Versos ao avesso

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Ela não tinha sapatos ele não tinha asas ela voava descalça ele calo nos pés, desviando do viés que a vida lhe reservava.


O último vôo Você se foi como um pássaro abriu as asas e voou pela janela. Deixou sua chinela franciscana do lado direito da nossa cama, e a túnica de linho azul marinho pendurada no cabide da banheira. Você voou pela janela sozinho, sozinho e nu como nascera...


Eu não sei se o que carrego aqui dentro são flores de plástico, ou puro lamento...


Estranha, mutante... Trago em meu peito fagulhas de vidro que me cortam a carne e arde. E na garganta um grito preso, engasgado, gás, inflamável, prestes a explodir. Um coração absorto, meio. torto e com frio. Cabeça feita, laços, afetos, fitas desbotadas... Nos olhos carrego um lago em tempestade, Mas meus pés criam asas e não encontram limites.


... Ando absorta por aí... Reticente... Meio catatônica, meio demente. Ando dando voltas trôpegas sobre mim mesma. tropeçando no próprio cadarço, embaraçada nas linhas do tempo, nas meadas desbotadas do passado. Desatando nós imaginários. Alinhavando novos presságios. Ando absorta por ai... Tecendo novos ventos.


Estranha Quem é essa estranha sangrando em minha cama, envolta em meus lençóis, tv ligada de madrugada... Quem é essa estranha, insana, gemendo assim? É uma parte esquecida de mim, uma parte que já não conheço mais, que já se foi há um tempo atrás, e agora volta pra me assombrar. Quem é essa estranha que me habita insistente, que me faz repetir loucuras, gestos, trejeitos que já não quero mais. Quem é essa estranha insone em minha cama um pesadelo que não me deixa em paz ...


Ausência Finalmente percebi que você se foi. Embora ainda arraste correntes em minha sala, durma na minha cama, beba do meu café... Embora ainda faça planos de viagem, pra nós dois. Mesmo assim, você se foi. É que você ainda não se deu conta!


Verso ao avesso Faço verso quando estou pelo avesso. Peito sangrando, alma em chamas, cicatrizes à mostra... Faço verso quando sou carne viva, quando sou quase morta. Quando nada mais tenho, nada mais a perder... Faço verso! estou completamente nua, completamente exposta.


Lembranças que desfilam pela minha mente... O tempo escorrendo pelos meus dedos... Lembranças desfilam belas e nítidas pela minha mente, solitariamente. O tempo continua lânguido, efêmero e implacável! Lembranças desfilam pela minha mente, insistentemente...


Precipício Estou na beira do abismo segurando uma corda puída Tenho duas alternativas Ou eu pulo Ou a corda se rompe e eu caio Então crio asas...


A outra e eu Eu não sou eu, sou outra que se passa por mim. Aquela que é assim meio quem não quer nada... Trancada no quarto, deixa meus medos todos escaparem pela janela! Eu não sou eu, sou aquela! Que me olha tão irônica... Com seu telescópio sobrenatural


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