DIREÇÃO ARTÍSTICA / COORDENAÇÃO-GERAL João Marques ADMINISTRAÇÃO / COMUNICAÇÃO / CONTABILIDADE / SECRETARIADO Emília Reis Fernandes ASSISTENTES DA DIREÇÃO ARTÍSTICA Ana Luísa Marques Vânia Oliveira COMISSÃO EXECUTIVA Hugo Mesquita Isabel Pereira Nelson Ferreira de Sá Paulo Leitão Rosa Quintela GESTÃO FINANCEIRA / CONTABILIDADE Maria da Luz Oliveira (Póvoa Serve) Luís Alberto Oliveira (Póvoa Serve) TEXTOS DE APOIO AO PROGRAMA Amandine Beyer – Nuova Staggione, concertos com vários instrumentos e inéditos de Antonio Vivaldi (concerto de 21 de Julho) António Chagas-Rosa – Serei só eu… (concerto de 19 de Julho) Bárbara Villalobos – Notas sobre Francisco António de Almeida, Domenico Scarlatti e Johann Sebastian Bach (concerto de 7 de Julho) Fundação Calouste Gulbenkian – Cedência de textos de apoio (concerto de 7 de Julho) Luísa Tender – Recital de 10 de Julho Michal Gondko – Musicus Famosissimus, um tributo a Johannes Ciconia (concerto de 18 de Julho) Paul Van Nevel – À la Recherche du Temps perdu (concerto de 20 de Julho) Serge Ollive – Sinfonia nº 4 de Gustav Mahler – uma reorquestração (concerto de 19 de Julho) VERSÃO DE TEXTOS POÉTICOS EM PORTUGUÊS Jorge de Sena – tradução para português de Hör' ich nur, de Richard Wagner (concerto de 19 de Julho) José Maria Maciel – versão em língua portuguesa de Das himmlische Leben (concerto de 19 de Julho) Ofélia Ribeiro – versão em língua portuguesa de Jauchzet dem Herrn, alle Welt, BWV Anh.160 (concerto de 7 de Julho) Os textos apresentados nesta publicação respeitam a norma ortográfica perfilhada pelos autores.
COMISSÃO DE HONRA SECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DA PÓVOA DE VARZIM ARCEBISPO PRIMAZ DE BRAGA PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PÓVOA DE VARZIM VEREADOR DO PELOURO DA EDUCAÇÃO E CULTURA DA CÂMARA M. DA PÓVOA DE VARZIM
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COMISSÃO DE HONRA ABERTURA DESAFIO BREVE MONOGRAFIA DA PÓVOA DE VARZIM INTRODUÇÃO AO PROGRAMA CALENDÁRIO Rui Vieira NERY Michel CORBOZ · CORO GULBENKIAN Luísa TENDER PAVEL HAAS QUARTET Fernando COSTA · João XAVIER QUARTETO VERAZIN Corina MARTI · Michal GONDKO · LA MORRA Luís CARVALHO · Alexandra MOURA · ORQUESTRA VERAZIN Paul VAN NEVEL · HUELGAS ENSEMBLE Amandine BEYER · GLI INCOGNITI MANIFESTAÇÕES PARALELAS I MANIFESTAÇÕES PARALELAS II MANIFESTAÇÕES PARALELAS III APOIOS INSTITUCIONAIS MECENATO APOIOS DIVERSOS APOIOS À DIVULGAÇÃO AGRADECIMENTOS ORGANIZAÇÃO
ABERTURA A cultura e a crise cruzam-se cada vez mais no discurso da governação: porque (hipótese mais provável) a cultura é vítima da crise; ou porque (caso muito raro) a cultura é privilegiada como instrumento de combate à crise; ou porque (hipótese mais sensata) as duas convergem numa plataforma que, salvaguardando o necessário equilíbrio, garante a ultrapassagem segura da crise e, portanto, o futuro sustentado da cultura. Sou dos que pensam que a cultura, na diversidade das suas expressões, oferece um imenso potencial de desenvolvimento, que nenhum gestor inteligente negligenciará ou ignorará. Disse até, em bons idos tempos, que gostaria de ver um projecto de governação eleito com base na proclamada paixão pela cultura – pelo que isso significaria enquanto expressão de um povo adulto e emancipado. E, como é sabido, não me canso de afirmar (creio que com a consequente coerência) que a Póvoa de Varzim tem na cultura um dos seus vectores estratégicos de desenvolvimento. Transpostos estes princípios para uma realidade que é difícil, e para um quadro legislativo que lhe acrescenta dificuldades quase intransponíveis, o que qualquer observador constata é que na Póvoa de Varzim, retirados os anéis que ocultavam a beleza dos dedos, estes se mantêm e, agora sem os adereços que neles se promoviam, surgem na sua elegância e plenitude originais. Dito por outras palavras: sacrificámos a quantidade das manifestações culturais à qualidade das mesmas; não podendo ter tudo, abdicámos do acessório para mantermos o essencial. Talvez esta cura de emagrecimento nos ajude, como comunidade, a valorizar o que verdadeiramente contribui para marcar a nossa diferença e, por essa via, reforçar a nossa identidade: é que nem tudo, no anterior festim de expressões culturais, gerava o retorno ambicionado, reforçando a marca da Póvoa como cidade da cultura. E, sem pretendermos nem admitirmos uma vivência elitista da cultura, convimos que o Festival Internacional de Música, até pela democratização que o ensino da música entretanto conheceu, é hoje uma proposta pragmática ansiada por públicos que, na sua diversidade, confirmam quanto foi valorizada, como marca da cidade, esta iniciativa de há 34 anos. Quero com isto dizer que o Festival Internacional de Música, como o Correntes D'Escritas, a Feira do Livro e outras expressões maiores dos hábitos culturais da nossa população, vão manter-se no cerne da vida do município, com os ajustamentos que tiverem de sofrer mas nunca sacrificando o essencial: a qualidade, que, no que ao Festival de Música diz respeito, é, de facto, a matriz de uma programação que não pára de se renovar.
José Macedo Vieira Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim (Julho de 2012)
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desafio Já passaram 34 anos desde a criação do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim. Um evento que nasceu para animar o verão e todos os que visitavam a Póvoa de Varzim. Ao longo de todos esses anos, o FIMPV foi ultrapassando obstáculos e conseguindo criar um público fiel, graças à qualidade dos executantes que vinham até nós. A par do FIMPV foi crescendo a nossa Escola de Música e daqui saíram alunos de excelência que vão realizando o seu sonho um pouco por todo o mundo. Escola que tem acompanhado o Festival através de uma riquíssima programação paralela. Perante tal cenário, chegámos ao ano de todas as dúvidas em que tudo é provisório, sem saber o que será o dia de amanhã. Assim, arriscamos a realização deste evento, fazendo o melhor que sabemos e podemos. Não sabemos o que será o próximo ano, não sabemos o que será o próximo mês… O que sabemos é que queremos continuar a contar com os nossos patrocinadores e com o nosso público. Este ano, lançámos o desafio aos jovens estudantes de arte, para a criação da imagem do Festival. Um Festival que, para além dos músicos consagrados, continua a dar lugar aos mais jovens e continua a ser um promotor da música de qualidade na região. É este evento que propomos todos os anos e assim vamos resistindo. O que nos dá esperança é o apoio acrescido de todos os patrocinadores e amigos do Festival. Esperemos que a Secretaria de Estado da Cultura continue a valorizar esta atividade com a colaboração e patrocínio que tem prestado até aqui. A programação meticulosamente trabalhada pelo Prof. João Marques é já garantia de qualidade e excelência habitual. Gostaria de deixar um agradecimento especial ao Professor Doutor Rui Vieira Nery que, ao longo dos tempos, tem sido uma mais-valia com a conferência de abertura do certame, verdadeira lição de conhecimento e prazer. Com os espaços dos espetáculos repletos de público, fica o desejo de fruição de momentos singulares vividos um pouco por todo o concelho da Póvoa de Varzim. Nesta nota introdutória, deixo o desafio de um Festival sempre renovado, apesar das incertezas que nos vão mitigando os sonhos mais prováveis. Esperemos que no próximo ano nos possamos encontrar num dos concertos do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim…
Luís Diamantino de Carvalho Batista Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim (Maio de 2012)
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BREVE MONOGRAFIA DA PÓVOA DE VARZIM i nte viagem às suas PÓVOA DE VARZIM é o nome da nossa cidade. Explicá-lo representa uma alica origens históricas ou mesmo pré-históricas pelo que sou tentado, ao iniciá-la, a recorrer à fórmula genesíaca: – No princípio... era a terra de VARAZIM, ignoto Senhor que a possuiu em tempo não i ção e lhe deu o nome. Alguns achados menos ignoto mas concerteza posterior à romanza l arqueoógicos, muito expressivos em Martim Vaz (hoje, zona desportiva) e menos na Junqueira e Vila Velha, informam-nos da presença e da acção do homem na antiguidade. Porém, o documento escrito ídentificador do nosso território e que o denomina – Villa Eurazini – tem a data de 953 e pertence ao cartulário da Colegiada de Guimarães designado por Livro de Mumadona. A terra e, sobretudo, o mar que a beja i sussurrante e, depois, se deixa amimar em profundo amplexo, despertaram na Idade Média o interesse económico de fidalgos, cavaleiros e eclesiásticos, ávidos de rendas, entre os quais se destaca a estirpe de D. Lourenço Fernandes da Cunha, sem dúvida, os mais produtivos colonizadores do nosso território. Os seus casais situavamse na parte norte, em uma área denominada já no séc. XIV por Vila Velha. Alguns desses casais pertenceram à Ordem Militar do Hospital e usufruíam o privilégio de «Honra» andando a terra registada nas Inquirições com o nome de Varazim dos Cavaleiros e, mais tarde, VARAZIM DE SUSÃO. Outra parte de VARAZIM, mais para o sul, era terra reguenga e os casais pagavam para o Rei tanto dos frutos da terra como do mar, pois havia no seu porto um interessante movimento de pesca. Foi, precisamente, a cobrança do imposto do pescado, dito navão ou nabão, disputado pelos mordomos régios e Senhorios de Varazim de Susão, que originou a intervenção do Rei a fim de acabar com a instabilidade no território, recuperar a renda da pesca e arrotear as terras do reguengo. Assim, em 1308, depois de arrolados os 54 casais de VARAZIM, mandou EI-Rei D. Dinis passar carta de Foral doando-lhes o reguengo de Varazin de Jusão com o encargo de aí fundarem uma PÓVOA; associarem-se em CONSELHO DE VIZINHOS com seu juiz eleito e darem-lhe, anualmente, um foro colectivo de 250 libras e os direitos de aportagem. Eis a origem da nossa terra e do nome que ostenta. A Póvoa de Varzim arranca para o desafio dos tempos voltados para a sua angra marítima que lhe garante a subsistência e havia de ser o primeiro motor do seu desenvolvimento e prosperidade. Desafio dos tempos... disse... para recordar os principais lances do evoluir histórico do nosso burgo. Em 1312, o Rei D. Dinis doou a Póvoa de Varzim a seu filho bastardo Afonso Sanches de Albuquerque e este, por sua parte, meteu-a no património do mosteiro de Santa Clara (1318) que acabara de fundar em Vila do Conde. O domínio do senhorio eclesiástico, exercido através da Abadessa e seus ministros, chegou a ser total e durou o melhor de duzentos anos. Ainda ele decorria quando D. Manuel mandou dar foral novo à Vila (1514) reformando o antigo na parte fiscal e provendo-o de mecanismos alternativos à jurisdição do mosteiro. Suspeita-se que estes foram accionados a partir de 1537, data em que as jurisdições do mosteiro são postas em arrematação e a dependência das justiças locais passaria para o desembargo do Paço e seu Corregedor na comarca do Porto. A pequena Vila da Póvoa, que não contaria mais de quinhentos habitantes, sente o ar benéfico que percorre o litoral do país, envolvido no vultoso tráfico das descobertas e conquistas, e assume a feição de burgo com a sua Casa do Conselho, Praça Pública e Pelourinho onde os Homens Bons da terra e do mar jamais se aquietarão em projectos destemidos. Um deles consistiu na emancipação religiosa da paróquia de Argivai criando-se a vigararia de Santa Maria de Varzim com sede na ermida da Mata que foi preciso ampliar e preparar para o efeito. Aí pregou e administrou o crisma, em 1560, o santo Arcebispo Frei Bartolomeu dos Mártires. De resto, o séc. XVI deu à terra aquela estrutura administrativa, social e religiosa que permitiu vencer algumas crises difíceis que o século seguinte lhe reservaria. Refiro-me, em particular, às onerosas questões territoriais com a Câmara de Barcelos. Por outras vicissitudes passou a terra como por exemplo a evasão quase total dos homens válidos: uns emigrados; outros absorvidos na marinhagem e outros na construção naval. Curiosamente nunca deixou de crescer, compensada quer pela fertilidade das
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suas mulheres como pela contínua entrada de braços. É na segunda metade do séc. XVII que se detecta a existência de uma pequena comunidade piscatória exclusivamente dedicada à pesca do alto para o negócio da salga que começa a desenvolver-se e a florescer. Mas é no século seguinte que a Póvoa de Varzim se vai transformar na maior praça de pescado do norte do país. Um autêntico exército de almocreves batia, diariamente, caminhos e veredas fazendo penetrar nas Províncias do interior o saboroso peixe da Póvoa. Os seus pescadores eram conhecidos em toda a costa como os mais laboriosos, expeditos e sabedores dos mares e o destemor com que enfrentavam a sua perigosa barra criou a figura legendária do «poveiro». Aumentadas as pescas, o tecido urbano ganha uma dimensão nova e criam-se zonas ribeirinhas de domínio, quase absoluto, da pescaria. O dinheiro entra com abundância no cofre das sisas; o comércio engrossa; a indústria da salga prospera e o bem-estar da população reflecte-se no levantamento de três edifícios religiosos: Matriz (1757), Lapa (1772) e Srª das Dores, esta iniciada em 1776 mas só concluída no século seguinte. Funda-se a Santa Casa da Misericórdia (1756) e o Corregedor Almada obtém para a Póvoa uma provisão régia (1791) que lança os fundamentos de uma nova urbe: Praça Pública unindo a parte alta, mais antiga, à parte ribeirinha; Casa da Câmara, quadrando o norte da Praça; Aqueduto de águas livres com seu tanque e chafariz na praça e uma «Caldeira» no mar para abrigo dos barcos. Embelezada a vila e protegido o trabalho não mais cessa de crescer e muitos a procuram, também, para o benefício dos «banhos do mar», Mal se vislumbra, ainda, o sucesso deste facto sócio-económico que iria fazer da Póvoa de Varzim, já na 2.a metade do séc. XIX, a grande estância balnear frequentada pela melhor fidalguia do aquém Douro. Nos seus belos salões misturam-se graves figuras da política, das artes e das letras com a burguesia fruste criada pela Regeneração e ourados «brasileiros» de torna-viagem. É a época do café-concerto e da tavolagem secreta que a ligação ferroviária Porto-Póvoa (1875) e a linha americana Vila do Conde-Póvoa (1874) vão animar consideravelmente. A pesca, os banhos do mar e o jogo constituem, agora, as bases do progresso da Póvoa de Varzim; o eixo da sua evolução económica e o centro de todas as paixões políticas. A actividade piscatória ancora-se, hoje, em seguro porto de abrigo; a praia de banhos equipa-se com modernas e atraentes estruturas; o jogo, regulamentado e oficial, concentra-se no seu monumental casino. A cidade da Póvoa de Varzim fixou-se como ponto capital da região norte.
Manuel Amorim Investigador da História Local (1986)
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INTRODUÇÃO AO PROGRAMA Foi há 34 anos que, a 11 de Julho de 1979, na Igreja Matriz da cidade, a empresa SOPETE inaugurou a primeira edição do seu Festival Internacional de Música da Costa Verde – Póvoa de Varzim, sob proposta do Prof. Sequeira Costa. É gratificante constatar de que modo o processo de sedimentação deste encontro anual viria a tornar-se estruturante para toda a região Norte, ao apresentar intérpretes reconhecidos internacionalmente, ao recriar músicas que o filtro do tempo consagrou como património de todos nós, e, não menos determinante, ao fomentar a criação da nova música portuguesa e contribuindo para tornar conhecidos do grande público jovens músicos de real valor. De forma acessível, mas sem nunca ceder ao populismo, num apelo sustentado ao conhecimento desenvolvido que devemos cultivar e acumular. O 34º FIMPV decorre num período de grave crise e profunda descrença a nível global. Vanessa Redgrave, guest director do Festival de Brighton 2012 dizia há meses que “[…] Temos de criar condições para um novo mundo se erguer a partir deste velho planeta em estilhaços – e é isso que as artes podem fazer.” A nossa programação 2012 contribuirá por certo para alargar horizontes e manter viva a confiança no futuro, através de estímulos à formação de novos artistas e de novos públicos, visando despertar, transmitir e partilhar valores. Iniciar-se-á com a sempre aguardada conferência do musicólogo Rui Vieira Nery, prosseguindo com agrupamentos e solistas reconhecidos nos mais qualificados palcos do mundo. Além do Coro Gulbenkian (sob direção de Michel Corboz), do Pavel Haas Quartet, do Huelgas Ensemble (direção de Paul Van Nevel) e de Gli Incogniti com a violinista Amandine Beyer, registe-se a estreia em Portugal do agrupamento La Morra, especialista em música antiga historicamente informada. Destaque também para alguns dos músicos portugueses mais influentes e respeitados, como a pianista Luísa Tender, o tenor Fernando Guimarães, o maestro Luís Carvalho e a soprano Alexandra Moura. E ainda os jovens João Xavier e Fernando Costa (galardoados com o Prémio Jovens Músicos 2011 da RTP Antena 2), bem como as duas formações residentes do FIMPV – o Quarteto de Cordas Verazin e a Orquestra Verazin. Prossegue o apoio à criação e divulgação da nova música portuguesa, desta vez com a apresentação de uma composição de António Chagas Rosa e a publicação em partitura impressa de oito obras encomendadas pelo FIMPV ou premiadas pelo Concurso Internacional de Composição da Póvoa de Varzim. À margem da programação nuclear, decorrerão as habituais manifestações paralelas, visando familiarizar sobretudo os jovens com a ambiência criativa e pedagógica do FIMPV. A realização da edição fica a dever-se aos patrocínios institucionais da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Secretário de Estado da Cultura / Direcção-Geral das Artes e Turismo de Portugal, e ao apoio dos media e importantes empresas (ao abrigo da Lei do Mecenato), a quem reconhecidamente agradecemos. Possa o nosso público usufruir destas propostas, justamente porque “[…] hoje, neste nosso mundo que se divide, é urgente […] acreditar na beleza e na necessidade de dela nos nutrirmos, para respirar acima das salas viciadas dos mercados financeiros. Especialmente agora, há necessidade de mais poetas, artistas, músicos, do que exegetas que, interminavelmente, glosam sobre o mundo que lhes escapa ou recusam confiar na beleza, porque não são capazes.” (Alain Duault)
João Marques Direção Artística e Coordenação-Geral do FIMPV
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CALENDÁRIO 6/7
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6ª FEIRA*21h45
4ª FEIRA*21h45
Museu Municipal da Póvoa de Varzim
Igreja da Lapa - Póvoa de Varzim
Rui Vieira NERY musicólogo
PAVEL HAAS QUARTET quart. cordas
Nos 75 anos da morte de Ravel: colorido impressionista, exotismo e nostalgia da infância
Pavel Haas (1899-1944) Leos Janacék (1854-1928) Bedrich Smetana (1824-1884)
Conferência
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Música Antiga SÁBADO*21h45 IGREJA MATRIZ da Póvoa de Varzim
Música de Câmara
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Novos Intérpretes 6ª FEIRA*21h45 AUDITÓRIO MUNICIPAL da Póvoa de Varzim
CORO GULBENKIAN agrup. vocal Charlotte MÜLLER-PERRIER soprano Fernando GUIMARÃES tenor Marc RAMIREZ contrabaixo Nicholas McNAIR órgão Michel CORBOZ direção musical Francisco António de Almeida (fl. 1722-52) Domenico Scarlatti (1685-1757) Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Fernando COSTA violoncelo João XAVIER piano Ludwig van Beethoven (1770-1827) César Franck (1822-1890) Sergei Rachmaninov (1873-1943)
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Recital de Piano 3ª FEIRA*21h45
Os agrupamentos residentes do FIMPV domingo*21h45 IGREJA ROMÂNICA DE S. PEDRO DE RATES
AUDITÓRIO MUNICIPAL da Póvoa de Varzim
QUARTETO VERAZIN quart. cordas Luísa TENDER piano Jean-Philippe Rameau (1683-1764) António Fragoso (1897-1918) Claude Debussy (1862-1918)
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Franz Schubert (1797-1828) Anton Webern (1883-1945) Johannes Brahms (1833-1897)
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4ª FEIRA*21h45
sábado*21h45
igreja românica de s. pedro de rates
igreja matriz da póvoa de varzim
LA MORRA agrup. vocal e instrumental Corina MARTI direção artística Michal GONDKO alaúde, guitarra medi-
GLI INCOGNITI orquestra barroca Amandine BEYER violino e direção
Música antiga
eval e direção musical “Musicus Famosissimus” – um tributo a Johannes Ciconia (ca.1370-1412), no 600º aniversário da morte
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Os agrupamentos residentes do FIMPV
Música antiga
musical “Nuova Staggione” – os concertos de Antonio Vivaldi (1678-1741) gravados em Rates em Setembro de 2011
MANIFES TAÇÕES PARALELAS
5ª feira*21h45 auditório municipal da póvoa de varzim
ORQUESTRA VERAZIN orq. de câmara Alexandra MOURA soprano Luís CARVALHO direção musical António Chagas Rosa (1960) Richard Wagner (1813-1883) Gustav Mahler (1860-1911)
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Música antiga 6ª FEIRA*21h45 igreja matriz da póvoa de varzim
HUELGAS ENSEMBLE agrupamento vocal Paul VAN NEVEL direção musical “Em busca do tempo perdido”: Alexander Agricola (ca. 1446-1506)•Guillaume de Machault (ca. 1300-1377)•Jacob Clement (ca. 1510-ca. 1556)•Johann Sebastian Bach (1685-1750)•Michelangelo Rossi (16011656)•Orlando di Lasso (15321594)•anónimos diversos
• Exposição de trabalhos premiados no concurso À Descoberta do Património Musical (Escolas do Ensino Básico e Secundário genérico e vocacional) átrio do Auditório / Escola de Música da Póvoa de Varzim (1 a 31 de Julho)
• Biblioteca Musical: exposição de equipamento e edições musicais átrio do Auditório / Escola de Música da Póvoa de Varzim (6 a 22 de Julho)
• Masterclasses: Miguel ROCHA, violoncelo (6 a 8 de Julho) António SALGADO, canto (7 a 9 de Julho) PAVEL HAAS QUARTET, música de câmara (10 de Julho)
• Concertos por docentes, alunos e exalunos solistas e classes de conjunto da Escola de Música da Póvoa de Varzim e premiados nos Concursos de Piano e Trompete da EMPV: 7, 8, 12, 14, 16, 17 e 22 de Julho Diana Bar, Igreja da Misericórdia e Auditório Municipal
• Estágio Pedagógico de Orquestra: direção musical de Luís CARVALHO (16 a 19 de Julho) • Outras exposições: Biblioteca | Museu Municipal | Posto de Turismo
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Rui Vieira NERY music贸logo
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Conferência 6ª FEIRA*21h45 Museu Municipal da Póvoa de Varzim
Nos 75 anos da morte de Ravel: colorido impressionista, exotismo e nostalgia da infância (duração: ca. 90 min)
Rui Vieira Nery nasceu em Lisboa em 1957 e iniciou os seus estudos musicais na Academia de Música de Santa Cecília, prosseguindo-os no Conservatório Nacional de Lisboa. Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa (1980), doutorou-se em Musicologia pela Universidade do Texas em Austin (1990), que frequentou como Fulbright Scholar e bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Professor da Universidade de Évora e da Universidade Nova de Lisboa, orientou um vasto número de mestrados e doutoramentos em universidades portuguesas, espanholas e francesas. Foi Director-Adjunto do Serviço de Música (1992-2008) e é Director do Programa Gulbenkian Educação para a Cultura (desde 2008), na Fundação Calouste Gulbenkian. Como musicólogo, é autor de diversos estudos sobre História da Música Portuguesa, dois dos quais receberam o Prémio de Ensaismo Musical do Conselho Português da Música (1984 e 1992), bem como de largo número de artigos científicos publicados em revistas e obras colectivas especializadas, tanto portuguesas como internacionais. Exerce também uma actividade intensa como conferencista, no plano nacional como em vários países da Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. Os seus temas de investigação incluem a problemática do maneirismo e do barroco na música ibérica e os processos de interpenetração cultural na música portuguesa, do vilancico à modinha e ao fado. É investigador do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança e do Centro de Estudos Teatrais da Faculdade de Letras de Lisboa. Como crítico e colunista musical, colaborou nos semanários Expresso e O Independente.
É colaborador regular da Antena Dois da Radiodifusão Portuguesa, para a qual foi autor, entre outros, dos programas Sons Intemporais e Matrizes, bem como, com Vanda de Sá, do programa Ressonâncias. Foi consultor musical da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, da Régie Cooperativa Sinfonia e da Fundação de Serralves. De Novembro de 1991 a Junho de 1992 foi responsável pela concepção do projecto artístico do Centro de Espectáculos do Centro Cultural de Belém. Entre Outubro de 1995 e Outubro de 1997 desempenhou as funções de Secretário de Estado da Cultura no XIII Governo Constitucional. Foi Comissário Nacional para as Comemoração do Centenário da República e Presidente da Comissão Científica da candidatura do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO) e é desde 2010 membro individual do Conselho Nacional de Cultura. É Académico Correspondente da Academia Portuguesa da História e foi condecorado em 2002 com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique por serviços prestados à Cultura portuguesa.
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© Rita Santos - Arte das Musas
CORO GULBENKIAN agrupamento vocal
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Michel CORBOZ direção musical
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Música Antiga SÁBADO*21h45 IGREJA MATRIZ da Póvoa de Varzim
Francisco António de Almeida (fl. 1722-52) 1. Justus ut palma florebit [s. d.] 2. Beatus vir [1735] 3. Magnificat [s. d.]
Domenico Scarlatti (1685-1757) Stabat Mater a dez vozes para coro, solistas e baixo contínuo [s. d.]
Johann Sebastian Bach (1685-1750) Jauchzet dem Herrn, alle Welt (BWV Anh.160) [1725]
(Concerto sem intervalo | duração: ca. 75 min)
Francisco António de Almeida (fl. 1722-52) 1. Justus ut palma florebit Justus ut palma florebit Sicut cedrus, quae in Libano est, multiplicabitur.
1. O justo florescerá como a palmeira O justo florescerá como a palmeira: multiplicar-se-á como o cedro que existe no Líbano.
2. Beatus vir Beatus vir qui timet Dominum in mandatis ejus volet nimis. Potens in terra erit semen ejus, generatio rectorum benedicetur. Gloria et divitiae in domo ejus, et justitia ejus manet in saeculum saeculi. Exortum est in tenebris lumen rectis, misericors et miserator et justus. Jucundus homo qui miseretur et commodat, disponet sermones suos in judicio; quia in aeternum non commovebitur. In memoria aeterna erit justus; ab auditione mala non timebit. Paratum cor ejus sperare in Domino, confirmatum est cor ejus, non commovebitur, donec dispiciat inimicos suos. Dispersit, dedit pauperibus: justitia ejus manet in saeculum saeculi; cornu ejus exaltabitur in gloria. Peccator videbit et irascetur, dentibus suis fremet et tabescet: desiderium peccatorum peribit. Gloria Patri et Filio Et Spiritui Sancto Sicut era in principio Et nunc et semper Et in saecula saeculorum Amen.
2. Feliz aquele Feliz aquele que teme o Senhor E nos seus mandamentos se compraz. Poderosa na terra será sua descendência a geração dos retos será abençoada riqueza e abundância haverá em sua casa sua justiça permanecerá para sempre. Ele brilha nas trevas como luz para os retos Ele é piedade, compaixão e justiça Feliz é o homem que tem piedade e empresta que conduz seus negócios com justiça porque jamais será abalado A memória do justo é eterna ele não teme as más notícias seu coração está seguro espera em Deus, seu coração está firme nada teme Confronta-se com seus inimigos Distribui aos pobres com fartura sua justiça permanece para sempre sua força se exalta para a glória O ímpio olha e se desgosta range os dentes e definha A ambição dos ímpios vai fracassar Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo como era no princípio agora e sempre pelos séculos sem fim Ámen.
3. Magnificat anima mea Dominum Magnificat anima mea Dominum, et exsultavit spiritus meus in Deo salutari meo. Quia respexit humilitatem ancillae suae: ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes. Quia fecit mihi magna qui potens est, et sanctum nomen ejus. Et misericordia ejus a progenie in progenies timentibus eum. Fecit potentiam in brachio suo: dispersit superbos mente cordis sui.
3. A minha alma glorifica ao Senhor A minha alma glorifica o Senhor. E o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador. Porque lançou os olhos para a humildade da Sua Serva; por isso, eis que todas as gerações, de hoje em diante, me chamarão Bem-aventurada. Porque fez em mim grandes coisas, aquele que é Poderoso: e cujo nome é Santo. E cuja misericórdia se estende de geração em geração, sobre aqueles que o temem. Manifestou o poder do Seu braço;
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Deposuit potentes de sede, et exaltavit humiles. Esurientes implevit bonis: et divites dimisit inanes. Suscepit Israel puerum suum, recordatus misericordiae suae. Sicut locutus est ad patres nostros, Abraham et semini ejus in saecula. Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto, sicut erat in principio et nunc et semper et in saecula saeculorum. Amen.
dispersou os orgulhosos nos pensamentos do Seu coração. Depôs do trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos; e despediu os ricos de mãos vazias. Tomou conta de Israel, Seu servo, lembrado da Sua misericórdia. Conforme tinha dito aos nossos pais, a Abraão e sua posteridade para sempre. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Ámen.
Domenico Scarlatti (1685-1757) Stabat Mater a dez vozes para coro, solistas e baixo contínuo
4. Stabat Mater Stabat Mater dolorosa Juxta crucem lacrimosa, Dum pendebat Filius.
4. […] Encontrava-se a mãe chorosa Junto da cruz Onde o filho agonizava, Encontrava-se a mãe chorosa.
Cujus animam gementem, Contristatam et dolentem, Pertransivit gladius.
Uma espada penetrou, A sua alma aflita, Contristada e dolorida.
O quam tristis et afflicta fuit illa benedicta Mater Unigeniti.
Oh! Como estava triste e aflita Esta mãe abençoada De um único Filho.
Quae moerebat et dolebat, et tremebat, dum videbat nati poenas inclyti.
Ela gemia e suspirava, Mãe piedosa, vendo Os sofrimentos do seu divino Filho.
Quis est homo, qui non fleret Christi matrem si videret in tanto supplicio?
Quem não choraria, Vendo a mãe de Cristo Num tal suplício?
Quis non posset contristari, Christi Matrem contemplari dolentem cum Filio?
Quem poderia, sem tristeza, Contemplar a mãe de Cristo Aflita, com os sofrimentos do seu filho?
Pro peccatis suae gentis vidit Jesus in tormentis et flagellis subditum.
Pelos pecados do seu povo Ela via Jesus sofrer os maiores tormentos Flagelado pelas chicotadas.
Vidit suum dulcem natum moriendo desolatum, dum emisit spiritum.
Ela viu o seu doce Filho Jesus Morrendo, desolado, Entregar a sua alma.
Eja Mater, fons amoris, me sentire vim doloris fac, ut tecum lugeam.
Ó mãe, fonte de amor, Faz-me sentir a violência das tuas dores Faz que eu chore contigo.
Fac, ut ardeat cor meum in amando Christum Deum ut tibi complaceam.
Faz com que o meu coração Se abrase de amor por Cristo, meu Deus, Para que eu possa agradar-lhe.
Sancta Mater, istud agas, crucifixi fige plagas, cordi meo valide.
Mãe Santíssima, grava profundamente, As chagas do Crucificado, No meu coração.
Tui nati vulnerati, Tam dignati pro me pati, poenas mecum divide.
Do teu filho ferido, Que se dignou sofrer por mim, Partilha comigo as penas.
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Fac me vere tecum flere, Crucifixo condolere, donec ego vixero.
Faz com que eu verdadeiramente chore contigo, E enquanto eu viver possa compadecer-me, das dores do Crucificado.
Juxta crucem tecum stare, et me tecum sociare in planctu desidero.
Junto da Cruz quero ficar contigo, E contigo unir-me livremente A teu luto.
Virgo virginum praeclara, Mihi jam non sis amara, Fac me tecum plangere.
Ó Virgem ilustre entre as virgens, Comigo já não ficas tão triste, Deixa-me chorar contigo.
Fac, ut portem Christi mortem, passionis fac consortem et plagas recolere.
Faz que eu traga comigo a morte de Cristo. Faz que eu partilhe as suas dores E venere as suas chagas.
Fac me plagis vulnerari, crucem hac inebriari ob amorem Filii.
Faz que eu venere as suas feridas, Inebria-me da Cruz E do amor do Teu Filho.
Inflammatus et accensus, per te, Virgo, sim defensus in die judicii.
Que eu seja defendido por ti, ó Virgem, De ser consumido pelas chamas, No dia do Juízo.
Fac me cruce custodiri, morte Christi praemuniri, confoveri gratia.
Faz com que eu seja protegido pela cruz, Fortalecido pela morte de Cristo, Sublimado pela graça.
Quando corpus morietur, Fac, ut animae donetur paradisi gloria.
Quando o meu corpo morrer, Faz que seja concedida à minha alma A glória do Paraíso.
Amen.
Ámen.
Johann Sebastian Bach (1685-1750) Jauchzet dem Herrn, alle Welt (BWV Anh.160) [1725]
5. Jauchzet dem Herrn, alle Welt
5. Exulte ao Senhor toda a terra
CHOR: Jauchzet dem Herrn, alle Welt, dienet dem Herrn mit Freuden! Kommet vor sein Angesicht mit Frohlokken, Alleluja!
CORO: Exulte ao Senhor toda a terra, sirvam o Senhor com alegria! Vinde à sua presença com júbilo, Aleluia!
CHORAL: Sei Lob und Preis mit Ehren, Gott Vater, Sohn und Heil'gem Geist, der woll' in uns vermehren, was er aus Gnaden uns verheißt, daß wir ihm fest vertrauen, gänzlich verlassen auf ihn, von Herzen auf ihn bauen, daß unser Herz, Mut, und Sinn ihm tröstlich sollen anhangen, drauf singen wir zur Stund: Amen, wir werdens erlangen, glauben wir aus Herzensgrund.
CORAL: Sejam louvados na sua glória, o Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo! Que se multiplique em nós, o que nos prometeu na sua graça, para que n'Ele acreditemos firmemente, e n'Ele confiemos totalmente, com todo o nosso coração, para que o nosso coração e os nossos sentidos a Ele se juntem com confiança. Assim cantemos nesta hora: Ámen, nós conseguiremos, acreditamos do fundo dos nossos corações.
SCHLUSS-CHOR: Amen. Lob und Ehre und Weisheit und Dank und Preis und Kraft und Stärke, sei unserm Gott von Ewigkeit zu Ewigkeit. Amen.
CORO FINAL: Ámen. Louvor, honra e sabedoria graças e louvor, força e poder, Ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Ámen (versão em língua portuguesa do texto “Jauchzet dem Herrn, alle Welt”: Ofélia Ribeiro)
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Francisco António de Almeida (fl. 1722-1752)
1. Justus ut palma florebit 2. Beatus vir (1735 3. Magnificat Durante o reinado de D. João V (1707-1750), Portugal viveu um dos seus momentos de maior riqueza e esplendor. A afluência do ouro do Brasil num país com um monarca particularmente devoto e a concepção absolutista do rei enquanto emanação do divino, determinaram um investimento em arte sacra, a consolidação de laços diplomáticos com Roma e a consequente italianização da cultura em Portugal que, na música, se manifestou na contratação de músicos italianos (compositores e intérpretes) e no envio de músicos portugueses para estudarem em Roma. Francisco António de Almeida foi um dos primeiros compositores a usufruir de uma dessas bolsas, tendo ido para Roma nos inícios da década de 1720 e aí permanecido até 1726, data em que regressou a Portugal. Nas primeiras décadas do século XVIII, Roma foi um centro pleno de vitalidade no qual se encontravam compositores que deixaram uma marca indelével na história da música, entre os quais Corelli, Caldara ou Pasquini. Almeida, por conseguinte, apreendeu os estilos musicais que aí se praticavam e que, na música sacra, oscilavam entre o estilo napolitano da ópera e da cantata, entretanto assimilados no campo religioso e constituídos por um encadeamento de árias, duetos, intervenções corais ou outras (no caso das missas, sem os recitativos), um marcado melodismo e pelo concertato e o stile antico, frequentemente com mais do que um coro e com baixo contínuo obligato ou ad libitum. Muitas das obras de Almeida perderam-se e das que chegaram até nós várias não têm datação conhecida. Da música sacra, o que subsistiu é constituído na sua maioria por motetes, bastante menos conhecidos que a sua obra-prima La Giuditta, oratória que se configura como uma ópera sacra com as características da música italiana da época, plena de melodias elegantes e atraentes inseridas em números memoráveis. Precisamente as obras que ouviremos hoje são os motetes Beatus vir, um dos poucos
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com data conhecida, composto em 1735 e Justus ut palma florebit, sem datação, e o Magnificat cuja data também se ignora, mas que partilham de muitas das características acima apontadas. Todas as obras são para solistas, coro e baixo contínuo, com secções internas nas quais muda o compasso, o andamento e o material temático. No entanto, o Magnificat, para dois coros, apresenta claramente um estilo misto entre moderno e antigo, em que o papel dos solistas é mais pontual no conjunto, se o compararmos com Beatus vir, em que lhes é dado maior espaço, linhas melódicas bastante melismáticas com vários ornamentos e, ainda, um contorno intervalar expressivo (saltos de sexta e sétima). Este uso expressivo dos intervalos também se encontra em Justus ut palma florebit (a quarta descendente afirmativa seguida de uma pausa enfática logo sobre a palavra “Justus”; ou o salto de sétima menor ascendente sobre a última sílaba de “palma”). No seu conjunto, estas três obras deleitam a audição pelo seu equilíbrio, delicadeza e requinte sedutores. Domenico Scarlatti (Nápoles, 26/10/1685 – Madrid, 23/07/1757)
4. Stabat Mater a dez vozes (s.d.) Domenico Scarlatti ficou imortalizado na história da música ocidental como um dos mais importantes intérpretes e compositores para cravo da sua época. O seu trabalho extremamente original no campo da sonata, de que deixou um legado de mais de 500 obras, tende a obscurecer a produção desenvolvida no campo da música vocal, tanto profana como sacra. No entanto, desde cedo se dedicou a este repertório, começando pela ópera e pela cantata, de que foi muitas vezes considerado um epígono do seu pai, Alessandro Scarlatti, o principal compositor italiano de ópera da sua época. A música sacra começou a ser composta com maior regularidade durante o período em que trabalhou em Roma (17091719), sobretudo a partir do momento em que ocupou os postos de mestre de capela do Marquês de Fontes, embaixador de Portugal em Roma, e da Capela Júlia no
Vaticano, depois de a rainha Maria Casimira da Polónia, ao serviço de quem esteve entre 1709 e 1714, ter deixado, por falência, a Cidade Eterna. É ao período romano que está atribuída a composição do Stabat Mater para dez vozes, embora a datação precisa seja efectivamente uma incógnita. Reconhecido como o seu contributo mais importante no domínio da música sacra, trata-se de uma obra para um efectivo pouco convencional de dez vozes (4 sopranos, 2 contraltos, 2 tenores e 2 baixos) com baixo contínuo sobre o texto da sequência para a festa de Nossa Senhora das Dores. Da escolha desse efectivo resulta uma textura de canto essencialmente contínua e por vezes densa (há sempre vozes activas, mesmo que outras estejam em pausa) o que, aliado ao profundo cromatismo de muitos dos números, claramente associado à expressão da dor, e a uma insistência nos ritmos sincopados e soluçantes, produz o efeito geral de um longo pranto que passa por vários estádios, reflectidos na escolha das melodias, dos estilos, dos andamentos ou da alternância de compassos. Apesar da forte componente melódica, em que é normalmente atribuída uma melodia a cada verso do texto, a obra apresenta claramente traços do stile antico e a imitação é por vezes muito intensa, com fugatos e fugas de que se destaca a de “Fac, ut animae donetur”, excelente exemplo do domínio que Scarlatti tinha do contraponto, tornando esta obra um exemplo do estilo misto que se pode encontrar genericamente na música sacra da época. Johann Sebastian Bach (Eisenach, 21/03/1685 – Leipzig, 28/07/1750)
5. Jauchzet dem Herrn, alle Welt, BWV Anh.160 (1725)
supervisão dos músicos aí activos – e pela educação musical dos alunos da escola anexa à igreja de São Tomé, estava também encarregue da música das quatro principais igrejas de Leipzig, o que significou que tivesse de se dedicar especificamente à composição de música sacra, tendo escrito cinco ciclos anuais de cantatas destinadas a cada Domingo ou festividade específica do ano litúrgico então em curso. Mas para além dos ciclos de cantatas, Bach compôs em Leipzig outras obras sacras, incluindo paixões, oratórias, missas, o Magnificat e os motetes alemães. Destas últimas obras, cujo destino é em geral obscuro, mas que poderão ter sido destinadas a festejos ou funerais de pessoas importantes da cidade de Leipzig, só cinco podem considerar-se ser originalmente de raiz inteiramente bachiana. Pelo contrário, a obra que hoje ouviremos é o resultado da colecção de três peças distintas, daí a designação anhalt: a primeira, Jauchzet dem Herrn, alle Welt, e a última Amen. Lob und Ehre und Weisheit consistem, na verdade, num motete alemão de Telemann (TWV 8:10), contemporâneo e prolífico compositor em todos os domínios da música da época e em todos os géneros sacros, motetes incluídos. Porém, o andamento conclusivo terá sido adicionado à obra já após a morte de Bach pelo seu sucessor no cargo de Kantor da igreja de São Tomé, Johann Gottlob Harrer. Já o andamento central, um extenso coral a quatro vozes, é de facto da autoria de Bach, mas retirado da sua Cantata BWV28/2a (231). Este, juntamente com Jauchzet dem Herrn, terá sido coligido provavelmente para os festejos do Natal ou do ano novo de 1725 e, de facto, este motete apresenta em geral um carácter festivo. Bárbara Villalobos
Quando Johann Sebastian Bach começou a trabalhar em Leipzig, na Saxónia, em Maio de 1723, assumiu o cargo de Kantor na igreja de São Tomé e o de Director Cívico para a Música, uma das melhores posições profissionais para um músico na Alemanha. Para além de ser responsável por todos os aspectos da vida musical de Leipzig, sob a alçada do Conselho da Cidade – incluindo a
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CORO GULBENKIAN música vocal Fundado em 1964, o Coro Gulbenkian conta presentemente com uma formação sinfónica de cerca de 100 cantores, actuando igualmente em grupos vocais reduzidos, conforme a natureza das obras a executar. Assim, tanto pode apresentar-se como grupo a cappella, como colaborar com a Orquestra Gulbenkian ou outros agrupamentos para a execução de obras coral-sinfónicas do repertório clássico e romântico. Na música do século XX tem interpretado, frequentemente em estreia absoluta, inúmeras obras contemporâneas de compositores portugueses e estrangeiros. Tem sido igualmente convidado para colaborar com as mais prestigiadas orquestras mundiais, entre as quais a Orquestra do Século XVIII, a Filarmónica de Berlim, a Sinfónica de Baden-Baden, a Filarmónica de Londres, a Sinfónica de Viena, a Filarmónica Checa, a Filarmónica de Estrasburgo, a Filarmónica de Monte Carlo, a Orquestra do Concertgebouw de Amesterdão e a Orquestra Nacional de Lyon, sob a direcção de maestros como Sir Colin Davis, Claudio Abbado, Emmanuel Krivine, Frans Brüggen, Franz Welser-Möst, Rafael Frübeck de Burgos, Gerd Albrecht e Theodor Guschlbauer. Para além da sua apresentação regular em Lisboa, e das suas digressões em Portugal, o Coro Gulbenkian actuou em numerosos países em todo o mundo. Em 1992, uma digressão por várias cidades da Holanda e da Alemanha, com a Orquestra do Século XVIII, deu origem à gravação ao vivo da Nona Sinfonia de Beethoven, que foi incluída na edição integral das sinfonias de Beethoven que Frans Brüggen realizou para a Philips com aquela orquestra. Paralelamente a estas colaborações e digressões, o Coro Gulbenkian tem participado em alguns importantes festivais internacionais. No plano discográfico, o nome do Coro Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Archiv / Deutsche Grammophon, Erato, Cascavelle, Musifrance, FNAC-Music, Aria-Music e Pentatone, tendo ao longo dos anos registado um repertório diversificado, com particular incidência na música portuguesa do século XVI ao século XX. Algumas gravações receberam prémios internacionais, como o Prémio Berlioz da Academia Nacional Francesa do Disco Lírico, o Grand Prix International du Disque da Academia Charles Cros e o Orphée d'Or. Em 2006, por ocasião do cinquentenário da morte de Luís de Freitas Branco, assinalado no ano anterior, o Coro Gulbenkian registou a primeira integral dos Madrigais Camonianos deste compositor. Neste mesmo ano, gravou para a editora Portugaler obras a cappella de Pero de Gambôa e Lourenço Ribeiro, e Vilancicos Negros do Século XVII, e Santa Cruz de Coimbra, e para a editora Portugalsom, obras corais de Fernando Lopes-Graça. Em 2010 gravou para DVD a Missa Solemnis de Beethoven, com a Orquestra de Câmara da Europa, dirigida por John Nelson, tendo esta actuação sido transmitida em directo pela plataforma audiovisual www.medici.tv. Desde 1969, Michel Corboz é o Maestro Titular do Coro, sendo as funções de Maestro Adjunto desempenhadas por Fernando Eldoro e as de Maestro Assistente por Jorge Matta. Maestro Titular: Michel Corboz Maestro Adjunto: Fernando Eldoro Maestro Assistente: Jorge Matta
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Sopranos Ana Bela Covão Clara Coelho Graziela Lé Maria José Conceição Mariana Castello-Branco Mariana Moldão Marisa Figueira Mónica Santos Patrycja Gabrel Rosa Caldeira Teresa Azevedo Contraltos Carolina Figueiredo Fátima Nunes Joana Nascimento Lucinda Gerhardt Mafalda Borges Coelho Manon Marques
Tenores Aníbal Coutinho Frederico Projecto João Barros João Branco Pedro Miguel Pedro Teixeira Baixos Artur Carneiro José Bruto Costa Horário Santos Manuel Rebelo Ricardo Martins Rui Borras Sérgio Silva Coordenação: Mariana Portas Produção: Fátima Pinho
MICHEL CORBOZ maestro titular A entrada de Michel Corboz no universo da música está profundamente ligada ao seu fascínio pela voz e pelas obras escritas no domínio da música vocal. Depois de fundar o Ensemble Vocal de Lausanne, em 1961, a adesão entusiasta da imprensa às suas gravações das Vésperas e do Orfeo de Monteverdi (1965 e 1966) marcaram o início de uma longa carreira que evoluiu naturalmente, sem ambições particulares, enriquecendo-se todos os anos com uma nova obra. Em 1969 foi nomeado Maestro Titular do Coro Gulbenkian, cargo que vem exercendo há mais de quarenta anos com inexcedível competência. A sua discografia conta com mais de cem títulos gravados e muitas vezes distinguidos com prémios internacionais. Neste domínio, salientam-se as grandes obras sacras de Bach e de Mozart, La Selva Morale de Monteverdi, as oratórias de Mendelssohn e os Requiem de Brahms, Fauré, Duruflé e Verdi. Na Ópera de Lyon recriou Ercole Amante de Cavalli, obra composta para o casamento de Luís XIV, bem como David et Jonathas de Charpentier. No domínio da ópera, dirigiu L'Incoronazione di Poppea, Il ritorno d'Ulisse in patria e ainda Orfeo de Monteverdi. Em Dezembro de 1999 foi condecorado pelo Presidente da República Portuguesa com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique.
CHARLOTTE MÜLLER-PERRIER soprano A soprano suíça Charlotte Müller Perrier começou a estudar violino aos oito anos de idade antes de ter decidido dedicar-se ao canto. Em 2001 recebeu o “diplôme de virtuosité” do Conservatório de Lausanne, prosseguindo o seu aperfeiçoamento em Milão com G. Canetti e U. Finazzi, e na
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Suíça com R. Bersier e A. Di Giantomasso. Foi laureada com a bolsa Colette Mosetti e finalista em vários concursos internacionais de ópera e de música sacra em Itália (Concorso Internazionale Riviera Adriatica, Premio Beniamino Gigli) e em França (Voix nouvelles). No domínio da ópera, interpretou Belinda (Dido and Aeneas) no grande Teatro de Genebra, Don Ramiro (La finta giardiniera) e a Condessa Ceprano (Rigoletto) no Teatro Municipal de Lausanne. Obteve recentemente grande sucesso no papel de Violetta (La Traviata), com a Ópera do Reno. Desenvolve intensa actividade de concertista, tendo-se apresentado nas grandes salas e festivais de prestígio da Europa, bem como no Japão, nos Estados Unidos e na América do Sul, sob a direcção de maestros como Hervé Niquet, Reinhard Goebbel, Corrado Rovaris, Lorenzo TurchiFloris, Jonathan Brett Harrison, Michel Corboz ou Johnathan Darlington. Gravou o Requiem de Gounod, sob a direcção de Michel Corboz, e as Vésperas de Monteverdi, com Laurent Gendre.
FERNANDO GUIMARÃES tenor Fernando Guimarães nasceu no Porto, onde se licenciou em Canto pela Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, na classe de António Salgado. Foi galardoado em 2007 com o Prémio Jovens Músicos da RDP e com o 2º Prémio do Concurso Luísa Todi. Como vencedor do Concurso Internacional de Canto "L'Orfeo", em Verona, cantou o papel principal da ópera homónima de Monteverdi em Mântua (no 400º aniversário da sua estreia), Berlim e Budapeste. Interpretou muitos outros papéis de ópera, incluindo Ferrando (Così fan tutte), Don Ottavio (Don Giovanni), Almaviva (O Barbeiro de Sevilha), Nencio (L'infedeltà delusa de Haydn), Ippolito (La Spinalba de Francisco António de Almeida) e Testo (Il combattimento di Tancredi e Clorinda). Interpretou também Monostatos (A Flauta Mágica) na sua estreia no Teatro Nacional de São Carlos e cantou a Paukenmesse, de Haydn, nas suas estreias na Fundação Calouste Gulbenkian e na Casa da Música. Como solista, tem actuado com agrupamentos como L'Arpeggiata, Cappella Mediterranea, Pygmalion, Le Parlement de Musique, Les Muffatti ou Vox Luminis. Em 2008 e 2009 participou nas digressões europeias da Académie Baroque Européene d'Ambronay, sob a direcção de Jean Tubéry e Martin Gester. Apresenta-se com regularidade na Fundação Calouste Gulbenkian e colabora com as mais importantes orquestras nacionais e agrupamentos de música antiga.
NICHOLAS McNAIR órgão Nicholas McNair colabora regularmente com o Coro e a Orquestra Gulbenkian, tendo participado em muitos concertos e gravações, sob a direcção de Michel Corboz. Acompanhou cursos de canto de Richard Miller, Gundula Janowitz e Tom Krause e deu concertos em Portugal com Ana Ferraz, Liliana Bizineche e Elvira Archer, entre outros artistas. Em colaboração com Sir John Eliot Gardiner, desenvolveu um importante trabalho de pesquisa sobre as principais óperas de Mozart e Beethoven. As suas edições foram apresentadas nos festivais de Salzburgo, Amesterdão (Festival da Holanda), Londres (Proms da BBC) e Nova Iorque (Festival do Lincoln Center), sendo posteriormente editadas pela Deutsche Grammophon/Archiv. Possuidor de uma rara capacidade de improvisação, desenvolveu a sua própria técnica neste domínio, com a qual criou a música para mais de 100 filmes mudos, na Cinemateca Portuguesa e noutros locais, incluindo o Festival Internacional de Cannes. Para além de recitais e espectáculos
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com poetas e actores, como André Gago, Paulo Matos ou Sara Carinhas, editou o CD Classical Improvisations (Eroica, 1998) e gravou ao piano 6 CDs de improvisação, em três sessões, nos estúdios da RDP, em Fevereiro de 2001. O seu CD “Hamlet – 11 improvisações para piano” foi lançado pelo Teatro Instável em 2008. Nicholas McNair é professor na Escola Superior de Música de Lisboa.
MARC RAMIREZ contrabaixo Marc Ramirez nasceu em Nova Iorque em 1972 e iniciou os seus estudos de contrabaixo com o Professor Timothy B. Cobb, solista da Orquestra da Metropolitan Opera de Nova Iorque. Obteve os seus diplomas de Licenciatura e Mestrado na Manhattan School of Music e em 1996 foi galardoado por Marta Casals Istomin com o prémio Pablo Casals pela sua realização artística. Igualmente significativas foram as aulas com Orin O´Brien, da Orquestra Filarmónica de Nova Iorque, e os cursos de aperfeiçoamento com Eugene Levinson, solista da Filarmónica de Nova Iorque, Hal Robinson, solista da Orquestra de Filadélfia, Edwin Barker, solista da Sinfónica de Boston, e Joseph Gustafeste, solista da Sinfónica de Chicago. Marc Ramirez atuou com vários músicos de renome, incluindo Christoph Eschenbach, Kenneth Cooper, Frank Morelli e Marya Martin, entre outros. Participou em vários concertos de música de câmara no Carnegie Hall de Nova Iorque, no Kitara Hall – em Sapporo, no Japão – e no Ozawa Hall, em Tanglewood. É contrabaixista da Orquestra Gulbenkian desde 1997.
Charlotte MÜLLER-PERRIER soprano
Fernando GUIMARÃES tenor
Marc RAMIREZ contrabaixo
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Luísa TENDER piano
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Recital de Piano 3ª FEIRA*21h45 AUDITÓRIO MUNICIPAL da Póvoa de Varzim
Jean-Philippe Rameau (1683-1764) Allemande et Gavotte avec 6 Doubles (Nouvelles Suites de pièces de clavecin) [ca. 13 min]
Claude Debussy (1862-1918) Hommage à Rameau (Images I) [ca. 6 min] Nocturno [ca. 5 min] Suite Bergamasque [ca. 14 min] 1. Prélude 2. Menuet 3. Clair de lune 4. Passepied
intervalo (15 minutos)
António Fragoso (1897-1918) Três Peças do séc. XVIII [ca. 8 min] Dois Nocturnos [ca. 8 min] Petite Suite [ca. 10 min]
Claude Debussy (1862-1918) Suite “Pour le Piano” [ca. 13 min] 1. Prélude 2. Sarabande 3. Toccata
(Duração da 1ª parte: ca. 40 min | 2ª parte: ca. 40 min)
Jean-Philippe Rameau (Dijon, 25 de Setembro de 1683 – Paris, 12 de Setembro de 1764), compositor de óperas, de música sacra e música de câmara, autor de obras teóricas de relevo, foi também um dos mais importantes compositores franceses de música para tecla do seu tempo. Chegaram até nós mais de cinco dezenas de obras para teclado, das quais a maioria consta de três volumes datados de 1706, 1724 e 1728. O último, com o título Nouvelles Suites de Pièces de Clavecin inclui uma Suite em lá menor, da qual fazem parte as Allemande e Gavotte avec ses (ou six) Doubles que ouviremos neste recital. Desta Suite constam ainda peças com títulos de dança – uma sarabanda e um minueto, por exemplo –, entre outras com títulos descritivos, como La Poule, L'Indifférente e Les Sauvages. Numa carta de 1906 dirigida a Louis Laloy, Claude Debussy (Saint-Germain-en-Laye, 22 de Agosto de 1862 – Paris, 25 de Março de 1918) fala do goût parfait [et] élégance stricte qui forment l'absolue beauté de la musique chez Rameau. Num ciclo de três peças para
piano datado do ano anterior, o primeiro livro de Images, Debussy inclui Hommage à Rameau, uma peça lenta baseada numa melodia da ópera Castor et Pollux, do compositor barroco francês. Mas não apenas em Hommage à Rameau transparece o gosto de Debussy pela música barroca do seu País. Suite Bergamasque (escrita em 1890 e publicada, com alterações significativas em relação à versão inicial, em 1905) e Pour le Piano são provas inequívocas deste gosto. Suite Bergamasque inspira-se na tradição da fête galante, presente na pintura de Antoine Watteau e imaginada na poesia de Paul Verlaine. O título do último andamento, Passepied (uma dança em três tempos), permancece um mistério, uma vez que está escrito em compasso binário. Numa fonte de 1890, esta “dança” aparece como Pavane (dança lenta de métrica binária). Talvez Debussy tenha optado por alterar o título, por recear interpretações demasiado lentas... Em Pour le Piano, em particular na Toccata, Debussy lembra o virtuosismo do cravista barroco. A obra data de 1901 e inclui
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uma sarabanda cuja escrita tem, em muitos momentos, curiosas semelhanças com a de Hommage à Rameau. Contemporâneo de Suite Bergamasque, o Nocturne é uma encantadora composição de linguagem harmónica conservadora, no contexto da obra de Debussy. Muito se tem dito e escrito sobre António Fragoso (Pocariça, Cantanhede, 17 de Junho de 1897 – Pocariça, 13 de Outubro de 1918), em particular sobre as influências que recebeu e que transparecem nas suas obras para piano. A de Debussy parece inquestionável, embora fiquemos perplexos perante o facto de um compositor quase adolescente poder incorporar nas suas obras inovações harmónicas habitualmente atribuídas aos impressionistas franceses, sem
se perder, em nenhum momento, a sensação de originalidade da música. Ouviremos, neste recital, os dois Nocturnos, Petite Suite e as Três Peças do Século Dezoito (este último conjunto, à semelhança de algumas das obras de Debussy de que aqui falámos, um retorno ao barroco e aos géneros setecentistas). Luísa Tender (Maio de 2012)
LUÍSA TENDER piano Luísa Tender nasceu no Porto em 1977. Iniciou o estudo de piano aos quatro anos, no Porto, com Teresa Monteiro. Prosseguiu os estudos musicais com Anne-Marie Mennet, no Conservatório de Música do Porto e, mais tarde, na escola Superior de Música desta cidade, cujo Curso de Piano concluiu com a classificação máxima e onde foi aluna de Pedro Burmester. Recebeu, ainda, aulas regulares de Helena Sá e Costa. Entre 1997 e 2000 estudou com Vitaly Margulis, em Los Angeles; foi também aluna de Irina Zariskaya, no Royal College of Music, em Londres, onde obteve o grau de Master of Music em Performance Studies. Recebeu aulas de Artur Pizarro e, em 2004, obteve o Diplôme Supérieur d'Éxecution da École Normale de Musique de Paris, onde trabalhou com Marian Rybicki. Tem-se apresentado a solo e em música de câmara em Portugal, Espanha, Reino Unido, Holanda, Itália, Chipre e Brasil. As suas actuações recentes receberam o aplauso da crítica, que apontou a sua “segurança, energia, profundidade e rasgo (...) sem nunca perder de atenção os pequenos detalhes (...) numa contenção e distanciamento que rondaram a imaterialidade” e elogiou a “depuração e equilíbrio da sua performance, associadas a um pianismo exuberante, de adorável frescura”. “A natural beethovenian” – assim a classificou o The London Independent –, Luísa Tender aponta J. S. Bach e F. Schubert como os seus compositores de eleição, dedicando-se com grande interesse à música portuguesa. O primeiro CD de Luísa Tender, com o título Bach and Forward, foi gravado em 2008 nos estúdios do Royal College of Music e lançado em Portugal em Fevereiro de 2009. Este trabalho recebeu o aplauso da crítica em Portugal e no Reino Unido, tendo sido uma das escolhas da edição de 11 de Abril da revista Classical Music. A sua segunda gravação – um CD duplo com o violoncelista Bruno Borralhinho –, com o título Página Esquecida, foi publicada pela etiqueta alemã Dreyer & Gaido, tendo recebido as melhores críticas na Strings magazine, Fanfare Magazine, Das Orchester, entre outras publicações. Luísa Tender é actualmente professora-adjunta na Escola Superior de Artes Aplicadas, em Castelo Branco, onde lecciona Piano e Música de Câmara. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e do Royal College of Music.
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PAVEL HAAS QUARTET quarteto de cordas
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Música de Câmara 4ª FEIRA*21h45 Igreja da Lapa - Póvoa de Varzim
Pavel Haas (1899-1944) Quarteto nº 1 em dó sustenido menor (op. 3) [1920 / ca. 14 min] [obra estruturada num único andamento]
Leos Janacék (1854-1928) Quarteto nº 2 “Cartas Íntimas” [1928 / ca. 26 minutos] 1. Andante – Con moto – Allegro 2. Adagio – Vivace – Andante – Presto – Allegro – Vivo – Adagio 3. Moderato – Adagio – Allegro 4. Allegro – Andante – Con moto – Adagio – Tempo I
intervalo (15 minutos)
Bedrich Smetana (1824-1884) Quarteto nº 1, em mi menor, “Da minha Vida” [1876 / ca. 30 min] 1. Allegro vivo appassionato 2. Allegro moderato alla polka 3. Largo sostenuto 4. Vivace
(Duração da 1ª parte: ca. 40 min | 2ª parte: ca. 30 min)
O programa de hoje é inteiramente preenchido com música de três importantes compositores da Europa central. O checo Pavel Haas nasceu em 21 de Junho de 1899, em Brno. Muito influenciado pela música popular e jazz e pelo ensino de Leos Janácek, no início dos anos 20 do século XX, escreveu música para quase todos os géneros, designadamente a ópera Sarlatán (1936), com libreto do próprio Haas. Legou três quartetos de cordas. O primeiro data de 1920. Apresenta-se num único andamento em forma de sonata-fantasia numa sequência de episódios variados. O resultado final é homogéneo e expressionista. O facto de Pavel Haas ser de ascendência judia esteve na origem da sua deportação, pelas autoridades nazis, para o campo de concentração de Theresienstadt, em 1941, onde se encontrou com outros importantes compositores de origem judia: Viktor Ullmann, Gideon Klein e Hans Krása. Foi assassinado no campo de concentração de Auschwitz em 17 de Outubro de 1944. Leos Janácek escreveu o seu segundo quarteto num período muito curto, entre 29 de Janeiro e 17 de Fevereiro de 1928. Começou por atribui-lhe o título de Cartas de Amor, depois Recordações de Pisek e
finalmente Cartas íntimas – todos refletindo a sua paixão avassaladora por Kamila Stösslová. Da extensa correspondência trocada com a sua inspiradora, Janácek refere-se à génese desta obra: «Iniciei a composição de algo muito belo, em que será encerrada a nossa vida. Vou intitulá-la 'Cartas de Amor'. Durante toda a obra, a viola-deamor será o confidente da nossa intimidade. […]» Estava assim delineado o caráter autobiográfico da composição. Mais tarde, por motivos práticos, a viola-de-amor será substituída pela violeta. O quarteto apresenta uma sequência de cenas líricas, na clássica estrutura de quatro andamentos (os dois temas do Adagio propostos pela violeta formam um dos mais belos duos de amor). A estreia da obra ocorreu em Brno, em 11 de Setembro de 1928, a cargo do Quarteto Morávio, tinha Janácek falecido há duas semanas, em Ostrava (actual República Checa). Nasceu em Hukvaldy (Morávia), a 3 de Julho de 1854. A obra de Bedrich Smetana é considerada hoje como o fundamento da escola nacional checa. O compositor nasceu em Litomyslm, Boémia, em 2 de Março de 1824 e faleceu em 1884, em Praga, a 12 de Maio. O Quarteto nº 1 foi escrito entre Outubro e 29
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de Dezembro de 1876, refletindo importantes passos biográficos do autor. Numa carta escrita em 1878, Bedrich Smetana deixou informações preciosas sobre a génese e significado da obra: «Pretendi descrever o desenrolar da minha vida, em música. No andamento inicial é o amor pela música, ao longo da minha juventude, ambiência romântica, melancolia… ao mesmo tempo que se vislumbra desde o início o anúncio da próxima tragédia, aquele mi do andamento final: marcando o princípio da minha surdez, foi esse silvo estridente que surgiu nos meus ouvidos em 1874. […] O segundo andamento, quasi polka, faz-me regressar de novo ao torvelinho da minha juventude […]. O largo sostenuto do terceiro
andamento lembra o meu primeiro amor pela jovem que viria a tornar-se a minha esposa querida. No quarto andamento, (descrevo) a tomada de consciência da autêntica força de uma música nacional, […] início da surdez, […] a ténue esperança de recuperação e, para finalizar, um sentimento de amargura profunda. Em resumo, é esta a essência da obra, que, de algum modo, denuncia um caráter particular; por isso mesmo, foi expressamente escrita para uma formação reduzida de instrumentos – o quarteto de cordas; os seus elementos devem conversar sobre factos de real interesse, tal como aconteceria numa reunião de amigos. […]»
PAVEL HAAS QUARTET quarteto de cordas “O mais excitante quarteto de cordas do mundo? Bem, eles adaptam-se ao rótulo melhor do que muitos outros. A sua inflexão é ampla, quase orquestral. Correm riscos. Acima de tudo, tocam com paixão.” (The Times, Janeiro de 2010)
Desde que ganhou o Concurso Paolo Borciani de Itália, na Primavera de 2005, o Pavel Haas Quartet (PHQ) tocou nas mais prestigiadas salas de concerto do mundo e gravou quatro CDs pelos quais mereceu enormes elogios quer do público quer da crítica. Na temporada de 2011/12 o Quarteto apresenta-se no Concertgebouw de Amsterdão, Théâtre des Champs-Elysées de Paris, Tonalle de Zurique, Konzerthaus de Viena, Herkulessaal de Munique e Wigmore Hall de Londres, bem como em importantes salas de Bruxelas, Estocolmo, Copenhaga e Madrid. As digressões do PHQ a Hong Kong e Japão – visitando Tóquio, Osaka, Nagoya e Yokohama –, e aos Estados Unidos, culminam com um concerto no Carnegie Hall. Em Outubro de 2011, o PHQ foi galardoado com o prestigiado Record of the Year dos Gramophone Awards pela sua recente gravação dos Quartetos de Cordas nº 12 em fá maior 'Americano' e nº 13 em sol maior, de Dvořák na Supraphon. Outros recentes destaques para o PHQ incluem atuações no Rheingau Festival, na Schubertiade, no San Francisco Performances e num regresso ao Auditorio Nacional de Madrid. Em 2007, a Filarmónica de Colónia premiou o PHQ com o ECHO Rising Stars, de que resultou uma digressão pelas mais importantes salas de concerto mundiais. O PHQ tomou parte no programa 2007-2009 da BBC New Generation Artists, e em 2010 foi galardoado com Special Ensemble Scholarship do Borletti-Buitoni Trust. Na temporada 2010/11 o PHQ iniciou um período de três anos como 'Artists in Residence' dos Glasgow Royal Concert Halls. O PHQ gravou quatro CDs publicados pela Supraphon. A gravação mais recente, o mencionado CD com Quartetos de Dvorák, foi publicada no Outono de 2010 e mereceu geral aclamação da crítica: O The Sunday Times premiou a gravação com cinco estrelas, comentando: “A sua interpretação do Quarteto Americano coloca-o lado a lado com as melhores formações em disco. Neste repertório, são hoje simplesmente incomparáveis.” Ganharam o Diapason d'Or de l'Année pelos seus discos com os Quartetos de Cordas 1 e 2 e a Sonata para Dois Violinos de Prokofiev, com Diapason comentando: “Esta é agora a gravação definitiva dos quartetos de Prokofiev... a ser
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descoberta sem hesitação.” As duas primeiras gravações também foram bem recebidas. A primeira gravação do Quarteto nº 2 de Janáček 'Cartas Íntimas' e o Quarteto nº 2 de Haas 'Das Montanhas Monkey' foi aclamada como um dos CDs de 2006 pelo The Daily Telegraph e recebeu o Gramophone Award de 2007. O segundo CD do PHQ completou a integral das obras para quarteto de cordas de Haas and Janacek. A revista Gramophone comentava que “[…] Para descrever um CD tão musicalmente importante basta atrair um certo nível de controvérsia, mas apostaria o meu pescoço proclamando a extrema importância deste específico lançamento.” Sediado em Praga, o PHQ estudou com Milan Skampa, o lendário violetista do Quarteto Smetana, e continua a usufruir de um próximo relacionamento com este mestre. Também trabalhou com outros mestres mundiais do quarteto, incluindo membros do Quartetto Italiano, Quatuor Mosaiques, Borodin Quartet e Amadeus Quartet, bem como Walter Levin, em Basileia. O PHQ foi buscar a sua designação ao nome do compositor checo Pavel Haas (1899-1944) prisioneiro no Theresienstadt em 1941 e tragicamente assassinado em Auschwitz três anos mais tarde. O seu legado inclui três admiráveis quartetos de cordas. O PHQ é representado pela Intermusica.
Veronika JARUSKOVA violino Marek ZWIEBEL violino Pavel NIKL violeta Peter JARUSEK violoncelo
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Fernando COSTA violoncelo
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Jo達o XAVIER piano
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Novos Intérpretes* 6ª FEIRA*21h45
OURIVESARIA · RELOJOARIA
SÁ&CARVALHO Lda
AUDITÓRIO MUNICIPAL da Póvoa de Varzim
Ludwig van Beethoven (1770-1827) Sonata nº 26 em mi bemol maior Les Adieux (op. 81a) [ca. 27 min] 1. Adagio – Allegro («Lebewohl») 2. Andante Espressivo («Abwesenheit») 3. Vivacissimamente («Wiedersehen»)
César Franck (1822-1890) Prelúdio, Coral e Fuga [ca. 17 min]
intervalo (15 minutos)
Sergei Rachmaninov (1873-1943) Sonata em sol menor, para violoncelo e piano (op.19) [ca. 40 min] 1. Lento – Allegro moderato 2. Allegro scherzando 3. Andante 4. Allegro mosso
(Duração da 1ª parte: ca. 35 min | 2ª parte: ca. 40 min)
A 26ª Sonata que Ludwig van Beethoven (Bona, 16 ou 17 de Dezembro de 1770 / Viena, 26 de Março de 1827) escreveu para piano é claramente uma obra de conteúdo programático, reflexo da partida forçada de alguns amigos (dentre os quais o seu aluno e mecenas Arquiduque Rodolfo), perante a aproximação e ocupação da cidade de Viena pelas tropas napoleónicas, entre Maio de 1809 e Janeiro de 1810. Sabemos exatamente em que datas o Arquiduque Rodolfo – o dedicatário da obra – partiu e regressou (4 de Maio e 30 de Janeiro), por estarem inscritas no autógrafo da partitura. Os títulos dos três andamentos (em alemão, e não em francês, como pretendia o editor na primeira edição de Julho de 1811) revelam uma espécie de sequência emocional: Lebewohl, Abwesenheit, Wiedersehen (Os Adeuses, Ausência, Regresso). O primeiro, Lebewohl, configurase mesmo de especial relevância na construção da Sonata, pois as três sílabas são plasmadas no motivo de abertura da introdução e regressa diversas vezes no decorrer da obra, embora dissimulado. No final do último andamento, Beethoven procede como na coda das Sonatas Appassionata e Waldstein e ainda na 5ª
Sinfonia: uma cavalgada jubilatória e afirmativa. Mas a audição desta Sonata nº 26 não exige que conheçamos a descrição programática. A beleza desta música por si mesma e a lógica formal bastarão para nos emocionar. A escrita do Prelúdio Coral e Fuga de César Franck data de 1884. Pertence ao último período criativo do compositor (Liège, 10 de Dezembro de 1822 / Paris, 8 de Novembro de 1890). Poderíamos recuar até Johann Sebastian Bach para encontrar um tríptico semelhante na Toccata, Adagio und Fugue, em dó maior, para órgão (BWV 564). A forma cíclica, tão do agrado do César Franck da maturidade, é superiormente utilizada ao longo de toda obra, cabendo ao tema cíclico (exposto em toda a sua clareza) servir como sujeito da Fuga. O Prelúdio surge num ambiente concentrado e arrebatado em efeitos de rara beleza harmónica. Curioso verificar uma certa reminiscência dos sinos do Parsifal wagneriano (o motivo dos cavaleiros do Graal) no primeiro tema do Coral, envolto em harpejos de serena e mística solenidade. A Fuga termina com uma fascinante peroração de uma alegria saudável e poderosa. Sergei Rachmaninov (Oneg, Novgorod, 20
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de Março de 1873 – Beverly Hills, Califórnia, 28 de Março de 1943) foi um inspirado melodista. Sobre a relevância que para si tinha a melodia, escreveu «[esta] constitui o germe da criação em música, uma vez que contém e sugere a sua própria realização harmónica […]. A invenção melódica, na plena aceção do termo, deve ser o verdadeiro objetivo do compositor. Quem não for capaz de inventar uma melodia que se imponha e permaneça, jamais será um grande mestre […]». A Sonata op. 19 é um dos frutos mais felizes dessa convicção. Escrita no Verão de 1901, após um longo período depressivo, pertence a uma das épocas mais inspiradas do compositor (Concerto nº 2 para piano e orquestra, Cantata “Primavera” e 12 Melodias op. 21). A obra foi dedicada a Anatoli Brandoukov que a estreou a 2 de Dezembro de 1901, em Moscovo, com o compositor ao piano. Mais do que uma obra para violoncelo e piano, apresenta-se como uma obra concertante,
com uma parte de piano assaz virtuosística; a escrita para violoncelo a revela-se idiomática, tirando excelente partido das caraterísticas do instrumento. Rachmaninov é um pósromântico próximo dos poetas simbolistas russos (Alexander Blok ou Constantin Balmont) que cultivavam um lirismo reservado, de emoção discreta. A Sonata estrutura-se em quatro andamentos: o piano introduz o Lento inicial, logo seguido pela longa frase cantante do violoncelo. O Allegro moderato irrompe sôfrego e apaixonado. O segundo andamento comunga da mesma ambiência. No terceiro andamento – um inspirado Andante –, o piano, logo seguido pelo violoncelo, lança uma frase de um lirismo espontâneo e deslumbrante. O último andamento retoma o virtuosismo do primeiro, mas desta vez de forma ainda mais veemente e febril – apenas interrompido por um motivo contemplativo – até se precipitar numa coda com uma energia e luminosidade transbordantes.
FERNANDO COSTA violoncelo Fernando Costa, natural de Vila Nova de Gaia, nasceu em 1991. Iniciou os seus estudos de Violoncelo em 1998 com o Professor Valter Mateus, no Conservatório Regional de Gaia, tendo no 1º grau a professora Isabel Delerue. Mais tarde, retomou os estudos com o Professor Valter Mateus. Conclui o curso complementar de violoncelo com nota máxima, no ano lectivo de 2008/2009. Actualmente frequenta o 3º ano de Licenciatura na ESMAE na classe de Violoncelo de Jed Barahal. Em 2010 foi distinguido com bolsa de mérito do Instituto Politécnico do Porto. Trabalhou com professores como José Augusto Pereira de Sousa, Jed Barahal, Ernst Reijseger, Lea Hosch, Paulo Gaio Lima, Dimitri Ferschtman, Romain Garioud, Márcio Carneiro, Anne Gastinel, Natalia Gutman, Aage Kvalbein, Carolina Landriscini, Pavel Gomziakov, Filipe Quaresma e Lluis Claret. Obteve o 1º Prémio no Concurso Interno de Cordas do Conservatório Regional de Gaia (2004); 1º Prémio no 13º Concurso Santa Cecília (2011); 1º Prémio no Prémio Jovens Músicos 2011, Categoria Violoncelo, Nível Superior; Menção honrosa no Prémio Jovens Músicos 2009, Categoria de Violoncelo, Nível Médio. Foi laureado com o 3º Prémio do Prémio Jovens Músicos 2007, Categoria de Música de Câmara Nível Médio e recebeu Menção Honrosa no I Concurso de Composição Musical, Gaia 2008. Recentemente gravou com o pianista Luís Costa para uma revista interactiva de Arquitectura, desenvolvida pela 29HD Network (USA) para o 29GPS da Apple iPhone, com trabalho fotográfico de Fernando Gabriel sobre uma obra do arquitecto Francisco Portugal e Gomes. Apresentou-se como solista acompanhado pela Orquestra Gulbenkian, Filarmonia de Gaia e Orquestra Clássica do Conservatório de Gaia. Integrou a Orquestra Filarmonia de Gaia, Orquestra Clássica do Conservatório Regional de Gaia e
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Orquestra Sinfonieta da Esmae. Em 2007, trabalhou em estágio numa orquestra de jovens pertencentes à União Europeia, BISYOC. Participa, também, como músico e co-arranjador na Orquestra Juvenil de Gaia e Orquestra Metropolitana (projectos de inclusão) e Orquestra de Câmara de Gaia. Trabalhou sobre a direcção de vários maestros como Rui Massena, Pedro Neves, André Lousada, António Saiote, Nayden Todorov, Florin Totan, Pieralberto Cattaneo, German Cáceres, Harry Lyth, Eduardo Rahn, Julian Gibbons, Berislav Skenderovic, entre outros. Trabalhou em música de câmara com os professores Valter Mateus, Pilar Andrino, Dario Golcic, Dimitris Andrikopoulos, Marta Eufrázio, Ryszard Woycicki, Miguel Borges Coelho, entre outros.
JOÃO XAVIER piano João Xavier nasceu em 1993 e começou a estudar música no Conservatório do Vale do Sousa em 2003, com a professora Elisa Moutinho. Terminou, em 2011, o 8º grau no mesmo Conservatório, na classe da professora Luísa Ferreira. Actualmente, estuda na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, na classe de Pedro Burmester. Foi laureado em vários concursos, nomeadamente no 4º Concurso Ibérico de piano do Alto Minho (2º prémio); em 2009 no Concurso Internacional 'Cidade do Fundão' (2º prémio); no V Concurso de Piano da Póvoa de Varzim (1º prémio); no X Concurso Florinda Santos (1º prémio) e no 12º Concurso Sta. Cecília (1º prémio). Participou em Masterclasses leccionadas por Sequeira Costa, Constantin Sandu, Miguel Borges Coelho, Filipe Pinto-Ribeiro, Cristina Ortiz, Tania Achot, Andrei Diev e Elisso Virsaladze. Apresentou-se no Salão Nobre do Palácio da Bolsa; nos festivais Dias da Música e 1001 Músicos, no CCB; no Auditório Municipal da Póvoa de Varzim; no festival Musicatos, em S. João da Madeira; no Auditório do Centro Cultural de Vila Praia de Âncora e no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, com a Orquestra Gulbenkian, sob a direcção de Pedro Neves. Em 2011, obteve o 1º lugar no Prémio Jovens Músicos, na categoria de piano – nível superior. Estuda também na Scuola di Musica di Fiesole, em Itália, com a pianista Elisso Virsaladze.
* Prémio Jovens Músicos 2011 da RTP Antena 2 (Violoncelo e Piano)
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QUARTETO VERAZIN agrupamento de c창mara
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Os agrupamentos residentes do FIMPV domingo*21h45 IGREJA ROMÂNICA DE S. PEDRO DE RATES
Franz Schubert (1797-1828) Quarteto em mi bemol maior (D. 87) [ca. 30 min] 1. Allegro più moderato 2. Scherzo. Prestissimo – Trio 3. Adagio 4. Allegro
Anton Webern (1883-1945) Langsamer Satz (M. 78) [ca. 10 min] [Obra estruturada num só andamento]
intervalo (15 minutos)
Johannes Brahms (1833-1897) Quarteto em dó menor (op. 51 nº 1) [ca. 35 min] 1. Allegro 2. Romanze: Poco Adagio 3. Allegretto molto moderato e comodo – Un poco più animato 4. Allegro
(Duração da 1ª parte: ca. 30 min | 2ª parte: ca. 35 min)
O Quarteto em mi bemol maior D. 87 foi composto durante o mês de Novembro de 1813, tinha Franz Schubert dezasseis anos, logo após a conclusão da primeira Sinfonia D. 82 e quando trabalhava na primeira ópera, Des Teufels Lustschloss [“O castelo de recreio do diabo”], que viria a tomar a numeração D. 84 no catálogo organizado por Otto Erich Deutsch. Mesmo tratando-se de uma obra de juventude, destaca-se já pela ampla sonoridade orquestral, sobretudo no último andamento, cujas caraterísticas denotam a marca schubertiana por inteiro. O Quarteto em mi bemol maior integra um grupo de seis, escritos para o círculo familiar do compositor (Franz Schubert, na violeta, os irmãos Ignaz e Ferdinand nos violinos e o pai no violoncelo). Franz Schubert nasceu em Viena a 31 de Janeiro de 1797 e faleceu na mesma cidade a 19 de Novembro de 1828. Anton Webern (Viena, 3 de Dezembro de 1883 / Mittersill, Salzburgo, 15 de Setembro de 1945) escreveu o Langsamer Satz em Junho de 1905, no final do primeiro ano de estudos com Schönberg. Porém, a obra apenas foi estreada em 1962, em Seattle, Estados Unidos, pelo Quarteto da Universidade de Washington. A escrita
polifónica de Brahms e um ou outro traço composicional de Wagner e de Mahler marcaram esta obra do então jovem compositor filiado na segunda Escola de Viena. A pesada herança de Beethoven fez com que Johannes Brahms (Hamburgo, 7 de Maio de 1833 – Viena, 3 de Abril de 1897) apenas em 1873, já com 40 anos de idade, e depois de muitas hesitações, publicasse finalmente o seu opus 51, que integrava os dois primeiros quartetos de cordas (desde há vinte anos que vinha aprimorando as suas experiências em música de câmara, cujos frutos mais paradigmáticos são o Trio com piano op. 8, os dois Quartetos com Piano op. 25 e op. 26, o Quinteto com Piano op. 34 e os dois Sextetos de Cordas op. 18 e op. 36). Foi no Verão daquele ano, em Tutzing, que os dois Quartetos foram apresentados em privado, na presença de Clara Schumann. A estreia pública do Quarteto em dó menor decorreu em Viena, a 11 de Dezembro do mesmo ano. Há claras influências dos quartetos de Beethoven, designadamente dos “Razumovsky”, no tema da Romanze. No trio do terceiro andamento, surge uma encantadora valsa vienense. O Allegro final,
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dinâmico e poderoso, recupera um dos temas apresentados no primeiro andamento. Mas é precisamente neste primeiro andamento que a influência beethoveniana mais ficou marcada, pela austera concentração formal e eficaz desenvolvimento temático.
QUARTETO VERAZIN agrupamento de câmara O Quarteto de Cordas residente do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim (FIMPV) apresentou-se oficialmente pela primeira vez em 6 de Julho de 2007. Participou nas masterclasses do Prazak Quartet e do Fine Arts Quartet, inseridas no FIMPV (2007 e 2010, respetivamente). Trabalhou com Vladimir Mendelssohn e Jacek Klimkiewicz, na Folkwang Hochschule de Essen e com os Professores Ryszard Wóycicki, Radu Ungureanu e Ana Bela Chaves. O agrupamento dedica-se à divulgação do riquíssimo repertório que muitos dos mais reputados compositores escreveram para quarteto de cordas (já interpretou em público obras de Haydn, Beethoven, Schubert, Mendelssohn, Dvorák, Debussy, Ravel e Shostakovich). Em estreia mundial, apresentou em Julho de 2008 o Quarteto nº 2 – “Movimentos do Subsolo”, de António Pinho Vargas, obra encomendada pelo FIMPV e gravada posteriormente em Outubro do mesmo ano (o respectivo CD foi lançado em 2009). Também em estreia mundial, apresentou em Julho de 2009 a obra “Verazin nº 1” expressamente encomendada pela 31ª edição do FIMPV ao compositor Carlos Azevedo.
Diogo COELHO violino Daniel ABRUNHOSA violino Helena LEÃO violeta Ana Luísa MARQUES violoncelo
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© La Morra
© Susanna Drescher
LA MORRA agrupamento vocal e instrumental
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Michal GONDKO direção musical/artística Corina MARTI direção artística
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Música antiga 4ª FEIRA*21h45 igreja românica de s. pedro de rates
“Musicus Famosissimus” – um tributo a Johannes Ciconia (ca. 1370-1412), no 600º aniversário da morte 1. Prelúdio no Norte 1.1. Adieu vos di (anónimo) [instrumental] 2. Roma: Uma oração pela paz 2.1. Gloria “Suscipe trinitas” (Johannes Ciconia) 3. Pavia: Na companhia de Marte 3.1. Una Panthera in conpagnia de Marte (Johannes Ciconia) 3.2. Le ray au soleyl (Johannes Ciconia) 4. Interlúdio: A corça perseguida 4.1. I cani sono fuora (Johannes Ciconia) [instrumental; arr.: M. Gondko] 5. Pádua: Na quadriga triunfal 5.1. Per quella strada lactea del cielo (Johannes Ciconia) 6. Imagens dos amantes 6.1. La fiamma del to amor (Johannes Ciconia) 6.2. Chi vole amar (Johannes Ciconia) [instrumental] 6.3. Aler m'en veus en strangne partie (Johannes Ciconia)
intervalo (15 minuntos) 7. Pádua: Estudantes e mulheres impiedosas 7.1. Merçe o morte (Johannes Ciconia) 7.2. [peças instrumentais] (anónimos, I-FAc 117, fol. 93r & 94v) 7.3. O rosa bella (Johannes Ciconia) 8. Poslúdio no Sul: Orações à Virgem Maria 8.1. In tua memoria (Arnoldus de Lantins, † ca. 1432) 8.2. Amen (Codex Faenza) 8.3. Vergine donzella imperadrice, salve (Laudario Magliabecchiano) (Duração da 1ª parte: ca. 40 min | 2ª parte: ca. 30 min)
2.1. Gloria “Suscipe trinitas” (Johannes Ciconia) Gloria in excelsis Deo, et in terra pax hominibus bonae voluntatis. [TROPUS:] Suscipe, Trinitas, hoc pacis jubilum horrendi scismatis remove nubilum a superadditis gregi fidelium, ut fiat unicum. Laudamus te. Benedicimus te. Adoramus te. Glorificamus te. [TROPUS:] Extra signum unitatis non te laudat devius, cum abusu racionis justus fiat impius; dum adorat, benedicit, est sibi contrarius. Gratias agimus tibi propter magnam gloriam tuam. Domine Deus, Rex celaestis, Deus, Pater omnipotens. [TROPUS:] Opere claruit atque miraculis invicta veritas, sed tua dextera errata dirigas ut fiat equitas. Domine filii unigenite, Jesu Christe, Domine Deus, Agnus Dei, Filius Patris. [TROPUS:] Summe Pater, Agne Jesu, Spiritus vivifica. Summe preces, flecte mentes, carnalibus obvia, qui favore racionis negant a se posita. Qui tollis peccata mundi, miserere nobis. Qui tollis peccata mundi, suscipe deprecationem nostram. [TROPUS:] Virgo Mater advocata, omni lapso subveni; Tempus instat quo inserta ventris instes fructui sponsa
2.1. Gloria “Suscipe trinitas” (Johannes Ciconia) Glória a Deus nas alturas, E paz na terra aos homens de boa vontade. [TROPO:] Aceita, ó Trindade, este jubileu de paz e afasta a nuvem da separação, que está a ser imposta ao teu rebanho, que deve estar unido. Nós te louvamos. Nós te bendizemos. Nós te adoramos. Nós te glorificamos. [TROPO:] Aquele que deixa o caminho, afastado do sinal da unidade, não te glorifica, pois que o homem justo torna-se infeliz por abuso da razão: quando te adorar e exaltar, negar-se-á a si próprio. Damos graças pela tua grande glória, Senhor Deus, Rei dos Céus, Ó Deus, Pai Todo-Poderoso. [TROPO:] Pela palavra e pelos milagres, a tua irresistível verdade resplandesce; mas corrige os erros com a tua mão direita, a fim de que a justiça seja feita. Senhor Jesus Cristo, Filho unigénito, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho do Pai, [TROPO:] Pai altíssimo, Jesus Cordeiro, Espírito que dá vida; aceita as nossas orações, dobra os nossos espíritos, combate as nossas inclinações sensuais, que, com a ajuda da razão negam as suas próprias premissas. Afasta os pecados do mundo, Tem piedade de nós; Afasta os pecados do mundo, Aceita a nossa súplica. [TROPO:] Virgem Maria, nossa advogada, vem ajudar todos os que sucumbem; ainda há tempo para cumprir
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pro hac lacessita reducenda cultui. Qui sedes ad dexteram Patris, miserere nobis. Quoniam tu solus sanctus, Tu solus Dominus, Tu solus altissimus, Iesu Christe. [TROPUS:] Claviger etheree interveni sedule. Pax tibi sit unice cosmice ecclesie. Cum Sancto Spiritu, in gloria Dei Patris Amen.
as promessas anunciadas pelo fruto do teu ventre, no sentido de que a esta ofendida esposa [= Igreja] seja restituído o seu adequado culto. Estás sentado à direita do Pai, tem piedade de nós. Pois só és o Santo, Só tu és o Senhor, Só tu és o Altíssimo, Jesus Cristo. [TROPO:] Guarda da porta celeste, intercede rapidamente; a paz da igreja universal e única esteja contigo. Com o Espítiro Santo, Na glória de Deus Pai. Ámen. Comentário: O texto do tropo é uma súplica pelo fim do Grande Cisma da Igreja do Ocidente.
3.1. Una Panthera in conpagnia de Marte (Johannes Ciconia) [madrigal] Una panthera in conpagnia de Marte, Candido Jove d'un sereno adorno, Constante è l'arme chi la guarda intorno: Questa guberna la cità luchana. Con soa dolceça el cielo dispensa e dona, Secondo el meritar, iusta corona, Dando a ciaschun mortal, che ne sia degno, Triumpho, gloria e parte in questo regno.
3.1. Uma pantera acompanhada por Marte (Johannes Ciconia) Uma pantera na companhia de Marte, Cândido Júpiter de um belo céu claro, Constante é a arma que à volta a protege: Esta criatura governa a cidade de Lucca. Na sua clemência o céu dispensa e concede A justa coroa De acordo com os méritos, Dando, a cada mortal que seja digno, Triunfo, glória e uma parte deste reino. Comentário: o texto parece referir-se à aliança concluída em Maio ou Junho de 1399 entre a cidade de Lucca (cujo emblema é a pantera) e Giangaleazzo Visconti, Duque de Milão (simbolizado por Marte, o Deus da Guerra).
3.2. Le Ray au Soleyl (Johannes Ciconia) [cânone] Le ray au soleyl qui dret som kar meyne En soy braçant la douce tortorelle, Laquel conpangnon onques renovelle, A bon droyt sembla que en toy perfect regne.
3.2. O Raio de Sol (Johannes Ciconia) O Raio de Sol que conduz o seu carro a direito, Ao abraçar a doce rola Que nunca troca de companheiro, Parece que reina em ti perfeitamente. Comentário: Além da referência ao sol, este texto contém duas outras alusões à heráldica dos Visconti: a rola e a divisa “a bon droyt”.
4.1. I cani sono fuora (Ciconia) [instrumental; arr.: M. Gondko] 5.1. Per Quella Strada lactea del cielo (Johannes Ciconia) [madrigal] Per quella strada lactea del cielo, Da belle stelle ov' è'l seren fermato Vedeva un carro andar tutto abrasato, Coperto a drappi rossi de fin oro; Tendea el timon verso ançoli cantando. El carro triumphal vien su montando. De verdi lauri corone menava, Che d'alegreça el mondo verdeçava.
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5.1. Seguindo a Via Láctea do céu (Johannes Ciconia) Por aquela celestial via láctea, Vindo das belas estrelas onde o fecharam, Vi um carro movendo-se em chamas, Coberto de panos vermelhos de ouro fino; Dirigia-se para os anjos que cantavam. O carro triunfal subia cada vez mais alto. Transportava coroas de louro Que verdejavam o mundo de alegria. Comentário: O texto contém uma referência à heráldica dos Carrara, senhores de Pádua. Pensa-se que este texto alude possivemente ao regresso do exílio (1390) de Francesco Carrara “Il Novello”, ou, mais verosimilmente ainda, à outorga do título de “General Imperial”, concedido pelo Sacro Imperador Romano-Cristão (1401). As três cores simbolizam três virtudes cardeais: o branco, a fidelidade; o vermelho, a caridade; e o verde, a esperança (por acaso, cores da bandeira italiana de hoje).
6.1. La Fiamma del to Amor (Johannes Ciconia) [balada] La fiamma del to amor che ça me strinçe Da morte a vita l'alma mia suspinçe. Volava li mey spirti ça per l'aura Quando t'aldì cridar piangendo e dire: “Dove mi lassi? Oymè, ver mi restaura Un pocho la toa mente e non morire!” Quel suono amaro me fé resentire; Cossì l'amor anchor la morte vinçe. La fiamma del to amor...
6.1. A chama do teu Amor (Johannes Ciconia) A chama do teu amor que me abraça, Eleva a minha alma da morte à vida. Voava o meu espírito pela brisa Quando te ouvi gritar e dizer, chorando: “Onde me deixas? Oh! volta o teu pensamento para mim e não morras!” Este tom amargo fez-me compreender: Assim o amor triunfa da morte uma vez mais. A chama do teu amor…
6.2. Chi vole amar (Ciconia) [instrumental] 6.3. Aler m'en veus (Johannes Ciconia) [virelai] Aler m'en veus en strangne partie Pus que pieté est endormie En vos, pucelle, por qui ie mour, Por qui launguis et nuit et jour. Dont ye voy bien que de ma vie N'est retour ans a mort bailgie Se vostre merchi ne me souchour. Oymè, doulent, ye puis bien dire: Adieu la flour de toutes flour, Car iamais ioie avoir ne quir, Mais vivre en pene et en dolour, E tout eur plens d'angous et ire, Criant merchi en plant et en plour, Regratant sovent le parti[r]. O helaien [= Helaine?], fontayne de douchour, A vos ye recomman ma vie. […] [?] Aler m'en veus…
6.3. Quero partir (Johannes Ciconia) Quero partir para uma terra estranha Pois a piedade jaz adormecida Em ti, donzela, por quem morro, E definho noite e dia. Bem vejo que a minha vida Está perdida e votada à morte, Se a tua piedade não vier em meu socorro. Ai, infeliz, posso bem dizê-lo: Adeus, flor de entre as flores, Pois já não quero sentir mais a alegria, Mas viver em dor, penando, E sempre sofrendo, angustiado, Suplicando por compaixão com lamentos e lágrimas, arrependendo-me muitas vezes da partida. Ó helaien [= Helena?], fonte de doçura, A ti entrego a minha vida. [texto em falta?] Quero partir… Comentário: A ortografia original (helaien) parece ser uma transformação do nome «Helaine» (o que permite também uma rima interior com «fontayne»). O poeta dirige-se talvez a uma mulher com este nome, comparando-a com Helena de Tróia.
(intervalo)
7.1. Merçe o morte (Johannes Ciconia) [balada] Merçè o morte, o vagha anima mia, Oymè, ch'io moro, o graciosa è pia. Pascho el cor de suspir ch'altruy no'l vede, E de lagrime vivo amaramente. Aymè, dolent' morirò per merçede Del dolçe amor, che'l mio cor t'apresente. O Dio, que pena è questa'l cor dolent[e] Falsa zudea, almen fa mi morir via. Merçè o morte…
7.1. Piedade ou morte (Johannes Ciconia) Piedade ou morte, ó minha bela alma! Ai! Que morro, ó graciosa e compassiva. Alimento o coração com íntimos suspiros, E de lágrimas vivo amargamente. Ai de mim! Magoado, por mercê Do doce amor que o meu coração te oferece. Meu Deus, que dor é esta que dilacera o coração! Falsa traidora, pelo menos deixa-me morrer já! Piedade ou morte… Comentário: O texto é talvez de Leonardo Giustinian. Ver também O rosa bella.
7.2. [peças instrumentais] (anónimos, I-FAc 117, fol. 93r & 94v)
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7.3. O rosa bella (Johannes Ciconia) [balada] O rosa bella, o dolçe anima mia, Non mi la[s]sar morire in cortesia. Ay, lasso me, dolente deço finire Per ben servire e lealmente amare. Socorimi ormai del mio languire, Cor del cor mio, non mi lassar penare. Oi, dio d'amor[e], che pena è quest'amare. Vide ch'io mor' tut'ora per 'sta zudia. O rosa bella…
7.3. Ó rosa bela (Johannes Ciconia) Rosa bela, ó minha doce alma, Não me deixes morrer, por favor! Ai! Cansado e aflito me deixo morrer Por bem servir e amar lealmente. Agora, livra-me do meu desalento, Coração do meu coração, não me deixes sofrer. Ó deus do amor, que tormento é este amar. Vê como morro a cada momento por esta traidora. Ó rosa bela… Comentário: Texto de Leonardo Giustinian. Foi sugerido que o poeta se dirigia de facto a uma judia de nome Rosa. Entretanto, a palavra «zudia» ou «zudea» significa mais verosimilmente «mulher Judas», isto é, uma traidora.
8.1. In tua Memoria (Arnoldus de Lantins, † ca. 1432) In tua memoria virgo mater nata simus ut sit gloria perpes nobis data. Qui ad te confugium querimus securum nequaquam repudium reverentes durum. Centrum peripherie, doctrine norma et nostre miserie tu formarum forma.
8.1. Que sejam lembrados por ti (Arnoldus de Lantins, ? – ca. 1432) Que a glória perpétua nos possa ser concedida, ó Virgem Mãe. Não rejeites com severidade Os que em choro pedem seguro abrigo. Refúgio dos excluídos, modelo doutrinal, Beleza das belezas na nossa miséria.
8.2. Amen (Codex Faenza) 8.3. Vergine Donzella (Laudario Magliabecchiano) Vergine donzella imperadrice salve et nodrice di Cristo amoroso. Aulente rosa et moscado fino tu che traesti Cristo collaudore di gran solazzo se' fresco giardino nel quale venne ad abitare lo Redemptore. Fosti ripiena del savere divino quando in te venne quello aulente flore in perciò che fosti humile et benigna fosti si degna di Gesù gioioso. Tanta fu l'umilitade virgo Maria che nel tuo core tenesti gratioso che l'alto Sire d'ogne cortesia in te, ch'era dalla gente nascosa, volle venire, et darti signoria del cielo et della terra spatiosa et impetrare indulgentia a tuct'ore al peccatore che a llo core doglioso.
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8.3. Salve, Virgem imperatriz (L. Magliabecchiano) Salve Virgem, jovem imperatriz, Salvação e proteção do Cristo amoroso, Fragrante rosa e esplêndido almíscar Tu que atraíste Cristo para ti, Tal como o fresco jardim em dia de estio no qual o Redentor veio habitar. Quando a ti veio aquela perfumada flor; ficaste cheia da sabedoria divina e porque foste tão humilde e clemente, foste digna do feliz Jesus. Virgem Maria, tal foi a humildade do teu gracioso coração, que o Grande Senhor de toda a bondade desejou vir a ti, que eras desconhecida do povo, e quis conceder-te soberania no céu e na terra, e o privilégio de implorar clemência a qualquer hora para os pecadores de coração contrito.
Musicus Famosissimus – Um tributo a Johannes Ciconia (Liège, ca. 1370 – Pádua, Julho de 1412) Johannes Ciconia é considerado como uma das mais intrigantes personalidades musicais do período anterior a Du Fay, assim como o primeiro grande oltramontano (músico do Norte da Europa) a ter feito uma carreira de sucesso na Itália no dealbar da Renascença. Ciconia, cujo ressurgimento se deve à musicóloga Susanne Clercx-Lejeune, é todavia uma figura misteriosa. Os dados biográficos são frustrantemente escassos. Nascido muito provavelmente por volta de 1370, parece ter sido um dos 'pluseurs enfans natureis' do 'saingnor Johan de Chywongne, canonne de Saint Johan' e de 'une filhe mal provee'. Está documentado na igreja da colegiada de S. João Evangelista de Liège em 1385. Em 1390, parece ter prestado serviços ao Cardeal Philippe d'Alençon e obtido dispensa papal pelo seu nascimento ilegítimo. Terá viajado para Roma com o seu patrono (o tropo 'Suscipe Trinitas' do Gloria, uma súplica à Santíssima Trindade para a recuperação da unidade cristã no período do Grande Cisma, pode de facto datar dos anos passados em Roma). Por volta de 1399 pode ter mantido contactos com – ou talvez residido na – corte do poderoso Duque de Milão e Pavia, Giangaleazzo Visconti. Esta suposição resulta da análise de alguns dos seus trabalhos: os textos do cânon Le ray au soleil comportam divisas heráldicas dos Visconti, enquanto que o madrigal Una Panthera – uma autêntica obra-prima do género – parece ter sido escrito para celebrar uma aliança entre os Visconti e a cidade de Lucca. Desde 1401 e até à sua prematura morte em 1412, Ciconia viveu e trabalhou em Pádua, inicialmente às ordens de Carrara, depois às dos Venezianos. Desempenhou funções musicais na catedral. Nesta época, a sua reputação era tão elevada que alguns não hesitaram em apelidá-lo como 'o músico mais famoso' (musicus famosissimus). Ciconia sente-se igualmente 'à vontade' tanto na música sacra como na profana, mas é na última que o seu talento se revela em pleno. Ao absorver e transformar elementos estilísticos variados (um dom que partilhou com Du Fay), torna-se claramente conhecido.
É escandaloso apercebermo-nos que muita da sua música profana poderia ter ficado desconhecida para nós, se os restos de um códice polifónico que a continha tivessem permanecido ocultos em tomos notariais de bibliotecas de Perugia e Lucca. A produção profana de Ciconia é incrivelmente diversa: mestre da 'ars nova' e da 'ars subtilior' da Europa do Norte, foi capaz, entretanto, de escrever no puro estilo italiano. Além disso, deleita-se a combinar as suas experiências com aqueles mundos estilísticos – com encantadores e magníficos resultados. De especial beleza e qualidade artística são as suas últimas canções – representadas no concerto desta noite por O rosa bella e Merçe o morte – pois revelam um interesse profundo em criar uma espécie de 'campo magnético' de relacionamentos músico-poéticos, uma noção que ele desenvolve em moldes nunca antes ouvidos. Confirmam também a sua pesquisa de algo novo e diferente na poesia, que parece haver encontrado nos poemas amorosos e exaltados de dois nobres venezianos – Leonardo Giustinian e Domizio Brocardo – estudantes na Universidade de Pádua durante a primeira década do século XV. Nas comemorações do 600º aniversário da morte de Ciconia, eis como desejamos celebrar a sua memória: depois de um anónimo 'adieu' (em estilo 'subtilior', que pode ser entendido como um retorno à época da sua aprendizagem musical em Liège), a música de Ciconia guiará o ouvinte através das fases da vida do compositor (tal como as conhecemos ou presumimos) até acabar numa oração dirigida à Virgem Maria. O nosso programa contém ainda outro tributo. Em 1397 um jovem austríaco viajava para Pavia, passando por Pádua, onde ia aprofundar os seus estudos de medicina. O seu nome era Hermann Poll, um dotado jovem médico, a quem os relatos da época atribuem a invenção do clavicembalum. Quando ouvirmos os sons de um cravo primitivo, lembremo-nos deste homem, que morreu ignominiosamente aos 31 anos de idade, na sequência de uma acusação por tentativa de envenenamento do Imperador Sacro-Romano. Michal Gondko (Fevereiro de 2012)
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CORINA MARTI flautas, clavicembalum e direção artística Corina Marti especializou-se em flautas da Idade Média, da Renascença e do período Barroco, bem como em instrumentos de tecla antigos. Nasceu na Suiça, onde onde se graduou em 'música antiga' (flauta renascentista/barroca e cravo). No entanto, o seu coração pertence à música da Idade Média e da baixa Renascença. Essa paixão trouxe-a à Schola Cantorum Basiliensis onde obteve graduação com distinção sob orientação de Pierre Hamon e Kathrin Bopp. Em 2003, passou a orientar a classe de flautas medievais da faculdade do Departamento para a Música Medieval e da Renascença da Schola. É frequentemente convidada para ministrar masterclasses. É co-diretora artística de La Morra, agrupamento especializado em música da alta Idade Média e Baixa Renascença. Além do seu trabalho em La Morra, com flautas antigas e instrumentos de tecla (clavicembalum e clavicytherium), gosta de tocar música barroca e contemporânea e tem surgido como solista e com diversos agrupamentos (incluindo o Hesperion XXI de Jordi Savall) por toda a Europa e Médio Oriente. Para além dos CDs com La Morra, gravou música do século XVII, da Lombardia e sonatas de Johann Sebastian Bach (com a cravista Alena Hönigova), bem como música de origem alemã escrita para cravo e alaúde, dos séculos XV e XVI (com Michal Gondko).
MICHAL GONDKO alaúde, guitarra, direção musical e artística Michal Gondko é o fundador e 'spiritus movens' de La Morra, agrupamento especializado em música tardo-medieval e da Renascença. Especializou-se em instrumentos da família do alaúde da Idade Média e da Renascença. Obteve formação em guitarra clássica na sua Polónia natal, mas entretanto abandonou a guitarra ao centrar a sua actividade em instrumentos dedilhados antigos. As suas primeiras experiências profissionais com 'música antiga' incluem uma antologia de música para alaúde da alta Renascença polaca, gravada em 1997, mas publicada seis anos mais tarde. Foi galardoada pela Associação dos Produtores de Gravação Polaca com o Prémio Publicação 2003 do Ano de Música Antiga. Residente desde 1997 em Basileia, estudou alaúde renascentista (com Hopkinson Smith) e instrumentos medievais dedilhados (com Crawford Young) na Schola Cantorum Basiliensis, onde se graduou. Apesar de o agrupamento La Morra exigir muito do seu tempo e energia, encontra, no entanto, espaço para outros projetos e tem surgido como acompanhador e continuista com diversos cantores e conjuntos (incluindo La Capella Reial de Catalunia de Jordi Savall). Como solista, explorou o negligenciado repertório do alaúde renascentista, tendo publicado, em 2008, uma recolha de música alemã para tecla e alaúde dos séculos XV e inícios do século XVI (gravação efetuada juntamente com Corina Marti).
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LA MORRA agrupamento vocal e instrumental La Morra, designação inspirada pela famosa peça instrumental homónima de Heinrich Isaac, interpreta música europeia do período entre 1300 e 1500, tradicionalmente referido como 'tardomedieval' e/ou 'baixa Renascença' – com ocasionais aventuras fora desta moldura temporal (como os trabalhos escritos para La Morra por Boris Yoffe). O agrupamento presta especial atenção à arte secular da canção, géneros sacros e paralitúrgicos e música instrumental. Logo após a sua criação em 2000, La Morra tornou-se presença habitual nos estágios dos mais prestigiados festivais de música antiga e séries de concertos europeus, participando em eventos como o Festival van Vlaanderen (Bélgica), Netwerk Oude Muziek e Holland Festival Oude Muziek (Holanda), Rencontres de Musique Médiévale du Thoronet (França), Freunde alter Musik Basel (Suiça) e Autunno Musicale (Itália). Realizou várias digressões concertísticas na Finlândia, Chipre, Estónia, Alemanha, Polónia, Espanha e Reino Unido. Numerosas actuações ao vivo, transmissões pela rádio e a produção de quatro CDs (nas etiquetas Ramée, Et'Cetera, Raumklang, e Musiques Suisses) contribuíram para estabelecer La Morra como uma das formações de topo no género, reputada pela evocativa programação de concertos exaustivamente pesquisada; e interpretações que são 'eficientes' (Early Music), 'virtuosas', sedutoras', 'plausíveis' (Diapason), 'numa palavra: encantadoras' (Goldberg Magazine). O agrupamento La Morra está sediado em Basileia, a capital cultural da Suiça, numa íntima proximidade da alma mater dos músicos, a Schola Cantorum Basiliensis, onde a interpretação da 'música antiga' vem sendo investigada desde há 75 anos. O agrupamento – normalmente até 10 cantores e instrumentistas trabalhando sob a conjunta direção artística de Corina Marti e Michal Gondko – redefine-se de acordo com os requisitos dos projetos de concerto ou gravação assumidos.
Eve KOPLI soprano Hanna JÄRVELÄINEN soprano Javier ROBLEDANO CABRERA contratenor Corina MARTI flautas, clavicembalum, dir. artística Elizabeth RUMSEY viela Michal GONDKO alaúde, direção musical e artística
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© Susana Neves
ORQUESTRA VERAZIN orquestra de câmara
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Luís Carvalho direção musical
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Os agrupamentos residentes do FIMPV 5ª feira*21h45 auditório municipal da póvoa de varzim
António Chagas Rosa (1960) Serei só eu... [1960 / ca. 6 min]
Richard Wagner (1813-1883) Siegfried Idyll [estreia em 25 de Dezembro de 1870 / ca. 20 min]
intervalo (15 minutos)
Gustav Mahler (1860-1911) Sinfonia nº 4 em sol maior (versão para orquestra de câmara de Serge Olive / estreia em Portugal) [versão original estreada em 1901 / ca. 55 min] 1. Bedächtig. Nicht eilen [Ponderado, sem apressar] 2. In gemächlichter Bewegung. Ohne Hast [Num movimento moderado. Sem pressa] 3. Ruhevoll [Tranquilo] 4. Sehr behaglich – “Das himmlische Leven” [Muito sereno – «A vida celeste»] (texto de “Alten deutschen Lieder – Des Knaben Wunderhorn” – Velhas canções alemãs – o Rapaz da Trompa Mágica)
(Duração da 1ª parte: ca. 30 min | 2ª parte: ca. 55 min)
Serei só eu… (António Chagas-Rosa) Serei só eu
Hör' ich nur
[...] Serei só eu quem estes sons de suave música [...] está escutando, de tudo aflando, tudo encantando, e dele ecoando, que me trespassam, ao alto esvoaçam, em torno soando, a mim, que enlaçam? Sempre clareando, e em volta ondeando, serão as vagas de brisas leves, ou de perfumes névoas e neves? Quanto se alteiam e em mim suspiram, hei-de aspirá-las, ou hei-de ouvi-las? Hei-de prová-las, mergulhar nelas? [...]
[...] Hör' ich nur diese Weise, die so […] leise, Wonne klagend, alles sagend, mild versöhnend aus ihm tönend, in mich dringet, auf sich schwinget, hold erhallend, um mich klinget? Heller schallend, mich umwallend, sind es Wellen sanfter Lüfte? Sind es Wogen wonniger Düfte? Wie sie schwellen, mich umrauschen, soll ich atmen, soll ich lauschen? Soll ich schlürfen, untertauchen? […]
Trad.: Jorge de Sena
Richard Wagner
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Sinfonia nº 4, de Gustav Mahler (versão de Serge Ollive para orquestra de câmara) Das himmlische Leben (Des Knaben Wunderhorn)
A Vida Celeste (texto da coletânea “O Rapaz da Trompa Mágica”)
Wir geniessen die himmlischen Freuden. D'rum tun wir das Irdische meiden. Kein weltlich' Getümmel Hört man nicht im Himmel Lebt alles in sanftester Ruh'! Wir führen ein englisches Leben! Sind dennoch ganz lustig dabeben! Wir tanzen und springen, Wir hüpfen und singen! Sankt Peter im Himmel sieht zu!
Vivemos gozos celestes, Nada de coisas terrestres. Nenhum mundano alarme Pelos céus se derrame! Tudo vive em doce calma! De anjos a vida levamos, Felicidade perfeita! Dançamos e saltitamos, Rodopiamos, cantamos S. Pedro no céu espreita!
Johannes das Lämmlein auslasset, Der Metzger Herodes d'rauf passet! Wir führen ein geduldig's Unschuldig's, geduldig's Ein liebliches Lämmelein zu Tod! Sankt Lukas den Ochsen thät schlachten, ohn' einig's Bedenken und Achten der Wein kost' kein Heller im himmlischen Keller die Englein, die backen das Brot
S. João larga o cordeiro, Herodes traça-lhe a sorte. Levamos o inocente, Pacífico e paciente Cordeirinho para a morte! S. Lucas mata o novilho Sem qualquer contemplação. O vinho custa um tostão O celestial quartilho E os anjinhos fazem pão!
Gut' Kräuter von allerhand Arten Die wachsen im himmlischen Garten! Gut' Spargel, Fisolen Und was wir nur wollen! Ganze Schüsseln voll sind uns bereit! Gut' Äpfel, gut Birn' und gut' Trauben! Die Gärtner, die alles erlauben! Willst Rehbock, willst Hasen, Auf offener Strassen, Sie laufen herbei!
Verduras de toda a espécie Nascem no jardim celeste. Belos espargos, feijão, Tudo aquilo que nos preste Às cabazadas nos dão! Maçãs, peras, bons cachinhos, O hortelão é mãos largas! Queiras coelho ou cabritinhos, Nas celestes azinhagas Tudo ali anda aos saltinhos!
Sollt ein Fasttag etwa kommen alle Fische gleich mit Freuden angeschwommen! Dort läuft schon Sankt Peter Mit Netz und mit Köder Zum himmlischen Weiher hinein. Sankt Martha die Köchin muss sein!
Se dia de jejum soa, O peixe também não falta. S. Pedro esfalfa-se todo Com a rede e o engodo Na celestial lagoa. Na cozinha, santa Marta!
Kein Musik ist ja nicht auf Erden, Die uns'rer verglichen kann warden. Elftaisend Jungfrauen Zu tanzen sich trauen! Sankt Ursula selbst dazu lacht! Cäcilia mit ihren Verwandten Sind treffliche Hofmusikanten! Die englischen Stimmen Ermuntern die Sinnen, Dass alles für Freuden erwacht.
Não há música na terra Que se possa comparar! Onze mil virgens sem falta Para a dança se aperaltam, Santa Úrsula a mandar! Cecília e os seus queridos São bons músicos de corte! As angelicais cantatas Encantam-nos os sentidos: Que tudo em gozos acorde! (versão em língua portuguesa de José Maria Maciel)
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Serei só eu…, para soprano e quarteto de cordas [versão para soprano e orquestra de cordas] (António Chagas Rosa/Lisboa, 1960) Há muito tempo que desejava pôr em música um fragmento poético de Richard Wagner numa tradução portuguesa. Este desejo, tão fascinante quanto opressivo, só se materializou quando encontrei a tradução ideal, da autoria de Jorge de Sena, do final de Tristão e Isolda. Trata-se de uma recriação magistral da célebre Morte por amor de Isolda, com que a ópera se encerra. Não utilizei o texto integral de Wagner, tendo-me concentrado no essencial do monólogo de Isolda, isto é, as perguntas que nele residem. Divergindo da grande forma wagneriana, surgiu um discurso musical lento e quase imóvel, onde escassos gestos sintéticos sublinham a ação interior do personagem. O quarteto de cordas é a única ligação ao universo sonoro de Wagner, apresentandose como uma memória da orquestra. A geometria da peça – que evita um tratamento naturalista do texto – procura, sim, descrever palavras que se vão gravando lentamente em mármore antigo. António Chagas Rosa (2012)
Siegfried Idyll (Richard Wagner) A origem de Siegfried Idyll remonta a 1864, ano em que Richard Wagner (Leipzig, 22 de Maio de 1813 – Veneza, 13 de Fevereiro de 1883) se ocupava da elaboração de trios e quartetos de cordas que nunca viria a concluir. O 33º aniversário de Cosima Wagner ocorreu no dia de Natal de 1870. Richard Wagner preparou ao longo dos meses precedentes esta magnífica obra, com material desses trabalhos e temas da sua ópera Siegfried (da Tetralogia Der Ring des Nibelungen), e ainda a canção de embalar Schlaf, mein kind Kind, schlaf ein. A aniversariante escreveu no seu diário: «Quando estava a despertar, os meus ouvidos aperceberam-se de sonoridades que enchiam todo o espaço. Já não podia imaginar que sonhava; era música, e que
música! Ao extinguir-se, Richard entrou no meu quarto com os filhos e ofereceu-me a partitura do poema sinfónico para o meu aniversário. Eu estava em lágrimas, mas também toda a casa. Richard tinha instalado a sua orquestra nas escadas e foi assim abençoada a nossa Triebschen.» Os preparativos para a primeira audição decorreram no maior segredo, com o apoio do diretor de orquestra Hans Richter.
Sinfonia nº 4 de Gustav Mahler (versão de Serge Ollive para orquestra de câmara) A reorquestração desta obra-prima de Mahler foi realizada para um conjunto de câmara de 16 instrumentistas solistas, e destinada a criar um colorido completamente novo face ao conteúdo musical da obra original. A escolha do número de partes, bem como a seleção dos instrumentos utilizados, estimula por um lado a depuração da massa orquestral de origem – que de facto adquire uma nova clareza –, mas por outro lado implica numerosas alterações quanto à escolha e à disposição dos instrumentos utilizados. A duplicação de cada parte das cordas (com exceção do contrabaixo) permite enriquecer ainda mais a paleta sonora, com a obtenção de combinações múltiplas na disposição e utilização do colorido das cordas. O segundo andamento é muito representativo sob este aspeto. Para além do facto de permitir aos 16 instrumentistas serem todos autênticos solistas, e também de apelar a todo o conjunto do seu instrumentarium, esta orquestração tem como finalidade a redescoberta da obra original. Quando se conhece uma obra de cor, haverá melhor forma de redescobrir as suas qualidades musicais do que abordá-la com uma orquestração diferente? O texto musical puro foi inteiramente preservado, mas a cor orquestral é totalmente recriada. Torna-se necessário, efetivamente, esquecer os efeitos das grandes massas sinfónicas próprias de Mahler, para nos concentrarmos no texto musical, a fim de que este aí encontre uma nova frescura e um colorido diferente.
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Esta nova cor orquestral, se é inicialmente trabalho do reorquestrador, exige também e sobretudo um grande trabalho por parte dos músicos e do diretor musical. Efetivamente, de nada serve realizar uma nova orquestração, se os intérpretes tentarem fazê-la parecer-se, sob o ponto de vista das sonoridades, com a obra original. O desafio colocado aos músicos é o de interpretarem esta sinfonia como se ela tivesse sido escrita para orquestra de câmara, na origem. O trabalho sobre o som é primordial, e não é senão nessa qualidade que a reorquestração será útil e terá interesse. Serge Ollive (Maio de 2012)
Gustav Mahler (Kalist, Boémia, 7 de Julho de 1860 – Viena, 18 de Maio de 1911) terminou a sua Sinfonia nº 4 em 1900, embora a forma definitiva tenha sido apenas conseguida no ano seguinte. Ainda ligada às três Sinfonias anteriores, pela utilização expressa de um dos poemas populares de Des Knaben Wunderhorn [“A trompa maravilhosa do rapaz”], no último andamento, apresenta no entanto um caráter mais “vienense” e uma orquestração mais reduzida e transparente e, por conseguinte, mais camarística, tão ao gosto de Gustav Mahler. No primeiro andamento, Mahler utiliza uma profusão de temas os mais diversos (inocência quase infantil, encanto, humor e amor). Destaque para a utilização da flauta, identificada com o tema do Paraíso. O violino solo afinado um tom mais agudo, no segundo Andamento, personifica o Freund Hein, o diabo/rabequista que arrasta a alma dos mortos, mas de modo algo ingénuo e inofensivo. É conhecido o testemunho de Bruno Walter sobre a inspiração prestada ao 3º andamento pela visão de Mahler de um túmulo encimado por uma estátua de pedra num sono eterno e de braços em cruz. O tema sofre uma série de cinco variações progressivas até que surge o Paraíso, transparência rarefeita mas explosiva. Finalmente, no quarto andamento, o Paraíso
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revela-se na sua essência: é um mundo infantil de guloseimas, jogos e bebidas, enunciado pela soprano, com São Pedro a presidir aos divertimentos, dando a entender que, através da inocência surge o amor, a felicidade e a paz eterna.
LUÍS CARVALHO direção musical Clarinetista, maestro e compositor, Luís Carvalho tem-se distinguido como um dos mais versáteis músicos portugueses da nova geração. Apresentou-se em recitais e concertos um pouco por toda a Europa, Norte de África, Médio-Oriente e Ásia, muitas vezes estreando as suas próprias obras e de outros compositores contemporâneos portugueses e estrangeiros. Estudou clarinete e composição no Porto (com António Saiote e Fernando Lapa, respetivamente), onde lhe foi atribuído o «Prémio para o melhor aluno do curso» da ESMAE (1994), e direção de orquestra em Milão, S. Petersburgo e Madrid, com Jorma Panula e Jesus López-Cóbos. Especializou-se ainda em direção de música contemporânea com Arturo Tamayo, e frequentou workshops e palestras com compositores de renome como Luis de Pablo (Espanha) e Magnus Lindberg (Finlândia). Galardoado em diversos concursos, destacam-se os prémios obtidos no «Concurso de Interpretação do Estoril» (2001) e no «4º Concurso Internacional de Composição da Póvoa de Varzim», pela sua obra orquestral Metamorphoses… hommage à M. C. Escher (2009). Foi vencedor da Audição para Jovens Maestros organizada pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, e, mais recentemente (2012), nomeado para o Prémio Autores da SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) pela sua obra orquestral Nise Lacrimosa. Dirige várias das mais importantes orquestras portuguesas, como a Orquestra Nacional do Porto, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra do Algarve, a Filarmonia das Beiras (Aveiro), a Orquestra de Câmara Portuguesa (Lisboa), a Orquestra Sinfónica da Póvoa de Varzim, a Orquestra Sinfónica e Coro da Universidade de Aveiro, a Orquestra Sinfónica da ESART (Castelo Branco), e no estrangeiro apresentou-se com orquestras na Rússia, em Itália, na Hungria, em Espanha e na Finlândia. É fundador e diretor artístico e musical da Camerata Nov'Arte, e maestro titular designado da Orquestra Verazin (Póvoa de Varzim). O repertório abordado por Luís Carvalho é vasto e eclético, estendendo-se do barroco à atualidade, e inclui várias estreias absolutas. Dirigiu igualmente diversas apresentações cénicas/operáticas, tais como a estreia absoluta da ópera-oratória Auto da Fundação de Coimbra (Coimbra-2004), escrita por Manuel de Faria em 1963, mas que permanecia inédita há mais de 40 anos. Outras obras cénicas do seu repertório incluem La voix humaine de Poulenc e Il secreto de Susanna de Wolf-Ferrari (Porto2005), ou ainda Pierrot Lunaire de Schoenberg (Aveiro-2004). Dirigiu também obras de teatro musical infantil, nomeadamente Como se faz cor-de-laranja de Pedro Faria Gomes (Porto/Casa da Música2008), e a estreia absoluta do Romance do grande gatão de Sérgio Azevedo, sobre texto de Lídia Jorge (Loulé-2011). Do seu catálogo como compositor, que é maioritariamente editado pela AvA-editions, destacam-se as obras Metamorphoses… hommage à M. C. Escher (2009 – brevemente disponível em CD) e Nise Lacrimosa (2010 – encomenda do Cistermúsica-2011/Festival Internacional de Música de Alcobaça), ambas para orquestra, e ainda Fantastic Variations (2009) para banda sinfónica (em CD pela etiqueta AFINAUDIO), Sax-suite (2000) para quarteto de saxofones (em CD pela etiqueta NUMÉRICA), ou Trois pièces d'hommage (1998) para dueto instrumental e Hornpipe (1997) para trompa solo (ambas brevemente disponíveis em CD). Luís Carvalho aparece em mais de uma dúzia de CD's, quer como clarinetista, maestro ou compositor, e em etiquetas como NUMÉRICA, CASA DA MÚSICA, AFINAUDIO ou PUBLIC ART. É docente da Universidade de Aveiro, e prepara presentemente um doutoramento dedicado à «10ª Sinfonia em fá# maior» de Gustav Mahler. www.luiscarvalho.com
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ALEXANDRA MOURA soprano Licenciou-se em Canto pela Escola Superior de Música do Porto, na classe do Professor José de Oliveira Lopes. Continuou a sua formação no Estúdio de Ópera da Casa da Música do Porto, onde recebeu orientação de Peter Harrison, Jill Feldman, Jeff Cohen, entre outros. Recebeu o prémio de Melhor Interpretação de Música do Século XX no Concurso Internacional de Canto Tomaz Alcaide – 2000 e uma Menção Honrosa no Concurso Nacional de Canto Luisa Todi em 2005. A sua actividade concertista tem-se demonstrado variada interpretando obras como Haddock's Eyes de David del Tredici; Cinque Frammenti di Saffo, entre outras peças, de L. Dallapicola; Midsummer Night's Dream de F. Mendelssohn; Stabat Mater de Haydn e Pergolesi; Te Deum de Francisco António de Almeida; 4 Canzoni Popolari e o King de L. Berio; O Berio de Pascal Dusapin; Vier Capricios de G. Kurtág; Pulcinella de Stravinsky; Maeterlinck Lieder de Zemlinsky; Shadow Circles de Vasco Mendonça; Aventures de Ligetti e Passion, Resurrection de Jonathan Harvey e Viagem da Natural Invenção de Jorge Peixinho. Foi dirigida por maestros como: Martin André, Cesário Costa, Brad Cohen, Peter Bergamin, Yoichi Sugiama, Pierre-André Valade, Aldo Brizzi, Richard Gwilt, Nicola Giusti, Douglas Boyd, Emilio Pomárico, Paul Daniel, Christoph König, Baldur Brönnimann, Laurence Cummings, entre outros. Em ópera foi Vixen (Cunning Little Vixen – Janácek); 1ª Dama (Flauta Mágica – W. A. Mozart); Hänsel (Hänsel und Gretel – E. Humperdinck); Flora (The Turn of the Screw – B. Britten); Mathurine (L'Ivrogne Corrigé – Gluck); Juliet (The Little Sweep – B.Britten); Criside (Satyricon – B. Maderna); Bettina (L'Amore Industrioso – J. Sousa Carvalho); Josabet (Joaz – B. Marcello); German Mascot e English Fan (Playing Away – B. Manson); Strawberry Seller (Death in Venice – B. Britten); Rosa (Rapaz de Bronze – Nuno Corte-Real); Giannetta (L'Elixir d'Amore – G. Donizetti) e Mylia (Jerusalém – Vasco Mendonça).
ORQUESTRA VERAZIN orquestra residente do FIMPV A Orquestra Verazin (ex-OSPV) foi criada em 19 de Outubro de 2002 pelo Município da Póvoa de Varzim, sendo um privilegiado instrumento de trabalho do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim (FIMPV) na preparação, execução e gravação de obras encomendadas a compositores portugueses contemporâneos ou galardoadas pelo Concurso Internacional de Composição da Póvoa de Varzim (CICPV). Apresenta-se regularmente em concertos na região, incluindo a participação nas mais recentes edições do FIMPV, (desde 2003), no Porto (Igreja da Lapa, em 2003, e Coliseu do Porto, em 2005 e 2006), Óbidos (Festival de Ópera, 2006), Figueira da Foz (no Centro de Artes e Espetáculos, em 2004), e Portimão, Faro e Vila Real de Santo António (Festival Internacional de Música do Algarve, em Maio de 2007). Além do seu Diretor Musical fundador, Maestro Osvaldo Ferreira, têm colaborado com a Orquestra os maestros Cesário Costa, Charles Roussin e Luís Carvalho, que desempenha presentemente as funções de maestro titular. Colaboraram ainda com a orquestra agrupamentos e solistas como o Coro da Sé Catedral do Porto, Daniel Rowland, Alexandra Trindade e Augusto Trindade (violino), Miguel Magalhães, Jean-Marc Luisada, Roger Muraro e Valentina Igoshina (piano), Sílvia Mateus, Teresa Cardoso de Meneses e Ana Ester Neves (sopranos), Luís Rodrigues (barítono), António Carrilho (flauta), Marco Pereira e Alexander Znachonak (violoncelo), Samuel Bastos (oboé), Rui Lopes (fagote), Coro da Camerata de Musica Antiqua de Curitiba (Brasil), entre outros. Gravou já quatro CDs para a editora Numérica, três dos quais são inteiramente dedicados a obras
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encomendadas pelo FIMPV ou a premiados pelo CICPV. […] são raros aqueles projetos que reúnem, de forma tão completa e coerente quanto este, todas as etapas da produção musical, desde a encomenda das obras até à sua difusão em concertos ao vivo e mediante o suporte CD, passando por uma dimensão social e pedagógica evidente no aproveitamento artístico de identidades culturais e do capital humano saído dos estabelecimentos de ensino superior […]. (Teresa Cascudo, in Público de 31 de Janeiro de 2004). A Orquestra Verazin (uma das atividades da Associação Pró-Música da Póvoa de Varzim) beneficia do apoio do Governo de Portugal / Secretário de Estado da Cultura / Direção-Geral das Artes desde 2005. Violino I José Pereira Diogo Coelho Tiago Afonso Raquel Costa
Contrabaixo Cristiana Gonçalves
Violino II Sara Veloso Daniel Abrunhosa Christelle do Vale Maria João Batista
Oboé Samuel Bastos
Flauta Carla Rodrigues
Clarinete David Silva Edgar Silva
Violeta Sara Rodriguez Sara Barros Susana Cordeiro Vânia Oliveira
Fagote Lurdes Carneiro
Violoncelo Ana Luísa Marques Fernando Costa Ana Catarina Claro André Carriço
Trompete Hélder Fernandes
Trompa Nuno Costa Hugo Sousa
Alexandra MOURA soprano
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© Luk Van Eeckout
HUELGAS ENSEMBLE agrupamento vocal
Paul VAN NEVEL direção musical e artística
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Música antiga 6ª FEIRA*21h45 igreja matriz da póvoa de varzim
À la Recherche du Temps perdu (Recordação de coisas do passado): à procura dos sons perdidos PARTE I: DE REGRESSO AO PASSADO
Johann Sebastian Bach (1685-1750) 1. O wir armen Sünder [ca. 2 min]
Michelangelo Rossi (1601-1656) 2. Per non mi dir ch'io moia [ca. 5 min]
Orlando di Lasso (1532-1594) 3. Comme la Tourterelle [ca. 4 min]
Jacob Clement (ca. 1515-1556) 4. Qui consolabatur [ca. 5 min]
Alexander Agricola (1446-1506) 5. Fortuna Desperata [ca. 6 min]
Guillaume De Machault (1300-1377) 6. Kyrie da “Messe de Nostre Dame” [ca. 6 min]
[anónimo] (ca. 1250) 7. O Maria Maris Stella [ca. 5 min]
[anónimo] (800) 8. “Laudes Regiae” para a coroação de Carlos Magno no ano 800 [ca. 11 min]
intervalo (15 minutos) PARTE II: VOLTANDO AO FUTURO
[anónimo] (ca. 1280) 1. Belial Vocatur [ca. 6 min]
Guillaume De Machault (1300-1377) 2. Gloria da “Messe de Nostre Dame” [ca. 5 min]
Alexander Agricola (1446-1506) 3. Agnus Dei da “Missa In Minen Syn” [ca. 9 min]
Jacob Clement (ca.1515-1556) 4. Je prens en gré & Response: Mourir me fault [ca. 7 min]
Orlando di Lasso (1532-1594) 5. Agnus Dei da “Missa Triste Départ” [ca. 5 min]
Michelangelo Rossi (1601-1656) 6. Occhi, un tempo mia vita [ca. 4 min]
Johann Sebastian Bach (1685-1750) 7. O wir armen Sünder [ca. 2 min]
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Johann Sebastian Bach (Eisenach, 31 de Março de 1685 – Leipzig, 28 de Julho de 1750) 1. O wir armen Sünder unser Missetat darin wir empfangen und geboren sind hat gebracht uns allen in solche grosse Not dass wir unterworfen sind dem ewigen Tod Kyrieleison, Christe eleison, Kyrie eleison.
1. Oh, quão miseráveis pecadores somos nesta terra! Desde a conceção, desde o nascimento! Pela transgressão, merece condenação a nossa tendência pecadora. Senhor tende piedade de nós, Cristo, tende piedade de nós
Michelangelo Rossi (Génova, 1601 – Roma, Julho de 1656) 2. Per non mi dir ch'io moia dicemi ch'io non l'ami, quest'empia, e par che brami, togliendomi l'amor, tormi la noia.
2. Em vez de me dizer para morrer Ela ordena que não a ame, Esta megera, e parece que deseja, Ao libertar-me do amor, aliviar a minha dor.
S'amor è vita e gioia, priva d'amor non morrà l'alma mia ? donna fallace e ria come sa ben mentir forme e colori: tanto è dir « non amar » quanto è dir « mori »!
Se o amor é vida e alegria, Sem amor o meu coração não morrerá? Falsa e cruel mulher Com que astúcia pode ela dissimular! «Não me ames» equivale a dizer «morre»!
Orlando di Lasso (Mons, Hainault de 1532? – Munique, 14 de Junho de 1594) 3. Comme la tourterelle languit jusque à la mort Ayant perdu sa belle compagnie et consort : Ainsi ne veult confort mon coeur plain de tristesse S'il n'arrive au doux port ou l'atend sa maitresse. RESPONSE : Ou t'atend ta maitresse, amy, ne dis doux port, Mais un lieu de tristesse et sans aucun confort. Or la tienne consort qui d'ennuy n'est plus belle, Languit jusque à la mort comme la Tourterelle.
3. Tal como a rola definha até à morte Tendo perdido a sua bela companhia e consorte: já não quer conforto o meu coração cheio de tristeza, Senão alcançar o doce abrigo onde o espera a sua amada. RESPOSTA: Onde te aguarda a tua amada, amigo, não é doce abrigo, Mas um lugar de tristeza e sem qualquer lenitivo. Ora a tua consorte que de tédio já não é bela, Enlanguesce até à morte como a Rola.
Jacob Clement (Flandres, ca. 1515 – ca. 1556) 4. Qui consalabatur me recessit a me quaero quod volui et non invenio fundent oculi mei lacrimas Quia repletus sum amaritudine.
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4. Aquele que era o meu consolo deixou-me; procuro o que desejo, mas não o encontro. Os meus olhos derramam lágrimas, Porque o meu espírito está cheio de tristeza
Alexander Agricola (Flandres, 1446 – Valhadolid, Agosto de 1506) 5. Fortuna Desperata Iniqua e maledecta, che de tal dona electa, la fama hai denigrata
5. Fortuna desesperada Iníqua e maldita Que de tal dama estimável Denegriu a fama
O morte dispiatata Inimica e crudele Che d'alto piu che Stelle L'hai cusi abassata
Ó morte impiedosa Inimiga e cruel Assim abateste A que estava mais alto do que as estrelas
Meschino et despietata ben piangere posso may et desiro finire, finire li mei Guay
Mesquinho e sem piedade Já não posso chorar mais E desejo acabar Acabar com os meus males
Guillaume De Machault (Reims, ca. 1300 – 1377) “Messe de Nostre Dame” 6. Kyrie e eleison Christe e eleison Kyrie e eleison
6. Senhor, tem piedade de nós Cristo, tem piedade de nós Senhor, tem piedade de nós
[anónimo] (ca. 1250) 7. O Maria Maris Stella plena gracie DUPLUM : Mater simul et puella vas mundicie Templum nostri redemptoris sol iusticie Porta celi spes reorum tronus glorie Sublevatrix miserorum vena venie Audi servos te rogantes mater gracie Ut peccata sint ablata per te hodie Qui te puro laudant corde in veritate.
1. Ó Maria, estrela do mar, cheia de graça Mãe e jovem donzela, recetáculo de beleza,
TRIPLUM: O Maria Dei cella splendor glorie Moysi novi fiscella tronus usie Tu es mater creatoris fons clemencie Porta vite stirps iustorum vas prudencie Sustentatrix orphanorum sinus Messie Audi tibi iubilantes lux ecclesie Ut peccata sint ablata per te hodie Munda munda nos a sorde in caritate.
Ó Maria, casa de Deus, esplendor de glória Cesto do novo Moisés, trono de existência, Tu, mãe do Criador, fonte de clemência, Porta da vida, raiz dos justos, vaso de sabedoria, Sustentáculo dos órfãos, porto do Messias, Escuta os que te aclamam, luz da igreja, Que que os seus pecados sejam hoje lavados por ti. Tu que és pura, purifica-nos do pecado.
QUADRUPLUM: O Maria virgo davitica Virginum flos vite spes unica Via venie, lux gracie, mater clemencie Sola iubes in arce celia Obediunt tibi milicie Sola sedes in trono glorie Gracia plena fulgens deica Stelle stupent de tua specie Sol luna de tua potencia Que luminare a in meridie Tua facie vincis omnia. Precipia mitiga filium Miro modo cuius es filia Ne iudicemur in contrarium Sed det eterne vite premia.
Ó Maria, virgem da linhagem de David, Flor das virgens, única esperança de vida, Via do perdão, luz de graça, mãe clemente, Só tu reinas na fortaleza celeste, Só a ti obedecem os exércitos. És a única a ter assento no trono da glória, Cheia de graça, divinamente resplandecente. À tua vista as estrelas perdem o brilho, O sol e a lua, pelo teu poder, Perdem a luz, qual lâmpada ao meio-dia. A tua formosura tudo vence Apazigua depressa o teu filho, De quem és miraculosamente filha, A fim de que não sejamos condenados, Mas recebamos a vida eterna, como prémio.
Templo do nosso redentor, sol de justiça, Porta do céu, esperança dos acusados, trono De glória, alívio dos doentes, dispensadora Do perdão, escuta os teus servos que te Rogam, mãe de graça, que os seus pecados Sejam hoje lavados por ti.
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[anónimo] (800) 8. Laudes Regiae: Christus vincit, Christus regnat, Christus imperat! (3x) Exaudi Christe leoni summo pontifici et universali pape vita !(2x) Salvator mundi tu illum adiuva Sancte Petre tu illum adiuva Sancte Paule tu illum adiuva Sancte Andrea tu illum adiuva Sancte Clemens tu illum adiuva Sancte Syste tu illum adiuva Exaudi Christe! CAROLO excellentissimo et a Deo coronato atque magno et pacifico regi francorum et longobardorum ac patricio romanorum vita et victoria! Exaudi Christe! CAROLO excellentissimo et a Deo coronato atque magno et pacifico regi francorum Et longobardorum ac patricio romanorum vita et victoria! Redemptor mundi tu illum adiuva / Sancta Maria tu illum adiuva Sancte Michahel tu illum adiuva / Sancte Gabrihel tu illum adiuva Sancte Raphahel tu illum adiuva / Sancte Johannes tu illum adiuva Sancte Stephane tu illum adiuva / Exaudi Christe! Nobillissime proli regali vita! (2x) Sancta virgo virginum tu illam adiuva / Sancte Sylvestre tu illam adiuva Sancte Laurenti tu illam adiuva Sancte Pancrati tu illam adiuva Sancta Anastasia tu illam adiuva Sancta Genoveva tu illam adiuva Sancte Columba tu illam adiuva Exaudi Christe! omnibus judicibus vel cuncto exercitui francorum vita et victoria! (2x) Sancte Hilari tu illos adiuva Sancte Martine tu illos adiuva Sancte Maurici tu illos adiuva Sancte Dionysi tu illos adiuva Sancte Crispine tu illos adiuva Sancte Crispiniane tu illos adiuva Sancte Gereon tu illos adiuva Christus vincit ! Christus regnat ! Christus imperat! (3x) REX REGUM / Christus vincit ! REX NOSTER Christus vincit ! Spes nostra Christus vincit ! Gloria nostra Christus vincit ! Misericordia nostra Christus vincit ! Auxilium nostrum Christus vincit ! Fortitudo nostra Christus vincit ! Liberatio et redemptio nostra Christus vincit ! Victoria nostra Christus vincit ! Arma nostra invictissima Christus vincit ! Murus noster inexpugnabilis Christus vincit !
8. Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera! (3x) Cristo, ouve-nos, vida ao Sumo Pontífice Leão e Papa universal! (2x) Salvador do mundo, vem em seu auxílio São Pedro, vem em seu auxílio São Paulo, vem em seu auxílio Santo André, vem em seu auxílio São Clemente, vem em seu auxílio São Xisto, vem em seu auxílio Cristo, ouve-nos!
Defensio et exaltatio nostra Christus vincit ! Lux, via et vita nostra Christus vincit ! Ipsi soli imperium gloria et potestas per immortalia secula seculorum amen! Ipsi soli virtus fortitudo et victoria per omnia secula seculorum amen ! Ipsi soli honor laus et jubilatio per infinita secula seculorum amen !
Defesa e exaltação nossa, Cristo vence! Luz, caminho e vida nossa, Cristo vence! Para Ele só a glória e poder por todos os séculos dos séculos. Ámen! Para Ele só a virtude, a força e o triunfo por todos os séculos dos séculos. Ámen! Para Ele só a honra, o louvor, o júbilo por séculos e séculos sem fim. Ámen!
Christe audi nos !(3x)
Cristo ouve-nos (3x)
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CARLOS excelentíssimo e por Deus coroado e grande e pacífico rei dos Francos, e dos lombardos e patrício dos Romanos, vida e vitória! Cristo, ouve-nos! CARLOS excelentíssimo e por Deus coroado e grande e pacífico rei dos Francos, e dos lombardos e patrício dos Romanos, vida e vitória! Redentor do mundo, vem em seu auxílio/Santa Maria, vem em seu auxílio São Miguel, vem em seu auxílio/São Gabriel, vem em seu auxílio São Rafael, vem em seu auxílio/São João, vem em seu auxílio Santo Estêvão, vem em seu auxílio/Ouve-nos, Cristo! Nobilíssima linhagem real, vida! (2x) Santa virgem das virgens, vem em seu auxílio/São Silvestre, vem em seu auxílio São Lourenço, vem em seu auxílio São Pancrácio, vem em seu auxílio Santa Anastácia, vem em seu auxílio Santa Genoveva, vem em seu auxílio Santa Colomba, vem em seu auxílio Cristo, ouve-nos! a todos os juízes e todos os exércitos dos francos, vida e vitória (2x) Santo Hilário, vem em seu auxílio São Martinho, vem em seu auxílio São Maurício, vem em seu auxílio São Dionísio, vem em seu auxílio São Crispim, vem em seu auxílio São Crispiniano, vem em seu auxílio São Gerião, vem em seu auxílio Cristo vence ! Cristo reina! Cristo impera! (3x) REI DOS REIS / Cristo vence! NOSSO REI / Cristo vence! Esperança nossa, Cristo vence! Glória nossa, Cristo vence! Misericórdia nossa, Cristo vence! Nosso auxílio, Cristo vence! Nossa fortaleza, Cristo vence! Libertação e redenção nossa, Cristo vence! Vitória nossa, Cristo vence! Exércitos nossos invencíveis, Cristo vence! Muralhas nossas inexpugnáveis, Cristo vence!
Kyrie eleison, kyrie eleison Christe eleison, Christe eleison Kyrie eleison, kyrie eleison. Feliciter! Feliciter! Feliciter! Tempora bona habeas! (3x) Multos annos! AMEN!
Senhor, tende piedade de nós Cristo, tende piedade de nós Senhor, tende piedade de nós Boa sorte! Que tenhas tempos propícios! (3x) Por muitos anos! ÁMEN!
(intervalo)
[anónimo] (ca. 1280) 9. Belial Vocatur diffusa caliditas Muse dominatur militantis novitas Benedictus exitus nesciens errorem Decorus introitus conferens amorem Mensus ulnis Simeonis dominator omnium Miratur infusionis natura officium O, benedicamus Domino.
9. A astúcia corrente chama-se Belial A grandeza da musa guerreira foi vencida. Abençoado o fim dos erros dos ignorantes. Com belos ornatos aparece o amor. O senhor poderoso medindo como Simeão. Admira o natural dever de propagar. Bendigamos o Senhor.
Guillaume De Machault (Reims, ca. 1300 – 1377) 10. “Messe de Nostre Dame”: Gloria in excelsis Deo Et in terra pax hominibus Bonae voluntatis Laudamus te Benedicimus te Adoramus te Glorificamus te Gratias agimus tibi propter magnam gloriam tuam Domine Deus Rex caelestis, Deus Pater omnipotens Domine Fili unigenite, Jesu Christe Domine Deus Agnus Dei Filius Patris Qui tollis peccata mundi, miserere nobis Suscipe deprecationem nostram Qui sedes ad dexteram Patris Miserere nobis Quoniam tu solus sanctus, tu solus Dominus Tu solus Altissimus Jesu Christe Cum Sancto Spiritu in gloria Dei Patris
10. Glória a Deus nas alturas E paz na terra aos homens De boa vontade Nós Vos louvamos Nós Vos bendizemos Nós Vos adoramos Nós Vos glorificamos Nós Vos damos graças pela tua imensa glória Senhor Deus Rei dos céus, Deus Pai omnipotente Filho unigénito, Jesus Cristo, Senhor Deus Cordeiro de Deus, Filho do Pai Vós que tirais o pecado do mundo Tende piedade de nós, Aceitai a nossa oração Vós que estais à direita do Pai Tende piedade de nós Porque só Vós sois o Santo, Só Vós o Senhor, Só Vós o Altíssimo, Jesus Cristo. Com o Espírito Santo na glória de Deus Pai.
Amen.
Ámen.
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Alexander Agricola (Flandres, 1446 – Valhadolid, Agosto de 1506) 11. “Missa in myne zyn”: Agnus Dei, qui tollis peccata mundi miserere nobis Agnus Dei, qui tollis peccata mundi dona nobis pacem
11. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo Tende piedade de nós Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, dainos a paz
Jacob Clement (Flandres, ca. 1515 – ca. 1556) 12. Je prends en gré & Response: Mourir me fault Je prens en gré la dure mort pour vous madame par amours Navré mavez mais a grand tort Dont finiray de brief mes jours
1. De bom grado aceito a morte cruel De bom grado aceito a morte cruel Por vós Senhora, por amor Feristes-me mas tão injustamente Por isso acabarei em breve os meus dias
La chose me vient au rebours Souffrir si tost la mort amere O dure mort que faictes vous Mourir me fault cest chose claire.
Isto acontece-me inesperadamente Sofrer tão cedo a amargura da morte Ó cruel morte, que fazes tu, Devo morrer, é claro para mim.
RESPONSE: Mourir my fault cest chose claire O dure mort que faictes vous La chose me vient a rebours Dont finiray de brief mes jours Navrez mavez mais a grand tort Pour vous Madame par amours Je prens en gré la dure mort.
RESPOSTA: Devo morrer, é claro para mim Ó cruel morte que fazes tu Isto acontece-me inesperadamente Por isso acabarei em breve os meus dias Feristes-me, mas tão injustamente Por vós Senhora, por amor De bom grado aceito a morte cruel.
Orlando di Lasso (Mons, Hainault de 1532? – Munique, 14 de Junho de 1594) 13. «Missa Triste Départ» : Agnus Dei, qui tollis peccata mundi miserere nobis Agnus Dei, qui tollis peccata mundi
13. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo Tende piedade de nós Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo Dai-nos a paz
dona nobis pacem
Michelangelo Rossi (Génova, 1601 – Roma, Julho de 1656) 14. Occhi, un tempo mia vita, occhi, di questo cor dolci sostegni, voi mi negate aita? Questi son ben de la mia morte i segni. Non più speme o conforto, tempo è sol di morire; a che più tardo?
14. Olhos, em tempos a minha vida, olhos deste coração doce sustento, quereis negar-me ajuda? Estes são os sinais certos da minha morte. Já não há esperança, nem consolação É só tempo de morrer; que mais posso esperar?
Occhi, ch'a sì gran torto morir mi fate, a che torcete il guardo? Forse per non mirar come v'adoro? Mirate almen ch'io moro.
Olhos tão injustos! Morrer me fazeis, por que desviais o olhar? Talvez para não verdes como vos adoro? Vede ao menos que eu morro.
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Johann Sebastian Bach (Eisenach, 31 de Março de 1685 – Leipzig, 28 de Julho de 1750 15. O wir armen Sünder unser Missetat darin wir empfangen und geboren sind hat gebracht uns allen in solche grosse Not dass wir unterworfen sind dem ewigen Tod Kyrie eleison, Christe eleison, Kyrie eleison.
15. Oh, quão miseráveis pecadores somos nesta terra! Desde a conceção, desde o nascimento! Pela transgressão, merece condenação a nossa tendência pecadora. Senhor tende piedade de nós, Cristo, tende piedade de nós
À la Recherche du Temps perdu (Recordação de coisas do passado): à procura dos sons perdidos
Gótica na qual cada imaginável técnica rítmica e harmónica, como hoquetos e duplos motivos condutores, podem ser ouvidos à vez. A baixa Renascença está representada por um contemporâneo e companheiro de Josquin Desprez, Alexander Agricola. A sua arte trouxe-lhe fama ainda durante a vida – mas também notoriedade, devido ao ousado contraponto que surpreende continuamente o ouvinte em razão das virtuosísticas confrontações rítmicas. Um ponto alto na arte matemática da proporção. Os compositores da alta e mesmo final Renascença não têm mais nada a acrescentar à arte enigmática e surpreendente de Agricola. Tanto Jacob Clement como Orlandus Lassus esforçam-se por alcançar uma arte humanista, na qual a palavra e o seu significado são o Alfa e o Ómega do contraponto. Jacob Clement é provavelmente o mais trágico compositor da Renascença, arruinado como foi pela dependência alcoólica pela qual, mesmo naquele tempo, se tornou conhecido. As suas composições extremamente melancólicas elevam ao apogeu a arte a cappella do século XVI. O madrigal de Michelangelo Rossi é em todos os pormenores uma exceção – não só neste programa, mas também na história do século XVII. As suas ousadas reviravoltas e mudanças harmónicas, cromatismo enarmónico e escolha de tonalidades (por exemplo, Sol sustenido maior e Ré bemol menor) foram já no seu tempo motivo de incredulidade e discussão. Pietro della Valle, contemporâneo de Rossi, escreve no seu Della Musica dell'età nostra que Rossi pertence indubitavelmente à plêiade dos maiores compositores, pelo seu contraponto criativo.
A jornada musical esta noite empreendida pelo Huelgas Ensemble é dividida em duas partes que formam cada uma a imagem em espelho da outra. A primeira parte tem início na época barroca, recua no tempo ao longo da Renascença e acaba na Idade Média. A segunda parte encena o oposto, partindo da Ars Antiqua do século VIII e regressa ao ponto de partida no fim do dia – um coral de Johann Sebastian Bach. Cada etapa desta jornada é dedicada a um momento crucial de uma época musical. Que a jornada comece e acabe com Bach não surpreenderá o ouvinte. Mesmo no século XXI a sua obra é considerada como a 'Bíblia' da música contrapontística. Embora o coral desta noite nunca tenha sido utilizado numa cantata ou numa Paixão, é todavia um ponto alto da sua obra para coro, pois integra a sua famosa coletânea de corais, publicada depois da morte de Bach pelo seu filho Carl Philip Emanuel. Um elemento deste programa representante da Idade Média [o motete] é uma das principais formas encontradas na Ars Antiqua. O motete O Maria Maris Stella era provavelmente uma das mais populares obras do século XIII: está registado praticamente em todos os mais importantes manuscritos da Ars Antiqua, inicialmente a duas vozes; mais tarde adquiriu uma terceira e mesmo uma quarta voz. Típico da polifonia medieval: cada parte tem um texto diferente. Guillaume De Machaut pode indiscutivelmente ser descrito como o pináculo da alta Idade Média. A Messe de Nostre Dame ocupa uma posição central na sua obra. O contraponto a quatro vozes é uma delineada linguagem nitidamente
Paul van Nevel (Fevereiro de 2012)
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PAUL VAN NEVEL direção musical e artística Paul Van Nevel é proveniente de uma família musical. Nasceu em 1946 na cidade de Limburg, Bélgica. Estudou no Instituto de Música de Maastricht e na Schola Cantorum Basiliensis, onde fundou o Huelgas Ensemble em 1970. É agora diretor artístico do agrupamento e também um reconhecido diretor musical, historiador e uma autoridade na prática da notação antiga e da interpretação. A sua extensa pesquisa de trabalhos perdidos, particularmente os da polifonia flamenga, resultou na redescoberta dos compositores Johannes Ciconia e Nicolas Gombert, sobre os quais escreveu monografias e cuja música tem gravado com o Huelgas Ensemble. É professor convidado da Escola Superior de Hannover e diretor musical convidado do Kamerkoor da Holanda e do Coro da Rádio Dinamarquesa.
HUELGAS ENSEMBLE agrupamento vocal O Huelgas Ensemble foi fundado por Paul Van Nevel em 1970 na Schola Cantorum Basiliensis; a sua designação inspira-se no mosteiro cisterciense homónimo próximo de Burgos. No início especializou-se em música contemporânea, mas em breve a sua atividade concentrou-se na música da Idade Média e da Renascença, recorrendo minuciosamente às fontes primordiais e dando uma vital contribuição para o estudo da música antiga através das suas pesquisas publicadas. O agrupamento propõe um surpreendente programa, com trabalhos por vezes desconhecidos de compositores como Nicolas Gombert, Claude Le Jeune, Johannes Ciconia, Pierre de Manchicourt... As interpretações do Huelgas Ensemble são baseadas numa profunda compreensão das técnicas e práticas vocais da Idade Média e Renascença. Já gravou mais de 50 CDs para a Sony e Harmonia Mundi. Dentre as maiores distinções incluem-se o Prémio Caecilia da imprensa belga, o Choc do Ano de Le Monde de la Musique, um Edison Award, o Cannes Classical Award, o Prix in honorem da Académie Charles Cros e o prémio alemão ECHO Classic. O Huelgas Ensemble é subsidiado pelo Governo Flamengo e pela cidade de Lovaina.
Axelle BERNAGE · Sabine LUTZENBERGER · Michaela RIENER cantus Achim SCHULZ altus Bernd OLIVER FRÖHLICH · Stefan BERGHAMMER · Tom PHILLIPS · Matthew VINE tenor Tim WHITELEY baritonans Joel FREDERIKSEN bassus Paul VAN NEVEL direção musical e artística
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© Clara Honorato
© Clara Honorato
GLI INCOGNITI orquestra barroca
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Amandine BEYER violino, direção musical e artística
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Música antiga sábado*21h45 igreja matriz da póvoa de varzim
“Nuova Staggione” – os concertos de Antonio Vivaldi (1678-1741) gravados em S. Pedro de Rates (Setembro de 2011) Antonio Vivaldi (Veneza, 4 de Março de 1678 – Viena, 28 de Julho de 1741) Concerto para violino e órgão, em dó maior (RV 808) [ca. 11 min] 1. Allegro 2. Largo 3. Allegro
Concerto para flauta transversal, em mi menor (RV 431) [ca. 8 min] 1. Allegro 2. […] 3. Allegro
Concerto para violoncelo, em lá menor (RV 420) [ca. 11 min] 1. Andante 2. Adagio 3. Allegro
Concerto para violino em dó maior (RV 195) [ca. 9 min] 1. Allegro non molto 2. Adagio 3. Allegro
intervalo (15 minutos)
Concerto para flauta transversal, em lá menor (RV 440) [ca. 8 min] 1. Allegro non molto 2. Larghetto 3. Allegro
Concerto para violoncelo em ré maior (RV 403) [ca. 8 min] 1. Allegro 2. Andante e spiritoso 3. Allegro
Concerto para violino e órgão, em sol menor (segundo o RV 517) [ca. 9 min] 1. Allegro 2. Andante 3. [Allegro]
Nuova Staggione (concertos com vários instrumentos e inéditos de Antonio Vivaldi) Se há uma obra pela qual Vivaldi é universalmente conhecido, é decerto Le Quattro Stagioni, um ciclo de concerti para violino e conjunto de cordas. Apesar de haver composto mais de 500 concerti para diversos instrumentos, assim como numerosas obras e peças vocais, As Quatro Estações permanecem como a obra mais
célebre e a mais frequentemente interpretada. Gli Incogniti não puderam resistir ao encanto desta peça, e gravaram-na em 2009. Esta versão obteve um enorme sucesso junto do público e da crítica especializada. Desde então, o grupo interpreta esta magnífica música no mundo inteiro, da China à Colômbia, passando pelos maiores festivais europeus. Felizmente, Vivaldi é muito mais do que o compositor de uma só obra, facultando-nos
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uma produção imensa que nos permite criar novos programas, “novas estações” no nosso percurso vivaldiano… No programa desta noite, apresentamo-vos um florilégio de concerti que representam a invenção de “Il Prete Rosso” sob várias formas. Vivaldi era muito admirado pela sua habilidade no violino, mas, no entanto, soube compor para numerosos outros instrumentos, de que são exemplo os magníficos concerti para flauta ou violoncelo. No Ospedale della Pietà, tinha à sua disposição intérpretes excecionais que eram as suas alunas, com as quais podia experimentar todas as suas ideias de composição. Isto explica sem dúvida a virtuosidade e a profunda pesquisa dos recursos expressivos dos instrumentos utilizados... Interessava-se imenso pela combinação de timbres, de coloridos inéditos, como os do violino e do órgão, que utilizava como instrumentos co-solistas. No caso do concerto RV 808, que o compositor havia
escrito para dois violinos – uma obra que se admitia ter desaparecido –, trata-se de uma recente reconstituição efetuada pelo musicólogo Olivier Fourés. Baseando-nos numa prática correntemente utilizada por Vivaldi, transcrevemo-lo para a tão original formação de violino e órgão como cosolistas. Não poderíamos deixar de escolher para este programa um concerto para violino: optámos pelo RV 195 em dó maior. Quando escutamos este concerto, cheio de energia, de “campainhas, cintilações de fogos de artifício e de cabriolas sonoras, um pequeno resumo de adrenalina” e o comparamos com as outras obras esta noite apresentadas, damo-nos conta de até que ponto Vivaldi foi um compositor moderno e criativo, capaz de realizar obras tão singulares como soberbas e variadas... Amandine Beyer (2012)
AMANDINE BEYER violino e direção musical e artística O primeiro instrumento de Amandine Beyer foi a flauta de bisel: só após alguns anos é que ela se iniciou no violino, na classe de Aurélia Spadaro em Aix-en-Provence. É talvez por esta razão que, após ter terminado os estudos de “violon moderne” no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris e ter escrito uma tese sobre K. Stockhausen, reencontra o caminho da música antiga indo estudar em Basileia com Chiara Banchini. Este período decisivo na sua formação, permite-lhe descobrir o mundo da interpretação retórica, e aproveitar o contacto de personalidades como Hopkinson Smith, Christopher Coin, Pedro Memelsdorff (tocou durante vários anos no agrupamento medieval Mala Punica), Jean Tubéry e Alfredo Bernardini. Todas estas experiências permitiram-lhe formar-se como música e intérprete, e incitaram-na a lançar-se na carreira de violinista itinerante, dando numerosos concertos no mundo inteiro. Partilha atualmente a sua atividade com os diferentes grupos em que participa: os Cornets Noirs, Le Concert Français, o Duo com Pierre Hantaï e o recém-nascido da lista: Gli Incogniti – o seu disco consagrado às Quatro Estações de Vivaldi esteve no centro das atenções da crítica. Reserva um lugar à parte para o ensino: dá cursos na ESMAE do Porto (Portugal), assim como estágios em Barbaste, Mondovi (Itália) e Taipé. As suas Sonatas e Partitas de Johann Sebastian Bach publicadas em Setembro de 2011 renovam a visão barroca e são aclamadas pela crítica: Diapason d'Or do ano, Choc de Classica do ano, Prémio da Académie Charles Cros… Desde Setembro de 2010, Amandine substituiu Chiara Banchini como professora de violino barroco na Schola Cantorum Basiliensis na Suiça.
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GLI INCOGNITI orquestra barroca Fundado por Amandine Beyer em 2006, o agrupamento retira a sua designação da Accademia degli incogniti veneziana, e tenta também absorver o espírito do nome que suporta, ao cultivar um gosto pelo desconhecido em todas as suas formas: experimentação de sonoridades, procura de novo repertório, redescoberta dos clássicos, etc. Gli Incogniti congrega músicos que participaram em diversos projetos ao longo dos anos mais recentes, dando-lhes grande prazer os ensaios e concertos efetuados em conjunto. O seu objetivo prioritário, nesta nova formação, é transmitir uma visão coerente e empenhada das obras que interpretam, orientada pela combinação das suas sensibilidades e gostos. Depois de algumas excelentes críticas sobre as primeiras gravações dedicadas à integral dos concertos para violino de Johann Sebastian Bach (Choc de Le Monde de la Musique, 10 de Répertoire, CD der Monat da revista alemã Toccata), Gli Incogniti apresentou-se nas mais prestigiadas salas de concerto e festivais de música antiga, como a Opéra de Monte Carlo, o Théâtre de la Ville (Paris), Via Stellae (Espanha), Tage Alter Musik Regensburg (Alemanha) ou o Festival de Sablé (França)... O segundo CD, dedicado às Quatro Estações de Vivaldi, e alguns concertos para violino antes não gravados (Choc de Le Monde de la Musique do ano, 10 de Repértoire), publicado em 2008, foi saudado pela crítica como uma renovação da discografia vivaldiana. Durante várias semanas esteve no top das vendas da música clássica em França. As duas últimas gravações foram dedicadas a compositores praticamente desconhecidos, como Nicola Matteis (2009) e Johann Rosenmuller (2010). O conjunto explora os diferentes e ignorados trabalhos destes dois compositores. A crítica especializada elogiou ambas as gravações.
Manuel GRANATIERO flauta transversal Alba ROCA · Yoko KAWAKUBO violinos Marta PÁRAMO alto Marco CECCATO violoncelo Baldomero BARCIELA violone Francesco ROMANO teorba Anna FONTANA cravo e órgão Amandine BEYER violino solo, direção musical e direção artística
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MANIFESTAÇÕES PARALELAS I Masterclasses 6-8/7
Violoncelo 9h30~20h00 AUDITÓRIO MUNICIPAL da Póvoa de Varzim
Miguel Rocha Iniciou os seus estudos no Conservatório do Porto com Isabel Delerue. Em 1983 prossegue a sua formação no estrangeiro com M. Strauss (Paris), Vectomov (Praga), Iankovic (Maastricht), Aldulescu, Pergamenchikov (Basileia), Fallot (Lausanne). Obteve vários diplomas com a máxima classificação, entre os quais o 1º Prémio de Virtuosidade do Conservatório Superior de Lausanne e o 1º Prémio do Concurso Internacional de Música UFAM. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian de 1983-85, para estudar em Paris e na Academia Superior de Praga. Prosseguiu o seu aperfeiçoamento no Conservatório de Maastricht e na Academia Superior de Basileia como bolseiro da SEC. Participou em estágios de Pedagogia na Manhattan University com Burton Kaplan e igualmente em cursos de interpretação com Paul Tortelier, C. Henkel, Janos Starker, P. Muller, M. Tchaikovskaia. Leccionou durante dez anos em várias escolas em França, nomeadamente no Conservatoire National de Belfort, Grenoble, Annecy e na Suiça, em Lausanne, de 1997 a 2000. Atualmente leciona na Universidade Católica do Porto e Instituto Politécnico de Castelo Branco. Gravou para a RDP, RTP, a Rádio Suisse Romande, assim como dois CD – Duo Contracello e Trio Athena. Recentemente lançou dois novos discos com o Duo Contracello e outro com o Avondano Ensemble, gravado com o Stradivarius “King of Portugal”.
7-9/7 Canto
11h00~20h00 AUDITÓRIO MUNICIPAL da Póvoa de Varzim
António Salgado Nascido no Porto, António Salgado terminou os seus estudos musicais no Conservatório Nacional de Lisboa, sob a orientação da Prof.ª Fernanda Correia, ao mesmo tempo que se licenciava em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Depois de um ano de pós-graduação na interpretação e estilo da música vocal barroca, em Amsterdão, sob orientação do Prof. Max von Egmond, recebeu uma bolsa de estudos do governo austríaco para prosseguir com a sua formação vocal em Salzburg, no Mozarteum – Universität fur Musik und Darstellende Kunst – sob a orientação da Prof.ª Wilma Lipp e do Prof. Paul von Schilhawsky, onde realizou Mestrado em Lied e Oratória, com dissertação na obra de Lied de Franz Schubert, intitulada Da Mitologia. Como bolseiro da Secretaria de
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Estado da Cultura frequentou ainda uma pós-graduação em performance cénica no Estúdio de Ópera do Mozarteum, sob a orientação do Prof. Robert Pflanzl. É, ainda, Doutorado em Canto (Performance Studies), pela Universidade de Sheffield. Os seus principais professores foram: Fernanda Correia, Max von Egmond, Wilma Lipp, Paul von Schilhawsky, Robert Pflanzl, Sena Jurinac, Sesto Bruscantini, Nicolaus Harnoncourt, C. Herzog, C. Prestel, W. Parker, Mário Mateus, Fernando Lopes-Graça e Luis de Pablo. É, desde 1993, Professor de Estudos Vocais – Canto – no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, onde fundou, em 1997, o Estúdio de Ópera desta Universidade, e na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, no Porto. A sua carreira como cantor desenvolve-se paralelamente nas áreas do Lied, da Oratória e da Ópera onde constam do seu currículo alguns dos papéis mais relevantes para baixo-barítono. Tem atuado em Portugal, Espanha, França, Itália, Áustria, Alemanha, Noruega, Inglaterra e Brasil. Do seu currículo constam ainda várias gravações em CD e várias publicações em revistas de pedagogia, psicologia e educação musical e vocal. É regularmente chamado a lecionar cursos de canto em Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra, Brasil e Áustria.
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Música de Câmara 16h00~19h00 AUDITÓRIO MUNICIPAL da Póvoa de Varzim
PAVEL HAAS QUARTET (vide programa do dia 11 de Julho)
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MANIFESTAÇÕES PARALELAS II CONCERTOS E ENCONTROS INFORMAIS 7/7
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bIBLIOTECA MUNICIPAL DIANA BAR
Auditório municipal da póvoa de varzim
ORQUESTRA DE CORDAS da Escola de Música da Póvoa de Varzim
RECITAL POR LAUREADOS DO VII CONCURSO DE PIANO DA PÓVOA DE VARZIM
música de Edward Elgar (1857-1934), Gustav Holst (1874-1934), Robert Smith (1958), Adolf Schreiner (1847-1921), Victor Lopez (1956) · Direção musical de Vânia Oliveira
Daniel Rodriguez Hart (categoria E) e Nuno Ventura de Sousa (categoria D) · música de Ludwig van Beethoven (1776-1823), Fryderyck Chopin (1810-1849), Alexander Scriabin (1871-1915), Sergei Prokofiev (1891-1953), Bela Bartók (1881-1945), Claude Debussy (1862-1918), António Pinho Vargas (1951)
SÁBADO*17h00
ORQUESTRA DE SOPROS da Escola de Música da Póvoa de Varzim Música de Gustav Holst (1874-1934), Robert Smith (1958), Adolf Schreiner (1847-1921) e Victor Lopez (1956) · Direção musical de Paulo Veiga
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DOMINGO*18h30 igreja da misericórdia - póvoa de varzim
CORAL ENSAIO da Escola de Música da Póvoa de Varzim música de Antonio Vivaldi (1678-1741) e Arnaldo Moreira (18791962) · Ana Rute Rei (soprano), Sara Amorim (contralto), Tiago Carriço (direção musical)
SÁBADO*21h30
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2ª FEIRA*21h30 Auditório municipal da póvoa de varzim
RECITAL DE CLARINETE E PIANO (alunos da EMPV) Diana Sampaio e Virgínia Lis (clarinete), João Pontes (piano, acompanhamento) · música de Alexandre Delgado (1965), Jules Mouquet (1867-1946), Gioacchino Rossini (1792-1868), Camille Saint-Saëns (1835-1921), Michele Mangani (1966), Felix Mendelssohn (1809-1847)
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3ª feira*21h30
GRUPO INSTRUMENTAL da Escola de Música da Póvoa de Varzim
Auditório municipal da póvoa de varzim
Ernesto Tavares e Rúben Fangueiro (violino), Vânia Oliveira (violeta), Ana Luísa Marques e André Carriço (violoncelo), Sara Sampaio (flauta transversal), Sara Amorim (oboé), Paulo Veiga (trompete), Joana Faria (órgão)
RECITAL POR DOCENTES (da EMPV)
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5ª feira*21h30 Auditório municipal da póvoa de varzim
Tiago Carriço (violino), Maria João Baptista (violino), Vânia Oliveira (violeta), Ana Luísa Marques (violoncelo), David Silva (Clarinete), Paulo Veiga (Trompete), Joana Faria (Piano), João Pontes (Piano) · música de Josef Suk (1874-1935), Benjamim Britten (1913-1976), Alexander Aroutiunian (1920), Sergei Prokofiev (1891-1953)
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domingo*21h30 RECITAL DE GUITARRA E SAXOFONE
(alunos de Carlos Cunha e Guilherme Madureira, da Escola de Música da Póvoa de Varzim) André Fernandes (guitarra) e Nádia Moura (saxofone) · música de Sylvius Leopold Weiss (1687-1750), Matteo Carcassi (1792-1853), Carlos Seixas (1704-1742), Heitor Villa-Lobos (1887-1959), Leo Brouwer (1939), António Lauro (1917-1986), Gerald Garcia (1949), Pedro Iturralde (1929), Darius Milhaud (1892-1974), Georg Philipp Telemann (1681-1767), Alexander Tcherepnine (1899-1977), Johann Sebastian Bach (1685-1750), Astor Piazzola (1921-1922)
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Auditório municipal da póvoa de varzim
RECITAL POR LAUREADOS DO III CONCURSO DE TROMPETE DA PÓVOA DE VARZIM Micael Luís S. Pereira (categoria D) e Pedro Manuel C. Silva (categoria E), Isolda Crespi Rubio e Ingrid Sotolarova (pianistas acompanhadoras) · música de Giuseppe Jacchini (1663-1727), Théo Charlier (1868-1944), Jean Baptiste Laurent Arban (1825-1889), Henry Purcell (1659-1695), Allen Vizzutti (1952), Henri Tomasi (1901-1971)
MANIFESTAÇÕES PARALELAS III EXPOSIÇÕES DIVERSAS 22/6-8/7
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bIBLIOTECA MUNICIPAL diana bar
bIBLIOTECA MUNICIPAL diana bar
Alga Mar, exposição de Algários de Isolina Peixoto
Envelhecer ativamente na Misericórdia, exposição de Fotografia de Sílvia Santos
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em Julho
auditório municipal da póvoa de varzim
museu municipal da póvoa de varzim
Exposição de trabalhos premiados no concurso À Descoberta do Património Musical (Escola EB 2 e 3 Dr. Flávio Gonçalves - Póvoa de Varzim · Escola de Música da Póvoa de Varzim · Conservatório de Música Calouste Gulbenkian - Braga)
• 75 anos do Museu Municipal da P. de Varzim
2ª-Dom*10h~18H30
09h~12H30/14h~17h30
2ª-Dom*10h~18H30
3ª-Dom*10h~12H30/14h30/17h30
– Mostra alusiva às coleções, história, exposições e atividades do Museu desde a sua criação em 1937, por António Santos Graça, até à atualidade. Inauguração: 27 de Julho (21 horas).
• Interiores – Por cima da pele, por debaixo do vestido – Ambientes e trajes íntimos do povo e da burguesia na Póvoa de Varzim dos séculos XIX e XX.
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2ª-6ª*09h00~19H00 sáb-dom*9h~13h/14h30~18h
• Os Jogos Tradicionais e os Brinquedos de Antigamente. Como se brincava e jogava nas ruas da Póvoa de antigamente.
Outras atividades temporárias ao longo do mês de Julho:
posto de turismo da póvoa de varzim
Exposição comemorativa dos 50 anos das Festas de S. Pedro, organização do Arquivo Municipal e do Serviço de Turismo
• Sessões do teatro de marionetas: O homem que falou com os peixes, peça de teatro alusiva à vida e costumes do pescador poveiro. Sessões às terças, quartas e quintas-feiras, mediante marcação prévia (Curso Livre).
• Visitas guiadas ao museu e respetivos pólos arqueológicos, mediante marcação prévia.
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2ª-6ª*09h~12H30/14H~17H30 bIBLIOTECA MUNICIPAL DA PÓVOA DE VARZIM
Exposição de Pintura de Leonel Cunha
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À DESCOBERTA DO PATRIMÓNIO MUSICAL Ensino Genérico Básico | 2º Ciclo No 75º aniversário da morte de Maurice Ravel (1875-1937) Entrevista num sótão Naquele final de Julho, quando chegámos a Paris, para passarmos dez dias de férias, ficámos alojados numa casa de pessoas amigas que por aqui tinham casado com naturais deste país. A chegada foi um matar de saudades e de risos com um sotaque diferente do nosso e apresentaram-nos tudo o que tinham: os seus quartos, as suas salas, a sua longa cozinha, o seu quintal e os seus filhos. Um dos rapazes da nossa idade foi-nos apresentado. Chamaram-no de “Boléro”. Estranhámos o nome. Quando a confiança se estabeleceu entre nós – que é coisa fácil quando somos crianças – perguntámos o porquê do seu nome. Respondeu-nos a rir, num português arranhado e nasalado, que se chamava Maurice. Tinha-se tornado num nome quase de família em homenagem a um músico francês que seu bisavô tinha conhecido, pessoalmente, na guerra de 1914-1918, mais propriamente no ano 1916 em Verdun. E, como o tal compositor, chamado Maurice Ravel, tinha composto uma obra chamada “Bolero”, os seus pais, por brincadeira davam-lhe essa alcunha. “– E tu não te importas?” – perguntou um de nós. “– Que não” – respondeu ao mesmo tempo que acrescentava “–“Tenho muito gosto em ter o nome deste músico e de ter, também, como alcunha o nome de uma obra sua. Porquê? Vocês não conhecem este compositor francês?” Puxámos o lábio inferior para fora em jeito de meia ignorância pois a associação dos dois nomes “Bolero de Ravel” não nos era totalmente estranha. Foi então que o nosso amigo nos disse “– Vocês querem jogar ao jogo de recuar no tempo?” –, ao que nós, cansados de uma longa viagem, respondemos com um sim em uníssono. “– Então vamos para o sótão.” Corremos como doidos por escadas estreitas e, ao chegar à porta, o nosso amigo começou a andar como se fosse um homem misterioso e a assobiar uma melodia que me fez perguntar: – “Maurice, que melodia é essa que assobias?” –, ao que ele respondeu: – “É a minha alcunha!” – Ah!”, exclamei eu, se isso é o Bolero de Ravel então nós tocámo-lo este ano na Disciplina de Educação Musical”. O nosso amigo ficou encantado e propôs o jogo que seria “um faz de conta” e constava no seguinte: só ele é que sabia ler francês. Depois apontando para um monte de livros, de jornais e de revistas antigas disse: – “Ali está a vida de Ravel. Eu vou fazer de conta que sou o compositor e vocês vão fazer de conta que são jornalistas. Vão fazer perguntas que eu vou responder depois de procurar as respostas. Como eu ouço os meus tios e os seus amigos falarem deste compositor – pois alguns até são professores de música e pianistas – e tenho lido algumas das entrevistas e alguns capítulos dos livros – posso responder só aquilo que eu percebi. […] P: Sr. Maurice Ravel, obrigado por nos ter recebido tão amavelmente. Gostaríamos de lhes colocar algumas questões. Fale-nos das suas origens e da sua educação. R: Como eu digo no meu Esboço autobiográfico, “nasci em Ciboure, perto de Saint Jean de Luz (Baixos Pirenéus), a 7 de Março de 1875”, precisamente quatro dias após a estreia da Carmen de Bizet e tenho a certeza que fui mais bem recebido do que essa grande obra desse compositor também com origem espanhola. Sendo meu pai de ascendência suíça e engenheiro civil foi, aquando da construção de vias férreas em Espanha, que veio a conhecer, em Arranjuez, a minha mãe, senhora de origem basca e descendente de uma família espanhola. Nasci eu e três anos mais tarde nasceu o meu irmão, Edouard Ravel, de quem fui sempre muito amigo. Aliás a minha família sempre se deu muito bem – o que foi muito importante para todos. […] P: Quando é que começou a gostar de música? R: “Desde muito pequeno que gostei de música, todo o tipo de música. Meu pai soube desenvolver o meu gosto (…) desde muito cedo (…). Ele considerava que “toda a criança” era “sensível à música – a todo o tipo de música. (…); muito mais culto nesta arte que a maioria dos aficionados, soube desenvolver os meus gostos e estimular precocemente a minha paixão” (…) ; em vez de solfejo, cuja teoria nunca aprendi, comecei a tocar piano com seis anos de idade.” O meu primeiro professor foi Henry Ghys. Mas eu era preguiçoso nos estudos embora gostasse de música. O meu pai, no início, dava-me gorjetas para eu estudar piano. Mais tarde entrei para o Conservatório de Paris em 1889, quando fiz catorze anos. […] P: Conheceu pessoas que foram importantes para a sua vida no Conservatório de Paris? R: Muitas, mesmo muitas e, sem querer se injusto com ninguém refiro-me a duas. Uma delas foi o meu professor de composição Gabriel Fauré e o outro foi o meu grande amigo catalão e intérprete da minha obra, Ricardo Viñes. Embora respeitasse muito o meu professor de composição, eu tinha pouca paciência para estar nas aulas e após dez anos de aprendizagem em conjunto passei a estudar sozinho as regras de composição.
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[…] P: O concerto para a mão esquerda tem uma história interessante! R: Sim. O pianista austríaco Paul Wittgenstein, a quem fora amputado o braço direito na guerra de 1914-18, encomendou-me um concerto para piano e orquestra. Foi um grande desafio e a estreia, com Paul ao piano – e comigo a dirigir a orquestra – deu-se em Viena, a 27 de Novembro de 1931. O Concert pour la main gauche – como ficou conhecido – foi um êxito. Mas em 1932 fiz uma série de concertos pela Europa, com a minha grande amiga e pianista Marguerite Long, que estreará o Concerto em sol. P: Mas estes dois concertos têm ritmos muito fixes. R: Pois têm, sim senhora. É que “a música dos outros, inclusivamente a dos mais jovens, os timbres insólitos, os novos métodos de composição, o folclore e o Jazz” sempre despertaram a minha curiosidade e eu vou utilizar esses elementos novos que, aliás, Gershwin me ensinou a descobrir na música afro-americana. Mas não é só nos concertos para piano. Repare na minha Sonata para violino e piano e veja a influência dos Blues. Por outro lado se estiver atento aos títulos de outras obras minhas reparará que a cultura espanhola, cigana, grega e oriental me seduziram desde muito novo. P: A cultura grega influenciou uma das suas melhores obras: Daphnis et Chloé. R: Pois mas o acolhimento do público não foi bom. O aparecimento desta obra só foi possível após o conhecimento do notável diretor dos célebres Ballets Russes, Serguei Diaghilev, que causavam um furor em Paris. Por essa altura Diaghilev encomendava aos novos compositores, que nessa altura mais se destacavam, obras para a sua companhia. Encomendou-me o bailado Daphnis et Cloé – uma evocação da Grécia antiga. […] P: Que lhe faz lembrar o nome de Ida Rubinstein? R: Primeiro o nome de uma grande amiga e uma genial artista. Depois um telefonema a pedir-me uma obra não superior a 15 minutos. Inspirei-me numa antiga dança andaluza: o bolero. Foi por causa de Iida Rubinstein que escrevi o Bolero – que todos conhecem. E…é graças a essa obra que também o meu nome não tem sido esquecido uma vez que é conhecido pelo nome próprio de Bolero de Ravel. […] P. Como definiria a sua obra? R: Acho que essa pergunta é um absurdo – como a influência de Debussy na minha obra. “ Nunca senti a necessidade de formular, para os outros ou para mim mesmo, os princípios da minha estética (…). No final de tudo “ (…) permanece sempre a música.” Isso é que é o fundamental. P: Se fôssemos alunos qual a sua obra que nos recomendaria para tocar. R: [silêncio] Talvez… Talvez as Valses Nobles et Sentimentales na versão de piano. Mas agora, se me permitem vamos terminar. Estou cansado e ando meio doente. Não sei o que tenho. Sei que já fiz sessenta anos mas…tenho qualquer coisa que os médicos ou não me querem dizer ou não sabem do que se trata. P: Nós gostaríamos muito de lhe agradecer todo este tempo que arranjou para nos receber e queremos desejar-lhe as melhoras. Muito obrigado. Já agora, dá-nos a honra de um autógrafo seu? R: Com muito gosto. Bibliografia CANDÉ, Roland, O Convite à Música. Edições 70, Lisboa (1980) · CANDÉ, Roland, Os Músicos, a vida, a obra, os estilos. Edições 70, Lisboa (1985) · Enciclopédia dos Grandes Compositores, volume 5. Salvate Editora do Brasil, Lda · História da Música (Deutsche Grammophon), Edilibro, S. L. 1987 · KENNEDY, Michael, Dicionário De Música, Publicações Dom Quixote, Lisboa (1994) · Wikipedia, a enciclopédia livre http:/pt.wikipedia.org/wiki/Maurice_Ravel.
Excertos do trabalho realizado pelos alunos José Miguel Furtado, José Miguel Morim e Luís Filipe Almada · Turma do 5º G (Agrupamento de Escolas “Dr. Flávio Gonçalves”, da Póvoa de Varzim · orientação do Professor Luís Amaro Oliveira)
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Ensino Especializado da Música | Complementar
No 400º aniversário da morte de Giovanni Gabrieli (1553/1556-1612) Há vários aspetos na música do passado que parecem fundamentais, até mesmo óbvios, ao ouvido [...] A data exata do nascimento de Gabrielli não é clara (poderá ser 1553 ou 1556), mas esse pormenor revela-se trivial. Já não o é o facto de ter nascido e vivido em Veneza, pois tal refletir-se-ia nas caraterísticas da sua obra e da sua evolução. [...] O seu tio Andrea Gabrielli, com quem estudou, foi igualmente um compositor veneziano de relevo. [...] Giovanni Gabrielli, tal como o seu tio, obteve o posto em S. Marcos em 1585 e manteve-o até à sua morte, em 1612. [...] Dedicou-se principalmente à escrita de música sacra vocal e instrumental. Uma das suas obras mais conhecidas é sem dúvida a Sonata pian'e forte. Tal como o seu nome indica, deve muita da sua fama à exploração constante de dinâmicas. No entanto, há vários aspetos da peça que não deveriam ser considerados uma inovação de Gabrielli, como por exemplo, a especificação do instrumento que irá tocar, o uso do violino e a indicação de dinâmicas. Porém, nem todo o crédito deveria ser retirado a Giovanni Gabrielli, pois se a sua Sonata pian'e forte não é inovadora no sentido de ser a primeira a recorrer a esses diferentes efeitos musicais, é inquestionavelmente relevante quanto à sistematização que faz deles. [...] As inovações estilísticas da música de Gabrielli relativamente ao que se verificava na sua época concentram-se sobretudo no campo instrumental, pelo seu uso frequente e exploração consciente dos sopros e pela explicitação dos instrumentos destinado às diferentes partes. Na sua procura por efeitos sonoros específicos, desde dinâmicas precisas e efeitos de eco a coros que aproveitassem a acústica de S. Marcos, mostrou-se menos relevante nos aspetos harmónicos. [...] Giovanni Gabrielli foi uma contribuição verdadeiramente importante nos géneros instrumentais e sacros que desenvolveu, atraindo ouvintes fascinados a S. Marcos. A sua influência sentiu-se mais diretamente nos seus alunos, como Heinrich Schütz e Hans Leo Hassler. Porém, não os marcou apenas a eles, mas também a todo o pensamento e forma de encarar a música instrumental que tinha apenas uma autoridade incipiente no seu tempo. Bibliografia: KENNEDY, Michael, Oxford Dictionary of music, Oxford University Press, 1985, pp. 273 · LOPES GRAÇA, Fernando; BORBA, Tomás, Dicionário de Música, 2ª ed., Lisboa, Mário Figueirinhas Editor, 1954, pp. 565 – 566 · ARNOLD, Denis; ARNOLD, Elsie M., "Gabrielli, Giovanni", in SADIE, Stanley, The New Grove Dictionary of Music and Musicians, vol. 7, 5ª ed. Londres, Macmillan Publisher Limited, 1980a, pp. 60 – 65 · ARNOLD, Denis; ARNOLD, Elsie M., "Gabrielli, Andrea", in SADIE, Stanley, The New Grove Dictionary of Music and Musicians, vol. 7, 5ª ed. Londres, Macmillan Publisher Limited, 1980b, pp. 54 – 60 · TARUSKIN, Richard, in Music from the earliest notations to the sixteenth century, The Oxford History of Western Music, vol. 1, Oxford University Press, Inc., 2005, pp. 782 – 796 · GROUT, Donald J.; PALISCA, Claude V., A History of Western Music, New York, W. W. Norton & Company, Inc., 1988, pp. 300 - 304
Excertos do trabalho elaborado por Júlia Durand (aluna do 12º do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga · Classe de História da Música da Professora Isabel Gonçalves)
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No 100º aniversário do nascimento de John Cage (1912-1992) John Cage foi um compositor, escritor e esteta, nascido em 1912, em Los Angeles. Conhecido pelas posições polémicas que assumia perante a música relativamente ao conceito de noise (ruído), chocou o mundo aquando da apresentação da obra 4'33'', a sua silent piece, e inspirou compositores e pensadores até aos nossos dias. No entanto, a peça pela qual é tão conhecido e as suas filosofias relativamente ao silêncio e ruído, não são de todo inesperadas. Em 1918, o pintor Kazimir Malevich apresentou Black Square, um quadrado preto. Mais tarde, em 1951, Robert Rauschenberg criaria os seus White Paintings, quadros completamente em branco. O próprio Cage admitiu a influência destas experiências de vanguarda, tendo pensado na sua peça por muitos anos, expondo-a apenas depois de Rauschenberg. Como ele próprio o disse: “Actualy what pushed me into it was not guts but the exemple of R. Rauschenberg (...) When I saw those [White Paintings] I said, Oh yes, I must; otherwise I'm lagging.” (KOSTELANETZ, 71). [...] A atenção da Europa no século passado tinha-se já dispersado por outros continentes e, no séc. XX, com a ascensão dos Estados Unidos, muitos foram os compositores que exploraram as sonoridades exóticas do Oriente. John Cage foi um dos muitos que utilizou esses métodos exóticos, tais como os ensinamentos budistas, e a filosofia zen. [...] No seio familiar, uma das razões pelas quais Cage enveredou pelo caminho da composição foi o seu pai, inventor, que o incitava a criar algo por si próprio. Convenceu-se que seria um grande escritor e, por isso, desistiu do colégio e viajou pela Europa, para contactar com um ambiente artístico mais propício. Envolveu-se com a escrita, mas também com a arquitetura, pintura e música. (...) Nos anos seguintes, Cage concentrar-seia na composição de obras para instrumentos de percussão e para a dança, que considerava uma representação física da liberdade que retirava dos ensinamentos zen. Foi neste período que criou o piano preparado, demonstrando o seu pragmatismo na concretização de novas sonoridades. Para compreender a música de Cage é necessário então libertar-se de todo o sentimento e raciocínio e não pensar “O que é a música?”, “Gosto desta peça?”, ou qualquer outra pergunta trivial que envolvesse a lógica ou a emoção, e limpar a arte e o pensamento das influências do ser humano ou, como o próprio diria: “to make a musical composition the continuity of which is free of individual taste and memory” (SADIE, 598). Para tal, Cage utiliza vários métodos. O primeiro é a tentativa de desumanizar todo o processo criativo, interpretativo e até auditivo, pela introdução da aleatoriedade, quer na peça escrita, como nas indicações dadas ao intérprete. Remove assim qualquer influência da mente humana na sua obra, que é composta de forma aleatória. [...] Bibliografia: CLEARY, Thomas, A essência do Zen, Lisboa, Editorial Presença, 2002, p. 9 · KOSTELANETZ, Richard, Conversing with Cage, New York and London, Routledge, 2003, pp. 5-43-71 · SADIE, Stanley, The New Grove Dictionary of Music and Musicians, vol. 3, 5ª ed. Londres, Macmillan Publisher Limited, 1980, p. 598.
Excertos do trabalho elaborado por João Tiago Maia de Araújo (aluno do 12º do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga · Classe de História da Música da Professora Isabel Gonçalves)
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No 400º aniversário da morte de Giovanni Gabrieli (1553/1556-1612) Giovanni Gabrieli: vida e obra […] Em 1584, torna-se organista da Basílica de S. Marcos de Veneza e passa a trabalhar com o seu tio. Tal união durou pouco tempo, uma vez que Andrea Gabrieli morreu em 1585. Giovanni manteve o cargo de organista até à sua morte, e tornou-se ainda o principal compositor da Basílica de São Marcos. Nesse mesmo ano tornou-se também organista da Scuola Grande di San Rocco, que era o local mais próspero e prestigiado da vida musical veneziana. A Basílica de São Marcos foi fundamental para o trabalho de Giovanni Gabrieli, pois foi lá que nasceu o estilo policoral, que o influenciou largamente. A arquitetura da Basílica permitia a existência de duas galerias para o coro, cada uma com o seu órgão. Isto levou os compositores a escrever peças para dois coros, cada um na sua galeria. Assim, uma voz vinda do coro da direita seria respondida pelo coro da esquerda ou pelo próprio coro e vice-versa, criando efeitos de diálogo e eco. Assistimos assim ao nascimento de um estilo dramático e colorido, onde por vezes se incluíam grupos instrumentais, cada qual ligado ao seu próprio coro. Giovanni mantém esta prática, contrastando diferentes grupos de cantores e instrumentistas, fazendo uso dos efeitos característicos da Basílica. A longa tradição de excelência da Basílica fez também com que o trabalho que Giovanni lá desenvolveu lhe desse grande visibilidade em toda a Europa. Giovanni foi o primeiro compositor conhecido a utilizar a palavra “concerto” na sua obra Concerti, publicada em 1587, onde estavam presentes obras da sua autoria e da autoria do seu tio. Nesta obra estão incluídos os seus primeiros motetos, que mostram a influência do seu tio na sua música, através do uso do diálogo e dos efeitos de eco. […] Este seu último trabalho, Sacrae Symphoniae, teve tal impacto que levou músicos de toda a Europa a irem estudar para Veneza. Aqui Giovanni Gabrieli transmite-lhes o madrigal e o estilo policoral veneziano, que estes alunos levam depois para os seus países de origem, sendo Heinrich Schütz, o seu mais importante aluno. Este alemão ajudou a transportar a música de transição produzida por Giovanni para a Alemanha, o que afetou o curso da história da música, influenciando compositores do período Barroco como Bach. Parece haver uma mudança óbvia no estilo musical de Giovanni após 1605, ano em que Monteverdi publica o seu Quinto libro di madrigale. As composições de Giovanni passam a exibir secções puramente instrumentais e pequenas secções para solistas que cantavam apenas acompanhados pelo baixo contínuo, sendo um dos primeiros venezianos a utilizar aquela que viria a tornar-se uma característica implícita do Barroco. […] Depois da morte de Giovanni Gabrieli, grande parte do seu trabalho foi esquecido. Contudo, hoje é relembrado como um dos primeiros compositores a especificar a instrumentação e a notação de dinâmicas, sendo também famoso pela qualidade das suas obras, e pelo facto de ter feito a ponte ente a música Renascentista e a música Barroca. Bibliografia: BORGES, Maria José; Cardoso, José Maria Pedrosa, História da Música, Manual do Aluno 1º Ano, Edições Sebenta · GROUT, Daniel J. & Palisca, Claude V., A History of Western Music. 5ª ed./Nova Iorque: Norton, 1996. Existe uma tradução portuguesa de uma edição anterior: História da Música Ocidental. Lisboa: Gradiva, 1994 · STANLEY, John, Música Clássica, Os grandes compositores e as suas obras-primas, Editorial Estampa, 2006 · O Mundo da Música, Grandes autores e Grandes Obras, Volume I. Edição portuguesa: Grupo Oceano.
Excertos do trabalho elaborado por Ana Catarina Assunção (aluna da Escola de Música da Póvoa de Varzim · Classe de História da Música da Professora Jacinta Borges)
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PATROCÍNIOS INSTITUCIONAIS
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O Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, a Orquestra Verazin, o Concurso Internacional de Composição da Póvoa de Varzim e o Quarteto Verazin (iniciativas geridas pela Associação Pró-Música da Póvoa de Varzim) são financiados pelo Governo de Portugal / Secretário de Estado da Cultura / Direcção-Geral das Artes
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Mecenato
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Apoios diversos
IGREJA ROMÂNICA DE RATES IGREJA DA LAPA IGREJA MATRIZ
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IGREJA DA LAPA | PÓVOA DE VARZIM A construção da capela de Nossa Senhora da Lapa iniciou-se em 9 de Dezembro de 1770 e arrastouse até 1864. De destacar, no tímpano da fachada, as armas reais de D. Maria I, trabalhadas em pedra. No interior, expõem-se belas imagens em tamanho natural, sendo a maioria do santeiro João d'Afonseca Lapa, de Vila Nova de Gaia. Na capelamor, a tribuna do retábulo está fechada com uma tela a óleo do pintor poveiro Lino da Costa Nilo e representa a Assunção de Nossa Senhora. As paredes laterais mostram dois grandes painéis de azulejos cujos desenhos são da autoria do pintor italiano Silvester Silvestri.
IGREJA MATRIZ | PÓVOA DE VARZIM A primeira pedra da Igreja Matriz da Póvoa de Varzim foi lançada em 18 de Fevereiro de 1743. A construção decorreu até inícios de 1757 (inauguração em 6 de Janeiro) e foi dirigida pelo arquiteto bracarense Manuel Fernandes da Silva. É de admirar a riqueza da talha dourada dos altares laterais e especialmente a da tribuna da capelamor (data da construção da Igreja). Na sacristia, existe um móvel com siglas poveiras. A igreja tem no seu espólio uma casula de damasco verde do século XVI (bordado de seda) e, do século XVII, uma imagem de Nossa Senhora.
IGREJA ROMÂNICA DE S. PEDRO DE RATES As origens da Igreja Românica de S. Pedro de Rates remontam à época romana. A configuração actual resulta da refundação cluniacense do séc. XIII, devida a doação do Conde D. Henrique e Dona Teresa à Ordem de Cluny (cerca de 1100), para que ali fosse implantada a Regra Beneditina. Tem 3 naves, ricos capitéis historiados, porta principal com belo tímpano e portas laterais, sobretudo a do Norte, dignas de atenta observação. O conjunto escultural é dos mais valiosos do período românico português.
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Apoios à divulgação
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Agradecimentos
· Albertino Xavier
· Clara Casanova
Caixa de Crédito Agrícola Mútuo
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
· Alexandra Carvalho
· Conceição Inácio
Escola Secundária Eça de Queirós
RTP – Rádio e Televisão de Portugal, SA
· Alfredo Costa
· Costanza Ronchetti
Papelaria Locus
Direção-Geral das Artes
· Amadeu Coelho
· Deolinda Carneiro
Soc. Mediação Seguros, Lda.
Museu Municipal da Póvoa de Varzim
· Américo Alves
· Dulce Brito
Restaurante Barca À Vela
Direção-Geral das Artes
· Américo Santos
· Elementos da Orquestra de Cordas
Carriço's Joalheiros
Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Ana Luísa Marques
· Elementos da Orquestra de Sopros
Escola de Música da Póvoa de Varzim
Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Ana Paula Pedroso
· Elementos da Orquestra Verazin · Elementos do Coral Ensaio
SIC – Sociedade Independente de Comunicação, SA
· Ana Rute Rei Escola de Música da Póvoa de Varzim
· António Azevedo Oliveira Comissão de Música Sacra da Arquidiocese de Braga
· António Brandão Martins Torres Igreja Matriz da Póvoa de Varzim
· António Lopes da Conceição Associação Pró-Música da Póvoa de Varzim
· António Magalhães Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
· António Pinheiro Ramos Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
· Armindo Ferreira Junta de Freguesia de S. Pedro de Rates
· Artur Castro Antunes Casa do Papel
· Carla Craveiro Coquelicot Delicatessen
· Carla Morais FNAC Santa Catarina
· Carlos Cunha Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Carlos Sousa Caixa de Crédito Agrícola Mútuo
· Catarina Pessanha Póvoa Semanário
· Célio Fernandes
Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Emília Maria R. S. Fernandes Auditório Municipal da Póvoa de Varzim
· Etelvina Marques Relojoaria da Póvoa Sá & Carvalho
· Fernanda Trovão Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim
· Fernando Martins Fernandes Sotkon Waste Systems
· Fernando Pinheiro Alves Faminho, Instrumentos Musicais, Lda
· Francisco Casanova Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
· Goreti Leão Direção Regional de Cultura do Norte
· Grupo Instrumental Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Guilherme Cancujo Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Guilherme Madureira Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Helena Cid Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
· Inês Pedro Sotkon Waste Systems
· Isabel Gonçalves Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga
Axis Vermar
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· Jacinta Borges
· Manuel Costa
Escola de Música da Póvoa de Varzim
Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim
· Joana Faria
· Manuel Sá Ribeiro
Escola de Música da Póvoa de Varzim
Igreja de S. Pedro de Rates
· João Almeida
· Marco Madaleno
RTP Antena 2
Axis Vermar Hotel
· João Chambers
· Margarida Ventura
RTP Antena 2
Plenimagem
· João Graça
· Maria Cristina Barbosa
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
Fundação Calouste Gulbenkian
· João Manuel da Silva Santos · João Pontes
· Maria da Luz Oliveira Póvoa Serve
Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Maria das Dores Milhazes
· Joaquim Maia Igreja
Agrupamento de Escolas Dr. Flávio Gonçalves
Caixa de Crédito Agrícola Mútuo
· Maria de Jesus Rodrigues
· Joaquina Veiga
Serviço de Turismo da Póvoa de Varzim
Biblioteca Musical
· Maria de Lurdes Adriano
· Jorge Domingos Mendes Leal
Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
· Maria Manuela da Costa Ribeiro
· José Abel Carriço
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Mariana Portas de Freitas
· José Eduardo Lemos
Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária Eça de Queirós
· Nuno Rocha
· José Flores Gomes
Igreja da Lapa (Póvoa de Varzim)
Museu Municipal da Póvoa de Varzim
· Octávio Correia
· José Humberto
Rádio Onda Viva
Andante
· Patrícia Moutinho
· José Luís Borges Coelho
Grupo CARDAN
Casa da Música
· Paula Araújo da Silva
· José Maria Maciel · José Paulo Leite Abreu
Direção Regional de Cultura do Norte
Vigararia-Geral da Cúria Arquiepiscopal de Braga
· Júri do III Concurso de Trompete da Póvoa de Varzim · Júri do VII Concurso de Piano da Póvoa de Varzim · Luís Alberto Oliveira
· Paulo Veiga Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Pedro van Rohen Oficina e Escola de Organaria, Lda
· Raquel Antunes Casa do Papel
· Rodrigo Silva Grupo CARDAN
Póvoa Serve
· Roger Amorim
· Luís Amaro Oliveira
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
Agrupamento de Escolas Dr. Flávio Gonçalves
· Rosa Torrão
· Luís Tinoco
Caixa de Crédito Agrícola Mútuo
25º Prémio “Jovens Músicos” da RTP Antena 2
· Rui Gomes Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
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· Rui Vieira Nery Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança · Fundação Calouste Gulbenkian
· Safira Ramos Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian
· Samuel Rego Direção-Geral das Artes
· Sandra Amorim Escola Profissional de Esposende
· Sara Amorim Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Sofia Pinto Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Tiago Carriço Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Tiago Sá Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
· Tomás Postiga A Voz da Póvoa
· Tomaz Rede FNAC Santa Catarina
· Vânia Oliveira Escola de Música da Póvoa de Varzim
· Virgílio Tavares Póvoa Semanário
· Virgínia Cadilhe · Virgínia Lis Escola de Música da Póvoa de Varzim
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Secretariado do Festival Escola de Música da Póvoa de Varzim Associação Pró-Música da Póvoa de Varzim Rua D. Maria I, 56 4490-538 Póvoa de Varzim Tlf: 252 614 145 / 252 611 955 Fax: 252 612 548 festivalmusica@cm-pvarzim.pt www.cm-pvarzim.pt/go/festivalinternacionalmusica
Ficha Técnica Propriedade: Associação Pró-Música da Póvoa de Varzim Diretor da Publicação: João Marques Periodicidade: Anual Tiragem: 500 exemplares Layout e Composição: Roger Amorim/CMPV Ilustração (capa): Paulo Correia/Escola Sec. Eça de Queirós Impressão e acabamentos: Gráfica Nascente Depósito Legal
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IGREJA ROMÂNICA DE RATES IGREJA DA LAPA IGREJA MATRIZ