caderno técnico

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Técnico caderno

Detecção de cio na ovinocultura

Científico

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Parte integrante da Revista Cabra & Ovelha Nº 71 • Abril 2012 • Volume 33

Projeto de Bacia Leiteira de Caprinos em Governador Valadares/MG pg 2

Produção de caprinos de corte no semiárido: criação de mestiços Boer x SRD criados no sistema semi-intensivo

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Projeto de Bacia Leiteira de Caprinos em Governador Valadares/MG

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conteceu em Governador Valadares/ MG, no último dia 31 de março, no Parque de Exposições Agropecuárias, a 1ª Grande Mobilização da BLC, para dar o ímpeto necessário ao Projeto de implantação da Bacia Leiteira de Leite de Cabras do Vale do Rio Doce, promovido sob Coordenação da Secretária de Meio Ambiente de GV, pela pessoa do Secretário Municipal Júlio Cezar T. Avelar, sob a tutela do Médico Veterinário William Dutra Reis, idealizador do movimento, e pelo Sindicato Rural de Governador Valadares/MG, representado pela pessoa de seu presidente - Sr. Afonso Luis Bretas - e pela COOPERIODOCE - Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce, representada pelo diretor-presidente - Sr. Guilherme Olinto Rezende - e pela Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Leste Mineiro (ACCOLM), com seu presidente José Otto Castro, entre outras instituições públicas e Eventos programados para a Expô Valadares 2012, que privadas lá representadas, e com uma grande acontece de 13 a 15 de julho próximo. presença de Associações Rurais do município e região. pressionados a deixar o campo. Evidenciou-se a grande mobilização e interesse E a ideia é que as cabras sirno Programa por parte dos micros e pequenos pro- vam de ferramenta de manutendutores, trabalhadores familiares que estão lutando ção do homem campesino, nesta para se manterem no campo, e os médios produtores região também, como tem ocorrurais do Leste e Nordeste de Minas Gerais. rido em outras partes do Brasil, O movimento da BLC - Bacia Leiteira de Cabra a caprinocultura se presta muito no Vale do Rio Doce conseguiu promover ações bem a este papel social e de gerar para que estes possam ingressar na atividade de renda e manter o produtor no camcaprinocultura leiteira, de forma legal, saindo da po, mesmo em pequenas áreas, clandestinidade e informalidade, além do fato que complementando a receita famiestão sendo espremidos pelo avanço de culturas liar, além de produzir proteínas como o Eucalipto, e a degradação ambiental na nobres como, Carne e Leite, e dar região e o alto custo da terra, do custo de produção dignidade, alegria e satisfação! da agricultura em pequena escala, incompatível O objetivo por meio desta mobicom a manutenção familiar, estando cada vez mais lização além de evidenciar o grau

José Theophilo Gertner (Zeca) é Médico Veterinário, criador e consultor. E-mail: zecagertner@gmail.com.br

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Paulo Gertner (Zeca), discorrendo para os produtores do Programa.

de maturidade que o projeto se encontra em Governador Valadares/MG é avançar sensibilizando os envolvidos e comprometendo as entidades a darem as condições e apoio necessário, ao Dr. William Dutra, para sua efetiva concretização. Foram abordados os ciclos econômicos da região e a possibilidade de utilização da caprinocultura para revitalização econômica e suas nuances técnicas pela médica veterinária Paula Maria Pires do Nascimento, da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Como criador e veterinário da Suporte Assessoria Veterinária da Bahia, e ativista da caprinocultura nacional, por décadas, abordo virtudes da raça de eleição, a Anglonubiana, e seus cruzamentos, considerada de dupla aptidão, ou seja, voltada para a produção de leite e para a produção de carne. Por isso, comparo a raça caprina Anglonubiana à raça bovina Guzerá, muito criada na região. A cabra Anglonubiana presta-se muito bem para o

Saanglo: o cruzamento ideal para leite a pasto, e produção comercial para pequenas propriedades.

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A sede da ACCOLM: um Produtor local, Sr. Afonso, Dr. William e Zeca Gertner.

manejo a pasto de pequenos e médios produtores, além de permitir uma gama de cruzamentos visando atender a necessidade do produtor, com o leite e a carne como produtos finais. Compatível com o nível tecnológico atual dos produtores do leste mineiro, frisando a importância da mobilização e a viabilização do Projeto, citando ações similares na BA e RN e por todo o nordeste. O Fiscal Agropecuário do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e médico veterinário, Waldomiro Jardim de Oliveira, falou das condições técnicas necessárias e legais para assegurar a qualidade do leite, discorreu sobre a legislação e Boas Praticas de produção do leite de cabra. Seguido de uma mesa aberta à discussão, que foi o ponto alto e evidenciou o grande interesse por parte das diversas associações de pequenos produtores presentes e de criadores da região. O presidente da ACCOLM, José Castro, deixou claro o apoio irrestrito ao movimento, coordenado pelo Dr. William Dutra.

Marrã Anglo da Vida Nova, com 14 meses, em 1ª lactação (2,8 litros/dia em 1 ordenha, em regime de campo).

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Detecção de cio na ovinocultura

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cio, ou estro, como também é chamado, é descrito como o período em que as fêmeas aceitam serem montadas, ou cobertas, pelo macho. Nos ovinos esse período dura em média 24 a 48 horas e se repete, aproximadamente, a cada 17 dias, quando a fêmea não está gestante. Para o êxito da criação é importante que o intervalo entre o parto e a próxima concepção seja suficiente para a involução uterina e para a recuperação do escore corporal da fêmea. Considerando o período de gestação da ovelha e os pontos anteriormente levantados, o intervalo entre partos (IEP) pode ser de, em média, oito meses e isso permite a melhora nos índices reprodutivos do rebanho. Porém devido fatores fisiológicos, algumas raças ovinas entram em anestro (não “abrem cio”) durante determinado período do ano. Esse é um dos principais pontos que aumenta o IEP e prejudica o fornecimento regular da carne ovina. Para a correta detecção do cio é importante que o produtor saiba quais sinais a fêmea apresenta durante essa fase. A ovelha que está no período fértil se mostra mais inquieta e costuma cheirar o macho, quando há um presente. Ela normalmente se afasta do rebanho em busca do macho, e quando o encontra ela assume a postura de cópula, ou seja, fica parada e desvia a cauda para permitir que o macho faça a monta. Quando comparado com fêmeas de outras espécies como a vaca e a cabra, os sinais apresentados pelas ovelhas são muito discretos o que acaba dificultando ao tratador diferenciar as matrizes que estão receptivas ao macho e as que não estão. Por isso na ovinocultura lança-se mão de algumas técnicas para a detecção do cio, como o uso de rufiões, fêmeas androgenizadas e a manipulação do cio. Rufiões são machos inteiros que são submetidos a processos cirúrgicos ou mecânicos para que eles não consigam copular com a fêmea, porém como sua produção hormonal continua normal, eles conseguem detectar a fêmea em cio. Existem diversos processos cirúrgicos que tornam o macho um rufião, sendo os mais usados o desvio peniano que desloca o óstio prepucial lateralmente, impedindo que o rufião introduza o pênis na vagina, e a vasectomia que impede que o sêmen produzido saia dos testículos e, consequentemente, impossibilita a ejaculação. A vasectomia pode ser feita através de técnicas cirúrgicas ou mecânicas. O uso de fêmeas androgenizadas é mais comum na bovinocultura, porém ainda divide opiniões quanto a sua eficácia. Este método consiste na aplicação de hormônios andrógenos, como a testosterona, em fêmeas. A primeira aplicação é feita de cinco a sete dias antes do início da estação de monta, e repetida a cada sete a 10 dias durante todo o período necessário à detecção de cio. A aplicação é feita, preferencialmente, intramuscular. As fêmeas escolhidas para esta atividade normalmente são as que por algum motivo, como falhas reprodutivas, idade, ou outras características indesejadas, serão descartadas. O terceiro método, conhecido como manipulação do cio, não é exatamente

uma forma de detecção de cio, mas como o nome diz, ela manipula o ciclo estral, possibilitando supor o momento da ovulação. É feito através de protocolos hormonais que duram de seis a 12 dias, ocorrendo a manifestação do cio em 24 a 48 horas após o final do protocolo. Esse método é empregado principalmente quando o sistema de acasalamento escolhido e a inseminação artificial. Conjuntamente podem ser usados rufiões ou fêmeas androgenizadas, para saber com maior precisão quais animais apresentaram sinais de cio, evitando o desgaste do reprodutor. Os animais usados para detectar as fêmeas em cio devem usar um buçal marcador ou outra marcação de tinta na região esternal, gerando uma marcação na região da garupa das fêmeas montadas, o que facilitará a visualização dos animais que devem ser colocados com o reprodutor ou inseminadas. Além de identificar as fêmeas no cio, o buçal marcador auxilia na identificação de possíveis fêmeas descarte na propriedade. A fêmea sadia e com bom escore corporal, mas que permanece por um longo período sem ser marcada, provavelmente não apresentou cio naquele período. Outra técnica que pode ser associada é a mudança da cor da tinta do buçal a cada 15 a 20 dias. Essa mudança identificará quais fêmeas repetiram o cio, quais abortaram e quais provavelmente estão prenhes. Outro ponto que auxilia a identificação das fêmeas em estro é o conhecimento do comportamento do macho em relação às mesmas. Quan-

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5 do a ovelha está no cio o carneiro apresenta o reflexo de Flehmen, retraindo o lábio inferior, levantando o superior e cheirando o ar, possibilitando a identificação de feromônios produzidos pelas fêmeas durante o cio. Além disso, eles cheiram e lambem as regiões do úbere e vulva, emitem sons e batem e raspam os cascos no chão. O macho também pode urinar na própria cabeça, para que as fêmeas sintam o cheiro mais facilmente. Após o macho exibir esses sinais, normalmente a fêmea coloca-se em posição de cópula, já citada anteriormente, para que o macho realize a monta. As fêmeas identificadas como em estro devem ser separadas para serem fecundadas conforme o sistema de acasalamento adotado na propriedade (inseminação artificial, monta controlada ou monta natural). A detecção de cio é uma atividade de expressiva importância em animais de produção. Ela auxilia na melhora de índices reprodutivos como intervalo entre partos e n° de descendentes/matriz/ano. O uso dessas técnicas, associadas com um correto registro zootécnico, melhora a organização e otimiza o desempenho da propriedade, potencializando a rentabilidade e aumentando a renda do criador.

Referências bibliográficas

Disponível em: http://www.sheepembryo.com.br/files/artigos/122.pdf Acessado em: 01/06/2011. GRANADOS, L. B. C.; DIAS, A. J. B.; SALES, M. P. Aspectos gerais da reprodução de caprinos e ovinos. Campos dos Goytacazes, 1ª Ed. 2006. IWAMURA, J. Avaliação dos protocolos de sincronização de estro em ovelhas, com diferentes tempos de exposição aos prostágenos e distintas doses de eCG. Dissertação (mestrado em medicina veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu, 2008.

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Produção de caprinos de corte no semiárido: criação de mestiços Boer x SRD criados no sistema semi-intensivo

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importância econômico-social dos caprinos criados no Nordeste do Brasil reside na produção de leite e de carne para alimentação das populações de média e baixa renda, como fonte de proteína animal de baixo custo (SILVA et al., 2000). A criação de caprinos vem sendo uma das alternativas mais promissoras para a região do semiárido, por conta de sua resistência às intempéries climáticas e por sua capacidade de aproveitamento de forragens de baixa qualidade, principalmente na época de seca. Apesar da boa adaptação dos caprinos às condições climáticas do Nordeste, região detentora de mais de 90% de todo rebanho nacional, o sistema de criação extensivo associado à falta de práticas corretas de manejo, às intempéries climáticas e principalmente aos cruzamentos desordenados, contribuiu para o surgimento de um grande percentual de animais sem padrão racial definido (SRD), rústicos e pouco produtivos (MARTINS JÚNIOR et al., 2007). Os caprinos foram introduzidos no Brasil pelos colonizadores. São, portanto, as raças na sua maioria de origem de clima temperado, e ao se ajustarem às condições tropicais, principalmente ao semiárido, sofreram modificações morfofisiológicas no processo de adaptação ao longo dos anos, ganhando em resistência às condições ambientais impostas, porém com perdas em produtividade. Na tentativa de contornar esse problema várias medidas vêm sendo tomadas, destacando-se o melhoramento genético, através de programas de cruzamentos com raças exóticas especializadas na produção de carne ou leite (LÔBO et al., 2010). Dentre as raças de corte selecionadas, a Boer vem sendo criada e pesquisada no semiárido e em outras regiões do país (LÔBO et al., 2010), tendo a mesma se destacado pelo elevado grau de adaptabilidade, quando testada em situação de confinamento (SANTOS et al., 2005) ou semiconfinamento (SILVA et al., 2006), contudo em sistema extensivo de criação os trabalhos são escassos. Segundo Rocha et al. (2009) há predominância desse sistema na criação para caprinos, o que predispõe os animais a condições nutricionais e de temperatura e umidade inadequadas em determinadas épocas do ano. De um modo geral, os animais não têm condições de exteriorizar todo o seu potencial produtivo nesse sistema de criação no semiárido, principalmente as raças especializadas para alta produção (SOUZA et al., 2011). Fisiologicamente os animais reagem diferentemente a exposições frequentes à radiação solar, a mudanças drásticas de temperatura e a outros fatores ambientais, alterando o comportamento e a produtividade dos mesmos. A escolha de raças apropriadas para uma determinada região depende do conhecimento, não somente da área e do clima à que o animal será submetido, mas das características e do grau de rusticidade dos animais, para o melhor aproveitamento do seu potencial produtivo. O estudo das variáveis ambientais

Bonifácio Benicio de Souza é de Patos/PB. É professor associado - UAMV/CSTR/UFCG, Bolsista de Produtividade do CNPq.

Anderson Luiz Nascimento da Silva é de Maceió/AL e especialista em produção de caprinos de corte.

* ARTIGO EXTRAÍDO DO SITE FARMPOINT – www.farmpoint.com.br

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6 e fisiológicas tem o papel de diagnosticar a melhor raça ou grupo racial com maior adaptação ao clima da região onde vai ser criada. O conhecimento das variáveis climáticas, suas interações com os animais e as respostas comportamentais, fisiológicas e produtivas são preponderantes na adequação do sistema de produção aos objetivos da atividade. Dessa forma a interação animal-ambiente deve ser considerada, quando se busca maior eficiência na exploração pecuária (SOUZA, et al. 2008). A avaliação da tolerância e da capacidade de adaptação das diversas raças como forma de embasamento técnico para sua exploração, bem como das propostas de introdução de raças visando à obtenção de tipos ou raças com maior capacidade de produção no semiárido é imprescindível para o desenvolvimento sustentável da caprinocultura nessa região, onde a vegetação de caatinga torna-se uma das principais fontes de alimento para os animais, mesmo apresentando uma baixa capacidade de suporte (BEZERRA, et al., 2011; SILVA et al., 2010). As raças especializadas puras, na maioria das vezes, são inviáveis para determinadas regiões e sistemas de criação. Souza et al. (2011) citam que os caprinos puros das raças Boer e Savana apresentam elevado índice de tolerância ao calor, contudo necessitam de instalações adequadas que atendam às exigências térmicas, principalmente no período da tarde. A suplementação com volumoso e concentrado são indispensáveis para a obtenção de resultados satisfatórios no semiárido, principalmente na época seca do ano. A prática do armazenamento e conservação de forragens é de suma importância para aumentar a produtividade e garantir a sustentabilidade da caprinocultura no semiárido. Diante da realidade atual da caprinocultura de corte, onde o sistema de criação predominante ainda é o extensivo, no qual os animais enfrentam diretamente as adversidades do clima e a escassez de alimentos em determinado período do ano, a maior parte do rebanho é constituído de animais sem raça definida (SRD) e animais mestiços com diversos graus de sangue, principalmente, da raça Boer. O núcleo de pesquisas bioclimatológicas do semiárido (NUBS), vem desenvolvendo algumas pesquisas no sentido de avaliar os melhores grupos genéticos e as práticas de manejo que permitam explorar a caprinocultura de corte e de leite no semiárido de forma sustentável, visando o aumento da oferta de alimentos com geração de empregos e renda e melhoria da qualidade de vida da população do semiárido Dentre as pesquisas realizadas, avaliou-se a influência do ambiente sobre os parâmetros fisiológicos de caprinos F1 Boer x SRD terminados em pastagem nativa e submetidos a diferentes níveis de suplementação (SILVA, 2009). A pesquisa foi realizada na fazenda experimental NUPEARIDO (Núcleo de Pesquisa do Semiárido), pertencente ao Centro de Saúde e Tecnologia Rural (CSTR) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Campus de Patos, no período de junho a agosto de 2007. Geograficamente, o município de Patos está localizado

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na mesorregião do Sertão Paraibano, a 7º 1’ latitude Sul e 35º 1’ longitude Oeste de Greenwich com altitude de 242 m acima do nível do mar. A região caracteriza-se por apresentar um clima BSH (Köppen) classificado como quente e seco, com temperatura máxima de 32,9 °C e mínima de 20,8 °C e umidade relativa de 61% (BRASIL, 1992). Foram utilizados 24 caprinos machos inteiros F1 Boer x SRD, com idade aproximada de 120 dias, num esquema fatorial 4 X 2, quatro níveis de suplementação (0,0, 0,5, 1,0, 1,5% do peso vivo em matéria seca) e dois turnos (manhã e tarde), com seis repetições e duração de 75 dias. O sistema de criação utilizado foi o semi-intensivo, a suplementação foi formulada segundo a AFRC (1995) e ARC (1980) e composta por milho moído (53,21%), farelo de soja (3,76%), torta de algodão (13,61%), farelo de trigo (24,43%), calcário (1,5%), núcleo mineral (1,74%) e óleo de soja (1,75%), para um ganho de peso médio diário de 200 g, o arraçoamento foi realizado às 16 horas e no decorrer do dia os animais eram mantidos no pasto composto por pastagem nativa numa área de em 2,4 ha. Os animais tinham acesso livre à água no período de pastejo diurno, direto no açude da área experimental, e no período de suplementação onde os animais permaneciam num cercado com gaiolas equipadas com cocho e baldes para água para seus respectivos níveis. Os animais sem suplementação permaneciam no cercado das 16 às 7 horas, onde eram soltos no pasto, já os animais que recebiam a suplementação só eram liberados no cercado a partir das 18 horas para dormirem até as 7 horas. A vegetação da área experimental caracterizava-se pela presença de espécies lenhosas nativas, como: jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Will Poir.)), marmeleiro (Croton soderanus Muell. Arg.), catingueira (Caesalpinia bracteosa Tul.), cajarana (Spondias sp), juazeiro (Zizyphus joazeiro Mart.) e craibeira (Tabebuia caraiba Bur); e exóticas como algaroba (Prosopis juliflora (Sw)), cajueiro (Anacardium occidentale), que juntas representavam cerca de 10 a 15% de cobertura do solo.

Figura 1 - Representação da área experimental.

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7 Na composição botânica do estrato herbáceo destacam-se gramíneas como as milhãs (Brachiaria plantaginea e Panicum sp), capim buffel (Cenchrus ciliares L), capim rabo de raposa (Setaria sp) e capim panasco (Aristida setfolia H.B.K.); dicotiledôneas como a malva branca (Cassia uniflora), alfazema brava (Hyptis suaveolens Point), mata pasto (Senna obtusifolia (L.) HS irwin & Barneby) e erva de ovelha (Stylozanthes sp). Os animais tinham acesso livre às áreas de sombreamento natural, compostas pelas espécies arbóreas acima citadas, durante o período de pastejo sem nenhum tipo de restrição. As médias do índice de temperatura do globo negro e umidade na sombra e no sol (ITGUSB e ITGUSL) em função dos turnos, constam na Figura 2. Figura 3 - Médias da temperatura retal (TR), freqüência respiratória (FR), temperatura superficial (TS) e coeficiente tolerância ao calor (CTC)

Figura 2 - Médias do índice de temperatura do globo negro e umidade na sombra (ITGUSB), índice de temperatura globo negro e umidade no sol (ITGUSL)

O ITGUSB e ITGUSL apresentaram diferenças significativas (P<0,05), com médias que variaram de 75,12 a 93,10, indicando uma condição de desconforto térmico aos animais. Considerando que o valor de ITGU igual a 83 já indica uma condição de estresse para caprinos (SOUZA, 2010), apenas no ambiente de sombra pela manhã havia condição de conforto térmico. Os dados referentes à temperatura retal (TR), frequência respiratória (FR), temperatura superficial (TS) e o coeficiente de tolerância ao calor (CTC), constam na Figura 3. Os parâmetros fisiológicos (TR, FR e TS) e o coeficiente de tolerância ao calor sofreram efeito de turno (P<0,05), com médias superiores no turno da tarde para os parâmetros fisiológicos e coeficiente de adaptabilidade. Com relação à temperatura retal pode-se verificar um aumento no turno da tarde, com valor absoluto de 39,38°C, reflexo dos elevados valores das variáveis ambientais, porém a temperatura encontra-se dentro da normalidade para caprinos F1 (Boer x SRD), concordando com os valores encontrados por Darcan & Güney (2008), que trabalhando com caprinos, no leste do Mediterrâneo, região de Turkey, obtiveram valores que variaram de 38,81 a 39,88 °C nos

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turnos da manhã e tarde, respectivamente. Shinde et al. (2002), também trabalhando com caprinos em diferentes épocas encontraram valores da temperatura retal no turno da manhã 38,2°C e no turno da tarde 39,1°C. Para a frequência respiratória (FR), verificou-se um aumento significativo no turno da tarde em relação ao turno da manhã, tendo um valor absoluto de 56,85 mov/min, indicando uma situação de estresse térmico, mobilizando os mecanismos de perda de calor insensível, que consiste na utilização da evaporação da água da superfície da pele e/ou através do trato respiratório, usando o calor para mudar a entalpia da água promovendo a evaporação. Os valores corroboram com os encontrados por Santos et al. (2006) que variou de 47,36 a 56 mov/min e são inferiores aos relatados por Gomes et al. (2008), que trabalhando com caprinos Moxotó encontraram resultados superiores aos deste estudo, com valores que variaram de 52,6 mov/min no período da manhã e de 70,4 mov/min no período da tarde. Para a temperatura superficial (TS), registrou-se um aumento expressivo no turno da tarde em relação ao da manhã, variando de 29,47 a 34,30ºC. O aumento da temperatura superficial é reflexo da vasodilatação periférica aumentando o fluxo de calor para o exterior, no turno da tarde. Os valores da TS concordam com os valores encontrados por Silva (2006), que variaram de 29,50 a 33,30°C nos turnos da manhã e tarde. Porém discordam dos valores encontrados por Silva et. al (2007), que trabalhando com caprinos na região do semi-árido paraibano, citam TS variando em animais da raça Boer de 28,02 a 30,37ºC, nos turnos da manhã e tarde respectivamente. Com relação ao coeficiente de tolerância ao calor (CTC) verifica-se que houve efeito de turno (P<0,05) com médias superiores no período da tarde. As médias do coeficiente de adaptabilidade para caprinos indicam que os animais estão bem adaptados ao meio onde foram terminados; esses resultados corroboram com os observados por Martins Junior et. al. (2007), que registraram CTC variando de 2,49 a 3,04, para caprinos e consideram um bom grau de adaptabilidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escolha certa da raça ou grupo genético de caprinos para produção de carne associada às melhorias dos sistemas de produção no semiárido é um desafio que deve ser encarado por técnicos e criadores, na busca de aumentar a produção com lucratividade sem agredir o meio ambiente. A raça Boer, especializada para produção de carne, pode ser utilizada para cruzamento com animais sem raça definida (SRD) que apresentem características favoráveis para produção de carne, assim, aproveita-se os fatores genéticos para alta produção de carne da raça Boer e o elevado grau de adaptação dos animais SRD às condições ambientais do semiárido, de forma que com a melhoria do sistema de criação seja possível incrementar a produção de caprinos de corte. A utilização de raças especializadas para cruzamentos com animais SRD, deve ser bem orientada no sentido de preservar o patrimônio genético construído durante vários anos (raças nativas ou naturalizadas) de grande importância para o Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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