COZINHA ESQUIZOFÊMERA
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UMA NOVA MANEIRA DE CUIDAR E PENSAR A LOUCURA A PROPOSTA DA COZINHA
OBJETIVOS
O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” tem como finalidade a criação de
1 - Assistir uma melhor inserção social dos portadores de sofrimento
um espaço colaborativo, compartilhado e aberto que vem a se contrapor
mental na cidade de Belo Horizonte. A cozinha passa a ser entendida
à tradicional forma de assistência ao portador de sofrimento mental de
então como um espaço de trocas de experiências, de saberes, memó-
Belo Horizonte. Uma estrutura efêmera, multifuncional e itinerante que
rias, histórias e vivências e como um espaço de consolidação de rela-
tem como sustentação principal o Movimento da Luta Antimanicomial e
ções entre as pessoas no cenário urbano da cidade.
a Economia Solidária. O projeto surge como uma reflexão e uma experiência de ativação e ocupação do espaço público da cidade, que une
2 - Inserção produtiva através do trabalho realizado em conjunto. O pro-
uma cozinha compartilhada, aberta e polivalente com a inserção social,
jeto surge como uma resposta contra a exclusão econômica e social
produtiva e econômica dos usuários da rede de saúde mental de Belo
vivenciada pelos portadores de sofrimento mental. Trabalhar é condição
Horizonte. Um projeto extramuros, que busca atender de modo digno e
essencial, não somente pela manutenção financeira, mas pela dignifica-
humano às diferentes formas e momentos em que o sofrimento mental
ção da vida. A produção como ferramenta de geração de renda e trabalho.
surge e se manifesta, uma postura de respeito aos diferentes modos de ser, ver e perceber o mundo. O projeto traz uma discussão a respeito de
3 - Trabalhar uma melhor qualidade de vida para os usuários da rede.
novas formas de uso e ocupação do espaço público da cidade, colocan-
Estímulo ao uso de produtos orgânicos, incentivo à agricultura familiar e
do lado a lado a arquitetura e a saúde mental, e explicitando de maneira
local, parcerias com feiras e mercados e motivação para a organização
singular a importância do arquiteto como promotor e mediador de tais
de possíveis atividades e oficinas tendo como tema principal o ato de
aproximações, relações e conflitos.
cozinhar e conviver no espaço público da cidade.
“EU TOMO REMÉDIOS, MAS OS REMÉDIOS NÃO ME CURAM. O QUE ME CURA É A ARTE...” FREDERICO EYMARD
“… E ENTRE AS CORES, O QUEIJO, A PIMENTA, O AZEITE E O AZEDO ENCONTRO COM O SALGADO, QUE ACOLHE O DOCE E QUE REFLORESCE: SIMPLICIDADE! E NO DOURADO DESSA COZINHA ABERTA QUE PREPARA A VIDA, QUE COZINHA TUDO, MENOS O TEMPO!”
O projeto da cozinha busca a criação de um espaço “esquizofrênico” e efêmero, que poderá servir para práticas culinárias, como um espaço de
Foi realizado um pequeno documentário em vídeo com alguns persona-
exposição e venda dos trabalhos e das obras realizadas pelos usuários
gens de importância para a elaboração do projeto e um livro contendo
da rede, para pequenas apresentações teatrais e musicais, para pales-
todo o histórico do trabalho e o manual de construção detalhado de toda
tras e seminários, para uso em feiras e mercados, como forma de alego-
a estrutura da cozinha. Os dois arquivos poderão ser encontrados atra-
ria, como consultório de rua, como oficina de pintura, mosaico, costura,
vés do QR Code ao lado:
bordado, etc. O projeto vai muito além do ato de cozinhar em si. A cozinha abrange relações sociais, culturais, políticas e econômicas. Um espaço que busca a aproximação dos portadores de sofrimento mental no cenário urbano da cidade e no convívio com outras pessoas. O projeto
ESPAÇO COMPARTILHADO
USUÁRIOS DA REDE
conviver com a diferença
vem a proporcionar então uma maior autonomia por parte dos usuários no atual cenário político, econômico e social em que vivemos. ESTRUTURA EFÊMERA
LUGAR DE TROCAS
USO DO ESPAÇO PÚBLICO
COZINHA ABERTA
INSERÇÃO SOCIAL
espaço multifuncional
O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” foi uma construção minuciosa de pequenas partes, cada uma com a sua singularidade e importância, que acabaram por se agrupar e dar forma a essa proposta. O projeto e sua forma final sofreram influências de inúmeras pessoas ligadas direta ou indiretamente à rede de saúde mental de Belo Horizonte. A cozinha surge então como produto de um amontoado de ideias, histórias, vivências e experiências... Pedaços de um todo. INSERÇÃO PRODUTIVA
POPULAÇÃO LOCAL
COZINHAR NO ESPAÇO PÚBLICO
ALUNO: ROBERTO CARVALHO PEDROSA DE MEDEIROS - ORIENTADOR: ADRIANO MATTOS CORRÊA - TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - ARQUITETURA E URBANISMO (UFMG) - DEZEMBRO DE 2017
A ESTRUTURA DA COZINHA O projeto busca a construção dessa estrutura esquizo / efêmera não se apegando a apenas um espaço físico para a sua implantação na cidade.
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ESTRUTURA EXTERNA FECHADA
A cozinha foi pensada para ser montada e desmontada de maneira prática e rápida, facilitando assim o seu transporte e uso em diferentes pon-
FACE 3
FACE 2
FACE 4
FACE 1
tos de Belo Horizonte. A cozinha engloba em seu interior os núcleos de trabalho que já são de conhecimento e domínio pelos usuários da rede, sendo eles: a culinária, o mosaico, a costura, o bordado, a marcenaria, o teatro e a música. Todos esses núcleos de trabalho serão de alguma forma “amontoados” dentro da estrutura. A cozinha é dividida em duas partes, sendo a primeira composta pela Estrutura Externa em forma de cubo e a segunda pelos módulos Água e Fogo que serão confinados no interior da Estrutura Externa como mostra o diagrama abaixo.
DIAGRAMA DA ESTRUTURA (ESTRUTURA FECHADA E ABERTA)
FACES DA ESTRUTURA EXTERNA
ESTRUTURA EXTERNA + MÓDULOS
FACE 1
FACE 3
FACE 2
FACE 4
ALUNO: ROBERTO CARVALHO PEDROSA DE MEDEIROS - ORIENTADOR: ADRIANO MATTOS CORRÊA - TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - ARQUITETURA E URBANISMO (UFMG) - DEZEMBRO DE 2017
A ESTRUTURA DA COZINHA
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MÓDULOS DA COZINHA Os módulos da cozinha foram projetados para proporcionar uma maior autonomia, funcionalidade e desempenho em qualquer ponto da cidade. O Módulo Água comporta um sistema independente de uso da água com o emprego de galões de 20 L. O módulo conta também com bancadas auxiliares que podem ser abertas para o uso, uma pia de 40x40 cm e um armário para armazenamento de utensílios diversos. No lugar do armário poderá ser colocada uma caixa térmica para o acondicionamento dos alimentos. O Módulo Fogo conta com um fogão de bancada a gás de 4 bocas, bancadas auxiliares e um espaço em seu interior para guardar algumas mesas dobráveis para uso das oficinas e da própria cozinha. A estrutura metálica dos módulos proporciona a colocação de
CONCLUINDO
inúmeros utensílios dependurados.
A cozinha foi pensada então para assumir múltiplas configurações, atra-
MÓDULO ÁGUA
to de metal, que podem ser configurados e reconfigurados para atender
vés de um conjunto de elementos móveis, anexados a um esqueleto feia uma variedade de funções e usos. A cozinha só se configura através das relações existentes entre as pessoas, uma estratégia simples, que poderá vir a ser construída, administrada e gerida pelos próprios usuários da rede de saúde mental de Belo Horizonte. É um passo além na Luta Antimanicomial e uma tentativa de transportar a loucura para um novo contexto e cenário, “precisamos levar a loucura para passear”. A verba para a construção da estrutura poderá vir através de editais do fundo municipal e estadual de cultura, das associações dos usuários, através de vaquinhas populares, de parceria público-privada, etc. Os caminhos para romper os muros que ainda cercam a loucura são muitos, mas é só através do esforço coletivo e através de ações sociais e políticas que poderemos garantir dias melhores e mais felizes para essas pessoas. A “Cozinha Esquizofêmera” é uma proposta dotada de significados, valores e lutas com foco nas relações compartilhadas e em outros
MÓDULO FOGO
modos de se viver e de ocupar o espaço público da cidade, espaço esse como um dos poucos locais onde ainda é possível conviver e aprender com as diferenças. Um território que parece cada vez mais dominado, excludente e de difícil apropriação pelas pessoas, uma terra de ninguém.
PRODUTORES LOCAIS
USUÁRIOS DA REDE
POPULAÇÃO LOCAL
COZINHA ESQUIZOFÊMERA INSERÇÃO SOCIAL
MELHOR QUALIDADE DE VIDA
INSERÇÃO PRODUTIVA
ALUNO: ROBERTO CARVALHO PEDROSA DE MEDEIROS - ORIENTADOR: ADRIANO MATTOS CORRÊA - TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - ARQUITETURA E URBANISMO (UFMG) - DEZEMBRO DE 2017
IMAGENS
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