Cartas de um cidadão inocente‌
Portugal 5 de Agosto 2012 Caro Sr. primeiro-ministro, espero que não se importe trata-lo por tu, porque para todos efeitos, retirando-lhe o seu título, o senhor é apenas um homem vulgar como eu. Reconheço que o seu trabalho não e fácil e que carrega uma grande responsabilidade nos seus ombros. Se de facto o senhor está ou não a corresponder as expectativas que ajudou alimentar durante o seu processo de eleição, essa já é outra história. Talvez nenhum politico sirva para fazer política após a sua eleição, talvez fazer politica seja construir e divulgar propaganda sem concretizar o prometido. Infelizmente eu faço parte de uma classe de cidadãos, cada vez maior, que se vai divorciar ou já se divorciou da política e dos políticos. Temos de ser honestos Sr. primeiro-ministro a verdade é que não há realmente uma alternativa, e apesar das diferentes cores politicas não há realmente diferença entre vos. Devo dizer-lhe que apesar dos aplausos que tem recebido vindos de fora de Portugal, as suas atitudes roçam facilmente a arrogância e a desumanidade, no modo como, a qualquer custo se propõe a resolver as origens da profunda crise interna que este país se sujeitou há já longos anos. Talvez á força esteja tentar mudar a mentalidade portuguesa do coitadinho, de sentir pena de nos mesmos e dar um empurrão ao selfmade man e levar Portugal e os portugueses ao seu potencial máximo. Tem de compreender que neste momento, devido a todas as suas atitudes começa a ser difícil leva lo a serio, e há já uma desconfiança crescente em relação a sua pessoa. Dando lhe o beneficio da duvida, sugiro-lhe, que se realmente quer mudar algo e não continuar a cometer os mesmos erros infantis de sempre e deixar obra para o futuro, que observe de perto o exemplo dado pela Islândia. Reforme o que tem que ser reformado, mude o que tem que ser mudado, construa ou crie as infra-estruturas daquilo que que ser construído responsabilize quem tem de ser responsabilizado. Pode começar por arrumar a sua casa, o parlamento, dê o exemplo e talvez nós comecemos acreditar em si de novo. Nenhuma classe, seja qual for, seja qual for a sua actividade deve estar acima de outras e sujeita a protecção especial. Mas se de facto quer implodir a sociedade portuguesa por favor continue por este caminho. O senhor parece esquecer-se que estamos todos no mesmo barco e que dependemos todos uns dos outros e que apesar de parecer que o senhor e a sua família estão imunes ao que já acontece a muitas outras famílias, mais tarde ou mais cedo o senhor e a sua família podem ser apanhados com as calças nas mãos também. Se não o fizer pelo futuro dos portugueses faça-o pelo futuro dos seus filhos, porque nunca se sabe o que futuro reserva a si e aos seus. Atentamente Um Cidadão como o Senhor
23 De Setembro 2011 Senhor meu patrão, Deixe começar por apresentar me, sou um jovem, igual a muitos outros, que apostou numa formação superior e que agora apos a sua formação procura um meio de ingressar no mundo de trabalho e ser uma mais-valia para o local certo. Com isto não quero dizer que apenas o contacto com intuito de ganhar dinheiro para poder pagar as minhas despesas relacionadas com todos os custos acrescidos da vida (renda da casa, prestações de todos tipo, etc) mas também é meu objectivo aprender e evoluir e em conjunto consigo e contribuir para o crescimento e progresso da sua empresa. Acredito reunir as competências iniciais para contribuir para o progresso e crescimento da sua empresa. Como é óbvio, mesmo com todo empenho e responsabilidade não pode esperar de mim o mesmo desempenho de alguém que já cumpre esta função há já a um longo tempo. Um bom vinho antes de tornar se um vinho excelente precisa de um certo tempo de maturação não concorda? Estou completamente disponível para frequentar qualquer tipo de formação necessária para tornar me cada vez mais produtivo e um empregado, com o qual o senhor possa contar acreditar e orgulhar-se. Devo ressaltar que se usar o argumento da experiencia, dos 3 anos ou mais nesta função especifica ou qualquer outra, se o senhor não arriscar ou outro patrão qualquer não o fizer, essa barreira jamais será ultrapassada. Seja o primeiro e prometo lhe a minha lealdade e emprenho máximo e verá que que ainda o irei surpreender. Existe aqui uma última questão que, desde o início me faz alguma confusão. Posso enviar lhe o meu portfolio e currículo actualizado ou um link de uma webpage , mas de experiencia própria começo a concluir que uma boa parte deles nunca chega a ser visualizado e como tal uma possível resposta a uma proposta de trabalho por minha parte , acaba tal como outras por cair em espaço vazio. Para além disso a percepção das aptidões do candidato e no mínimo insuficiente e inexacta. Talvez possa sugerir uma outra estratégia que vá de acordo com o que procura. Talvez criar uma espécie de concurso com regulamento próprio ao qual os candidatos pudessem apresentar e enviar uma proposta como um modo mais eficaz de fazer uma selecção mais humana e mais capaz. Sendo seleccionadas 10 ou mais, melhores propostas. Sinceramente não me parece que subcontratar uma outra empresa de recursos humanos, fora do eixo da empresa, que seja a melhor opção. Talvez os chefes de cada departamento possam fazer a selecção, porque afinal só eles sabem o que procuram e só eles sabem reconhece-lo quando o vêm. Acrescento por ultimo o seguinte, caso não seja o seleccionado, que, apos o período normal de entrevista me elucide dos erros e do porque de não ter sido seleccionado. Obrigado mais uma vez pela sua disponibilidade. Atentamente Desempregado com vontade procura trabalho e empresa produtiva.
16 De Abril 2012 Querido/a vip como estás? Parece que hoje em dia, mesmo que não seja da nossa vontade, tu acabas por entrar pelos nossos olhos adentro em qualquer momento do nosso dia-a-dia. Ajudado pelos mass media tradicional e por todas as outras expressões de média que brotam por aqui e por ali, vendes o sonho errado que ser vip é a única coisa que é importante e o único objectivo viável na vida. Vemos te em festas, glamourosas, um termo usado muito por ti, cá entre nos uma expressão bastante decadente e triste, a comer e beber do melhor, a viver uma vida de aparências, como se a tua vida fosse o paraíso na terra. Promoves marcas e alimentas o mesmo mercado que te sustenta, enquanto vais saciando a tua fome infinita. Felizmente alguns de nos conseguem ver para la do jogo de espelhos e é fácil concluir que apesar do que aquilo que parece ser a realidade, estamos perante um ser frágil e imaturo, que tal como um adolescente precisa de adulação para se sentir completo e pleno. Pessoalmente, desde do início da minha vida como ser humano, procuro a essência das coisas e das pessoas e acima de tudo ser uma parte que contribui para a resolução do problema e não oposto, não é mesmo individuo vip? Não me entendas mal, não acho mal consumir, se for feito de um modo sustentável, até porque isso fomenta o crescimento, mas consumir por vício, para alimentar o ego ou silenciar as inseguranças, provavelmente não será o melhor, não te parece? Sei que fazes trabalho de solidariedade, pelo menos assim o parece nas revistas que usas para te promover. E se, e é só uma ideia, talvez absurda, juntasses todo o dinheiro que tu gastas nas tuas festas e eventos e o usasses em instituições de caridade para ajudares no equilíbrio da sociedade em geral. Poderias ajudar no restauro de espaços devolutos, angariar ou oferecer equipamento e matéria-prima para aqueles que dela necessitam, etc. Talvez em vez de fomentares uma cultura elitista porque não poes os pés na terra e a tornas possível e acessível a todos. Lembrei-me agora do seguinte, sei que tens as tuas despesas relacionadas com a tua vida, quem não tem, mas e porque não pegar em todo o outro dinheiro que usarias de um modo mais improprio para alimentar a tua decadência, porque não o poes numa conta conjunta, onde todos nos podemos contribuir e de onde sai ajuda financeira para todos os necessitados. Precisas realmente de tanto? Não podes ser um bocadinho mais humano e partilhar? Va lá eu ainda consigo acreditar em ti, espero que não me desapontes.
Atentamente Um ser humano que não procura, nem quer ser vip!!
8 De agosto 2012 Meu prezado centro de emprego Ainda me lembro com saudade das longas filas que tive de suportar para estar contigo. Foram dias longos na rua, ao sol, a chuva, a contar as horas, os minutos, os segundos para entrar e a tentar respeitar uma ordem invisível que alguns dos teus convidados faziam questão de não respeitar. Vi gente de todas proveniências, de todas as cores a espera de uma oportunidade de poder falar contigo e poder de algum modo receber o apoio que tu no passado já nos tinhas prometido. Em tom de desabafo devo referir que o teu segurança, que estava de serviço á porta mais parecia um placard em cartão de uma figura, estática, sem moral ou presença, do que alguém com real acção que impunha e ajudava a respeitar a ordem. Quando finalmente lá conseguia entrar para além dos limites do portão da tua casa e para dentro da tua casa, mais uma longa espera se iniciava. Sentado, a antecipar o nosso diálogo, revia mentalmente o modo, a entoação do dizer e do agir, para que nada falhasse. Infelizmente numa outra vez em que tentei falar contigo, esqueci me de um documento e uma das tuas funcionárias sem sequer me deixar explicar despachou-me logo para porta de saída. Não poderia ter-me dito algo antes, antes de eu ter esperado horas para ser atendido? As vezes os teus funcionários agem de um modo que deixam me estupefacto! Quando eventualmente chegou a minha vez, levantei me nervoso e dirigi me a secretaria onde a tua funcionária estava a minha espera. Com cara de poucos amigos e agindo como se me tivesse a fazer-me um grande favor, recebia me com uma lengalenga mecânica, que nem parecia ser dita por um ser humano vivo. Pior do que tudo isto, quando solicitei outro tipo de ajuda ou informação ela remeteu-me para o teu site e eu acreditando que tinha sido ajudado, saia descansado, com a crença que tudo iria começar a mudar. Quando finalmente cheguei a casa, liguei o pc e consultei o teu site concluí rapidamente que pouco ou nada acrescentava ao que já sabia e de pouco ou nada contribuía para alterar a minha situação. Isto repetiu-se mais vezes do que aqueles que tenho dedos para contar, até que cansado com toda esta situação resolvi retomar as rédeas de volta da minha vida. Enfim são coisas da vida não e, meu amigo centro de emprego, you win some we loose some. Toda esta situação é bastante desconfortável constrangedora e aborrecida sabes, mas graças ao teu comportamento aprendi uma grande lição, não podemos depender da promessa de ajuda de outros, por mais sedutoras que possam ser. Temos de fazer as nossas escolhas e criar os nossos próprios objectivos e metas, ser fiéis a eles e continuar a trabalhar com afinco e genuína determinação. Com muito trabalho e empenho não há nada que não consigamos atingir;) Por fim desejo te o melhor apesar de tudo.
Se realmente quiseres fazer algo por aqueles que te visitam, nĂŁo fiques sĂł pelas promessas, contribui para mudar algo para melhor;) Atentamente O teu amigo, finalmente com as rĂŠdeas da minha vida de volta.
Meu queridíssimo sindicato, nos já temos uma história longa. Sempre acreditei em ti e por isso mantive as minhas quotas em dia e sempre que me convocaste eu era o primeiro, da primeira fila, a gritar e clamar pelos meus direitos. Vesti durante anos a nossa camisola comum. Recentemente comecei a concluir que todas as nossas mobilizações, com as características do passado estão de algum modo afastadas do novo paradigma social e laboral. Greves, manifestações e outros tipos semelhantes simplesmente não parecem resultar. Ainda acredito em mobilização de pessoas, mas em vez de pensar como algo que se opõe a algo, sugiro que seja algo em conjunto que trabalha com algo. Aprendermos a viver e olhar ambos para o mesmo e partilharmos os mesmos objectivos construtivos. Assim sugiro o seguinte, vamos reinventar a noção de sindicato. O sindicato dos nossos tempos deve ser algo que trabalha com a entidade empregadora dentro da própria empresa, que deve acompanhar de perto o percurso de progresso e fracasso, com o objectivo de poderem em conjunto resolver os possíveis problemas que possam surgir e em conjunto tomarem a melhor decisão quer para o futuro dos trabalhadores como também da própria empresa. Esconder-mo nos entrincheirados nas diferentes reivindicações, cegos, em lados opostos não é de modo algum a solução, nem sequer é um comportamento responsável não achas? Desde o início, da entrada de um novo trabalhador ou de um novo trabalho, sugiro que seja redigido um documento, com a validade predefinida, sendo renovado sempre que necessário, com tempo pré determinado. Este documento deve estar acessível e visível a todos que trabalham nesta empresa, quer sejam os empregadores, empregados e os seus representantes sindicais. Neste documento deve estar definido os objectivos por ordem de importância a concretizar, uma calendarização de todos passos assim como uma relação de todas as actividades e matéria-prima necessária e todos sem excepção devem ser mantidos informados em tempo real do seu progresso. Transparência deve ser uma regra no dia-a-dia. Como o mercado é imprevisível, antes da falência ou do despedimento, devem em conjunto de acordo com o documento referido anteriormente, serem tentadas todas as soluções possíveis. Cada um dos intervenientes devem ser mantidos informados do progresso ou possíveis soluções para resolver este problema. Uma nota importante é. Cada caso é um caso. Apesar de poder ser usado um modelo de performance e modus operandi semelhante este deve ser flexível e permitir um melhor ajuste em relação a realidade de cada empresa. Uma outra coisa que acho importante é reconhecer a individualidade de cada, apostar nesse factor como parâmetro diferenciador e de enriquecimento do grupo. Por vezes a padronização é um erro crasso que pode em ultima estancia levar ao fracasso. Isto foi aquilo que eu pensei, gostaria de ouvir as tuas sugestões meu amigo sindicato:) Atentamente Mobilizado para a construção em conjunto.