Relatório Crítico da apresentação do livro “A Inovação em Portugal Rural” Projeto RU@L INOV “Inovar em Meio Rural” No passado dia 14 de Novembro de 2014 ocorreu na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra a apresentação do Livro “A Inovação em Portugal Rural” tendo por base o Projeto Rur@l Inov “A Inovação em Meio Rural”. Esta apresentação foi conduzida por profissionais que desenvolveram o Projeto, sendo a Dr.ª Lívia Madureira, Dr.ª Teresa Gamito, Dr.ª Dora Ferreira e Dr.º José Portela. O Projeto Rur@l Inov foi uma iniciativa conjunta da Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro e da Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural. Este projeto tem como principal objetivo conhecer as inovações que são desenvolvidas e implementadas por diferentes tipos de organizações nas áreas rurais portuguesas. O Projeto Rur@l Inov define inovação como sendo um conceito que visa a complementaridade de dimensões podendo desenvolver-se num produto e/ou simultaneamente num processo inovador, pois a inovação não se dá de forma dissociada. O Projeto Rur@l Inov comporta uma nova redefinição do conceito de inovação, na medida em que apresenta uma abordagem convencional e uma nova abordagem. Assim sendo, na abordagem convencional o conceito de inovação está muito associado a médias e grandes empresas que apresentam uma novidade para o mercado, dando elevada consideração ao valor comercial da mesma. Nesta abordagem os tipos de inovação encontram-se divididos, sem que haja alguma complementaridade. Já na nova abordagem, o conceito de inovação ganha uma nova dimensão, pois os processos que dão origem aos tipos de inovação encontram-se interligados e complementares, gerando valor social. Esta nova abordagem apresenta-se muito associada a empresas e a organizações sem fins lucrativos. O Projeto Rur@l Inov esteve dividido em quatro grandes tarefas, sendo elas: 1. Identificar quem inova nas áreas rurais portuguesas (quem são os inovadores, o que fazem, o que os motiva); nesta tarefa foram realizadas cerca de 120 entrevistas a Organizações, verificando-se uma diversidade de modelos organizacionais, bem como de atividades, produtos e serviços. As organizações envolvidas no projeto abrangem todos os setores de atividades e organizações de qualquer dimensão, salientando que 3% das organizações eram do setor público, 77% eram do setor privado e 20% eram do setor não lucrativo.
2. Conhecer os seus processos de inovação (como é que inovam, que recursos são utilizados); nesta tarefa foi possível recolher opiniões de inovadores a reportar como faziam inovação, surgindo como resposta várias ideias, tais como: faz-se inovação com muita inspiração, uma mistura de conhecimento com intuição, com as pessoas, tendo o apoio de recursos financeiros (muitos destes são capitais próprios e empréstimos bancários), o conhecimento territorial e local, entre outras. 3. Construir um barómetro para medir inovação, este surgiu com a necessidade de medir as boas práticas de inovação em meio rural. Este barómetro e respetivos indicadores têm como objetivo não contemplar apenas os impactos ao nível dos resultados, mas sim medir os inputs (ex.: qualificação de recursos humanos, recursos financeiros, parcerias, etc.), os processos de inovação (ex.: atividades para a inovação, inovações para melhorias nas organizações, etc.) e os outputs/ resultados da inovação (ex.: criação de emprego, disseminação de conhecimento). 4. Mobilizar os agentes, políticos, institucionais, económicos e sociais. Esta quarta tarefa é muito importante no sentido de “vender” o produto, dando a conhecer, mobilizando diversas pessoas e organizações que possam ser de interesse para o projeto. Nesta tarefa a componente de internacionalização e exportação do produto é muito importante para as organizações, pois o seu produto é promovido, dando a possibilidade de dar continuidade à produção, bem como ao lucro comercial. Cerca de 47% das organizações exporta entre 50% a 90% o seu produto, Estas quatros tarefas permitem ter uma visão prática de todo o trabalho desenvolvido ao longo do projeto. É de salientar pequenos exemplos práticos que são vistos como boas práticas de inovação em meio rural, tais como, sabonetes de diferentes aromas regionais/ locais (amêndoa, azeite, mel, etc.), inclusive com leite de burra e receitas da Cozinha Tradicional Portuguesa que têm por base receitas antigas e receitas contemporâneas, havendo simultaneamente um processo e um produto inovador. Segundo Dr.ª Lívia Madureira, o Projeto Rur@l Inov ampliou o conceito de inovação, utilizando o termo de inovação incremental e não apenas a noção de inovação radical. A inovação radical, tal como o seu próprio indica, é algo que pressupõe um grande e imediato impacto, estando muito associado a questões económicas, a mudanças rápidas, violentas e por vezes drásticas na sociedade. Contrariamente, a inovação incremental pressupõe surgir de forma mais constante e gradual, tendo por base pequenas melhorias contínuas, tanto ao nível do processo como do produto em si.
Em suma, é percetível que o conceito de inovação é multidimensional, de difícil delimitação e medição, pois trata-se de um conceito abrangente e universal. Particularmente, a inovação em meio rural é vista como a “inovação escondida”, ou seja, toda a inovação que não seja tecnológica, sendo muitas vezes negligenciada e esquecida por agentes, por políticos, entre outros. Todavia, com o reconhecimento destas boas práticas de inovação permitiu que a “inovação escondida” se tornasse voz ativa na sociedade, transformando-se numa realidade inesperada, criativa, dinâmica e sustentável. Numa visão mais critica-pessoal, a inovação em meio rural revelou-se uma nova realidade que vem contrapor, em certa parte, a situação de crise económica que Portugal atravessa, fazendo um melhor aproveitamento e uso de recursos que estão muitas vezes esquecidos e alguns deles em extinção. Assim, é cada vez mais importante olharmos à nossa volta e refletir por onde podemos começar, pois sem dúvida que Portugal é um país muito mais rural que urbano, sendo mais um motivo para apelarmos ao desenvolvimento local, a criação de emprego e postos de trabalhos em zonas mais desertificadas. No livro “A Inovação em Portugal Rural” são apresentadas quatro lições fundamentais para as organizações inovadoras em meio rural: “Promover a aprendizagem individual e coletiva é o chão da inovação”, “Partilhar conhecimento, experiência e recursos” é importante assumir que o sucesso e a inovação não se fazem sozinhos, a troca de conhecimentos e experiências entre os inovadores é essencial para se multiplicar e fazer crescer as boas práticas de inovação. A terceira lição é “Colaborar e cooperar” no sentido de criar redes eficazes e aumentar o impacto da inovação, por último a quarta lição é “Inovar”, esta reforça o quanto é necessário inovar, inovar, propiciando e desenvolvendo uma cultura de inovação. Inovar implica muitas vezes falhar, mas também não desistir e apreender com os erros e com o insucesso.
Docente: Sílvia Ferreira Discente: Rita Emanuel Pereira de Sousa Disciplina: Contextos e Práticas de Empreendedorismo Social