TFG - ARQ & URB - UFRRJ

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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ITIT -- Departamento Departamento de de Arquitetura Arquitetura ee Urbanismo Urbanismo

QUINTAL da cultura do SUBÚRBIO

CARIOCA Roberta Domingos

Trabalho Final de Graduação Prof.orientador: D.Sc.Helio Herbst


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE TECNOLOGIA Curso de Arquitetura e Urbanismo

QUINTAL DA CULTURA DO SUBÚRBIO CARIOCA

Por

Roberta Domingos dos Santos

Trabalho Final de Graduação realizado em cumprimento as exigências da atividade acadêmica AA251– Trabalho Final de Graduação

Professor Orientador: D. Sc. Helio Herbst

UFRuralRJ - Seropédica Dezembro de 2018


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE TECNOLOGIA Curso de Arquitetura e Urbanismo

TRABALHO DE CURSO PARECER DA BANCA FINAL Às horas do dia sala Trabalho de Curso (TFG) intitulado

na do Instituto de Tecnologia da UFRRJ, foi instalada a Banca Final do do(a)

aluno(a) matriculado(a)sob o número

.

Como resultado final, considerando os critérios de avaliação e as condicionantes de defesa para o TC, a Banca Examinadora considera o (a) aluno(a):

( ) APROVADO(A), estando apto(a) a receber o título de Arquiteto e Urbanista;

( ) REPROVADO(A), sendo necessário se submeter a uma nova Atividade Acadêmica de TFG. ( ) Recomendação para participar em concurso Email do aluno: FORAM FEITOS OS SEGUINTES REGISTROS PELA BANCA EXAMINADORA:

Seropédica,

de

de


BANCA EXAMINADORA: Examinador Externo

Examinador Interno

Orientador

Presidente da ComissĂŁo de TFG


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE TECNOLOGIA Curso de Arquitetura e Urbanismo

TRABALHO DE CURSO PARECER DA BANCA INTERMEDIÁRIA

Às

horas do dia

sala

na do Instituto de Tecnologia da UFRRJ, foi instalada a Banca

Intermediária do Trabalho de Curso – TC (TFG) intitulado do(a) aluno(a) matriculado(a)sob o número

.

Estiveram presentes compondo a Banca Examinadora os seguintes membros: examinador externo, examinador interno e orientador.

O aluno(a) apresentou o seu trabalho e após os comentários, questionamentos e sugestões da Banca Examinadora procedeu à seguinte avaliação:

( ) O trabalho demonstra, para esta etapa do TC, a capacidade do aluno em resolver problemas de arquitetura e urbanismo sendo atendidos em grande parte os aspectos considerados na avaliação do trabalho. Sugere-se, para a otimização do TC, que até a etapa final sejam considerados os comentários e sugestões da Banca Examinadora.

( ) O trabalho demonstra, para esta etapa do TC, que os aspectos considerados na avaliação do trabalho foram atendidos em parte. Recomenda-se, que até a etapa final, sejam observados, com atenção, os comentários, sugestões e recomendações solicitados pela Banca Examinadora e cumpridos


( ) O trabalho não atende em grande parte, ainda, aos aspectos considerados na avaliação do TC, para esta etapa. Condiciona-se, portanto, que sejam cumpridas com rigor as recomendações e exigências feitas pela Banca Examinadora até a etapa final. (Verso da folha)

A BANCA EXAMINADORA ENFATIZA AS SEGUINTES RECOMENDAÇÕES:

Seropédica,

de

de


BANCA EXAMINADORA – Avaliação Intermediária

Examinador Externo –

Examinador Interno –

Co-Orientador

Orientador Ciente,

Aluno(a) –


AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço à minha família, mãe, pai, irmã e tio que me incentivaram desde sempre a ir cada vez mais longe e que também me ampararam nos inúmeros tropeços e quedas. Tudo o que sou e o que me tornei hoje, devo a vocês. Amo-os incondicionalmente. À família Gonçalves que, além de vizinhos, tornaram-se parte da minha família, presentes nos mais diversos momentos da minha vida, regada a muito churrasco, é claro. À Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com sua beleza e feeling únicos, que me iniciou nessa jornada incrível por uma graduação até então inimaginável. Aos queridos professores do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, especialmente às professoras Jaqueline Pires e Regina Araújo que me acolheram nos momentos mais difíceis e que me incentivaram a não desistir e continuar lutando pelo o meu sonho. Ao meu professor e orientador Helio Herbst, a que tenho uma admiração desde o início da graduação, que acreditou no meu potencial e me ajudou a desenvolver esse trabalho que me enche de orgulho. Não consigo descrever o quanto me sinto honrada em ter sido orientada por você! Nossa parceria deu samba! Ao professor Gabriel Girnos e ao arquiteto Rodrigo Bertamé, pelas contribuições proveitosas, lembrando que “fazer arquitetura não é algo que se faça sozinho, é preciso ser abençoado com muitos bons colaboradores para que isso aconteça" (Toyo Ito). Aos meus colegas de turma, que se tornaram grandes amigos, em especial: Ariane, Thamyrys, Renata Lacerda, Jackson Carvalho, Amanda Scharra, Fernanda Madanelo, Felipe Loures, Tuyuka Lara e Nino. E outros que a Rural me presenteou, em especial: Camila Lombone, Layze Luzial e Matheus Gomes. Obrigada a vocês pela inspiração diária, pelo carinho, pelo apoio... por tudo! Ao meu pai, aonde quer que ele esteja... Obrigada por tudo!

Avante!


“Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo” Manoel de Barros – O apanhador de desperdícios Meu Quintal É Maior Que o Mundo: Antologia, Ed.Alfaguara, 2015


RESUMO SANTOS, Roberta Domingos dos. Quintal da Cultura do Subúrbio Carioca. 2018. Xxf. Fundamentos para o Trabalho de Curso (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Instituto de Tecnologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. O presente caderno de Fundamentos para o Trabalho Final de Graduação – TFG apresenta o desenvolvimento de uma proposta de anteprojeto arquitetônico de um equipamento cultural no bairro de Madureira, popularmente considerado “berço do samba carioca” e pilar fundamental na formação e identidade cultural do subúrbio do Rio de Janeiro. Tal proposta tem o objetivo de revelar, a partir do processo que envolve a transformação do significado e uso da palavra subúrbio, a importância com o qual o subúrbio carioca ilustra as questões relativas à tradição, memória e identidade, representadas por meio de seus modos de vida, relações de vizinhança e moradias, cujo resultado é a construção de sua paisagem. PALAVRAS-CHAVE: subúrbio carioca; tradição; memória; identidade; patrimônio; cultura popular.


LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Subúrbio em Caracas, Venezuela ................................................... 11 Figura 02 - Lutherville, um dos subúrbios de Baltimore, em Maryland .......... 12 Figura 03 - Back Lane, Hampstead ................................................................... 12 Figura 04 - Banlieue em Le Vieux-Pays de Goussainville, França .................. 13 Figura 05 - Bairro de Marechal Hermes ........................................................... 15 Figura 06 - O “Bota-abaixo”: reformas forçaram populações a buscar refúgio nos subúrbios ...................................................................................................... 17 Figura 07 - Mapa afetivo do subúrbio carioca .................................................. 22 Figura 08 - Estereótipos do subúrbio ................................................................ 23 Figura 09 - Cena da série Os Suburbanos ......................................................... 24 Figura 10 - Cena do sitcom Vai Que Cola ........................................................ 24 Figura 11 - Cena da novela Avenida Brasil, 2012 ............................................ 25 Figura 12 - Cena da série Suburbia ................................................................... 25 Figura 13 - Cena do filme Rio, Zona Norte ...................................................... 26 Figura 14 - Postagem da página Suburbano da Depressão, jan. 2016 .............. 27 Figura 15 - Festa em Madureira ........................................................................ 29 Figura 16 - Igreja de São Jorge, em Quintino ................................................... 29 Figura 17 - Crianças saem às ruas em busca de doces ...................................... 29 Figura 18 - Carreata de Iemanjá parte de Madureira até a Zona Sul ................ 30 Figura 19 - Sambistas tocam dentro do Trem do Samba no Dia Nacional do Samba ................................................................................................................. 31 Figura 20 - Roda de jongo na comunidade da Serrinha .................................... 32 Figura 21 - Ensaio técnico da Escola de Samba Portela, em Madureira .......... 32 Figura 22 - Cartaz do samba-enredo 2017 da Escola de Samba Império Serrano ............................................................................................................................. 33 Figura 23 - Uma das barracas da Feira das Yabás ............................................ 34 Figura 24 - Turma de bate-bolas no bairro de Marechal Hermes ..................... 35


Figura 25 - A festa do subúrbio no carnaval ..................................................... 36 Figura 26 - O baile black e a diversão suburbana ............................................. 37 Figura 27 - Baile Charme do Viaduto de Madureira ........................................ 37 Figura 28 - Baile funk realizado nas comunidades ........................................... 38 Figura 29 - Localização do bairro ..................................................................... 40 Figura 30 - Interligação do bairro por meio do viaduto Pref. Negrão de Lima .................................................................................................. 41 Figura 31 - Vista aérea do viaduto Pref. Negrão de Lima ................................ 41 Figura 32 - Cine Madureira (1974) ................................................................... 42 Figura 33 - Teatro Zaquia Jorge (1957) ............................................................ 42 Figura 34 - Mapa socioambiental das regiões administrativas do Rio ............. 45 Figura 35 - Maçiços da Pedra Branca e Tijuca ................................................. 46 Figura 36 - Bacia do Baixo Acari ..................................................................... 47 Figura 37 - Comércio informal nas proximidades do Madureira Shopping ..... 48 Figura 38 - Conexão com ramais ferroviários .................................................. 48 Figura 39 - Mercadão de Madureira ................................................................. 49 Figura 40 - Madureira Atlético Clube ............................................................... 50 Figura 41 - Vista aérea do Parque Madureira ................................................... 50 Figura 42 - Quadra da Escola de Samba Império Serrano ................................ 51 Figura 43 - Quadra da Escola de Samba Portela ............................................... 51 Figura 44 - Baile Charme .................................................................................. 51 Figura 45 - Hábitos culturais da Zona Norte .................................................... 52 Figura 46 - Equipamentos culturais distribuídos por Área de Planejamento ... 54 Figura 47 - Arena Carioca Fernando Torres, Parque Madureira ...................... 55 Figura 48 - Recorte territorial ........................................................................... 59 Figura 49 - Localização do terreno ................................................................... 60 Figura 50 - Conexão com importantes vias do bairro ....................................... 60 Figura 51 - Vista do terreno a partir da Rua Carolina Machado ....................... 61 Figura 52 - Vista do terreno a partir da Rua Dagmar da Fonseca .................... 61 Figura 53 - Altitude da área de estudo .............................................................. 63 Figura 54 - O terreno possui pouca variação topográfica ................................. 63


Figura 55 - Atividades comerciais no entorno .................................................. 64 Figura 56 - Trajetória solar no terreno .............................................................. 65 Figura 57 - Cobertura vegetal ........................................................................... 66 Figura 58 - Cheios e vazios ............................................................................... 67 Figura 59 - Gabarito .......................................................................................... 68 Figura 60 - Uso e ocupação do solo .................................................................. 69 Figura 61 - “Calçadão de Madureira” (inúmeras lojas de segmentos variados), Av. Ministro Edgard Romero ............................................................................. 70 Figura 62 - Lojas distribuídas na maioria dos andares térreos ......................... 70 Figura 63 - Hierarquia viária ............................................................................. 72 Figura 64 - Localização da Nave do Conhecimento Compositor Silas de Oliveira ............................................................................................................... 75 Figura 65 - Edificação com traços assimétricos ............................................... 75 Figura 66 - Vista da lan-house e da área de estudo ........................................... 76 Figura 67 - A edificação é bastante utilizada por idosos .................................. 77 Figura 68 - Grutas do Conhecimento ................................................................ 77 Figura 69 - Vista do cilindro elíptico ................................................................ 78 Figura 70 - Palestras e cursos são ministrados no cilindro elíptico .................. 79 Figura 71 - Localização da Praça do Conhecimento Gelson Domingos .......... 80 Figura 72 - Crianças brincam próximas aos taludes ......................................... 80 Figura 73 - Cobertura em laje nervurada .......................................................... 81 Figura 74 - Vista da cobertura ........................................................................... 81 Figura 75 - A extensa fachada envidraçada percorre boa parte da edificação ....................................................................................... 82 Figura 76 - O banco de concreto apoia-se na fachada envidraçada .................. 82 Figura 77 - Edificação possui diferentes composições ..................................... 83 Figura 78 - Acesso principal à edificação ......................................................... 83 Figura 79 - Recortes geométricos na composição da edificação ...................... 84 Figura 80 - Mobiliário com linhas geométricas ................................................ 84 Figura 81 - O uso concreto aparente é um dos destaques do projeto ............... 85


Figura 82 - Uma grande claraboia compõe o núcleo central da edificação ...... 85 Figura 83 - Público diversificado ...................................................................... 86 Figura 84 - Auditório/teatro .............................................................................. 86 Figura 85 - Mobiliário com elementos pontiagudos ......................................... 87 Figura 86 - Jardim da Amizade ......................................................................... 88 Figura 87 - Um Tal de Sarau ............................................................................ 88 Figura 88 - Quintal da Memória ....................................................................... 89 Figura 89 - Biblioteca Viva de Honório Gurgel ............................................... 90 Figura 90 - Biblioteca Viva de Honório Gurgel ............................................... 90 Figura 91 - Cine Gurgel .................................................................................... 90 Figura 92 - A culinária é um registro das vivências dos moradores ................. 91 Figura 93 - Espaços de encontro e de diálogo com a paisagem e as pessoas .............................................................................. 92 Figura 94 - Canteiros no interior da edificação ................................................ 93 Figura 95 - Jardins no exterior da edificação .................................................... 93 Figura 96 - Relação com o entorno ................................................................... 94 Figura 97 - Conexões entre diversos pontos da edificação ............................... 94 Figura 98 - Setorização da edificação ............................................................... 95 Figura 99 - Espaços para aprendizado da música ............................................. 95 Figura 100 - Terraço público ............................................................................ 96 Figura 101 - A edificação e sua relação com o entorno .................................... 96 Figura 102 - Volumes prismáticos suspensos ................................................... 97 Figura 103 - A edificação está localizada em uma grande praça ...................... 98 Figura 104 - Setorização (Térreo) ...................................................................... 98 Figura 105 - Setorização (2º pavimento) ........................................................... 99 Figura 106 - Espaço multiuso ........................................................................... 99 Figura 107 - Ateliê .......................................................................................... 100 Figura 108 - Um grande pátio funciona como área pública de lazer .............. 100 Figura 109 - Cores nas esquadrias .................................................................. 101 Figura 110 - Uso de cores contrastantes no interior ....................................... 101


Figura 111 - Praça das Artes ........................................................................... 102 Figura 112 - Edificações que compõem a Praça das Artes ............................. 103 Figura 113 - O térreo livre possibilita a circulação de pessoas, atraindo o movimento das ruas do entorno ....................................................................... 104 Figura 114 - Conexão com importantes vias .................................................. 104 Figura 115 - Gestos, performance de Yasmim Flores e Angelo Ursini .......... 105 Figura 116 - O passado e o presente possuem uma forte ligação ................... 106 Figura 117 - Pavilhão Suíço ............................................................................ 107 Figura 118 - Pavilhão Suíço ............................................................................ 107 Figura 119 - Os diversos acessos contribuem para a permeabilidade do projeto ................................................................................ 108 Figura 120 - Diagrama de usos ....................................................................... 108 Figura 121 - A música ecoa por todo o pavilhão ............................................ 109 Figura 122 - Fragmentos de textos .................................................................. 110 Figura 123 - Iluminação natural ...................................................................... 110 Figura 124 - Espaço para degustação de bebidas ............................................ 110 Figura 125 - A rua é a extensão da casa .......................................................... 112 Figura 126 - O quintal é um espaço de convivência e troca de experiências ..................................................................................... 113 Figura 127 - Premissas projetuais ................................................................... 113 Figura 128 - Grupos de atividades .................................................................. 114 Figura 129 - Pré-dimensionamento do Espaço das Artes ............................... 115 Figura 130 - Pré-dimensionamento do Espaço da Tecnologia ....................... 116 Figura 131 - Pré-dimensionamento do Espaço da Música ............................. 117 Figura 132 - Pré-dimensionamento do Espaço do Corpo ............................... 118 Figura 133 - Pré-dimensionamento do Espaço da Culinária .......................... 119 Figura 134 - Pré-dimensionamento da área administrativa ............................ 120 Figura 135 - Pré-dimensionamento da área de apoio logístico ....................... 121 Figura 136 - Área construída por grupo e área total ....................................... 121 Figura 137 - Quantidade de módulos por grupo ............................................. 122 Figura 138 - Zoneamento ................................................................................ 123


Figura 139 - Relação de grandeza entre os grupos ......................................... 124 Figura 140 - Fluxograma - Térreo ................................................................... 125 Figura 142 - Fluxograma – 2º Pavimento ....................................................... 126 Figura 143 - Fluxograma – 3º Pavimento ....................................................... 127 Figura 144 - Fluxograma – 4º Pavimento ....................................................... 128 Figura 145 - Vista do volume originado da combinação dos módulos .......... 129 Figura 146 - Vista do volume originado da combinação dos módulos .......... 129 Figura 147 - Vista do volume originado da combinação dos módulos .......... 130 Figura 148 - Acesso principal ......................................................................... 132 Figura 149 - Desenho esquemático da fachada principal ............................... 132 Figura 150 - Acesso secundário ...................................................................... 133 Figura 151 - Desenho esquemático da fachada posterior ............................... 133 Figura 152 - Recuo na lateral-direita .............................................................. 134 Figura 153 - Residências multifamiliares na divisa do lote ............................ 134 Figura 154 - Sapata isolada ............................................................................. 135 Figura 155 - Alvenaria convencional .............................................................. 136 Figura 156 - Fôrmas plásticas ......................................................................... 137 Figura 157 - Laje nervurada com viga-faixa ................................................... 137 Figura 158 - Cobertura verde extensiva .......................................................... 140 Figura 159 - Seção transversal da nervura ...................................................... 143 Figura 160 - Consumo diário do pavimento térreo ......................................... 146 Figura 161 - Consumo diário do 1º pavimento ............................................... 146 Figura 162 - Consumo diário do 2º pavimento. ............................................... 147 Figura 163 - Consumo diário do 3º pavimento ............................................... 147 Figura 164 - Resíduos diários do pavimento térreo ........................................ 150 Figura 165 - Resíduos diários do 1º pavimento .............................................. 150 Figura 166 - Resíduos diários do 2º pavimento .............................................. 151 Figura 167 - Resíduos diários do 3º pavimento .............................................. 151 Figura 168 - Folder informativo sobre a coleta seletiva ................................. 153 Figura 169 - Caquinhos cerâmicos .................................................................. 154 Figura 170 - Residência no bairro de Mal.Hermes ......................................... 154


Figura 171 - Ekko Plus natural na cor cinza ................................................... 155 Figura 172 - Pacific fresado na cor areia ........................................................ 155 Figura 173 - Carpete em rolo, cor Fairway .................................................... 156 Figura 174 - Piso de madeira Cumaru ............................................................ 156 Figura 175 - Porcelanato natural City of White ............................................... 157 Figura 176 - Ladrilhos hidráulicos .................................................................. 157 Figura 177 - Textura projetada ........................................................................ 158 Figura 178 - Chapisco aplicado em muro no quintal suburbano .................... 158 Figura 179 - Esquadrias .................................................................................. 159 Figura 180 - Residências no bairro de Oswaldo Cruz .................................... 160 Figura 181 – Cobogós envolvem a parede do auditório ................................. 160 Figura 182 - Residência no bairro de Cascadura ............................................ 161 Figura 183 - Residência no bairro de Guadalupe ............................................ 161 Figura 184 – Paineis de gradis ......................................................................... 162 Figura 185 - Gradis no patamar intermediário das rampas ............................. 162 Figura 186 - Divisórias móveis esbeltas ......................................................... 163 Figura 187 – Paineis moveis ........................................................................... 163 Figura 188 - Os três pilares da sustentabilidade ............................................. 164 Figura 189 - Bacia sanitária com duplo acionamento ..................................... 165 Figura 190 - Dispositivos economizadores ..................................................... 165 Figura 191 - Esquema do funcionamento do sistema de aproveitamento das águas pluviais em edificações .......................................................................... 166 Figura 192 - Durabilidade e economia do emprego de lâmpadas do tipo LED ........................................................................................................................... 167 Figura 193 - Canteiros suspensos .................................................................... 169 Figura 194 - Perspectiva dos canteiros suspensos ........................................... 169 Figura 195 - Jasmim-do-caribe ....................................................................... 170 Figura 196 - Jasmim-manga ............................................................................ 171 Figura 197 - Pata-de-vaca ............................................................................... 171 Figura 198 - Quaresmeira ............................................................................... 172 Figura 199 - Ipê-mirim .................................................................................... 172 Figura 200 - Resedá ........................................................................................ 173


Figura 201 - Aceroleira ................................................................................... 174 Figura 202 - Goiabeira .................................................................................... 175 Figura 203 - Caramboleira .............................................................................. 176 Figura 204 - Pitangueira .................................................................................. 175 Figura 205 - Mangueira ................................................................................... 176 Figura 206 - Louro-de-jardim ......................................................................... 176


LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Principais indicadores .................................................................... 43 Tabela 02 - Índice de Desenvolvimento Social (IDS) e seus indicadores constituintes ........................................................................................................ 44 Tabela 03 - Índice de progresso social na XV RA Madureira .......................... 45 Tabela 04 - Hábito de realizar atividades culturais por Área de Planejamento .................................................................................. 53 Tabela 05 - Participação em atividades artísticas ............................................. 53 Tabela 06 - Índices urbanísticos da ZR-5 .......................................................... 62 Tabela 07 - Dimensões mínimas para lajes nervuradas .................................. 142 Tabela 08 - Dimensões mínimas de TRRF para as lajes nervuradas da Atex Brasil ................................................................................................................ 142 Tabela 09 - Espessura da lâmina de concreto da fôrma nº 660........................ 143 Tabela 10 - Espessura (h) mínima para lajes lisas .......................................... 143 Tabela 11 - Taxa de ocupação de acordo com a natureza do local ................. 144 Tabela 12 - Valores indicativos de consumo predial diário ............................ 145 Tabela 13 - Quantidade mínima de contêineres .............................................. 148 Tabela 14 - Estimativas de produção diária de lixo por tipo de construção ... 149


LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Distribuição de equipamentos culturais por Área de Planejamento .................................................................................. 55 Gráfico 02 - Acesso à internet de acordo com a classe social .......................... 56 Gráfico 03 - Pontos de acesso à Internet por região de moradia ....................... 57 Gráfico 04 - Índice de acesso à Internet por perfil da população ..................... 57 Gráfico 05 - Condições de conforto térmico ................................................... 138 Gráfico 06 - Temperatura e zona de conforto ................................................. 139 Gráfico 07 - Precipitação de chuva mensal ..................................................... 139 Gráfico 08 - Aplicabilidade da ventilação natural por estação e por horário, na cidade do Rio de Janeiro .................................................................................. 168


SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8 CAPÍTULO 1 – O SUBÚRBIO CARIOCA ................................................... 10 1.1 – As variações e recorrências do significado de subúrbio ............................ 10 1.2 – O conceito carioca de subúrbio .................................................................. 14 1.3 – As reformas urbanas e a mudança repentina no significado de subúrbio .. 16 1.4 – Subúrbio, periferia e favela: significados e representações ...................... 19 1.5 – Representações e subjetividades no subúrbio carioca .............................. 21 1.6 – Cultura popular no subúrbio carioca: memórias, tradições e identidades 28 CAPÍTULO 2 – O BAIRRO DE MADUREIRA .......................................... 40 2.1 – Breve histórico .......................................................................................... 40 2.2 – Síntese com os principais indicadores sociais .......................................... 42 2.3 – Aspectos geográficos ................................................................................ 46 2.4 – Aspectos econômicos ................................................................................ 47 2.5 – Aspectos culturais ..................................................................................... 49 2.5.1 – Indicadores culturais .............................................................................. 52 2.5.2 – Equipamentos culturais ........................................................................... 54 2.6 – Uso de tecnologias .................................................................................... 56 CAPÍTULO 3 – INTERVENÇÃO: ESTUDO DO LUGAR ........................ 59 3.1 – O terreno .................................................................................................... 59 3.1.1 – Zoneamento e legislação edilícia ........................................................... 62 3.1.2 – Topografia .............................................................................................. 63 3.1.3 – Caracterização do entorno ...................................................................... 64 3.1.3.1 – Conforto ambiental .............................................................................. 65 3.2.3.2 – Cobertura vegetal ................................................................................ 66 3.2.3.3 – Cheios e vazios .................................................................................... 67 3.2.3.4 – Gabarito ............................................................................................... 68 3.2.3.5 – Uso e ocupação do solo ....................................................................... 69 3.2.3.6 – Hierarquia viária .................................................................................. 71


CAPÍTULO 4 – DIRETRIZES PROJETUAIS ............................................ 73 4.1 – Estudos de caso ......................................................................................... 73 4.1.1 – Nave do Conhecimento e Praça do Conhecimento ................................ 73 4.1.1.1 – Nave do Conhecimento Compositor Silas de Oliveira ....................... 74 4.1.1.2 – Praça do Conhecimento Gelson Domingos ........................................ 79 4.1.2 – Honório Gurgel Coletivo ........................................................................ 87 4.2 – Referências arquitetônicas ........................................................................ 92 4.2.1 – Laboratorio de Arquitectura y Paisaje: Parque Educativo Entrerríos (Colômbia) .......................................................................................................... 92 4.2.2 – Richard + Schoeller Architectes: Centro Cultural Sedan (França) ........ 97 4.2.3 – Brasil Arquitetura: Praça das Artes (São Paulo) .................................. 102 4.2.4 – Peter Zumthor: Pavilhão Suíço (Alemanha) ........................................ 106 CAPÍTULO 5 – PROPOSTA ARQUITETÔNICA .................................... 112 5.1 – Conceito .................................................................................................. 112 5.2 – Programa de Necessidades ...................................................................... 114 5.2.1 – Espaço das Artes .................................................................................. 114 5.2.2 – Espaço da Tecnologia ........................................................................... 116 5.2.3 – Espaço da Música ................................................................................. 117 5.2.4 – Espaço do Corpo .................................................................................. 118 5.2.5 – Espaço da Gastronomia ........................................................................ 119 5.2.6 – Administração ...................................................................................... 120 5.2.7 – Apoio logístico ..................................................................................... 121 5.3 – Modulação ............................................................................................... 122 5.4 – Zoneamento ............................................................................................. 123 5.5 –Fluxogramas ............................................................................................. 125 5.6 – Estudos iniciais ........................................................................................ 129 5.6.1 – Volumetria ............................................................................................ 129 5.6.2 – Implantação .......................................................................................... 131 CAPÍTULO 6 – MEMORIAL DESCRITIVO ............................................ 135 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 177 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 179


INTRODUÇÃO O subúrbio carioca se caracteriza por um modo de vida bastante peculiar, ainda presente nas áreas atravessadas pela linha férrea: os muros baixos, a cadeira colocada na calçada, os quintais com árvores frutíferas, jardins, a convivência entre os vizinhos e a relação dos moradores com a rua. É um território onde memória, identidade e tradição são validados na efervescência musical presente nas rodas de samba, no funk e no charme; no sincretismo religioso das festas, procissões e carreatas; na culinária de matriz afro-brasileira; nos botequins e pequenos comércios; no lúdico Carnaval dos bate-bolas. Esses valores imateriais, tão característicos da cultura suburbana e carioca, revelam como as representações culturais do subúrbio são múltiplas e manifestam diferentes estilos de vida. Madureira, bairro localizado no coração do subúrbio carioca, atua como um grande catalisador e propagador dessas manifestações, onde tradição e contemporaneidade se misturam. Convém ressaltar que a região desempenha um papel primordial no nascimento e consolidação do samba carioca e das manifestações culturais, religiosas e culinárias de matriz afro-brasileira. A partir da tríade memória-identidade-tradição, pretende-se desenvolver a proposta de um equipamento cultural no bairro com ênfase na sedimentação, promoção, divulgação e preservação da cultura do subúrbio carioca, levando-se em consideração este como lugar plástico, múltiplo, mutável, de criação e transformação permanente da paisagem. No capítulo inicial (Capítulo 1) pretende-se apresentar as variações e recorrências do significado de subúrbio, da Antiguidade às cidades europeias, americanas e latino-americanas; o conceito “carioca” de subúrbio, associado à presença do trem e de classe menos favorecida economicamente; as reformas urbanas e a mudança do conceito espacial e social de subúrbio; os significados e representações de subúrbio, periferia e favela. Finalizando o capítulo são transcritas manifestações culturais locais que contribuem para a manutenção da cultura do subúrbio, que se manifesta através das festas, da religiosidade, das comidas e da música promovidas em seus quintais, na rua, em diversos espaços. O Capítulo 2 retrata o bairro de Madureira, conhecido como "Capital do Subúrbio", “Coração da Zona Norte" e "Berço do Samba", referência para a cultura do subúrbio. Serão explorados alguns aspectos do bairro, importante centro comercial do subúrbio e referência para os bairros vizinhos.

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O Capítulo 3 aponta o terreno escolhido para o projeto seguido das justificativas de intervenção e análises urbanas. O Capítulo 4 objetiva identificar projetos de grande impacto social/cultural valendo-se de análises gráficas e visitas técnicas feitas com o intuito de observar os conceitos e as práticas que auxiliarão no desenvolvimento do programa físico-funcional e do projeto arquitetônico. Tais referências serão tomadas como premissas básicas para a concepção do Quintal da Cultura. O Capítulo 5 explicita o conceito da proposta, o programa de necessidades, o zoneamento e os fluxogramas das atividades previstas para o equipamento cultural. Por fim, apresenta uma solução volumétrica inicial. O Capítulo 6 apresenta o memorial descritivo do projeto, com os requisitos técnicos, materiais, iniciativas sustentáveis e demais particularidades.

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CAPÍTULO 1 – O SUBÚRBIO CARIOCA A palavra subúrbio sofreu, ao longo da sua história, expressivas mudanças em seu significado, distanciando-se do sentido geográfico (circunvizinhanças da cidade) para traduzir uma condição socioeconômica. Na cidade do Rio de Janeiro, o termo se apropriou de identidades particulares, transformando-se na representação social do carioca, afastando-se do rótulo espacial para resultar no conceito “carioca” de subúrbio, surgido em meados do Século XX. As reformas urbanas adotaram uma política discriminatória em relação ao subúrbio carioca que desde então passou a ser imaginado como o lugar do proletariado, desqualificando todo o processo histórico que engloba o significado de subúrbio. Os significados e representações de subúrbio, periferia e favela, apesar de guardarem algumas semelhanças, carregam expressivas diferenças que variam desde seus processos de formação até a significação atribuída pelos moradores. Esses significados e representações contribuem para a produção de abstrações e a construção de uma imagem absoluta do subúrbio carioca, com as tentativas de consolidar uma classificação sobre o subúrbio carioca e o suburbano, que luta para manter suas práticas culturais, por meio de festividades e celebrações, evidenciando sua história e sua cultura.

1.1 - As variações e recorrências do significado de subúrbio su·búr·bi·o1 (latim suburbium, -ii) s.m. Zona que fica próximo ou à volta de uma cidade ou de outra povoação. (Mais usado no plural.) = ARRABALDES, ARREDORES, CERCANIAS, REDONDEZAS

No antigo Egito, Babilônia ou Grécia, tratavam-se de espaços definidos por sua posição em relação à cidade, e na geografia dos romanos, como em toda parte, o subúrbio acomodou a produção agrícola e os espaços de vilegiatura e refúgio daqueles que poderiam se ausentar habitualmente das tensões, conflitos e insalubridades urbanas. Ao contrário do que veio a prevalecer posteriormente, o subúrbio não foi um lugar para onde deveriam mandar os excluídos da cidade. Em Roma, por exemplo, passar uma temporada na casa de campo, denominada vila, era algo alcançado por poucos. O uso do termo suburbiu 1

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013. Disponível em: <https://www.priberam.pt/dlpo/sub%C3%BArbio>. Acesso em 30 set. 2017.

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era bastante flexível, pois poderia se referir tanto às circunvizinhanças da cidade quanto a territórios provinciais. Nas grandes cidades da América Latina, a palavra suburbio é frequentemente utilizada para referir-se a áreas que não possuem todos os recursos das regiões centrais – principalmente relacionadas à ausência ou insuficiência de infraestrutura urbana (como energia elétrica, água encanada, esgoto, coleta de lixo, etc.) e equipamentos sociais (como instituições culturais e de saúde, assim como órgãos públicos). A palavra também é associada às regiões periféricas de perfil de renda baixa. Estas são mais aparentes nas grandes cidades, onde vários fatores como especulação imobiliária, exploração e alienação da força de trabalho, entre outros, levaram a ocupação de áreas mais distantes pela população mais pobre, em um processo paralelo ao da segregação.

Figura 01 – Subúrbio em Caracas, Venezuela. Fonte: <http://caracasshots.blogspot.com.br/>

Nos Estados Unidos, por outro lado, a palavra define em geral, áreas de baixa densidade, habitadas pelas classes média e média-alta: a partir da década de 1950, um número expressivo de habitantes de classes média e média-alta dos grandes núcleos metropolitanos passaram a migrar para os subúrbios em busca de espaço, conforto e segurança. Como consequência, a diversidade da população de diversas áreas metropolitanas importantes modificou-se de 11


maneira considerável. Algumas dessas áreas centrais passaram, inclusive, a ter o predomínio de uma população de renda mais baixa. O uso coloquial da palavra suburb acabou por abreviála para a expressão burb que surgiu nos anos 1970 em Chicago.

Figura 02 – Lutherville, um dos subúrbios de Baltimore, em Maryland. Fonte: <https://estadosunidosbrasil.com/>

Na Inglaterra a ferrovia desempenhou um papel crucial: a extensão das linhas ferroviárias acabou por estimular a preferência dos ingleses por casas isoladas e alguns empreendedores passaram a atender essa demanda construindo loteamentos afastados e, logo a seguir, os londrinos começaram a colonizar uma série de localidades em torno do centro urbano. O subúrbio de Hampstead é um exemplo notável de uma área bem cuidada e ocupada por uma população afluente.

Figura 03 - Back Lane, Hampstead. Fonte: <http://www.camdenreview.com/>

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Na França, o banlieue2 descreve mais frequentemente áreas de edifícios de apartamentos, com alta densidade, para habitantes de baixa-renda. O processo de urbanização dos banlieues não se deu sem profundas consequências sociais: aumentando o território habitado e habitável, formou-se um espaço que facilmente poderia se tornar um espaço de exclusão social. Na cidade de Paris o banlieue está estreitamente ligado ao fenômeno do transporte de massas, e, mais precisamente, às ferrovias, implantadas a partir do século XIX: as ferrovias foram um importante instrumento de urbanização. Ao longo dos trilhos ou em torno das estações, ruas foram abertas, praças foram criadas, permitindo, assim, o surgimento de novos bairros.

Figura 04 – Banlieue em Le Vieux-Pays de Goussainville, França. Fonte: <http://francais-express.com/>

A relação entre classe social e subúrbio, identificando o subúrbio como um lugar nãomoderno, desprestigiado social e economicamente, não é algo particular da cidade do Rio de Janeiro. Em alguns países em desenvolvimento, como a Venezuela, o subúrbio é traduzido como um lugar carente de recursos de infraestrutura. Nos países desenvolvidos, como nos Estados Unidos e Inglaterra, a situação é completamente inversa: tornaram-se ambientes confortáveis e salubres e relativamente próximos do centro urbano. Na cidade do Rio de Janeiro, essa relação ganhou uma interpretação particular, ultrapassando o sentido etimológico da palavra, culminado no conceito “carioca” de subúrbio.

ban.lieue [s.f] periferia, subúrbio: j’habite dans la banlieue de Paris / eu moro na periferia de Paris: j’habite en banlieue / eu moro na periferia. In: Dicionário Michaelis <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 30 set. 2017 2

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1.2 – O conceito carioca de subúrbio O conceito de “subúrbio” adquiriu um significado singular na cidade do Rio de Janeiro. Ele ultrapassa a etimologia da palavra e o sentido geográfico do termo e não se refere, necessariamente, a um bairro localizado longe do centro, nos arrabaldes da cidade. É importante esclarecer e desmistificar o termo, pois, na identificação do que é subúrbio hoje no Rio de Janeiro, há uma roupagem própria, um estereótipo, e um peso ideológico muito forte. (OLIVEIRA, 2013) Desde os anos 1960, a geógrafa Maria Therezinha de Segadas Soares desenvolveu um interessante estudo sobre o significado do subúrbio no Rio de Janeiro, geográfica e socialmente. Como categoria geográfica, a autora já considerava subúrbio os municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias e o bairro de Santa Cruz. Para ela, havia uma discrepância ao comparar esses com os bairros populares e ferroviários situados dentro da área urbana do Rio de Janeiro. Além disso, o emprego da palavra subúrbio em bairros que margeiam as linhas de trem, a exemplo da Europa e dos Estados Unidos, está associado às classes médias e altas. A partir dessas observações, ela justificou a formulação de um conceito “carioca” de subúrbio, particular, já que existem diferenças entre a palavra e a realidade vivida no lugar. A palavra subúrbio assumiu o significado carioca quando passou a ser definida por três fatores: o transporte ferroviário como meio de acesso, o predomínio de uma população menos favorecida, no que diz respeito à renda, e, por último, dependência e frequência das relações com o centro da cidade. Estes fatores consolidaram a palavra subúrbio, que no caso da cidade do Rio de Janeiro se tornaria o conceito carioca de subúrbio, explorado pela geógrafa, amplamente discutido e representado para além do campo acadêmico. Dos elementos que compõem o sentido original e geral de subúrbio, observamos que o seu sentido geográfico – um espaço situado à margem, nas bordas, extramuros – é o mais constante em sua história, porém abstraído completamente quando é convertido no conceito carioca de subúrbio. Outro aspecto que configura o conceito carioca de subúrbio é a sua referência quase que exclusiva e obrigatória para os bairros ferroviários e populares do Rio de Janeiro. A identidade entre subúrbio e transporte ferroviário é tão forte [...] que não se denomina subúrbio onde não há trem, mesmo que sejam áreas periféricas, com baixa densidade populacional e outras características próprias aos subúrbios em geral (FERNANDES, 2011, p.35)

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Figura 05 – Bairro de Marechal Hermes. Fonte: Revista Subúrbios Cariocas, FAU UFRJ, 2010.

Outra observação interessante é que não se associa o termo subúrbio aos setores ocupados e identificados pela classe média alta (Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Tijuca e os bairros da Zona Sul): nas últimas décadas do século XX, a Barra da Tijuca não foi considerada um subúrbio no linguajar comum, na imprensa e em estudos de geografia urbana. O geógrafo Maurício de Almeida Abreu (1987) sublinha que apesar de constituir bairro periférico, a Barra da Tijuca está, todavia, sendo ocupada por classes de alta renda, o que leva a crer que, em futuro próximo, será parte do núcleo metropolitano. Tal pensamento nos leva à conclusão que, de fato, há uma espécie de impedimento à imaginação no que diz respeito à existência de subúrbios de classes abastadas no Rio de Janeiro: é a classe social que impõe o que é subúrbio, a geografia não importa, a tal ponto de a posição excêntrica e claramente suburbana da Barra da Tijuca ser vista como um acidente, algo fora dos nossos padrões e difícil de ser admitido. (FERNANDES, 2011) 15


O significado de subúrbio no Rio de Janeiro envolve diretamente as relações entre o espaço e a ideologia: a história da produção do conceito carioca de subúrbio demonstra que os significados, conceitos, a própria linguagem são produtos sociais e que sua história é um indicador preciso dos discursos de cada época, pois há um intercâmbio entre a realidade socioespacial e suas representações, de tal forma que elas participam, concomitantemente, da construção do espaço social. A abrupta mudança do significado espacial e social de subúrbio, em meio às reformas urbanas no início do século XX, anuncia a conversão do significado de subúrbio como lugar do proletariado e das classes sociais menos favorecidas. 1.3 – As reformas urbanas e a mudança repentina no significado de subúrbio Abreu (1987) sentencia que nas últimas décadas do século XIX, quando a ocupação social do subúrbio se efetiva razoavelmente, que se desenvolve um processo de “abertura do subúrbio ao proletariado”. A partir dessa época, precisamente em meio às reformas urbanas do prefeito Pereira Passos, que se anuncia a mudança do significado espacial e social de subúrbio e a repentina mudança em seu significado. De agora em diante, a palavra deixou de ser usada na representação de todos os espaços circunvizinhos à cidade para se fixar exclusivamente naqueles do Norte e do Oeste, servidos pela ferrovia. O subúrbio, em termos sociais, passa a traduzir o espaço idealizado como lugar do proletariado e das indústrias, denotando o ambiente das classes sociais e atividades rechaçadas pela cidade. O caráter repentino da mudança do significado da palavra subúrbio noticia, simultaneamente, as transformações vividas por ele e no espaço da cidade, quando o subúrbio deixa de ser um lugar da vida feliz e proveitosa de outrora e passa a representar o “refúgio dos infelizes”: O subúrbio é o refúgio dos infelizes. Os que perderam o emprego, as fortunas; os que faliram nos negócios, enfim, todos os que perderam sua situação normal vão se aninhar lá; e todos os dias bem cedo, lá descem a procura de seus amigos fiéis que os amparem, que lhes deem alguma coisa, para o sustento seu e de seus filhos. (BARRETO, 2012, p.188)

O trecho acima, que faz parte do romance Clara dos Anjos escrito por Lima Barreto, exemplifica o modo com o qual a palavra subúrbio refletiu as mudanças da realidade social, pois foi a partir deste momento que o subúrbio ferroviário começou a ser relacionado aos pobres e aos desprestigio político e social. Este é o momento em que surge uma política territorial pautada pela escassez de investimentos públicos e privados para o subúrbio, agora visto como lugar de pobres. 16


A Reforma Passos inaugurou um processo de ordenação de investimentos públicos injusto, socioespacialmente concentrador em níveis muito elevados, ponto de partida do modelo e da racionalidade política que orientou a urbanização brasileira no século XX. Adotou-se uma política discriminatória em relação ao subúrbio ferroviário, que desde então passou a ser imaginado como o lugar do proletariado. No entanto, nos anos e nas décadas posteriores, a Reforma Passos transformou-se em revolta e lamento, com o metódico privilégio e favorecimento das áreas centrais da cidade, sobretudo da Zona Sul, quando se tratava da implantação de infraestrutura urbana. As queixas e lamentações culminaram no motim urbano conhecido como a Revolta da Vacina (1904), que teve dentre as suas causas a destruição de bairros populares pela Reforma Passos. São esses elementos que contribuem para estabelecer historicamente a súbita mudança no significado de subúrbio no Rio de Janeiro e mais tarde no conceito carioca de subúrbio.

Figura 06 – O “Bota-abaixo”: reformas forçaram populações a buscar refúgio nos subúrbios Fonte: < https://catracalivre.com.br>

A Reforma Passos é o momento em que se dá a transformação do significado de subúrbio, o que ocasionaria mais tarde o conceito carioca de subúrbio. No entanto, isso não significa que ela tenha aí se concretizado: ainda na década de 1920, o prefeito Carlos Sampaio designou seu projeto de bairro de palacetes (às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas), com a palavra subúrbio, palavra esta que não se usava para conceituar periferias urbanas que estavam sendo destinadas para as elites. 17


A própria legislação de zoneamento municipal de 1917, criada pelo prefeito Amaro Cavalcanti, tinha definido que a Lagoa pertencia à zona urbana. E Carlos Sampaio […] foi um dos protagonistas das reformas urbanas no Rio de Janeiro. Seu nome está intimamente às transformações elitistas do espaço urbano em busca de uma cidade segregada em áreas para os diversos usos e classes sociais […]. Seguramente ele não desconhecia que no linguajar carioca a palavra subúrbio vinha assumindo um conteúdo proletário. (FERNANDES, 2011. p. 63)

O registro deixado por Sampaio é um forte indício que ainda nos anos 20 do século passado eram produzidos discursos em que a palavra subúrbio representava áreas peri-urbanas destinadas à utilização das elites, uma das mais corriqueiras funções suburbanas, não acolhendo, necessária e exclusivamente, o significado de bairros populares providos por ferrovias onde não há sofisticação e cultura, ainda que este conteúdo fosse propenso a ocupar, cada vez mais completamente, seu significado. Não havia, ou melhor, não estava consolidada ainda uma imaginação geográfica e social que tornou cabível e natural o conceito carioca de subúrbio. Um dos passos incontestáveis para a consumação da mudança de significado de subúrbio veio com o plano urbanístico – anunciado como o primeiro plano diretor da cidade – que o prefeito Prado Júnior encomendou ao urbanista francês Alfred Agache, em 1927. O Plano Agache pressuporia que: a área central da cidade deveria ser ocupada pelo Bairro das Embaixadas, o Centro de Negócios, o Centro Bancário e o Centro Monumental implicando em mais demolições, desapropriações e destruição de áreas populares sobreviventes às reformas de Passos (1902-1906), Paulo de Frontin (1909) e Carlos Sampaio (1920-1922). É interessante frisar que Agache preferiu utilizar o termo “cidade jardim de deportes” (nome que jamais saiu de seu plano) em vez de subúrbios, como fez Sampaio. Ele não teve nenhuma preocupação com a conceituação mais tradicional e geral de subúrbio, adotando a versão carioca deste conceito, além de ratificar o processo de segregação do proletariado nos bairros ferroviários, consagrando estes como subúrbios. Posteriormente, durante o Estado Novo (1937-1945), foram implantadas medidas que consagraram o subúrbio como do proletariado. Conclui-se que a palavra subúrbio deixou de ser uma representação de uma parte do espaço urbano do Rio de Janeiro identificada com as classes populares para se transformar em causa de uma campanha de discriminação política empreendida pelas lideranças econômicas e políticas, quase sempre estabelecidas na região central do município. Tal ação retirou ou desqualificou todo um processo histórico que tornou confuso o próprio significado de subúrbio e a sua aproximação com os significados e representações de periferia e favela.

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1.4 – Subúrbio, periferia e favela: significados e representações Subúrbio, periferia e favela são termos usados vez ou outra para designar o lugar de moradia dos pobres da cidade, tanto pela literatura acadêmica, quanto pelo pensamento comum. Mas embora pareçam significar a mesma coisa, há expressivas diferenças que variam desde o processo de formação e desenvolvimento desses locais até a forma de significação atribuída pelos seus moradores. Os significados de subúrbio e periferia urbana foram vulgarizados e confundidos de tal forma que ainda é difícil encontrar uma definição clara e objetiva. O significado de subúrbio foi substituído e confundido pela noção de periferia. Partindo-se dessa premissa, a noção de periferia, alimentada pelo próprio subúrbio, permitiu identificar a mesma como um lugar distinto, o extremo da urbanização degradada, isto é, das habitações precárias, inacabadas, provisórias, da falta de infraestrutura que surgiu nos anos 1960. Segundo Martins (apud CHAO; MAIA, 2016, p.152), a periferia é a designação dos espaços caracterizados pela urbanização patológica, pela negação do propriamente urbano e de um modo de habitar e viver urbanos. O senso comum define periferia como tudo o que não é urbano, ideia compartilhada pelo meio acadêmico. Sociólogos, historiadores e até geógrafos esqueceram de definir de forma precisa o significado de subúrbio. Para eles, aquilo que não é subúrbio é apenas periferia, simplesmente. O subúrbio foi desconsiderado como conceito útil que dá conta de uma problemática social particular. Assim, os cientistas sociais priorizaram pela noção pobre e empobrecida de periferia. Na tentativa de desfazer esta confusão entre subúrbio e periferia, Martins (apud CHAO; MAIA, 2016, p.152) encontra pelo menos uma distinção espacial:

No subúrbio, diferentemente da periferia, os lotes são maiores, as casas possuem quintais, sendo isto um resíduo do rural. Ou seja, o rural ainda permanecendo no urbano com as hortas e os galinheiros, o forno de pão e os jardins de flores. Em contraste, a periferia é resultado da especulação imobiliária: as casas pequenas, as ruas estreitas, sem praças e sem plantas, terrenos reduzidos e sujeiras.

A periferia se define pela sua condição de dependência do centro. O subúrbio seria apenas uma variação da periferia, moderadamente urbanizado: é um território indefinido, mutável e em transição. Um território potencialmente urbano, mas que ainda não é por completo e que pode ser ocupado pelo crescimento urbano anárquico ou planejado: o subúrbio é a margem do urbano. Contém uma nova sociabilidade, uma nova concepção de espaço, dividido entre o urbano e o rural. Os significados de subúrbio e periferia foram perdendo sua capacidade explicativa à medida que as independências econômica, cultural e social, entre centro, subúrbio e/ou periferia 19


foram sendo valorizados. Não podem mais estar “à margem do urbano”, já que falamos de territórios em constante transição e crescimento, cada vez mais independentes das áreas centrais, ainda que em ritmos diferentes. A favela e a periferia, embora guardem aproximações, dentro da perspectiva entre a especulação imobiliária e a definição do espaço urbano, são diferentes umas das outras. A favela é entendida como o último refúgio para muitos moradores, a única forma encontrada para sobreviver na cidade. Além das diferenças em termos de processos de formação, configuração do espaço físico e poder aquisitivo, também há a diferença no plano simbólico. A palavra favela remete a uma série de símbolos negativos, marcada pela violência, pelo tráfico de drogas, lugar de miséria e dificuldades. A periferia seria uma categoria distinta: o favelado passou a ser mais pobre que o pobre morador da periferia, constituindo uma importante referência para a diferenciação interna na localidade (ÁVILA, 2006). Diferentemente do subúrbio, não houve uma mudança ou conversão radical na representação da favela. O que mudou na trajetória da representação da favela foi a forma de considerar a pobreza e sua relação com a cidade, apresentando ambiguidades que em parte podem ser compreendidas a partir da contextualização em alguns momentos históricos. À medida que a cidade se consolidou como projeto segregador e elitizante, finda a era Pereira Passos, o favelado adquiriu uma nova representação, ambígua, típica dos anos 1920. Com a chegada dos anos 1930, outras ambiguidades surgiram na ressignificação do “trabalhador” e do migrante rural, com sua “ignorância urbana”. Na primeira situação tratava-se de absorver o favelado na ideologia do “homem novo”, no projeto urbano industrial da era Vargas, com sua definição de trabalhador regulamentado (SILVA, 2010, p.177). Ou seja, o trabalhador que é sindicalizado e/ou associado. Os demais foram classificados em vários grupos: os dos migrantes, dos vagabundos e criminosos. O subúrbio tornou-se o lugar para onde deve ir o pobre e não para as tenebrosas favelas. De um lado, as representações do subúrbio são em grande parte as do lugar da precária urbanização; de outro é importante ressaltar que em sua origem era identificado como favela: a “desordem” urbana, característica da favela também ocorre nos subúrbios. No final da década de 1950, estabeleceu-se a relação subúrbio-indústria-proletariado nas áreas dos caminhos do deslocamento das indústrias, com a tendência de representar a favela suburbana da Zona Norte como aquela composta pelo proletariado e as favelas da Zona Sul como localidades compostas principalmente por operários da construção civil e empregados de serviços domésticos. A representação das favelas, especialmente localizadas fora das áreas 20


elitizadas da cidade, mesmo com as ambiguidades em sua representação, nunca deixou de estar delimitada no campo das classes populares, pois a favela já se origina como a “parte pecadora” da cidade. Esses significados e representações contribuíram para a produção de subjetividades e a construção de uma representação hegemônica do subúrbio carioca, sedimentando as tentativas de fixar e construir uma classificação sobre o subúrbio carioca e sobre o suburbano.

1.5 - Representações e subjetividades no subúrbio carioca O subúrbio engloba um conjunto de representações e ressignificações que são vivas na coletividade, ainda que heterogêneas. As vivências suburbanas perseveram, nas suas formas de ver e experimentar o mundo, vivências que nos fazem repensar um real sentido para as fronteiras materiais e subjetivas delimitadas da cidade. O subúrbio carioca deixa de ser uma representação do lugar que não é Centro/Zona Sul, e assume-se como uma potência múltipla transitando pelos territórios da cidade. Diante desse contexto, o subúrbio carioca se apresenta como uma arma de potência social e de luta urbana. As relações que visam um lugar suburbano podem surgir ou se desfazer conforme a necessidade de um determinado panorama, dada a multiplicidade do território: lugares podem se construir em camadas, se sobrepor. Distintas singularidades podem habitar um mesmo espaço. O botequim se transforma em cinema, o quintal se torna um salão festivo e a rua vira campo de futebol. O suburbano, a partir da sua cultura e costumes, estabelece um mapa de afetos capaz de manter o modo de vida do subúrbio vivo, ressignificando-o a cada nova manifestação. Ao pensarmos em afetos, estamos consideramos um campo de forças e impulsos onde alimentamos nossas vidas, de forma a construir significados e elaborar sentido para a vida.

Os afetos nos tornam capazes de modificar a perspectiva sobre a vida, e construir um olhar de resistência cotidiana sobre a estrutura. Uma resistência que pode operar nos enlaces de nossa construção cultural, das nossas produções de arte e estética, em resumo, cremos que através dos afetos constituídos os Subúrbios, a partir de nossas múltiplas vivências urbanas. (RIBEIRO, 2016)

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Figura 07 - Mapa afetivo do subúrbio carioca3. Fonte: Elaborado pela autora, 2017

O subúrbio é entendido, no campo das subjetividades, como um lugar do trem, do samba e futebol, do botequim e de diversas manifestações cotidianas que refletem o ser carioca. Alguns indícios de significações podem nos auxiliar a considerar a imagem de um estereótipo suburbano que se constitui ainda hoje no Rio de Janeiro. Ao pensarmos sobre esses indícios, é necessário que se enuncie as tentativas de estratificar e construir uma classificação sobre o

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Mapa inspirado no Kit de sobrevivência do Subúrbio, in: Rizomas Suburbanos, Rodrigo Cunha Bertamé, p. 31, 2016.

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subúrbio carioca e o suburbano e como essas significações afetam a formação de um plano de subjetividades que contribuem para a manutenção de uma cidade segregada. Para entendermos a produção de subjetividades e a construção de uma representação hegemônica do subúrbio carioca, é necessário investigar alguns indícios atemporais do significado de subúrbio na cidade do Rio de Janeiro, evidenciados pela TV, cinema, literatura e web.

Figura 08 - Estereótipos do subúrbio. Fonte: Elaborada pela autora, 2017

As representações caricaturais cometidas pelos programas de TV muitas vezes, colocam o suburbano na condição de estar à margem, produzindo estereótipos. É a partir desses estereótipos que a TV vende uma imagem do excêntrico morador da cidade. Assim vemos o exagero em seriados, como Os Suburbanos e Vai que Cola, ambos exibidos atualmente pelo canal Multishow (Globosat).

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Figura 09 – Cena da série Os Suburbanos. Fonte: <http://www.encenese.com.br/>

Figura 10 – Cena do sitcom Vai Que Cola. Fonte: <http://observatoriodoaudiovisual.com.br/>

A novela Avenida Brasil, exibida pela TV Globo no ano de 2012, preserva uma referência dupla, simbolizando ao mesmo tempo um recorte local e um nacional. Representa, assim, o subúrbio carioca referenciado pela Avenida homônima, importante eixo de expansão da cidade em direção ao subúrbio, como também carrega ligação com o país a partir da nomenclatura. O bairro fictício do Divino tem na novela somado a forte aceitação da mesma entre a massa da população e apesar do suburbano retratado na novela ainda ser uma representação caricatural, 24


existe uma paisagem suburbana ganhando certo destaque. O subúrbio é apresentado a todos através de seus moradores.

Figura 11 – Cena da novela Avenida Brasil, 2012. Fonte: <https://gshow.globo.com/>

Há outros traçados representativos do subúrbio que ganham reconhecimento popular mais facilmente, como é o caso da série Suburbia (2012), exibida pela TV Globo. A série mistura temporalidades, provoca indefinição entre o ficcional e o real, sublinhando as dimensões do afeto e da fé em um determinado tipo de comunidade do subúrbio carioca (Madureira). A série não foca em criar personagens a partir de um exagero caricatural. Ao contrário, seus personagens são elaborados dentro de ilusão possível, o que acaba por favorecer a aceitação popular movida pela familiaridade com os cotidianos imagináveis que são vivenciados no seriado.

Figura 12 – Cena da série Suburbia. Fonte: <https://oglobo.globo.com/>

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O filme Rio, Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos, evidencia o subúrbio por meio do ponto de vista do favelado, negro e pobre. O subúrbio é visto pelo diretor não apenas como sinônimo de Zona Norte, mas como uma forma de englobar toda uma população carente de recursos necessários para a expressão da cidadania.

Figura 13 – Cena do filme Rio, Zona Norte. Fonte: <https://cineola.wordpress.com/>

O romance Clara dos Anjos (1948), de Lima Barreto, escrito em um momento de intensa transformação das relações sociais no espaço urbano, é um dos testemunhos mais expressivos da exclusão dos subúrbios do restante da cidade, bem como das relações construídas entre os moradores no espaço suburbano, da cidade como espaço de tensões e das diferentes hierarquizações sociais dentro e fora dos subúrbios. Um subúrbio visto e sentido com profundidade: personagens com alma, classes sociais em conflito, múltiplo. A carência e o abandono são vistos em um território com tensões e dinâmicas próprias. A gente pobre é difícil de se suportar mutuamente; por qualquer ninharia, encontrando ponto de honra, brigando, especialmente as mulheres. O estado de irritabilidade, provindo das constantes dificuldades por que passam, a incapacidade de encontrar fora do seu habitual campo de visão motivo para o seu mal-estar, fazem-nas descarregar as suas queixas, em forma de desaforos velados, nas vizinhas com que antipatizam por lhes parecer mais felizes. [...] Uma diferença acidental de cor é causa para que possa se julgar superior à vizinha; o fato do marido desta ganhar mais do que o daquela é outro. [...] Por esse intrincado de ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existência o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inúteis e suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro. (BARRETO, p.184-185)

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É notória que as evidências citadas contribuam para a criação de uma imagem do subúrbio que ocorre de forma integrada às outras forças hegemônicas atuantes na cidade. Os diversos meios de comunicação operam de forma espontânea dentro de um campo de ambiguidades que podem passar despercebidas, mas que no decorrer das construções das subjetividades vão deixando pequenos vestígios na cidade. Um exemplo interessante é a página em uma rede social chamada Suburbano da Depressão. Criada em 2012, narra com humor elementos do cotidiano de bairros das Zonas Norte e Oeste da cidade. As reflexões ácidas sobre comportamento, transporte público, relações sociais e religiosidade, publicadas pelo estudante de História Vitor Almeida, de 28 anos, ironizam o próprio suburbano, que deprecia o espaço onde vive em comparação a outras áreas da cidade. O carioca costuma associar o subúrbio à presença da linha do trem, rechaçada por ser um meio de transporte de operários para o trabalho, mas ele não se resume a isso. Muitos bairros do subúrbio não são servidos pela linha férrea, e ela é produto de uma cidade do crescimento destas regiões, e não indutora dele. (Vitor Almeida, em entrevista ao Jornal O Globo)

Na definição abrangente de Vitor, subúrbio é tudo aquilo que não está no Centro ou na Zona Sul da cidade. Desta maneira, cariocas muito orgulhosos de seu pedaço de terra, como moradores da Tijuca e da Ilha do Governador, que costumam rejeitar a definição de suburbanos por sua carga pejorativa, estão incluídos nela.

Figura 14 – Postagem da página Suburbano da Depressão, jan. 2016. Fonte: <https://www.facebook.com/SuburbanoDaDepressao/>

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Indiscutivelmente, constatamos que o processo de desenvolvimento da cidade permitiu a possibilidade de refletirmos o papel do subúrbio hoje como uma proposição coletiva destes que se declaram suburbanos. Diante do poder hegemônico que recorta, delimita e territorializa o suburbano por uma gama de subjetividades que colaboram com a justificativa de um processo de segregação espacial, moradores que se representam como suburbanos vão traçando novos caminhos em torno do subúrbio e o fazer-se suburbano. Há entre os suburbanos uma forte e ativa identidade de bairro, utilizada estrategicamente para ampliar o prestígio e a associação a estilos de vida e a instituições de grande valor simbólico, como clubes, escolas de samba e festas religiosas. Esse apego à identidade de bairro que propicia tipos específicos de vida urbana, em que a localidade é de extrema importância para a apreensão do mundo, não é restrito ao subúrbio carioca, evidentemente. Contudo, especificamente nessa região, pode-se observar uma luta constante dos atores locais pela manutenção e reinvenção dessas identidades de bairro, por meio de festividades e celebrações que se espalham nos seus territórios simbólicos para ressaltar sua história e suas contribuições culturais e sociais para toda a cidade. 1.6 – Cultura popular no subúrbio carioca: memórias, tradições e identidades Alguns lugares abrem espaço para que o ontem e o hoje se aproximem. Esse é o caso dos bairros do subúrbio carioca. O subúrbio transformou-se, ao longo dos anos, numa área residencial para as camadas mais pobres. Subordinados a esse processo estavam a construção de diversas vilas operárias; o papel desempenhado pelos trens e bondes, e o custo mais baixo das moradias. Os espaços de lazer e encontro foram forjados pelos seus moradores, que conservaram a tradição dos festejos rurais. As festas até os dias de hoje têm um elemento muito forte de coesão social nessa região. A religião é parte importante da vida desses indivíduos. A manutenção de suas crenças e práticas religiosas têm uma dimensão fundamental na organização de suas vidas, como a devoção à São Jorge e São Cosme e Damião. A fé e respeito a São Jorge, o “Santo Guerreiro”, identificado no sincretismo religioso como Ogum, orixá ferreiro e senhor do fogo, é tão popular que está incorporado ao modo de vida carioca, sobretudo no subúrbio: na música, nas preces, nas religiões católicas, naquelas de cunho africana e espíritas, nas escolas de samba e na comida. A festa, realizada no dia 23 de abril, começa bem cedo, com alvorada de fogos às 5h e as celebrações seguem durante o dia em diversos bairros do subúrbio. 28


Figuras 15 e 16 – À esquerda, festa em Madureira; à direita, Igreja de São Jorge, em Quintino. Fontes: <https://ofuxico.com/> e o <https://globo.com/>, respectivamente

A distribuição de saquinhos com guloseimas em homenagem aos santos católicos São Cosme e São Damião e dos orixás Ibejis nas religiões de matriz africana é comemorado no dia 27 de setembro e as crianças são as grandes homenageadas, com brindes e guloseimas, distribuídos em casas e pelas ruas. No subúrbio, a tradição de doar doces é mantida pelos adultos e preservada também na memória de quem viveu na região durante a infância. Assim como São Jorge, São Cosme e São Damião possuem uma ligação muito forte com as religiões afros.

Figura 17 – Crianças saem às ruas em busca de doces. Fonte: <https://extra.globo.com/>

Os festejos reafirmam valores e símbolos da comunidade. Estes espaços se constituem como um laboratório constante para novas experiências estéticas. Neste ambiente, marcado pelo sincretismo religioso, um dos festejos mais celebrados é a devoção a Iemanjá, conhecida como

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a rainha e protetora do mar, considerada uma das entidades femininas mais importantes e populares cultuadas no Brasil e cuja festa é celebrada país afora no dia 2 de fevereiro. No subúrbio, a grande festa cultural e religiosa começa no Mercadão de Madureira, onde representantes de várias casas de candomblé e umbanda se reúnem e colocam as oferendas no caminhão com a grande imagem de Iemanjá. A carreata parte de Madureira e cruza a cidade até a Praia de Copacabana, na Zona Sul.

Figura 18 – Carreata de Iemanjá parte de Madureira até a Zona Sul. Fonte: <https://g1.globo.com/>

Imaginar festas, encontros e reuniões nesses bairros nos leva a perceber a relevância do território na definição de identidades baseadas em memórias que permitiram que tradições figurassem entre tantas práticas e nos leva também a pensar na memória que foi o fundamento destas instituições criadas a partir de tradições, ritmos e novidades. (CID, 2016) O subúrbio vem dando lugar a novos modelos e fenômenos culturais na contemporaneidade, que ocupam as quadras das escolas de samba, ruas, viadutos e os quintais dos moradores. O samba, jongo, religião e culinária solidificaram-se nos quintais e nas ruas do subúrbio, no trem e nos espaços reservados para cultuar a fé. As festividades de bairro, como o do Trem do Samba4 e a Feira das Yabás, em Oswaldo Cruz, e o grupo de jongueiros da Serrinha, são exemplos notórios desses fenômenos.

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Iniciativa cultural idealizada pelo sambista, cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz em 1996, que recria a viagem de trem feita por Paulo da Portela e outros negros sambistas que, no início do século, cantavam para fugir da repressão policial ao samba. Essa viagem começava na região central da cidade rumo ao subúrbio de Rio das Pedras, atual bairro de Oswaldo Cruz, Zona Norte do Rio. Disponível em: <https://tremdosambaoficial.com.br/> . Acesso em: 02 out. 2017

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Figura 19 – Sambistas tocam dentro do Trem do Samba no Dia Nacional do Samba. Fonte: <https://carnaval.uol.com.br/>

Na história do samba, o trem estabelece mais um espaço de socialização e representatividade histórica e cultural, contribuindo para a memória da região. Nesse contexto, o Trem do Samba revive e reinventa a cultura do samba. O jongo, uma amostra afro-brasileira de origem banto, com apresentação de tambores, canto, palmas e dança é uma manifestação popular com uma deslumbrante historicidade e riquezas artística, social e cultural. Em 2005, foi registrado como Patrimônio Imaterial do Sudeste pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN)5. É encontrado em diversos lugares no Brasil, em comunidades quilombolas. Suas amostras locais são parecidas, mas nunca iguais; cada comunidade possui seus instrumentos musicais principais, seu modo de dançar, sua forma de fazer e colocar os pontos na roda de jongo. A comunidade jongueira da Serrinha, no ano de 2001, articulou-se para cria, em parceria com a Prefeitura do Rio, possibilitou a criação do Centro Cultural Jongo da Serrinha e da Escola de Jongo, com a finalidade de dar novas perspectivas aos jovens das comunidades, tão afetados pela pobreza e violência. A visibilidade trazida para a comunidade contribuiu para o fortalecimento da identidade local, nutrida pela memória coletiva da comunidade, guardadas por suas famílias fundadoras.

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Titulação do Jongo no Sudeste – Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/>. Acesso em 20 nov. 2017

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Figura 20 – Roda de jongo na comunidade da Serrinha. Fonte: <https://revistadedanca.com.br/>

Fazer o exercício de imaginar uma roda de samba, atributo originado do jongo, levou à construção de uma das instituições mais fortes no imaginário do ser carioca: as escolas de samba. É certo que o território impactou na constituição de memórias, tradições e histórias individuais e coletivas. Não é à toa que duas das principais escolas de samba que surgiram na primeira metade do Século XX, Portela e Império Serrano, carregam consigo a identidade de subúrbio.

Figura 21 – Ensaio técnico da Escola de Samba Portela, em Madureira. Foto: Acervo pessoal

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O quintal é visto como um lugar mítico, onde surgiu o samba, que assim se fez a partir de abstrações individuais e coletivas. A Escola de Samba Império Serrano reforçou esta ideia quando anunciou o samba-enredo para o Carnaval 2017:

[...] Um pescador de varanda/ A admirar pacus à sombra dos Cambarás/ Tocador de viola quebrada em casa de madeira/ Ela possui orgulho de suas árvores e flores/ Este quintal mantém nossos delimites de viver. (Império Serrano 2017 – MEU QUINTAL É MAIOR DO QUE O MUNDO!)

Figura 22 – Cartaz do samba-enredo 2017 da Escola de Samba Império Serrano. Fonte: <https://radioarquibancada.com.br/>

Os quintais suburbanos não possuem a mesma conotação dos dicionários, mas sim um espaço de reunião social para as tarefas do dia-a-dia, como também para momentos lúdicos, não apenas marcados pelas rodas de samba, mas pelas bebidas e iguarias servidas. No samba, a comida é elevada a outro status: equivale a viver, preservar, comunicar e reforçar as memórias individuais e coletivas. A comida concebe a criação e as Escolas de Samba, formadas em torno dessas reuniões festivas, bem como muitas associações, são regadas a petiscos, cervejas, almoços e jantares. O próprio samba registra essa ligação íntima [...] (SILVA; RANGEL, 2017, p. 52)

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Os sambistas não se contentaram com as rodas de samba nas quadras das Escolas de Samba e nos quintais, uma vez que levaram para o espaço público, para a rua, sua cultura musical e gastronômica para a contemplação de moradores e visitantes, surgindo então a Feira das Yabás6, na Praça Paulo da Portela, em Oswaldo Cruz. Realizada no segundo domingo de cada mês, com boa música, culinária típica do subúrbio e pratos de origem africana, os frequentadores compartilham do evento sob o comando das matriarcas das famílias mais importantes e tradicionais do subúrbio. As “tias”, habilidosas cozinheiras que fazem parte do mundo do samba, mantém vivo os aspectos das culturas de matrizes africanas.

Figura 23 – Uma das barracas da Feira das Yabás. Fonte: <https://catracalivre.com.br/>

Quando se fala no carnaval no Rio de Janeiro, normalmente se pensa nos desfiles das escolas de samba que concentram agremiações do município e do Grande Rio. No discurso definidor do carnaval carioca, a disputa das escolas de samba é o elemento primordial.

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Iabá, Yabá ou Iyabá, cujo significado é “Mãe Rainha”, é o termo comumente dado aos orixás femininos Yemanjá e Oxum, porque ambas estão ligadas à gestação, parto e cuidados de mãe. No Brasil, no entanto, o termo é utilizado para definir todos os orixás femininos em geral, em vez do termo Obirinxá. Disponível em: <https://catracalivre.com.br/rio/agenda/indicacao/feira-das-yabas-tem-cultura-gastronomia-e-musica-africanas/>. Acesso em 02 out. 2017.

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Entretanto, se nos referirmos de forma mais abrangente às manifestações que ocorrem na cidade durante o carnaval, percebemos que além dos desfiles das escolas de samba há outros “carnavais” e neles há diferentes possibilidades de brincadeiras. Dentre elas, destacamos os chamados “carnavais populares”, realizados, quase sempre, em espaços públicos longe dos grandes polos centrais da folia: as passarelas oficiais dos desfiles. Glorificado nos últimos anos, o carnaval de rua costuma ser associado principalmente aos blocos e bandas que vêm ocupando em número crescente de espaços públicos da cidade durante o carnaval e nas duas semanas que o antecedem. Entretanto, além desses grupos outras formas de divertimento ocupam os espaços urbanos cariocas nos dias de folia. Entre elas enfatizamos os bate-bolas ou clóvis7, descritos genericamente como foliões fantasiados que se divertem assustando as pessoas com o barulho produzido por bexigas cheias de ar batidas contra o chão. Assim como as escolas de samba, trabalham com um enredo que muda todos os anos e é revelado apenas no sábado de carnaval.

Figura 24 – Turma de bate-bolas no bairro de Marechal Hermes. Fonte: <https://oglobo.globo.com/>

Os clóvis são o resultado da mistura de várias festas populares europeias. Há influência dos palhaços da Folia de Reis, dos bailes de máscaras franceses e de elementos da manifestação popular da península ibérica.

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O nome surgiu a partir da pronúncia equivocada dos populares, já que no início do século XX eruditos chamavam os foliões fantasiados de clown, palavra inglesa que significa “palhaço”. Disponível em: <http://www.sambando.com/bate-bolas>. Acesso em 03 out. 2017.

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Figura 25 – A festa do subúrbio no carnaval. Foto: Vincent Rosenblatt

Patrimônio Cultural Carioca desde 20128, a manifestação das turmas de bate-bolas é uma expressão genuína da cultura e arte popular, principalmente por sua expressividade plástica, ainda que não possuam tanta projeção quanto outras manifestações carnavalescas populares locais, como os desfiles das escolas de samba e os outros blocos carnavalescos da cidade. Enquanto na Zona Sul milhões de foliões se esbaldam atrás dos blocos ouvindo marchinhas de carnaval, no subúrbio carioca a tradição dos clóvis ou bate-bolas se renova a cada ano, promovendo espaço para a produção cultural e para novas formas de resistência política e cultural, como o caso da música popular ou da “cultura de massa” onde são articulados gêneros musicais como o funk9 e o charme. Esses gêneros vão além da simples manutenção de costumes e tradições, pois constituem a identidade de um grupo (geralmente pobres e negros) que vivem no subúrbio e comunidades. O movimento funk, ritmo que passou por várias fases de afirmação até o reconhecimento como Patrimônio Cultural Carioca10, no ano de 2009 chegando ao subúrbio e comunidades.

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DECRETO Nº 35134 de 16 de fevereiro de 2012. Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/>. Acesso em: 15 nov. 2017 9 O termo funk pertence à linguagem chula dos EUA para designar algo como “cheiro de negro”. Musicalmente foi uma remodelagem do rhythm’n blues executado por James Brown, no início dos anos 60, com o seu hit “Make it Funky”.Essa história inicia-se nas décadas de 30/40 nos Estados Unidos quando grande parte da população negra migrava das fazendas do Sul para os grandes centros urbanos. Depois da 2ª guerra mundial a música negra ressurge com o nome de rhythm’n blues e passa a ser explorada comercialmente pelas gravadoras. (Revista da FAU UFRJ, 2010). 10 LEI Nº 5543, DE 22 DE SETEMBRO DE 2009. Disponível em: <http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/>. Acesso em: 15 nov. 2017

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Uma década antes do funk carioca surgir, nos anos 1970, o soul invadiu os clubes do subúrbio da cidade. Os bailes blacks aconteciam a cada semana em um local diferente, tornando-se basicamente uma diversão suburbana. A cultura negra tinha a necessidade de criar táticas de resistência para se manter no cenário de uma sociedade elitista, que tentava anular e interferir na cultura popular, em especial, pobres e negros.

Figura 26 – O baile black e a diversão suburbana. Fonte: <https://leiaopalma.com/>

Ao final dos anos 1970, surgiu o funk carioca e o charme, ritmos que possuem distinções claras, apesar de apresentarem-se como movimento cultural com a participação, em sua maioria, de negros e pobres. O funk possui uma sonoridade mais pesada, conhecida como “batidão”. O charme proporciona um ritmo mais melodioso, uma dança mais compassada, além de uma preocupação com a aparência e comportamento, com as vestimentas, geralmente social, conservando características afro nos acessórios e cabelo. Os bailes charme, a cada fim de semana, reúnem centenas de jovens em clubes, estacionamentos e viadutos no subúrbio.

Figura 27 – Baile Charme do Viaduto de Madureira. Fonte: <https://guiadaboa.com.br/>

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Os bailes funks, ao contrário, normalmente são realizados em comunidades, desterritorializando-se por inúmeros motivos, de modo a explorar novos espaços geográficos urbanos, principalmente áreas a margem da cidade. A partir dos anos 1990, o funk deixou de ser visto somente como música suburbana e passou a se infiltrar em outro universo, suscitando preconceitos, principalmente a partir dos anos 2000, quando incorporou várias transformações, incluindo a sensualidade e o erotismo feminino, bem como os proibidões11, .

Figura 28 – Baile funk realizado nas comunidades. Fonte: <https://brasil.elpais.com/>

O movimento passou por diversos problemas e dificuldades de aceitação social, mas através de táticas de resistência foi se consolidando. Outros movimentos da cultura negra, como o samba, também foram vítimas da proibição de suas manifestações e após anos de afirmação, nos dias de hoje, são reconhecidos como patrimônio cultural. As transcrições dessas manifestações culturais revelam o quanto contribuíram e ainda contribuem para a manutenção da cultura do subúrbio, que se manifesta através das festas, da religiosidade, das comidas e da música, promovidas em seus quintais, na rua, em diversos espaços desterritorializados.

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O proibidão é uma vertente do funk que explora de forma demasiadamente explícita os temas da violência e do crime – inclusive com narrativas sobre os conflitos entre traficantes nas favelas, elogios a facções ou traficantes, exaltação do poder bélico de determinadas comunidades etc. Disponível em: <http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/obom-e-o-feio-funk-proibidao-sociabilidade-e-a-producao-do-comum-de-ecio-p-de-salles/>. Acesso em 03 out. 2017

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Observamos por meio dessas narrativas o quanto essas manifestações culturais consolidaram as práticas de construções coletivas, tornando-as um rico espaço de convivência e trocas de conhecimentos no contexto das aprendizagens culturais, indispensáveis na conjuntura do projeto do Quintal da Cultura de Subúrbio Carioca. O subúrbio se reinventa. Territórios de consumo, cultura, arte, música e gastronomia permeiam o imaginário e as práticas do cotidiano. As festividades espalham-se nos seus territórios simbólicos para ressaltar a história e as contribuições culturais e sociais O subúrbio está em permanente construção. Basta voltar ao subúrbio depois de certo tempo sem visitá-lo e observar: novas casas foram construídas, vê-se sempre um novo “puxado”, um anexo, uma nova laje. O lugar cresce, muda-se a fachada, surgem construções que não existiam antes. Em relação a determinadas áreas da cidade, os subúrbios estão em constante construção, em movimento espacial, social e culturalmente. Como lugar plástico, mutável e de transformação permanente da paisagem, o subúrbio vai aparecer também como lugar múltiplo, de criação e de tensão. O subúrbio carioca constrói palcos para múltiplas utopias: entra em cena irradiando a indomável força vital de seres humanos e incomparáveis, nas tramas complexas de suas relações, munido da efervescência cultural de seus ritmos e ritos, valores, memórias e afeições, tal como Madureira, tradicional bairro do subúrbio carioca, objeto de estudo do capítulo a seguir.

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CAPÍTULO 2 – O BAIRRO DE MADUREIRA Madureira é um bairro de classe média-baixa da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. É um bairro muito popular na cidade, conhecido como "Capital do Subúrbio", "Coração da Zona Norte" e "Berço do Samba". É conhecido por sua variedade de estabelecimentos comerciais, sendo o segundo pólo comercial e econômico da cidade e o maior do subúrbio.

Figura 29 – Localização do bairro. Edição da autora, 2017. Base: Google Maps, 2017

2.1 – Breve histórico O nome do bairro vem de Lourenço Madureira que, no século XIX, era lavrador e criador de gado em terras da antiga Fazenda do Campinho, existente desde o início do Século XVII. Na virada do Século XIX para o Século XX, Madureira já tinha se tornado um importante eixo ferroviário com a inauguração das estações de Madureira (1890), na antiga Estrada de Ferro Dom Pedro II, e de Inharajá (1908) – atual estação Mercadão de Madureira -, na antiga Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil (linha auxiliar). Em 1958, com a inauguração do viaduto Negrão de Lima, foram interligadas as áreas do bairro separadas pelos ramais da linha férrea.

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Figura 30 –Interligação do bairro por meio do viaduto Pref. Negrão de Lima. Edição da autora, 2017. Base: Google Earth, 2017

Figura 31 –Vista aérea do viaduto Pref. Negrão de Lima. Fonte: <http://www.riodejaneiroblog.com.br/>

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Entre os anos 1940 e 1950, o censo revelava uma população aproximadamente de 158 mil habitantes em Madureira, com crescimento expressivo paralelo à urbanização. As atividades comerciais e industriais no subúrbio carioca colaboravam para a imigração e crescimento do bairro. Outras obras na cidade trouxeram avanços para os arredores de Madureira (entre 1958 e 1965), como a abertura da Avenida Brasil, a criação do Viaduto Negrão de Lima, a expansão de linhas de ônibus ligando os bairros do Centro e das Zonas Norte e Oeste, a inauguração do primeiro teatro (Teatro Zaquia Jorge) e das salas de cinema próximas das estações ferroviárias.

Figuras 32 e 33 – À esquerda, Cine Madureira (1974); à direita, Teatro Zaquia Jorge (1957). Fontes: <https://www.kinoplex.com.br/> e <https://lyricalbrazil.com/>, respectivamente.

Essas

iniciativas

transformaram

Madureira

no

terceiro

maior

bairro

com,

aproximadamente, 295 mil habitantes. Á medida que o bairro ganhava ares de centro urbano, evidenciava-se como reduto de sambistas, blocos carnavalescos, compositores, manifestações musicais, religiosas e gastronômicas que permanecem até os dias atuais. 2.2 – Síntese com os principais indicadores sociais O bairro possui pouco mais de 50 mil habitantes e aproximadamente 19 mil domicílios, dotados em sua maioria de infraestrutura básica (abastecimento de água e energia elétrica). As áreas não-urbanizadas são ínfimas, o bairro é urbanizado na sua totalidade. A área construída de lojas, sobrelojas e salas correspondem a mais da metade da área construída total, evidenciando o caráter comercial da região. No entanto, a porção de estabelecimentos abertos é inexpressiva se comparada à da cidade (16.057), segundo dados do Portal GeoRio. Há apenas um equipamento de ciência e tecnologia e um equipamento municipal de cultura. Não há equipamentos municipais de esporte e lazer.

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Apesar de ser um transporte bastante popular, o trem não é o meio de transporte mais utilizado: possui uma média diária de 34 passageiros em mil, 10% do total da cidade, 348 passageiros em mil. O índice de desenvolvimento social do bairro mantém-se próximo do índice da cidade (0,609). O número de favelas é reduzido, em comparação à totalidade na cidade (1.019). A porcentagem do rendimento domiciliar per capita de até um salário-mínimo equipara-se com o da cidade (42,163%). No entanto, a porcentagem de domicílios com rendimento domiciliar per capita superior a cinco salários-mínimos é pouco mais de 5% se comparado ao da cidade, próximo de 15%.

Tabela 01 – Principais indicadores. Edição da autora, 2017. Base de dados do Portal GeoRio

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Tabela 02 – Índice de Desenvolvimento Social (IDS) e seus indicadores constituintes. Fonte: Portal GeoRio, 2010

O Índice de Progresso Social (IPS), criado pelo Instituto Pereira Passos, é um importante registro, pois vai além dos dados censitários. Ele desmembra a análise no nível regional por questões de planejamento e utiliza dados administrativos para permitir atualizações mais regulares. Varia de uma escala de 0 a 100, refletindo o melhor e o pior desempenho em cada indicador avaliado no Rio de Janeiro. Dentre eles, estão acesso à água canalizada e esgoto sanitário, taxa de homicídios, incidência de dengue, mortalidade por tuberculose e HIV, homicídios de jovens negros e frequência no ensino superior. Não são levadas em conta variáveis econômicas, como renda. Na média, a cidade foi mais bem avaliada em água e saneamento (83,68). O pior indicador foi o de acesso à educação superior (32,36), embora técnicos ressaltem que, nesse caso, são usados dados do último censo demográfico (2010), os únicos disponíveis. No entanto, 33% das informações utilizadas para calcular o IPS são de 2014 e 22%, de 2015. É interessante observar a posição da Região Administrativa Madureira, onde o bairro está inserido, em relação ao Rio de Janeiro: os três indicadores básicos estão com o desempenho inferior, evidenciando a disparidade do desenvolvimento social dentro da própria cidade. Mais que uma fotografia atual, o índice será importante na sequência histórica a longo prazo, quando veremos se essas regiões estão indo numa direção de melhor qualidade de vida no seu dia a dia. É um instrumento fundamental, mas que só possui sentido na medida em que possui rebatimento no cotidiano desses indivíduos, que ainda são acometidos pela violência e desigualdade.

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Tabela 03 – Índice de progresso social na XV RA Madureira. Edição da autora, 2017. Base: IPS Rio

Figura 34 - Mapa socioambiental das regiões administrativas do Rio. Fonte: <http:/oglobo.globo.com/>

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2.3 – Aspectos geográficos Madureira se localiza entre dois maciços (Tijuca e Pedra Branca) e tangencia o Morro do Sapé, o Morro do Dendê e o Morro da Serrinha. Essas áreas livres são importantes no equilíbrio do sistema e beneficiam não somente o bairro, mas toda a estrutura ecológica do município.

Figura 35 – Maçiços da Pedra Branca e Tijuca. Fonte: Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá

A região circunscrita pelo bairro é marcada por verões extremamente quentes, com severos períodos de estiagem, e invernos secos. A temperatura média anual é de 24°C e o índice de chuva chega a 1.250 milímetros anuais. A estrutura hidrográfica da região é caracterizada pela Bacia do Baixo Rio Acari, tributário da margem direita do Canal de Meriti que, por sua vez, deságua na Baía da Guanabara. A Bacia do Baixo Acari drena os bairros de Realengo, Magalhães Castro, Vila Valqueire, Madureira, Pavuna, Acari, Rocha Miranda, Deodoro, Marechal Hermes, Padre Miguel, Campo dos Afonsos e Vila Militar. A variação brusca de declividade nessa bacia é particularmente importante no que se refere às condicionantes naturais da macrodrenagem. As áreas de cabeceira estão sujeitas a altas velocidades, que resultam em baixos tempos de concentração e elevados picos de vazão, além de forte propensão ao carregamento de sedimentos, decorrentes de erosão das margens. As áreas de baixada, por sua vez, estão sujeitas a baixas velocidades, que propiciam o acúmulo dos sedimentos transportados das áreas altas, causando processos de assoreamento e progressiva redução das capacidades de escoamento dos cursos d’água. 46


Figura 36 – Bacia do Baixo Acari. Fonte: Plano Municipal de Saneamento Básico da Cidade do Rio de Janeiro

2.4 – Aspectos econômicos Hoje, Madureira destaca-se como um importante centro comercial do subúrbio, fundamental para a economia da cidade e referência para os bairros vizinhos. O comércio varejista é a atividade que melhor representa o bairro de Madureira ostentado pelos comerciantes locais como um dos mais bem servidos da cidade em variedade de gêneros populares, como o comércio informal que se que se desenvolve em quase todo o bairro, mais presentes nas áreas próximas ao Shopping Madureira, sob a Estação de Madureira e Viaduto Negrão de Lima. O bairro apresenta um comércio tão representativo que se configura como um centro de alcance municipal e intermunicipal, reunindo usuários de várias partes da cidade e municípios vizinhos. O setor de comércio e serviços de Madureira é um dos elementos que mais contribui para a dinâmica do bairro e está inserido em um contexto que apresenta uma tendência à estabilização e especialização dos principais polos da Zona Norte como centros de comércio e serviços diretos ao consumidor.

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Figura 37 – Comércio informal nas proximidades do Madureira Shopping. Fonte: Google Maps. Maio, 2016

A facilidade de acesso a Madureira facilitou muito o desenvolvimento do seu sistema comercial, organizado de forma a atender à centralidade regional que caracteriza o bairro. As centralidades, estabelecidas a partir da relevância viária e fluxo de pessoas e veículos, se localizam onde há uma maior concentração de comércio e usos diversos, atraindo usuários e incentivando o fluxo nesses espaços. O bairro é um exemplo de centralidade, pois se localiza no prolongamento da linha férrea do Ramal Deodoro, fazendo ligação com os ramais de Santa Cruz e Japeri.

Figura 38 – Conexão com ramais ferroviários. Edição da autora, 2017. Base: Supervia

48


A presença de alguns estabelecimentos tradicionais como o Mercadão de Madureira e as lojas das ruas comerciais foram marcantes nesse processo. Considerado o mais completo shopping popular da cidade e um dos maiores e mais tradicionais mercados do país, o Mercadão de Madureira funciona desde 1914 quando foi inaugurado como uma grande feira de produtos agrícolas. No ano de 2013 foi declarado Patrimônio Cultural do Povo Carioca12. Atualmente possui 580 lojas e diversos produtos espalhados por 16 galerias em dois andares. Caminhar pelos corredores do Mercadão, uma mistura de cores e cheiros, é uma verdadeira experiência para os sentidos.

Figura 39 – Mercadão de Madureira. Edição da autora, 2017. Fonte: RioTur

2.5 – Aspectos culturais Madureira é uma referência para a cultura do subúrbio, não apenas no que se refere à música e gastronomia, mas também no futebol. O antigo Madureira Atlético Clube, o “tricolor suburbano”, revelou grandes jogadores como Didi, Jair da Rosa Pinto, Evaristo, entre outros.

12

Lei nº 5.605, de 1º de julho de 2013. Disponível em: </http://www.rio.rj.gov.br/>. Acesso em 15 nov. 2017.

49


Figura 40 – Madureira Atlético Clube. Fonte: <https://mapio.net/>

O bairro possui uma grande diversidade de opções de lazer como shoppings, escolas de samba, clubes, bares, bailes e o Parque Madureira. Inaugurado em 23 de junho de 2012, o Parque Madureira atrai visitantes de vários bairros do subúrbio, Zona Oeste e Baixada Fluminense. É a terceira maior área verde – menor apenas que o Aterro do Flamengo e a Quinta da Boa Vista. A ampla estrutura de lazer é uma das mais completas do país e oferece ciclovias, pistas de corrida, quadras poliesportivas, circuito de lagos, mirante, quiosques, academia ao ar livre e muita área verde.

Figura 41 – Vista aérea do Parque Madureira. Fonte: </http://creci-rj.gov.br/>

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O bairro é famoso por sediar duas grandes escolas de samba, Império Serrano e a Portela, conhecidas não somente pelo carnaval e sua história construída ao longo dos anos, mas também pelas músicas, compositores famosos, eventos e festas, dentro e fora da quadra da escola. O Baile Charme, conhecido reduto carioca da música black há mais de vinte anos, reúne até duas mil pessoas todos os sábados embaixo do viaduto Negrão de Lima. Em julho de 2013, mediante decreto, o local foi declarado bem cultural de natureza imaterial13.

Figuras 42 e 43 – À esquerda, Quadra da Escola de Samba Império Serrano; à direita, Quadra da Escola de Samba Portela. Fontes: <https://mapi.net/> e Rádio Bicuda FM , respectivamente.

Figura 44 – Baile Charme. Fonte: <https://catracalivre.com.br/>

13

Decreto Nº 36803. Disponível em: </http://www.rio.rj.gov.br/>. Acesso em 15 nov. 2017

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2.5.1 – Indicadores culturais Segundo o Critério de Classificação Econômica Brasil, referente à estratificação socioeconômica, o bairro está inserido na Classe C, que corresponde a renda familiar domiciliar até R$ 2.409,00. A partir da classe socioeconômica e da Área de Planejamento (o bairro de Madureira está inserido na AP 3), com base no relatório elaborado pelo Instituto Datafolha14, objetivou-se conhecer os hábitos culturais da região por meio de indicadores culturais. Na Zona Norte, as atividades são baseadas nas relações sociais. Reúnem-se sob esse aspecto idas a shoppings centers, cinema, praia, participação em blocos de carnaval, frequência em boates e bares com amigos. Percebe-se que as atividades mais democráticas são relacionadas à música e às festas populares, típicas ou religiosas (Tab.04). Uma porcentagem expressiva nunca participou de atividades artísticas, como teatro, dança ou exposição de artes (Tab.05).

Figura 45 – Hábitos culturais da Zona Norte. Elaborada pela autora, 2017. Base: Instituto Datafolha,2013

14

HÁBITOS CULTURAIS DOS CARIOCAS: População residente na cidade do Rio de Janeiro com 12 anos ou

mais - Relatório em Outubro/2013 – Versão 2. Disponível em: <https://www.rio.rj.gov.br/> . Acesso em 27 set. 2017

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Tabela 04 – Hábito de realizar atividades culturais por Área de Planejamento. Edição da autora, 2017. Base: Instituto Datafolha, 2013

Tabela 05 – Participação em atividades artísticas. Edição da autora, 2017. Base: Instituto Datafolha, 2013

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Ampliam-se os complexos de diversão, com o surgimento de shoppings, parques temáticos, casas de shows, entre outros, porém cada vez mais se organizam locais públicos para privilegiados, onde implícita ou explicitamente, por diversos motivos, entre os quais o preço e a distância, definem-se as possibilidades restritas de acesso.

2.5.2 – Equipamentos culturais A espacialidade, ou seja, a cultura compreendida de forma ampliada e plural (composta por vários aspectos da vida social), considerando sua relação com o contexto político, social e econômico é uma das questões elencadas na compreensão das dimensões aos bens culturais. Levando-se em consideração o quadro nacional, podemos afirmar que a cidade se encontra em posição privilegiada por apresentar uma gama superior de opções de equipamentos culturais. Encontra-se dentre os 0,4% dos municípios brasileiros que possuem mais de cinco museus, dispõe de mais de 40 cinemas (com cerca de 147 salas) e mais de 100 teatros. Todavia, o mapa abaixo já nos permite perceber a situação de desigualdade na distribuição de tais bens pelo espaço na cidade. A distribuição destes equipamentos pela cidade revela uma notória desigualdade, na medida que 13,6% estão situados na AP 3 e 42,0% na AP 2.

Figura 46 – Equipamentos culturais distribuídos por Área de Planejamento. Fonte: <https//planomunicipaldeculturario.files.wordpress.com/>

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Gráfico 01 – Distribuição de equipamentos culturais por Área de Planejamento. Fonte: <https://efdeportes.com/>

Esses dados corroboram com o déficit histórico, que impõe grandes desafios à formulação e execução de uma política de cultura que pretenda ser ampla na oferta e no acesso, com programas de fomento e produção de bens culturais para beneficiar todas as regiões do município. Acentuam-se ainda mais quando chegam à escala do bairro: Madureira possui apenas um equipamento de cultura, a Arena Fernando Torres, situada dentro do Parque Madureira, evidenciando a relevância do projeto do Quintal da Cultura do Subúrbio Carioca, que tem como objetivo contribuir para o exercício pleno dos direitos culturais e a promoção do desenvolvimento humano, objetivos estes que integram o Art. 1º da Lei Nº 7035 de 07 julho de 2015, que institui o Sistema Estadual de Cultura (SIEC).

Figura 47 – Arena Carioca Fernando Torres, Parque Madureira. Foto: Débora Scherrer

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2.6 – Uso de tecnologias O cenário nacional é associado à exclusão digital, pois apenas 49% da população de 10 anos ou mais tem acesso à internet, segundo a PNAD 2012. Na Região Sudeste, a mais desenvolvida neste quesito, a penetração de internautas chega a 57%. Nessa comparação, a situação da cidade do Rio de Janeiro não é ruim, já que 71% dos cariocas de 12 anos ou mais têm acesso à internet. Porém, o nível de acesso não se distribui de modo igualitário na população e o Rio de Janeiro repete a estrutura da desigualdade nacional, que apresenta maiores índices de acesso nas classes de renda mais altas (classes A e B).

Gráfico 02 – Acesso à internet de acordo com a classe social. Fonte: Instituto Datafolha, 2013

A proporção dos pontos de acesso é desigual nas diversas áreas de planejamento: os índices de acesso na AP 2 configuram os mais altos, seguidos pela AP 4. Chamam a atenção algumas peculiaridades: o índice elevado da Zona Sul em postos gratuitos; a similaridade dos índices para postos pagos em todas as APs (estes pontos são, portanto, proporcionalmente mais importantes nas regiões com menor nível geral de acesso); a menor relevância de acesso em casa na AP Centro. As APs 3 e 5 mantém índices aproximados, com menos de 20% de postos de acesso público e gratuito à internet e acesso em lan-houses, escola ou universidade.

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Gráfico 03 – Pontos de acesso à Internet por região de moradia. Fonte: Instituto Datafolha, 2013

A distribuição do acesso é escalonada de forma diferente por idade, escolaridade, classe econômica e área de planejamento de residência, como se vê na figura a seguir. Exceto pela idade, as demais têm certo grau de correlação (mais elevada entre escolaridade e classe). Os grupos mais conectados são os mais jovens, de nível econômico e escolaridade mais alta e os residentes na AP 2 (área de maior penetração de classes AB e alta escolaridade). Somam-se os efeitos da baixa penetração de acesso à internet com a menor frequência de uso, resultando em uma parcela muito pequena de “conectados”.

Gráfico 04 - Índice de acesso à Internet por perfil da população. Fonte: Instituto Datafolha, 2013

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Apesar da queda dos preços dos computadores e da expansão dos pontos públicos de acesso à rede, essas conexões ainda estão distantes de muitas pessoas. Os dados demonstram que as classes menos favorecidas (C, D e E) carecem de pontos públicos de acesso à internet, limitando-se a locais de acesso pagos, como as lan-houses. A democratização do acesso à informação é fundamental para o exercício pleno da cidadania crítica e participativa, pois quando os indivíduos dispõem de informação de qualidade, a capacidade de fazer escolhas entre as diferentes alternativas e caminhos se faz presente. O projeto do Quintal da Cultura do Subúrbio Carioca pretende aumentar a penetração dessas classes à rede por meio de acesso democrático, acentuando o caráter inclusivo e criando mais uma plataforma para as práticas tecnológicas e democratização do conhecimento. “Não podemos pensar em nossas vidas fora da rede. A comunicação é o centro da vida”, corrobora Manuel Castells (1942), sociólogo espanhol especialista em movimentos em rede, em entrevista à Revista Época15.

15

Disponível em: <http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2013/10/bmanuel-castellsb-mudanca-esta-na-cabecadas-pessoas.html/> . Acesso em 27 set 2017

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CAPÍTULO 3 – INTERVENÇÃO: ESTUDO DO LUGAR Os fatores que nortearam a escolha do recorte territorial analisado estão relacionados à conexão com os bairros adjacentes e também com a Zona Oeste e com a Baixada Fluminense, facilitada por meio das estações ferroviárias (Madureira e Mercadão de Madureira), BRT (Transporte Rápido por Ônibus) e pontos de ônibus próximos; e a intensa movimentação de pedestres, resultante da intensa atividade comercial e de serviços do bairro.

Figura 48 – Recorte territorial. Edição da autora, 2017. Base: Google Earth, 2017

3.1 – O terreno O terreno escolhido para o projeto está localizado na Rua Carolina Machado, nº 512, em um importante eixo comercial do bairro, delimitado pelas principais vias: Rua Carolina Machado, Rua Dagmar da Fonseca e Av. Min. Edgard Romero, onde está localizado o “calçadão” (inúmeros grupos de lojas) do bairro. Atualmente funciona como estacionamento. Possui aproximadamente 4.495 m² de área total.

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Figura 49 – Localização do terreno. Edição da autora, 2017. Base: Google Earth, 2017

O terreno conecta vias importantes do bairro: as ruas Carolina Machado e Dagmar da Fonseca, chegando até a Estrada do Portela, por meio do Condomínio Edifício Polo 1, importante edifício comercial do bairro. Essa característica, peculiar, será fundamental na construção do projeto, tornando-o permeável e integrando-o ao espaço público.

Figura 50 – Conexão com importantes vias do bairro. Edição da autora, 2017. Base: Google Earth, 2017

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Figura 51 – Vista do terreno a partir da Rua Carolina Machado. Fonte: Google Maps, 2017

Figura 52 – Vista do terreno a partir da Rua Dagmar da Fonseca. Fonte: Google Maps, 2017

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3.1.1 – Zoneamento e legislação edilícia Do ponto de vista da organização territorial e da legislação urbana, segundo o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável do Município do Rio de Janeiro (Lei Complementar nº111 de 01/02/2011), o bairro de Madureira localiza-se na Macrozona de Ocupação Incentivada, onde o adensamento populacional, a intensidade construtiva e o incremento das atividades econômicas e equipamentos de grande porte são estimulados, preferencialmente nas áreas com maior disponibilidade ou potencial de implantação de infraestrutura. O zoneamento proposto para o bairro permitiu a ocupação de forma adensada, onde quase não se observam terrenos desocupados. Segundo o Código de Zoneamento do Município, a área total do bairro é organizada de acordo com o índice de aproveitamento do solo previsto na Zona Residencial 5 (ZR5). Índices Urbanísticos ZR-5 Taxa de Ocupação

70%

Índice de aproveitamento (I.A.T.)

3

Gabarito

5 pavimentos

Recuo Frontal

3m

Taxa de Permeabilidade

15 %

Tabela 06 – Índices urbanísticos da ZR-5. Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável do Município do Rio de Janeiro

Segundo o Decreto nº 322 de 3 de março de 1976, que aprova o Regulamento de Zoneamento do Município do Rio de Janeiro, atividades artísticas (Art. 28) são toleradas apenas para edificações de uso exclusivo. As edificações afastadas das divisas poderão ter até 18 (onze) pavimentos; edificações não afastadas da divisa poderão ter até 5 pavimentos. O afastamento frontal (afastamento em relação ao alinhamento do logradouro) mínimo é de 3 m (três metros). O bairro é considerado “Bairro Temático do Samba”, de acordo com a Lei nº 5.309 de 31 de Outubro de 2011. Pertence à Área de Especial Interesse Turístico (Aeit) e dispõe dos seguintes parâmetros: Art. 3º Na definição dos parâmetros a serem aplicados à Área de Especial Interesse Turístico-AEIT, bem como dos critérios para sua proteção e utilização serão levadas em consideração as seguintes ações:

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I – a melhoria das condições de limpeza urbana, segurança, transporte, estacionamento, informação, controle da ordem urbana e sinalização turística; II – a criação, recuperação e conservação dos centros de lazer, praças e parques; III – o incentivo à criação de meios de hospedagem de baixo custo; IV – a criação de meios de combate à prostituição e exploração infanto-juvenil e à disseminação da população de rua. Art. 4º A ocupação das Áreas de Especial Interesse Turístico-AEIT dos bairros mencionados dar-se-à conforme os índices e parâmetros urbanísticos e de desenvolvimento da atividade turística determinados para os locais, sempre respeitando os parâmetros definidos no Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro, bem como todos os parâmetros ambientais vigentes.

3.1.2 – Topografia O terreno está situado em área de relevo plano e alinhada com o nível da rua, apresentando pouca variação topográfica.

Figura 53 – Altitude da área de estudo. Edição da autora, 2017. Fonte: <http://pt-br.topographic-map.com/>

Figura 54 – O terreno possui pouca variação topográfica. Fonte: Google Maps, 2017

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3.1.3 – Caracterização do entorno O entorno imediato é caracterizado predominantemente pela atividade comercial. O bairro é um palco de atividades bastante diversificadas: lojas de vestuários, calçados, bijouterias, cosméticos, edifícios de salas comerciais, restaurantes, shoppings populares, clinicas médicas, laboratórios, dentre outros.

Figura 55 – Atividades comerciais no entorno. Edição da autora, 2017. Base: Google Earth, 2017

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3.1.3.1 – Conforto ambiental Conciliar o conforto ambiental e a eficiência energética das edificações é um dos principais desafios para o projeto arquitetônico. A análise da trajetória solar e a incidência dos ventos constituem importantes instrumentos de reconhecimento. Percebe-se que a face frontal do lote (Rua Carolina Machado) está voltada para a porção sul do terreno, recebendo a maior parte da insolação no período da manhã e os ventos dominantes e tempestivos; a face posterior do lote (Rua Dagmar da Fonseca) está voltada para a porção norte do terreno, recebendo a maior parte da insolação no período da tarde. Esses dados são importantes para a localização e tipo das aberturas, bem como para o uso de protetores solares.

Figura 56 – Trajetória solar no terreno. Edição da autora, 2017. Base: Google Earth, 2017

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3.2.3.2 – Cobertura vegetal No entorno imediato há pouca cobertura vegetal, como podemos observar.

Figura 57 – Cobertura vegetal. Edição da autora, 2017. Base: Google Earth, 2017

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3.2.3.3 – Cheios e vazios Percebe-se a densa ocupação no entorno imediato ao lote proposto e a pouca quantidade de áreas livres. Uma grande parte das construções estão desalinhadas em relação ao traçado viário, como se pode observar.

Figura 58 – Cheios e vazios. Edição da autora, 2017. Base: Google Maps, 2017

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3.2.3.4 – Gabarito A área possui gabarito médio de cinco pavimentos. Há poucas edificações com mais de cinco pavimentos localizadas no entorno do lote.

Figura 59 – Gabarito. Edição da autora, 2017. Base: Google Maps, 2017

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3.2.3.5 - Uso e ocupação do solo O uso e ocupação do solo é majoritariamente comercial, validado pela história do bairro. Adjacentes ao terreno encontram-se edifícios de salas comerciais, shoppings populares, lojas de diversos segmentos e algumas residências. Observa-se que nas duas principais vias (Rua Ministro Edgard Romero e Estrada do Portela) a grande maioria dos andares térreos é ocupada por lojas comerciais dos mais variados itens.

Figura 60 – Uso e ocupação do solo. Edição da autora, 2017. Base: Google Maps, 2017

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Figura 61 – “Calçadão de Madureira” (inúmeras lojas de segmentos variados), Av. Ministro Edgard Romero. Fonte: Google Maps, 2017

Figura 62 – Lojas distribuídas na maioria dos andares térreos. Fonte: Google Maps, 2017

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3.2.3.6 – Hierarquia viária O bairro possui um traçado viário descontínuo, fruto do processo de sua ocupação, resultantes de diferentes recortes na malha urbana, originários de desmembramentos realizados em antigas propriedades. Por possuir uma rede de acessibilidade variada (trens, BRT e ônibus), possibilita viagens entre vários bairros e viagens intermunicipais. Há 4 vias arteriais (em vermelho): Rua João Vicente, Rua Carolina Machado, Av. Ministro Edgard Romero e Estrada do Portela. São vias que conectam vários bairros do subúrbio. As vias coletoras (em laranja), como a Rua Dagmar da Fonseca, contribuem para o acesso rápido às principais vias do bairro. O bairro é servido por diversas linhas de ônibus municipais e intermunicipais, conectando os bairros da Zona Norte, Oeste e Baixada Fluminense. As estações ferroviárias e o corredor BRT Transcarioca compõem um importante eixo no bairro, pois conectam à área central da cidade, Baixada Fluminense e bairros da Zona Norte e Oeste.

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Figura 63 – Hierarquia viária. Edição da autora, 2017. Base: Google Maps, 2017

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CAPÍTULO 4 – DIRETRIZES PROJETUAIS

Os estudos apresentados neste capítulo compõem diretrizes alicerçadas na temática sociocultural, subsidiais para o embasamento do projeto arquitetônico que será elaborado. Os estudos de caso caracterizaram-se por visitas in loco, cujos objetivos principais foram compreender os aspectos funcionais (a partir da análise das relações programáticas das edificações), metodológicos e ambientais. As ações concretas e imediatas de intervenção no espaço urbano que foram observadas no Honório Gurgel Coletivo enfatizam o sentido da participação social, artística e cultural, fomentando as práticas culturais do subúrbio carioca. Os estudos de referências arquitetônicas salientaram a compreensão da concepção arquitetônica bem como os aspectos funcionais e o programa físico-funcional das edificações e referências arquitetônicas analisadas. 4.1 – Estudos de caso Foram realizadas visitas técnicas com o objetivo de identificar projetos de grande impacto social/cultural, que elevam a qualidade de vida e fortalecem a cidadania. O intuito é observar as práticas desenvolvidas nos locais por meio de uma rica troca de experiências, resultando em parâmetros que poderão auxiliar no desenvolvimento do projeto arquitetônico. As informações obtidas nos locais serão apresentadas por meio de fotografias, aferição visual e entrevistas com os colaboradores dos locais. As visitas foram realizadas nos meses de agosto e setembro de 2017, com duração aproximada de 1 hora. Foram visitados os seguintes projetos: Naves do Conhecimento e Praça do Conhecimento e Honório Gurgel Coletivo.

4.1.1 – Nave do Conhecimento e Praça do Conhecimento O projeto Naves do Conhecimento visa a democratização do acesso à informação e ao conhecimento de novas formas de aprendizagem em ambientes colaborativos e criativos promovendo a mediação da informação qualificada e o desenvolvimento de competências necessárias a todos na sociedade. O projeto, inaugurado durante a gestão do prefeito Eduardo Paes, em 2012, faz parte de uma iniciativa da Secretaria Especial da Ciência e Tecnologia em parceria com o Instituto Embratel Claro que, juntamente com as Praças do Conhecimento, busca criar um polo de inclusão digital, saúde, educação e cultura em áreas carentes da cidade. 73


As principais ações desenvolvidas são os cursos nas áreas de tecnologia da informação, infraestrutura de redes, produção gráfica, robótica, design gráfico, web design, computação gráfica, produção de vídeo e fotografia. O objetivo principal é garantir à população o que existe de mais avançado em termos de cultura digital. A proposta da Praça do Conhecimento é funcionar como um polo de inclusão digital, permitindo acesso à internet, ferramentas de ensino e programas de uso pessoal, criando um núcleo de difusão e criação artística, cultural e social para os moradores. Atualmente constituem 9 espaços tecnológicos nas zonas norte e oeste da cidade: Engenho de Dentro, Irajá, Madureira, Nova Brasília, Padre Miguel, Penha, Santa Cruz, Triagem e Vila Aliança. O projeto arquitetônico-urbanístico foi assinado pelos arquitetos Dietmar Starke (Unisinos, 1985) e Alexandre Pessoa (FAU/UFRJ, 1997). O projeto recebeu o maior prêmio internacional de arquitetura, o Architizer A+ Awards realizado em Nova Iorque, em 2015. Em entrevista cedida ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ)16, Starke ressalta que, para produzir uma inclusão social de verdade, é preciso que a arquitetura esteja de acordo com as funções do prédio. Se o equipamento emocionar as pessoas, ele vai despertar primeiro o desejo de conhecer aquele espaço, e uma vez lá dentro, elas vão se interessar pelos cursos e atividades que acontecem ali.

Todos os cursos oferecidos são gratuitos, incluindo o material didático. São cursos profissionalizantes, com certificado e em parcerias com grandes empresas, como a CISCO, empresa norte-americana que oferece cursos de Operação e Gerenciamento de Redes (CCNA), curso que dispõe de uma das certificações disponíveis para técnicos de rede no Brasil.

4.1.1.1 - Nave do Conhecimento Compositor Silas de Oliveira A Nave está inserida no Parque Madureira, no trecho que pertence ao bairro de Madureira. Seu nome homenageia um grande compositor e sambista brasileiro, morador do bairro e fundador da Escola de Samba Império Serrano. O projeto arquitetônico, iniciado em 2010, foi concluído em 2012 e tem área construída de 395,24 m².

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Disponível em: <http://www.caurj.gov.br/naves-do-conhecimento-vencem-premio-internacional-dearquitetura/>. Acesso em 27 set. 2017

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Figura 64 – Localização da Nave do Conhecimento Compositor Silas de Oliveira. Edição da autora, 2017. Base: Google Maps, 2017

O edifício, de contornos assimétricos, é formado por dois elementos principais: a casca de concreto e o cilindro elíptico nela inserido. A forma remete à imagem de um objeto flutuante no espaço, uma nave fixada ao teto por tirantes. O pano de vidro que separa o interno do externo é invadido pelo cilindro, que se projeta para fora. A estrutura é metálica, com revestimento de placas cimentícias. A interface do cilindro, no exterior, é utilizada para projeções ao ar livre.

Figura 65 – Edificação com traços assimétricos. Foto: Joana França

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O pavimento térreo conta com equipamentos para identificação do usuário, com login e senha e uma grande área lan house, com mobiliário fabricado em madeira reflorestada, em forma de “S”, permitindo a interação de qualquer ponto. A mesma é destinada a pesquisas, consultas, entretenimento e outros serviços. Para utilizar o serviço, é necessário realizar um cadastro por meio do site eletrônico ou nos totens disponíveis na unidade. Também há uma fileira de mesas equipadas para o acesso por tempo indeterminado, exclusivamente para estudos.

Figura 66 – Vista da lan-house e da área de estudos, ao fundo. Fonte: <https://arcoweb.com.br/>

Sílvia, assistente de serviços ao usuário, relatou que grande parte dos usuários correspondem a moradores de rua e em condições de vulnerabilidade social. A faixa etária é diversa: crianças, jovens, adultos e idosos. Os idosos procuram a unidade não somente para se familiarizar com o mundo digital, mas também para acolhimento emocional, pois muitos transitam por estados depressivos. Dentro desse contexto, ela evidencia que o projeto das Naves oferece “benefício não só político, mas humano”. A relação com os usuários, o vínculo humano, é algo extremamente importante, ressalta.

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Figura 67 – A edificação é bastante utilizada por idosos. Foto: Acervo pessoal

A Gruta do Conhecimento, composta por três pequenas cavidades, é um local destinado a crianças de até dez anos. São equipadas com tablets que possuem jogos e brincadeiras diversas. O ambiente também conta com recursos digitais que exibem curiosidades, histórias, informações sobre a localidade e outras informações pré-determinadas. Um sanitário acessível (PNE), depósito, copa e área administrativa (coordenação), também compõem o pavimento térreo.

Figura 68 – Grutas do Conhecimento. Foto: Acervo pessoal

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O pavimento superior, formado pelo cilindro que é evidenciado no exterior da edificação, é destinado a palestras e cursos, com certificações importantes, como o Cisco CCNA (Cisco Certified Network Associate Routing and Switching), que tem como finalidade validar a capacidade do aluno para instalar, configurar, operar e solucionar problemas em redes de tamanho médio. O instrutor Leandro Antunes frisou que a certificação CCNA, oferecida de forma gratuita, gira em torno de R$ 4.000,00 em instituições privadas. Apesar de ser gratuito, o conteúdo tem a mesma qualidade dos cursos ofertados por outras instituições. É ministrado por um time de instrutores tecnológicos e monitores altamente qualificados que se revezam a cada semana.

Figuras 69 – Vista do cilindro elíptico. Fonte: <https://arcoweb.com.br/>

A Nave faz parte do programa global Academia Oficial da Cisco (Cisco Networking Academy) que conta com mais de um milhão de estudantes ativos em mais de 10 mil centros de treinamento no mundo. A empresa pretende expandir o programa no Rio de Janeiro e em outras regiões no Brasil: a meta é dobrar o número de alunos, de 25 mil para 50 mil até o fim de 2017.

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Figura 70 – Palestras e cursos são ministrados no cilindro elíptico. Foto: Acervo pessoal

Alguns pontos negativos, enfatizados pelo Coordenador da unidade Josué Modesto, estão relacionados à espacialidade: parte da copa acabou sendo utilizada para fins administrativos, já que a área destinada à coordenação é insuficiente. Também não há uma sala de reuniões ou uma sala multiuso, que funcionaria de acordo com a necessidade da unidade, por exemplo.

4.1.1.2 – Praça do Conhecimento Gelson Domingos Localizada no bairro de Padre Miguel, Zona Oeste, a praça homenageia o cinegrafista assassinado em novembro de 2011, na Favela Antares, também situada na Zona Oeste, quando acompanhava uma operação policial. O projeto teve início em 2009, sendo concluído em 2012. Dos 13.702 m² pertencentes a praça, 1.396 m² estão ocupados pelas edificações. O equipamento distingue-se das praças convencionais especialmente pela presença de uma construção que abriga um programa em que a tecnologia presta-se à educação, ao entretenimento e à formação profissional.

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Figura 71 – Localização da Praça do Conhecimento Gelson Domingos. Edição da autora. Base: Google Maps, 2017

A praça foi construída no espaço antes ocupado pela estrutura abandonada de um hospital público. Foram utilizados os escombros (cerca de 10 mil metros cúbicos de entulho) da construção anterior possibilitando configurar uma nova topografia com a formação de taludes. Os taludes trouxeram nova dinâmica ao relevo, propiciando microclima agradável com áreas sombreadas e permitindo a redução térmica e o redirecionamento dos ventos: misturam-se com o prédio, servem às brincadeiras das crianças e permitem contemplar o maciço da Pedra Branca e arredores. O prédio é estruturalmente definido pela cobertura em laje nervurada apoiada em paredes de concreto e pilares de seção circular.

Figura 72 – Crianças brincam próximas aos taludes. Foto: Joana França

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Figura 73 – Cobertura em laje nervurada. Fonte: <https://arcoweb.com.br/>

A cobertura foi dimensionada para suportar o peso de meio metro de entulho, da terra e do acesso dos visitantes que, segundo Mariângela, monitora pedagógica, não é utilizado. Somente os funcionários têm acesso à cobertura. A amplitude do espaço principal, semicircular, revela-se na entrada. O bloco possui uma extensa fachada envidraçada, inclinada e apoiada num banco de concreto, que acompanha o espaço em boa parte de seu interior.

Figura 74 – Vista da cobertura. Fonte: <https://arcoweb.com.br/>

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Figura 75 – A extensa fachada envidraçada percorre boa parte da edificação. Fonte: <https://arcoweb.com.br/>

Figura 76 – O banco de concreto apoia-se na fachada envidraçada. Foto: Acervo pessoal

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A edificação é composta pelo núcleo central, auditório e sala de workshops. A entrada principal se destaca em meio à paisagem local: assemelha-se a um furo de concreto no talude gramado, simulando uma passagem subterrânea.

Figura 77 – Edificação possui diferentes composições. Fonte: https://arcoweb.com.br/>

Figura 78 – Acesso principal à edificação. Fonte: <https://arcoweb.com.br/>

Os recortes geométricos na composição da edificação e também no mobiliário são características marcantes do projeto das Naves do Conhecimento. Nessa edificação há duas singularidades: o uso de concreto aparente no exterior e no interior da edificação e a grande interação visual que a extensa fachada em vidro promove, além de uma grande claraboia.

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Figura 79 – Recortes geométricos na composição da edificação. Foto: Acervo pessoal

Figura 80 – Mobiliário com linhas geométricas. Foto: Acervo pessoal

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Figura 81 – O uso concreto aparente é um dos destaques do projeto. Foto: Joana França

Figura 82 – Uma grande claraboia compõe o núcleo central da edificação. Foto: Acervo pessoal

O programa condiz com o das outras Naves: abriga cursos voltados ao desenvolvimento de habilidades de pensamento crítico e trabalho colaborativo. Também são ensinadas as etapas básicas de uso do computador, bem como a aplicação das habilidades de informática no seu cotidiano. Para utilizar os serviços é necessário realizar cadastro no site eletrônico ou nos 85


equipamentos disponíveis no local. O acesso é realizado por tempo indeterminado, respeitando a demanda exigida no dia. O público é diversificado: crianças, jovens, adultos e idosos da própria comunidade e arredores.

Figura 83 – Público diversificado. Fonte: <https://arcoweb.com.br/>

Um dado curioso: a Praça não possui mais a parceria com Centro Cultural Banco do Brasil, que levava os usuários para assistir espetáculos e exposições, diversificando as opções culturais. O ponto alto do projeto é o auditório/teatro, muito utilizado pela comunidade, destaca a colaboradora.

Figura 84 – Auditório/teatro. Fonte: <https://arcoweb.com.br/>

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Um dos pontos negativos ressaltados por Mariângela, refere-se a única sala (sala de workshops) disponível para todos os cursos, limitando a oferta. Alguns elementos pontiagudos em mobiliários, problemas na manutenção, como a recente infiltração na claraboia são questões destacadas.

Figura 85 – Mobiliário com elementos pontiagudos. Foto: Acervo pessoal

O projeto das Naves do Conhecimento e da Praça do Conhecimento revela na sua estética tecnológica e poética o conteúdo de seu programa e de seu objetivo político-educacional. As edificações visitadas evidenciam que além da solução funcional, foram criados objetos que pudessem envolver emocionalmente as pessoas, estimulando positivamente o ambiente social degradado do seu entorno. As Naves e Praça simbolizam, assim, a possibilidade de passagem da exclusão para a inclusão, do presente ao futuro da sociedade.

4.1.2 - Honório Gurgel Coletivo Criado em 2013, o grupo reúne moradores engajados na busca por soluções voltadas ao desenvolvimento social, cultural, econômico e ambiental do bairro da Zona Norte carioca. O projeto realiza trabalhos de mutirão para revitalização de espaços, saraus, cineclube ao ar livre, galeria de grafite e o que mais possa ajudar a melhorar a qualidade de vida de seus moradores. Victor Rodrigues, porta voz do projeto, contou como surgiu a ideia: O jovem de Honório Gurgel não tinha mais prazer naquele território, os moradores não cuidavam do lugar. Nós passamos a trabalhar em cima de potencialidades, sem perder de vista as precariedades. Começamos cuidando de uma área de descarte irregular de lixo, o Jardim da Amizade, mas vimos que essa ação gerava relacionamento e que era isso que tínhamos de estimular.

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Figura 86 – Jardim da Amizade. Fonte: Honório Gurgel Coletivo

A ação subsequente foi mapear os próprios equipamentos de cultura do bairro. Eles descobriram, assim, que os botequins eram os lugares de reunião dos moradores, e criaram “Um Tal de Sarau”, evento que apresenta cantores locais, documenta de imagens, e reúne pessoas de dentro e de fora que trazem novidades com o propósito de enriquecer a cultura local. Victor diz que o público-alvo do projeto é “a galera do amor, aquela que ama e vai desprendida para encontrar algo novo, compartilhando e gerando confiança.”

Figura 87 – Um Tal de Sarau. Fonte: Honório Gurgel Coletivo

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O “Quintal da Memória” reúne moradores e interessados em saber um pouco mais sobre o bairro em bate-papos descontraídos e recheados de dicas importantes para a construção das documentações que estão sendo produzidas sobre o bairro de Honório Gurgel. Compreender o início do processo de urbanização do bairro e os caminhos que o levaram às suas atuais características é de grande importância para que novos desenhos sejam feitos para melhorar a qualidade de vida dos moradores, resgatando as histórias do IAPI de Honório Gurgel - obra de grande valor histórico, político, social e arquitetônico -, que marca o início de profundas transformações em uma área até então rural.

Figura 88 – Quintal da Memória. Fonte: Honório Gurgel Coletivo

Um espaço para compartilhar boas histórias em diversos formatos, como livros, gibis, cd's, dvd's, dentre outros é a proposta da “Biblioteca Viva de Honório Gurgel”, localizada em um bar na praça do bairro. A iniciativa tem patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura.

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Figuras 89 e 90 – À esquerda e à direita, Biblioteca Viva de Honório Gurgel. Fonte: Honório Gurgel Coletivo

O “Cine Gurgel” é uma das atividades que foram contempladas pelo edital Ações Locais 2015, da Prefeitura do Rio. A ideia é trabalhar com diversos espaços, potencializando-os e exibindo histórias envolventes, dotadas de inúmeros questionamentos, estimulando encontros de gerações que movimentam a cultura do subúrbio carioca, aproximando pessoas e fazedores culturais.

Figura 91 – Cine Gurgel. Fonte: Honório Gurgel Coletivo

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“No Ponto!” é o trabalho recente do coletivo e lança um novo olhar sobre o bairro e seus moradores, divulgando memórias contidas no preparo de receitas da culinária local. É um registro das vivências que marcam – ou marcaram - o cotidiano dessas pessoas, apresentadas sob os olhares e visões de diferentes gerações. Cada uma a seu tempo, mas todas recheadas por lembranças que identificam o lugar que escolheram viver. O projeto faz parte do Programa Territórios Culturais RJ / Favela Criativa, da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, em parceria com a Light e a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL - Brasil.

Figura 92 – A culinária é um registro das vivências dos moradores. Fonte: Honório Gurgel Coletivo

A cultura do subúrbio é um grande motor para o desenvolvimento social, artístico e cultural. No bar, na praça, no quintal ou na própria calçada, o subúrbio valida as suas tradições e evoca memórias de outrora, reconhecidas e legitimadas pelas novas gerações, como o Honório Gurgel Coletivo. O projeto do Quintal da Cultura do Subúrbio Carioca incentivará o desenvolvimento dessas práticas culturais promovendo encontros, debates, aproximando empreendedores culturais locais e moradores, potencializando e/ou incentivando novas ações.

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4.2 - Referências arquitetônicas As referências apresentadas constituem um conjunto de características que auxiliarão na concepção arquitetônica do Quintal da Cultura do Subúrbio Carioca. Retirou-se de cada referência particularidades que poderão contribuir para a determinação das premissas básicas e para a elaboração do programa físico-funcional.

4.2.1 – Espaços de encontro e cultura     

Projeto: Parque Educativo Entrerríos Arquitetos: Laboratorio de Arquitectura y Paisaje Localização: Colômbia Área: 135.6384 m² Ano do projeto: 2015

O projeto buscou a pluralidade de culturas em torno dos municípios que constituem o território de Antioquia, Colômbia. Foram realizados 80 parques educativos que resumem a essência do lugar onde estão inseridos, resultando em um espaço de encontro, cultura e diálogo entre a paisagem e as pessoas.

Figura 93 - Espaços de encontro e de diálogo com a paisagem e as pessoas. Foto: Jaime Andrés Orozco

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A paisagem natural atravessa o projeto, tanto no exterior como no interior. Os jardins e os fragmentos bucólicos são emoldurados pelas janelas, presentes também em diversas residências no subúrbio carioca.

Figura 94 – Canteiros no interior da edificação. Foto: Jaime Andrés Orozco

Figura 95 – Jardins no exterior da edificação. Foto: Jaime Andrés Orozco

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A circulação estabelece relações com o entorno, conectando diversos pontos da edificação, enfatizando a interação entre a paisagem e as pessoas.

Figura 96 – Relação com o entorno. Foto: Jaime Andrés Orozco

Figura 97 – Conexões entre diversos pontos da edificação. Foto: Jaime Andrés Orozco

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O projeto possui um programa de necessidades voltado para a para a prática, ensaio e aprendizagem da música, elemento importante para o município. Os espaços são fluidos e distribuídos em núcleos bem definidos.

Figura 98 – Setorização da edificação. Edição da autora, 2017

Figura 99 – Espaços para aprendizado da música. Fonte: <http://l-a-p.co/>

A edificação possui uma ampla área de lazer/convivência (terraço), bastante comum subúrbio carioca. Outro aspecto interessante é a inserção da edificação no contexto urbano: o 95


volume prismático, “conversa” com as residências ao redor, tornando-se quase imperceptível, mesmo coberto com pintura branca.

Figura 100 – Terraço público. Foto: Jaime Andrés Orozco

Figura 101 – A edificação e sua relação com o entorno. Foto: Jaime Andrés Orozco

O projeto possui um forte apelo visual, o cenário rural encanta com seus extensos campos verdes, diferente do bairro de Madureira que é uma área urbana em sua totalidade. No entanto, 96


o encontro entre a paisagem (rural ou urbana) e as pessoas, bem como a compreensão do contexto histórico e cultural é indispensável para a construção de uma arquitetura promotora de uma atmosfera convidativa e agradável e próxima ao cotidiano dos usuários.

4.2.2 - Interação com o espaço público     

Projeto: Centro Cultural Sedan Arquitetos: Richard + Schoeller Architectes Localização: França Área: 1.897 m² Ano do projeto: 2012

O Centro Cultural ocupa um local privilegiado no centro da cidade de Sedan no norte da França, às margens do Rio Meuse. O edifício é conformado por quatro paralelepípedos suspensos que enquadram a paisagem a partir do espaço central do auditório. Os volumes prismáticos parecem flutuar sob a praça, compondo um jogo interessante de sucessivas subtrações, atraindo a curiosidade do espectador.

Figura 102 – Volumes prismáticos suspensos. Foto: Sergio Grazia

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Figura 103 – A edificação está localizada em uma grande praça. Fonte: <https://www.archdaily.com.br/>

O edifício é composto por espaços multiuso, auditório, cozinha, escritórios e ateliês (dança). O grande pátio logo em frente da fachada principal funciona como um lugar para reunião do público, livre e aberto.

Figura 104 – Setorização (Térreo). Edição da autora, 2017 Fonte: <https://www.archdaily.com.br/>

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Figura 105 – Setorização (2º pavimento). Edição da autora, 2017 Fonte: <https://www.archdaily.com.br/>

Figura 106 – Espaço multiuso. Foto: Sergio Grazia

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Figura 107 – Ateliê. Foto: Sergio Grazia

Figura 108 – Um grande pátio funciona como área pública de lazer. Foto: Sergio Grazia

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O projeto retém a dimensão humana e respeita o ambiente urbano, contribuindo, graças à sua flexibilidade, acessibilidade e transparência, ao papel comunitário deste lugar de cultura. A arquitetura convida os pedestres a fazer parte do local, onde a cultura é expressada, sentida e produzida, abrindo-se para a cidade. O cromatismo ressaltado nas esquadrias e no interior da edificação evoca a alegria contida nos grupos de bate-bolas (clóvis), presença marcante no subúrbio.

Figura 109 – Cores nas esquadrias. Foto: Sergio Grazia

Figura 110 – Uso de cores contrastantes no interior. Foto: Sergio Grazia

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4.2.3 - Espaços de convivência e conexão com a rede viária local      

Projeto: Praça das Artes Arquitetos: Brasil Arquitetura Localização: São Paulo - SP, Brasil Autores: Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz + Luciana Dornellas Área: 28.500 m² Ano do projeto: 2012

O projeto restaurou e reabilitou a edificação do Antigo Conservatório Dramático Musical de São Paulo, vinculando-o a um complexo de novas construções e espaços de circulação e estar que abrigam as instalações para o funcionamento das Escolas e dos Corpos Artísticos do Teatro Municipal. A implantação desse equipamento cultural, além de atender à histórica carência de espaços para o funcionamento do Teatro, desempenhou papel indutor estratégico na requalificação da área central da cidade, adotando um rico e complexo programa de uso, focado nas atividades profissionais e educacionais de música e dança.

Figura 111 – Praça das Artes. Foto: Nelson Kon

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Figura 112 – Edificações que compõem a Praça das Artes. Fonte: <http://obviousmag.org/>

O térreo é completamente livre, podendo-se circular pelo miolo da quadra como se fosse uma grande praça. Funciona como uma galeria aberta, onde há pontos comerciais e de serviços, atraindo para o espaço o movimento das ruas do entorno, propondo, dessa maneira, um reordenamento urbanístico para a região. O projeto se ramifica e define a integração entre três importantes vias que envolvem a quadra, a Avenida São João, a Rua Conselheiro Crispiniano e a Rua Formosa, no Vale do Anhangabaú, criando conexões ao tecido da cidade, permitindo o fluxo contínuo de pessoas.

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Figura 113 – O térreo livre possibilita a circulação de pessoas, atraindo o movimento das ruas do entorno. Foto: Nelson Kon

Figura 114 – Conexão com importantes vias. Edição da autora. Fonte: <https://www.archdaily.com.br/>

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A Praça das Artes reforça as condições necessárias para a vitalidade urbana, que pode ser entendida como a alta intensidade, frequência e riqueza de apropriação do espaço público, bem como à interação deste com as atividades que acontecem dentro das edificações.

Figura 115 – Gestos, performance de Yasmim Flores e Angelo Ursini. Fonte: <https://www.youtube.com/>

O rico e complexo programa de uso está focado no estudo e na prática ligados à música e à dança, com um intenso caráter público de convivência, que permeia todo o conjunto. Assim como o bairro de Madureira, o lugar tem uma vizinhança predial caótica do ponto de vista volumétrico, das normas de insolação e ventilação saudáveis. Entretanto, possui uma situação privilegiada de humanidade ao seu redor, pleno de diversidade, vitalidade, mistura de classes sociais, de usos, de conflitos e tensões característicos da grande cidade – espaço da convivência e da busca de tolerância. É importante salientar que o projeto possui uma forte ligação passado – presente, guardando memórias, conhecimentos e tradições locais.

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Figura 116 – O passado e o presente possuem uma forte ligação. Foto: Nelson Kon

4.2.4 - Vivência dos espaços     

Pavilhão Suíço, Expo 2000 Arquiteto: Peter Zumthor Localização: Hanôver, Alemanha Área: 2.500 m² Ano do projeto: 2000

A importância dos sentidos na percepção espacial e como estes se correlacionam na manifestação das memórias nos conduzem ao despertar das emoções e são essenciais, pois “no mundo, o que percebemos não é nunca a sua realidade, mas apenas a repercussão das forças físicas sobre os nossos órgãos sensoriais” (KILPATRICK, F. P apud CABERTI, 2013). Partindo desse pressuposto, o projeto do Pavilhão Suíço concebeu uma arquitetura dos sentidos. Sons, palavras, comidas e bebidas reúnem-se para formar uma experiência total. O edifício é experimentado inconscientemente como um acontecimento que permanece na memória por um longo tempo, evocando profundas experiências. Para que a arquitetura se torne uma experiência completa deve ser avaliada em todos os sentidos, criando uma experiência sensorial. Portanto, o pavilhão é chamado de “Caixa de Ressonância” ou “Caixa de Essências”. O pavilhão é permeável, semelhante a um grande 106


labirinto que pode ser acessado por ambos os lados, fazendo com que cada visitante tenha uma experiência única nesta atmosfera em constante mudança.

Figura 117 – Pavilhão Suíço. Fonte: <https://designmagazin.cz/>

Figura 118 – Pavilhão Suíço. Fonte: <https://folio.brighton.ac.uk/>

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Figura 119 – Os diversos acessos contribuem para a permeabilidade do projeto. Fonte: <https://designmagazin.cz/>

Figura 120 – Diagrama de usos. Edição da autora.

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O cheiro da floresta e o som de crepitação da secagem da madeira reúnem-se às melodias e vozes de músicos, ecoando por meio de todo o pavilhão, tornando-se uma grande caixa sonora, um grande instrumento por meio do qual pode-se caminhar.

Figura 121 – A música ecoa por todo o pavilhão. Fonte: <https://pt.wikiarquitectura.com/>

A luz e a sombra desempenham um papel de destaque no projeto: os holofotes trazem os detalhes da rugosidade e evidenciam frases, palavras curtas e parágrafos de textos relacionados à Suíça (citações literárias, fragmentos de poemas, canções folclóricas ou dados estatísticos simples) dispostos ao longo do pavilhão. A intensidade e direção da iluminação natural criam ambientes mais intimistas e acolhedores.

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Figuras 122 e 123 –À esquerda, fragmentos de textos; à direita, iluminação natural. Fontes: <https://br.pinterest.com/> e <https://pt.wikiarquitectura.com/>, respectivamente

Os visitantes são atraídos não somente pelo som e as palavras, mas pelo cheiro: na alta cozinha são oferecidos diversos gêneros alimentícios próprios da Suíça. O público também pode degustar das bebidas típicas do país.

Figura 124 – Espaço para degustação de bebidas. Fonte: <http://gaud12.nullthing.com/>

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Com o lema “Humanidade, natureza e tecnologia - origem de um novo mundo”, a Expo 2000 utilizou iniciativas sustentáveis, como a reutilização, reciclagem e reinstalação de materiais dos pavilhões em outros locais. No caso do Pavilhão Suíço, a madeira foi reutilizada para a estrutura de casas pré-fabricadas, para o design de interiores, para a confecção de mobiliários e doada às instituições sem fins lucrativos. O projeto de Zumthor evoca a memória sensorial obtida através da vivência dos espaços. Suas intenções estéticas, atuantes na concepção arquitetônica, estão intrinsicamente ligadas ao lugar, ao material, à energia, à presença, às recordações, às memórias, às imagens, à densidade, à atmosfera, à permanência e à concentração. Concretizar algo a partir dessas abstrações é construir um lugar que será cercado de afetividade, dotado de vida, em seu sentido mais amplo, como a casa suburbana e seu mítico quintal.

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CAPÍTULO 5 – PROPOSTA ARQUITETÔNICA 5.1 - Conceito Casa17 (ca·sa) substantivo feminino 1.Construção destinada a moradia; 3. Domicílio de um grupo de pessoas que vivem sob o mesmo teto; [...] 7. Local que se destina a reuniões temáticas.

A casa é o templo sagrado do suburbano. O morador do subúrbio vê a casa como algo mais amplo, que se estende à rua: é uma forma distinta de habitar onde não se distingue o público do privado, que se mescla e se confunde. O subúrbio permanece como um espaço onde as relações de proximidade e vizinhança ainda imperam. Esses traços da sociabilidade suburbana e esse limiar entre o público e privado permeiam no espaço suburbano: a rua é a extensão da casa.

Figura 125 – A rua é a extensão da casa. Fonte: <https://projetocolabora.com.br/>

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Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em 01 nov. 2017

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No quintal são celebradas práticas culturais e sociais: uma rica troca de experiências é transmitida de geração a geração.

Figura 126 – O quintal é um espaço de convivência e troca de experiências. Fonte: <https://oglobo.globo.com/>

A casa é uma caixa de experiências multi-sensoriais, como o projeto do Pavilhão Suíço. Nela reside a conexão emocional entre os habitantes e o espaço físico. A arquitetura é narrada em relação às impressões geradas pelas recordações e memórias; e não somente pelos elementos construtivos por si sós. Por meio da oposição entre luz e sombra, espaços abertos e fechados, superfícies de vidro, concreto, cerâmica, madeira, pedra e outros materiais, criam-se espaços distintos que colaboram para uma experiência alheia ao tempo. O projeto do Quintal da Cultura tem o propósito rememorar a ideia da casa, espaço repleto de tradições e memórias, convivência, tolerância e de troca de experiências que, aliada às referências apresentadas, direciona a uma proposta arquitetônica que vai de encontro às redes de sociabilidades e à vivência cotidiana, estabelecendo novas narrativas, reinventando práticas que se transformam, se misturam e se entrelaçam pelos saberes da cultura do subúrbio carioca.

Figura 127 – Premissas projetuais. Elaborada pela autora, 2017

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5.2 – Programa de Necessidades O programa de necessidades e o pré-dimensionamento do equipamento cultural foram realizados com base nas práticas culturais do subúrbio e nos estudos de referência. As atividades foram agrupadas em 5 grupos: Espaço das Artes, Espaço da Tecnologia, Espaço da Música, Espaço do Corpo e Espaço da Gastronomia. As áreas administrativas e de apoio logístico integram o equipamento juntamente ao estacionamento no subsolo.

Figura 128 – Grupos de atividades. Elaborada pela autora, 2017

5.2.1 - Espaço das Artes Espaço destinado à expressão artística, com a realização de atividades manuais com técnicas diversas, desenho e pintura, fotografia, corte e costura, serigrafia, grafite e estêncil. Uma sala multiuso, para exposições, de leitura, além de uma sala da cultura afro-brasileira compõe o local.

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Figura 129 – Pré-dimensionamento do Espaço das Artes. Elaborada pela autora, 2017

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5.2.2 - Espaço da Tecnologia Espaço destinado às práticas tecnológicas, com acesso à internet, oficinas de produção audiovisual e computação gráfica. Uma midiateca, salas de workshops e uma sala multiuso compõem o ambiente.

Figura 130 – Pré-dimensionamento do Espaço da Tecnologia. Elaborada pela autora, 2017

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5.2.3 - Espaço da música Espaço destinado à prática, ensaio e aprendizagem da música, por meio de oficinas de instrumentos de percussão e de corda, leitura e composição musical. Um pequeno acervo musical, uma sala de workshops, além de um auditório multiuso integram o ambiente.

Figura 131 – Pré-dimensionamento do Espaço da Música. Elaborada pela autora, 2017

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5.2.4 - Espaço do Corpo Espaço proposto para a realização de atividades ligadas à expressão corporal, com aulas de samba, charme, funk, hip-hop, danças afro-brasileiras, além de aulas de jongo e capoeira. Uma sala de workshops e uma sala multiuso integram o local.

Figura 132 – Pré-dimensionamento do Espaço do Corpo. Elaborada pela autora, 2017

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5.2.5 - Espaço da Gastronomia Espaço de convivência e confraternização, além de local para degustação de pratos típicos da culinária brasileira e afro-brasileira. Churrascos, rodas de samba, feijoadas, dentre várias festividades são celebradas no terraço público. Salas para cursos culinários, sanitários e vestiários integram o ambiente.

Figura 133 – Pré-dimensionamento do Espaço da Culinária. Elaborada pela autora, 2017

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5.2.6 – Administração A área administrativa é composta de recepção e cadastro, sala administrativa geral, sala da direção, sala para reuniões, sala para os educadores e uma sala administrativa para cada setor. Compreendem o núcleo uma sala de comunicação e uma área técnica, além de almoxarifado, copa/área de estar e sanitários/vestiários.

Figura 134 – Pré-dimensionamento da área administrativa. Elaborada pela autora, 2017

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5.2.7 – Apoio logístico A área possui salas de controle operacional, almoxarifado geral, depósito de material de limpeza, uma copa/área de estar para os funcionários, sanitários/vestiários e um abrigo externo para resíduos.

Figura 135 – Pré-dimensionamento da área de apoio logístico. Elaborada pela autora, 2017

Figura 136 – Área construída por grupo e área total. Elaborada pela autora, 2017

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5.3 – Modulação A partir do programa de necessidades elaborado, optou-se pela modulação, tanto para fins de racionalização do processo construtivo, quanto para flexibilidade da combinação de elementos e contribuição para uma maior precisão maior na definição e alcance de medidas. Adotou-se o módulo básico de 5m x 5m (25m²) com pé-direito, em princípio, de 4,5 metros.

Figura 137 – Quantidade de módulos por grupo. Elaborada pela autora, 2017

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5.4 – Zoneamento O zoneamento considerou a necessidade da relação entre os setores, os acessos e a trajetória solar. As atividades que integram o Espaço da Música e do Corpo ocupam a porção do lote voltada para a via com baixo tráfego de veículos (Rua Dagmar da Fonseca). O Espaço das Artes e da Tecnologia posicionados na porção sudoeste do terreno são sombreados pela edificação na divisa do lote, que possui gabarito acima de 5 pavimentos. O Espaço da Gastronomia, uma ampla área de convivência e de grande destaque na relação de grandeza com os demais grupos, foi posicionado na porção frontal do lote de modo a interagir com a via principal (Rua Carolina Machado) e seus transeuntes. A área administrativa foi dividida em dois núcleos: dos educadores (sala dos educadores e salas administrativas de cada setor) e administrativa geral (recepção e cadastro, sala da administração geral, sala de reunião, sala da direção, área de comunicação, área técnica, almoxarifado e copa/estar). A área de apoio logístico e a área administrativa, situadas lado a lado, interagem entre si e configuram um grupo administrativo/logístico.

Figura 138 – Zoneamento. Elaborada pela autora, 2017

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Figura 139 – Relação de grandeza entre os grupos. Elaborada pela autora, 2017

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5.5 –Fluxogramas

Figura 140 – Fluxograma - Térreo. Elaborada pela autora, 2017

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Figura 141 – Fluxograma – 2º Pavimento. Elaborada pela autora, 2017

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Figura 142 – Fluxograma – 3º Pavimento. Elaborada pela autora, 2017

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Figura 143 – Fluxograma – 4º Pavimento. Elaborada pela autora, 2017

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5.6 – Estudos iniciais Subdividem-se entre estudos de volumetria e implantação.

5.6.1 – Volumetria A combinação dos módulos originou um volume prismático que, com sucessivas adições e subtrações gerou pátios internos, um percurso público e áreas permeáveis que colaboram para a ventilação e iluminação naturais.

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Figuras 144, 145 e 146 - Vistas do volume originado da combinação dos módulos. Elaborada pela autora, 2017

Figura 147 - Vista dos pátios internos. Elaborada pela autora, 2017

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5.7 – Implantação A implantação do projeto atentou-se para o grande percurso público formulado a partir da concepção volumétrica e os acessos propostos originalmente. A integração com três das importantes vias da região (Rua Carolina Machado, Rua Dagmar da Fonseca e Estrada do Portela) é o aspecto singular deste estudo, uma vez que permite o fluxo contínuo de pessoas. O acesso principal é realizado pela Rua Carolina Machado e o secundário pela Rua Dagmar da Fonseca.

Figura 147 – Percurso público. Elaborada pela autora, 2017

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Figuras 148 e 149 – Acesso principal e desenho esquemåtico da fachada principal. Elaborada pela autora, 2017

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Figuras 150 e 151 – Acesso secundário e desenho esquemático da fachada posterior. Elaborada pela autora, 2017

O recuo na face frontal do lote teve a intenção de alinhar e aproximar o volume proposto com a edificação vizinha, contribuindo para a formação de um grande espaço de convivência e lazer na parte profunda do lote. A finalidade do recuo na lateral-direita do lote é preservar as condições de iluminação e ventilação das lindeiras.

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Figura 152 – Recuo na lateral-direita. Google Maps, 2017

Figura 153 – Residências multifamiliares na divisa do lote. Google Maps, 2017

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CAPÍTULO 6 – MEMORIAL DESCRITIVO O presente memorial descritivo tem por objetivo estabelecer requisitos técnicos, definir materiais, explicitar iniciativas sustentáveis e demais particularidades conforme projeto arquitetônico de um edifício de uso cultural, composto por subsolo18, térreo e 3 pavimentos a ser edificado no bairro de Madureira, localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. 6.1. – Soluções projetuais 6.1.1 – Fundação A fundação será do tipo sapata isolada rígida e vigas baldrame. Esse tipo de fundação não necessita de equipamentos específicos para a sua realização, além de ser recomendada para solos homogêneos, onde não há a possibilidade de grandes recalques. É a solução, em geral, mais econômica pois consome menos concreto.

Figura 154 – Sapata isolada. Fonte: < https://esquaadros.wordpress.com/>

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A proposta contempla a possibilidade da construção de subsolo para vagas rotativas, área técnica para o auditório, apoio logístico e reservatórios inferiores.

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6.1.2 – Sistemas construtivos 6.1.2.1 – Alvenaria de vedação Amplamente utilizada na área onde o projeto será implantado, a alvenaria convencional, também conhecida como alvenaria de vedação, não possui nenhuma função estrutural (nãoportante) e é realizada com tijolos cerâmicos e argamassa de assentamento.

Figura 155 – Alvenaria convencional. Fonte: <https://www.astra-sa.com.br/>

6.1.2.2 – Laje nervurada Para contemplar os grandes vãos existentes no projeto, na ordem de 10 metros de espaçamento entre pilares, optou-se pela laje nervurada bidirecional19 moldada in loco, representadas pelo uso de fôrmas plásticas (conhecidas como cubetas ou cabaças) e apoiadas em vigas-faixas.

19

Lajes bidirecionais: indicadas para conseguir vãos maiores, em edifícios mais altos, com mais pavimentos e plantas com aspectos mais regulares, com repetição nas estruturas. Essa solução oferece maior resistência aos esforços horizontais, dispensando pilares mais robustos. Fonte: <https://www.atex.com.br/>. Acesso em 07 dez. 2018.

136


Figura 156 – Fôrmas plásticas. Fonte: <https://www.atex.com.br/>

Figura 157 – Laje nervurada com viga-faixa. Fonte: <https://www.atex.com.br/>

As vantagens na utilização desse sistema são inúmeras, dentre as quais destacam-se: - Redução de concreto e aço: o uso da laje nervurada elimina o concreto que não tem função estrutural. Assim, além de deixar a estrutura mais leve, reduz o uso de concreto e aço em até 40%. - Maior produtividade e agilidade da obra: a execução das lajes nervuradas tem leitura e montagem facilitadas. Na montagem do sistema de escoramento, a instalação das fôrmas é realizada nas guias, sem a necessidade de mão de obra especializada. O processo de montagem 137


da laje é prático. A colocação e retirada das fôrmas é rápida, e a armadura é mais simples. Ao final, a obra gera menos resíduos e é mais segura para os operários. - Vãos mais amplos: a laje nervurada viabiliza a execução de vãos de maior envergadura sem que sejam muito dispendiosos para a estrutura. A laje mais leve permite que os pilares sejam afastados, e por ser de alta capacidade de carga, não sofrem deformações e flechas. A eliminação de pilares e vigas resulta, também, em um ganho de produtividade durante a execução da estrutura. - Obra sustentável: as fôrmas usadas na concretagem de lajes nervuradas dispensam a necessidade de assoalhar. Logo, não se utiliza madeira nas partes moldadas pelas fôrmas. Todo este processo resulta em menor consumo de energia e redução na emissão de CO2. - Redução das fundações: com esse tipo de laje, o peso total da edificação é em média mais de 15% mais leve que as construções com laje maciça. Dessa forma, os custos de escavação e fundação da edificação são proporcionalmente reduzidos.

6.1.3 – Cobertura A cidade do Rio de Janeiro é cometida, em boa parte do ano, por desconforto relacionado ao calor e alta precipitação de chuvas (Gráficos 06 e 07), principalmente nos meses de janeiro, fevereiro e março (Gráfico 05).

Gráfico 05 – Condições de conforto térmico. Fonte: <http://projeteee.mma.gov.br/>

138


Gráfico 06 – Temperatura e zona de conforto. Fonte: <http://projeteee.mma.gov.br/>

Gráfico 07 – Precipitação de chuva mensal. Fonte: <http://projeteee.mma.gov.br/>

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Nesse contexto, a cobertura verde é uma opção sustentável que contribui para ambientes mais confortáveis, atuando como isolante acústico e térmico, retenção da poluição, além da absorção das águas pluviais, reduzindo a chance de enchentes. O sistema de cobertura extensiva20 é mais simples e resistente, além de implicar baixo custo de manutenção e de menor sobrecarga sobre a estrutura da edificação. Convém ressaltar que sua utilização se restringe à manutenção, não permitindo o tráfego de pessoas.

Figura 158 – Cobertura verde extensiva. Fonte: <https://ecotelhado.com/>

20

São coberturas que apresentam vegetais com enraizamento superficial principalmente musgos e herbáceas. Seu peso é reduzido devido à espessura reduzida das camadas de suporte e da leveza dos vegetais. É principalmente executada em superfícies planas. Fonte: <https://www.eec.ufg.br/up/140/o/COBERTURAS_VERDES__ANALISE_DO_IMPACTO_DE_SUA_IMPLANTA%C3%87%C3%83O_SOBRE_A_REDU%C3%87%C3% 83O_DO_ESCOAMENTO_SUPERFICIAL.pdf/>

140


6.1.4 – Incêndio e pânico A lei21 que dispõe sobre as normas de segurança contra incêndio e pânico no Estado do Rio de Janeiro, em seu Art. 10 ressalta que: II - Para a edificação com o máximo de 3 (três) pavimentos e área total construída superior a 900m2 (novecentos metros quadrados), será exigida a Canalização Preventiva Contra Incêndio [...];

A canalização preventiva também é exigida para edificações com mais de 12m de altura em relação ao nível da rua, além de portas corta-fogo, escadas e rede de chuveiros automáticos do tipo sprinkler, além de reservatório superior e inferior de água, como salienta os Art. 12, inciso IV e Art. 25, respectivamente: IV - Para a edificação cuja altura exceda a 12m (doze metros) do nível do logradouro público ou da via interior, serão exigidas Canalização Preventiva Contra Incêndio, prevista no Capitulo VI, e portas corta-fogo leves e metálicas e escadas previstas no capítulo XIX, e rede de chuveiros automáticos do tipo “Sprinkler”[...]; Art. 25 - São exigidos um reservatório d’água superior e outro subterrâneo ou baixo, ambos com capacidade determinada, de acordo com o Regulamento de Construções e Edificações de cada Município, acrescido, o primeiro, de uma reserva técnica para incêndio [...];

No que diz respeito no desempenho ao fogo das lajes nervuradas, a NBR 15200:2012 apresenta como a estrutura deve ser dimensionada a fim de respeitar as exigências de resistência ao fogo que constam na NBR 14432:2001. As exigências de resistência ao fogo podem ser formuladas com base em modelos de incêndio real, no entanto, o mais comum é exigir que a estrutura resista a um tempo preestabelecido (TRRF – tempo requerido de resistência ao fogo). O TRRF pode ser definido como o tempo mínimo, descrito em minutos, de resistência ao fogo que um elemento construtivo, quando sujeito ao incêndio-padrão, deve resistir respeitando os aspectos de integridade, estanqueidade e isolamento da estrutura. O TRRF é um valor em função do risco de incêndio e de suas consequências, não se trata, portanto, do tempo de duração do incêndio ou tempo resposta do Corpo de Bombeiros ou Brigada de Incêndio.

21

DECRETO Nº 897, DE 21 DE SETEMBRO DE 1976, REGULAMENTA o Decreto-lei nº 247, de 21-7-75, que dispõe sobre segurança contra incêndio e pânico. Disponível em: <http://www.cbmerj.rj.gov.br/pdfs/from_dgst/COSCIP.pdf/> . Acesso em 23 out. 2018

141


Para garantir a estabilidade estrutural em situação de incêndio são exigidas: a largura mínima da nervura (b mín. medida na altura do centro de gravidade da armação) e C1 (distância mínima da face da nervura ao centro de gravidade da armação) conforme método tabular da NBR 15200/2012:

Tabela 07 – Dimensões mínimas para lajes nervuradas. Fonte: ABNT NBR 15200:2012

Utilizou-se no projeto a fôrma nº 660, da Atex Brasil22, que possui TRRF especificado abaixo:

Tabela 08 – Dimensões mínimas de TRRF para as lajes nervuradas da Atex Brasil. Fonte: <https://www.atex.com.br/>

A espessura da lâmina23 de concreto da fôrma especificada é de 10cm (ds) (Tabela 10 e Fig. 160). Uma laje lisa (maciça), para atender ao TRRF mínimo de 30min, necessitaria de pelo menos 15cm de espessura (Fig.XX).

22 23

Disponível em: <https://www.atex.com.br/pt/formas/laje-nervurada/bidirecional/>. Acesso em 12 out. 2018 A lâmina de concreto refere-se à espessura da mesa de concreto.

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Tabela 09 – Espessura da lâmina de concreto da fôrma nº 660. Fonte: <https://www.atex.com.br/>

Figura 159 – Seção transversal da nervura. Fonte: <https://www.atex.com.br/>

Tabela 10 – Espessura (h) mínima para lajes lisas. Fonte: ABNT NBR 15200:2012

Resumidamente, os dados corroboram com algumas das vantagens do emprego da laje nervurada, citadas anteriormente. 143


6.1.5 – Dimensionamento dos reservatórios de água O cálculo de dimensionamento dos reservatórios de água baseia-se no consumo diário (em litros). Este valor traduz o volume máximo previsto para o consumo da edificação durante um período de 24 horas. Para calcular o consumo diário de uma edificação, utilizam-se tabelas apropriadas24: verifica-se a taxa de ocupação de acordo com o tipo de uso do edifício e o consumo per capita (por pessoa).

Tabela 11 – Taxa de ocupação de acordo com a natureza do local. Fonte: <https://www.extra-imagens.com.br/>

24

Hélio Creder, Instalações hidráulicas e sanitárias 5.ª ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1991; Joseph Archibald Macintyre. Manual de instalações hidráulicas e sanitárias. Rio de Janeiro: Guanabara, 1990.

144


Tabela 12 – Valores indicativos de consumo predial diário. Fonte: <https://www.extra-imagens.com.br/>

Como a edificação possui ambientes com diferentes usos, faz-se necessária a estimativa individual. A partir das tabelas referidas, têm-se:

145


Figura 160 – Consumo diário do pavimento térreo. Elaborada pela autora, 2018

Figura 161 – Consumo diário do 1º pavimento. Elaborada pela autora, 2018

146


Figura 162 – Consumo diário do 2º pavimento. Elaborada pela autora, 2018

Figura 163 – Consumo diário do 3º pavimento. Elaborada pela autora, 2018

147


A capacidade de duração de 2 dias (48 horas) é o ideal para o dimensionamento de reservatórios. O valor do consumo predial total é de 71674,7 litros/dia. Logo, dobra-se o valor, resultando em 143349 litros/dia. Deste total, 40% será armazenado no reservatório inferior (RI) e 60% no reservatório superior (RS), mais a reserva técnica de incêndio (RTI), adicionando-se mais 20% no valor deste. Resumidamente, tem-se: RESERVATÓRIO SUPERIOR: 71674,7 + 20% (RTI) = 86009,6 litros RESERVATÓRIO INFERIOR: 57339,6 litros

6.1.5 – Sistema de manuseio do lixo domiciliar A Companhia Municipal de Limpeza Urbana é responsável, no município do Rio de Janeiro, pelas instruções técnicas adequadas ao manuseio do lixo domiciliar em edificações. O documento sublinha que “o correto manuseio dos resíduos sólidos, incluindo a limpeza, manutenção e conservação dos recipientes e dos locais de estocagem e oferta, é de exclusiva responsabilidade de seus geradores, pessoas físicas ou jurídicas”. A estocagem temporária dos resíduos é realizada por meio de contêineres de 120l e 240l e a quantidade é especificada no grupo abaixo:

Tabela 13 – Quantidade mínima de contêineres. Fonte: Sistema De Documentação Comlurb Manuseio Do Lixo Domiciliar Em Edificações

A edificação possui atividades mistas, logo o cálculo diário (estimado) da produção de resíduos será de acordo com os ambientes que ela abriga, realizado por pavimento.

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Tabela 14 – Estimativas de produção diária de lixo por tipo de construção. Fonte: Sistema De Documentação Comlurb Manuseio Do Lixo Domiciliar Em Edificações

Com base nas estimativas da tabela referida, têm-se:

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Figura 164 – Resíduos diários do pavimento térreo. Elaborada pela autora, 2018

Tabela 165 – Resíduos diários do 1º pavimento. Elaborada pela autora, 2018

150


Figura 166 – Resíduos diários do 2º pavimento. Elaborada pela autora, 2018

Figura 167 – Resíduos diários do 3º pavimento. Elaborada pela autora, 2018

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Utilizando-se contêineres de 240l, têm-se no total 60 contêineres, distribuídos da seguinte maneira: 

Térreo = 16 contêineres

1º Pavimento = 9 contêineres

2º Pavimento = 6 contêineres

3° Pavimento = 29 contêineres Os contêineres estarão localizados no subsolo da edificação, em compartimento de coleta

com piso e paredes revestidos com material impermeável, resistente e de fácil limpeza. 6.1.5.1 – Coleta seletiva A região de Madureira e adjacências dispõe de serviço de coleta seletiva: o recolhimento porta a porta é feito uma vez por semana, em dias alternados da coleta domiciliar. O material recolhido é destinado para 22 núcleos de cooperativas de catadores, formalmente constituídos e/ou em processo de constituição, cadastrados junto à Companhia, que recebem gratuitamente materiais recicláveis da coleta seletiva, fazem a separação e comercializam os recicláveis com empresas especializadas. É necessário frisar que, para que a coleta seja eficiente, os materiais recicláveis devem ser colocados limpos e secos, em sacos plásticos transparentes, pois assim o gari poderá verificar o conteúdo, evitando a mistura do material reciclável com o lixo domiciliar. Os sacos pretos são destinados apenas para lixo orgânico e lixo úmido e não serão coletados pela equipe da Coleta Seletiva. São coletados papéis, metais, plásticos e vidros, secos e limpos. Não é necessário separar o material por tipo.

152


Figura 168 – Folder informativo sobre a coleta seletiva. Fonte: <http://www.rio.rj.gov.br/web/comlurb/>

153


6.1.7 – Acabamentos 6.1.7.1 – Piso No pavimento térreo (área coberta) empregou-se caquinhos cerâmicos, comuns em algumas residências suburbanas.

Figura 169 – Caquinhos cerâmicos. Fonte: <http://www.puggina.org/>

Figura 170 – Residência no bairro de Mal.Hermes. Fonte: Google, 2018

Nas áreas descoberta, externa, pomar, horta comunitária, jardins e calçada de acesso principal optou-se por um piso permeável, antiderrapante, de alta resistência e durabilidade, de textura natural na cor cinza, da linha Ekko Plus25, da Castelatto.

25

A linha Ekko Plus possui excelente permeabilidade e sua aplicação possibilita a melhor relação entre área permeável/área total do terreno, tanto em projetos corporativos como em públicos e residenciais. Disponível em: <https://castelatto.com.br/produto/ekko-plus/>. Acesso em: 20 nov. 2018.

154


Figura 171 – Ekko Plus natural na cor cinza. Foto: Favaro Junior

Nas demais áreas do pavimento térreo (exceto o auditório), optou-se pelo piso de textura fresada, na cor areia, da linha Pacific26, também da Castelatto.

Figura 172 – Pacific fresado na cor areia. Foto: Favaro Junior

26

A linha Pacific é sustentável e possui propriedades atérmicas, ideal para uso em ambientes internos ou externos. Disponível em: <https://castelatto.com.br/produto/pacific/>. Acesso em 20 nov. 2018.

155


No auditório empregou-se carpete em rolo Beaulieu27 da linha Cross na cor Fairway.

Figura 173 – Carpete em rolo, cor Fairway. Fonte: <https://www.belgotex.com.br/>

No 1º pavimento, nas áreas destinadas às oficinas de música, dança, arquivo musical, workshops e salas multiuso optou-se pelo piso estruturado de madeira28 natural da espécie Cumaru, da Ezfloor.

Figura 174 – Piso de madeira Cumaru. Fonte: <http://ezfloor.com.br/piso-de-madeira/>

27

Disponível em: <https://www.belgotex.com.br/produtos/carpetes-comerciais/cross>. Acesso em 05 dez. 2018 É um tipo de revestimento originado através da construção de um compensado de madeiras reflorestadas especialmente desenvolvido como base do produto, prensado a uma capa serrada de madeira nobre (podendo variar entre 3mm e 4mm). Fonte: <http://ezfloor.com.br/piso-de-madeira/>. Acesso em 5 dez.2018. 28

156


Nas áreas de coordenação setorial, oficina de computação gráfica e audiovisual, workshops e demais áreas, utilizou-se o piso Pacific fresado na cor areia, da Castelatto, bem como as áreas do 3º e 4º pavimento, exceto o terraço, onde escolheu-se o piso de caquinhos cerâmicos. 6.1.7.2 – Parede No interior, as paredes receberão pintura acrílica fosca (cor a definir posteriormente), exceto nas áreas molhadas (cozinha e banheiros). Na cozinha e banheiros optou-se pelo porcelanato29 natural City of White, da Portobello. Nos banheiros, ladrilhos hidráulicos auxiliam na composição dos ambientes.

Figura 175 – Porcelanato natural City of White. Fonte: <https://www.portobello.com.br/>

Figura 176 – Ladrilhos hidráulicos. Fonte: <https://www.helodecor.com/>

29

Disponível em: <https://www.portobelloshop.com.br/produtos/city/porcelanato/city-off-white/90x90natural/20461> . Acesso em 5 dez. 2018.

157


Nas fachadas principal e secundária, em toda a casca que envolve a edificação, optou-se pela textura projetada30 com acabamento flocado semelhante ao chapisco na cor cinza (cimento) (Fig.178). Revestimento corriqueiro nos muros das residências do subúrbio, o chapisco é popularmente utilizado em obras, responsável por dar sustentação à massa do reboco. Também é utilizado como revestimento final, com ou sem pintura (Fig. 179).

Figura 177 – Textura projetada. Fonte: <http://cyz.ind.br/>

Figura 178 – Chapisco aplicado em muro no quintal suburbano. Foto: Acervo pessoal

30

A textura projetada é um tipo de acabamento que possui as funções de decoração e de proteção. É hidrorrepelente: apresenta uma forma efetiva de prevenção contra infiltrações, mofos e fungos. Em geral, o seu uso é feito em áreas externas, mas também pode ser utilizada em ambientes internos. O revestimento é lavável, o que assegura praticidade e durabilidade, além de não exigir pintura, já que a massa pode vir pigmentada. Fonte: <http://cyz.ind.br/2017/07/26/textura-projetada-tudo-sobre/>. Acesso em 5 dez. 2018.

158


6.1.7.3 – Teto Optou-se pelo forro apenas nas áreas molhadas (banheiros e cozinha). Nas demais áreas, optou-se por evidenciar a plasticidade das estruturas nervuradas com recursos de luminotécnica e com as instalações elétricas aparentes, facilitando a manutenção das mesmas. 6.1.8 – Portas, janelas e guarda-corpos Nas áreas destinadas às oficinas, as esquadrias (portas e divisórias) serão de alumínio com pintura eletrostática na cor preta e vidro duplo liso incolor (acústico) com espessura total de 20mm31, com perfis de 5 cm.

Figura 179 – Esquadrias. Fonte: https://www.originalsystemrp.com.br/>

As portas das demais áreas serão de madeira com acabamento selador32, com exceção da porta contra incêndio (corta-fogo). As janelas serão de madeira, do tipo camarão, com acabamento selador. As janelas dos banheiros serão do tipo maxim-ar com vidro mini boreal. Os guarda-corpos empregados nas fachadas, nos halls e no patamar intermediário das rampas serão de estrutura metálica (gradis) com pintura eletrostática na cor preta. As rampas serão de

31

O vidro duplo acústico é formado por uma câmara de ar de 12mm e vidros de 4mm cada. Fonte: <http://www.ekoglass.com.br/>. Acesso em: 5 dez. 2018. 32 O selador tem como função fechar os poros da madeira contribuindo para sua conservação, além de proporcionar um visual suave e acetinado ao material. Fonte: <https://www.portello.com.br/noticias-interessantes/234-qualmelhor-acabamento-portas/>. Acesso em 5 dez. 2018.

159


concreto com guarda-corpo também em concreto, com pintura acrílica fosca na cor Laranjeira33, da Suvinil, bem como a escada metálica presente no térreo. 6.1.9 – Cobogós Amplamente utilizado no subúrbio, esse elemento de vedação vazado e modular, conhecido popularmente como tijolo furado, proporciona iluminação e ventilação natural dos ambientes, além de possuir função estética, com desenhos que garantem um jogo de luz e sombras únicos, conferindo ao mesmo tempo privacidade aos ambientes.

Figura 180 – Residências no bairro de Oswaldo Cruz. Google, 2018

Elemento de destaque no projeto, o cobogó está presente no auditório e no hall de acesso aos banheiros e escada de emergência.

Figura 181 – Cobogós envolvem a parede do auditório. Elaborada pela autora, 2018.

33

Disponível em: <https://www.suvinil.com.br/cor/laranjeira-e028/>. Acesso em 5 dez. 2018.

160


6.1.10 – Gradis Outro elemento comumente utilizado no subúrbio, com diversos padrões e modelos, os gradis metálicos compõem janelas, portas e muros das residências suburbanas.

Figura 182 – Residência no bairro de Cascadura. Google, 2018.

Figura 183 – Residência no bairro de Guadalupe. Google, 2018.

Outro elemento de destaque no projeto juntamente com os cobogós, os gradis estão presentes na configuração dos guarda-corpos das áreas comuns, nas fachadas e em parte da rampa.

161


Figura 184 – Painel de gradis. Elaborada pela autora, 2018.

Figura 185 – Gradis no patamar intermediårio das rampas. Elaborada pela autora, 2018.

162


6.1.11 – Divisórias móveis As divisórias móveis tornam os ambientes flexíveis, empregando versatilidade ao projeto, adequando-se a diversos usos. Esbeltas, garantem o fechamento total do ambiente, proporcionando privacidade quando necessária. São utilizadas nos ambientes referentes às oficinas de música e dança, salas multiuso e workshops. Acústicas, asseguram o isolamento necessário às práticas de tais oficinas.

Figura 186 – Divisórias móveis esbeltas. Fonte: <http://gbpartitionwall.com.br/>

6.1.12 – Painéis móveis As fachadas evidenciam painéis móveis fabricados em madeira laminada colada assemelhando-se aos elementos vazados de cerâmica, os cobogós. Com o mesmo intuito dos tijolos furados, os painéis asseguram a privacidade dos ambientes e ao mesmo tempo filtram a entrada de luz e ventilação naturais, além de assegurar dinamismo às fachadas.

163


Figura 187 – Paineis móveis. Elaborada pela autora, 2018.

6.2 – Sustentabilidade Inciativas sustentáveis em projetos de arquitetura deixaram de ser uma tendência para se tornarem cada vez mais necessárias, uma vez que as construções sustentáveis minimizam os impactos causados ao meio ambiente, são realizáveis financeiramente e promovem o desenvolvimento social, oferecendo condições de conforto e usabilidade aos ambientes projetados.

Figura 188 – Os três pilares da sustentabilidade. <http://www.revistaespacios.com/>

164


Dentro desse contexto, o projeto propõe-se a reforçar algumas iniciativas sustentáveis com soluções que contemplem o uso racional do consumo de água e de energia, como o design das peças sanitárias e o uso de arejadores e reguladores de vazão nos chuveiros e nas torneiras, o reaproveitamento das águas pluviais, uso de lâmpadas do tipo LED, hortas comunitárias e estratégias bioclimáticas (aproveitamento da luz e ventilação naturais, espelhos d’água, e áreas verdes). 6.2.1 – Racionalização do consumo de energia e água 6.2.1.1 – Chuveiros, torneiras e bacias sanitárias Os chuveiros, torneiras e bacias sanitárias são, de longe, os maiores responsáveis pelo o maior consumo de água potável das edificações. As bacias sanitárias com válvulas de duplo acionamento, uma para resíduos líquidos (vazão de 3 litros) e outra para resíduos sólidos (vazão de 6 litros), podem gerar uma economia diária de água de até 30%34. Os modelos mais antigos, ao contrário, chegam a gastar até 15 litros de água por descarga.

Figura 189 – Bacia sanitária com duplo acionamento. <https://apto.vc/>

Quanto aos chuveiros e torneiras, uma solução eficaz são os arejadores e reguladores de vazão, pequenas peças instaladas diretamente na saída de água que reduzem a vazão de água, gerando uma economia em mais de 60%35.

34

Disponível em: <http://www.coletivoverde.com.br/eco-banheiro-dicas-para-transformar-seu-banheiroeconomizar-agua-e-trazer-mais-sustentabilidade-para-sua-casa/>. Acesso em 8 dez. 2018 35 Os arejadores de pressão misturam ar e água, diminuindo os respingos e desperdícios, já que o usuário tem a impressão de maior volume de água. Esse dispositivo pode gerar uma economia de 57% a 76% de água. Quanto aos reguladores de vazão, dispositivo que torna a vazão de água constante independente da pressão exercida, a economia pode chegar até 62%. Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/component/content/article/43-dropsagua/5109-dispositivos-para-economizar-agua-no-seu-condominio.html/>. Acesso em 8 dez. 2018

165


Figura 190 – Dispositivos economizadores. <https://idral.com.br/solucoes-sustentaveis/>

6.2.1.2 – Reaproveitamento das águas pluviais Ás aguas provenientes da cobertura, serão coletadas para o reservatório inferior, localizado no subsolo. Após filtragem, serão utilizadas principalmente para a irrigação dos jardins e lavagem dos pisos.

Figura 191 – Esquema do funcionamento do sistema de aproveitamento das águas pluviais em edificações.

<https://idral.com.br/solucoes-sustentaveis/>

6.2.1.3 – Utilização de lâmpadas do tipo LED Produzidas com materiais recicláveis, as lâmpadas do tipo LED não agridem o meio ambiente, pois não contém gases metálicos, mercúrio e outros elementos nocivos que compõem 166


a estrutura das lâmpadas convencionais. Com intensidade de luz e durabilidade superior às convencionais, consomem de 50% a 80% menos energia que as lâmpadas convencionais. A tecnologia LED transforma em luminosidade quase 100% da eletricidade que necessita, gerando menos calor e consequentemente proporciona ambientes mais agradáveis. Ao contrário, as lâmpadas convencionais convertem apenas 5% da energia que usam em luz, o restante é convertido em calor.

Figura 192 – Durabilidade e economia do emprego de lâmpadas do tipo LED. Fonte: <http://daycom.com.br/>

6.2.2 – Estratégias bioclimáticas 6.2.2.1 – Ventilação e iluminação naturais A ventilação cruzada promove a remoção do calor por acelerar as trocas por convecção e também contribui para melhoria da sensação térmica dos usuários elevando os níveis de evaporação. A troca constante da qualidade do ar cria ambientes salubres e confortáveis, reduzindo os gastos energéticos, principalmente a diminuição do uso de ar condicionado que é um dos principais consumidores de energia. Na cidade do Rio de Janeiro, onde o projeto está inserido, a ventilação natural tem uma aplicabilidade no verão, por exemplo, de 60%, valendo-se de um recurso eficaz (Gráfico 08). O uso de grandes aberturas, pátio interno, elementos permeáveis (cobogós), arborização e parte do térreo livre contribuem para a troca constante de ar, produzindo ambientes confortáveis. 167


Gráfico 08 – Aplicabilidade da ventilação natural por estação e por horário, na cidade do Rio de Janeiro. Fonte: <http://projeteee.mma.gov.br>

A orientação geográfica das fachadas principal e secundária (Sul e Norte, respectivamente), contribuem para a maior parte da luz natural. O pátio interno (jardim), espaço aberto intermediário, auxilia na condução da luz, bem como as aberturas, janelas e a transmissividade dos vidros colaborando para uma maior quantidade de luz natural a penetrar a edificação. 6.2.2.1 – Espelhos d’água Lâminas de água localizadas no térreo com 25cm de profundidade, simultaneamente com os outros recursos bioclimáticos, ajudam a minimizar a temperatura no interior da edificação. A água armazenada pela estrutura é proveniente da captação das águas pluviais e utilizada para para fins não potáveis, como a irrigação dos jardins e canteiro ou descargas em banheiros.

168


6.2.2 – Hortas comunitárias As hortas comunitárias pertencem e são geradas pela comunidade possibilitando o estreitamento dos laços sociais, além de oferecer um ambiente saudável e agradável onde todos possam ter um maior contato com a natureza. É economicamente viável e ambientalmente correta, pois a produção é agroecológica, sendo proibida a utilização de agrotóxicos no cultivo. No projeto, optou-se por canteiros elevados, com diversos cultivos (hortaliças, vegetais e ervas medicinais).

Figura 193 – Canteiros suspensos. <https://ciclovivo.com.br/>

Figura 194 – Perspectiva dos canteiros suspensos. Elaborada pela autora, 2018.

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6.2.2 – Áreas verdes Além da função paisagística, há inúmeros benefícios climáticos proporcionados pelas áreas verdes, como: redução da poluição sonora, sombreamento, redução da velocidade dos ventos, melhorias na qualidade do ar e na saúde física e mental dos usuários que as utilizam, além de acarretar oportunidades para o exercício de convivência solidária entre as pessoas e a natureza, o estreitamento dos vínculos familiares e estabelecimento de novas relações de amizades. 6.2.2.1 – Jardins As espécies empregadas no projeto são adequadas ao clima local e às áreas urbanas, não destroem calçadas e danificam a rede elétrica, além de ter função paisagística. Jasmim-do-caribe (Plumeria pudica): conhecida também como buquê de noiva, é um arbusto de origem colombiana. Possui porte entre 2m e 4m de altura e copa com 2m de diâmetro. Floresce durante a primavera, verão e início do outono.

Figura 195 – Jasmim-do-caribe (Plumeria pudica). Fonte: <http://www.jardimcor.com/>

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Jasmim-manga (Plumeria rubra): árvore de origem sul-americana, possui porte entre 5m e 8m de altura e copa com 6m de diâmetro. Floresce entre o fim do inverno e começo da primavera.

Figura 196 – Jasmim-manga (Plumeria rubra). Fonte: <https://br.pinterest.com/>

Pata-de-vaca (Bauhinia variegata): árvore de origem asiática, com porte entre 6m e 9m de altura e copa com 6m de diâmetro. O florescimento vistoso inicia em meados do inverno e permanece durante a primavera.

Figura 197 – Pata-de-vaca (Bauhinia variegata). Fonte: <https://www.bomcultivo.com/>

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Quaresmeira (Tibouchina granulosa): árvore nativa da Mata Atlântica, com porte entre 8m a 12m de altura e copa com 7m de diâmetro. Floresce duas vezes por ano, entre junho e agosto e, de maneira bem mais intensa, de dezembro a março - com o auge na época da Quaresma Católica, entre o Carnaval e a Semana Santa.

Figura 198 – Quaresmeira (Tibouchina granulosa). Fonte: <http://www.vivafloresta.org/>

Ipê-mirim (Tecoma stans): árvore de origem sul-americana, com porte entre 4m e 6m de altura e copa com 5m de diâmetro. Floresce durante o verão.

Figura 199 – Ipê-mirim (Tecoma stans). Fonte: <http://www.palmeirasplantas.com.br/>

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Resedá (Lagerstroemia indica): árvore de origem asiática, possui porte entre 8m e 12m de altura e copa com 6m de diâmetro. Floresce de outubro a março.

Figura 200 – Resedá (Lagerstroemia indica). Fonte: <http://www.alternativarural.com.br/>

6.2.2.1 – Pomar O pomar é composto por algumas árvores frutíferas comuns nos quintais suburbanos, como aceroleira, goiabeira, caramboleira, pitangueira e mangueira. Aceroleira (Malpighia emarginata): árvore de origem sul-americana, possui porte entre 2m e 4m e copa com 2m. Seu fruto, apesar de pequeno, possui um índice de vitamina C 100 vezes maior do que o de frutas cítricas. Além dessa vitamina, o fruto é fonte de ferro, cálcio, fósforo, antocianinas e carotenoides. Normalmente concentra a frutificação no período de primavera e verão.

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Figura 201 – Aceroleira (Malpighia emarginata). Fonte: <https://www.hsnstore.com/>

Goiabeira (Psidium guajava): árvore de origem sul-americana, possui porte entre 6m e 9m e copa com 4m de diâmetro. Suas folhas tem propriedades medicinais e sua frutificação se estende desde o verão até o outono.

Figura 202 – Goiabeira (Psidium guajava). Fonte: <https://www.remedio-caseiro.com/>

Caramboleira (Averrhoa carambola): árvore de origem asiática, com porte entre 6m e 8m de altura e copa com 6m de diâmetro. É rica em sais minerais (cálcio, fósforo e ferro), vitaminas A, C e do complexo B, é considerada uma fruta febrífuga e antiescorbútica. Sua frutificação ocorre em dezembro.

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Figura 203 – Caramboleira (Averrhoa carambola). Fonte: <https://www.plantei.com.br/>

Pitangueira (Eugenia uniflora): árvore de origem sul-americana, possui porte entre 2m e 4m (arbustivo) e entre 6m e 12m (arbóreo) com copa entre 3m e 6m de diâmetro. Floresce na primavera e os frutos ocorrem até o final do verão. A tradição popular atribui algumas qualidades terapêuticas às infusões feitas com as folhas verdes da pitangueira (chá de pitanga ou chá de pitangueira).

Figura 204 – Pitangueira (Eugenia uniflora). Fonte: <https://vivoplantas.com.br/>

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Mangueira (Mangifera indica): árvore de origem asiática, com porte acima de 12m de altura e copa densa e frondosa de aproximadamente 10m.

Floresce de julho a setembro e sua

frutificação ocorre no período de novembro a março. Muito comum nos quintais suburbanos, a espécie pode chegar a 30m de altura.

Figura 205 – Mangueira (Mangifera indica). Fonte: <http://atacadaodasarvores.com.br/>

6.2.2.1 – Canteiro Para o canteiro, optou-se pelo o arbusto conhecido como Louro-de-jardim (Ixora coccínea), com porte médio de 1,2m de altura e copa aproximadamente de 1,5m de diâmetro. A floração ocorre na primavera e verão. Possui inflorescências com numerosas flores de cor amarela, vermelha, laranja ou cor-de-rosa.

Figura 206 – Louro-de-jardim (Ixora coccinea). Fonte: <http://minhasplantas.com.br/>

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CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa investigou a importância e a pertinência do tema Subúrbio Carioca, pouco estudado e, de um modo geral, pouco valorizado em função das representações simbólicas construídas pelo senso comum. Região esquecida por muitos, mas exaltada por alguns, o subúrbio carioca é de difícil definição, dada a sua multiplicidade e mutabilidade. Conforme se observou ao longo da pesquisa, o subúrbio carioca é dotado de uma pluralidade e singularidade de vivências, expressões e subjetividades, que se sobrepõem e se inter-relacionam com a paisagem. Uma das marcas do subúrbio carioca é a sua relação com o território, entendida apenas na vivência cotidiana. Encontramos ali uma sociabilidade menos corrompida pelos modos impessoais da metrópole, já que possui uma forma específica de práticas culturais e sociais, que geram costumes e valores sui generis. É um balaio de manifestações culturais em constante reinvenção. Festa, comida, religião e samba se misturam, reafirmando valores e símbolos que são transmitidos de geração em geração. No lugar escolhido para a intervenção, o bairro de Madureira, a pesquisa se debruçou na efervescência cultural, no papel dinamizador e centralizador da cultura do subúrbio carioca. A proposta de intervenção arquitetônica é validada ainda pelo déficit de equipamentos culturais no subúrbio, que piora quando se chega à escala do bairro. Em contrapartida, convém ressaltar que a dimensão da produção cultural e artística deve ultrapassar esses equipamentos: a cultura precisa estar nas ruas e nas praças, enfim, em todos os lugares de convivência, a fim de fortalecer círculos afetivos e simbólicos, que são as forças motrizes para a construção do Quintal da Cultura do Subúrbio Carioca. O projeto pretende ir além do desenvolvimento cultural e artístico, na medida em que almeja contribuir para o desenvolvimento educacional e socioeconômico, por meio de geração de emprego e renda oriundas das oficinas de arte, culinária, informática etc. Tais atividades atenderão pessoas de todas as faixas etárias e socioeconômicas, ampliando o desejo pelo aprendizado de novos conhecimentos e cumprindo uma importante missão social, em termos da melhoria da qualidade de vida. A identificação de iniciativas potencialmente exitosas, geradas pela própria comunidade, a exemplo dos feitos empreendidos pelo Honório Gurgel Coletivo, deverão ser apoiadas e estruturadas. Cumpre dar a merecida visibilidade ao projeto. Fazer com que as pessoas se apropriem do espaço, desenvolvendo atividades que possam atrair o público periodicamente é o grande desafio imposto ao projeto. Conclui-se que é necessário que o projeto se insira e seja concebido a partir de um projeto de gestão social, que além da definição de um programa físico-funcional, deverá estar articulado em sistemas mais 177


amplos, seja a partir da experiência direta com a paisagem e com aqueles que partilham os seus significados, isto é, os seus frequentadores, seja a partir de uma profunda interlocução com as políticas culturais que condicionam a apropriação, a valoração e a transformação do espaço urbano.

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184


VISTA DA RUA CAROLINA MACHADO (ACESSO PRINCIPAL)

VISTA DA RUA DAGMAR DA FONSECA (ACESSO SECUNDÁRIO)


SALAS DE OFICINAS

PAINEL DE GRADIS


TERRAÇO PÚBLICO

PAINEIS MÓVEIS DE MADEIRA



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