SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo USP (Universidade de São Paulo), novembro de 2009
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Usos jornalísticos no Twitter: a instantaneidade como valor de consumo da informação Rodrigo Carreiro 1
Resumo: Esse artigo discute quais os usos jornalísticos que podem ser feitos do microblog, enfatizando a análise a partir do uso da instantaneidade por parte de jornalistas e usuários como valor de consumo da informação. As possibilidades do Twitter são imensas, e muitas ainda a descobrir, mas o jornalismo já caminha a passos largos na ferramenta, explorando mais precisamente partir de um elemento do jornalismo on-line, a instantaneidade. Além disso, ainda consegue estabelecer um elo importante para um modelo geral de construção de reportagem e coberturas ao vivo de eventos de forte mobilização popular com a colaboração de usuários. Esses usos podem ser definidos como ainda incipientes, porém mostram-se de grande valia para o jornalismo e a busca pela informação em tempo real. Palavras-chave: jornalismo, twitter, instantaneidade
1. A urgência do microblog As transformações no ambiente da internet ocorrem de uma maneira bastante rápida e ágil, e não é diferente com o jornalismo aplicado ao mesmo. Desde que houve a liberação do pólo emissor (LEMOS, 2005), diversas transformações permitiram que não só os antigos agentes da mídia pudessem estar à frente da produção de conteúdo, mas também cidadãos comuns que tem um imenso espaço como suporte à sua frente. Essa reconfiguração do cenário midiático (AQUINO, 2009) põe novos questionamentos em voga, como o futuro do jornalismo e como a própria internet influencia na rotina produtiva da profissão. Porém, fica evidenciado que as novas maneiras de se produzir conteúdo para a internet alteram substancialmente os formatos que chegam aos 1
Jornalista e Pós-Graduando em Jornalismo e Convergência Midiática, da Faculdade Social da Bahia - FSBA, email: rodrigocarreiro@gmail.com.
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usuários, como é o caso de blogs e, mais recentemente, dos microblogs. Esse último vem ganhando força e se configura como um novo meio para produção jornalística através da sua capacidade de instantaneidade e de estar ligado em tempo real com o usuário, podendo ser perfeitamente inserido na rotina de jornalistas, na interação com fontes potenciais ou no compartilhamento de sua produção em busca de colaboradores próximos aos fatos. Essa emissão de conteúdo descentralizada tem como grande aliado o blog. Schmidt (2008, n/p) apresenta os blogs como sendo “websites freqüentemente atualizados onde o conteúdo (texto, fotos, arquivos de som, etc.) são postados em uma base regular e posicionados em ordem cronológica reversa”. Esse modelo não é inteiramente fechado, podendo sofrer algumas alterações, entretanto, configura-se como sendo um ambiente fortemente caracterizado pela interatividade, já que pressupõe comentários, e hipertextualidade (oferta de links relacionados). Mais do que isso, os blogs escrevem para sua própria audiência (AMARAL; MONTARDO; RECUERO, 2008), formando comunidades de leitores fieis (PALACIOS apud ZAGO, 2008) e confiantes no conteúdo apresentado. Com o passar dos anos, porém, os blogs passaram a apresentar novas ferramentas para incremento do conteúdo, “alguns deles decorrentes do advento das tecnologias de informação e comunicação, como no caso da possibilidade de atualização por dispositivos móveis, ou o surgimento de widgets2 e ferramentas especiais para blogs” (ZAGO, 2008a, p. 23). Uma dessas ferramentas é o microblog, que surgiu em 2006 como auxiliar ao blog na tentativa de dar vazão à necessidade de postagem de material mais ágil e rápido, sem necessariamente ter que entrar no ambiente de publicação do blog. Orihuela (apud ZAGO, 2008a) define microblog como uma mistura de blog, mensagens instantâneas e rede social. O microblog, portanto, permite ao usuário publicar conteúdo de um modo mais instantâneo, mas com uma peculiaridade: só são permitidos 140 caracteres. Escobar (2009) caracteriza os blogs em três aspectos básicos e que servem perfeitamente para compreensão dos microblogs. A saber: facilidade e agilidade na publicação, disposição 2
De acordo com o Wikipedia (wikipedia.com), widget é um componente de uma interface gráfica do utilizador (GUI), o que inclui janelas, botões, menus, ícones, barras de rolagem, etc. No caso do blog, são novas apropriações de uso, como blogroll, lista de filmes, links animados, nuvens de tag, entre outros.
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de conteúdo em ordem cronológica reversa e data, hora e autor registrados automaticamente. O modelo, que no blog é mais flexível, no microblog torna-se mais rígido, embora a própria limitação imponha novos usos para ferramenta que a tornam bem peculiar.
Figura 1 – quadro mostra curva com volume de atualizações relacionadas às manifestações do G-20, na Inglaterra, com aumento de “tweets” no dia 1° de abril, ápice do movimento.
Na conceituação do microblog, Zago (2008a) vai mais além e o aponta como uma ferramenta capaz de se projetar em diversos suportes diferentes, dando ao jornalismo mais opções na hora da distribuição do conteúdo. Essa facilidade fez com que, além dos usuários comuns, diversos veículos jornalísticos também adotassem a ferramenta, como é o caso do G1, O Globo e Folha On Line3, além de algumas experiências mais específicas. Essas, por sua vez, são cada vez mais comuns na cobertura de eventos pontuais e de grande mobilização popular, como é o caso das eleições do Irã, em 2009, e das manifestações da reunião do G-20, no mesmo ano (figura 1). 3
Os grandes portais do Brasil e do mundo utilizam o microblog como forma de divulgação de notícias publicadas no site e logo depois na ferramenta. Mais sobre o assunto no decorrer do artigo.
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2. O Twitter e a instantaneidade jornalística Dentre as opções de microblogs disponíveis estão o Jaiku4, Gozub5, e Twitter6, esse o mais utilizado no mundo. O Twitter, parte do objeto de estudo desse artigo, cresceu de uma maneira vertiginosa nos últimos meses, estando hoje no topo das ferramentas/sites que mais crescem na internet. Não só usuários comuns, mas também grandes corporações midiáticas já fazem uso dele em larga escala, inclusive desenvolvendo produtos específicos para a ferramenta. Pesquisa realizada em 20087 aponta o Twitter com cinco milhões de usuários, crescendo 600% nos últimos 12 meses e apresentando de cinco a dez mil novas contas por dia. Apenas em junho 2009, o Twitter ganhou 7 milhões de usuários8 e cerca de 75% dos usuários atuais só se cadastraram em 20099. A adoção da ferramenta, portanto, a coloca no patamar de importante meio a ser explorado pelo jornalismo. Figurando com destaque na virada de 2007 para 2008 e se consolidando 2009, o Twitter10 demonstra a possibilidade de ser um elemento inovador dentro das práticas de jornalismo on-line. Esse apresenta elementos bem definidos e é envolto em características específicas. Canavilhas (2007) põe sobre o jornalismo on-line três aspectos básicos: hipertextualidade, multimidialidade e interatividade/usabilidade. Já Mielniczuk (2003) acrescenta mais um elemento, o da atualização contínua, posição compartilhada com Palacios (2003). Ele define assim a instantaneidade, outro nome dado ao item:
A rapidez de acesso, combinada com a facilidade de produção e de disponibilização, propiciadas pela digitalização da informação e pelas tecnologias telemáticas, permitem uma extrema agilidade de atualização do material nos jornais da web. Isso possibilita o acompanhamento contínuo em torno do desenvolvimento dos assuntos jornalísticos de maior interesse (PALACIOS, 2003, p. 20). 4
http://www.jaiku.com http://www.gozub.com 6 http://www.twitter.com 7 “State of the Twittersphere” (2008), disponível em: http://cdnqa.hubteam.com/State_of_the_Twittersphere_by_HubSpot_Q4-2008.pdf 5
8 9
Pesquisa conduzida pela consultoria comScore: www.comscore.com Pesquisa elaborada pela Sysomos: www.sysomos.com
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O artigo adota, a partir desse momento, o Twitter como sinônimo de microblog, já que é a ferramenta mais usada, além de ser o objeto de estudo desse artigo.
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No entanto, essa procura pelo modo instantâneo da notícia não surgiu com a internet, e sim já era debatido com os meios massivos de comunicação no século XX e também “muito antes, apareciam como um fato futurístico no cinema e na televisão” (QUADROS apud SILVA, 2008, p. 5). De qualquer modo, essa procura mais incessante pelo tempo real é evidenciada com maior freqüência no jornalismo feito na web e em novas ferramentas, visto que, mais do que nos portais noticiosos, no Twitter a busca pela informação é dada sempre do mais recente para o menos recente. Isso quer dizer que, devido à disposição na ordem cronológica inversa, “a informação mais importante é simplesmente a mais recente ou, melhor dizendo, a que foi publicada mais recentemente”. (ESCOBAR, 2009, p. 227). Desse modo, há uma quebra na maneira como se é estruturada a notícia. A instantaneidade passa a ter uma importância muito maior com o surgimento de novos modos de se multiplicar conteúdo na web, como o caso do Twitter. Escobar (2009) aponta uma ruptura no modelo organizativo da notícia, denotando que o único critério importante na recepção da informação é o tempo. Isto é, quanto mais rápido a notícia chega ao público, mais ele vai se sentir informado. Nessa via, os critérios de noticiabilidade e as rotinas produtivas sofrem um abalo considerável (SILVA, 2008), pois surge a atualização contínua como um caminho a ser seguido por todos. A instantaneidade, portanto, é o principal elemento que o jornalismo utiliza para atuar no Twitter. A busca pelo tempo real vem seduzindo muitos jornalistas. “A rapidez de acesso, combinada com a facilidade de produção e disponibilização de conteúdo, faz com que na web as notícias possam ser dadas praticamente em tempo real” (ZAGO, 2008, p. 55). Seguindo essa premissa, o Twitter potencializa a busca pelo instantâneo e o relato do acontecido mais próximo possível do fato em si (ESCOBAR, 2009). O espaço citado vê no Twitter uma ferramenta capaz de dar ao usuário e à mídia toda essa aproximação requerida. Então, como a instantaneidade no Twitter pode efetivamente se encaixar num modelo de produção de conteúdo jornalístico? Há diversos caminhos a serem seguidos para construção e hierarquização de informação no jornalismo on-line, e quase todos são unânimes em buscar a quebra da pirâmide invertida
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(CANAVILHAS, 2008), tão adotada no jornalismo impresso. Para o ambiente da web, há uma quebra da linearidade narrativa:
Os usuários têm o poder de ir aonde quiserem, coletando informações. Eles podem, a partir de um bloco de informações, acessar um arquivo de áudio, um banco de dados, um gráfico, um resumo, um vídeo, um arquivo e, em seguida, desaparecer num link externo para outro site. Isso não significa que todos os usuários agem dessa forma, mas eles podem se assim quiserem (WARD, 2007, p. 125).
Dada essa quebra de rota, cada usuário pode seguir seu próprio caminho, o que impõe aos editores e jornalistas novas maneiras de arquitetar a notícia. Um deles, e que se encaixa no modelo de maximização da instantaneidade no jornalismo através do Twitter, é o News Diamond (BRADSHAW, 2007). A proposta de Bradshaw é que o Twitter sirva para dar o “alerta” de determinada notícia, para só depois aprofundar no assunto em diversas camadas informacionais. O modelo pressupõe convergência de redações, em que o profissional é capaz de produzir conteúdo tanto para os meios tradicionais, quanto para as novas mídias. Essa proposta só é possível num ambiente de produção com “velocidade, profundidade e interatividade (o fim da pirâmide invertida)” (LEMOS, 2009, p. 9). O primeiro passo do modelo aponta para uma rápida alerta de notícia dada diretamente do ocorrido, ou simplesmente no momento em que o jornalista tem idéia de fato que aquele assunto pode gerar uma cobertura mais aprofundada. A conseqüência desse primeiro passo é que o jornalista demonstra “ter” a notícia, o furo ou a informação, além de ganhar reputação perante a comunidade que o lê (BRADSHAW, 2007). Ele continua: “para notícias pequenas, é uma oportunidade para dar personalidade à cobertura”11 (BRADSHAW, 2007, n/p). É como se os leitores que acompanham o Twitter do repórter tivessem mais perto do fato em si. A partir do alerta, Bradshaw (2007) aponta ainda os próximos caminhos da notícia: draft, article, context, analysis, interactivity e customisation12. Todas as etapas seguem uma lógica de aprofundamento, ou seja, cada passo vai aumentando o valor da
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Tradução para: “for the smaller stories, it can provide an opportunity to add personality to your coverage”. Para mais informações sobre as outras etapas do “News Diamond”, acessar: http://onlinejournalismblog.com/2007/09/17/a-model-for-the-21st-century-newsroom-pt1-the-news-diamond/.
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notícia e acrescentando mais informações pertinentes. Na prática, alguns jornais já fazem isso, como é o caso do G1, Último Segundo, BBCBrasil, New York Times e CNN (ZAGO, 2008). Eles já enviam alertas de notícias que ainda não possuem cobertura ou qualquer outro tipo de conteúdo em seus portais. Há ainda contas no Twitter de veículos especializados em breaknews, como por exemplo o @breaknews13. Ele foi o primeiro a relatar, por exemplo, a queda de um avião no rio Hudson, em NY, além de deixar em alerta a população e avisar quem estava por perto caso pudesse tirar uma foto ou fazer um vídeo do acontecido14 para ajudar na compreensão do fato. Esse sistema de notas curtas tende a prender a atenção do leitor, mostrando a ele que ainda há algo maior e mais aprofundado por vir:
Essas pequenas “pílulas” de notícias curtas vão construindo um nó de informações que pode desencadear na expectativa para a leitura das matérias jornalísticas mais aprofundadas sobre o tema em foco do dia. Por isso, talvez, se deva a adoção rápida dos microblogs por jornais online consagrados, como The New York Times e BBC, que perceberam que surgia um novo fenômeno na internet com características apropriadas para “chamadas” de suas notícias principais (SILVA, 2009, p. 269).
Outros veículos seguiram o mesmo caminho e, após o breve alerta no Twitter, foram atrás de mais conteúdo para preencher o portal. A conclusão do ocorrido, e que serve também para outros fatos semelhantes, é que os dois tipos de mídia que existem atualmente (tradicional e web) não precisam necessariamente entrar em colisão; elas podem perfeitamente coexistirem, colaborando uma com a outra com conteúdos diversos, ambos explorando os aspectos mais potencializados de cada. Como via potencializada já apontada no artigo, a instantaneidade no Twitter também apresenta outras abordagens. Talvez a funcionalidade mais usada hoje pelo jornalismo na ferramenta é o que Zago (2008) aponta como feed, que nada mais é do que a publicação de manchetes de matérias publicadas nos portais. Alguns veículos já citados no artigo fazem uso dessa função, que se assemelha muito aos tradicionais feeds
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http://twitter.com/BreakingNews Mais sobre o assunto: http://kristinelowe.blogs.com/kristine_lowe/2009/01/hudson-river-crash-reveals-twitter-inleague-of-its-own-for-breaking-news.html 14
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RSS15 de blogs, portais e sites noticiosos. No caso do Twitter, a situação seria a mesma caso o microblog não tivesse uma característica bastante peculiar: é possível repercutir a notícia através da rede de contatos de cada leitor, adicionando comentários e novos links e informações ao que já foi noticiado16. Para Recuero17, um ponto importante nas discussões das redes sociais, e consequentemente do Twitter, é a conectividade dos usuários, pois estes estão cada vez mais ubiquamente e permanentemente ligados entre si. É uma característica que impõe ao microblog um forte aspecto de troca de informações em tempo real e que leva em conta alguns critérios, como laços sociais e relevância na rede. A pesquisadora acredita18 que as próprias limitações da ferramenta é que geraram uma apropriação mais informacional do Twitter, tomando para si uma ilusão de “último minuto”. A diferença dele para o Orkut, continua Recuero, seria um poder de concentração e credibilidade maiores. Percebe-se isso com a adesão de jornalistas, publicitários, músicos e formadores de opinião em geral, que ficam conectados quase que em tempo real com sua rede de contatos. É esse poder informacional que coloca no Twitter um valor instantâneo de consumo, mesmo que para isso seja preciso entrelaçar-se em uma rede. Se um jornalista tiver uma rede social bem articulada, ele poderá usufruir mais ainda da ferramenta, seja para procurar fontes e personagens para suas matérias, seja para dar em primeira mão uma notícia urgente.
Mais do que novas formas de interação, temos novas formas de conversação, diálogos assíncronos, migrantes. A tecnologia potencializa a conexão das redes sociais, evidenciando, assim, todo um poder de articulação que ainda nos é desconhecido. Isso tudo porque não podemos esquecer do básico: Essas redes sociais não são desconectadas do mundo offline. Portanto, as ações decorrentes da difusão de informações nessas redes têm efeito no mundo concreto. (RECUERO, 2009, n/p)
15
Feeds RSS são usados para que um usuário de internet possa acompanhar os novos artigos e demais conteúdo de um site ou blog sem que precise visitar o site em si. 16 No Twitter, a maneira de se repercutir a notícia é diferente de sites de bookmark social, como o Delicious.com. Nesses casos, não há conexão em tempo real entre os usuários da rede e a própria lógica do serviço não permite uma rapidez e instantaneidade na conexão entre os atores sociais. 17 http://pontomidia.com.br/raquel/arquivos/midia_social_alem_do_hype.html 18 http://pontomidia.com.br/raquel/arquivos/redes_sociais_na_internet_e_difusao_de_informacoes.html
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A situação apontada acima encontra reverberação no que Silva (2008) chama de ambiente móvel de produção. Junto a essa nova prática, o jornalismo continua sua jornada em busca da instantaneidade:
O jornalismo incorpora essa variante na sua fase de transformação diante de ferramentas que instauram a instantaneidade como valor de consumo da informação e nas relações com a audiência abrindo caminho para novos parâmetros quando da interpretação de suas especificidades com a presença das mídias de funções pós-massivas ocupando cada vez mais espaço (SILVA, 2008ª, p. 9).
Jornalisticamente falando, estamos na era “que permite uma mobilidade física e informacional (LEMOS, 2008) maior da produção e uma capacidade de geração de conteúdo em situação de instantaneidade mais potencializada” (SILVA, 2008, p. 2). Um grande uso que pode ser feito do Twitter é também a cobertura de eventos ao vivo, já bastante utilizado e que condiz perfeitamente com um ambiente móvel de produção (SILVA, 2008), em que a diferença de tempo entre o acontecido e a divulgação do fato pode se tornar quase nulo:
Nos deparamos com novas apropriações por parte do jornalismo relacionados a estas características das mídias móveis que fornecem ao jornalismo um aparato que se adapta perfeitamente às necessidades buscadas como imediatismo, maior capacidade para transmissão de arquivos diretamente dos locais da reportagens de campo em qualquer formato digital (áudio, vídeo, imagem, texto) (Silva, 2008, p. 10).
Essa mobilidade no Twitter aproxima tanto usuários de outros usuários, quanto formadores de opinião/grande mídia de usuários. É um passo importante que supera um buraco de defasagem na dita interatividade, uma vez que somente quando o leitor “interfere” na notícia, e não somente a consome, a interatividade está plena e a informação muda de papel (LEMOS, 2008). Em decorrência disso, “o twitter possibilita agregar a linguagem empregada pelos enunciadores primários com a linguagem dos enunciadores secundários – os colaboradores” (LEMOS, 2008, p. 10). A notícia, portanto, ganha repercussão e real valor ao ser discutida pelos leitores. Os usuários também podem e tem o poder de criar conteúdo relevante. Desde a estabilização, na prática, do conceito de cooperação de conteúdo da web 2.0, o usuário
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ganhou poder que antes não tinha. No Twitter, como uma das novas formas de disseminação de conteúdo jornalístico, a situação se potencializa ainda mais. Isto porque há a criação de um espaço igualitário de produção de conteúdo, ou seja, o espaço e limitação que um grande agente da mídia possui são os mesmos de um usuário que acabou de se cadastrar no Twitter. A diferença está na audiência que, com o tempo, pode crescer bastante, ou simplesmente é grande a depender do usuário.
Figura 2 – quadro mostra, em tempo real, atualizações referentes às eleições no Irã, fato que teve forte mobilização popular através do Twitter.
A rapidez com o que o Twitter pode ser atualizado potencializa e ajuda na cobertura de fatos importantes. Exemplos disso são os tremores de terra sentidos em São Paulo em 2008, em que rapidamente hashtags19 foram criadas para facilitar o acompanhamento do caso, além da já famosa #forasarney, movimento em prol da renúncia do presidente do Senado, José Sarney, que figurou algumas horas durante alguns dias entre os tópicos mais comentados do Twitter. Em outras situações, o Twitter ainda consegue criar uma complexa rede de cooperação entre membros de um mesmo espaço social, 19
São etiquetas iniciadas com o ícone #, com o objetivo de agregar notícias e fatos.
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como foi o caso das manifestações do G-20 (com forte apoio e adesão popular) e as eleições do Irã (figura 2). O Twitter se apropria dessas características para se posicionar num patamar importante na cobertura de eventos de grande mobilização popular, bastante propícias para que o público coopere conjuntamente na cobertura dos fatos.
3. Considerações Finais Embora os estudos com relação aos usos jornalísticos no Twitter ainda estejam no início, já existem algumas conceituações práticas no horizonte. Mesmo que num caso específico, o jornal New York Times utilizou o termo microjournalism para se referir ao uso que se fez do Twitter nas eleições americanas em 2008 (ZAGO, 2008). Mesmo que esse não seja o ponto mais importante das discussões acerca do Twitter, o fato já demonstra que a grande mídia, detentora de poder econômico e influência social, vê na ferramenta algum tipo de uso, ou que pelo menos merece algum tipo de estudo.
É no fator “tempo real” que o Twitter consegue seduzir tanto usuários como atores da mídia, uma vez que essa procura em dar a notícia em primeira mão antes dos concorrentes sempre norteou grande parte do jornalismo no mundo. O poder do “furo” ganhou força e já alimenta inclusive usuários, que tendem também a tentar cooperar com o ambiente social em que vivem, propagando notícias e acontecimentos que os cercam. É uma tentativa de entrar em contato com sua própria rede e, além de outros motivos, também fazer repercutir suas próprias informações para ganhar relevância na rede como um todo. Como foi visto anteriormente, os jornalistas já são capazes de arquitetar a notícia e inserir o Twitter como primeiro passo para uma reportagem na web. Mais do que isso, há uma quebra da linearidade na narrativa jornalística que obriga os produtores de conteúdo a tentarem se adequar ainda mais ao gosto dos leitores.
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