PROJETO RONDON E A UFRRJ

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Breno de Paula Andrade Cruz, Richard Andrade Pires e Eduardo da Rocha

PROJETO RONDON E A UFRRJ fotograas e relatos da operação itacaiúnas



PROJETO RONDON E A UFRRJ fotograas e relatos da operação itacaiúnas Breno de Paula Andrade Cruz, Richard Andrade Pires e Eduardo da Rocha Seropédica-RJ, 2016.


378.1030981 C957p

Cruz, Breno de Paula, 1982Projeto Rondon e a UFRRJ: fotografias e relatos da operação Itacaiúnas [recurso eletrônico] / Breno de Paula Andrade Cruz, Richard Andrade Pires e Eduardo da Rocha. Seropédica, RJ: Ed. da UFRRJ, 2016.

Modo de acesso: Internet. ISBN: 9788580670844(E-BOOK)

1. Projeto Rondon – Obras ilustradas. 2. Comunidade e universidade - Brasil. 3. Fotografia. 4. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. I. Pires, Richard Andrade, 1991-. II. Rocha, Eduardo da, 1981. III. Título.


agradecimentos

PROJETO RONDON E A UFRRJ fotograas e relatos da operação itacaiúnas

Nós, organizadores do livro, gostaríamos de agradecer a cada um de vocês que acreditou no nosso trabalho. Isso nos motivou a acreditar que poderíamos tornar nossas experiências públicas por meio de um e-book. Prof.a. Beatriz Villardi (UFRRJ) Breno Soares Gusmão Prof.a. Ambrozina de Abreu Pereira Silva (UFOP) Antonio Luiz Pires Prof.a. Alessandra Devitte (Univali) Carolina Souza Ribeiro da Costa Prof.a. Doraliza Monteiro (UFRB) Karine Conceição de Oliveira Prof. Marcos Antônio da Silva Batista (UFRRJ) Luciana Pinheiro Luciano Matheus (UFRRJ) Prof. Paulo Ricardo da Costa Reis (UFRRJ) Prof. Robson Amâncio (UFRRJ) Obrigado por nos fazer acreditar que seria possível!!! Prof. Breno de Paula Andrade Cruz Richard Andrade Pires Eduardo da Rocha



“Não basta olhar o mapa do Brasil aberto sobre a mesa de trabalho ou pregado à parede de nossa casa. É necessário andar sobre ele para sentir de perto as angústias do povo, suas esperanças, seus dramas ou suas tragédias; sua história, e sua fé no destino da nacionalidade.” Equipe do Projeto Rondon, USP 1979


Às ex-alunas Sônia Maria Martins Passos e Fernanda Santos de Souza Ayres que tornaram possível sonhar com o Projeto Rondon na UFRRJ. Prof. Breno de Paula Andrade Cruz

A todos os moradores de Rio Maria e em especial a cada rondonista que deu seu melhor nesse projeto fazendo com muito amor. Como disse Friedrich Nietzsche: “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.”

dedicatória

richard andrade pires

Dedico a todos os alunos da Universidade do Vale do Itajaí e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro que juntos zeram um belo trabalho nesta operação Itacaiúnas, do Projeto Rondon, aos setores de pesquisa e extensão de ambas as universidades e a toda população e entidades municipais de Rio Maria que não mediram esforços em nos ajudar nas atividades desenvolvidas durante o projeto. Eduardo da Rocha


prefácio

No livro “Projeto Rondon e a UFRRJ: fotografias e relatos da operação Itacaiúnas” somos conduzidos pelos olhares curiosos e sensíveis de Breno de Paula Andrade Cruz, Richard Andrade Pires e Eduardo da Rocha, em 48 registros fotográficos que capturam instantes, emoções e vidas sobre a experiência em Rio Maria (Pará) na Operação Itacaiúnas realizada no ano de 2015, durante a participação da UFRRJ no Projeto Rondon. O livro possibilita refletir sobre os múltiplos encontros vivenciados entre estudantes, professores e os sujeitos envolvidos no projeto. O que significa ser rondonista? A resposta a essa pergunta é apresentada ao longo do livro por meio das fotografias que rememoram as práticas cotidianas dos/as participantes do projeto organizadas em 40 temáticas, que expressam os principais acontecimentos dos/as participantes. Dessa forma, as produções imagéticas mostram as vivências dos autores do livro e dos participantes e apontam para um futuro, isto é, possibilitam uma reflexão sobre um passado, deixando pistas para a construção de um futuro. Ademais, sobre a relação entre extensionistas e participantes de pesquisa quanto à construção do conhecimento, cabe apontar as palavras de Leny Sato, em seu artigo “Olhar, ser olhado e olhar-se: notas sobre o uso da fotografia na pesquisa em psicologia social do trabalho”publicado na revista Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, em 2009: “A máquina fotográfica funcionou como mediação entre pesquisadora e pesquisados, na qual a promessa de fixação da imagem abriu espaços que potencializaram meu conhecimento dos valores sociais que sustentam a feira livre, das feições dos processos que a organizam, notadamente a sua organização em rede, e da estreita relação entre trabalho, arte e sociabilidade” (SATO, 2009, p. 217).

Ainda que a autora esteja se referindo à atividade investigativa realizada no âmbito de uma feira livre, penso que o mesmo se pode dizer para os/as extensionistas. A extensão, parte constitutiva da universidade, assim como o ensino e a pesquisa, articula saberes fundamentais, sendo possível por meio dessas vivências uma transformação social com vistas a uma sociedade mais justa. Nas fotografias apresentadas ao longo desse livro, ficam expostas as trocas, as possibilidades de diálogo entre os/as rondonistas e a comunidade, e uma outra forma de comunicar, para além da palavra. Finalmente, em algumas áreas do conhecimento, um livro como este se coloca quase como um ato de transgressão ao formalismo acadêmico, revelando uma maneira de abrir caminhos para uma outra comunicação, uma forma diferente de fazer extensão e relatar os “achados” do trabalho, a partir de fotografias que mostram as interações, os sorrisos, o suor, os corpos, as conversas e os acordos antes e depois da “foto”. Certamente, é uma tentativa de articular o ensino, a pesquisa e a extensão e as imagens mostram um trabalho sério e comprometido com uma forma de “amarrar” arte e ciência, fundamental para o destino das universidades. Desejo, então, uma boa leitura e que inspire novas propostas de trabalho.

Prof.a Dr.a. Geruza D'Ávila (UFRRJ) Instituto Multidisciplinar - UFRRJ


ÍNDICE

4

Era uma vez

5

Gratidão

7

A missão

8

Transmitir conhecimento

10

Semear a alegria

11

Caminhando e cantando e seguindo a canção

13

O dia S

15

Semear a alegria

16

O Rondon chegou

18

O gingado do Pará

19

As crianças - sim, as crianças

21

Flauta

23

Transformando lixo em arte

25

Eu fico com a pureza das respostas das crianças


27

O que plantamos

29

Aprendendo a aprender

31

Via de mão de dupla

34

Desejo

36

Super fantástico

38

A informação

39

Oficina de dança - um resgate da cultura paraense

41

Capoeira como instrumento da cultura de paz

43

Uma vez rondonista, sempre rondonista

44

O Miss Rondon

45

Sobre os autores - Breno de Paula Andrade Cruz

46

Sobre os autores - Richard Andrade Pires

46

Sobre os autores - Eduardo da Rocha



E r a

u m a

v e z . . .

Era uma vez... Era uma vez uma universidade na região metropolitana do Rio de Janeiro que resolveu escrever uma proposta a ser submetida ao Projeto Rondon e que concorreu com mais de 200 outras universidades em todo o Brasil. A universidade foi escolhida com outras 29 instituições para atuar na Operação Itacaiunas nos estados do Pará e Tocantins, em julho de 2015. Itacaiunas é o nome de um importante rio que corta os estados do Pará e do Tocantins e por isso deu nome à operação conduzida e planejada pelo Exército Brasileiro. O nome dessa instituição é Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e está situada na cidade de Seropédica (RJ). À frente deste projeto esteve o professor Breno de Paula Andrade Cruz que sempre se orgulhou da equipe que escolheu para trabalhar. Antes da Operação Itacaiunas, o professor Breno esteve a frente da Operação Porta do Sol pela UFRRJ, na Paraíba, em janeiro de 2015. Na Operação Porta do Sol, as alunas do curso de Administração Pública da UFRRJ, Sônia Martins Passos e Fernanda de Souza Ayres, acreditaram que poderiam sensibilizar o professor Breno para juntos escreverem a proposta do Projeto Rondon. Juntos, os três, escreveram o projejo que foi aprovado pelo Ministério da Defesa e que reativou na UFRRJ o Projeto Rondon - visto que a universidade já não participava há 8 anos. Após a Operação Porta do Sol na Paraíba, o professor Breno resolveu convidar outros dois alunos do curso de Administração Pública da UFRRJ para atualizarem a proposta que tinha sido aprovada na edição anterior. Luciano Matheus e Silvia Duarte foram responsáveis pela atualização da proposta da Operação Itacaiunas - que também foi aprovada e que é relatada neste livro por meio dessas fotos. Sônia e Fernanda, assim como a proferira Biancca Scarpeline de Castro e outros rondonistas da

operação Porta do Sol, ajudaram o professor Breno a escolherem os novos integrantes que se juntariam à Sílvia e Luciano. Assim, a equipe já possuía três pessoas e restavam ainda seis vagas para alunos de toda a UFRRJ. Foram mais de 70 inscritos e um processo de seleção muito competitivo. Uma paraense mandou um email para o professor Breno - era uma aluna de Agronomia de apenas 19 anos e que tinha nascido no Pará. Thays Carmo Sodré escreveu no email que o Projeto Rondon tinha passado por sua cidade (São Domingos do Capim - PA) e que o sonho dela seria participar do Projeto Rondon, sendo aquele uma oportunidade ímpar em sua trajetória. E, mais que uma oportunidade, era no estado dela. "Não teria como não escolhe-la", pensou o professor Breno. Além de tantas coincidências, ela ainda tinha um talento musical, cultural e agronômico que seria bem utilizado na operação. Entre os currículos enviados e selecionados para a entrevista, surge Richard Andrade Pires - aluno de Arquitetura e Urbanismo que tinha ganhado um prêmio de teatro, na adolescência, em São Paulo. Ao mesmo tempo, Richard tinha realizado trabalho voluntário com curdos na Itália quando participou do Ciência sem Fronteiras e aparentava ter uma capacidade gigantesca para produzir materiais que pudessem comunicar com a população de Rio Maria. Com tantas habilidades, ali se escolhia mais um rondonista da UFRRJ. Ainda nas entrevistas, um aluno de Engenharia Florestal começou a falar de sua bolsa de iniciação cientíca e da empresa júnior. O professor Breno redireciona a entrevista dele e pergunta: "João Paulo, qual a relação então das biojóias e o Pronaf Mulher que você citou?". E, em menos de dois minutos, aquele aluno associava a pesquisa da iniciação cientíca dele com o Pronaf Mulher e apresentava ideias geniais para implementação daquelas técnicas associando-as às possíveis estratégias de aumento de renda das mulheres em Rio Maria por meio do artesanato. "Bingo!" - pensou o professor Breno. Outro membro da equipe da Rural tinha sido

escolhido. "E a Mosquetérica pode ser usada para combater os vetores da Dengue, Chyncunguya..." falava Priscila Paixão quando foi interrompida pelo professor Breno na entrevista. "Além disso, Priscila, dos seus conhecimentos técnicos, o que você faz nas horas vagas? O que você gostava de fazer quando criança?". Pergunta estranha, mas respondida: "Quando eu era criança eu praticava esportes e até z ginástica rítmica" - respondeu a aluna de Ciências Biológic as. Além dos conhecimentos técnicos em suas áreas de formação, os rondonistas da Rural devem possuir outras características e experiências que os possibilitem transitar em outras áreas coo Cultura e Direitos Humanos. Ali estava escolhida mais uma integrante da UFRRJ. Rafael Moura queria tanto participar do Rondon que levou até uma televisão para a apresentação dele em sua apresentação caso o projetor não funcionasse. E o projetor não funcionou, mas ele estava t o t a l m e n t e p r e pa r a d o . A l é m d e s e u s conhecimentos técnicos na área de Engenharia Ambiental, Rafael tocava auta e junto com Thays foram responsáveis por ensinar as crianças de Rio Maria a aprender auta e apresentarem esse resultado diante de toda cidade. Lembram do Luciano Matheus que ajudou o professor a rever o projeto e a submete-lo? Então, ele foi o braço direito do professor Breno em toda a operação, atuando quase como um professor ao auxiliar a resolver muitos problemas antes da operação e possibilitando a comunicação entre toda a equipe. E aquela menina da foto no começo dessa estória? Claro... Ela é a Gildete Dias, aluna de Psicologia da UFRRJ. Sabe aquela pessoa que te transmite paz e serenidade? É ela... e, além disso, como é boa tecnicamente na sua área de formação e como foi importante tê-la no grupo para abordar a Cultura de Paz por meio da Capoeira e dos Jogos Rondon. Gildete junto com Luciano, Sílvia, Thays, Richard, João Paulo, Priscila, Rafael e o professor Breno completam a equipe do Rondon da UFRRJ na Operação Itacaiunas.


Gratidão Nossa passagem por Rio Maria não teria sido tão empolgante, feliz e prossional se não contássemos com o apoio da Prefeitura Municipal por intermédio do senhor secretário de Educação, Cultura e Esportes, Wanderley Milhomen e sua equipe. Desde a viagem precursora fomos recebidos com carinho, atenção e dedicação. Por meio de sua equipe, Wanderley se fez presente em praticamente todas as ações. Seu empenho em nos proporcionar uma estadia hospitaleira, carinhosa e cuidadosa nos ajudou a executar um excelente trabalho. Deixamos nossos agradecimentos à toda equipe da Prefeitura Municipal de Rio Maria, em especial à Antônia, Kyeide, Vânia, Ana Paula, Roni, Ana, Sônia, Carla, Wesley, Mailson, Loirinho, Adejair e tantos outros. Com vocês nossos dias foram bem mais gostosos. Ao Ministério da Defesa agradecemos todo o cuidado conosco no 52 BIS (Marabá-PA) e a todos os membros do Exército Brasileiro que nos serviu com eciência, cuidado e respeito. Nosso especial agradecimento ao General Walmir Almada Schneider Filho, que não poupou esforços para ajudar a equipe da UFRRJ que perdeu o vôo em função de congestionamento; ao comandante da operação Itacaiunas, Coronel Alexander Fortes do Nascimento, que se dedicou às mais de 30 instituições e nos auxiliou em diversos momentos; e, ao querido Capitão da Silva, um amigo da UFRRJ que nos apoiou em todas as operações do Rondon e que agora se encontra na reserva. Ao povo de Rio Maria, somos muito gratos a vocês, obrigado por sua alegria!



N

o Estado Rio de Janeiro tem praia e oresta. Em Seropédica calor, a linda arquitetura antiga da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e seus estudantes com histórias de vida singulares. Para alguns é uma luta constante para sobreviver em função de carências econômicas. Para outros, as demandas da vida acadêmica também são obstáculos a serem vencidos. A sobrevivência na UFRRJ ou na selva Paraense na Operação Itacaiunas preparou os rondonistas ruralinos para uma missão difícil: lidar, problematizar e pensar nas diferenças sociais e econômicas vericadas in lócus na cidade de Rio Maria (PA) e em outras cidades do Pará e Tocantins. A nossa missão foi debater e pensar estratégias de desenvolvimento local para as cidades as quais passamos. A parceria do Exército Brasileiro foi essencial para que juntos pudéssemos cumprir nossas missões. E, juntos, sobrevivemos às crises, diferenças e diculdades acreditando ser possível sim multiplicar e viver experiências na busca de um Brasil mais justo.


T

ransmitir e construir conhecimento com as comunidades é algo que nós rondonistas procuramos realizar em todas ações nos municípios em que passamos. Visualizamos nas crianças o nosso principal multiplicador. Serão elas que transmitirão aos seus familiares e outras crianças as informações absorvidas relacionadas aos Direitos Humanos, Saúde, Cultura e Meio Ambiente. Crianças são sonhadoras e elas se engajam por um mundo melhor. A s s i m , p r e pa r a r m at e r i a i s e o  c i n a s direcionadas a elas e aos adolescentes tem sido uma estratégia dos rondonistas da UFRRJ para multiplicar a absorção de conteúdos, evitando um conhecimento transmitido de maneira ortodoxa por meio de aulas expositivas. Vamos brincar, aprendar e sonhar com um Brasil melhor?



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formação do cidadão passa por diversos eixos e um importante eixo é a Cultura. A valorização da Cultura pelos cidadãos depende, em grande parte, das experiências prévias que eles tiveram em suas vidas. De maneira lúdica, decidimos multiplicar por meio da alegria nossas ações culturais, associando-as, de maneira transversal, ao combate à violência no lar e no ambiente escolar. E nessa diversidade e possibilidades de ações, nos divertimos, sorrimos, aprendemos e tentamos deixar uma semente da alegria em Rio Maria.


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omos todos iguais, braços dados ou não. Nas escolas, nas ruas, campos, construções. Caminhando e cantando e seguindo a canção.

Então, vem, vamos embora que esperar não é saber E quem sabe faz a hora não espera acontecer” (Caminhando e Cantando - Geraldo Vandré)



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r para sala de aula? Criança nas férias quer brincar e se divertir.

Foi pensando nisso que criamos o Dia S - Dia de Saúde. Distribuímos calendários personalizados com as principais doenças identicadas pela coordenação da UFRRJ na visita precursora a Rio Maria. Criamos também o tabuleiro de jogos que tinha como objetivo conscientizar as crianças sobre as prolaxias das principais doenças. O resultado dessa estratégia inovadora foi a premiação da UFRRJ no II Congresso Rondon em 2015, cando com o segundo lugar de melhor poster e e estratégia de intervenção. Foram 192 concorrentes e camos em segundo lugar. Foi uma vitória que destacou ainda mais o trabalho da nossa universidade em relação à extensão universitária.



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evar conhecimento por meio da alegria é outra estratégia adotada pela UFRRJ em suas ações nos m u n i c í p i o s p o r o n d e pa ss a . As ações de Cultura estão presentes nas apresentações dos rondonistas e nas ocinas que estimulam o resgate da cultura local e da alegria de se viver em um país tão rico culturalmente. Com palhaços, bonecos e fantasias que vão desde um cientista maluco até o resgate de danças do Estado, como o Carimbó no Pará, distribuímos alegria, recebemos sorrisos e convidamos a população para construir conosco nossa passagem pela cidade.


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lô cidade! O Rondon chegou...

Respeitável público! Dêem boas vindas ao Rondonzinho e à Rondonzete! Seja por meio dos materiais lúdicos, das ocinas planejadas e ministradas por nós rondonistas com carinho e detalhes minimamente pensados ou pelas conversas com os gestores municipais, sempre procuramos marcar nossa passagem pela cidade de maneira espontânea e alegre. Rondonzinho e Rondonzete foi uma ideia proposta pelo João Paulo Ramos, já que iríamos deslar por Rio Maria entregando a programação das ações do Projeto Rondon na cidade. "Se nas Olimpíadas e na Copa do Mundo existem mascotes, teremos os nossos também!" - c o n c l u i u J o ã o Pa u l o . E foram muitas seles com os mascotes do Projeto Rondon em Rio Maria. Ir aos bairros mais afastados com tanta alegria, com instrumentos musicais e com outras fantasias foi essencial para despertar o sentimento de que o Rondon vai onde existem pessoas querendo este cuidado e contato.


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Ai Menina - Lia Sophia Menina o que fazer com seu rebolado? Ai á Menina o que fazer com essa saia rodada? Ai á Se o tambor começa, tua saia gira O mundo inteiro para pra te ver menina Me diz o que fazer com teu rebolado? Ai á Menina o que fazer com essa saia rodada? Ai á É na palma, é no couro, essa roda gira O que vou fazer pra te ter menina? Ai Menina, vem! Pra roda vem! Ai Menina! Aqui tem carimbó Todo mundo balança no teu bailado Carimbó segue a ginga do teu rodado

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ao som de "Ai Menina", embalamos nossos dias com o gingado de uma paraense que estuda na UFRRJ. E quis o destino que Thays Carmo Sodré, da cidade de São Domingos do Capim (PA) fosse aluna de Agronomia da UFRRJ e levasse o seu gingado para o Pará. E como o Sul do Pará é uma terra de todos os outros estados, em função do processo histórico de exploração mineral, onde prevalece as culturas dos outros estados e não do Pará, foi possível levar um pouco de Carimbó para a população de Rio Maria.


S

e as crianças são o futuro deste país, é com elas que vamos multiplicar nosso amor e nossas ideias de um país melhor! Por meio do teatro, valorizamos a Cultura, mas, principalmente, tentamos construir um ambiente de respeito ao próximo, de cuidado ao meio ambiente e de combate a qualquer tipo de violência (doméstica, de gênero e na escola, por exemplo). Acreditamos que um mundo melhor depende do respeito ao próximo e a tolerância às diferenças.



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ma forma de sensibilizar é por meio da música. Crianças estão sempre dispostas a aprender e apreender um conteúdo. Os Rondonistas norteavam a assimilação das primeiras notas. As notas regiam de maneira arranhada nos primeiros acordes a melodia de Anunciação. Os alunos tocaram, encantaram todos naquela noite e "(...) a voz dos anjos por meio de autas sussurrou nos ouvidos de quem ali estava."



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arece difícil transformar lixo em arte e, assim, gerar uma renda extra para homens e mulheres que percebem no lixo uma possibilidade de recriar objetos e contribuir para a preservação do meio ambiente. Nesta ocina trabalhamos com duas ideias centrais: (i) retardar a ida do material para o lixo, contribuindo assim com o meio ambiente; e (ii) gerar renda extra (ou até a principal) para pessoas interessadas em usar das suas habilidades, criatividade e, assim, respeitar futuras gerações. Diversos são os produtos reciclados que podem ser usados para enfeites de festas; vassouras e pufs com garrafas pet; ou porta-retratos com papelão e recortes de tecido. É só usar a imaginação, a criatividade e o lixo que você jogaria fora. Vamos tentar?



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s horas de viagem em estradas de terra com imensos buracos; as noites mal dormidas; a distância dos familiares e pessoas queridas; Sem qualidade de internet e sinal de celular... Tudo isso foi esquecido quando olhamos no rosto de uma criança e nos deparamos com um sorriso, com um gesto, com um olhar ou com uma frase do tipo: "Tio, quero ser rondonista!" Essas crianças querem mais que um brinquedo, um chinelo ou uma roupa bonita para irem à festa da cidade. Elas querem a retribuição de um olhar cuidadoso, um sorriso verdadeiro ou um abraço que conforte aquele coração que vive em meio a tantas diculdades. Essas crianças passaram a nos seguir pelas ruas, nas ocinas e às vezes caram esperando que algum rondonista saísse da escola para que elas recebessem um abraço, um carinho e um olhar de conança e de respeito. Se gentileza gera gentileza, amor gera amor. Respeito gera respeito. E, esses olhares e abraços nos geram saudades. Essa pureza nos olhares e nos abraços nos motivam a cada dia a entender que essa vida realmente é bonita!



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equipe de rondonistas da UFRRJ semeou alegrias, plantou sonhos, irrigou com dedicação o amor ao trabalho voluntário e ao próximo, esperando assim colher daqui uns anos a concretização dos sonhos que caram em Rio Maria. Foram transmitidos mais que conhecimentos técnicos no processo de irrigação de hortas em escolas da área rural de Rio Maria. Foi construída a ideia de que é possível agir cuidadosamente com o meio ambiente, aos colegas e prossionais da escola, e, também, o respeito à sociedade e suas diversidades. Juntos, nós rondonistas e cidadãos, plantamos sonhos de uma Rio Maria melhor.



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uando pensamos nossas estratégias de intervenção em Rio Maria, decidimos que queríamos trabalhar com a diversidade, atuando com crianças, jovens, adultos e idosos, tanto na área urbana (centro e periferia), assim como na área rural. Aprendemos com a inocência das crianças e com a maturidade daqueles e daquelas que têm experiências. Seja para os inocentes ou para os mais experientes, sabemos que deixamos ali um pouquinho de nós, da nossa história e do Rondon. Aprendemos a aprender e apreender com essa diversidade.



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uito mais importante que a técnica empregada em cada ocina, o conjunto de va l o r e s e c o n h e c i m e n t o q u e s ã o absorvidos desde as crianças aos mais idosos, acaba por ser uma relevante experiência na formação do cidadão. O que a comunidade e os rondonistas guardam em suas trocas prossionais e para a vida é a aprendizagem permeada pelo carinho e pela vontade de querer construir. Nessa via de mão dupla, o aprendizado para as duas partes (Rondonistas e comunidade) ocorre de maneira de simbiótica. E no ritmo do Rondon, crianças se permitem a serem olhadas de uma maneira carinhosa e com um respeito que vai para além da técnica. Um respeito que nasce de um olhar, de um pedido de cafuné ou até mesmo de uma resposta mal criada. Talvez essa resposta nada mais seja do que aquilo que foi aprendido por elas. Nada melhor que um sorriso, um olhar afetuoso (não opressor) e um abraço para que estas crianças entrem no ritmo do amor e do respeito.




E

nesse mundo existem obstáculos que impedem a democracia e uma vida mais digna em nosso país. Temos a opção de cruzarmos os braços e carmos estáticos. Nós, da UFRRJ, acreditamos que devemos correr, mesmo que nossos pés estejam cercados de obstáculos que dicultem nossa trajetória. Que essas crianças das fotos, e todas outras crianças por onde o Projeto Rondon já passou neste Brasil, possam vencer seus obstáculos e trilhar um caminho de conquistas pessoais e prossionais nos próximos anos. E por que não ser um(a) futuro(a) rondonista?


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S

uperfantástico A Turma do Balão Mágico

S u p e r fa n t á s t i c o a m i g o Que bom estar contigo N o n o s s o b a l ã o ! Va m o s v o a r n o va m e n t e Cantar alegremente M a i s u m a c a n ç ã o Ta n t a s c r i a n ç a s j á s a b e m Que todas elas cabem N o n o s s o b a l ã o Até quem tem mais idade Mas tem felicidade N o s e u c o r a ç ã o Sou feliz, por isso estou aqui Também quero viajar nesse balão! S u p e r fa n t á s t i c o ! N o B a l ã o M á g i c o O mundo ca bem mais divertido! Sou feliz, por isso estou aqui Também quero viajar nesse balão! S u p e r fa n ta s t i c a m e n t e ! As músicas são asas da imaginação É como a or e a semente C a n t a r q u e fa z a g e n t e V i v e r a e m o ç ã o Va m o s fa z e r a c i d a d e V i r a r f e l i c i d a d e C o m n o s s a c a n ç ã o Va m o s fa z e r e s s a g e n t e V o a r a l e g r e m e n t e N o n o s s o b a l ã o Sou feliz, por isso estou aqui Também quero viajar nesse balão! S u p e r fa n t á s t i c o ! N o B a l ã o M á g i c o ! O mundo ca bem mais divertido! S u p e r fa n t á s t i c o ! N o B a l ã o M á g i c o ! O mundo ca bem mais divertido! jogaria fora. Vamos tentar?



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emos um presente para vocês: i n f o r m a ç ã o !

Q u e m n ã o g o s ta d e g a n h a r u m presentinho? Pensando em uma forma de transmitir informações de uma maneira lúdica, foi proposta ainda na Operação Porta do Sol (PB), pelos alunos de Ciências Biológcas Natan Coelho e Lorena Neves um c alendário com informações de combate à Dengue. Após visita e conversa com os agentes de saúde no município de Salgado de São Félix, o professor Breno decidiu ampliar a ideia de atender à demanda das cidades, surgindo, assim, o calendário com informações sobre as principais formas de combate às doenças identicadas pelas secretarias de saúde dos municípios. Além dos moradores lembrarem do Projeto Rondon pelos próximos 18 meses, eles ganhavam, de maneira lúdica por meio do uso de imagens e textos simples, um presente de grande valor: a informação de como identicar e c o m b at e r a s p r i n c i pa i s d o e n ç a s . E como resultado dessa brilhante ideia, richard andrade pires e o professor breno foram premiados no II Congresso Rondon, como o segundo melhor poster cientíco entre os mais de 190 trabalhos submetidos de diversas instituições de e n s i n o n o p a í s . Acreditar na criatividade e competência dos rondonistas gera prêmios para todos.


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io Maria, região Sul do Pará. O processo de exploração agro-pecuária da região trouxe uma diversidade de culturas do Sudeste, Sul e Centro-Oeste, parecendo ter se perdido aquilo que é do próprio estado: o Carimbó.

Ao percebermos esse contexto, pensamos em uma ocina de dança que pudesse resgatar o Carimbó. Para nossa sorte, a estudante de Agronomia da UFRRJ Thays conduziu essa ocina para a comunidade de Rio Maria. Na sensualidade do Carimbó, tentamos, de alguma forma, resgatar aquilo que há de bonito e que representa o estado do Pará. Meninas rodaram a saia. Meninos mostraram seu gingado. Juntos multiplicamos a cultura local.



A

capoeira é um artefato cultural que se multiplica em Rio Maria. Discutimos de maneira transversal a Cultura de Paz. Tendo a capoeira o sentido de manifestação cultural e não de luta, achamos o espaço ideal para reforçar entre crianças, jovens e adultos a importância do respeito e da tolerância nos diversos lócus de atuação daqueles atores. “Meia-lua, rasteira, martelo e pisão Solta a mandinga conforme a razão Na reza cantada pede proteção” (Hoje tem Capoeira - Abadá Capoeira)



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or vezes escutamos de professores e do Ministério da Defesa de que sempre seremos rondonistas e que a trajetória não se encerra com o nal de uma operação. Se já olhávamos para o próximo com cuidado, o Rondon ajudou-nos a renar ainda mais este olhar. Enquanto estudantes, participamos apenas uma vez. Isso não quer dizer não possamos voltar como professores e professoras. E quando formos chamados para o trabalho voluntário, sempre diremos: “Sentido!!!”


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por que não evidenciar a beleza da mulher de Rio Maria? Foi justamente pensando em trabalhar com a autoestima das mulheres é que o Miss Rondon foi pensado.

Mulheres, além de guerreiras e batalhadoras, são belas, charmosas e sensuais. E há algo melhor do que ser vista em uma passarela? Com vocês, a beleza da mulher paraense!


SOBRE OS AUTORES

Breno de Paula Andrade Cruz é chefe do Departamento de Administração Pública da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, professor da graduação em Administração Pública e do Mestrado Acadêmico em Administração. Breno foi coordenador do Projeto Rondon na UFRRJ nas operações Porta do Sol (Paraíba) e Itacaiunas (Pará), ambas no ano de 2015. Em extensão universitária o professor atua com projetos que estimulam a inovação social no Campo de Públicas, tendo artigos publicados abordando o ensino superior e as ações de extensão de cursos de graduação e pós-graduação em universidades públicas e particulares. Possui mais de 100 artigos publicados em congressos e revistas acadêmicas na área de Administração e Administração Pública, sendo líder do grupo de pesquisa 'Consumo e Redes Sociais Virtuais' CNPq. Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv. do?id=K4753018H6


Richard Andrade Pires é formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2016) com graduação sanduíche pela Università degli Studi Roma 3 (Itália). É vencedor de dois prêmios de Arquitetura durante a graduação (Concurso Novos Talentos pela UVA e Challenge Muuving 2015). Participou do Projeto Rondon na operação Itacaiúnas (Pará) em 2015. Atuou no Projeto Rondon utilizando o teatro como ferramenta para desconstrução de preconceitos, além de elaborar diversos materiais grácos para a equipe UFRRJ atuar no Pará. Teve seu trabalho reconhecido e contemplado com o segundo lugar no II Congresso Rondon em Florianópolis. Atua também como fotógrafo desde 2014.

Eduardo da Rocha é graduado em Administração com Habilitação em Marketing pelo Centro Universitário Católica de Santa Catarina, em Jaraguá do Sul (SC) e graduado também no curso superior de Tecnologia em Fotograa pela Universidade do Vale do Itajaí, em Itajaí (SC). Dentre as atividades acadêmicas desenvolvidas, destacam-se: a participação no projeto Rondon, Operação Itacaiúnas (Pará), no ano de 2015 e o projeto documental de registro fotográco da etnia indígena Naruvôtu, localizada no Parque Indígena do Xingu.


PROJETO RONDON E A UFRRJ fotograas e relatos da operação itacaiúnas Breno de Paula Andrade Cruz, Richard Andrade Pires e Eduardo da Rocha


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