26.6.13
História da rádio no Brasil Nos anos mais recentes, tem havido uma forte investigação no Brasil sobre a sua história da rádio. Pela montra que aqui coloco, há quatro áreas essenciais: estações de rádio e serviço público, jornalismo, desporto e cantores da rádio (no caso, as rainhas). O repórter Esso marca a história da rádio brasileira. Marca de combustíveis, a Esso patrocinou no Brasil e noutros países da América Latina a produção dos noticiários curtos de três a cinco minutos e esteve no ar naquele país da nossa língua entre 28 de Agosto de 1941 e 31 de Dezembro de 1968. Assim, formou gerações no conhecimento do mundo através dos media. O trabalho de Luciano Klöckner, docente da Universidade Católica de Rio Grande do Sul, revela essa tessitura de informações de síntese e de locução vibrante conhecida pelo nome da Esso com as notícias da United Press Association. Já o estudo de Luiz Carlos Saroldi e Sonia Virgínia Moreira sobre a Rádio Nacional, cuja primeira edição remonta a 1984, transporta-nos para o Rio de Janeiro e para a liderança nacional dessa estação nascida em 1936, um lar de grandes nomes da época de ouro da rádio, como Emilinha e Marlene, as eternas rainhas da rádio, como outro livro aqui analisa. A cultura brasileira foi moldada, de certo modo, pela Rádio Nacional, instalada na Praça Mauá, 7, no centro histórico do Rio de Janeiro.
Os dois livros de Vauci Zucoloto tem virtudes especiais. Se em No Ar, a autora descreve e analisa a história da construção da notícia da rádio brasileira, recuperando o repórter Esso, ela também releva os textos, os formatos, as linguagens e as técnicas empregadas, no livro sobre a programação das rádios públicas no Brasil identifica as influências, as directrizes e as concepções das programações e alerta para a urgência de novas políticas para a radiodifusão. Quanto aos livros de Maria Luisa Rinaldi Huper (rainhas da rádio) e o organizado por Patrícia Rangel e Márcio Guerra (a rádio e os campeonatos do mundo) são os mais gostosos de ler na medida em que contam histórias que emociona(ra)m os ouvintes ao longo das décadas. A rádio fez-se dessas paixões de seguir as disputas entre Emilinha Borba e Marlene como a rainha da rádio (em Portugal, muito mais tarde, tivemos a querela Simone de Oliveira e Madalena Iglésias) e da formação de uma certa identidade nacional proporcionada pela equipa do Brasil e pelas torcidas (claques) que se formaram. O Brasil reunia-se e separava-se perante as figuras populares dos cantores da rádio e dos futebolistas, num tempo em que a televisão não tinha ainda estabelecido a hegemonia mediática nestas áreas.
Leituras: Luciano Klöckner (2008). O repórter Esso. Porto Alegre: Age e EDIPUCRS, 315 p. Luiz Carlos Saroldi e Sonia Virgínia Moreira (2005). Rádio Nacional. O Brasil em sintonia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 225 p. Vauci Zucoloto (2012). No ar. A história da notícia de rádio no Brasil. Florianópolis: Insular, 183 p. Vauci Zucoloto (2012). A programação de rádios públicas brasileiras. Florianópolis: Insular, 263 p. Maria Luisa Rinaldi Huper (2009). As rainhas do rádio. Símbolos da nascente indústria cultural brasileira. São Paulo: Senac, 228 p. Patrícia Rangel e Márcio Guerra (org.) (2012). O rádio e as copas do mundo. Juiz de Fora: Juizforana, 270 p. Publicada por Rogério Santos à(s) 6/26/2013 11:02:00 da manhã 13.12.08
AINDA O FUTURO DA RÁDIO (II)
Os últimos anos têm sido de angústia para a rádio: acaba a FM, mudam-se as frequências, avança-se para a tecnologia digital? Qual: a do DAB? Tem-se criticado a
RDP por ter comprado equipamento DAB, com um custo muito elevado, e sem se avançar muito até agora. Não há receptores a preço popular, não há programas distintos dos oferecidos em FM. Contudo, um estudo publicado no último Verão (The future of radio, pela Swedish Radio and TV Authority) dá uma visão nova ao DAB. O governo sueco quer, em três anos, um avanço significativo da distribuição digital da rádio. Pontos de partida: a rádio é um meio muito importante na preservação e desenvolvimento da liberdade de expressão, diversidade, actividades associativas, integração e acessibilidade aos meios de massa na sociedade (p. 5). A geração mais jovem tem abandonado o meio, mas o governo sueco acha que deve haver um incentivo em termos de programação mais alargada e diferenciada, quer no serviço público quer na rádio comercial. É que, se houve quebra em termos de audiência, aumentou o consumo total do meio. Um inquérito aos consumidores suecos na Primavera de 2008 mostrou que 45% dos ouvintes querem ter novas funcionalidades nos seus receptores de rádio. Mas sabe-se que os suecos consomem de modo equivalente rádio e televisão, quando a rádio já foi o meio mais consumido e hoje há um aumento no consumo dos media em geral (p. 26). Diversas características distinguem a rádio: gratuita, simples de usar, possibilidade de audição em qualquer lugar, quer na residência quer em transportes, permite fazer outras coisas enquanto se ouve, importante como canal de informação em ocasiões de crise e catástrofes. Há diferentes tecnologias para transmitir a rádio digital: rede de televisão, internet, rede de telefones celulares, rede de FM. O estudo considera que a FM não tem hipóteses de crescer, pelo que outros meios de transmissão serão melhores (p. 8). E a tecnologia escolhida como mais apropriada para a rádio digital é o DAB+, um desenvolvimento do DAB inicial (Digital Audio Broadcasting), usado na Suécia desde 1995 e com protocolos técnicos idênticos em toda a Europa, podendo ir até 80 canais nacionais no espaço planeado de frequências. Outras tecnologias digitais disponíveis são HD, FMeXtra, DRM e DRM+, no campo da rádio, DVB-T, DVB-H, DVB-S, DVB-C e MediaFLO, no campo da televisão, MBMS, no campo dos telefones celulares, IP e rádio Pod em internet de banda larga. A autoridade sueca para a rádio e televisão SRTVA identificou a melhor tecnologia atendendo às seguintes questões: de que modo a tecnologia satisfaz as necessidades dos consumidores, que funcionalidades oferece a tecnologia, com que eficiência a tecnologia utiliza o espectro de frequências existente, que condições financeiras existem para a tecnologia, como é que a tecnologia chega aos suecos, como se põe operacional a tecnologia, qual o estado de arte da tecnologia no resto da Europa (p. 22)? O relatório indica que uma tecnologia necessita de vários anos para estandardização, sendo necessário que a indústria ligada à rádio acredite que a tecnologia vai desenvolver-se no imediato e com um prazo de implementação que pode ir de 10 a 20 anos. A portabilidade é um elemento fundamental. A tecnologia DAB é o sistema de rádio digital terrestre com maior expansão no mundo, em especial a Europa. Nos Estados Unidos, a rádio por satélite faz cobertura a nível nacional e os sistemas HD e FMeXtra cobertura regional e local, ocupando as frequências de FM e AM. O Japão escolheu o sistema RDIS (Rede Digital Integrada de Serviços) (p. 88). O sistema DRM tem sido eleito para modernizar as frequências de AM e onda curta. Entre o ano passado e 2008, diversos países tomaram a decisão de opção do DAB e/ou DAB+, como França, Reino Unido, Malta, Suíça, Austrália,
Finlândia e Noruega, enquanto República Checa, Itália, Alemanha, Dinamarca e Holanda fazem testes e abrem licenças para operadores de rádio (pp. 89-90).
As diferentes tecnologias têm distintas audições de rádio conforme o quadro indicado acima (p. 44), com a escuta em FM em larga vantagem (mas o estudo não aplica o fenómento iPod, como João Paulo Meneses observa com oportunidade na sua tese de doutoramento). Curiosamente, a audição da rádio em casa e no automóvel têm a mesma percentagem (79%), com 49% os que dizem ouvir no emprego ou na escola e 6% a guardarem um programa em computador ou mp3 (p. 46) (para ver melhor, clicar em cima da imagem).
A digitalização traz questões novas, caso dos direitos de autor, em especial quando um programa corre em várias plataformas. Este é um problema não apenas na rádio mas que tem sido discutido na televisão, na imprensa e nas indústrias de jogos digitais e telemóveis (p. 39). O estudo conclui, entre outras, com as seguintes razões: 1) necessária uma forma principal de distribuição, 2) a digitalização é um elemento imprescindível, 3) decisão de implementar a regulação e atribuir licenças, 4) criação de serviços públicos, com rádios locais e rádios comunitárias (p. 102). Publicada por Rogério Santos à(s) 12/13/2008 07:20:00 da tarde Sem comentários: Etiquetas: Rádio 14.5.04
OS ANOS DO MUSEU DA RÁDIO Faz hoje doze (12) anos que abriu as portas o Museu da Rádio. Escreve Matos Maia no seu livro Telefonia (Círculo de Leitores, 1995, p. 296): "O Museu foi uma ideia do Rádio Clube Português, na década de 60 [...]. [Ela] partiu de José do Nascimento, quadro superior do Rádio Clube Português [...]. Desde a primeira hora, colaboraram com José do Nascimento, no projecto, outros dois colegas do RCP: Manuel Bravo e Armando Leston Martins". Depois, seguiram-se várias vicissitudes, acabando o Museu
por ser inaugurado em 14 de Maio de 1992. O museu tem cerca de cinco mil peças e recebe anualmente à volta de doze mil visitantes. Na hora em que se comemora o 12º aniversário, há nuvens muito toldadas quanto ao seu futuro. A notícias editada no jornal Público, do passado dia 1, não foi ainda desmentida pela administração da RTP, proprietária do museu. Para além da possível transferência do património para o Museu das Comunicações, a notícia informa que uma parte do acervo pode ir para a sucata, o que seria lamentável. Apelo ao bom senso de quem manda nestas coisas para que repense o futuro de tão importante museu. Peço a todos os internautas que consultem o blogue A Minha Rádio e assinem a petição. Por favor, visitem ainda o sítio Rádio no Sapo. MEMÓRIAS DA RÁDIO NO PROGRAMA JARDIM DA MÚSICA Na última segunda-feira, no programa de Judite Lima, Jardim da Música (Antena 2), Eduardo Street continuou a falar das memórias da rádio. Ele referiu-se a um programa de 1955, Viagens da Terra à Lua, de Pedro Moutinho, o qual ganharia o segundo lugar no Prémio Itália para a radiodifusão. Dois anos antes do lançamento do primeiro Sputnik e a uns anos largos da primeira viagem a sério até à Lua, a Emissora Nacional usava seis gravadores para criarem o efeito dos sons dos propulsores dos foguetões espaciais. Era um tempo magnífico para a ficção científica. Para a próxima semana, Eduardo Street falará dos 60 anos da RDP. Foi no ano de 1934 que a então Emissora Nacional começou a emitir ainda em fase de experiências. FERNANDO CORREIA EDITA LIVRO SOBRE A RÁDIO O conhecido radialista Fernando Correia acaba de lançar um livro intitulado A rádio não acontece...faz-se. Nomeadamente na antiga Emissora Nacional, depois Antena 1, conservo ainda no ouvido os seus relatos desportivos, de uma rara beleza [por vezes, eu confundia a sua voz com a de Artur Agostinho, outro grande relator desportivo da rádio portuguesa]. Ainda hoje, Fernando Correia anima o programa Bancada central na TSF, um fórum à noite sobre desporto, mas em especial sobre futebol. Fernando Correia é ainda professor do Instituto Piaget, em Almada, na área das Ciências da Comunicação. Ora, o que diz este livro? Ele é "uma tentativa de difusão do conhecimento adquirido ao longo dos anos, de muitos anos, na rádio, nos programas, nas reportagens, nos espectáculos, no jornalismo radiofónico e no contacto com as pessoas e é, também, a forma de contar algumas histórias" (p. 7). Para a rádio entrou em 1958: "Regressei [de Londres] para ingressar no SNI Secretariado Nacional de Informação, como locutor, e para fazer concurso de admissão à Emissora Nacional de Radiodifusão" (p. 13). No concurso ficaria em primeiro lugar. Mais tarde, percorreria, como repórter da guerra colonial, Angola, Moçambique e S. Tomé e Príncipe. Sobre a rádio dos anos 60, Fernando Correia destaca a Emissora Nacional, que "tinha a vantagem de contar com as melhores vozes (locutores), vindos de uma cuidada selecção e de concursos sobre concursos, com proveniência, em muitos casos, da Rádio Universidade (que emitia em horários próprios numa frequência da E. N.) ou do Secretariado Nacional de Informação (SNI)" (p. 51). E o autor evoca nomes como os de Maria Leonor, Etelvina Lopes de Almeida (desaparecida a semana passada), Artur
Agostinho, Pedro Moutinho, Amadeu José de Freitas, Domingos Lança Moreira, Nuno Brás, Carlos Cruz e Romeu Correia, nomes que também guardo na minha já longa memória. Por oposição, escreve sobre a rádio gira-discos: "contrapontos inevitáveis, numa situação de comodismo, facilitismo e refúgio [...]. Foram as rádios gira-discos que quiseram concorrer apoiadas no consumo de adolescentes e jovens. Os exemplos estão aí: RFM, Rádio Comercial, Antena 3 e uma nova versão do saudoso Rádio Clube Português que substituiu a Rádio Nostalgia" (p. 95). E Fernando Correia defende a reportagem radiofónica, o sector mais atractivo do meio, "por corresponder a um acto jornalístico completo", pois "encerra escrita, observação, análise, procura, poder de descrição, fluência e bom senso" (p. 83). Entre outras, recorda as reportagens da visita da rainha da Inglaterra, Isabel II, ainda nos anos de 1950, a partida dos primeiros contingentes para Angola, onde deflagrara a guerra em 1961, e os incêndios do Teatro Nacional D. Maria II e da Igreja de São Domingos. Tenho uma grande admiração por este profissional da rádio. Mas, como em tudo na vida, há coisas que enjeitamos. Comigo, acontece com o que Fernando Correia escreve sobre o ensino (pp. 14-15). Ele considera que a Escola (presumo que a Universidade) tem "pessoas cheias de boa vontade que empinaram uma montanha de teoria que, na prática do ensino, não lhes serve de nada. O que acontece a seguir? Na maioria dos casos, a rejeição dos alunos, ou a formação de alunos que não vão conseguir arranjar emprego em parte alguma". E escreve ainda: "quase todos os professores não estão à altura das necessidades do ensino, porque não têm prática". Não podemos confundir a Universidade - espaço de saber e de especulação - com escolas profissionais, de ensino vocacionados para a "resolução de problemas de ordem técnica", como se lê no seu livro. É provavelmente a grande mistificação do nosso tempo. Livro: Fernando Correia (2004). A rádio não acontece... faz-se. Lisboa: SeteCaminhos. Preço: €14,50. Publicada por Rogério Santos à(s) 5/14/2004 08:28:00 da manhã Sem comentários: 30.12.08
OS MEDIA SEGUNDO MICHELE HILMES (I) Michele Hilmes, em A cultural history of broadcasting in the United States (2002), olha os media electrónicos ao longo do século XX, entrando já no novo milénio. Avalia a evolução de cada um deles (rádio, televisão, internet) década a década, comparando-os com as principais tendências sociais, empresariais, culturais e políticas. Assim, seguindo a sua estrutura, dividi em 10 pequenos capítulos a evolução desde os amadores da rádio até à digitalização e internet. O primeiro abrange o período de 1919 a 1926, a data do começo da rádio. De acordo com Hilmes, foi o período em que a radiodifusão saiu das garagens e sótãos dos amadores e se tornou uma prática social americana. Apesar de questões sociais violentas (imigração, expansão urbana, desemprego), houve um aumento de riqueza na sociedade em geral e uma intensa experimentação cultural, como o jazz, e a que a rádio acrescentou a sua voz única. À medida que a rádio ganhava centralidade e importância social na vida das pessoas, também atraiu um debate sério.
O segundo capítulo decorre de 1926 a 1940, naquilo a que a autora chamou de redes comerciais na rádio. Os anos de 1920, após a guerra mundial, foram de expansão. Contudo, a grande depressão de 1929 trouxe uma quebra na construção civil e nas finanças e um grande reflexo no emprego. 28 de Outubro de 1929 foi a designada segunda-feira negra, com a bolsa de valores a cair 49 pontos, algo até aí inédito pela perda de dinheiro que acarretou e pelos prejuízos no mundo das empresas e do emprego. De modo interessante, a rádio foi uma das raras indústrias a escapar à Depressão (já o cinema, o teatro de revista e a imprensa foram afectados). Na segunda guerra mundial, o uso da rádio foi intenso. A publicidade entraria na rádio, e esta seria palco de controlo empresarial e de domínio comercial. Longe de reflectir um processo natural e simples do desenvolvimento tecnológico, o audiovisual americano sairia de um grau elevado de indecisão e controvérsia na sua direcção. A indústria não foi uma actividade monolítica: apesar de a NBC e da CBS se tornarem rapidamente os dois principais interlocutores, exercendo um grande controlo oligopolista sobre a rádio, elas concorreram entre si e enfrentaram as forças poderosas da indústria publicitária. Há uma influência forte das agências de publicidade na produção de programas. Combinadas, as redes de rádio, as agências de publicidade e o público criaram a chamada idade de ouro da rádio americana. O terceiro episódio recobre igualmente os anos de 1926 a 1940, apresentando outra faceta, a da rádio para toda a gente. No final da década de 1930, havia 80% dos lares americanos com receptores de rádio. Os rádios foram introduzidos nos automóveis em 1930. Em 1940, em cerca de 1/4 dos automóveis podiam sintonizar-se estações de rádio. O preço dos rádios baixou drasticamente, embora ainda representasse um investimento considerável no rendimento familiar. Para Michele Hilmes, a rádio tornava-se uma das formas mais híbridas do século XX, comparando, adaptando e criando, acções baseadas nas características e capacidades próprias da rádio. Cada estação era uma mistura curiosa de entretenimento, levando o meio rádio a ser nos anos 1940 uma indústria lucrativa e um centro de vida. Agências de publicidade, redes e estações, com uma dose de actividade tirada a Hollywood em termos de novas formas de entretenimento, informação e expressão, criavam um novo mundo de estrelas e estilos de vida copiando a vida dessas estrelas. Assim, programas, géneros, estrelas e audiências de fãs emergiam. As redes de estações dividiriam os seus períodos em horários diurno e nocturno. O horário diurno tornou-se o espaço das mulheres, com a novela radiofónica. A crítica, vinda da esquerda e da direita, via a música como um meio que veiculava gostos de baixa cultura e muito permeável à publicidade. Leitura: Michele Hilmes (2002). A cultural history of broadcasting in the United States. Belmont, CA: Wadsworth
[continua]
Publicada por Rogério Santos à(s) 12/30/2008 09:36:00 da manhã Sem comentários: Etiquetas: Media 30.10.05
SOBRE O LIVRO DE DINA CRISTO Já aqui escrevera sobre o lançamento, na passada segunda-feira, do livro de Dina Cristo, A rádio em Portugal e o declínio do regime de Salazar e Caetano (1958-1974). Aproveitei o fim-de-semana para o ler. O texto divide-se em três partes: 1) discursividades: da rádio tradicional à rádio nova, 2) dispositivo técnico e condições de actuação, 3) rádio e poder: estratégias e relações. Tese de mestrado defendida em 1999, ainda bem que se processou a sua publicação, pois cobre um até agora pouco trabalhado período - e que será bom comparar, embora num outro meio de comunicação, com a tese de doutoramento de Ana Cabrera (sobre a imprensa no período marcelista), quando esta for editada. Do livro, destaco as páginas intituladas Plano económico (pp. 73-78), onde a autora analisa a publicidade que "inundou a rádio, nos anos 50" (p. 73). As pequenas estações englobadas nos Emissores Associados de Lisboa e Emissores Norte Reunidos (Porto) beneficiariam com ela, após hesitações políticas ao longo de duas décadas, sobre a sua necessidade ou não para o funcionamento das emissoras. Uma das maiores estações de então, o Rádio Clube Português, aproveitaria o boom publicitário para inaugurar estúdios na rua Sampaio e Pina (Lisboa) e um novo emissor de ondas médias (p. 75). Com a liberalização publicitária, reaparecia o produtor independente (de que já havia antecedentes nos anos de 1930), formando-se empresas como APA, Produções Lança Moreira, Gilberto Cotta, Sonarte, que passariam a dominar as rádios privadas (p. 77). Mas na década de 1970, o peso excessivo dos produtores, que enchiam os programas com publicidade, começaram a ser contestados. Dina Cristo, nas páginas iniciais, dá conta da rádio instalada no começo dos anos 1950 e na ruptura que se preparou nos finais da década de 1960, com relevo para programas como PBX (Carlos Cruz e Fialho Gouveia, 1967), Página 1 (José Manuel Nunes, Rádio Renascença, 1968), Tempo Zip (1970) e Limite. A esta programação, dispersa pelo Rádio Clube Português e Rádio Renascença, a autora designa-a como a rádio nova, em que a reportagem de rua e a passagem de discos novos criariam outros públicos de rádio, jovens embora minoritários. Ela chama a atenção para a importância da Rádio Universidade como centro irradiador de novas experiências estéticas que possibilitaram essa renovação da rádio em Portugal, em condições difíceis, dada a permanente censura. A obra agora editada tem uma preocupação pelo lado jurídico do meio e por momentos de maior peso político por que a rádio passou. Daí, o realce dado à preparação do golpe de estado de 25 de Abril de 1974 - e os seus preparativos na rádio (pp. 28-32) - e à radiodifusão no começo da guerra colonial (1961) (pp. 44-54). E também à descrição e análise da propaganda, dividida em três parcelas: subversiva, de integração, contrapropaganda (pp. 93-118). Baseada em entrevistas com agentes radiofónicos que participaram no período estudado (ao todo, 18) e na análise dos arquivos de Salazar, da polícia política PIDE/DGS e da RDP (rádio pública, até 1974 com a designação de Emissora Nacional), bem como leitura da imprensa da época, conclui-se que o trabalho de Dina Cristo
está bem documentado e possui uma escrita leve, combinando o registo da citação com a análise histórica e social da época, o que permite uma leitura rápida e agradável. Leitura: Dina Cristo (2005). A rádio em Portugal e o declínio do regime de Salazar e Caetano (1958-1974). Coimbra: MinervaCoimbra, 148 páginas, €16. Publicada por Rogério Santos à(s) 10/30/2005 01:35:00 da tarde Sem comentários: 8.11.09
A RÁDIO EM PORTUGAL: UMA APROXIMAÇÃO AO LOCAL •
O texto abaixo inserido foi publicado no livro de vários autores, Ecos da lusofonia. 7 anos de rádio em cooperação (2006), editado pela Fundação Evangelização e Culturas. As imagens acompanharam dois textos meus na revista Jornalismo e Jornalistas, números 4 (2000) e 15 (2003). As fotografias das primeiras quatro imagens foram tiradas por José Frade no desaparecido Museu da Rádio. Algumas das imagens seguintes foram retiradas do Boletim da Emissora Nacional (1935-1936). Agora que se aproximam os 75 anos da rádio pública (Agosto de 2010), este é o meu preparativo para a comemoração. O texto dá uma ideia sucinta do surgimento da rádio em Portugal, de iniciativa privada e popular em 1924. Inicialmente com alcance local, as possibilidades tecnológicas permitiram chegar a distâncias mais elevadas, perdendo-se o conceito de proximidade. Após décadas de rádios nacionais, os anos 80 marcaram uma viragem e uma reaproximação ao local, com atribuição de licenças para emitir a partir das cerca de 350 autarquias. Do começo da rádio até finais do século XX As primeiras emissões de rádio em Portugal começaram no Outono de 1924. Um dos pioneiros foi Abílio Nunes dos Santos Júnior, que instalou o emissor CT1AA, com programação constituída por peças tocadas ao vivo, dentro de um reportório de música clássica. As estações pertenciam a comerciantes, gestores de hotelaria e militares, chamados amadores da rádio ou senfilistas. Em 1931, apareceu a primeira estação moderna, o Rádio Clube Português (RCP), liderado por Jorge Botelho Moniz, que apresentou uma programação voltada para a música popular (portuguesa, espanhola e americana), programas infantis, informação, religiosos e de crítica musical. Pouco tempo depois, em 1935, começou a Emissora Nacional, com outra estrutura. Um dos maiores êxitos na sua programação foi o “Retiro da Severa”, local de transmissão de música popular (fado). A terceira grande estação a inaugurar as suas emissões foi a Rádio Renascença, ligada à Igreja Católica, em 1937. No final da década, estava formado o panorama da rádio em Portugal, e que perduraria até à mudança de regime político, em 1974. Para além das três estações mencionadas, havia conjuntos de pequenas estações agrupadas em Lisboa (Emissores Associados de Lisboa) e no Porto (Emissores do Norte Reunidos). Em termos tecnológicos, a grande novidade, nos anos 60, seria a transmissão em simultâneo de ondas médias e por modulação de frequência, significando maior qualidade na recepção. Já nos anos 80, irrompeu o fenómeno das rádios piratas, reconvertidas em rádios locais, de
proximidade ou temáticas, de que se destacou a TSF, que apostaria na informação, nomeadamente a política. Já na viragem para o século XXI, o desafio tecnológico da rádio chama-se digitalização, com vantagens como melhor qualidade de registo de programa, perfeita fiabilidade na transmissão e recepção, articulação com vários suportes (imagem, por exemplo), disponibilização de cópias em vários suportes (caso da internet). Isso permite que, com uma estrutura mínima, se faça uma estação de rádio local mas com alcance mundial.
Presente e futuro Em Portugal, existem quatro grupos de dimensão e notoriedade nacionais (RDP, Grupo Renascença, Media Capital e TSF) e cerca de 350 rádios locais ou de proximidade. Enquanto as rádios de cobertura nacional se integram, por regra, em grupos e apresentam maior estabilidade e volumes de negócios, as rádios locais são pequenas e médias empresas que facturam anualmente pouco acima de €100 mil. O número médio de colaboradores é de cinco por estação, equivalente a um mínimo de três a quatro animadores para todo o dia de emissão e fim-de-semana, para além de um técnico ou jornalista. O ordenado médio do jornalista situa-se entre o salário mínimo nacional e os €498,80. Mas outras rádios locais têm dificuldade em ultrapassar €10 mil por ano, o que dá uma média mensal de pouco mais de €800, insuficiente para pagar além de um colaborador a tempo inteiro, sem contar com instalações, electricidade e discos). A falta de quadros (programadores, jornalistas) traduz-se em programação fácil e indiferenciada. A que se acrescenta a crise económica da presente década, que implicou uma baixa de investimentos publicitários, com redução do custo dos blocos de publicidade, passando de €30 euros por 30 segundos no começo dos anos 1990 a €12,5 dez anos depois, acarretando problemas de solvência. Muitas das rádios locais vivem da música portuguesa e promovem os artistas da região em que se inserem, apostam na defesa dos concelhos a que pertencem e dão a conhecer realidades que, de outro modo, não seriam divulgadas. Com frequência, atingem níveis etários mais velhos e estabelecem interacção com os ouvintes, num reflexo de rádio de proximidade. Nos últimos anos, os governos apoiaram a renovação tecnológica das
estações e criação de cadeias de rádios locais, impondo a obrigatoriedade de emissão em 24 horas diárias e um mínimo de oito horas de programação própria. Integradas em duas associações, Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR) e ARIC, esta de tendência cristã, poucas rádios locais formam cadeias de programação e transmissão. Em vez de fundir projectos, imprescindível para garantia de continuidade, preferem políticas de rivalidades locais. As únicas cadeias de rádio existentes sobrepuseram o plano geográfico e o plano económico, retirando a característica de proximidade das rádios através de ligações nacionais (noticiários da TSF, programação da Capital). Isto é um indício forte de falta de economia de escala nas rádios locais, que continuam a viver na dependência do Estado e das autarquias (subsídios, publicidade institucional), com perda de independência editorial. Bibliografia Azevedo, Ana Paula (2001). “As rádios locais no pós-25 de Abril”. Observatório, 4: 113-122 Azinheira, Nuno (2002). “Rádios locais. O mundo… ao virar da esquina”. JJ – Jornalismo e Jornalistas, 12: 28-29 Bonixe, Luís (2003). As rádios locais em Portugal: informação e função social. Uma análise dos noticiários das rádios do distrito de Setúbal. Tese de mestrado defendida na Universidade Nova de Lisboa Duarte, Feliciano Barreiras (2005). Informação de proximidade. Jornais e rádios. Lisboa: Âncora Editora Marinho, Sandra (2000). “Um percurso da rádio em Portugal”. In Manuel Pinto (coord.) A comunicação e os media em Portugal (1995-1999). Cronologia e leitura de tendências. Braga: Universidade do Minho Meditsch, Eduardo (1999). A rádio na era da informação. Coimbra: Minerva Ribeiro, Nelson (2002). A Rádio Renascença e o 25 de Abril. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa Ribeiro, Nelson (2005). A Emissora Nacional como instrumento de propaganda do Estado Novo, 1933-1945. Lisboa: Quimera Santos, Rogério (2005). As vozes da rádio, 1924-1939. Lisboa: Caminho Serejo, Fernando (2001). “Rádio – do marcelismo aos nossos dias (1968-1990)”. Observatório, 4: 65-95 Servirádio (2004). Rádio de proximidade, um investimento de qualidade. Lisboa: Associação Portuguesa de Radiodifusão Publicada por Rogério Santos à(s) 11/08/2009 07:57:00 da manhã Sem comentários: Etiquetas: Rádio 22.5.13
A Emissora Nacional na perspectiva de Carolina Ferreira
Escrevia aqui a 18 de Dezembro de 2007: "O altifalante do regime. A Emissora Nacional como arma de guerra no conflito colonial, dissertação de mestrado de Carolina Ferreira, foi hoje apresentada e aprovada com a máxima classificação na Universidade de Coimbra. A autora propôs-se estudar o Estado Novo e a guerra colonial (1961-1974), a Emissora Nacional e o efeito das suas emissões na opinião pública. O seu ponto de partida foi o da rádio como arma de guerra no conflito colonial. Para isso, analisou a programação da rádio pública, a partir da revista Rádio e Televisão, as “Notas do Dia”, rubrica de opinião lida por João Patrício (período 1968-1970), ordens internas de serviço e inquéritos de audição (audiências). Carolina Ferreira criou uma grelha de cinco fases em termos de propaganda à guerra colonial por parte da rádio: 1) surpresa [quanto ao rebentar da guerra] e propaganda de integração, 2) entusiasmo/versão estatal [o tempo do refrão "Angola é nossa"], 3) conformismo/discrição [redução do número de programas sobre a guerra colonial], 4) esperança e dúvidas, mais a criação de colunas de opinião [1968, com a ascensão de Marcelo Caetano], e 5) descontentamento/reforço da mística imperial. A jovem investigadora concluiu que a Emissora Nacional teve um comportamento irregular na propaganda ao serviço do regime, no que ela considerou como o poder difuso da rádio (concepção bem distinta da teoria dos efeitos totais ou agulha hipodérmica, como se pensava no começo da radiodifusão, em que uma mensagem atingia total e duradouramente os receptores dessa mensagem)". Agora, o texto sai em livro, editado pela MinervaCoimbra, em colecção dirigida por Isabel Vargues, docente da Universidade de Coimbra, e com prefácio de Adelino Gomes. Com um título levemente diferente (Os media na guerra colonial. A manipulação da Emissora Nacional como altifalante do regime) e uma capa muito bonita. O contributo da, desde 2003, jornalista da RTP (Coimbra) é fundamental para a compreensão da história da rádio em Portugal, que eu saúdo (e observo que parece haver uma especialização da Universidade de Coimbra em estudos sobre a Emissora Nacional, como a tese de doutoramento de Sílvio Santos, a aguardar publicação, indica). O que se segue é a minha leitura feita para a discussão pública dessa tese de mestrado no final de 2007. Sendo o livro baseado na tese (pelo menos no índice),
julgo actuais os comentários. O estudo tem como objecto compreender o papel da Emissora Nacional durante a guerra colonial de África. A pergunta inicial de Carolina Ferreira foi perceber se a radiodifusão portuguesa influenciou a opinião pública sobre a mesma guerra. Objecto e aquela e várias outras perguntas são de uma grande pertinência. Em segundo lugar, destaco a metodologia empregue. Há a nítida influência da investigação histórica, com análise documental e revisão bibliográfica. Esta última tem peso nos capítulos 1 e 2. Quanto a análise documental, destaco a leitura feita às notas de João Patrício e à programação, esta a partir da revista Rádio e Televisão, no terceiro capítulo. Faz também referência a análise qualitativa e quantitativa, presente igualmente no último capítulo. No texto, refere ainda que não empregou a metodologia de entrevistas. Em terceiro lugar, escreve sobre “análise sugerida pelos estudos culturais” (Douglas Kellner). Em quarto lugar, destaco, enquanto leitor e investigador, o interesse pelos estudos empíricos desenvolvidos na dissertação. O estudo empírico inicial é o da análise das grelhas de programação das três principais rádios a partir da revista Rádio e Televisão. Carolina Ferreira escolheu três momentos (1961, 1968, 1974), num total de 630 grelhas, com subvariáveis na informação: geral, desportiva, rural, ultramarina, industrial, cartaz. É de um inequívoco interesse sabermos como era a rádio no período e se ela reflecte o peso do regime opressor. Sobre o segundo trabalho empírico, a análise de conteúdo das notas do dia de João Patrício, ele dá uma forte ideia da ideologia do regime. Para concluir o conjunto de apreciações gerais, realço a perspicácia de Carolina Ferreira quando se questiona se obras assinadas por Fernando Rosas, António José Telo e Fernando Dacosta (e que contêm excursos no domínio da rádio) estão fundamentadas em análises aprofundadas ou se se baseiam em conjuntos de impressões. Estudaram eles a rádio no período para se concluir ser a rádio (e a Emissora Nacional) um poderoso instrumento de propaganda? Para mim, as obras em que se apoia não analisam, porque desconhecem a rádio, apenas dão impressões. Se ninguém estudou verdadeiramente o impacto dos media, como se pode emitir um parecer, chegar a uma conclusão? A meu ver, faltam ainda análises empíricas. O único autor que estudou a rádio (porque a viveu por dentro), Fernando Serejo, duvida da ideia de altifalante sonoro. Melhor dito, ele contesta a ideia de a Emissora Nacional ser o único altifalante do governo, escrevendo que Marcelo Caetano até preferia o Rádio Clube Português (Fernando Serejo, "Rádio - do Marcelismo aos nossos dias" (1968-1990), Observatório, 4, p. 69). No mesmo texto, Serejo destaca os profissionais oriundos da Rádio Universidade e que estariam na origem da renovação: Fialho Gouveia, Carlos Cruz, João David Nunes, Adelino Gomes, José Nuno Martins, Eduardo Street, José Manuel Nunes. E ainda o programa Jornal de Actualidades, que fugiu aos cânones habituais da informação da estação pública. Fernando Rosas e J. M. Brandão Brito (Dicionário de História do Estado Novo, 2005) indicam limitações técnicas e profissionais gritantes que mantiveram a rádio portuguesa afastada dos grandes acontecimentos. Primeiro – será que os autores têm razão? Segundo, não será preciso contextualizar? Digo isto, porque Portugal pertencia à União Europeia de Radiodifusão onde questões técnicas eram discutidas; não acredito muito nesse grande atraso. Basta ver o arranque da FM na década de 1960, pouco depois de isso acontecer noutros países ocidentais. Os atrasos estariam noutro plano. Carolina Ferreira diz que as pessoas se recusaram ouvir a incansável
propaganda emitida pela Emissora Nacional, mudando o “botão”. Refere os anos 1972-1973. Posso especular: se o número de programas sobre a guerra baixou e aumentou a programação musical, isso – o altifalante – não foi razão para a perda da popularidade. A meu ver, o que se passou foi a inovação das rádios privadas, com um corpo de colaboradores mais jovens (sigo Serejo), usando outras técnicas de comunicação (mais informal e alegre), passando músicas novas. A audiência escapou de três formas: da rádio pública para as privadas, da OM para a FM, da rádio para a televisão. Ao mesmo tempo, as rádios dotavam-se de redactores de notícias, enquanto aumentavam os programas de autor ou de produtores. Isto para não falar de uma lenta feminização dentro da rádio e de novas estéticas (passagem da música francesa, italiana e espanhola para a anglo-americana). Leitura: Carolina Ferreira (2013). Os media na guerra colonial. A manipulação da Emissora Nacional como altifalante do regime. Coimbra: MinervaCoimbra, 240 p., 19 € Publicada por Rogério Santos à(s) 5/22/2013 10:20:00 da tarde Etiquetas: Rádio 23.6.09
A RÁDIO EM TESE DE DOUTORAMENTO DE LUÍS BONIXE
Como escrevi aqui, na Universidade Nova de Lisboa, Luís Bonixe defendeu ontem em provas públicas a tese A informação radiofónica: rotinas e valores-notícia da reprodução da realidade na rádio portuguesa. A internet como cenário emergente. A dissertação tinha como centro avaliar as notícias da rádio como construção social da realidade, no caso da rádio a construção sonora da realidade. Foi também objectivo identificar momentos importantes da história recente do jornalismo radiofónico, bem como analisar os noticiários das nove horas nas três principais estações de informação: Antena 1, Renascença e TSF. Finalmente, o trabalho de Bonixe fez a comparação entre notícias da rádio hertziana e da internet. Na prova, Luís Bonixe obteve a nota máxima.
Na minha arguência, fiz referência a estudos da rádio, conforme abaixo escrevo: O nosso conhecimento médio sobre a reflexão da rádio não ultrapassa os textos de Brecht, Lazarsfeld e Arnheim. Contudo, se seguirmos a síntese de Michael C. Keith, em "Writing about radio: a survey of cultural studies in radio" (2008, livro Radio cultures. The sound medium in American Life), ficamos com uma perspectiva muito ampla sobre estudos da história da rádio feitos por académicos e jornalistas. Se, no começo, os académicos e os críticos viam a rádio como um meio experimental, popular e frívolo, após as conversas à lareira do presidente americano Roosevelt, no começo da década de 1930, os académicos viram o meio como uma força cultural e um instrumento de mudança. Depois, um programa radiodifundido no Halloween de 1938, representando uma invasão de marcianos, por Orson Welles, provou o poder do meio. De entre os trabalhos iniciais, relacionando audiências e radiodifusão, surgem os de Hadley Cantril (1982, Invasion from Mars) e Hugh Malcom Beville (1939, Social ramifications of the radio audience). Censura e liberdade aparecem em Harrison Summers (1939, Radio
censorship). Estudos fundamentais seriam os de Hadley Cantril (1982, Invasion from Mars) e Mathew Chappel e Claude Hooper (1944, Radio audience measurement). O livro de Lazarsfeld e Patricia Kendall (1948, Radio listening in America: the people look at radio – again) é uma pedra de toque, enquanto Charles Siepmann (1950, Radio, television, and society) fornece um enquadramento valioso do meio num contexto sociocultural. Os artigos não focam tanto o papel cultural da rádio e centram-se mais na indústria, na actividade comercial, na sua concretização e nos aspectos de produção. Os livros de Erik Barnouw (1966, 1968, 1970, A history of broadcasting in the United States) discutem tópicos como género, raça, religião. A primeira publicação académica é o Journal of Radio Studies. A história da rádio por Michele Hilmes (1997, Radio voices: American broadcasting, 1922-1952) e algumas monografias de Michael C. Keith (1995, Signals in the air: native broadcasting in America; 1997, Voices in the purple haze: underground radio and the sixties; 2000, Talking radio: an oral history of radio in the television age; 2001, Sounds in the dark: all night radio in American life) são elementos fundamentais para a compreensão da rádio. O livro de Susan Douglas (2000, Listening in: radio and the American imagination) oferece uma compreensão sobre a influência cultural da rádio. E David Hendy (2000, Radio in the global age) associa a influência cultural do meio num contexto global. O capítulo de Keith segue a linha de Michele Hilmes (2001, Only connect: a cultural history of broadcasting) quando ela questiona: qual o contexto do desenvolvimento da rádio? Que mistura de forças sociais, culturais e tecnológicas emergem da rádio? Depois, Keith analisa os textos publicados sobre história da rádio, a partir dos seguintes elementos: género, raça, religião, família. Se trabalhássemos sobre Portugal, um aspecto como raça seria redefinido por causa do Império colonial, acrescentando-se um outro elemento forte: a censura. Em termos de política, Keith entende que a explosão do talk radio nos anos 1990 foi responsável pela mudança da paisagem política americana no começo dessa década. Gini Graham Scott (1996, Can we talk? The power and influence of talk shows) emprega uma sondagem de audiência para determinar a influência dos animadores dos talk radios na opinião pública. Richard Hofstetter e Christopher Gianos (1997, “Political talk radio: actions speak louder than words”) examinam a hierarquia social dos ouvintes dos fóruns da rádio. Alan Rubin e Mary Step (2000, “Impact of motivation, attraction, and parasocial interaction on talk radio listening”) examinam o efeito de atracção, motivação e interacção nos ouvintes dos talk radio. Publicada por Rogério Santos à(s) 6/23/2009 07:33:00 da manhã Sem comentários: Etiquetas: Rádio 5.3.05
OITENTA ANOS DE RADIODIFUSÃO EM PORTUGAL? E PORQUE NÃO OITENTA E UM? No dia 1, o Diário de Notícias editou, no guiaDN, três páginas intituladas Os dias da rádio. Há 80 anos começavam as emissões regulares em Portugal [na imagem, microfone de CT1AA, um dos pioneiros da rádio em Portugal. Gentileza do Museu da Rádio]. Nessas páginas, surgem duas peças assinadas pela jornalista Ana Pago, uma sobre o programa Oceano Pacífico, da RFM, e outra sobre o Museu da Rádio. A meu ver, duas belas peças - em especial a dedicada ao museu da rua do Quelhas, o ano passado tão publicitado por se temer o seu fim. As duas peças da jornalista não referem uma só vez a data dos 80 anos da radiodifusão. Aliás, numa das citações atribuidas a Alexandra Fraga, do Museu da Rádio, lê-se: "Convivemos diariamente com 90 anos da história da rádio portuguesa".
Eu fora alertado pelos blogues da rádio, nomeadamente por um post de A Rádio em Portugal, chamando a atenção para notícias publicadas no Comércio do Porto e Diário de Notícias. Coloquei lá um comentário e parti para a investigação. A estranheza é: porquê o título apontar para 80 anos de radiodifusão em Portugal? A dúvida é: e porque não oitenta e um anos? A minha defesa No livro de Gordon Bussey (1990), Wireless. The crucial decade, 1924-34, escreve o autor que, no começo de 1924, as estações de rádio existentes emitiam com baixa potência, exceptuando "5XX e, curiosamente, Portugal" (pág. 25). Bussey não referencia o nome da estação portuguesa, e inclusive pode ter a data errada no respeitante à nossa emissora. A revista Rádio Lisboa Magazine, de Junho de 1925, destaca que, em finais de 1923, foi pedida regulamentação para TSF, isto é, autorização para emitir rádio. E conta a história do amador Sousa Dias Melo - proprietário da mesma revista - que faria, alguns meses mais tarde, a primeira emissão radiofónica, mesmo sem legislação aprovada. Isto num pequeno emissor de 50 watts de potência mas chegando a ouvirse a quatrocentos quilómetros de distância. A data 1924 não aparece no texto, mas um documento pessoal do mesmo amador assinala esse ano como o começo da sua actividade. Trata-se de um pedido de renovação da licença de radioamador, feita em 1947. Nesse pedido, ele salienta que os seus trabalhos, "em matéria de radiocomunicações, [com] uma estação própria, datam de 1924". O mesmo radioamador escrevera noutra ocasião: "O funcionamento da estação emissora experimental que possuo desde Julho de 1924 com o indicativo internacional de chamada CT1AB, que me foi fornecido pela Rede dos Emissores Portugueses, de que sou filiado. [...] Trata-se efectivamente da primeira estação nacional de amador [de] emissões musicais, ouvidas naquela época em muitos pontos do país" (texto citado no meu artigo Nos 75 anos de emissões regulares de rádio - histórias de pioneiros, editado pela revista Observatório, em 2000). Na página 118 da revista TSF em Portugal, correspondente à edição de 28 de Dezembro de 1924 - que se visualiza, na sua totalidade, no blogue Rádio em 1924 lê-se: "1PAA tem feito interessantíssimas experiências tendo já por diversas vezes transmitido concertos que têm agradado imenso a todos os que o têm ouvido tanto em nitidez, como em intensidade" (esta e cópias de outros documentos da época podem ler-se em dimensão grande no mesmo blogue, imagens alojadas no sítio A Minha Rádio, do meu caro amigo António Silva, do Porto, a quem agradeço a gentileza). Curiosamente, Abílio Nunes dos Santos Júnior, com o indicativo CT1AA (inicialmente P1AA), considerado pioneiro da radiodifusão no nosso país, em documento também feito em 1947, para renovação da licença de radioamador (como acima indiquei para Sousa Dias Melo), não refere correctamente a data de início de actividade, avançando para 1926. A meu ver, a razão é uma falha de memória. Ou, então, porque queria agradar à entidade licenciadora, lembrando 1926 como a data da fundação do regime. Os erros
O facto de terem sido publicadas notícias comemorando os 80 anos de radiodifusão em Portugal no passado dia 1 não é muito grave em si. Recordou-se a história da rádio e deu-se relevo ao belo espaço que é o museu da Rádio, propriedade da RTP. Não se pode imputar o erro à jornalista, que escreveu muito bem sobre o tema. O problema deve atribuir-se à falta de estudos sistemáticos sobre a história da rádio e dos media em geral no nosso país. Eu próprio, no texto que escrevi em 2000 acima referido, questionei as datas de início e apresentei uma proposta. Reconheço agora que ela também não estava certa. Até então, o começo da radiodifusão era considerado em Outubro de 1925, nomeadamente no livro de Matos Maia (Telefonia, 1995), até hoje o livro mais completo que temos no país, e no catálogo do RDP (60 anos de rádio em Portugal, 1925-1985, lançado em 1986). Fantasiara-se até que o princípio da radiodifusão estava atribuido a Fernando Medeiros, com a sua rádio Hertz, em 1914. Mas a experiência, que o próprio relatou anos depois, não pode considerar-se radiodifusão. Na época, o procedimento habitual era iniciar-se em radiotelegrafia (sinais Morse), passar-se a radiofonia (voz) e, havendo dinheiro e vontade, chegar-se à radiodifusão. Foi o que fizeram CT1AA e CT1AB, que eu referenciei no cimo deste post [na imagem, datada de documento escrito em 1933, vê-se o esquema do emissor de CT1AB. Aí, são visíveis o microfone e a chave Morse, mas não há uma entrada para gira-discos. Possivelmente, representa um regresso à radiofonia do antigo radiodifusor]. Os primeiros programas de radiodifusão - embora não seja correcto empregar-se o termo programação para esse período - seriam concertos de música clássica ao vivo, numa espécie de continuidade dos concertos em sala, mas chegando a muito longe, aos lares, através das ondas do éter. Os radiodifusores amadores procuravam ter uma continuidade no tempo, a exemplo das temporadas de música lírica. Assim, o sábado e a quarta-feira eram dias habituais de transmissão. No resto do tempo, as emissoras estavam em silêncio. Repito: o erro não pode atribuir-se à jornalista, mas a quem lhe forneceu a informação. O ônus recai sobre os historiadores. Se quisermos, embora haja analogias entre os dois tipos de profissionais, existe uma diferença fundamental: o jornalista é o historiador do efémero e do presente; o historiador procura como se fosse um jornalista de investigação, cotejando fontes e referências, em trabalho de longa duração, e confrontando-as em redor da verdade e da exactidão. Não havendo dados exaustivos e correctos, o trabalho do jornalista que escreve sobre história não acaba bem. Observação: dedico esta mensagem ao Museu da Rádio e aos blogues que escrevem sobre este meio de comunicação. Os contributos de todos são importantes para fazer e ampliar a nossa memória cultural. Publicada por Rogério Santos à(s) 3/05/2005 09:37:00 da manhã Sem comentários: 7.10.10
75 ANOS DA RÁDIO PÚBLICA PORTUGUESA Durante o dia de hoje, numa organização conjunta da RTP e da Universidade Lusófona, decorreu a conferência internacional intitulada A Rádio em Portugal e o Futuro. Em pano de fundo, os 75 anos de rádio pública (a Emissora Nacional inaugurou oficialmente as suas emissões em 4 de Agosto de 1935).
Não se falou do passado, mas sim do presente e do futuro. A conferência inicial coube a Gerd Leonhard, dirigente da Media Futurist, que se apresentou, como a sua empresa indica, como futurologista da rádio. Para ele, as redes sociais associam-se ao futuro da rádio [ver a sua apresentação aqui]. A sua comunicação foi muito identificada com a tecnologia; os caminhos que apontou podem acontecer no próximo futuro - mas também podem surgir outras oportunidades e desafios, baralhando as previsões. A primeira mesa incluiu Elizabete Caramelo, que fez um interessante testemunho da TSF e do pioneirismo desta rádio da palavra e da notícia (ver vídeo), e Ramos Pinheiro (Grupo Renascença), com um sólido discurso político do presente e do futuro da rádio, atento aos negócios e à rádio pública versus privada (ver vídeo). Outros participantes foram Mário Figueiredo, provedor do ouvinte da RDP, e Rui Pêgo, director de programas da rádio pública. A segunda mesa incluiu responsáveis da rádio, onde o mais interessante foi a discussão entre Graça Franco, da Renascença, e Emídio Rangel, fundador da TSF, sobre a linguagem da rádio e a introdução da televisão nos sítios da rádio (web tv), com Rangel como defensor do modelo clássico. Também participaram na mesa João Barreiros (RDP) e Paulo Baldaia (TSF). O último painel, de pendor mais académico, mostrou posições mais optimistas, com as perspectivas tecnológicas (Paula Cordeiro, ISCSP) e mais pessimistas, com a quebra de audiências da rádio (João Paulo Meneses, TSF e ISLA), com presenças também oportunas de Rute Sofia (Un. Lusófona) e Jorge Alexandre Lopes (RTP). Pelas diversas intervenções e comentários e sugestões da plateia, o futuro da rádio passa pelas redes sociais, pela fragmentação de públicos, pela maior interactividade na internet, pela resiliência do meio, capaz de competir com os media mais recentes. Foi uma discussão muito franca e que envolveu diversos parceiros da rádio, nomeadamente a indústria, as associações do sector, o regulador, a universidade. O poder político esteve representado através do ministro da tutela. De fora, ficaram as empresas de medição de audiência e grupos de rádio como a Media Capital. Noutras discussões, esperam-se temas como estruturas económicas, programação, formação para a cidadania, cultura portuguesa, passagem do serviço analógico para o digital, logo dividendo digital (registei reticências quanto à proximidade temporal da passagem do FM para o digital). As fotografias mostram imagens dos segundo, terceiro e quarto painéis da conferência [texto concluído às 23:02].
Publicada por Rogério Santos à(s) 10/07/2010 12:14:00 da tarde Sem comentários: Etiquetas: Rádio 16.7.08
MUSEU VIRTUAL DA RÁDIO E DA TELEVISÃO Anteontem, escrevi sobre o museu da Rádio, sob a forma de uma CARTA ABERTA A PEDRO JORGE BRAUMANN. Nesse texto, pedia ao responsável pelo Núcleo Museológico que fosse reconsiderada "a criação de um espaço de museu virtual, sem mais nada. Os visitantes querem peças reais, físicas". Confirma-se a abertura do museu virtual, elemento complementar da colecção visitável com peças museológicas de carácter mais eminentemente simbólico, num total de aproximadamente cem peças, a expor num espaço de 300 metros quadrados e a abrir até ao final de 2008 (ou, caso surja um imprevisto, nos dois primeiros meses de 2009). As peças são ligadas aos dois meios representados na RTP: rádio e televisão. O museu virtual permite fazer pesquisa de conteúdos. Além das peças a expor, há ainda uma reserva visitável, guardada em adequadas condições de temperatura e humidade em espaço das caves da sede da RTP (em Lisboa). As peças existentes em Pegões, como escrevi na mensagem acima mencionada, são objectos sem qualidade científica ou repetidos. Em simultâneo com a abertura da colecção visitável e do museu virtual, abrirá na Madeira a exposição comemorativa dos 50 anos da RTP, que esteve anteriormente em Lisboa. Destas informações, depreende-se o acabar definitivo do Museu da Rádio, o que confirma a incorrecção dos termos da carta que recebi em Maio de 2004: "a instituição dará oportunamente
lugar ao futuro Museu da Rádio e Televisão, passando a incorporar também o espólio do núcleo museológico da RTP". O museu virtual não substitui o museu real, é uma falácia em que andamos a embarcar desde que existe a internet, mais precisamente desde o momento da sua explosão massificada, 1995! Dentro dessa panaceia à second life, a anterior ministra da Cultura queria um museu virtual da Língua portuguesa, ideia que o actual titular fez muito bem em acabar. O museu virtual faz-se quando não há peças, bens tangíveis, elementos vivos, que suprimam tais faltas. É essa a grande virtude, por exemplo, do museu do cinema em Berlim, magnífico espaço em que a imagem tem o lugar principal - mas o cinema é basicamente imagem, logo não há discrepância de grandeza maior. Agora, desaparecer um museu da rádio - com um espólio bem melhor do que em outros sítios e que funcionava -, não, isso é imperdoável. Sem os conhecer, fiz uma cartografia de responsáveis: a administração da empresa da rádio pública e a tutela no Governo. Os consumidores da cultura e os apreciadores da rádio, presentes e futuros, apontarão o dedo a estas entidades por deixar desaparecer uma instituição como o Museu da Rádio. Um museu virtual, ainda que complementar, faz-me lembrar a ideia do Portugal dos pequenitos (Coimbra) ou da Minitália (Milão), espaços de lazer para os mais pequenos, lembrando uma época passada, e desenhada com (pre)conceitos patrióticos e saudosistas. E não acredito na versão da escassez de finanças: a anterior ministra da Cultura propôs criar um museu público. Um museu virtual pressupõe conhecimento. Onde está ele no tocante à rádio? Que investigações têm sido feitas sobre a rádio? Que livros estão publicados? Que conferências sobre a história da rádio? Ou que protocolos com as universidades para estudar a rádio? Não, não há, ou pelo menos eu não conheço em abundância - e procuro andar actualizado. Lisboa vai ficar um tudo nada melhor do que, por exemplo, Berlim: com o museu virtual, a RTP tem um espaço visitável, coisa que a rádio pública alemã não tem na sua capital, fechado há dois ou três anos. Mas, certamente, o Museu da Rádio português tinha um maior espólio. E espaços, como o estúdio em que Artur Agostinho falava à reportagem da Rádio Renascença (aqui, realizada em finais de 2007), ficarão desmontados, por falta de espaço na colecção visitável. Agradeço a amabilidade das informações prestadas pelo Dr. Pedro Jorge Braumann. Compreendo, afinal, que as suas funções são executivas. A decisão de não criar o Museu melhor, de manter o Museu - veio da tutela no Governo, observando eu, ainda, as contradições de um assessor da administração da RTP quando me respondeu em 2004. Publicada por Rogério Santos à(s) 7/16/2008 12:23:00 da tarde Sem comentários: Etiquetas: Rádio 26.2.13
A rádio no Porto há 60 anos
Em 1955, estava a formar-se a Radiotelevisão Portuguesa (RTP). Dos sessenta mil contos de capital inicial da RTP, um terço fora atribuído às estações de rádio. Um dos grupos de rádio que mais dinheiro pôs no capital social inicial da RTP foi o dos Emissores do Norte Reunidos (Porto), com 2310 contos. Aos Emissores do Norte Reunidos pertenciam cinco estações: Ideal Rádio, Rádio Porto, Rádio Clube do Norte, Electromecânico e ORSEC (Oficinas de Rádio, Som, Eletricidade e Cinema), as quais emitiram até ao final de 1975, quando a nacionalização da rádio as integrou na RDP. A exemplo dos Emissores Associados de Lisboa, que, no final de outubro de 1950, juntaram Rádio Peninsular, Voz de Lisboa, Rádio Acordeon, Rádio Graça e Clube Radiofónico de Portugal , os Emissores do Norte Reunidos agruparam-se através das sociedades comerciais que detinham a posse das estações (Rádio Porto, ORSEC, Manuel Moreira, Ideal Rádio e Sá, Quaresma e Companhia), com quotas por sócio em partes iguais para um capital social de 450 contos. A gerência coube a Rádio Porto. A convenção europeia de redistribuição das frequências (Plano de Copenhaga) obrigouas a emitir numa só frequência (1602 quilociclos por segundo). A emissão passou a ser em regime de rotação, com duas a três horas diárias em horários diferentes ao longo da semana. Ao ficarem associados, isso resultou numa poupança de recursos: a antena comum montada na Afurada, em Vila Nova de Gaia, em 1953. Elementos para a história da rádio no Porto. Os 60 anos dos Emissores do Norte Reunidos foi o tema que escolhi ontem para falar no seminário Comunicar, organizado dentro da exposição com aquele nome, a decorrer no Museu de Transportes e Comunicações [imagens que retirei da exposição: estúdio áudio analógico, que pertencera à RDP Porto; sistema de imagens virtuais da estação ferroviária de S. Bento, Porto].
Publicada por Rogério Santos à(s) 2/26/2013 09:31:00 da manhã Sem comentários: Etiquetas: Rádio 8.11.09
NÃO COMPREENDI ECT
Eduardo Cintra Torres (ECT), na sua página de ontem do Público, escreveu sobre a irrelevância da rádio. Começou o artigo com o desaparecimento de António Sérgio, considerando-o um grande profissional da rádio, apesar do anacronismo das propostas do radialista: o rock e o pop. ECT encetara outras audições, a da música clássica e da pop-jazz. Certamente que não o fez na rádio, pois a Antena 2 tornou-se uma rádio de palavra para desespero de quem gosta de música clássica (o fim de programas como Ritornello, de Jorge Rodrigues, não foi compensado) e há pouca tradição em Portugal de programas de jazz, para não falar de emissoras. Por isso, ECT migrou para outro meio que não a rádio, como à frente diz: CD e mp3. Mas isso aconteceu não no tempo que ECT escreve, foi sucedendo lentamente. Depois de António Sérgio ter debutado, a rádio mudou muito, no mundo como em Portugal. Os programas de autor haviam renascido com a FM na segunda metade da década de 1960 e durante a década de 1970, como Em Órbita e Página Um. Até aí, havia uma anemia de programas de autor. Aconteceu à rádio como o que os Cahiers du Cinéma fizeram ao cinema, relevando os realizadores. No caso específico do nosso país, o fim da ditadura (1974) trouxe muitos programas novos. E, com a década de 1980, vieram as rádios livres (ou piratas, se preferirem a designação). Se podemos falar de meio com inovação foi a rádio desse período. Não tanto com programas de autor mas com novos temas, novas abordagens, mesmo que ingénuas e pouco continuadas. Ficaram a TSF e um conjunto de animadores de rádio que ainda estão hoje no mercado. O CD é dos anos 1980, o mp3 da nossa década. O que significa uma décalage quanto à pretensão de ECT na sua evolução de gosto. Claro que a qualidade da rádio se perdeu com as playlists de muitas estações, mas elas também automatizaram a emissão, despedindo os animadores e eliminando os programas de autor. Abandonou-se a ideia de programas de stock para criar um fluxo contínuo, sem grelha de programas excepto no período pendular da manhã e do fim da tarde (quando se vai e regressa do emprego conduzindo o automóvel; daí as intermináveis paragens de programação radiofónica com informação sobre os acidentes e engarrafamentos na segunda circular de Lisboa ou na ponte 25 de Abril ou no IC19 em Sintra ou Queluz ou na VCI do Porto). A meu ver, e discordando de ECT, António Sérgio não levou a sua qualidade para uma rádio local. A Radar - com autores de programas como Inês Meneses, o dr. Ramos e Nuno Galopim - tem uma frequência hertziana local mas uma emissão global, graças à internet. A rádio é o meio mais implantado na internet. Podemos dizer que a rádio já não o é porque está toda na internet, e já faz vídeos, ocupando territórios de outros media. Nas ondas hertzianas, a rádio vai acabar o ano de 2009 com uma perda de investimento publicitário, mas inferior à perda na televisão e nos jornais. E com uma subida de audiências no último trimestre, o que contraria os que anunciam a sua morte. Os jornais perdem leitores - e eu jamais escreverei que os jornais são irrelevantes -, e continuam à procura do modelo de negócio na internet. Ontem, um jornal noticiava que um grupo (Cofina) falava dos enormes prejuízos de outro grupo (Controlinveste). O jornal onde lia a notícia está ele próprio com muitos prejuízos. Escrever num jornal pode ser perigoso, pelo risco de fechar ou de não ter quem o leia. E a televisão, o objecto de trabalho de ECT, está a perder espectadores nos canais generalistas e porque as gerações mais novas preferem a internet, o telemóvel e o convívio (restaurantes, discotecas, concertos ao vivo, viagens). Olhando para outros lados, poderíamos ter a visão pessimista de ECT: as salas de teatro nem sempre enchem, o cinema nacional é suportado pelos impostos dos portugueses, as produções de ópera e de bailado são caríssimas e dependem de mecenas, pois o bilhete pago não cobre as despesas, a pintura de óleo transformou-
se em instalações (quase eléctricas), o gosto muda rapidamente sem aparentemente surgir uma qualidade equivalente ou alicerçada pelos pares e pela cultura. Isto num tempo em que se fala de economia da cultura e das indústrias culturais. Esperemos que a rádio, apesar de já ter passado o seu período de ouro - e que foi na década de 1950 -, não se torne irrelevante. Publicada por Rogério Santos à(s) 11/08/2009 07:59:00 da manhã Sem comentários: Etiquetas: Rádio 12.6.07
A RÁDIO SEGUNDO PAULA CORDEIRO Estratégias de programação na rádio em Portugal: o caso da RFM na transição para o digital foi o título da tese de doutoramento de Paula Cordeiro, ontem defendida na Universidade Nova de Lisboa. O blogueiro cá de casa foi um dos arguentes do trabalho, tendo aprendido muito com a leitura e discussão da tese. A qual recolheu a nota máxima e sugestão do juri para sua publicação (igualmente de parabéns o orientador, Francisco Rui Cádima). Com o presente trabalho, Paula Cordeiro assumese como uma das investigadoras portuguesas com mais prestígio no campo da rádio. O objectivo principal da tese era analisar o contributo da rádio versus os pressupostos económicos. Os objectivos executivos eram: influência da rádio no consumo da música, influência da rádio na elaboração/produção da música, novos cenários tecnológicos da rádio, práticas e rotinas profissionais na rádio. Quatro partes e seis capítulos em quase 600 páginas mostraram um aparato teórico e um trabalho empírico, assente em metodologia qualitativa (entrevistas e inquéritos) e exibição de um caso prático (a estação de rádio RFM). A nova doutora, e autora do blogue NetFM, que estudou a profunda alteração no mercado e no consumo, dentro de um contexto (pré-) digital, começa o seu texto com uma abordagem às indústrias culturais, o que me agradou muito. David Hesmondhalgh, Bernard Miège, Andy Pratt e Enrique Bustamante foram autores por ela seleccionados e que têm aqui no blogue espaço vital. Importante foi registar as suas hipóteses teóricas a verificar ou não durante a investigação, nomeadamente a da rádio influenciar o consumo da música, a comparação entre a playlist da RFM e a tabela de discos vendidos, a relação entre a RFM e os concertos ao vivo, a estratégia de marketing para promoção de artistas e concertos e a reciprocidade entre rádio e indústria discográfica. O conceito de cadeia de valor foi usado igualmente pela investigadora do ISCSP. Paula Cordeiro referiu-se igualmente ao modelo interactivo na rádio proporcionado pela digitalização e à grande concentração da propriedade no caso das emissoras, o que retira possibilidades de inovação, quebra de pluralismo e diversidade. Também destacou a programação - ou o modo como a audiência influencia a sua construção na rádio. Embora tenha salientado o modo como as telenovelas, em especial as da TVI, estão a ter influência na divulgação de autores e músicos, dentro de um tipo musical definido mas que acaba por se reflectir nas escolhas da rádio, a autora assegura que os artistas novos têm muita dificuldade em passar na rádio, só veiculados quando têm sucesso nas vendas. Quanto à internet, a perspectiva de Paula Cordeiro é a de complementaridade, mais do que diferenciação, na actual presença das rádios na rede.
Eu tinha uma curiosidade após ouvir o modo como a playlist condiciona o papel dos animadores (sem liberdade alguma nas opções musicais da RFM), a de haver semelhante comportamento na Radar, estação que ouço com frequência. Aqui, apesar de haver uma playlist, os animadores têm liberdade de introduzir variações, possibilitando a presença de novos músicos e correntes estéticas. Publicada por Rogério Santos à(s) 6/12/2007 07:35:00 da tarde 1 comentário: Etiquetas: Rádio 25.5.07
TODA A TARDE NO RÁDIO CLUBE PORTUGUÊS
Retiro do blogue Rádio Clube o texto hoje publicado por Marcos Pinto e anunciando o programa de amanhã, a partir das 4 da tarde: •
A Rádio que gosta falar de rádio! Este sábado, não pode perder o Toda a Tarde, entre as 16 e as 21 horas. É verdade, mais uma hora, porque a festa da rádio já fez um mês de emissões e está na hora de recordar os melhores momentos! Entre as 16 e as 18 horas, Luis Filipe Costa e Rui Castelar (dois homens da rádio) Rogério Santos (estudioso da rádio em Portugal) e Lara Santos ( Posto de Escuta, Rádio Clube) são meus convidados para falar de rádio e de que forma, duas gerações diferentes de comunicadores recordam os clássicos da rádio que ficaram gravados nas vidas dos portugueses.
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Esta conversa vai ter quatro intervalos para ouvirmos quatro temas de Paula Teixeira, cantora que introduziu um novo sentido à música portuguesa ao adaptá-la para linguagem gestual. Ao vivo, como sempre no auditório do Rádio Clube!
O blogueiro vai falar menos do que Luís Filipe Costa e Rui Castelar, profissionais do velho Rádio Clube Português. As histórias portentosas que eles têm para contar! De repente, deu-me vontade de continuar a escrever a história da rádio em Portugal (e tempo para isso?) [imagem de Paula Teixeira e músicos que a acompanham na emissão de amanhã, e que retirei do blogue Rádio Clube]. Vale mesmo a pena ouvir aqui ou na rádio em 96,4 MHz (Leiria), 104,3 MHz (Lisboa e Setúbal), 107,5 MHz (Santiago do Cacém), 106,7 MHz (Portalegre), 106,4 MHz (Beja e Évora), 107,1 (Portimão) e 106,1 MHz (Faro). Publicada por Rogério Santos à(s) 5/25/2007 09:29:00 da tarde Sem comentários: Etiquetas: Media, Rádio 26.2.12
História do Rádio Clube Português (9)
O Rádio Clube Português sofreria um atentado à bomba na noite de 20 de janeiro de 1937. O envolvimento da estação na Guerra Civil de Espanha acarretava inimigos. O emissor ficaria restabelecido no dia seguinte. Nesse ano, continua o texto publicado na revista Antena, de 15 de Agosto de 1965, realizou-se uma festa por iniciativa da Casa de Entre Douro e Minho dedicada à Telefonia Sem Fios (TSF). Numa alocução proferida na altura, disse-se que a rádio era "um poderosíssimo instrumento de expansão inteletual, cujo desenvolvimento constitui índice no progresso de um país". Participaram a totalidade ou quase totalidade das estações de então: Emissora Nacional, Rádio Hertz, Rádio Renascença, Rádio Luso, Rádio Peninsular, Rádio S. Mamede, Clube Radiofónico de Portugal, Rádio Condes, Rádio Sonora, Rádio Hertziana, Rádio Graça, Rádio Colonial e Rádio Clube Português.
Publicada por Rogério Santos à(s) 2/26/2012 10:00:00 da tarde Sem comentários: Etiquetas: Rádio 14.3.04
RÁDIO I A rádio parece estar na crista da onda em termos de negócios ou projecção deles nos grupos económicos portugueses de media. Depois da compra de três frequências por Nobre Guedes, destinadas a retransmitir estações da Media Capital, o Expresso de ontem tem uma peça intitulada "Impresa estuda rádio", escrita por Pedro Lima. O título puxa um tema que, na peça, é secundário - o que não deixa de ser sintomático do interesse da Impresa. A notícia informa as contas de 2003 (ainda na forma de previsão) do grupo de Balsemão. Assim, fica-se a saber que os lucros do grupo se situarão entre os 3 e os 4,5 milhões de euros, uma melhoria de 63,5% (presumo que face a contas do ano
anterior, embora o texto esteja omisso neste aspecto). Do conjunto de empresas, a SIC foi a estrela (aumento de 11%), seguida das revistas (2,4%) e dos jornais (0,4%). Um número significativo, embora não desagregado, é o das receitas relacionadas com canais temáticos, SMS, produtos editoriais e marketing alternativo (27,6%). O jornalista adianta ainda que o panorama deste ano será também positivo, quase rondando os 10% (acima dos previstos inicialmente de 5%). O Rock in Rio Lisboa e o Euro 2004 serão dois eventos que terão impacto na SIC. Há, ainda, previsão de lançamento de novas revistas, embora nada seja concretizado. E é aqui que aparece a rádio: "A Impresa tem um grupo de trabalho para a rádio, que estuda oportunidades nesta área de negócios". Depois da investida da Media Capital no território da rádio (via Nobre Guedes) e do interesse demonstrado pelo patrão do mesmo grupo em estender o seu domínio de media à imprensa - tornando-se apetecível a Lusomundo -, será que a Imprensa estuda a aquisição da TSF, da mesma Lusomundo? Pura especulação minha. Recordo que, na vizinha Espanha, é vulgar haver publicidade, em página inteira nos jornais, das principais cadeias de rádio, como a SER e a DIAL, ou ainda a Kiss FM, estação que também tem um âmbito nacional - demonstração de uma grande concorrência neste medium. Será que a rádio também vai ser um forte negócio no nosso país? RÁDIO II Em artigo saído no Público de hoje, Adelino Gomes refere-se ao desaparecimento da estação Luna. Escreve, como eu também já notei neste local, a continuidade da passagem de música clássica nestes últimos dias. Para o jornalista, será que o separador técnico ainda existente serve para "limpar" a casa? E escreve sobre a "apagada, indigente e vil tristeza em que caiu o sonho das rádios locais e regionais". Para ele, uma estação de rádio não é um gira-discos. Curiosamente, nos blogs dedicados à rádio - caso de A Rádio em Portugal -, fazia-se muito recentemente alusão a esta fase menos encantadora da rádio portuguesa. CINEMA Duas páginas na secção de cultura do Público de hoje são dedicadas ao cinema. Com o título "O cinema português vai mudar?", o lead fala do cinema ser ou não uma indústria. Curiosamente, um dos intervenientes citados na peça principal fala de "modelo soviético" quando se refere ao fundo de investimento recentemente anunciado (e do qual escrevi neste espaço). A jornalista Joana Gorjão Henriques ouve dois dos principais agentes do cinema: João Mário Grilo, defensor do cinema como arte, e António Pedro Vasconcelos, que tem em mente o cinema como indústria. Exactamente o debate da revista Visão de 12 de Fevereiro último, e que eu destaquei aqui. Novidades nas peças hoje publicadas são a entrevista a André Lange, do Observatório Europeu do Audiovisual, um quadro dos 10 filmes portugueses com maior circulação na Europa entre 1996 e 2002 e a análise da reprodução dos filmes em outros suportes (DVD, vídeo e televisão). 11-M No suplemento "Domingo" do El Pais de hoje vem um conjunto de imagens dos atentados de 11 de Março em Madrid. Imagens simplesmente aterradoras. Incluindo a fotografia que sofreu retoques quando da sua divulgação, dado o lado macabro - uma mão ou um pé decepado, junto ao carril, numa cena dantesca. E, noutras fotografias, rostos e corpos já sem vida, no meio de escombros. Muito, muito triste. Publicada por Rogério Santos à(s) 3/14/2004 01:25:00 da tarde Sem comentários:
29.12.13
A interactividade nos programas de rádio
A Construção da Ordem Interaccional na Rádio. Contributos para uma análise linguística do discurso em interacções verbais é um livro de Carla Aurélia de Almeida e repousa sobre a tese de doutoramento que a autora defendeu na Universidade Aberta (2005), universidade onde lecciona. O texto faz a análise linguística de interacções verbais (p. 19), em cinco programas de rádio portugueses nocturnos (p. 20) claramente interactivos (p. 75) - Boa Noite, Clube da Madrugada, Estação de Serviço, Tempo de Antena e Bancada Central (p. 83) -, num universo de 479 ouvintes e participantes e num período de recolha de dados compreendido entre 1997 e 2001 (p. 80), considerando as estratégias discursivas específicas, em especial as de ordem interaccional e de alinhamento dos participantes (p. 76). Em suma, a autora analisa as vozes na rádio e a sua heterogeneidade no discurso, a amplificação do dito e o modo como os interactantes procedem à desconstrução do sentido e à intercompreensão do que é dito e implícito (p. 77). Alguns conceitos e autores que o livro abrange são quadros interaccionais e falar autêntico (Erwing Goffman), fala corrente (Harold Garfinkel), máximas conversacionais (Paul Grice), ligados ao interaccionismo simbólico e à teoria da acção linguística, estúdio como espaço discursivo público (Paddy Scannell), ligado aos media, e contrato comunicativo (Patrick Charadeau). Alguns títulos de capítulos ou tópicos centrais na investigação de Carla Aurélia de Almeida são: a linguagem em acção, práticas discursivas, processos de construção de sentido, aberturas e fechos da comunicação entre o locutor e animador e o público que usa o telefone ou o email e as redes sociais. A autora observa a constituição de elementos essenciais na produção do discurso radiofónico: controlo do tempo de emissão, voz e dicção do locutor, conteúdo e público abrangido no programa e condições de emissão (directo e diferido, diurno e nocturno) (p. 72). Ela acentua a importância da voz e do estúdio, em que aquela é uma presença incorpórea mas vital para tornar a rádio um meio íntimo e quente (p. 74), mas também as interacções verbais estabelecidas entre o locutor e o ouvinte: regras constitutivas, estratégicas, tácticas, agonísticas ou de
competição e miméticas ou consensuais. O livro é uma confluência de áreas científicas diferentes como a pragmática linguística, a análise do discurso, a análise conversacional, a análise interaccional, a sociolinguística interaccional, a comunicação a e sociologia e procura saber as estratégias discursivas instaladas em momentos cruciais no contacto telefónico entre locutor e ouvinte (abertura, desenvolvimento e fecho). O tempo é uma marca da rádio, escreve Carla Aurélia de Almeida, com os programas rodeados por referências à hora, ao boletim informativo e à temperatura (p. 87) (e acrescento eu: ao movimento matinal e de fim de tarde do tráfego rodoviário na 2ª circular, em Lisboa, ou na VCI, no Porto). E o locutor, de novo, enquanto organizador do diálogo: ele, enquanto anfitrião, faz a gestão do tempo, distribui a vez da elocução (isto é, fecha a via a um ouvinte e abre a via para outro ouvinte falar), mantém e relaciona os temas do programa e estabelece o que a autora designa por coerências semântico-pragmáticas interdiscursivas (p. 92). Para Carla Aurélia de Almeida, não foi fácil reunir um conjunto sistemático de informações respeitantes aos ouvintes participantes. Mas, apesar disso, com o enorme trabalho de recolha que o seu corpus demonstra - mais de meio milhão de palavras - ela conseguiu obter dados quanto a sexo, idade, região do país de onde falavam e profissão (p. 97). Assim, 2/3 dos ouvintes participantes são homens, a maioria geográfica provém da Grande Lisboa (29%) e do Grande Porto (14%), há um peso significativo do operariado da indústria (9%), a que se seguem intelectuais e cientistas (8%), sem conseguir identificar profissionalmente 31% dos ouvintes (p. 98). Olhando para os programas, ela destacou o programa Estação de Serviço, com um predomínio do operariado (50%), ao passo que Bancada Central tinha 10% de intelectuais e cientistas como ouvintes participantes. Leitura: Carla Aurélia de Almeida (2012). A Construção da Ordem Interaccional na Rádio. Contributos para uma análise linguística do discurso em interacções verbais. Porto: Edições Afrontamento, 259 p., 16 € Textos da autora sobre rádio e interacção: 2011 - “Aspectos semânticos e pragmáticos da co-construção de identidades discursivas em narrativas de experiência de vida produzidas por participantes de emissões nocturnas de rádio” in Costa, Armanda; Falé, Isabel; Barbosa, Pilar (orgs.) Textos Seleccionados, XXVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Lisboa, APL, ISBN 978-989-97440-0-4; também disponível em http://www.apl.org.pt/apl-actas/xxvi-encontro-nacional-da-associacao-portuguesa-de-linguistica.html. 2010a - «Então hoje pelos vistos o tema disse-lhe qualquer coisinha mais de perto, não?»:posições interaccionais e a co-construção de identidades discursivas em emissões nocturnas de rádio (“radio phone-in programmes”) in Silva, Augusto Soares; Martins, José Cândido; Magalhães, Luísa; Gonçalves, Miguel (orgs.) Comunicação, Cognição e Media, Braga, ALETHEIA, Publicações da Faculdade de Filosofia, Universidade Católica Portuguesa, pp. 3-15, vol.2, ISBN 978-972-697-195-5. 2010b - “(…) é um rapaz cheio de sorte, digo-lhe já (risos)”: o humor como estratégia discursiva de mitigação do conflito (potencial) em interacções verbais na rádio in Brito et al., Textos Seleccionados, XXV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Porto, APL, pp. 127-142, ISBN 978-98996535-1-1; disponível também em http://www.apl.org.pt/apl-actas/xv-encontro-nacional-da-apl.html. 2010c - “«se à sua imagem corresponder a beleza da sua voz, é fácil imaginar a razão pela qual não nos dá o sono nestas duas horas»(ouvinte do programa ‘Boa Noite’): a co-construção do sentido em programas de rádio nocturnos”, in Ribeiro, José da Silva; Gonçalves, Ortelinda; Pinto, Casimiro (2010) Imagens da Cultura. Actas do VI Seminário Imagem da Cultura, Cultura das Imagens, Ebook, Edição Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais – CEMRI –Universidade Aberta, ISBN: 978-972674-699-7, pp. 122-130; disponível em https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/2201/1/IMAGENS%20DA%20CULTURA.pdf.
2009 – “Processos de figuração e manutenção da ordem interaccional: estratégias de mitigação no quadro do sistema de delicadeza desenvolvido pelos participantes de programas de rádios específicos” in Fiéis, Alexandra; Coutinho, Maria Antónia (2009) Textos seleccionados. XXIV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística,Braga, 20-22 de Novembro de 2008, Lisboa, Colibri, pp. 4360, também disponível em http://www.apl.org.pt/docs/actas-24-encontro-apl-2008.pdf. 2008 - “O ‘envolvimento conversacional’ no momento de desenvolvimento de interacções verbais na rádio: sequências de actos ilocutórios e ‘estratégias de alinhamento’ em programas de rádio específicos”, in Frota, Sónia; Santos, Ana Lúcia (org.), Textos seleccionados. XXIII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Évora, 1-3 de Outubro de 2007, Lisboa, Colibri, 2008, pp. 7-21; ISBN 978-972-96615-1-8; também disponível em http://www.apl.org.pt/images/docs/apl2008.pdf. 2007 - “‘Olhe estamos mesmo no fecho da emissão’:sequências prototípicas de actos ilocutórios, variações e estratégias discursivas no (pré-fecho) e fecho de interacções verbais na rádio” in Lobo, Maria; Coutinho, Maria Antónia, Textos seleccionados. Actas do XXII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Coimbra 2-4 de Outubro de 2006, Lisboa, Colibri, pp. 57-71; também disponível online no seguinte local: http://www.apl.org.pt/docs/actas-22-encontro-apl-2006.pdf. 2005 - Discurso radiofónico português: padrões de organização sequencial, actos e estratégias de discurso, relações interactivas e interlocutivas, tese de Doutoramento em Linguística, especialidade Linguística Portuguesa, Lisboa, Universidade Aberta, 2005, texto policopiado em 3 volumes (Tomo I: texto principal; Tomo II e III: Anexos). 2005 - “‘Não foi pela arbitragem que o Boavista perdeu’: a construção do sentido numa interacção conversacional com três participantes” in Carvalho, Dulce; Vila Maior, Dionísio; Teixeira, Rui de Azevedo (orgs.) Des(a)fiando discursos. Volume de homenagem a Maria Emília Ricardo Marques, Lisboa, Universidade Aberta, pp. 5-16; ISBN 972-674-456-3; disponível também no seguinte local: http://repositorioaberto.univ-ab.pt/bitstream/10400.2/331/1/Des%28a%29fiando%20Discursos516.pdf.pdf. 2004 - “‘Eh pá, pere aí, mas pere aí um pouco...’: a dinâmica das trocas interlocutivas em interacções verbais na rádio” in Oliveira, Fátima; Duarte, Isabel Margarida (orgs.), Da Língua e do Discurso, Porto, Campo das Letras, pp. 157-193; ISBN 972-610-902-2. 2003 - “Algumas questões teórico-metodológicas levantadas pela análise de um corpus de interacções verbais na rádio” in Actas do XVIII Encontro da Associação Portuguesa de Linguística (Porto, 2-4 de Outubro de 2002), Lisboa, Colibri, pp. 37-45; também disponível online no seguinte local: http://www.apl.org.pt/docs/actas-18-encontro-apl-2002.pdf. Publicada por Rogério Santos à(s) 12/29/2013 06:53:00 da tarde Etiquetas: Rádio