Avaliação de Aprendizagem
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Unis - MG Centro Universitário do Sul de Minas Unidade de Gestão da Educação a Distância – GEaD Av. Cel. José Alves, 256 - Vila Pinto Varginha - MG - 37010-540
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Todos os direitos desta edição reservados ao Unis-MG. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou parte do mesmo, sob qualquer meio, sem autorização expressa do Unis-MG.
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MOREIRA, Simone de Paula Teodoro. Guia de Estudo – Introdução ao Pensamento Científico (EaD) - Simone de Paula Teodoro Moreira. Carina Carvalho Tavares. Varginha: GEaDUNIS/MG, 2007. 70p. 1. Metodologia Científica. 2. Ciência. 3. Conhecimento. I. Título. Atualizado e revisado por DE BRITO Renato, em Agosto de 2010
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REITOR Prof. Ms. Stefano Barra Gazzola GESTOR Prof. Ms. Wanderson Gomes de Souza Supervisora Técnica Profª. Ms. Simone de Paula Teodoro Moreira Design Instrucional Prof. Celso Augusto dos Santos Gomes Rogério Martins Soares Coord. do Núcleo de Recursos Tecnológicos Lúcio Henrique de Oliveira Coordenadora do Núcleo Pedagógico Terezinha Nunes Gomes Garcia Revisão Ortográfica / Gramatical
As Autoras SIMONE DE PAULA TEODORO MOREIRA – simoneteodoro@sabe.br Licenciada em Matemática, Física e Desenho Geométrico, especialista em Educação Matemática e Redes de Computadores pelo UNIS/MG e em Informática em Educação pela UFLA. Mestre em Tecnologias para Educação. Supervisora Técnica da Educação a Distância e professora universitária nos cursos a distância e presenciais do UNIS/MG.
CARINA CARVALHO TAVARES Graduada em Comunicação Social - Bacharelado em Publicidade e Propaganda, Pós Graduação em Docência no Ensino Superior pelo UNIS/MG, Curso de Informática e Curso de Línguas - Inglês Avançado e Business. Ex-membro do Núcleo de Recursos Tecnológicos da GEaD e ex-tutora nos cursos a distância do UNIS/MG. Atualmente atua no mercado de propaganda e publicidade.
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ÍCONES REALIZE. Determina a existência de atividade a ser realizada. Este ícone indica que há um exercício, uma tarefa ou uma prática para ser realizada. Fique atento a ele.
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SUGESTÃO DE LEITURA. Indica textos de referência utilizados no curso e também faz sugestões para leitura complementar.
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CHECKLIST ou PROCEDIMENTO. Indica um conjunto de ações para fins de verificação de uma rotina ou um procedimento (passo a passo) para a realização de uma tarefa.
SAIBA MAIS. Apresenta informações adicionais sobre o tema abordado de forma a possibilitar a obtenção de novas informações ao que já foi referenciado.
REVENDO. Indica a necessidade de rever conceitos estudados anteriormente.
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Sumário APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................................... 7 EMENTA........................................................................................................................................................... 8 1 2 3.1 4 4.1 4.2 4.3 5
TEORIA DO CONHECIMENTO ....................................................................................................... 9 O CONHECIMENTO E SUAS VÁRIAS DIMENSÕES ................................................................... 15 CONCEPÇÕES DE CIÊNCIA .................................................................................................... 25 LEITURA E EXPRESSÃO ESCRITA ............................................................................................. 29 LEITURA, ESCRITA E PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................ 30 RESUMO ................................................................................................................................... 37 APONTAMENTOS SOBRE A PRÓXIMA UNIDADE................................................................ 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 38
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APRESENTAÇÃO Caro (a) aluno (a),
Este é seu Guia de Estudos da disciplina Introdução ao Pensamento Científico, ministrada para o seu curso de Graduação. Nós, professores e tutores, desejamos que você tenha sucesso nas suas atividades e em todas as disciplinas do curso, e fazemos votos de que o estudo do pensamento científico e das normas técnicas lhe ajudem nessa caminhada. A produção científica, atualmente, já é um grande mercado de trabalho, e continua a crescer. Estar atento aos passos introdutórios da pesquisa pode torná-lo acessível a você. E ainda que você não pretenda enveredar pela pesquisa, o pensamento científico é um grande instrumento de discernimento e crítica, que seguramente vai ajudá-lo (a) extrair o máximo de aprendizado do seu curso. Mais ainda, trata-se de um belíssimo instrumento de expressão humana e de conhecimento do mundo. Para que você assegure o sucesso no curso, sugerimos que você jamais adie a comunicação com professores e tutores. Teremos um grande prazer em colaborar com você na busca pelos melhores caminhos para a construção do conhecimento. Bom curso para todos nós e muito êxito a você neste novo projeto de vida que é a educação superior!
São os votos de, Simone de Paula Teodoro Moreira Carina Carvalho Tavares
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EMENTA O conhecimento científico, a ciência e o senso comum. O Método e Metodologia científica. Técnica de esquematizar e resumir. Tipos de fichamentos e referências bibliográficas. Redação do trabalho: estrutura lógica, estilo e citações. Apresentação formal do trabalho. Seminário Normas da ABNT.
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TEORIA DO CONHECIMENTO
1 TEORIA DO CONHECIMENTO
Olá pessoal, tudo bem?
Para começar nossa aventura pelo mundo do conhecimento científico, convém refletirmos um pouco sobre a história do conhecimento humano. Nem sempre o homem se valeu do modo científico para conhecer o mundo. O bonde-ciência tomou curso há pouco tempo se comparado com a história da humanidade. A história da ciência ocidental tem aproximadamente 2.500 anos, e se iniciou na Grécia Antiga. Mas recuemos um pouco no tempo para entender sua invenção. Nos primórdios da humanidade, o conhecimento era desenvolvido para suprir as necessidades básicas de sobrevivência. Traçando um panorama rápido e impreciso, podemos relacionar o desenvolvimento mais acentuado dos conhecimentos à partir da invenção da agricultura, aproximadamente 8.000 a.c, na Pré-história, durante a Idade da Pedra Lascada. Com a agricultura, o homem deixou de ser nômade, começou a produzir seus alimentos e passou a domesticar animais para o trabalho, o que reduziu tempo necessário para garantir a sobrevivência. Cultivar a terra fez com que o homem desenvolvesse, por exemplo, maiores conhecimentos de astronomia, para fixar as estações do ano e organizar o plantio. Ainda hoje usamos o calendário astronômico com semanas e meses lunares, anos solares etc. As primeiras tentativas de explicar fenômenos naturais como as catástrofes, as doenças e a morte eram de cunho sobrenatural. As culturas davam nomes e personalidade aos fenômenos da natureza. Thor, para os nórdicos, e Zeus, para os gregos, eram os deuses responsáveis pelos raios. E Guaraci, para os Tupis, era o deussol. Este modo de pensar desenvolveu religiões nas várias culturas, e as figuras dos curandeiros ou dos oráculos, representantes dos deuses entre os homens, passaram a gozar da submissão absoluta dos demais mortais. A palavra destes semideuses traduzia a vontade divina, por isto suas explicações sobre a vida e a natureza eram incontestáveis. 9
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Em paralelo ao conhecimento religioso, outra forma de conhecimento passou ser desenvolvida pelas sociedades primitivas. Os artesãos desenvolviam ferramentas e soluções. Porém, desde que funcionassem, os instrumentos não precisavam ser explicados para grupo, o que resultava numa produção claudicante. A sanha pela explicação não teológica da vida e do mundo ganhou a forma com que chega até nós hoje na Grécia Antiga, com a tradição dos filósofos. A principal diferença entre a orientação mitológica, que vigia até então, e a orientação filosófica, está em que na segunda os conhecimentos são elaborados a partir de especulações racionais e questionáveis, construídas a partir de um jogo de perguntas e respostas sobre o que se deseja saber. Embora hoje explicação racional nos pareça natural, sua invenção significou uma forma absolutamente nova de olhar para o mundo. E é esta humanidade nova que será nosso objeto de estudos nesta Unidade do Guia.
Você está curioso para entender mais sobre a história do conhecimento humano? Assista ao vídeo produzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O vídeo divide-se em 7 parte. http://www.youtube.com/watch?v=G0oImVekJzg&feature=player_embedded
Lakatos (2000) nos lembra que, na passagem em que a forma de conhecimento mitológico deixou de ser a principal forma de interpretar o mundo, o conhecimento passou a ser responsabilidade de uma nova tradição de olhar, que ficou conhecida como Filosofia. Esta nova forma de conhecer inicialmente foi dedicada à compreensão dos problemas da natureza, mas rapidamente extrapolou esse âmbito para refletir sobre as várias facetas da vida humana, como as questões políticas, sociais e as artes. Crescendo em envergadura reflexiva, a filosofia não tardou a elaborar um ramo voltado para os estudos da origem, método e estrutura das formas de conhecimento que as diferentes sociedades desenvolvem: a Epistemologia.
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Platão de Atenas - 428/27 a.C - 347 a.C, filósofo grego, cujo nome verdadeiro era Aristócles; Platão era um apelido que fazia referência á sua caracteristica física, tal como o porte atlético ou os ombros largos, ou ainda a sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas. Sua filosofia é de grande importancia e influencia. Platão ocupou-se com varios temas, politica, metafísica e teoria do conhecimento. Mas o conhecimento, em geral, e o conhecimento científico, em particular, não são, hoje em dia, objeto de investigação apenas da Filosofia. Ramos da própria ciência, como a História, a Sociologia e a Psicologia têm voltado sua atenção para o estudo das questões do conhecimento. O leitor mais informado pode estar se perguntando por que escolhemos trazer à baila rapidamente o termo "Epistemologia", ao invés de enveredarmos pela "Filosofia da Ciência", o que seria o caminho natural, já que vínhamos falando da Filosofia. Foi uma opção proposital. Acontece que não vamos discutir mais adiante apenas conhecimento científico, mas também outros tipos de conhecimentos, e para isto a Epistemologia nos socorre com mais propriedade.
René Descartes - Avançando 2000 anos em relação a Platão, encontramos Descartes (de 1596 - 1650). Ele foi foi um filósofo, físico e matemático francês que notabilizou-se pelo seu trabalho revolucionário da Filosofia, onde desenvolveu um método pesquisa modelo para todas as ciências do seu tempo – o método cartesiano. Descartes é um dos pensadores mais importantes e influentes da história. Sem perder tempo, conheçamos a conceituação do termo: Segundo a Wikipédia (2010), a enciclopédia livre,
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Epistemologia ou teoria do conhecimento (do grego "episteme" - ciência, conhecimento; "logos" - discurso), é o ramo da Filosofia que trata dos problemas relacionados à crença e ao conhecimento.
O quadro acima nos deixa ver como o surgimento da filosofia modificou a forma de conceber o que sabemos sobre o mundo. No paradigma anterior, o da mitologia, havia uma relação direta entre crença e verdade (como se no quadro acima não existisse a parte amarela): a verdade era tudo aquilo em que acreditamos por vontade ou forçados. Com o surgimento da filosofia, uma nova noção se interpõe entre crença e verdade: o conhecimento. Partindo das crenças (pressupostos), o filósofo analisa de forma metódica e racional as supostas verdades para chegar ao conhecimento “verdadeiro” a respeito dela. Podemos dizer que a epistemologia e ciência se confundem. Ambas se voltam para o aspecto da validação da verdade a respeito da vida. Opondo a crença ou opinião ("doxa", em grego) e o conhecimento, o pensamento grego nos dá a ver que a crença é um ponto de vista subjetivo e não justificado a respeito das coisas, e que para “conhecer” de fato o mundo, é preciso usar de métodos comprováveis. O conhecimento filosoficamente atestado resulta naquelas informações que descrevem e explicam o mundo natural e social que nos rodeia com riqueza tal que nos permite entender o que ocorre e como (diferente dos artesãos, que criavam ferramentas funcionais, mas sem se preocupar em saber como elas funcionavam). Portanto, a epistemologia trabalha com evidências que não se confundem com um sentimento de 12
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que estamos próximos da verdade. Evidência, aqui, tem o sentido forense, exige provas consistentes, mesmo que elas contrariem nossas impressões primeiras. O modo sistemático e abstrato de olhar para o mundo que floresceu na Grécia, posteriormente disseminou-se pela (hoje) Europa através do Império Romano (27 a.c – 476 d.c). Embora a Grécia tenha sido dominada pelos romanos, sua cultura prevaleceu, por ser mais forte, e o mundo romano traduziu para o latim toda a sabedoria grega, inclusive os modos de fazer ciência. A sabedoria grega foi cultivada no império romano até o ano de 313, quando o Imperador Constantino foi acomedido pela hanseníase, doença mortal àquela época. Os médicos pagãos, que seriam imolados caso não salvassem o rei, aconselharam o déspota a se banhar no sangue de três mil crianças para se curar. Na iminência da carnificina, os cristãos romanos convenceram o rei de que ele seria curado caso se convertesse ao cristianismo, uma crença proibída no império. Conta a história que o rei se converteu e curou-se. A partir de então, o conhecimento científico sofreu um revés e refloresceu no ocidente a orientação messiânica, o que durou até o final da idadé média, nos idos do século XV. Havendo passado por esta breve história da primeira ascenção e queda do conhecimento científico no ocidente, podemos retomar a questão das evidências, que vínhamos discutindo. Mesmo com o renascimento do conhecimento religioso, a ciência não parou de desenvolver-se longo da história, e a reflexão sobre a objetividade das evidências levou os filósofos a assumirem diferentes posturas diante dos seus objetos de estudo. Tais diferenças ficaram conhecidas como atitudes científicas. Vamos conhecer melhor algumas atitudes científicas possíveis? Ainda seguindo Lakatos (2000), ante a questão da possibilidade do conhecimento, o sujeito pode tomar, entre outras, as seguintes atitudes: Dogmatismo: atitude filosófica defendida por Descartes segundo a qual podemos adquirir conhecimentos seguros e universais,e ter absoluta certeza disso. Cepticismo: atitude filosófica oposta ao dogmatismo, que duvida que seja possível um conhecimento firme e seguro (no sentido de definitivo) a respeito do mundo. Relativismo: atitude filosófica defendida pelos sofistas (opositores ao pensamento platônico) que nega a existência de uma verdade absoluta e defende a idéia
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de que cada indivíduo possui sua própria verdade. Esta verdade depende do espaço e do tempo. Perspectivismo: atitude filosófica que defende a existência de uma verdade absoluta a qual nenhum de nós pode conhecer inteira, só podemos compreender pequenas partes. Cada ser humano tem uma parte da visão da verdade. Essa gama de atitudes filosóficas frente ao conhecimento nos mostra que, conforme o objeto de estudos ou a natureza do problema pesquisado, podemos desenvolver essa ou aquela postura para circunscrever o alcance do nosso rigor, de modo a não deixar que ele avance para o campo da crendice. Assim, o estudo de objetos do mundo natural ou do universo completamente abstrato da matemática podem ter como abordagem a atitude dogmática. Porém, em se tratando de objetos sociais, isto é, do nosso universo cultural, essa perspetiva não pode prevalecer, sendo mais adequadas as atitudes perspectiva ou relativista. O ceptismo foi a abordagem que fez a filosofia caminhar, ao lado do perspectivismo. Entre essas duas últimas, temos duas direções racionais opostas. No perspectivismo analisa-se os objetos em particular pela descrença no universal. No ceptismo, pesquisa-se os casos particulares em sua relação universais conceituais dos quais o particular participa. Até aqui, vimos que o conhecimento científico nasce por oposição ao conhecimento reliogiso, e conhecemos um pouco dos conflitos internos do fazer científico. Agora, vamos estudar um pouco sobre as fronteiras externas desta forma de conhecimento, relacionando-a com outros modos de saber também bastante praticados.
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O CONHECIMENTO E SUAS 2 O CONHECIMENTO E SUAS VÁRIAS DIMENSÕES VÁRIAS DIMENSÕES A construção de conhecimentos válidos, vinculados a princípios éticos e sociais é tarefa de constante revisão. Precisa ser retomada a cada momento para acompanhar as mudanças nos hábitos e necessidades da humanidade e da natureza. Por isto, em ciências, é importante sempre retornar aos pensadores que já se debruçaram sobre esta ou aquela área do saber para, a partir deles, continuar a desenvolver os conhecimentos. Retomar o que já foi produzido está na base de validação do conhecimento científico. É o que fazemos aqui, neste Guia, ao nos embasarmos no pensamento de alguns teóricos, conforme acontece logo abaixo, em nossa discussão sobre as diferentes formas de saber. Seguindo a autora Eva Eva Lakatos (2000), em sua apreciação histórica das formas de conhecimento, destacaremos adiante quatro delas: Científica, Filosófica, Religiosa (ou teológica) e o Popular: Conforme Trujillo (apud LAKATOS, 2000, p. 18), Conhecimento popular é valorativo, pois se fundamenta numa seleção operada com base em estados de ânimo e emoções: como o conhecimento implica uma dualidade de realidades, isto é, de um lado o sujeito cognoscente e, de outro, o objeto conhecido, e este é possuído, de certa forma, pelo cognoscente, os valores do sujeito impregnam o objeto conhecido. É também reflexivo, mas, estando limitado pela familiaridade com o objeto, não pode ser reduzido a uma formulação geral. A característica de assistemático baseia-se na "organização" particular das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das idéias, na procura de uma formulação geral que explique os fenômenos observados, aspectos que dificultam a transmissão, de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito ao que se pode perceber no dia-a-dia. É falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouve dizer a respeito do 15
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objeto. Em outras palavras, não permite a formulação de hipóteses sobre a existência de fenômenos situados além das percepções objetivas. Analisando a citação acima, podemos notar que o conhecimento popular é bastante utilizado, mesmo entre nós, que desde a escola básica estamos em contato com o conhecimento científico. O conhecimento popular é aquele que nasce através das nossas trocas diárias completamente livres de métodos, justificativas ou qualquer outra preocupação. E nisto está principal do saber popular em relação à ciência. Nesta forma de aquisição do conhecimento, agimos afetivamente, valorizando aquilo que a nós nos parece mais plausível, sem qualquer preocupação com a validade destes saberes na esfera universal. Embora haja reflexão e verificação, a exemplo do que vemos em ciências, no saber popular essas características são completamente aleatórias, o que faz dessa forma de conhecimento falível e inexata. O saber popular gera e geri o senso comum. Ainda segundo Trujillo, O Conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses que não poderão ser submetidas à observação. Por este motivo, o conhecimento filosófico é não verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. É racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Tem a característica de sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. É infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação). É caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria razão humana (p. 19).
Ao contrário do que reza o senso comum, as verdades filosóficas não são verificáveis. Porém, diferentemente do conhecimento popular, elas não são falíveis. O conhecimento filosófico consiste em um sistema completamente abstrato, assim como o é a matemática, por exemplo, (abstrata e infalível). Seu método racional de elaboração dos 16
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enunciados lhe o estatuto de infalível e universal. A razão, por ser uma faculdade humana, torna conhecimento filosófico inteligível pelo mundo todo. Em relação a o conhecimento religioso, Trujillo afirma que: Conhecimento religioso apóia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas). É um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino; suas evidências não são verificadas: está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Parte do princípio de que as "verdades" tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em "revelações" da divindade (sobrenatural). A adesão das pessoas passa a ser um ato de fé, pois a visão sistemática do mundo é interpretada como decorrente do ato de um criador divino, cujas evidências não são postas em dúvida nem sequer verificáveis (p.19).
O conhecimento religioso, por suas características, é diametralmente oposto aos conhecimentos filosófico e científico, Uma vez que ele é baseado na adesão irrefletida, e não na crítica. Mas, reparemos. O que se abandonou foi o conhecimento religioso como forma válida de produzir conhecimentos a respeito do mundo. Culturalmente, no plano espiritual, a religião ainda permanece presente e cumpre um papel importante, num campo em que a ciência não avança: o da inclinação do homem para a transcendência.
Por fim, a respeito do conhecimento científico, Trujillo afirma que: Conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrência ou fatos, isto é, com toda forma de existência que se manifesta de algum modo. Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida por meio da experimentação e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado
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logicamente, formado por um sistema de idéias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos. Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final, por este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teorias existentes (p.20).
Aqui, chegamos à forma de conhecimento que é praticada no ensino superior. O conhecimento científico baseia-se em verificação (experimentação) e abstração (lógica racional). Sob sua batuta articulam-se metodologicamente expectativas e resultados, num procedimento de tal modo revolucionário em relação às demais formas de conhecimento que a ciência acabou tornou-se, desde a modernidade, a principal instituição social de interpretação do mundo e elaboração de soluções instrumentais para a humanidade. Por suas características, o saber científico nunca é definitivo. A exploração dos conhecimentos já produzidos através do trabalho de pesquisa acaba por reformular o corpus das áreas do conhecimento. Nos mundos da ciência e da filosofia, a pergunta é sempre mais valorosa que a resposta. Tenhamos isto em mente sempre! Neste breve relato das principais formas de conhecimento, fica evidente o importante papel do método para a validação dos saberes produzidos pela ciência e pela filosofia, o que não exclui a importância das outras formas de saber discutidas para a sociedade. Em conjunto, todas compõem o aparato simbólico da nossa aventura no mundo. Entretanto, para a finalidade da nossa disciplina e do seu curso, os rigores da ciência e da filosofia são imprescindíveis norteadores da nossa conduta enquanto acadêmicos. No universo da ciência, a pergunta está no cerne do processo de aprendizagem. Tenha isto em mente ao entrar em sala de aula, seja ela física ou virtual, e também ao redigir seus trabalhos acadêmicos. Vamos praticar um pouco do que já vimos como forma de fixar os novos conhecimentos?
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Olá pessoal, tudo bem? Nessa atividade, bem ao modo como se faz ciência, vamos retomar o que já estudamos para fazer a reflexão avançar. Toda a discussão sobre conhecimento religioso que travamos até aqui, relaciona-se com a ciência desenvolvida na Europa e que tomou conta de todo o ocidente. No Brasil, o mundo metodológico chegou através das caravelas portuguesas (engenhos científicamente desenvolvidos). O processo de apropriação desta “cultura do outro”, porém, não substitiu completamente a cultura local. O contato dos índios e negros com a cultura científica provocou uma mestiçagem também intelecutal. Este processo é o tema do poema “Erro de Português” , de Oswald Andrade, publicado em 1928. Sabendo de antemão que no poema estão em choque os conhecimentos científico e popular, escreva um texto dissertativo que use o que aprendemos sobre estas duas formas de conhecimento para interpretar o poema. Link para o poema : http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#erro
RESPOSTA COMENTADA O primeiro aspecto que chama nossa atenção ao pensar o poema em relação aos conceitos de conhecimento científico e religioso que estudamos é o título do poema. Ao passo que a ciência tem a questão da verdade, e portanto do que é certo, como finalidade, o poema se anuncia como um “Erro”. Lendo o poema, depreende-se que, pela metáfora ou metonímia da roupa, o poeta discute a imposição da cultura científica européia ao índio. Relacionando com a questão das formas de conhecimento, é como se o poema sugerisse que os portugueses cometeram um erro ao não deixar os índios despí-lo de sua cultura (cientifica) para vestí-lo com a cultura (popular, indígena). Entretanto, mesmo tento os portugueses colonizado culturalmente os povos nativos e outros trazidos para o trabalho escravo basta olhar para nossas ruas para notar a presenta destas duas formas de conhecimento em nosso mundo. As ruas serpenteiam pela paisagem, traindo sinuosamente a retidão dos quarteirões cartesianamente planejados. As casas, quando mais antigas, mais assimetrias apresentam, sinalizando que, apesar de todos os esforços, o conhecimento popular de antes da ciência ainda é bastante presente na organização do nosso mundo.
Para delinear melhor os modos de operação do conhecimento científico, vamos pegar carona com Chauí (2006) para ver esquematicamente as diferenças da relação do
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sujeito aprendiz com seu objeto de aprendizado em cada uma das formas de conhecimento que estudamos acima. A CIÊNCIA
O SENSO COMUM (popular)
A RELIGIÃO (o mito)
A FILOSOFIA
Critérios de verdade
A experimentação
A cultura ética e moral
A Fé
A razão
Metodologia
A observação
As crenças silenciosas (Ideologias)
A experiência pessoal
A dialética (O discurso)
Relação Relação suprapessoal, na qual Relação Relação interpessoal, na a Revelação do transpessoal na “impessoal”, A qual a ideologia Sagrado se manifesta qual a palavra isenção do cientista é estabelecida (revela) diz as coisas. Relação diante de sua pelas idéias sobrenaturalmente ao O mundo se sujeito-objeto pesquisa: O mito da dominantes e profano através do manifesta neutralidade pelos poderes rito (Dramatização pelos científica. estabelecidos. do mito, ou seja, da fenômenos. liturgia religiosa).
E com relação às características de cada uma das formas; CONHECIMENTO POPULAR
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Valorativo = baseado em ânimo e emoções, os valores do sujeito impregnam o objeto do conhecimento.
Factual = lida com ocorrências ou fatos, toda a forma de existência que se manifesta.
Reflexivo = não pode ser reduzido a uma formulação geral.
Contingente = proposições têm veracidade ou falsidade conhecidas pela experiência e não só pela razão.
Assistemático = organização particular das experiências, não geral.
Sistemático = saber logicamente ordenado, formando um sistema de idéias.
Verificável = limitado ao âmbito da vida diária.
Verificável = hipóteses precisam ser testadas.
Falível = se conforma com a aparência e com o que se houve dizer sobre determinado Falível = não definitivo, absoluto ou final. objeto. Inexato = não permite formular hipóteses para além das percepções objetivas.
Aproximadamente exato = novas proposições e técnicas podem reformular as teorias existentes.
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CONHECIMENTO RELIGIOSO (TEOLÓGICO):
CONHECIMENTO FILOSÓFICO Valorativo = baseado em hipóteses que não podem ser submetidas à observação, emerge da experiência.
Valorativo = apoiado em doutrinas com proposições sagradas.
Racional = consiste num conjunto de enunciados logicamente correlacionados.
Inspiracional = revelado pelo sobrenatural.
Sistemático = visa à representação coerente Sistemático = faz menção a origem, da realidade estudada, tentando apreendê-la na significado, finalidade e destino, mundo como totalidade. obra de um criador divino. Não verificável = emerge da experiência e não da observação/experimentação.
Não verificável = atitude de fé implícita frente ao conhecimento revelado.
Infalível = não é submetido ao teste da observação.
Infalível = verdades indiscutíveis.
Exato = ele é um esforço da razão pura, com Exato = aspira ser a manifestação da verdade a finalidade de questionar os problemas humanos e discernir entre o certo e o errado; imutável. emprega o método racional, em que prevalece a coerência lógica. Ainda com a ajuda de Marilena Chauí (2003), vejamos mais especificamente as diferenças entre o conhecimento científico e o senso comum, uma vez que a diferença entre os dois será a mais presente em nossa trajetória. Se o ensino básico e fundamental é cientificamente elaborado, como dissemos mais cedo, o trabalho crítico-metodológico a que temos acesso durante essa fase, enquanto alunos, não é suficiente para a finalidade em que nos inscrevemos ao optarmos pelo ensino superior. Aqui, estamos no nível de ensino que elabora os métodos com os quais nos beneficiamos na escola e também na vida cotidiana. Por isto é importante insistirmos na diferença entre atitude científica e senso comum. Vejamos o quadro tecido por Chauí (2006); SENSO COMUM
ATITUDE CIENTÍFICA
Subjetivo = exprime sentimentos e opiniões individuais ou de grupos, variáveis de acordo Objetivo = procura as estruturas universais e com as pessoas ou os grupos, dependendo das necessárias das coisas investigadas. condições em que vivem. 21
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Qualitativo = julga as coisas como pesadas/leves, doces/azedas, quente/ frio, etc.
Quantitativo = busca critérios de comparação e de avaliação para coisas que parecem ser diferentes.
Heterogêneo = refere-se a fatos que julga-se diferentes, porque percebe-se como diversos entre si.
Homogêneo = busca leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as mesmas para fatos que parecem diferentes.
SENSO COMUM
ATITUDE CIENTÍFICA
Individualizador = cada coisa ou cada fato aparece como um indivíduo ou como um ser autônomo.
Generalizador = reúne individualidades percebidas como diferentes sob as mesmas leis, os mesmos padrões ou critérios de medida.
Generalizador = tende a reunir numa só opinião ou numa só idéia coisas e fatos julgados semelhantes.
Diferenciador = não reúne nem generaliza por semelhanças aparentes, mas distingue os que parecem iguais desde que obedeçam a estruturas diferentes.
Estabelece relações de causa e efeito entre coisas ou fatos
Só estabelecem relações causais depois de estudar a estrutura do fato estudado e suas relações com outros semelhantes ou diferentes.
Admira o que é imaginado como único, extraordinário, maravilhoso ou miraculoso.
Surpreende-se com a regularidade, a constância, a freqüência, a repetição e a diferença das coisas e procura mostrar que o extraordinário é um caso particular do que é normal, regular, freqüente.
Confunde o conhecimento científico com a magia, considerando que ambos lidam com o misterioso, o oculto, o incompreensível.
Distingue-se da magia, opera um desencantamento ou desenfeitiçamento do mundo, mostrando que nele não agem forças secretas, mas causas e efeitos racionalmente inteligíveis.
Costuma projetar nas coisas ou no mundo sentimentos de angústia e medo diante do desconhecido
Afirma que, pelo conhecimento, o homem pode libertar-se dos medos e das superstições.
Cristaliza-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a realidade que nos cerca.
Procura renovar-se e modificar-se continuamente, evitando a transformação das teorias em doutrinas e destas em preconceitos sociais.
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“A ciência se distingue do senso comum porque este é uma opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas, enquanto a primeira se baseia em pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas e na exigência de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade” (CHAUI, 2003, p. 45). Para avançarmos, levemos conosco dois aspectos fundamentais da forma de conhecimento científica: sua adesão aos métodos e sua oposição radical ao modo de aprender do senso comum.
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DEFINIÇÕES DE CIÊNCIA DEFINIÇÕES DE CIÊNCIA
OBJETIVOS Agora que já demitamos as características do conhecimento científico em relação à algumas das formas de conhecimento mais comuns, vamos visitar algumas definições de ciência mais recorrentes, para aprofundarmos um pouco nossa apreciação sobre modo de construção do saber que estará presente em nossas vidas de graduandos e graduados. Retomemos Lakatos (2000), Conceito de Ander-Egg: “A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza”. Conceito de Trujillo: “A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”. Lakatos e Marconi: “A ciência, portanto, constitui-se em um conjunto de proposições e enunciados, hierarquicamente correlacionados, de maneira ascendente ou descendente, indo gradativamente de fatos particulares para os gerais e vice-versa (conexão ascendente = indução; conexão descendente = dedução), comprovados (com a certeza de serem fundamentados) pela pesquisa empírica (submetidos à verificação). [...] Ciência é uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se decide estudar. Um conjunto de atitudes e atividades racionais dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”.
"A ciência não é um órgão novo de conhecimento. A ciência é a hipertrofia de capacidades que todos têm. Isto pode ser bom, mas pode ser muito perigoso. Quanto maior a visão em profundidade, menor a 24
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visão em extensão. A tendência da especialização é conhecer cada vez mais de cada vez menos". (ALVES, 1996) Nas definições acima, as noções de método e sistema seguem as mais freqüentes. Na definição de Alves (1996), aparece uma preocupação resultante da evolução da ciência apresentada definições anteriores: o excesso de especialização. Por exemplo: o desenvolvimento das técnicas de mineração resultou em problemas ambientais, assim como a evolução da tecnologia biomédica nos coloca hoje diante de impasses éticos. Além do conhecimento de técnicas, leis e métodos, o fazer científico cobra do cientista responsabilidade e conseqüência. O cenário da especialização, na atualidade, está sendo substituído pelo cenário da interdisciplinaridade. Tradições científicas e diferentes áreas profissionais cada vez mais se agrupam em busca de pontos de vista mais complexos sobre o mundo.
3.1
CONCEPÇÕES DE CIÊNCIA
No universo científico, diferentes concepções de ciência ganharam finalidade e espaço, gerando diferentes modelos de “objetividade”. Os modelos que discutiremos abaixo não se excluem entre si, antes se complementam, sobretudo diante do cenário interdisciplinar atual, a que aludimos antes. Ainda seguindo a trilha de Chauí (2006), conheçamos o empirismo, o racionalismo e o construtivismo. Reparemos como se trata de concepções ideais de cientificidade para o entendimento da natureza e da própria ciência. Durante a leitura, tente descobrir qual ou quais destas concepções se adéquam melhor à sua área do conhecimento, isto é, ao curso superior que você escolheu. O EMPIRISMO, como concepção de ciência cujo modelo de objetividade se origina na medicina grega, entende que a ciência é a interpretação dos fatos baseada em observações e experimentos. Nesse sentido, a única forma válida de conhecimento é aquela obtida através do emprego dos sentidos1, pois só assim é possível elaborar induções que nos leve à definição do objeto (suas propriedades e leis fundamentais). Entretanto, é importante destacar que as teorias do empirismo resultam das observações 1
“De acordo com esse ponto de vista, se alguma coisa não pode ser observada então de nada adianta tentar explicar fenômenos naturais ou de qualquer outro tipo” (JOHNSON, 1997, p.83).
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e dos experimentos, mas elas não se colocam na obrigação de confirmar conceitos, mas sim na função de produzi-los (CHAUÍ apud AUED, 2006). Assim, “tudo o que se pode fazer
é
compreender
empaticamente
uma
seqüência
de
acontecimentos”
(WALLERSTEIN, 1999, p. 454). Se retornássemos Platão, poderíamos acusar uma divergência entre o empirismo e o pensamento do filósofo grego, posto que ele criticasse a sensibilidade como instrumento do saber para depositar todas as fichas na racionalidade. Porém, a sensibilidade, no empirismo, fica a serviço do método, e não do senso comum, o que recoloca essa corrente na chave científica. Em contraste, a concepção do RACIONALISMO, cujo modelo de objetividade se origina da Matemática, entende que a ciência é conhecimento dedutivo e demonstrativo (portanto, é conhecimento capaz de provar a verdade necessária e universal de seus enunciados e resultados). Em outras palavras, o racionalismo é a unidade sistemática de axiomas, postulados, definições (que determinam a natureza e as propriedades de seu objeto) e demonstrações que provam as relações de causalidade que regem o objeto investigado. Aqui, objeto científico é a representação intelectual universal, necessária e verdadeira das coisas representadas, correspondendo à própria realidade (que é racionalmente e inteligível). Assim, as experiências científicas são realizadas para verificar e confirmar demonstrações teóricas, e não para produzir o conhecimento do objeto uma vez que esse só pode ser conhecido exclusivamente pelo pensamento (CHAUÍ apud AUED, 2006). Para as ciências exatas e para a filosofia, a concepção racionalista serve feito uma luva. No campo das ciências sociais, porém, outras abordagens ganham espaço e questionam a lisura abstrata dos enunciados puramente racionais. Por isto, dentro das ciências sociais, o racionalismo tem nomes específicos, como o método nomotético, que preconiza a existência de regularidades no mundo social (WALLERSTEIN, 1999) ao focalizar enunciados gerais que expliquem padrões sociais mais amplos (JOHNSON, 1997). A concepção de ciência CONSTRUTIVISTA, iniciada no XXI, se diferencia das concepções empirista e racionalista porque entende que a ciência é uma construção de modelos explicativos da realidade, e não uma representação da própria realidade. Nas duas definições anteriores, essa idéia já estava expressa, porém não era assumida. Nesse sentido, o trabalho científico exige que o método permita construir axiomas, postulados, definições e deduções sobre objeto (coerência entre os princípios) e, ao mesmo tempo, que a experimentação empírica guie e modifique axiomas, definições e demonstrações 26
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(os modelos dos objetos ou estruturas dos fenômenos são construídos com base na observação e na experimentação empírica). Em síntese, a concepção construtivista não espera que o trabalho cientifico apresente a realidade em si, mas que ofereça estruturas e modelos do funcionamento da realidade (CHAUÍ apud AUED, 2006). Essa concepção demonstra a evolução da compreensão do papel do conhecimento científico no mundo contemporâneo. A partir do século XX, passa-se a entender que o discurso científico, por seus rigores, configura antes um campo fechado de interpretação da realidade do que um discurso acerca da realidade propriamente dita. O advento do construtivismo relativiza a ambição grega de dizer “a verdade” sobre mundo e recoloca a ciência ombro a ombro com as outras formas de conhecimento que foram desprestigiadas por ela ao longo história, e que serviram de apoio para que o saber científico pudesse construir a autoridade de que goza nos dias de hoje. Vejamos abaixo um quadro comparativo das três concepções de ciência que vamos discutindo.
RACIONALISMO
EMPIRISMO
Ciência como conhecimento racional dedutivo.
Ciência é interpretação de fatos baseados em observação e experimentos para estabelecer induções.
Se todas as premissas são verdadeiras a conclusão deve ser verdadeira.
Se todas as premissas são verdadeiras a conclusão é provavelmente verdadeira, mas não necessariamente.
Toda conclusão, ou conteúdo factual, já estava implícita nas premissas.
A conclusão tem informação que não estava implícita nas premissas.
RACIONALISMO
EMPIRISMO
CONSTRUTIVISMO Ciência como construção de modelos explicativos da realidade (e não a própria realidade). Combinação do empirismo e racionalismo com acréscimo: conhecimento aproximável e corrigível. Definições, axiomas, etc. podem ser modificados pela experimentação.
CONSTRUTIVISMO
Objeto científico: representação intelectual verdadeira das coisas representadas.
Objeto científico: representação intelectual verdadeira das coisas representadas.
Objeto científico como construção lógico-intelectual diferente da realidade em si mesma.
Corresponde à própria realidade, racional e
A experiência produz conceitos.
Apresentação de uma “verdade aproximada”. 27
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inteligível em si mesma. As experiências científicas são realizadas para verificar confirmar as demonstrações teóricas e não produzir conhecimento sobre o objeto. Definição do objeto; leis; dedução das propriedades; efeitos posteriores; previsões.
Cuidado com os métodos experimentais para a formulação de teoria e garantia de objetividade. Suposições sobre o objeto; observações e experimentos; definição de fatos e leis; propriedades, previsões.
Ideal de cientificidade: 1. que haja coerência entre os princípios que orientam a teoria; 2. que os modelos dos objetos (fenômenos) sejam construídos com base na observação e experimentação; 3. que os resultados possam alterar os modelos, mas também os próprios princípios da teoria.
“Tanto no racionalismo como no empirismo a teoria científica é tida como explicação e representação verdadeira da própria realidade, caráter de verdade absoluta. Para o construtivismo a teoria científica é uma verdade provisória, construção intelectual possível”. (CHAUI, 2003, p.65) Nesta breve reflexão sobre as formas de conhecimento e sobre as definições e concepções de ciência, nos deparamos com um catatau de desconcertantes problemas, filosóficos e pragmáticos, que constituem o assunto da teoria do conhecimento, ou Epistemologia. A celeuma serve apenas para nos deixar intranqüilos quanto à validade dos saberes científicos, de modo que, através do trabalho crítico, nós possamos contribuir ativamente para o aprimoramento e para a renovação do conhecimento humano.
Finalmente podemos assumir que, por que estivemos na companhia da Filosofia, não chegamos a nenhuma resposta definitiva. Não era essa nossa intenção. Se já sabíamos, entendemos com riqueza maior que é através da discussão crítica que o conhecimento progride, e em se tratando de ciência, a progressão é metodologicamente arquitetada. Recuemos um pouco agora no horizonte perspectivo para pensar a nossa entrada neste universo do saber, afinal, já participamos dele desde a matrícula no ensino superior.
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4 LEITURA E EXPRESSÃO ESCRITA
LEITURA E EXPRESSÃO ESCRITA
Neste capítulo, vamos buscar entender melhor como cada um de nós, estudantes, se inscreve no universo do conhecimento científico. Até aqui, passamos por grandes nomes, conceitos e concepções de ciência. Tanta autoridade muitas vezes provoca desconforto e medo, o que é equivocado: ciência se faz com o trabalho cotidiano de cada agente envolvido com o universo dos estudos e da pesquisa. Através da leitura e da escrita, problemas de pesquisa com diferentes níveis de complexidade são investigados por alunos, professores e pesquisadores, entretecendo de modo solidário e crítico a infindável teia do saber. Mas, porém, é importante ter em mente que os problemas científicos não surgem da leitura que “apreende” conteúdos nem são resolvidos pela escrita que narra o já sabido. Em ciências, lê-se até saber aquilo que o texto já não revela e escreve-se para além do sabido, explorando os limites da compreensão daquilo que foi entendido. O modelo de alfabetização a que somos submetidos, seja no ensino público ou particular, nos prepara para ler as informações da imprensa, onde tudo é positividade. Isto se deve, também, ao fato de que as teorias da leitura disseminadas na pedagogia e nos cursos de comunicação tornaram-se ultrapassadas. Os modelos que entendem o texto como um reservatório de conteúdos a serem decifrados e apreendidos vigoraram no mundo do conhecimento desde o pensamento da Grécia Antiga até os idos dos anos sessenta do século passado (Séc. XX). Foi quando sugiram as Teorias da Recepção e do Efeito Estético, que revolucionaram a compreensão do processo da leitura. Criadas na Alemanha, elas ainda não foram muito difundidas por aqui. Mas já possuímos um grande representante brasileiro nesta área do saber: Luiz Costa Lima – renomado professor de literatura carioca e colunista eventual da Folha de São Paulo. Entretanto, aqui não estudaremos as teorias da leitura propriamente. Teremos notícias das novidades que ela traz por meio da compreensão do texto professada no texto que segue, sobre leitura, escrita e problema de pesquisa. Vamos lá? 29
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4.1
LEITURA, ESCRITA E PROBLEMA DE PESQUISA2
Antes de avançarmos pelo famigerado pensamento científico propriamente, nos convém procurar por uma imagem que apazigúe a fama malsã que a disciplina carrega. No mundo prático e instrumental em que vivemos, que não raro se torna excessivamente reducionista, os cuidados do fazer científico são vistos freqüentemente como rigores engessantes, capazes de tornar o trabalho acadêmico uma tarefa burocrática e entediante. Se o Pensamento Científico, porém, se parecesse com isto, ele não haveria de ter sido tema para narradores sensíveis como Umberto Eco (1977) e poetas líricos como Gaston Bachelard (2001). Precisamos lançar pontes sobre esse abismo juntos. Encontramos uma boa imagem para nos socorrer neste afã de desconstruir o imaginário pernicioso do fazer acadêmico no seguinte trocadilho: “Pensamento Científico é o cão, mas cachorro é o melhor amigo do homem.” Aquilo que nos parecer o diabo pode ser generoso, de grande valia e plenamente acessível. Tradicionalmente, o Pensamento Científico é abordado pelo viés da tipologia dos métodos de pesquisa e os rigores formais (normas) do texto acadêmico, o que lhe valeu a fama de disciplina fria e tediosa. O nosso percurso cuidará destes aspectos também, afinal, o que caracteriza a ciência é o método. Mas é importante saber que a familiaridade com a tipologia dos métodos vem com a prática da pesquisa, não é exigido de ninguém dominar todas as técnicas antes da prática. É no uso que a naturalização dos rigores acontece. Portanto, comecemos a tratar o pensamento científico sem letra maiúscula, com mais intimidade. Nas faculdades, centros universitários e universidades, os alunos entram em contato com os rigores formais da pesquisa através da sistemática das orientações bancas avaliativas. No caso da iniciação científica do Unis-MG, por exemplo, os trabalhos passam por três avaliações parciais, em que os avaliadores sugerem direcionamentos para aprimorar a pesquisa em desenvolvimento, de modo que ela vá para a avaliação final com as condições acadêmicas necessárias para aprovação. A pesquisa é um trabalho de criação coletiva. Ainda que o pesquisador desenvolva seus estudos individualmente, para ter validade acadêmica estes estudos precisam ser apresentados à comunidade científica em congressos, simpósios e outros eventos de intercâmbio de pesquisa. 2
Por Renato de Brito
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Como se vê, ciência é produzida por gente como eu e você. E se não parece, é por conta de certas tradições acadêmicas que, na tentativa de reduzir a subjetividade do processo da ciência em busca da objetividade absoluta, acabam contribuindo para a formação de um imaginário desumanizado do fazer científico. Uma das práticas que contribuem para isto mais explicitamente é aquela que ordena a retirada das marcas de identificação do sujeito do discurso científico. Para conquistar o lugar de respeito que ocupa na sociedade contemporânea, ao longo da história da ciência essa prática simplória ganhou importância e legou conseqüências vastas, especialmente para os iniciantes na prática acadêmica. Vejamos um exemplo. “A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”. Na frase acima, o sujeito enunciador está oculto, não é possível identificá-lo na sentença, o que faz parecer que a ciência é uma instituição capaz de afirmar-se por si no mundo, como se ela não fosse um conceito completamente abstrato, questionável pela própria natureza e, nos termos acima apresentados, fruto da ação de um sujeito enunciador. O que há por trás dessa frase é a voz de um pesquisador que, embasado na sua experiência e formação, define ciência nos dizeres apresentados. Em discursos assim, o que fica excluído é somente a marca textual da pessoa, mas é sempre um sujeito de carne e osso aquele que escreve como, você e eu. Um cientista é um sujeito que iniciou a vida acadêmica cursando a educação superior, como estamos fazendo aqui, e que extrai sua autoridade muito mais dos anos de prática e dedicação ao trabalho científico do que de uma superioridade intelectual qualquer. Ciência é um fazer cotidiano, um trabalho como outro qualquer. As pessoas que se dedicam a fazer ciência, dentre as quais agora nos incluímos, orbitam em sua prática em torno de três grandes pontos articuladores: a leitura, a escrita e o problema de pesquisa. Ainda que o pesquisador tenha por objeto aquilo a que nos acostumamos chamar de “realidade”, em sua abordagem ele procederá com uma leitura. De outra parte, independentemente da área do conhecimento a que ele pertence, seu trabalho deverá ser registrado por escrito. E o que mobilizará ambos os gestos do pesquisador será a discussão de um problema de pesquisa. Primeiramente, convém saber que um “problema de pesquisa” não se assemelha a um problema da vida cotidiana. Parece mesmo que “problema” não seja o termo mais adequado para este conceito acadêmico. “Limite” talvez fosse mais adequado, uma vez 31
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que a invenção do “problema de pesquisa” está situada na junção entre aquilo que a ciência já produziu e a necessidade obstinada de levar esse corpo de conhecimento a novos horizontes. Assim, para entender como se inventa um “problema de pesquisa” é preciso lembrar que cada pesquisador fala em nome de certa ciência. Seu trabalho é o de expandir o corpo de conhecimentos da área do saber em nome da qual ele fala, de expandi-lo em direção à diferenciação. Duas responsabilidades, portanto, estão em questão no jogo da invenção do problema de pesquisa: repetir e diferenciar. Para fazer ciência é preciso repetir e repetir até ficar diferente. Só repetir não é o suficiente. Não repetir não é admissível. Pensamento científico é sistematicidade e diferença. Resumindo em uma frase: fazer ciência é ler o que já foi escrito a respeito do que foi pensado e encontrar nesse texto uma dobra, um ponto cego, uma zona de não dito que sirva de problema para o pesquisador. O “problema de pesquisa”, portanto, não pode ser encontrado no mundo apenas, deve nascer sempre do diálogo com os textos acadêmicos. E a parte encontrada no mundo, quando houver, deverá ser transgredida a discurso (interpretada) para que possa ser criticada. Portanto, para enlear a ciência o pesquisador deve fazer seu trabalho pendular com entrega entre a curiosidade e a confissão, isto é, entre a leitura e a escrita, sempre. Trata-se de, primeiramente, evocar o já feito, ou um pouco do que já foi feito, para, em segundo lugar, desdobrá-lo em comentários acerca daquilo que ficou por dizer. São essas as bases movediças do saber acadêmico, um incessante movimento de impressão e expressão, de desconstrução e construção, de repetição e diferença. E aqui, ainda nos primeiros parágrafos de nossa travessia, assistimos a morte de um mito: o fazer científico não exige a competência de um talentoso, mas a dedicação de um humilde. Explico-me. Ocorre que não se exige que o estudioso acumule vasta erudição para que seu trabalho seja considerado pertinente. A pesquisa acadêmica dispõe de uma gama de registros diferentes, tais como, teses, dissertações, monografias, artigos, resenhas, resumos, ensaios. Cada tipo de documento exige determinado esforço de pesquisa e tem objetivos distintos. Alguns demandam grande labor, como a tese, em que se exige que o pesquisador discuta um problema inédito para a área do saber evocada. Para um trabalho assim, naturalmente, é preciso ter certa erudição do corpo científico. Por isto, as teses, no Brasil, são trabalhos acadêmicos cobrados apenas de quem aspira ao título 32
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de Doutor, a mais alta patente acadêmica reconhecida legalmente no país. Outros documentos, porém, exigem conhecimentos bem mais modestos, como o artigo científico e a monografia, em que o estudioso deve se preocupar apenas em ser claro ao discutir um problema pontual. Por isso, são essas as produções que se exige que um graduando ou pós-graduando realizem para merecer seus títulos. De idêntico, todos os tipos de trabalho acadêmico têm o fato de que, na história de sua construção, os cientistas estiveram a ler e escrever. Por mais prodigiosa que seja a mente do pesquisador, ela precisa de alguns anos de leitura para ser capaz de discutir a fundo um tema mais largo. Do mesmo modo, por mais preguiçosa que seja a pesquisa, ela será aceitável apenas se for realizada com leitura criteriosa e detida, e registrada em escrita clara e generosa. Avencemos um pouco na reflexão acerca dos gestos de leitura e escrita. Para caracterizar a leitura acadêmica, se nos fosse autorizado tomar livremente conceitos dos estudos de texto, poderíamos nos dar por satisfeitos utilizando os termos “compreensão” e “interpretação”. Por compreensão de um texto, definiríamos a competência de retomar as idéias do autor, sem, no entanto, poluí-las com nossas impressões e opiniões acerca do que está escrito. A compreensão bem sucedida exigiria esse asseio literário. Reproduzida pela escrita, a manifestação da boa compreensão seria expressa pela nossa capacidade de parafrasear textos, ou em outras palavras, de repetilos com nossas palavras. E aqui a preguiça intelectual encontrar-se-ia deitada em rede mansa e à sombra de coqueiros: para compreender um texto não seria preciso saber nada, e nem seria preciso pensar: bastar-nos-ia ouvir com os olhos: ouvir silenciosamente o que o autor do texto deixou narrado. Ainda não seria hora de lançar os olhos críticos e articular uma interpretação sagaz e ambiciosa sobre o sentido último do texto, tal como aprendemos na escola. Este gesto ficaria reservado para um segundo momento, o da interpretação, que seria mais segura de si tanto quanto mais demorado e curioso fosse o trabalho de compreensão, quer se tratasse da leitura de um ou de cem textos. E a boa nova desta brincadeira de dividir a leitura em compreensão e interpretação é que ela traduz verdadeiramente os ensinamentos trazidos pelas teorias do efeito estético a que nos referimos antes. É tudo verdade! Para ler bem não é preciso pensar, o esforço intelectual é completamente dispensável, e mais ainda, deve ser evitado!
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Todo texto é uma estrutura de apelo produzida precisamente para contar algo ao leitor, é uma matéria generosa da qual, inicialmente, não é preciso desconfiar. Essa regra é válida para todo e qualquer texto, seja ele literário, jornalístico, fotográfico ou cinematográfico. Com relação ao texto acadêmico, outros aspectos são interessantes. Um texto acadêmico, pensado abstratamente, apresenta a seguinte estrutura básica: uma introdução que narra resumidamente tudo aquilo de que o trabalho trata, um resumo, que narra introdutoriamente aquilo que se discute, uma descrição minuciosa do “problema” e, por fim, a conclusão tirada da celeuma. Por conta deste arranjo, é comum que os leitores de textos acadêmicos iniciantes desistam da leitura no meio da empreitada, o que quase sempre acontece durante a fase de “problematização” do trabalho, antes que o autor tivesse a oportunidade de narrar o desenredo do “problema” e a conclusão a respeito do assunto. Independentemente de ser acadêmico ou não, um texto é uma unidade que só entrega seu sentido aos que têm a paz de fazer a travessia (leitura) completa. Por vezes a travessia é longa, centenas de páginas. Porém, convenhamos, ela não cobra do leitor mais que a atenção devota (ouvir com os olhos) àquilo que a escritura confessa. Na economia dos textos acadêmicos, a fase da compreensão de texto serve ainda para cumprir outra tarefa: a construção dos referenciais teóricos, ou seja, a parte evocativa do trabalho de pesquisa, na qual o pesquisador presta seus respeitos à ciência em nome da qual ele fala. Atropelar a fase de compreensão da leitura ou confundi-la com a interpretação na hora da escrita resulta em que o pesquisador se sinta sem palavras para estender sua discussão por várias páginas. Oxalá teremos paz-ciência para não cometer esse reducionismo em nossos trabalhos. Paz-cientemente trabalhada a compreensão, podemos então passar à nossa segunda fase inventada: a da interpretação do texto. Em nossa economia narrativa de brincadeira, equivale ao momento de confessar as impressões pessoais acerca dos argumentos ouvidos (com os olhos) durante a compreensão. A interpretação volta-se reflexivamente para a compreensão, e conta a ela as perguntas constrangedoras que toda leitura bem feita faz surgir. Tarefa igualmente diáfana, puro trabalho de invenção, a interpretação costuma colocar alguma dificuldade para os acadêmicos, sobretudo os demasiado ambiciosos. A impossibilidade de retomar as idéias do autor diante da emergência de criticá-las solicita do estudioso antes um novo gesto de humildade que de sagacidade. Uma compreensão do texto bem feita faz com que o leitor chegue ao final da travessia naturalmente com algumas perguntas em mente. E não é preciso 34
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empreender esforço racional para que as perguntas surjam. Sempre que escrevemos, nos vemos diante da obrigação de fazer passar um pensamento denso pelo espaço estreito de uma palavra. Neste espaço estreito de linhas que formam parágrafos e que compõem textos completos, a seleção do que é dito sempre deixa em sombras toda uma zona de não dito. Para dar um exemplo prático de interpretação, retomemos o trocadilho que nos socorreu ao começar esse texto: “Pensamento Científico é o cão, e o cachorro é o melhor amigo do homem.” A interpretação do trocadilho seria satisfatória se referisse ao fato de que os termos “cão” e “cachorro”, utilizados na composição, são sinônimos e ao mesmo tempo operam uma inversão de sentido: na primeira parte da expressão, ele serve para caracterizar depreciativamente o Pensamento Científico, e que no segundo momento, serve para revalorizá-lo. Nesta interpretação, percebe-se que o texto gerou perguntas sobre a função dos termos sinônimos na economia narrativa do período, e que não houve paráfrase do período analisado, isto é, o trabalho de compreensão não foi realizado. Para fazer a compreensão desse mesmo trecho, poderíamos dizer que o autor afirma, através de expressões populares, que a metodologia científica é desagradável, mas que ao mesmo tempo é de grande ajuda. E Se desejássemos dar mais dignidade científica para nossa análise, seria preciso buscar na literatura dos gêneros textuais a caracterização do conceito de “trocadilho”, ou pelo menos confessar que, se classificamos a frase como um “trocadilho”, é tão somente por apreço à palavra “trocadilho”, sem o menor compromisso coma acepção acadêmica ou mais recorrente do termo. Como podemos perceber, sempre que narramos, seja lendo o texto ou o mundo, abrimos naturalmente espaço para o comentário crítico: tal fenômeno é da natureza da comunicação verbal (á qual estamos submetidos desde que aprendemos a falar), daí podermos dizer que para compreender e interpretar não é preciso pensar: basta se deixar levar pelas sugestões. O texto escrito é como o peso das asas necessário ao vôo. As letras impressas são como que as asas, o feno fino da compreensão. O sentido interpretado, este é o “voar para fora da asa” de que o poeta Manuel de Barros (2007) fala. Feito este percurso inicial, esperamos ter desenhado um lugar mais confortável para o estudo e a pesquisa. A disciplina Introdução ao Pensamento Científico tem como 35
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horizonte mais largo o desejo de ajudá-los a aproveitar melhor todas as disciplinas do seu curso, e se tivermos talento, inspirá-los a enveredar na pesquisa científica. De imediato, que essas lições de leitura nos sirvam para criticar nosso Guia de Estudos. E sem perder tempo, vamos exercitar as habilidades de interpretação e compreensão de texto?
No texto “Leitura, escrita e problema de pesquisa”, encontramos um convite para participarmos do fazer científico e ao mesmo encontramos uma crítica ao nossos hábitos de leitura e de escrita. Tomando por base as “técnicas” de compreensão e interpretação de textos, redija um comentário dissertativo e crítico acerca do texto abaixo proposto. http://caderno.josesaramago.org/2009/03/11/sentido-comum
Compreensão:
Interpretação:
RESPOSTA COMENTADA Compreensão: O texto de José Saramago apresenta uma discussão que envolve três elementos principais. A política, o conhecimento científico e o conhecimento religioso. Ao anunciar que a o presidente americano Barack Obama decretou o fim de barreiras ideológicas para pesquisas da área de saúde, o autor destaca que isto equivaleu à devolução das decisões científicas a este ramo do saber, o que contraria as diretrizes do conhecimento religioso, como fica evidente a leitura que o periódico do vaticano fez do caso. O autor mostra-se favorável à decisão do presidente americano, o que fica explícito no último parágrafo da crônica. 36
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Interpretação: Esta crônica de Saramago nos deixa ver o intrincado jogo de poder disputado entre três grandes instituições humanas Estado, Igreja e Ciência. O tom amplamente favorável à ciência tem uma justificativa biográfica: Saramago sempre foi declaradamente ateu. Porém, não é neste dado que ele embasa sua argumentação. É em defesa dos enfermos que o autor defende a decisão do presidente americano, mencionando que, com ela, as decisões e responsabilidades da ciência voltam ao âmbito desta instituição social, onde a Igreja costuma tentar interferir com freqüência, na tentativa defender seus dogmas. Remontando à história, encontramos que, durante a Idade Média, Igreja e Estado trabalhavam juntos a organização da sociedade, donde vem a forte presença do ponto de vista religioso no mundo científico. Foi a evolução das ciências que engendrou novas formas de organização dos Estados, como a democrática, por exemplo, o que teve o efeito de retirar a instituição religiosa da organização legal das sociedades, configurando-se assim uma nova dupla dominante: Estado e Ciência. Olhando assim, retrospectivamente, entendemos com maior riqueza a peleja que a crônica de Saramago encena.
Nesta primeira unidade do nosso Guia de Estudos, fizemos uma rápida incursão pela história da ciência para, ao fim, trazer este universo mais para perto de nós, através das questões da leitura escrita e problema de pesquisa. Para os capítulos seguintes, é importante levar o papel central da retomada do corpo de saberes já desenvolvidos para a elaboração da crítica científica, a importancia do referenciamento bibliográfico e também a necessidade do rigor metodológico, se desejamos ser atores da construção acadêmica do conhecimento.
4.2
RESUMO
Neste capítulo conhecemos um pouco da história das ciências, alguns conceitos de ciência e entendemos que ela se diferencia das outras formas de conhecimento (religioso, filosófico e popular) pelos seus métodos. Conhecemos, também as concepções empiricista (experimental), racionalista (abstrata) e construtivista ( interpretativa) do saber científico. Por fim, compreendemos como, em nossa rotina acadêmica, entramos em contato com o universo dos rigores científicos através dos gestos da leitura, da escrita e da elaboração de problemas de pesquisa.
4.3
APONTAMENTOS SOBRE A PRÓXIMA UNIDADE
Na próxima unidade, conheceremos a diferença entre método e metodologia e enveredaremos pelos tipos de método mais famosos. 37
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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência. São Paulo, Ars Poética, 1996.
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Língua
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