Estrutura de custos da construcao civil nacional

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO / FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA DA ARQUITETURA AUT.0518 – PROJETO DE CUSTOS Prof. Dr. Khaled Ghoubar

ESTRUTURA DE CUSTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NACIONAL A / ALGUNS CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA AS QUESTÕES DOS CUSTOS DA CONSTRUÇÃO : 01 / A estrutura atual dos custos da Construção Civil nacional, compreende : os “Custos Diretos” (empiricamente previsíveis) que são gastos com os materiais e a mão-de-obra com seus encargos sociais (da legislação trabalhistas); mais os “Custos Indiretos” (também empiricamente estimados), gastos com as administrações do canteiro e do escritório central com seus insumos e equipamentos; mais a “Bonificação-Lucro” (arbitrada) de interesse do construtor. 02 / Os “Custos Diretos” da Construção Civil de habitações em S.Paulo, têm uma composição média que destina por volta de 60% dos seus gastos para os materiais e 40% para a mão-de-obra e seus encargos sociais. É importante a constatação de que quando há ganhos de produtividade com a mão-de-obra eles são em parte repassados para os rendimentos dos operários, e a outra parte mais os demais ganhos com as escalas e critérios de compra dos materiais e equipamentos, são transformados em sobre-lucro do construtor. Por isso se pode afirmar que os “mutirões”, ao se auto administrarem, socializam os ganhos de produtividade, que um canteiro organizado permite, enquanto os empresários naturalmente os capitalizam. 03 / Aos “Custos Indiretos” (o DI do BDI) da Construção Civil, empiricamente estimados correspondem todos os gastos com a administração do canteiro e parte dos gastos com o escritório central da construtura, onde estão os demais insumos e equipamentos necessários à construção. Estes “custos diretos” têm uma composição que é específica à escala de produção e à cultura industrial e comercial de cada empresa construtora. Essa empresa pode ter um “custo indireto” baixo e ser de perfil familiar onde os seus custos operacionais são bastante reduzidos, mas ela também pode ser do porte das grandes construtoras que têm instalações especiais, que precisam de grandes áreas para abrigar seus estoques e equipamentos, e que investem em tecnologia e treinamento do seu pessoal. Ambas, empresas pequenas e grandes, podem transferir os custos do pessoal do canteiro diretamente para a folha da mão-de-obra operária, e assim eles passam a ser contabilizados como “custo direto”, prática muito comum em obras pequenas. 04 / O “B” corresponde à bonificação, ou lucro nominal, da taxa do “BDI” que as empresas construtoras cobram pelas despesas com a administração do seu escritório central e do canteiro de obras. Esse BDI têm uma composição que pretende ser racional mas na verdade esconde todo o tipo de manipulação para a ampliação dos lucros sem deixar muitos vestígios. Portanto, não temos garantia nenhuma de que as informações sobre a produtividade do setor estejam sob uma severa metodologia científica (contrariamente seria ideológica e corporativista), embora academicamente haja importantes trabalhos na direção do seu esclarecimento. Mas como os dados têm de ser colhidos no canteiro ou recebidos das mãos dos empreiteiros, é natural a dúvida sobre as suas isenções e sobre o significado estatístico dos dados, da escala da compra dos insumos, da escala da produção, das condições do mercado, etc., etc. 1


05 / O BDI “nominal” da Construção Civil hoje está por volta de 25% (20% a 30%). Ele se aplica sobre todos os “custos diretos” da construção. Estima-se que metade dessa taxa vá pagar as “despesas indiretas” e a outra metade vá formar a sua taxa de interesse que é o lucro, também chamada de “bonificação”. Esse BDI “nominal” pode ser ampliado para um BDI “real” por volta de 60%, podendo chegar a 100%. Sempre que se discute o tamanho do BDI “real” aparece uma polêmica enorme pois as empresas temem que sejam flagradas em evasão fiscal. Mas essa inconfidência não nos interessa, não é o nosso papel. O que nos interessa de verdade, dentro da universidade, é ter uma maior clareza sobre a real composição dos custos da construção para poder racionalizá-los e planejar os empreendimentos com mais liberdade e eficiência como exigem os grandes problemas nacionais onde a habitação popular se encontra em permanente destaque. A ausência de auditorias e a falta dos desenhos das tipologias espaciais referenciais mais realistas, faz com que as metodologias empregadas pelo setor na análise dos seus próprios custos resultem negligentes. Por exemplo : o setor emprega oficialmente, para estimativa de custos, o mesmo custo/m2 de construção tipológica (que pode ser uma habitação unifamiliar de 2 dormitórios, padrão popular), independentemente da qualidade e detalhamento do projeto e da escala da construção ou da estrutura gerencial. 06 / Um BDI genérico entre 20% e 30% se aplica na verdade no setor atacadista das mercadorias da Construção Civil, enquanto os setores de produção realmente industrial, praticam um BDI próximo a 200%, como é caso do setor de alimentação e de confecções, e próximo de 400% quando se trata da indústria automobilística. Seguramente a indústria de artigos de luxo, de perfumes e de informática têm BDI muito maiores. Lembrando : o BDI se aplica sobre os materiais e a mão-de-obra da produção da mercadoria; não se aplica sobre o capital investido nas instalações (edifícios e equipamentos); não se aplica sobre os investimentos com o planejamento e desenvolvimento dos projetos; não se aplica sobre as campanhas publicitárias, não se aplica sobre os salários e consumos do corpo administrativo (diretores, gerentes, secretárias, etc.); não se aplica sobre os custos financeiros do capital de giro (diferença temporal entre as despesas da produção e o recebimento pelas vendas); não se aplica sobre os custos financeiros dos estoques; não se aplica sobre o treinamento da mão-de-obra e os benefícios assistenciais extras que se lhe dá; não se aplica sobre os riscos dos investimentos; e se tratando da Construção Civil não se aplica sobre o canteiro de obras. Por essa razão o genérico BDI de 30% para a produção da Construção Civil, está muito distante de qualquer BDI industrial, mais realista. 07 / Há um grave problema com a definição do status empresarial do setor da Construção Civil : ele parece não saber se quer se identificar como industrial ou como comercial. Se quiser se identificar com o comercial ele está agindo corretamente ao criar uma bagunça típica de um bazar turco. Mas se quiser se identificar com uma indústria moderna, mecanizada e racionalizada o setor terá que abrir a sua caixa preta que é o BDI para que todos possamos ganhar segurança na avaliação do impacto que os nossos desenhos, criteriosamente racionalizados, têm nos custos de produção e de comercialização. 08 / Os custos unitários dos materiais, dos equipamentos e da mão-de-obra são encontrados nas revistas mensais “Construção - Mercado” que apresentam inclusive as cotações para as várias regiões do país. 09 / As composições dos custos unitários dos serviços de construção mais usuais se encontram na “TCPO - Tabelas de Custos Para Orçamentos”, que têm versões atualizadas periodicamente. Como a sistematização e processamento dos cálculos 2


manualmente dos orçamentos é uma tarefa muito árdua, já se dispõe da TCPO sintetizada em listagens impressas, e principalmente, já se dispõe do seu programa informatizado de custos - VOLARE - em ambiente Windows, instalado em alguns micros do LCG, que aguardam atualização para uma versão mais nova. A mesma PINI já pôs no mercado um programa de desenho em ambiente CAD que dispõe de link com o programa de orçamentos Volare para permitir um orçamento automaticamente a partir dos desenhos. 10 / A “PINI SISTEMAS” goza de um justo prestígio e consenso no mercado como um confiável “Banco de Dados Referencial” para os Custos da Construção Civil, com pesquisas regionais e ótimas publicações técnicas especializadas. A FAUUSP desfruta de várias cortesias da PINI, desde as revistas “Construção - Mercado” até “Listagens Sintéticas de Custos de Serviços”, e o competente software Volare para orçamentos. A disciplina AUT.0518 empregará regularmente esse Banco de Dados em seus exercícios de orçamentos. Contudo, como todas as demais fontes oficiais de custos do setor da Construção Civil ela sofre da mesma doença : falta de uma arbitragem sem a presença dos interesses classistas e corporativistas da Construção Civil. 11 / A presença da universidade, atendendo aos convites de interesse do poder público e das classes trabalhadoras, tem sido relativamente discreta na crítica ao tema dos custos da construção. Infelizmente ainda não se tem o suficiente interesse político, econômico e social em tratar a Construção Civil com a devida importância pela sua responsabilidade na formação de quase 15% do PIB nacional, pelo grande poder de multiplicação de empregos diretos, indiretos e induzidos, pelo alcance nacional e internacional, pela diversificação de produtos e utilidades, e pela sua responsabilidade na construção do ambiente urbano.

12 / Por “Custos” se convenciona definir todas as despesas gastas na produção de qualquer bem. Quando esse bem é colocado à venda sofre acréscimos das taxas e impostos em geral, mais a margem de lucro desejado pelo produtor, e assim se forma o “Preço”. Não se deve esquecer que o “Preço” tem de se adequar também à concorrência do mercado através do controle, modernização e otimização da estrutura de produção. É relativamente fácil fazer uma simulação de um processo industrial convencional onde vai se “agregando valor” à mercadoria durante todo o processo de entrada/saída das linhas de produção dos vários agentes, desde o início na mineradora até a montadora final. 13 / Mas é difícil perceber ou arbitrar o “Valor de Imagem” atribuído à mercadoria pelo consumidor. E hoje, cada vez mais as mercadorias, como é o espaço construído, vêm impregnadas de um valor que não é só “Valor de Uso” (a utilidade funcional, objetiva e real - uma casa tem a função de abrigo), nem é só “Valor de Troca” (o interesse e liquidez que têm no mercado). Elas devem ter também “Valor de Imagem” (aspectos subjetivos culturais, pessoais e de grupos) onde residem os conceitos da estética e da originalidade, por onde circula o “marketing imobiliário”. 14 / Assim, esses três valores, de uso, de troca e de imagem, definem o que podemos chamar de “Valor de Negócio”, pois é este quem determina se é interessante e viável a sua produção para o consumo de uma determinada demandam alvo. 15 / A “economia de escala”, pela repetição de técnicas construtivas e modelos a produzir, pelo grande volume na aquisição de materiais, e pela contratação também de grande volume de mão-de-obra e equipamentos, estima-se que atualmente (2007) fique entre 10% e 20%

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16 / Por “perdas”, nos consumos de materiais, nos rendimentos da mão-de-obra e dos equipamentos, entendem-se as quantidades estatisticamente esperadas e naturais de materiais (entre 2% e 5%) e horas não trabalhadas (em torno de 30%), comuns durante os trabalhos e emprego dos materiais e equipamentos. 17 / Por “desperdícios”, nos consumos de materiais e rendimentos da mão-de-obra e equipamentos, entendem-se as quantidades de materiais e horas não trabalhadas superiores às estatisticamente esperadas e naturais das “perdas”. 18 / Por “barato”, entende-se qualquer produto cujo critério de escolha seja predominantemente o menor preço, abrindo-se mão de exigências funcionais e de um melhor desempenho que traria agregadas mais qualidades, com seus correspondentes custos. O resultado é um preço relativamente baixo, como é o espaço emergencial da favela. 19 / Enquanto o produto “caro”, é aquele que tem as qualidades, e seus correspondentes custos, muito superiores aos necessários para o seu perfeito e suficiente desempenho funcional. Também pode ser aquele que tendo poucas qualidades tem um preço relativamente alto, como é na categoria dos imóveis de “luxo”. 20 / Um produto se classifica como “econômico” quando satisfaz a maioria das necessidades de bom desempenho, a um custo abaixo do “caro” e acima do “barato”. É o que popularmente se chama de “preço justo”. Ou dito de outra forma é o de maior qualidade ao menor preço. Esse é o conceito que uma boa arquitetura deve sempre buscar. 21/ Por “materiais” da construção, que correspondem a aproximadamente 60% dos custos diretos, se entendem todos os insumos regidos pela NBR.5706/77: a) materiais simples – todo aquele material que não tem forma geométrica definida. Como areia, pedra britada, cimento, tintas, etc. Perdas típicas = 5% a 20%. b) elemento semiterminado – são os materiais de seção definida e comprimento variável. Como condutores elétricos, tubos de PVC, vergalhões de aço, perfis em geral. Perdas típicas = 2% a 5%. c) elemento simples – são os materiais com forma e tamanhos determinados. Como tijolos, blocos, tacos, telhas, azulejos, etc. Perdas típicas = 5% a 10%. d) elemento composto – todo produto constituído por composição de materiais simples, ou destes combinados com materiais simples, que têm forma, tamanho e características funcionais definidas. Como ferragens, aparelhos sanitários, interruptores elétricos, etc. Perdas típicas = zero. e) elemento funcional – são aqueles constituídos por um grupo de elementos semiterminados, simples, compostos, ou suas combinações, e que têm uma função específica na construção. Como esquadrias, balcões, etc. Perdas típicas = zero. 22 / A “mão-de-obra” da Construção Civil, a qual corresponde aproximadamente 40% dos custos diretos, é classificada como: “especializada” - a que tem um ofício : arquitetos, engenheiros, pedreiros, encanadores, etc.; e a “não especializada”, que é composta por todos os serventes e ajudantes, que somam um pouco mais do que a metade dos operários dos nos canteiros tradicionais artesanais. Quanto ao seu status, dentro do canteiro de obras, 4


ela é da “produção” quando está envolvida diretamente com o serviço: pedreiros, carpinteiros, etc.; e da “administração” quando está dando apoio técnico à produção: mestres, encarregados, arquitetos, engenheiros, advogados, contadores, vigias, controladores de qualidade, almoxarifes, gerentes, secretárias, boys, etc. Quanto à sua capacitação tecnológica, ela poderá ser “artesanal” – quando empregar exclusivamente a habilidade das mãos; “semi-artesanal” quando empregar individualmente equipamentos elétro-mecânicos e pneumáticos; “mecanizado” quando trabalha sempre com a mediação coletiva de equipamentos: guinchos, gruas, caminhões, tratores, etc.; e “industrializado” quando trabalha dentro de instalações tipicamente industriais em linhas de produção seriada : indústria de pré-moldados, e indústria de equipamentos e materiais em geral. 23 / Os “equipamentos” da construção estão normalmente contidos dentro das “despesas indiretas”, mas eles podem ser jogados diretamente nos custos sob a forma de “locação”. Esse é um dos itens que exige arbitragem para a definição do BDI, que obviamente fica reduzido se ele deixar de contemplá-los. 24 / As “Leis Sociais e Riscos do Trabalho”, que todo trabalhador tem direito sobre o seu salário de “horista”, com são todos os trabalhadores dentro das TCPOs, e que todo empregador tem obrigação de oferecer, não são regularmente respeitadas e é bastante comum o trabalhador e o empregador acordarem informalmente, entre si, o não cumprimento dessas leis. Pode parecer estranho, mas o trabalhador ao abrir mão desses direitos (sob o risco de não ter o emprego), exige em contrapartida uma melhor remuneração direta. Aparentemente o trabalhador sente alguma forma de benefício, pois grande parte dos trabalhadores da Construção Civil não tem registro em Carteira de Trabalho. Vamos entender melhor isso: as LS&RT, quando recolhidas pelo empregador resultam numa taxa de aproximadamente 127%, e dentro delas se encontram: Previdência Social; FGTS; Férias; 13o Salário; SENAI; SESI; INCRA; SECONCI; SEBRAE; Salário Educação; Segurança de Acidentes do Trabalho; Licença Paternidade; Auxílio Enfermidade; Indenizações por Demissão Injusta; Repouso Semanal; e dias parados devido a chuvas e feriados. Nos acordos informais, de sonegação dessas taxas, um oficial recebe pelo dia trabalhado, em média, o dobro do que receberia se estivesse registrado. Isso equivale dizer que ao invés de no fim do mês um trabalhador registrado qualquer, receber R$ 500,00, ele recebe R$ 1.000,00. É uma coisa muito contraditória e conflituosa. O trabalhador está ali trocando a garantia de um futuro mais previsível e assistido, pela garantia de uma melhor renda mensal, efêmera. O empregador afirma que as taxas são muito altas e o salário baixo, e para o trabalhador mais do que os direitos, ele precisa de trabalho, pois não lhe dá a garantia de continuar no empregado. Dessa forma perversa, o trabalhador passa a administrar a sua vida a curto prazo, morando em favelas e auto-construções, ou ainda, voltando para a sua cidade natal aguardando que o chamem para um novo trabalho efêmero, que novamente encerrado ele voltará para lá. 25 / A “Engenharia de Custos” – EC, trata de forma muito competente da economia através do gerenciamento dos custos, desde o início da gestão dos empreendimentos, até a sua venda. Estabelecendo os critérios e metodologias matemáticas para os estudos de viabilidade econômico-financeira dos empreendimentos, levando em conta a capacidade de endividamento dos usuários, seus gostos e necessidades, a velocidade e custos da produção, e a velocidade e preço das vendas. Aqui o orçamento da construção é previsto, mas só é confirmado após a elaboração de todos os projetos de arquitetura e engenharia. 26 / A “Arquitetura de Custos” - AC, complementarmente à Engenharia de Custos, mas com recursos distintos, ela trata das correlações do espaço arquitetônico com a economia. Ela também está preocupada com os usuários e com e empreendedor, mas os seus critérios 5


e metodologias se manifestam através da qualificação dos desenhos de arquitetura. Enquanto a EC trabalha sobre bases predominantemente mais objetivas, a AC sem abandonar suas bases subjetivas, trabalha com alguns dos instrumentos da EC, como a apropriação de orçamentos e indicadores espaciais e funcionais tipológicos e referenciais, que ambos usam em projetos análogos. Aqui também o orçamento da construção é previsto, e sobretudo, ele é monitorado durante o desenvolvimento dos desenhos do projeto. Esse controle econômico do projeto está cada vez mais sendo exigido dos arquitetos, e a sua eficiência exige a colaboração da EC, embora essa relação ainda não esteja totalmente definida.

B – OS CUSTOS DE CONJUNTOS HABITACIONAIS POPULARES NA R.M.S.P. EM 1987 B.1 – O CASO DE CONJUNTOS HABITACIONAIS POPULARES DE PRODUÇÃO POR EMPREITEIRAS, DA COHAB-SP EM 1987 CUSTO MÉDIO POR UNIDADE HABITACIONAL, EM % SOBRE VALORES DE 1987 O universo desta amostra é de 5008 aptos. de 48,42 m2, e 1007 casas-embrião de 24,40 m2 (em lotes de 102 m2), totalizando 6095 unidades habitacionais, com uma área média de 44,45 m2, produzidos pela Municipalidade de São Paulo através da sua COHAB entre 1987/88 : ITEM ESPÉCIE Terreno A

B

C D

E

F G H I

%

OBSERVAÇÕES 5,80 Preço histórico de aquisição

1-Terraplenagem 2-Urbanização 3-Água 4-Esgoto 5-Drenagem superficial 6-Pavimentação Equipamentos comunitários 1-Habitações – Materiais 2-Habitações – Mão-de-obra 3–Habitações – BDI do construtor 1-Projetos 2-Planej./admin./fiscal./comercialização do empreendedor

10,00 0,64 0,52 1,00 1,84 10,00 23,70 15,60 13,76 0,60 3,83

Terraplenagem pesada Pequenas benfeitorias 24,00 Rede pública Rede pública Rede Pública Asfaltamento 7,76 EMEI, Posto de Saúde, etc.

53,06 Edificações completas

Arquitetura e engenharia Taxas da 9,39 COHAB-SP Escrituração das propriedades 3,26 Programa Social da CEF 0,12 Taxa da CEF 1,58 29,80 Terra urbanizada 60,81 Construções 9,39 Planejamento e projetos 100,00 % Valor de venda = 1.640,18 VRFs

3-Despesas com regularização 4-PRODEC 5-Taxa do agente financeiro TOTAL DA IMPLANTAÇÃO (A + B) TOTAL DAS EDIFICAÇÕES (C + D) TOTAL DOS PROJETOS E TAXAS ( E ) TOTAL GERAL (A + B + C + D + E)

1 VRF (Valor de Referência para Financiamento) = 1 UPC = R$ 21,01 (jan/2007); 1.640,18 VRFs = R$ 34.460,18 (jan/2007)

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B.2 – O CASO DOS MUTIRÕES DA CDHU-SP EM 1996 CUSTO MÉDIO POR UNIDADE HABITACIONAL, EM R$ DE 06/1996. Os custos são do “Plano de Custos” destinados pela CDHU para a produção de aptos. de 62 m2, do programa “mutirão UMM” ITEM 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

ESPÉCIE Materiais para as edificações do mutirão Mão-de-obra para as edificações do mutirão Administração das obras do mutirão Canteiro de obras do mutirão Projetos do mutirão CUSTOS DA HABITAÇÃO = Σ 1 a 5 Terreno Infra-estrutura CUSTOS DIRETOS = Σ 6 a 8 CAFO ( 3% ) Custo operacional da CDHU-SP CUSTOS FINANCEIROS = Σ 9 a 11 Juros / carência Taxa de provisão de subsídios ( TPS ) VALOR MÉDIO DO FINANCIAMENTO 1ª Prestação (sem subsídios) p/ 25 anos Renda Familiar Mínima, necessária TOTAL DA IMPLANTAÇÃO (7 + 8) TOTAL DAS EDIFICAÇÕES (1 a 4) TOTAL DOS PROJETOS E TAXAS ( 5, 10, 11, 13, 14 ) TOTAL GERAL (18 + 19 + 20)

R$ 7.924,88 1.101,01 243,67 541,06 135,26

% 39,65 5,51 1,22 2,71 0,68

9.945,88 49,77 4.475,99 22,40 1.688,00 8,44 16.109,87 80,61 332,78 1,67 1.610,99 8,06 18.053,64 90,34 125,59 0,63 1.805,36 9,03 19.984,59 100,00 155,26 0,777 6 s.m. 30,84 49,09 20,07

OBSERVAÇÕES Para todos os materiais Só mão-de-obra contratada Taxa da Assessoria Técnica Canteiro tradicional Projetos de arquitetura e engenharia Por unidade habitacional Ao preço de aquisição Redes e pavimentação Custos totais de produção Taxa da CEF Taxa da CDHU-SP Custos totais c/administração Custos financeiros Custos p/formação de fundos Custo total geral 23 % da Renda Familiar Em 1996 = R$ 672,00 Terra urbanizada Construções Planejamento, taxas e projetos

100,00 %

s.m. = salário mínimo em junho 1996 = R$ 112,00 Os R$ 19.984,59 de 06/1996, atualizados para 01/2007 pelo indexador genérico dos salários dos trabalhadores da C. Civil (pedreiro = R$ 3,38 : R$ 1,61 = 2,099), resulta em R$ 41.947,65.

C / O MANUAL TCPO.10 DA PINI SISTEMAS E O BDI “NOMINAL” E O “POSSÍVEL” A Editora PINI representa hoje o grupo editorial de maior destaque e credibilidade nos assuntos da Construção Civil, onde se encontra a Engenharia de Avaliações e Custos. A sua presença marcante em todos os eventos do setor é prova evidente da sua sintonia com as questões, debates e iniciativas que estão sendo abordadas pelos profissionais, empresas e centros acadêmicos debruçados sobre as questões da Construção Civil. Dos serviços que ela presta destacamos o manual TCPO.10 – “Tabela de Composição de Preços para Orçamentos” na sua versão nº 10 de 1996. Esse manual compreende mais de 800 páginas com um total de mais de 3000 Tabelas, organizadas em 14 títulos principais – Etapas – com suas subdivisões específicas. Esse manual tem orientado o mercado na composição dos custos dos serviços construtivos, e tem sido consensualmente aceito como um referencial confiável, que guarda uma certa e necessária independência em relação ao setores sindicais empresariais e operários. E que não está isento de algumas críticas de ordem metodológica mas que não lhe destroem a sua boa estrutura. Para ilustrar a discussão vamos analisar e fazer intervenções numa tabela, em R$ na base de jan/07 : 7


C.1 – Custos “posto obra”, convencionais Código 070160 – Alvenaria de vedação para revestimento, com blocos de concreto, dimensões : 14 x 19 x 39 cm, assentados com argamassa (mista de cimento e areia média, traço 1:0,5:8); espessura das juntas 10 mm; espessura da parede sem revestimentos = 14 cm; unidade em m2: Quadro. 1 - Custos “posto obra”, CONVENCIONAIS em 01/2007 Componentes

Consumos

unid.

Custo Unitário

Custo Total

%

Cimento

1,95

kg

0,26466

0,52

1,69

Cal hidratada

0,49

kg

0,2555

0,13

0,42

0,0130

m3

52,78

0,69

2,24

13,13

un

0,97

12,74

41,35

14,08

45,70

Areia média, lavada Bloco de concreto Andaimes

SUB-TOTAL DOS MATS Pedreiro

0,70

h

3,38

2,37

7,69

Servente

0,81

h

2,83

2,29

7,43

126,80

%

5,91

19,18

SUB-TOTAL DA MDO

10,57

34,30

TOTAL DOS GASTOS

24,65

80,00

%

6,16

20,00

R$

30,81

100,00

Leis Sociais

BDI (estimado) PREÇO TOTAL FINAL

25

sobre 100 % da MDO

Nessa tabela estamos adotando o BDI em 25 % e a taxa de Leis Sociais, calculada pela PINI SISTEMAS, em 126,80 %. Os preços dos insumos foram extraídos da revista CONSTRUÇÃO-Mercado São Paulo, de março/07 que trazem as cotações desses insumos na data de jan/07. São as reais contextualidades, que aparecem ao compormos as Tabelas, que dão uma significativa flexibilidade na definição no Preço Total Final que elas definem. De uma forma geral a flexibilização dos preços dos insumos se dá pelos seguintes aspectos: 1- A negociação por preços mais baixos depende da forma de pagamento, da escala do pedido, e do prazo de entrega; 2- Se o mercado tiver a “demanda aquecida” a negociação fica dificultada, e ao contrário fica muito facilitada quando tiver a “demanda esfriada”, ou seja, se o mercado estiver “comprador” ou “vendedor”, respectivamente, as negociações terão ritmos diferentes; 3- Se o construtor tiver veículo próprio para o transporte de cargas ele poderá retirar as mercadorias na fábrica e com isso obter um desconto de quase 15 % no preço do cal o do cimento; ficando esse custo do transporte a ser absorvido pela taxa do BDI; 4- Se os blocos de concreto estiverem programados para serem revestidos, como vamos simular aqui, as possibilidades de redução dos seus preços ficam ampliadas, pois há um

8


grande número de produtores de blocos para essas condições de “vedação” a ser revestida. Nesse contexto a redução no preço do bloco de concreto pode ultrapassar os 20%; 5- Da mesma forma a areia, se puder ser estocada no canteiro em volumes maiores, será mais econômico da ordem de 15 %, comprá-la em volumes de 11 m3 ao invés de 4 m3; 6- Os andaimes compõem os custos dos “equipamentos” alocados na obra e que formam parte do BDI; 7- A mão-de-obra, se dispuser de materiais na qualidade e quantidade necessárias e no tempo sincronizado com o ritmo das equipes de operários, ela terá condições de aumentar a sua produtividade e com isso reduzir o prazo de execução. Adotemos uma produtividade de 30%, impactando nos prazos e custos de mão-de-obra e Leis Sociais que serão reduzidos nessa mesma taxa de 30%. Contando com esses ganhos de produtividade da mão-de-obra a ser dividida entre os trabalhadores e patrões, isso melhora o salário direto dos trabalhadores e reduz os custos das Leis Sociais que deveriam ser recolhidas pelos patrões. E neste caso não há crime algum. 8- Sistematicamente os materiais estão especificados como de 1ª qualidade, adquiridos no varejo e em unidades e a mão-de-obra anotada com rendimento relativamente pessimista. Alterando a tabela “posto obra”, convencional e incorporando todas as competências factíveis da administração do canteiro de obras, temos: Cimento (menos 15%), cal (menos 15%), areia (menos 15%), bloco (menos 20%) e Leis Sociais sobre a mão-de-obra (menos 30%), teríamos : Quadro. 2 - Custos “posto fábrica”, e RACIONALIZADOS em 01/2007 Componentes

Consumos

unid.

Custo Unitário

Custo Total

%

Cimento

1,95

kg

0,2274

0,44

1,75

Cal hidratada

0,49

kg

0,2172

0,11

0,43

0,0130

m3

44,86

0,58

2,30

13,13

un

0,776

10,19

40,52

11,32

45,00

Areia média Bloco de concreto Andaimes

SUB-TOTAL DOS MATS Pedreiro

0,70

h

3,38

2,37

9,43

Servente

0,81

h

2,83

2,29

9,11

126,80

%

4,14

16,46

SUB-TOTAL DA MDO

8,80

35,00

TOTAL DOS GASTOS

20,12

80,00

%

5,03

20,00

R$

25,15

100,00

Leis Sociais

BDI (estimado) PREÇO TOTAL FINAL

25

sobre 70 % da MDO

Da comparação desses dois quadros 1 e 2, principalmente nos seus Preços Totais Finais, temos que a tabela com os procedimentos racionalizados é mais econômica que a dos procedimentos convencionais, da ordem de [1 - (25,15 : 30,81)] = 1 – 0,8163 ≅ 0,18 ≅ 18 %. 9


C.2 – As “gorduras sistemáticas” das tabelas oficiais e convencionais de consumos e custos da Construção Civil Numa representação em valores absolutos temos que “regularmente” o construtor gastaria com esses serviços de alvenaria aproximadamente R$ 25,15 e cobraria R$ 30,81. Para sabermos qual é o BDI “real” do construtor nós devemos confrontar o que ele cobra como preço total final “convencional” e o que ele efetivamente tem como gastos totais “racionalizados”, o que dá = (30,81 : 20,12) – 1 = 1,53 – 1 = 0,53 = 53 %, portanto bem diferente dos 25% declarados! É este fato: a existência de uma boa “gordura” (quantidades superdimensionadas) dos serviços, nesses contextos mercadológicos, que permitem a criação de um sobre-ganho para o construtor tirar proveito quase automaticamente. O construtor informado e hábil assim aumenta substancialmente seus lucros, através desses expedientes de aumento na produtividade da mão-de-obra e de redução nos custos de aquisição dos materiais. Portanto, não fazem sentido prático algum as afirmações improcedentes e injustas de que seria a mão-de-obra a responsável pela elevação do “Custo Brasil” da Construção Civil. Pois uma mão-de-obra mal paga, desestimulada e desprestigiada jamais obterá melhorias expontâneas na sua produtividade nem na qualidade das obras se não houver o interesse central do empresariado da C. Civil. E se essa mão-de-obra vier a ser bem remunerada, virão junto os processos industriais ou de maior mecanização que reduzirão a presença de pessoal no canteiro. Só nesse instante é que o canteiro artesanal estará se deslocando em direção ao industrial. A visibilidade do BDI “real”, aquele conquistado pela “inteligência” empresarial, estimula investigações em direção à real existência de uma produtividade muito mais acentuada no setor, do que ele comunica regularmente. E que por isso mesmo o setor poderia vir a ser alvo de um programa ousado que objetive melhorar as produtividades e os rendimentos dos empresários e trabalhadores, e ainda traga uma redução no preço final dos seus produtos e um aumento e diversificação das suas ofertas. Esses, aliás, sempre foram os objetivos na implantação de todos os sistemas industriais nestes últimos 200 anos da história da revolução industrial. Mais cedo ou mais tarde a Construção Civil brasileira vai ter que seguir o curso dessas águas – da modernidade associada à justiça social – promovendo seus trabalhadores, reduzindo custos, aumentando a qualidade e velocidade da produção e diversificando a oferta. Para isso será necessária a industrialização. O custo da mão-de-obra, nestas duas simulações nossas, está variando entre 34,30 % e 35,00 % do Preço Total Final, já incluídas as suas Leis Sociais. Que é uma valor médio praticamente igual ao BDI Nominal” de 25,93 %. E se não bastassem as declarações improcedentes de que a mão-de-obra é encarecedora dos preços de venda dos serviços da C. Civil, ela também é acusada precipitadamente de responsável por cerca de 30 % de perdas e desperdícios em materiais e tempo, que estariam ocorrendo nos canteiros de obras convencionais. Essa informação foi divulgada sem a sua correta contextualização. E ela foi repetida estranhamente com poucas contestações, e por gente séria e relativamente bem informada que a estava assumindo como uma verdade. Espero que as considerações que fizemos mais trás sobre as “perdas típicas de materiais”, tenham mudado essa idéia. 10


Se essa escala de 30 % de desperdícios estiver genericamente sendo praticada para todos os materiais, o que sensatamente é impossível de ocorrer, seguramente estará ocorrendo um erro de interpretação ou uma mentira dirigida. Esses 30 % de desperdícios podem ser encontrados no rendimento da mão-de-obra, e sobretudo, essa baixa produtividade não é por incompetência da mão-de-obra, senão por exclusiva incompetência da administração das obras, que não orienta, não acompanha e nem avalia corretamente a produção dos seus trabalhadores. É óbvio que nenhum trabalhador se interessa em ver a sua produtividade rebaixada pois ali ele perde os argumentos e condições nas negociações para sua melhor remuneração. Não é portanto de estranhar a resistência que os empresários têm contra a necessária transparência sobre os custos da Construção Civil. Mais do que uma simples “inconfidência”, a existência desse sobre-lucro do BDI “real”, indica que o setor é potencialmente de alta competência e que há espaço para elevar o canteiro a níveis maiores de racionalização, que contemplem uma melhor capacitação da mão-de-obra e sua conseqüente valorização. Quanto aos Manuais das TCPOs, eles deveriam colocar os consumos de mão-de-obra e o cadastro dos custos dos insumos dentro de pelo menos três padrões de especificações e três níveis de desempenho. Assim teríamos para os diversos contextos do canteiro, a anotação da mão-de-obra com três níveis de desempenho: baixo, médio, e alto; e também para os materiais as cotações dos produtos teriam as suas especificação em três padrões: baixo, normal, e luxo. Essa racionalidade, mais do que óbvia, é um forte indicador da abordagem metodologicamente mascaradora dos custos efetivos dos serviços da C. Civil. __________________________________________________________________________

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