Como Recuperar Seus 21 Dias Perdidos

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Recuperar DiAS Jogados

Uma crĂ­tica ao livro 21 dias para transformar sua vida de Michael Aboud

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Índice --Agradecimentos Prefácio

--Introdução..................................................................................................... 4 Um resumo dos problemas do livro ........................................................... 6 Raízes teológicas do livro ............................................................................ 7 Lobos maus da cristandade ......................................................................... 9 Duvidar não é pecado ................................................................................ 14 Aquelas três perguntas .............................................................................. 16 Quem somos nós?...................................................................................... 17 Para onde estamos indo? ........................................................................... 20 Vitórias, promessas e motivações ............................................................. 23 Será que sempre vencemos? ..................................................................... 23 Quantas promessas Deus nos fez? ............................................................ 25 Amor, fé, perdão e fidelidade .................................................................... 28 O amor com um propósito diferente ......................................................... 28 O perdão e a fidelidade com um propósito diferente ................................ 31 A fé com um propósito diferente ............................................................. 32 Decidindo errado ........................................................................................ 34 Sementes ...................................................................................................... 35 Considerações finais................................................................................... 37

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Meus sinceros agradecimentos ao meu grande amigo Sidney Allan Maas e Alexander De Bona por terem revisado a ortografia e o conteúdo teológico do livro

--Para contato, crítica ou comentário, pensardoi@hotmail.com, romanos12.blogspot.com – Guilherme Adriano

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Prefácio Não sou mundialmente conhecido como Myles Munroe (que bom!) que prefaciou o livro de Michael Aboud 21 Dias para transformar sua vida. Não espero ficar famoso, nem ser grande aos olhos dos homens. Talvez você nem mesmo saiba quem eu sou. Isto é bom, pois pouco importa o meu nome e minha opinião, assim como o pouco importante é o irmão Guilherme Adriano que aqui nos apresenta uma resposta ao livro de Aboud. Característico daqueles que buscam honra para si mesmos é ostentar títulos e conceder honrarias que não cabem dentro da Igreja Cristã. Munroe diz que o livro de Aboud é erudito, ora segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, erudição é “conhecimento ou cultura variada adquirida especialmente por meio da leitura”. Em meus estudos universitários (Engenharia e Teologia) me disseram que a pesquisa científica é feita a partir de fontes confiáveis, bem conhecidas e acessíveis. Espera-se assim de uma obra erudita uma extensa referência bibliográfica, e muitas notas comprovando o quanto o autor leu a respeito do assunto a ser apresentado e o quanto ele domina o assunto. Não vejo isto na obra de Aboud, e não quero enaltecer o irmão Guilherme como se ele fosse um erudito em contrapartida. Guilherme com linguagem simples, com fundamento bíblico, e apresentando suas fontes de pesquisa nos apresenta a verdade a respeito da Teologia da Prosperidade, como aquela que é pregada por Aboud. A Teologia da Prosperidade é uma teologia contextual cujo método teológico se assemelha ao das demais teologias do genitivo (Teologias Negra, Homossexual, Feminista, etc.). Para estas teologias é a pessoa do teólogo em sua experiência com Deus, ou o grupo em sua experiência com Deus que faz teologia. A teologia “acadêmica” frequentemente é condenada por estes círculos como arbitrária, e vinda de cima. O surgimento destas novas correntes hermenêuticas se encontra no método da Teologia da Libertação. A Leitura Popular da Bíblia, segundo Carlos Mesters é a meio através do qual o povo simples lê a Bíblia e a interpreta conforme a sua vivência, não conforme os ditames de um sacerdote ou pregador instruído. O foco se torna a experiência da pessoa com Deus, e a Bíblia se torna apenas em um refém desta experiência. Ela perde seu caráter normativo, cedendo espaço para interpretações pessoais. A Teologia da Prosperidade atua da mesma forma. A experiência de alguns poucos que adquiriram riquezas torna-se a chave de leitura para a Bíblia. O que alguns poucos experimentaram, deve ser a experiência do outro também. O contexto se torna em norma, e a norma se torna em refém perdendo seu poder de crítica sobre a vida humana. Aquilo que originalmente parecia fazer com que o povo pudesse pensar livremente (conforme o projeto de Mesters, Boff, Libâneo e outros) se torna ao encontrar o pentecostalismo abíblico e interesseiro uma ferramenta para produzir riqueza a uns poucos e miséria a muitos. Recomendo a leitura do livro de Guilherme Adriano como uma ferramenta para a busca da verdade conforme revelada pelo Senhor nas Escrituras. Guilherme não se coloca como norma, nem sua vida como a experiência cristã genuína, pelo contrário, ele aponta para a cruz de Cristo, para o Evangelho como o caminho e para a Bíblia como revelação da vontade de Deus. Aquele que ler com cuidado, criteriosamente, analisando tudo conforme a Escritura diz terá grande proveito e poderá auxiliar outras pessoas para que não caiam nas falácias destes movimentos que se dizem cristãos, e que conduzem vidas para a perdição eterna. Alexander De Bona Stahlhoefer Teólogo (Timbó/SC).

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Introdução Essa obra é uma refutação e crítica ao livro 21 dias para transformar a sua vida de Michael Aboud, cujo conteúdo não vem como surpresa, pois é claramente um fruto da Teologia da Prosperidade norte americana. Em si, a obra não traz nada de novo, é apenas uma síntese dos ensinos de Myles Munroe, que inclusive fez um prefácio para o livro, e de outros pregadores da prosperidade norte americanos. O livro segue a linha de pregação de pastores como Benny Hinn, Morris Cerullo, Kenneth Hagin, Joel Osteen, Creflo Dollar, entre outros nomes que causaram muita polêmica através de escândalos e doutrinas heréticas. No Brasil essa teologia também tem seus propagadores: Edir Macedo (Universal do Reino de Deus) R.R. Sores (Internacional da Graça), Estevam Hernandes (Renascer em Cristo), Silas Malafaia, que inicialmente era contra a teologia da prosperidade mas agora é um dos seus mais famosos pregadores, Miguel Ângelo (Cristo Vive) entre outros aos quais também escândalos, prisões, e roubos são associados. Já nos advertiu o Senhor “É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem!” - Lucas 17:1. A Teologia da Prosperidade não precisa mais de muita introdução hoje em dia, ela já está muito bem difundida entre a cristandade. Portanto apenas situarei o leitor com uma breve definição: “Um movimento de origem americana que tem tido enorme receptividade no meio evangélico brasileiro desde os anos 80 é a chamada teologia da prosperidade. Também é conhecida como “confissão positiva”, “palavra da fé”, “movimento da fé” e “evangelho da saúde e da prosperidade”. A história das origens desse ensino revela aspectos questionáveis que devem servir de alerta para os que estão fascinados com ele. [...] as ideias básicas da confissão positiva [riqueza, saúde e sucesso] não surgiram no pentecostalismo, e sim em algumas seitas sincréticas da Nova Inglaterra, no início do século 20”1. Basicamente “é o capitalismo a serviço de Jesus”2. O livro 21 dias é um devocional divido em vinte e um capítulos que tem como propósito, segundo o autor, responder a perguntas essenciais. Respostas essas que nos levarão a experimentar uma vida próspera e cheia de sucessos3. Ao longo dos vinte e um dias propostos o autor passa a ensinar técnicas diversas, supostamente baseando-se em princípios bíblicos, para que o leitor possa alcançar o seu sucesso financeiro e realização pessoal, atingindo assim seus objetivos de vida e a sua tão desejada vitória. Seu conteúdo teológico é muito fraco e o seu cunho é motivacional. O livro fala muito de motivação, conquista, diligência, atitude e metas, títulos esses que são facilmente encontrados em literaturas de autoajuda (assim como o próprio livro admite ser)4, também os exemplos usados pelo autor para desenvolver seus ensinos são sempre com referência ao mundo dos negócios5. Esse tipo de literatura tem tido grande sucesso no meio dos cristãos evangélicos, especialmente entre as classes mais altas da sociedade, pois na prática, essa teologia não funciona para as classes mais pobres, (eis o fato dela ser tão popular nos Estados Unidos da América, onde também nasceu). À luz do Novo Testamento é uma doutrina insustentável. Isso explica o porquê do 1

Alderi Souza de Matos, doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. Texto publicado na Revista Ultimato, Edição nº 313, Julho/Agosto de 2008. 2 Comentário de Diarmaid McCulloch, autor do livro e documentário, pela BBC, A History of Christianity. 3 Descrição do livro 21 Dias para Transformar sua Vida, capa detrás. 4 Ver Editorial. 5 Pg. 146, 147, 151-153, entre outras.

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livro estar repleto de histórias, claramente retiradas de seu contexto histórico e teológico, do Antigo Testamento, pois de acordo com o Novo Testamento a ideia de uma vida cheia de riquezas é inconcebível. Aliás, por muitos séculos creu-se que exatamente o oposto era verdade: uma vida simples, sem riquezas e desapegada do materialismo era a vontade de Deus6. Pode-se dizer então que essa doutrina é nova. Não a encontramos na história da Igreja dos três primeiros séculos, nem da Igreja medieval, nem da reforma protestante. É apenas a partir da teologia do século XX do período entre guerras que a encontramos. Nunca antes na história do cristianismo se pregou que Deus queria seus filhos ricos7 e vitoriosos. O sucesso de livros desse tipo, ao contrário do que seus autores possam achar, não se dá devido à bênção de Deus, mas sim do fato de estarmos inseridos num contexto social capitalista. É difícil de imaginar que esse tipo de livro faria sucesso em países pobres da África ou países sob o regime comunista, por exemplo. Essa literatura é como colírio para os olhos do homem rico e ambicioso, mas ao pobre miserável, aflito e oprimido pela desgraça da fome e da pobreza, nada tem a oferecer além de papel para fogueira. A mensagem do Evangelho é universal; é para todos os povos, todas as raças e para todas as situações, já a mensagem do livro 21 dias depende completamente do sistema capitalista. Livros como este de Michael já foram inúmeras vezes refutados por vários autores cristãos mundo afora; há muito material disponível que desmascara a heresia desta teologia8, porém sinto-me obrigado a escrever, eu, a respeito disso também, pois sei que há pessoas queridas que me consideram e creem no meu testemunho, e desejo do fundo do meu coração que os leitores desse livro, que concordarem ou discordarem comigo, considerem esse material. Se, afinal, o livro 21 dias para transformar sua vida de Michael Aboud for uma obra inspirada por Deus, ela certamente passará o teste da crítica, e ao seu final, manter-se-á de pé inabalável e concordante às Escrituras Sagradas, porém creio que assim como seus mentores americanos, Michael também será desmascarado.

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Prova disto é o movimento monástico, especialmente a partir de Francisco de Assis. Expressão retirada de uma matéria da revista Times sobre a Teologia da Prosperidade, “Does God want you to be rich?”, 10 de Setembro de 2006. 8 O Evangelho da Prosperidade, de Alan B. Pieratt, O Evangelho da Nova Era, de Ricardo Gondim, Supercrentes e Decepcionados coma Graça, de Paulo Romeiro. 7

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Um resumo dos problemas do livro: 1- Prega a Teologia da Prosperidade. 2- Está vinculado a falsos mestres. 3- Apresenta um evangelho diferente. 4- Faz falsas promessas. 5- Ensina heresias. 6 - Prega um Cristo diferente. 7 - Põe Deus a serviço do homem. 8 - Usa a Palavra de Deus como meio para se ficar rico. -----------

“Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles ... É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” – Paulo de Tarso (Atos 20:29-30, Tito 1:11) -----------

“Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão [...] Esses homens são pastores que [...] a si mesmos se apascentam” – Judas, irmão de Jesus (Judas 1:11-12) -----------

“Pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos. Estais vós de sobreaviso; tudo vos tenho predito.” – Jesus Cristo (Marcos 13:22-23)

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Raízes teológicas do livro: importando heresias O meio de onde viemos fala muito a nosso respeito. Entendendo um pouco de onde a Teologia de Michael vem entendemos o porquê desse seu livro. Em Mateus 10:25 Jesus disse “Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?”, também o ditado popular “diga-me com quem andas e te direis quem és” serve o propósito. Michael está apenas reproduzindo aquilo que os pregadores da prosperidade têm pregado há décadas. E o que esperar disso? Nada além do que se espera de seus mestres: escândalos e heresias. Consideremos pois um pouco os mentores e as influências de Michael, e isso nos dirá muito a respeito de sua pregação, ensinos, e por consequência, o que devemos esperar de seus livros. Myles Munroe. Pregador do evangelho da prosperidade, presidente e fundador do Bahamas Faith Ministries International. Além de pregador Myles é orador motivacional e homem de negócios. Em seu livro Como Compreender o Seu Potencial9, ele diz que: “O corpo de Lúcifer foi criado com tubos internos para que toda a vez que ele levantasse uma asa, um som saísse na forma de música [...] Assim que ele começava a abanar suas asas os anjos começavam a cantar” - “Nós sempre existimos. No estado anterior, éramos invisíveis, mas mesmo assim já existíamos” - “Assim, Deus criou você para ser onipotente”10. Passagens chocantes não? Mas é comum entre os ensinos dos pregadores da prosperidade encontrar doutrinas e revelações extra-bíblicas a respeito da divindade de Cristo, de anjos e demônios, da constituição do homem, da trindade e do sacrifício de Jesus na cruz. Sua constante ênfase no potencial do homem e na sua grandeza é um direto reflexo da autoajuda e dos conceitos de Nova Era11. Myles também é amigo de Benny Hinn12. Benny Hinn. Presidente do Benny Hinn Ministries, pregador da prosperidade muito conhecido por suas Cruzadas de Milagres, que inclusive já esteve no Brasil. Tele-evangelista e escritor, Benny Hinn é alvo de muita crítica e polêmica por seus métodos questionáveis de cura e de levantamento de ofertas entre os seus fieis. Em suas Cruzadas de Milagres Benny alega ter curado vítimas de câncer, AIDS, cegueira, surdez, tumores e deficiências físicas, porém desde o início da década de 90, várias reportagens televisivas, como Inside Edition e Dateline NBC, tem sido feitas expondo suas alegações. Acusado de usar dinheiro de doações para benefício próprio, Benny diz à reportagem da NBC que “cada centavo do seu ministério é direcionado à obra do Senhor”. Assim sendo, sua mansão é estimada em 10 milhões de dólares, “cada centavo” pago pelo seu ministério. Viagens de jatinho particular, carros caríssimos, mansões, estadias em hotéis milionários atraíram em 2007 a atenção do Senado Americano, que investigou o ministério de Benny Hinn. 9

Como Compreender o Seu Potencial, a Descoberta do Verdadeiro Eu - Brasília, DF, Koinonia Comunidade e Edições, 1993. Citações retiradas do livro Evangélicos em crise, de Paulo Romeiro. 11 Para informações a respeito do que é o movimento da Nova Era, assista ao documentário Deuses da nova era, pode ser assistido dublado no site youtube.com. Também para entender o conceito de grandeza do homem pregado por tal teologia, ler Supercrentes, de Paulo Romeiro, capítulo 4: Humanos ou deuses? Ou Respostas às seitas, Norman Geisler, pg. 290. 12 No site youtube.com sob o título de God’s big idea podemos assistir um vídeo de Myles em um dos programas de Benny Hinn louvando o ministério de Benny, e explicando algumas de suas ideias mais controversas a respeito de um governo mundial de paz e prosperidade. 10

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Já no campo teológico, no ano de 1990, Benny, durante uma transmissão, afirmou que “Jesus tinha se tornado um com satanás”, afim de que nós pudéssemos nos tornar um com Deus. “A revista Christianity Today, publicada nos Estados Unidos, afirma que em 1992 Benny Hinn disse, num programa de TV, “que o Espírito Santo lhe ensinava, naquele momento, que Deus havia originalmente planejado que as mulheres dessem à luz pelos lados”13. Mas não para por aí, o Jornal The Bearan Call de Setembro de 1992 cita uma das transmissões da Trinity Broadcast, onde Benny Hinn diz que “Adão era um ser sobre-humano quando Deus o criou. Não sei se as pessoas chegam a saber disso, mas ele foi o primeiro superhomem que já existiu. Adão não só voava [como os pássaros], mas também voava para o espaço (...) com um pensamento ele estaria na Lua (...) podia nadar [debaixo d'água] sem perder o fôlego, e sua esposa fazia o mesmo (...) Ambos eram sobre-humanos”. Benny Hinn fez algumas profecias para a década de 90 que não se cumpriram, por exemplo dizendo que Fidel Castro morreria e que a comunidade gay dos Estados Unidos seria “completamente destruída pelo fogo”. Também é muito criticado por lançar maldições sobre aqueles que falam mal de seu ministério e afirmar que Jesus apareceria fisicamente em suas Cruzadas, e que ele voltaria com imagens do Cristo em vídeo. Ele também possui ensinos estranhos a respeito de Deus, dizendo que Deus é composto por 9 pessoas, pois “cada pessoa da trindade é um ser trino em si”. Famoso na internet por sua unção do paletó e de fazer cair, Benny acumula para si um currículo de heresias e escândalos que supera qualquer outro pregador da prosperidade. Essa amizade entre Myles e Benny é perturbadora, pois estabelece uma conexão entre Benny e Michael de uma forma indireta. Ainda há mais uma figura tenebrosa que rasteja nesse meio escandaloso e de amizades polêmicas, ele é Morris Cerullo, o “profeta” convidado a participar de alguns eventos vinculados à denominação de Michael Aboud. Esse é o homem que prometeu durante um dos programas de Silas Malafaia, que se nós doássemos uma quantia de 900 reais ao seu ministério, todas as promessas de Deus para nossa vida seriam cumpridas até o primeiro mês do ano seguinte. Em um vídeo famoso que está circulando na internet e pode ser achado sob o título de “Silas Malafaia e Morris Cerullo”, Morris promete o que Deus nunca prometeu: Uma unção financeira dos últimos tempos. Ele diz que “Deus está prestes a transferir a riqueza dos ímpios para as mãos dos crentes, assim como Ele fez com a riqueza dos Egípcios” no êxodo hebreu. Morris também possui profecias que não se realizaram. No final dos anos 80 ele afirmou que “5 grandes crises abalariam os anos 90”, e que “a depressão de 1929 não seria nada comparada à crise que estava por vir antes de 1994”. Obviamente nenhuma dessas profecias se cumpriram. Ele também declarou em Setembro de 1991, que “o mundo estaria evangelizado até o ano de 2000”. Isso também não aconteceu. Ele também é conhecido por usar a numerologia como explicação de certas campanhas e pedidos de ofertas. Sua mansão em Ranch Santa Fé, próxima a San Diego, é estimada em mais de 11 milhões de dólares e seu jatinho particular em 50 milhões. Assim como Benny Hinn, Morris também está sendo investigado pela forma como levanta dinheiro. Um dos executivos que trabalhou para Morris, John Paul Warren, entrou com uma ação na justiça contra a organização, dizendo que “as maneiras que ele usa para recolher dinheiro do povo são antiéticas”.

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Citações e fontes retiradas do livro de Paulo Romeiro, Supercrentes pg. 17

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Morris afirma ter visto Deus face a face, mesmo sabendo que as escrituras dizem que isso é impossível, e também é muito criticado por ter dito que Deus o mandara dizer “entreguem-me suas carteiras”. Suas campanhas para levantar ofertas são sempre exorbitantes e visam à prosperidade daquele que contribui e não o auxílio ao pobre. Faz algum tempo, consegui um folheto de uma de suas campanhas: MEU ROMPER PROFÉTICO PARA 2009. Nela diz “Não perca a sua chance de entrar no ciclo de Deus de bênçãos financeiras dos últimos tempos!” Dentro a carta diz “SIM, irmão Cerullo, eu estou recebendo as promessas proféticas de Deus de favor, bênçãos, aumento e avanço na área financeira para este ano de 2009. Incluso está a minha oferta de sacrifício para financiar a colheita de almas dos últimos tempos!” Os valores a serem assinalados eram de 1.999, 2.999, 3.999, 4.999 e 9.999 reais. Ao fazer seus apelos Morris é insistente ao dizer que “Deus está prestes a fazer algo que Ele nunca fez antes”, assim como podemos ver ele dizendo no programa do pastor Silas Malafaia. Esse berço teológico de onde vem os ensinos de Michael é um de falsos profetas. Nem um desses três nomes citados passa pelo teste bíblico. Biblicamente falando, Benny Hinn, Myles Munroe e Morris Cerullo são falsos profetas: profetizaram vários acontecimentos a respeito da política mundial, da sociedade em geral e da cristandade, e nenhuma sequer de suas profecias se cumpriu. De acordo com a Bíblia, também são considerados falsos mestres, pois todos eles ensinam doutrinas estranhas a respeito do homem, do Evangelho, da natureza de Deus, do Cristo e da cruz. Benny e Myles chegaram ao absurdo, assim como outros pregadores da prosperidade antes deles, de afirmar que “somos divinos e fomos criados para sermos onipotentes”. Esses três pregadores possuem todas as características de um falso profeta: (1) profecias que não se cumpriram, (2) ênfase no dinheiro e comercialização da palavra de Deus, (3) falam de suas próprias visões e sonhos e prometem o que Deus não prometeu, (4) apresentam um evangelho diferente, (5) falam o que as pessoas querem ouvir e não pregam a sã doutrina14. Agora lembremos que esses falsos profetas, assim como muitos outros, são amigos, influência direta e base teológica para os ensinos do livro de Michael Aboud.

Lobos maus da cristandade “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores” – Mateus 7:15 Toda doutrina, toda pregação, todo ensino e todo homem que se diz discípulo de Cristo, filho de Deus e pregador do evangelho da salvação deve passar pelo teste das Escrituras, pois o apóstolo João escreveu “amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas se têm levantado no mundo, [...] Eles procedem do mundo; por essa razão, falam do mundo, e o mundo os ouve” 15. Não se deve dar crédito a todo aquele que se diz pregador do evangelho, antes devemos testá-los. Ora, se João nos mandou testar até os espíritos, quanto mais os seres humanos! Testar espíritos é relativamente fácil, porque de acordo com o 1 João, eles não podem “confessar que Cristo veio em carne”. Já os homens 14 15

Todos esses tópicos serão tratados em detalhes no próximo capítulo. 1 João 4:1-6.

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podem enganar e mentir em nome de Deus. Em Mateus 7:22 Jesus disse “muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Não expulsamos demônios em teu nome? E em teu nome não fizemos grandes maravilhas? E eu lhes direi abertamente: nunca vos conheci”. É possível fazer milagres, expulsar demônios e dar profecias e ainda assim não ser da parte de Cristo16. Essas pessoas, esses falsos mestres dirão “não fizemos tais coisas em teu nome?” Sim, fizeram, mas ao fazerem abusaram do nome Dele. Sinais e maravilhas podem ser emulados, e assim, persuadir muitos a crerem que aquele que opera tais prodígios é da parte do Senhor. Se os falsos mestres podem enganar até com milagres, quanto mais com palavras! Paulo disse “Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformandose em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros da justiça”17. Se o próprio Satanás é capaz de se disfarçar de anjo de luz para enganar, quanto mais os seres humanos! Os falsos profetas se “transformam em ministros da justiça”; eles se disfarçam de pregadores, mas “por dentro são lobos devoradores”. Parecem pregadores do evangelho, mas não são. Tem cara e discurso de pregadores, mas não são. Fazem prodígios e milagres, mas que não são legítimos. Como então saber quem é o falso mestre e quem é o verdadeiro mestre? A Bíblia nos dá uma lista de coisas a se esperar de um falso profeta. (1) A vida e ministério de um falso profeta é acompanhada de escândalos. “É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem!” – Lucas 17:1. É importante notar, porém, que perseguição injusta por causa da verdade é diferente de escândalos. O que é perseguido por pregar a palavra do Senhor, como os cristãos que são caçados e mortos na Índia, Oriente Médio, China e África, é diferente do que é preso por infringir a lei, como é o caso dos nossos bispos, bispas e apóstolos brasileiros. Quando se é preso, torturado e morto por causa do nome de Jesus e da pregação do Evangelho, dá-se o nome de perseguição religiosa, quando se é preso e incriminado por desobedecer a lei, dá-se o nome de crime, e isso nada tem com o Evangelho. Conheço cristãos que são caluniados e perseguidos por causa do nome de Cristo e da pregação do Evangelho, mas também conheço cristãos que se acham injustamente perseguidos, mas que são justamente perseguidos. Uma coisa é, como Jesus disse no sermão do monte, “mentindo, caluniar o cristão”, outra é ter a polícia às portas do templo pedindo para que o grupo de louvor pare de fazer barulho e incomodar os vizinhos depois das 10 da noite, e com isso, alegar estar sendo perseguido. Ser preso por portar uma Bíblia é uma coisa, ser preso por desviar e contrabandear dinheiro dentro de uma Bíblia é outra. Não se deve confundir escândalo com perseguição. Basicamente, a perseguição religiosa é baseada em boatos, injustiça e calúnia, enquanto o escândalo é baseado em infrações da lei e comportamento imoral. Obs.: Para saber o que verdadeiramente é o escândalo que recebe o “ai” do Senhor, vá mais a fundo nas referências que eu trouxe sobre a vida de Benny Hinn e Morris Cerullo. Pesquise sobre a vida de Kenneth Hagin, de Marjoe Gortner principalmente, Creflo Dollar, entre outros que estão vinculados a esse movimento da prosperidade. No Brasil,

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Apocalipse 13:11-14. 2 Coríntios 11:13.

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sobre a igreja Universal do reino de Deus e Renascer em Cristo, que são campeãs em escândalos envolvendo lavagem e desvio de dinheiro. (2) O falso profeta é motivado pela ganância e transforma a palavra de Deus em meio para se ficar rico; a ênfase dele será sempre no dinheiro e prosperidade material. “Também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias” - 2 Pedro 2:3 “Tais cães são gulosos, nunca se fartam; são pastores que nada compreendem, e todos se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância...” – Isaías 56:11 “Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à ganância, e tanto o profeta como o sacerdote usam de falsidade” – Jeremias 6:13. “É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” – Tito 1:11. Com palavras enganadoras, doutrinas estranhas e promessas falsas esses homens tiram o foco do evangelho, que é a reconciliação com Deus através da morte de Jesus, e o põe na realização pessoal e conquistas terrenas. O cerne da mensagem de Jesus é aquele do evangelho de Marcos, “Arrependei-vos e crede no evangelho”, já o cerne do falso evangelho é a prosperidade e riqueza. O falso mestre enche os ouvidos do ouvinte com promessas de prosperidade e riqueza, assim como Satanás fez com Jesus no deserto, “dar-te-ei todos os reinos dessa terra”. Ele fará comércio com a palavra de Deus e com as almas, prometerá bênçãos em troca de dinheiro, vitória em troca de ofertas, e prosperidade em troca de sacrifícios; ele dirá o que for preciso e usará todos os meios possíveis para conseguir arrancar dinheiro do povo. Ele é movido pela ganância, e assim tudo o que prega está vinculado ao dinheiro. Vemos como exemplo perfeito o vídeo de Edir Macedo ensinando os pastores de sua igreja a roubar. Sugiro que todos os leitores assistam a esse vídeo que pode ser achado no site www.youtube.com, sob o título de “Edir Macedo ensinando a roubar”, o vídeo é revoltante. Também como Creflo Dollar diz em uma de suas pregações, “Dinheiro está tentando cair em suas mãos...O Deus altíssimo está tentando mudar a sua situação financeira...portanto nesta noite eu quero lhes falar sobre a relação entre dinheiro e paz...muitas pessoas dizem que a questão não é dinheiro, mas amor, paz, alegria, [não], a questão é dinheiro! Devemos entender o que esta Bíblia está dizendo: Deus está tentando colocar gloriosas bênçãos materiais e riquezas em suas mãos, e Ele fará isso através da unção...eu não vim aqui para pregar essa mensagem a vocês e ver o quanto de dinheiro que eu consigo tirar de vocês. Eu não vim aqui tirar nada de vocês. Eu já sou rico. Estou cheio de riquezas; tenho muito mais do que preciso; sou um homem abençoado. Eu não vim aqui de avião convencional [Delta], eu vim aqui no meu próprio avião, vocês entendem isso que estou dizendo? Eu vim até aqui lhes dar essa mensagem; eu vim até aqui trazer algo que vai lhes tirar dos problemas financeiros...”18 (3) O falso profeta sempre dirá aquilo que o homem caído quer ouvir. Ele apresentará um Cristianismo diferente, moderno, colorido e fácil para agradar o ouvinte. “Pois haverá um tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário; cercar-se-ão de mestres segundos as suas próprias cobiças, como que sentindo 18

Vídeo por ser achado com o título de Crefllo Dolar - Mentor de Robson Rodovalho Obs: o título de busca deve ser exatamente esse.

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coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” – 2 Timóteo 4:3-4. “A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha. Também jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós, nem de outros” – 1 Tessalonicenses 2:5. “...;são aduladores dos outros, por motivos interesseiros” – Judas 1:16. Como disse um apologista americano, “eles apresentam um cristo sem cruz, trazendo um povo sem pecado para dentro de um reino sem justiça de um Deus sem ira”19. Ele apresentará, como nos livros de Myles Munroe e Joel Osteen, um ser humano diferente do que aquele descrito na Bíblia: cheio de integridade, bondade e qualidades e merecedor da bênção. Eles iludirão o povo com fábulas e embriagarão os ouvintes de emoções, para assim manipulá-los. A igreja vira um show, o púlpito vira um palco, o povo vira um auditório e o pastor vira o astro. Luzes, música e bandas fazem parte do show, que tem como objetivo criar um ambiente entorpecente, onde o pastor fará você pular, gritar, rolar, correr e assim se esquecer de todos os seus pecados, enquanto ele apresenta para você uma foto de um Deus que tem como único propósito lhe fazer rico e feliz. Ele não mencionará, e se mencionar será superficialmente, cruz, sangue, arrependimento, pecado, mudança de comportamento, mas ele dirá como Joel Osteen disse durante um programa do Larry King, nos Estados Unidos, “Meu trabalho não é bater na cabeça das pessoas com negatividade e pecado, e sim tentar levantar sua autoestima”. Edir Macedo, durante o vídeo citado acima, diz “O povo está cansado de ver aquele pastor assim xôxo, eles querem ver o pastor brigar com o diabo, rolar ... e então você bate com a Bíblia no chão e diz ‘traz aqui a sua oferta’, e o povo vai dizer ‘puxa vida, quanto tempo eu estava esperando para escutar isso; quanto tempo eu queria escutar o pastor dizendo isso’”. O falso profeta vai deixar você tão ocupado com os seus sonhos e tão embriagado com esse mundo, que você nunca terá tempo de pensar em coisas como santidade, pecado, arrependimento, etc. (4) O falso profeta pregará um evangelho diferente e falará de sonhos e visões que não são da parte de Deus. Ele prometerá o que Deus nunca prometeu. “...há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” – Gálatas 1:6-9 “E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias” – 2 Pedro 2:2-3. “Não deis ouvidos às palavras dos profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam de visão do seu coração, não da boca do Senhor....Não mandei esses profetas, contudo eles foram correndo; não lhes falei, contudo profetizaram....Tenho ouvido o que dizem aqueles profetas, profetizando mentiras em meu nome, dizendo: Sonhei, Sonhei....Os quais cuidam fazer com que meu povo esqueça de meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu próximo...Eis que sou contra os profetas, diz o Senhor, que usam de 19

Dinesh D’Souza, A verdade sobre o cristianismo.

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sua própria linguagem, e dizem: Ele disse. Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e fazem errar o meu povo com as suas mentiras e com as suas leviandades; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem e não trouxeram proveito algum a este povo, diz o Senhor” – Jeremias 23:16-32. Esse falsos profetas pregarão uma mensagem nova, um evangelho diferente. Com diferentes ênfases e propósitos. Falarão de sonhos e visões que tiveram, mas que não vieram da parte de Deus. Dirão “Deus disse” quando Deus não disse! Dirão que Deus tem planos maravilhosos de riquezas e de alegria para nossas vidas, sendo que Ele não os tem. Pregarão a mensagem de seus próprios corações e não da Bíblia. Introduzirão práticas de libertinagem e heresias, e por causa deles o nome do Senhor será blasfemado20. Eles usarão palavras fictícias e fábulas para encantar o povo e abusarão de uma autoridade que não lhes foi outorgada, e como cegos guiando cegos, levarão o povo para longe da palavra de Deus. (5) O falso profeta tem profecias que não se cumpriram e ensinos que não são Bíblicos. “Sabe que, quando esse profeta falar em nome do Senhor, e a palavra dele não se cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o Senhor não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele” – Deuteronômio 18:22 “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” – 1 Timóteo 4:1-2. Descrições do homem como as que Myles e Michael fizeram, não são bíblicas. As profecias de Benny Hinn e Morris Cerullo que não se cumpriram ainda clamam em alta voz: Falso profeta! Falso profeta! Jesus disse, “Acautelai-vos dos falsos profetas” .... “Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas de espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.” Mateus 7: 15-20.

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Romanos 2:24.

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Duvidar não é pecado “E estais sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” - I Pedro 3:15. Infelizmente o pensamento crítico21 não faz mais parte da maioria das denominações cristãs. Em muitas é até considerado pecado criticar ou discordar das decisões tomadas pelas lideranças, que, por sua vez, se defendem acusando o fiel de rebeldia espiritual ou influência de espírito de incredulidade. A maneira que então se achou para impedir que a dúvida do crente fiel o leve à resposta, e a resposta ao esclarecimento, foi criar o que chamo de terrorismo eclesiástico: usar a Bíblia e o púlpito para ameaçar o povo e dominá-lo. Michael faz essa ameaça de uma forma um pouco mais amena, dizendo que quem duvida não recebe o milagre esperado22. Muitas lideranças têm usado versículos do Antigo Testamento como I Samuel 26:9,11 para aterrorizar os fieis e impedir-lhes de duvidar e questionar: “porque quem estendeu a mão contra o ungido do SENHOR, e ficou inocente? [...] O SENHOR me guarde, de que eu estenda a mão contra o ungido do SENHOR”. Assim fazendo, muitos pastores se tornaram infalíveis e inquestionáveis. Obviamente eles não admitirão isso; o seu discurso será o de que “somos todos homens sujeitos ao erro”, porém na prática, ai daquele que estender a sua mão contra o ungido do SENHOR! Ai! Tais pastores contrabandearam o autoritarismo e a infalibilidade papal dos católicos romanos para dentro das igrejas evangélicas e a rebatizaram de “autoridade espiritual”. Basicamente o pastor se tornou intocável e irrefutável. Desacreditá-lo seria incredulidade e criticá-lo seria perseguição. Foi isto que Edir Macedo e Estevam Hernandes declararam quando foram presos: perseguição religiosa. Ora, mas perseguição religiosa se dá por causa da fé, e não por causa de dinheiro desviado, lavado e contrabandeado. Se houve violação da lei já não é mais perseguição, e sim crime. Pedro, ao advertir os cristãos, e já ensinando-os a sofrer, disse em sua carta “Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor [...] ;mas se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte”. E também “Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente” 23. Reparem nas palavras “não como ladrões” e “injustamente”, creio que elas não se encaixam para o caso do bispo e do apóstolo. Aprendemos duas coisas desses versículos sobre a perseguição religiosa. (1) Se sofrermos deve ser injustamente, e (2) quando sofrermos, devemos sofrer não como ladrões e malfeitores. Foi exatamente isso que Jesus disse no sermão do monte em Mateus 5:10, “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça”, e também no versículo 11, “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa”. Agora reparem que Jesus disse que quando “mentindo” falarem mal de vocês, e quando forem perseguidos por causa da “justiça”. Cadeia por causa de lavagem e contrabando de dinheiro não é “por causa da justiça”, é por causa da injustiça. Então já não é mais perseguição religiosa e sim crime. Se é por causa de violação da lei, já não é “por minha causa”, portanto não é perseguição de fé, e sim crime. 21

Uma pessoa crítica é a que tem posições independentes e refletidas, é capaz de pensar por si própria e não aceita como verdadeiro o simplesmente estabelecido por outros como tal, mas só após o seu exame livre e fundamentado. 22 Pg. 49. 23 I Pedro 4:15-16 e 2:19.

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Mas esses são apenas alguns fatos para demonstrar até onde chegou a arrogância de alguns pastores evangélicos. Eles não admitem estar errados! Algumas denominações evangélicas veem o seu pastor como o catolicismo vê o Papa: autoridade máxima dentro da igreja. O pastor Benny Hinn, pregador americano adepto à Teologia da Prosperidade e escritor do famoso livro Bom dia Espírito Santo, chegou ao absurdo de lançar uma maldição durante uma de suas pregações, dizendo: “Eu ponho uma maldição em todo o homem e mulher que estender sua mão contra esse ministério...Eu amaldiçoo o homem que ousar falar contra essa unção”24. Outro caso, que aconteceu em uma igreja evangélica grande da minha cidade, Timbó, (prefiro não citar nomes), foi que um pastor disse ao fiel, “se o pastor mandar você pecar, você peca, pois Deus honra a obediência”. Esses são apenas dois exemplos de onde essa doutrina de autoridade espiritual já chegou, e o quão nocivo ela é à cristandade. Nenhum homem, nenhuma liderança, nenhuma decisão é inquestionável. Nenhum homem tem autoridade espiritual sobre a sua vida, essa doutrina não pode ser achada nas páginas do Novo Testamento, (e sim nas páginas de livros de Kenneth Hagin). Hierarquia espiritual na Igreja do Senhor Jesus não existe. O maior título dentro da Igreja de Jesus é “irmão” 25. Se Deus levantou homens santos, Ele os levantou para servir e não dominar; para aconselhar e não mandar. Tragicamente a mentalidade cristã evangélica moderna, de tanto ser ameaçada e desmotivada a pensar por si mesma, não tem mais a coragem de repreender seus, supostos, líderes espirituais. De acordo com Jesus, um pastor pastoreia e não domina; serve e não é servido; consola e não aterroriza; aconselha e não dá ordens. Ele mostra o caminho, e não inventa um novo; não arranca dinheiro do povo, mas recolhe e redistribui o dinheiro entre o povo. Se o seu pastor não passar pelo critério da Bíblia, reprove-o, inquira-o, ele também é homem. Como se diz, “pastor que não tem cheiro de ovelha não é pastor”. O papel de todo homem que se denomina pastor, ou é assim considerado pelos irmãos, é o de “apascentar as ovelhas”, foi isso que Jesus disse três vezes a Pedro em João 21:15-17. Não é de dominar nem de ser sustentado pelas ovelhas, é de “apascentá-las”. Não é de ensiná-las a chegar à prosperidade, mas sim de chegar “ao aperfeiçoamento dos santos, [...]à unidade de fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” 26. No versículo 11 desse mesmo capítulo Paulo diz que “foi para esse motivo que Deus levantou pregadores, doutores, pastores…” etc.: para o crescimento e amadurecimento espiritual, e não o financeiro e pessoal, do qual o livro de Michael fala tanto. Pastor que prega seus próprios sonhos e suas próprias visões, como aqueles falsos profetas do livro de Jeremias, não é pastor, é mercenário, e não fala da parte de Deus e sim da sua própria carne. O livro 21 dias para transformar sua vida é voltado à realização pessoal e contentamento próprio, ensina o leitor a alcançar os seus sonhos e conquistar as suas vitórias. Não contém nada do que o versículo acima diz que deveria conter a mensagem do pastor de verdade. O livro excita a ambição; é uma sucessão de pequenos esquemas motivacionais e de marketing que encorajam o homem a perseguir o seu sonho, e consequentemente, ir para longe da cruz. O homem espiritual e verdadeiramente filho de Deus fala das coisas do alto e incentiva as ovelhas do Senhor a serem como Cristo. Não tenha medo de duvidar daquilo que não possui os elementos essenciais do Evangelho de Jesus, os quais são: caridade, santidade e humildade. Também não tenha medo de chamar de heresia 24

Esse vídeo pode ser facilmente achado no site youtube.com, sob o título de Benny Hinn curse. Comentário do Teólogo e Filósofo Ariovaldo Ramos. 26 Efésios 4:11-14. 25

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aquilo que é uma mentira em nome de Jesus. Mas para que seja possível diferenciar o santo do profano e a verdade da heresia, é preciso conhecimento das Escrituras. Se há algo que aprendemos da história do cristianismo, é que toda vez que a Bíblia não é lida, escondida e perseguida, a sociedade decai e rios de sangue são derramados. Um dos melhores exemplos que temos da história é a idade média, ou como nossos livros de história trazem, a idade das trevas. É interessante notar que o período da história da humanidade onde a leitura da Bíblia pelo povo era proibida, é descrito como período de “trevas”. Agora temos um privilégio imenso de poder ter uma Bíblia em mãos, ela custou muito sangue até chegar a nós, portanto use-a, conheça-a, estudea. Está escrito que os de “Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim”27. Os cidadãos de Beréia duvidaram do Evangelho pregado pelos apóstolos, e por isso foram às Escrituras checar tudo. Esses cidadãos de Beréia foram considerados “nobres” e não rebeldes por terem duvidado. Devemos fazer o mesmo, e toda doutrina e toda palavra que se enroscar no Evangelho de Cristo; tudo aquilo que não condiz com as Escrituras, “seja anátema”. Antes de recebermos respostas precisamos fazer perguntas. Mas se o povo de Deus está sendo incentivado a não mais fazer perguntas e a se contentar com respostas prontas de seus superiores sacerdotes, como poderá haver conhecimento da Verdade? O conhecimento das escrituras é indispensável. Está escrito “Portanto o meu povo será levado cativo, por falta de entendimento”28. Isaías estava falando que pelo fato do povo não conhecer Deus, eles pecavam, e de tanto pecarem, Deus estava permitindo que eles fossem levados cativos. É assim que acontece: quem não conhece a Palavra é escravizado pela interpretação do outro. Jesus mesmo disse “vocês erram porque não conhecem as Escrituras”. A única maneira de não ser levado cativo é conhecendo a Deus e a Sua Palavra. Não tenha medo de perguntar. Duvidar não é pecado. Questionar faz bem, nos leva ao esclarecimento. Não acredite em tudo o que ouvir de seu pastor. Faça como os de Beréia e “confira todos os dias nas escrituras para saber, se de fato, as coisas são assim”. Você não será amaldiçoado se duvidar do ungido. Aprenda a pensar e ter senso crítico, de outra forma como você “julgará todas as coisas e reterá o bem?”. Deus não tem medo responder perguntas difíceis, Ele disse “Vinde, pois, e arrazoemos”29, e se Deus diz isso, como podem então as lideranças se esconderam atrás de jargões e ameaças?

Refutando o Capítulo 1: Aquelas três perguntas Aprendemos com Jesus que “um pouco de fermento faz levedar toda a massa”. Da mesma forma um pouco de mentira acaba com toda uma verdade. Apenas uma pitada de mentira é o suficiente para arruinar toda uma verdade eterna. Foi assim que satanás fez com a verdade do Senhor: “E esta [a serpente] disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore?”30. Sim, foi isso que o Senhor disse, que poderíamos comer de qualquer árvore. Mas o que Ele disse não terminou ali. Deus disse que Adão e Eva poderiam comer de todos os frutos das 27

Atos 17:11. Isaías 5:13. 29 Isaías 1:18. 30 Gênesis 3. 28

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árvores do Jardim, exceto de uma! Repare que o inimigo pronunciou uma verdade com uma pitada de mentira, que foi a omissão do mandamento completo. Vejam a ironia de satanás como que dizendo, “afinal, não era de qualquer árvore do jardim?”. Sim era, exceto de uma! A serpente pronunciou uma verdade incompleta, e essa verdade incompleta enganou Eva e levou o homem ao pecado. Ora, uma verdade incompleta é uma meia verdade. Uma meia verdade também é uma meia mentira. E uma meia mentira já não é mais uma verdade. O pouco de fermento do inimigo estragou toda a verdade do Senhor. O mesmo acontece com o livro 21 dias, há verdades nele. Não poderia dizer que tudo que está escrito é heresia. Não. Há verdades nele (poucas porém, muito poucas). O problema é que também há mentiras, e essas “levedam” todo o livro.

Quem somos nós? No primeiro capítulo, Michael diz que se quisermos experimentar uma vida próspera e cheia de vitórias, devemos ter essas três perguntas essenciais respondidas: Quem é você? De onde veio? Para onde está indo? De fato, são perguntas importantíssimas e precisam ser respondidas. Concordo com as perguntas, porém discordo das suas respostas e do motivo pelo qual respondê-las. O livro diz: “Você precisa saber quem você é. Ninguém melhor do que você mesmo para responder essa pergunta. É preciso conhecer bem o seu caráter, sua integridade, seu potencial e suas limitações, para que possa corrigir os defeitos e intensificar o que tem de melhor”31 A primeira afirmação é completamente verdadeira, já a segunda e a terceira são enganosas. Sim, todos nós concordamos que precisamos saber quem somos, mas nunca, de maneira nenhuma podemos olhar para nós mesmos para acharmos a resposta! Devemos olhar para Deus e Ele nos dirá quem somos. É a Bíblia que deve ser o nosso padrão de comparação; é a pessoa de Cristo que deve ser o nosso modelo. As Escrituras dizem quem nós somos. Não podemos tentar responder essa questão olhando para nós mesmos, pois certamente nos presumiríamos. Apenas Deus nos conhece e nos vê como realmente somos. Aliás, dentre todas as possibilidades de resposta, “você mesmo” é a pior e mais estúpida de todas as respostas que possam ser dadas. Eu diria, com base no testemunho Bíblico a respeito do ser humano, “ninguém pior do que você mesmo para responder essa pergunta”. Um cristão disse “nós nos presumimos, porém Deus nos conhece”. Os grandes ditadores e tiranos desse mundo responderam esse pergunta olhando para si mesmos, e fizeram barbaridades. Hitler olhou para si mesmo e se viu como o messias germânico. Os imperadores Romanos olharam para si mesmos, e ao responderem essa pergunta, concluíram ser deuses dignos de adoração. A filosofia Hindu manda o homem olhar para si mesmo e responder a perguntas essenciais, pois eles consideram que cada um de nós é um deus em potencial (alguns pregadores da prosperidade, como Benny Hinn, concordariam com isso).

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Pg. 26.

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Esse ensino da grandeza do homem também é encontrado nos livros de Myles Munroe: "Jesus disse: 'Nada disso. Eu vim para mostrar a você que você é mais do que você pensa que você é"' (Como Compreender o Seu Potencial, pg. 25)32 Paul Washer, pregador americano, ao comentar durante uma de suas pregações sobre ensinos desse tipo disse, “alguns pregadores dizem que a cruz é um símbolo de quão valioso somos para Deus. Isso é mentira! A cruz não é um símbolo de quão valioso é o homem, mas sim de quão terrivelmente depravado é o homem: que somente a morte do Filho de Deus poderia salvar uma raça como a nossa” Mas se realmente quisermos resposta para a pergunta da nossa identidade, deveremos perguntar a Deus, pois nós certamente teremos uma opinião estimada demais a nosso respeito. Somente Deus, “que conhece o coração e esquadrinha os pensamentos” pode nos dizer quem somos. E toda vez que Deus se pronunciou a nosso respeito, Ele disse que éramos terríveis, e não pessoas de “caráter e de integridade” (Ler Gênesis 6:5-6, Oséias 4:1 e Mateus 15:18-19) Diferente do quadro que o livro pinta do ser humano, a Bíblia representa o ser humano como um ser caído que precisa se arrepender e voltar a Deus em humildade, e ao fazer isso, deixar para trás seus sonhos mundanos e ambições e seguir o caminho estreito, que é o exemplo de Jesus. De acordo com o Antigo e Novo Testamento, Deus não tem interesse nenhum em patrocinar nossos sonhos nem incentivar nossa carnalidade. O Evangelho de Cristo é um choque de realidade para o homem moderno. A raça humana está caída e sem condições de se auto diagnosticar sem se presumir, portanto se você for sincero ao olhar para si mesmo, você reconhecerá as listas dos versículos citados acima. Sigamos o exemplo do rei Davi, que ao ser confrontado com essa questão não procurou respostas em si, antes ele orou: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno”33. Davi pediu a Deus quem ele era. Sabendo que não podia confiar em seu julgamento, ele pediu para Deus diagnosticá-lo, e assim orou outra vez: “Examina-me, Senhor, e prova-me; sondam-me o coração e os pensamentos”34. Enquanto o capítulo 1 do livro de Michael pressupõe que no homem há integridade e caráter suficiente para que ele possa fazer uma análise sincera de si mesmo, e assim, intensificar o que há de bom, a Bíblia nos diz diferente. Como poderíamos responder essa pergunta tão importante com base em nossa autoanálise sendo que, como disse Jeremias, “o coração é perverso e enganoso mais do que todas as coisas, e ninguém pode conhecê-lo”35, e disse também Salomão o Sábio, “o que confia no seu próprio coração é insensato” e também que “o caminho que parece certo ao homem leva à morte”36. A Bíblia nos ensina que aquele que procura respostas em si mesmo tropeça, pois como Jesus disse, “a luz não está no homem”, antes “Ele [Jesus] é a luz dos homens”, “Ele é a verdade”.

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Citações retiradas do livro Evangélicos em crise, de Paulo Romeiro. Salmos 139:23-24. 34 Salmos 26:2. 35 Jeremias 17:9. 36 Provérbios 28:26 ; 14:12 ; 16:25. 33

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Blaise Pascal, o filósofo cristão, disse que “quanto mais o homem se conhece, mais ele reconhece a sua miséria e a sua incapacidade de reconhecer qualquer outra coisa”. Em seu livro Pensamentos, Pascal diz: “...não se faz outra coisa senão enganar-se e adular-se mutuamente. O homem não é, pois, senão disfarce, mentira e hipocrisia, quer em relação a si mesmo quer em relação aos outros. Não quer que se lhe diga a verdade, evita dizê-las aos outros. E todas essas disposições tão afastadas da justiça e da razão, têm uma raiz natural em seu coração”37 Assim como Pascal, a Bíblia não nos dá um parecer muito agradável do homem (Ler Romanos 3:10, Gálatas 5:19 e Tito 3:3). Como pode então o homem nesse estado descrito por Deus saber qualquer coisa a respeito de si próprio? Não tente responder uma das perguntas mais importantes do mundo com base na coisa mais instável e enganosa do mundo: o seu julgamento a seu respeito. Na verdade, se você for fiel e sincero, quanto mais você se conhecer mais nojo você terá de si mesmo. Quanto mais você enxergar o seu real caráter menos você vai querer manifestá-lo. Quanto mais você deixar transparecer a sua integridade, mais vergonha você terá. É o caráter de Jesus manifesto em nós que temos que buscar, é isso que a Bíblia nos ensina e é isso que os cristãos do passado nos ensinaram. Mas como comentei na introdução desse livro, esse é apenas um reflexo natural da Teologia da Prosperidade. Edir Macedo ao definir o que é a teologia da prosperidade, disse que “Deus é o dono de toda a riqueza; é rei, portanto nós, sendo Seus filhos, seremos pobres?”, ora “Filho de rei é príncipe”. Joel Osteen, pregador da prosperidade muito admirado pelos evangélicos brasileiros, disse em uma de suas pregações “você tem sangue real correndo em suas veias; você é filho de um Rei”. Também recordo de um programa evangélico a que assistia onde o pastor ensinava assim: “Jesus disse ‘seja feita a tua vontade assim na terra como no céu...’ portanto se no céu Deus disse que nos dará ruas de ouro e mansões, quanto mais aqui na terra. Pois a vontade Dele deve ser feita ‘assim na terra quanto no céu’ Se vale para o céu, vale para a terra”. A Teologia da Prosperidade exalta a dádiva acima do doador e pinta Deus como um tipo de Papai Noel superpoderoso, que, de acordo com Morris Cerullo, está “pronto para colocar bênçãos em nossas mãos através da unção financeira, e assim promover um romper financeiro em nossas vidas”38, e o homem como um ser nobre e merecedor de bênçãos; aliás, mais do que merecedor até, mas como que tendo direito sobre as bênçãos Dele. Correr atrás dos seus sonhos, realização pessoal e prosperidade financeira não são objetivos cristãos. O cristianismo passa longe desses conceitos e exorta o homem a deixar para trás os seus sonhos e seguir a Cristo, e o que Ele nos der será o suficiente. Jesus nos ensina a “negar-se a si mesmo” e “sacrificar-se” pelo bem dos outros e deixar a ambição do mundo fora de nossos corações. A “abundância” que Jesus prometeu era de vida, e não de materialismo. Cristo condenou o materialismo. Isso não quer dizer que não podemos ter nada nem seguir carreira. Não é isso. Mas não 37 38

Pg. 84, Edição Eletrônica. Essa afirmação foi feita durante um programa de Silas Malafaia, onde Morris estava pregando sobre a oferta de 900 reais.

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podemos usar a cruz como um amuleto mágico que nos trará boa sorte, nem o Evangelho de Jesus como fórmula para ficar ricos. O objetivo do livro de Michael, como ele mesmo coloca, é alcançar uma vida próspera e cheia de vitórias, enquanto o objetivo do Evangelho é a redenção e salvação do homem. Jesus não prometeu vida próspera e cheia de riquezas. O Senhor não nos incentivou a seguirmos nossos sonhos. 21 dias para transformar a sua vida é uma caminhada para longe da cruz de Cristo, que ao invés de nos levar para longe do mundo e para perto de Deus, nos incentiva a ficar nesse mundo, correr atrás dos nossos sonhos e sermos ricos. A chamada de Jesus para nossas vidas é para dividir e não acumular, e só Ele para nos confrontar com uma foto real de nossos corações. Só Ele pode nos responder quem realmente somos.

Para onde estamos indo? Ao tentar responder essa pergunta, Michael afirma que antes de mais nada precisamos ter em mente duas coisas: quem nós desejamos ser e o que desejamos alcançar. Ele também afirma que os planos que Deus tem para nós são para nos ajudar a chegarmos ao fim que tanto desejamos e nos incentiva a conhecermos Deus, pois assim teremos um alvo para alcançar e, certamente, seremos bem sucedidos. Também que quando entendemos quem somos, de onde viemos e para onde estamos indo, “temos em mãos uma poderosa arma e ninguém poderá nos impedir”. Nesse primeiro capítulo do livro o autor afirma que Deus quer “contribuir para nos dar o fim que desejarmos”, e esse é Seu plano para nossas vidas39. O versículo que supostamente sustenta esse ensino é Provérbios 19:21: “Muitos são os planos do coração do homem, mas o que prevalece é o propósito do Senhor”. Mas por que devese pressupor que o propósito de Deus para nossa vida é de grandeza? Onde está escrito que o propósito de Deus é ajudar a alcançar metas? De acordo com o livro, Deus vai me dar exatamente aquilo que eu quero, e vai me fazer chegar aonde quero chegar. O capítulo 9 fala de como nós devemos ter uma visão clara de onde queremos chegar e quais as fórmulas que temos de usar para tal fim, e ao seu final a oração do dia nos ensina a termos uma visão clara do que queremos, “a ponto de nos conduzir a fazer o que for necessário para alcançar o resultado que desejamos”40. O único problema com essa doutrina é que ela não pode ser achada na Bíblia. A única forma de crer em algo assim é não conhecendo o Evangelho ou sendo cegado pela ganância. De maneira alguma Deus nos pede quem queremos ser, Ele apenas nos diz como devemos ser. Ele não nos pergunta aonde queremos chegar, mas Ele nos mostra o caminho que devemos trilhar. Deus não está negociando conosco. Há apenas um caminho a ser trilhado e um destino a ser alcançado: Cristo é o caminho e também o objetivo. Jesus disse exatamente o oposto do que Michael está dizendo, Ele disse “Negue-se a si mesmo”: deixe para trás seus sonhos megalomaníacos, “tome sua cruz e siga-me”. O “caminho estreito” é um caminho de autonegação, de esvaziamento de si mesmo. Assim como Cristo foi devemos ser. Ele é o padrão a ser imitado. Paulo diz insistentemente que devemos imitar Cristo em tudo. Se Jesus é o caminho a ser seguido e o exemplo a ser imitado, então os meus sonhos e os meus desejos vêm por último; aliás, eles não importam. Cristo não nos incentivou a fazermos nossas vontades, e sim a vontade do Pai. 39 40

Pg. 28. Pg. 83.

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É comum dos pregadores da prosperidade ensinar que devemos ser como Davi, Salamão, José (assim como Michael faz no capítulo 20), Gideão, entre outros heróis da fé Judaica; que devemos ser grandes, corajosos, ricos e poderosos como eles foram. Obviamente há um contexto histórico e teológico para tais histórias, e não podemos dizer que a vontade de Deus é a mesma para a Igreja do que foi para esses personagens do Antigo Testamento. O padrão para a Igreja é Jesus Cristo, e não outro qualquer. Podemos sim desenvolver verdades espirituais baseando-se em relatos do Antigo Testamento, mas não podemos dizer que porque José foi fiel ao seu senhor no Egito, assim se nós formos fieis aos nossos patrões seremos tão grandes e bem sucedidos como ele foi. A revelação final está no Novo Testamento, e ele não nos dá margem para interpretações desse tipo. Mas é fácil entender porque não se prega mais Cristo, e sim, por exemplo, Gideão: Pois não há triunfalismo nenhum na vida de Jesus, apenas humildade e servidão, enquanto que na vida dos patriarcas, dos reis e dos juízes vemos ousadia, poderio, conquistas e vitórias, batalhas e desafios. Distorcendo os relatos do Antigo Testamento é possível afirmar que Deus nos quer assim também. Já à luz do Novo Testamento, que é a revelação final e completa para a Igreja, não se pode, nem quando distorcemos o Evangelho, afirmar nada parecido. Nossos sonhos por grandeza e prosperidade não fazem parte do plano de Deus para nossas vidas. Se você sonha em ser uma nova criatura, ter novas paixões e ser perdoado, então sim, busque a realização dos seus sonhos. Se você deseja ter dinheiro para ajudar todas as pessoas ao seu redor, seria razoável buscar prosperidade. Deus apenas encoraja a realização dos seus sonhos quando esses condizem com os Dele. Não há nada de errado com a prosperidade, mas como Howard Snyder diz em seu livro Vinho Novo Odres novos: “O problema não está em os cristãos prosperarem; está em que, ao prosperarem, tendem a virar as costas aos pobres”. Então se você tem a capacidade de ganhar bastante dinheiro, ganhe. Porém assim que você for rico, doe, ajude, contribua e acabe com a miséria ao seu redor completamente, e sob hipótese nenhuma fique com mais dinheiro de que você precisa para suas necessidades. Se você porventura ficar rico, não permaneça rico, faça-se pobre para fazer os outros ricos, assim como está escrito que Jesus fez, “ele se fez pobre para nos fazer ricos”. Ora, faça o mesmo! Mahatma Gandhi disse, “se você tem mais do que você precisa, você está roubando”. John Wesley, um dos maiores e mais importantes cristãos da história, disse, “quando você tem mais do que você precisa, você está se vestindo com a nudez do pobre e comendo e usufruindo com o sangue e suor do miserável”. Paulo nos ensinou assim: “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros”41. Veja quais são os sonhos de um homem segundo o coração de Deus: “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar, não ando à procura de grandes coisas nem de coisas maravilhosas demais para mim”42. Davi não queria “grandes coisas” nem coisas “muito maravilhosas”, mas como ele mesmo diz no final do salmo, “ele fez sossegar a sua alma em Deus”. Deus disse a Salomão em 1 Reis 3:3 “Pede o que queres que eu te dê”, e Salomão pediu um “coração compreensivo para saber julgar entre o bem e o mal”, e Deus responde a esse pedido dizendo “Já que não pediste vida longa, nem riqueza, mas pediste entendimento, eis que

41 42

Filipenses 2:4. Salmos 131.

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faço segundo as tuas palavras”. Salomão não tinha planos e sonhos megalomaníacos, mas ele pediu a coisa mais sensata de se pedir: entendimento. Citei Davi e Salomão pois os pregadores da prosperidade gostam de usá-los como exemplo para provar biblicamente que Deus pode nos fazer ricos. O que mais chama a atenção é que esses dois reis só foram ricos porque, primeiro, não queriam ser ricos, e segundo, a riqueza que tiveram usaram para acudir o povo. Não há um versículo sequer no Novo Testamento que suporta esse ensino de Michael. Nem um. Muito menos no Antigo Testamento. Se a interpretação de Michael estiver certa a respeito do provérbio usado de suporte para seu ensino, e o propósito de Deus é nos fazer alcançar as nossa metas, então Deus é incompetente. Pois está escrito “o propósito de Deus prevalecerá”, e Michael está dizendo que o “propósito de Deus é nos levar aonde quisermos chegar”, portanto se a prosperidade e auto realização não forem realidades na vida de, pelo menos, 80% dos crentes do mundo, Deus é incompetente, pois não consegue fazer seu propósito prevalecer. A pergunta fundamental para entender esse Provérbio é esta: qual é o propósito do Senhor? Se a resposta certa for a do livro, então Deus é incompetente, pois a maioria esmagadora de crentes mundo afora não goza de prosperidade e realização própria. Isso quer dizer que Deus não foi capaz de levar todos os seus filhos ao estado em que eles gostariam de estar. Como foi dito, não há nada de errado em querer ter um futuro bom seguir carreira e ser bem sucedido, a Bíblia nos incentiva a sermos bons trabalhadores e homens de confiança, mas ao contrário do que o livro 21 dias está nos propondo, Deus não está negociando com os seres humanos nem nos oferecendo prosperidade. Ele não está nos perguntando “quem você deseja ser” nem “aonde você deseja chegar”. Se os seus propósitos são de acabar com a miséria, alimentar os famintos, acolher o pobre, ajudar o necessitado, dar dignidade e conforto ao oprimido, eu diria: então trabalhe muito e seja rico. De outra maneira, deixe o mundo e sua riquezas e corra atrás do tesouro que não se acaba: Justiça, santidade, sabedoria e conhecimento de Cristo. Infelizmente o livro passa longe de responder essas perguntas de uma forma biblicamente coerente. Sim devemos ter estas três perguntas respondidas: Quem somos? Da onde viemos? Para onde estamos indo? Mas devemos respondê-las buscando na Bíblia respostas, e não em livros de autoajuda. Assim se você realmente quiser saber quem você é, a Bíblia diz: você é pecador e necessita de Deus pois carece de sua glória43. Se você quiser saber para onde você está indo, a Bíblia diz: sem Deus, para o inferno, portanto arrependa-se e creia no Evangelho, que é o poder de Deus para salvação daquele que crer, pois quem não crer, já está condenado44. Se você quiser um objetivo de vida, um alvo para alcançar, assuma esse propósito: ser o mais parecido possível com o Cristo.

43 44

Romanos 3:23. Romanos 1:16, Marcos 1:15 e João 3:18.

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Refutando os Capítulos 6, 8, 13, 14 e 17: Vitórias, promessas e motivações Será que sempre vencemos? Romanos 8:37, “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”, é sem dúvida um dos versículos mais mal interpretados e distorcidos pelos pregadores da prosperidade, e com Michael não poderia ser diferente. No final do capítulo 13 (pg. 113) ele diz que nascemos para ser muito mais do que vencedores, e que o Senhor dos Exércitos irá conosco e, certamente, nos dará a vitória sobre toda guerra. O autor faz uma mistura desse versículo de Romanos com o livro de Josué e afirma que assim como Josué batalhou e venceu tantas guerras e tantas batalhas, pois confiava no Senhor, nós também venceremos nossas guerras e nossas batalhas. E por quê? Porque somos mais que vencedores, é claro! Como é ensinado em muitas igrejas neopentecostais: “não se contente com o pouco que tens, porque você não é apenas vencedor, você é mais que vencedor!” Interpreta-se também que essas guerras e batalhas são os nossos problemas cotidianos pessoais, conjugais, financeiros, etc. Porém Paulo não estava falando sobre essas coisas quando escreveu isso. Leiamos desde o versículo 33, “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes, ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separarnos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” De acordo com o versículo acima somos mais que vencedores porque nada nos separa do amor de Deus, nem fome, nem morte, nem nudez, etc. Nada! Somos mais que vencedores porque aguentamos a morte se preciso; vencemos ela por meio de Cristo. Por que somos mais que vencedores? Porque todos os dias somos mortos e perseguidos em nome de Deus, mas aguentamos, e ao final, vencemos, mesmo se perdemos a vida! Está escrito no começo do versículo 37 “em todas estas coisas somos mais que vencedores”. Em que coisas? Na morte, na perseguição, na angústia, na dor, na prisão, etc. Nessas coisas somos mais que vencedores, porque desfrutamos de uma vitória que não conquistamos. Aquele que celebra a batalha que venceu é um vencedor. Aquele que celebra uma batalha que alguém venceu por ele, é mais do que vencedor. Nós desfrutamos da batalha que Cristo venceu por nós, sobre a morte, e assim nos dando a vitória da vida eterna! Um exemplo que aprendi pode ajudar a entender: um lutador de boxe vence uma luta, e como recompensa ganha um milhão de reais. Ao chegar em casa, todo machucado e com o nariz quebrado, ele dá o cheque para sua mulher. Ela então vai ao shopping e gasta quase tudo em compras. Ela é mais do que vencedora! Ela está usufruindo de um dinheiro que ela não apanhou

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para conseguir. O seu marido apanhou e venceu a luta, mas é ela quem está desfrutando da recompensa. Jesus morreu mas somos nós quem desfrutamos da vida Dele. Esse versículo não está dizendo o que Michael está afirmando; ele não está dizendo que teremos vitória em todas as nossas guerras. Michael diz que podemos perder batalhas, mas não perderemos a guerra45; no capítulo 21 ele diz ainda mais, diz que “Jesus veio para nos curar de todas as nossas necessidades físicas; seja queda de cabelo, obesidade mórbida, dor de cabeça ou dor de dente, Ele vai nos curar”46, mas isso é mentira, cristãos também perdem guerras e não recebem curas. Há cristãos que morrem de câncer, que vão à falência, morrem de AIDS, são perseguidos, nascem com defeitos genéticos e sofrem de doenças hereditárias, passam necessidades, ficam carecas, perdem dentes, etc. Se usarmos esse versículo para afirmar que seremos sempre “mais que vencedores”, e isso significando sempre ter vitória sobre nossos problemas e cura de nossas doenças, então Deus mentiu, pois cristãos também morrem em camas de hospitais, mesmo depois de pedir por cura. Cristãos também se separam, mesmo depois de clamar por restauração. Cristãos também passam fome. Cristãos perdem guerras como todo mundo perde. É verdade que Jesus cura, mas não é verdade que Ele prometeu curar todos, pois se isso for verdade, por que então Ele não cura todos os cristãos doentes e faz crescer novos membros naqueles que nasceram desfigurados? Até hoje não conheço ninguém que por ser cristão não perdeu o cabelo nem miraculosamente deixou de ser obeso. Jesus não veio para suprir nossas necessidades físicas, emocionais, financeiras e conjugais47, isso não pode ser achado na Bíblia e não condiz com a realidade humana. Ele pode fazer essas coisas, mas não é para isso que Ele veio. A missão de Jesus não era fazer o homem imune à doenças, ou como alguns evangélicos dizem, deixar o homem de corpo fechado, nem suprir com todas as nossas necessidades, como Michael diz, mas a missão Dele era “dar a vida em resgate de muitos” e “levar sobre si nossos pecados”48. A nossa vitória e conforto é que “nem angústia, nem tribulação, nem fome”, nem nada disso tudo “nos separa do amor de Cristo”, como diz o versículo 35. Ser mais que vencedor não é estar imune à derrota, mas é apesar da derrota, ainda estar com Deus. Apesar das guerras perdidas ainda sermos vencedores, porque desfrutamos da vida de Cristo; desfrutamos de uma vida e de uma alegria que não conquistamos, e por isso somos mais que vencedores, porque conseguimos aguentar as dores desse mundo e ainda assim ter esperança. Basicamente é dizer que mesmo quando perdemos ganhamos. Esse versículo de Romanos não funciona para nossos problemas de rotina e o ensino de Michael sobre o propósito de Jesus não é verdadeiro. Há relatos de cristãos portadores de doenças terríveis, que batendo no peito afirmaram ser “mais que vencedores”, e que por isso sua doença seria curada, mas no final, acabaram morrendo. Mas Michael insiste em afirmar que Deus já nos deu a vitória, e ainda nos dará ela sobre toda a guerra49, e que o propósito de Jesus ter vindo à terra era suprir todas as nossas necessidades50:

45

Pg. 113. Pg.167-168. 47 Capítulo 21, pg. 165-170. 48 Mateus 20:28 e Isaías 53:5. 49 Pg. 113. 50 Pg. 166. 46

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“Jesus veio para suprir as necessidades físicas, emocionais, financeiras, profissionais, familiares e eternas do homem”51 Ele também diz que “por mais simples e banais que possam parecer nossas necessidades, Jesus está interessado em supri-las todas; por mais insignificantes que possam ser, Ele fica desejoso em nos atender, pois esse é o verdadeiro propósito de Sua vinda”52. Se de fato Deus prometeu suprir todas as nossas necessidades, por menores que sejam, por que Ele não atende às necessidades daqueles cristãos Africanos e Indianos que morrem vítimas de perseguições? Será por que eles não tiveram fé suficiente? Por que essas promessas não funcionam para os cristãos que são caçados, torturados, aprisionados e assassinados no Oriente Médio? Será que eles não creram o suficiente? Por que essas promessas não funcionam para os cristãos que são crucificados, hoje em dia, na faixa de Gaza? Por que essas promessas não funcionaram para os tantos mártires e os cristãos que morreram devorados por leões no coliseu Romano? Por que essas promessas não funcionaram para o dono de empresa, que apesar de orar muito e crer, sua empresa faliu? Para o casal que, apesar de orar e fazer aconselhamento de casal, acabou se separando? Por que não funcionaram para a mãe que orou para Deus cuidar de seu filho, mas ele mesmo assim morreu tragicamente? Ou para o cristão que por anos orou por uma cura mas morreu portador de sua doença? Entende porque Jesus não nos fez essas promessas e ser mais que vencedor não significa ser superprotegido? Você é mais que vencedor porque, através de Jesus, desfruta de uma vida e de uma salvação que você não pagou para conseguir. E apesar das batalhas e guerras perdidas que teremos, ainda assim, essas derrotas não nos afastarão de Deus. Ao contrário do que o livro 21 dias ensina, você não nasceu para ser mais que vencedor nessa terra; você não nasceu para ter vitória em todas as suas guerras nessa terra. Jesus não se comprometeu em curar você de todas as suas doenças nem livrá-lo de todos os seus problemas. Você nasceu para conhecer e viver com Deus, mesmo que isso lhe custe a vida, mesmo que isso lhe traga dor e sofrimento; você ainda é homem e está nesse mundo e nessa carne, e por isso certamente passará por muitas tribulações, doenças e fatalmente passará pela morte. Mas apesar de todas essas coisas, você é mais que vencedor, pois Deus o ama e o redime da cova. A verdadeira vitória do cristão é poder dizer “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? [...] Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo”, I Coríntios 15:55 e 57.

Quantas promessas Deus nos fez? “Quando Jesus não é o suficiente nada é o bastante.” O cristão é confortado ao confiar nas promessas que Deus fez ao seu povo. Quando lembramos da promessa da salvação e vida eterna, descansamos, porque descansamos na palavra de Deus, e Ele não mente53. Ao longo da Bíblia Deus faz várias promessas ao Seu povo. Umas já se cumpriram outras ainda não. Também ao longo da Bíblia, principalmente nos profetas, encontramos 51

Pg. 164. Pg. 166-167. 53 Tito 1:2. 52

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“falsos profetas” fazendo falsas promessas da parte de Deus. Portanto devemos saber quais são essas promessas, de outra forma não saberemos distinguir entre as promessas verdadeiras e as falsas. Lembro-me de uma vez quando um fiel da igreja Universal do Reino de Deus contou a um amigo meu, que “Deus tinha feito mais de mil e tantas promessas para sua Igreja”, depois de ouvir isso eu disse a esse meu amigo que, na próxima vez que alguém lhe dissesse isso, era para ele perguntar: “Você pode me dizer algumas delas, e onde elas estão? Afinal, se são tantas assim, não devem ser difíceis de achar!” Logo depois fiquei sabendo que esse fiel da Universal respondeu o seguinte, que “Na verdade, não deveríamos nos preocupar em ficar lendo tanto a Bíblia, mas que deveríamos sair em busca de almas”. Em nome de Deus muitas coisas são prometidas, mas prometer em nome de é muito diferente do que Ele ter prometido. Toda vez que um pastor, um profeta, um apóstolo (um anjo, um semideus, etc.) se levanta para dizer que Deus tem promessas para nossa vida, deveríamos nos levantar também e dizer, “e quais são elas; onde elas estão escritas?”. Porque há muitos pastores prometendo coisas que Deus nunca prometeu. No capítulo 6, Bênçãos da cruz, temos um exemplo do que estou dizendo. Aqui Michael pega 5 afirmações que Jesus fez na cruz, enquanto agonizava, e delas interpretou promessas que Ele fez para o seu povo; ele afirma que Jesus nos fez 5 promessas de vitória para as nossas vidas54. E elas são: (1) Jesus prometeu nos perdoar. Concordo. (2) Jesus prometeu salvar quem o recebesse como salvador. Concordo. (3) Jesus prometeu restaurar nossa família. Discordo. (4) Jesus nos prometeu prosperidade. Discordo. (5) Jesus nos prometeu vitória. Depende, apenas sobre a morte. (3) Restituição familiar: Michael diz que se entregarmos nossas vidas a Ele, Ele restituirá nossas famílias55. Isso não é verdade. Não pode ser verdade, pois, primeiro, não é assim que acontece. Muitos ao se converterem tem suas famílias destruídas por causa da fé. É verdade que a vontade de Deus é que as famílias permaneçam unidas, esse é o plano original, sim, mas não é verdade que essa é uma promessa que se cumprirá na vida daquele que se entregar a Ele. Cristo mesmo disse que aquele que se converter a Ele corre o risco de perder sua família e amigos56. Michael usa a afirmação de Jesus em João 19:25-27, “Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: eis aí a tua mãe”, e com essa afirmação ele diz que “essa é uma promessa de restauração familiar”. Como é que se interpreta isso disso? O que tem uma coisa com a outra? Se isso for verdade, como entender as passagens que dizem que, por causa da fé, podemos perder tudo, inclusive família? Tenho visto na minha vida e na vida de amigos meus que isso não é verdade. Quem se converte não tem uma família restituída. Algumas vezes a família se converte também, mas na maioria das vezes não. Tenho irmãos que não falam mais com seus pais, pois os pais não aceitam a fé do filho. Eu mesmo tive um relacionamento destruído por causa da fé. Há casais que se separam depois da conversão de um dos cônjuges. Conheço filhos evangélicos que suportam crítica e opressão dos pais que são católicos. Pais que oram pelos filhos e eles não se convertem e morrem sem se converterem (que foi o caso do filósofo Friedrich Nietzche, conhecido como um dos filósofos mais anticristãos do mundo, cujo pai era pastor e a família era protestante), entre vários outros casos. O problema de uma afirmação dessas como a de Michael, de que Deus restituirá nossas famílias pois 54

Pg. 61. Pg. 62. 56 Mateus 10.37. 55

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prometeu, é perigosa porque cria no crente uma esperança que depois é frustrada, e assim o leva à decepção. Por acaso a sua família é toda salva? Se for, que bom, mas sei de muitas outras que não são. Deus não pode forçar ninguém a amá-lo, assim sendo, Ele não forçaria a sua família a crer pelo simples fato de você ter crido. (4) Prometendo prosperidade: “E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, Lamá Sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, e com esse versículo Michael diz: “Essa é uma promessa de prosperidade57”. Ora, como? Onde está a promessa? Em que parte dessa frase de agonia está contida a promessa? Dizer que essa é uma promessa de salvação, tudo bem, podemos entender que “ele se fez maldição por nós”. Mas dizer que isso é promessa de prosperidade? Concordo com o livro quando diz que Ele foi rejeitado para nós sermos aceitos como filhos58, mas e como que isso nos leva à prosperidade? Jesus não nos prometeu uma vida próspera e alegre, na verdade, quase que podemos concluir que Ele disse que teríamos uma vida difícil, com perseguições e muito sofrimento por causa do nome Dele (ler o sermão do monte em Mateus 5). Se Deus realmente prometeu prosperidade, e prosperidade no sentido material, assim como Silas Malafaia, Benny Hinn, Morris Cerullo, Joel Osteen, Edir Macedo, R.R. Soares, e Michael afirmam ser, saúde, realização pessoal e também se comprometeu a suprir todas nossas necessidades, como explicar a vida dos apóstolos? Eles certamente não receberam riqueza nenhuma e tiveram uma vida terrível: Paulo foi apedrejado, chicoteado, espancado com varas, preso, perseguido, passou fome, sede, frio e nudez; foi vítima de naufrágios e perigos de vida de toda a sorte, em desertos, em rios, em mares, entre falsos irmãos, entre gentios, etc.59, morreu degolado ou decapitado. Pedro foi crucificado, diz a tradição cristã, de ponta cabeça. Estêvão foi apedrejado. Tiago, irmão de João, foi decapitado. Marcos foi amarrado e queimado. Bartolomeu abatido a bordoadas, crucificado, e depois de ser esfolado foi decapitado. Mateus morreu golpeado com uma lança. Filipe foi crucificado e apedrejado até a morte60. Outros apóstolos foram crucificados e mortos a golpes. Os primeiros cristãos foram perseguidos e mortos de maneiras terríveis, que somente um demônio teria a criatividade para tal ato. A minha pergunta é: Onde estava a prosperidade deles? Será que o livro de Michael seria conforto aos apóstolos? Onde estava a prosperidade e abundância deles? Por que Deus não estava, em Jesus, como prometido por Michael, suprindo suas necessidades, que aparentemente eram muito mais sérias e importantes do que uma dor de cabeça, uma dor de dente ou um problema conjugal? Será que os apóstolos não tinham a fé necessária? Michael nos incentiva a darmos crédito às promessas que Deus nos fez, pois Ele nos dará a vitória . Deus não fez nenhuma promessa que não esteja escrita na Bíblia, e entre todas as que estão escritas, não há uma que sequer deixe margem à interpretações triunfalistas e de riquezas. Deus não prometeu uma vida feliz e alegre. Deus não prometeu uma vida vitoriosa e bem sucedida. Deus não prometeu riquezas, aliás, é contra elas que Ele mais falou62. Deus prometeu nos dar uma nova vida, um novo começo, uma nova mente; prometeu colocar o Seu Espírito dentro de nós; prometeu nos 61

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Pg. 63. Ibid. 59 2 Coríntios 11:23. 60 O livro dos Mártires, John Foxe, capítulo 1. 61 Pg. 112. 62 Prov. 11.4 ; 11.28 ; 27.24 ; 28.22 Mateus 6.19 ; 6.24 ; 13.22 ; 19.23 ; 10.1, I Timóteo 6.9, I Cor. 6.10. 58

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fazer frutificar em boas obras se permanecêssemos Nele; prometeu nos dar a salvação e a vida Eterna; prometeu se esquecer do nosso passado, entre outras. Todas essas promessas são Bíblicas. Mas as promessas que Cerullo, Murdock, o próprio Michael, entre outras pregadores da prosperidade fizeram, essas não se cumprem porque não foi Deus quem as fez, e sim a carne. O que mais um homem pode querer? Deus deu Seu próprio Filho; esmagou-o naquela cruz por nós. O que mais falta? Atrás de que promessas estamos correndo? Ele deu o Filho, o Seu Espírito, uma nova vida, um novo começo, uma nova mente, novos frutos, nova esperança, amor em abundância e ainda a promessa de logo voltar para nos buscar, e isso não é o suficiente? Se Cristo não basta para você, então nada será o suficiente. O homem que vive atrás de uma promessa, de uma visão ou de uma profecia, não está contente com o que tem, e isso geralmente acontece com aquele que não tem o Filho. Na página 74, Michael diz “Temos que sempre desejar algo a mais”. Isso é incentivar à insatisfação. Onde está escrito que devemos desejar sempre mais? Já Deus disse a Paulo “Minha graça te basta”, então o que mais falta? Ser rico? Prosperar? Você vai correr a sua vida toda atrás dessas promessas só para depois descobrir que Deus nunca as fez, por isso que você nunca as alcançou Dele. Não podemos interpretar as promessas de prosperidade que Deus fez ao povo Hebreu no Antigo Testamento como se servissem para a Igreja. Dizer que Deus tirará dinheiro das mãos dos ímpios para dar aos crentes, como afirma Morris Cerullo, é dizer que Deus é ladrão. Deus nos fez promessas, mas quase nenhuma delas tinha a ver com a nossa vontade, e sim com a Dele; nenhuma delas fala de riqueza e prosperidade para nós nessa terra. A maior e mais satisfatória promessa que Deus fez é Cristo. Ele deu o próprio Filho. Cristo é o nosso tesouro. Ele é a nossa promessa. Ser igual a Ele é o nosso objetivo de vida. A salvação, um corpo glorificado e um lugar à mesa com Ele é a promessa. Vida abundante é uma vida com Ele. Qualquer promessa que contraria o Evangelho não é de Deus. Se você não está contente com essas promessas e precisa constantemente buscar motivação na boca de homens que prometem o que Deus não prometeu, há algo seriamente errado com você. Repito, quando Jesus não é o bastante, nada é o suficiente.

Refutando os Capítulos 2, 5, 16 e 20: Amor, fé, perdão e fidelidade O amor com um propósito diferente “O amor ... não procura os seus interesses” – I Coríntios 13:4-5 Logo na introdução do segundo capítulo o autor afirma que o amor é a chave para o nosso sucesso63. Também que é o amor a Deus e ao nosso irmão que nos levará à vitória64. E o livro diz mais, chega a afirmar que: “Você precisa amar, porque o seu poder, sua fé e a sua prosperidade dependem disso”65

63

Frase de introdução do capítulo 2, pg. 32. Pg. 34. 65 Pg. 35. 64

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Mas que propósito mais mesquinho para se amar alguém, não acha? “Ame, pois disso depende a sua prosperidade!” Será que você entendeu o que isso significa que Michael está nos dizendo? Isso é colocar o amor como ponte para chegar ao dinheiro. O autor também escreveu que somente através de Deus, que é amor, podemos alcançar uma vida financeira próspera66. Já Paulo nos mandou amar por outro motivo. Na famosa passagem sobre o amor em 1 Coríntios 13, o apóstolo explica a grandeza do amor assim como também nos ensina o que ele é. Ele escreve no final do versículo 5 que “o amor não procura interesse próprio”. Como então podemos crer que devemos amar para conquistarmos nossa vitória e prosperidade, sendo que o amor não busca seus interesses? Se seguirmos o conselho do livro 21 dias estaremos amando para obtermos um fim desejado, mas o amor em si, como descrito por Paulo, não tem essa atitude. Quem ama ama porque o amor é o dom supremo. São os ímpios que amam com segundas intenções e interesse próprio. São eles que abusam dessa virtude cristã. São os filhos do diabo que dizem que amam para conseguir coisas em troca. O amor do mundo é oposto ao amor de Deus: Se o amor de Deus é um amor incondicional e que não visa o próprio bem, então o amor do mundo é aquele que só busca o interesse próprio e que é condicional. Peço que você agora ponha a sua criatividade para funcionar e tente acompanhar a análise que farei da metáfora mais absurda que já ouvi: repare bem na frase: “o amor é a chave para o sucesso”, e pergunte-se. Nessa metáfora, o que é mais importante? (1) A chave, (2) a porta, ou (3) o que está por detrás da porta? Obviamente a resposta é (3) aquilo que está atrás da porta. Assim a porta é obstáculo que impede você de se chegar aonde você deseja, enquanto a chave é o mero dispositivo que lhe permite superar esse obstáculo. Nessa metáfora, Michael põe o amor como um dispositivo descartável, que só serve para um propósito: levar você ao outro lado da porta. Ao afirmar que “O amor é a chave para o seu sucesso”, você está afirmando que “Deus é a chave para o seu sucesso”, e assim fazendo Deus um meio para o seu fim desejado. É a diminuição e profanação da maior virtude cristã; é a diminuição de Deus. O livro 21 dias está tratando o amor, a virtude mais elevada e a essência de Deus, como um mero mecanismo que o ajudará a chegar na prosperidade. Isso é heresia. É blasfêmia. O cristão não deve amar pensando na sua vitória, o cristão deve amar porque amar é a coisa certa a se fazer! Porque Deus nos amou, então devemos amar! Sempre se lembre de que “o amor não visa interesse próprio”, e o amor que Michael nos apresenta é completamente visando o nosso próprio bem. Vamos ver o que a Bíblia fala sobre o amor. De acordo com o evangelho de Mateus, o amor é o mandamento supremo, a síntese de toda a lei e os profetas. (22:37) De acordo com o evangelho de João, o amor é o motivo pelo qual Deus deu seu único Filho. (3:16) De acordo com o livro de Romanos, o amor é o cumprimento total da lei. (13:10) De acordo com o livro de 1 Coríntios, o amor é o dom supremo que devemos buscar. (13:13) De acordo com o livro de Gálatas, o amor é a primeira virtude da lista que compõem o fruto do Espírito Santo. (5:22) 66

Pg. 35.

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De acordo com o livro de Efésios, o amor é o solo onde devemos estar arraigados. (3:17) De acordo com o livro de Filipenses, o amor é que deve nos manter unidos. (Cap. 2) De acordo com o livro de Colossenses, o amor é o vínculo da perfeição. (3:14) De acordo com o livro de Tessalonicenses, o amor é a couraça que nos protege. (5:8) De acordo com o livro de Timóteo, o amor é a finalidade dos mandamentos, para que tenhamos um coração puro, uma fé não fingida e uma boa consciência. (1:5) De acordo com o livro de Tito, o amor é o que nos salvou da nossa insensatez, desobediência, concupiscências, invejas e malícias. (3:4) De acordo com o livro de Filemom, o amor foi motivo de gozo e consolação para Paulo. (1:7) De acordo com o livro de Hebreus, o amor é o que deve nos manter motivados a fazermos boas obras. (10:24) De acordo com o livro de Pedro, o amor por nós é o motivo pelo qual Deus se manifestou. (1:20) De acordo com o livro de 1 João, o amor é o próprio Deus. (4:8) De acordo com o livro de 2 João, o amor é a obediência aos mandamentos de Cristo. (1:6) De acordo com o livro de Judas, o amor é aquilo no que devemos nos conservar. (1:21) De acordo com o livro de Apocalipse, o amor é aquele estado que nunca devemos deixar (2:4) Como podemos ver, amor pode ser definido de várias formas de acordo com a Bíblia, mas nenhuma delas passa perto da definição de Michael. Pela Bíblia vemos que amor pode ser muita coisa, mas nunca uma chave para o sucesso. Uma das mais importantes regras da lógica é a da não-contradição, que diz que “duas afirmações não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo que contraditórias”. As afirmações sobre o amor e o motivo porque devemos amar que a Bíblia nos apresenta, são contrárias aos motivos que encontramos no livro 21 dias. Um dos livros está errado. Os dois não podem estar certos ao mesmo tempo. Um diz “amem sem interesse”, o outro diz “amem com interesse”. Um diz “o amor é o fim de tudo”, o outro diz “o amor é um meio para se chegar a um fim desejado”. Um diz que o amor pode e nos trará sofrimentos injustos, o outro diz que o amor nos trará prosperidade e abundância em tudo muito além das nossas necessidades67. Eu fico com a Bíblia. Não devemos tratar o amor como um mecanismo mundano nem como uma fórmula, mas busquemos aquele amor sobre o qual Paulo escreveu, aquele que não tem interesse próprio.

67

Pg. 34, primeiro parágrafo.

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O perdão e a fidelidade com um propósito diferente Perdoar talvez seja o verbo que o cristão mais use durante toda sua vida; é o ato mais incrível da parte de Deus para com os seres humanos. Devemos cuidar para não confundir perdão com desculpas. Desculpar é retirar a culpa do agressor pois ele não teve a intenção de fazer o mal; foi sem querer. É basicamente fazer de conta que não aconteceu, pois não houve culpa de nenhuma das partes. Já perdoar é reconhecer a culpa e levar sobre si o dano, e não fazer a justiça cair sobre o agressor. É exatamente o que Jesus fez por nós. Como aprendi, por coincidência da língua portuguesa, o verbo perdoar parece ser composto por dois verbos, “perder” e “doar”. Quando você perdoa, você “perde” e “doa”. Perde o direito de fazer justiça e doa misericórdia imerecida. Como C.S. Lewis disse: perdoar é desculpar o indesculpável68. Aquele que perdoa reconhece a culpa do agressor mas decide sofrer o dano da agressão, e então agir com compaixão e misericórdia para com o lado culpado abrindo mão dos seus direitos de justiça. Não existe perdão sem sacrifício. É realmente um dos atos mais nobres e o exemplo mais perfeito de altruísmo. E assim como o amor, o perdão é algo que não visa o próprio bem, antes é o sacrifício de uma das partes para reconciliar consigo a outra. Esse é o perdão que Deus nos ofereceu através da cruz e o qual devemos imitar. O amor e o perdão não visam o próprio bem, são atos totalmente desvinculados de qualquer interesse próprio. Pergunte-se: O que Deus ganhou nos perdoando? Nada, apenas sofreu uma morte na cruz. O que Deus ganhou nos amando? Nada, apenas teve que, por isso, nos aguentar a teimosia e carnalidade. Deus não ganha nada agindo dessa maneira para conosco, aliás, Ele perde e sofre. Por isso que chamamos graça de graça. Algo grátis é algo “de graça”: não custa nada e não espera nada em troca; no máximo gratidão. Quando alguém dá algo “de graça” não é com vista no próprio bem, mas com vista no bem do outro. Deus nos perdoou porque quis, e porque Ele fez isso nós respondemos em gratidão e amor e fazemos o mesmo com o nosso próximo. Por isso perdoamos, porque fomos perdoados, afinal como não poderíamos perdoar depois de ter sido perdoados de tamanhas transgressões? O único motivo porque deveríamos perdoar é este: porque é a coisa certa; cura e abençoa o próximo. O perdão é lindo, é majestoso, nobre e soa como que se destilasse compaixão. Mas os marqueteiros da fé evangélica conseguiram profanar essa virtude tão linda do cristianismo e transformar o perdão em fórmula para conquistas. Michael diz: “Pedir perdão e perdoar é trazer a bênção de Deus sobre a sua vida. É abrir as portas para a prosperidade. O perdão é uma palavra de vitória69. Quando perdoamos, liberamos a nossa vida para prosperar e sermos abençoados por Deus70. A mesma coisa ele afirma sobre a fidelidade, que devemos ser fieis para sermos abençoados, pois é ela que nos trará a vitória e a recompensa; ela é o caminho da vitória71. Se quisermos destaque e honra entre os homens, precisamos ser fieis72, ele diz. Nada poderia ser mais herético do que estas afirmações. 68

C.S. Lewis, O Peso da Glória. Pg. 133. 70 Pg. 132. 71 Pg. 160 - 161. 72 Pg. 161. 69

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Façamos um resumo dos ensinos de Michael até agora: Então devemos amar, não porque amar é a coisa certa a se fazer, mas porque amando teremos sucesso. Devemos perdoar, não porque Deus nos perdoou, mas porque ao perdoar liberamos nossas vidas para prosperar. Devemos ser fieis, não porque isso faz parte do caráter de um filho de Deus, mas porque a fidelidade é o caminho para nossa vitória. Assim o amor é a chave para o sucesso73, o perdão é o que libera a prosperidade74 e a fidelidade traz a prosperidade75. Em menos de 10 páginas Michael conseguiu rebaixar as maiores e mais belas virtudes cristãs a meras fórmulas para se alcançar destaque e riquezas.

A fé com um propósito diferente “Melhor do que um receber um milagre é não precisar de um milagre” O capítulo nos traz a história de Marcos 5:25, sobre a mulher enferma que ao tocar as vestes de Jesus foi curada, e com base nesse história Michael nos traz umas definições de fé assim também como para que ela serve. Aprendemos com esse capítulo do livro que a fé é uma arma poderosa que Deus nos deu para alcançarmos o milagre76. Mais uma vez, assim como o autor reinventou o amor e o perdão, ele faz com a fé. O livro de Hebreus nos diz o que é a fé e para o que ela serve. No capítulo 11 diz assim, “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”. “Certeza daquilo que vai acontecer” e “convicção das coisas que não se veem”, e não “arma para conquistar o milagre”. Michael nos apresenta a fé como sendo um pé de cabra espiritual para abrir a mão de Deus e convencê-lo a fazer aquilo que queremos. Se continuarmos lendo nesse capítulo 11 de Hebreus veremos que “pela fé...” os homens foram salvos, pois confiaram na provisão de Deus, mas não está escrito que “pela fé conseguimos alcançar o milagre”. Aliás, os milagres que esses homens de Hebreus capítulo 11 alcançaram, não eram milagres que eles queriam, mas milagres que Deus disse que aconteceriam. O que Deus faz em nós por meio da fé não é aquilo que nós queremos, mas é aquilo que Ele quer. Fé não é cheque em branco; não é o seu poder de convencer a Deus de realizar os seus desejos, fé é certeza. Certeza de que? De que o milagre vai ser realizado? Não! Mas de que Deus é quem disse que é, e por isso, podemos descansar. Você não crer para conquistar o seu milagre, da mesma forma que você não deve amar para chegar à prosperidade. Repito, Deus não está barganhando com os seres humanos e uma das características da fé verdadeira é que ela humilha o homem, e não o torna arrogante e pidão. Michael também escreve que “a fé é atrevida”77. Não irmãos, a fé não é atrevida, a fé é humilde. A fé não é cara de pau, a fé é realista. “pela fé...” ninguém se torna atrevido. A mulher enferma de Marcos 5:25 não era atrevida, e sim humilhada e desesperada. O livro diz que “A atitude dela nos ensina como usar a fé para alcançar um milagre”, pg. 54, não irmãos! A fé dela nos mostra como é que devemos nos relacionar com Deus, isto é, admitindo que ninguém mais fora o Senhor pode nos salvar. Ninguém mais fora o Senhor pode nos curar. Essa mulher enferma não tinha uma fé

73

Fase de introdução do capítulo 2, pg. 32. Afirmação feita na página 132 e conclusão do capítulo na página seguinte último parágrafo. 75 Frase de introdução do capítulo 20, pg. 156. 76 Pg. 54. 77 Ibid. 74

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triunfalista, ela tinha uma fé desesperada! Ela não saiu declarando que hoje ela seria curada 78, ela saiu chorando porque “muito padecera às mãos de médicos” e continuava indo “a pior”. Aquela mulher não estava marchando em busca do seu milagre, ela estava “atemorizada e tremendo”, e entrou “por meio da multidão” em busca de ajuda. Aquela mulher não tinha uma imagem clara de como queria ser curada79, ela só tinha uma esperança de que Jesus podia curá-la, pois “tinha ouvido sua fama”. Aquela mulher não começou a ver em sua mente o milagre por ter crido 80, mas quando ela disse que “se apenas lhe tocasse as vestes seria curada”, ela estava dizendo “eu creio quem Ele diz que é, e se eu apenas tocar-lhe as vestes será o suficiente”, não há triunfalismo nem declarações positivistas nem visualização de milagres, há apenas humilhação, fé e esperança na identidade de Jesus. A fé dessa mulher deve ser para nós modelo, pois Jesus disse “A tua fé te salvou!” Mas como era essa fé? “Atrevida” e “intrépida”? Não! Era humilde e confiante na identidade de Jesus e não nas suas declarações positivistas. Esse texto nos mostrou como devemos nos achegar a Deus: humildemente, quando nos arrependemos de ter jogado todos os nossos recursos fora com o mundo e ter crido no homem; quando estivermos humilhados e reconhecido que o nosso caso é tão grave, que só o Filho de Deus para nos curar. De maneira alguma podemos interpretar que essa mulher estava confiante num sentido triunfalista, a ponto de declarar e marchar em busca do seu milagre. Sua situação era vergonhosa e desanimadora: “doze anos sofrendo com hemorragia”. Mas como meu bom amigo disse, a exegese já está incutida na mente do leitor. Muitos leem esse texto procurando a mensagem de prosperidade. Também o autor nos dá essa fórmula, que supostamente foi usada pela mulher enferma: “Ouvir, visualizar e declarar”. Assim chegamos ao milagre81. Gostaria de saber onde está essa fórmula na Bíblia? Onde está escrito que aquilo que conseguimos visualizar é o que conseguimos conquistar pela fé82, e que devemos declarar após termos ouvido a palavra de Deus? Por acaso Michael não sabe que esse é o princípio da Sei-cho-no-iê, e que nada tem com o cristianismo? Ache uma pessoa nas Escrituras que visualizou e declarou. Não há. Ao invés o que encontramos ao longo dos evangelhos são pessoas “implorando” e “gritando” para serem ouvidas; pessoas que “creram” e “choraram”, que “adoraram”; “se prostraram”; que “tremeram e temeram”, mas não encontramos ninguém que “declarou” nada. Ora, quem declara tem poder para cumprir o decreto! E o único que tem esse poder é Deus, portanto Ele pode declarar as coisas e elas acontecem, nós apenas imploramos e esperamos. Jesus nos ensinou a “pedir” e não “exigir”. (Um comentário) Irmão, você não acha estranho que há tantas pessoas declarando, exigindo, visualizando, dizimando e ofertando, seguindo os 21 dias, os 10 passos, os 7 princípios, as 5 leis de um líder e os 12 segredos e nada muda? Você não percebe que os únicos que prosperam com a teologia da prosperidade são os pastores que a pregam? Enquanto você crer nessas “fábulas”, como Paulo nos advertiu, que não têm conexão alguma com a verdadeira fé nem com a realidade, você continuará tentando, buscando, seguindo, comprando livros e livros, escutando pregações e mais pregações, 78

Pg. 56. Ibid. 80 Ibid. 81 Ibid. 82 Pg. 145. 79

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frequentando encontros e eventos, dizimando e ofertando, e sua vida não mudará. Não haverá um romper financeiro na sua vida, apenas na vida do seu pastor. Você não percebe que é o seu pastor que tem um carro importado, uma mansão, um jatinho particular e roupa nova. Ora, é claro que ele pregará a prosperidade, pois para ele funciona, porque há pessoas como você que o sustentam e o patrocinam! Irmãos, a verdadeira fé não declara, suplica. A fé não serve para você conquistar o milagre, e sim para você ter certeza daquilo que não se vê e convicção daquilo que se espera. A fé que agrade Deus não é aquela que é atrevida exige e declara, mas é aquela que confia e pede! A verdadeira fé não é obstinada. O verdadeiro cristão não é ambicioso e não trata a fé como um pé de cabra espiritual. A verdadeira fé é aquela que produz em nós tão grande convicção que nos leva à morte pelo que cremos. Essa fé genuína é a certeza que milhares de mártires que foram torturados, queimados, esmagados, esquartejados, decepados, crucificados e apedrejados tinham de que assim que fechassem os olhos aqui, veriam o cordeiro lá. Termino com o texto de Marcos 5:25, leiam-no sob esta perspectiva: como sendo o relato de uma mulher desesperada que confiou em quem Jesus disse que era, e humildemente confessou que Ele era o único que podia ajudá-la. Esse é o relato de uma mulher que, do contrário do que Michael nos ensinou, não creu em si mesma nem em suas declarações positivistas, mas antes, creu Nele somente! “Aconteceu que certa mulher, que, havia 12 anos, vinha sofrendo de uma hemorragia e muito padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada aproveitar, antes, pelo contrário, indo a pior, tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por trás dele, por entre a multidão, tocou-lhe a veste. Porque, dizia: Se eu apenas lhe tocasse as vestes, ficarei curada. E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar curada do seu flagelo. Jesus, reconhecendo imediatamente que dele saíra poder, virando-se no meio da multidão, perguntou: Quem me tocou nas vestes? Responderam-lhe seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: quem me tocou? Ele porém, olhava ao redor para ver quem fizera isso. Então, a mulher, atemorizada e tremendo, cônscia do que nela operara, veio prostrou-se diante dele e declarou-lhe toda a verdade. E ele lhe disse: Filha a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre do teu mal”

Refutando o Capítulo 7: Decidindo errado (breve comentário) O livro afirma nesse capítulo que as nossas escolhas definem quem nós somos e quem seremos, e também que “ser infeliz e viver na pobreza é uma decisão nossa” 83, eu gostaria que Michael pregasse essa mensagem nas favelas do Rio de Janeiro. Eu gostaria que ele tivesse a coragem de ir a Ruanda, na África, e dizer isso, “que ser pobre e infeliz é uma decisão que a pessoa toma”, ou talvez dizer, como ele diz no livro, que a pobreza é causada por espíritos de pobreza. Gostaria de ver qual seria a repercussão. O que será que aqueles pobres coitados mendigos em São 83

Pg. 68-69.

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Paulo fariam com esse livro? Será que 21 dias seria tempo suficiente para transformar a vida deles também? Será que uma mãe que vive na rua, se hoje, começasse a visualizar, declarar e, pela fé, buscar o milagre, ela teria a sua vitória e a sua bênção? Talvez se aqueles cristãos que são perseguidos na China declarassem com mais ousadia e atrevimento, Deus os ouviria e os salvaria da perseguição. Eu faria questão de pagar uma passagem de primeira classe para Michael ir ao Haiti pregar essa mensagem de vitória para aquele povo sofrido, gostaria de ver se surtiria efeito; se realmente, transformaria a vida deles. Também faria questão de ofertar 900 reais ao Cerullo em nome de um sem teto qualquer, só para ver se dentro de 6 meses as promessas de Deus se realizariam sobre a vida dessa pessoa ou não. Ou talvez devêssemos enviar o valor de um aluguel como oferta de sacrifício ao programa de Silas, assim como ele pede, em nome de alguma vítima das enchentes que destruíram Blumenau, SC, só para ver se Deus é fiel às promessas de Silas, e em troca dá uma casa nova a essa gente. Por que Michael não vai à público e prega essa mensagem para os tantos que continuam desabrigados em Blumenau e região, assim talvez as pessoas deixem de ser tão incrédulas e comecem a seguir esses princípios, assim liberando sobre elas a bênção de Deus sobre suas vidas, e em 21 dias ou menos, terem suas vidas transformadas, suas bênçãos conquistadas e metas alcançadas? Irmãos, se a mensagem não serve para alguns, não serve paga ninguém. Se a mensagem é de Deus, então é para todos.

Refutando o capítulo 12: Sementes “Cada um faz ofertas e sacrifícios para o Deus em que crê; o meu Deus não pede dinheiro” “Não vos enganeis, de Deus não se zomba; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”, Gálatas 6:7. A lei da semeadura, de acordo com o livro, é a lei mais importante que existe no mundo e serve para trazer dinheiro, amor, amizade e tudo aquilo de bom que nós desejarmos84. Os que a pregam geralmente baseiam-se nesse versículo de Gálatas e em 2 Coríntios 9:6. As escandalosas petições por ofertas feitas em nome dessa lei ultrapassam a linha do absurdo e chegam ao ridículo. Silas Malafaia em uma de suas pregações disse a respeito dessa lei: “e tem uns com cara de supersantos que dizem ‘pastor, eu dou ofertas pelo simples ato de dar. Eu dou porque eu amo a Deus então eu dou’. Sim trouxa! Ok trouxa! Eu respeito você trouxa! Mas a Bíblia não manda você fazer isso, a Bíblia faz uma analogia da oferta com a semente, para que você entenda que todo o agricultor que planta quer colher, você deve dar oferta na expectativa de que você vai colher na sua vida. Eu plantei mamão, quero colher mamão! Plantei laranja, quero colher laranja! Plantei ofertas, então quero colher bênçãos materiais na minha vida!”85. Em outro vídeo, ele desafia os telespectadores a semearem o pagamento de um aluguel, se a pessoa vive de aluguel, para então Deus abrir as portas e conceder a bênção de ter uma casa própria. Alguns pastores chegam ao absurdo de pedir aos fieis que semeiem suas contas de luz, água e telefone, prometendo em troca um romper financeiro. Michael diz que às vezes Deus nos pede coisas 84 85

Pg. 100 e 105. Vídeo que pode ser achado sob o título de Silas Malafaia Ministro do Evangelho da prosperidade.

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que não estamos prontos para dar por ainda não termos maturidade espiritual suficiente nem fé para um romper financeiro86. Basicamente ele disse que se não temos coragem para ofertar, somos crianças na fé. Ele diz na página 102, que aquele dinheiro que temos em mãos que não é suficiente para pagar as contas é a nossa semente, e não a nossa colheita, portanto devemos semeá-lo e esperar a colheita. Ora, que absurdo. Você percebe, leitor, que tudo é dinheiro? Tudo. Cada capítulo, cada exemplo, cada ensino, cada lei; tudo é dinheiro e prosperidade. O amor, o perdão, a fé, a fidelidade, o Reino, as leis, a salvação; tudo gira em volta do dinheiro. Basicamente o que Michael está nos propondo é um investimento no Reino de Deus. Você investe tanto e depois recebe de volta esse tanto mais o lucro. Você faz as contas para ver quanto você quer ganhar, então deposita o necessário para render tantos juros, e depois colhe o seu dinheiro de volta. O Reino de Deus é aqui retratado como um mundo de negócios e Deus como um banqueiro. Você investe sua semente, espera dar lucros, depois colhe os benefícios. Essa demonologia da prosperidade; esse culto a Mamom (o deus do dinheiro e das riquezas, Mateus 6:24 em algumas traduções traz a palavra Mamom ao invés da palavra riquezas) vem direto do inferno e vai contra todo o Evangelho de Jesus Cristo. Enquanto 21 dias nos ensina a investir, o Evangelho nos ensina a dar. Jesus disse para “emprestar dinheiro sem nada esperar receber de volta”87, mas emprestar pelo simples fato de ajudar. Esse é o espírito do Evangelho, o da contribuição e ajuda. Reino de Deus não é banco, não se investe nele, se doa para ele. Não podemos interpretar esse versículo de Gálatas para falar sobre dinheiro. O versículo não está falando sobre isso. Leiamos o versículo todo, e não só a parte que nos convêm: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna. E não cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.” Do que Paulo estava falando aqui? De semear dinheiro? Não! De semear corrupção para a carne, ou semear contrição e virtude para o Espírito. “Porque de Deus não se zomba” então aquele que semear irresponsabilidade e imprudência, colherá desgraça e tragédia. Aquele que semear desobediência e rebeldia, colherá lágrimas e sofrimento. “Porque de Deus não se zomba”, então como você espera semear desobediência e colher virtude? Isso seria zombar de Deus! Então aquele que semeia para carne, colhe corrupção. Aquele que semeia para o Espírito, colhe virtude. Paulo não estava falando de dinheiro! Como podemos estar certos disso? Lendo o capítulo anterior, lá Paulo estava falando de frutos do Espírito e da carne. O capítulo 5 fala que devemos produzir o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, etc., e evitar os frutos da carne: prostituição, impureza, lascívia, etc., e a única maneira de colher o fruto do Espírito é semeando para o Espírito. Todos os dois capítulos 5 e 6 estão falando de virtudes e obras da carne, e não de dinheiro. Basta uma simples análise textual e interpretação do conteúdo dentro do seu contexto. Não há mistério: Aquele que semeia para o Espírito colhe o fruto do Espírito, aquele que semeia para sua própria carne, colhe as obras da carne. Um capítulo está ligado ao outro, Paulo estava falando de uma coisa só, e não era dinheiro. Essa “lei” é a forma com a qual os pregadores arrancam dinheiro do povo mais facilmente, prometendo que Deus restituirá em dobro, e que se semeando (dinheiro, obviamente), colheremos até 86 87

Pg. 101. Lucas 6:35.

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cem vezes mais. Mike Murdock e Morris Cerullo têm aparecido algumas vezes nos programas de Silas com petições de “sementes preciosas” de 610, 900 e 1.000 reais, prometendo que dentro de “612 meses, todas as promessas e profecias de Deus para nossa vida se cumpririam”. Pedro já nos advertiu de que um dia, por causa da ganância, falsos mestres nos enganariam e fariam comércio de nossas almas, mas aparentemente tem gente que não lê Bíblia e cai nesses esquemas. O texto que talvez poderia ter sido usado para suportar esse ensino, seria o de 2 Coríntios 9:6. Lá sim Paulo estava falando de semear e colher contribuições e ofertas. Mas ele faz isso com um propósito, dizendo: “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra, como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre”. De acordo com esse texto, semeamos para colher mais e então superabundarmos em boas obras, e não para ficarmos ricos. Se você deseja semear e colher coisas materiais, deve ser para superabundar em boas obras, e não para enriquecer! Outro motivo além desse seria errado. Aquele que quer ter tudo em ampla suficiência deve fazer boas obras: distribuir entre os pobres e acabar com a miséria ao seu redor. O foco da sementeira e colheita de 2 Coríntios não é ficar rico nem investir para o seu bem, é para ter como acudir o necessitado! Então vemos que a semeadura de Gálatas não fala de dinheiro nem nada material, e a semeadura de 2 Coríntios tem uma condição, que é acudir os pobres com aquilo que colhemos. A lei da semeadura não é, como diz Michael, a lei mais importante que existe, ela só é a mais importante para aquele que vive correndo atrás de dinheiro, mas para um filho de Deus, a lei mais importante que existe é a do amor (caridade). Ao contrário do que Michael nos ensinou a lei da semeadura não serve para trazer tudo de bom que quisermos, incluindo dinheiro, amor, etc., e sim para prover recursos com os quais acudiremos o pobre e acabaremos com a miséria. O foco dessa suposta lei não é você, e sim o outro.

Considerações finais Apesar de termos sido avisados tantas e tantas vezes pelo nosso Senhor e Seus apóstolos que um dia a cristandade estaria repleta de falsos mestres, novos evangelhos e diferentes deuses, ainda assim muitos cristãos se deixam seduzir e abandonam a sã doutrina, se entregando à fábulas de homens adoradores de dinheiro, e por causa disso, são corrompidos pela cobiça e se tornam idólatras; escravos das riquezas desse mundo. Assim como os antigos israelitas por tantas vezes se prostituíram e foram adorar outros deuses, também o povo de Deus está fazendo hoje: prestando culto e sacrificando a deuses estranhos, seguindo seus próprios corações carnais e abandonando os estatutos do Senhor Jesus; dando ouvidos a falsos profetas e amontoando para si mestres segundo suas próprias cobiças, diz a Bíblia. Antigamente era o culto a Baal que seduzia o povo de Deus, hoje é o culto a Mamom88. Na antiga Israel eram os baalitas que, com palavras, enganavam os filhos de Deus, hoje na Igreja são os pregadores da prosperidades. Lá o sacrifício era humano, agora ele é monetário. Satanás continua com a mesma estratégia: como o cantor Keith Green falou, “ele põe um pouco de verdade em cada mentira”, e assim induz os homens à adoração de um falso deus que satisfaça as concupiscências de

88

Falso deus da riqueza e da avareza segundo o dicionário Webster da língua inglesa.

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nossa carne. O espírito por detrás é o mesmo, apenas se atualizou e mudou de nome, mas continua com os mesmos objetivos: levar os homens a sacrificar e ofertar a outros deuses. Cada vez mais igrejas e pastores surgem no cenário evangélico brasileiro pregando a teologia da prosperidade, e com isso inundando nossa livrarias e televisão com material e programas heréticos. Infelizmente todo aquele conteúdo bíblico que trazia significado à palavra “evangélico” foi jogado fora e substituído pela má fama que o movimento neopentecostal e seus inúmeros escândalos trouxeram consigo. Hoje em dia dizer-se cristão evangélico não significa mais o que significava há uns 30 anos atrás. Os pregadores da prosperidade aos poucos redefiniram o vocabulário cristão e criaram uma nova imagem do que é ser um filho de Deus. Eles basicamente transformaram o evangelho num produto e Deus num vendedor de destinos. O teólogo brasileiro Augustus Nicodemus escreveu em seu artigo a alma católica dos evangélicos no Brasil, que os evangélicos nunca conseguiram se livrar completamente da herança religiosa que os católicos deixaram nesse país, e em virtude disso, têm importado para dentro do evangelicalismo elementos essenciais do catolicismo romano, e entre eles, o gosto por bispos e apóstolos, e a ideia de que pastores são mediadores entre o povo e Deus. Isso explica a facilidade que os pregadores da prosperidade encontram em fazer discípulos, pois basta apelar a essa mentalidade já formada, e impor-se como ungido de autoridade e de poder de cura para cair nas graças do povo, que por sua vez, cultuará a personalidade do ungido. Enquanto os católicos adoram os ídolos de pau e pedra, os evangélicos adoram os de carne e osso. Tragicamente essa é a realidade do cristianismo no Brasil: vai de mal a pior, assim como o nosso Senhor disse que aconteceria, ao ponto de Ele indagar se ainda haveria fé verdadeira na terra quando Ele voltasse89. Mas essa não é apenas a situação do Brasil, mas do mundo todo. Um pastor americano disse que o dia onde mais se blasfema o nome de Deus é o domingo, pois é quando milhares de pessoas se reúnem em nome de Jesus para blasfemá-lo em igrejas mundo afora declarando coisas que Ele não declarou e invocando Seu Santo nome por motivos errados. Portanto não deveríamos nos surpreender quando falsos mestres se levantam, isso já nos foi avisado que aconteceria. No entanto deveríamos vigiar para que não sejamos enganados e levados ao redor por qualquer vento de doutrina estranha, como Paulo disse em Efésios. Mas se há uma coisa que aprendi, é que cada um obedece e segue o Deus em que quer acreditar, então de nada adianta oferecer um Evangelho de salvação para aquele que está procurando um evangelho da prosperidade; para nada serve a mensagem de Jesus àquele que deseja ficar rico. Àqueles que querem conhecer o Deus da graça, que o procurem na Bíblia e não em livros de autoajuda. Creio que fui claro ao expor o porquê do livro 21 dias para transformar a sua vida não estar de acordo com a Bíblia. Ele traz erros graves: apresenta um evangelho diferente, fala de um Jesus que a Bíblia desconhece, de um Deus que não possui o caráter do Senhor Deus e Pai, e faz falsas promessas. Assim como o fruto não cai longe do pé, Michael não fica aquém nem vai além das heresias de seus mentores, e como muitos outros livros desse mesmo cunho motivacional já foram lançados no meio cristão e já logo foram esquecidos, creio que 21 dias também o será.

89

Lucas 18:8.

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