROGRAMA O objetivo do programa é criar um espaço público que incentive a cultura e valorize a memória do município, visando o equilibrio entre o desenvolvimento econômico e cultural da cidade. Para tanto, serão criados ambientes voltados produção educacional, cultural e preservação da memória, além de espaços de lazer/convivência. O programa completo será: CULTURA Galeria de exposições: 500m² Auditório 96 lugares: 250m² Biblioteca: 220 m² Salas desprogramadas: 75m² cada

Depósito:20 m² Administração: 50m² Ambulatório: 50m² Corredor técnico: 35m² Paraciclos: 25 vagas Estacionamento: 55 vagas CONVIVÊNCIA: Praças: Ar livre Marquise: 210 m² Quadra poliesportiva: 375 m²

Sede comunitária: 100m² SERVIÇO Café+praça de alimentação: 220m² Bilheteria: 15 m² Sanitários: 55 m² Vestiários: 65 m² 126

Figura 79: Carregamento de calcário com destino a Perus - 1970 Fonte: Blog “Nidão e suas histórias” editado pelo autor

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CONCEITO E PARTIDO O conceito desse projeto são os medos presentes no bairro. Para elucidação desses medos na arquitetura serão usadas as alegorias: Na literatura, alegorias funcionam como uma metáfora onde o enredo é um símbolo para uma questão importante, elas geralmente são formadas por duas camadas, a superficial e a conceitual. As alegorias usadas nesse projeto são o medo da água e medo do esquecimento, dois problemas que o bairro enfrenta há algum tempo.

Figura 81: Colagem do conceito do projeto

Se a arquitetura está elevada, é pelo medo da água, pois quando ela vem, muito se perde. Se ela é repetitiva, é pelo medo do esquecimento, pois a repetição nos faz lembrar melhor de algo que não queremos esquecer.

Fonte: Autor

Essas características (elevação e repetição) também podem ser encontradas na própria arquitetura do bairro, onde as unidades de habitação foram repetidas por um fator econômico de construção, e posteriormente elevada, pelos próprios moradores, como uma medida de proteção as frequentes enchentes que atingem o bairro. A elevação e repetição são metáforas para uma questão importante, o esquecimento.

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Figura 80: Diagrama de partido arquitetônico do projeto

Figura 82: Elevação e repetição presentes no bairro Gato Preto

Fonte: Autor

Fonte: Acervo Letícia Hayashi editado pelo autor

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PLANO DE MASSAS O conceito e partido do projeto me fez entender a proposta desde o início como um ponto referencial frente a via Anhanguera. Tanto suas dimensões de altura, como sua característica de repetição rigorosa, já decididas na etapa anterior, me faziam imaginar o projeto um marco nesse contexto de movimento e velocidade que a escala do carro e da cidade pede.

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PLANO DE MASSAS Foi pensado em um grnade volume paralelo à via, uma base longa e estreita, na qual os volumes superiores iriam se apoiar.

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Como o caminho central devia ser preservado, esse volume que inicialmente ocuparia toda a frente do terreno como um monolítico, se dividiu em dois blocos menores, porém conectados de alguma forma.

A primeira coisa a se fazer nessa etapa foi pesquisar e mapear as “coisas” a serem preservadas.

O antigo acesso que era de terra ainda poderia ser usado pelos moradores, mas agora também funcionaria como a entrada do projeto. O acesso principal foi então definido.

Foram consideradas importantes a vegetação préexistente no terreno, assim como um caminho de terra que corta o terreno ao meio e liga a via local a moradias pontuais.

Surgiram também eixos de circulação, que auxiliaram o projeto a crescer ao redor deles.

Figura 83: Croquis de evoluções projetuais Fonte: Autor

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PLANO DE MASSAS Eu tive muita dificuldade para “crescer” o projeto. A fachada estava pronta, mas faltava equilíbrio e eu não queria ser um arquiteto só de fachada. Nessa altura minhas ideias estavam um completo caos, as evoluções não tinham coerência com a proposta inicial e tudo soava desorganizado e feio. Um dos blocos chegou a sumir, enfim.

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PLANO DE MASSAS O conflito de ideias pode ser visto na primeira entrega. Eu gostaria muito de ter no projeto algo que relembrasse os fornos metálicos, elementos característicos na história do município.

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Esse conflito entre forma e objetivo foi muito desgastante durante todo o processo. Porém, mais tarde essa mimetização foi deixada de lado. Depois de disso o projeto se tornou mais claro quanto a seus objetivos: Representar os medos do bairro. E não fazer mimetizações batidas.

Figura 84: Plano de massas enviado na primeira entrega Fonte: Autor

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PLANO DE MASSAS Demorei muito tempo para notar que precisava de um sistema de grelha, não só por questões de organização geral da imaplantação, mas fazia sentido usar a modulação também para composição dos blocos, já que a proposta envolve o conceito de repetições.

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PLANO DE MASSAS Dessa forma, aproveitei as ideias iniciais de composição dos blocos e eixos de circulação, porém de forma organizada. Sem precisar interferir na vegetação e no caminho pré existente.

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Módulos de 5x5 metros formam uma grelha que sobreposta ao terreno, define (mas não limita) o processo projetural.

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Figura 85: Diagrama explicativo sobre a modulação do projeto

Figura 86: Modulação geral do projeto

Fonte: Autor

Fonte: Autor

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PLANO DE MASSAS Nesse desenho é possível ver a o espaço vazio entre os blocos de baixo, que forma a entrada do projeto. Também é possível ver uma tentativa de escadas externas para acesso dos blocos superiores.

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E por fim, coloca-se no papel a intenção de usar um material que tenha valor simbólico no projeto. No caso foi pensado uma fachada usando pedras, mas a solução foi deixada de lado, dando lugar ao aço corten na fachada.

Figura 87: Croquis com intenções de fachada Fonte: Autor

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PLANO DE MASSAS Nesse desenho é possível ver a o espaço vazio entre os blocos de baixo, que forma a entrada do projeto. Também é possível ver uma tentativa de escadas externas para acesso dos blocos superiores.

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E por fim, coloca-se no papel a intenção de usar um material que tenha valor simbólico no projeto. No caso foi pensado uma fachada de pedra, simbolizando o passado minerador e ferroviário do bairro.

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INSOLAÇÃO E VENTILAÇÃO Os estudos indicaram que a fachada principal, voltada à oeste, deveria ou ter poucas aberturas ou muitas aberturas com proteção solar. O projeto é formado por diversos volumes e muitas aberturas principalmente no pavimento superior, por isso o uso dos elementos vazados na fachada oeste foi adequado e ajudou na composição estética dos volumes. Já que os ventos sopram principalmente do sul, sudeste e leste, essas e suas opostas eram as mais adequadas para abrigar as aberturas e a ventilação cruzada.

Figura 88: Renderização com destaque para Pav. superior

por do sol

nascer do sol

Fonte: Autor

No térreo, as aberturas do projeto estão principalmente na fachada Oeste e Norte, protegidas por elementos vazados. No pavimento superior os blocos são vazados no sentido leste oeste, protegidos por uma meia parede de alvenaria e finalizada por elementos vazados, possibilitando boa troca de ar nessas “cabines”. O projeto adotou um conjunto de coberturas metálicas, que permitem entrada de luz zenital e circulação de ar em todo o térreo e reforça o conceito de repetição. 140

predominância dos ventos interpolação feita a partir de São Paulo, Campinas e Sorocaba Figura 89: Corte com destaque para cobertura metálica

Figura 90: Diagramas de insolação e ventilação

Fonte: Autor

Fonte: Autor

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COEFICIENTES DE CONSTRUÇÃO O projeto não atinge o potencial construtivo máximo. Mas entende que sua principal função não é a de construir o máximo possível. Muitas edificações já fazem isso muito bem por aqui. Se trata do vislumbre de um futuro possível, onde o direito a moradia é respeitado, a cultra aflora e da frutos à sua população. Não se trata “apenas” de um exercício imaginativo, mas está longe de ser uma proposta estratégica, do ponto de vista técnico e ideológico. Por isso o projeto pode ser entendido como coerente e relevante para o que foi proposto. Área do terreno: 13.142 m² Zoneamento do terreno: Proposta alteração de Zona de Uso Predominantemente Industrial (ZUPI) para Zona Mista Urbana (ZMU) como instituição Especial 3 (E3)

Lei de uso e ocupação do solo Coeficiente de aproveitamento: 2 (26.284 m²) Taxa de Ocupação: 70% (9.199 m²) Taxa de Permeabilidade: 5% (6.571 m²)

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Alcançado 7.687 m² (0,58) 6.937 m² (52,78%) 6.205m² (47,21%) Figura 91: Coeficientes de construção do projeto

Figura 92: Galpão “invadindo” bairro residencial

Fonte: Autor

Fonte: Autor

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FLUXOGRAMA

FLUXOS Mooradores Visitantes Funcionáiors Carga e descarga 144

Figura 93: Fluxograma do projeto Fonte: Autor

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PLANTAS

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PLANTA DE IMPLANTAÇÃO 15

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GATO PRETO CAJAMAR

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11 10

05

02

09

05

03 04 01

16

03 15

Figura 94: Plantas do Projeto Fonte: Autor

01: Acesso à Jundiaí 02: Proposta Trecho Viário 03: Pontos de Ônibus existentes 04: Passarela 05: Proposta Ponto de Ônibus Viária 06: Vila DER 07: Espaço MIAL 08: Moradias Pontuais 09: Proposta de Praça de Alimentação 10: Proposta Rampa 11: Igreja 12: Proposta Abrigo para Móveis 13: Proposta Rampa de Acesso ao Bairro 14: Vila Operária em Renque 15: Rio Juqueri-Mirim 16: Acesso à São Paulo

148

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01: Biblioteca 02: Guarda Volumes 03: Sala Leitura 04: Atendimendo Biblioteca 05: Café 06: Praça de Alimentação 07: Sala Funcionários 08: Sanitários 09: Ponto de Ônibus 10: Acesso Principal 11:Bilheteria 12: Depósito 13: Corredor Técnico 14: Jardim Coberto 15: Galeria de Exposições 16: Adminsitração 17: Depósito da Galeria 18: Rampa 19: Vestiários 20 Quadra 21: Depósito 22: Sede Comunitária 23: Sala Reuniões 24: Ambulatório 25: Marquise 26: Praças 27: Carga e Descarga 28: Estacionamento Ônibus


01:

Depósito

02:

Sala

Leitura

03:

Sala

Projeção

04:

Auditório

05:

Palco

06:

Camarim

07:

Salas

desprogramadas

08:

Sala

Multiuso

09:

Sanitários

10:

Terraços


154

155


156

157


158

159


160

161


CORTES

162

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CORTE AA 2,5

5,0

10,00

Figura 95: Cortes do projeto Fonte: Autor

164

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CORTE BB 2,5

166

5,0

10,00

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CORTE CC

168

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PERSPECTIVAS

170

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Figura 96: Perspectivas do projeto

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Fonte: Autor

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174

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e

s

p

a

M

I

A

L

ç

o

espaço Misto de Incentivo ao Aprendizado

Figura 01: Esplanada de Gato Preto Fonte: Diário de Cajamar editado pelo autor

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Lembrança

Figura 02: A Tube Spring Fonte: Peñalver editado pelo autor


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