semente roberta peres fioretto
ARQUITETURA BIOFÍLICA COMO ALIADA NA CURA MENTAL UEE | unidade de equilíbrio emocional
Universidade Presbiteriana Mackenzie | Faculdade de Arquitetura e Urbanismo orientadores: Catherine Otondo e Renato Kinker
Trabalho Final de Graduação - 2022
8
Dedico este trabalho ao meu pai pelo carinho que sempre recebi e à minha mãe, por todo o amor e desde de pequena me mostrar
a
importância
do
cuidado
mental
9
agradecimentos
Aos meus pais, Patricia e Luis, por sempre incentivarem meus estudos e
As minhas melhores amigas Paula, Bibi, Carol, Isabela, Giovanna e Ana
por todo apoio, auxílio, amor e carinho durante meu trajeto até aqui. À minha irmã
Beatriz por nunca largarem minha mão e ao Bruno por ser o melhor amigo que eu
Rafaela por ser uma amiga e companheira para todos os momentos, não poderia
poderia ter escolhido. Ao meu grupo Stockler pelas festas, amor e muitas risadas,
pedir por família melhor.
não teria chegado até aqui sem vocês. Por fim, ao Jean, Lucas, Leo e Maurício
Agradeço aos meus avós Zulmira, Paulo, José e Marina, por serem minha base e me darem todo o apoio que preciso. Aos meus tios, tias e primos pela torcida e amor que recebi desde que escolhi essa profissão. Ao Tiago, meu companheiro de vida, que comemorou ao meu lado as conquistas e me acolheu nos momentos mais desafiadores, obrigada.
pela parceria de tantos anos. Agradeço aos meus professores Cathe e Renato, por todos os ensinamentos durante esse ano e principalmente pelas palavras de incentivo e por me ajudarem a desenvolver esse trabalho com excelência. Aos meus diversos professores da Universidade Mackenzie que, de algu-
As minhas amigas Marina C, Luiza e Ana, por me mostrarem o real signifi-
ma maneira, auxiliaram minha trajetória desde o primeiro contato com arquitetura.
cado de amizade. Heloísa, Jade, Ingird, Julia e Marina M. pelos conselhos, apren-
Por fim, gostaria de agradecer a todos os meus colegas que cruzaram
dizados e trocas durante toda a faculdade. E a Marina Campidelli pela paciênca
meu caminho e participaram da da minha formação e aos leitores desse trabalho.
e por sempre me ensinar tanto. Ao Pedro e ao Guilherme por todas as risadas e conversas ao longo desses 5 anos.
sumário
01
INTRODUÇÃO | 16
02
TEMA | 20 2.1 Arquitetura Biofílica: conceito e estratégias..................22 2.2 Benefícios da natureza para a saúde e bem-estar......36 2.3 Covid-19 e suas consequências.................................38 2.4 Terapias alternativas e científicas.................................40 2.5 Sustentabilidade: conceito, certificações e soluções...44
03
REFERÊNCIAS PROJETUAIS | 48 3.1 Critérios de análise.........................................................50 3.2 Referência A - Escritório Central Grupo Carlsberg.........52 3.3 Referência B - Escola Simone Veil Dietrich....................58 3.4 Referência C - Centro Maggie de Leeds........................64 3.5 Referência D - Hospital Sarah Kubitschek......................70
04
LUGAR: HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO URBANO | 74
05
OBJETO PROJETUAL | 80 5.1 Área de intervenção........................................................82 5.2 Partido e desenvolvimento de projeto.............................94 5.3 O projeto.........................................................................96
06
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS | 128
12
lista de figuras Figura 01
Fonte - unsplash
Figura 02
Fonte - Pinterest
Figura 03
Fonte - autoral
Figura 04
Projeto de Safdie Architects e Perkins+Will para área de ensino e pesquisa do Hospital Albert Einstein em São Paulo.
Figura 05
Projeto de Safdie Architects e Perkins+Will para área de ensino e pesquisa do Hospital Albert Einstein em São Paulo.
Figura 06
Coworking em Londres com diferentes formas de aplicar a biofilia em um ambiente de trabalho
Figura 07
Escritório de arquitetura em São Paulo com a biofilia aplicada nas plantas, materiais em tons da natureza e iluminação natural
Figura 08
Lobby de um escritório nos Estados Unidos onde a biofilia se encontra nas aberturas, materialidade e vegetação
Figura 09
Casa cor 2018 mostrando como utilizar e integrar a natureza ao projeto
Figura 10
Projeto no Chile utilizando a estrutura de madeira na Expo Milão 2015
Figura 11
3 tipos de experiências que descrevem as 24 estratégias para uma aplicação bem sucedida da biofilia na arquitetura
Figura 12
Aberturas que valorizam a entrada da luz natural, escritório localizado em Pequim, na China
Figura 13
Hospital Rede Sarah, do Lelé, mostrando as aberturas e formatos que valorizam a ventilação natural
Figura 14
Sesc 24 de Maio, em São Paulo
Figura 15
Edifício residencial em Milão, Itália, onde a biofilia está extremamente presente nas fachadas
Figura 16
Comedouro de pássaros
Figura 17
Residência entre jardins, do VTN Arquitetos, localizada no Vietnam
Figura 18
Hotel em Huzhou, na China
Figura 19
Fogueira dentro do projeto do Sesc Pompeia, em São Paulo
Figura 20
Disposição de quadros com natureza presente
Figura 21
Residência em São Paulo projetada pelo escritório Suite Arquitetos
Figura 22
Residência em Betim, Brasil - projeto do escritório Liga Arquitetura e Urbanismo
Figura 23
Restaurante que simula iluminação natural com luz indireta
Figura 24
Ginásio de uma escola em Bali, Indonésia
Figura 25
Sydney Opera House, na Austrália
Figura 26
Participante do concurso de Taiwan para substituir um aeroporto que foi realocado
Figura 27
Taj Mahal de acordo com a proporção Áurea
Figura 28
“O edifício Johnson Wax de Frank Lloyd Wright apresenta colunas que se expandem à medida que sobem, semelhante a folhas de vitória régia
que flutuam na superfície da água.” Figura 29
Projeto de interiores em Jundiaí, São Paulo
Figura 30
Construções em Santorini, Grécia
13 Figura 31
Escola de música de Candelaria, Colômbia
Figura 32
Circulação galeria, localizado na China
Figura 33
High Line, localizado em Nova York, Estados Unidos
Figura 34
Museu de Arte da Universidade de Princeton, Estados Unidos
Figura 35
Área comum edifício residencial no Brooklin, São Paulo
Figura 36
Viaduto vazio em São Paulo, Março de 2020
Figura 37
Oficina Fibras Orientadas / Juan Alberto Andrade + María José Vascones, imagem de JAG Studio
Figura 38
Tirinha feita por Selma Machado Simão para o site da Sociedade Brasileira de Arteterapia
Figura 39
Pio Campo em uma das aulas de dançaterapia no Centro Maria Fux
Figura 40
O Edifício da Fundação Ford em East Midtown Manhattan, na cidade de Nova York
Figura 41
Objetivos de desenvolvimento sustentável pelo site da ONU
Figura 42
Baseado na ideia de criar uma conexão com a natureza, o Centro de Diabetes de Copenhague entrelaça o interior e o exterior, a fim de estimular
e nutrir pacientes e visitantes. Figura 43
Centro Maggie de Leeds
Figura 44
Foto do escritório
Figura 45
Relação entre uma das principais vias de acesso ao bairro e o edifício “ponte”, ala do Escritório Carlsberg
Figura 46
Relação do edifício com o jardim público
Figura 47
Implantação
Figura 48
Planta térreo
Figura 49
Átrio central com pé direito triplo
Figura 50
Diagramas - conceito projetual e área externa
Figura 51
Desenvolvimento sustentável e suas aplicações no edifício.
Figura 52
Foto externa da escola
Figura 53
Planta Térreo
Figura 54
Planta Primeiro Pavimento
Figura 55
Entrada da escola, paredes estruturais de concreto e pavimento superior em madeira laminada cruzada.
Figura 56
Construção do térreo levemente curvada e edifício superior retilíneo.
Figura 57
Átrio central com clarabóias na circulação para entrada de luz natural nas circulações.
Figura 58
Abertura com janelas próximas às salas de aula.
Figura 59
Térreo com materialidade em concreto, madeira e caixilhos de metal
Figura 60
Foto do Centro Médico de Leeds
14 Figura 61
Conexão arredondada das vigas no pilar
Figura 62
Vista interna de uma das circulações do centro de apoio
Figura 63
Planta do térreo
Figura 64
Implantação
Figura 65
Vista interna de um dos espaços de convivência do centro
Figura 66
Vista externa do projeto onde é possível observar o paisagismo que envolve toda a fachada
Figura 67
Hospital Rede Sarah
Figura 68
Corredor interno do hospital com as aberturas para a iluminação natural
Figura 69
Sheds curvos com fechamento das janelas basculantes (Fonte: Archdaily)
Figura 70
Vista interna do hospital mostrando os sheds e as aberturas (Fonte: Archdaily)
Figura 71
Municípios da cidade de São Paulo, com destaque na Macrorregião Centro-Oeste
Figura 72
Macrorregião Centro-Oeste
Figura 73
Bairro do Butantã no início do século XX
Figura 74
Desenvolvido pela autora - mapa de usos predominantes do solo e das principais rodovias do entorno
Figura 75
Evolução da Mancha Urbana da Macro região Centro Oeste.
Figura 76
Render do projeto - fonte autoral
Figura 77
Mapa de localização do projeto (Fonte: autoral)
Figura 78
Vista aérea do terreno escolhido, 4 galpões existentes (Fonte: Google Earth)
Figura 79
Galpão A (Fonte: Google Maps)
Figura 80
Galpão B (Fonte: Google Maps)
Figura 81
Galpão C (Fonte: Google Maps)
Figura 82
Galpão D (Fonte: Google Maps)
Figura 83
Vista de situação do terreno (Fonte: Google Earth)
Figura 84
Mapa do entorno (Fonte: autoral)
Figura 85
Mapa de zonas (Fonte: autoral)
Figura 86
Mapa de usos (Fonte: autoral)
Figura 87
Mapa de topografia (Fonte: autoral)
Figura 88
Mapa de hidrografia (Fonte: autoral)
Figura 89
Mapa de mobilidade urbana (Fonte: autoral)
Figura 90
Render do projeto (Fonte: autoral)
Figura 91
Isométrica do projeto com os principais acessos(Fonte: autoral)
15 Figura 92
Explodida mostrando os programas e a área total de cada ambiente (Fonte: autoral)
Figura 93
Diagrama de áreas externas (Fonte: autoral)
Figura 94
Vista externa espaço de convívio privado (Fonte: autoral)
Figura 95
Vista interna da biblioteca (Fonte: autoral)
Figura 96
Isométrica com diagrama solar (Fonte: autoral)
Figura 97
Explodida mostrando os principais fluxos (Fonte: autoral)
Figura 98
Implantação (Fonte: autoral)
Figura 99
Render - vista externa do jardim esquerdo e auditório (Fonte: autoral)
Figura 100
Render - jardim do lado direito
Figura 101
Planta do térreo (Fonte: autoral)
Figura 102
Render - abertura da sala de pilates para o grande jardim público (Fonte: autoral)
Figura 103
Render - uma das entradas do restaurante (Fonte: autoral)
Figura 104
Planta do primeiro pavimento (Fonte: autoral)
Figura 105
Elevações urbanas (Fonte: autoral)
Figura 106
Render do projeto (Fonte: autoral)
Figura 107
Corte 01 (Fonte: autoral)
Figura 108
Render jardim interno (Fonte: autoral)
Figura 109
Corte 02 (Fonte: autoral)
Figura 110
Corte 03 (Fonte: autoral)
Figura 111
Render - átrio com pé direito duplo (Fonte: autoral)
Figura 112
Render - vegetação sobre laje (Fonte: autoral)
Figura 113
detalhe 01 - fachada Norte, jardim sobre laje (Fonte: autoral)
Figura 114
Corte 04 (Fonte: autoral)
Figura 115
detalhe 02 - fixação do brise na laje (Fonte: Hunter Douglas)
Figura 116
Render do projeto (Fonte: autoral)
Figura 117
Fonte - Unsplash
Figura 118
Fonte - Pinterest
01
INTRODUÇÃO
17
Figura 01: fonte - unsplash
Figura 02: Fonte - Pinterest
18
19
19
Cada vez mais o cuidado mental vem sendo priorizado e discutido na sociedade como solução para uma boa qualidade de vida, principalmente em um cenário de pandemia/pós pandemia. Além disso, frente a essa nova realidade, a busca por espaços de descompressão e arborizados tem sido cada vez maior e mais necessária nos bairros da cidade de São Paulo. De acordo com Dave Alan Kopec, professor da New School of Architecture and Design de San Diego, a psicologia do espaço é o “estudo do comportamento humano em suas interrelações com os ambientes naturais e construídos”. A essência do homem enquanto indivíduo está diretamente ligado à natureza, e a biofilia é o meio pelo qual é possível compreender o nível de envolvimento do ser humano com a natureza. Sendo assim, o objetivo do trabalho é discutir as diferentes formas existentes de tratamento psicológico, e como a arquitetura em conjunto com o contato com a natureza do paisagismo tem influência nesse bem estar. Visa-se projetar espaços para atendimentos psicológicos tradicionais, além de explorar outras maneiras de cura mental, como por meio da dança, do artesanato, do contato com a natureza e pela prática de exercícios, trazendo uma nova visão de como cuidar da mente de diversas maneiras. Ademais, o discurso em torno de práticas ambientais, verdes, ecológicas ou sustentáveis já entrou no universo da arquitetura e a busca por soluções com o mínimo de impacto ambiental vem sendo cada vez mais necessária. Com isso em mente, pretendeu-se atender as demandas ecológicas e, como resultado, projetar um edifício ecoeficiente. Desse modo, a Unidade de Equilíbrio Emocional pretende servir como equipamento de auxílio à região do Butantã e incentivar, pelo programa, a busca por uma melhor qualidade de vida. Além disso, procura-se explorar a implantação de novos espaços públicos e arborizados na região e servir como conexão/transição entre a grande massa verde do Instituto Butantan e a Avenida Corifeu de Azevedo Marques.
02
TEMA
21
Figura 03: Fonte - autoral
22
2.1
Arquitetura Biofílica – conceito e estratégias
Em um mundo onde é cada vez mais comum que os elementos naturais sejam substituídos pelas grandes cidades e tecnologia, a busca da relação do ser humano com a natureza é extremamente necessária. Primeiramente, a palavra biofilia tem origem etimológica grega, onde Bio significa vida e Philia amor, sendo assim a biofilia traduzida em “amor pela vida”. A biofilia então, é um conceito científico que vem legitimar a necessidade humana de estar mais próximo da natureza, além de recuperar e compreender o nível de envolvimento do ser humano com esses elementos naturais. É um termo que foi usado pela primeira vez em 1964 pelo psicanalista alemão Erich Fromm e aprofundado posteriormente pelo biólogo Edward O. Wilson, em seu livro “Biophilia” publicado em 1984. Seu artigo define a conexão com a natureza, que mesmo no mundo moderno continua sendo essencial para a nossa saúde física, mental e para o nosso bem-estar. Ademais, este conceito foi trazido para a arquitetura em 2005 pelo ecologista americano Stephen Kellert, como “a necessidade de manter, melhorar e restaurar a experiência benéfica da natureza no ambiente construído”. Posteriormente, o ecologista desenvolveu suas pesquisas com a criação de um guia inédito para o design biofílico, onde ele define seus conceitos básicos, estratégias e benefícios. No entanto, o livro apresenta elementos extremamente abrangentes que não foram apresentados de forma clara, desse modo o arquiteto e designer Bill Browning buscou simplificar os conceitos criando os 14 padrões do design biofílico, termos que definem como melhorar o bem estar e a saúde no ambiente construído, publicado em 2014. Por fim, atualmente os artigos acerca do design biofílico são desenvolvidos a partir da bibliografia criada pela arquiteta e designer Elisabeth Calabrese e Stephen Kellert e publicada em 2015, que fizeram uma síntese dos estudos existentes e definiram de forma clara os cinco princípios da arquitetura biofílica e suas 24 estratégias para alcançá-lo.
23 Figura 04 e 05: Projeto de Safdie Architects e Perkins+Will para área de ensino e pesquisa do Hospital Albert Einstein em São Paulo (Fonte: Archdaily)
24 Conforme Kellert & Calabrese a arquitetura biofílica busca mais que apenas trazer elementos da natureza para dentro dos edifícios através da vegetação. Ela busca criar um bom habitat para as pessoas, a partir de espaços que ajudem a trabalhar e aprender com mais saúde, melhorando o desempenho e o bem-estar físico e mental. A partir daí, os autores propõem 3 tipos de experiências que descrevem as 24 estratégias para uma aplicação bem sucedida da biofilia na arquitetura. Essas experiências são divididas em: experiência direta da natureza, experiência indireta da natureza e experiência de espaço e lugar. Para que um projeto seja considerado biofílico, deve atender aos 5 princípios definidos pelos autores, que são intenções de projeto levadas em consideração desde o estudo preliminar, sendo elas:
01
02
Figura 06: Coworking em Londres com diferentes formas de aplicar a biofilia em um ambiente de trabalho (Fonte: Archdaily)
Figura 07: Escritório de arquitetura em São Paulo com a biofilia aplicada nas plantas, materiais em tons da natureza e iluminação natural (Fonte: Viva seu Itaim)
“Promover o envolvimento repetitivo e sustenta-
“Adaptar a vida humana ao mundo natural, para
do com a natureza” - O primeiro princípio afirma
aumentar a saúde, condicionamento e bem-es-
que deve-se haver a repetição contínua dos ele-
tar” - Esse princípio diz que é necessário adap-
mentos da natureza em um projeto, e não apenas
tar a forma que a natureza se encontra nos pro-
um único componente. Nota-se que a natureza
jetos para que o ser humano possa desfrutar
possui movimento, sequência e ritmo, o extre-
sem perder o conforto, evitando utilizá-la em sua
mo oposto de dispor os elementos isoladamen-
forma bruta. Dessa maneira, o cérebro conse-
te sem criar uma composição e tornando essa
gue captar o ambiente externo de forma a bai-
repetição de elementos o segredo para aproxi-
xar os níveis de cortisol e elevar o bem estar.
mar o ambiente construído ao ambiente natural.
25 25
03
04
05
Figura 08: Lobby de um escritório nos EUA onde a biofilia se encontra nas aberturas, materialidade e vegetação (Fonte: Jersey Digs)
Figura 09: Casa cor 2018 mostrando como utilizar e integrar a natureza ao projeto (Fonte: Archdaily)
Figura 10: Projeto no Chile utilizando a estrutura de madeira na Expo Milão 2015 (Fonte: Archdaily)
“Encorajar um apego emocional a ambientes e lu-
“Promover interações positivas entre pessoas e a
“Incentivar o fortalecimento mútuo, a intercone-
gares especiais” - O contato do homem com a
natureza, que incentiva um senso expandido de
xão e soluções de arquitetura de forma integra-
natureza é algo que ocorre desde os primórdios
relacionamento e responsabilidade pela comuni-
da” -
da humanidade, em contrapartida seu contato
dade humana e natural” - Como foi citado ante-
não ocorre de forma desconectada da arquitetu-
com a cidade é relativamente menor. Deve-se
riormente, a biofilia integra o homem à natureza,
ra, e que para que o conceito funcione é neces-
projetar espaços agradáveis e que despertem a
sendo este o elemento principal para que todo o
sário tomar decisões projetuais que sejam so-
memória afetiva, interligando elementos da na-
conceito funcione. No entanto, este ítem afirma
luções para ambos. Por exemplo, utilizar nos
tureza ao cotidiano dos frequentadores do pro-
que essa interação deve ser responsável e mú-
projetos a estrutura de madeira ao invés de op-
jeto. Dessa maneira, ocorre o apego das pesso-
tua, de forma que o projetista utilize de seus re-
tar pelo concreto ou metal em seus pilares e vi-
as pelo ambiente projetado e eleva o senso de
cursos sem o esgotar, de maneira consciente e
gas, se afastando da conexão com a natureza.
pertencimento, cuidado e apego àquele espaço.
se preocupando em manter o espaço saudável.
este último princípio afirma que a biofilia
26
Como citado anteriormente, para um projeto ser considerado biofílico, deve se enquadrar nos princípios mencionados acima, que são chamadas de experiências e atributos por Kellert e Calabrese em seu artigo publicado em 2015. Para que isso seja possível, o projetista deve realizar uma série de análises antes de iniciar tendo sempre em mente os princípios biofílicos, sendo divididos em 3 tipos de experiências que descrevem as 24 estratégias para uma aplicação bem sucedida da biofilia na arquitetura. Essas experiências são divididas em: experiência direta da natureza, experiência indireta da natureza e experiência de espaço e lugar.
Figura 11: 3 tipos de experiências que descrevem as 24 estratégias para uma aplicação bem sucedida da biofilia na arquitetura. Fonte: práticas do design biofílico)
27
experiências diretas da natureza
experiência 01: O primeiro tipo de experiência envolve o contato direto da natureza no projeto, e como usar esses elementos para melhorar a qualidade de vida dos frequentadores. Utilizando da luz natural pelas aberturas feitas, ar puro provido da ventilação adequada e uso de elementos da natureza como água e vegetação, além da presença de animais por meio de árvores frutíferas e da percepção do clima através da paisagem e da vista que o ambiente construído possui. Como exemplo da experiência direta com a natureza é possível citar o uso de espelhos d’água, jardins verticais e internos, além do uso de cores que aumentem a percepção da luz natural. Ademais, existem estratégias de layout interno que aumentam essa interação com o exterior e melhoram a experiência, provido da boa organização e valorização da vista de fora do edifício construído.
28
LUZ: elemento fundamental para a
AR: além da luz natural, a ventilação
ÁGUA: geralmente torna-se agradável ÁGUA
PLANTAS: é a estratégia mais eficaz
saúde dos seres humanos, quando
também é um elemento extremamen-
quando percebida como limpa nos pro-
para aproximar o ser humano da natu-
é destacada nos projetos através das
te importante para o bem estar do ser
jetos e associada aos sentidos da audi-
reza, podendo reduzir o stress e melho-
aberturas permite a orientação du-
humano nos espaços construídos, per-
ção, visão, tato e movimento, por meio
rar o conforto. No entanto, sua aplica-
rante o dia, noite e as estações con-
mitindo conforto através das variações
de fontes ou bombas que permitam
ção deve ser feita de forma equilibrada,
tribuindo para o conforto e satisfação.
do fluxo de ar, umidade, temperatura e
essa fluidez nos espelhos d’água. Além
nem com plantas únicas e isoladas,
pressão barométrica por janelas operá-
disso, esse elemento, associado aos ou-
tampouco com espécies exóticas e in-
veis ou outras estratégias tecnológicas.
tros, ajuda a criar um microclima interno
vasivas, mas sim ecologicamente co-
e regular a temperatura do ambiente.
nectada com seu entorno e abundante.
Figura 14: Sesc 24 de Maio, em São Paulo (Fonte: Galeria da Arquitetura)
Figura 15: Edifício residencial em Milão, Itália, onde a biofilia está extremamente presente nas fachadas. (Fonte: dicas de Arquitetura)
Figura 12: aberturas que valorizam a entrada da luz natural, escritório localizado em Pequim, na China. (Fonte: Archdaily)
Figura 13: Hospital Rede Sarah, do Lelé, mostrando as aberturas (janela basculante) e formatos que valorizam a ventilação natural (Fonte: Archdaily)
29
ANIMAIS: essa estratégia pode ser de-
CLIMA: Como citado anteriormente, a
PAISAGENS E ECOSSISTEMAS NATU-
FOGO:
esse
safiadora e muitas vezes controversa,
percepção e contato do clima no am-
RAIS: esse item consiste na utilização
conforto
principalmente
no entanto tem um impacto positivo
biente é fundamental para o conforto in-
de paisagens amplas que transmi-
tos residenciais pelo uso da lareira,
em projetos que utilizam de soluções
terno, podendo ocorrer pela exposição
tam segurança, bem estar e contato
mas
como comedouros, telhados verdes,
direta às condições externas ou pela
com a natureza, como por exemplo
te
aquários, árvores frutíferas e uso cria-
manipulação do fluxo de ar, controle
vistas, plataformas de observação ou
uso criativo de luz, cor e movimento.
tivo de tecnologias modernas. “Quan-
da temperatura e pressão barométrica.
até o contato direto com a natureza.
do viável, o contato com a vida animal
“As estratégias de design incluem vistas
deve incluir uma diversidade de espé-
para o exterior, janelas operáveis, varan-
cies e enfatizar espécies locais em vez
das, decks, colunatas, pavilhões, jar-
de não nativas.” (The practice of bio-
dins e muito mais.” (The practice of bio-
philic design, Kellert e Calabrese, 2015)
philic design, Kellert e Calabrese, 2015)
Figura 16: Edifício residencial em Milão, Itália, onde a biofilia está extremamente presente nas fachadas. (Fonte: dicas de Arquitetura)
Figura 17: Residência entre jardins, do VTN Arquitetos, localizada no Vietnam (Fonte: Archdaily)
Figura 18: Hotel em Huzhou, na China (Fonte: Archdaily)
também
em
outros
elemento
pode
promove em
estar
mecanismos
projepresencomo
Figura 19: Fogueira dentro do projeto do Sesc Pompeia, em São Paulo. (Fonte: Revista de Arquitetura e Arte)
30
IMAGENS DA NATUREZA: podem es-
experiências indiretas da natureza
tar presentes como quadros ou fotografias, no entanto, a representação da natureza deve ser repetida, temática
experiência 02: A experiência indireta com a natureza é mais comum
e abundante, imagens únicas ou iso-
em projetos localizados nos grandes centros urbanos, onde o contato direto
ladas desses elementos naturais nor-
com a natureza é mais limitado ou não há tanta versatilidade para aberturas e
malmente exercem pouco impacto.
soluções biofílicas como citadas anteriormente. As soluções para esses casos são mais simples mas que também funcionam para a aproximação do ser humano com a natureza, por exemplo pinturas ou fotografias de ambientes ou elementos naturais e plantas artificiais. Entretanto, essas reproduções nunca terão o mesmo efeito nos transeuntes como a experiência direta com a natureza, desse modo o ideal é conseguir encaixar o máximo de usos diretos no ambiente construído.
Figura 20: Disposição de quadros com natureza presente (Fonte: Pinterest)
31
MATERIAIS NATURAIS: este ítem afir-
CORES NATURAIS: o uso de cores em
SIMULAÇÃO DA LUZ E VENTILAÇÃO
FORMAS E DESENHOS: a utilização de
ma que utilizar materiais que pos-
um projeto pode ser extremamente
NATURAL: existem projetos em que não
padrões e formatos inspirados na na-
sam ser conhecidos pelos usuários
desafiador, entretanto para a aplica-
é possível obter luz natural, contudo o
tureza estimulam a memória afetiva e
provocam respostas positivas. O uso
ção biofílica eficaz da cor em um am-
avanço da tecnologia e das técnicas ar-
promove a conexão do usuário com a
da madeira, pedra, lã, algodão e
biente, é necessário usar tons terrosos
quitetônicas permitiu que luzes artificiais
natureza. Podem aparecer tanto em ele-
couro, por exemplo, são encontra-
e que remetem aos elementos na-
copiassem o efeito natural. Além disso,
mentos da fachada quanto nos forma-
dos em uma grande variedade de
turais como água, plantas, céu e etc.
a ventilação por meio do ar condiciona-
tos das paredes e elementos estruturais.
móveis, tecidos e outros elementos
do também permite simular efeitos da
do design de interiores e exteriores.
ventilação natural por meio de variações no fluxo de ar, temperatura e umidade.
Figura 21: Residência em São Paulo projetada pelo escritório Suite Arquitetos (Fonte: casa de Valentina)
Figura 22: Residência em Betim, Brasil - projeto do escritório Liga Arquitetura e Urbanismo (Fonte: Archdaily)
Figura 23: Restaurante que simula iluminação natural com luz indireta (Fonte: Archidaily)
Figura 24: Ginásio de uma escola em Bali, Indonésia. (Fonte: Casa e mercado)
32
EVOCANDO A NATUREZA: este ítem
RIQUEZA DE INFORMAÇÕES:
esse
GEOMETRIAS NATURAIS: a natureza
BIOMIMÉTICA: como o próprio nome
afirma que utilizar a representação
ítem afirma que, assim como presente
possui diversas propriedades mate-
diz (do grego, bio é vida e mimesis imi-
imaginativa
elementos
na natureza, o uso de diferentes textu-
máticas que podem ser reproduzidas
tação), é a reprodução de um elemento
que trazem similaridade com a natu-
ras, formas, cores e riqueza sensorial
em elementos da arquitetura, como
da natureza utilizando soluções arqui-
reza também é uma maneira de de-
tende a proporcionar sensações positi-
por exemplo fractais, proporção áu-
tetônicas sustentáveis e tecnológicas.
sign biofílico. “Por exemplo, as “asas”
vas aos transeuntes, desde que sejam
rea e sequência de Fibonacci trazem
da Sydney Opera House sugerem as
usadas de forma coerente e legível.
grande conexão com o mundo natural.
Figura 26: Participante do concurso de Taiwan para substituir um aeroporto que foi realocado (Fonte: Arquiteto Hipólito)
Figura 27: Taj Mahal de acordo com a proporção Áurea (Fonte: Archdaily)
em
alguns
qualidades de um pássaro; os vitrais de Notre Dame, uma flor em forma de rosa; enquanto o skyline de algumas cidades imita a heterogeneidade vertical de uma floresta.” (The practice of biophilic design, Kellert e Calabrese, 2015)
Figura 25: Sydney Opera House, na Austrália (Fonte: Wikipédia)
Figura 28:“O edifício Johnson Wax de Frank Lloyd Wright apresenta colunas que se expandem à medida que sobem, semelhante a folhas de vitória régia que flutuam na superfície da água.” (Fonte: Archdaily)
33
experiências de espaço e lugar
experiência 03: Por fim, a experiência de espaço e lugar afirma que a combinação das características gerais do ambiente também são importantes, além das interações diretas e indiretas da natureza, pois quando o ser humano está em meio a natureza, a experiência se resume ao conjunto de todos os elementos. O design biofílico busca criar habitats melhores, ambientes que geram uma atmosfera geral muito próxima daquela que é vivenciada em meio a natureza. As estratégias aplicadas no ítem 3 são:
34
PERSPECTIVA E REFÚGIO: a perspecti-
COMPLEXIDADE E ORDEM: esse ítem
INTEGRAÇÃO
DAS
PARTES
AO
ESPAÇOS
DE
va refere-se a utilizar um campo de visão
afirma que a complexidade dos proje-
TODO: como afirma o manual da
ços claros e discerníveis que unem
longo de forma que os usuários perce-
tos deve ser feita de forma ordenada
prática do design biofílico, quando
os
bam oportunidades e perigo e o refúgio
e cautelosa, de modo que se asseme-
todos os espaços se integram atra-
para que os frequentadores transi-
fornece lugares de segurança e prote-
lhe a natureza de forma harmônica.
vés de um ambiente central, o efeito
tem com sucesso, como corredo-
ção. A maneira como pode ser aplica-
nos transeuntes é extremamente po-
res, varandas, terraços, pátios e etc.
da no projeto é através de ambientes
sitivo. Por exemplo, por meio de um
com vistas para o exterior e a ocorrên-
pátio central ou uma sala de estar.
ambientes
TRANSIÇÃO: externos
e
espainternos
cia de espaços seguros e protegidos.
Figura 29: Projeto de interiores em Jundiaí, São Paulo (Fonte: Pinterest)
Figura 30: Construções em Santorini, Grécia. (Fonte: Recordações de viagens)
Figura 31: Escola de música de Candelaria, Colômbia (Fonte: Archdaily)
Figura 32: Circulação galeria, localizado na China (Fonte: Archdaily)
35
Por fim, para que o projetista obtenha ECOLÓ-
um ambiente biofílico e harmônico,
xar claro nos fluxos das plantas as
GICA AO LUGAR: nesta última es-
é necessário analisar o entorno das
circulações,
entrada
tratégia o autor afirma que há a ne-
edificações, as orientações solares e
e saída, a fim de permitir que o fre-
cessidade de gerar um espaço com
condições climáticas a fim de propor-
quentador
sensação
apego emocional, como citado ante-
cionar uma melhor experiência aos
a
ausên-
riormente nos princípios 3 e 4, moti-
usuários do local. Preferencialmente,
cia desses elementos nítidos muitas
vando seus usuários a conservarem
quando possível, utilizar as estratégias
vezes gera confusão e ansiedade.
o ambiente natural que foi construído.
de contato direto com a natureza onde
MOBILIDADE E WAYFINDING:
de
localização transite
segurança,
de
com
enquanto
dei-
CONEXÃO
CULTURAL
E
as chances são maiores de sucesso de impacto na saúde mental dos transeuntes. Entretanto, em alguns casos, o local de inserção é no meio da cidade, sendo necessário a aplicação das estratégias indiretas, que quando alinhadas e definidas corretamente também proporcionam melhoria na qualidade Figura 33: High Line, localizado em Nova York, Estados Unidos. (Fonte: Concursos de projeto)
Figura 34: Museu de Arte da Universidade de Princeton, Estados Unidos. (Fonte Archdaily)
de vida de quem frequenta o espaço.
36
2.2
Benefícios da natureza para a saúde e bem-estar
Diversas teorias em relação ao nível de influência do contato da natureza com o ser humano foram divulgadas ao longo dos anos, que com o avanço da tecnologia e das pesquisas em relação ao comportamento humano foram ficando cada vez mais avançadas. Uma das teorias foi desenvolvida pelo americano Roger Ulrich, em 1991, relacionada à redução de stress, onde ele defende que os ambientes, tanto construídos como naturais, possuem uma grande influência visual nos indivíduos. Essas interferências dos ambientes são causadas pelo excesso de tomada de decisão e emoções negativas que, segundo sua teoria, as propriedades naturais dos espaços ajudam a evitar esses sentimentos. Mesmo que através de uma janela, observar ambientes da natureza desencadeiam reações positivas no ser humano, segundo o americano. Além disso, dentre esses estudos científicos em relação ao benefício da natureza na saúde mental, foi publicado no Journal of Epidemology and Community Health (revista fundada em 1947 por um médico americano que abrange aspectos da saúde pública e epidemiologia) um artigo sobre a diminuição de doenças em pessoas que moram próximas a áreas verdes. Esse estudo explica os fatores que possibilitam isso, pois a natureza contribui com o ar puro, relaxamento e o incentivo de exercícios físicos, fazendo com que a taxa de doenças diminua.
Ademais, esse contato com ar puro, ambientes naturais e expostos ao sol contribuem para o estímulo de diversos sentidos, como olfato, visão e audição, por exemplo. Essa capacidade de receber informações promove uma atividade do sistema nervoso devido aos impactos positivos nos aspectos fisiológicos, psicológicos e comportamentais. Com esses estudos foi possível concluir quais são esses benefícios e o impacto deles na melhora da qualidade de vida dos indivíduos, sendo eles:
37
aumento da imunidade e melhora do sistema cardíaco: ao morar em locais arborizados e próximos da natureza, o ar é mais puro e com menos emissão de poluentes, fazendo com que os níveis de cortisol (hormônio ligado ao estresse) diminuam. Esses fatores também influenciam na redução da pressão arterial, frequência cardíaca e variação do pulso e torna o indivíduo mais resistente a doenças pois ajuda nas células de defesa do organismo. aumento dos níveis de vitamina D: como citado anteriormente, frequentar ou morar em espaços arborizados estimula a disposição de atividades ao ar livre e, consequentemente, maior exposição ao sol. Como resultado, aumenta a absorção de vitamina D (hormônio produzido a partir da ação do raio ultravioleta B ao entrar em contato com a pele). Estudos indicam que com 30 minutos por dia em exposição ao sol já é possível absorver os níveis indicados de vitamina D para um bom funcionamento do organismo, aumentando a imunidade, prevenindo doenças e estimulando um bom desenvolvimento ósseo e cardiovascular. saúde cerebral: ao admirar uma paisagem natural, o cérebro entra em um estado conhecido como rede neural em modo padrão, um sistema de comunicação entre as partes dele. Isso permite que o ser humano entre em um estado de relaxamento e autoconhecimento, garantindo maior qualidade de vida. oxigenação do corpo: ao entrar em contato com o ar fresco, os níveis de serotonina (conhecido como hormônio da felicidade) são regulados e aju-
Por fim, é possível concluir que o
dam a promover alegria e bem estar. Quanto mais inseridos e em contato com
ser humano em contato com a na-
a natureza, mais impactos acontecem no cérebro criando um efeito imediato
tureza
tranquilizante.
dual
possui da
uma
qualidade
melhora mental,
gra-
geran-
do efeitos psicológicos e físicos que Figura 35: Área comum edifício residencial no Brooklin, São Paulo (Fonte: autoral)
influenciam
durante
toda
a
vida.
38
2.3
Covid-19 e suas consequências
Em 2020 e 2021 vivenciamos uma realidade completamente nova e transformadora, a pandemia do Covid19 modificou o modo que o ser humano se relaciona com os espaços. Para que fosse possível uma medida rápida e eficaz para a diminuição do contágio, foi decretado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) o isolamento social. Estar em confinamento imediato, com falta de contato humano e a exposição constante de notícias negativas desencadeou diversos distúrbios mentais em uma significativa parcela da população. Dessa maneira, o vírus trouxe consequências além da saúde física, influenciando diretamente na saúde mental, aspecto que não há qualquer perspectiva de vacina. Consequentemente, as decisões de um projeto arquitetônico tornaram-se ainda mais importantes para o bem estar dos indivíduos e saber projetar esses espaços de forma mais saudável é essencial. Ademais, a busca por espaços de descompressão e contemplação da natureza tem se tornado um fator importante no dia a dia atual dos cidadãos, visto que por um grande período de tempo, a população estava trancada dentro das casas e sem nenhum tipo de conexão com o externo.
Figura 36: Viaduto vazio em São Paulo, Março de 2020 (Fonte: arqfuturo)
Figura 37: Oficina Fibras Orientadas / Juan Alberto Andrade + María José Vascones, imagem de JAG Studio (Fonte: Archdaily)
39
39
De acordo com uma pesquisa feita em 2020 pela OMS, foi divulgado que os índices de depressão e ansiedade aumentaram 25% em todo o mundo, só nesse primeiro ano de pandemia. Ademais, diversas pesquisas nesse ramo começaram a ser desenvolvidas em todo o Brasil, como por exemplo um estudo feito pela USP (Universidade de São Paulo) em 2020 sobre o aumento dos casos de depressão e ansiedade. A matéria foi divulgada pela CNN Brasil, e afirma que o Brasil lidera os casos de depressão e ansiedade durante a pandemia do Coronavírus, quando comparado a 11 países. Os resultados da pesquisa apontam o Brasil com mais casos de ansiedade (63%) e depressão (59%); em segundo lugar a Irlanda com 61% das pessoas com ansiedade e 57% com depressão e, por fim, os Estados Unidos com 60% e 55% respectivamente. “A pesquisa reforça que os brasileiros têm sofrido drasticamente o período de quarentena e lockdown, em especial pela privação de atividades de lazer fora do ambiente doméstico.” afirma Ricardo Uvinha, professor de lazer e turismo da USP, à CNN. Além disso, o avanço da medicina e a urgência para uma cura contra o
Dessa maneira, é possível afirmar que
vírus resultou em uma vacina que foi sendo aplicada na população no decorrer
nesse cenário de pós pandemia, uma
do ano de 2021. Durante esse período, a população se viu com esperança e
relevante quantidade de pessoas de-
aos poucos, tentando retornar a realidade de antes. que os encontros fossem
senvolveu ou agravou sintomas de dis-
possíveis mas com segurança. Uma das alternativas era evitar ambientes fe-
túrbio mental e cada vez mais a cida-
chados e, dessa maneira, os parques e praças públicas foram se tornando ex-
de e seus diferentes espaços públicos
tremamente importantes em todos os bairros da cidade, assim como também
tem a função de auxiliar na melhora
foi sendo percebido pela população a necessidade desses espaços.
da qualidade de vida da população.
40
2.4
Terapias alternativas e científicas
Visto que o Brasil se encontra em um cenário de destaque devido a
Além disso, nos anos 40, a psiquiatra brasileira Nise da Silveira traba-
quantidade de pessoas com ansiedade, depressão e outros distúrbios cogniti-
lhou com Jung e teve um grande avanço na mudança dos métodos de trata-
vos, o incentivo ao cuidado mental e psicológico possui extrema relevância. No
mento pouco ou nada eficazes utilizados em pacientes psiquiátricos, que na
entanto, alguns indivíduos não se identificam ao modo tradicional de cura, com
época eram tratados com eletrochoques e medicalização. Também ganhou
profissionais e sessões de terapia. Apesar da eficácia desse método, surgiu a
destaque nas pesquisas a respeito dessa maneira de terapia a norte-ameri-
necessidade de buscar outras maneiras que pudessem auxiliar o processo de
cana Margareth Naumburg (1890-1983), que trabalhou para definir e validar a
cura mental. Sendo assim, foi desenvolvida uma pesquisa a respeito das dife-
eficácia da arteterapia. Nos Estados Unidos, a educadora e psicóloga norte-a-
rentes alternativas de cura mental, sendo elas:
mericana estudou a arteterapia dentro das escolas, facilitando a compreensão
Arteterapia: como uma das diferentes maneiras de tratamento psicoló-
que a arte é capaz de despertar uma expressão simbólica que atinge todos os
gico, tem como princípio a soma da arte com a função terapêutica que ela é ca-
indivíduos, e, quando usada para fins terapêuticos, é capaz de revelar emoções
paz de ativar nas pessoas. Um dos pioneiros nos estudos a respeito da artetera-
ou acontecimentos.
pia foi Freud (1856-1939, criador da psicanálise), durante o início do século XX,
Como exemplo de espaços que optam por esse método de tratamento,
ao observar obras famosas (por exemplo, Moisés de Michelangelo) notou que
a Santa Casa de Maringá, instituição de caráter filantrópico voltada para o cui-
haviam expressões inconscientes do artista, de diferentes formas simbólicas.
dado da saúde, utiliza métodos como forma de cura. Segundo a instituição, “As
Segundo o psicanalista, a arte despertava liberdade para que o artista pudesse
artes visuais são as utilizadas na terapia. Falamos de pintura, barro, colagem,
se expressar com menos censura, e com mais acesso ao inconsciente, aspec-
artes cênicas como a atuação, contos, teatro da lembrança, jogos de função,
tos que eram mais difíceis com as palavras. No entanto, na mesma época, os
marionetes. Com a música se utiliza o ritmo, sons, voz, instrumentos, e na es-
trabalhos de Jung (psiquiatra e psicoterapeuta suíço) também começaram a ser
crita podem ser utilizados diferentes gêneros. Na pintura, se dá um primeiro
desenvolvidos. Em sua obra “A Prática da Psicoterapia” (1985), Jung utiliza téc-
passo de desbloqueio, deixando-se levar pelas imagens que venham, os tra-
nicas expressivas em seus tratamentos clínicos a fim de traduzir “o indizível em
ços, as formas, as cores, buscando que a mão fuja da censura do olho, como
formas visíveis”. Em suas pesquisas, o psicanalista afirma que quer resgatar os
uma desinibição, para organizar, em um segundo momento, e pouco a pouco
fundamentos da arte, para que possa ser aplicada além dos ambientes clínicos,
ir adentrando no mais profundo da pessoa.”
como por exemplo, nas escolas.
41 41
Figura 38: Tirinha feita por Selma Machado Simão para o site da Sociedade Brasileira de Arteterapia (Fonte: sobrarte.com.br)
4242
Dançaterapia: apesar da dança ser também uma forma de arte, os efeitos psicológicos são diferentes dos mencionados acima. A dançarina alemã Mary Starks foi quem iniciou os estudos acerca desse método, entretanto a principal responsável pela divulgação da dançaterapia na América Latina foi a bailarina e coreógrafa argentina María Fux, que em seus anos de trabalho deu cursos dessa forma de cuidar da mente em diferentes cidades brasileiras até implantar seu centro de formação em Brasília. Pio Campo também ganhou destaque na divulgação desse método no Brasil e, em conjunto com Maria, foi responsável por divulgar e administrar o Centro. Em uma matéria publicada pela Viva Bem UOL, a autora explica como funcionam as sessões de dançaterapia “São encontros de cerca de uma hora nos quais os participantes são convidados a se expressar por meio da dança. Não há passos e coreografias. As pessoas se movimentam livremente com base em estímulos táteis (tecidos, tapetes, toalhas) e por meio do som (músicas de gêneros variados, sons da natureza ou até mesmo barulho da rua)”. Os dançaterapeutas são capazes de reconhecer as características dos movimentos e perceber se estão sendo executados de forma suave, densa, abrupta e etc. Além disso, como mencionado anteriormente, o movimento do corpo e as atividades físicas ativam hormônios corporais capazes de auxiliar fisicamente na cura mental. Segundo a psicóloga do Hospital Oswaldo Cruz de Pernambuco, Myrian Sales, o corpo libera neurotransmissores durante a dança como dopamina, endorfina, ocitocina e serotonina, hormônios ligados à sensação de bem-estar e prazer.
Figura 39: Pio Campo em uma das aulas de dançaterapia no Centro Maria Fux (Fonte: dançaterapia.org)
43
Dessa forma, é possível concluir que o cuidado mental é extremamente importante para que o ser humano tenha uma boa qualidade de vida, tendo em vista a busca por métodos que funcionem e se enquadram melhor em cada indivíduo.
44
2.5
Sustentabilidade – conceito, certificações, e soluções
O conceito de sustentabilidade tem sido cada vez mais usado em diferentes campos de atuação, dessa maneira, o termo tem se afastado de seu significado de origem. De acordo com a WWF (World Wide Found - organização internacional não governamental que atua nas áreas de conservação, investigação e recuperação ambiental) a definição de sustentabilidade é o “desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, garantindo a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro”. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) que discute as melhores formas de articular o crescente desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. Ademais, no ano de 1987 foi criado o documento Our Common Future (Nosso Futuro Comum), mais conhecido como Relatório Brundtland em homenagem a primeira ministra da Noruega e presidente da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) Gro Harlem Brundtland. O documento foi desenvolvido pela assembleia geral da ONU onde apresenta e discute a incompatibilidade existente entre o desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo, frisando os problemas ambientais como aquecimento global e a destruição da camada de ozônio além de expressar preocupação em relação a velocidade das mudanças estar excedendo a capacidade ambiental.
45 45
Dentre as soluções e metas do Relatório de Brundtland estão: Diminuição do consumo de energia; Limitação do crescimento populacional; Garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo; Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis; Aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas; Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores; Atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia); O desenvolvimento de tecnologias para uso de fontes energéticas renováveis e o aumento da produção industrial nos países não-industrializa dos com base em tecnologias ecologicamente adaptadas.
Algumas outras medidas para a implantação de um programa minimamente adequado de desenvolvimento sustentável são: Uso de novos materiais na construção; Reestruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais; Aproveitamento e consumo de fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica e a geotérmica; Reciclagem de materiais reaproveitáveis; Consumo racional de água e de alimentos; Redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na produção de alimentos.
Figura 40: O Edifício da Fundação Ford em East Midtown Manhattan, na cidade de Nova York (String Fixer)
46
Além disso, a Organização Mundial da Saúde desenvolveu uma campanha a fim de promover mudanças positivas para o futuro, nomeando-a de ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, para a década de 2020/2030. A fim de atingir os 17 objetivos criados, a campanha apresenta planos que todos os Estados-membros da ONU devem seguir para garantir um futuro melhor. São eles:
Figura 41: objetivos de desenvolvimento sustentável pelo site da ONU (Fonte: Propeq)
Figura 42: Centro de Diabetes de Copenhague - criar uma conexão com a natureza, o entrelaçando o interior e o exterior, a fim de estimular e nutrir pacientes e visitantes (Fonte: Archdaily).
47
Em relação a arquitetura sustentável o principal objetivo é criar ambientes saudáveis e que reduzam os danos ambientais. Existem alguns fatores que influenciam em um projeto sustentável, sendo eles a escolha dos materiais, orientações do projeto, aberturas e até nos métodos de construção. Além disso, deve ser considerada a eficiência energética do edifício a fim de diminuir os danos ao meio ambiente e a economia de recursos hídricos. No entanto, o projeto não é a única etapa a ser ponderada e é extremamente necessário considerar a obra que será executada, como por exemplo o controle de resíduos sólidos e de emissão de gases, tanto a gestão da obra quanto no transporte dos materiais.
03
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
49
Figura 43: Centro Maggie de Leeds (Fonte: Archdaily).
50
3.1
Critérios de análise
51
51
As discussões ao redor de novas soluções para cura mental ainda estão crescendo e sendo aplicadas com o tempo, e, por isso, muitas clínicas e espaços de recuperação psicológica trabalham com as maneiras tradicionais de cura. Com isso, foram determinados alguns parâmetros de análise que não se baseassem em questões programáticas. A fim de explorar soluções sustentáveis e entender as relações entre o externo e o interno nos grandes projetos de arquitetura, foram selecionadas 4 referências projetuais, sendo uma nacional e três internacionais. Primeiramente, o desafio de projetar uma clínica de grande escala em harmonia com um parque público trouxe a necessidade de análise das implantações, que permite o estudo dos fluxos e das relações do projeto com o entorno urbano. Além disso, estudar as volumetrias também permite que seja levado em consideração a relação entre cheios e vazios em um terreno, ponto de forte importância na análise das referências. As análises em relação ao conforto térmico e acústico, ao reuso das águas, a ventilação cruzada e iluminação natural são questões de extrema relevância, e, com isso, o estudo das soluções sustentáveis nos projetos escolhidos permitiu compreender como são executados tais procedimentos e o que é necessário para que seja construído um edifício ecoeficiente. Ademais, o estudo da materialidade que será utilizada quando visa-se projetar uma clínica sustentável garante um melhor conforto térmico, principalmente em São Paulo, onde o clima é constantemente instável.
52
3.2
Referência A - Escritório Central Grupo Carlsberg
O escritório central foi projetado em 2021 pelos arquitetos do grupo C.F. Møller Architects, e está localizado em Copenhague, Dinamarca. O projeto foi selecionado como referência projetual por sua implantação diretamente relacionada ao seu entorno, a iluminação natural presente na maioria das fachadas e, principalmente, pelas soluções sustentáveis que comandam todo o funcionamento do edifício. Figura 44: Foto do escritório (Fonte: Archdaily)
53
Implantação - O edifício foi implantado no distrito histórico da cidade de Carlsberg, e foi projetado pensando no compartilhamento do conhecimento dentro do escritório, de maneira que o layout dos
Figura 45: Relação entre uma das principais vias de acesso ao bairro e o edifício “ponte”(Fonte: Archdaily)
ambientes e estações de trabalho favorecessem essa troca dentro do escritório. É formado por 3 alas principais que se conectam através de um átrio central, sendo duas dessas alas voltadas ao jardim principal do projeto (Figura 40). A terceira ala consiste em uma espécie de ponte que foi implantada sobre uma das principais vias da cidade, integrando o projeto com seu entorno (Figura 41). Esse átrio central liga os programas do escritório tanto vertical como horizontalmente, propondo essa integração interna. Ademais, como forma de divisão entre os espaços públicos e privados no jardim, foi proposto uma divisão natural com espelhos d’água, tornando o jardim recreativo para a comunidade local e, de outra maneira, criando conexão com seu entorno. (Figura 42 e 43)
Figura 46: Relação do edifício com o jardim público. (Fonte: Archdaily)
54
Figura 47: Implantação. (Fonte: Archdaily)
55
Figura 48: Planta térreo. (Fonte: Archdaily)
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Iluminação natural - O escritório Carlsberg é uma referência extremamente relevante em função das relações entre o externo e o interno, devido às suas aberturas e transparências que estão presentes na maioria das fachadas do edifício. Além da intensa presença dessas aberturas nos pavimentos do projeto, o átrio central possui um pé direito triplo (Figura 44) permitindo a entrada de iluminação natural, além de promover espaços agradáveis para encontros e pequenas reuniões informais. No decorrer das duas alas que “abraçam” o jardim principal, a transparência é extremamente relevante, visto que permite que os transeuntes sintam a presença do jardim, da natureza presente externamente, e dos visitantes do edifício. Essa extensão também concede aos funcionários do escritório a variedade de trabalhar em contato com o externo em diferentes ambientes com diferentes propostas, por exemplo, foram instaladas pequenas estações de trabalho no térreo para promover essa diversificação do modo de trabalhar.
Figura 49: Átrio central com pé direito triplo. (Fonte: Archdaily)
57
Figura 50: Diagramas - conceito projetual e área externa. (Fonte: Archdaily)
Sustentabilidade - A materialidade escolhida pelos arquitetos ajudou a tornar o edifício uma construção sustentável de baixo consumo de energia, com materiais naturais como bambu e cobre reciclados, construção modular eficiente e peças pré fabricadas. Além disso, foram instaladas placas solares para captação de energia, luminárias economizadoras de água, ventilação com recuperação de calor e reuso de águas pluviais. Os telhados verdes e os espelhos d’água foram estratégias climáticas para melhor conforto térmico e a implantação de green pockets (jardins com fauna e flora natural criando pequenos ecossistemas auto sustentáveis) em pontos estratégicos da extensa área verde. Esses pequenos ambientes também auxiliam na contenção de carbono, absorvendo grandes quantidaFigura 51: Desenvolvimento sustentável e suas aplicações no edifício. (Fonte: Archdaily)
des produzidas nas cidades.
58
3.3
Referência B: Escola Simone Veil Dietrich
A escola Simone Veil Dietrich está localizada em Lamballe, na França, e foi construída em 2018, projetada para 820 alunos. O projeto foi feito pelos arquitetos Colas Durand Architectes, Dietrich e Untertrifaller Architekten. Este edifício foi escolhido como referência devido a seu método construtivo misto, aberturas e iluminação natural presente nas fachadas e na cobertura do edifício, e pela materialidade escolhida tanto na estrutura do projeto quanto nos acabamentos e fechamentos. Figura 52: Foto externa da escola (Fonte: Archdaily)
59 Sistema estrutural misto - A escola é composta por dois edifícios distintos, um apoiado no outro. A construção do térreo é suavemente curva e totalmente envidraçada, com estrutura de concreto independente (Figura 49 e 50). A escolha desse material no térreo foi para suportar a força das instalações superiores, onde ficam as salas de aula. No pavimento superior foi utilizado como sistema estrutural a madeira laminada cruzada pré fabricada, que se apoia na estrutura de concreto, onde ocorre a descarga das forças.
Figura 53: Planta Térreo (Fonte: Archdaily)
Figura 54: Planta Primeiro Pavimento (Fonte: Archdaily)
60
Figura 55: Entrada da escola, paredes estruturais de concreto e pavimento superior em madeira laminada cruzada. (Fonte: Archdaily)
61 61
Figura 56: Construção do térreo levemente curvada e edifício superior retilíneo. (Fonte: Archdaily)
62
Iluminação natural - A iluminação natural é extremamente presente na escola, possibilitando diferentes soluções, dependendo das necessidades de cada espaço. No térreo, como citado anteriormente, toda a fachada é composta por caixilhos e portas de vidro que permitem a entrada de luz solar. Além disso, a fachada do edifício superior é composta por um jogo de caixilhos e brises que admitem a insolação dentro das salas de aula. No entanto, não foram pensadas apenas em soluções para as fachadas, a cobertura também foi projetada para auxiliar no conforto térmico da escola. Foram instaladas claraboias na circulação principal, permitindo além da entrada de luz, conexão Figura 57: Átrio central com clarabóias na circulação para entrada de luz natural nas circulações. (Fonte: Archdaily)
entre o externo e o interno (Figura 51).
Figura 58: Abertura com janelas próximas às salas de aula. (Fonte: Archdaily)
Materialidade - A escolha dos materiais, tanto estruturais quanto dos acabamentos, foram pensados levando em consideração o meio ambiente. Ao utilizar materiais locais tratados, o edifício se adapta ao seu entorno e a topografia do local. As estruturas de concreto e madeira laminada cruzada se destacam no projeto, além dos acabamentos em vidro laminado com caixilharia de metal
Figura 59: Térreo com materialidade em concreto, madeira e caixilhos de metal (Fonte: Archdaily)
63
64
3.4
Referência C: Centro Médico de Leeds
O centro foi projetado em 2020 pelos arquitetos Heatherwick Studio e está localizado em Harehills, no Reino Unido, dentro do Campus do Hospital Universitário St. James. A proposta foi criar um espaço gratuito de apoio físico e psicológico, para pacientes em tratamento de câncer, que é mantido por uma instituição filantrópica. Ademais, é a referência que mais se aproxima da proposta da Unidade de Equilíbrio Emocional, por acreditar que a vegetação e os materiais naturais utilizados em todo o projeto são maneiras de ajudar na melhora de seus pacientes. Com isso em mente, os critérios de análise foram a materialidade e o programa. Figura 60: Foto do Centro Médico de Leeds (Fonte: Archdaily)
Figura 61: Conexão arredondada das vigas no pilar. (Fonte: Archdaily)
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Materialidade: “Os Centros Maggie são o legado de Margaret Keswick Jencks, uma mulher em estado terminal que tinha a noção de que os ambientes de tratamento contra o câncer - e os resultados do processo - poderiam ser drasticamente melhorados através de um bom projeto” (Archdaily, 2020). Seguindo essa filosofia, o centro de Leeds utiliza a madeira laminada pré fabricada em toda sua estrutura, com vigas suavemente curvadas quando conectadas ao pilar (Imagem 17). Além disso, a escolha dos revestimentos teve extrema influência no conforto térmico do projeto, optando por materiais porosos para auxiliar na umidade do interior do edifício, que possui venFigura 62: Vista interna de uma das circulações do centro de apoio (Fonte: Archdaily)
tilação natural. Dessa maneira, não foram necessários sistemas mecânicos de condicionamento de ar.
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Programa: O projeto surgiu de 3 grandes jardineiras
Figura 55: Vista interna de uma das circulações do centro de apoio (Fonte: Archdaily)
que foram projetadas em um terreno levemente inclinado e adaptadas para acomodarem as necessidades do centro de apoio. Desses espaços surgiram os três programas de apoio, a cozinha, que é o centro do projeto, a biblioteca e a sala de ginástica. Para o paisagismo, foram contratados paisagistas que buscaram inspiração nas florestas próximas ao local para trazer ao projeto plantas nativas da região. Além disso, os visitantes são convidados a cuidar e interagir com todas as espécies que ficam no jardim. No entanto, a principal referência em relação ao Centro Maggie de Leeds é a filosofia dos espaços, pensados para promover o bem estar dos pacientes, diferente de muitos projetos hospitalares. Além dos materiais naturais e da iluminação natural em grande abundância, a grande variedade dos espaços foram pensados para incentivar as relações sociais como também salas de contemplação e silêncio.
Figura 63: Planta do térreo (Fonte: Archdaily)
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Figura 64: Implantação (Fonte: Archdaily)
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Figura 65: Vista interna de um dos espaços de convivência do centro (Fonte: Archdaily)
Figura 66: Vista externa do projeto onde é possível observar o paisagismo que envolve toda a fachada (Fonte: Archdaily)
69
69
70
3.5
Referência D: Hospital Sarah Kubitschek Salvador
O Hospital da rede Sarah, que fica localizado em Salvador, foi construído em 1994 pelo famoso arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé. Conta com programas de reabilitação e é extremamente inovador em relação às soluções sustentáveis. Visando construir de maneira rápida, inteligente e com custo baixo, o arquiteto desenvolveu técnicas eficientes e sustentáveis para os hospitais de sua rede. Sendo assim, os critérios de análise para esse projeto são o conforto térmico e a iluminação natural. Figura 67: Hospital Rede Sarah (Fonte: Archdaily)
Figura 68: Corredor interno do hospital com as aberturas para a iluminação natural (Fonte: Archdaily)
Conforto térmico: Como principal solução para a ventilação interna do projeto, Lelé utilizou sheds metálicos curvos repetidas vezes, de forma linear, criando aberturas na cobertura do hospital. Nesses vão criados, o fechamento acontece por duas esquadrias diferentes. Na parte inferior com venezianas metálicas e na parte superior janelas basculantes permitindo a ventilação cruzada. Além disso, outra solução para manter a temperatura foi a implantação de jardins cercando o hospital, que ora se abre ao exterior em grandes janelas de vidro, ora pelas varandas em determinados pontos do projeto.
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Figura 69: Sheds curvos com fechamento das janelas basculantes (Fonte: Archdaily)
Iluminação natural: Como citado anteriormente, as aberturas criadas na cobertura do projeto possibilitam a entrada de luz natural no projeto. No entanto, foram instalados brises metálicos horizontais para evitar a entrada direta dos raios solares. Além disso, as aberturas feitas para os jardins também permitem a entrada de luz natural, tornando o hospital mais agradável para seus pacientes.
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73
Figura 70: Vista interna do hospital mostrando os sheds e as aberturas (Fonte: Archdaily)
04
LUGAR: HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO URBANO
75
Figura 71 - Municípios da cidade de São Paulo, com destaque na Macrorregião Centro-Oeste (Fonte: Gestão Urbana)
76
76 O Butantã é um bairro localizado na Zona Oeste de São Paulo e está
inserido na Macrorregião Centro-Oeste (Figura 32), composta pelas Subprefei-
Figura 72: Macrorregião Centro-Oeste (Fonte: Gestão Urbana)
turas: Sé, Pinheiros, Lapa e Butantã. Cercado pelo Rio Pinheiros e por grandes avenidas como a Av. Professor Francisco Morato, Corifeu de Azevedo Marques e Av. Vital Brasil (Figura 34), o bairro está no início da Rodovia Raposo Tavares e tem como forte característica abrigar o Instituto Butantan e a Universidade de São Paulo, dois polos arborizados e que incentivam a educação, a pesquisa e a ciência. Sua história teve início em 1759 quando os jesuítas foram expulsos do Brasil e dividiram a terra em sítios, pois antes o território não ganhava muito destaque e servia apenas como uma rota de passagem para os bandeirantes que atravessavam o local. O Instituto foi inaugurado em 1901 devido a necessidade de produção de um soro contra a peste bubônica, epidemia que circulava em São Paulo desde o fim do século XIX. No início do século XX (Figura 33), o Butantã foi escolhido para abrigar a Universidade de São Paulo e pela construção do Instituto Butantan, resultando em uma expansão e inserção do bairro na cidade. O local foi escolhido estrategicamente fora do perímetro urbano na época, e construído junto ao Instituto Bacteriológico na fazenda Butantan, que posteriormente seria coordenado pelo médico Vital Brazil. Somente em 1925, o nome oficial passou a ser Instituto Butantan, hoje vinculado à Secretaria de Estado da Saúde. O Instituto foi tombado pelo Patrimônio Histórico em 1981, e até hoje é uma das maiores áreas arborizadas e preservadas de São Paulo. A Companhia City Melhoramento começou a urbanização da área em 1915, principalmente na margem do rio Pinheiros, e então os bairros do entorno começaram a surgir e se desenvolver. Figura 73: Bairro do Butantã no início do século XX. (Fonte: Acervo Companhia City de Desenvolvimento)
77 Figura 74: desenvolvido pela autora - mapa de usos predominantes do solo e das principais rodovias do entorno (Fonte: autoral)
legenda usos prediminantes: habitacional
institucional
comercial
78
Com esse desenvolvimento, a Macrorregião Centro Oeste se tornou
Ademais, o bairro abriga alguns equipamentos de patrimônio histórico e
atualmente uma das principais regiões de mobilidade urbana, se destacando
ambiental, como o próprio Instituto Butantan, que necessitam de políticas para
por ser atendida por quatro das cinco principais linhas de metrô de São Paulo
que sua preservação seja garantida. Com isso em mente, algumas diretrizes
(1 - azul; 2 - verde; 3 - vermelha e 4 - amarela), estações da CPTM e diversos
foram planejadas visando a melhoria dessa região e a resolução dos principais
corredores de ônibus. Além disso, o Butantã é uma região provida de infraes-
problemas e questões. Por exemplo, a orientação e auxílio aos proprietários de
trutura e serviços públicos, gerando um grande fluxo de atividades sociais e
lotes com bens tombados a fim de orientar a melhor forma de recuperar, restau-
econômicas na cidade, quesito importante para o funcionamento do bairro. No
rar e instalar o ambiente, preservando esses edifícios. Além disso, algumas das
entanto, essas atividades causam certas consequências para a região, pela
outras diretrizes propostas no plano envolvem viabilizar a utilização multi setorial
transformação do uso do solo e a renovação das áreas construídas, sendo esse
de áreas públicas, renovação da pavimentação viária, alargamento e tratamen-
um dos maiores desafios a serem tratados no território.
to das calçadas, implantação de iluminação diferenciada nas vias comerciais e
1914
Figura 75: Evolução da Mancha Urbana da Macro região Centro Oeste. (Fonte: Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano - EMPLASA, 2002)
1929
79
79 a criação de áreas de permanência e convivência no espaço público. Entretanto, uma das principais preocupações dos habitantes e frequentadores do Butantã, como citado anteriormente, é a interferência da transformação de uso e como isso afeta o solo. Como resultado, também foi citado no plano a diretriz de aumentar as áreas permeáveis e arborizadas dos equipamentos públicos e qualificar os percursos a pé e por outros modais não motorizados entre a habitação e os equipamentos públicos.
1949
1962
1980
2002
05
OBJETO PROJETUAL
Figura 76: Render do projeto (Fonte: autoral)
81
82
5.1
82
A escolha do terreno era de fundamental importância como partido do projeto, visto que a natureza é um elemento essencial na proposta da Unidade de Equilíbrio Emocional. Sendo assim, foi escolhido um terreno no Butantã, na Avenida Corifeu de Azevedo Marques, aos arredores do Instituto Butantan. O principal objetivo de projetar nesse espaço era valorizar a área verde do Instituto, conectando-a aos transeuntes do bairro e da Avenida Corifeu. Além disso, essa grande mancha verde é o ponto de partida do paisagismo e intenções biofílicas no local, visto que a intenção da Unidade é de promover o bem estar e a cura mental a partir da interação com a natureza. O terreno possui 145 metros de largura por 81 metros de profundidade, resultando em aproximadamente 10.800 m².
Área de intervenção
83
145m
81m
Instituto Butantan
Av. Corifeu de Azevedo Marques
N
Figura 77: Mapa de localização do projeto (Fonte: autoral)
84
Figura 78: Vista aérea do terreno escolhido, 4 galpões existentes (Fonte: Google Earth)
A
Figura 83: Vista de situação do terreno (Fonte: Google Earth)
B C Figura 79: Galpão A (Fonte: Google Maps)
D
Figura 80: Galpão B (Fonte: Google Maps)
Figura 81: Galpão C (Fonte: Google Maps)
Figura 82: Galpão D (Fonte: Google Maps)
85
86
86 MAPA DO ENTORNO
USP Universidade de São Paulo
Parque da Previdência
Figura 00: Mapa do entorno do projeto (Fonte: autoral)
87
87
Hospital Vital Brasil
Rio Pinheiros
Estação Pinheiros Metro - linha amarela CPTM - linha esmeralda
Estação Butantã Metro - linha amarela
Figura 84: Mapa do entorno (Fonte: autoral)
88
mapa de zonas
De acordo com a Legislação Urbana, os quatro lotes escolhidos encontram-se em uma Zona de Centralidade
N
(ZC - porções do território destinadas a promover, majoritariamente, os usos não residenciais e promover a qualificação paisagística e dos espaços públicos), em uma Zona Mista com Coeficiente de Aproveitamento (CA) máximo de 2m e Taxa de Ocupação (TO) de 0,7.
ZM ZPEC ZOE ZCP ZER Figura 85: Mapa de zonas (Fonte: autoral)
89
mapa de usos
Por estar em uma zona de centralidade, o entorno imediato do projeto é principalmente institucional e conta com diversos galpões. O uso desses terrenos que, hoje, contam com esses galpões de concessionárias ou abandonados, acabam afastando os pedestres e os transeuntes da grande massa verde do Butantã. Além disso, o território não conta com muitos espaços públicos e arborizados, ambientes de contemplação e contato com a natureza, aspectos extremamente importantes tanto para a saúde mental quanto para a região em si. A vegetação do entorno se destaca apenas pelo Instituto, apesar da Avenida Corifeu contar com um jardim central entre suas duas vias (imagem 34). Entretanto, o entorno próximo do local escolhido é predominantemente resi-
N
dencial (majoritariamente casas), dessa forma foi escolhido manter o gabarito baixo a fim de destacar o grande bosque do Instituto Butantan. predominantemente residencial (majoritariamente casas), dessa forma foi escolhido manter o gabarito baixo a fim de destacar o grande bosque do Instituto Butantan.
galpões misto habitação horizontal habitação vertical comércio Figura 86: Mapa de usos (Fonte: autoral)
90
mapa de topografia
A área encontra-se a 730 m de altura do mar, e possui um relevo topográfico plano com pouco desnível entre os perímetros do terreno. No entanto, os arredores do local, majoritariamente ocupados pelo Instituto Butantan, possuem uma variação de 35 metros de desnível. As calçadas do local possuem 3m de largura e estão em um estado de preservação médio, com diversos desníveis e buracos. O local foi escolhido visando conectar o grande parque proposto com seu entorno, visto a necessidade
N
de tornar a região mais acessível e convidativa ao pedestre.
Figura 87: Mapa de topografia (Fonte: autoral)
91
mapa de hidrografia
Córrego Pirajussara Mirim
Localizado nos municípios de São Paulo e Taboão da Serra, o Rio Pirajuçara tem sua parte canalizada passando por baixo das Avenidas Eliseu de Almeida, Pirajussara e Osasco voltando a ser visível à superfície próximo à Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, onde
N
deságua no Rio Pinheiros. O canal está canalizado no trecho do município de São Paulo por 6,2 quilômetros.
Figura 88: Mapa de hidrografia (Fonte: autoral)
92
mapa de mobilidade urbana
A mobilidade da região do Butantã é um fator que merece destaque, visto que possui diversos pontos de ônibus ao longo da Avenida Corifeu e a estação de metrô Butantã da linha amarela. Desse modo, é possível acessar o lote de diversas maneiras, tanto por meio de automóveis diretamente da avenida, quanto dos pontos de ônibus próximos localizados na extensa avenida. Ademais, visto que o local escolhido possui apenas uma via principal de
N
acesso, a intensidade de ruídos provenientes dessa avenida foi um fator a ser considerado no estudo preliminar
pontos de onibus
do projeto, devido a necessidade do silêncio de alguns
terreno de projeto
programas escolhidos, como as salas de atendimento
terminal de onibus - Pinheiros
com psicólogos. Por fim, a implantação do terreno sele-
Instituto Butantan
cionado está rotacionada aproximadamente - 30º em relação ao Norte Verdadeiro, destacando assim a fachada Norte, face oposta a Avenida Corifeu. Figura 89: Mapa de mobilidade urbana (Fonte: autoral)
linha de onibus linha de metro estação de metro linha da CPTM estação da CPTM corredor de onibus
93
94
5.2
Partido de projeto
Como partido projetual foi proposto uma unidade de equilíbrio emocional junto a uma grande área verde pública onde a natureza encontra-se em harmonia com o espaço e os frequentadores. O principal objetivo da unidade é servir como conexão entre a grande massa verde do Instituto Butantã, que com o passar dos anos foi se perdendo devido às construções implantadas nos lotes da frente, e a Avenida Corifeu de Azevedo Marques. Além disso, procura-se explorar a implantação de novos espaços públicos e arborizados na região, pouco encontrados no entorno do projeto proposto. Como dito anteriormente, o lidade de vida melhor, dessa maneira, a unidade de equilíbrio emocional tem a intenção de despertar esse cuidado nos frequentadores por meio do programa proposto. Principalmente em um cenário de pós pandemia, o projeto tem intenção de promover ambientes de descompressão visando despertar todos os benefícios do contato com os elementos naturais, como o aumento do hormônio da felicidade e a diminuição do stress, em conjunto com as diferentes terapias propostas a fim de auxiliar a maioria dos frequentadores. Ademais, visa-se despertar os 5 sentidos nos frequentadores do espaço, criando assim, um equipamento de uso público e privado para servir de auxilio para a região do Butantã e da cidade de São Paulo.
Figura 90: Render do projeto (Fonte: autoral)
cuidado com a saúde física e mental é de extrema importância para uma qua-
95
95
96
96
5.3
O projeto
Devido a grande massa verde do Butantan, a única via de acesso ao projeto é pela Avenida Corifeu. Foi proposto o alargamento da calçada existente, resultando em 5 metros caminháveis com jardins de chuva. Ademais, a grande área do terreno possibilitou a implantação das duas lâminas principais do projeto, e do grande parque central junto ao auditório. As lâminas, posicionadas longitudinalmente e na transversal do terreno, se “cruzam” permitindo a integração da grande maioria dos ambientes internos com os espaços externos, gerando assim um ambiente biofílico onde a natureza está sempre presente no projeto. Estes ambientes externos foram pensados tanto para servir como espaços de contemplação da natureza e um respiro da cidade, quanto para acompanhar as atividades propostas no programa, devido às diversas aberturas feitas. O acesso ao projeto pode ser feito de 3 maneiras diferentes: pelo acesso público, na Avenida Corifeu e pelos 2 jardins que chegam no restaurante público (setas laranja demonstradas na figura ao lado); pelo acesso privado, para os funcionários e alunos do local (seta azul) e pelo acesso de serviços, visando a carga e descarga da cozinha do restaurante (seta rosa). Além disso, como discutido anteriormente, existem diversos elementos que auxiliam nesse design biofílico. Por isso, visando recuperar a memória do Córrego Pirajussara, foram propostos diversos espelhos d’água que, além de remeterem a água no projeto, servem para separar as áreas públicas e privadas do local. Por fim, foi escolhido como materialidade a madeira, tanto dos fechamentos quanto a estrutura, a fim de respeitar as decisões biofílicas dentro do projeto. Para os caixilhos o uso da madeira e do vidro, laje CLT (Cross Laminated Timber - madeira laminada cuzada) e as vigas e pilares de MLC (madeira laminada colada). Foi utilizado o modelo de sustentação por grelha na lamina central e vigas com vão de 7,5 no restante do projeto.
97
av
en
id
a
co
rif
eu
de
az
ev
ed
o
m
ar
qu
es Figura 91: Isométrica do projeto com os principais acessos(Fonte: autoral)
98
Figura 92: Explodida mostrando os programas e a área total de cada ambiente (Fonte: autoral)
sala de arteterapia área total = 222 m² mirante do Butantan área total = 80 m² sanitários área total = 40 m²
salas de atendimento com psicólogos área total = 190 m²
biblioteca área total = 280 m²
restaurante área total = 660 m²
sala de yoga área total = 110 m²
auditório área total = 350 m²
vestiários área total = 85 m² sala de espera área total = 40 m²
sala de dançaterapia
foyer área total = 245 m²
sala de pilates área total = 160 m²
área total = 225 m²
Figura 93: Diagrama de áreas externas (Fonte: autoral)
Área total terreno = 10.800 m²
Diagrama áreas externas Área verde externa (térreo): 4115 m²
Área total do térreo: construído + circulação e apoio = 2096 m²
Área verde interna (térreo e primeiro pavimento) : 447 m²
Área total do primeiro pavimento: construído + circulação e apoio = 1012 m²
Cobertura verde: 830 m²
Área total do projeto: 3108 m²
Espelhos dágua: 1780 m² Piso externo: 2450 m²
programas de uso público
programas de uso privado
99
Figura 94: Vista externa espaço de convívio privado (Fonte: autoral)
Figura 95: Vista interna da biblioteca (Fonte: autoral)
102
Diagrama Solar A fachada do pavimento superior foi fechada com brises horizontais a fim de garantir o conforto térmico, elemento da fachada que será explicado no detalhe posteriormente.
Figura 96: Isométrica com diagrama solar (Fonte: autoral)
Figura 97: Explodida mostrando os principais fluxos (Fonte: autoral)
Diagrama de fluxos Como dito anteriormente, o principal objetivo do projeto é incentivar o cuidado físico e mental por meio do contato com natureza, através do grande parque proposto e através dos programas escolhidos. De modo que os frequentadores do local se sintam seguros, os fluxos do projeto foram projetados de forma clara, evitando o sentimento de angustia e confusão.
103
104
N
implantação
10m
30m
105
5,00 m
10,00 m
0,00 m
10,00 m
5,00 m
Figura 98: Implantação (Fonte: autoral)
106
Figura 99: Render - vista externa do jardim esquerdo e auditório (Fonte: autoral)
107
Figura 100: Render - jardim do lado direito (Fonte: autoral)
108
05 06
07 04
03
01 02
avenida corifeu de azevedo marques
1m
7,5m
15m
08
09
planta do térreo
No térreo foram implantados ambientes externos e internos abertos ao público, trazendo mais equipamentos para a região do Butantã, sendo eles: um auditório com capacidade para 196 pessoas, a fim de valorizar o movimento do corpo e incentivar a arte do teatro, envolto por um espelho d’água que invade o projeto trazendo uma sensação de proximidade maior com a natureza. O foyer, ambiente de espera e apoio para o auditório, está localizado na entrada do projeto pela rua Corifeu e também possui a vegetação presente através do grande jardim interno iluminado pelo rasgo feito na laje superior, elemento que será explicado melhor no Corte 01. Além disso, o restaurante foi projetado visando ser um ambiente de acesso público a fim de despertar o paladar nos frequentadores do local, com um grande átrio central com pé direito duplo que abriga a vegetação interna. As salas de yoga, dançaterapia e pilates foram estrategicamente posicionadas no térreo, próximas aos vestiários e com aberturas para os jardins externos, a fim de despertar a curiosidade a respeito das práticas nos frequentadores do local. Ademais, as salas de dançaterapia e yoga se abrem para o extenso jardim externo tendo em mente, além de aumentar as salas, proporcionar experiencias de contato direto com a natureza e despertar o sentido
01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09.
da visão, audição, olfato e tato.
auditório com camarim foyer restaurante cozinha sala de yoga vestiários sala de pilates área de espera sala de dançaterapia acesso publico acesso corpo e mente acesso serviço
Figura 101: Planta do térreo (Fonte: autoral)
N
109
110
Figura 102: Render - abertura da sala de pilates para o grande jardim público (Fonte: autoral)
111
Figura 103: Render - uma das entradas do restaurante (Fonte: autoral)
112
14
13
12
11 10
15
1m
7,5m
15m
12
12
12
12
12
12
12
planta do primeiro pavimento
Alguns programas tem como forte característica a necessidade de silencio, dessa maneira as salas de atendimento com psicólogos e a biblioteca foram projetadas no pavimento superior. Desse modo, a arteterapia também foi implantada no primeiro pavimento a fim de ter mais privacidade durante as sessões. As salas de atendimento com psicólogos possuem um recuo em para a implantação do jardim frontal arborizado que serve tanto de proteção contra a incidência solar, quanto para conectar e tornar mais agradável a sessão para os pacientes que estão participando da consulta. O grande átrio central também foi projetado visando trazer o contato com os elementos naturais que estão no pavimento inferior através do pé direito duplo criado. Por fim, na área externa do pavimento superior foi implantado um mirante para a grande massa verde do Instituto Butantan, a fim de valorizar essa vegetação e recuperar a importância dessa visão para esse importante Instituto da cidade.
10. 11. 12. 13. 14. 15.
sala de arteterapia biblioteca sala psicólogos sanitários mirante do Butantan sala de luz
N
Figura 104: Planta do primeiro pavimento (Fonte: autoral)
113
114
Um dos principais objetivos do projeto é servir como conexão entre a Avenida Corifeu de Azevedo Marques e a grande massa verde do Instituto Butantan. Com isso em mente, foi proposto o grande parque público que, como é possível observar nas elevações ao lado, teve um grande impacto na Avenida e no entorno do projeto.
115
ELEVAÇÃO 01 - antes da intervenção
ELEVAÇÃO 01 - depois da intervenção Figura 105: Elevações urbanas (Fonte: autoral)
116
117
Figura 106: Render do projeto (Fonte: autoral)
118 O corte mostra a relação do projeto com a grande massa verde do Butantan e como o mirante se encontra em relação ao Instituto. Além disso, é possível observar no canto inferior direito o rasgo na laje para a implantação de um jardim arborizado, permitindo a entrada de luz e ventilação natural Figura 107: Corte 01 (Fonte: autoral)
CORTE 01 1m
7,5m
119
10,00 m
5,00 m
0,00 m
Figura 108: Render jardim interno (Fonte: autoral)
120
Figura 109: Corte 02 (Fonte: autoral)
121
O corte 02 passa pelo auditório e é possível notar a escolha da laje grelha para a estrutura tanto do auditório quanto para a lamina central. Além disso, está sendo mostrado o corte no sentido oposto ao corte 01 do rasgo na laje para a implantação de um jardim arborizado, permitindo a entrada de luz e ventilação natural.
CORTE 02 1m
4m
122
O corte 03 é possível observar os diferentes usos dos programas, no térreo da esquerda para a direita está o espaço externo e interno do restaurante, sala de pilates e sala de dançaterapia. No pavimento superior, a sala de arteterapia e a biblioteca. Além disso, o átrio central com pé direito duplo mencionado anteriormente, que cria a conexão do térreo com o pavimento superior.
Figura 110: Corte 03 (Fonte: autoral)
123
10,00 m
5,00 m
0,00 m
CORTE 03 1m
7,5m
124
Figura 111: Render - átrio com pé direito duplo (Fonte: autoral)
125
Figura 113: detalhe 01 - fachada Norte, jardim sobre laje (Fonte: autoral)
Figura 112: Render - vegetação sobre laje (Fonte: autoral)
126
10 09 08 07 06 05 04 03 02 01
detalhe 01
esc. 1:40 legenda jardim sobre laje: 01 02 03 04 05
-
laje CLT Crosslam revestimento do telhado camada contra umidade isolante membrana impermeável
06 07 08 09
-
manta protetora camada drenante camada filtrante substrato e cascalho
127
detalhe 02 Figura 115: detalhe 02 - fixação do brise na laje (Fonte: Hunter Douglas)
CORTE 04 esc. 1:100 Figura 114: Corte 04 (Fonte: autoral)
128
129
Figura 116: Render do projeto (Fonte: autoral)
06
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Figura 117: Fonte - Unsplash
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Figura 118: Fonte - Pinterest
ponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/01426397908705892.