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A internacionalização da capital mineira: tudo sobre a “globalização” de BH

E mais: Entrevista Resenha Perfil Humor

BH World Edição Especial



BH World Índice: História pág. 3 O espaço territorial pág. 5 Os processos de internacionalização pág. 7 A internacionalização de Belo Horizonte pág. 11 Opinião pág. 15 Perfil pág 16 Resenha pág. 18 Entrevista pág. 19

E

sta coleção de artigos relativos às disciplinas ministradas no 2º período do curso de relações internacionais do Centro Universitário de Belo Horizonte, propõem analisar o processo de internacionalização da capital mineira, em sua efetividade, urgência e relevância em contraste com outras cidades brasileiras, elem de suas cidades irmãs. Primeiramente, veremos qual foi a relevância da influência estrangeira na consolidação da cidade à época da corrida do ouro brasileira e as heranças de tais desenvolvimentos nas relações internacionais recentes da cidade. Em seguida, analisaremos os processos de expansão e fluxos transnacionais da cidade ao decorrer de sua história mais recente, abordando conceitos relacionados à espaço e território. Em uma terceira seção, as estratégias de negociação e barganha utilizadas pelos policy makers da cidade entra em voga e analisamos os desdobramentos para aplicação dos planos de desenvolvimento do caráter internacional belorizontino. Findam-se os artigos com uma análise sociológica da suposta internacionalização da cidade, atravessando os viés, político, cultural e social, além da relevância de manobras estruturais da história recente da cidade. Além destes artigos gloriosos, se poderá desfrutar de dicas culturais, entrevistas, charges e de fato imergir no mundo de Belo Horizonte, elevando o conhecimento acerca da fisicamente reclusa capital mineira, mas imensamente aberta em suas propostas e ideais. Equipe BH World.


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HISTÓRIA DA INTERNACIONALIZAÇÃO DE BELO HORIZONTE

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criação de Belo Horizonte, como capital planejada de Minas Gerais e esperançosa em vistas de progresso na região, se deu em meio aos ânimos da recém proclamada República Brasileira, pelas mãos do Marechal Deodoro da Fonseca e da escola positivista do braço militar do império, no entanto, previamente a isso, seus arredores já habitados e sua composição antiga, denominada Curral Del Rei, já se projetavam nacional e internacionalmente. (BARRETO, 1996) Isto se dá pelo âmago da formação das estruturas da região, que seria, claramente a corrida do ouro do século XVII no Brasil. A aglomeração do Curral se inicia com a chegada do bandeirante João Leite da Silva Ortiz no ano de 1701 à Serra de Congonhas (renomeada hoje para Serra do Curral) e seu desenvolvimento ao longo dos anos foi de fato muito tímido, por secessões territoriais e de fato estruturas pouco preparadas. Somente com o decreto estadual de mudança da capital do estado para a região, por Augusto de Lima em 1893, um novo prospecto se mostraria claro e viável. (BARRETO, 1996)

Com a descoberta do ouro nas regiões das Minas, um processo extremo de mudança se inicia no Brasil colonial, tanto do ponto de vista macroeconômico da colônia, como em suas formas de ocupação e interação com a metrópole. O sistema agropecuário mercantil dá lugar à atividade aurífera como principal processo econômico colonial, desencadeando em políticas estatais portuguesas para melhor aproveitamento e povoamento de regiões importantes para a extração e produção do ouro, no entanto, ainda mantendo uma negligência crucial para o desenrolar das atividades manufatureiras coloniais. (CARNEIRO, 2004) Deve-se notar que a não evolução de atividades manufatureiras na região das minas se deve quase que absolutamente à própria incapacidade da Metrópole de elaborar tais tecnologias, além, claramente, dos impedimentos relativos ao pacto colonial, que seria prejudicado em virtude da dependência do setor industrial manufatureiro português do mercado colonial. (FURTADO, 1959)

Claramente, houveram atividades econômicas desenvolvidas na região, voltadas para o mercado interno e não ligadas à metrópole diretamente, que acabaram por disseminar de forma pulverizada nos arredores dos concentrados auríferos, levando à inevitável expansão da ocupação territorial nas minas. (CARNEIRO, 2004) Em virtude da expansão aurífera na região, obviamente um grande boom econômico foi vigente durante o período próspero de tal atividade econômica, findando-se claramente com o declínio de tais processos e a substituição da matriz econômica brasileira, em um retorno ao funcionalismo latifundiário. Minas Gerais acabou por sofrer especialmente com tão drástica mudança, atravessando o século XIX com crescimento tímido e sustentando-se com foco maior em atividades de mercado interno. (EAKIN, 2001) Mesmo após os processos de industrialização e crescimento econômico em virtude da glória cafeicultora adentrando o século XX, Minas Gerais como um todo ainda cresceu na “periferia da periferia”, à sombra dos estados


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4 à sombra dos estados tangentes mais bem sucedidos economicamente no Brasil, pelo próprio legado histórico-político e posição geográfica, São Paulo e Rio de Janeiro. (EAKIN, 2001) Por Minas Gerais ser um berço político forte no Brasil e congregar física e culturalmente regiões diversas do país através de sua complexa rede de limites geográficos, a necessidade de uma congregação de interesses e centralidade social (além das óbvias necessidades estruturais latentes à mudança) levou à construção, consolidação e mudança da capital do estado de Ouro Preto para o antigo arraial de Belo Horizonte, que passaria por uma expansão épica, com ajuda do jovial governo republicano brasileiro e sob os auspícios do governador Augusto de Lima. (EAKIN, 2001) Como colocado por Eakin, Ao fim do século XX, Belo Horizonte havia crescido muito além dos sonhos mais deviantes de seu criador. A expansão industrial no fim do século XX culminou em um centenário da industrialização que começou com a construção de Belo Horizonte nos idos de 1890. Por qualquer medida, a industrialização da cidade foi impressionante. O segundo maior centro industrial da oitava economia do

mundo (...) hoje em uma região aonde há cem anos atrás, pequenos agrupamentos de milhares de camponeses cavavam seus sustentos da terra.

Fica muito clara a importância regional de Belo Horizonte, sua quase caricatura do Brasil em pontos de diversidade e progresso. No entanto, ficam ainda um pouco excusas as motivações pelas quais Belo Horizonte não engata de maneira forte seu projeto de internacionalização e sempre acaba ofuscada pelas duas cidades brasileiras de característica internacional, que

ironicamente, na história já colocavam Belo Horizonte à margem do desenvolvimento econômico: Rio de Janeiro e São Paulo. Nos próximos artigos, partiremos do padrão estabelecido por estas cidades para a caracterização de cidade internacionalizada dentro do Brasil (ainda que estas possam fugir a conceitos amplos de internacionalização).


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O ESPAÇO TERRITORIAL BELORIZONTINO FLUXOS E EXPANSÃO

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elo Horizonte se insere cada vez mais na integração entre as pessoas, empresas, organizações e países em todo o mundo, marcando presença no cenário de intensas trocas culturais e comerciais. A inserção da capital na comunidade internacional é responsabilidade direta da Secretaria Adjunta de Relações Internacionais, vinculada à Secretaria Municipal de Governo. (PBH, 2010) Belo Horizonte é uma cidade com tendências à internacionalização. As características como clima ameno, a beleza da paisagem, as montanhas que lembravam terras européias, a promessa de crescimento e enriquecimento rápido que a cidade

demonstrava, faziam com que os imigrantes, vindos da Itália, de Portugal, da Espanha, da França, do Líbano e da Síria, representam a primeira leva de estrangeiros que procurou se fixar cidade. Com o tempo vieram outros trabalhando para as grandes empresas de mineração, como os ingleses, ou mesmo para as siderúrgicas, como os alemães, belgas e norte-americanos. Mas também havia aqueles que vieram para trabalhar em outros estados, mas que acabaram por escolher Belo Horizonte como o seu lar, entre eles podemos citar os japoneses e os eslavos. A década de 50 chegou a Minas Gerais como um fomento ao desenvolvimento de seu pretenso caráter internacional,

com a realização de alguns jogos da Copa do Mundo, no Estádio Municipal, localizado na região do Horto Florestal. Nesta mesma época foi criado o Corpo C o n s u l a r, q u e v e i o p a r a responder as demandas dos estrangeiros residentes em Minas Gerais. De lá para cá a presença de representações estrangeiras em Belo Horizonte tem crescido constantemente. Este crescimento parece obedecer a uma exigência da própria cidade de Belo Horizonte, que tem um destacado programa de internacionalização. Fator que tem possibilitado a esta metrópole, ostentar o status de cidade-irmã de algumas das maiores metrópoles do mundo, resultando em um intercâmbio intenso de tecnologias,


6 solidariedade e políticas públicas. A associação dos Membros do Corpo Consular no Estado de Minas Gerais conta com 33 Consulados (Alemanha, Holanda, Paraguai, Áustria, Honduras, Polônia, Bélgica, Hungria, Portugal, Canadá, Índia, Romênia, Chile, Indonésia, Rússia, Dinamarca, J a p ã o , S í r i a , E q u a d o r, Luxemburgo, Suíça, Espanha, Malásia, Trindade e Tobago, Finlândia, Marrocos, Turquia, França, México, Uruguai, Grã Bretanha, Nicarágua).(CORPO CONSULAR, 2010) Belo Horizonte possui 16 cidades irmãs. A cidade de Austin noTexas - EUA, foi a primeira cidade Irmã de Belo Horizonte em 1965, a cidade do Porto-Portugal e muito lembrada pelo vinho que produz e devido a procura, aconteceu em Belo Horizonte um evento que foi uma proposta da Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil para divulgar as principais regiões vinícolas de Portugal, TripoliLíbia, Minsk- Bielorrússia, Luanda-Angola, Havana-Cuba, Tegucigalpa-Honduras, HomsSíria, Zahie-Libano, GranadaEspanha, Porto-Portugal, Nanjing-China, BelemCisjordania, Fort Lauderdale, Florida-EUA, Masaya-

BH World Nicaragua, Cuenca- Equador, e também a cidade de Newark em Nova Jersey-EUA que possui uma enorme concentração de brasileiros que saíram de BH para comercializar nos EUA. Muitos desses brasileiros compram roupas no Bairro Barro Pretas, acessórias na feira da Afonso Pena, alimentos em Belo Horizonte e exportam para o comercio de Newark. Algumas dessas pessoas foram para os EUA como imigrantes e se legalizaram de alguma maneira. Com visão empreendedora, essas pessoas montam supermercados, jornais, transportadoras, salões e muitas outras atividades. Para manter o comercio em Newark, buscam os produtos em Belo Horizonte. Em 31 de maio de 2009 Belo Horizonte foi anunciada pela FIFA, como uma das cidadessede dos jogos da competição mundial. BH concorre essa abertura com mais 11 cidades e já deu início às modificações para atender às exigências internacionais (modernização dos estádios de futebol como o Mineirão e o Independência, aumento e qualificação da rede hoteleira, melhorias no transporte e infraestrutura). Sediar um jogo de Copa do Mundo é uma oportunidade maravilhosa para impulsionar o desenvolvimento social e

econômico de Belo Horizonte e inserir de vez a cidade no cenário globalizado. Belo Horizonte também foi sede neste ano do 18º congresso do Centro Iberoamericano de Desenvolvimento Estratégico Urbano (Cideu). Atualmente, fazem parte da rede mais de 120 cidades da América Latina, da Espanha e de Portugal. Também neste ano foi celebrado o Ano da França no Brasil e, visando à ampliação da cooperação descentralizada e federativa franco-brasileira, o evento contou com a presença de 144 participantes, sendo 6 franceses e 138 brasileiros. Outra conquista internacional da cidade foi a formação da primeira turma do curso de Metodologia do Ensino da Língua Inglesa, voltado a professores da Rede Municipal de Educação. O curso é realizado pelo Icbeu, em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Essa realização incentivou o interesse do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel em falar sobre projetos e o desejo de promover uma parceria cultural e econômica entre Nova Jersey, e Minas Gerais em estabelecer maior proximidade entre a capital Newark e Belo Horizonte.


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Belo Horizonte esta entre as 10 melhores cidades para se fazer negócio na América Latina. Com um nível elevado de capacitação, a grande metrópole faz investimentos nos intercâmbios tantos culturais, como profissionais, visando a troca de informações e experiências, o que acelera o crescimento do setor turístico. Com base também em seus interesses, surgem cooperações, redes e alianças, as quais ajudam no desenvolvimento sustentável, na melhor urbanização da cidade e auxílios ao meio ambiente. Belo Horizonte está a frente até mesmo de cidades como Brasília. Com extensos setores industriais, minerais e naturais torna-se potência e vira destaque no âmbito de internacionalização.

OS PROCESSOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE BELO HORIZONTE

A

Internacionalização de uma cidade pode ser dividida em três eixos principais: a introdução da dimensão internacional nos projetos estratégicos locais; a adaptação da administração pública local à dinâmica global; e por fim, o desenvolvimento de uma gestão local consciente da importância esse processo. Belo Horizonte se encontra nas fases i n i c i a s d e s u a internacionalização, a recente concentração das estratégias se iniciou em 2005, com a criação da SMARI – Secretária Municipal Adjunta de Relações Internacionais, de acordo com a Lei 9.0011 de 1º de Janeiro de 2005 (RAMOS, 2008).

O objetivo da Secretaria é transformar Belo Horizonte em uma “Cidade Global”, conceito inicialmente definido pelo escocês Patrick Gueddes, em seu livro “Cities in Evolution”, c o m o u m a r e g i ã o e c o n o m i c a m e n t e preponderante do EstadoNação, conectada a outras cidades do mundo de forma a manifestar os interesses políticos e econômicos do governo nacional. Posteriormente, com os efeitos da crescente globalização, John Friedmann define as Cidades Globais de acordo com sua importância para o mundo como os centros controladores da economia global, sendo que sua emergência está vinculada ao surgimento do sistema global


8 das relações econômicas (MALTA, 2010). No caso de Belo Horizonte, para tornar-se uma cidade global, é preciso focar não apenas no cenário internacional, como também nacional. É perceptível no Brasil, que as duas cidades centro, e já percebidas no sistema internacional são São Paulo e Rio de Janeiro, porém as duas estão se tornando cada vez mais saturadas, o que possibilita o destaque de novas cidades como centro no Brasil e, conseqüentemente, no mundo. De acordo com Júlio Pires, presidente da Belotur, as vantagens de Belo Horizonte podem ser divididas em geográficas, naturais, e artificiais: são inicialmente, a proximidade geográfica ao atual eixo dominante São Paulo – Rio de Janeiro, e sua simultânea proximidade à capital Brasília; a ausência de uma “atração turística estrela”, como praias ou cachoeiras, o que possibilita um intenso turismo de negócios; e, o sucesso atual das políticas públicas iniciadas na prefeitura de Fernando Pimentel, de 2003 a 2008 (PBH, 2010). Outra forma de definir o sucesso ou não de uma Cidade Global é de acordo com a sua posição e interação nas relações dentro das redes de Cidades Globais.

BH World Ou seja, de acordo com a intensidade de seus fluxos gerados tanto por atores públicos (setor governamental), como por atores privados (setor empresarial), contabilizado através dos fluxos de pessoas, bens, capitais e idéias (MALTA, 2005).

formam uma luta competitiva, o que beneficiaria os investidores, mas formam uma rede de cooperação, onde a quantidade e qualidade das conexões entre elas levam a uma concepção que ultrapassa a rede, chegando a uma verdadeira “sociedade de cidades” (MALTA, 2005).

Uma importante parte da atuação da SMARI é o incentivo para Belo Horizonte sediar cada vez mais eventos internacionais. Com essa prática, a cidade tem a oportunidade de criar uma boa reputação mundial, e se manter como um pólo atrativo para investimentos e turismo empresarial (PBH, 2010). É importante ressaltar que em nível de cidades, a dinâmica se difere das interações entre Estados, mais perceptível quanto à Globalização, onde Municípios possuem canais mais amplos e multilaterais. De acordo com Leonardo Ramos (2008), há uma movimentação para que o Estado deixe de exercer papel de mediador entre os atores subnacionais e o mercado global, abrindo espaço para a atuação direta das cidades no âmbito internacional e, possibilitando a formação de novas relações horizontais e multilaterais entre as cidades. Um exemplo para esse multilateralismo é a formação das redes de cidades, que não

Em julho desse ano, Belo Horizonte sediou o XVII CIDEU, em que, com orgulho, a prefeitura apresentou ás autoridades estrangeiras o Projeto Vila Viva como símbolo do sucesso das políticas públicas da cidade. O PVV conta com mais 170 milhões de reais para urbanizar as favelas, tornando-as bairros populares de baixo custo. Porém, para que as famílias removidas possam passar a residir nos conjuntos habitacionais fornecidos pela prefeitura devem passar por uma triagem, com fins de identificar aqueles que apresentam condições de assumir os custos da moradia. Assim, as famílias não aprovadas recebem apenas uma indenização referente á sua antiga residência (que pode nem passar de três mil reais) e se vêem obrigados a se mudar para regiões mais distantes, e muitas vezes ainda mais precárias. (JANUARIO et al, 2009) Com o exemplo do Projeto Vila


9 Viva, percebe-se que apesar de as Redes de Cidades serem na teoria focadas na cooperação internacional, as prefeituras municipais (inclusive de Belo Horizonte) ainda estão utilizando a competitividade dentro das redes. Ao omitir os aspectos negativos e somente apresentar os aspectos positivos de um projeto, o representante opta por preservar uma imagem irreal acerca de suas políticas públicas. Há uma contradição nesses acordos multilaterais, pois apesar de terem como objetivo o intercâmbio de experiências e informação (bens intangíveis), na prática os membros continuam agindo para atrair investimentos estrangeiros (VERSIEUX, 2010). Belo Horizonte, para se manter integrada, participa de várias redes de cidades. Assim, ao se reunir em associações com cidades de interesses convergentes, possibilita o aumento dos fluxos, e ganha força para participar na tomada de decisão de atores principais como os Estados e a ONU. Veja no quadro ao lado algumas das redes mais importantes das quais Belo Horizonte participa (PBH, 2010): Com o fortalecimento da atuação das redes de cidades,

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as mesmas, mesmo que ainda emergentes, podem se tornar influentes como sujeitos políticos no sistema internacional, possibilitando a atuação municipal no plano externo. Essa promoção de novas relações bilaterais e multilaterais impõe uma nova dinâmica na gestão municipal no campo das Relações Internacionais com a emergência da era da globalização (BARRETO, 2006). No Brasil, a atuação internacional dos municípios sempre foi limitada. Os municípios representavam s i m p l e s u n i d a d e s administrativas dentro da

Federação. Porém, com a Constituição de 1988, a atuação independente das cidades foi fortalecida, com a consagração do município como ente federado, evidenciando uma maior capacidade de gestão financeira e prestação de serviços públicos por parte dos governos municipais. E em 2005, foi apresentado á Câmara dos Deputados um projeto de emenda para regular e x p r e s s a m e n t e a paradiplomacia brasileira, permitindo que municípios possam firmar convênios internacionais (BARRETO, 2006).


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10 Quadro 2

Quadro 3

Quadro 4

Rede Mercocidades, vinculada ao

Por que se internacionalizar?

A participação em eventos,

Mercosul (o mais importante bloco da

A partir do momento em que as cidades

associações, organizações, a inclusão

América do Sul), que sediará sua

se vêem como agente econômico, elas

em processos de integração regional,

próxima Cúpula em Belo Horizonte, na

buscam se inserir no mercado

redes de cidades, e manter uma

qual a PBH irá assumir a Secretaria

internacional. Para isso, muitas

presença direta dos governos locais no

Executiva. É a mais importante e mais

cidades buscam FDI (Investimento

sistema de cooperação internacional

bem sucedida rede da qual Belo

Externo Direto), novos mercados para

são algumas das estratégias mais

Horizonte participa, representa o

os seus produtos, e tecnologia para

efetivas para construir uma maior

reconhecimento da crescente

modernização local, gerando

projeção internacional.

importância dos atores subnacionais.

empregos, renda e desenvolvimento

CIDEU, rede com o objetivo de

econômico.

promover

o

intercâmbio

de

Planejamento Estratégico e Urbanização, além de atrair o investimento estrangeiro para as cidades membros, em julho desse ano, Belo Horizonte sediou o XVII Congresso do CIDEU e atualmente assume a vice-presidência. UCLG – Cidades e Governos Locais Unidos, uma das maiores redes internacionais de cidades, e de grande influência.


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INTERNACIONALIZAÇÃO DE BELO HORIZONTE: UMA VISÃO CRÍTICA ob o ponto de vista das R e l a ç õ e s Internacionais, Belo Horizonte tem se esforçado para tornar-se modelo de fomento à interação entre seus habitantes e os cidadãos das mais diversas metrópoles ao redor do planeta. Segundo Paula (2006, p. 21), “a cidade é o espaço-síntese, por excelência, da vivência social contemporânea em todas as suas virtualidades e desafios. A sorte da cidade é a sorte da sociabilidade humana”.

S

Neste contexto, Belo Horizonte parece adequada à análise do Globalization and World Cities Study Group & Network sobre o que seria uma cidade global. O criador do termo, Hall, (1997), estabelece uma escala de 1 à 12 para avaliar o quão global é uma cidade: Na categoria Alpha (1º lugar em importância) figura, entre outras metrópoles mundiais, São Paulo, com 12 pontos; Rio de Janeiro, com apenas 3 pontos, vem na categoria “forte evidência de formação de cidade global”; A categoria mais baixa (1 ponto) traz cidades com mínimas evidências de formação de cidade global. Belo Horizonte sequer figura na classificação. (MALTA; SALOMÓN, 2010)

Mercocidades, em âmbito regional; o

Mas uma visão alternativa é oferecida por Fernando Malta: Considerando, portanto, a vontade política, a ação das cidades como estratégia de auto-inserção global das unidades subnacionais, a definição de “Cidades Globais” oferecida por Hall, Friedmann ou Sassen torna-se incompleta ou míope – desconsiderase, por inteiro, o quão engajada é a localidade no cenário global e, mais importante, o quanto isso é fruto de seu próprio movimento, e não mera conseqüência

espantoso e crescente número de cidades-irmãs ou gêmeas; ou mesmo a existência de um fórum de conversa desses atores dentro das Nações Unidas (UN-HABITAT), organização eminentemente estatal desde sua criação, mostram que ainda que haja algum ator amplamente ativo em qualquer um dos exemplos anteriores, ainda assim pode não ser enquadrado como uma “cidade global” nos termos apresentados anteriormente (MALTA;

SALOMÓN, 2010).

da rede financeira,

econômica ou comercial mundial.

Ele avalia: A existência de uma variada gama de fóruns internacionais exclusivamente de atores subnacionais como a United Cities And Local Governments (UCLG), em âmbito global, ou as Euro e

Pela ótica paradiplomática, Belo Horizonte encaixa-se entre os atores subnacionais que se esforçam por uma inclusão no cenário internacional. Fora as vantagens naturais, há o fácil acesso aéreo e rodoviário, com destaque para os belos


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12 conjuntos arquitetônicos: Oscar Niemeyer, Burle Marx e Amílcar de Castro são as referências mais óbvias entre inúmeras outras. A primeira cidade planejada do país também é reconhecida como centro de excelência médica, de biotecnologia e informática. Daí sua importante vocação como sede de importantes eventos nacionais e internacionais.

cursos de qualificação são ministrados no ICBEU (Instituto Cultural Brasil Estados Unidos) por uma professora norte americana patrocinada pela embaixada estadunidense no Brasil. Já com as cidades de San Salvador e Soyapango, ambas em El Salvador, há um acordo desde 14 de dezembro de 2007 para a promoção conjunta de intercâmbios de experiências em diferentes áreas de governo. Uma delegação composta de 16 adolescentes do Programa Esporte Esperança esteve em El Salvador em 2008 para o Primeiro Torneio de Futebol de “El Salvador 2008”.

estadual, e tem capacidade para 81 mil pessoas” (GRANDES CONSTRUÇÕES, 2010). E mais: é necessário investir na malha rodoviária e em alternativas de transporte, como ampliação e melhoria do metrô. Além disso, B.H. tem um déficit de unidades habitacionais na rede hoteleira (cerca de 1600 unidades habitacionais precisam ser construídas até 2014).

Além dos já citados fórum das Mercocidades e programa das Cidades Irmãs, há os acordos de cooperação firmados entre a prefeitura de Belo Horizonte, quatro cidades e duas universidades internacionais, por iniciativa da Secretaria Municipal Adjunta de Relações Internacionais da Prefeitura de B.H. Sua finalidade é estabelecer e manter relações e parcerias internacionais, além de planejar e coordenar as

Prosseguindo com as tentativas de internacionalização de Belo Horizonte, a prefeitura levou a Stuttgart, na Alemanha, um funcionário da BHTrans para estágio técnico. O acordo assinado entre as duas cidades

O que se nota, no entanto, é que

políticas e ações para

visa a mobilidade urbana e

as obras são um instrumento de

negociação e captação de

desenvolvimento do sistema de

promoção e propaganda,

recursos financeiros junto a

transporte de B.H. para a Copa

visando mais o empresário e o

organismos multilaterais e

do Mundo de 2014.

turista estrangeiro do que a

As cidades, cada vez mais refletidas com

base

em

orientações

internacionais para o planejamento urbano, têm sido promovidas para o

agências governamentais estrangeiras (PBH, 2010).

Aqui parece oportuna a citação de Pereira (NAYA, 2010):

empresário, o turista ou o cidadão (ASHWORTH and VOOGD, 1991, COOKE, 1990 apud SANCHÉZ), sendo buscada larga adesão social para os projetos de promoção urbana”.

população da cidade, vide Linha É interessante ressaltar que

Verde, Boulevard Arrudas e

“Belo Horizonte é a única grande

Cidade Administrtiva. A

O acordo entre o município de

cidade do país cujos principais

propaganda é bela, mas o fato é

Belo Horizonte e a cidade de

clubes não possuem um estádio

que houve o afundamento do

Chicago, nos EUA, por exemplo,

de médio porte. Inaugurado em

asfalto na região do Rio Arrudas;

firmado em 14 de novembro de

1965, o Estádio Governador

O elevado em frente ao Minas

2008, contempla a capacitação

Magalhães

mais

Shopping, na Avenida Cristiano

de professores de inglês da rede

conhecido como Mineirão, é de

Machado, parte da Linha Verde,

de ensino municipal de B.H. Os

propriedade do governo

teve que ser interditado para

Pinto,


13 reparo de rachaduras antes de completar seis meses de inaugurado, e a Cidade Administrativa sofre as mais variadas críticas quanto aos elevados gastos com energia, distância e custo de transporte para os servidores, fora os altos preços de alimentação. Retomando o raciocínio de Valnei Pereira (NAYA,2010): ... A manutenção e a reprodução da injustiça e das desigualdades sociais apóiam-se na criação aparente de novas oportunidades sócioeconômicas ou de “paraísos urbanos” atraentes, onde a administração pública deveria planejar e arcar, antes de tudo, com os riscos dessa enganosa imagem.

BH World subnacional expressivo em termos de demarcação de espaços extraterritoriais. Nossas elites econômicas, políticas e culturais ainda estão confinadas ao conceito da localização, em especial devido à falta de poder econômico de barganha do município no mercado monetário e especulativo mundial. Segundo Bauman (1998, p. 86), “para abrir caminho na mata densa, escura, espalhada e “desregulamentada” da competitividade global e chegar à ribalta da atenção pública, os bens, serviços e sinais devem despertar desejo e, para isso, devem seduzir os demais consumidores e afastar os demais competidores”.

Ele afirma: Em Belo Horizonte, apesar das conquistas e do aprendizado gerado pelos mecanismos democráticos de participação após a Constituição de 1988, com vários momentos sensíveis a essa condição, as políticas atuais têm evidenciado traços bem característicos de intenções estratégicas que refletem, antes de tudo, uma participação social pouco significativa em decisões importantes relativas aos rumos e ao futuro da cidade.

Recorrendo a Zygmunt Bauman (1998), verificamos que a capital mineira sofre do complexo de localidade, não sendo um ator

Todavia, Belo Horizonte não tem as finanças devidamente reguladas para pleitear empréstimos satisfatórios junto a organismos financeiros como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) ou o FMI ( F u n d o M o n e t á r i o Internacional). Ambas as instituições exigem das cidades as mesmas contrapartidas e garantias que cobram de um estado. Não há neste estudo a menor intenção de minimizar os esforços do poder público ou de particulares em trabalhar a

vocação social da capital mineira, através de sua tão propalada hospitalidade, recebendo eventos internacionais com a pretensão de repetir a mesma naturalidade com que o mineiro acolhe uma visita. A proposta deste artigo é analisar o quão internacional é a cidade de Belo Horizonte e como se daria a sua atuação em termos paradiplomáticos em prol dos seus cidadãos sob o ponto de vista da sociologia. São inúmeras as qualidades de B.H. que atraem estudantes, turistas e homens de negócios do mundo inteiro, todas citadas no Guia Turístico, Cultural e Gastronômico da Cidade e facilmente reconhecidas em qualquer passeio que se faça.: Belo Horizonte já foi considerada a metrópole com melhor qualidade de vida da América Latina pelo Population Crisis Comitee da Onu e a 45ª entre as cem melhores do mundo, além de exibir o título de “Cidade Modelo da Área Ambiental”. São 29 metros quadrados de área verde por habitante. Quase o triplo do índice considerado ideal pela organização Mundial de Saúde. No entanto, estrangeiros dizem que B.H. é “a maior cidade de que nunca ouviram falar do mundo” (NAYA, 2010). Como tampouco figura no


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14 ranking de um a doze de quão inseridas no contexto global está uma cidade, do Globalization and World Cities Study Group & Network, além de os esforços da prefeitura local resultarem tão somente em troca de expertise, capital humano não reembolsável e de ganho apenas institucional, este estudo nos leva à conclusão de que Belo Horizonte ainda não amadureceu institucionalmente como entidade subnacional relevante no plano internacional. Talvez seja o caso de afinar mais o foco, reduzir as aspirações em prol de um bem maior no futuro, tanto para a cidade quanto para os seus cidadãos, ainda hoje presos pelas amarras da localização em um mundo irremediavelmente extraterritorial. Como forma de desfazer este estado de coisas, há que se posicionar claramente primeiro em âmbito regional, depois nacional e, antes de sair ao mundo, relembrar o ideal republicano, “pondo-nos em contato fraternal com todos os povos, e em solidariedade democrática com o continente que fazemos parte” (MANIFESTO REPUBLICANO, 2009, p.58). R E F E R Ê N C I A S BIBLIOGRÁFICAS PAULA, João Antônio de. As

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http://www.grandesconstruções. com.br Acesso em 11 de novembro de 2010.


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15 OPINIÃO: AS AGENDAS SOCIAIS DAS R.I´s

relações internacionais em nível municipal.

contrapartida, o Banco Interamericano de Desenvolvimento faz operações de cooperação

É interessante notar como as principais

GANHO INSTITUCIONAL

preocupações das agendas sociais das Relações Internacionais têm-se destacado nos acordos de cooperação da prefeitura de Belo Horizonte com outras cidades do mundo. Assuntos como desenvolvimento e mudança social;

pobreza,

desigualdade

e

desenvolvimento; comércio internacional e desenvolvimento e outros relacionados à globalização e esforços conjuntos em prol da resolução de problemas sociais aqui e no exterior têm sido constantemente abordados em eventos e visitas internacionais. Sem falar que os intercâmbios são direcionados para os trabalhadores, estudantes da rede pública, professores e outros atores que, de outra forma, jamais conseguiriam cruzar nossas fronteiras

Entretanto, há que se ressaltar que acordos entre municípios, como o Rede Mercocidades e o programa das Cidades-irmãs ou gêmeas, por exemplo,

são chamados acordos intangíveis.

Nestes, utiliza-se capital humano e não monetário, prática conhecida como troca de expertise. Não há aí a necessidade de contrapartida financeira, sendo o ganho institucional, com foco em possíveis e futuros novos acordos. É inegável o ganho profissional para que participa dos programas de intercâmbio, mas isso não traz grandes ganhos à

fora da categoria das cidades globais.

Um dos projetos mais ambiciosos da prefeitura local está no acordo firmado com a cidade de Turim, na Itália. Em seu bojo está a promoção de intercâmbio e discussão de boas práticas, a colaboração institucional para viabilizar ações em prol da coesão e inclusão social, da democracia participativa, da superação dos desequilíbrios sociais e ambientais que afligem a sociedade de ambas as cidades (PBH). Este acordo prevê ainda políticas para o trabalho, a capacitação e requalificação profissional com enfoque nas políticas para a juventude, políticas públicas de gestão de serviços públicos essenciais e promoção das políticas sócio-

está longe de ser considerada uma cidade global, não é por falta de vontade política ou esforços dos setores público e privado. È que para se conseguir um empréstimo significativo para que o município invista em estruturas internacionais é necessário oferecer a mesma contrapartida exigida aos estados. No Brasil, apenas Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná têm essa capacidade financeira. Além disso, todas as contas do governo devem estar em dia, além da garantia de que não se atrase com nenhuma mensalidade do empréstimo. O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) não espera mais que 24 horas para a inclusão de um nome no cadastro de mal pagador.

RECURSOS PARA AS CIDADES

educativas e culturais da cidade. Todas estas são políticas de cooperação descentralizadas e

prefeitura municipal). A Agência Brasileira de Cooperação é que faz todo o trâmite internacional. Apenas 8% dos recursos internacionais são obtidos via empréstimo pelos municípios brasileiros. São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, conforme já mencionado, são os campeões de captação. Belo Horizonte ainda não tem condições de pleitear empréstimos. A situação em municípios do Norte e Nordeste do país beiram o caos.

LONGO CAMINHO Para se pleitear um empréstimo junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) ou ao BID gasta-

CIDADE GLOBAL? Também vale dizer que, se Belo Horizonte ainda

DESCENTRALIZADA

quais Belo Horizonte participa por iniciativa da

população em geral e a capital mineira continua

rumo ao exterior.

COOPERAÇÃO

técnica não-reembolsáveis (os acordos dos

Além de empréstimos com a exigência de alta

se, em média, de 9 meses a 2 anos, desde a redação do esboço do projeto, suas inevitáveis correções ao longo das negociações, e a defesa do projeto, que deve ser minucioso, caso ele venha a ser aprovado. Aí é a hora de enviar uma comitiva ao exterior. Foi o que fez o governo Aécio Neves ao obter o empréstimo recorde de R$ 1,5 bilhão para recuperar contas do estado. Houve um firme compromisso no sentido de só se utilizar o dinheiro para o que estava definido no projeto aprovado e o prazo de 20 anos para a quitação do empréstimo. Infelizmente, Belo Horizonte permanece fora da partilha do bolo oferecido pelo capital estrangeiro.


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PERFIL: O AMOR EM TEMPOS DE SOCIEDADE DE CONSUMO É SÓ O AMOR, É SÓ O AMOR... A S S I M C O M O O C O M P O S I T O R R E N AT O RUSSO, NA CANÇÃO MONTE CASTELO, RECORRE AOS V E R S O S D O P O E TA PORTUGUÊS LUÍS DE CAMÕES, O PENSADOR EDGAR MORÍN SEGUE, EM SEUS ESCRITOS E PALESTRAS EXALTANDO OS VÍCIOS E VIRTUDES DO AMOR.O AMOR SINTÉTICO, DA CULTURA DE MASSAS: A UM SÓ TEMPO MITOLÓGICO E REALISTA E “FORTE COMO A MORTE” COMO NO LIVRO DO FRANCÊS GUY DE MAUPASSANT.

COMO SÍNTESE DO AMOR IMPOSTO PELA SOCIEDADE

DE CONSUMO DE MASSAS, QUE OFERECE TÃO NOBRE SENTIMENTO NUMA BANDEJA, COMO PRODUTO, ATRAVÉS DE ASTROS E ESTRELAS DO CINEMA DE TODOS OS TEMPOS, T R A N S M U TA D O S E M GAROTOS-PROPAGANDA DE EROS E PSYCHE, O AUTOR ELEGE COMO SÍMBOLO O FILME A HORA FINAL, DE 1959, EM QUE GREGORY PECK E AVA GARDNER VIVEM UM AMOR QUE NEM A P R O X I M I D A D E D O CATACLISMA NUCLEAR PODE DESINTEGRAR.

EROS (CUPIDO), O DEUS DO AMOR, DESAFIOU A VONTADE DE SUA MÃE, VÊNUS (AFRODITE), DEUSA DO AMOR, DA BELEZA E DA FERTILIDADE, E SE

APAIXONOU POR PSYCHÊ, A MAIS BELA DAS MORTAIS. AQUI TEMOS O TRIUNFO DO AMOR MITOLÓGICO, POR INTERVENÇÃO DE ZEUS, O DEUS DOS DEUSES. O FIM DAS ILUSÕES “O AMOR DA CULTURA DE MASSAS BUSCA SEUS CONTEÚDOS NA VIDA E NAS NECESSIDADES REAIS”, COMO DIZ O AUTOR NO CAPÍTULO 14 DO LIVRO CULTURA DE MASSAS NO SÉCULO XX. MAS EXISTEM DIFERENTES “CORRENTES DE PENSAMENTO”: REVISTAS DIRIGIDAS AO PÚBLICO FEMININO DESFIAM CONSELHOS PRÁTICOS EM PROL DA FAMÍLIA, DEIXANDO O AMOR NO CAMPO ROMÂNTICO DO CINEMA MUDO; O CINEMA MODERNO EXALTA O AMOR COMO FIM. E TUDO O MAIS,COMO FAMÍLIA, FILHOS E OBRIGAÇÕES FAZ PARTE DO MUNDO EXTERIOR. JÁ O NOTICIÁRIO SENSACIONALISTA E ATÉ MESMO OS TRIBUNAIS I N O C E N TA M O A M O R E RELEVAM SEUS EXCESSOS, PRINCIPALMENTE EM CASOS DE CRIMES PASSIONAIS.


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"Nada é mais belo que o amor que nasce. Pois, com o tempo, ele tende a esmorecer".

A FRASE ACIMA, DO SOCIÓLOGO E ESCRITOR I TA L I A N O F R A N C E S C O A L B E R O N I , F O I REPRODUZIDA POR EDGAR MORIN NO PROGRAMA RODA VIVA DE 18/12/2000. ASSIM COMO EM SEUS ESCRITOS E PALESTRAS, O PENSADOR AFIRMA QUE NÃO SERIA O QUE É SEM O AMOR, MESMO QUE NÃO O TENHA ENCONTRADO. A APARENTE CONTRADIÇÃO FAZ PARTE D O P E N S A M E N T O COMPLEXO DE EDGAR MORIN E SINTETIZA AQUILO QUE VEMOS NOS DIAS

BH World ATUAIS NA SOCIEDADE DE CONSUMO: O FIM DO AMOR O L I M P I A N O , D O S CASAMENTOS E ROMANCES DE CINEMA. E PARA ISSO BASTA LIGAR A TV, ACESSAR A INTERNET OU FOLHEAR UMA REVISTA NUMA SALA DE ESPERA QUALQUER. “A DEGRADAÇÃO DAS RELAÇÕES PESSOAIS, A SOLIDÃO E A PERDA DAS C E R T E Z A S S Ã O CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE DE CONSUMO DE MASSAS”, MAS, EM MEIO AO CAOS MODERNO E TAMBÉM CONTEMPORÂNEO R E N A S C E O Q U E REALMENTE INTERESSA: NÃO O AMANTE OU A AMANTE, MAS A BUSCA DO AMOR.


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RESENHA:OS SONHOS NÃO ENVELHECEM – AS HISTÓRIAS DO CLUBE DA ESQUINA, DE MÁRCIO BORGES.

Belo Horizonte ainda tem um longo caminho a trilhar rumo ao reconhecimento como cidade global. Isso, apesar de todos os esforços da prefeitura local e de grupos privados. Porém, existe um marco que insere a capital mineira de forma definitiva no mapa da cultura mundial. Em Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina é possível acompanhar a trajetória de Milton Nascimento, Lô Borges, Fernando Brant, Beto G u e d e s , Ta v i n h o M o u r a , Ronaldo Bastos e Toninho Horta, entre outros, como se viajássemos em etérea maria fumaça ao som de violões e vozes privilegiadas. Trata-se, antes de tudo, de um apanhado de histórias sem rigor acadêmico, mas principalmente centrado em lembranças afetivas, segundo o autor, Márcio Borges. E esse é o grande trunfo do livro, pois assim podemos entrar sem cerimônia na casa dos Borges, e conhecer o “quarto dos meninos”, local de

confraternização e ensaios, uma espécie de “camarim” antes das reuniões na esquina das ruas Divinópolis com Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza. Márcio Borges, poeta, letrista, escritor e cineasta é generoso e apresenta ao leitor a juventude e a intimidade de seus companheiros, nossos heróis. O fio condutor das histórias é a vida de Márcio Borges e sua amizade proporcionada pelo irmão mais velho, Marilton , músico, com o Bituca, apelido de Milton Nascimento, cuja trajetória desde a cidade de Três Pontas até os palcos internacionais, é minuciosamente contada. Por meio de uma linguagem cinematográfica, o autor nos faz “ouvir” e “ver” Milton e seus companheiros às portas do Edifício Levy, na esquina da Avenida Amazonas com rua Curitiba, a um quarteirão da Praça Sete. Percorremos a Avenida Afonso Pena; passamos em frente à Igreja São José; às portas do Cine Metrópole, na Rua da Bahia; vemos Milton tocando na Boate Berimbau, do Bolão, no edifício Archângelo Malleta, em companhia de Wagner Tiso e Paulinho Braga; no Mercado Municipal de Santa Tereza e em outros pontos bem conhecidos pelos mineiros e também por estrangeiros desejosos de saber por onde andavam os integrantes do Clube da Esquina. Tudo isso num ambiente conturbado cultural, social e politicamente devido à influência da ditadura militar. O u t r o p o n t o especialmente saboroso dos

relatos de Márcio Borges diz respeito à gênese de canções emblemáticas como San Vi c e n t e , C a i s , C o r a g e m , Travessia, Nuvem Cigana e tantas outras obras memoráveis. As fotos históricas, retiradas de baús afetivos da família Borges, são uma atração à parte. Sem falar nas letras das canções e a história por trás de cada uma delas. O Clube da Esquina e seus sucessores deram a Milton Nascimento o reconhecimento, a amizade e a admiração de músicos internacionais tais como Paul Simon, Wayne Shorter, Sarah Vaughan, James Taylor, Peter Gabriel, Pat Metheny e Quincy Jones, entre tantos outros. Além disso, levou o nome de Belo Horizonte e seus bairros, em especial o de Santa Te r e s a , s u a s r u a s e monumentos para além das fronteiras nacionais. Mas nada ilustra melhor o poder da arte em romper fronteiras como a fala de Jeanne Moreau, musa reconhecidamente responsável pela trajetória de Milton, ao próprio em Nova Iorque: - Como é bela a arte, Milton. Trabalhamos numa coisa aqui e vamos tocar a alma de quem nem sabemos e nem onde. Ontem fui eu, Truffaut e agora você. Somente lendo Os sonhos não envelhecem – As Histórias do Clube da esquina é que se pode ter a real dimensão da beleza, da grandeza e da verdade contidas nestas frases. Por: Luiz Henrique Dias.


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ENTREVISTA: PROFª MARINANA BARROS. Conversamos com a professora Marinana Barros sobre algumas questões relativas à internacionalização de nossa cidade. O resultado você confere aqui.

exemplo, em algumas regiões espanholas.

BHW- Quais são as qualidades de um bom profissional de Relações Internacionais? Marinana - É preciso ter conhecimento acerca da área internacional, principalmente, das oportunidades relacionadas aos governos subnacionais no cenário externo. Além disso, é necessário que o profissional tenha consciência de que a internacionalização não é um fim em si mesmo, ela é um instrumento, um meio para o desenvolvimento regional e local.

BHW - Quais são as vantagens a curto, médio e longo prazo dos acordos internacionais entre cidades? Marinana - As vantagens dependem muito mais da capacidade das cidades em tornar tais acordos efetivos do que do prazo de existência deles. Muitos destes documentos acabam se tornando o que alguns chamam de “acordos de gaveta”. Mas, havendo uma estratégia c o m p e t e n t e p a r a implementação, os benefícios estão na possibilidade de ampliação das trocas comerciais, incentivo ao turismo entre as cidades, intercâmbio cultural e de best practices.

BHW - Qual é a importância da imagem e reputação nas Relações Internacionais? Marinana - Uma boa reputação internacional pode significar maior legitimidade interna para governar. Há casos em que uma imagem positiva externamente contribui para que uma política pública seja vista com bons olhos internamente, em momento posterior. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Porto Alegre em relação ao orçamento participativo. Mas há também aqueles governos subnacionais que buscam uma boa reputação externamente como maneira de se colocar em oposição ao governo central. Este movimento, mais raro, é chamado protodiplomacia e pode ser percebido, por

BHW - Quais os principais obstáculos dos acordos internacionais entre municípios? Marinana - Os obstáculos podem ser divididos em institucionais, políticos e jurídicos. Os institucionais relacionam-se especialmente à dificuldade de um trabalho realmente profissional de internacionalização por parte dos municípios. A dificuldade de encontrar profissionais qualificados está no cerne desta questão. As dificuldades políticas estão ligadas à contemporaneidade do tema. Falar em ação internacional dos governos subnacionais é discutir a quebra de um dos paradigmas mais importantes do sistema interestatal moderno: o

monopólio da ação internacional pública pelos Estados Nacionais. Ainda há um grande caminho a percorrer para um posicionamento claro do governo federal em relação ao fenômeno da ação internacional dos governos subnacionais. Já no âmbito jurídico, o Brasil se situa entre os países que ainda não legislou sobre o tema. A grande maioria dos juristas considera que a assinatura de acordos internacionais por governos não-centrais sem participação do governo central, seria inconstitucional. Trata-se de um fenômeno em que a prática andou mais rápido que o direito. BHW - As Redes de Cidades formam relações horizontais e multilaterais. Na prática isso realmente acontece? Marinana - A participação nas redes pode trazer grandes benefícios às cidades. É por meio delas que as cidades se fazem ouvir e representar internacionalmente, e é em seu interior que importantes trocas acontecem no âmbito das políticas públicas. Mas é claro que se trata de um processo que encontra problemas. A participação costuma ser sempre das mesmas cidades, no caso brasileiro. Além disso, as próprias redes podem ser excludentes. Foi o que aconteceu no início da Rede Mercocidades, quando somente cidades com mais de quinhentos mil habitantes podiam se tornar membros.


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B H W O comprometimento é uma ferramenta poderosa nas Relações Internacionais. Como deve ser usada na diplomacia de cidades? M a r i n a n a - O comprometimento deve passar pela busca de resultados efetivos e pela continuidade da ação internacional, que deve ser vista como um método constante para se fazer política. BHW - Como funciona a cooperação internacional na diplomacia de cidades? Marinana - A cooperação pode se dar por meio de acordos de irmanamento, de cooperação ou pela participação em redes de cidades e tem se tornado uma “Você pode fazer negócios em qualquer lugar... Desde que consiga maneira extremamente entender o cardápio”. Será que os negócios em BH funcionam importante de desenvolver a assim? governança democrática entre os governos subnacionais.


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Mapa indicando a localização das 16 cidades-irmãs de Belo Horizonte

Projeção do Estádio Municipal Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, para a copa de 2014


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O TEMAS é um congresso de negociações internacionais simuladas que acontece anualmente em Belo Horizonte. Cada edição é guiada por uma área temática diversa pertinente às relações internacionais. Em 2011, o TEMAS chega à sua 7ª edição e tem como tema a Rússia.

O Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim ostentando o triângulo vermelho do TEMAS em visita à Belo Horizonte em 2009.


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