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APRESENTAÇÃO
Como conquistar um jovem estudante para os desafios da aprendizagem de Matemática no Ensino Fundamental? Esta é a proposta do livro organizado pelo professor e pesquisador Guilherme Saramago de Oliveira intitulado “Metodologia do Ensino de Matemática nos primeiros anos do Ensino Fundamental”.
A obra foi construída a partir da constatação dos resultados obtidos pelos estudantes brasileiros nas últimas edições da Prova Brasil, mostrando que as carências no aprendizado e na compreensão da Matemática são desastrosas como resultado pedagógico e, mais do que isso, preocupantes para os números que constroem uma Nação de aproximadamente 50 milhões de alunos da Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio).
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Com os poetas, aprendemos que dois e dois podem ser quatro... ou cinco. Em 1951, Ferreira Gullar escreveu: sei que dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena mesmo que o pão seja caro e a liberdade pequena.
Duas décadas depois, Caetano Veloso escreveu, durante o exílio político que viveu em Londres (para Roberto Carlos gravar em 1971):
Meu amor
Tudo em volta está deserto, tudo certo Tudo certo como dois e dois são cinco.
A licenciosidade poética permite que dois e dois sejam quatro ou cinco. Já a Matemática não permite este tipo de liberdade.
Contudo o que são números sem poesia? Como encantar números com histórias e alguma poesia? Foi assim que um professor, matemático, jornalista e escritor, Júlio César de Melo e Souza, com o pseudônimo de Malba Tahan, escreveu vários livros e incentivou muitos a seguirem a trilha da Matemática, da Geometria, da Astronomia, da Grandeza, das Formas e dos Números.
Em um dos seus livros, paradidático ao campo, “O homem que calculava”, traz o encantamento das histórias e da poesia, para a lógica da Matemática. Por exemplo, num dos breves contos que compõe essa obra, o personagem Beremiz Samir encontra-se no deserto com três irmãos e um lote de 35 camelos. Eles teriam que dividir o lote, conforme orientação do pai, que acabara de falecer e tinha ordenado que ao irmão mais velho, caberia a metade, ao segundo filho, um terço e ao mais novo, um nono. As divisões do lote de camelos propostas pelo pai sugeriam como respostas números não exatos como 17,5 camelos, 11,6... camelos e 3,8... camelos.
Eis que o personagem criado por Malba Tahan, Beremiz, sugere então incorporar ao lote de 35 camelos o próprio animal no qual viajava pelo deserto com um amigo. Com exatos 36 camelos, fez a partilha na qual todos saíram ganhando. O irmão mais velho ficou com 18 camelos; o do meio com 12 e o mais novo com quatro. Eis que a somatória do lote ficou em 34 camelos. Ao que “o homem que calculava” de Malba Tahan propôs: agora vocês devolvam o meu animal e ainda sobra um, como pagamento pela minha sabedoria, e que pode daqui por diante conduzir o meu amigo. Entrou com um camelo na equação e saiu com dois. Os irmãos ficaram contentes com a resolução do problema e os personagens do autor continuaram a percorrer o deserto árabe colecionando histórias para um livro que foi publicado pela primeira vez em 1938, que já está na 80ª edição e custa aproximadamente R$ 42,00 nas principais livrarias brasileiras.
Você conseguiria calcular quanto os herdeiros do Júlio César de Melo e Souza, o Malba Tahan, já ganharam com as obras escritas do pai?
Mas recontei essa história porque, inspirados no personagem criado por Malba Tahan, precisamos nos reinventar e, como ele, contar formigas de um formigueiro, abelhas de uma colmeia, ramos e folhas de uma árvore, se quisermos encantar nossos alunos com novos desafios no campo.
A grande crítica inicial que Guilherme Saramago de Oliveira e seus colaboradores fazem no percurso desta obra, é a de que o ensino da Matemática tornou-se imitativo, repetitivo, decorativo. As benditas e criticadas “decorebas”, pavor de pais, alunos, professores e de tantos quantos lutem por um ensino de melhor qualidade.
Acrescente-se a este tipo de prática indesejável, a facilidade com que os alunos nesta faixa etária manuseiam celulares, compu- tadores, tablets, iphones e a novíssima tecnologia dos androides, com suas calculadoras eletrônicas que facilitam rapidamente a resolução de quaisquer desafios matemáticos, mas que inibem o raciocínio lógico exigido para este tipo de atividade.
E, sem pensar, construiremos um país de descompromissados com a Matemática. E com estes descompromissos, os números exigidos para organizar um país, uma Nação, também passam a ficar descomprometidos. Quantos somos os moradores deste Brasil? Se dois e dois podem ser quatro ou cinco... Quanto vale o nosso Produto Interno Bruto? Dois e dois são...? Quantos carros produzimos? Quantas sacas de açúcar? Quantos barris de petróleo extrairemos do pré-sal? Quantos tantos, tantos quantos... se dois e dois podem ser quatro ou cinco?
Em homenagem a Malba Tahan, o dia de seu nascimento, 6 de maio, foi decretado como o Dia do Matemático (ou Dia da Matemática) pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Numa das passagens do livro, “O homem que calculava”, o personagem Beremiz diz: “Por ter alto valor no desenvolvimento da inteligência e do raciocínio, é a Matemática um dos caminhos mais seguros por onde podemos levar o homem a sentir o poder do pensamento, a mágica do espírito”.
Que esta obra “Metodologia do Ensino de Matemática nos primeiros anos do Ensino Fundamental” organizada com rigor e competência por seu autor e os especialistas para ela convidados, possa ser um convite ao novo desafio de ensinar Matemática num país que precisa tanto de conhecimento e de jovens preparados para, no futuro, construírem um país mais rigoroso, como requer a Matemática e com alguma dose de imaginação, para encantar e poder contar aos seus descendentes: 2 + 2 = 4.