abcDesign Magazine 34

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EDITORIAL

Brasil, mostre seu potencial Junto com o futebol, o carnaval é um dos principais símbolos

o mercado estrangeiro. Contudo, Wiedemann apontou que

da cultura brasileira. Valorizar a nossa brasilidade deve ser

ainda temos muito que melhorar, em especial no mercado

pauta do design nacional e muitos dos textos desta edição

editorial de arte e design.

refletem isso. Começando pelo próprio carnaval, uma festa internacionalmente reconhecida e na qual o design se faz presente, sim. Convidamos Cinthia Pascueto para desvendar como é o processo de criação das principais escolas de samba. A Bienal Brasileira de Design foi outro importante meio de divulgar a qualidade da produção nacional. Curada por uma grande equipe de pesquisadores, comandada pela jornalista Adélia Borges, a Bienal trouxe projetos de norte a sul do país, com todos os sotaques que vêm permeando nossos trabalhos em inovação e sustentabilidade.

Mas se no universo dos livros, o Brasil ainda peca em alguns quesitos, no universo dos blogs, fontes tão importantes de informações atualmente, contamos com um pessoal dedicado e competente. Heloísa Righetto apresenta um perfil dos principais blogueiros brasileiros e estrangeiros. Por outro lado, se hoje o principal meio de manifestação é a internet, durante muitos anos, a mídia mais eficiente para se transmitir mensagens de protesto eram os muros das cidades. E é esse o tema da minha coluna, Fatos Gravados, na qual resgato como as mensagens difundidas

A importância desse tema é enfatizada ainda no artigo

pelos designers em seus trabalhos gráficos podem carregar

“Design no Brics”, escrito por Ellen Kiss, onde ela apresenta

engajamento político e crítica ao sistema.

desenvolvimento, que inclui ainda Índia, Rússia e China. Entender e valorizar as características próprias pode significar a ampliação do mercado e crescimento econômico num momento de grande competitividade, mas, também, de muitas oportunidades. Até mesmo Julius Wiedemann, editor de design da Taschen, na entrevista especial do mês, salientou a excelente reputação que os profissionais brasileiros vêm tendo diante

Editor Ericson Straub Conselho editorial Antônio M. Fontoura, Marcelo Castilho Diretor executivo Wilgor Caravanti Edicao conjunta e jornalista responsavel Mariana Di Addario Guimarães Mtb 05823/PR Projeto grafico e coordenacao grafica Straub Design Pesquisa, redacao e edicao de textos Mariana Di Addario Guimarães Designers Bruno Garcia, Ericson Straub, Indianara Barros, Marcela Costa Bech, Rafael Trojan, Rodrigo S. Macedo, Rogério Wielewski Colaboradores Álvaro Magaña Tablio, Cinthia Pascueto, Daniel Campos, Ellen Kiss, Heloísa Righetto, Renata Graw, Ricardo Leite

Para finalizar, Chico Homem de Melo pergunta se você sofre do mal da “sistematite”, Christian Ullmann faz uma reflexão sobre o design 3.0 e você ainda fica sabendo como foi a Brasil Design Week deste ano. As perspectivas são excelentes. Então que venha 2011! Boa leitura! Ericson Straub

editor@abcdesign.com.br

Colunistas Chico Homem de Melo, Christian Ullmann, Ericson Straub, Zé Henrique Rodrigues Assinaturas e vendas Jenifher Schmidt, Aline Barbosa Administrativo Denise Horst Producao grafica Luciano Rodrigues Pre-impressao, impressao e acabamento com cola PUR Maxi Gráfica Ilustracao da Capa Ericson Straub Verniz de Capa UV Pack Distribuicao DINAP - Distribuidora Nacional de Publicações O conteúdo dos artigos é de total responsabilidade dos autores. Agradecemos a todos aqueles que de alguma forma participaram desta publicação, direta ou indiretamente, colaborando para que fosse possível sua realização.

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Revista abcDesign e uma publicacao da Infolio em conjunto com Maxi Grafica Rua Belo Horizonte, 178 - Batel 80240-310 - Curitiba - PR - Tel. 41 3078-8050 comercial@abcdesign.com.br imprensa@abcdesign.com.br

abcdesign.com.br Fontes utilizadas na edicao Capricorn, Neobauhaus/Ericson Straub, Freight, ArcherPro, Sentinel

Papeis utilizados Capa - Couchê 300g Miolo - Couchê 150g e Offset 150g

EDICAO N0 34 | DEZ/JAN/FEV - 2011 | ISSN 1676-5656

o potencial de crescimento deste bloco de países em



ÍNDICE

04 O DESIGN ESTÁ NA AVENIDA16 28 SISTEMATITE33 DESIGN41 EMERGENTE CASES - SONANGOL49 OS FAVORITOS52

LEIS DE JULIUS. ENTREVISTA COM JULIUS WIEDEMANN Mariana Di Addario Guimarães

Cinthia Pascueto

FATOS GRAVADOS - DESIGN SUBVERSIVO Ericson Straub

Chico Homem de Melo

Ellen Kiss

Mariana Di Addario Guimarães

Heloísa Righetto

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ENTREVISTA JULIUS WIEDEMANN

Leis de

Julius

por Mariana Di Addario Guimarães

Depois de encontrar Julius

fazendo amigos e colecionando

Hoje, além de ser o responsável

Wiedemann para entrevistá-lo para

histórias que ele conta visualmente

pela seleção e edição dos títulos

esta edição da abcDesign, não

nos livros da editora Taschen.

de design da maior editora de arte

pude evitar de compará-lo com o personagem de George Clooney

Carioca, com duas faculdades

em “Amor sem Escalas”, em que ele

começadas e não terminadas –

interpreta um sujeito em constante

design e marketing – Wiedemann

trânsito aéreo.

entrou como editor da divisão do

Não, Wiedemann está longe de ser melancólico como o personagem

design da editora depois de uma temporada morando no Japão.

do mundo, ele agora também é diretor de publicações digitais da Taschen, além de curar mostras de design, escrever para revistas e sites e participar como júri de concursos em todo o mundo.

Arriscou enviar seu currículo para

Aqui, Wiedemann divide um

várias empresas, focando na vontade

pouco do que aprendeu nestes

solitária. Ao contrário. Ele viaja o

de morar na Alemanha, terra natal

14 anos de estrada perseguindo

mundo todo (nos últimos dois anos

dos avós. Acabou tendo uma bela

e registrando o melhor do design

tem ficado no máximo seis dias

oportunidade que dura já nove anos

mundial, passando por temas como

em cada cidade!) atrás de pessoas

e lhe rendeu uma promoção em

mercado editorial, futuro do livro e

e de design da melhor qualidade,

fevereiro deste ano.

o potencial brasileiro na área.

Ryan Bingham e certamente ele não está fugindo de uma vida

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abcDesign: A Taschen, além de

Em 2005, quando lançamento o

Mas nosso trabalho começa assim

lançar títulos e publicações de

“Japanese Graphics Now”, nem

que colocamos o livro no mercado.

excelente qualidade, consegue

mesmo o pessoal da Taschen

O plano de retorno financeiro é de

também colocá-los no mercado

entendeu, porque a fatia de mercado

dois anos para frente. Por isso, os

a um preço muito competitivo.

no Japão não era tão grande. Mas

incentivos fiscais são completamente

Como se chegou a esse modelo?

o livro não era para eles e, sim,

prejudiciais para a indústria do livro

Julius Wiedemann: Benedikt

para todos os que gostavam dessa

de arte aqui.

[Taschen, fundador da editora]

estética, e vendemos 130 mil cópias.

abc: Você diria os incentivos

achava que os livros de arte eram

Vender essa quantidade de um livro

brasileiros nesta área estão indo

muito caros. O preço geralmente

de design é um resultado incrível

para projetos errados?

e até incentivou outras editoras

JW: Em certas áreas eles são

a trabalharem o mesmo tema.

absolutamente necessários. Na

Certa vez eu estava numa livraria

Alemanha, o governo ajuda em

em Colônia [Alemanha] e eu vi

publicações sobre assuntos, por

uma pessoa folheando o livro do

exemplo, historicamente pertinentes

concorrente. Me aproximei e indiquei

e que estão se perdendo. Mas acho

o livro da Taschen, e ela me disse que

absolutamente desnecessário, ou

já tinha. Alívio! Minha missão estava

melhor, não acho justo, eu pagar com

cumprida!

o meu imposto um livro-portfólio de

se baseia no custo de produção do livro e na margem de lucro, mas, para baratear, Benedikt inverteu o processo pensando: “Acho que este livro as pessoas só vão comprar se custar 30, então, o que eu tenho que fazer para ele tenha esse preço? Quantos livros eu tenho que produzir e quantos vou ter que vender para que seja viável”. Ele foi realmente inovador neste sentido. Agora, como toda editora, a Taschen

abc: Essa missão é em relação a fazer o conteúdo chegar longe?

um arquiteto, um ilustrador, ou o que quer que seja. Se ele quer fazer, ele deve investir. Essa publicação não tem

também trabalha, basicamente,

JW: Também. Mas para me explicar,

valor histórico para o país, o valor

com três tipos de livros, aqueles

vou fazer um comparativo com o

histórico é para o autor.

que constróem marca, títulos que

Brasil. Aqui, quando se faz livros

fazem dinheiro e aqueles que tentam

Por isso, acho que, sim, tem que

de arte, principalmente quando se

ser revista a forma como se usa

usa recursos como a Lei Rouanet,

essa lei de incentivo fiscal. Não é

depois de terminado o livro a missão

errado ter, evidentemente, mas

acabou, porque a verdade é que no

existe uma indústria grande que

Brasil não existe interesse nenhum

vive do incentivo fiscal e, assim, não

em se vender livro de arte. Existe

se forma uma indústria decente de

interesse em se fazer livros de arte.

publicação.

fazer as duas coisas, que é sempre o ideal. Pela nossa experiência, já conseguimos dizer mais ou menos o que vai dar certo. Pesquisa na área editorial é muito pouco feita, porque para inovar é preciso mesmo antecipar o que o leitor quer. abc: Entramos então no assunto da decisão dos temas, como você busca, como decide os temas dos livros? JW: Acredito que as grandes oportunidades estão na “demanda reprimida”’, aquela que você não enxerga. Por isso, converso com muitas pessoas, viajo muito. Penso que mesmo com tudo que temos em termos de internet, e eu uso tudo, hoje damos muito mais valor ao encontro pessoal. O trocar ideias é sempre uma maneira de ver as coisas de formas novas.

Acredito que as grandes oportunidades estão na “demanda reprimida”’, aquela que você não enxerga. Por isso, converso com muitas pessoas, viajo muito. Penso que mesmo com tudo que temos em termos de internet, e eu uso tudo, hoje damos muito mais valor ao encontro pessoal. O trocar ideias é sempre uma maneira de ver as coisas de formas novas. 6


“Digital Beauties�: Primeiro livro editado por Julius.

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abc: As pessoas reclamam que no Brasil é caro e difícil produzir e

abc: Falando nesses critérios

ganhar dinheiro em cima desse tipo material. Falta se trabalhar mais

na hora de desenvolver os

nas leis de mercado?

livros para a Taschen, como é

JW: Com certeza! Trabalhar fora das regras de mercado é dizer que você não tem interesse nenhum que alguém goste daquele livro. Esse é o grande

o seu processo de seleção de conteúdo?

problema. Quem faz livro de arte no Brasil tem muito pouco interesse que isso

JW: Tenho um princípio quando edito

aconteça. Existem pessoas sérias, mas ainda é pouco.

meus livros que chamo de “Primeira

A maioria termina o livro, dá de presente para família e amigos e não tem motivo para fazer aquilo vender. E pior, além de eu pagar o livro com meu imposto, é bem provável que eu não consiga encontrá-lo para comprar, e se encontrar, vai ser caro. Se ainda fosse uma política que barateasse a compra, eu entenderia, pois estaria subsidiando a arte, mas a verdade é que não é assim.

Lei de Julius”, que é o 30/30/40. Trinta por cento do conteúdo é o mais conhecido, o que eu chamo de “zona de conforto”. Se eu abro um livro de design japonês e vejo algo do Issey Miyake, por exemplo,

Na Taschen, trabalhamos exatamente ao contrário. Tem gente que nos critica,

eu conheço. A capa geralmente

dizendo que fazemos livros comerciais, mas fazemos mesmo. Não há nada de

traz algo bastante conhecido. Nos

errado, pois estamos suprindo uma demanda. E ainda assim temos publicações

outros 30, eu mostro projetos

que são referência em conteúdo teórico por conta da qualidade das pessoas

relativamente conhecidos. É o que

que escrevem para a editora.

eu chamo de “zona da curiosidade”,

A verdade é que o mercado é um drive de qualidade enorme. Não o contrário. Talvez eu tenha uma visão radical, mas eu acho isso muito poderoso trabalhar dentro dessa lei, pois me faz pensar todo dia “será que o meu leitor vai querer ler isso?”

o que instiga a pessoa a querer mais. Nos outros 40% entrego algo completamente novo, que é a “zona do aprendizado”. Mas é preciso criar uma ponte, pois é difícil apreciar algo que está completamente longe daquilo que conhecemos. Claro que tem pessoas com uma curiosidade natural pelo desconhecido, mas a maioria precisa disso. A curadoria faz essa ponte. abc: Você é um grande pesquisador de conteúdo, quais os desafios da curadoria? JW: Brinco que tenho vários informantes. Eles me contam sobre as exposições que estão abrindo, das novidades que encontram. Viajo muito também, não tenho ficado mais que cinco a seis dias num mesmo lugar, isso há uns dois anos. Além disso, chegamos a um ponto em que praticamente todos os dias recebemos portfólios. Quando estou para começar um livro já tenho uma quantidade imensa de material. Hoje, eu diria que o maior desafio da curadoria é o crowdsourcing. O problema é que ainda vai demorar para que os softwares consigam

“Japanese Graphics Now” foi um dos livros de design mais bem-sucedidos da Taschen.

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diminuir o nível de ruído, que no livro,


“D&AD 2010, The Best Advertising and Design in the World” é Outro exemplo de livro editado em conjunto, desta vez com o prêmio de publicidade e design DA&D. O desafio desta publicação foi adaptar o processo da Taschen ao curto tempo em que o livro deveria estar nas livrarias.

“The Package Design Book” é uma coleção dos vencedores de um dos maiores prêmios de embalagem, editado em conjunto com o Pentawards. Essa é uma das novas linhas editoriais da Taschen.

por ter sido editado por uma única

educar muito mais pessoas e de

incomparável. Se eu forneço um livro

pessoa, é muito baixo. A tendência

forma muito melhor se eu fornecer

de logos que está organizado da

é que a tecnologia e a internet

pela web? Tem sempre o positivo e

forma que eu, como editor, escolhi,

agreguem muito neste contexto. É

negativo.

é uma coisa. Mas posso oferecer um

um desafio com o qual vou trabalhar mais, agora que sou diretor de publicações digitais da editora.

Por outro lado, estamos fazendo uma série fantástica sobre os 20 anos da Fuse [projeto do designer

aplicativo que possibilita procurar só logos vermelhos, só logos vermelhos do Brasil, logos de 2010, enfim, com um nível de customização,

abc: Esse é um assunto

Neville Brody] que vai contar com

polêmico, porque existe um

toda a republicação dos 18 títulos,

“pânico” geral em relação ao fim

outros dois novos, num material

do livro. Como você vê isso?

super especial, dentro duma caixa,

foi uma das coisas que a internet

com todos os pôsteres. Ou seja, é um

possibilitou.

livro-objeto, um outro contexto.

abc: Será que estamos querendo

o livro “Não contem com o fim

Com a internet vai haver uma distinção

resolver esse problema com

do livro”, em que eles dão um

muito maior entre o livro-objeto e o

muita pressa, sem esperar que

argumento muito importante, que

livro “dispositivo de informação”. Essa

os caminhos se adequem com o

área está começando a ficar cinza,

tempo?

JW: Os escritores Umberto Eco e Jean-Claude Carrière publicaram

é sobre a durabilidade dele como suporte. Hoje posso ler um livro que tem mil anos, mas não posso ler um disquete, por exemplo. Também existe a questão da acessibilidade. Porque vou mandar para o nordeste

mas acredito que vá se polarizar ainda mais. Dispositivos como as tablets vão ter uma tecnologia incrível que vai substituir em grande parte a questão do livro.

organização e interatividade completamente diferente. Isso

JW: Creio que a questão da urgência vem de hoje termos um modelo em clara decadência, mas sem algo para substituí-lo. Como se trata de uma indústria que gera emprego e

um milhão de livros, que pesam

Vou oferecer o mesmo conteúdo via

dinheiro, as pessoas querem transferir

tantas toneladas e gastam tanta

digital, mas vou também oferecer

esses benefícios para uma nova

quantidade de papel, se posso

a opção analógica. É relativamente

configuração de forma que seja boa

mandar 300 vezes mais títulos,

o mesmo conteúdo, mas de forma

para todo mundo, o que é impossível.

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O mundo pós-Amazon, por exemplo,

mil nos EUA, 4 mil no Brasil, etc., e

reorganizar a utilização de cada uma

não poderia ter sido previsto. Ela

juntar número suficiente, consigo a

delas, assim como damos outro valor

passou a vender livros com 30%

quantidade que preciso para publicar

para cada uma também.

de desconto e isso fez com que as

o livro. Lembrando que eu tenho que

livrarias começassem a quebrar. Daí

ter como distribuir isso. Quando vou

elas tiveram que se adaptar. Viraram

para o meio eletrônico, fica mais fácil

cafés ou concept stores, deixando de

ainda.

focar no produto que estava sendo

Se hoje você recebe uma carta escrita a mão, você vai prestar atenção, porque ninguém mais faz isso. Se eu mandar uma foto no

abc: Se trata, na verdade,

momento em que eu pensar em você

nas pessoas. A reorganização do

de uma mudança radical de

em uma viagem, vou te impactar

mercado passa por essa reavaliação

lidarmos com as mídias, certo?

mais que se eu mandar um cartão

das pessoas.

JW: Sem dúvida. Hoje temos no

vai acontecer com o livro, só não

Estamos passando por aquilo que

mínimo seis ou sete gerações

sabemos ainda bem quais são os

eu chamo de “globalização de nicho

coexistindo que lidam com as mídias

termos e quais serão os resultados.

de mercado”. Antes se falava “Pense

de formas completamente diferentes.

Não há dúvida que daqui a alguns

globalmente, aja localmente”. Nós

Uma criança começa a mexer no

anos, ganhar um livro de presente vai

da Taschen fazemos exatamente

computador com cinco anos ou

ter um valor muito maior.

o oposto, “Pense localmente, aja

menos. Mesmo assim, nenhuma

globalmente”. Se eu fizer um livro

grande mídia, desde a carta até o

sobre capas de discos de “Funk &

rádio e a televisão, desapareceu. Elas

Soul”, como fizemos recentemente,

ficaram fragmentas e começamos a ter

e eu souber que tem três mil pessoas

muitas maneiras diferentes de entregar

JW: Achei horrível. Mas é que o

na Alemanha que comprariam, cinco

informação. Com isso começamos a

processo de fazer esse tipo de logo é

vendido para começar a se interessar

postal. Essa polarização também

abc: O que você achou do polêmico logo da Copa do Mundo no Brasil?

complicado e geralmente o resultado é ruim mesmo, são decididos por gente demais. Conversando com Stefan Sagmeister há algum tempo, ele comentou bem isso. Todos os logos bons, que vêm durando muito tempo, foram criadas por uma pessoa, e não uma equipe. Entramos no tema designer, como criador, como profissional qualificado. O problema de instituições como Fifa, COI, etc., e inclusive empresas, é que tudo tem que ser feito na base do consenso, que chega a ficar burocrático, ao invés de pagar bem um bom designer por um trabalho importante. Não há nada de errado em ser uma decisão unilateral. É errado escolher alguém por nepotismo, claro. “Asian Design Graphics” reúne o melhor do design asiático, um foco de interesse grande, como comenta o editor.

abc: É que é uma questão de confiança no profissional de design, o que não é fácil nem comum no Brasil.

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JW: Com certeza! Mas acho que você, como cliente, deve procurar entender mais ou menos como o designer chega aos seus resultados e associar isso ao lugar aonde você quer chegar. É como eu acho que se trabalha bem com design. Além disso, na área criativa, o mercado regula melhor do que qualquer coisa. Por isso os publicitários vão bem. Muitos nunca estudaram na área, estão fazendo um ótimo trabalho e ninguém questiona, porque o que interessa é o que eles vêm produzindo. Claro que a publicidade tem um volume de dinheiro grande envolvido, e quanto mais dinheiro, mais volume de trabalho. E é só volume de trabalho que separa o joio do trigo. No Brasil, em design, falta volume. É uma questão de evolução natural. Hoje já estamos muito melhor que há alguns anos. abc: Você que conhece tão bem a produção de design mundial, como está o Brasil neste contexto e, para você, existe um lugar que se destaque? JW: Isso é relativo. Bom design tem a ver uma boa ideia, aliada a um bom desenvolvimento e uma boa execução. Isso, para mim, é o que define qualidade. Acho que a Inglaterra, hoje, tem o melhor design do mundo. Conseguiu uma linguagem contemporânea com um equilíbrio muito bom entre o comercial e o conceitual, sem ser piegas, nem ser clichê. Agora, o Brasil realmente está em evidência e a nossa vantagem é a diversidade de culturas. É uma escola completamente indefinida e com uma linguagem muito difícil de prever. E é por isso mesmo que estamos causando surpresas.

Terceira edição da série “Illustration Now”. O quarto volume trará apenas retratos.

Hoje temos no mínimo seis ou sete gerações coexistindo que lidam com as mídias de formas completamente diferentes. Uma criança começa a mexer no computador com cinco anos ou menos. Mesmo assim, nenhuma grande mídia, desde a carta até o rádio e a televisão, desapareceu. Elas ficaram fragmentas e começamos a ter muitas maneiras diferentes de entregar informação. Com isso começamos a reorganizar a utilização de cada uma delas, assim como damos outro valor para cada uma também.

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brasil design week

por Mariana Di Addario Guimarães

Maome chega a` montanha

Todos que trabalham com design, seja em qual especialidade for, têm a convicção de que é uma ferramenta essencial para agregar valor e aumentar a competitividade de uma marca. Contudo, ainda existe uma dificuldade grande de se vender serviços de design no Brasil. Para reverter esse quadro, a Associação Brasileira de Empresas de Design tomou para si a missão de tentar melhorar a comunicação entre empresários, designers e instituições associadas a fim de fomentar negócios. 12


Milhares de pessoas passam todos os anos na HSM Expo Management, maior feira de gestão da América Latina.

Como vocês já conhecem de coberturas anteriores, uma

espaço entre as palestras principais, pena que foi com

das ações neste sentido foi começar a promover a Brasil

a duvidosa escolha do designer Hans Donner como

Design Week, em 2008, um evento feito para apresentar

representante. Em sua apresentação, o austríaco limitou-

aos executivos brasileiros onde e como o design cumpre

se a falar da importância de sua atuação na rede Globo

a função de gerar valor.

e dedicou a maior parte do tempo ao relógio “Time

Este ano, em sua terceira versão, a BDW ganhou um

Dimension”, que virou seu grande projeto de vida.

aliado importante: a HSM Expo Management, maior

A despeito disso, a Brasil Design Week, bem como

evento de gestão da América Latina. Organizada

demais instituições, como a faculdade ESPM e a

pela Revista HSM, a feira

revista Repensadores, também se

reúne as maiores empresas

propuseram a abordar assuntos

brasileiras e executivos de todo o continente para três dias intensos de aprendizado e prospecção. São cerca de 10 mil pessoas passando diariamente pelos estandes e assistindo à oferta de quase 200 palestras sobre o universo corporativo, além das palestras magnas, que trazem os

“...Designers ainda falam somente para designers e executivos não sabem como ouvir o design...”

de serviços, inovação, design thinking, sustentabilidade, design estratégico e branding. O desafio, no entanto, ainda é fazer com que esses os assuntos sejam tratados de uma forma que converse com as necessidades do público corporativo. “Designers ainda falam somente para designers e executivos não

principais nomes da gestão do mundo.

bastante atuais, como design

sabem como ouvir o design”, alerta Gian Franco Rocchicioli, diretor da Abedesign e

Em 2010, no rol dos palestrantes estavam Jim Collins e

coordenador do evento. “Nós temos a responsabilidade

o papa do marketing Philip Kotler, que falou do conceito

de alinhar nosso discurso baseando-nos no nível de

de marketing 3.0. Pela primeira vez, o design ganhou

entendimento que eles têm da disciplina”, completa.

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Dentro da Brasil Design Week

os agentes – governo, empresas,

Por outro lado, aponta o

se manteve a realização do

órgãos – como o mercado esperaria.

representante da Apex, com o

Fórum de Fomento e Políticas

Vamos repetir até que acharmos que

aumento da competição, outros

Governamentais, em que as principais

essa a articulação esteja boa”.

países também estão de olho no

entidades públicas de apoio ao design apresentam como vem sendo desenvolvido o fomento e

Juarez Leal, da Apex, colocou também nas empresas a responsabilidade de

promissor mercado brasileiro. Ele exemplifica falando do mercado de cosméticos, que de 13º passou

debatem novas diretrizes. Órgãos

investir em design, salientando que

de importância nacional como

o Brasil pode perder a oportunidade

Agência Brasileira de Promoção,

de crescer no mercado externo sem

alertando o empresário para que

Exportação e Investimentos (Apex),

essa ferramenta. “O país ainda se vê

olhe o design como ferramenta.

Sebrae, Programa Brasileiro de

essencialmente como um produtor de

Este é o momento para isso, pois

Design (que fica dentro do Ministério

bens sem associar a criação de valor

estamos falando de sobrevivência

de Indústria e Comércio) e BNDES

agregado. Como apoiamos empresas

no mercado. Ou os empresários

vêm comparecendo anualmente

brasileiras em eventos internacionais,

investem em design como um

estamos vendo como nossos

diferencial, ou poderão morrer”.

“...Ou os empresários investem em design como um diferencial, ou poderão morrer...”

concorrentes estão entrando no mercado estrangeiro e é exatamente isso que temos que fazer, entender o que ele quer, o que ele consome”.

para o 3º maior setor no contexto mundial. “Há muito tempo estamos

A Apex não é a única a incentivar os executivos a prestarem mais atenção ao design. Sebrae e Programa Brasileiro de Design já vêm aproximando ambos

Contudo, mesmos tendo setores

por meio de ações educativas e

fortemente inovadores, como

consultorias há bastante tempo. No

a biotecnologia e a aeronáutica exportando para diversos países, na opinião de Juarez, o Brasil ainda é

para tentar uma maior articulação

míope quando se fala em exportação.

com os atores envolvidos, ponto

“O interesse no Brasil é enorme,

essencial para o desenvolvimento

mas ainda achamos que só funciona

do design nacionalmente, enfatizou

exportar para os Estados Unidos e

o presidente da Abedesign, Luciano

Europa. Temos trabalhado muito para

Deos “Ainda temos sido pouco

saber onde lá fora nossa forma de

eficientes na articulação entre todos

pensar e ser é melhor aceita”.

entanto, o incentivo financeiro às vezes parece ser o argumento mais eficiente. O BNDES, por exemplo, oferece linhas de crédito para projetos de inovação e ano passado passou a contemplar, por meio do cartão BNDES, empréstimos para que micro, pequenas e médias empresas invistam em design. No entanto, como as tomadoras

Luciano Deos no Fórum de Políticas. Existem as divisões governamentais trabalhando para que os empresários brasileiros valorizem e invistam em design. Os resultados, no entanto, dependem de aproximar cliente de prestador de serviço. “Vamos insistir até que essa articulação aconteça”.

Os associados da Abedesign puderam comprar seu espaço na feira, tendo a oportunidade de apresentar aos prospects seu trabalho.

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Gian Franco Rocchiccioli. Um dos passos mais importantes da Abedesign agora é conseguir consolidar o planejamento para os próximos 10 anos em cima do mapeamento do mercado. “Com esses dados em mão conseguimos negociar com muito mais propriedade”.


Ao final do evento, a feliz confirmação de que finalmente a Brasil Design Week encontrou seu público.

dos empréstimos devem selecionar

O mapeamento, por outro lado,

momento, é se unir para e trabalhar

a prestadora do serviço dentre as

ainda não conseguiu sair do papel

para que o design entre no budget

cadastradas no site do BNDES, as

por falta de investimento. Este

das empresas. A divisão hoje não

empresas de design devem fazer seu

trabalho prevê o levantamento de

é justa. A mídia, por exemplo, leva

cadastro no Banco. O problema é que

dados sobre o tamanho do mercado,

muito mais investimento, enquanto

desde que o projeto foi lançado, na

qual o seu impacto na economia,

que o design tem um retorno mais

BDW do ano passado, apenas nove

quanto é gerado de empregos e

perene, de maior valor e com mais

escritórios de design conseguiram se

como são medidos seus resultados.

transformação”, acredita Krieger.

enquadrar no cadastro. “O processo

“Precisamos dessas informações se

ainda é muito burocrático e a

queremos sentar com o governo

Abedesign já está trabalhando para

e com os empresários para definir

ampliar isso”, revela Rocchioccioli.

o que pode ser feito, além dele

Ciente de que ações isoladas, como a realização de um evento, não são suficientes para gerar negócios no

ser a base para um planejamento estratégico visando os próximos dez anos”, completa Gian Franco.

“...Entramos finalmente num evento que reconheceu sinergia entre o design e a gestão...”

nível necessário, a Abedesign vem

Enquanto a Abedesign cuida dos

articulando várias outras iniciativas

interesses coletivos do segmento de

que se complementam para atender

design, o objetivo é fazer com que o

Por esse motivo, que, na opinião de

aos interesses coletivos das empresas

mercado cresça o suficiente para que

Luciano Deos, a realização da Brasil

de design. Além de rever detalhes,

as empresas possam atender a seus

Design Week dentro da HSM Expo

como o problema de cadastramento

objetivos individuais. “Mas ainda temos

Management foi um passo decisivo para

do BNDES, a Associação está focando

que ter dentro da Abedesign mais

também em duas questões essenciais:

concretizar a articulação entre designers

empresas dos demais estados. Não dá

a consolidação de uma agenda única

para ser uma associação de paulistas

e empresários. “Se a montanha não vai

do setor de design e no projeto de

e cariocas porque quanto maior a

mapeamento desse mercado.

representatividade nacional, mais força

A agenda já começou a ser definida

nós temos”, incentiva o diretor.

a Maomé, Maomé vai até a montanha. Entramos finalmente num evento que reconheceu sinergia entre o design e a gestão. É uma mudança que vai

ano passado, e segue agregando

No Paraná, o representante regional é

exigir alinhamento de foco e discurso

o Programa Brasileiro de Design,

o designer Roger Krieger, da agência

para o ano que vem, mas não tenho

Centro de Design Paraná e as diversas

Komm de Curitiba, em Minas Gerais

dúvidas de que o próximo evento será

associações espalhadas pelo país.

é Marcos Breder. “O importante, no

fantástico”.

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Design & CULTURAL

“É uma coisa misteriosa. Quando dizem: ‘a Escola vai entrar na avenida’, todo mundo levanta, bate palma, grita...” Assim a carnavalesca Rosa Magalhães descreve a comoção popular causada pelo desfile das escolas de samba. Inegavelmente a festa mais tupiniquim do ano, o Carnaval agita multidões em três dias de festa e move verdadeiros exércitos nos dias restantes do ano, que trabalham exaustivamente na criação de um espetáculo de cores, brilhos e formas megalomaníacas.

OestÁ design na Avenida POR Cinthia Pascueto

Dona de uma risada rouca e exibindo duas mechas de cabelo pintadas na cor de seu nome, Rosa Magalhães está atualmente à frente da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel. A carnavalesca, há 40 anos no ramo, acredita que o trabalho em uma escola de samba se assemelha ao de uma indústria: “começa com um projeto, depois vem o teste, a produção em massa e o dia da inauguração na loja”. E nesta produção, o design está em todas as etapas. “O design no carnaval é um tanto quanto kitsch. Se você faz algo muito clean, não tem o espírito do espetáculo, que é um pouco Broadway, muito obaoba... É uma misturada, né?”, descreve.

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Foto: Pedro Kirilos/Riotur

Detalhe do desfile da Mocidade Independente, que, em 2010, desfilou o tema “Do Paraíso de Deus ao Paraíso da Loucura, Cada um Sabe o Que Procura”.

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Enredo: o início de tudo O projeto começa na escolha do enredo, quase um

próximo carnaval da Portela está trabalhando o enredo

ano antes do desfile, e pode ter diversas motivações:

“Rio, azul da cor do mar”. “O enredo desenvolvido tem

homenagem, marcos históricos e até patrocínio. O tema

que nos dar os ícones necessários para que consigamos

“cabelo” do Carnaval 2011 da Vila Isabel, por exemplo,

colocá-lo na Avenida”. Ainda segundo Szaniecki, o enredo

vai ser patrocinado pela marca de cosméticos Pantene.

é desenvolvido de acordo com uma ordem, que vai

De acordo com Alex Varela, historiador da escola, depois

conduzir todo o processo de construção do desfile. “Ele é

de definido o tema, “é feita a pesquisa em livros, jornais,

dividido em setores e entremeios que serão apresentados

revistas, filmes, imagens e internet, sobre referências que

desde o abre-alas até o último carro. Cada um desses

possam contribuir para a construção do enredo – no caso, ‘Mitos e histórias entrelaçadas pelos fios de cabelo’ – que é o pontapé inicial”, explica.

setores do texto ou roteiro, que vai para o compositor do samba e para a composição plástica, traduzem determinada ideia, que temos que transformar em samba, fantasia e alegoria”. Portanto, o resultado que chega à

O carnavalesco Roberto Szaniecki, também conhecido

Avenida é uma composição audiovisual: “o samba conta

como Polonês devido à sua origem europeia, para o

o que está sendo visto”, completa.

Na ponta do lápis e no clique do mouse Cada carnavalesco tem sua própria forma de colocar no papel suas criações. Paulo Barros, vencedor do Carnaval 2010 pela Unidos da Tijuca – que em 2011 traz para a Avenida o enredo “Esta noite levarei sua alma” –­ está contando com a ajuda da dupla de designers Annik Salmon e Delfim Rodrigues, que falaram um pouco desse processo. “O carnavalesco apresenta a ideia central e a partir disso riscamos no papel a fantasia. Depois, mostramos para ele aprovar ou fazer alterações, até chegarmos a um consenso”, diz Rodrigues, ao que Annik completa: “Paulo Barros gosta de fazer uma alegoria com a qual o público interaja e se identifique de imediato. Isso é algo que buscamos em todos os nossos desenhos: a aceitação e a diversão para quem nos assiste”. Outra peculiaridade do trabalho de Barros são as chamadas alegorias humanas – carros alegóricos cujo sentido só se completa mediante a participação e coreografia das pessoas que compõem o carro. O mais emblemático foi o carro chamado DNA humano que, sem seus componentes, era apenas uma estrutura de ferro e madeira. Já Rosa Magalhães, que conta com o auxílio do assistente Mauro Leite para o desenvolvimento das ideias, baseia seu trabalho em pesquisas e referências trazidas do seu dia a dia. Ela conta que se inspira inclusive nos objetos de sua casa para as criações. “Já trouxe uma vez umas lanternas indianas para servir de modelo. Existem coisas que você gosta e funciona”, revela. Croqui do Carnaval 2010 cedido pelos designers Annik Salmon e Delfim Rodrigues, da Unidos da Tijuca. A Escola foi a campeã do último Carnaval com o enredo “Segredo”.

O método da colagem faz também parte do processo criativo do cenógrafo, figurinista e professor do curso

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de Belas Artes da Universidade

as formas e interpretações para

essa tecnologia para o Carnaval,

Federal do Rio de Janeiro (EBA/

abordar um mesmo tema”, explica

preparando uma equipe para isso”,

UFRJ), Samuel Abrantes. Com

Szaniecki. Contudo, aponta ele,

diz o artista, alegando que, apesar de

30 anos de carnaval, ele tem no

a criação carnavalesca deve fazer

acumular para si mais trabalho, isso

currículo fantasias de destaque para

parte do inconsciente coletivo e

alivia a carga de toda a produção.

diferentes Escolas de Samba do Rio

não adianta o trabalho de design

“Nosso figurino não é deturpado,

de Janeiro. “O carnaval incorpora

ser muito sofisticado se o público

é em escala real. Não tem o risco

muitos elementos da cultura, das

não reconhecer como informação

de não caber no carro, pois já foi

artes, da história e do folclore. Nossa

diretamente. “A informação tem

projetado para encaixar ali. Isso

função é redimensioná-las, elaborar

que chegar às pessoas. Do contrário,

evita gargalos”, afirma ele, que

releituras e especular em torno das

você destrói seu carnaval. Ele pode

utiliza desde programas sofisticados

possíveis expressões artísticas que

ser sensacional, mas o próprio jurado

de edição 3D, como o Vue

um enredo nos sugere”, analisa o

pode não entender sua mensagem

xStram, utilizado em filmes como

professor, que ainda desfila em três

naquele momento”, alerta.

Piratas do Caribe, até StudioMax,

escolas do grupo especial e em duas do grupo de acesso A.

Szaniecki é um dos poucos carnavalescos que trabalham

Roberto Szaniecki, por sua vez,

atualmente com todo o processo de

acredita que o processo de criação

criação computadorizado. “Meus

é muito lúdico e íntimo de cada

figurinos e meus carros são em 3D,

carnavalesco. “Através de ‘regras’

já estou no processo Hollywoodiano.

pré-estabelecidas, posso colocar

Tenho acompanhado muito essa

minha expressão, meu toque

linha de raciocínio que se usa

pessoal nas peças. São diversas

no cinema, e trazido aos poucos

AutoCad, CorewDraw, Photopaint e Photoshop, além de manter um almoxarifado virtual atualizado com imagens em escala real de tecidos e aviamentos.

“O Carnaval é a vitrine brasileira para o mundo. O evento é transmitido para 200 países, o que o transforma em um grande veículo de comunicação cultural”. ROBERTO SZANIECKI Desenho de alegoria criado por Rosa Magalhães para o Carnaval 2005 da Imperatriz Leopoldinense, sobre o escritor de histórias infantis Hans Christian Andersen.

Desenho de carro alegórico do Carnaval 2010 da Unidos da Tijuca.

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Foto: Pedro Kirilos/Riotur

Do barracão para a Avenida Entre o esboço das fantasias

ser pensados: “é importante lembrar

problemas devido a uma escolha

e alegorias, sua montagem

que o carro tem um limite altura e

mal feita. “Uma vez, optei por um

no barracão e sua exibição no

largura para sair do barracão até

tom de verde-água e foi uma dor de

Sambódromo, são considerados uma

chegar à Avenida, além do peso

cabeça”, reclama.

série de parâmetros, que vão desde o

máximo que pode ser colocado em

peso das fantasias e o transporte do

cima dele”. O designer aponta ainda

carro alegórico até a disponibilidade

que no caminho até o Sambódromo

de materiais no mercado.

é necessário passar por uma série

Annik Salmon e Delfim Rodrigues explicam que a fantasia deve levar em conta o componente da Escola

de obstáculos, como ruas estreitas e árvores, viadutos e semáforos mais baixos que o carro alegórico. Por

A carnavalesca explica que o ideal é comprar uma assinatura das tendências, pois as cores da cartela são projetadas dois anos antes. “Um fabricante faz uma linha, o outro produz o corante e o terceiro o tecido;

isso, logo na concepção do carro é

vão tingir tudo e daqui dois anos você

que irá carregá-la. “A fantasia de

importante já propor soluções para

vai ter aquele produto à venda. Por

baiana, por exemplo, é geralmente

esses empecilhos, como dobras,

isso, não adianta inventar cor que

usada por idosas. Por isso, não

encaixes e mecanismos hidráulicos,

não vai ter. A produção industrial

pode ser pesada, ao mesmo tempo

para serem montados apenas na

vai orientar nessa escolha, mas as

que precisa ter um visual bonito.

concentração antes do desfile.

combinações são suas”, ressalta.

Rosa Magalhães chama a atenção

Já para Szaniecki, o carnaval ainda

para a escolha do material a ser

está em processo de organização. “A

utilizado, recomendando que a

Portela, por exemplo, é uma escola

escolha seja feita de acordo com

que faz 2500 roupas por desfile, aqui

a disponibilidade. “Não adianta

no barracão. Para isso, é preciso ter

enlouquecer. Você pode até

uma linha de produção semelhante

modificar um tecido, por exemplo,

à de uma escala industrial. Esse

Já os componentes das áreas coreografadas suportam pesos maiores e gostam do desafio, o que facilita criar algo mais elaborado”, conta Annik, lembrando que os destaques, por outro lado, arcam com os custos da própria fantasia. “O destaque é mais rico”, revela.

mas para grandes quantidades,

é um conceito que ainda está se

Sobre os carros alegóricos, Rodrigues

não compensa ficar tingindo”,

enraizando no Carnaval”, aponta o

lista uma série de itens que precisam

aconselha a carnavalesca, que já teve

carnavalesco.

Representante da Salgueiro, que cantou o enredo “Histórias sem fim”.

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Fotos: Mauro Samagaio

Comissão julgadora A avaliação do desfile das escolas de samba é feita por uma comissão de julgadores – cinco para cada um dos dez itens avaliados – bateria, sambaenredo, harmonia, evolução, enredo, conjunto, alegorias e adereços, fantasias, comissão de frente, Mestre-sala e Porta-bandeira. Para Helenise Guimarães, vice-diretora da Escola de Belas Artes da UFRJ e julgadora do quesito alegorias e adereços da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA), as escolas devem levar em consideração que o desfile “é um conjunto de elementos musicais, estéticos, técnicos, cenográficos e coreográficos, que devem formar um todo harmônico e compatível com o enredo proporcionando uma correta e objetiva leitura, tanto pelo samba quanto pelos elementos plásticos”, afirma. Guimarães aponta que o desfile como um todo é uma extensa obra de design. “Desde a concepção da ideia até a produção em série, estão presentes elementos compatíveis com a produção do espetáculo”. Para ela, as alegorias são o melhor exemplo dessa afirmação, pois são concebidas para atender determinado item do enredo e correspondem, com seus elementos plásticos, à ideia que deve representar. “A harmonia das formas e proporções, o equilíbrio, o peso, a composição visual e estrutura da alegoria devem ser pensados de forma que ela seja percebida de todos os ângulos e passe a http://www.flickr.com/photos/hebe

mensagem desejada, integrada ao conjunto do desfile”, avalia a julgadora, que define o espetáculo: “Carnaval é disciplina, amor e espírito de competição”. Ateliê da Escola de Samba Unidos da Tijuca, na Cidade do Samba.

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Foto: Pedro Kirilos/Riotur

Valorização da cultura? “O Carnaval é a vitrine brasileira para o mundo. O evento é transmitido para 200 países, o que o transforma em um grande veículo de comunicação cultural”. A definição da festa popular dada por Roberto Szanieck reflete, portanto, esse inegável enraizamento na formação cultural do país e na construção de sua imagem. “O Carnaval nos dá uma visibilidade que nenhum outro evento do mundo consegue. Olimpíadas e Copa do Mundo acontecem a

para preservar”, lamenta Delfim Rodrigues. “Dá pena. Quando o turista vem visitar o Rio de Janeiro fora da época do Carnaval, apontam a Marquês de Sapucaí como ponto turístico. Mas vai ver o quê? Nada! Nem mesmo na Cidade do Samba, local onde atualmente estão concentrados os barracões, você consegue ver o trabalho carnavalesco realizado durante o ano todo”,

cada quatro anos, mas esse espetáculo todo ano divulga

critica Annik Salmon, lembrando que o registro é feito

nossa forma de pensar, nosso ritmo, nossa miscigenação”,

apenas em fotos e vídeos. “Deveria ser preservado ao

orgulha-se o carnavalesco.

menos uma parcela do material porque é outro tipo

Apesar de todo o destaque recebido durante os três dias de Carnaval, grande parte do trabalho desenvolvido ao

de experiência ver a fantasia ao vivo, poder tocá-la. Do contrário, é todo um trabalho artístico que se perde”.

longo de um ano é perdida após a quarta-feira de cinzas.

No fim das contas, entre pesquisas de história da

“Temos dois meses para desmontar o que construímos

arte, técnicas diversificadas de criação e a montagem

para o Carnaval. Mesmo que parte do material seja doada

nos barracões, o Carnaval se faz assim: muito suor e

para as escolas dos grupos de acesso e sejam guardadas

criatividade de sobra. Um espetáculo de gigantes, de

algumas fantasias, com o tempo muito vai se perdendo,

minucioso design aplicado em toda parte, feito por quem

e nós não temos um lugar, seja um galpão ou um museu,

entende tanto da técnica, quanto da arte do samba.

A abcDesign faz um agradecimento especial a Samuel Abrantes pela contribuição e apoio no

Cinthia Pascueto Cinthia Pascueto é estudante de jornalismo, no último ano da Escola

desenvolvimento deste texto.

de Comunicação da UFRJ. Jornalista do Centro Latino-Americano de Física e colaboradora da revista on-line A Lagarta, sobre arte, moda e música. Já contribuiu para a revista Caros Amigos e para o site carioca Modices. Twitter: @cinthiapascueto.

Detalhe do desfile de 2010 da Escola Unidos de Padre Miguel, cujo enredo foi “Aço Universo Presente na Riqueza da Terra”.

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clix foto

BIENAL BRASILEIRA DE DESIGN

DESIGN DE

norte a sul por Mariana Di AddArio Guimarães

Todos os anos acontecem tantos eventos de design que nem sempre refletimos sobre como cada um contribui com o fortalecimento do setor. A Bienal Brasileira de Design, cuja terceira edição aconteceu este ano em Curitiba, tem uma missão muito especial. Aproximar o leigo, o consumidor, as crianças e os empresários das melhores soluções que o design vEm produzindo em todo o país. 23


A missão este ano parece ter sido plenamente cumprida.

Esse resultado, sem dúvida, foi fruto de um trabalho

Segundo a assessoria de imprensa, a Bienal em todas as

intenso, coordenado pelo Centro de Design Paraná

suas mostras (foram nove exposições oficiais, mais 20

(realização e coordenação), assim como de um apoio

ações paralelas) movimentou cerca 300 mil pessoas em 50

governamental e privado de peso. Neste ano, falamos do

dias de evento.

envolvimento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria

Um belo ponto alto foram as ações educativas, para as quais foram capacitados perto de 600 professores,

e Comércio Exterior, Ministério da Cultura, Movimento Brasil Competitivo, Programa Brasileiro de Design,

que replicaram o conteúdo em sala de aula. Cerca de

Federação das Indústrias do Paraná (FIEP) e patrocínios

60 escolas também visitaram a mostra principal e foram

da Fiat, Santander, Natura e Electrolux. O catálogo teve

devidamente orientadas pelos monitores do evento.

direito até a uma carta oficial em nome do presidente da

Quem teve a oportunidade de ver crianças de escolas

República, Luiz Inácio Lula da Silva. Ou seja, o design a

públicas se divertindo com os projetos sentiu que o

cada ano só ganha mais apoiadores, e para 2012, em Belo

trabalho realmente estava no caminho certo.

Horizonte, podemos esperar ainda muito mais.

Cadeira Escolar Eco, projeto de Bernadete Brandão que une bambu e madeiras certificadas (pinus e eucalipto).

Da dir. para a esq. Marilza de Siqueira, Adélia Borges (curadora), Claudia Ishikawa, Ana Brum, Letícia Castro Gaziri e Ana Helena Curti do Centro de Design Paraná.

DESAFIOS E SOLUÇÕES DA CURADORIA Como uma evolução natural do evento, a curadoria da Bienal, liderada pela jornalista Adélia Borges, propôs duas mudanças importantes este ano. A primeira foi abranger, além da mostra principal, ações e exposições paralelas em diversas partes da cidade. Lojas, escolas, faculdades e empresas realizaram suas próprias atividades complementando o evento. ETus é uma embalagem feita a partir da biomassa de palmeira tururi, altamente biodegradável. Resultado de uma iniciação científica da Universidade do Estado do Pará.

A segunda mudança foi aproveitar o momento e dar um tema à Bienal, que não poderia ser outro que “Design, Inovação e Sustentabilidade”. Embora sejam três assuntos bastante recorrentes hoje em dia, ainda é fácil cair num discurso vazio e mostrar projetos que são sustentáveis apenas na aparência. Para evitar isso, a curadoria da Bienal seguiu uma metodologia trabalhosa e exigente. Com a colaboração de Cyntia Malaguty e Fernando Mascaro,

Mesas Muira. Design de superfícies aplicado para aproveitar pedaços de pau-amerelo, jatobá, roxinho, ipê e marupá. A tecnologia de marchetaria desenvolvida pela UnB reduziu os custos de R$ 334,33 para R$ 11,00 o metro quadrado, e o tempo de produção em 120 vezes.

nove pesquisadores ficaram encarregados de aplicar um longo e complexo questionário com todos os potenciais participantes da mostra. Outro desafio, aponta a curadora geral, foi fazer jus ao adjetivo “brasileira”, cobrindo o design de regiões que, infelizmente, às vezes ficam de fora de mostras ditas nacionais. “Desvendar os véus das interpretações vazias de significado para, por trás delas, encontrar exemplos de design sustentável nas várias regiões do Brasil contemporâneo foi a tarefa que nos impusemos nesta exposição”, escreveu a jornalista.

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Para cumprir essa difícil tarefa, os

evidente crescimento. Fibras

pesquisadores cobriram todas as

de bananeira, junco, capim-

cinco regiões brasileiras, com um

dourado, laminado de borracha

resultado extremamente positivo: ao

e couro de peixe, para citar

todo se contabilizou 284 produtos de

apenas alguns, ganham forma

23 estados brasileiros. “O resultado,

tanto a partir do trabalho com

contudo, teria sido mais pobre, pois

comunidades de artesãos quanto

os pesquisadores atuaram como uma

pela criatividade de designers

interface entre a equipe curatorial e

como Oskar Metsavaht, da

os designers – em muitos casos, eles

Osklen e Oestudio.

é que descobriram o que pinçar do trabalho que teria mais a ver com a proposta da Bienal”.

“No campo de processos, a julgar pelas respostas aos nossos questionários, o tema em pauta

O questionário, dividido em três

é, sobretudo, a quantidade de

blocos de perguntas, tinha o objetivo

sobras resultantes da fabricação”,

de decupar o ciclo de vida do produto

apontou Adélia. Algumas empresas

– de sua concepção à disposição

já conseguiram implantar projetos

final – dividindo-se em três blocos

que resultam em “resíduo zero”,

de questões: materiais, processos e

em que apenas o lixo orgânico vai

atitudes. Quanto mais itens o produto

para os aterros, e há empresas que

atendesse, mais a chance de ser

têm conseguido executar a logística

escolhido para a Bienal.

reversa. Um dos exemplos é Taeq,

A rigidez do processo de escolha revelou que ainda há muitas dissonâncias e falta de entendimento sobre os aspectos que envolvem o design sustentável. “Muitos acharam

Luminária Cappello, dos designers Lui Lo Pumo, Tina Moura e Miriam Schiefferdecker (RS), feita em alumínio e palha de trigo, material abundante no sul do país.

Peça de joia da coleção “Gabinete de Curiosidades”, de Mary Figueiredo (MG), mais uma designer a dar valor a materiais antes considerados “inutilizáveis”.

marca do grupo Pão de Açúcar, que permite ao consumidor deixar a embalagem no mercado de forma que ela possa volta às gôndolas. Em processos, um critério ainda

o questionário complicado e houve mesmo quem desistisse de respondêlo. Entre os que se dispuseram, houve incompreensões sobre questões como ‘uso compartilhado’ ou ‘logística reversa’, por exemplo”, revela a curadora no texto do catálogo oficial.

Reciprátik, o reciclador de óleo projetado pela Bertussi Design, incentiva um comportamento diferente no consumidor.

Diante da extensa pesquisa, ficou claro que, no Brasil, a sustentabilidade está muito difundida no uso de materiais, seja no desenvolvimento de novos recursos, como na reutilização e reciclagem. Joias, móveis, materiais impressos, bolsas, tijolos, utensílios domésticos feitos a partir de reutilização de resíduos e com altíssimo valor agregado não faltaram na oferta brasileira. O aproveitamento plantas e animais típicos do Brasil para criação de novos materiais também está

Trivia é um triciclo híbrido, movido a força humana ou a motor elétrico. Foi um dos poucos projetos “conceituais” apresentados na mostra “Design, inovação e sustentabilidade”. Trabalho do escritório Mais Finito. Foto: Felipe Aranega.

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pouco valorizado é o custo energético de armazenamento e transporte. “O custo energético do transporte de uma matéria-prima até o local de produção pode detonar a ‘pontuação’ de um produto em sustentabilidade”, alerta a jornalista. Até mesmo simplificar o design de um produto em escala pode significar uma economia enorme, como no caso do Telefone Pleno, da Intelbras, cuja montagem por encaixe economizou 600 mil parafusos por mês para a empresa. Repensar processos, gasto de O ponto forte da Bienal foi aproximar todos os tipos de público dos conceitos e projetos de design. Nesta imagem, crianças de escolas públicas brincam em uma instalação da mostra “It’s a small world”, umas das exposições paralelas da Bienal 2010.

energia, rever e reutilizar materiais são as atitudes ainda mais comuns quando se projeta sustentavelmente, mas que tal repensar atitudes como critério de desenvolvimento de um produto? Alterar comportamentos e valores, hoje, é o tema que reúne mais atenção de acadêmicos, mas ainda é pouco trabalhado na prática. “Atitudes foi o bloco de perguntas com menos respostas, o que pode indicar que assuntos como o prolongamento de tempo de uso dos produtos, instituição de sistemas de uso compartilhado, utilização temporária dos produtos, indução de comportamentos ecológicos e incentivos a novos valores de vida ainda não estão na ordem do dia dos designers”. Entre os exemplos encontrados, está o reciclador de óleo de cozinha Reciprátik, projetado pela Bertussi Design. Com o utensílio, o consumidor transforma o óleo usado em sabão adicionando água e soda cáustica. Aqui vale a pena apontar que todos os produtos em exposição na mostra principal estão em produção regular e disponíveis no mercado. A exceção ficou para alguns trabalhos referentes à mobilidade, que dependem da divulgação gerada pelo evento para mobilizar as forças políticas e empresariais necessárias para sua implantação. O design gráfico também não foi deixado de lado, já que os impressos sobre papel, de acordo com as pesquisas da curadoria, representam mais da metade

Ao invés de imprimir, como de costume, o relatório anual da Oi em uma publicação luxuosa, a Tabaruba Design optou por disponibilizá-lo em um pen-drive. Foto: Ane Hinds.

do lixo mundial. Adélia Borges e equipe enfatizaram estratégias que tentam tornar a sociedade menos dependente do suporte gráfico.

Bufê desenhado por Heloísa Crocco (RS) com grafismos baseados no corte da catuaba.

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A linha Pindorama, do arquiteto Marcelo Rosembaum, fala de outro aspecto importante da sustentabilidade, que é a valorização da cultural local, do sentido de pertencimento. Essa linha de atoalhados populares é inspirada visualmente na cultura e flora brasileiras.

Linha Carga, dos cariocas Ricardo Saint-Clair, Paulo Ferreira e Rodrigo Westin, usa sobras de pinho de reflorestamento e de compensados. A inspiração foi a indústria das embalagens, que deu essa “cara” de caixas de contâiner aos produtos.

A Bicicleta Chico, desenvolvida pela Fibra Design (que já saiu aqui na edição n° 26), é feita em bambu aliado a fibras naturais (juta, malva, sisal, curauá) e sintéticas (polipropileno). O bambu é um material que vem ganhando cada vez mais destaque por ser extremamente flexível, resistente e pela sua plantação ser rápida e campeã de sequestro de carbono. Telefone pleno. Design da Paradesign que economizou 600 mil parafusos por mês usando um sistema de encaixe.

O ponto que definiu ou não a entrada de um projeto foi na verdade o conjunto de fatores que cada um apresentava. Todos tinham motivos para estar e ao mesmo não estar na mostra, revela Adélia Borges, “Mais do que examinar um projeto levando em conta os âmbitos materiais, os processos e atitudes, o que interessou é como eles se integram e se equilibram caso a caso”. A verdade é que não existe nenhum produto ou processo completamente ecológico e livre de impacto. Vidro, por exemplo, é 100% reciclável, mas o processo consome muita água e energia. Plástico, embora vindo de fontes não-renováveis, tem sua reciclagem facilitada. O uso de madeira, antes praticamente um crime, hoje é incentivado por causa do manejo sustentável. O propósito da Bienal Brasileira de Design não foi apresentar respostas prontas ou receitas definitivas para essa questão tão complexa, nem mesmo colocar o design como único salvador da pátria. A exposição trouxe, sim, exemplos inspiradores para todas as instâncias da sociedade, seja para o consumidor, para os empresários como para os próprios designers. “No seio de equipes

Bolsa em couro de peixe e couro de boi, da Osklen. Foto: Demian Jacob.

multidisciplinares, o designer pode ter uma participação ativa em apontar alternativas, encontrar soluções e propor respostas eficazes”, finaliza a curadora. Texto baseado no relatório contido no Catálogo Oficial da Bienal Brasileira de Design 2010 Curitiba

O site da Bienal Brasileira de Design 2010 disponibilizou entrevistas, fotos e um vídeo com uma visita guiada pela curadora Adélia Borges. Acesse: http://www.bienalbrasileiradedesign.com.br/bienal2010/ 27


FATOS GRAVADOS ERICSON STRAUB

O V I S R E SUBV No decorrer dos anos, o design gráfico se tornou uma ferramenta importante para transmitir mensagens críticas e ideais. Movimentos em Cuba e NA França, por exemplo, se valeram da habilidade de comunicar dos designers. Subverter, além de ajudar a consolidar novos valores, também é uma maneira de consolidar novas linguagens estéticas. A mensagem subversiva existe há

rumo da sociedade. Convulsões

grandes guerras deixaram as bases

muito tempo, mas nos 60, em especial

sociais e protestos estudantis, como

para o que viria na década de 60.

no ano de 68, surgiu o fermento que

a revolução de maio 68, em Paris,

determinados grupos de designers

deram um tom único e reforçaram o

precisavam para potencializar

discurso de liberdade e igualdade.

a mensagem urbana como um importante meio de persuasão com pensamento e vínculo ideológico.

Temas como pacifismo, ecologia, feminismo, igualdade racial, lutas contra a bomba atômica e liberdade

Neste contexto de comunicação

(principalmente em países do

“extra-oficial”, o design

bloco comunista) foram a tônica

“subversivo” teve um importante

Na Europa, América do Sul,

papel na comunicação das ideias e

Estados Unidos ou Ásia, o ano

no aglutinamento das pessoas. Os

de 68 é lembrado por diversos

cartazes voltados às propagandas

acontecimentos que mudaram o

políticas desenvolvidas nas duas

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da comunicação gráfica proposta pelos diversos grupos que pressionavam a sociedade. A comunicação gráfica como arma


de crítica ao poder estabelecido foi amplamente utilizada, sendo o contexto urbano fundamental nesta forma de comunicação, já que a rua era o mais importante dos espaços para ideias serem compartilhadas com o povo. A justiça devia ser feita nas ruas, porque desde a antiguidade se utilizavam os espaços urbanos para deixar mensagens. As ruas romanas, por exemplo, abrigavam desde mensagens políticas e críticas

“...desde a antiguidade se utilizavam os espaços urbanos para deixar mensagens. As ruas romanas, por exemplo, abrigavam desde mensagens políticas E críticas sociais atÉ mensagens que envolviam os relacionamentos amorosos...”

sociais a mensagens que envolviam os relacionamentos amorosos (a grande maioria com um caráter “picante” para os padrões da nossa

Apartheid. Cartaz contra o apartheid na África do Sul. Grapus,1986.

sociedade). Com o final da 2º guerra mundial e o início da guerra fria, o mundo estava polarizado entre direita e esquerda. A comunicação gráfica, que muitas vezes em seu discurso tinha um tom de protesto, na profundidade tinha um propósito ideológico político. Uma peculiaridade da comunicação ideológica dos anos 60 era o anonimato da maioria dos designers ligados a determinados movimentos sociais, o que acentuava mais ainda o caráter popular do discurso. Um exemplo foram os cartazes cubanos dos anos 60 que, acima de tudo, carregavam uma carga de simbolismo popular mesclado ao universo lúdico, dando às peças um caráter único que acabou por influenciar diversas revoluções sociais e grupos de esquerda, principalmente na América do Sul. É bem verdade que assim como em outros grandes movimentos de conflito social, a comunicação que antes representava o engajamento contra o sistema vigente, acabou se transformado no próprio sistema vigente e oficial. Em Cuba, os cartazes que de certa forma

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já tinham cumprido seu papel

O final dos anos 60 estava sendo

sociais. Afirmavam ainda que uma

persuasivo em prol da revolução

balançado por intensos protestos

boa imagem é aquela que transmite

agregaram o simples, mas

em todo o mundo. Apesar dos

uma mensagem com a máxima

importante, papel de representar a

seus diferentes interesses, o que

clareza e com a maior dimensão

vida de um país em transformação.

os unia era a busca por uma

subjetiva possível.

Os fatos históricos sempre carregam desdobramentos que culminam também em sementes criativas, a exemplo de Cuba, da Polônia e também da mencionada revolução estudantil de maio de 68. Esta última foi um dos principais eventos populares do século XX, porque representou o rompimento com o passado, que ainda guardava raízes da 2º guerra mundial.

maior liberdade e a necessidade de romper com o sistema vigente. A revolução de maio de 68 na França foi o símbolo de todos os gritos que ecoavam no mundo. O que começou apenas como poucos dias se transformou em um evento que aglutinou sindicatos, intelectuais e estudantes, levando para as ruas milhões de pessoas. Para manter os ânimos e continuar as pessoas diariamente, inúmeros eram criados pelo “Atelier

trabalhos. Pierre Bernard, Gerard Paris-Clavel e François Miehe já se Arts Décoratifs. Após o término da revolução e de uma eleição conduzida para acalmar os ímpetos dos revolucionários, eles resolveram criar o Grapus. Apesar do resultado das eleições,

que não havia

...os artistas gráficos utilização da tipografia

Populaire”,

e da composição

um espaço

convencional

onde artistas gráficos,

diminuía o potencial

pintores e

da mensagem

estudantes de arte produziam trabalhos carregados de mensagens

proposta, que se baseava em informar e entusiasmar as pessoas sobre as questões

persuasivas,

sociais.

porém Cartaz para Festival Juvenil. Grapus, 1977.

se destacaram na condução dos

defendiam que a

cartazes

O Grapus teve grande influência do trabalho gráfico polônes, em especial de Henryk Tomaszewski, com quem Pierre Bernard e Miehe haviam estudado nos anos 60.

“Atelier Populaire”, três artistas

conheciam da École Nationale des

um movimento estudantil, em

mobilizando

Apesar do caráter coletivo do

diferentes da linguagem da publicidade, que tinha como base a maximização dos benefícios dos produtos anunciados.

agradado os estudantes, o melhor era a possibilidade de poder continuar falando de política, cinema, teatro, poesia e cultura pelas paredes de Paris. A ideia era uma influência evidente dos anos que Bernard e Miehe haviam passado na Polônia estudando com um dos mestres do design de cartazes polonês, Henryk

Tomaszewski. Os anos na Polônia, bem como o tempo estudando no Institut de l’Environment, criado pelo então escritor e

No campo estético, os artistas

ministro André Malraux, deram

gráficos defendiam que a utilização

a noção e a autoconfiança que

da tipografia e da composição

eles precisavam para entender

convencional diminuía o potencial

melhor a importância desse tipo

da mensagem proposta, que se

de trabalho para a sociedade. Era

baseava em informar e entusiasmar

o que eles queriam realmente, dar

as pessoas sobre as questões

uma função ativista ao design, algo

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que não conseguiam trabalhando nas agências de propaganda convencionais de Paris. O Grapus desenvolveu principalmente trabalhos gráficos para o partido comunista e para diversos sindicatos. Porém, os comunistas achavam que o estilo do Grapus, que mesclava traços simples e infantis, grafismos e colagens, além do uso da caligrafia, não era direto. Realmente os anos de contato com o design polonês haviam ensinado muito sobre como trabalhar com imagens metafóricas e simbólicas. Nos anos 70, a esquerda assume o poder na França e a exemplo do que já havia acontecido em outros momentos históricos, agora, o “estilo subversivo” estava institucionalizado.

1. Conjunto de pôsteres psicodélicos inclusive o do “UFO Love Festval” feito por Michael English em 1967. A fotografia é de Patrick Ward para a “Observer Magazine” de d

Apesar do governo de esquerda, todo o sonho de mudança desenhado nos cartazes colados pelas ruas de Paris em 68 não havia se concretizado. Após 20 anos de Grapus, os sócios se separaram para dar continuidade a seus projetos próprios. O Grapus foi um dos mais

Foi a rua que também que

importantes exemplos do design

tornou conhecido Jean Michel

engajado e “subversivo”.

Basquiat, um dos grandes pintores

Também de caráter político, porém

contemporâneos. Basquiat sabia

diferente do Grapus, os cartazes

utilizar com sabedoria o teor das

do alemão Klaus Staeck junto

mensagens deixadas nos muros

com Gerhardt Steidl utilizavam a

e paredes de Nova York no início

linguagem da publicidade mesclada

da década de 80, de certa forma

com um tom irônico para criticar de forma sarcástica principalmente as instituições governamentais, inclusive se misturando às campanhas oficiais e mesmo eleitorais. As mensagens eram simples e utilizavam fotografias ou fotomontagens também de forma metafórica. Esse jogo de mensagens urbanas através de cartazes utilizando a provocação e ao mesmo tempo a ironia os tornaram conhecidos por toda a Europa.

Cartaz de protesto contra o fechamento de um Centro Cultural para jovens. Grapus, 1983.

legitimando o trabalho dos artistas urbanos. Isso apesar das críticas depois que seu trabalho migrou para as galerias, perdendo justamente sua essência principal, a discussão na rua. O trabalho dele, junto ao de outros artistas, como Keith Haring, se tornou porta-voz da geração para quem os muros não eram mais apenas os suportes para os cartazes, mas os próprios cartazes urbanos. No Brasil, o designer Pedro Inoue 31

Cartaz de Klaus Staeck de 1971 que ganhou repercussão em toda Alemanha. O título em forma de pergunta: “Você alugaria um quarto para esta senhora?”, questionava as pessoas sobre o conhecimento. A imagem era um desenho de Albrecht Dürer da própria mãe.


Cartaz de Pedro Inoue. Popcorn, 2007.

também utiliza os cartazes como meio de discutir temas como a sociedade de consumo, guerra, imperialismo norte-americano

que ele use essa habilidade para

“Faço uso da imagem para discutir a realidade

e valores culturais utilizando

à minha volta. O mundo

metáforas visuais, grafismos,

do qual faço parte não

elementos tipográficos e

expressar valores, ideias próprias e colocar em debate problemas que estejam prejudicando a sociedade. Como vimos aqui, no decorrer da história, e até hoje, em

é um comercial no

seus momentos de folga – e,

visualmente e, acima de tudo,

horário nobre. O mundo

porque não em seus trabalhos

pedem que o interlocutor reflita

do qual faço parte é um

fotografia. Seus trabalhos são ricos

sobre esses importantes assuntos. Ser subversivo acima de tudo é estar descontente. Assim como o Grapus,

mundo em crise. Uso das ferramentas que

Staeck/Steidl, Basquiat e Pedro Inoue,

tenho para discutir esse

muito outros profissionais não citados

mundo e meu papel como

neste artigo entenderam que o design também pode ter o importante papel de questionar, discutir e expressar,

profissional e cidadão. Pedro Inoue”

da sua forma, um entendimento ou

comissionados – artistas, ilustradores e designers extrapolaram as mensagens a partir da qualidade técnica com a qual eles são capazes de desenvolver uma informação. Não é preciso ser demagogo nem falso ideológico, mas se você acredita em algo, não custa nada tentar colocar no papel. Ou na parede, na internet, num livro, num cartaz...

mesmo um descontentamento com uma situação. Embora o designer tenha uma

ERICSON STRAUB

função envolvendo o mercado, visando agregar valor e dar a

Designer, mestre em Gestão do Design e do

possibilidade de mais rentabilidade

Produto | UFSC, pós-graduado em História da

às marcas, ele é um profissional que

Arte, professor do curso de graduação e pós-

por essência sabe comunicar, seja

em design da FAE. Autor de livros em design

graduação em design da PUCPR e de graduação como abc do Rendering e Tide Hellmeister,

qual for a mensagem. Nada impede

Inquieta colagem.

–aliás, é até muito interessante – 32


Design & CULTURA ChICO HOMEM DE MELO

sistematite Há um perigo rondando o mundo do design: a obsessão pela obediência irrestrita aos sistemas gráficos. A doença tem nome: sistematite. Se quiser saber se você já foi contaminado, leia o texto e faça o teste.

33


Na história do design do século 20, a noção de sistema veio embutida no pacote modernista. A partir dos anos 1960, a difusão planetária dos sistemas de identidade visual ajudou a consolidar a ideia de que projeto sério é projeto sistêmico. De lá para cá, a noção de sistema criou raízes profundas na cultura do design. O sistema tem vários aspectos positivos. Ele estabelece a gramática que dá coesão ao discurso gráfico, facilitando a própria recepção da informação. O sistema garante a unidade de linguagem em meio à diversidade de contextos, e até mesmo de emissores. Num projeto extenso, que precisará ser implantado por vários designers trabalhando simultaneamente, a existência de um sistema gráfico préestabelecido ajuda a evitar eventuais desvios oriundos de

“O sistema garante a unidade de linguagem em meio à diversidade de contextos, e até mesmo de emissores..”

INVERSÃO DE PRIORIDADES Na prática, porém, o feitiço virou contra o feiticeiro: aquilo que deveria ser um meio acabou se tornando um fim. Ironicamente, a racionalização que estava por trás da ideia de sistema tornou-se muitas vezes seu avesso. Sistemas gráficos supostamente existem como um meio para otimizar a comunicação. No entanto, com o passar dos anos, obedecer ao sistema tornou-se mais importante do que dar uma boa resposta

dicções pessoais.

ao problema de comunicação

Na verdade, sistemas sempre

colocado. Em outras palavras:

existiram no campo do design

ocorreu uma completa inversão

editorial. Quase que por definição,

de prioridades. Infelizmente, esse

jornais, revistas e livros estão

fenômeno é frequente também em

baseados em uma identidade

outros campos de conhecimento,

gráfica composta por elementos e

nos quais a obediência aos

diagramas que se repetem. Projetar

procedimentos metodológicos

uma publicação é projetar um

se torna mais importante do que

conjunto coerente de padrões capaz

alcançar os objetivos pretendidos por

de responder às diversas situações

aquela metodologia.

previstas. Voltemos ao caso de

É importante reconhecer que a

vários profissionais trabalhando simultaneamente no projeto de, por

organização racional da noção

exemplo, uma extensa coleção de

de sistema foi de fato um avanço

livros didáticos; existir um sistema

conceitual, uma conquista intelectual

gráfico a ser seguido é fundamental

do design modernista. Mas junto com

para que a coleção mantenha a

esse reconhecimento deve vir também

mesma feição ao longo de todos os

a consciência dos excessos — e o sinal de atenção deve permanecer ligado para

volumes.

tentar evitá-los. 34


TESTE AQUI A SUA SAÚDE PROFISSIONAL Mas como descobrir se você sofre de sistematite? É fácil: basta responder aos três testes abaixo para obter um diagnóstico seguro. Após analisar o material, você chega a duas alternativas de projeto.

TESTE 1 O cliente solicita a você o projeto gráfico de uma publicação. Trata-se de um catálogo que deverá descrever um acervo de cinquenta peças de mobiliário. Cada peça corresponde um conjunto de informações, composto por textos e imagens.

Alternativa 1: Um padrão gráfico sedutor, que dá uma excelente resposta para 48 peças, mas que não pode ser mantido nas duas restantes, porque os textos e as imagens delas são muito diferentes das demais; no caso dessas duas peças, o padrão precisa ser modificado. Alternativa 2: Um padrão monótono, que não convida à leitura, mas que pode ser mantido idêntico na descrição de todas as cinquenta peças.

Após analisar a situação,

TESTE 2

você chega a duas alternativas de projeto.

O cliente solicita a você um projeto de sinalização. Trata-se de um edifício da prefeitura que atende a um público numeroso e diversificado. O edifício tem dez salas que precisam ser identificadas para orientação dos usuários, e um espaço pré-definido para colocar os sinais de identificação de cada uma delas. Dessas dez salas, nove têm um nome curto, e uma tem um nome comprido.

TESTE 3

Alternativa 1: Nas nove salas de nome curto, os textos dos sinais têm letras grandes, que permitem uma excelente leitura à distância; e na sala de nome comprido, o tamanho das letras é reduzido; em virtude disso, esse sinal fica diferente dos demais. Alternativa 2: Os dez sinais têm textos compostos em letras pequenas; a leitura fica prejudicada, mas em compensação todas as letras ficam iguaizinhas.

Após analisar os dados, você chega a duas alternativas de projeto.

O cliente solicita a você o projeto do material promocional de um evento. Trata-se de uma apresentação de música erudita, e as peças gráficas a serem produzidas são um cartão postal, um painel para colocar na entrada da sala de concerto e um folheto a ser distribuído aos espectadores. As três peças serão impressas em cores. Há ainda uma quarta peça: o cartão de estacionamento dado pelo manobrista, que precisará ser devolvido na saída, e que será pequenininho e impresso em preto & branco.

Alternativa 1: Uma imagem bonita, estimulante, que adéqua -se muito bem ao postal, ao painel e ao folheto; no entanto, ela não se adapta bem ao cartão de estacionamento, em virtude do formato pequeno e da impressão em preto & branco; nesse caso, só dá para escrever o nome do espetáculo e nada mais. Alternativa 2: Uma imagem em preto & branco, meio triste, é verdade, mas que suporta bem a redução para o formato do cartão de estacionamento, permitindo que as quatro peças gráficas fiquem exatamente com a mesma cara.

O DIAGNÓSTICO

Se você escolheu as alternativas 1, fique tranquilo, você goza de boa saúde profissional. No entanto, se você escolheu as alternativas 2, preste atenção: a sistematite está rondando você. Brincadeiras à parte, acredite, escolhas como as alternativas 2 são muito mais frequentes

CHico homem de melo

do que poderíamos supor. Um exemplo pinçado da vida real: na rodoviária de São Paulo, durante pelo menos dez anos, todas as placas direcionais localizadas na entrada do terminal

Designer, professor da Faculdade de Arquitetura

eram rigorosamente iguais; o sinal que indicava “Plataformas de embarque 1 a 40” tinha

e Urbanismo da USP e diretor da Homem de

exatamente as mesmas dimensões e o mesmo tamanho de letra do sinal que indicava

Melo & Troia Design, um escritório com atuação voltada à educação e à cultura. Também é autor

“Barbearia”. “Sistema é sistema, meu caro”, provavelmente afirmariam orgulhosos os

de livros, entre eles “Os Desafios do Designer”de

profissionais responsáveis pelo terminal de ônibus de uma das cidades mais populosas do

2003 e “Signofobia”de 2006.

planeta. A sistematite é de fato um mal a ser combatido. 35


Design & Sustentabilidade Christian Ullmann

Designer 3.0 Estamos capacitados para atender Às demandas da sociedade atual?

Em seu mais recente livro, o guru do marketing, Philip Kotler, falOU da adaptação desta atividade diante das mudanças do mercado, que ele chamou de marketing 3.0: “uma atividade, o conjunto de instituições e os processos para criar, comunicar, oferecer e trocar ofertas que tenham valor para os consumidores, clientes, parceiros e para a sociedade como um todo”.

O design, como já sabemos, é uma das principais

capacidade de produção e desperdício.

ferramentas para gerar esse significado e valor. Contudo, ainda é difícil medir o verdadeiro custo desse investimento 3.0. Não estamos falando apenas dos custos econômicos, mas também do custo social e ambiental do modelo de desenvolvimento de produtos dentro do contexto do

Neste contexto, o designer pode atuar repensando várias instâncias do desenvolvimento de produtos. Mas para isso é preciso também repensar as áreas e critérios de atuação do profissional.

DESIGN NA SOCIEDADE ATUAL

mercado contemporâneo: dinâmico, ambicioso, com escassez de recursos, instabilidade econômica, modificação dos valores sociais, legislações ambientais, responsabilidade social empresarial e consumidores mais exigentes.

Muitas instituições estão trabalhando para atualizar e disseminar esse “novo” conceito de design. Um que acredito ser bastante positivo é a definição da INDEX, que

O século XXI exige novos modelos de produção, negócios,

diz que “o design do século XXI tem que ser entendido

sistemas financeiros, convivência entre classes sociais,

como conhecimento e como vanguarda do pensamento

educação, entre outros aspectos que devem estar incluídos

para desenvolver o potencial humano, para melhorar a

no design 3.0. Especialmente quando pensamos que o

vida com o objetivo de colaborar para resolver os desafios

modelo no qual desenvolvemos produtos ainda é muito

que enfrenta a humanidade. Design como ferramenta

similar ao que surgiu na época da revolução industrial. Sem

para compreender, de forma exaustiva, as necessidades

dúvida, ele foi otimizado, mas não adaptou sua capacidade

e desejos do usuário para criar soluções para contextos

de produção para um crescimento de população de mais

determinados”.

de quatro bilhões de pessoas desde os anos 1900. Por isso, hoje, estamos sofrendo com problemas de recursos naturais, 36

De forma similar, mas bem mais completa, o International Council of Societies of Industrial Design (ICDID) define:


Missão: design como uma atividade

Diante dessas definições, podemos afirmar

O designer por formação desenvolve

criativa cuja finalidade é estabelecer as

que os desafios dos designers passam

a habilidade de entender o usuário,

qualidades multifacetadas de objetos,

por uma complexidade bem maior que o

visualizando e dando forma a conceitos.

processos, serviços e seus sistemas,

ensinado na faculdade ou mesmo ao que

Contudo, se tradicionalmente as

compreendendo todo seu ciclo de vida.

ainda é enfrentado no mercado, mas a

preocupações eram voltados a

Portanto, design é o fator central da

adaptação será necessária se desejamos

“materiais, processos, tecnologia e

humanização inovadora de tecnologias

ter um consumo mais sustentável em uma

produção”, no século XXI, exige-se que

e o fator crucial para o intercâmbio

sociedade mais justa.

o profissional amplie essas preocupações

Além de atender às demandas e desejos

Tarefas: identificar e avaliar relações

da sociedade, o criativo deve englobar

estruturais, organizacionais, funcionais,

no desenvolvimento de produtos o

expressivas e econômicas, visando:

impacto – ou seja, os efeitos positivos

- ampliar a sustentabilidade global e a proteção ambiental (ética global); - oferecer benefícios e liberdade para a comunidade humana como um todo, usuários finais individuais e coletivos, protagonistas da indústria e comércio (ética social); - apoiar a diversidade cultural, apesar da globalização do mundo (ética cultural); - dar aos produtos, serviços e sistemas,

ou negativos do produto, como ele pode melhorar a vida das pessoas na sua produção, distribuição, a sua relevância para a sociedade, sua sustentabilidade econômica, e ambiental do projeto –, bem como o contexto – considerar o cenário

“industrial” associado ao design deve

sistemas, serviços e até design de negócios, portanto, esse profissional já começa a se envolver cada vez mais com a gestão, estratégia e política da empresa.

muito mais abrangentes, como aponta

utilizado.

Marili Brandão. “Para atuar dessa maneira,

Essa perspectiva amplificadora e interativa

meio de processos seriados. O adjetivo

inclusive, já se fala de design de processos,

sociedade na qual ele é destinado a ser

própria complexidade.

não apenas quando produzidos por

outras áreas e proatividade. Atualmente,

do designer deve passar por disciplinas

determina uma nova equação de design.

introduzidos pela industrialização –

compartilhamento de conhecimento com

Para suprir essas demandas, a formação

e sejam coerentes com (estética) sua

de ferramentas, organizações e lógica

objetivos a longo prazo, adaptabilidade,

se encaixa na cultura, geografia, ética e

Envolver-se em todos esses aspectos

serviços e sistemas concebidos a partir

de produtos, como visão multidisciplinar,

para o qual o produto é projetado, como

formas que expressem (semiologia)

O design diz respeito a produtos,

e responsabilidades no desenvolvimento

nos transforma em verdadeiros intérpretes da realidade, em que podemos assumir uma atitude proativa envolvendo a maior quantidade possível de atores e fatores envolvidos no desenvolvimento de produtos. “Para que haja uma transição para a sustentabilidade são

o aluno de design deve receber no seu curso informações sobre temas que vão além das tradicionais fronteiras do design como: filosofia, história, geografia, políticas públicas e meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de um pensamento crítico de maneira a reconfigurar as noções de design de produto e dar novos significados para a cultura material contemporânea”.

necessárias mudanças tecnológicas,

Se falamos que o marketing 3.0 visa

sociais e culturais. O designer, dentro de

continuar acelerando as vendas e

suas limitações, poderia contribuir para

ampliando o mercado, o design 3.0, aliado

a elaboração de alternativas ao modelo

a demais áreas do conhecimento humano,

atual de desenvolvimento, pois a oferta de

pode pensar de uma forma ampla sobre

Assim, o design é uma atividade

alternativas é que vai possibilitar a transição

como encontrar as respostas pertinentes

que envolve um amplo espectro de

para sustentabilidade”, opina a designer

e adequadas aos problemas complexos e

profissões nas quais produtos, serviços,

Marili Brandão.

desafios atuais.

relacionar-se ao termo indústria, ou no seu sentido de setor produtivo, ou em seu sentido mais antigo de “atividade engenhosa, habilidosa”.

gráfica, interiores e arquitetura, todos participam. Juntas, essas atividades deveriam ampliar ainda mais – de

CHRISTIAN ULLMANN

forma integrada com outras profissões

Especialista em design sustentável. Formado em desenho industrial pela

relacionadas – o valor da vida.

Faculdade de Arquitetura, Design e Urbanismo de Buenos Aires. Reside no Brasil desde 1996. Recebeu prêmios na Itália, Brasil e Argentina com móveis

Dessa forma o termo designer se refere a um indivíduo que pratica uma profissão intelectual e não simplesmente oferece um negócio ou

residenciais, de escritório e objetos. Professor do IED-SP, pesquisador do Núcleo de Design & Sustentabilidade da UFPR. Colunista da Revista abcDesign, Rede Latinoamericana de Design e do Portal Design Brasil. Desde 2001 é sócio diretor do escritório iT Projetos atuando como consultor especializado em desenvolvimento de produtos com responsabilidade sócio-ambiental.

presta um serviço para as empresas*. 37

* site www.adp.org.br - tradução: Cyntia Malaguti, graduada em Design pela Escola Superior de Desenho Industrial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – ESDI/UERJ e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo.

econômico e cultural.


| foroalfa.org

POR álvaro magaÑA TABLIO

Coisas do design e dos designers que

me incomodam Às vezes é bom fazer um exercício de descarrego sincero que nos permita criticar com precisão as definições fundamentais das nossas trincheiras cotidianas.

38


O que é insuportável no design para mim? Em primeiro lugar, uma dimensão

dizer que o êxito profissional e a

ou nos gênios do rendering,

crítica deste ofício é a distância

carreira acadêmica são condições

acomodados em suas restrições,

entre os debates referentes à

excludentes no mundo do design?

condicionantes e requerimentos

educação, discussão e prática

A pergunta é válida porque o

mecânicos, como nos artistas

do design. Essas discussões me

design se manifesta precisamente

“criativos” sem regras, estilistas

parecem ser insustentáveis,

por meio de obras de design, ou

e decoradores sem pressupostos

excludentes e desnecessariamente

seja, o design existe através do

válidos nem sentido da realidade de

retóricas ou articificais, de forma

projeto implementado, produzido

seus clientes. Me desagradam todos

que não conduzem a nenhuma

e vivenciado pelas pessoas, não em

aqueles que pensam que os clientes

ação ou reflexão de peso, o que,

sua formulação ideal, processo e

ou os consumidores são uns idiotas e

ao meu ver, é bastante grave,

muito menos em suas intenções e

não sabem nada de design.

considerando que se trata da fonte

experimentações.

de conversas-chave desta disciplina. Prova dessa leviandade conceitual é que a pergunta “qual é o melhor modelo educativo para a formação profissional dos designers” em nossa cultura latino-americana continua sem resposta desde os dias da Bauhaus (e que nos perdoe Ulm e todos os seus seguidores).

Em suma, me incomoda nossa

Em terceiro, e a meu ver

incapacidade de interpretar a

particularmente insuportável, é a

informação divergente e a crítica

expressão “o papel do designer”,

com um espírito construtivo.

essa eterna pergunta sem resposta sobre nossa missão como profissionais, e se acaso somos um ofício, uma técnica, ou se somos uma ciência ou poesia. A frase, para mim, tem sabor de batologia¹,

“a meu ver particularmente insuportável, é a expressão “o papel do designer”, essa eterna pergunta sem resposta sobre nossa missão como profissionais”

Além disso, grande parte da

de um lugar comum, quase sem

aplicação e objetivo que o mercado

conteúdo, simplesmente outro flatus

dá ao design é como instrumento

vocis²... Mas quem nunca tentou

modelador ou funcional das

inocentemente responder a isso sem

necessidades comerciais e industriais,

nenhum sucesso aparente?

enquanto que a visão profissional-

Sinto, ao me aproximar dos designers

acadêmica, que pretende ser

e do design, que voltamos atrás em

humanista ou vagamente científica,

caminhos já trilhados, repetindo

padece de dissonâncias profundas

ad nauseam³ e indo atrás de uma

em sua expressão material

validação cujo mérito nos escapa

concreta. Nada mais artificial que a

e cujo fim não somos capazes de

descrição “racional” e desajeitada

reconhecer. Nos sentimos (“até tu,

de um designer para justificar tal

meu filho!”) tantas vezes artistas

aplicação, produto, marca, etc., ou

sem mecenas e possuidores de

as intermináveis discussões e análises

uma visão tão única, infalível e

semiótica-socióloga-antropológica-

inexpugnável, que perdemos toda a

Me incomodam os egos

pseudo marketeiras que surgem sobre

perspectiva e toda nossa capacidade

transbordados, o academicismo

o uso caprichoso de uma uma cor,

de escutar e de nos vermos fora dos

extemporâneo, as teorias sem

tipografia, material, estilo ou slogan.

nossos “balneários profissionais” (a

expressão tangível, os doutorados

publicidade, a academia, o design de

e os mestrados sob serifa ou sobre

marcas, de móveis, etc.).

gesso morto, assim como também

Em segundo lugar, existem designers bem-sucedidos que muitas vezes carecem de uma formação teórica

Ao mesmo tempo, me incomoda

ou metodológica significativa ou

cada vez mais a resistência

sistemática e vice-versa. Muitos

profissional a todo modelo de

designers com um discurso de

comoditização ou estandartização

reflexão teórica e metodológica

do conhecimento dos processos.

não são bem-sucedidos. E isso é um

Resistência que se manifesta tanto

paradoxo estimulante. Poderíamos

nos pequenos artistas de Illustrator 39

o cultivo acrítico do “esoterismo”, da “magia”, da dimensão “lúdica”, “poética” e “semiótica” das coisas como sendo as únicas respostas “adequadas” ante a rude e prosaica realidade da maioria dos nossos clientes.


No entanto... Embora meu objetivo não seja dar

que definiu o design como um

Um design indeterminado e

um final feliz para esse desabafo

ofício “heterônimo4”. Em ambas

heterônimo é, finalmente, um

(muito pessoal e demasiadamente

as expressões, creio que está a

design aberto à discussão, não

visceral), creio que é necessário –

semente de um entendimento

excludente, um design hospitaleiro

metodologicamente falando – deixar

holístico e sistêmico do design que pode nos levar a discussões menos

com dúvidas e questionamentos.

aberto um espaço para a discussão destes tópicos.

arbitrárias, menos autorreferentes e a cultivar uma dose maior de

Além disso, a capacidade de reconhecer a própria ignorância exige desenvolver a habilidade de

Gosto de duas expressões

curiosidade e aceitação do outro

aplicadas ao design. Uma usada

(esse outro sendo todas as pessoas,

pelo professor Miquel Mallol,

profissões, ofícios, conhecimentos e

integrados e a perder a característica

que falava do design como uma

perspectivas existentes que tenham

de endogamia acadêmico-

“atividade indeterminada”, e outra

algo a dizer sobre a nossa prática e

profissional em que costumamos

usada por Norberto Chaves na

crenças, por mais desagradável que

perder designers na nossa briga por

Conferência FOROALFA 2009,

possa ser escutá-los).

ganharmos espaço no mundo.

manter diálogos transdisciplinares,

Os designers realmente São um saco? Há uns três anos, Bruce Nussbaum afirmou através da

Me pergunto se, com nossa modesta cultura de design

revista Business Week que nós, designers, éramos os

na América Latina, teríamos recursos suficientes e massa

principais inimigos do design. Em seu artigo, lançou

crítica necessária para calar hoje ataques como os que

dardos venenosos contra a profissão. Esses dardos foram

Nassbaum fez em 2007.

rapidamente respondidos por vários representantes da

Minha esperança é que esse grande e petulante

comunidade do design, aludindo a uma quantidade

respondente tenha realmente respostas sólidas (que

considerável de pequenos ou secretos empreendimentos

desconheço) e suficientemente documentadas, cujo

que estavam ajudando a melhorar as condições de vida

relato tenha expressão acadêmica, política e educativa.

de muitas pessoas ou que de forma simples estavam

Que seja um projeto, uma estratégia, ou vários projetos

se encarregando de temas importantes, como o

e estratégias, que sinalize de verdade, não qual é “o

aproveitamento das energias renováveis, a reutilização de

papel do design na sociedade” e, sim, qual será nossa

recursos, a educação, etc.

contribuição efetiva para o mundo do futuro.

Publicado originalmente em 20/09/2010 no site ForoAlfa.org, que tem como editores Luciano Cassisi e Raúl Belluccia.

ÁLVARO MAGAÑA TABLIO

Glossário

Planejador de marca e encarregado da planificação estratégica e de

¹ Repetição enfadonha e desnecessária dos mesmos pensamentos pelas mesmas palavras.

branding da Procorp S.A. Designer gráfico formado pela Universidad Tecnológica Metropolitana (UTEM), Santiago de Chile, com diploma de estudos avançados pela Universidad de Barcelona. Deu aula em diversas

² Do latim, palavra vazia, o sopro da voz.

instituições de ensino em Santiago, foi membro da Comisión Proyectos

³Do latim, falácia, argumento repetitivo.

de Título da Escuela de Diseño Pontificia Universidad Católica de Chile e membro do comitê científico do Congreso Sigradi nos últimos quatro

Heterônimo: adjetivo. 1 Designativo da formação do gênero por meio de palavra diferente. 2 Qualificativo dos termos diferentes que exprimem a mesma coisa. 4

anos e membro do Foro de Escuelas Latinoamericanas de Diseño. Vem publicando artigos em revistas e sites latino-americanas, bem como mantém o blog www.teorias-dcv.blogspot.com sobre teoria e cultura do design.

40


Design & Business

Os números comprovam. Os países ditos emergentes, em especial Brasil, Índia e China, logo ultrapassarão alguns velhos concorrentes, avançando sua colocação no mercado internacional. Neste contexto, os designers destes países se veem diante de grandes desafios, mas também de oportunidades. E alguns importantes critérios serão essenciais para que eles – nações e profissionais – sejam bem-sucedidos.

Design

emergente POR Ellen Kiss

Os países emergentes, que até

maior da história. Sua participação

renda per capita a grande razão

pouco tempo, possuíam economias

no PIB mundial, em paridade de

para a sua ascensão econômica.

baseadas apenas no fornecimento

poder de compra, aumentou de

Com centenas de milhões de

de matérias-primas ou de mão de

36% em 1980 para 45% em 2008,

pessoas sendo integradas à classe

obra barata, hoje se apresentam

devendo atingir 51% em 2014. Em

média, esses países representaram a

como os principais competidores das

2010, a China tornou-se a segunda

metade do crescimento do consumo

economias desenvolvidas quando o

maior economia global. Índia,

mundial em 2010.

assunto é inovação.

Rússia e Brasil figuram entre as 10

O termo BRICs foi criado em 2003

maiores. O número de companhias

pelo banco de investimentos

brasileiras, chinesas, indianas e russas

Goldman Sachs, referindo-se às

na lista das 500 maiores do jornal

iniciais de Brasil, Rússia, Índia e

inglês “Financial Times” passou de

China, considerados na época os

15 para 62 empresas entre 2006

países com maior potencial de

e 2008. Em 2020, prevê-se que a

crescimento. Ao longo dos últimos

China passará os EUA e se tornará a

anos, economistas vêm sugerindo

maior economia global; que o Brasil

adaptações, falando em BRICS

terá superado o Reino Unido e a

(inserindo a África do Sul), em BIICs

França, tornando-se a sétima maior

(inserindo a Indonésia e excluindo a

economia e um número maior de

Rússia) ou Bricoland. Mas os países

países emergentes estará entre as 10

do acrônimo original permanecem

maiores economias.

como economias que são peçaschave no contexto mundial. O crescimento desses países é o

Desde 2007, os consumidores dos mercados emergentes vêm gastando mais que os americanos. Em 2009, sua participação no consumo global aumentou para 34%, ante os 27% dos EUA. Somente no Brasil, as projeções mostram que até 2014 a classe ABC poderá incorporar até 36 milhões de pessoas, mais da metade da população da França. Adicionando a isso as 32 milhões de pessoas incorporadas antes da crise, temos uma inclusão superior do que a quantidade de moradores de

A população desses países é maior

toda a França. Em consequência, o

e também cresce em ritmo mais

consumo interno vem substituindo as

elevado, mas é o incremento da

exportações como motor

41


do crescimento econômico dos países emergentes, forçando as empresas a também repensarem o foco dos seus negócios. Diante disso, é inevitável perguntar: como o design vai satisfazer as demandas desses novos consumidores? E qual é exatamente o papel do design no desenvolvimento econômico, cultural, social e ambiental desses países?

proibidas de mostrar o corpo durante os exercícios físicos. São todos exemplos muito positivos, porém, o potencial desse mercado demanda um conhecimento ainda mais aprofundado do contexto de cada país a fim de se conceber soluções coerentes e efetivas. Cada nação apresenta características peculiares envolvendo cultura e necessidades (como escala e distribuição) que poderão

Para atender a essas novas demandas, as empresas

dar vazão a modelos completamente novos para uma

multinacionais, num primeiro momento, passaram a

sociedade diferente.

adaptar vários produtos “globais” às realidades “locais”. São exemplos como a Adidas, que antes dos jogos olímpicos de Pequim, criou uma loja com produtos adaptados ao biotipo asiático. A Procter & Gamble, por sua vez, após descobrir que os consumidores chineses usam folhas de chá para prevenir o mau hálito, lançou o creme dental Crest com extratos de chá. Na Índia, a Mercedes Benz instalou controles independentes de ar condicionado para os bancos traseiros, já que a maioria

Além disso, assim como vem aumentando a demanda de consumo, vem aumentando também a demanda por serviços de design. Com a inclusão desse conceito em muito mais do que apenas no desenvolvimento do produto e seu gráfico, abarcando branding, estratégia, identidade, gestão, arquitetura, serviços e interface, essa mudança representa um enorme desafio, mas com perspectivas de crescimento.

dos seus consumidores contrata motoristas. Entendendo

Neste sentido, o mundo inteiro vai ficar atento aos

sensivelmente a cultura local, a Nike criou uniformes

critérios e características que vêm moldando as

esportivos específicos para atletas muçulmanas indianas,

economias emergentes.

RIQUEZA CULTURAL E CRIATIVIDADE Nos BRICs, é comum que os movimentos artísticos, frutos da riqueza cultural influenciem o design. As cédulas de dinheiro na Índia, por exemplo, informam o seu valor em 15 diferentes idiomas, todos oficiais no país. A criatividade

NECESSIDADE DE ESCALA X DISTRIBUIÇÃO

também é uma característica inerente. Em função da falta de recursos, veem-

As dificuldades enfrentadas na

se obrigadas a encontrar seus próprios métodos de resolução de problemas.

cadeia de distribuição desses países

Soluções no estilo do uso folha de bananeira como prato descartável na Índia

influenciam o design de produtos

são comuns também no Brasil como na China.

e serviços, e muitas vezes de forma eficiente. A Dabbawala, cadeia que entrega 200.000 refeições por dia em Mumbai, na Índia, foi reconhecida em 2002 como a rede de distribuição mais confiável do mundo pela Forbes Magazine. E não se trata de uma rede que utiliza computadores ou veículos modernos. São pessoas analfabetas conduzindo bicicletas em meio a um trânsito caótico.


DIVERSIDADE SOCIAL A diferença social também é um problema comum aos países do BRICs e vem influenciado o desenvolvimento de produtos. Considerando isso, as marcas adaptam produtos olhando as necessidades de classes mais baixas

Considerando essa tendência, a

particulares de cada país, surge

inovação surgida nos BRICs pode

também a necessidade de se

deixar de partir da adaptação ou

expressar estética e culturalmente

modificação de plataformas criadas

para os demais países. Marcas como a

nos países desenvolvidos visando

Natura, no Brasil, apostam em vender

atender às demandas imediatas dos

a brasilidade, por exemplo. É talvez

consumidores emergentes. Novas

uma forma de sair do lugar comum

referências de comportamento

e do massificado, contanto que se

poderão se fortalecer.

diminuam os aspectos caricaturais desses países. Porque não?

ou com crenças e culturas diferentes.

Por isso, neste exato momento, os

A Unilever, por exemplo, adaptou a

BRICs se deparam com desafios

Essas são todas mudanças que

fórmula tradicional do sabão em pó

cujas soluções vão depender de

estão apenas começando, e não há

Omo para criar o Omo Tanquinho,

um repensar o que já existe, já que

dúvidas que design será um grande

voltado aos consumidores que não

muitas delas não se aplicam de forma

aliado na construção deste futuro.

possuem máquina de lavar. E são várias

satisfatória às suas necessidades.

Cabe a vocês, profissionais, refletirem

as diferenças que devem ser levadas

Basta pensar que o automóvel

sobre como é possível contribuir com

em conta: renda, crenças, hábitos,

como meio de transporte individual,

esse “redesign” do mundo.

escolaridades, estilo de vida, etc.

embora tenha funcionado nos EUA, dificilmente é bem-sucedido em

REDESIGN

países com mais de um bilhão de

Este novo paradigma de gestão

habitantes como a China e a Índia.

que começa a tomar forma tem

Outro ponto a se considerar é o

grandes implicações para o equilíbrio

impacto provocado pelo próprio

de poder global. A energia criativa

crescimento econômico dos países

do mundo está se deslocando

emergentes em setores tão diversos

do mundo desenvolvido para o

como energia, meio-ambiente,

emergente, uma vez que é nestes

alimentos, materiais, produção

países que as empresas vêm

artística e gastos militares. São

encontrando mais oportunidades

sociedades bastante diferentes da

para crescer. Evidentemente, os

forma como as conhecemos hoje

profissionais locais são os mais

que devem surgir, algo a qual o

indicados para entender e traduzir as

mundo desenvolvido também terá

necessidades de seus compatriotas e

que se adaptar.

essa é uma responsabilidade que só irá crescer.

Se as soluções de consumo devem passar a considerar as características

Ellen Kiss Liderou o comitê de estudo formado pela Abedesign e pelo PBD sobre o tema “Design nos BRICs”. Os resultados foram apresentados em palestras no Festival de Cannes em 2010 e no Fórum de Gestão HSM 2010. Kiss é professora e coordenadora acadêmica da pós-graduação em design estratégico na ESPM além de docente convidada em outras instituições de ensino. Consultora e palestrante em temas que permeiam design e inovação, possui mais de 15 anos de atuação profissional com experiência internacional. Colabora com publicações e é membro da diretoria da Abedesign.

43


DESIGN SEM FRONTEIRAS

A designer carioca Renata Graw, um mês depois de graduar-se em Desenho Industrial pela PUC - Rio, começou a trabalhar no respeitadíssimo escritório Ana Couto Design. Depois dessa grande escola, como ela mesma definiu a experiência, resolveu aventurar-se em Chicago, nos eua. Lá montou o escritório Plural, com o qual conseguiu reconhecimento de algumas das mais importantes instituições do design gráfico do mundo, entre elas A Art Director Club, Communication ARTS, Print Magazine, How Magazine, Type Directors Club e AIGA.

Recomeçar

sem medo POR Daniel Campos

Foto: Mike Warot

Cloud Gate: Escultura em aço desenhada pelo artista britânico Anish Kapoor e construída entre 2004 e 2006.

44


Guia para a Chicago Design Week promovido pela AIGA Chicago (American Institute of Graphic Arts). A Plural foi responsável pela identidade, guia e web site.

Durante um curso de verão na Universidade da Basileia, na Suíça, quando teve a oportunidade com o grande designer e tipógrafo Wolfgang Weingart, conseguiu decidir-se sobre onde estudar o sonhado mestrado em design. E foi na sua já morada em Chicago que ela optou por estudar com Philip Burton, também ex-aluno de Weingart. Hoje, ela vem começando sua carreira acadêmica como professora na UIC, aproveitando a oportunidade que a Universidade de Illinois dá aos mestrandos. Além disso, Graw está envolvida com eventos da AIGA na cidade e ela ainda encontra tempo para realizar trabalhos de design

nos meus planos, fui estudar com o

eu não podia deixar passar uma

professor Burton.

oportunidade dessas.

além de cuidar, junto com os sócios,

DC: Qual foi o tema da sua tese?

DC: Weingart defende o

dos trabalhos da Plural. Nesta edição

Por que esse tema?

“enfoque Gutenberg” na

voluntários para instituições como The Arts of Life e Public Media Institute,

do Design sem Fronteiras, com a participação especial do designer e blogueiro Daniel Campos como entrevistador, Graw fala sobre a visão de design e trabalho adquirida em sua experiência internacional.

RG: Meu tema foi desenhar uma fonte para a cidade de Chicago para ser usada especificamente durante as Olimpíadas de 2016 (que será na minha cidade natal!). Eu estava muito interessada nas questões de

comunicação gráfica: os designers, como os primeiros tipógrafos, devem envolverse em todos os aspectos do processo (conceito, composição, produção, pré-impressão e impressão) para garantir a

Daniel Campos: O que te levou a

espaço-tempo no design gráfico.

estudar fora do Brasil e por que

Geralmente, designers querem atingir

decidiu fazer um mestrado em

a atemporalidade. Eu quis explorar

design gráfico?

a possibilidade de associar um lugar

e trabalha com esse enfoque?

e momento histórico ao design da

RG: Eu acredito que é muito

fonte. Queria fazer o exercício de

importante entender os processos

tradução de um lugar específico,

de produção para atingir um bom

capturando o espírito e qualidades do

resultado em qualquer projeto. Mas

lugar e traduzindo-os para a fonte.

também acredito que a brincadeira e

veio durante o curso de verão na

DC: E como foi o curso com

a experimentação são fundamentais

Suíça com o designer e tipógrafo

Wolfgang Weingart na Suíça. Por

para o design. Às vezes, um designer

Wolfgang Weingart. Numa visita

que a Suíça e por que Weingart?

que não sabe o que está fazendo tem

Renata Graw: Eu já estava morando em Chicago há um tempo quando resolvi fazer o mestrado. Na verdade, sempre quis fazer mestrado em design, mas a decisão sobre a escola

ao seu arquivo, ele apresentou o trabalho de um ex-aluno seu. Era um estudo tipográfico em forma de livro como eu nunca havia visto. Quando ele fechou o livro, eu procurei o autor e reconheci o nome: Philip Burton, um professor da Universidade de Illinois em Chicago (UIC). Como me mudar para a Suíça não estava

RG: A pergunta foi por que não? Weingart é um grande professor de

realização do seu ponto de vista. Você, como aluna dele, acredita

um resultado muito bom porque não se prende às restrições do meio.

tipografia. Uma pena que ele tenha

DC: Paula Scher em palestra

se aposentado. Quando vi que ele

aqui promovida no Brasil pela

estava oferecendo cursos de verão,

abcDesign, em abril de 2010,

não tive dúvida, me inscrevi. Tudo

disse que ela mesma conversa

que tinha aprendido antes de estudar

com o cliente, faz o briefing e

com Weingart tinha sido na prática,

que apresenta seus trabalhos.

trabalhando com design, então

Você acredita que para trabalhar

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Foto: Leticia Magalhães

dessa forma é preciso ter um nome forte no mercado? Como as empresas/ profissionais poderiam aderir a esse “enfoque Gutenberg”? RG: Paula Scher, no primeiro capítulo de seu livro “Make it bigger”, conta que no começo de sua carreira seus trabalhos passavam por muitas mudanças antes de serem aprovados. Nesse processo ela descobriu que se mostrasse o trabalho para a pessoa certa dentro da hierarquia,

RG: Aprendi a experimentar usando restrições. Quando você faz o mesmo exercício, nas primeiras 10 ou 15 vezes seu trabalho sai todo meio igual. Depois de 20 ou 30, ele começa a mudar. O cérebro vai achando novas maneiras de representar o mesmo conteúdo de formas diferentes.

Ninguém quer passar tempo discutindo

da UIC em relação a design?

negociação dos pequenos detalhes. Quanto mais pessoas envolvidas, maior o nível de detalhe a ser negociado, o que muitas vezes coloca em risco a ideia principal. DC: Segundo o livro “A História do Design Gráfico” (ed. Cosac Naify), de Philip B. Meegs e Alston W. Purvis, Weingart pensa que talvez o estilo internacional tenha sido tão refinado

RG: Todos os professores do quadro da UIC fizeram mestrado na Basileia ou em Yale, portanto a pedagogia segue um formalismo tipográfico e restrito. O curso de bacharelado tem um enfoque em forma e tipografia. Já no curso de mestrado, o enfoque é mais experimental e conceitual. DC: Como você prepara e ministra suas aulas? A Universidade dá liberdade nesse processo?

e dominante em todo o mundo que

RG: A universidade me dá liberdade nas aulas

entrou numa fase anêmica. Compartilha

desde que os alunos aprendam o currículo

dessa visão também? Por quê?

que deve ser ensinado naquela matéria. Eu

RG: Weingart me disse pessoalmente que quando ele começou a dar aula na Escola da Basileia ele queria “colocar fogo

Plural Headquarters. Renata Graw, Jeremiah Chiu, segurando a letra L, e nosso estagiario Seth Hoekstra, segurando a letra P.

na Suíça?

DC: Como é o programa pedagógico

logo de cara ou o projeto se torna uma

Fonte desenvolvida por Graw durante o mestrado.

DC: O que aprendeu de mais valioso

o leiaute seria aprovado imediatamente. os detalhes dos projetos – ou você acerta

Renata Graw (Foto Leticia Magalhães)

já não era uma ideia totalmente nova.

defino meus exercícios e em reuniões com os professores apresento minhas ideias. Ainda não tive exercício vetado.

na pedagogia de Emil Ruder e Armin

DC: Alguns dizem que compensa mais

Hoffman”. O estilo internacional acredita na

fazer cursos de pós-graduação fora

objetividade e na simplicidade do design.

do Brasil do que aqui, principalmente

Weingart é muito mais subjetivo que

se for levada em consideração

Hoffman e Ruder. Eu acredito que o “estilo

a relação de custos X benefícios

internacional” foi um momento importante

(experiência, networking, nova

no contexto das artes e da arquitetura. Em

cultura, novas possibilidades). Você

1968, quando ele começou a dar aulas, o

concorda com isso?

mundo já estava mudando, o modernismo

Lumpen Magazine é uma revista local que fala sobre “Cultura Independente, Arte e Política”, para a qual a Plural fez o redesenho em 2009 e é o estúdio responsável pela direção de arte da revista.

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RG: Não tenho certeza, é difícil

à vontade, outros gostam de

responder sem ter a experiência

controlar o processo. Todo cliente é

do Brasil. Mas posso afirmar que o

diretor de arte. Na Plural, acreditamos

networking da universidade ajudou

na colaboração. O cliente geralmente

muito no sucesso da minha empresa.

dá opinião quando a solução não está

O importante é fazer o mestrado

satisfatória. O importante é descobrir

numa escola em que você acredita.

por que e ajustar. Estamos abertos

DC: Ericson Straub diz que para se fundar uma empresa devese acreditar em algo. O que motivou você a abrir a Plural? RG: Acredito no mesmo que a Paula Scher: “O autor deve defender sua obra”. Cansei de trabalhar em agências onde meu trabalho era picotado por outras pessoas. A relação

a ideias e questionamentos, mas também sabemos que nós somos os especialistas e deixamos claro para o cliente que ele está nos pagando por esse “know how”. DC: Em 2010, a Plural esteve envolvida com diversos trabalhos pro bono. O que leva o estúdio a esses trabalhos?

“commisioner x designer” é muito

RG: Os projetos pro bono trazem

importante para mim. Se o diálogo

mais possibilidades de experimentação

tem ruído, o processo se complica.

e também a satisfação em saber

DC: Pessoalmente, como foi (re) começar a carreira num país estrangeiro?

que estamos ajudando com uma instituição que trabalha para melhorar a sociedade. Fazemos quando acreditamos na mensagem, no

RG: Recomeçar foi ótimo, muito melhor do que começar. Quando eu vim para cá, não tinha contatos, não conhecia a cidade. Depois do mestrado, tive muitas indicações de professores e amigos na cidade. O networking realmente ajudou. DC: E os clientes da Plural, como é a relação com eles?

colaborador ou na instituição. DC: Você tem algum conselho para quem deseja estudar/ trabalhar com design gráfico fora do Brasil? RG: Nem toda escola é igual. Faça uma pesquisa sobre os professores, sobre a cidade onde vai morar. Se possível, visite pessoalmente e

RG: Depende do cliente. Temos

converse com ex-alunos. Quanto mais

aqueles que nos deixam experimentar

você souber antes de vir, melhor.

SAIBA MAIS... CHICAGO é terceira maior cidade dos Estados Unidos, com quase três milhões de habitantes. Está localizada no estado de Illinois, e é o segundo maior centro financeiro do país. Uma atividade turística imperdível: Para mim, é um passeio de bicicleta à beira do lago, mas o lugar mais visitado é, sem dúvida, o Millenium Park. Tem que comer: A fila nos restaurante prova que o prato mais procurado é a Chicago-style pizza feita com uma massa grossa e cozida numa panela funda. Mas eu não gosto. Para se divertir: Os lugares mais conhecidos são os clubes de blues e jazz. Gosto muito do Green Mill, um lugar bem tradicional ao norte da cidade. Diz a lenda que era frequentado pelo Al Capone. Para se inspirar: A ala moderna do Art Institute, um prédio novo desenhado pelo arquiteto italiano Renzo Piano. Além de abrigar uma coleção incrível de arte, o prédio é demais e oferece vistas fantásticas da cidade, como do Millenium Park e do Lago Michigan. Para ver o melhor do Design em Chicago: A cidade é na verdade mais conhecida pela arquitetura, então vale a pena fazer o tour do Chicago Arquitectural Foundation. Durante o verão, eles também oferecem passeios de barco pelo rio e pelo lago, onde podemos ver a cidade de outra perspectiva.

Chicago

Chicago

Leve de lembrança de Chicago: Uma foto da “Cloud Gate” refletindo a cidade.

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CASES CRAMA

transformadora por Mariana Di AddArio Guimarães

Para os que reclamam que em nosso país as empresas não valorizam os designers brasileiros, contratando agências estrangeiras para desenvolver projetos de branding, saibam que nós exportamos, sim, qualidade nacional. É o caso da Crama, responsável por renovar a identidade da Sonangol, maior empresa dE Angola.

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O logo da Sonangol mudou pouco, foi apenas atualizado pela equipe da Crama.

Mais importante do que mudar a marca, foi preciso definir o posicionamento da Sonangol e organizar sua arquitetura de marcas.

Em 2003, a agência carioca Crama,

Na Crama, cada projeto acaba

Foi fácil para a equipe perceber que

comandada pelo diretor de criação

sendo desenvolvido a partir de

a importância da Sonangol era muito

Ricardo Leite, teve a oportunidade

uma metodologia particular, de

mais que econômica. Para se ter

de enfrentar um desafio e tanto!

forma a atender às necessidades

uma ideia, a empresa, que tem sete

Trabalhar com a marca de uma

específicas de cada cliente. No

subsidiárias nas áreas de pesquisa,

petrolífera angolana, simplesmente

caso da Sonangol, o primeiro passo

produção, logística, distribuição,

a maior empresa do país. Sua

tinha que ser o entendimento da

treinamento, transporte aéreo e

produção em barris de petróleo

visão estratégica e dos níveis de

marítimo, telecomunicações, fora

se assemelha à da Petrobras e ela

competitividade da empresa no

a representação em outros quatro

é responsável por nada mais nada

contexto angolano. Numa viagem

países, também é responsável por

menos que 70% do PIB do país.

de 15 dias, a equipe pôde conhecer

uma série de ações sociais. Ela

e sentir tanto a cultura da empresa

financia creches e hospitais, além

como da nação angolana.

de ser a patrocinadora da maioria

Se já não bastasse se tratar de uma empresa de tanta importância e um trabalho que deveria ser realizado a uma grande distância, a Crama encontrou uma marca sem posicionamento definido, uma identidade envelhecida, sem nenhum padrão visual e nem mesmo um sistema estratégico de comunicação. “Havia ainda muito para construir, mas, uma coisa eles tinham de sobra: um enorme entusiasmo com a nova condição da paz recém alcançada, que indicava um forte compromisso em modernizar aquela que é a empresa motor para o desenvolvimento de Angola”, relembra Ricardo Leite.

Para a comunicação, foi essencial elencar os elementos semânticos bem como definir o manual de marca.

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dos clubes de futebol e basquete.

a cultura interna. “Outro grande

“É uma marca que faz parte da vida

problema era a baixa consciência das

do povo angolano, mas, ao mesmo

reais necessidades envolvidas neste

tempo, nada disso era comunicado”.

tipo de projeto, o que nos motivou

Ironicamente, o principal ponto de contato com a população, revela Ricardo, eram os postos de abastecimento e os tanques de estocagem e caminhões. “O problema era que simplesmente 98% da população angolana não possui automóvel. Naquelas condições, eles não poderiam mesmo ter qualquer ligação emocional com a marca, a não ser respeitá-la pelo seu tamanho. A

a fazer workshops sobre design, construção de marca, comunicação corporativa e gestão de imagem”. Por meio de uma medida bastante positiva, a Crama propiciou aos executivos de comunicação palestras com os diretores das maiores empresas brasileiras, como Petrobras, Vale, Ampla, Oi e Odebrecht. “Foi uma oportunidade de estabelecer um intercâmbio de estratégias de comunicação e imagem”.

empresa era realmente boa para

Para Ricardo Leite, embora

quem conseguia um emprego lá”.

existisse o problema da distância,

Diante disso, a equipe de estratégia da Crama concluiu que o discurso da marca deveria deixar claro que o papel da produção de riqueza por meio do petróleo era alavancar a transformação do país. O posicionamento ficou definido como “Produzir para transformar”, deixando claro que a Sonangol está também por trás de setores como saúde, educação e telecomunicações. Em relação à estratégia da marca,

Uma marca que é responsável por 70% do PIB é, sem dúvida, uma das principais forças transformadoras de um país. Bastava que a Sonangol comunicasse isso.

a língua em comum e semelhanças culturais facilitaram o processo e a assertividade da solução. Mas o ponto mais forte, além do momento positivo no país para essa mudança, foi mesmo o apoio do gabinete de comunicação e imagem corporativa da petroleira. “Eles acreditaram na força do projeto e tiveram a sensibilidade de, mesmo quando havia muito pouco para ver, nos dar liberdade e apoiar o trabalho sistematicamente, derivando em

É uma marca que faz parte da vida do povo angolano, mas, ao mesmo tempo, nada disso era comunicado.

uma nova Sonangol”.

optou-se por uma arquitetura de marca monolítica, dividindo as subsidiárias em dois grupos, diferenciando-as entre as relacionadas às atividades core business, como distribuição e logística, por exemplo, e as de atividades de suporte ao negócio, como aviação, transporte marítimo ou telecomunicações. O símbolo foi modernizado, ganhou um sistema de identidade modular, teve a aplicação toda normatizada e ganhou diretrizes semânticas, como tom de voz e direção de fotografia. Em outra fase, a Crama ajudou a desenvolver na empresa aquilo que sustenta o branding de uma marca:

Os postos eram um dos poucos pontos de contato com a marca, mesmo que 98% da população não tenha carro.

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Design & TENDENCIAS

O tabu de que o design é apenas acessível para poucos começa a perder força e um dos fatores que está contribuindo para isso é a imensa quantidade de blogs especializados na área. Novidades em tempo real e com opinião sincera. A lista é grande demais para caber aqui, então conheçam alguns dos blogs e blogueiros mais bacanas do planeta!

Os favoritos POR Heloísa Righetto

PENS

E

F A EXP LE RESS

E

Anote aí: blog, se você ainda não

pasta de favoritos dos apaixonados

é viciado em algum, ainda será! Há

por design nos quatro cantos do

poucos anos eles serviam apenas

mundo. Seja para falar de design

como diários online. Mas, como

gráfico, interiores, arquitetura,

acontece com tudo que envolve

ilustração, web design, mobiliário

internet e tecnologia, a função

ou produtos em geral, tem sempre

desse aplicativo mudou muito, e

algum blog rico em conteúdo,

para melhor. Hoje, celebridades

não só com textos elucidativos,

e esportistas atualizam seus

mas também imagens que não

blogs diariamente e estamos

deixam a desejar a nenhuma revista

acompanhando um boom de

especializada.

blogs de moda, no qual blogueiras tornaram-se “it girls” e seus espaços virtuais valem ouro.

Manter um blog atualizado não é tarefa fácil, vide a quantidade de desistências no meio do caminho.

É claro que a turma do design não

Cada blogueiro tem seu estilo e

podia ficar para trás e uma legião

suas regrinhas de ouro. Por essas

de gente talentosa que entende

particularidades acabam atraindo um

mesmo do assunto resolveu

público específico e muito fiel. Daniel

logar e rendeu-se à praticidade e

Campos, blogueiro responsável

facilidades oferecidas por essas

pelo LOGOBR, explica: “manter o

plataformas. Apesar de um grande

blog atualizado toma muito tempo,

número de domínios não resistir e

além disso, é complicado conseguir

acabar desaparecendo (ou sendo

ser relevante nesse caos que é a

abandonado) nos primeiros meses,

internet”. Tempo – ou a falta de – é

um time de blogueiros já faz parte da

mesmo um dos maiores problemas

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dos blogueiros: “eu edito todas as

momento”. Fábio Sasso, idealizador

simplesmente “repassando conteúdo,

imagens que coloco no blog, o que

do blog Abduzeedo – que apesar

principalmente de sites e revistas

toma muito do meu tempo, mas não

de ser brasileiro é escrito em inglês

internacionais”, afirma a equipe de

faria de outra maneira”, conta Alyn

– começou a escrever depois de ter

colaboradores do blog Caligraffiti.

Griffiths, designer escocês radicado

seu escritório assaltado. “Levaram

E esse é um tópico com o qual

em Londres. Seu blog, Scene, é

todos os computadores, inclusive

todos os blogueiros entrevistados

recente, porém tem ganhado cada

dois HD’s externos que eu havia

concordam. “Esses blogs têm uma

dia mais atenção. “Tenho recebido

levado para fazer o backup. Voltei

frequência de postagem gigante,

bastantes releases de assessorias de

completamente perdido e resolvi

mas não adianta colocar no ar 10

imprensa, que uso apenas para saber

criar o blog como um novo sistema

posts por dia se nenhum deles

as novidades. Na hora de escrever, é

de backup”. Hoje o Abduzeedo

carrega sua marca pessoal. Os

a minha opinião que vale”, completa.

conta com seis colaboradores de

leitores querem ver o que você

países diferentes e aborda assuntos

pensa, o porquê disso e daquilo.

como fotografia e ilustração,

Como autores, temos de fomentar

sem contar os ótimos tutoriais de

a discussão sadia”, opina Rodrigo

Photoshop.

Franco, do blog Design Flakes. Paula

A maioria registra um domínio pela simples ânsia de dividir com o mundo todo seu conhecimento na área, trocar informações e até mesmo como uma “válvula de escape” do

Apesar do surgimento de tantos

dia a dia. Carol Hoffmann, dona do

blogs de design ter mais aspectos

Amenidades do Design, completa:

positivos do que negativos, é

“inclusive, as postagens muitas

preciso saber escolher bem aqueles

vezes refletem o tema que ando

que irão fazer parte da sua lista

pesquisando para algum projeto do

de favoritos, afinal muitos acabam

Alvarado, argentina autora do blog BA Inspiration – um ótimo guia de design da capital portenha –, completa: “uma das minhas regras é não ter uma meta semanal ou mensal de posts, não quero colocar no ar qualquer coisa só por colocar.”

Amenidades do Design

Carol Hoffman | Blogando desde 2008 amenidadesdodesign.com.br Sobre o que escreve: “Podemos dizer que a “linha editorial” é definida por temas que sejam construtivos e que colaborem de alguma forma para a construção/formação de melhores profissionais de design. Considero o blog uma forma de auxílio ao inicio do processo criativo a partir de conceitos embutidos em cada postagem”. Não deixe de ler: as entrevistas com pesos pesados, como Julius Wiedemann e Ligia Fascioni, além da seção Design Retrô, cheia de referências para quem curte história do design e inspirações vintage. Como você espera contribuir com os seus leitores? “Procuro agregar informações construtivas, lembrar conceitos aprendidos que muitas vezes estão esquecidos, mostrando que um bom design vem de um projeto bem executado e estruturado. Também mostro que podemos inovar através de linhas de pensamento bastante simples.”

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Sobre o que escreve: o Des ign Flakes é lotado de referên cias visuais bacanas, que variam de ilustrações e vídeos publicitário sa design de produto e tipografia. Curiosidade: o nome do blo g é inspirado no famoso cere al matinal, “para começar o dia bem alimentando-se visualm ente”. Não deixe de ler: a categor ia “Mural da Semana”, onde qualquer um pode ter seu por tfólio publicado (basta mandar email dentro dos requisitos solicita dos). Quais os desafios de mante r o blog? “Fora o desafio financeiro de manter um blo g que tem um peso enorme em imagens, coisa que um servido r simples não suporta, tem tam bém o fato de que todos nós trab alhamos em agências e a roti na não é das mais tranquilas. Mas nad a que uma pausa no trabalho , uma dormida mais tarde ou levanta r mais cedo não resolva”.

Design Flakes

Rodrigo Franco e equipe Blogando desde 20 06 designflakes.com.br

Sobre o que escreve: Logotipos, tipografia, marcas, publicidade e design em geral. Como espera contribuir com os seus leitores? “Tenho obstinação pelo chegar a minhas próprias conclusões a respeito de tudo, tudo mesmo. Espero poder influenciar dessa maneira. Não quero que os leitores do LOGOBR simplesmente leiam o que está escrito como a verdade absoluta, mas, sim, que entendam nossa linha de pensamento e que formulem suas respostas, tenham seus porquês, um conteúdo próprio. Está cheio de papagaio de pirata por ai, só repetindo o que ouve/lê. Meu desejo é esse: pessoas analíticas”. Regras de ouro: 1 - Não repita algo que já foi dito; 2 - Se for repetir, diga algo novo que faça valer uma nova leitura daquele assunto; 3 - Qualidade vem antes de quantidade; 4 - Sempre mantenha contato com a audiência, responda seus emails/tuites/mensagens; 5 - Sempre dê crédito.

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Daniel Campos Blogando desde 2008 logobr.wordpress.com


Sobre o que escreve: Fazendo uma breve pesquisa no blog de Erin, é fácil perceber que ela busca inspirações em muitas vertentes do design. “Consigo ver beleza em praticamente tudo!”. Uma das características marcantes do blog são as imagens, sempre muito inspiradoras. Os textos são curtos e objetivos. Você acha que pode influenciar designers e ajudar a criar tendências com o conteúdo do blog? “Sem a menor sombra dúvida, sim! Não só eu claro, mas todos os blogs têm esse poder. O mercado está mudando e é demais ver que os blogueiros estão se tornando verdadeiras autoridades em suas

Design For Mankind

áreas de especialidade.” A melhor parte de ter um blog: “A interatividade com os

por Erin Loechner Blogando desde 2006

leitores. Recebo tantos emails e mensagens bacanas que no fim do dia minhas bochechas estão doloridas de tanto sorrir!”

designformankind.com

E a pior? “Trabalhar sozinha. Sinto falta de ter a turma do trabalho e sair pra almoçar juntos, por exemplo. Além disso, tirar férias é um verdadeiro desafio! Fico online 14 horas por dia. Se saio por um dia já sinto que estou meio por fora, sabe?”

Blog Déco Design

Curiosidade: Henri trabalha como consultor estratégico, design

por Henri Labarr Blogando desde 2006 blogdecodesign.fr

é uma paixão e foi isso que o motivou a escrever o blog. Regra de ouro: “Poderia escrever sobre coisas que não gosto para conseguir mais visitantes, mas no blog só entra o que eu teria no meu apartamento!” Você acha que pode influenciar designers e ajudar a criar tendências com o conteúdo do blog? “Não dá pra ter certeza, mas eu tento fazer uma boa análise do que vejo. Seria ótimo se realmente ajudasse alguém!”

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BA Inspiration

por Paula Alvarado | Blogando desde 2007 bainspiration.com Sobre o que escreve: Buenos Aires é o assunto principal do blog de Paula – achados e lugares bacanas para os amantes de cultura, arte e design. Ultimamente, ela tem se interessado em consumo colaborativo e ações coletivas – conceitos sustentáveis – e em breve isso estará refletido nos posts. Trabalha exclusivamente com o blog? “Sou colaboradora de outros blogs também, grandes e mais populares, relacionados com eco-design e tendências “green”. Porque o blog vale a pena: como diz o nome, Paula inspira-se quase que exclusivamente em seu entorno e em suas experiências. Apesar de receber press releases, ela acredita que os leitores continuam lendo seu conteúdo justamente pela visão pessoal dos posts. Não deixe de ler: há alguns meses atrás, a blogueira passou uma temporada em Nova York, que rendeu excelentes posts com dicas sobre a cidade.

Caligraffiti

por Ailton “Feliz” Henriques, João Faraco, Lucyano Palheta, Manu Borghi, Nuno Boggis e Uno de Oliveira Blogando desde 2008 | caligraffiti.com.br Sobre o que escrevem: “Sempre tivemos o hábito de produzir conteúdo retirado de visitas e participações em encontros de estudantes e eventos ligados a design, arte, tecnologia e cultura. Cada um dos colaboradores atua em uma área diferente do design e quando alguém descobre uma nova referência, é inevitável que pensemos em postar.” Acham que blogs influenciam a prática do design? “Influenciar talvez não seja a palavra. Podemos dizer que os blogs têm um papel importante no processo criativo, por serem principais fontes de referências. Em alguns casos é a primeira fonte de pesquisa, em outros a única. Podendo até soar um pouco contraditório, essa facilidade de informação encontrada na internet acabou criando um certo “vício”. Sempre tentamos reforçar essa independência, indicando referências bibliográficas, filmes e demais materiais.”

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Sobre o que escreve: “como o blog tem vários colaboradores, cada um de uma área, é possível encontrar

Espaco.com

posts abordando desde web até moda. Porém, existem algumas regras de ouro: valorizar a opinião que os leitores

Jonas e equipe

deixam nos comentários e tentar postar conteúdo exclusivo

Blogando desde 2007

sempre que possível.” Curiosidade: o blog luta com o Wikipedia para ser o primeiro nos resultados de busca por “design” no Google (em português). A melhor parte de ter um blog: “ficar por dentro de todas as novidades da área e ter acesso a eventos bacanas.” E a pior: “nem sempre ter tempo hábil para escrever sobre tudo que rola.”

Abduzeedo

Fábio Sasso e equipe | Blogando desde 2006 http://www.abduzeedo.com/ Sobre o que escreve: “A ideia fundamental hoje é inspirar e compartilhar conhecimento. Se algo nos inspira com certeza vai ter o mesmo efeito em outras pessoas. Já eu sou o responsável pela maioria dos tutoriais, escolho o tema baseado naquilo que eu quero aprender. Eles passam a ser um motivador para eu tentar e praticar cada vez mais.” Quais os desafios de manter um blog: “Os mesmos de qualquer outro negócio. Responsabilidade de manter ele atualizado, problemas técnicos e de crescimento.”

Scene

Alyn Griffiths Blogando desde 2010 www.alyngriffiths.com/scene/

A melhor parte de ter o blog: “Ser motivado a melhorar cada vez mais, pois fica o histórico do que já foi feito, assim como as referências visuais.”

Sobre o que escreve: Alyn percorre

mas em outras cidades europeias que

Estocolmo.

feiras e eventos não só em Londres,

costuma visitar, como Glasgow e

O porquê do nome: por causa da

semelhança dos sons das palavras

A melhor parte de ter um blog:

“dividir minha visão e ideias com

seen (visto) e scene (cena).

pessoas que nem conheço!”

E a pior: sou perfeccionista, então editar as imagens e caprichar no texto acabam tomando muito tempo.” Nossos entrevistados tinham muito a dizer. Confira a versão completa das entrevistas no site da abcDesign.

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Ilustraテァテ」o: Bruno Garcia

UNIVERSO GRテ:ICO MAXI GRAFICA

queremos sua arte na

capa da abc 58


PELA PRIMEIRA VEZ, UMA REVISTA E UMA GRÁFICA SE UNEM PARA MOBILIZAR UMA AÇÃO DE CUSTOMIZAÇÃO EM MASSA! MAS ALÉM DE TER A OPORTUNIDADE DE PERSONALIZAR A SUA PRÓXIMA CAPA DA ABCDESIGN, VOCÊ AINDA PODERÁ GANHAR UM WORKSHOP COM A DIRETORA DE CRIAÇÃO DA WOLFF OLINS!

POR Mariana Di Addario Guimarães

Estamos na era da customização.

O primeiro passo é preencher

Um júri vai selecionar as dez

Quanto mais personalizado a

o cadastro no site

melhores ideias, que vão virar

empresa consegue entregar seu

promocaomaximinhacapa.com.br.

as capas oficiais da revista nas

produto, maior a chance dela conseguir satisfazer seu consumidor. Esse ainda é um grande desafio para as marcas, mas, ao menos na Maxi Gráfica a solução chegou! Com a entrada da empresa também no mundo da impressão digital, ela é capaz de oferecer a seus clientes a personalização de materiais coloridos. E para provar que a combinação entre eficiência de processos e tecnologia pode produzir resultados surpreendentes, a Maxi

O preenchimento de todos os campos do cadastro é obrigatório

Essas dez capas também ficarão no

para a participação. Sua revista

site para votação e o responsável

personalizada chegará ao endereço

pela preferida do público vai

indicado no cadastro.

ganhar um workshop com a

Feito isso, o participante deverá fazer o download do template da capa abcDesign. A arte deve ser executada

produtos da Infolio.

podendo, em hipótese alguma, ser alterado*.

template, o participante deve voltar

próxima edição da revista: capas

a acessar o site e fazer o upload de

personalizadas de acordo com o

seu arquivo.

exclusiva! Para participar é simples:

Wolff Olins**, com tudo pago!!

formato, cabeçalho e rodapé, não

Com a arte pronta e inserida no

receber em casa uma capa única e

de criação da agência britânica

As outras nove capas ganharão

para propor uma novidade para a

Ou seja, quem quiser testar, vai

designer Marina Willer, diretora

dentro dos parâmetros de tamanho,

Gráfica e a abcDesign se uniram

gosto do cliente.

bancas.

“Voilá!”, quando sua revista chegar ela vai ter na capa a arte que você criou. E não pensem que o teste da customização vai parar por aí.

E aí, vai topar o desafio? A ação começa dia 15 de dezembro! * O regulamento completo está disponível no site. Fiquem atentos às regras de participação. ** O workshop será ministrado em São Paulo, durante o abcDesign Conference Wolff Olins em abril de 2011. As despesas vão cobrir transporte, estadia e alimentação, caso o vencedor não seja de São Paulo.


DESIGN & EDUCAÇÃO PANAMERICANA

A série: “Memória Falha” fala das lembranças da infância. A partir das fotos antigas da sua família, Cris Gorissen, misturou materiais diversos numa base de vidro para criar esse efeito de difusão.

POR LUCAS MARTINI

EM “PAISAGEM IMAGINÁRIA”, ESTUDANTES DA PANAMERICANA EXPLORAM AS CONTRADIÇÕES ENTRE O REAL E O IMAGINADO POR MEIO DA FOTOGRAFIA. Todos nós temos um mundo

Escola e selecionadas por grandes

interior, um mundo “visto” de

nomes da fotografia brasileira,

olhos fechados que se materializa

como Bob Wolfenson, Arnaldo

no embate entre vestígios de

Pappalardo e Eder Chiodetto.

realidades e memórias ficcionais.

das pessoas fotografadas. “Nesse caso, a fotografia funciona como uma fissura ao denunciar o atrito entre o visto e o imaginado.

São trabalhos feitos a partir de

Paisagem transitória, subjetiva,

Essa contradição entre o real e o

inspirações surpreendentes, como a

imaginado, usando a fotografia –

busca por formar uma só fotografia

criada séculos atrás com a função

com base em centenas de imagens

de reproduzir fielmente aquilo que

ou a de transformar fotos de fãs

o homem enxerga –, foi o mote da

de Cosplay (pessoas que se vestem

exposição Paisagem Imaginária

com roupas de personagens de

ressaltando a grande variedade

da Panamericana Escola de Arte e

HQ´s) em desenhos parecidos com

de abordagens (fine art, vinil,

Design, com 106 fotografias lúdicas

os de histórias em quadrinhos,

telas LCD, DVD, lona, etc.) para

e criativas feitas por alunos da

preservando apenas os contornos

a exibição dos trabalhos.

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dialética, pessoal. Fotografia que experimenta, ousa. Paisagem imaginária”, explica Eder Chiodetto, um dos curadores da mostra,


FRAMES POR SEGUNDO Foi ao comparar a experiência de assistir um filme

semelhança com a filmagem fotográfica, que

com a de ver uma fotografia que Diego Kuffer criou

retrata uma sequência de imagens (24 frames por

um dos trabalhos mais impactantes da exposição

segundo) para dar movimento a uma cena.

Paisagem Imaginária. Nele, Kuffer retrata uma única cena com centenas de fotos do mesmo local e com mesmo enquadramento, construindo assim um período de tempo marcado por mínimos quadrados dispostos em ordem cronológica que representam a primeira e a última foto feita por ele ao retratar aquela paisagem dentro de períodos de tempo diversos. A técnica, ainda que muito distinta, preserva a

Kuffer, que fez suas fotos em São Paulo, Nova York e Paris, explica que a ideia de seu trabalho surgiu de uma frase muito repetida por seu pai. “Ele me dizia que na vida temos que aproveitar o momento e sentia falta disso na fotografia. Ao condensar centenas de imagens em uma só, quero que as pessoas vivam aquele momento junto comigo e saibam que ele não foi apenas um instante, como a maioria das fotos acaba retratando”.

PAISAGEM NO ESCURO Deficientes visuais, ainda que despercebidos, transitam pelas cidades brasileiras construindo paisagens imaginárias inspiradas em sentidos como o tato, a audição e o olfato. São suas referências de um mundo externo invisível e ignorado por quem desfruta de uma visão saudável. Foi pensando nisso que o aluno Miguel Alcade criou a série “Paisagem no Escuro”, na qual traduz a “visão” de Helena D´Angelo, de 27 anos, deficiente visual desde os 13 anos, para uma imagem fotográfica. O trabalho é exposto de forma a mostrar, ao mesmo tempo, tanto a paisagem real, quanto a imaginada por Helena. Musicoterapeuta formada, Helena elogia a experiência e a recomenda para outros deficientes visuais. “A imagem e o som se completam. Havia muitos elementos na imagem que fotografamos, como o barulho de crianças ou de cachorros latindo, que não apareciam na imagem devido ao enquadramento, mas que acabaram sendo exibidos, pois eu os percebi ali. Hoje, produzo mais imagens enquanto ouço sons do que antes”, afirma. A exposição ficou em cartaz até o dia 20 de dezembro na própria Escola Panemericana de Arte e Design, na sede da rua Groelândia, 77, São Paulo.

Série: “O Momento”, de Diego Kuffer. Usando uma técnica de montagem fotográfica de 36 imagens, fatiadas horizontalmente e verticalmente e montadas em ordem cronológica, ele colocou diversos momento em uma única imagem.

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Série “Paisagem no Escuro”, de Miguel Alcade, inspirada nas imagens “vistas” por uma pessoa cega, combinando a foto com um desenho feito à base de descrições do deficiente visual.


Notas

Trabalhando com tipos Em “Design e Tipografia, a designer, diretora de arte, fotógrafa e escritora, Ina Saltz, organiza de uma forma didática e pontual as muitas questões envolvidas no uso eficiente da tipografia. Ela separou 100 fundamentos, que foram organizados em quatro partes – a letra, a palavra, o parágrafo e a página –, todos explicados com exemplos ilustrados. Alguns são regras práticas, outros contradizem os ensinamentos, mas todos os fundamentos estão lá para incentivar a experimentação com a complexidade da tipografia. Ina Saltz foi diretora de arte de revistas nos EUA, é professora de design eletrônico e multimídia e também publicou dois volumes de “Body Type: Intimate Messages Etched in the Flesh”, só com tatuagens tipográficas. O livro é da editora Blucher e está à venda no site www.blucher.com. Custa R$ 74,00

Marca com carma O australiano Craig Davis, diretor de uma agência de publicidade chamada Mojo, desenvolveu uma rede social voltada à troca de opiniões sobre as marcas. Na plataforma, as pessoas podem dizer o que pensam e o que esperam das suas marcas preferidas (e das que mais odeia). Quanto mais avaliações positivas, melhor o “carma”, claro. Essa é mais uma ferramenta interessante para as marcas saberem diretamente de seus consumidores (ou daqueles que optam por não consumir determinada marca) quais são seus pontos fortes, fracos e as possibilidades de melhorar seu relacionamento. Profissionais da área que souberem ler bem essas informações, com certeza poderão encontrar oportunidades de criar novos serviços, consertar problemas e fortalecer os vínculos com os consumidores. Visite: www.brandkarma.com

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AlessiTab A Alessi, famosíssima marca de italiana de utensílios domésticos, resolveu entrar num segmento completamente diferente, o de tablets. Em parceria com a Promelit, a marca lançou a AlessiTab, cujo design é assinado por Stefano Giovannoni. O dispositivo possui entradas USB, saída HDMI, slot SD e monitor 10,1”. Conta ainda com câmera e microfone que possibilitam chamada de voz e vídeo e possui um aplicativo culinário, Preço e disponibilidade ainda não foram divulgados, mas considerando os preços da marca, não vai ser barato.

Emoção e infografia O site da abcDesign abre espaços para publicação de artigos dos seus leitores. Recentemente, dois textos foram selecionados que valem a pena ser conferidos: O primeiro foi escrito pela designer Carolina Hoffmann intitulado “Infográficos – Da essência ao clichê na era da informação digital”. No texto, Hoffmann apresenta a evolução dos infográficos dentro do contexto da internet e fala sobre os critérios que hoje devem ser levados em conta quando se desenvolve infografia para a web. Você também pode conferir “O incômodo tema das emoções no design”, escrito por Guilherme Correa Meyer, em que ele faz uma reflexão sobre como estão sendo desenvolvidos os estudos e a aplicação dos quesitos emocionais no desenvolvimento de produtos. Você também pode participar enviando seus artigos para artigos@abcdesign. com.br. Nós avaliaremos o conteúdo e, sendo selecionado, o texto poderá ser publicado no portal ou na revista abcDesign.

Diga-me o que desenhas É fascinante entrar no mundo das ideias e dos rabiscos dos artistas, ilustradores e designers que admiramos. Os sketchbooks guardam as ideias mais estranhas e que não foram necessariamente feitas para serem divulgadas, pois representam os momentos secretos da criação. Esse universo fascina tanto os diretores de arte e donos da livraria Pop, Cezar de Almeida e Roger Basseto, que ele resolveram arriscar e pediram aos amigos – artistas da grandeza de Kiko Farkas, Angeli, Guto Lacaz, Montalvo Machado e Eduardo Recife, entre outros – que abrissem seus cadernos de ideias e que explorassem o lado pessoal dos processos criativos. O resultado é uma publicação cheia de segredos e reflexões sobre o que significa colocar no papel as ideias que povoam as mentes desses brilhantes profissionais. Quem se interessou, basta entrar no site da livraria – www.livrariapop.com.br para conhecer melhor o livro. Custa R$ 120,00. 63


PF À LACARTE ZE HENRIQUE

Para variar um pouco, vou espernear sobre mais um assunto. A vítima da vez será A HSM Expo management, um dos maiores eventos de negócios e gestão da América Latina, ocorrido entre os dias 8 e 10 de novembro em São Paulo (nesta edição da ABC há uma matéria sobre o evento).

A novidade deste ano foi a inclusão

contra o Hans, mas acredito que no

em produtos, embalagens, retail

da Brasil Design Week na pauta

quesito design estratégico ele está

design e outras dezenas de serviços

de discussões com o tema

bem longe do que os empresários

especializados.

inovação e negócios. Além dos

precisam saber.

eventos paralelos e dos estandes com grandes escritórios de design, os empresários e executivos de todos o país tiveram a chance de assistir a uma palestra do grande Hans Donner (…vácuo…)

Ao contrário disso, muito se

Na minha visão, isso demonstra

falou sobre todas as ferramentas

que ainda persiste um pensamento

de marketing e gestão em

que design é festa, alegoria e algo

profundidade, inclusive com a

supérfluo. As discussões sobre

presença do Kotler, velho conhecido

design thinking, innovation design,

de todos nós. Quando chegou a

strategic design estão a pleno vapor

vez do design, entrou Hans Donner

Pois é isso mesmo que vocês

no Brasil e temos pessoas e empresas

em cena. Eu tive a sensação de voltar

leram. Pela primeira vez um

com muita propriedade para debatê-

uns 20 anos no tempo. Enquanto

grande evento de design se alia

las com os executivos. Estamos em

no grande auditório os business

ao maior evento de negócios e

meio a uma revolução de como

men ouviam sobre a Isadora Ribeiro,

levam à presença de 5 mil pessoas

vender e comprar design, com muitas

num pequeno e apertado auditório,

o maridão da globeleza para falar

dúvidas nas cabeças dos clientes.

debatia-se (entre designers, é claro)

de design? Chega de ouvir sobre

Este evento seria uma grande

o tema “Design Thinking: Integrando

relógios que ninguém consegue

chance de impactar milhares de

inovação, experiência e valor de

ler as horas, aberturas de novelas,

“compradores de design” com uma

marca”, com Thomas Lockwood,

vinhetas de carnaval e helipontos

visão moderna, profunda e assertiva

do Design Management Institute.

para extraterrestres. Nada pessoal

sobre gestão de marcas, inovação

Prefiro encerrar por aqui.

Zé Henrique Rodrigues Zé Henrique Rodrigues. Designer gráfico, professor, palestrante e sócio-diretor da Brainbox Design Estratégico. pfalacarte@revistaabcdesign.com.br

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