Livro do Apocalipse

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Curso Popular de Bíblia

Livro do Apocalipse Sonhar, esperar e resistir VOLUME 7

Tea Frigerio / CEBI-PA

São Leopoldo/RS

2007


© Centro de Estudos Bíblicos Rua João Batista de Freitas, 558 B. Scharlau – Caixa Postal 1051 93121-970 – São Leopoldo/RS Fone: (51) 3568-2560 Fax: (51) 3568-1113 vendas@cebi.org.br www.cebi.org.br

Reimpressão: 2010 2012 2014 2016 2019

Desenho da capa: Ir. Eliana Vieira Cândido

Editoração: Rafael Tarcísio Forneck

ISBN: 978-85-7733-011-9


Sumário

Apresentação .............................................................................

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1º Encontro: 1ª Palavra-chave: Esperar ..................................................................................

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2 º Encontro: 2ª Palavra-chave Escrever .................................................................................

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3º Encontro: 3ª Palavra-chave: Revelar...................................................................................

15

4º Encontro: 4ª Palavra-chave: Discernir ................................................................................

19

5º Encontro: 5ª Palavra-chave: Celebrar é sonhar ..................................................................

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Anexo 1 – O Movimento Apocalíptico .....................................

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Anexo 2 – Símbolos ...................................................................

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Anexo 3 – Estrutura do Livro do Apocalipse ............................

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Referências.................................................................................

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Apresentação

Caríssimas amigas e caríssimos amigos, Aqui vai o último volume da série Curso Popular de Bíblia. Ao longo deste curso, caminhamos juntas e juntos no estudo, na celebração e na vivência da Palavra de Deus. De ponta a ponta, nossa fé no Deus da vida bebeu nos mananciais onde beberam nossas antepassadas e nossos antepassados. A água da vida matou nossa sede, alimentou nosso engajamento, sustentou nossa esperança. A Equipe do Núcleo do CEBI Cabanagem, por dois anos, fez a experiência de ler o Livro do Apocalipse com o povo que nos acompanha na Escola Bíblica. Foi gratificante perceber, ao longo do estudo, as pessoas passarem do medo para alegria e a certeza que Deus nunca se esquece dos pequenos. Ele encontra sempre um jeito novo para nos sustentar no compromisso, apesar das dificuldades, do desânimo, das forças do contra que estão presentes no dia-a-dia de nossa vida pessoal e comunitária. Este volume é, mais uma vez, o resultado do nosso estudo feito em conjunto. A esta experiência bonita, juntam-se outras, feitas com vários grupos e comunidades, bem como a oportunidade que tivemos, no ano de 2003, de participar de estudos sobre o Apocalipse com frei Carlos Mesters. Todo o material de pesquisa estava preparado. Mas a vida com suas infinitas surpresas, colocou-me numa situação em que tinha tempo para escrever. Tinha comigo o disquete com o esquema do volume e a Bíblia, mas os apontamentos tinham ficado em casa.

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Na comunidade da família missionária à qual pertenço, as Missionárias de Maria – Xaverianas, que me acolheu, encontrei os volumes Tua Palavra é Vida, da CRB. Então o volume 7 desta coleção se tornou a minha referência. De várias formas, expressamos a vontade de ser profetisas e profetas. Nunca afirmamos: “Queremos ser apocalípticos”. O estudo, a reflexão, as celebrações que iremos fazer, querem despertar em nós um anseio: tornar-nos apocalípticos. Tornar-nos pessoas capazes de tirar o véu da história. Conseguir ler a verdade da história. Conseguir descobrir em que etapa da caminhada estamos. Perceber que a luta e a perseguição fazem parte da caminhada. Beber na fonte em que beberam as primeiras comunidades e assim alimentar nossa fé, esperança, sonho da realização do Reino. Com elas gritar: Amém! Maranatha! Vem, Senhor Jesus! Bom estudo! Foi bom caminhar com vocês! Com carinho e amizade; Tea Frigerio

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1o E N C O N T R O

1ª palavra-chave

Esperar

1 Acordar a memória Dinâmica • Formar cinco grupos. • Entregar a cada grupo uma das palavras-chave do volume 6. • Cada grupo deve recordar: – um versículo dos Atos ou cartas de Paulo, que ilumine a palavra-chave; – o refrão de um canto ou uma palavra de ordem, que sintetize a temática da palavra-chave. • Plenária e conclusão com um canto.

2 Da profecia à apocalíptica Para desenvolver este ponto usar o Anexo I

3 Tirar o véu: Jesus, nosso irmão O 1º capítulo do Livro do Apocalipse tem a finalidade de introduzir-nos no livro. O portão, o pátio e a entrada já nos falam de como será o resto da casa. A própria divisão deste capítulo nas nossas Bíblias nos diz que há três entradas, tal como uma casa que é construída aos poucos e em tempos diversos. Vamos ver:

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1ª) Prólogo (1,1-3): Oferece um resumo e o objetivo do livro. Provavelmente feito pelo redator final que juntou e costurou os escritos do profeta João (aprofundaremos esta parte quando olharmos a estrutura do Livro do Apocalipse). Estamos na rua e toca a campainha. Vamos ler juntas e juntos os versículos 1 a 3. Percebemos que muitas notícias são dadas em poucas palavras: • A revelação vem de Deus que a deu a Jesus, que a manifestou ao anjo, que a transmitiu a João, que a revelou às comunidades para serem testemunhas. É como uma escada que começa em Deus e termina nas comunidades. Enquanto se explica, pode-se desenhar graficamente uma escada, colocando um protagonista em cada degrau. • Observamos como a escada é definida: revelação, Palavra de Deus, profecia, testemunho de Jesus Cristo. • O conteúdo deve ser lido em comunidade e refere-se às coisas que vão acontecer em breve. • Quem lê deve estar vigilante, de prontidão. Não deve somente ler, é convidado a observar, praticar. Assim, será feliz, bem-aventurado. 2ª) Saudação (1,4-8): Cria o ambiente no qual o livro deve ser lido. É carta amiga às comunidades para celebrar a fé e a esperança. Tocamos a campainha, alguém vem abrir e convida a entrar. Vamos ler de maneira dialogada, entre uma pessoa e as demais, os versículos 4 a 8.

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• O profeta João saúda, dirigindo-se às sete comunidades, desejando-lhes a graça e a paz da Trindade e não do Império. • O Pai recebe o título de ‘É-Era-Vem’. Isso traz à nossa memória o nome de Deus em Ex 3,14. • Os Sete Espíritos são a plenitude da ação de Deus. São o Espírito Santo. • Jesus Cristo recebe três títulos tirados do Salmo 89,28.38: Testemunha fiel, Primogênito dos mortos, Príncipe dos reis da terra. Os três títulos falam da paixão-morte-ressurreição de Jesus. • A saudação se conclui com um convite à esperança e à conversão. 3a) Visão inaugural de Jesus (1,9-20): É uma experiência que transmite a força da fé na ressurreição. João é convidado a escrever às sete comunidades. Agora entramos na casa, em relação com seu dono: Jesus. • Vamos ler os versículos 9 a 20 em duplas e anotar todos os símbolos usados para descrever a visão. • Em mutirão, elencar os símbolos. • João se apresenta como irmão e companheiro na tribulação por causa da fidelidade em Jesus Cristo. • Coloca sua visão no dia de domingo para dizer que sua mensagem é de esperança. • A esperança vem da fé em Jesus ressuscitado, que é filho de Deus, Messias, Sacerdote, Juiz, Senhor da história, presente nas comunidades. • A visão vem carregada de símbolos. Os símbolos devem ser olhados no seu conjunto e não isoladamente. Inicialmente, a visão causa medo e angústia, reação normal diante da presença de Deus (Is 6,4; Ex 3,6). Mas, não é somente isso.

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Reflete a situação em que viviam as comunidades. Ameaçadas pelo Império, estavam prostradas e com medo. Pequenos grupos experimentavam uma extrema fragilidade. Alguém precisava animá-las. Esta visão inaugural tem este objetivo, que é o objetivo de todo o livro. • Como estas palavras falam à realidade das nossas comunidades? • Dando voz aos anseios do povo, vamos juntas/os proclamar o cântico de Apocalipse 1,17-18.

Estudo pessoal ou em grupo, a ser realizado em casa, entre um encontro e outro. • Pesquisar, na comunidade e no ambiente de trabalho, o que as pessoas pensam sobre o Livro do Apocalipse.

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2o E N C O N T R O

2ª palavra-chave

Escrever

1 Recolher o trabalho de casa Dinâmica • Formar grupos em que se partilhe a pesquisa feita. • Cada grupo escolhe as respostas mais interessantes para partilhar na plenária.

2 As destinatárias do Livro do Apocalipse Nos capítulos 2 e 3, encontramos sete cartas escritas a sete comunidades da Ásia Menor. Vamos localizá-las no mapa, proclamando seus nomes. Ao lermos essas cartas, percebemos que elas têm uma estrutura comum. A pessoa que escreve é a mesma e é identificada pelo título que recebe. Todas as comunidades recebem elogios, advertência e promessa. Olhando-as no seu conjunto, elas apresentam a situação das comunidades da Ásia Menor. Vamos nos aproximar delas.

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Dinâmica • Preparar, com antecedência, em papéis, os nomes das sete cidades. • Distribuí-los entre os participantes, a fim de formar sete grupos. • Entregar a cada grupo uma folha com o nome da cidade, a citação bíblica correspondente e as seguintes perguntas: – Que título recebe quem escreve? – Qual é a situação da comunidade? – O que ela tem de positivo? – O que ela tem de negativo? – Que alerta recebe? – Que promessa lhe é feita?

• Trabalho de grupo e plenária (para a plenária, pode ser aproveitado o quadro abaixo).

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Comunidade

Quem escreve

Situação

Éfeso Ap 2,1-7

Aquele que segura as sete estrelas em sua mão direita e anda no meio dos candelabros de ouro (2,1b).

A maior das sete cidades. Maior centro comercial da Região, e de onde a ideologia do Império se irradiava. Lugar de peregrinação à Deusa Ártemis. Havia ourives que fabricavam nichos de prata da Deusa. Era a igreja mãe da Ásia Menor.

Esmirna Ap 2,8-11

O Primeiro e o Último, aquele que esteve morto, mas voltou à vida (2,8b).

Cidade portuária no Mar Egeu. Havia rivalidade entre Éfeso e Pérgamo. Desde o começo do II séc., havia um templo dedicado a Roma. Por sua fidelidade ao Império era chamada de “fiel”.

Pérgamo Ap 2,12-17

Aquele que tem a espada afiada de dois gumes (2,12b).

Desde 133 a.C., era a capital da província romana da Ásia. Havia um altar dedicado a Zeus. Nos jogos, banquetes, tribunais, ganhava-se uma pedrinha branca. Famosa por sua indústria de pergaminho.

Tiatira Ap 2,18-29

Aquele que tem olhos de fogo e pés de bronze (2,18b).

Cidade menor, sem valor administrativo e militar. Os artesãos formavam corporações. Havia nela um centro religioso dedicado ao Deus Sol, que se tornou depois culto ao imperador.

Sardes Ap 3,1-6

Aquele que tem os sete Espíritos e as sete estrelas (3,1b).

Cidade de artesãos têxteis de lã e algodão. Vivia de saudades de um período glorioso. A história conta que foi invadida e destruída duas vezes por falta de cuidado dos habitantes.

Filadélfia Ap 3,7-13

O Santo, o Verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi para abrir e fechar (3,7b).

A mais nova das sete cidades. Destruída várias vezes por terremotos. Cidade romanizada, mudava de nome segundo o imperador. No final do século I, retomou o antigo nome que significa “fraternidade”.

Laodiceia Ap 3,14-22

O Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus (3,14,b).

Cidade rica, conhecida por seus bancos, indústria de linho e escola de medicina. Destruída por um terremoto, não aceitou ajuda na reconstrução. Isso gerou na população sentimento de autossuficiência.

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Positivo

Negativo

Alerta

Promessa

Perseverança. Sofre por causa do nome de Jesus. Não suporta os malvados e desmascarou os mentirosos.

Abandonou o primeiro amor.

Converter-se. Caso não fizer isso, vai remover o candelabro de sua posição.

Comer da árvore da vida que está no paraíso de Deus (22,2).

Tribulação, pobreza, infiltração da ideologia romana e judaica.

Não tem nada de negativo.

Não ter medo de sofrer. Mostrar-se fiel até a morte.

A vitória sobre a segunda morte (21,8).

Segura firme o nome de Jesus, também na perseguição.

Participa dos banquetes em honra aos ídolos. Infiltração dos nicolaítas.

Converter-se, pois venho a te combater com a espada da Palavra.

O maná escondido, uma pedrinha branca onde está escrito um nome novo (19,12).

Amor, fé, dedicação e perseverança.

Infiltração de doutrinas idolátricas e da ideologia imperial.

Segurai firmemente vossa fé.

Um cetro de ferro e a estrela da manhã (12.5; 22,16).

Algumas pessoas que não sujaram suas vestes.

O negativo é maior. Parece viva, mas está morta.

Converter-se, vigiai, pois venho como um ladrão.

Uma veste branca e nome escrito no livro da vida (6,11; 20,15).

Comunidade pobre, mas fiel e perseverante.

Nada de negativo.

Venho logo, segura firme!

Farei dela uma coluna do templo; terá o nome escrito na Jerusalém celeste (22,2ss).

Nada de positivo. Não é nem fria, nem quente, está para ser vomitada.

Autossuficiência. Rica, não precisa de ninguém!

Comprar ouro purificado, cobrir a nudez, botar colírio nos olhos.

Estar sentado comigo no trono do meu Pai (20,4).

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Percebemos que a caminhada das sete comunidades não difere da nossa. Eram pequenas comunidades dentro do Império Romano, ensaiando um projeto alternativo de vida. As dificuldades encontradas eram muitas, seja no seu interior, seja vindas de fora. O título dado a quem escreve a carta e a promessa final tem o objetivo de animar e alimentar a esperança. O corpo da carta é um convite para fazer uma avaliação e, se necessário, converter-se. As cartas são um alerta sobre os perigos de sedução embutidos na ideologia do Império, e, ao mesmo tempo, um convite a perseverar na caminhada. Vamos fazer uma experiência. Se nossa própria comunidade recebesse uma carta, qual seria seu conteúdo?

Dinâmica • Formar grupos por proximidade de lugar ou comunidade. • Cada grupo escreve uma carta à sua comunidade no mesmo esquema das cartas do Apocalipse. • Ler em plenário. • Concluir com um momento de oração.

Estudo pessoal ou em grupo, a ser realizado em casa, entre um encontro e outro. • Ler o Anexo II sobre os símbolos e, quando houver dúvidas, anotar para perguntar no próximo encontro.

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3o E N C O N T R O 3ª palavra-chave

Revelar

1 Recolher o trabalho de casa Dinâmica • Com a ajuda de dona Maria (bola que passa de mão em mão) lembrar alguns dos símbolos presentes no Livro do Apocalipse. • Perguntar se existem dúvidas e eventualmente esclarecê-las. • Aprofundar o valor dos símbolos com a ajuda do Anexo II.

2. Alimentar a esperança O Trono Para entender o Livro do Apocalipse, é importante conhecer um pouco o mundo simbólico da época em que foi escrito. Cada época, cada povo tem seus símbolos. Também nós, hoje, temos nossos símbolos. Lembrando isso, vamos nos aproximar dos capítulos 4 e 5. Dinâmica • Ler o capítulo 4, de tal modo que cada pessoa leia um versículo, e os cânticos sejam lidos em conjunto. • Uma pausa de silêncio para cada pessoa anotar o que mais lhe chamou atenção: – Quais as imagens usadas para descrever essa visão? – De onde foram tiradas? – Tudo converge para um centro, qual é este centro? • Partilha das descobertas.

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O profeta João é convidado a subir e olhar os acontecimentos da história. Esta lhe é apresentada em forma de visões. Nesta primeira visão, o centro é o trono onde Deus está sentado. O conjunto dos símbolos usados tem a finalidade de apresentar algo de majestoso, de criar um impacto naquele que vê, lê, ouve. Tudo é proposital! Por quê? O autor quer alimentar a esperança das comunidades perseguidas. O impacto, o majestoso, a grandiosidade do trono é para contrapor-se ao trono de César. A experiência que tinham era que o imperador, a partir de seu trono, dominava a história. A visão dá a entender que ele parece o senhor da história, mas não é. O senhor da história é “Aquele-que-era, Aquele-que-é, Aquele-que vem”. Deus conosco. A visão do trono nos fala do julgamento de Deus. Ele tem nas mãos a história e vai julgá-la. A memória do Primeiro Testamento é o pano de fundo de toda a visão: o nome de Deus (Ex 3,14-15), a visão de Isaías (Is 6,3). Nós mesmas/os podemos encontrar outras. Os quatro seres vivos foram, mais tarde, vinculados aos quatro evangelistas: o leão a Marcos, o touro a Lucas, o homem a Mateus e a águia a João.

O Cordeiro Dinâmica • Ler o capítulo 5, seguindo a mesma dinâmica aplicada no estudo do capítulo 4. Depois de olhar o trono, somos convidadas/os a olhar para o livro que está na mão direita de quem está sentado no trono. É um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos, e ninguém consegue abri-lo.

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O livro simboliza a história. Ninguém consegue abri-la. É dizer: a história é como um carro desgovernado, ninguém é capaz de conduzi-la, de tomar-lhe a direção. A história também está fora do controle. Dentro dela, as comunidades são como folhas embaladas pelo vento. Estão perdidas, sem rumo, e, por isso choram e se desesperam. Mas, de repente, aparece alguém, um cordeiro imolado de pé. É Jesus ressuscitado que carrega os sinais da cruz. Ele tem poder de abrir o livro, recebendo a missão de conduzir a história. Como na visão do trono, também na visão do cordeiro estão presentes imagens do Primeiro Testamento: Ex12,1-14; 19,6. Estes dois capítulos formam o pano de fundo de todo o livro. O símbolo do trono reaparece ao longo de todo o livro: 7,9.11; 8,3; 12,5; 19,4; 20,11.12; 21,3.5; 22,1.3. Assim também a imagem do cordeiro: 6,1.16; 7,10.17; 12,11; 14,1-4; 15,3; 19,7-9; 21,9-14. As visões do trono e do cordeiro estão cheias de aclamações, de hinos. Parecem estar numa celebração. É isso mesmo! Celebram Deus como autor e condutor da história. Celebram também Jesus como executor da história, pois realizam o Projeto de Deus. As celebrações evocam acontecimentos do passado, em queDeus esteve presente em favor dos empobrecidos, de seu povo. Essa memória assegura que Deus continua presente, agindo em favor do seu povo perseguido e tentado pelo poder imperial. As aclamações não somente evocam o passado, ajudam o povo das comunidades a ler e interpretar seu presente, a realidade sofrida do seu cotidiano. As celebrações alimentam a esperança, pois tiram o véu dos acontecimentos e testemunham que a história não saiu dos trilhos, mas está nas mãos de Deus, que deu a Jesus o poder de conduzi-la. No livro do Apocalipse, numerosos são os cânticos. Parece que João já conhecia o ditado: quem canta seus medos e males espanta.

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Na sequência, apresentamos mais textos do Apocalipse. Em casa, vocês podem ler e colocar um título em cada um deles. Ap 4,4-11; 5,8-14; 6,9-11; 7,9-17; 8,2-5; 11,15-18; 12,10-12; 14,2-3; 14,6-13; 15,2-8; 16,5-7; 18,1 até 19,8; 21.3-7. Acabamos de dizer que as aclamações ajudavam o povo a interpretar sua história. Como essas duas visões, com suas aclamações, nos ajudam a interpretar nossa história, hoje? Estudo pessoal ou em grupo, a ser realizado em casa, entre um encontro e outro. • Ler Ap 6 a 11 e anotar: • O que mais chamou nossa atenção; • As dúvidas.

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4o E N C O N T R O

4ª palavra-chave

Discernir

1 Recolher o trabalho de casa Dinâmica • Partilhar, dois a dois, o que chamou atenção na leitura do Apocalipse 4 a 11. • Esclarecer as dúvidas.

2 Estrutura do Livro do Apocalipse Ter uma visão de conjunto do Livro do Apocalipse pode ajudar-nos a entender melhor estes capítulos. Para desenvolver este momento usar o Anexo III. Sugerimos que se apresentem somente os capítulos 1 até 11. O número sete aparece repetidamente: sete selos, sete trombetas, sete anjos, sete ais. Como já vimos, não podemos tomar tudo ao pé da letra. Não podemos contar etapas de meses ou anos, tentar procurar neles fatos e acontecimentos. É bem verdade que a linguagem nos recorda os acontecimentos do Êxodo e das pragas. Ao escrever desse jeito, João quer nos envolver na história. Imperadores, povos, grandes e pequenos, ninguém é neutro. Todas/os estão nesta grande luta. É a luta entre o Reino e o antirreino, entre justiça e injustiça, entre morte e vida. Imaginemos um grande estádio 19


em que não existam espectadores para assistir ao jogo da história, porque todas/os são atuantes nele. Estamos em campo, jogando a favor do Projeto de Deus, o projeto de vida ou de morte, ou contra ele. Neste estádio, neste jogo, não há espectadores. A neutralidade não é possível.

3 A visão no céu: a mulher e o dragão Dinâmica 1. Ler Apocalipse 12,1-18, duas pessoas: narrador e voz do céu. 2. Em silêncio, reler o texto. 3. Em duplas, anotar: – as personagens; – a força da mulher; – a força do dragão; – o que as personagens querem; – o que elas conseguem. 4. Plenário em mutirão. A visão no céu é grandiosa. Apresenta dois sinais: a mulher grávida prestes a dar à luz e o dragão cheio de raiva. É um exemplo do pensamento apocalíptico: a história que se desenvolve na terra é uma revelação da história que se desenvolve no céu, encerrada misteriosamente no Plano de Deus. A visão no seu conjunto evoca Gn 3,15: a luta que desde sempre existe entre a mulher e a serpente, entre o bem e o mal, entre a vida e a morte, entre o Projeto de Deus e o Projeto dos impérios. Na mulher, podemos enxergar: Eva, o Povo de Deus, Maria, a mãe de Jesus, as Comunidades de ontem e de hoje. Ela está grávida. Na hora de dar à luz, vive o momento de sua maior força e de sua maior fragilidade. Força: pela vida nova que está para gerar. Fragilidade: pois está toda voltada para a criança que está para nascer.

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O dragão é a antiga serpente que se alimentou na sede de poder ao longo dos séculos e se tornou um dragão espumante de raiva, pois sua sede de domínio é constantemente ameaçada pelos grupos e pelas comunidades fiéis aos projetos de vida. Ele representa o poder do mal, a morte e as instituições que se fazem absolutas e por isso oprimem a vida. É uma luta ímpar, pois ele é forte a tal ponto que uma balançada do seu rabo derruba uma terça parte das estrelas. Ela é frágil, toda voltada a doar vida. O dragão está diante da mulher, pronto para devorar a criança, logo que nascer. Mas Deus toma posição. Defende a criança e salva a mulher dando-lhe asas para voar ao deserto. A terra também toma posição. Abre-se para engolir a água da perseguição expelida da boca do dragão. Essa página é a descrição mais breve da vida de Jesus: nascimento, vida, paixão, morte e ressurreição. É o novo Êxodo. Deus protege seu povo e o liberta do dragão, tal como o libertou do faraó, antigamente. As comunidades de todos os tempos podem se espelhar na mulher. Elas estão grávidas de vida nova, prontas a dar à luz, mas o dragão as ameaça. Nessa luta desigual, nessa luta cotidiana, as comunidades não podem amolecer. Têm que estar firmes, manter viva a esperança. Deus está do seu lado, e a terra virá em seu socorro. Proclamar juntas e juntos Apocalipse 12,10-12.

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4 A visão na terra: as bestas Dinâmica 1. Escolher, com antecedência, duas pessoas, de modo que elas possam se preparar. 2. A primeira lê Apocalipse 13,1-10 e faz um breve resumo com suas próprias palavras. 3. A segunda lê Apocalipse 13,11-18, e também faz um breve resumo com suas palavras. 4. Fazer um cochicho para levantar o que mais chamou a atenção. 5. Plenário. Do céu, a visão se desloca para a terra, na beira da praia. O dragão, bicho do céu, passa seu poder a bichos da terra. No capítulo 12, a visão tira o véu da realidade universal. O capítulo 13 tira o véu de realidades históricas perto das comunidades. O autor pede-nos discernimento para descobrir quem é a besta-fera. Para as comunidades daquele tempo era, o Império Romano. E hoje? Em Apocalipse 13,1-10, a besta-fera vem do mar. O mar, para os antigos, simbolizava o lugar onde habitava tudo o que era ruim, que ameaçava a humanidade. A besta era horrorosa e animalesca, como já dizia o profeta Daniel (Dn 7). O Império Romano, através do poder econômico, político e militar, exercia sua dominação absoluta sobre os povos conquistados. Em Apocalipse 13,11-18, a besta vem da terra e tem aparência de cordeiro. É uma besta-fera camuflada. Até faz dublagem e tem voz de cordeiro. É alusão ao sistema de propagação do Império, à pressão ideológica e econômica exercida sobre as comunidades. Representa a propaganda, a ideologia e a idolatria através da divinização do imperador. O autor nos pede discernimento e oferece uma indicação clara para reconhecer o rosto do dominador: ele tem o número de 666.

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Esse número é encontrado somente duas vezes na Bíblia. Está aqui e em 1Rs 10,14, sempre indicando acumulação de bens através da exploração e dominação. (Sobre a simbologia do número, ver no Anexo III). Nós também somos convidadas/os a discernir as marcas da besta-fera hoje. Marcas que geram multidões de excluídos. Somos chamados a discernir a voz da propaganda, da ideologia que convida à idolatria. Temos essa visão, clara assim como autor do Apocalipse? Conseguimos discernir entre a verdade da história dos poderosos e a verdade da história de Deus? Estudo pessoal ou em grupo, a ser realizado em casa, entre um encontro e outro. • Ler Apocalipse 14 a 20 e anotar: • Quem pertence ao exército do cordeiro? • Um símbolo que mais chama a atenção. • As dúvidas.

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5o E N C O N T R O

5ª palavra-chave

Celebrar é sonhar 1 Recolher o trabalho de casa Dinâmica • Em mutirão verificar: – O exército do cordeiro; – Os símbolos. – Esclarecer as dúvidas. • Para aprofundar, sugerimos que se aproveite o 2º roteiro do Anexo II, isto é, os capítulos 12 até 22

2 Celebrar a derrota do Império: “Caiu! Caiu! Caiu!” Dinâmica • Ler Apocalipse 18 de maneira celebrativa: – Uma pessoa lê as partes de narração; – Todas/os leem as partes entre aspas; – Iniciar e terminar com um refrão. • Ver o texto mais de perto. Em duplas, ler de novo o texto e responder às seguintes perguntas: – Quem chora pela queda do Império? – Por que choram? – Qual é o convite que as comunidades recebem? Por quê? • Plenário.

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Vamos ver de perto como este capítulo pode ser dividido. Podemos dividir Apocalipse 18,1-24 da seguinte forma: • 18,1-3: Anúncio da queda de Babilônia O poder romano, que tanto sofrimento havia gerado, está para cair. O tempo da libertação está próximo. Deus mesmo se encarrega disso: sua ira se direciona ao imperador romano que se apresenta como ser divino, atingindo o lugar onde ele se assenta e profere suas palavras de morte. • 18,4-8: Convite a abandonar Babilônia Ouve-se outra voz. Ela convida o povo a sair da cidade, a tomar distância, a não compactuar. A decisão de sair, tomar distância, é o último ato da prática cotidiana, que levou a comunidade cristã a não compactuar com o poder, o que lhe granjeou perseguição. A mesma voz convida a retribuir o mal que ela espalhou. Na realidade, Babilônia-Roma vai colher o que semeou. • 18,9-20: Lamentação sobre Babilônia e seus parceiros A lamentação é, na verdade, um canto fúnebre: Babilônia já caiu, foi julgada e condenada! A ruína da grande cidade é associada à ruína de seus parceiros, reis, mercadores, que compactuaram, se submeteram ao poder do Império, pagando-lhe tributos e levando-lhe ricas mercadorias. Agora choram, lamentam-se. Vendo a ruína da cidade, choram sua própria ruína. • 18,21-24: Julgamento e queda da Babilônia Um anjo lança ao mar uma pedra, simbolizando a ruína da cidade. A seguir, a sua ruína é cantada em imagens. Um refrão marca o texto: num só dia, numa hora só! (vv. 8.10.17.19). É Deus que julga a causa das vítimas dos poderes que se fizeram divinos, tornaram-se ídolos. O julgamento será de repente, num só momento. 25


A descrição da ruína é acompanhada pela descrição das riquezas obtidas através do culto à Babilônia. O choro não nasce por causa das vidas destruídas pela arrogância, mas pranteia as riquezas perdidas. A queda da cidade arrasta consigo os que se beneficiavam com seu comércio. O autor do Apocalipse, ao escrever este lamento fúnebre, ecoa a memória antiga. Relê a situação atual à luz das palavras do profeta Ezequiel, que cantou a derrota de Tiro (Jl 4,1-17; Ez 26-27). Todo o texto nos coloca numa sessão de julgamento. É Deus quem julga. É o Deus que ama a vida, o juiz. Estão em julgamento: o poder imperial, que se divinizou, e os poderes econômico, político e social, que se sujeitaram, servindo-o e o adorando com vista a obter benefícios. Está também em julgamento a comunidade em sua capacidade de discernimento: sair ou ficar na cidade? Resistir ou se omitir? Dinâmica • Ler o Canto de vitória (Ap 19,1-10) de forma celebrativa: – Uma pessoa lê as partes de narração; – Todas/os leem as partes entre aspas; – Iniciar e terminar com um refrão. • Tirar lições – Cochicho: o que nos chamou atenção? – Como alimenta nossa esperança?

3 Celebrar a vitória: sonhar juntos/as Acima, celebramos a derrota do Império. Agora, vamos celebrar a vitória das comunidades. Já percebemos quanto celebramos ao estudar o Livro do Apocalipse? É que o encontro com a Palavra de Deus é mais do que apenas estudo. Acima de tudo é vida. Celebrar a vitória é celebrar a utopia, pois temos a certeza da vitória, mas ainda estamos na luta. E, para perseverar, ficar firmes,

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ter criatividade, acreditar na novidade, é preciso sonhar. Um sonho pode ser falso, vencer na loteria... Um sonho pode ser verdadeiro. Porém é preciso não sonhar sozinhas/os, mas sonhar juntas/ os, como diz o canto: sonho que se sonha só pode ser pura ilusão, sonho que se sonha junto é sinal de solução. Então vamos sonhar juntas/os! Dinâmica 1o Momento • Convidar a ler Apocalipse 21,1 até 22,5 individualmente, pedindo que cada pessoa escolha a imagem que mais se aproxima do seu sonho de novo céu e nova terra. • Por enquanto, cada pessoa guarda seu sonho. 2o Momento • Animador/a: Sem dúvida, percebemos que o sonho do autor do Apocalipse é uma utopia nova feita de retalhos de sonhos antigos. É como uma colcha de retalhos. Vamos ver de perto alguns deles: – Nova Criação; – Novo Paraíso Terrestre; – Nova Aliança; – Nova Organização; – Nova Cidade; – Povo Renovado; – Deus tudo em todas e todos. • Com antecedência, preparar um símbolo ou um cartaz para cada ponto, deixando-se inspirar pela criatividade. Ao apresentá-los, usar as palavras do texto do Apocalipse e fazer referência aos textos do 1º Testamento, nos quais o autor se inspira. Colocar os símbolos ou cartazes num lugar bem visível para todos.

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• Convidar as pessoas a olharem os símbolos e se colocarem ao redor daquele que mais se aproxima do seu próprio sonho. • Formar grupos a partir dos símbolos para: – Partilhar seu sonho; – Encontrar um gesto que expresse o símbolo e que possa ser repetido por todas/os; – O refrão de um canto e – Uma palavra de ordem. 3o Momento: Celebrar • Animador/a orienta o plenário de modo celebrativo a partir dos trabalhos de grupo.

Conclusão • Avaliação. • Programar a continuidade da Escola Bíblica. • Organizar um momento recreativo.

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ANEXO I O Movimento Apocalíptico O Livro do Apocalipse é um dos livros da Bíblia mais procurados e, ao mesmo tempo, aquele que suscita sentimentos contraditórios: medo e esperança, curiosidade e temor, passividade e resistência. Muitas vezes, é usado para apavorar e, assim, controlar o povo. Entre nós, a palavra apocalipse evoca imagens e visões de catástrofes, guerras, fim do mundo. Geralmente é usada com sentido negativo. Tudo isso é alimentado por pregações, linha de pensamento fundamentalista e até por filmes. A palavra apo-kalipse vem da língua grega, e quer dizer: re-velação, tirar o véu, des-cobrimento e tem um sentido positivo. Uma coisa já se clareia à nossa frente: apocalipse não é para botar medo, mas para abrir os olhos, ler a realidade de modo crítico e alimentar a esperança. Mas, para que se torne isso mesmo, vamos tentar entender melhor, levando em consideração três aspectos: o contexto histórico, o movimento apocalíptico e o gênero literário apocalíptico.

1 Contexto histórico que gera o movimento apocalíptico No período monárquico da história de Israel (1000-586 a.C.), não existia o movimento apocalíptico, mas havia o movimento profético. Profetas e profetisas, voz do povo e voz de Deus, marcam o universo bíblico. Dificilmente, falamos de apocalípticos. Mas, ao lermos algumas passagens bíblicas, abre-se à nossa frente um horizonte pouco conhecido. Vamos ler estas passagens: Sl 74,9; Zc 1,4; 7,7; Ez 38,17; 1Mc 9,27. Elas expressam o sentimento de que Deus não fala mais porque não há mais profecia. Até dizem: a mão de Deus mudou. 29


No passado, falava ao povo. Agora já não fala mais (Sl 77,11; 99,6-8). Estas palavras expressam a saudade que o povo tem do passado. Mas, ao lado da saudade, outro sentimento está presente. A esperança de um retorno da profecia (Dt 18,18; Ml 3,23-24; Eclo 48,10; 1Mc 4,46; 14,41; Jl 3,1-2; Ez 39,29; Zc 12,10). O que aconteceu? O que mudou? O movimento profético nasceu e desenvolveu-se no período da monarquia (consultar o volume 3 desta série). O povo de Israel era uma nação, habitando numa terra libertada com a força de Deus, tendo um rei-irmão, organizado pela Lei que expressava Aliança e fé no único Deus. Neste espaço delimitado, que eram os reinos de Israel e de Judá, todos tentavam viver a Aliança, mas nem todos do mesmo jeito. A elite, ligada ao rei, interpretava a lei, legitimando seus privilégios. Diante dessa situação, surgiu o movimento profético popular, que se desligou dos profetas de corte (Am 5,18-20). O chão do movimento profético, tanto popular como oficial, tem, em comum, a mesma experiência humana: diante da situação, na qual se percebe que algo pode ser feito para mudá-la, toma-se posição. Os profetas da corte ficaram do lado do rei e das elites. Os profetas populares tornaram-se boca de Deus e boca do povo, resistindo contra os abusos de poder, interpretados como infidelidade à Aliança. Vamos olhar na linha do tempo, algumas datas para perceber quando o movimento profético popular assume a coloração apocalíptica (se possível usar a linha do tempo ou, então, desenhá-la no quadro). Depois da derrota do Reino de Judá, em 586 a.C., e depois do exílio sofrido por uma parte da população, o rei dos persas, Círo, permitiu o retorno à Judeia, em 538 a.C. A volta foi marcada pela perda do controle do espaço em que o povo vivia. Tanto os exilados que voltaram como os remanescentes que haviam ficado na terra, não eram mais uma nação, e sim uma etnia entre as outras, numa terra que não lhe pertencia mais, pois um estrangeiro

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adonou-se dela. Esta terra agora era do Império, era o imperador. E este era estrangeiro. Tinha outras leis, outros costumes, outras divindades. Os judeus não viviam num espaço nacional, no qual podiam intervir. Viviam num espaço internacional sobre o qual não tinham controle. A fé em Deus e a fidelidade à Aliança, no período da monarquia, eram vividas como engajamento numa realidade em que o povo e cada pessoa se sentia responsável. Diante do Império, experimentavam a incapacidade de controlar a situação, de mudar os rumos da história. Tudo fugiu do controle, parecia estar no caos. Os ricos, as elites conseguiam encontrar um jeito de conviver com o novo poder. Os pobres eram embalados pelos eventos. Ninguém tomava sua defesa, estavam sem recurso. Esta situação era chão fértil para os mais diversos movimentos. Se olharmos para os dias de hoje, compreenderemos melhor, pois vivemos numa situação de caos semelhante e assistimos ao proliferar de todo tipo de movimento de resistência. No medo, na insegurança, no caos, no abandono, no sentimento de impotência diante da força do Império que age como um rolo compressor, há pessoas que querem manter sua fé no Deus da vida, que acreditam na fidelidade de Deus à Aliança, que mantém viva sua esperança, que apostam em Deus que opera suas maravilhas na história em favor dos pequenos e empobrecidos. A realidade dessas pessoas e desses pequenos grupos torna-se o chão fértil do movimento apocalíptico. A fé no Deus da vida, a esperança da chegada do Reino e o amor ao povo sofrido são uma força criadora potente, pois do chão fértil da profecia desabrocha a apocalíptica.

2 Movimento apocalíptico O movimento apocalíptico é a continuidade do movimento profético. Como toda experiência humana, não surge de um momento para outro, mas tem um desenvolvimento. 31


• Época persa (538-333 a.C.) No pós-exílio, Isaías, 40-66, havia apresentado utopias que geraram muita esperança e consolação, mas que não conseguiram se concretizar numa forma de convivência social igualitária. No tempo de Neemias, 445 a.C., e, sobretudo, com Esdras, ao redor de 398 a.C., o poder era concentrado nas mãos da classe dirigente, escribas e sacerdotes, que conduzia o destino do povo aliada ao Império. Aos poucos, a profecia foi cooptada e silenciada. No entanto, a resistência encontrava novas formas de expressão. A voz dos pequenos e excluídos, que clamava e que buscava sobreviver, expressava-se nas novelas populares, na literatura sapiencial, nas peregrinações. As visões presentes nas profecias de Isaías 24-27; 34-35, de Ezequiel, de Zacarias e Joel criaram o ambiente do qual nasceu o futuro movimento apocalíptico. Também influenciaram a convivência com o povo persa, que levou os judeus a assimilarem elementos da sua cultura e religião. • Época helenista (333-63 a.C.) A penetração da cultura helenista nas tradições judaicas ameaçou o povo judeu em sua identidade. A exploração sistemática dos camponeses dentro do novo sistema econômico e político dos gregos alcançou níveis nunca vistos. O governo dos selêucidas, sobretudo de Antíoco IV (175-164 a.C.), ameaçou gravemente a sobrevivência da população. Na sua ambição por poder e na sua ganancia por dinheiro, conseguiu corromper a classe sacerdotal de Jerusalém. Apoiado pelo sumo sacerdote Menelau e uma elite judaica ambiciosa, invadiu o templo, impediu o sacrifício perpétuo e introduziu a abominação da desolação (Dn 11,31). Começou um período de perseguição. Os sacerdotes que deviam ser os defensores do povo, tornaram-se seus perseguidores. O povo empobrecido é ameaçado agora em sua cultura e sua fé. É neste contexto que brota a revolta armada dos macabeus.

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A partir destes acontecimentos, as ideias apocalípticas se espalharam. Surgiram vários movimentos apocalípticos: dos essênios, que se retiraram no deserto de Qumrã, dos fariseus, dos visionários que falaram e escreveram, bem como de outros movimentos de resistência entre os pobres e oprimidos. • Época romana (63 a.C.-135 d.C.) A partir da época helenista, o movimento apocalíptico produziu várias obras literárias. No período romano esta literatura foi abundante, embora na Bíblia entrem somente o livro de Daniel e o Livro do Apocalipse. O período romano foi marcado pela absolutização e divinização do Império e do imperador. Um tempo muito crítico foi a época da primeira guerra judaica e destruição de Jerusalém (66-70 d.C.) e a segunda guerra judaica (135 d.C.). Nesse período, o movimento apocalíptico foi bastante forte nas comunidades cristãs. A dominação romana e seu absolutismo, a religião imperial e sua ideologia, ameaçaram a vida das pequenas comunidades, que se sentiam frágeis e impotentes ante o aliciamento e a cooptação romana, ante a perseguição que vez ou outra se desencadeava. A vida das comunidades, sua fidelidade necessitava ser sustentada. O movimento apocalíptico ajudava a tirar o véu que encobria a realidade. Ao fazer isso, sustentava a resistência e alimentava a esperança.

3 Gênero literário apocalíptico A literatura é o jeito que os movimentos encontram para expressar e divulgar suas ideias e ideais. Há várias maneiras de transmitir uma mensagem: poesia, cordel, narração, novelas, história em quadrinhos, etc. Na Bíblia, encontramos uma variedade de formas para anunciar a Boa-Notícia: história, narração, salmo, novela, provérbio, sabedoria, evangelho, cartas, e o apocalipse. Cada época, cada situação exige sua própria forma.

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Evangelho que quer dizer Boa-Nova. Apocalipse também é outro jeito de anunciar a Boa-Nova de Deus. Já dissemos que apo-kalipse quer dizer re-velação, des-vendar, des-cobrir. A realidade está encoberta pela ideologia, pela religião, pela propaganda, pelos sábios que estão a serviço do poder, mascarando a verdade. Em tempo de crise, culpabilizam o povo, os empobrecidos, até Deus. Apresentam quem está no governo como salvadores da pátria. Usam linguagem que amedronta. Apresentam um Deus vingador e castigador. Alimentam no povo utopias ilusórias. Os apocalípticos ajudam o povo a ter olhos penetrantes, olhos que enxergam o outro lado dos fatos, o lado que somente o olhar de fé pode enxergar. Esse olhar penetrante enxerga as causas externas da situação de crise e as causas internas do medo, da falta de visão e de fé. Ao re-velar a verdade da história, apontando as reais causas da crise, o apocalipse se torna Boa-Notícia. Poderíamos sintetizar a Boa-Nova que os apocalípticos anunciam da seguinte forma: Deus é o Senhor da história. A história não saiu dos trilhos, pois Deus a conduz. Os opressores se iludem, pensam ser os donos dos povos e do universo. Eles vão ser derrotados. Deus é o autor da história e realiza seu plano pela resistência e perseverança dos que lhe são fiéis. É mensagem de esperança, não de medo. Quem usa o Apocalipse para provocar medo, trai a Palavra de Deus. A Boa-Notícia, expressada em linguagem apocalíptica tem sua própria forma e suas próprias regras. Alguém que quer ser uma boa contadora de histórias tem que ser conhecedora desta arte. Da mesma forma, para ser um bom apocalíptico tem que ser conhecedor de três elementos e saber misturá-los com arte. 1. Dividir a história em etapas e situar o presente no conjunto. O objetivo do apocalíptico é ajudar o povo a situar-se no presente. Por meio de visões, transporta-se para momentos históricos do passado. Estando no passado, ele olha o futuro e descreve a história em etapas até a vitória final. Voltando para o passado e

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olhando para o futuro, ele situa o presente, fazendo da história uma história de salvação. O povo, as comunidades, escutando e lendo, situam-se: o momento de crise e de perseguição é parte da caminhada, é um momento, passará. Então a meta final, o plano de Deus vai se realizar. 2. Expressar tudo por meio de imagens, visões e símbolos. O mundo dos apocalípticos é outro mundo. Um mundo cheio de visões, animais estranhos, de símbolos, trombetas e pragas que se juntam, formando figuras. Tudo muito longe da nossa linguagem habitual. Mas qual é a finalidade de tudo isso? Podemos dizer que é uma linguagem em gíria. Só compreende quem é iniciado. Quem não é iniciado fica por fora. A linguagem dos apocalípticos é linguagem compreensível ao povo das comunidades em tempos de perseguição. Muitos dos símbolos e das imagens são tirados do passado, são do Primeiro Testamento. Encontramos mais de quatrocentos citações no Apocalipse. A ação maravilhosa de Deus no passado quando em favor de seu povo, é trazida para o presente, comunica a paz que vem de Deus, anima, conforta e dá coragem na luta. 3. Usar uma linguagem radical, sem meio-termo. Há uma doença dos olhos que só enxerga o mundo em duas cores: preto e branco. Quem tem esta doença é daltônico, seu mundo é sem cor, tudo é preto ou branco. É a doença dos apocalípticos. No fim do século I, a situação política era muito confusa. Lucas nos Atos dos Apóstolos, tinha apresentado o Império Romano como simpático aos cristãos. Paulo na Carta aos Romanos, parece dizer que devemos obedecer às autoridades constituídas (Rm.13,1-5). No meio das comunidades, havia diferentes posições: resistir radicalmente ou fazer o jogo de cintura. Havia muita confusão. Uma pergunta corria solta: quem era o culpado da situação? O Império ou somente alguns funcionários. O profeta João se insere na corrente apocalíptica que vinha desde Daniel e afirma: o Império é mau, pois tem a pretensão de ser o Senhor do mundo. Esses

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apocalípticos querem ajudar o povo a não ser ingênuo. Convidam a resistir diante da falsa propaganda que quer penetrar nas comunidades e que, ao assimilarem a ideologia do Império, servem de adubo a um sistema que é contrário ao Reino de Deus. Ler a história com os olhos da fé é um apocalipse. As comunidades surgem nos períodos históricos em que os valores que dizem respeito à vida são profundamente visados. Como elas vivem os valores do Reino, e são combatidos com violência. Impérios se absolutizam e divinizam em nome do poder e combatem as comunidades que se fundamentam na fé e apresentam caminhos alternativos. Uns, preocupados com seu próprio poder, riqueza, doutrina, introjetam a ideologia do Império e se adaptam à mentalidade envolvente da sociedade. Outros se sentem desafiados por esta agressão à vida. Geralmente, são minorias que assumem sua fraqueza e impotência diante do poder que os quer esmagar. Sua fé na vida, no Deus da vida, ajuda-os a elaborarem uma mística, uma espiritualidade que afunda suas raízes nos movimentos de resistência do passado, bebendo de sua seiva e gerando uma espiritualidade nova, capaz de resistir aos dragões de hoje.

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A N E X O II Símbolos Símbolo é uma palavra que, como muitas outras, herdamos da língua grega: sym-ballo significa juntar, associar. O seu oposto é dia-ballo que quer dizer separar. Daqui vem a palavra diabo, aquele que separa, divide. O símbolo é uma chave que nos ajuda a ler a realidade de uma maneira mais profunda, ler a realidade com os raios X. Sua força está na capacidade de evocar e desvendar, de acordar a criatividade. O símbolo junta dois elementos que se iluminam reciprocamente. Por exemplo, a cor branca é associada à paz; a cor vermelha, ao amor. Quando nós chamamos alguém de víbora, queremos dizer que essa pessoa é enganosa. É claro que isso depende muito da cultura, do clima, da região, da tradição e de outros fatores. O símbolo atua nas pessoas sem elas se darem conta. Basta pensar nos efeitos da propaganda. Por isso, ela sempre foi importante, porque ela faz passar sua ideologia através dos costumes, do comércio, da moda, da religião, dos cantos... Usando vários símbolos, pode ser elaborada uma visão. Vemos isso no Livro do Apocalipse. Isso nos dá um alerta: nunca se fixar num símbolo, nos particulares de uma visão, mas ir além, acordar a criatividade e perceber o que o símbolo, o conjunto de símbolos ou a visão querem evocar. A descrição de uma visão é usada para várias finalidades: comunicar uma experiência de modo que quem a escuta ou lê participa dessa experiência; comunicar esperança; ajudar a ler a realidade em profundidade. A origem dos símbolos presente no Livro do Apocalipse vem de três fontes: a natureza, a vida, a história do Povo de Deus. Às vezes, elas se misturam entre si. Por isso é difícil de catalogá-las. Para ajudar vamos oferecer umas pistas. 37


1 Elementos da natureza e do universo 1.1. Cores Cada povo dá as cores um sentido. No Egito o preto é sinal de esperança. Entre outros povos, o branco é sinal de luto. • Branco: vitória, glória, alegria, pureza (Ap 2,17). • Vermelho: sangue, fogo, guerra, perseguição, martírio (Ap 6,4). • Esverdeado: doença, cadáver que se decompõe (Ap 6,7). • Preto: fome, morte (Ap 6,5). • Púrpura, escarlate, vermelho vivo: luxo, dignidade real (Ap 17,4). 1.2. Números Na nossa linguagem treze é sinal de azar (vocês podem lembrar o valor que damos a outros números). 3 4

7

12 24 42

144 666

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plenitude, santidade, superlativo hebraico (3 x Santo; Ap 4,8; 21,13). os 4 cantos da terra; os 4 elementos do universo: fogo, água, ar e terra; sinal de plenitude e perfeição; é o número cósmico (Ap 4,6; 7,1; 20,8; 21,16). 3 + 4 = 7: plenitude, perfeição, totalidade. Encontramos 3,5 é metade de 7; um tempo, dois tempos, meio tempo é três anos e meio. É a duração limitada; o tempo controlado por Deus (Ap 1,4; 11,9; 12,14). 3 x 4 = 12: número da perfeição e da totalidade; pode indicar o povo perfeito (12 tribos, 12 apóstolos; Ap. 21,12-14). 12 x 2 = 24: os 24 anciãos; o povo do AT e do NT, a totalidade do povo de Deus (Ap.4,4). quarenta e dois meses, igual a três anos e meio, igual a 1.260 dias, metade de sete anos. Indica o tempo controlado por Deus (Ap 11,2; 12,6). 12 x 12 = 144: sinal de grande perfeição e totalidade (Ap 21,17). é o número da besta. Seis não alcançam sete, é a metade de doze, e isso por três vezes. Então é o máximo da imperfeição. Em hebraico e em grego cada letra tinha valor numérico. O


número de um nome era o total da soma do valor de suas letras (em hebraico e soma das letras de César-Nero dá 666; em grego a soma das letras de César-Deus dá 666; Ap 13,18). 1000 indica um prazo de tempo comprido e completo; encontramos o Reino de mil anos e outras combinações: 7 x 1000 = 7000; 12 x 1000 = 12000; 144 x 1000 = 144000 (Ap 20,2; 11,13; 7,5-8; 7,4). 1.3. Elementos da natureza Na gíria popular, usamos muito os símbolos da natureza, como, por exemplo: fulano tem saúde de ferro ou minha mãe é de ouro. • Sol e lua: a criação servindo ao povo de Deus (Ap 12,1). • Estrela: coordenador da comunidade (Ap 1,20). • Estrela da manhã: Jesus, fonte de esperança (Ap 2,28; 22,16). • Arco-íris: a aliança que Deus fez com Noé, a humanidade e o universo (Ap 10,1; Gn 9,12-17). • Mar: o caos primitivo, de onde vem a besta-fera, símbolo do mal (Ap 13,1; Gn 1,1-2). • Abismo: lugar debaixo da terra onde os espíritos maus ficam presos (Ap 9,2). • Água da boca da serpente: o vômito, o Império Romano (Ap 12,15). • Eufrates: região de onde costumavam vir os invasores, aqui, os Partos (Ap 9,14). • Cristal: clareza, esplendor, transparência, ausência do mal (Ap 4,6; 22,1). • Pedras preciosas: raridade, beleza, valor (Ap 21,19-20). • Pedra branca: usado pelo juiz no tribunal para declarar alguém inocente (Ap 2,17). • Ouro: riqueza (Ap 1,13). • Ferro: cetro de ferro, poder (Ap 2,27). • Palma: triunfo (Ap 7,9). • Duas oliveiras: personagens importantes, evocando uma visão de Zacarias (Ap 11,4; Zc 4,3-14).

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2 O mundo animal O mundo animal é muito presente na vida e, por isso, produz riqueza de significados: olhar de mãe coruja, forte que nem leão, esperto que nem raposa, (vocês podem lembrar outras gírias). Nesta secção, vamos colocar somente o capítulo na citação. Vocês completem, colocando a citação nos espaços vazios. • Dragão ou antiga serpente: poder do mal, Império Romano (Ap 12,__; Ap 12,9__). • Besta-fera, que sobe do abismo ou do mar: o imperador e o Império Romano (Ap 11,__; 13,__). • Besta-fera que sai da terra: o falso profeta que propaga o culto ao imperador (Ap 13,__). O dragão, a besta-fera do mar e da terra são uma caricatura da Trindade. O antiDeus, o antiCristo, o antiEspírito. • Pantera, leão, urso: evoca uma visão de Dn 7,4-6, indicando crueldade sem misericórdia (Ap 13,__). • Cavalos: poder do exército que tudo destrói (Ap 6,__). Lembra uma visão de Zacarias (Zc 1,8-10). • Cordeiro: imagem encontrada na saída do Egito (Ex.12,1-14) Aqui indica Jesus (Ap 5,__). • Leão, touro, homem, águia: os quatro seres vivos (Ap 4,__). Inspiram-se em Is 6,2 e Ez 10,14. Indicam os seres mais fortes que presidem ao governo do mundo físico; os quatro elementos que formam o ser humano: touro – instinto; leão – sentimento; águia – intelecto; homem – rosto. Os quatro juntos formavam o ser mitológico da Babilônia chamado Karibu ou Querubim, e a Esfinge do Antigo Egito. • Águia: imagens usadas para indicar proteção (Ap 12,__; Ex 19,4; Dt 32,11). • Gafanhotos: invasores estrangeiros, os partos (Ap 9,____); as pragas do Egito (Ex 10,1-20); a visão de Joel que fala de gafanhotos com aspecto de cavalos (Jl 2,4). • Escorpião: perfídia, traição (Ap 9,__). Assim o livro da Sabedoria descreve o Êxodo (Sb 16,9).

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• Cobra, serpente: poder de morte (Ap 9,__). • Sapo: animal impuro, símbolo persa da divindade das trevas (Ap 16,__); Lv 11,10-12; as pragas do Egito (Ex 7,26). • Chifre: poder, em particular do rei (Ap 5,__). • Asas: mobilidade, velocidade (Ap 4,__). Evoca Ez 1,6-12.

3 A vida, as coisas da vida, as instituições Como na secção acima, vamos colocar somente o capítulo nas citações, vocês completem com os versículos nos espaços vazios. 3.1. Corpo • Cabelos brancos: símbolo da eternidade (Ap 1,__). • Olhos brilhantes: símbolo da ciência divina, capacidade de penetrar na realidade (Ap 1,__). • Pés de bronze: firmeza, estabilidade (Ap 1,__). • Mão direita: símbolo do poder; evoca a ação de Deus no Êxodo Ap 1,__). • Mulher: as comunidades em luta; o Povo de Deus na história (Ap 12,__). • Filho da mulher: Messias, Jesus (Ap 12,__). Evoca Gn 3,15. • Prostituição: infidelidade, idolatria (Ap 2,__). • Virgem: quem rejeita a idolatria (Ap 14,__). • Noiva, esposa: a comunidade, Povo de Deus (Ap 19,__; 21,2.____). • Casamento do cordeiro com a noiva: chegada do Reino (Ap 19,__; 21,__; Is 62,5). 3.2. Coisas da vida • Túnica longa: a roupa simboliza a realidade profunda das pessoas. Aqui o sacerdócio (Ap 1,__; Ex 28,4; Zc 3,4). • Linho puro: a conduta justa dos cristãos (Ap 15,__; Ap 19,__). • Alfa e Ômega: primeiro e último, o princípio e o fim (Ap 1,__; 21,__; 22,__).

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• • • • •

Chave: poder de abrir e fechar (Ap 3,__). Livro: o plano de Deus para a história humana (Ap 5,__). Selo: segredo (Ap 5,__). Foice: imagem do julgamento divino (Ap 14,__). Trombetas: seu toque anuncia os acontecimentos do fim dos tempos (Ap 8,__). • Carimbo, sinal, marca: marca de propriedade, de proteção (Ap 7,__; 13,____). • Balança: escassez de comida, custo de vida (Ap 6,__). 3.3. Jerusalém e o Templo • Candelabro de ouro: o Povo de Deus, as comunidades (Ap 1,__). • Incenso: a oração dos santos que sobe até Deus (Ap 5,__; 8,__). • Coluna: firmeza e lugar de honra (Ap 3,__). Evoca as colunas do templo (1Rs 7,15-22). • Templo: coração de Jerusalém, cidade santa, Povo de Deus (Ap 3,__). • Monte Sião: lugar onde se encontra o templo, o trono de Deus (Ap 14,__). • Nova Jerusalém: o Povo de Deus finalmente reconciliado (Ap 3,__; 21,__). 3.4. Império Romano • Trono: majestade, domínio (Ap 1,__). Evoca o julgamento divino anunciado por Daniel (7,9.14). • Espada afiada: palavra de Deus que julga e castiga (Ap 1,__; 19,__). Imagem usada pelo profeta Isaías (49,2) e pelo Livro da Sabedoria (18,15). • Arco: guerra, terror, usado, sobretudo pelos partos (Ap,6,__). • Cinto de ouro: realeza Ap 1,__). • Coroa: poder do rei Ap 4,__). • Rei dos reis, senhor dos senhores: título do imperador romano dado a Jesus (Ap 1,__; 19,__).

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A N E X O III Estrutura do Livro do Apocalipse O Livro do Apocalipse é um texto difícil não somente porque é escrito com imagens, visões, linguagem longe de nós, mas também porque sua estrutura é muito complexa. Não tem um plano harmônico. Parece como um bordado realizado em momentos diferentes. Quem entende, ao virar o bordado do avesso, percebe os momentos em que ele foi realizado e as mãos que o realizaram. No Livro do Apocalipse, olhando suas costuras e suas cores, podemos perceber três momentos e, portanto três mãos. 1º) Ao ler atentamente os capítulos 4 a 11, notamos que o pano de fundo é o Êxodo. O autor interpreta a caminhada das comunidades, como um novo Êxodo, como havia feito Isaías Junior antes dele. É a parte mais antiga, provavelmente durante a perseguição do imperador Nero (64) ou na época da destruição de Jerusalém. 2º) Ao ler os capítulos 12 a 22, notamos que o pano de fundo muda, é o tema do julgamento: a história humana é lida como revelação do julgamento de Deus. É um novo período, o fim do governo de Domiciano (81-96). A ideologia romana era mais sutil e mais forte. Quem não se deixava corromper e resistia era perseguido de varias maneiras. Esses capítulos respondem à nova situação que exigia uma nova e mais profunda reflexão. Provavelmente, nos anos 90. 3º) Para dar ao livro um tom de carta afetuosa e de companheirismo no sofrimento, perseguição, resistência foram acrescentados os capítulos de 1 a 3. Um redator final acrescentou 1,1-3 e 22,6-21.

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Podemos agora olhar o livro no seu conjunto. Claro que esta não é a única estrutura possível. Há outras. O importante é que qualquer estrutura sugerida nos ajude a alimentar a esperança e espantar o medo. • 1,1-3: Porta de entrada Titulo e resumo do livro • 1,4 até 3,22: Carta as Sete Comunidades 1,4-8 Saudação inicial 1,9-20 Visão inaugural 2,1 até 3,22 As sete cartas às sete Comunidades • 4,1 até 11,19: 1o Roteiro – Deus Liberta o seu Povo 4,1-11 Visão do trono de Deus 5,1-14 Visão do cordeiro imolado, mas de pé 6,1 até 7,17 Abertura dos seis primeiros selos 6,1-8 O passado: os quatro primeiros selos 6,9-11 O presente: o quinto selo 6,12 até 7,17 O futuro: o sexto selo 6,12-17: Derrota dos opressores do povo 7,1-17: Missão do povo perseguido 8,1 até 10,7 Abertura do sétimo selo: visão de seis das sete pragas 10,8 até 11,13 Intervalo de silêncio (costura para o segundo roteiro) 10,1-8 Livrinho doce e amargo 11,1-13 Visão das duas testemunhas, Moisés e Elias 11,14-19 Sétima praga, que marca a chegada definitiva do julgamento de Deus • 12,1 até 22,5: 2o Roteiro – Deus Julga os Opressores do Povo 12,1-17 O passado: a luta entre a mulher e o dragão 13,1-14,5 O presente: os dois campos em luta – besta-fera e cordeiro 13,1-18 A besta-fera: o Império Romano 14,1-5 O cordeiro e seu exército: o povo das comunidades

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14,6-20,15

O futuro: Julgamento e condenação dos opressores do povo 14,6-13 Três anjos anunciam o que vai acontecer 14,14-20,15 O anúncio feito se realiza 14,14-20 1o anjo: chegada do julgamento 15,1-19,10 2o anjo: queda de Babilônia 19,11-20,15 3º anjo: derrota final do mal 21,1 até 22,5 A festa final da caminhada do Povo de Deus

• 22,6-21: Conclusão

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Referências

TUA PALAVRA É VIDA. v.. VII. São Paulo: Loyola–CRB. ROTEIROS PARA REFLEXÃO IX. Evangelhos de João e Apocalipse. São Leopoldo: CEBI MESTERS, Carlos; OROFINO, Francisco. Apocalipse de João Círculos Bíblicos. São Leopoldo: CEBI; São Paulo: Paulus. GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia: As comunidades cristãs a partir da segunda geração. v. 8. São Leopoldo: CEBI, São Paulo: Paulus.

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