RECHEIO E COBERTURA UM

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SÃO PAULO, 01 DE JUNHO DE 2008 O JORNAL DA LAJE - Todos sob o mesmo teto

Periodicidade: mensal, quando der Fechado às 00h00 de 30 de maio de 2008


© 2008 Steven Smith. Denis Sena, cliente Chilli Beans da Bahia, vencedor da Promoção Você é Special. Todos os óculos Chilli Beans têm proteção contra raios U.V. www.chillibeans.com.br


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MARIO LADEIRA

editorial

expediente Idealizadores Homero Olivetto - homero@ouro21.com.br Sérgio Cuevas - cuevas@ouro21.com.br Mônica Figueiredo - monica.salacadula@uol.com.br Editora Salacadula / ZMA3 Rua Augusta, 2690 –Laje – 3º andar 01214-100 – São Paulo –SP Tel: (11) 3062 4223 REDAÇÃO Diretora de redação Mônica Figueiredo - monica.salacadula@uol.com.br Diretor de Arte Rodrigo Vargas - rodrigo.salacadula@uol.com.br Editora Kátia Mello - katia.salacadula@uol.com.br Colaboradores Álvaro Póvoa, Caroline Bittencourt, Felipe Gasparini, Guilherme Carvalho, Lucas Lima, Luiza Olivetto, Mario Ladeira, Piti Vieira, Rebecca Barreto, Rodrigo Pitta e Zoca Moraes. Poster: Guilherme Carvalho/Zebra Deluxe Editora Executiva Valéria Leite - valeria.salacadula@uol.com.br Coordenadora Editorial Lisa Krell Aulicino - lisa.salacadula@uol.com.br Revisor Daniel Japiassu

Bem-vindo ao Recheio e Cobertura número 1 Pra começar, vou logo dizendo que o número zero do R&C só nos deu alegria. Muito, mas muito mais do que podíamos imaginar. E olha que a gente aqui na Laje é limpinho, bonitinho, mas também exagerado, da turma do “sempre quis muito, falo de quantidade e intensidade”... Inclusive, me arrisco a dizer que, em todas as coisas que nos metemos a fazer, somos ligeiramente metidinhos a besta, não tem como negar! Não estou falando em pretensão no mau sentido, ninguém aqui é arrogante; não mesmo. Mas se é pra fazer - mesmo nesse pique muito na boa e pianinho em que estamos levando este nosso jornal - vamos fazer bacana, né? E isso quer dizer o seguinte: dando o melhor de nós. É por isso que, pra continuar, já vou logo dizendo que estamos muito mais felizes ainda com este número 1 e o principal motivo é que a turma do R&C aumentou. Para nós, isso é que é sucesso, afinal a origem deste tablóide, a razão dele existir, é a possibilidade de juntar pessoas diferentes, interessantes, inteligentes, que a gente acha um tesão, todas juntinhas num mesmo espaço. Assim que a Laje é. Assim que o R&C deve ser: pessoas e idéias diferentes, dividindo as mesmas páginas. Pra terminar, vou logo dizendo que a gente ainda quer mais, muito, muito mais. Ou seja, caro leitor: isto é só o começo!

Mônica Figueiredo

Secretária de Redação Sandra Amorim - sandra.salacadula@uol.com.br Editora Sapucaia Rua José Félix de Oliveira, 1684 Granja Viana, Cotia - SP Tel: (11) 4702-8687 Diretor Executivo Mario Aulicino mario@editorasapucaia.com.br Vice Diretor Executivo: César Munhollo cesarmunhollo@editorasapucaia.com.br Comercial / Publicidade Sérgio Moreira publicidade@editorasapucaia.com.br Departamento Financeiro Cristiane Siqueira financeiro@editorasapucaia.com.br Bureau de Imagens Ricardo Kayserlich Lacerda ricardo@editorasapucaia.com.br Impressão Prol Editora Gráfica Periodicidade Mensal Tiragem 5000 exemplares


Jogo dos Sete Erros

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A LAJE É NOSSA!

Pra quem não conhece a Laje, um desafio: encontrar sete erros entre a foto de cima, que reproduz a Laje exatamente como ela é, e a foto de baixo, que traz distorções quase imperceptíveis da nossa segunda casa. Pra quem conhece... Tá fácil demais, tá não? PANORÂMICA MARIO LADEIRA

Da esquerda pra direita: escritório do Mercado Mundo Mix e redação da revista Simples, Gruda em Mim que o Boi Não te Lambe, Ricardo Rojas, escada, elevador, redação do Recheio e Cobertura, Salacadula, cozinha e Atelier5inco

www.naje.com.br Para ver a resposta* desse jogo e falar com a gente, acesse nosso site:

Para anunciar ligue 011 4702 8687/8989 ou mande e-mail para sergio@editorasapucaia.com.br *Para quem é preguiçoso e não conseguiu terminar sozinho: 1. O vaso de flores no chão, em frente ao Ateliê 5inco 2. As capas da R&C em cima da mesa são diferentes 3. Falta um spot de luz no teto 4. Falta o extintor na parede da cozinha 5. O Che do outdoor laranja, no andar de baixo, foi trocado pelo Waligora 6. O cano vermelho ficou roxo 7. O Seu Raimundo não está na foto


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festa de lançamento

FAMÍLIA R&C Claro que a Recheio e Cobertura nasceu com festa. Lajeanos e convidados toparam fazer parte da capa do jornal, alguns outros toparam comprar e vender ouro na Galeria. Confira quem esteve aqui para "batizar" a publicação FOTOS MÁRIO LADEIRA

Bruno Scalzo. da Ouro 21

Sérgio Cuevas, da Laje, e Bel, da Zowie

Rodrigo Grecco, da Gruda em Mim

Seu Josias dos Santor, porteiro noturno da Laje

Olívia Byington

Seu Noel, o faz-tudo da Laje

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BEBA COM MODERAÇÃO.

Mario Aulicino, diretor executivo da Sapucaia

Homero Olivetto

Mônica Figueiredo

W/Brasil

Luiza Olivetto e Diego Badaró

Homero Olivetto e sua mulher, Kiki Lavigne

Sr. Carelli e Sr. Maurice Plas

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arte na laje

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arte na laje

EFEITO GRAFITE Onesto estréia a parede-quadro da Laje FOTOS RODRIGO VARGAS

Desde o dia 10/04, a Laje ficou mais poderosa. É que, agora, nós temos uma parede-galeria entre a Zebra Deluxe e a redação da Simples. Para a estréia, nossa poderosa parede ganhou um grafite de Alex Hornest, que vai ficar entre nós por um mês e meio. Funciona assim: toda exposição que rolar na Rojo Artspace (que fica na livraria Pop, r. Virgilio de Carvalho Pinto, 297, Pinheiros, tel.: 11 3487-1677) vai ganhar um “braço” aqui na Laje, uma espécie de extensão do trabalho exposto. Nosso artista début, mais conhecido como Onesto, é pintor, escultor e videomaker. O grafite, para ele, é mais diversão do que trabalho. “O grafite sempre foi meu hobby, só que hoje ele me proporciona viagens, exposições, me permite participar de eventos nacionais e internacionais e conhecer pessoas”, diz Onesto. Atualmente, o artista está preparando uma nova exposição individual no Museu do Trabalho, em Poá (entra em cartaz em julho), preparando um curta-metragem de animação e seu primeiro documentário, enquanto as prensas tratam de colocar em um livro seus grafites selecionados (que chega às livrarias em junho pela editora Zupi). “Também estou fazendo contatos para expor na Europa até o final do ano”, antecipa. A próxima artista a enfeitar a parede é a pintora Luciana Araújo, que está em cartaz na Rojo Artspace com a mostra “Besta Fera”. Enquanto isso, a nossa Laje ficou mais linda e poderosa com seu trabalho.


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musa

MISTURA FINA

A “Carmenmania” reverbera até os dias de hoje POR KÁTIA MELLO FOTO CAROLINE BITTENCOURT

Ela foi a mais brasileira das portuguesas que desembarcaram no Brasil. A Pequena Notável mais notada de toda a América, Carmen Miranda (1909-1955), impressionou a todos com seu 1,54m de altura. Primeiro, pela indefectível voz; depois, pelo rebolado e os trajes característicos. Ícone da música popular brasileira no mundo, Carmen é, até hoje, imbatível. Carmen foi a nossa Coco Chanel, Carmen foi a nossa Marilyn Monroe, Carmen foi a nossa Greta Garbo, Carmen foi a estrela mais completa e brilhante da cultura brasileira. Ela era plumas, paetês, brilhos, flores, frutas, pêlos, pérolas, brincos e colares enormes. Seus vestidos e conjuntos tinham as cores mais vivas em misturas de tecidos extravagantes e complicados, como o tule, o veludo molhado, o cetim brilhante, a renda e os panos com aplique de miçangas e canutilhos. Suas estampas eram geométricas, listradas, quadriculadas, florais, modernas. Na cabeça, fruteiras a arranjos de flores. E Carmen nunca estava brega. Porque ela era a personificação do Carnaval e de todo o tropicalismo vigente neste País tão grande. A barriga – enxuta –, sempre de fora. Os quadris – largos – funcionavam como uma locomotiva desgovernada. Ela conquistava com as mãos antes mesmo que se reparasse em seu balanço e balançava os dedos como lindas borboletas sedutoras; ela conquistava com os olhos azuis e grandes que dançavam mais do que o próprio corpo, adornados por sobrancelhas altas e curvas, antes que os olhares desviassem para seu franco sorriso escancarado e gratuito. A voz era uma mistura do sotaque carioca da Lapa de Ary Barroso e Braguinha com a doçura de cordas vocais femininas e uma gotinha de melodia portuguesa. Ela conquistou um país que não falava sua língua, protagonizando manchetes como “Conhece 20 palavras em inglês e conquistou a Broadway”, numa época em que a própria Broadway estava em franca decadência e foi salva pela Pequena Notável. Não havia mulheres bonitas perto de Carmen, pois, onde ela estava, conseguia traduzir, pelo seu rosto e corpo, a expressão máxima de beleza à época (e, quem sabe, até hoje não se fabriquem mulheres tão bonitas quanto Carmen). Mas Carmen não era só beleza e talento. Muito à frente de seu tempo, era independente, bem-resolvida, namoradeira, rica, dona de si e de suas escolhas muito antes de inventarem o feminismo. Casou-se tarde, aos 38 anos (as moçoilas da época costumavam juntar as escovas de dente aos 15!), e, ainda assim, escolheu o par errado. Movida a estimulantes para cantar e calmantes para dormir, seu coração sucumbiu à dependência química em uma madrugada de agosto de 1955. É, nem uma das mais poderosas mulheres do século 20 foi de ferro. Na foto, a transformista Alexia Twister encarna a cantora. “Quem sugeriu que eu fizesse a Carmen foi o Victor, dono da Blue Space [boate na qual Alexia se apresenta]. Ele disse que eu era pequenininha e que ficaria ótima. Só me visto em ocasiões especiais ou quando os fãs de Carmen me pedem para fazer o show”, conta Alexia. Para contratá-la, ligue (11) 9487-3988.

BIBLIOGRAFIA SELECIONADA CARMEN MIRANDA, A PEQUENA NOTÁVEL Martha Gil Montero, Editora Record CARMEN Ruy Castro, Companhia das Letras CARMEN MIRANDA Cássio Emmanuel Barsante, Elfos Editora

PLAYLIST • O SAMBA E O TANGO • UVA DE CAMINHÃO • FON-FON • FALA, MEU PANDEIRO • BALANCÊ • CAMISA LISTADA • COMO “VAIS” VOCÊ

• NA BAIXA DO SAPATEIRO • DISSERAM QUE EU VOLTEI AMERICANIZADA • QUEM É? • O QUE É QUE A BAIANA TEM? • VOLTEI PRO MORRO • GENTE BAMBA


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atraídos

, o ano em que choramos gás lacrimogêneo

sim

INTERNET POR RODRIGO GRECCO, planejamento, e JUNIOR MORETTI, designer da Gruda em Mim

1. NETVIBES.COM O Netvibes é um agregador de conteúdo. Nele você pode inserir, através de módulos, conteúdos diferentes e separar por assuntos de interesse. Pode agregar conta de email, notícias de esporte, player de música, mensagem instantânea, entre outros trecos úteis em uma mesma página. Além disso, ao montar suas “abas” de interesse, você pode também compartilhar páginas com outras pessoas. Vale a dica!

POR ZOCA MORAES* Capítulo 2 A despeito dessa vocação catequizadora, nunca se furtou a repreender com dureza seus pupilos quando estes não completavam satisfatoriamente um raciocínio. Num desses episódios, Wulf julgou que a conclusão de um exercício que Tadeu fizera sobre o imperialismo era bobinha. Ainda não inteiramente persuadido sobre ser comunista, de uma coisa, pelo menos, ele estava convencido: se para não parecer bobinho era preciso ser comunista, então ele seria comunista. No ano em que o governo militar ainda caçava o PC do B, seguindo a trilha iniciada no Araguaia, após as aulas, Wulf encantava Tadeu e Roberto com dissertações sobre o papel contra-revolucionário do stalinismo, a inevitável dissolução da Iugoslávia depois da morte do presidente Josip Broz e a frente-única anti-imperialista. Numa dessas exposições, precisamente aquela que discorria sobre a frente-única, Fernando, o desmunhecado colega de classe de Tadeu, manifestou um inesperado interesse pelo assunto e ali permaneceu, até perceber que Wulf não fazia uma conferência animada sobre corte e costura. Roberto preenchia os requisitos exigidos de um candidato a discípulo da 4ª Internacional, a organização fundada por Trotsky em 1938, que reunia toda oposição de esquerda dentro dos partidos comunistas que se stalinizavam. Era ateu, antiburguês, anti-clerical e nutria um desprezo militante pela assim nomeada oposição legal: Ulisses Guimarães, Marcos Freire, Franco Montoro, incluindo a ala autêntica do MDB. Talvez por ter sido criado na praia, quem sabe por haver sido surfista, Tadeu alimentava uma crença secreta de que os problemas da humanidade podiam ser resolvidos através de um gigantesco luau. Roberto e Tadeu foram apresentados por Wulf a Moita que, por sua vez, os apresentou a Serguei, Tata, Formigão, Tito e Ciccia, que formavam a molécula da Liberdade e Luta no movimento secundarista. Excluindo-se Wulf, não passou despercebido a Roberto e a Tadeu que todos os personagens apresentados só podiam ser identificados por algo pouco mais que um apelido. Ou melhor, por um nome de guerra – norma de segurança indispensável em organizações ilegais. Depois da recepção, portanto, a primeira medida tomada foi recomendar aos dois novos insurretos que criassem suas próprias alcunhas. Sem pestanejar, Roberto disse que gostaria de ser chamado de Marinus. Uma homenagem póstuma ao agitador holandês Marinus Van der Lubbe, suspeito de ter ateado fogo no Parlamento Alemão e decapitado pelos nazistas, em 1934. Contudo,

como Formigão pilheriou que aquele tributo ao desmiolado incendiário poderia ser confundido com uma esquisita honraria a Marino Boy, Moita, prontamente, interveio sugerindo que Roberto refletisse um pouco mais. Roberto, contudo, resistia: Marino Boy? Não lembro. Quem é esse sujeito? Aquele desenho japonês do menino que mastiga um chiclé que dá poderes pra respirar debaixo d’água. Lembrou? Recorda, Formigão. Ahh... um que tinha uma sereia e um golfinho? Roberto parece rememorar o seriado. É, esse mesmo! Sorrindo, Formigão comemora a lembrança de Roberto. Duvido que alguém vá associar um nome ao outro, mas tudo bem. Posso pensar em outro. Roberto não estava disposto a polemizar por causa de um título que seria conhecido apenas por uns poucos. Como ruas, praças e avenidas, havia centenas de revolucionários anônimos que mereciam ser homenageados. Só a Revolução de Outubro forneceria um sem-número de bons candidatos. Mas se, por acaso, Roberto preferisse respeitar a memória dos caídos durante a insurreição que, em 1919, estabeleceu um governo soviético na Hungria, poderia optar por chamar-se Bela, numa deferência à Bela Kun, dirigente desse efêmero governo. No entanto, sempre haveria um espírito de porco que diria que Bela Kun lembra Bela Lugosi. A revolução chinesa de 1925 ninguém ousaria tomá-la a sério, já que Roberto não gostaria de ter seu codinome na tendência associado ao rolinho primavera. A guerra civil espanhola, embora rica em personagens potencialmente homenageáveis, era demasiadamente óbvia para ser levada em consideração. Provavelmente, deveria haver milhares de Andrés e Juans nos quadros das agrupações socialistas. Restava a revolução cubana que, apesar de fazer parte do repertório de realizações dos empreendedores stalinistas, era, indiscutivelmente, uma revolução. A burguesia nativa e o imperialismo foram expropriados. Sem constrangimentos, então, Roberto sugeriu: Que tal Ernesto? Que tal apenas Alemão? Resmungou Serguei. Nada mais justo, pois Roberto era loiro e muito alvo. Alemão?!! Mas não é um pouco lúmpem demais? Roberto hesitava. Lúmpem? Claro que não! Moita apela ao bom senso de Roberto. Pense em Alemão como uma reverência a Torgler*, Thaelmann*, Breitner. Moita não tinha pressa em convencer Roberto. Breitner? Aquele que jogou pela Alemanha na

Copa de 74? Tito inquire Moita, com um certo espanto. Lateral esquerdo, esse mesmo! Responde Moita, sacando um Continental torto de um maço mais torto ainda. Mas o que é que esse Breitner tem a ver com isso? Tito fazia um esforço para compreender onde Moita pretendia chegar. O bigode dele. Me lembra aqueles caras do Baader-Meinhoff*. Alguém tem fogo aí? Moita aponta a mão, de onde pende um cigarro, para todas as direções, mendigando um isqueiro. Ah! Pelo amor de Deus, Moisés, como é que você pode comparar esse cara com os mártires do Partido Comunista Alemão?! Tito manifestava toda a sua contrariedade com a indignação de quem defende a revolução cubana dos insultos de um exilado anti-castrista em Miami. Meu caro, se você não consegue perceber que o bom-humor e a ironia são incrivelmente revolucionários, sugiro que procure a célula mais próxima do MR8. Ah, e, por gentileza, tente não pronunciar mais aquele nome, por favor. Com essa recomendação, Moita interrompe Tito. Que nome? Pergunta Tito. Um que você usou no início da frase sobre os mártires do Partido Comunista Alemão. Esclarece Moita, demonstrando aparente serenidade. Deus? É esse o nome? Tito procurava decifrar as apreensões de Moita. Não! Não! Aquele outro. Murmura Moita, tentando evitar chamar a atenção, como se não quisesse dividir o assunto com mais ninguém. Outro, qual? Moisés?!? Tito procura adivinhar. Esse!! Esse mesmo! A última palavra dessa frase infeliz! Como aquela precária calmaria ameaçava evoluir para um ciclone sub-tropical, Moita sufoca a explosão, cerrando os dentes, impedindo que o urro escape. Distraidamente, Tito revelara ao mundo o nome com que Moita fôra registrado quando nasceu. O que arranhava um dos alicerces das normas de segurança interna da tendência. Ao perceber a gafe, Tito se retrata: Tudo bem. Já entendi. *Zoca Moraes é redator publicitário, já morou no Peru e é um dos sócios da Zebra Deluxe. O capítulo três – que fecha a saga de 1977 – sai na próxima edição.

2. BLOGDOJUCA.BLOG.UOL.COM.BR Blog do jornalista esportivo Juca Kfouri na Folha de São Paulo. Escreve para UOL sobre futebol e, freqüentemente, sobre outros esportes. Muito bom!

3. RADARCULTURA.COM.BR Iniciativa da Fundação Padre Anchieta. Integra, sob um mesmo conceito de jornalismo colaborativo, a Rádio Cultura AM, o Jornal da TV Cultura e o site Radar Cultura. A principal característica do site é que ele é moderado socialmente. O conteúdo publicado ganha destaque a partir do voto dos usuários.

4. ESTANTEVIRTUAL.COM.BR Maior rede online de sebos do Brasil. Tem mais de 2 milhões de livros e mais de 600 sebos cadastrados. Fácil, funcional e o melhor: tem preço de sebo.

5. HYPEM.COM Neste site você pode descobrir e escutar, em streaming, novas bandas e músicas recomendadas por blogueiros.


comida

astrologia

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A ÚLTIMA COXA-CREME DA AUGUSTA.

E A MELHOR, DESDE SEMPRE!

RODRIGO VARGAS

A Rotisserie Bologna fica na Rua Augusta, ainda bem. E é lá, só lá, que você pode comer salgadinhos deslumbrantes com receitas antigas guardadas a sete chaves POR KÁTIA MELLO

Coxinha pra você é massa e frango desfiado, certo? Desse tipo, a rua Augusta tem milhares. Agora, coxa-creme (R$ 5), a coxinha original, mais primitiva e infinitamente mais saborosa, só tem uma: a da Rotisserie Bologna, na esquina com a Marquês de Paranaguá. A coxa de frango pequena e gordinha ganha uma generosa camada de massa feita basicamente de farinha de trigo, creme de leite, caldo de galinha e temperos; depois, é empanada e frita. Dessas, saem 150 por dia. Nos finais de semana, umas 300 pessoas vão atrás da iguaria. A receita é segredo de família e há mais de 60 anos vem ganhando os corações de quem a experimenta. O fato de ela vir sem pele divide opiniões: afinal, pele de frango cria amores e ódios assim como Fanta Uva ou Dry Martini. Além da coxinha, a casa oferece um famoso camarão-rosa empanado (R$ 9,50), que costuma ser saboreado por pessoas de paladar apurado, como o senhor Fabrizio Fasano, chefão da famosa rede de restaurantes e hotéis, além de conquistar páginas e páginas em guias de comida e revistas especializadas. E, se a grana estiver curta, corra para os macios croquetes da casa, nas versões palmito, camarão e carne (R$ 2,30).

nosso lugar no mundo

A visão da Laje pelo Google Earth

TOURO, A FORÇA REPRESADA E

A CONQUISTA DE NOSSOS VALORES

POR LUIZA OLIVETTO ILUSTRAÇÃO FELIPE GASPARINI Depois do primeiro mês do ano astrológico – o mês ariano –, começo de tudo, como um fogo que se acende para iniciar a feitura dos alimentos e as misturas que nos caracterizam, a nós, seres humanos, vem agora o período de colocar os ingredientes no caldeirão. Touro, o signo que ocupa a casa II, tem Vênus, a deusa do amor, como senhora dona desse tacho fundo onde os ingredientes são escolhidos por nós, nossos pais e nossas circunstâncias. O fogo que transforma essa mistura é o que temos no momento em que nascemos. A característica ariana vem da primeira casa da roda zodiacal: o nosso ascendente. Daí, nessa segunda casa, a moradia de Touro, cá estamos, a temperar os alimentos que definirão nossos valores quando o círculo de 360 graus se fechar. E porque a casa II tem as cores, o cheiro e as características do signo de Touro (e para que a gente entenda o que significa isso), vou contar a estória de Minotauro, o ser de cabeça de touro e corpo humano. Era uma vez. . . Zeus, o todo poderoso do Olimpo – morada dos Deuses –, transformou-se num Touro e conquistou Europa, mãe de Minos, rei de Colquida. Minos, por sua vez, prometeu a Poseidon, Deus dos Mares, que, em troca de sua proteção, daria o seu melhor touro a esse Deus poderoso. Minos não cumpriu com sua palavra. E Poseidon o castigou. Mandou um touro ao encontro de Pasífae, mulher do rei Minos. Ela se apaixonou e teve um filho com esse touro: o Minotauro, cabeça de touro e corpo humano. Com vergonha do que gerou, Pasífae pediu a Dedalus, arquiteto da corte, que construísse algo onde ela pudesse deixar seu filho/monstro. Dedalus desenvolveu o Labirinto. Uma construção engenhosa, cujo princípio era dificultar as saídas e entradas desde o centro até as extremidades. Minotauro foi colocado ali e, a cada nove anos, ele exigiu se alimentar de carne humana, para conter sua ira e energia descomunais. Essa história termina quando outro arquiteto, Teseu,

ajuda Ariadne, uma jovem princesa, futura vítima de Minotauro. Juntos, atingem o centro do labirinto guiados por um fio condutor, que garante a eles a possibilidade da volta. Destrinchando esse mito, do mesmo jeito que se analisa um sonho, a gente tem a dimensão do signo de Touro: a força contida e aprisionada, tanto por uma cabeça de animal, quanto por uma engenhosa estrutura imobilizadora e pelo desejo de Pasífae. Força que encontra saída por conta de um bom plano arquitetado: o fio condutor. Isso remete à idéia freudiana de libido: uma energia pura, intensa, contida no centro do ser e responsável por toda e qualquer ação e vontade. Por isso mesmo, o castigo está em se ter cabeça de animal e corpo humano. O signo de Touro nos ensina a transformar nossa energia básica em instrumentos divinos: os nossos valores morais e conseqüente código de ética. Como resolver esse conflito? Através de um fio condutor. O fio da arquitetura racional, que nos dá as armas e nos diferencia como espécie. E é isso o que somos: animais racionais. Na melhor das hipóteses, uns minotauros ao contrário: a cabeça, esta é melhor que seja humana; o corpo, que tenha a força de um animal. Ou que seja Touro-morada de Vênus, exaltação da Lua, exílio de Marte e Plutão, materialização das forças criadoras – de Jorge Luis Borges, que ilustra assim: “Nunca haverá uma porta. Estás lá dentro E a fortaleza abarca o Universo e não possui anverso nem reverso nem externo muro nem secreto centro Não esperes o rigor do teu caminho que obstinado se bifurca noutro e obstinado se bifurca noutro, tenha fim. É de ferro o teu destino como o juiz. Não esperes a investida do Touro que é um homem, cuja estranha forma plural dá horror a maranha de interminável pedra entretecida. Não existe evasão. Nada te espera. Nem no negro crepúsculo, a fera."


SOBE?

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moda

Kim: tênis Nike, calça brechó, t-shirt Famous, moleton e jaqueta (acervo pessoal)

Carol: vestido sem marca que ganhou de aniversário, meiacalça Lupo, sapato Corello

A moda, como todos sabem, é uma ciência instável e inexata. As tendências vão e voltam, se misturam, se repelem, sobem e descem. Acima de tudo, a moda está viva e seus movimentos são ditados muito mais pelas ruas do que pelas passarelas. Por isso, este mês, flagramos o que cobre os corpos dos transeuntes da Ouro Fino em uma quartafeira chuvosa, típica de São Paulo. PRODUÇÃO ANAÍ MONTANHA FOTOS MARIO LADEIRA

Beto: tênis Adidas, calça Calvin Klein, camiseta preta Hering, camiseta branca Nike, paletó TNG

Rafael: tênis Nike, calça Colcci, t-shirt Triton, casaco TNG, óculos de festa de formatura

Iza: calça Santa Clara, vestido de brechó, sandália Antes de Paris, brinco Accessorize

Carla: bota verde (Hong Kong, comprada em viagem), calça Balls Place, bata Armazém Brasil

Patrícia: Botas C&A, Calça Zara, Regata Zara, Paletó C&A, Bolsa C&A


entrevista

O jornalista Thomaz Souto Correa, que editou a revista Ruaugusta na dĂŠcada de 50

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entrevista

THOMAZ SOUTO CORREA

A PRIMEIRA REVISTA Thomaz Souto Correa sabe tudo de revista. Ponto. Essa afirmação é assim mesmo, absoluta. Thomaz é o cara da Editora Abril. O nome do cargo, aquele que aparece lá em cima nos créditos das revistas, é “vice-presidente do conselho editorial”. Além de ser o responsável pela criação de muitos daqueles títulos da editora e zelar firmemente pelo padrão de qualidade que a Abril impôs ao mercado, Thomaz é, antes de tudo, um apaixonado por revista. E essa paixão contamina. Foi com enorme prazer e honra que o recebemos na Laje, numa tarde calorenta de abril. Ele veio até aqui, sentou, conversou, ensinou, perguntou, olhou tudo, na maior boa do planeta. TSC é muito bom de conversa, tão bom quanto inventor de revista. E curioso, claro, como todo bom jornalista. Seu faro treinado não deixa escapar nada do que rola à sua volta. Com uma lenda viva dessas, motivo para uma entrevista é o que não falta. Mas quando descobrimos que, aos 18 anos de idade, ele trabalhava numa revista que só tratava da Rua Augusta, a gente pirou. Ou seja, TSC é um verdadeiro lajeano, mesmo antes de a gente saber o que seria a Laje! Afinal, ser um amante da Rua Augusta é coisa séria aqui pra nós. O papo engrenou tão animado que o começo da fita embolou legal, a gente não entendeu nada, ou seja, rolou uma conversa totalmente incompreensível até 3:20 minutos de gravação. Mas aí, depois... POR MÔNICA FIGUEIREDO FOTOS LUCAS LIMA

Mônica: Antigamente as pessoas eram tão bem vestidas, não? Thomaz: É, estamos falando de mais de 40 anos atrás. Acho que homem não usava mais chapéu... Mônica: Quando o centro de São Paulo é que fervia. Thomaz: Tudo ficava na cidade, os restaurantes mais tradicionais. Não havia Terraço Itália. Monica: Já tinha o Fasano? Thomaz: Tinha o Fasano, que ficava mais embaixo, na Barão de Itapetininga. E a rua Augusta começou a chamar a atenção pros, digamos assim, jovens mais descolados. Eu te diria que o centro da cidade era dos senhores e das senhoras, e a Augusta era dos jovens. Mônica: Onde você se incluía. Thomaz: Onde eu me incluía. Mônica: Você já tinha feito revista ou essa foi a primeira? Thomaz: Eu tinha 18 anos, portanto estava trabalhando em O Estado de S. Paulo... Agora, quem

Thomaz: Imagina a loucura daquele tempo! No fundo, o que essas revistas tinham de mais importante editorialmente eram as debutantes. Debutantes, as meninas novinhas, as festinhas, isso era o núcleo grosso, é o que eu chamo de “a mulher nua da Playboy”. As pessoas compravam essas revistas para se ver. É aquela história: “Façam jornal, tem muita gente que aparece, e quem aparece vai comprar”. Era assim. Mônica: Era o pré-“Caras”? Thomaz: Mais ou menos. Eu estava lendo ontem... Eu vinha aqui dar esta entrevista e tentei procurar na Internet alguma coisa sobre o Ruaugusta e achei Rua Augusta Chic, o que já está errado. E tinha uma entrevista com o Juca Chaves, dizendo que ela era da “Rua Augusta Chic” e que, junto com ele, trabalhava um tal de Ricardo Amaral. Mas, na verdade, o Ricardo Amaral era da nossa revista. Então, já virou história. Eu precisava ver a revista, mas nem eu tenho uma cópia.

fez a primeira revista da rua Augusta foi o A.J.F. de Lemos Britto. Chamava-se Augusta Chic, e, aí, um outro cidadão decidiu que uma revista só era pouco. A Rua Augusta tinha dez lugares, então, uma revista só cobrindo dez lugares, imagina que absurdo! (risos) Foi aí que se lançou a segunda revista, chamada Ruaugusta.

Mônica: A revista surgiu como? Você chamou o Ricardo, o Ricardo chamou você? Thomaz: Foi o seguinte: o dono dessa revista, Itércio Franco de Almeida, tinha um irmão chamado Guilherme de Almeida, que a gente dizia que era poeta e as pessoas acreditavam. Ele chegou e falou: "Quer fazer uma revista?". Num golpe de coragem, ele fez. Nós colaborávamos. Eu ajudava a fechar, o Ricardo tinha uma coluna. E essa revista falava dos lugares da Augusta.

Mônica: O povo já gostava de uma concorrência! É síndrome de Fla x Flu!

Mônica: Diz a lenda que é nessa revista que aparece, pela primeira vez, a expressão “Jo-

vem Guarda”. Confere? Thomaz: Acho que não. Pelo que sei, a Jovem Guarda foi batizada pelo Carlito Maia, era uma frase do Lênin. Mônica: Mas a lenda diz que foi você! Thomaz: Atribuem-me tanta coisa... Eu não lembro. Mas lembro que montaram uma empresa de roupa tirada da Jovem Guarda chamada Calhambeque. Era uma marca. E a gente ia na TV Record, que era na rua da Consolação, pra ver a Jovem Guarda. Mônica: Voltando pra Rua Augusta... Thomaz: Tinha o Cine Paulistano, que era um cinema de cadeiras de pau. Depois reformaram, colocaram cadeiras brancas e pretas, estofadas. Do lado do Cine teve o primeiro hot dog com batatas fritas de SP. Era muito bom! Do outro lado da rua tinha uma boate, depois do Santa Luzia, mas não lembro o nome. Tinha um bochicho por ali, mas não tinha o Frevinho ainda, ele ficava do outro lado da Paulista. Mônica: O Frevinho começou do lado de lá, é? Não me lembrava disso, não... Thomaz: Subindo a Rua Augusta, tinha o estúdio do Otto. Ele foi pra Nova York e trouxe uma receita que ficaria muito conhecida em São Paulo: o milk-shake. Subindo mais tinha o Yara, que era uma casa de chá. Mônica: Todo mundo falava bem de lá, era o lugar que as menininhas chiques da rua freqüentavam, não é isso? Você ia lá dar uns beijinhos nas moças? Thomaz: Não, no Yara tinha tia, avós... A gente

subia mais e batia na “Hi-Fi”, uma loja de discos vanguardésima, cujo dono era inteiramente louco, o Hélcio Serrano. Ele fazia um jornal que era uma graça e fazia promoções na frente da loja. Ele era muito engraçado. A gente comprava os discos lá. Aí, você subia numa escadinha e dava no ateliê do Wesley Duke Lee. Ele morava lá, e o atelier também era lá. O Olivier Perrois, que depois se tornou um fotógrafo de publicidade incrível, também morava lá. Do outro lado da rua tinha a Rastro, do Aparício, que era a loja chique da cidade. Todo mundo passava pela Rastro. Um pouquinho mais abaixo tinha o ateliê do Petit, uma casinha amarela. Mônica: Conta um pouco mais da revista. Thomaz: O Ricardo fazia uma coluna sobre debutantes e eu fazia uma coluna de gente, celebridades... Mônica: Mas tinha uma redação? Thomaz: As duas eram, profissionalmente, muito primitivas. Imagina o Brasil daquela época... Mas era engraçado porque essa rua, deste tamanhinho, já tinha duas revistas! Mônica: Isso é pré-revista Claudia, pré-várias revistas, certo? Thomaz: É, isso é por volta de 57, é pré-Claudia. Você dá uma “googlada” para saber direito. Se não me engano, a Augusta Chic era de 1955, e a Ruaugusta, de 57 – ou as duas são de 57... Mônica: Gente, são 50 anos! Precisamos encontrar essas revistas! Se você, caro leitor, souber onde podemos encontrar um exemplar, por favor, nos diga, dê-nos a pista, empreste pra gente, pra gente mostrar aqui! Ai, ai... Mas, voltando ao nosso passeio pela Rua Augusta de então... Thomaz: Quando você atravessava a Paulista, finalmente tinha o Frevinho e uma outra lanchonete que a gente ia. No quarteirão de baixo tinha o Cine Paulista, precursor do Espaço Unibanco; do outro lado da rua tinha o Escócia, um bar que a gente ia para dar uns amassos. Mônica: Ah, era lá que rolava! Thomaz: Lá era bom. Depois, tinha outro cinema que hoje é um bingo ou coisa assim. Aí, você descia, descia, descia e tinha o colégio Des Oiseaux, onde a gente ia galinhar com as mocinhas. E acabava ali, no Des Oiseaux mesmo, cuja rua dá no Mackenzie, onde eu estudava. Eu estudava no Mackenzie e morava no Jardim Paulistano. O Mackenzie ficava no Itambé e o bonde passava na Augusta. Era longe à beça... E tinha o Bologna, essa maravilha, na esquina da Augusta com a Marquês de Paranaguá. Mas a fronteira jovem da rua morria ali. Tinha um buracão no meio da rua que foi invadido por motéis e sacanagem.


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entrevista

“Sabe uma coisa que a rua Augusta tem que eu acho legal? Hemingway, pouco antes de morrer, escreveu um livro chamado Paris é uma Festa. Essa rua Augusta é a festa do Hemingway. Não é “ai, que saudade”. Saudade, nada! É a festa!”

Mônica: E aí, depois disso, a rua foi ficando decadente, até essa “volta” nos anos 90, é isso? Thomaz: É, a rua morreu inteira, até ter essa volta. Se bem que, até pouco tempo atrás, jornalistas mal-informados falavam que a rua Augusta era o “centro de luxo” de São Paulo. Não era. Nunca foi. Era jovem, descolada, isso sim. Essa história do luxo foi uma imagem formada. Mônica: Mas aqui na Lorena, Oscar Freire, nunca foi luxo? Thomaz: Que luxo? Baixo Augusta? Tem um registro importante nessa Augusta de baixo, que foi a primeira galeria de arte da rua, a galeria da Regina Augusto, chamada “Augosto Augusta”, que era demais. Além de tudo, tinha uma livraria que também era demais. Não se vêem mais livrarias daquele nível. Mas o grande acontecimento da rua foi a chegada do rock’n’roll. Bill Halley e aquelas canções, a molecada enlouqueceu... No dia seguinte da estréia do filme dele, O Estado de S. Paulo publicou: “Tumulto na porta do Cine Paulistano por causa de um aglomerado de jovens da sociedade vestindo calças de rancheiro americano”. (risos) A partir daí, o ‘blue jeans’ passou a se chamar ‘calça rancheira’. Era calça rancheira. Não sei como. A calça rancheira mais famosa era a US Top. Era tão dura que ficava de pé sozinha. (mais risos) Tinha de usar dez vezes pra ficar confortável. Mônica: Tem uma coisa curiosa, que a gente tem notado: qualquer pessoa de qualquer idade sente um lance meio nostálgico em relação à rua Augusta... Você percebe isso? Por que será? Thomaz: Sabe uma coisa que a rua Augusta tem que eu acho legal? Hemingway, pouco antes de morrer, escreveu um livro chamado Paris é uma Festa. Essa rua Augusta é a festa do Hemingway. Não é “ai, que saudade”. Saudade, nada! É a festa! Mônica: Sempre rolou aqui na rua uma energia muito boa... Thomaz: Rolava, sim, uma energia positiva muito gostosa, criativa. Naquela época, eu freqüentava a rua Augusta direto, ia ao cinema, comia cachorro-quente... Quando fiz 18 anos, bebia no Escócia, ia no Yara, ia muito no Wesley, quase morei lá. Era uma casa grande, ele morava num quarto, o Olivier no outro, mas acabei sendo convidado a morar noutro lugar.

Mônica: Não tem uma história que vocês colocaram na porta uma placa escrito “Viver bem é a melhor vingança”? Thomaz: Ah, isso é o título de um livro de um casal americano... O Wesley gostou tanto que mandou fundir essa frase numa placa de bronze e me deu uma igual. Depois de muito tempo, quando fizemos a revista Gula, estávamos procurando um slogan para a revista e eu sugeri: “Que tal ‘viver bem é a melhor vingança’?" Aí, o Cláudio Schleder disse: “E que tal ‘comer bem é a melhor vingança’?” Ficou melhor ainda! (risos) Anaí: Meu pai me contou uma história que, num Natal, colocaram carpete na Augusta, e eu achava que tinham colocado carpete na calçada, sei lá, e já era louco. Mas depois descobri que era na rua mesmo, no asfalto! Thomaz: Pra você ver que não era pouca loucura! (risos) Não era pouca besteira. Mônica: É, se é pra fazer, faz direito! Loucura pouca é bobagem (risos). E tinha a onda do sábado na rua Augusta, né, Thomaz? Todo sábado, de manhã, as pessoas ficavam passeando... Thomaz: Sim, tinha! Tinha footing. Sabe como é? Nas cidades do interior sempre tem praça. Os rapazes ficavam sentados, e as moças ficavam dando voltas, girando na calçada. Aí, eles trocavam olhares. Em algumas cidades, havia alto-falantes pelos quais as moças mandavam recados, e a paquera ia acontecendo. O footing na Augusta era de carro! As pessoas se paqueravam de carro, os que subiam contra os que desciam. Você simplesmente não passava na Augusta. E nem adiantava buzinar, ficava tudo parado. O carro ficava parado o tempo que durasse a paquera. Então, se entrava na Augusta, no footing de sábado à noite, já sabia: era porque queria paquerar, não tinha opção nem saída. Você podia demorar quatro horas para andar um quarteirão.

Mônica: TSC, você é nostálgico? Tomaz: Eu, não. Acho que não. Mônica: Você vem na Augusta hoje em dia, além de vir aqui dar entrevista? (risos) Ainda tem alguma coisa da sua vida que se passa aqui? Thomaz: Tem o Santa Luzia, mas que não é rua Augusta. Tem o Rodeio, que antes era uma churrascaria pequenininha... acho que foi a gente que ajudou o Roberto a crescer. Tem uma parede lá que é minha grana (risos). Enfim, não tenho nostalgia, não. Foi uma época muito gostosa. Aproveitei bastante e não tem mais. Nova York, Paris, Rio de Janeiro, é assim em todo lugar. Mudou, pronto. E assim caminha a humanidade. Mônica: O que é, hoje em dia, para você, ter uma noite gostosa aqui em São Paulo? Thomaz: De dia, eu trabalho. Mas tento usar todo o meu tempo disponível pra ler. Virei um comprador compulsivo de livros. E ando comprando mais do que lendo. Eu tenho livro no sítio, em Santana; na casa, em São Paulo; no estúdio, aqui; tenho livros na Abril; e tenho livros no Rio de Janeiro... Mônica: Quando você quer um determinado livro, você tem alguma dinâmica, um sistema, sei lá, alguma coisa no computador, por exemplo, para saber onde esse livro está? Thomaz: Não, nenhuma. O que está em São Paulo e no Rio, eu sei. Sou virginiano. Se você tirar um livro da minha estante, eu sei. Sei se alguém mexeu ou se tirou um livro dali. Mas é como com o jornalismo: se leio o primeiro parágrafo de uma manchete e não me cativa, não leio mais. Por isso é que os jornalistas têm de se empenhar no primeiro parágrafo. É logo, é de cara. Com livro, é a mesma coisa.

Mônica: Tinha conversível apinhado, milhares de motos, gente que alugava carro antigo pra fazer cena... Thomaz: Claro, porque as pessoas queriam chamar a atenção!

Mônica: Eu sei que você adora cozinhar e comer bem. Onde você vai jantar, quando quer comer fora? Thomaz: Vou a pouquíssimos restaurantes. Eu vou ao Bassi, que tem a melhor carne de São Paulo; eu vou muito à Hamburgueria Nacional, do Jun Sakamoto, que tem um bom hambúrguer. Italiano é o bom e velho Jardim di Napole, nunca provei nada igual. No Rogério [Fasano] vou de vez em quando, não dá pra ir sempre.

(Todos passam a folhear, juntos, o Livro Rua Augusta – a Calçada da Glória, de Cleber Ragazzo, que estava no colo do TSC. Ele ia virando as páginas, e todos adorando ver as fotos da rua com carpete, da Hi-Fi, do footing, dos carros típicos das décadas de 50, 60 e 70, das festas etc.)

Mônica: E a que tipo de restaurante você não vai? Thomaz: No que está escrito “comida contemporânea”. Eu não gosto. É um pratão desse tamanho e, no meio, tem uma coisinha com geleinha (risos). Existe um chef carioca que fez espuma de rabada... Eu adoro rabada, mas espuma de rabada é o *.

Reprodução da capa da revista Ruaugusta – edição extra, retirada do livro Rua Augusta – a Calçada da Glória, de Cleber Ragazzo.

Abaixo, um trecho do editorial de Thomaz Souto Correa, de agosto de 1957, reproduzido acima. “Trata-se de um tumulto quase incessante. A gente não percebe, participa e se vai deixando arrastar em direção nem sabe de quê. Marlene vem, Marlene vai. E deixa a sensação de que tudo passa, e nós não damos conta de nada. Marlene é o símbolo de algo que veio, permaneceu. Algo que veio e nunca se irá. Talvez seja uma das pontas da eternidade. O 'anjo azul' vence tudo, passa por tudo, deixa todos para trás e se coloca na sua vanguardazinha, sempre adiante, sempre nova, sempre vindo. E Billie Holiday morre. A cantora sempre grande se afogando em ilusões e entorpecentes extravasa todos os seus sentimentos com aquela voz que o fim engoliu, mas que os discos reproduzem. Como se ela ainda estivesse aqui. Talvez naquele canto vazio. Talvez naquele bar, dando vida a um 'blues'. E Sarah Vaugham chega, com toda aquela simpatia em preto. Sarah, a divina. Sarah, que deixa todos em transe, esteve em São Paulo. Cantando “jazz”, baladas, fazendo até mesmo religião. Com ou sem palavras. (...) E as aulas recomeçam, e também os namoros, as festas e tudo o mais. E a gente vive, vive e vive, e mal percebe. O tumulto continua, incansável e interminável. E a gente mal sabe por quê.”


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playlist da laje

1. YOU LOOK LIKE RAIN - Good - Morphine 2. PASTILHAS COLORIDAS - Güentando a Oia - Mundo Livre S/A 3. CITY PEOPLE - The Shine of Dried Eletric Leafs - Cibelle 4. RAP DO CALOTE - Piratão - 5º Andar 5. VOU-ME EMBORA PRA BEM LONGE - Argemiro Patrocínio - Argemiro Patrocínio 6. FORMOSA - De Baden para Vinicius - Baden Powell e Vinicius de Moraes 7. SEI LÁ MANGUEIRA - Fala Mangueira - Cartola e Velha Guarda da Mangueira 8. HAITIAN LOVE SONGS - La Maison du Mon Rêve - Cocorosie 9. BARATO TOTAL - Meu Tio Matou um Cara - Gal Costa e Nação Zumbi 10. LOVE HAUNTING - Muzykoterapia - Muzykoterpia 11. SAMBA COM MOLHO - Coleção Grandes Vozes - Miltinho 12. NAMORADINHA DE UM AMIGO MEU - Roberto Carlos - Roberto Carlos 13. POSTCARDS FROM ITALY - Gulag Orkestar - Beirut 14. BORN TO RUN - Born to Run - Bruce Springsteen 15. BACK TO BLACK - Back to Black - Amy Winehouse 16. SHIRIN - Night Falls Over Kortedala - Jens Lekman 17. SHE’S A RAINBOW - Their Satanic Majesties Request - Rolling Stones 18. COQUEIRO VERDE - Erasmo Carlos e os Tremendões - Erasmo Carlos 19. TÔ - Estudando o Samba - Tom Zé 20. BEAT IT - Thriller - Michael Jackson


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só aqui

O MUNDO EM UMA CAIXA Conheça a Endossa, primeira loja colaborativa do Brasil, que só podia mesmo estar na Rua Augusta POR KÁTIA MELLO FOTOS RODRIGO VARGAS

Os amigos Rafael Santos Pato, 25 anos, Carlos Eduardo Margarido de Sousa, 24, e Gustavo de Paula Ferriolli, 24, queriam montar um negócio, mas não sabiam ao certo o quê. A inspiração veio depois de ler “Emergência”, de Steven John-son, cujo tema são os sistemas que privilegiam estruturas auto-organizadas, como softwares e formigueiros, e descobrir uma loja em Cingapura que expõe seus produtos em caixas. Assim, conceberam a idéia da Endossa, primeira loja colaborativa do Brasil, isto é, um espaço que viabiliza as vendas de artistas e estilistas que não contam com endereços fixos para mostrar seus produtos. E, é claro, ela fica na Rua Augusta. Os sócios escolheram esse endereço pelo público que a rua agrega. “É um lugar movimentado e

eclético. Tem diversos públicos distintos que circulam por aqui. De dia é um público, à noite é outro. E porque é a Augusta”, define Carlos Eduardo. Aberta no final de fevereiro, a loja conta com uma infinidade de produtos artesanais: bonecas de biscuit e de pano, bolsas de couro e de tecido, luminárias, camisetas, bijuterias, esculturas, botons, canecas, caixas organizadoras, óculos vintage, almofadas, quadros, pantufas, lenços, cachecóis, bermudas, esculturas sacras, molduras e até doces de goma e pimentas em conserva. “Não tem nenhum filtro. A pessoa pode vender o que quiser, pelo preço que quiser. Ela monta o espaço, ilumina, enfeita, faz o que bem entender – só não pode danificar o box. E, assim, acompanha as vendas pela Internet”, diz Carlos Eduardo.

A maioria dos artistas costuma expor em espaços alternativos, como o Mercado Mundo Mix ou a feira de artesanato que todos os domingos ocupa os corredores do Shopping Center 3. A idéia da Endossa é simples e funcional: o artista aluga uma caixa e assina um contrato de 28 dias com o estabelecimento. Depois do prazo, fazem um balanço: as vendas estão compensando o valor do aluguel (os preços variam entre R$ 100 e R$ 300)? Se a resposta for sim, o expositor pode renovar o contrato. Se a resposta for não, ele ganha outra chance. Se ao final de três contratos os lucros do artista não tiverem ultrapassado as despesas, ele deve ceder o espaço para outros expositores. “O nosso objetivo é ‘terceirizar para as massas’. É o cliente que vai escolher quem fica na loja e

quem vai embora, comprando os produtos”, explica Carlos Eduardo. Os amigos fomentaram o projeto por um ano e dois meses, desenvolvendo o espaço físico do estabelecimento e o software do site, no qual os expositores podem se cadastrar e vender seus produtos pela rede. E parece que deu certo: das 151 caixas da loja, só dez não estão alugadas. “Não interferimos nos processos dos criadores. Até quem não tem box alugado na loja pode vender pelo site. Claro que quem tem uma caixa aqui conta com mais privilégios online”, conta Rafael. Para saber mais, confira o site endossa.com, com o mapa das caixas e os produtos que podem ser encontrados na loja, ou dê um pulo no número 1.360 da Rua Augusta.

Algumas das caixas da Endossa: esculturas, doces, almofadas, discos raros e até guitarras. Vale mais a pena do que anunciar no jornal

abelardo figueiredo O SHOW NÃO PODE PARAR Auto-biografia com mais de 300 fotos históricas

Vendas: Editora Sapucaia (11) 4702-8687 Editora Salacadula (11) 3062-4223, em São Paulo nas Livrarias da Vila, Cultura e Saraiva. No Rio de Janeiro, na Livraria Argumento


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atraídos

sim CINEMA POR FRANCISCA BOTELHO, Designer de jóias do Ateliê Francisca Botelho

1. FELIZES JUNTOS (Chun Gwong Cha Sit, Argentina/Hong Kong/China, 1997. Dir.: Wong Kar Wai. Com: Leslie Cheung, Tony Leung Chiu Wai e Chen Chang)

Que fique claro que eu amo tudo deste diretor e que o acompanho há anos. Mas esse eu amo especialmente. É um casal gay que sai da China e vai para a Argentina ver as cataratas e enfrentam momentos conflituosos e de muito amor. Tem cenas de tango maravilhosas. É fantástico.

2. VESTIDA PARA MATAR (Dressesd to Kill, USA, 1980. Dir.: Brian de Palma. Com: Michael Caine, Angie Dickinson, Nancy Allen, Keith Gordon e Dennis Franz)

Eu adoro Brian de Palma, e esse filme é o meu favorito, por incrível que pareça. É um suspense no qual o assassino se revela uma grande surpresa, com uma trama muito inspirada nas obras de Alfred Hitchcock.

3. O GRANDE DITADOR (The Great Dictator, USA, 1940. Dir.: Charles Chaplin. Com: Charles Chaplin, Paulette Goddard, Jackie Oakie e Reginald Gardiner)

É um dos melhores filmes da história. A primeira comédia falada de Chaplin satiriza o nazismo e o fascismo imitando seus respectivos ditadores, Adolf Hitler e Benito Mussolini.

4. CARNE TRÊMULA (Carne Trémula, França/Espanha, 1997. Dir.: Pedro Almodóvar. Com: Javier Bardem, Francesca Neri, Liberto Rabal, Ángela Molina e Penélope Cruz)

Este filme é de bem antes de o Javier Bardem fazer esse sucesso todo – e ele já era ótimo. É a história de vários destinos que se cruzam após um acidente, tudo filmado daquela maneira escrachada e característica de Almodóvar.


do que se fala na laje

festa

Uma noite no umbigo com piercing da rua mais safada de S達o Paulo POR PITI VIEIRA FOTOS LUCAS LIMA

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São 22h30 de quinta-feira. Diferentemente de pouquíssimas horas atrás, a maioria dos pedestres caminha sentido centro da cidade e não mais rumo à avenida Paulista. Os ônibus amarelos, que seguem para a Zona Oeste, circulam ativamente. Carros e motos continuam passando como sempre por ali, mas as primeiras quadras da rua Augusta, sentido Praça Roosevelt, já não são as mesmas. O entra-e-sai dos bares, as mesinhas nas calçadas, as rodas de gente de todos os tipos, conversando, formam um cenário impensável há alguns anos, quando toda a vida noturna da região vivia para e dos night clubs de prostituição, que ainda continuam ali com seus nomes piscando em néon, mas parecem até inibidos tamanha a balbúrdia que a legião de novos freqüentadores faz todas as noites no trecho que vai da rua Antonio Carlos até a rua Marquês de Paranaguá. Conhecida como "baixo Augusta", é nessa região que se encontram algumas das melhores baladas da cidade. Tem o Sarajevo, o Vegas, o Outs, o Inferno e, em breve, haverá o Studio SP, que deixa a decadente Vila Madalena para se juntar à roots da Augusta. Isso para ficar em apenas algumas – e sem ainda mencionar qualquer boteco –, porque é difícil acompanhar a quantidade de buracos em que se enfiam os seres auto-destrutivos que ali se jogam. Nesse pedaço da cidade é possível encontrar um cara que já pegou a Rê Bordosa, um chileno vendedor ambulante de caleidoscópios, um exibicionista que está sempre de pijama sem nunca repetir o modelito e sempre combinando com os óculos, muitos bebuns esfarrapados, fashionistas de primeira linha e também os produzidos em brechós, muitos gays, dezenas de machões doidos por um programinha profissional, um sujeito tocando o tema da Pantera-Corde-Rosa num sax de PVC, um beatnik que vende livros de bar em bar, uma velhinha vendedora de cigarrilhas artesanais, sem falar nas centenas de emos, hippies, punks de butique, botequeiros, meretrizes, travestis, artistas malditos e vagabundos em geral que tornam precioso esse contato com o outro, o diferente, o divergente. Por volta de 1875, a rua Augusta era apenas uma pequena trilha que ligava a estrada da Chácara do Capão, atual rua Dona Antônia de Queiroz, à estrada da Real Grandeza, hoje avenida Paulista.

do que se fala na laje

Quer dizer, o "baixo Augusta" é centenário – 133 anos depois, descendo a pavimentada e sinalizada Augusta, são encontrados tantos bares (perdão, botecos mesmo) que fica difícil saber por qual se aventurar no esquenta. Só que a bagunça começa mesmo quatro quarteirões pra baixo da Paulista, mais especificamente onde a rua Fernando de Albuquerque encontra a Augusta. O ponto em T ou uma encruzilhada de pomba-gira fêmea, segundo a umbanda (não é à toa que a coisa pega por ali), é o que mais enche antes da lei do Kassab – que obriga todos os bares a fecharem as portas à 1h30 – empurrar a galera um quarteirão além, para o umbigo da safadeza. Nesse ponto fica a pizzaria Vitrine, que se avizinha a mais dois outros bares: o famoso Ibotirama e o outro que ninguém sabe o nome. Tem gente que chama de Ibotirama 2, mas saibam que o terceiro bar do triângulo da Augusta se chama Cuca Ideal. Sabendo disso, é só esperar sua hora para sentar (tem gente que senta no chão mesmo). Em todos, o preço da cerveja não foge dos R$ 3,50. O Vitrine é o mais procurado por causa de suas pizzas, que, por sinal, são horríveis. Uma brotinho lá custa por volta de R$ 16 e dá para alimentar bem duas pessoas. Mesmo pedindo uma grande e mais algumas cervejas, em grupo, você não irá gastar muito mais do que R$ 20. Veja bem, você está alimentado e alegrinho para entrar na balada e só gastou R$ 20 até agora – perdição total, né? Isso pra quem entra na pizzaria, porque do lado de fora, bem no meio da ferveção, se encontra uma multidão de emos e from UK (dissidência mais moderna dos garotos e garotas emotivos e de franja). Cerca de 90% deles não têm 20 anos e, conseqüentemente, também não têm dinheiro. É o caso do casal de emos Bárbara Tavares e Gê Nunes, ambos de 17 anos, que batem ponto em frente ao Vitrine toda quinta, sexta e sábado. “Aqui, o que rola é garrafa de goró, que a gente faz vaquinha pra comprar e todo mundo bebe”, diz Gê. “Todo mundo chega lá pelas 22h, fica zoando e bebendo até fechar o Vitrine; depois, se joga pelos cantos, pra ficar com quem for, sempre na rua”, entrega Bárbara. O estudante de arquitetura Flavio Luiz Morsch, 23 anos, bate cartão no Ibotirama, boteco loca-

lizado na esquina da Fernando de Albuquerque com a Augusta, quase em frente ao Vitrine. Sempre lotado, se tornou um daqueles bares onde os freqüentadores conhecem os garçons, chamam o gerente pelo apelido e sempre ganham uma saideira no fim da noite. Além disso, artistas de rua circulam livremente entre as mesas, vendendo poesias, artesanato, livros encadernados manualmente etc. “É uma união de cerveja barata, cultura urbana e putaria”, diz Flavio Luiz. Para ele, o mais bacana da Augusta é justamente a diversidade que se encontra em suas calçadas. “Gosto das pessoas que caminham por aqui, de intelectuais a prostitutas, desse aspecto trash-cult”. Essa também é a qualidade que encanta Fernanda Carvalho Silva, 22, estudante de Cinema. Ela diz que gosta da rua porque vai do luxo ao lixo, com uma pequena escala no inferno. “Que fique claro que o lixo a que me refiro é figurativo: eu mesma gosto mais do lado dos inferninhos do que do lado dos Jardins”, assume. Fernanda costuma ir ao Bar do Pescador, localizado no número 946, no quarteirão entre as ruas Costa e Dona Antônia de Queiroz. O bar – que tem sinuca, jukebox e cerveja 24 horas por dia – começa a encher depois da 1h30, quando os outros bares mais pra cima fecham pra não serem multados pela prefeitura. “Aqui, temos o exemplo de como o universo excludente pode permitir uma tensão harmoniosa entre loucos, travestis, prostitutas, velhinhas de classe média, artistas e público. Os grupos sociais estão todos representados no cotidiano do Pescador”, filosofa a futura cineasta. Se você ainda se sente inseguro em andar por essas bandas, está vacilando. O fluxo de “malucos” na rua acaba dando proteção a todos que

Nesse pedaço da rua é possível encontrar um cara que já pegou a Rê Bordosa, um chileno vendedor de caleidoscópios e um exibicionista que está sempre de pijama sem nunca repetir o modelito

se arriscam a freqüentar o "baixo Augusta", inclusive as meninas que andam na boa pra cima e pra baixo sem serem importunadas por otários mal-informados que ainda acham que qualquer mulher ali é puta. “A Augusta é uma rua em mutação permanente, pois até mesmo a chamada zona do meretrício é historicamente nova: ganhou força no final dos anos 80”, conta o jornalista Xico Sá, morador da região e apreciador dos pecados e das pecadoras da rua. “Dos 80 para cá, vive altos e baixos. No início da invasão dos descolados, achei que iria rolar uma substituição geral, saindo os inferninhos e entrando as boates modernas. Não foi o que aconteceu. Os tiozinhos que paravam para pegar puta nos carros estranhavam, porque ali na esquina poderia estar um filho, por exemplo. Mas, agora, tudo corre dentro da mais absoluta normalidade. Só ficou mais difícil pra saber quem é profissional e quem é amadora entre as lindas garotas da calçada e da frente das boates”, brinca Xico A mesma calçada que abriga as primas de salto alto também recebe muitas moças de All Star de couro, às vezes mais despachadas e safadas que as profissionais. Na noite em que a reportagem trabalhava vagabundeando pela Augusta, uma louquinha saiu com um ficante a mil por hora de dentro do Outs, a melhor opção para os falidos. Lá, a entrada custa R$ 10 para homens e, na maioria das vezes, é VIP a noite inteira para mulheres – sem contar que sempre tem shows muito bons de bandas independentes do País inteiro. Bem, a tal garota passou pelo Vitória, bar ao lado do Outs, que vende maria mole por $ 2 (putaria total!), e, uns 20 metros pra cima, em frente a um estabelecimento comercial fechado, na calçada, resolveu descarregar a libido. Deixou o pretendente ou namorado (desculpe, mas não deu pra perguntar) deslizar a mão mini-saia adentro e se esbaldou sem a menor cerimônia e vergonha, pra deleite de quem passava por ali (e não eram poucos). Escândalo? Pffffff... Que nada. Assim é o "baixo Augusta": diversão com os amigos, curtição, ficar bêbado e, se der sorte, catar alguém na pista que esteja a fim de putaria – ou pagar por ela. Noite perfeita.


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quem anda pela laje

Paulo Galvão, Ziza e João Barroso com Tati Lomonaco

Mônica e Abelardo, na função dos autógrafos

Cesar Giobbi e Irene Ravache

Lila Byington e Mônica Figueiredo

Íris Bruzzi e Leão Lobo

Marlene Silva e Linda Conde. Tintim!

Bia Duarte

As irmãs Baby e Maria Thereza Gregóri, com Giba Um

Carminha Verônica, linda, e o abraço no Abe

Sílvio de Abreu e Giba: é deles o prefácio do livro

Abelardo e Iris Bruzzi

Serpui Marie, Eduardo Strumpf e as fotos dos shows

Sergio Viotti e Dorival Kasper

O SHOW NÃO PAROU

Suzana e Leonardo Posternak, com Mônica

O lançamento do livro O Show Não Pode Parar, de Abelardo Figuiredo, foi aqui na Laje, no dia 25 de março. Uma noite bem diferente das que normalmente rolam por aqui – mas, até por isso mesmo, muito bacana. Noite de homenagem, de emoção, de amigos queridos, de muito carinho e astral lá em cima FOTOS ÁLVARO TOLEDO LEME J.R. Duran, Mônica e Abelardo

Com Mônica e sua filha, Antonia, a neta caçula

Doris e Airton Bicudo, com Lulu Librandi

Maria Adelaide Amaral e Irene Ravache

Poder total! Íris, Marlene, Silvio e Carminha

Abelardo e Baby Gregóri

Edmur Nunes Pereira e Mario Aulicino


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quem anda pela laje

Guto Lacaz e Mônica Figueiredo

Caio Nehring, Margot Crescenti e Bia Freitas

Edson Paes de Melo

O beijo e o carinho de Maria Adelaide Amaral

Cesar Giobbi e Lulu Librandi, amigos da vida inteira

Márcia Neder, Eduardo Strumpf e Lisa Krell

Roberto Dimbério e Lisa Krell

Abelardo e a sobrinha, Regina Figueiredo Strumpf

Tetê Pacheco e Abelardo

Fernando Pires

Maria Thereza Gregóri e Gilberto di Pierro

Abelardo e Vania Toledo

Mario Aulicino, que editou o livro com Abe e Mônica

Abelardo e Mônica, pai e filha

Paulinho Goulart Filho e Abelardo Figueiredo

Cesar Giobbi, Claudia e John Herbert

Cida, nossa copeira aqui da Laje, e Flavinha Soares

Helô Machado, Denise e Thais Stoklos e Esther Angrisani

Serpui Marie e Alexandre Barroso

Mauricio Figueiredo e Luis Crispino

Lulu Librandi e, direto do Rio, Sydney Pereira

Ricardo Corte Real

Oswaldo Massaini, Sílvio de Abreu e Mônica

Perla Nahum e Giba Um

Valeria Leite


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tudo da rua augusta

TODAS AS LETRAS DA AUGUSTA Conheça todas as livrarias da Rua com o nosso roteiro POR KATIA MELLO FOTOS RODRIGO VARGAS Enquanto a cidade é infestada por megastores -- que vendem de livros a notebooks --, a rua Augusta mostra a resistência: livrarias e sebos espalhados em sua extensão trazem de gibis raros a lojas especializadas em literatura hispâno-americana, além de edições esgotadas e raras de panteões da escrita nacional e internacional. Confira a lista e escolha a que cabe no seu gosto (e no seu bolso)

LUCI LIVROS

RIKA COMIC SHOPPING

LIBRERÍA ESPAÑOLA E HISPANOAMERICANA

LIVRARIA E CAFÉ ÍCONE r. Augusta, 1.415, Consolação, tel. 3289-3526. De seg. a sex., das 8h às 20h, sáb., das 8h às 14h O local imita uma megastore e reúne estantes de livros novos e usados, CDs e DVDs, lan-house e cafeteria. O forte é a bancada de promoções, prostrada à porta, com centenas de edições de bolso a R$ 5 e best-sellers a R$ 10. Por ser uma das maiores da Augusta, tem atendimento um pouco impessoal.

r. Augusta, 602, Consolação, tel. 3151-3401. De seg. a sex., das 10h30 às 19h, sáb., das 10h30 às 14h Quem atende é a própria Luci, que, após sete anos no local, sabe que a rua aglomera trabalhadores, estudantes e turistas. Por isso, ela mantém um acervo simples, baseado na variedade e em bons preços: há de best-sellers a coleções de pensadores. A especialidade fica por conta dos livros espíritas e místicos.

r. Augusta, 1.371, sobrelojas 10/11, Consolação, tel. 3284-4908. De seg. a sex., das 9h às 17h, sáb., das 10h Às 14h A loja de quadrinhos – quase intransitável pelas inúmeras estantes – mescla raridades, HQs antigas e lançamentos. Entre os títulos, uma variedade de nomes que vão de Turma da Mônica a Tex, passando pelos clássicos da Marvel. O acervo está disponível online: www.rika.com.br.

r. Augusta, 1.371, lojas 9/10/11/14, Consolação, tel. 3288-6434. De seg. a sex., das 9h às 19h, sáb., das 9h às 14h Para quem prefere ler Miguel de Cervantes e Gabriel García Márquez em língua pátria, aqui se esconde o tesouro. Os títulos englobam escritores espanhóis, chilenos, cubanos, colombianos, argentinos, entre outros, em edições especiais e regulares.

LIVRARIA DO ESPAÇO UNIBANCO

LIVRARIA E SEBO ALFARRABISTA CORSARIUM

LIVRARIA CULTURA CONJUNTO NACIONAL

r. Augusta, 1.475, Consolação, tel. 3288-6780. Todos os dias das 14h ás 22h Tem a cara dos freqüentadores de suas salas. Há demasiadas publicações da Taschen de cinema, além de best-sellers óbvios, livros de filosofia, lingüística e biografias.

r. Augusta 1.492, Consolação, tel. 3284-1214. De seg. a sab., das 10h30 às 21h, dom., das 13h às 22h O sebo trabalha com livros semi-novos, usados e fora de catálogo, atendendo principalmente a estudantes de filosofia, ciências sociais e psicologia, além de trazer exemplares de arte, cinema e teatro. Seus atendentes são aficionados por literatura, por isso, não hesite em pedir ajuda.

Av. Paulista, 2.073, Cerqueira César, tel. 31704033. De seg. a sáb., das 9h às 22h e domingo, das 12h às 20h É a maior livraria do país atualmente. Como as prateleiras são divididas em temas – como literatura nacional, poesia, ciências etc. – e os livros organizados por ordem alfabética, é fácil de se localizar. Tem atendentes treinados para cada setor. Os preços costumam ser altos.

CANTO DAS LETRAS

BOOKLOVERS

LIVRARIA SARAIVA

LIVRARIA GAUDÍ

r. Augusta, 2.244, Cerqueira César, tel. 3081-2120. De seg. a sex., das 10h às 20h, sáb., das 10h às 19h A loja de pé direito alto trabalha com livros de poesia, filosofia, gastronomia, cinema, música, pintura, fotografia e decoração. Os atendentes são rápidos e confiáveis e topam qualquer negócio: compram, vendem e trocam livros, CDs, DVDs e LPs. O mezanino passa por uma reforma e, em breve, vai exibir curtas-metragens para os freqüentadores.

r. Augusta, 2.633, Cerqueira César, tel. 30612008. De seg. a sex., das 10h às 19h, sáb., das 10h às 17h Inaugurado há seis meses, o sebo ainda dá preferência a títulos mais populares e literatura infantil. Há uma estante de pockets importados, com preços entre R$ 5 e R$ 10, que traz algumas pérolas como Ernest Hemingway e Agatha Christie. Enquanto vasculha, o leitor pode tomar um sorvete ou saborear uma guloseima.

r. Augusta, 2.843, Cerqueira César, tel. 30829415. De seg à sex., das 9h às 17h, sáb., das 9h às 15h Uma das poucas Saraivas que não virou megastore, a loja reúne best-sellers, papelaria e atendimento impessoal. Para quem procura o básico.

r. Augusta, 2.872, Cerqueira César, tel. 30811010. De seg. a sex., das 9h às 19h, sáb., das 9h às 14h A livraria, que surgiu há 20 anos para atender arquitetos, hoje dedica suas estantes a livros de arte importados e nacionais. Fina e comprida, a loja traz inúmeros exemplares de arte decô e design, além de raridades e exemplares esgotados de livros específicos (caríssimos, por sinal) que atendem à demanda de marchands e colecionadores.

LIVRARIA NOBEL r. Augusta, 2.123, Cerqueira César, tel. 30635151. De seg. a sex., das 10h às 20h, sáb., das 10h às 18h Calcada no óbvio, a livraria atende às demandas de estudantes do colégio e universitários, além dos sedentos por best-sellers. Apesar disso, o atendimento é atencioso e simpático.


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consumo

CAMELANDO POR AQUI

Assim como a rua, os camelôs da Augusta também são modernos e descolados. Mas sem elevar os preços só porque estão no Jardins POR KATIA MELLO

Há camelôs-sebo pela Augusta também. O preço não é menor que o dos sebos físicos, mas não custa dar uma olhada. Este Admirável Mundo Novo saiu por R$ 20

Luvas esquentam a mão, mas nem sempre colaboram na hora de pegar ou segurar coisas por aí. Essa daqui (R$ 8) vem com grip: bolinhas de borracha anti-derrapantes

Cachecol de caveirinhas (R$ 35), porque elas nunca saem de moda

Os chocolates (R$ 1), paçoquinhas (Paçoquita, R$ 0,25, e Amor, R$ 0,50), balas (R$ 1) e chicletes (R$ 0,20) repõe a energia gasta nas compras Gloss-bonequinho transparente com glitter e cheiro de coco (R$ 3)

Além de pilha estar custando caro, não é reciclável. Por isso, todo mundo tem que ter um recarregador de pilhas AA e AAA (R$ 15)

O hit do inverno serão as estampas de animais, como onça e zebra. Aqui, dá pra comprar armações por R$ 15 cada. Elas já vêm com lentes, mas é só levar na ótica e trocar

Que tal dar um tapa no visual da sua sala? Você encontra réplicas de Modigliani, Renoir e Da Vinci (como estes três), além de Michelangelo, Monet e Edvard Munch, entre outros. Três cópias de 28x43cm saem por R$ 10

Nem só de pão vive a mulher, mas também de apetrechos que a deixem mais brilhante e bonita, como este colar com pingente de gato (R$ 15) e a corrente com patuá (R$ 15), pra botar o mau-olhado pra correr

Dominó não tinha graça até poder enfeitar sua mesa do trabalho (R$ 15). Tem verde também


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viceral

BANHEIRÃO!

Péssimo (sujo, sem papel, fétido, praticamente inutilizável) Regular (sujinho, mas que tem papel e, se você usar rapidinho, não dá nem pra perceber)

Ninguém vai pra balada pensando em que condições vai conseguir fazer xixi. Mas nem por isso gostamos de usar uma fossa para eliminar as excreções. Testamos os banheiros mais procurados da Augusta e mostramos o que você pode encontrar

Bom (não dá pra sentar, mas o cheiro não é desagradável, e o papel não tá pendurado num arame)

POR KÁTIA MELLO FOTOS RODRIGO VARGAS

BH LANCHES

CHARM

O banheiro feminino é mais decente que o masculino, mas, no geral (e no começo da noite), eles são OK. Apesar de funcionar 24 horas por dia, as casinhas se mantêm relativamente limpas e com papel higiênico disponível.

É bem sujo. Por estar localizado no subsolo, o ar não circula muito. Mas, no banheiro masculino, sempre tem papel e, na pia, sempre rola um sabonete líqüido. Funciona em questões de vida ou morte.

Cotação:

Cotação:

PESCADOR

INFERNO

VITRINE

VEGAS

Com infra-estrutura abaixo da mínima, porém limpinho. Como o bar funciona até altas horas e a freqüência varia entre beberrões da região, adolescentes perdidos e desertores do Ibotirama/Cuca Ideal/ Vitrine, a situação sempre pode piorar.

O único banheiro que tem um segurança cuidando da entrada. A privada preta disfarça bem o que foi jogado ali, mas uma mocinha faz o favor de dar um tapa na área, às vezes. Quase uma raridade: sempre tem papel, tanto no masculino quanto no feminino.

Os clientes correm o risco de encontrar o banheiro interditado, já que uma limpeza pesada é feita umas duas vezes por noite. Mas é só por uns minutinhos. É espaçoso e costuma ter papel. Só não dá pra sentar.

O nível do banheiro se equipara ao preço da entrada. A Dona Maria controla a entrada e limpa as cabines. Os ambientes – tanto nos banheiros do térreo quanto nos do subsolo – são decorados e é a única casa noturna que oferece uma casinha com acesso a deficientes.

Cotação:

Cotação:

Cotação:

Cotação:


viceral

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ECLÉTICO`S

IBOTIRAMA

O Eclético's funciona mais ou menos assim: você tem de entrar decidido se vai passar um fax ou se vai fazer um xixi e sair correndo dali. No banheiro masculino, a área é limitada por caixas de cerveja e uma escada, que disputam espaço com o usuário. Papel higiênico é um sonho remoto.

No dia da foto, a privada do banheiro feminino estava entupida, provavelmente depois de sofrer uma sessão do descarrego. Riscos de banheiros públicos em geral. A limpeza não costuma ser freqüente. Quanto mais tarde você chegar, mais papel vai encontrar fora do cesto de lixo. Cotação:

Cotação:

CUCA IDEAL

OUTS

O aspecto não é bom, mas tem um rodo para o bom cristão que decidir puxar as poças do chão. Algumas cabines têm papel; outras, não. Quem só urina de porta fechada vai ter de segurar a porta com uma mão e o "aparelho" com a outra. Cotação:

Depois de enfrentar uma escada íngreme e cansativa, você encontra só um mictório. Ou seja: se lhe ocorrer o número dois, peça a chave no caixa para conseguir adentrar a minúscula área que esconde o trono. Outro problema: é um pouco escuro... Cotação:


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um lugar

RODRIGO VARGAS

AS GATAS DE BOTAS DA AUGUSTA Conheça a história da tradicional loja Au Bottier POR KÁTIA MELLO

Para quem é aficionada por botas, a loja Au Bottier pode ser o paraíso, ou a perdição completa. Há 40 anos, o francês radicado no Brasil Maurice resolveu dedicar todo o seu tempo e a sua disposição à confecção de botas de modelos e saltos exclusivos – como a plataforma, na época muito pouco difundida por aqui. Desde então, passou a colecionar clientes das mais variadas faunas. "Ele fazia os modelos da [cantora] Wandérleia, da Wilza Carla, da Rosimeire e de outros artistas da Jovem Guarda. Com o tempo, passou a fazer as botas das chacretes, das dançarinas de palco do Sargentelli [Oswaldo Sargentelli, radialista e apresentador de TV, morto em 2002], da Elke Maravilha, e das dançarinas da casa de show Beco. Hoje em dia, muitos artista compram aqui, como Joelma [da banda Calypso], Gretchen, Marcos Caruso e muitos outros. Temos um público muito eclético, que vai das meninas que trabalham aqui na rua [garotas de programa] e travestis performáticas até socialites, empresárias, senhoras e jovens que preferem vir em busca de opções, que é o que não falta", conta Mireille Fichmann, designer e proprietária da loja, que toca o negócio em sociedade com a irmã, Alegra, desde que o pai morreu, há dez anos. As irmãs – nascidas no Cairo (Egito) – herdaram, também, a ligação com o pessoal dos teatros da região e sempre fazem modelitos para peças. Entre os espetáculos para os quais Mireille produziu botas estão os musicais "O Fantasma da Ópera" e “Chicago”, além do clássico shakespeariano "Rei Lear" e muitos outros. O movimento é constante; a freqüência, variada. Em menos de meia hora, vê-se uma senhorinha comprando camisas, uma moçoila em busca de cinta-

liga e um jovem comprando uma bota montaria. Assim como fazia o Sr. Maurice, uma parte da fabricação ainda é artesanal, feita na própria loja. O cliente pode chegar com um modelo em mente, procurar pelas irmãs e descrever o que quer, além de poder escolher cores, saltos, materiais etc. "Muitos estudantes de Moda vêm me procurar com desenhos, e eu os fabrico. Além disso, fazemos sapatos sob medida pra quem tem pés diferentes, pernas largas ou finas ou de comprimentos diferentes", afirma Mireille. As botas que ocupam a vitrine e as prateleiras, todas desenhadas por ela, são produzidas em uma fábrica. "Eu observo tudo, junto as tendências da moda com as minhas idéias. Cada novo modelo é um desafio", conta a designer, mostrando saltos como o "corrimão", parecido com um sorvete de máquina, e o "carvãozinho", modelado com quadradinhos empilhados criados por ela. Os modelos manufaturados, mais caros, podem variar entre R$ 250 e R$ 900, dependendo do material e dos enfeites escolhidos pela cliente. O prazo de entrega varia, mas demora, em média, 20 dias. Já na loja encontram-se desde tamancos de R$ 20 até botas de R$ 450 (as mais caras não passam desse preço). A sapataria nunca saiu da Augusta e, há seis meses, expandiu os negócios: passou a comercializar roupas para o dia-a-dia, vestidos de gala, peças exóticas, cintos, luvas, lingeries e peças para agradar as trabalhadoras locais. Nesses 40 anos, uma coleção de boas histórias. "Quase todo dia acontecem coisas engraçadas por aqui. Já vi cliente tirar a roupa para ver como fica a bota acima do joelho, caminhão largado pelo motorista no meio da rua para pedir autógrafo para uma artista, gente que subiu no balcão para desfilar... uma loucura", diz Alegra.


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˜ paulo escola são

FÁBRICA DE CULTURA

Escola São Paulo repensa a cultura e ensina isso em sala de aula

Uma das pérolas que a Augusta guarda é a Escola São Paulo, espaço cultural moderno que oferece cursos reflexivos e estudos sobre a cultura contemporânea de diversos segmentos, como arquitetura, artes visuais, cinema, design, fotografia, gastronomia, jornalismo, literatura, moda e música. Um dos destaques de maio é o curso Mercado Cultural ao Vivo, que vai discutir, entre outros tópicos, a catalisação de recursos para fazer filmes, peças de teatro, exposições e o modus operandi do trabalho. Falamos com Leonardo Brant, que coordena o curso, e o produtor de cinema Leonardo de Barros, duas almas empenhadas em otimizar a produção cultural no Brasil.

VÁ ATRÁS

AJUDA ONLINE

LEONARDO BRANT

LEONARDO DE BARROS

1. Como foi a evolução da produção cultural no Brasil nos últimos anos? Vou fazer um recorte do início dos anos 90 pra cá. Com o desmanche promovido pelo Collor, a área cultural começou a se reconfigurar. O advento das leis de incentivo foi a tábua de salvação para o artista e o produtor cultural órfão de Estado. A partir daí, o patrocínio cultural, a presença das empresas, do marketing, da comunicação empresarial, passou a fazer parte do vocabulário de todos os que trabalham com cultura. O mercado só cresce e se desenvolve a partir daí. Com a entrada de Gilberto Gil no Ministério da Cultura, a sociedade começou a enxergar outras dimensões da cultura.

Quanto à produção audiovisual, a evolução tem sido positiva e constante: desde o ano 2000, a média anual de longas-metragens produzidos triplicou (atualmente, o Brasil produz cerca de 70 longas por ano). Mais importante que o número em si é a diversidade dessas produções: são dramas, comédias, documentários, musicais, biografias, infantis etc., numa mescla de produções artísticas e comerciais. A produção de curtas-metragens explodiu e, embora a TV aberta continue fechada para a produção independente, a TV a cabo tornou-se uma grande compradora e co-produtora de obras audiovisuais.

2. Como funciona o processo de arrecadação de verbas para um projeto cultural, do ponto de vista do governo e da iniciativa privada? As leis de incentivo continuam sendo a principal via de arrecadação para os produtores. Os governos passaram a criar fundos públicos, e organismos internacionais abriram novas frentes de investimento. Mas o que mais sinto falta é o desenvolvimento de um programa mais eficaz, pois há uma demanda reprimida nessa área. Bons negócios poderiam prosperar se houvesse o mínimo de apoio, via linhas de crédito subsidiadas, abatimento em impostos e programas de capacitação. Nesse sentido, o Mercado Cultural ao Vivo, curso da Escola São Paulo, é uma boa iniciativa, pois supre essa demanda.

Diferentemente da área de produção para TV, na qual existem recursos privados que financiam parte da produção independente, pode-se afirmar que toda a produção cinematográfica brasileira depende diretamente de recursos públicos obtidos através de Leis de Incentivos Fiscais, recursos estes aportados por empresas privadas ou estatais; ou de recursos públicos diretos obtidos através da Ancine, do MinC e de secretarias de cultura. Um dos novos caminhos de financiamento que estão surgindo são as co-produções internacionais. Nelas se misturam recursos de várias origens – públicas e privadas – e países.

Em quais lugares você pode buscar patrocínio: Ancine (Agência Nacional do Cinema, www.ancine.gov.br); BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, www.bndes.gov. br); MinC (Ministério da Cultura, www. cultura.gov.br) e a Secretaria de Cultura da sua cidade. Você também pode tentar patrocínios privados.

A Internet facilitou – e muito – a vida do produtor cultural. O site do Sated (Sindicato dos Artistas e Técnicos dos Espetáculos de Diversão, www.satedsp.org.br) traz um banco de dados com nomes de atores e atrizes, além de cenógrafos para teatro, dança, cinema e TV. O site Cinema Brasil (www.cinemabrasil.org.br) oferece um programa de busca que localiza de produtoras de trilhas sonoras a produtoras de cinema, além de agências de locação, transporte e dublagem.

PARTICIPAÇÃO DE EMPRESAS

A LEI ROUANET

INCENTIVO PELA PESSOA FÍSICA

A lei, datada de 1991, prevê modos de patrocínio e mecenato que fomentem a produção e a difusão de projetos culturais. Quem analisa os orçamentos dos projetos que “merecem” ou não o patrocínio é o MinC, por meio de pareceristas (técnicos). Caso o orçamento seja aprovado, o produtor deve procurar empresas/ pessoas que topem patrocinar o projeto e, depois, deduzir o valor do Imposto de Renda.

Segundo o IBGE, existem, hoje, 320 mil empresas atuando no setor cultural. Elas geram 1,6 milhão de empregos formais e representam 5,7% das empresas do País. A cultura é o setor que melhor remunera – sua média salarial é 47% superior à nacional.

Estima-se que dos 24,5 milhões de contribuintes que prestaram contas à Receita Federal em abril passado, mais de 13 mil pessoas declararam doações ou pagamentos efetuados em benefício de projetos culturais. Em 2007, o número aumentou quase 600% comparado a 2006, segundo dados do MinC. Ou seja, você não precisa ter uma empresa para patrocinar projetos e ainda pode deduzir suas doações do Imposto de Renda.

3. O sistema de financiamento cultural é suficiente? Nunca... Existem várias distorções, o volume de recursos é insuficiente, e as potencialidades culturais do Brasil estão atrofiadas por causa disso.

Nenhum sistema de financiamento cultural é suficiente. Sempre haverá demanda por mais recursos. No nosso caso, o orçamento do MinC, na gestão Gilberto Gil, subiu. Mas ainda é bem baixo.

4. Quais alternativas poderiam ser implantadas? Reformar o sistema de financiamento da cultura? Se o Ministério fizesse a lei funcionar em sua plenitude, já ajudaria bastante. Além da faceta mais conhecida da Lei, que é o mecenato, há ainda o Fundo Nacional de Cultura (FNC) e o Ficart. O FNC é necessário para o fomento, o estímulo à nossa rica diversidade, coisa que o mecenato, por melhor que seja, não consegue atingir em sua plenitude. E o próprio Ficart, que poderia dar musculatura para a nossa crescente indústria cultural.

Não creio que seja o caso de reformar o sistema, mas, sim, de complementá-lo. Precisamos ter uma mentalidade de preservação e aprimoramento do que já existe. De minha parte, gostaria de ver mais recursos públicos disponíveis para não dependermos tanto de leis de incentivo, além de mais programas que financiassem o consumo de cultura (como um programa de distribuição de tickets). E sonho com a criação de hábitos de consumo cultural nas escolas, pois o principal incentivador da produção sempre será o público consumidor.

PRODUÇÃO CULTURAL Um produtor cultural gerencia e organiza eventos e bens culturais (como shows, exposições de arte, espetáculos de dança, peças), coordena a gravação de filmes e discos, programas de TV e rádio etc. A principal característica de um produtor é o planejamento, já que ele é responsável por desde a alimentação dos profissionais envolvidos até os equipamentos necessários em um palco, gravação ou set de filmagem. Além disso, ele responde pela captação de recursos, seja pela venda de ingressos ou por cotas de patrocínio. Ou seja: muita treta.

5. O modelo de financiamento baseado na Lei Rouanet está sendo questionado. Qual a sua opinião sobre esta lei? Este é um assunto complexo e polêmico. O mais importante a ser dito é que o MinC está agindo de forma irresponsável diante deste que é o mais importante instrumento de financiamento à cultura do País. O MinC simplesmente não entendeu o seu funcionamento, as suas potencialidades, e está fazendo um jogo perigoso de colocar a opinião pública contra a Lei. Isso mostra um despreparo muito grande para lidar com a dimensão econômica da cultura. O sistema tem distorções que estão sendo sobrevalorizadas. Precisamos fazer alguma coisa diante desse desmanche.

Conheço muito pouco o que está sendo discutido no âmbito da Lei Rouanet, pois, na produção de longasmetragens, não a utilizamos mais (foi substituída pelo Artigo 1-A da Lei do Audiovisual).

* Leonardo Brant é presidente da Brant Associados, responsável pelo desenvolvimento de organizações culturais, como o Instituto Pensarte, e autor do livro Panorama Crítico e Guia Prático para Gestão e Captação de Recursos (Escrituras Editora, 2004)

* Leonardo de Barros é sócio de Andrucha Waddington na Conspiração Filmes. Ele já produziu, entre outros, filmes como Eu, Tu, Eles e 2 Filhos de Francisco, além da série Mandrake, exibida no canal HBO.

VERBAS PÚBLICAS DESTINADAS À ARTE O setor já recebe, anualmente, cerca de R$ 1 bilhão em renúncia fiscal. É o mesmo que o orçamento federal reservou em 2007 para a habitação.

CURSO MERCADO CULTURAL AO VIVO – CURSO LIVRE DE GESTÃO CULTURAL com Leonardo Brant, Nany Semicek, André Martinez, Rogério Zé, José Mauricio Fittipaldi e Melissa Mendonça O curso apresentará aspectos teóricos e ferramentas práticas, como a formatação do projeto, leis de incentivo, financiamento privado, plano de negócios, comunicação, marketing e captação de recursos. Dirigido a profissionais de produção cultural em cinema, vídeo, TV, exposições, museus e produtoras que querem aprender, se especializar ou aprimorar técnicas na teoria e na prática. 17 de maio a 28 de junho / das 9h às 17h 12 aulas / 36 horas Escola São Paulo R. Augusta, 2.239 tel.: (11) 3081-0364 / info@escolasaopaulo. org / www.escolasaopaulo.org


ficha

sim

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OI, LUA, TUDO BOM?

MÚSICA

Por favor, responda as perguntas abaixo de próprio punho. Sinta-se à vontade para se expressar como quiser: use canetas diferentes, desenhe, escreva com letra de forma. Enfim, como você achar melhor. Vamos lá?

POR HEITOR RICCI, assistente de redação da revista Simples

1. Nome:

2. Idade:

1. STANDING NEXT TO ME

3. Profissão:

The Last Shadow Puppets Age of the Understatement, 2008 Gravadora: Domino

Projeto paralelo do vocal do Arctic Monkeys, Alex Turner. A sonoridade dessa música lembra muito os anos 60.

4. O que você mais gosta na Rua Augusta?

5. O que costuma ouvir?

6. O que te inspira?

2. FAKE ID The Go!Team Proof of Youth (2007) Gravadora: Sub Pop

7. Qual o último livro que leu?

Grupo indie da Inglaterra que irá substituir o duo Chromeo no evento Motomix, em junho, aqui em São Paulo.

8. O que costuma fazer quando acorda?

9. Leia as palavras abaixo e escreva a primeira coisa que lhe vier à cabeça: a. Espaço

3. DISCIPLINE Nine Inch Nails The Slip (2008) Gravadora: Independente

b. Dia

Single do último cd do Nine Inch Nails The Slip, que pode ser baixado de graça no site da banda theslip.nin.com. É só fazer um cadastro rápido e começar o download.

c. Amarelo

d. Chuva 10. Quais seus planos para o futuro?

4. NOWHERE TO RUN

11. Faltou dizer alguma coisa? (Se sim, o quê?)

Arnold McCuller The Warriors Original Sountrack (1979) Gravadora: Polygram-UK

Essa música está na trilha sonora do filme Warriors - Os Selvagens da Noite, um clássico de 1979. A música é muito boa, tem uma ótima levada do soul dos anos 70, bem agitada.

Valeu!

água 5. QUEEN DOT KONG The Do A Mouthful (2008) Gravadora: Cinq7

Uma garota da Finlândia e um cara francês fazem esse som que lembra a senegalesa MIA, tem umas batidas ótimas e muito humor nas letras.

HIDRATAÇÃO NATURAL A gente respira Ouro Fino, a gente vive Ouro Fino, a gente veste Ouro Fino e, claro, a gente bebe Ouro Fino. A água mineral que carrega nosso nome vem lá do Paraná, de um parque ecológico também chamado Ouro Fino. O parque é aberto à visitação e fica a uns 30 km de Curitiba, no município de Bateias. Ficou com vontade? É só dar um volta pelos bares da Augusta que você encontra, ou em redes de supermercados.


*Para quem é preguiçoso e não conseguiu terminar sozinho: 1. No canto esquerdo da foto, em frente à Salacadula 2. No sótão, quase em cima da Ouro 21 3. Em reunião na Gruda em Mim 4. Saindo do banheiro, em frente ao Mercado Mundo Mix 5. No andar de baixo, atrás da loja vermelha, à esquerda

Da esquerda pra direita: Editora Salacadula, cozinha, Ateliê 5inco, Cria.Lab, Ouro 21, O Loko, Zebra Deluxe, escritório do Mercado Mundo Mix e redação da revista Simples e Gruda em Mim que o Boi Não Te Lambe. Resposta* no site www.nalaje.com.br

Na edição que vem de Recheio & Cobertura, uma entrevista exclusiva com o empresário Arnaldo Waligora, que nasceu e cresceu aqui na Augusta e fala sobre as mudanças e transformações enfrentadas pela rua desde a década de 60. Enquanto a entrevista – engraçadíssima, por sinal – não chega, passe o tempo procurando o Waligora aqui na Galeria Ouro Fino. Ah, são cinco Arnaldos espalhados pela foto. Boa sorte! PANORÂMICA MARIO LADEIRA FOTO DO WALIGORA LUCAS LIMA

WALI(GORA)?

ONDE ESTÁ O 29 9

cadê?


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RODRIGO VARGAS

ditados populares




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