FOLCLORE EM CORDEL

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FOLCLORE EM CORDEL uma antologia



Olegรกrio Alfredo (Mestre Gaio)

Folclore em Cordel: uma antologia

Belo Horizonte 2015


Todos os direitos reservados à Rolimã Editora © Olegário Alfredo Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem a autorização da editora.

cip-Brasil. Catalogação na Publicação | Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. A392f Alfredo, Olegário, 1954Folclore em Cordel : uma antologia / Olegário Alfredo. – 2. ed. – Belo Horizonte : Rolimã, 2015. 120 p. (Cordel de Minas) ISBN: 978-85-68936-08-5 1. Literatura de cordel brasileira. I. Título.

1ª edição: Crisálida, 2005 2ª edição: Rolimã Editora, 2015

produção editorial Lilian Lopes

capa & projeto gráfico

Milton Fernandes [sobre desenho de evaristo barbosa e caricatura de zé reis]

revisão

Márcia Coelho Contijo

rolimã editora ltda.

Rua Uberaba, 395 A sl. 2 • Barro Preto 30180-080 • Belo Horizonte • MG Telefone: (31) 3653-9412 rolimaeditora@gmail.com

CDD: 398.5 CDU: 398.51


| Índice dos Cordéis | 9

saci-pererê e os seres da mata cordel dos arturos é o rosário a lenda de zumbi a lenda de chico rei santo antônio um santo casamenteiro pedro malasartes e a sopa de pedras pedro malasartes e o urubu falante e assim os bichos falaram que bicho é esse? cintura fina, o rei da navalha a loura do bonfim a lenda do buraco negro o faminto de itamarandiba

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sobre o autor

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aos meus fillhos Carlos Alfredo e Fausto Rodrigues



O Saci-Pererê e os seres DA MATA Minha gente brasileira E também do mundo lá fora Vou contar para vocês No cordel que escrevo agora Sobre os mitos nacionais E as lendas dos animais Sem enrolar na demora. A mata já foi bem grande Misteriosa e encantada Hoje com a exploração Muita árvore foi cortada Muitos rios se acabaram Aos animais também mataram Quase ficamos sem nada. Nessa estória que escrevo Do começo até o final Saci-Pererê será O personagem central O negrinho feito breu O brasileiro elegeu Nosso herói nacional. O Pererê vai dizer O segredo da floresta Ele teme acabar tudo Que na mata ainda resta Fará uma reunião Quando o luar der clarão Lá onde seu povo faz festa. 9


O Saci vai convidar Os entes da mata escura A Iara também virá Pois é bela criatura Diz a Mula-sem-cabeça Eu cá não assistirei tal peça Pois lá tem coisa impura. Quem destrói a natureza Quer no sul, quer no norte O Saci fica nervoso Sapeca pimenta forte No olho do excomungado Deixa ele estropiado Preocupado com a morte. O Saci é boa gente Ele não é coisa malvada Ele só faz travessura Pela manhã e madrugada Ata as crinas dos cavalos Dá chute pelos badalos Depois cai na gargalhada. O Saci gosta também De esconder os objetos Dos que fazem piquenique Sem recolher os dejetos Da sobra da comilança Do adulto e da criança Deixada pelos trajetos.

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Do Saci digo também Bem pretinho e baixinho Natural da mata é Mas por se sentir sozinho Ele às vezes vem à cidade Lá na mata tem a caça Ele fala com graça Dê cá meu cachimbinho. O Saci com seu cachimbo Até parou de fumar Seu cachimbo é de enfeite O mato não vai queimar Quem quiser ver Pererê Na cidade, é na TV Saltitando sem parar. Agora quem vai falar De fato é o Pererê Sobre os mitos do Brasil Vai dizer para você É rico o nosso folclore Na união tudo colore Quem não gosta, nada vê. O Pererê está de vigia Venha cá, Curupira Tem homem botando fogo Na mata de sucupira Vai correndo, vai agora Põe o cabra para fora Amarre ele com embira.

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O Curupira vibrou Ele é o protetor da floresta Vai cumprir o seu dever Não tem caçador que presta Eles põem fogo na mata Para viverem na mamata No meio da maior festa. O Saci gosta de rir Do engraçado Curupira Os pés dele são virados Tem jeito de caipiria Corre muito na floresta Bate forte com a testa No toco da macambira. Lá vai o Saci-Pererê Pulando por mata fora Ele vai dizer quem é o Protetor da fauna e flora Eu vou logo adiantando A vocês apresentando Quem é o tal Caipora. O Caipora é da noite Protege os bichos e a flora Montado em porco-do-mato Vai cutucando com a espora Tem o corpo cabeludo Da mata sabe tudo Dá um berro, vai embora.

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Vendo a Mula-sem-cabeça O Saci ficou com medo A Mula saiu bufando Pulando como um torpedo Vem cá, descabeçada Vem contar para a criançada Disse o Saci do lajedo. Sou a Mula-sem-cabeça Fui pecar, levei castigo Quando eu era uma mulher Namorei um padre amigo Agora assusto toda gente Por levar cabeça quente Eu só como, não mastigo. Lá na mata o Saci Viu um clarão sarará Quando foi ver o que era Era o tal do boitatá O Saci gritou, gritou Boitatá retrucou Diga lá, meu camará! Boitatá é uma serpente De fogo no chafariz Mora no fundo do rio Não é triste, é feliz. Boitatá olha a floresta Caçador ela detesta O nosso povo é quem diz.

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No fundo da mata tem Visagem mal assombrada Saci-Pererê falou Boitatá é da pesada Solta fogo pela narina Leva vida malina Assusta de madrugada. Até logo Boitatá Vou atrás da Cobra-grande Ver em qual lugar esconde Por mais que o bicho ande Se souber de algo assim Bata um gancho para mim Pule no rio e debande. Falou Saci-Pererê Disse logo o Boitatá Saci-Pererê correu De madinga de lembá Venha cá, Cobra Norato Caia fora deste mato Cuidado com o carcará. A lenda da Cobra-grande O Saci dirá de pé É uma cobra que transforma Homem em mulher, dou fé Tem poder de enfeitiçar E pessoas então levar Lá para o fundo da maré.

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Negrinho do pastoreio Na vida foi judiado Sofreu tanto até morrer Na mão do patrão malvado Sendo órfão de pequeno Dizia, sempre sofrendo Ser de Deus seu afilhado. Os mistérios da floresta Na cabeça o Saci tem Todo bicho do folclore São amigos seus também O Saci dá o recado Verdade não é pecado O que é bom é viver bem. Cruz-credo para o Lobisomem Diz a criançada assustada Homem com cara de lobo Vivendo na madrugada Vou rezar para Jesus Para ele dar luz Ao passar na encruzilhada. O Saci-Pererê viu Um homem alto, bonito Saci ficou espiando Achando meio esquisito Já foi tirando o cachimbo Resvalando pelo limbo Não quis soprar seu apito.

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O Pererê percebeu Que o homem era o Boto O Boto é um peixe grande Se transforma em maroto Ele conversa e namora Ao dar a hora vai embora Parece do navio o piloto. O boto pulou no rio Fez acordar a Iara A Iara é a mãe dágua Todos ela ampara Dona Iara é vaidosa E também é carinhosa Todo mal ela declara. As crianças do planeta No folclore aclamaram Os protetores da natureza Muito alegres, festejaram A mata ficou feliz Os bichos pediram bis Todos se abraçaram. Saci lá vai saindo Saltitando pelo chão Agradece a criançada Do fundo do coração O folclore é legal O Saci é o maioral É como se fosse um irmão.

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Cordel dos Arturos É o Rosário

À Senhora do Rosário Peço eu iluminação Para falar dos Arturos Na sua peregrinação Este povo tão bonito Vive no meu coração. Nesta boa comunidade Só há gente de coragem Venceram a opressão E criaram estalagem Foi no Estado de Minas Na cidade de Contagem. Os Arturos são um povo Que vive em comunidade Venceram o preconceito Com toda fé e humildade É por isso que hoje em dia Lá só existe felicidade. O ano todo dos Arturos É trabalho, é folclore Quando é Folia de Reis Vejo que a vida colore As crianças na alegria Não há quem as ignore.

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A opressão dos negros Vai um dia acabar O exemplo dos Arturos Nós temos que observar Eles levam a bandeira Uma bandeira familiar. É através da família E também da religião Que a dor vai embora. Eu te digo, meu irmão Os Arturos, com sua fé Se livraram da opressão. Não há segundo sem primeiro Esta é a lei do universo Do começo dessa aldeia Falarei no outro verso Tomarei bastante fôlego Para não ficar disperso. Foi com o velho seu Artur Que a história começou O mistério do sagrado Aos seus filhos ensinou E a Senhora do Rosário Logo, logo ele adotou. A linguagem religiosa Dos Arturos é a fé Rezando todos os dias De joelho ou de pé Livraram-se da escravidão Mantiveram-se bem em pé. 18


Artur era trabalhador Trabalhava para o padrinho Tinha comida e abrigo Não tinha nenhum carinho Vivia longe do pai Era só um pobrezinho. Um dia chega a notícia Que seu papai faleceu Foi em fazenda vizinha Que tal fato ocorreu O menino quis ir até lá O padrinho aborreceu. E ao menino ceifou Não ligou para sentimento Ficasse ele trabalhando Não desse aborrecimento Que ele fosse para o paiol Ficar no esquecimento. Com lágrimas nos olhos Artur ao padrinho pedia O patrão jogou duro E nada de bom lhe dizia Uma lágrima do olho Do Artur escorria. O menino chorou tanto Que o seu padrinho apelou Levou na boca uma paulada Na hora seu dente quebrou Do menino veio o ódio Que só o tempo mitigou. 19


Passado muito tempo Artur já era bem crescido Prometera a si mesmo Manter tudo unido Formar uma só família Em um local muito querido. Foi assim que aconteceu Trabalhou bem para vencer Comprou pedaço de terra Para a família crescer Seus filhos descobriram Sem fé não dá para viver. Aos filhos ensinou Esta tão forte lição Podemos viver unidos Longe da escravidão Formaremos sociedade Com fé, força e união. Na família dos Arturos O negro irá libertar O amor que existe em si O branco há de respeitar Este povo maravilhoso Que leva a vida a cantar. Eu agora vou falar De uma festa maravilhosa Que hoje os Arturos festejam Nossa Senhora bondosa Dê agora inteligência Para uma escrita formosa. 20


FOLIA DE REIS Para não perder a hora Da minha cabeça, eis Tiraram as fitas das caixolas É o povo na Folia de Reis Saíram tocando violas Da madrugadinha até as seis. Agora que aprendi o á-bê-cê Vou pedir a Senhora do Rosário Paciência, fé e boa memória Para não esquecer o sacrário Sobre a Folia de Reis Descreverei o intinerário. De Portugal veio a folia Hoje o povo dança no folguedo Para mim é a coisa mais bela Que aprendi ainda bem cedo Não quero morrer, meu Deus Desejo viver sem medo. Os Ranchos, Ternos ou Folias Começam dançar no Natal Vão até seis de janeiro Nesta festança maioral Pedem auxílio para a bandeira Nas casas, passando pelo quintal. A estória da Folia de Reis Representa uma evocação Da caminhada dos Reis Magos Nas Gerais ou em outro chão Nela vão pastoras e pastores Atrás de Jesus, nosso irmão. 21



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