Gênero em Questão: Direito de Brincar em suas Diferenças e Diversidades

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Seminário estadual de Educação Infantil- MA

Gênero em questão:

direito de brincar em suas diferenças e diversidades

Profa. Daniela Finco dfinco@unifesp.br Junho

- 2012


PARA INÍCIO DA CONVERSA...


Diferenças entre meninas e meninos? A teoria do determinismo biológico busca na anatomia e na fisiologia justificativas anatômicas para as relações e identidades de gênero na sociedade moderna. diferenças inatas ou aprendidas culturalmente? Cognição, comportamento e habilidades entre meninos e menina: será que o sexo biológico faz mesmo diferença? Lucas Cranach (Caritas 1534) http://arthistory.about.com/


Determinismo biológico A teoria do determinismo biológico busca na anatomia e na fisiologia justificativas anatômicas para as relações e identidades de gênero na sociedade moderna.

meninas e meninos: diferenças inatas ou aprendidas culturalmente?


Pedagogia dos hormônios Pesquisando cérebro, genes, hormônios e fisiologias masculina e feminina

Pesquisas articulando Biologia, Medicina e Ciências Sociais, usam as relações sociais para estruturar a natureza e, ao mesmo tempo, reduzem a ela o mundo social. Passam da discussão das diferenças externas e do ambiente social para as diferenças internas, do organismo biológico e questionam quais os efeitos sobre o que se entende por masculinidade e feminilidade.


Pedagogia dos Hormônios Se as meninas não podiam aprender matemática tão facilmente quanto os meninos, o problema não estava em seus cérebros. A dificuldade decorria das normas de gênero — expectativas e oportunidades diferentes em relação a meninos e a meninas. Ter um pênis ou uma vagina é uma diferença de sexo. O desempenho superior dos meninos em relação às meninas em provas de matemática é uma diferença de gênero. É de supor que estas possam ser mudadas, ainda que aquelas não o possam (STERLING, 2002, p. 16). O papel que a biologia desempenha na determinação e na definição dos comportamentos sociais é fraco, pois a espécie humana é essencialmente dependente da socialização (HEIBORN, 1997) .


Dicotomia Homem–mulher FAUSTO-STERLING, Anne (2000). Sexing the body: gender politics and the construction of sexuality. Basic Books: USA.

A insistência na dicotomia homem-mulher cada vez mais cedo na vida das pessoas tem um papel profundo na maneira como organizamos nossa vida. FALSAS DICOTOMIAS biologia / cultura corpo / mente Compreender de que maneira as diferenças sociais são atribuídas ao corpo e analisa as contribuições de diferentes vertentes teóricas, produzidas pelas ciências médicas, biológicas e sociais.


Surgimento do conceito de gênero Rejeição do determinismo biológico

Explica as diferenças de comportamentos, competências, preferências de homens e mulheres baseado pela biologia e anatomia de seus corpos. Feministas inglesas nos anos 70 partiam das contraposições ao determinismo biológico, na época designado como sexo, para a ênfase na construção social de homens e mulheres, traduzida como significados de gênero

Sexo – Gênero http://www.memoriaemovimentossociais.com.br/bancodeimagens/albums/


Conceito de gênero

como categoria de análise Década de 70, os estudos sobre a mulher pretendiam preencher lacunas do conhecimento sobre a situação das mulheres nas diversas esferas da vida social e ressaltar a posição de exploração/subordinação/opressão a que estavam submetidas. No Brasil, na década de 80, o termo gênero se introduz no meio acadêmico, onde ocorre a gradativa substituição do termo mulher (categoria empírica/ descritiva) pelo termo gênero (categoria analítica). A partir daí que os homens passaram a ser incluídos como uma categoria empírica a ser investigada. WHITAKER, Dulce (1988). Mulher & Homem: o mito da desigualdade. São Paulo: Moderna.


Surgimento do conceito de gênero Processo de construção cultural

O conceito de gênero implícito no uso dos termos sexo ou diferença sexual e enfatizou os aspectos relacionais e culturais da construção social do feminino e masculino

Gênero: conceito básico para a discussão das identidades em uma perspectiva sociológica.


Categoria de análise: gênero Não há um único modelo de masculinidade ou de feminilidade

A denúncia do pretenso caráter fixo e binário de categorias como feminino e masculino, contido nas explicações biológicas para as diferenças cognitivas entre os sexos, tem no conceito de gênero parte do reconhecimento do caráter social e historicamente construído das desigualdades fundamentadas sobre as diferenças físicas e biológicas. A postura cognitiva implicada no uso da categoria em questão é a desnaturalização radical das categorias de homem e mulher. É retirar-lhes a aparência de “natural”, ainda que o discurso com que se apresentam assim o designe.


Gênero e infância: uma questão de poder O gênero pode ser compreendido como um "elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos (e como) um primeiro modo de dar significado às relações de poder" (SCOTT, 1990)

Relações de poder na infância: GÊNERO e GERAÇÃO .


GÊNERO perspectiva sócio-cultural O olhar nas formas de controle dos corpos infantis, processo este social e culturalmente determinado, permeado por um controle sutil, muitas vezes por nós desapercebido.

Apontar como as características aparentemente naturalizadas e direcionadas à masculinidade considerada dominante em nossa sociedade e à feminilidade tradicionalmente atribuída às mulheres são resultantes de muitos esforços para deixar marcas distintas nos corpos, comportamentos e habilidades de meninas e meninos.


A EDUCAÇÃO E O PROCESSO DE FEMINILIZAÇÃO E MASCULINIZAÇÃO


Cuidar e Educar o corpo Os corpos e a sua gestualidade podem ser imaginados como expressão e lugar de inscrição da cultura e as imagens de corpos, como registro de marcas e de lugares sociais ocupados. Como lugar visível e como registro verdadeiro da cultura, o corpo e a sua gestualidade são objetos de intervenção de poder. A intervenção dirigida, forjada por inúmeras técnicas que são aprimoradas para incidir sobre o corpo e o gesto, vai-se consolidando como prática social desejada, delineando o que se poderia chamar de uma educação do corpo e controle de seus gestos (Soares, 1998).


PROCESSO DE FEMINILIZAÇÃO E MASCULINIZAÇÃO Construção social da diferença entre os sexos

“Didática da gravidez” Mesmo antes do nascimento fatores externos influenciam a formação do modo de ser da criança menina ou menino. A socióloga Dulce Whitaker (1988) chamou a esse fenômeno didática da gravidez.


Didática dos gestos O minucioso processo - de feminilização e masculinização dos corpos - presente no controle dos sentimentos, no movimento corporal e na gestualidade de meninos e meninas está relacionado à força das expectativas que os brinquedos carregam e que tentará produzir o garoto endiabrado e a mocinha carinhosa. Esse processo se reflete nos tipos de brinquedos que lhes são permitidos e disponibilizados: os mecanismos de modelação estão presentes nos brinquedos e muitas vezes são meios implícitos utilizados para que as crianças aprendam, de uma maneira muito prazerosa e mascarada, a se comportar como “verdadeiros” meninos e meninas. “Aprendendo a carregar a boneca”


Brinquedo e Cultura

Todo brinquedo possui um enredo cultural O brinquedo é um elemento cultural carregado de simbologias, ele sintetiza a representação que uma dada sociedade tem de meninos e meninas. O brinquedo deste modo apresenta-se como um instrumento complexo que permite a compreensão do funcionamento da cultura de uma sociedade. (Brougère, 1994)


Brinquedo: um espelho da sociedade



Beleza negra A imagem do modelo negro muitas vezes aparece associado ao ex贸tico ou com tra莽os embranquecidos.


Categorizações Menino x Menina Azul x Rosa Realismo X Fantasia Público x Privado

(Teixeira, 2002; Azevedo, 2003)


A escolha e a utilização dos brinquedos são pontos importantes de análise para refletir sobre as formas de educação de meninos e meninas

Os brinquedos oferecidos às crianças também estão carregados de expectativas, de simbologias e de intenções. As expectativas em relação à diferença de comportamento que se deseja para o menino e para a menina, justificadas pelas diferenças biológicas, acabam proporcionando distintas vivências corporais: meninos e meninas têm em seus corpos a manifestação de suas experiências.


Brinquedos de meninas e meninos Ao refletir sobre os primeiros contatos das crianças com os brinquedos no âmbito da educação familiar, é possível perceber que a forma como são guardados e oferecidos pode consistir em uma manipulação da brincadeira, uma pedagogia do gesto e da vontade, configurando-se, assim, uma “educação do corpo”.

Apresentar como essas marcas possuem uma relação com os brinquedos utilizados pelas crianças, como as brincadeiras ditas femininas e as ditas masculinas sugerem a regulação de condutas e comportamentos


Uma análise cultural do Brinquedo e outros artefatos culturais destinados às crianças Quais as identidades legitimam? Como refletem os valores da sociedade? Que masculinidade e feminilidade estão construindo? Desse modo, é possível afirmar que estão carregados de intenções?


ESCOLA E RELAÇÕES DE GÊNERO


Sexismo na história da escola “O sexismo afeta o crescimento de meninos e meninas, inibindo muitas manifestações na infância e impedindo que se tornem serem completos. O modo como meninos e meninas estão sendo educados pode contribuir para se tornarem mais completos e ou para limitar suas iniciativas e suas aspirações.” (São Paulo, 2003)

A escola, concebida inicialmente para acolher alguns – e não todos – ela foi, lentamente, sendo requisitada por aqueles (as) as (às) quais havia sido negada. Educação Física Avaliação Livros didáticos




Avaliação escolar Pesquisas apontam que as justificativas para as diferenças de desempenho escolar entre as meninas e os meninos do Ensino Fundamental, (Silva, 1999; Carvalho, 1999) estão relacionadas às representações e às expectativas dos(as) professores(as) quanto a caracterizações dos comportamentos: as meninas são apontadas como mais responsáveis, dedicadas, comunicativas, estudiosas, interessadas, sensíveis. aos meninos são atribuídos os seguintes comportamentos: são malandros, não têm hábitos de estudo, não ficam em casa para estudar, saem para jogar bola, faltam às aulas, são dispersivos, têm interesses fora da escola, são agitados, não prestam atenção.


Desempenho escolar SILVA, Carmen et al (1999). Meninas bem-comportadas, boas alunas, meninos inteligentes, mas disciplinados. Cadernos de Pesquisa, São Paulo: Cortez/ Fundação Carlos Chagas, n.107. p. 207-225. CARVALHO, Marília Pinto de (2003). Sucesso e fracasso escolar: uma questão de gênero. Educação e Pesquisa, Jun 2003, v.29, n.1

Pesquisas apontam que as justificativas para as diferenças de desempenho escolar entre as meninas e os meninos (Silva, 1999; Carvalho, 1999) estão relacionadas às representações e às expectativas dos(as) professores(as) quanto a caracterizações dos comportamentos: as meninas são apontadas como mais responsáveis, dedicadas, comunicativas, estudiosas, interessadas, sensíveis. aos meninos são atribuídos os seguintes comportamentos: são malandros, não têm hábitos de estudo, não ficam em casa para estudar, saem para jogar bola, faltam às aulas, são dispersivos, têm interesses fora da escola, são agitados, não prestam atenção.


Materiais didรกticos

Fonte: CASAGRANDE, Lindamir Salete, 2005


Materiais didรกticos

Fonte: CASAGRANDE, Lindamir Salete, 2005


Materiais didรกticos

Fonte: CASAGRANDE, Lindamir Salete, 2005


Nas relações do cotidiano nas expectativas Normalmente as meninas são mais tranquilas que os meninos. As meninas falam muito e os meninos são mais agitados assim com o corpo. As classes com mais meninos são mais agitadas. As meninas, eu costumo chamá-las de princesas, então é uma relação mais meiga, mais doce mesmo. E os meninos são os meus rapazes,… os meus rapazes são mais ativos, gostam de correr, de pular, não param quietos no lugar. As meninas são mais meiguinhas, são mais dóceis, mais caprichosas, mais atenciosas. Os meninos gostam mais de brincar, são mais descuidados, mais agitados, tem uma diferença muito grande. Os meninos não têm muita paciência para se apegar nos detalhes das atividades, eles querem acabar logo para poder brincar, para ficar livre. As meninas já são mais cuidadosas, se preocupam com detalhes. Elas se preocupam com o que eu vou achar do trabalho delas, os meninos não estão nem aí.


Igualdade de gênero na infância A teoria do determinismo biológico busca na anatomia e na fisiologia justificativas anatômicas para as relações e identidades de gênero na sociedade moderna.

Se acreditarmos nessa explicação natural sobre as diferenças entre os sexos, será inviável uma política social igualitária para a formação de homens e mulheres.

Ultrapassar a desigualdade de gênero pressupõe compreender o caráter social de sua produção, a maneira como nossa sociedade opõe, hierarquiza e naturaliza as diferenças entre os sexos, reduzindo-as às características físicas, tidas como naturais e, conseqüentemente, imutáveis.


Desconfiar... Josefina, professora de uma creche, estava entretida com um grupinho de crianças (a maioria delas com três anos de idade) que se travestiam das mais diferentes personagens. Algumas passavam baton,outras colocavam chapéu, cintos, capas, outras salto alto e algumas meninas pediram para Josefina pintar-lhes as unhas da mão. De repente vem o Toninho e pede que ela pinte também as suas. Era a primeira vez que assim acontecia. Nossa professora ficou confusa, preocupada com o que as mães e os pais pudessem achar disto e para ganhar tempo enquanto pensava como proceder perguntou para ele - Você já pintou as unhas antes? Seu pai pinta as unhas? E ele respondeu prontamente Ah, eu nunca pintei antes. Meu pai não pinta também. Bela resposta pensou, e eu, o que faço? Pergunto mais alguma coisa, quem sabe ele muda de idéia - De que cor você quer pintar? E decidido Toninho responde - VER-ME-LHO. E agora? Lá se foi meu emprego... Bom, mais uma pergunta, e quem sabe tudo se resolve - Mas porque vermelho? E Toninho responde todo feliz - É a cor do Schumacher!


Todos nós, adultos e crianças... “Temos o direito de ser iguais quando as diferenças nos inferiorizam. Temos o direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.” Boaventura de Souza Santos


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