COMPORTAMENTO CRIATIVO

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Comportamento Criativo Uma visĂŁo instrumental

ROBERT MENEZES


A criatividade é condição necessária para a inovação

dos

processos

e

das

coisas

no

cotidiano da vida. Representa a capacidade humana de construir soluções inteligentes e estéticas para problemas em qualquer área do conhecimento. Na banda de jazz, por exemplo, a partitura básica é só uma plataforma inicial para geração de novas melodias. A música produzida, na verdade, resulta da criatividade individual em sintonia coletiva, por meio do improviso, sem maestro, de forma espontânea. O ato de criar está associado à ideia de algo novo, algo que nunca existiu antes. Criar, portanto, poderia ser visto como um fato inédito, surpreendente e original, que possibilita a construção de novos conceitos ou a destruição e substituição de conceitos já estabelecidos. Criar é ver antes dos outros e fazer ver aos outros o segredo da descoberta. Apresenta-se


como um pensamento dotado de originalidade que supera o lugar-comum do conformismo e da passividade. Sobre

a

imaginação,

Albert

Einstein

escreveu: “Quando observo a mim mesmo e os meus métodos de pensamento, chego à conclusão de que o dom da imaginação foi mais importante para mim do que a minha capacidade de assimilar conhecimentos.”

Em outro momento, complementou: “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”

Os significantes criatividade e imaginação parecem semelhantes em seus significados. Para tentar diferenciá-los podemos compreender a criatividade como a imaginação utilizada para a resolução de um determinado problema. O publicitário Barreto (1997), com seu senso prático, afirma que “não há criatividade sem um


problema referente.” E que problema? Aquele que ainda não conseguimos resolver pelos meios tradicionais disponíveis. Assim, o desafio para se encontrar uma solução diferenciada e original

seria

um

bom

motivo

para

o

desenvolvimento da criatividade. Segundo Barreto (1997) a criatividade não se aprende. O ser humano já é criativo, já sabe. Criatividade, portanto, estaria relacionada a coisas que os indivíduos já sabem, mas deixam ficar

encobertas

por

uma

camada

de

conformismo, de rotina, de desinteresse, ou de racionalização excessiva. Uma

maneira

de

sair

da

rotina

seria

procurar desenvolver novas percepções sobre o que

tradicionalmente

estamos

vendo.

De

alguma forma, seguindo a observação de Marcel Proust: “A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar nova paisagem, mas


em ter novos olhos.”

A criatividade inegavelmente é um processo complexo, chamado de Síntese Mágica por Arieti (1976),

referindo-se

indivíduo

tem

de

à

habilidade

combinar

os

que

um

processos

primários do cérebro (fontes das emoções subconscientes imaginação

e

ou

inconscientes:

associações)

e

os

sonhos, processos

secundários do cérebro (fonte da racionalidade consciente: pensamento lógico ou a forma de externalizar os processos primários). A capacidade de criar tem origem na aparente contradição entre a racionalidade e a emoção, o concreto e o imaginário, o consciente e o inconsciente. O comportamento criativo representa o uso intensivo das fontes interiores de

criação

em

processo

de

aprendizado,

colaboração e integração, para desenvolvimento e validação de ideias ou soluções.


Segundo observações de Predebom (2001): “O comportamento criativo é produto de uma visão da vida, de um estado permanente de espírito, de uma verdadeira opção pessoal quanto a desempenhar um papel no mundo. Essa

base

mobiliza

no

indivíduo

seu

potencial imaginativo e desenvolve suas competências além da média, nos campos dependentes da criatividade”.

Podemos compreender o comportamento criativo como uma experiência eminentemente pessoal, embora receba influência do grau de motivação

do

pensamento

indivíduo

criativo

em

diante

dos

usar

seu

valores

e

práticas predominantes no contexto coletivo (ALENCAR, 2003). No âmbito dos empreendimentos pessoais ou

organizacionais,

a

criatividade

está

relacionada ao processo de descoberta de oportunidades e elaboração de alternativas para decisão.

O

processo

empreendedor

exige


criatividade não apenas para gerar ideias, mas, também para implementar as ideias geradas, transformando-as em oportunidades. A partir de uma visão pragmática, Kao (1997) define criatividade como um processo por meio do qual as ideias são geradas, desenvolvidas e transformadas em valor. Assim também, Torrance (1976) ratifica este conceito quando sugere que a criatividade é o processo de

nos

tornamos

deficiências

e

sensíveis

lacunas

no

a

problemas,

conhecimento,

acrescentando a isso a busca de soluções e a apresentação de resultados. Nesta visão, Baron (2007) reconhece três processos-chave do empreendedorismo: geração da ideia (produção de ideias para algo novo); criatividade (geração de ideias potencialmente úteis)

e

reconhecimento

de

oportunidades

(processo pelo qual empreendedores concluem que identificaram o potencial para criar algo


novo

com

capacidade

de

gerar

valor

econômico). No nosso entendimento, a criatividade pode ser entendida como um processo criterioso e seletivo que exclui a fantasia através de uma avaliação crítica do potencial de utilidade das ideias. Esta classificação pode ser chamada de criatividade

empreendedora

e

representa

a

criatividade humana orientada para resultados práticos no âmbito das realizações humanas. A criatividade

empreendedora

apresenta-se,

portanto, como um processo mental complexo, a princípio ilimitado, que promove a geração de ideias em dois níveis: espontâneo (quando tudo que pode ser pensado de forma livre é aceito) e crítico

(quando

as

ideias

são

filtradas,

selecionadas e aproveitadas em combinações diferentes para solução de problemas). O último nível representa a validação das ideias em forma de produtos e serviços.


A criatividade empreendedora representa, assim, o processo de geração, desenvolvimento e transformação de ideias em oportunidades. Atualmente, devido à importância do tema para todos os setores de negócios, um novo perfil profissional,

mais

criativo

e

inovador,

é

unanimidade na análise de currículo. Para a sociedade contemporânea, moldada para o consumo em massa, a criatividade, de um modo geral, se revela como um valor positivo e já faz parte da expectativa das pessoas em relação a processos, produtos e serviços. A ênfase em explorar fontes interiores de criação, ampliar a capacidade de inovar e utilizar

técnicas

problemas capacitação

é

de

hoje e

resolução quase

uma

treinamento

criativa

de

regra

na

profissional,

qualquer que seja o ambiente de trabalho. No cenário da inovação, Mirshawka (2003) sugere que só a criatividade poderá trazer vantagem competitiva, tendo em vista que a tecnologia já


se tornou em produto disponível, é só comprar. Finalmente, voltando ao exemplo da banda de jazz, a criatividade merece ser analisada além da visão instrumental, como condição humana

de

articulação

entre

razão

e

sensibilidade. Nessa dimensão, além do valor econômico, estão as soluções inteligentes que descobrimos e inventamos de forma intuitiva, que nos trazem prazer e alegria. Assim, a criatividade seria um exercício de libertação. REFERÊNCIAS ALENCAR, Eunice Soriano. O Processo da Criatividade – Produção de Ideias e Técnicas Criativas. São Paulo: MAKRON Books, 2000. ARIETI, Silvano. Creativity – The Magic Synthesis. New York: Basic Books, 1976. BARON, Robert A; SHANE, Scott A. Empreendedorismo – Uma Visão do Processo. São Paulo: Thomson Learning, 2007.


BARRETO, Roberto Menna. Criatividade no Trabalho e na Vida. São Paulo: Summus, 1997. KAO, John. Jamming – A Arte e a Disciplina da Criatividade na Empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1997. MIRSHAWKA JUNIOR, Victor. Qualidade da Criatividade. São Paulo: DVS Editora, 2003. PREDEBOM, José. Criatividade: Abrindo o Lado Inovador da Mente. São Paulo: Atlas, 2001. TORRANCE, Ellis Paul. Criatividade: medidas, testes e avaliações. São Paulo IBRASA, 1976.


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