Politika

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Editorial Pompa e Circunstância Como apresentação da primeira edição de POLITIKA, revista que tem como objetivo informar ao leitor os fatos históricos, políticos, culturais, sociais, ocorridos ao logo da história do nosso país, foi escolhido um tema ainda muito presente e de enorme importância na vida de todos os brasileiros. Getúlio Vargas será abordado nesta edição inaugural, através de sua biografia histórica, diretrizes políticas, política externa, bem como, a ascensão industrial responsável por alavancar a economia do país. Indústrias de grande importância para o Brasil até hoje, como A Companhia Siderúrgica Nacional, Vale do Rio Doce e Petrobras, foram criadas durante a gestão de Vargas. Vargas enxergou nessas indústrias a possibilidade da ascensão econômica brasileiro. Após esses acontecimentos, o Brasil deixa de ser, um

mero exportador de produtos agrícolas, e passa a exportar aço, minério e produzir seu próprio sustento de petróleo. Considerado um presidente populista, não por acaso, conseguiu que fosse instaurada no país leis de proteção ao trabalhador, como a criação da carteira de trabalho, salário mínimo e finalmente a promulgação da CLT, Consolidação das Leis do Trabalho. Desenvolvido também por Vargas, o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, tem como objetivo, organizar o país, de modo a informar o governo e a população sobre dados como, número de cidadãos, espaço territorial, renda salarial, dentre outros.

Atensiosamente, Renata Pozzobon


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sumário MATÉRIA DA CAPA

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4 - CONHECENDO O MITO

REDAÇÃO:

A história de Vargas desde os tempos de São Borja até a ascensão a presidência.

CONTEXTO HISTÓRICO Nayara Miranda Sephora Marques

7 - O PAI DOS POBRES

Como foi seu modo de agir perante a comunidade internacional.

NEGOCIAÇÃO E BARGANHA Renata Pozzobon

9 - MODERNIZAÇÃO DO BRASIL

11 - VARGAS NO CENÁRIO INTERNACIONAL

Sua ligação com os trabalhadores e a criação das leis trabalhistas.

Cristiane de Oliveira

SOCIOLOGIA

POLITIKA

O Brasil atingiu um nível de desenvolvimento industrial até então jamais visto.

ESPAÇO E TERRITÓRIO

Dayane Farolfi Igor Figueiredo

REVISÃO

Geraldine Rosas

Design gráfico Nayara Miranda

SEÇÕES 13 - POLITIKA ENTREVISTA

CONTATOS:

POLITIKA entrevista Alexandra Nascimento professora do UNI-BH, que nos conta sobre a “Era Vargas”

E-mail: redacao@politika.com.br Twitter.com\politika Cartas: Av. Prof. Mário Werneck, 1685 B1 B7- Sala 121 – Buritis, BH – MG CEP – 30.455-610 – TEL: (31) 3444-5151

16 - POLITIKA INDICA 17- SESSÃO PERFIL 18- O MITO

Para Assinar: 31 – 3444-5152 Para Anunciar: 31– 3444-5153 Edições Anteriores: 31– 3433-5154


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A HISTÓRIA DE VARGAS NO BRASIL E NO MUNDO

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NAYARA MIRANDA SEPHORA MARQUES

BIOGRAFIA

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etúlio Vargas foi o presidente que mais governou o Brasil, durante dois mandatos entre os anos de 1930 a 1945 e de 1951 até 1954. Getúlio Dornelles Vargas nasceu em 19 de abril de 1882, na cidade São Borja, no Rio Grande do Sul. Sua família era politicamente importante nessa região. Em 1903 Vargas ingressou na Faculdade de Direito de Porto Alegre, e em 1907 formou-se em Ciências Jurídicas Sociais, neste mesmo ano, iniciou sua vida política. Em 1909 foi eleito deputado estadual pelo PRP (Partido Republicano Rio-Grandense), e reelegeu-se em 1913 e 1917, logo em 1926 foi nomeado Ministro da Fazenda durante governo de Washington Luís, em 1928 deixou o cargo, e foi eleito para governar Rio Grande do Sul.

mesmo ano, Vargas comandou a Revolução de 1930, que acabou por derrubar o então presidente, Washington Luís. Vargas governou o país pelos próximos 15 anos. Ele instalou o Governo Provisório e nomeou interventores para os governos estaduais, também criou o Ministério do Trabalho, Indústria, Educação, Saúde e Comércio. Vargas foi o pai das leis trabalhistas que geraram melhores condições de trabalho – como: salário mínimo, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), redução da jornada de trabalho e férias remuneradas– para os trabalhadores.

E em 24 de agosto de 1954, em meio à uma crise política, Vargas suicidou-se com um tiro no peito dentro do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Vargas deixou uma carta no qual acusava os inimigos da nação como responsáveis por sua morte.

Em 1934, o Governo Provisório chega ao fim, e uma nova Constituição foi promulgada. Em 1937 Vargas fecha o Congresso Nacional, e instala o Estado Novo. Seu governo foi nacionalista, controlador e centralizador. Já na área estatal, Vargas criou a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), a Vale do Rio Doce, a Hidrelétrica do Vale do São Francisco e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 1943 as pressões internas contra o Estado Novo se intensificaram, principalmente após a divulgação do Manifesto Mineiro, e Vargas acaba deixando o poder após um golpe militar. Porém em 1950 Vargas volta ao poder, agora de forma democraticamente correta, através de eleições, no qual foi eleito com uma das maiores votações jamais dadas a um candidato a presidência da Republica.

Em 1930 candidatou-se para as eleições presidenciais, mas acabou sendo derrotado. Neste

jornalista Carlos Lacerda, no qual ficou comprovado o envolvimento da guarda pessoal de Vargas no episódio, ele foi forçado pelas Forças Armadas a renunciar.

Em seu último mandato, Vargas continuou com sua política nacionalista, e criou a campanha “O Petróleo é Nosso” que resultou na criação da Petrobrás. Em 1954, após o atentado contra o

POLÍTICA Um ano antes de Vargas assumir o poder, em 1929, o comércio internacional entra em declínio. Uma forte crise econômica que se inicia nos Estados Unidos, com a quebra da bolsa de Nova York, acaba atingindo o mundo inteiro. Em 1930, Vargas assume a presidência- após a Revolução de 1930 que derrubou o então presidente Washington Luis- e se depara com um Brasil que via sua economia ameaçada. Antes da crise mundial, o Brasil estava em ascensão econômica devido à exportação do café. Porém com a crise econômica de 1929 a importação do café e o preço deste produto diminuíram drasticamente. Para evitar que a situação econômica brasileira se agravasse


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ainda mais, o governo de Vargas decide comprar todo o excedente da produção de café e queimá-lo, evitando assim que houvesse uma maior desvalorização deste produto, e mantendo o preço do café. Com essa crise, muitos cafeicultores decidiram investir no setor industrial, alavancando a indústria brasileira. O que agradou Vargas, já que ele tinha entre seus ideais a modernização brasileira. Para estimular a industrialização, Vargas criou diversas obras de infra-estrutura e investiu na mãode-obra nacional- Com a criação do Ministério da Educação e o Ministério do Trabalho e com a criação das leis trabalhistas.

eram os responsáveis por movimentar a economia. Porém quando na sucessão presidencial, Washington Luiz não respeitou a política café-com-leite e apoiou Luiz Carlos Prestes, que era paulista, assim houve o rompimento dessa aliança e o pontapé inicial para a Revolução de 1930. ECONOMIA A crise de 1929 atingiu em cheio a economia brasileira, havendo assim diminuição da exportação do café, aumento do estoque e conseqüente diminuição de preço.

Vargas era contrário aos ideais socialistas, e com a preocupação do avanço do socialismo no Brasil, ele começou a exercer autoritarismo contra os comunistas. O CENÁRIO MUNDIAL O cenário mundial na década de 30 era caótico. Com a quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929 o mundo capitalista enfrentou uma crise sem paralelo. E é claro que o Brasil também foi impactado.

Com a criação em 1931 do Conselho Nacional do café foi colocada em prática a “política de sustentação”, que consistia na compra e queima dos excedentes que estavam estocadas em depósitos do governo. Com essa queima houve a redução dos preços dos produtos no mercado internacional. O BRASIL NO CENÁRIO MUNDIAL

no Nordeste. Após esse acordo, sucessivos torpedeamentos ocorreram entre submarinos alemães a navios brasileiros. Assim, em 1942, o governo brasileiro declarou guerra aos países do Eixo, ou seja, Alemanha, Itália e Japão. No ano seguinte, se criou a FEB – Força Expedicionária Brasileira e seu primeiro escalão foi enviado em julho de 1944 para lutar na Itália. Com o fim a guerra, em 1945 houve aumento nas pressões pela redemocratização do Brasil, já que o Regime do Estado Novo não se assemelhava com os princípios democráticos que os aliados defendiam durante o conflito. As pressões internas contra o Estado Novo que se iniciaram em outubro de 1943, quando o Manifesto dos Mineiros (documento em defesa das liberdades democráticas assinado por intelectuais, profissionais liberais e empresários) foi assinado, também ficaram mais intensas. O BRASIL NO PÓS-GUERRA Vargas percebeu que teria muitas dificuldades para manter um governo ditatorial e começou a ceder. Dessa forma, nos primeiros meses de 1945 foram marcadas

As transformações mundiais da época tiveram impacto no governo de Vargas. O florescimento de regimes autoritários na Europa encorajou Vargas a instaurar no país um regime político autoritário. Regime esse que vivenciou o apogeu e queda sob influência da Segunda Guerra Mundial. Como na época o principal produto de exportação era o café (que é um produto considerado supérfluo e pode ser cortado em épocas de crise) as exportações sofreram uma grande queda. Dessa forma, os criadores de gado do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais e os produtores de cana da Paraíba

Na eclosão da guerra, em 1939, Vargas se manteve neutro, mas em 1941 assinou um acordo entre Brasil e Estados Unidos pelo qual o governo norteamericano comprometia-se a financiar a construção da primeira siderúrgica brasileira, em troca da permissão para que bases militares fossem instaladas

eleições para dezembro. Também concedeu anistia aos presos políticos e liberou a organização dos partidos que pretendessem participar das eleições. En-


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tretanto, estimulou seus partidários a realizarem manifestações públicas favoráveis a sua continuação no poder. Nas manifestações a frase principal era “Queremos Getúlio”. Assim, deuse a esse movimento o nome de Queremismo.

o maior estadista brasileiro.

Do outro lado, Eurico Gaspar Dutra, o ministro da Guerra, que era um dos candidatos à Presidência, estava preocupado com a chance de Vargas continuar no poder e atrapalhar seus planos de ser presidente. Por isso, ele organizou-se junto a seus colegas militares e em outubro de 1945 forçou Getúlio a deixar a Presidência. O presidente do Supremo Tribunal, José Linhares, assumiu o governo até a posse do presidente eleito em dezembro de 1945.

Getúlio tinha inimigos poderosos

Os direitos trabalhistas também são frutos de seu governo: carteira profissional, semana de trabalho de 48 horas e as férias remuneradas.

e seria difícil se manter no poder. As pressões contra ele aumentaram: os grandes empresários, as multinacionais, a embaixada dos Estados Unidos, os grandes jornais, alguns chefes militares, todos estavam contra. A força dos trabalhadores não era suficiente para sustentá-lo.

Na área de infra-estrutura houve grandes investimentos, como a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (1940), a Vale do Rio Doce (1942), e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945). Em 1938, criou o IBGE (Instituto brasileiro de Geografia e estatística).

Os chefes militares se reuniram com Getúlio para forçá-lo a renunciar. Ele respondeu: “Daqui só sairei morto!”. Porém, no fim, concordou em licenciar-se do governo.

Além disso, Vargas e seu nacionalismo deixaram marcas nas rádios atuais com a ‘Hora do Brasil’ que foi criada por ele para difundir o Estado Novo na época de seu governo.

No plano trabalhista seu feito foi grande: Criou a Justiça do Trabalho (1939), instituiu o salário mínimo, a Consolidação das Leis do Trabalho, também conhecida por CLT.

Na manhã de 24 de agosto de 1954, a notícia: “O presidente suicidou-se com um tiro no coração!”. As razões que o levaram a cometer tal ato foram descritas na carta-testamento que ele deixou.

Mas isso não foi o fim da carreira política de Vargas. Nas eleições de 1950, Getúlio Vargas concorreu à Presidência pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e derrotou com facilidade seus adversários. Getúlio concedera muitos benefícios aos trabalhadores e era considerado o “pai dos pobres” pelo povo, que o admirava. O FIM DA ERA VARGAS Um tiro no coração e veio abaixo a Era Vargas. Era de se imaginar que o suicídio pudesse ocorrer, já que

Mesmo tendo sido um ditador e governado com medidas controladoras e populistas, Vargas foi um presidente que ficou marcado pelo grande investimento no Brasil. Criou obras de infra-estrutura e desenvolveu o parque industrial brasileiro, além das várias medidas que favoreciam aos trabalhadores. Getúlio descreveu bem sua trajetória ao dizer a máxima: ‘Deixo a vida para entrar na história”. LEGADO DE VARGAS Vargas foi de fato um grande presidente Referências: e com uma grande popularidade. Sem D’ARAUJO, Maria Celina. A Era Vardúvida, ele deixou grandes realizações gas. São Paulo: Moderna, 1981. para o Brasil e pode-se dizer que ele foi



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Vargas e a sociedade

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IGOR FIGUEIREDO DAYANE FAROLFI

DESCRIÇÃO DE GETÚLIO VARGAS

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etúlio Dornelles Vargas nasceu na cidade se São Borja, estado do Rio Grande do Sul, no dia 19 de Abril de 1883. Iniciou sua carreira política aos 26 anos, e tornaria uma das figuras mais importantes da política brasileira devido a suas realizações sócias e tornaria o presidente que mais governou o Brasil em sua história. A revolução de 1930, que levou Vargas ao poder, depois do movimento de deposição do atual presidente Washington Luís pelo exército da junta governativa que resultou na posse de Vargas. Neste período Vargas iniciou seus trabalhos sociais e trabalhistas no Brasil, institui a jornada da diária de trabalho de oito horas no comércio e na indústria, regulamenta o trabalho feminino. Além dos benefícios implantados na constituição de 1934, houve uma importante mudança, que foi o princípio da unidade sindical, que apenas os órgãos competentes poderiam responder pela categoria e haveria apenas um responsável pelo mesmo. Um novo sindicalismo foi definido em detalhes pelo Decreto no 1.402, de julho de 1939, em que a visão sindical ficou ainda mais centralizada, pois retirou os centros que cuidavam das categorias. Surge a CLT com o intuito de organizar as antigas leis sindicalistas, pois eram incoerentes, e em janeiro de 1942, Vargas nomeou uma comissão para organizá-las e que as unificasse aprovado por Decreto em 1o maio de 1943, com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) Vargas assumiu o controle do movimento operário brasileiro. Constituindo uma consolidação ampla, tratou minuciosamente da relação entre patrões e empregados e estabeleceu regras referentes: à jornada de 8 horas de trabalho a ser cumprida pelos trabalhadores; férias; descanso remunerado; auxílio-natalidade; salário-família; licença para gestante; estabilidade no emprego após 10 anos; descanso semanal remunerado; condições de segurança e higiene dos locais de trabalho e muitos outros. Carteira de Trabalho, instituída em 1932 e reformulada quando da aprovação da CLT para todo profissional maior de 16 anos. A CLT regulamentou também as regras para a Previdência Social. A promulgação da CLT conferiu grande prestígio popular ao regime e em particular a Getúlio Vargas, que fortaleceu sua imagem de protetor da classe trabalhadora.

O PERFIL PSICOLÓGIO DE VARGAS O Perfil Psicológico de Vargas era bem complexo, uma vez que ele resolveu que tinha uma queda a “dialogar

com a morte” fragmento apareceu em seu diário em 1930, se referindo a um possível fracasso político do movimento que ele comandava. Quando ele citava a possível morte, ele tomava dois partidos – o povo – Como seu aliado – de outro – a traição – que o perturbava em pensar numa má interpretação em seu governo, em relação a seus esforços. Ele não gostava de viajar, em quase 20 anos de mandato, viajou apenas para alguns países da America latina e isso reforçou a imagem de amor pelo Brasil. Vargas era um homem formal, e cativava as pessoas graças a sua maneira de ser e pelo modo culto de conversar. Sua voz era conhecida, pois os rádios transmitiam os discursos, geralmente iniciados com: “Trabalhadores do meu Brasil”. O Presidente soube agrupar qualidades para um bom político, a “Virtú” de Maquiavel, aptidão e talento e as oportunidades; Ele fez com que se adequassem ao seu jeito.

IMPORTÂNCIA DE VARGAS PARA A SOCIEDADE Para o trabalhador Brasileiro o 1 de maio não significa apenas uma conquista do trabalhador e seus beneficio trabalhista adquiridos, se trata da grande vitoria pelo trabalhador, sendo um dos sistemas mais avançados do mundo que foi idealizado e concluído no governo Vargas, o grande responsável por esta vitoria em beneficio ao trabalhador. O inicio desta reforma trabalhista começou com a criação do ministério do trabalho no governo provisório em 1930 no comando de Getulio Vargas, este ministério foi reconhecido com o Ministério da revolução, pois o trabalhador se encontra tão sujeito a sorte, sem nenhum direito trabalhista que resguardava trabalhador do empregador. Através desta revolução social, foram criados vários benefícios ao empregado, tais como: 1. 2. 3. 4. 5. 6.

O regime de trabalho de oito horas Lei da Sindicalização A remuneração igual, ou seja, salário igual para tra- balho igual Licença maternidade Lei dos 2/3 Instituição da carteira profissional

Os benefícios citados acima foram concedidos ao trabalhador logo após o surgimento da lei trabalhista, logo em 1933 há a criação regulamentação de férias e criação de vários institutos de aposentadoria e pensão, para os trabalhadores das áreas marítimas, bancárias, comerciais e industriais, complementando ainda mais os benefícios ao trabalhador e lhe dando mais direito. Dando continuidade em seu governo e as leis trabalhistas, Vargas institui em 1935 o pagamento de indenizações por demissões sem justa causa, ou seja, o empregador ao contratar um empregado, não pode apenas demiti-lo sem razão, dando a este trabalhador mais estabilidade em seu emprego e se for demitido garantindo-o todos os direitos do


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‘’a certo’’ por parte do empregado, o empregador passa também a ter responsabilidade por acidentes ocorridos no local trabalho, portanto todos esses benefícios foram criados dentro do governo provisório de Vargas. Em 1937 com a instituição do Estado Novo, Vargas fez questão de manter suas políticas sociais, com os trabalhadores que já vinham dando certo. No ano de 1939 houve a reformulação dos institutos da previdência e neste mesmo crias-se a Justiça do Trabalho, considerado pelos assalariados um dos maiores benefícios dado a eles. A justiça do trabalho tinha o único intuito de garantir com que o direito do trabalhador estive sendo cumprido por seus empregadores em sua plenitude, portanto órgão responsável pela execução da lei na área trabalhista. Em 1940 Getulio decretou a Lei do Salário Mínino, a seguir criou o Imposto Sindical para subsidiar os sindicatos e em 1942 criou o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Em 1943 o governo utilizou de toda a legislação social já existente e publicou a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e em 1945, autorizou a criação da CGTB Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil. A política social de Vargas não ficou apenas nas causas trabalhistas, mas neste mesmo período ele instituiu o voto feminino obrigatório no país e garantiu aos trabalhadores o direito de greve. Iniciou com o país também um grande processo de industrialização, fortalecendo o mercado interno e as empresas estatais, construiu a CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, a Fábrica Nacional de Motores, a Cia Vale do Rio Doce e a Cia Nacional de Álcalis, encerrando assim seu primeiro governo frente à presidência, onde voltaria em 1951. Vargas ao retornar ao poder em 1951, volta com suas ações sócias e cria o serviço de bem estar social e o serviço rural. Com o objetivo da exploração petrolífera no Brasil em prol da união, cria-se A Petróleo Brasil S/A (Petrobras) em 03 de Outubro de 1953, empresa de capital aberto, mas tendo o governo Brasileiro como acionista majoritário. A criação da Petrobras firma no país o slogan “o petróleo é nosso”, dando aos brasileiros a oportunidade de utilizar o petróleo nacional para abastecer seus carros e não ficando dependente de empresas internacionais para suprir a necessidade nacional. Portanto, vemos que os governos de Getulio Vargas foram de suma importância para o avanço brasileiro na área trabalhista, social e industrial. Um dos presidentes mais importantes

para o Brasil e o presidente que mais governou o Brasil. Ele realizou leis trabalhistas tão modernas para época que países de primeiro mundo, viam ao Brasil para verificar porque um país em desenvolvimento detinha de uma legislação tão moderna que resguardava tanto aos seus trabalhadores que conseqüentemente lhes davam tantos direitos. Vargas a partir dessas reformas cresceu popularmente, ganhou o apoio do povo e o povo por outro lado viu nele um homem do povo, cujo governo seria baseado a beneficiar a população diretamente, o que de fato ocorreu. Para a população Getulio foi um dos grandes governantes que pensou no Brasil e governou apenas para o Brasil, pois com a criação de empresas estatais de mineração, petróleo, etc... Alavancou toda a indústria Brasileira e desenvolveu setores que até então não eram explorados no mercado interno e que dependia diretamente do mercado externo. Com a criação dessas empresas além de desenvolver o Brasil industrialmente, foi criado milhares de empregos e oportunidades em geral. Como heranças desse longo período não podem desconsiderar o prestigio alcançado pela política trabalhista voltadas a proteger o trabalhador. Esse modelo criou varias categorias de brasileiros, trazendo-lhes privilégios e exclusões, e principalmente criando uma perspectiva nova de valorização ao trabalhador. Getúlio se suicida em 1954, deixando para trás vários benefícios a população brasileira e grandes conquistas que foram reconhecidas pela população, que ao noticiar seu suicídio sentem profundamente sua morte. Milhares de pessoas fazem um cortejo fúnebre de Getulio Vargas no Rio de Janeiro e comparecem ao seu enterro para despedirem desse grande líder. Portanto Getúlio Dornelles Vargas ficara lembrado por suas leis populares a fim de garantir a melhoria de vida da população e garantir com que seus direitos fossem respeitados! Referências: D’ARAUJO, Maria Celina. A Era Vargas. São Paulo: Moderna, 1981. VARGAS, Getulio In: ENCICLOPÉDIA Barsa. Rio de Janeiro - São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1988. v. 15, p. 336 – 338.


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MODERNIZAÇÃO DO BRASIL Cristiane de Oliveira

INDUSTRIALIZAÇÃO

Em troca desse alinhamento, o Brasil recebeu recursos para o financiamento da siderurgia e é nesse cenário que surge a Companhia Siderúrgica Nacional em 1941, Companhia do Vale do Rio Doce, em 1942, Companhia Hidrelétrica do São Francisco em 1945, Fábrica Nacional de Motores em 1943. Em segundo mandato de Vargas o Banco Nacional de Desenvolvimento em 1952, com o objetivo de desenvolver a infra estrutura e talvez a mais famosa a Petrobras em 1953 com forte apelo nacionalista com a campanha “ O Petróleo é Nosso.” Outras grandes realizações pode-se ver nessa época: Criação do Depto de Correios e Telégrafos que deu origem a ECT, construção do aeroporto Santos Dumont, a construção da rodovia que ligava o centro-sul ao nordeste, a futura BR-116 e a fundação Getulio Vargas, criada em 1944 para qualificar as pessoas para o serviço na administração pública e privada.

NOVOS TERRITÓRIOS

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crise de 1929 ao contrário do que se pensa não teve efeitos negativos no Brasil e sim, serviu de impulso para estimular políticas de industrialização. O cenário internacional estava desfavorável, mas isso não impediu as modificações que passaria o país. No inicio dos anos 30 a indústria brasileira não passava de 2,8% de crescimento anual, a população não chegava a 40 milhões de habitantes, sendo que 80% vivia na região sudeste, nos grandes centros urbanos. Visando resolver esse problema Vargas incentivou a colonização do interior criando a chamada “Marcha para Oeste”, tendo seu principal incentivador o Marechal Rondon, e tinha como objetivo povoar as regiões do Paraná, Mato Grosso e Goiás e transferir para essas regiões a produção de matérias primas e gêneros alimentícios. Com o decorrer dos anos e o inicio da segunda guerra, as indústrias, principalmente de base, começaram a surgir. Dois fatores levaram a isso: ficava cada vez mais difícil importar do exterior e o interesse norte americano para que o Brasil se alinhasse a ele.

A partir da década de 30 o território brasileiro passou por grandes mudanças, projetos antigos como a transferência da capital do país para o a região central e redivisão territorial passaram a fazer parte do cenário político. Com a criação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) Vargas teve mais um instrumento para seu projeto de compreensão da realidade brasileira e conduzir os problemas do país. A “Marcha para o Oeste” com a fundação da cidade de Goiânia em 1939 e a ocupação do Paraná com a construção de cidades planejadas - Londrina, Maringá e Apucarana ( Empresários ganharam fortunas com a política de loteamento de glebas, como estimulo de crescimento da produção agrícola, transportes e industrialização transformando o Paraná num dos principais produtores de café e estado mais populosos do Brasil) foram algumas dessas medidas. Através do Decreto Lei n° 8.812 de 13/09/1943, Getulio criou novos territórios numa maneira de melhor administrar suas áreas fronteiriças (a segunda guerra assolava o mundo) e integrá-las ao restante do país. O futuro Território Federal do Amapá, ate 1900 pertencia a Guiana Francesa e graças a intervenção do Barão do Rio Branco perante a comissão de arbitragem na Suíça foi integrado ao território brasileiro. Grande produtor de manganês foi transformado em área federal em 1943 e elevado a estado da União pela constituição de 1988.


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Território Federal do Rio Branco. Em 1943 o município de Rio Branco é emancipado a território federal com o objetivo de ocupar a Amazônia, principalmente seus pontos de fronteiras, possuindo uma grande população de nações. Em 1962 mudou de nome por causa da confusão de possuir o mesmo nome da capital do Território Federal do Acre. Ao lado do Amapá, em 1988, foi elevado a estado da federação passando a se chamar Estado de Roraima. Território Federal de Guaporé. Elevado em 1943 a área federal, continha partes da Amazônia e do Mato Grosso. Seu nome original seria em homenagem ao Marechal Rondon por seus préstimos a nação, mas ele não aceitou o que ocasionou o nome provisório de “Guaporé” ao local. Anos mais tarde seu nome foi alterado para Território Federal de Rondônia e em 1981 foi elevado a estado da União. A região era rica em seringueira, ouro e sua aproximação da fronteira Boliviana atiçava a vontade expansionista brasileira a chegar ao Pacifico. Território Federal de Fernando de Noronha. Desmembrado de Pernambuco em 1942 sua autonomia durou por 46 anos sendo reintegrado ao seu estado de origem

pela constituição de 1988. Durante o Estado Novo serviu de colônia prisional para os presos políticos. Território Federal de Ponta Ponrã. Seu inicio foi em meados de 1932 quando a cidade de Maracaju declarou autonomia de Cuiabá, sua duração foi curta, apenas alguns meses, em 1943 foi transformado em território federal e como Iguaçu foi extinto na constituição de 1946. Hoje, faz parte do estado de Mato Grosso do Sul. Território do Iguassu. Foi criado pelo Decreto-Lei em 1943 e abrangia o que é hoje os estados do Paraná e Santa Catarina. Sua duração foi apenas de três anos com a queda de Vargas foi extinto em 18/09/1946, através do Ato das Disposições Transitórias, da Constituição Federal de 1946. Referências: D’ARAUJO, Maria Celina. A Era Vargas. São Paulo: Moderna, 1981.


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A POLÍTICA EXTERNA DE VARGAS

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RENATA POZZOBON

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cenário internacional no primeiro período do governo de Vargas, que foi de 1930 a 1945, encontrava-se em um âmbito de crise nos setores da economia, da política e até mesmo da ideologia. A forte depressão econômica passando pelos países capitalistas e, claro, também tendo um reflexo nos países emergentes, era caracterizada pela ausência de um ator imponente na política internacional, período este que poderia redefinir e redistribuir os papéis e níveis de poder. Enquanto os países capitalistas compreendem que havia uma necessidade de reformular suas diretrizes econômicas, para que não perdessem seu espaço de potencia internacional, outros países como Alemanha, Itália e Japão, por exemplo, desenvolviam políticas com idéias próprias, autônomas, e de cunho extremamente nacionalista. Apesar de simpatizar com países dotados de políticas nacionalistas, como os países supraci-

nou-se necessário um governo forte que tomasse controle interno dos ânimos da nação e ao mesmo tempo soubesse se locomover dentro da nova “ordem” mundial, sem descuidar do desenvolvimento econômico e político do país. O papel do Brasil, tradicionalmente, era o de fornecedor de matérias-primas tropicais e subtropicais às potências européias e também aos Estados Unidos, sendo, portanto, dependente dos mercados internacionais e do capital estrangeiro. Com a crise, as exportações caíram, a receita cambial caiu, e a capacidade de importar também. Este tipo de economia tornou-se muito débil, e a situação brasileira cada vez mais crítica no ponto socioeconômico, tendo este se tornado o cenário para a ascensão de Vargas ao poder. Getúlio juntamente com sua equipe, fará com que o Brasil sobreviva à crise, moldando sua política externa às necessidades econômicas e políticas do país, e, é claro, de acordo com as possibilidades que se apresentavam. Durante a campanha presidencial de 1938, Vargas dissolve a Câmara e o Senado, manda prender políticos da oposição, suspende as eleições e instala o Estado Novo, que neste caso, significaria a ditadura, pois o período dura cerca de nove anos. Ao longo de seu governo, Vargas cria a Companhia Siderúrgica Nacional, indústria voltada para a produção de aço que marcou a forte ascensão industrial no Brasil, bem como a criação da Vale do Rio Doce, Hidrelétrica São Francisco, dentre outras.

tados, Vargas mantém proximidade com os EUA durante a 2ª Guerra Mundial, pois além da pressão da opinião pública pró-aliados, em determinada época, durante a guerra, navios brasileiros são atingidos por membros do Eixo. O Brasil por ser um país periférico, sofreu na sua economia e nas suas relações sociais. Desde o início, com a Revolução de 1930, tor-

Apesar de muitas limitações e dificuldades, a política externa de Vargas defendia os interesses brasileiros de desenvolvimento e de independência frente às diversas nações já bem desenvolvidas, e principalmente frente à América Latina. O Brasil não mudou sua conduta internacional. Desde o início até o fim do período em questão, ele continuaria com o seu mesmo papel de fornecedor de produtos agrários e matérias-primas estratégicas, assim como grande mercado consumidor dos produ-


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tos estrangeiros.

Mas, graças aos esforços do governo Vargas, conseguiu-se dar os passos fundamentais para a industrialização brasileira, conseguindo o Brasil vantagens para si mesmo neste campo como também no de modernização e investimento quantitativo das Forças Armadas e seus recursos. Assim, houve continuidade diplomática, uma vez que o Brasil não mudou a essência de sua inserção no contexto internacional, mas mudou administrativamente com um mais eficaz direcionamento do Ministério das Relações Exteriores no sentido de uma política externa mais preocupada com a economia e com o desenvolvimento, um Ministério mais atuante e mais consciente dos objetivos nacionais frente ao forte caráter econômico das novas relações. Era necessário então aumentar a produção interna assim como as exportações, e, nesse sentido, a diplomacia brasileira tornou-se muito competente, estreitando os relacionamentos comerciais através de novos tratados com cláusula de nação mais favorecida. Aliás, preocupação esta que já existia mesmo na administração diplomática anterior. O comércio compensado, (sistema em que importações e exportações eram feitas à base de troca de mercadorias, cujos valores eram contabilizados nas ‘caixas de compensação’ de cada país) era um sistema vantajoso, pois podia ser utilizado, como o foi, durante escassez efetiva de numerário para as compras comerciais. Através deste sistema, o Brasil colocava no mercado produtos agrícolas como o algodão,

café, cítricos, couro, tabaco e carnes. Entretanto, é preciso lembrar que o principal comprador de café do Brasil foram os Estados Unidos, durante todo este período. Outra questão associou fortemente a política interna e externa brasileiras no período: as discussões em torno da criação da Petrobras. Item central na campanha presidencial de Vargas, o tema esteve no centro do debate entre os então chamados “entreguistas” e os nacionalistas que se opunham fortemente às pressões dos Estados Unidos em favor das grandes companhias de petróleo. Finalmente, em outubro de 1953, o Congresso aprovou a Lei 2004, de criação da Petrobrás, que garantia o monopólio estatal na pesquisa, lavra, refinamento e transporte do petróleo. A lei aprovada foi muito além do projeto original de Vargas, que viu esse resultado incidir de modo fortemente negativo sobre as relações do país com Washington.

A Petrobrás é cultivada por Getúlio durante sua campanha popular, onde o slogan histórico dizia “O petróleo é nosso”. Em 1953, quando de fato a Petrobrás é criada, a máxima dita por Vargas, exemplifica a importância da empresa no cenário mundial “É, portanto, com satisfação e orgulho patriótico que hoje sancionei o texto de lei aprovado pelo poder legislativo, que constitui novo marco da nossa independência econômica.” Referências: D’ARAUJO, Maria Celina. A Era Vargas. São Paulo: Moderna, 1981. VARGAS, Getulio In: ENCICLOPÉDIA Barsa. Rio de Janeiro - São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1988. v. 15, p. 336 – 338.


POLITIKA ENTREVISTA

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CRISTIANE DE OLIVEIRA nAYARA MIRANDA SEPHORA MARQUES

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m 2010 completamos 56 anos sem Vargas. Na madrugada do dia 24 de Agosto de 1954, Vargas, o maior estadista brasileiro, suicidou com um tiro no peito e interrompeu sua carreira política de 15 anos como presidente do Brasil. Em sua carta testamento Vargas declarou: “E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.” (Rio de Janeiro, 23/08/54 Getúlio Vargas) A entrevistada dessa semana é a professora Alexandra Nascimento graduada em História e Arquitetura e Urbanismo (PUC Minas), mestre em Ciências Sociais (PUC Minas) e doutoranda em Ciências Sociais (PUC Minas). Politika: A era Vargas foi um período de profundas transformações na sociedade brasileira. Como você avaliaria o governo Vargas sobre a sociedade da década de 30? Alexandra: Podemos perceber o ano de 1930 como um divisor de águas na história do Brasil. A partir de então houve uma aceleração das mudanças sociais e econômicas. Em relação aos direitos políticos, o período foi marcado pela instabilidade, alternando-se ditaduras e regimes democráticos. O primeiro Código Eleitoral, instituído em 1932 criou a justiça eleitoral e introduziu grandes mudanças no sistema eleitoral brasileiro como o voto secreto e estendeu o direito de voto às mulheres com mais de dezoito anos. Em 1937, o golpe de Vargas, apoiado pelos militares, inaugurou um período ditatorial que durou até 1945. Nesse ano, outra intervenção militar derrubou Vargas e deu início à primeira experiência democrática do país, quando o peso do voto popular começou a ter peso devido à

sua extensão. No plano cultural, na década de 1930 ocorreu uma ampliação das questões colocadas pelo modernismo. As grandes obras produzidas no período, clássicos dos estudos sociais brasileiros, buscaram aliar a nova estética e a busca pela compreensão do processo de formação do Brasil propostas pelo modernismo: Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda e Evolução política do Brasil, de Caio Prado Júnior, se propunham, cada uma tomando como referência uma matriz distinta, a compreender a singularidade nacional. Com o Estado Novo, essa efervescência cultural sofreu um duro golpe, levando os intelectuais e artistas a uma polarização ideológica. Congresso Nacional fechado, sindicato e associações de classe sob intervenção, prisões, tortura e imprensa sob censura prévia foram algumas das armas das quais o Estado Novo lançou mão para conter a oposição. Intelectuais, comunistas, escritores e jornalistas eram presos ou proibidos de se manifestar... o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) foi o órgão responsável pela


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censura da imprensa, orientação da opinião pública e execução de propaganda do governo. Enfim, não há como negar as transformações ocorridas na década de 1930, principalmente no que diz respeito às transformações do trabalho no Brasil. No entanto, conforme mencionado, nada foi concedido sem que a sociedade brasileira – em todos os níveis – assumisse o ônus das mudanças. Em muitos aspectos, tanto o ditador como o presidente eleito Getúlio Vargas realizou profundas mudanças na economia e sociedade brasileira: muitas de suas diretrizes tiveram sucesso e continuidade (A CLT está aí até hoje...). Mas isso não o torna, de maneira alguma, um arquétipo de líder democrático, nem o exime dos absurdos praticados durante o Estado Novo... Talvez seja essa ambigüidade que fez com que Getúlio Vargas se tornasse objeto constante de estudo... e que provoque apaixonadas discussõe em sua defesa ou execração. Politika: Qual o impacto do suicídio de Vargas para a sociedade naquele momento? Você considera uma jogada de marketing pessoal ou a única solução encontrada por ele após ser deposto? Alexandra: No meu entendimento, o suicídio foi um dos mais bem sucedidos golpes que Vargas desferiu... Perdeu a vida, mas que vida ele ainda teria? Estava com mais de setenta anos, desgastado politicamente... já tinha sido deposto uma vez, voltou “nos braços do povo” e estava deixando o governo, justa ou injustamente, com a reputação manchada pelo atentado contra Carlos Lacerda...Vargas estava com a popularidade em baixa... com o suicídio, Vargas saiu “da vida e entrou para a história”... possibilitou a manutenção da ordem democrática e abriu caminho para a eleição de Juscelino, frustrando as ambições de seus inimigos... realmente, um golpe de mestre... Politika: Qual o impacto da criação das leis trabalhistas no cenário brasileiro durante a era Vargas? Alexandra: No que diz respeito aos direitos sociais, uma das primeiras medidas do governo Vargas foi a criação do Ministério do Trabalho e Indústria, seguida pela legislação trabalhista e previdenciária, completada posteriormente com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que tinha como referência a Carta do Trabalho do governo fascista... A Constituição de 1934 também trouxe inovações como a limitação das garantias de habeas-corpus e criação de

mandado de segurança; eleição para presidência por via indireta (a própria assembléia constituinte elegeu Vargas)... a Carta instituía também a Justiça do Trabalho, salário mínimo, jornada de oito horas de trabalho, férias entre outras conquistas... No entanto, ao mesmo tempo em que lhes concedia direitos, o governo exerceu forte controle sobre os trabalhadores. A Lei de Sindicalização deixava claro o ônus dos benefícios “concedidos”: transformava o sindicato em colaborador do Estado, instrumento disciplinador do trabalhador que tinha como objetivo principal evitar o conflito de classes. Apesar de tudo, não se pode negar que o período de 1930 a 1945 foi marcado pela extensão dos direitos sociais: nele foi implantada a maior parte da legislação trabalhista e previdenciária. Posteriormente ocorreram ajustes e extensão da legislação a um número maior de trabalhadores. No entanto, mais uma ambigüidade do governo Vargas: os trabalhadores forma incorporados à sociedade por causa das leis sociais, e não por meio da sua ação, organização e política independente. Politika: O Governo Lula representa a continuidade do modelo Varguista? Alexandra: De alguma forma, o governo Lula, a partir de 2004, evoca os acontecimentos de 1954. Após o governo Vargas, os anos dourados de euforia desenvolvimentista, bossa nova, conquista da primeira Copa do Mundo, construção de Brasília... a breve passagem de Jânio Quadros pala presidência e o governo de João Goulart, marcado por polarizações políticas e ideológicas. Em 1964, o golpe e os longos anos de governos militares e de todas as frustrações vividas pelo povo brasileiro a partir de então. Lula, de imensa popularidade, como Vargas, também conseguiu mobilizar as esperanças do povo brasileiro. A figura carismática de Lula, para o bem ou para o mal, possui uma grande capacidade de comunicação com a grande massa, o que ressalta a figura do chefe do Executivo, bem ao gosto populista calcado na figura do “grande pai”. As políticas sociais, também estendidas a um número maior de pessoas, também nos remetem ao governo Vargas. Não acredito em continuidade, mesmo porque, as realidades dos períodos são muito distintas. No entanto, cabe pensar em algumas aproximações...


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POLITIKA INDICA

NAYARA MIRANDA

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: DE GETÚLIO A LULA Autor: SOUZA, Nilson Araújo de, Editora: Atlas Assunto: Economia Brasileira.

Autor: GUZZO, Auxiliadora Dias Editora: Universidade Falada Assunto: Política Brasileira

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ste livro parte do pressuposto de que só a partir da definição da economia brasileira contemporânea é que se pode estabelecer o período que ela abrange. O autor entende como tal o período de formação e desenvolvimento da economia urbano-industrial moderna, deflagrada a partir das transformações ocorridas na década de 1930, quando se desenvolveu no Brasil o processo de industrialização por substituição de importações. Mais especificamente, de 1930 a 2006, que começa com o primeiro governo de Getulio Vargas e termina com o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

GETULIO VARGAS E A ECONOMIA CONTEMPORÂNEA

GETULIO VARGAS MITO E REALIDADE

ua polêmica atuação na vida pública no Brasil ocorreu, principalmente, entre os anos 1920-1950, mas seu legado prolongou-se no cenário social brasileiro até décadas recentes. A controvertida atuação desse brasileiro de São Borja, RGS, (1882-1954), foi pautada por diferentes posicionamentos ideológicos e alianças políticas. Jocosamente apresentado como “pai dos pobres”, Getúlio Vargas, situa-se além dos estereótipos e das fáceis definições. Conhecer a contraditória figura desse estadista brasileiro, é conhecer também os caminhos e descaminhos da história brasileira do século XX.

Autores: SZMRECSÁNVI, Tamás e GRANZIERA, Rui Editora: UNICAMP Assunto: Economia Brasileira.

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reparados por eminentes historiadores, economistas e cientistas sociais, os 13 textos reunidos neste livro reconstituem a trajetória política de Getúlio Vargas, desde antes da Revolução de 1930 até o ano de sua morte. Neles são examinados o contexto em que se deu essa trajetória, o seu impacto sobre a economia brasileira e o legado que ela deixou para as gerações posteriores.

“Deixo a vida para entrar na história.” - Getúlio Vargas


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SESSÃO PERFIL

NAYARA MIRANDA

Perfil do atual presidente do Brasil:

LULA Luiz Inácio Lula da Silva nasceu em Garanhuns (PE), no dia 27/10/1945, foi o sétimo filho de uma humilde família. Aos sete anos Lula e sua família mudaram para Santos (SP) em busca de melhores condições de vida e aos onze mudou-se para São Paulo capital. Ainda quando criança Lula chegou a trabalhar com engraxate e office-boy, aos quinze tornou-se aprendiz de torneiro mecânico, pelo SENAI. Influenciado por seu irmão José Ferreira da Silva, Lula começou a se interessar por política e por lutas sindicais. Em 1973 tornou-se presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, e em 1978, durante o regime militar, Lula liderou a greve dos operários do ABC paulista. Em 1980, juntamente com outros líderes sindicais, e alguns líderes intelectuais, Lula fundou o PT (Partido dos Trabalhadores), do qual se tornou presidente. Em 1984

Lula candidatou a presidência do Brasil, no qual foi derrotado, e em 1986 foi eleito deputado federal mais vo tado do país. Posteriormente Lula disputou mais duas candidaturas, em 1994 e 1998, a presidência do Brasil, no qual novamente foi derrotado. Em 2002 Lula foi eleito presidente do Brasil com recorde de votos que passavam 50 milhões. E em 2006 reelegeuse. Durante sua gestão o Brasil passou por uma ascendência econômica. Lula investiu em diversos programas de crescimento econômico (PAC), criou programas sociais que ajudaram a população de classe baixa, como o PROUNI, Bolsa-família, Bolsa-escola, dentre outros, sendo chamado como o “novo pai dos pobres”. Isso só fez com que a popularidade de Lula aumentasse ainda mais. Atualmente Lula está na reta final de seu segundo mandato, e antes de deixar a presidência, ele conseguiu eleger sua candidata, Dilma Rousseff que assumirá a presidência do Brasil em janeiro de 2011.


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CLT Consolidação das Leis Trabalhista

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omo pensar em Vargas e não lembrar seus grandes feitos trabalhistas? E é justamente por isso que cabe a nós a tarefa de analisar com atenção esse grande progresso conseguido em seu governo.

Trabalho • Redução da jornada de trabalho • Direito de férias • Proteção do Trabalho da Mulher • Contratos Individuais de Trabalho • Direito de organização sindical A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) foi • Fiscalização criada em 1° de maio de 1943, pelo então presi- • Justiça do Trabalho e Processo Trabalhista dente da época Getúlio Vargas, durante o Estado • Descanso semanal Novo, consolidou-se nela toda legislação trabal- • Criação da Previdência Social hista existente no Brasil na época. Esta teve como principal objetivo a regulamentação das relações A criação da CLT foi uma grande conquista para os coletivas e individuais do trabalho, criando uma trabalhados, e contribuiu para aumentar a popularilegislação trabalhista que protegesse o trabal- dade de Vargas, e para consolidar sua imagem de “pai hador. dos pobres”. Consolidação das Leis Trabalhistas já sofreu diversas modificações, mas continua sendo a principal meio para regulamentar as relações de trabalho e proteger os trabalhadores.

A CLT ainda está em vigor e suas melhorias ainda podemos ver sua atuação diante da sociedade. Se hoje temos leis que protege e regulariza os direitos dos trabalhos foi graças a Vargas. O governo de Vargas ainda é lembrado por todos nós brasileiros, devido aos seus A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) gar- grandes legados deixados. antia aos trabalhadores: •

Registro do Trabalhador na Carteira de

Nayara Miranda


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A CARTA DE GETÚLIO VARGAS O SUICÍDIO Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam-me; não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação para, para que eu continue a defender como sempre defendi o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de esfoliações de grupos econômico-financeiros internacionais , fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei um regime de liberdade social. Tive que renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliouse à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalhador. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade na potencializarão das nossas riquezas através da Petrobrás e mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo seja independente. Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até quinhentos por cento ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatada de mais de cem milhões de dólares por ano. Veio à crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender o seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma agressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mes-

mo para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, quer continuar sugar o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentirá em vosso peito a energia para a luta, por vós e por vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentirá no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu sangue será a vossa bandeira de luta. Cada gota do meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o meu perdão. Aos que pensam que me derrotam, respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo, não será mais escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua além e meu sangue será o preço de seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia, não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da Eternidade e saio da vida para entrar na história. Referência: http://www.cienciamao.usp.br



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