FOXTROT! (T&D Nº 157)

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| AVIAÇÃO |

Foxtrot! O Gripen F é a variante biplace do Gripen de nova geração em desenvolvimento para a Força Aérea Brasileira para realizar as missões de conversão operacional dos seus futuros pilotos. Mas outras missões poderão ser incluídas como a guerra eletrônica e o ataque eletrônico, abrindo ainda mais a sua atuação no cenário de combate do século 21 João Paulo Moralez

programa binacional Brasil-Suécia para o caça Saab Gripen E/F já está trazendo vários dividendos para a Nação. Na parte de desenvolvimento do programa e da produção industrial, o País produzirá a fuselagem dianteira do Gripen E (monoplace) e Gripen F (biplace), o caixão das asas, a fuselagem traseira, os freios aerodinâmicos e o cone de cauda. Serão ao todo mais de 350 engenheiros brasileiros treinados, cerca de 1 milhão de horas de desenvolvimento apenas pela Embraer, em torno de 900 voos de testes e a criação do Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen no Brasil (GDDN), este já inaugurado em novembro de 2016 e que até o momento

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possui 120 funcionários, sendo quase a totalidade de brasileiros. Atualmente, mais de 170 engenheiros brasileiros já foram treinados na Suécia e, do total dos caças adquiridos, 28 Gripen E e oito Gripen F, 15 serão integralmente montados no País com mão-de-obra nacional. Na parte de transferência de tecnologia estão áreas específicas como fuselagem; sistemas veiculares; industrialização de fuselagem; engenharia de manutenção; ensaios em voo; produção e qualidade; e sistemas táticos e armamentos. Além de todo esse pacote de cooperação e transferência de tecnologia, o Brasil possui participação ainda maior no Gripen F. Sendo o primeiro e, até agora o único operador dessa varian-

te, vai trabalhar nas modificações e desenvolvimento para a adição do assento traseiro no cockpit; no sistema de oxigênio; na instalação de telas e comandos; na adaptação do sistema de energia elétrica; no redesenho da extensão da fuselagem dianteira e da seção das tomadas de ar; e no rearranjo da aviônica e das instalações elétricas. Os trabalhos no sistema de controle ambiental; interface do piloto com os aviônicos e as telas; sistemas de oxigênio; e de assento ejetável também estão sendo desenvolvidos no Brasil, assim como os estudos de elasticidade e de cargas. Em termos operacionais, é fato que o Gripen está introduzindo conceitos e tecnologias que impactarão diretamen-


Fotos: Saab

te na doutrina da Força Aérea. Trata-se de uma aeronave supersônica, que pode atingir mais de 2.400km/h com capacidade para levar mais de 5 toneladas de cargas externas entre sensores, armas e tanques de combustível em 10 pontos nas asas e fuselagem. Para rearmar e reabastecer o caça, deixando-o pronto para uma nova missão de combate são necessários apenas 10 minutos e, dadas as suas características de pousos e decolagens em pistas curtas, permite a sua operação a partir de vários aeródromos hoje espalhados pelo território. Mas é no Gripen F que novas doutrinas poderão ser desenvolvidas tendo em vista as outras possibilidades a serem exploradas.

COMBATENDO ELETRONICAMENTE Muito mais que um avião para fazer a adaptação dos futuros pilotos ao Gripen E, além da conversão operacional em termos táticos e de emprego de armamento, o Gripen F poderá desempenhar outras missões como a de guerra eletrônica (EW) e ataque eletrônico (EA). Não é de hoje que a guerra eletrônica faz parte dos conflitos armados. Na Segunda Guerra Mundial as redes de radares de solo alertavam sobre a aproximação de formações de bombardeiros. Na guerra do Vietnã os radares, acoplados em sistemas de defesa antiaérea baseados em mísseis, faziam a busca travando a sua mira nas aeronaves com o objetivo de derrubá-las.

Desde então, os países passaram a desenvolver técnicas e equipamentos com forma a interferir na ação desses sistemas. Os aviões foram modificados com sensores e equipamentos específicos para emitir sinais e bloquear o funcionamento desses radares enquanto as formações realizavam os ataques. Outra missão fundamental foi o surgimento dos Wild Weasel, onde caças equipados com sensores dedicados e armados com mísseis orientados pelas ondas eletromagnéticas faziam a busca e destruição dos sistemas de defesa antiaérea. Pela complexidade dessas missões e a carga de trabalho que esta envolve, os Wild Weasel são aeronaves que possuem um segundo tripulante responsável pela operação

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Para o Brasil, as entregas do Gripen E estão previstas para serem iniciadas no segundo semestre de 2021. O Gripen F, por sua vez, começa a chegar em 2023

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dos sensores, a interpretação de dados, localização desses sistemas e a orientação de como os ataques devem ser realizados. Em termos de guerra eletrônica, tanto o Gripen E quanto o F são equipados com uma suíte de sensores ativos e passivos conhecidos como Multi-Functional System EW (MFS-EW). As antenas de radar warning receiver (alerta de detecção de radar) fazem uma cobertura 360°, como se o caça estivesse numa bolha, e acusam se o Gripen está no alcance de algum radar inimigo ao longo da sua trajetória. Junto a informar ao piloto a posição exata da ameaça, as antenas de interferência e guerra eletrônica passam a atuar de maneira automática para bloquear esses sinais e impedir que as defesas antiaéreas possam lançar seus mísseis contra o Gripen. O mesmo é válido em relação a alguma aeronave adversária que estiver em voo. Todo esse sistema, que ainda inclui uma unidade interna de processamento de sinal, é baseado no conceito Arexis da Saab, que possui bandas digitais ultralargas e dispositivo de memória de frequência de rádio também digital. Os interferidores, com

tecnologia de varredura eletrônica ativa (AESA) de estado sólido de nitreto de Gálio, bloqueiam os radares impedindo que esses detectem a presença do Gripen. Ou, impedem que esses possam disparar mísseis em sua direção ou, até mesmo, geram alvos fictícios enquanto a sua real posição permanece oculta. O MFS-EW é integrado com os demais sensores da aeronave como o radar AESA Raven ES-05, o sistema passivo de busca e aquisição de alvos por infravermelho (IRST) Skyward-G, o datalink e demais sensores eletro-ópticos. As informações são processadas, analisadas, interpretadas e fundidas de maneira a proporcionar melhor consciência situacional para que o piloto possa tomar as melhores decisões numa fração de tempo. Além dos sistemas embarcados, a Saab está em fase de desenvolvimento final do pod de interferência eletrônica Arexis para tirar de operação redes de radares complexas e baterias de defesa antiaérea, seguindo o conceito de uma missão Wild Weasel. Tudo eletronicamente e de maneira a permitir ataques na profundidade do território inimigo sem sofrer danos


ou perdas. O pod Arexis também vai atuar para desviar mísseis que porventura sejam disparados contra os caças.

EM CONSTANTE EVOLUÇÃO E APERFEIÇOAMENTO O ciclo de vida e o projeto do Gripen foram feitos de forma a permitir que melhorias e desenvolvimentos possam continuar sendo realizados pelo menos pelas próximas quatro décadas, tendo em vista que a evolução tecnológica, principalmente no âmbito da guerra eletrônica, acontece de maneira permanente. Outras aplicações do Gripen F estão na possibilidade da inclusão de um operador de sistemas de armas (weapon system officer) para que esse possa realizar o gerenciamento de todos os armamentos de aeronaves e demais sensores dependendo da doutrina do país. Para o Brasil, as entregas do Gripen E estão previstas para serem iniciadas no segundo semestre de 2021. O Gripen F, por sua vez, começa a chegar em 2023. TECNOLOGIA & DEFESA 19


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