Revista CT Wilson Campos

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Revista do Centro de Treinamento

foto:Rafael Bandeira

EDIÇÃO HISTÓRICA FEV |2014

Patrimônio

de Luxo

Centro de Treinamento do Náutico foi o ponto positivo em um ano complicado dentro de campo


foto:Rafael Bandeira

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Revista do Centro de Treinamento

Revista Revistado doCentro Centro de deTreinamento Treinamento

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índice

editorial por Álvaro Filho

Parece difícil de acreditar, mas há sim uma boa notícia no Náutico em um ano com pouquíssimo ou praticamente nada a se comemorar dentro de campo. A parceria do clube com a Odebrecht, que se por um lado garantiu ao Alvirrubro mandar seus jogos no mais moderno e confortável equipamento esportivo de Pernambuco, e um dos melhores do mundo - a Arena Pernambuco -, por outro viabilizou recursos para que o Centro de Treinamento Wilson Campos terminasse 2013 mais estruturado do que começou. Seja na qualidade do gramado e do sistema de iluminação - rigorosamente dentro dos exigentes padrões da FIFA, testados e aprovados durante a Copa das Confederações -, e por último agora nas instalações, com a inauguração de um hotel para receber a delegação timbu, de equipes visitantes e também das seleções que virão para a Copa do Mundo de 2014, com todo o conforto previsto: quartos duplos com suítes, refeitório, piscina, academia, entre outras estruturas. É claro que os recursos levantados pela parceria com a Arena Pernambuco são importantes, mas muito mais fundamental foi o esforço e dedicação de alvirrubros como Ricardo Malta e João Guerra, que independente de correntes políticas ou desempenho do time dentro de campo, tiveram sempre o futuro do Náutico como prioridade. Os frutos das transformações vividas pelo CT Wilson Campos nos últimos 12 meses estão estampados nas páginas que se seguem. Mais que uma prestação de contas, um motivo de orgulho para a torcida.

Editorial

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Um CT de Elite

06 e 07

Entrevista Ricardo Malta

08 e 09

Uma tabelinha campeã

10 e 11

Hotel seis estrelas

12 e 13

Perfil Robélio Neves

14 e 15

João “Náutico” Guerra

16 e 17

Para entrar na história

18 e 19

Da Guabiraba para o mundo

20 e 21

Um time de futuro

22 e 23

Foto: Simone Vilar

O CT salvou o ano alvirrubro

expediente Edição Álvaro Filho alvarofilho@grupotorcida.com.br Projeto Gráfico, Arte e Design Gráfico Flávio Júnior flavio@grupotorcida.com.br

Fotos Simone Vilar, Armando Artoni e JC Imagem Publicada pela Torcida Produções Ltda. Rua Dom Bosco, 871, Sala 702, Boa Vista 50.070-070 Recife PE Fone/Fax: (81) 3031.8111

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Foto: Divulgação

Textos Raíza Araújo raiza@grupotorcida.com.br Simone Vilar

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elite

foto: Arquivo Torcida

Motivo de orgulho, Centro de Treinamento Wilson Campos está entre os melhores do Brasil

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fotos: Simone Vilar

Um CT de

om pouca receita, assim como a maioria dos clubes do Norte e Nordeste do país, o Náutico sofre na hora de montar um elenco forte para fazer frente aos times das regiões Sul e Sudeste. Mas isso nunca impediu de o Alvirrubro se situar entre os grandes e ocupar espaços na “elite” do futebol nacional. A saída para contar com grandes jogadores com um investimento relativamente menor que o de encarar o mercado da bola está às margens da BR-101 Norte, endereço do Centro de Treinamento Wilson Campos. A ideia não é nenhuma novidade. As construções no terreno do CT começaram no ano de 1999, sob os cuidados do arquiteto Múcio Jucá. Antes das obras, o local era um terreno baldio, com aproximadamente 54 hectares. Inicialmente foram construídos um campo de treinamento e um alojamento para categoria dos juniores. A partir de 2008, o projeto de investir na base foi ganhando mais força dentro do clube e o local foi se transformando com a ajuda de vários alvirrubros. Em dois anos foram feitos mais três campos de futebol com padrão Fifa, em termos de drenagem, tamanho, gramado e irrigação, e mais dois campos auxiliares pequenos. Além disso, ainda foram construídos um centro médico de apoio para os atletas, com terraplanagem em volta, um vestiário novo, mais um poço, o calçamento do CT, e dois estacionamentos com capacidade total para 130 carros. O CT Wilson Campos continua sendo modernizado. Em 2012, em um acordo feito entre o Náutico e a Odebrecht, responsável pela construção da Arena Pernambuco, ficou estabelecido que a construtora reformaria o primeiro gramado do centro de treinamento, e faria a terraplanagem de dois novos campos, além da construção de um hotel. Acordo plenamente cumprido com a entrega do hotel, que além dos quartos conta com auditório, refeitório, academia, entre outros itens, em dezembro de 2013. O resultado de todo esse trabalho já pode ser visto no elenco profissional do Náutico em 2013, que contou com algumas pratas da casa, como o atacante João Paulo e o meia Marcos Vinícius.

foto: Arquivo Torcida

Histórico

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entrevista

“Aqui está o futuro do Náutico”

U

m dos grandes responsáveis pela estrutura que o Centro de Treinamento Wilson Campos tem hoje, ideal para a formação de atletas, é o atual diretor técnico do CT, Ricardo Malta. O empresário do ramo de telefonia sempre acompanhou os momentos tristes e felizes do clube, se tornando posteriormente conselheiro do Náutico. Em 2008, Malta foi convidado pelo então presidente do clube, Ricardo Valois, para assumir a direção do CT e ser superintendente do Instituto Wilson Campos. Desde então, as mudanças no espaço não pararam mais de acontecer. Em 2010, Malta passou a gestão para outro alvirrubro ilustre, João Guerra, mas mesmo à distância continuou empenhado na qualificação do local, pois acredita que o futuro alvirrubro passa pelo CT Wilson Campos.

Além de dar uma estrutura melhor para o profissional treinar, queríamos trabalhar os jogadores da base para a revelação de valores para o clube. Eu sempre achei que o Náutico deveria dar mais atenção às categorias de base. Todas às vezes que fizemos isso tivemos sucesso. Por isso aceitei o convite. O CT Wilson Campos hoje é um patrimônio que pouquíssimos clubes no Brasil possuem, com cerca de 400 alunos matriculados na nossa escolinha de futebol.

Como foram feitas as reformas do CT Wilson Campos? Quando cheguei no Centro de Treinamento as condições do local eram precárias, e isso se tornou um desafio para mim e toda

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a equipe que trabalhava em prol da qualificação do local. Mas nós conseguimos até mais do que esperávamos com a ajuda de muitos alvirrubros. O CT é a realização de um sonho pessoal, e ainda espero poder fazer muito para ajudar ele crescer mais, e dar resultados cada vez mais rápidos para o Náutico.

Quais os planos do clube para o CT? Nós ainda queremos construir mais dois campos oficiais de futebol, que já receberam a terraplanagem feita pela construtora Odebrecht, e estamos pensando em fazer um clube social na frente do CT destinado aos sócios do Náutico, com área recreativa, piscina, academia, salão de jogos e quadras poliesportivas.

foto: Simone Vilar

Porque investir em um Centro de Treinamento?

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parceria sala de imprensa do CT, assim como contratou a melhor empresa de manutenção de gramados do Brasil, a Greenleaf – que cuidou da grama de cinco das seis arenas que sediaram a Copa das Confederações – para manter o campo de jogo em ordem no CT. O pacote ainda contou com traves móveis para atender as exigências da Fifa, além de outros equipamentos, como barreiras, cones e bolas, que ficarão para o clube. Das intervenções, a da iluminação foi a mais celebrada e rendeu elogios tanto de fotógrafos quanto cinegrafistas dos quatro cantos do mundo que acompanharam os treinos de Espanha e Uruguai no CT, quanto dos próprios jogadores, habituados aos melhores sistemas de iluminação do planeta, nas ligas europeias. “Com uma luz dessa qualidade, não há motivo para o futebol deixar de brilhar”, brinca George Braga.

fotos: Simone Vilar

O esquema tático das intervenções da PCR se posicionaram praticamente em frentes: reforma dos vestiários, receptivo da imprensa, manutenção do gramado e a construção de um novo sistema de iluminação para o CT. Ao todo, os investimentos giraram em R$ 500 mil e boa parte do benefício vai ficar com o Náutico após a realização do Mundial. Para o secretário de Esportes e Copa do Mundo do Recife, George Braga, as intervenções são parte do legado que a realização do evento vai deixar para o futebol pernambucano. “O Mundial passa, mas os benefícios vão ficar para o Recife, como na construção da Arena Pernambuco e as obras de mobilidade urbana, e também para o futebol pernambucano, que ganha um equipamento capaz de receber as melhores equipes do mundo e atender aos exigentes parâmetros internacionais”, resume. A PCR climatizou e mobiliou o vestiário e a

CT e PCR,

uma tabelinha campeã Investimentos da Prefeitura do Recife deixaram o Centro dentro dos exigentes padrões da Fifa utebol é um esporte coletivo e parte dos elogios que o Centro de Treinamento Wilson Campos vem recebendo se deve a uma tabelinha entre o Náutico e a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR). Como local do treinamento das sele-

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ções que disputaram a Copa das Confederações de 2013 e disputarão a Copa do Mundo de 2014, o CT na Guabiraba recebeu um reforço em sua estrutura a fim de atender às exigências da Fifa, de jogadores e da imprensa estrangeira.

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foto: Simone Vilar

estrutura

foto: Simone Vilar

Equipamento de luxo do CT Wilson Campos fecha com chave de ouro ano de investimentos

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Náutico precisava ampliar suas instalações para suprir as despesas com concentração de atletas. A negociação com a Arena Pernambuco proporcionou o que talvez seja a maior conquista do Náutico em 2013. O hotel para concentração faz parte do contrato com a Odebrecht que repassou parte dos recursos para o clube e outro montante para o empreendimento orçado em R$ 6 milhões. A contrapartida do clube é mandar seus jogos na arena. Coube ao Náutico o custo com mobília, equipamentos e climatização. “Ao final deste projeto o clube terá gasto em torno de R$ 1 milhão com móveis para os quartos, refeitório, vestiários, banheiros, ar condicionado e máquinas para a cozinha e o auditório. A Odebrecht

foto: Simone Vilar

seis estrelas

foi parceira neste projeto que inicialmente previa um empreendimento em 1.500 metros quadrados, mas fechou em dois mil metros quadrados”, revela João Guerra. O hotel comporta 22 quartos duplos, vestiários para atletas e comissão técnica, academia, salão de jogos, elevador, departamento médico, sala para diretoria, refeitório, lavanderia e auditório para 56 pessoas. O orçamento do CT conta com verba liberada pelo conselho deliberativo e das mensalidades das escolinhas. A administração arca com despesas em torno de R$ 50 mil por mês. João Guerra encerra sua gestão com as contas equilibradas. “Todos os nossos compromissos até hoje foram cumpridos. Os encargos foram recolhidos rigorosamente, o que tinha do passado e estava ajuizado, fizemos um refinanciamento e estamos rigorosamente com todas as certidões em dia.” A entrega do hotel vai representar uma economia de R$ 20 mil com concentração de atletas para as partidas realizadas em Recife. O cálculo toma como base uma média de quatro jogos em casa por mês. João Guerra considera de suma importância que a futura administração destine um orçamento para manutenção do hotel e do CT. “O que eu soube é que se gasta em torno de R$ 5 mil com concentração no Recife. Ora, essa economia deverá ser convertida para o próprio CT”, avalia. Guerra acha que construir e entregar é muito bom, mas precisa de manutenção. “A contratação de pessoas vai fazer parte desse novo momento do clube. Temos um pessoal qualificado principalmente na área das gramas. Você não consegue um profissional qualificado em grama, irrigação e

foto: Armando Artoni

Hotel história do Centro de Treinamento Wilson Campos se mistura com os nomes de Ricardo Malta e João Guerra. Se o primeiro teve o mérito de tirar do papel um dos grandes orgulhos do Náutico, coube ao segundo dar continuidade aos trabalhos, mirando o futuro. A contribuição de João Guerra para o CT Wilson Campos começou em 2008 na gestão de Ricardo Malta. Como coordenador de operações, ele ajudou na construção do campo dois, onde atualmente treina o elenco profissional. Em 2009 vieram os campos três, quatro e cinco. Ao todo o CT conta com quatro campos oficiais e um destinado aos treinamentos específicos. Mas nem só de gramado sobrevive o futebol. O

drenagem da noite para o dia. Esse grupo nós preparamos há alguns anos e fazem parte delepessoas que vieram de empresas que desenvolveram atividades aqui, que prestaram assessoria ou fizeram nossos campos e tudo isso precisa ser mantido”, alerta. A entrega do hotel consolida uma nova etapa na vida do Náutico. João Guerra acompanhou todas as fases do Centro de Treinamento Wilson Campos e sem receio algum crava que é um dos melhores do Brasil. “Me sinto orgulhoso, com a missão cumprida. Em 2012 iniciamos esta obra e fizemos a piscina ao lado do alojamento. Falta definir o nome do hotel, quem vamos homenagear. Acredito que esta seja a maior conquista do Náutico em 2013.”

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PER F IL

O senhor do CT

Ex-ponta do Náutico, Robélio Neves conhece cada centímetro do local

foto: Simone Vilar

obélio Neves da Silva, 49 anos, fincou raízes no Náutico em 1978, quando chegou ao clube como talento revelado no campeonato realizado na praça do Derby. Despontou com os 13 gols marcados no torneio e realizou o sonho de sua família inteira de alvirrubros. Os treinadores descobriram o potencial de Robélio como ponta-direita, onde infernizava as defesas com sua velocidade. Assim, ajudou o Timbu a conquistar o bicampeonato de 1984 e 85, marcando 14 gols com a camisa alvirrubra. Aos 31 anos, Robélio Neves encerrou a carreira de jogador e em 1999 retornou ao clube de coração para ser treinador das escolinhas. Não demorou muito e o olho clínico de quem já esteve lá passou a comandar o infantil do Náutico. Foi com ele que o meio campista Aílton, o goleiro Rodolfo, que ajudou a Chapecoense no acesso à elite do futebol brasileiro e o zagueiro Breno deram os primeiros passos na carreira. Em 2008, passou a exercer funções administrativas no Centro de Treinamento Wilson Campos e também de coordenador das escolinhas. “Eu costumo dizer a João Guerra que eu conheço o jogador pelo arriar da mala”, conta, aos risos. Robélio é olheiro das escolinhas, aponta jogadores com potencial para as categorias de base. Só que é no trato com a grama, com a limpeza, com a organização que Robélio encontrou reconhecimento e crescimento no clube. “No início, foi complicado, duvidava da minha própria capacidade. Mas vi que com dedicação tinha condições de fazer o trabalho.” Hoje, ele concilia a

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função de gerente com a de olheiro, são 520 meninos batalhando para cair nas graças do gerente do CT. Não é à toa que Robélio Neves pode ser considerado um guardião, afinal, são quase 12 horas diárias dedicadas ao CT. O ano de 2013 também marca um salto na carreira do gerente, que a convite da Fifa participou no final de outubro, em São Paulo, de um curso de especialização em gramados de treinamento e jogos para Copa do Mundo. “Aprendi com uma das melhores especialistas do mundo, chamada Maristela. Ela é do Rio Grande do Sul e é contratada pela Fifa. A grama é um ser vivo, tem estresse, precisa de água, adubo que é o remédio. Como plantar e o tempo certo pra isso, o tipo de corte, o tipo de máquina é fundamental para não machucar a grama. O estresse ocorre com o pisoteio. Nas barras, nos gols, onde o goleiro pisa direto ela se estressa tanto que morre”, conta. Apenas Robélio e mais três funcionários conhecem os limites dos 47,5 hectares do CT. Sete empresas são vizinhas da propriedade alvirrubra, além da reserva do Ibama. Em alguns pontos da mata Robélio cravou a bandeira do Náutico, como se fosse de fato o guardião do CT. “Aqui é minha segunda casa, onde me dedico como se fosse a primeira. Tenho todo carinho por isso aqui. Não penso em ser presidente, nem mesmo pensava em chegar a esse cargo. Se Deus me deu a oportunidade de ficar o resto da minha vida ajudando o Náutico, pra mim, é o suficiente.”

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fotos: Simone Vilar

LIDERAN Ç A

João “Náutico”

Guerra

Mais que um alvirrubro, dirigente do Náutico é um patrimônio do clube

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espírito empreendedor marca a trajetória de João Batista de Moraes Guerra, 64 anos, no Clube Náutico Capibaribe. O atual diretor-superintendente do Centro de Treinamento Wilson Campos iniciou sua história no Náutico em 1972 como assessor esportivo. João Guerra ocupou vários cargos executivos no clube até chegar à presidência no biênio 86/87. Em mente uma única preocupação. “Por onde andei percebi que clubes sem patrimônio estão fadados a sucumbir.” João Guerra era o vice-presidente do Náutico no bicampeonato estadual de 1984 e 85, mas foi como mandatário do clube que alcançou uma grande realização pessoal. Riscos na estrutura do Estádio Eládio de Barros Carvalho provocaram a interdição do maior patrimônio do clube, até então. O Náutico passou a mandar seus jogos no Estádio do Arruda entre 1983 e 87. João Guerra obteve aprovação do conselho deliberativo para iniciar uma campanha de arrecadação e daí tocar as obras de recuperação dos Aflitos. “A estrutura estava danificada, a marquise com problemas de rachadura, problemas nas ferragens, arquibancadas eram suspensas e comprometidas. Estive no Rio e vi uma campanha de venda de títulos patrimoniais no Vasco e no América. Resolvi trazer essa ideia e deu certo. Recuperamos o estádio e voltamos a jogar na nossa casa. Entendo que o estádio é o local onde se encontram os alvirrubros e forma novos dirigentes”, afirma. João Guerra conseguiu vender 30 mil títulos patrimoniais. Os recursos permitiram não só a reestruturação

dos Aflitos como também incrementaram o orçamento do futebol. Mas Guerra ainda não estava plenamente satisfeito. A credibilidade inconteste de João Guerra foi determinante para ter o aval de outros presidentes e assim angariar verbas com as cadeiras cativas e promover um projeto de ampliação dos Aflitos. “Em 2000 fui novamente convocado por Wilson Campos para uma força-tarefa onde estávamos numa grande crise, ele me convidou para ser vice-presidente de patrimônio. Outros nomes como Fred Olivera, Sérgio Aquino, André Campos, Ricardo Valois sempre visaram à melhoria das condições do nosso patrimônio. Foi ai que em 2001 iniciamos uma campanha onde liberaram as arrecadações das cadeiras cativas para ampliação do nosso estádio. Tudo foi feito com dinheiro dos alvirrubros”, lembra. Apesar de tantos serviços prestados, de dedicar maior parte do tempo ao Náutico, João Guerra não alimenta a ambição de ser presidente do clube mais uma vez. O visionário que temia ver o clube sucumbir por falta de patrimônio ou mesmo vê-lo dilapidado, carrega a marca de um abnegado, sem vaidades. “Eu não vislumbro ter destaque. Certa vez um presidente me disse que queria ser campeão para só assim ser reconhecido. Eu discordo, pois, na minha consciência, grandes colaboradores dos esportes amadores e de serviços prestados ao clube têm o seu reconhecimento. A minha alegria é solidificar um clube centenário. Sempre servi para sustentar e aumentar o patrimônio do clube”, conclui João Guerra.

Corrente pelo futuro O ex-presidente do Náutico, Paulo Wanderley, ressaltou ainda na sua gestão na inauguração do Hotel Concentração do CT Wilson Campos, no último dia 20 de dezembro, a importância de todos que lutaram para a qualificação do Centro de Treinamento. “Tenho a sensação que desatei com um só golpe os nós das dificuldades que muitos abnegados superaram com idealismo, perseverança e muito trabalho ao longo de quase uma década.

Tenho a sensação que o corte da fita simbólica, concluindo mais uma etapa deste Centro de Treinamento, um presente da natureza e que assim deve ser tratado, desata com um só golpe os nós que pareciam adiar definitivamente o futuro. Tenho a consciência de que o faço por força do destino na qualidade de Presidente do Clube, e minhas mãos somam-se as muitas mãos em obra coletiva, pertencente a todos que amam o Náutico.”

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fotos: Guga Matos/JC Imagem

internacional

Um dia para

entrar na história Repórter conta os bastidores do treino que colocou o CT do Náutico no mapa do futebol internacional

exta-feira, 14 de junho. Chovia num típico fim de tarde, início de noite do inverno pernambucano quando o ônibus levando jogadores e comissão técnica da atual seleção campeã do mundo cruzou os portões do Centro de Treinamento Wilson Campos, na Guabiraba. Até então, o CT do Náutico já tinha recebido visitantes ilustres do cenário nacional, mas pela primeira vez na história era o anfitrião de um dos maiores PIBs do futebol internacional: a Espanha, a Fúria, base do mitológico Barcelona que ganhou de tudo, fazia seu primeiro treino em território brasileiro visando à estreia contra o Uruguai, pela Copa das Confederações 2013. Não é preciso nem dizer que o treino virou um acontecimento. Um indicador forte disso foi o interesse da

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E a estrutura do CT do Náutico contribuiu para isso, que se deixe bem claro. Nada muito luxuoso, porém com o mínimo de conforto para se trabalhar. Uma área coberta abrigava a maioria dos repórteres e fotógrafos. Houve quem não se intimidasse com a chuva e escalasse um platô montado para ter uma imagem do alto, superior, de cima, do momento em que as estrelas da Espanha entravam no gramado principal do centro de treinamento. Nomes como Casillas, Valdes, Piqué, Iniesta, David Villa, Xavi, Sérgio Ramos, Fernando Torres e Fàbregas, entre outros que até então só se via pela Sky ou no Playstation. Com os convidados em campo, o cenário estava completo. Os estrangeiros também estavam do lado de cá do alambrado. A imprensa espanhola em maior número, obviamente, mas com os japoneses (que também jogariam no Recife) num honroso segundo lugar, seguidos dos colegas da prensa uruguaia. Italianos e americanos completavam a Babel, que apesar da barreira idiomática conseguiu dialogar, brigando por um melhor espaço com os donos da casa, um empurrãozinho de cotovelo para lá e para cá, eles na base do “obrigado” e a gente arranhando um “muchas gracias”. Uma harmonia que talvez tenha influenciado a Fifa a mudar os planos e estender os iniciais 15 minutos de treino aberto à imprensa para pouco mais de uma hora. Se a gente estava bem instalado, os atletas também não tinham do que reclamar. O gramado havia sido mantido em repouso por meses à espera das estrelas.

Um campo refeito com a mesma cepa da Arena Pernambuco, umidade, fixação da raiz e corte monitorados de perto. Até uma máquina que garantia o “penteado” exigido pela Fifa, foi adquirida. Não havia do que se reclamar e assim sendo a bola correu satisfeita, de pé em pé, bem tratada por todos os lados. Outra satisfação para quem depende da luz, como os fotógrafos, foi a iluminação. Era noite e chovia, é bom lembrar, mas a foto do minuto (ou do dia) seguinte estava garantida. Os potentes refletores instalados através de uma parceria com a Prefeitura do Recife deram conta do recado, simulando o que se viria dois dias depois na Arena Pernambuco. É claro que nem tudo foi perfeito. Apesar da colher-de-chá da Fifa, uma hora de treino foi pouco. A gente queria mais Casillas, Iniesta, Torres e Fàbregas. Queria mais internet banda larguíssima, luz de dia à noite, gramado tipo mesa de bilhar. Resta o consolo que em 2014 tem mais. Aliás, se tudo sair nos conformes, sempre terá mais. A Copa do Mundo pode até passar pela cidade, como aqueles circos que vêm e partem deixando saudades. Mas o CT do Náutico fica, com sua estrutura que não deixa a dever a nenhum time, de nenhum lugar, uma esperança que aquela sexta-feira, 14 de junho, num típico fim de tarde, início de noite chuvoso de inverno, não fique apenas como uma boa lembrança de um dia que entrou para a história do futebol pernambucano. Álvaro Filho é professor, jornalista e escritor. Cobriu duas Copas do Mundo, uma Olimpíada e é editor do site Comer, Beber, Torcer, especializado em viagem e futebol.

imprensa. Centenas de profissionais, entre repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, lutavam por um lugar ao sol, ou melhor, na chuva, em busca do ângulo ideal para o registro definitivo. Uma imagem, tuitada ou check-in que fosse, e que também serviria de prova que, sim, eu estive lá e fui testemunha ocular do dia que entrou para a história do CT do Náutico e, por que não, do futebol pernambucano. Apesar do ruge-ruge, do toró e da ansiedade, tudo transcorreu na paz, de forma ordeira e organizada. Baixou o espírito futebol-primeiro-mundo na crônica local. Cada um no seu quadrado, como nunca houve em outra sessão de treinamento em Pernambuco, no Arruda, na Ilha ou nos Aflitos.

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Elogios

Da Guabiraba para o mundo Estrutura do CT encanta outros clubes do Brasil e até os atuais campeões do mundo

a Guabiraba para o mundo. O Centro de Treinamento Wilson Campos vem arrancando elogios de jogadores e técnicos de times do país e até do exterior. Importantes nomes do futebol já se surpreenderam com a estrutura do lugar, que garante as equipes o primeiro passo para fazer um grande jogo: prepa-

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ração de qualidade. E para a torcida, o resultado em campo fica ainda mais bonito. De acordo com o gerente do CT, Robélio Neves, o local já impressionou grandes ídolos do futebol. “Ronaldinho Gaúcho já treinou aqui duas vezes, quando jogava pelo Flamengo e no Atlético Mineiro, e elogiou muito. Eu até brin-

quei dizendo que se ele não fosse um jogador tão caro, poderia continuar jogando aqui”, lembrou. Além do próprio elenco do Náutico, o CT Wilson Campos também já recebeu os parabéns do treinador Wanderley Luxemburgo, do ex-jogador e atual presidente do Paysandu, Vandick, e até das jogadoras da Seleção Brasileira Feminina de Futebol. “Os times que vêm treinar aqui ficam empolgados, porque como é um campo de treino, não de jogo, a qualidade é excelente”, disse o gerente do local. Na Copa das Confederações, em 2013, foi a vez da seleção espanhola, atual campeã do mundo, aprovar a estrutura alvirrubra. “Quando eles trei-

naram estava chovendo muito em toda a cidade, mas isso não atrapalhou as condições do gramado. O CT mostrou que não deve nada para os grandes centros de treinamentos europeus”, afirmou Robélio Neves. Segundo o gerente geral da sede Recife do Comitê Organizador da Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014, Kléber Medeiros, o CT Wilson Campos atingiu o padrão Fifa de qualidade. “A estrutura, com os excelentes campos para as equipes treinarem e agora com o hotel, está realmente de admirar. As seleções que forem treinar no CT para a Copa do Mundo certamente irão encontrar o ‘padrão Fifa’ de qualidade”, finalizou.

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bASE

Base unida

e forte

Esse foi o segredo para Cláudio Peres levar os meninos do Náutico a conquistarem 10 títulos em três anos

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de estrutura familiar, que pode culminar com uma alimentação precária ou desarmonia no lar, o que acaba fragilizando o jogador”, explica. Reforço nutricional e um grupo forte, família, ajudam no processo de superação das dificuldades. Em 2013, quando o futebol profissional viveu uma das grandes crises de sua história, recorreu à base para compor o elenco. Nomes como Douglas Santos, Auremir, Renato, João Paulo, Hélder e Gustavo passaram a fazer parte do time, muitas vezes como titular. A lista tende a aumentar. Ao sair da função, em dezembro último, Cláudio Peres contabilizava 16 jovens que a base alvirrubra estava cedendo aos profissionais que vão lutar para a dar a volta por cima em 2014. Um elenco com a cara e alma do Náutico. foto: Simone Vilar

ormado em ciência da computação, com mestrados na Inglaterra em engenharia elétrica e em finança internacional, em Barcelona, o pernambucano Cláudio Peres teve panos para mangas para exercitar todo o seu conhecimento quando assumiu a coordenação da base do Náutico, em 2010. “Dos times, e não da divisão, pois não gosto dessa palavra”, explica o alvirrubro de 57 anos, que deixou a função em janeiro de 2014. Saiu o gestor, mas ficaram os troféus: 10 em três anos, nas três faixas etárias que compreende o futebol não profissional de um clube. Entre eles cinco campeonatos pernambucanos (Sub-15, em 2010 e 12; Sub17, em 2011; e bi no Sub-20, em 2012 e 13), uma Copa Pernambuco (Sub-17, em 2011), duas Copa Nordeste (Sub-15 e Sub-13, em 2012 e 13), além de outros torneios estaduais. O segredo foi unir a experiência acadêmica que o ensinou a ser organizado e racional, com a sensibilidade de quem viu que lidar com a faixa etária em questão exige também ter um bom ouvido. “Às vezes, o que jogador da base mais quer é falar e ser escutado”, ensina Peres, que apesar da paciência nunca se esqueceu da disciplina. “Ouve, mas também cobra, chega junto.” A tabelinha paciência e rigor serviu de norte para uma nova geração de jogadores alvirrubros que, antes de aprender a driblar os adversários em campo, teve que se livrar da marcação de uma infância difícil. “O grande desafio é compensar a falta

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