PROJETO INTEGRADO DE MODELOS TRIDIMENSIONAIS para estudos de arquitetura renascentista Modelos de Sebastiano Serlio (Colunas) Pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Modelos Tridimensionais nos anos de 2012 a 2013 PROJETO APROVADO E FINANCIADO PELO CNPQ bolsas de pesquisa para iniciação científica no período de setembro de 2012 a agosto de 2013 LABTRI - Laboratório de modelos Tridimensionais da FAU - USP Coordenação: Prof. Dr. Mário Henrique Simão DAgostino Professores: Dra. Andea Buchidid Loewen Pesquisador: Rômulo Oraggio Beraldi
Agradecimentos
A elaboração desse trabalho não seria viável sem a perene assistência dos professores Dr. Mário Henrique Simão D’Agostino e Dra. Andrea Buchidid Loewen que, ao mínimo sinal de dificuldade, não hesitaram em estender a mão em auxílio na superaçãodos obstáculos que aqui se propôs enfrentar. Se é muito grato também à pesquisadora Gabriela Lotuffo Oliveira pela troca de experiências e de quem a ajuda foi imprescindível no desenvolvimento dos modelos tridimensionais, assim como Lucas Frech, sempre disposto a orientar o processo. Também deve ser lembrada Carolina Rodrigues Rentes que soube incentivar o trabalho durante seus momentos desafiadores e trazer calma à sua elaboração.
ÍNDICE
Prefácio.....................................................................................................................5 Notas ..........................................................................................................................6 As cinco Ordens Clássicas da arquitetura Êntasis ..........................................................................................................................7 Toscana ....................................................11 Dórica ....................................................21 Jônica ....................................................31 Coríntia ....................................................47 Compósita ....................................................61 Caneluras ..................................................................................................................69
Bibliografia .............................................................................................................73
5 PREFÁCIO
O presente trabalho propõe a montagem de um “Kit pedagógico” destinado a alunos de graduação em Arquitetura, composto de caderno de estudos e modelos físico e digital, com fins didáticos, a fim de propiciar material de suporte ao estudo e entendimento das principais vertentes históricas da chamada Arquitetura Clássica do Renascimento Italiano. A proposta coordena-se a outras pesquisas realizadas no Laboratório de Modelos Tridimensionais (LabTri) do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Esse libreto visa dar continuidade às pesquisas anteriores sobre os Modelos de Vitrúvio (premiada entre as 15 melhores da Universidade de São Paulo pelo SICUSP) e sobre as soluções de templos e ordens de colunas clássicas prescritas por Francesco di Giorgio Martini em seu Tratado de Arquitetura, correspondente ao período histórico do Renascimento na Itália, visando o estudo da obra de Sebastiano Serlio (1475-1554) “I Sette libri dell’architettura; Libro IV”. O pesquisador responsável pela viabilização do produto final, Rômulo Oraggio Beraldi, contou com o apoio financeiro da Reitoria da USP (bolsas de iniciação científica). A coordenação do projeto coube ao prof. Dr. Mário Henrique Simão D’Agostino, contando também com a colaboração da professora Dra. Andrea Buchidid Loewen.
6 NOTAS
Para o entendimento do tratado dá-se à medida da seção transversal da base do fuste, o nome de MÓDULO. É por essa medida que o artesão se baseará para o dimensionamento de todos os elementos que compõe cada ordem.
Para a organização desse Kit Pedagógico dividiu-se cada ordem em seus principais elementos: Tamanho, Pedestal, Base, Capiel e Entablamento. Pode ser que alguma ordem apresente mais ou menos de um de cada um desses elementos.
7 ÊNTASIS
O êntasis é uma técnica empregada na concepção de colunas que contribui para o efeito óptico de solidez e estabilidade do edifício. Aplicada no fuste ela cria um abaulamento desse elemento de modo a dar a impressão ao observador de maior estabilidade. Para melhor visualizar o efeito pode-se pensar em uma fileira de cones e uma fileira de cilindros de mesmo diâmetro. O conjunto de cones passa sem dúvidas uma sensação maior de firmeza. Para tanto, diferentemente do tratado de Vitruvio, Serlio não aplica um abaulamento integral ao fuste, mas sim um que se inicia a partir do terço inferior, fazendo com que sua base seja efetivamente menor do que o topo. O procedimento é simples e varia de acordo com a vontade do artesão. O método será explanado nos passos a seguir.
8
Faz-se um retângulo de 1 módulo por X módulos de altura, sendo X o tamanho do fuste desejado.
1/8
topo do fuste
D1
D2
X/6
X/6
D3
X/3
X módulos
X/6
Da parte superior é tirado 1/8 de cada um dos lados. Esse segmento será o topo do fuste;
3
X/3
2
1 módulo
X/6
1
Divide-se esse retângulo em 3 partes iguais. O 1/3 inferior é mantido e os outros 2/3 restantes são divididos verticalmente em quantas partes o projetista achar necessário*. Esse exemplo será dividido em 4 partes pelos segmentos D1, D2, D3 e D4
X/3
PROCEDIMENTO
D4
1/8
9
X/6
D3
X/6
1/8
r
D4
No segmento que divide o1/3 inferior dos demais será feito um meio círculo -de raio 1/2 módulo - e das extremidades do topo do fuste serão traçadas duas retas r e s verticais. No ponto em que as retas encontram o meio círculo, será traçado um segmento de linha t.
1/8
s t
1/8
X/3
X/3
4
r
5
O comprimento de raio compreendido entre o segmento t e o d4 serão divididos no mesmo número de partes dos 2/3 superiores, no caso 4 partes divididas por d1, d2, d3 e d4
D4
1/8
s t d1 d2 d3 d4
10
topo do fuste h'
6
i'
Desse modo liga-se as extremidades de d1 com as de D1 por segmentos h e h’; as extremidades de d2 com os pontos derivados da intercessão entre D2 e h, h’ por segmentos i e i’; as extremidades d3 com os pontos derivados da intercessão entre D3 e i, i’ por segmentos j e j’; as extremidades de d4 com os pontos derivados da intercessão entre D4 e j e j’ por segmentos k e k’.
Dessa maneira, a começar pelo 1/3 inferior do fuste, sua espessura se afunila, formando o que para Serlio é o processo de êntasis. *Serlio afirma que fica a cargo do artesão a quantia dessas divisões, que varia conforme a altura da coluna almejada e sua espessura.
j'
k'
D1
h
D2
i
D3
j
D4
k t d1 d2 d3 d4
11 ORDEM TOSCANA
A primeira das ordens a ser abordada por Serlio, a Toscana, é a seu ver ideal para ser utilizada em portais de cidades, cidadelas e castelos, ou então locais que guardam riquezas, munições e artilharia, sendo que seu principal uso se dá em prédios fora dos grandes centros urbanos.
Em ALTURA, contando base, fuste e capitel, essa ordem deve ter 6 módulos, sendo 5 destinado ao o comprimento do fuste, 1/2 ao da base e 1/2 ao do capitel.
12 11 PEDESTAL TOSCANO O pedestal da Ordem Toscana deve ter em largura a mesma medida do Plinto da base da coluna. Com essa dimensão faz-se um quadrado, divide-se sua altura por 4 partes e adiciona-se uma dessas partes à face superior e outra à inferior, havendo assim um total de 6 partes iguais - a mesma proporção apresentada na altura da coluna Toscana (6 módulos). Os elementos adicionados dessa maneira não devem, segundo Serlio, ser ornamentados ou esculpidos.
Serlio não especifica uma medida para a projeção de tais elementos e chega a ilustrar modelos em que não há projeção. A observação das pranchas permite depreender que a a medida da projeção pode ser obtida através do encontro de um arco cujo raio é igual à diagonal desses elementos, com o eixo horizontal no qual se dá seu centro.
1
13
1.elevação do pedestal toscano 2.modelos eletrônicos do pedestal toscano 3.imagem original do tratado
2
3
3
14 BASE TOSCANA Plinto
A base deve ter 1/2 módulo de altura e ser dividida em duas partes, a inferior é para o Plinto e a superior deve ser dividida em 3 partes iguais, das quais as duas de baixo serão para o Toro e a outra para a Cinta. A projeção (dimensões horizontais) dessa base em relação ao fuste deve ser feita da seguinte maneira: traça-se um círculo de 1 módulo de diâmetro, inscreve-se o em um quadrado que deverá ser circunscrito por um outro círculo concêntrico. Dessa forma é possível atribuir valores proporcionais à dimensão da base em relação ao resto da coluna. As extremidades do círculo externo darão o limite ideal de avanço da projeção do Plinto e do Toro. A Projeção da Cinta deve ser igual a sua altura e contada a partir do módulo da base do fuste.
Plinto
Toro
Cinta Plinto
Toro
Cinta
Plinto
15 Diferentemente das outras ordens, o Plinto da Ordem Toscana há de ser feito redondo, coincidindo com as dimensões do Toro (M). 2
1.elevação da base toscana 2.modelos eletrônicos da base toscana 3.imagem original do tratado 1
2
16 CAPITEL TOSCANO
A altura do capitel é como a da Base e deverá ser dividido em 3 partes iguais. Uma delas será para o Ábaco.
A do meio terá de ser dividida em 4 partes iguais, das quais 3 superiores serão para o Équino e a outra para o seu Anulo.
O 1/3 restante inferior será para o Hipotraquelio. Há ainda um elemento de transição entre o Fuste e o Capitel que Serlio chama de Astragalo com o Colarinho, que, juntos, têm altura igual a metade do Hipotraquelio e são adicionados inferiormente à altura do Capitel, sendo que duas partes dessa medida são uma para o primeiro, e uma para o segundo elemento.
Ábaco
Équino
Équino
Hipotraquelio
Équino Hipotraquelio
Colarinho
Ábaco
Anulo
Ábaco Anulo
Ábaco Anulo
Astragalo
17 A projeção do Ábaco - sua medida horizontal - deve ser de um módulo. A projeção do Hipotraquelio deve ser como o topo do fuste. O Équino será o elemento de ligação entre esses cuja projeção específica não vem prescrita no tratado, diferentemente do Anulo que se projeta como sua altura, assim como o Astragalo e Colarinho, separadamente. 2 1.elevação do capitel toscano 2.modelos eletrônicos do capitel toscano 3.imagem original do tratado
1
1 módulo ábaco équino anulo hipotraquélio astragalo colarinho
2
3
18 ENTABLAMENTO TOSCANO Segundo Sebastiano Serlio o entablamento é concebido da seguinte maneira: a Arquitrave terá 1/2 módulo de altura e deverá ser dividida em 6 partes, o 1/6 superior será para Tenia;
o Zóforo também terá 1/2 módulo e terá sua altura integral mantida; o Córnice terá 1/2 módulo de altura que será dividida em 4 partes, os 1/4 superior e inferior serão destinados às Cimatas e o restante será para a Corona. Cimata
Córnice
Corona Cimata
Zóforo Tenia
Arquitrave
As projeções devem ser feitas como suas alturas, sendo que a Arquitrave e o Zóforo permanecem alinhados ao Hipotraquélio do Capitel – que por sua vez é alinhado ao topo do fuste.
1.elevação do entablamento toscano 2.imagem original do tratado 3.modelos eletrônicos do capitel toscano
1
19 Serlio ainda indica que a Corona pode apresentar Dentículos em sua projeção, mas não especifica suas proporções, de modo que apreendeu-se as seguintes medidas das pranchas ilustradas. Para tanto divide-se a projeção da Corona em 14 partes e, começando de fora para dentro, cada dentículo terá 2 dessas partes por um intervalo de 1. A altura dos intervalos será também de 1 parte.
2
cimata corona cimata zóforo tênia arquitrave 3
1
1.elevação do entablamento toscano 2.imagem original do tratado 3.modelos eletrônicos do capitel toscano
21 ORDEM DÓRICA
Sebastiano Serlio aponta que os Antigos remetem o uso da Ordem Dórica aos deuses Júpiter, Marte e Hércules e a outros deuses fortes e robustos. Ressalta que os bons cristãos ao erigirem um templo a Jesus Cristo ou a São Pedro, São Paulo ou São Jorge, que, apesar de não terem sido todos soldados por profissão em vida, mas por terem dado a vida à defesa da fé de Cristo, devem utilizar-se dessa ordem para os templos. A descrição da Ordem Dórica é a segunda a ser abordada. Ela tem, em altura, 7 módulos, tendo sua base 1/2 módulo de altura e seu capitel 1/2 de altura desse modo.
22 PEDESTAL DÓRICO O pedestal dórico deve ser feito segundo as proporções da coluna, em 7 partes. Para tanto se usa a largura do Plinto da base como lado de um quadrado cuja diagonal será a altura do pedestal. A essa altura soma-se, acima e abaixo, 1/5 dela mesma, de forma a se ter 7 partes iguais no total.
1.elevação dos elementos esculpidos do pedestal dórico 2.modelos eletrônicos do pedestal dórico 3.imagem original do tratado
1
1
23 em seu tratado Serlio não especifica como esculpir os elementos adicionados, de modo que as medidas a seguir foram depreendidas dos desenhos na edição original do tratado em italiano. Como não há nomes que determinam cada um dos componentes, serão citados ordinalmente de cima para baixo.
A parte somada ao topo do pedestal tem de ser dividida em 11 partes iguais, 2 serão para o primeiro elemento, 6 para o segundo, 2 para o terceiro e 1 para o último.
A parte somada à parte e de baixo do pedestal deve ser dividia também em 11 partes, sendo ao primeiro elemento, 2 ao segundo, 3 ao terceiro e 5 ao último.
1
2
1
2
24 As projeções desses indivíduos são assim como suas alturas, exceto pelo elemento imediatamente abaixo do Plinto, que se projeta com medida igual a 2 vezes a altura do Plinto, e o elemento logo abaixo, que deve conectar a peça de modo proporcional aos olhos do artesão, sem uma medida exata.
3
2
2
25 BASE DÓRICA Para a concepção da BASE Serlio atribui-lhe 1/2 módulo de altura que será dividido em 3 partes iguais, a parte inferior será o Plinto.
Serlio diz que o Plinto deve ter 1 módulo e meio horizontalmente e que a projeção total dos elementos restantes da base deve ser metade de sua altura.
Plinto
O restante será dividido em 2 partes, onde a metade de baixo será o Toro Inferior e a outra será a Escócia, que terá sua altura dividida em 7 partes. Serão feitos frisos equivalentes a uma dessas partes cada na parte superior e inferior da Escócia (dentro de sua própria altura). Toro Superior Plinto
Os 2/3 restantes serão divididos em 4 partes cuja mais alta será destinada ao Toro Superior. Toro Superior
Toro Inferior
Escócia
Plinto
Friso Friso
Escócia
nas edições consultadas do tratado, Serlio faz uma demostração confusa da projeção da base, portanto a explanação a seguir orientouse em parte pelas pranchas gráficas.
não há uma regra prescrita para cada elemento separadamente, o que torna o processo um pouco impreciso, mas por observação das pranchas gráficas nota-se que as projeções seguem a lógica predominante no tratado, de que cada elemento avança horizontalmente conforme sua própria altura.
26
1
4
3 1.elevação da base dórica 2.imagem original do tratado 3, 4 e 5.modelos eletrônicos da base dórica
3
5
27 CAPITEL DÓRICO O capitel dórico deve ter 1/2 módulo em altura e deve ser dividido em 3 partes iguais. A parte superior será o Ábaco e deverá ser dividida em 3 partes, sendo o terço superior também dividido em 3 partes, das quais a mais alta fará o Regolo, e as demais a Cimata. O restante do Ábaco será o Plinto.
Ábaco 1 Ábaco Ábaco1 1
Capitel Capitel
1 11 22 22 2 2 33 Hipotraquélio Hipotraquélio3 3 3 Hipotraquélio 3
O terço mediano do capitel também será partido em 3 partes iguais, sendo os 2/3 superiores o Équino e o restante dividido igualmente entre seus três Anéis. O restante da altura total será o Hipotraquelio.
Regolo
Regolo Regolo
Cimata Cimata
Plinto
Plinto Plinto Anéis Anéis
Équino Équino
Cimata Équino
AnéisHipotraquélio Hipotraquélio
Hipotraquélio
ainda há dois elementos cuja altura ou projeção não são citadas, que fazem a ligação do fuste ao capitel e que pelas pranchas é possível depreender suas proporções.
São elas, a superior, Astragalo ou “Tondino”, equivalente a 1/3 do Hipotraquelio, sua projeção se dá na linha dos Anéis; e a inferior, imediatamente acima do fuste, o “Apophigi detti colarin” ou Colarinho, com altura equivalente a 1/4 Hipotraquélio Hipotraquélio do Hipotraquelio e com metade dessa medida em projeção.
Hipotraquélio Hipotraquélio
Colarinho Colarinho
Astragalo Astragalo
28 As projeções dos elementos serão como suas alturas.
1
1
3
4 regolo cimata plinto équino anéis hipotraquelio astragalo colarinho
1.projeções do capitel, as linhas tracejadas mostram como a altura dos elementos se transformam em suas projeções 2.elevações do capitel dórico 3.modelos eletrônicos dao capitel dórico 4.imagem original do tratado
3
2
3
29
O entablamento dórico é composto, inicialmente, pela Arquitrave com altura de 1/2 módulo e sendo dividida em 7 partes iguais, a superior será a Tenia, que fará a divisão das Gotas e seus Frisos com o Triglifo. Essa Subtenia tem a altura de 1/6 da Arquitrave e será dividida em 4 partes, uma delas o será o Friso e o restante abaixo as Gotas, que serão feitas em conjuntos de seis unidades trapezoidais. Os Tríglifos tem de ter 3/4 módulos em altura e 1/2 módulo de espessura, que deverá ser dividida em 12 partes para a concepção de seus canais. De cada um dos lados do Tríglifo deve-se deixar uma dessas partes para meios canais, sendo 6 partes do restante destinadas às partes planas da peça, e as 4 outras para os canais em si. Na parte superior dessa peça há de se fazer um coroamento com altura de 1/12 módulo adicionais e que percorre longitudinalmente todo o entablamento. Entre um Triglifo e outro há um espaço chamado por Vitruvio de Métopa, que deve ser um quadrado de 3/4 de módulo, no qual se coloca ornamentação.
Logo acima dos Triglifos deve-se posicionar a Corona com suas Cimácias, inferior e superior, sendo a altura total 1/4 de módulo dividido em 5 partes, 3 para a Corona e uma para cada uma das Cimácias. Acima desse conjunto está a Scima, com mesma altura, 1/8 dessa medida é adicionado ao topo para o Friso superior. Friso Friso Scima Scima
Cimácia
Corona
Coroamento Coroamento Triglifo Triglifo
Arquitrave Arquitrave
Cimácia Coroamento
Triglifo Métopa Métopa
Subtenia Subtenia
Mét Canais Canais Canais Canais
ENTABLAMENTO DÓRICO
Tenia Tenia
30
As projeções dos elementos descritos são equivalentes às suas alturas, exceto pela Corona, que, quando o material permitir, tem de ser exaltada.
1
2
3 2 1.elevação do entablamento dórico 2.modelos eletrônicos do entablamento dórico 3.imagem original do tratado
2
31 ORDEM JÔNICA
À Ordem Jônica é atribuída pelos antigos uma forma feminina e é dedicada aos deuses Apolline, Diana e Baco. Mas os cristãos, ao fazerem um templo sacro com essa ordem, devem dedicálo àqueles santos que em vida foram tanto robustos como tenros, e se algum edifício público ou privado for feito para aqueles homens de vida quieta e literatos, que seja usada a Ordem Jônica. A Ordem Jônica é composta segundo Sebastiano Serlio por no total 8 módulos, com Base, Fuste e Capitel. Vitruvio afirma que essa medida tem de ser 8,5 módulos e há ainda exemplos com 9 módulos em altura. Segundo o tratado analisado aqui, a altura da base é igual a 1/2 módulo e o capitel 1/3 de módulo, podendo chegar a até o dobro desse valor.
32 PEDESTAL JÔNICO O pedestal jônico é feito na mesma proporção de sua coluna, ou seja, em 8 partes. Sua largura será a mesma do Plinto da base e a sua altura será feita com 1,5 dessas medida.
Divide-se esse retângulo em 6 partes verticalmente e adiciona-se uma dessa partes no topo e outra no fundo do retângulo, resultando dessa forma em 8 partes iguais. Essa é a regra geral que pode ser adaptada como melhor convier ao artesão.
33 em seu tratado Serlio não especifica como esculpir os elementos adicionados, de modo que as medidas a seguir foram depreendidas dos desenhos na edição original do tratado em italiano. Como não há nomes que determinam cada um dos componentes, serão citados ordinalmente de cima para baixo.
Divide-se a parte somada a cima do pedestal em 10 partes iguais, 1 delas é a altura do primeiro elemento, 2 para o segundo, 1 para o terceiro, 3 para o quarto, 1 para o quinto e 2 para o sexto.
1
A parte somada ao fundo do retângulo também tem de ser dividida em 10 partes, sendo 1 ao primeiro elemento, 2 ao segundo, 1 ao terceiro, 2 ao quarto, 1 ao quinto, 2,5 ao sexto e 0,5 ao sétimo. Ainda há de se considerar um Plinto desse pedestal, adicionado posteriormente à sua base. Em relação a essa divisão em 10 partes, ele apresenta 5 em altura. 1
2
34 As projeções desses elementos são como suas alturas e podem ser mais bem observadas nas pranchas gráficas que apresentam variações, onde elementos côncavos têm versões con-
2
1.elevação do pedestal jônico e seus elementos esculpidos 2.modelos eletrônicos do pedestal jônico 3.imagem original do tratado 3
2
35 BASE JÔNICA
Plinto
Toro Plinto
A base da Ordem Jônica de acordo Serlio tem altura de 1/2 módulo. O Plinto tem 1/3 dessa altura. O restante é dividido em 3 partes iguais das quais a superior é o Toro; outra, logo abaixo do Toro, tem de ser dividida em 6 partes, uma delas para o Astragalo, meia para a Cinta e uma delas para o Supercílio, logo abaixo do Toro; o restante seria a Escócia Superior. O terço restante também deve ser dividido em 6 partes, sendo uma delas para o Astragalo, meia para a sua Cinta e meia para o elemento de divisão entre a Esócia Inferior e o Plinto.
Supercílio
Toro
Escócia Superior Cinta
Astragalos
Cinta
Escócia Inferior Supercílio
Plinto
36 A projeção em cada um dos lados da base deve ser (1/8 + 1/16) módulo, de modo que o Plinto deve ter (1/4 + 1/8) módulo em projeção em cada um dos lados. As demais projeções são explicitadas por Serlio em suas pranchas gráfcas. O esquema a seguir procura esclarecer essas relações. 1
2
Toro Supercílio Escócia Superior Cinta
Astragalos
Cinta
Escócia Inferior Supercílio
Plinto (1/16 + 1/8)
37
1
1. elevação da base jônica 2.imagem original do tratado 3.modelos eletrônicos da base jônica
2
3
3
38 CAPITEL JÔNICO
O Ábaco deve ter a projeção de 1 módulo, sendo adicionada a cada a de seus lados 1/36 desse valor. Há um elemento superior cujo nome Serlio não fornece e que está colocado adicionalmente à altura total do capitel, sua altura é também equivalente a 1/36.
Segundo Sebastiano Serlio o capitel jônico tem altura total de 1/3 de módulo, mas em alguns casos em que há ornamentação pode-se chegar a até o dobro dessa altura.
Divide-se o total da projeção por 19 partes iguais. Conta-se 1,5 dessas partes das extremidades do Ábaco para dentro, e então traça-se um segmento de reta perpendicular para baixo com 9,5 partes de comprimento, a esse segmento dá-se o nome de Catheta e servirá como gabarito para a montagem das Volutas.
1/36
1/36 1módulo
1/36
1/36 1módulo
Ábaco Ábaco Ábaco
Équino Équino Astragalo Astragalo Anéis Anéis
Olho Cathetha
Voluta Voluta
39
1
Olho
3
A 1,5 dessas partes superiores será a altura do Ábaco. Das 8 partes restantes deve haver 4 logo abaixo do Ábaco, a quinta será o Olho da voluta, restando ainda três delas abaixo. Deve-se inscrever o segmento referente ao olho em uma circunferência e dividir seu diâmetro em 6 partes iguais, enumerando-o como mostra-se a seguir.
5 Centro 6 4 Cathetha
2
1/36
1/36 1/36
1/36 1/36
1módulo 1módulo 1módulo
1/36 1/36
1/36
1módulo Ábaco
Ábaco Ábaco
Ábaco
Olho
Olho Olho
Cathetha Cathetha Cathetha
Olho Cathetha
40 Com o compasso centrado no ponto 1, traça-se um arco com início no encontro da Catheta com a parte inferior do Ábaco e que desce externamente ao capitel até se encontrar novamente com a Catheta.
Mudando o centro do compasso para o ponto 2 traça-se outro arco que sobe internamente ao capitel até se encontrar com a Catheta novamente. Repete-se esse processo em espiral até o ponto 6, onde o arco se encontrará com o ponto 1. Ábaco
Ábaco
1
Ábaco
3 2
Ábaco
4
Ábaco
5
Ábaco
6
41
em relação à dimensão da ornamentação do capitel Serlio não diz nada, exceto pelo Ábaco. Entretanto é possível, pelas pranchas gráficas, ver que os valores das alturas dos demais elementos variam conforme o tamanho das Volutas.
1
1
1.imagem original do tratado 2.modelos eletrônicos da capitel jônico
Sobre as linhas internas das curvas das Volutas o tratadista ainda afirma que se o capitel for muito grande – sem especificação do que “grande” é – a espessura entre as linhas deve ser de 1/4 do diâmetro do Olho, mas se o capitel tiver uma altura ordinária, essa espessura muda para 1/3. Para se obter essa curva interna ainda pode-se mudar o centro do compasso “um pouco” para baixo do ponto 1, “um pouco” para cima do ponto 2, e assim por diante, repetindo o processo de montagem das volutas.
42
2
2
2
43 ENTABLAMENTO JÔNICO Para a montagem do entablemtno jônico, é necessário saber antes a altura total da coluna, com base, fuste e capitel. Essa medida nos dirá qual será a altura da Arquitrave e essa dos demais componentes, o Friso e a Cornija. Para tanto Serlio prescreve a seguinte relação.
Acima dessa Cimácia devem estar os Dentículos com altura igual à da Faixa Mediana. As bases dos Dentículos devem ter metade de sua altura, sendo que o espaço entre eles deve ser 1/3 menor. A Cimácia dos Dentículos equivale a 1/6 de sua altura e deve ser adicionada imediatamente acima deles. A Corona possui também a mesma altura da Faixa Média, e sua Cimácia ocupa 1/3 dessa altura (aqui levou-se em consideração as pranchas gráficas, pois não há esse dado na forma de texto). A Scima é
1/8 maior de que a Corona, sendo seu Friso a sexta parte do todo.
Feito isso se divide a altura da Arquitrave em 7 partes iguais, uma delas – a mais alta – será a Cimácia, o restante deve ser dividido em 12 partes iguais. 3 delas serão para a Faixa Inferior, 4 para a Faixa Média e 5 para a Faixa Superior. Serlio diz que se houver algum adorno esculpido no Friso ele deve ser 1/4 maior de que a Arquitrave, mas se não apresentar, deve ser 1/4 menor. A Cimácia do Friso deve medir o equivalente a 1/7 de sua altura e somada imediatamente acima dele.
todas as Cimácias utilizadas mostram uma divisão interna que resulta em uma parte menor e uma maior, como não foram encontradas medidas precisas em forma de texto que as explanam, procurou-se tirar das pranchas gráficas essa proporção. Entretanto essa omissão pode significar que tal divisão pode estar a cargo do artesão ao esculpir a peça. na Cimácia da Arquitrave a parte menor deve ter 1/4 de sua altura, na Cimácia do Friso a parte menor deve ter 1/6 de sua altura, na Cimácia dos Dentículos a parte menor deve ter 1/3 de sua altura, na Cimácia da Corona a parte menor deve ter 1/3 de sua altura.
44 Pelo que se pode depreender das pranchas gráficas, pois o texto não esclarece, a projeção do entablamento se dá dessa forma: a projeção total (máxima) da Arquitrave se dá em sua Cimácia, que avança a mesma medida de sua altura. 1
friso scima cim.corona corona dentículos cimatie zóforo
No caso é só o Friso que tem esse alcance, deixando o restante ceder até quase metade dessa projeção máxima. A Faixa Superior avança até metade da projeção total e Faixa do Meio até um quarto da projeção total. O Friso se limita à linha de projeção da Faixa Inferior, sendo que sua Cimácia se projeta como sua altura. A projeção dos Dentículos deve ser como sua altura, assim como sua Cimácia. A projeção do conjunto Dentículos/Corona, com suas respectivas Cimácia deve ser igual à altura do Friso (sem sua Cimácia). A projeção da Scima é como sua altura, assim também o é seu friso.
2
zóforo
cimatie arquitrave faixa superior faixa média faixa inferior
1. elevação do entablamento jônico 2. imagem original do tratado
arquitrave friso
cornija
45
47 ORDEM CORÍNTIA
Serlio afirma que como a origem dessa ordem está relacionada a uma jovem virgem de origem coríntia, portanto quando for utilizada em um templo sacro, esse deve ser dedicado à Virgem Maria mãe de Jesus Cristo ou também a todos aqueles santos e santas cujas vidas foram celibatárias. Diz ainda que essa ordem é própria para ser utilizada em monastérios e outros edifícios clericais cujos habitantes dedicam a virgindade ao culto sagrado. Mas se caso houver um edifício público ou privado, até mesmo sepulcral e forem feitos para pessoas de vida casta e honesta, a essa ordem pode ser usada. A Ordem Coríntia é a quarta ordem abordada por Sebastiano Serlio em seu tratado. Segundo o autor ela é composta de 9 módulos com base e capitel. Tendo a base 1/2 módulo em altura e o capitel 1 módulo, o restante é destinado ao fuste.
48 PEDESTAL CORÍNTIO
O pedestal coríntio tem a mesma largura do Plinto, sendo sua altura igual a 5/3 dessa medida, que deverá ser dividida em 7 partes. Soma-se ao topo e ao fundo do pedestal uma dessas partes, tendo, no total, 9 partes iguais. (7/7 + 2/7 = 9/7).
49 a divisão dos elementos esculpidos assim como suas projeções foram tiradas das pranchas gráficas uma vez que não há explanação sobre elas no texto, de modo que serão nomeados de forma ordinal, de cima a baixo.
Divide-se o 1/7 adicionado ao topo do pedestal em 12 partes iguais, 1,5 dessas partes será para o primeiro elemento, 2 delas serão para o segundo, 1 para o terceiro, 2,5 para o quarto, uma para o quinto, 2 para o sexto, 1 para o sétimo e 1 para o oitavo.
1.elevação dos elementos esculpidos do pedestal coríntio 2.modelos eletrônicos do pedestal coríntio 3.imagem original do tratado
Divide-se o 1/7 somado à base do pedestal também em 12 partes, sendo uma delas para o primeiro elemento, 1 ½ para o segundo, 1 para o terceiro, 2 para o quarto, 1 para o quinto, 2 para o sexto, 3,5 para o último.
1
2
1
2
50 As projeções são aproximadamente como suas alturas, a não ser pelo primeiro elemento da parte de cima, que avança o equivalente a 2,5 vezes a altura do Plinto, e podem ter variações de concavidade. Essas particularidades ficam melhor explicadas graficamente e são visíveis nos modelos digitais feitos.
3
2
2
51 BASE CORÍNTIA A base da Ordem Coríntia tem 1/2 módulo em altura, que deve ser dividida em 4 partes iguais, uma delas é o Plinto. O restante é dividido em 5 partes iguais, uma delas é o Toro Superior. O Toro inferior tem de ser 1/4 maior. O restante é dividido em 2 partes iguais, essas serão as duas Escócias com seus respectivos Astragalos e Frisos. Os Astragalos tem de ter 1/6 da medida das Escócias e os Frisos 1/12, exceto pelo Friso logo acima do Toro Inferior, que deve ser 1/3 maior que os outros. Há ainda um elemento que separa o Toro Inferior do Plinto e cujo nome não é citado por Serlio no tratado, entretanto há de se crer que seja um Friso com mesma altura dos demais.
Plinto Toro Superior Plinto
Escócias Plinto
Toro Inferior Toro Superior Toro Inferior
Friso
Escócia Superior Friso
Astragalo Astragalo
Friso
Escócia Inferior Friso
1 toro superior escócia superior astragalos escócia inferior toro inferior plinto
52 Quanto à descrição da projeção da base Sebastiano Serlio é um tanto fugidio, ele aponta que a projeção do Plinto, se posicionado acima de outra ordem, deve ser como a projeção da Ordem Jônica, mas se colocado diretamente sobre o chão, deve ser como a projeção da Ordem Dórica, as projeções dos demais elementos foram feitas conforme a prancha gráfica do tratado.
1.elevação da base coríntia 2.modelos eletrônicos do capitel 3.imagem original do tratado
2
3
1
2
53 CAPITEL CORÍNTIO
O capitel coríntio deve ter a altura de 1 módulo, 1/7 dessa altura será para o Ábaco. O restante deve ser dividido em 3 partes iguais, uma delas para as Folhas Inferiores, outra para as Folhas Médias e outra para as Volutas. Entre as Folhas Médias e as Volutas há um conjunto de folhas menores, de onde nascem as Volutas. A base do capitel deve ter a espessura do topo da coluna. Logo abaixo do Ábaco há uma Cinta com o equivalente a metade de sua altura. O Ábaco deve ser dividido em 3 partes iguais, sendo uma delas para uma Cimácia e seu Friso, e o restante será um Plinto. O Friso da Cimácia terá a mesma projeção do Plinto da base. A projeção dos demais elementos é fundamental na concepção do capitel, mas para melhor visualização imaginase a figura a seguir em “planta”.
Ábaco
Cimácia Cinta
Plinto
Volutas Folhas Médias Folhas Inferiores
54
A construção se dá da seguinte maneira: inscreve-se o diâmetro da base do fuste em um quadrado, que terá de ser inscrito em outra circunferência e que, por sua vez, será inscrita em outro quadrado maior. Cruza-se as diagonais de um dos quadrados, encontrando o centro da figura toda. A partir de um dos lados do quadrado maior concebe-se um triângulo equilátero com o vértice externo ao conjunto. Traça-se o raio do círculo maior em direção ao vértice externo do triângulo feito, de modo que seja perpendicular à sua base, o segmento de raio compreendido entre os círculos deve ser dividido em 4 partes
55
Centrando o compasso no vértice externo no triângulo, traça-se um arco com a altura desse triângulo somado a 3 das 4 partes geradas pela divisão do segmento de raio. O arco compreendido entre os lados do triângulo será a projeção, vista de cima, do capitel coríntio. Repete-se esse processo para os quatro lados do quadrado.
56 Voltando à vista frontal do capitel, sobrepõe-se à sua base um segmento de reta de 1 módulo. Das extremidades da projeção do Ábaco traçam-se duas linhas que as ligam às extremidades do segmento sobreposto à base, obtendo-se dessa forma uma figura trapezoidal invertida. Essas linhas funcionarão como gabaritos para as projeções das Volutas e folhas.
3
1
1.imagem original do tratado 2.elevação 3 e 4.modelos eletrônicos do capitel 2
4
57 ENTABLAMENTO CORÍNTIO 1
A altura da Arquitrave deve variar conforme a tabela já apresentada, de modo a ser dividida em 7 partes. A parte superior será a Cimácia da Arquitrave e o restante dividido em 12 partes, 3 para a Faixa Inferior, 4 para a Faixa Média e 5 para a Faixa Superior, entretanto abaixo da Faixa Média e Superior deve-se adicionar elementos com 1/8 de seus respectivos tamanhos e que terão projeções um pouco menores do que suas alturas, variando conforme o desejo do artesão.
cimatie zóforo
cimatie corona corona chrine cimatie mútulas dentículos
zóforo
9
cimatie arquitrave faixa superior
faixa inferior
21 31
faixa média
01 11
Entre a Corona e os Dentículos deve-se adicionar um elemento chamado de “Chrine” com altura igual à da Faixa Inferior e cuja projeção é a mesma que sua altura.
scima
1 2 34 56 7 8
Serlio aponta no início da descrição do entablamento coríntio que Vitruvio em seu tratado não dá medida alguma em relação à sua composição, portanto a fará conforme sua própria opinião, seguindo o modelo do entablamento jônico e adicionando a ele outros elementos.
friso
2
3
Arquitrave
Friso
Cornija
58
2
1elevação do entablamento coríntio 2.modelos eletrônicos do entablamento coríntio 3.esquema com a divisão do entablamento coríntio
59
1 friso scima cim.corona cim.mútulas mútulas e dentículos
4 5 6
corona
1 2 3
chrine
7
cimatie zóforo
8
zóforo
9
cimatie arquitrave
01 11
faixa superior faixa média
31
faixa inferior
21
Há entretanto outro modo de se fazer o entablamento coríntio, de forma que inclui-se além dos Astragalos e do “Chrine”, Mútulas junto dos Dentículos em um só elemento. Todavia Sebastiano ressalta que esse modo é feito apenas por arquitetos “licenciosos” e “ousados” e ainda que ele nunca faria a junção desses elementos – Dentículos e Mútulas – em um só Córnice. Nesse outro modelo deve-se considerar a coluna coríntia, com base e capitel, dividida em 4 partes iguais. Com a medida de 1/4 dessa coluna há de se conceber o entablamento. Essa altura deve ser dividida em 10 partes iguais, sendo 3 para a Arquitrave, 3 para o Friso e 4 para o Córnice. Dessas últimas 4 partes devem ser feitas 9 partes iguais, uma delas é para a Cimácia do Zóforo, 2 para o “Chrine” com seus respectivo friso, 2 para as Mútulas com sua Cimácia, 2 para a Corona e as 2 últimas para a Cima com sua Cimácia, que deve ser 1/4 dessa altura. Esse entablamento também é concebível a partir de 1/5 da altura da coluna com base e capitel. As projeções são as já descritas na Ordem Jônica.
60 1.elevação do entablamento coríntio 2.modelo eletrônico 3.esquema com divisão do entablamento
Friso
Cornija
3
Arquitrave
2
61 ORDEM COMPÓSITA Serlio afirma que o arquiteto agora terá de se distanciar dos conselhos de Vitruvio para a edificação dessa ordem, pois até onde pôde constatar Vitruvio não discorre sobre a Ordem Compósita, que pode também ser encontrada sob o nome de Latina ou Itálica. A Ordem Compósita tem em altura 10 módulos com base e capitel, sendo a base com 1/2 módulo em altura e o capitel, 1 módulo.
BASE E CAPITEL COMPÓSITOS Para a concepção da ordem sob sua óptica, o tratadista afirma que tanto o capitel como a base da Ordem Compósita devem ser feitos como capitel e base coríntios, sendo que no capitel as volutas devem ser feitas “um pouco” maiores – sem especificar “um pouco”. Ele ainda mostra uma série de capitéis e bases que diz serem dignos da Ordem Compósita, mas não fornece nenhum dado de suas construções.
62 PEDESTAL COMPÓSITO O pedestal compósito segirá a lógica de composição dos demais pedestais apresentados até então. Para concebê-lo utiliza-se a largura do Plinto da base como lado de um quadrado que deve ser duplicado verticalmente, formando um retângulo de relação 1:2.
Divide-se esse retângulo verticalmente em 8 partes iguais e soma-se uma dessas partes ao topo e outra ao fundo do retângulo, obtendo-se dessa forma 10 partes iguais. 1
63 a divisão dos elementos esculpidos assim como suas projeções foram tiradas das pranchas gráficas uma vez que não há explanação sobre elas no texto. Eles serão nomeados de forma ordinal, de cima a baixo.
A projeção da maioria dos elementos é como suas alturas, exceto pelo elemento logo abaixo do Plinto da base da coluna, que avança o equivalente a 3 vezes a altura do Plinto.
1.elevação do pedestal compósito e seus elementos esculpidos 2.modelos eletrônicos do pedestal compósito 3.imagem original do tratado
O elemento somado à base do pedestal também será dividido em 14 partes, sendo 2 delas para o primeiro elemento, 3 para o segundo, 3,5 para o terceiro, 1,5 para o quarto e 4 para o quinto. Há ainda um elemento equivalente ao Plinto que não entra nessa divisão e em relação às 14 partes feitas dessa maneira ele tem a altura equivalente a 7.
A parte somada ao topo do pedestal será dividida em 14 partes, 2 delas serão para o primeiro elemento, 4 para o segundo, 2 para o terceiro, 4 para o quarto e 2 para o último. 1
2
1
2
64 2
3
2
65
cimatie zóforo
8
7 6 54 3 2 1
friso scima não nomeado corona cim.corona não nomeado
zóforo
9
aqui o texto não fornece mais dados para a montagem do Entablamento, portanto os dados que serão apresentados a seguir foram depreendidos das pranchas gráficas originais do tratado.
1
cimatie arquitrave
10
A descrição do entablamento compósito começa com Serlio dizendo “Se o entablamento ficar longe da vista dos homens (...) a Arquitrave deve ser tão grossa como o topo da coluna.” Entretanto não especifica o que é “longe”. Para a divisão interna da Arquitrave usa-se a mesma lógica da Ordem Jônica (pág 43). O Zóforo abrigará as Mútulas e terá a mesma altura da Arquitrave. Sua Cimácia será 1/6 dessa medida. A Cornija do entablamento terá a mesma altura da Arquitrave e do Zóforo e terá de ser dividida em 2 partes iguais.
Segundo os desenhos a Scima é 1/10 do entablamento todo e seu Friso ocupa 1/4 dessa altura. Abaixo da Scima há um elemento não nomeado por Serlio com o equivalente a 2/3 de sua altura. A Corona, logo abaixo desse elemento tem a mesma altura, sendo que sua Cimácia - colocada inferiormente - ocupa 1/3 dessa medida. O espaço restante entre o Zóforo e a Corona compreende outro elemento cujo nome também não é fornecido pelo tratadista.A projeção dos elementos é como suas alturas exceto pela arquitrave, que será como a já descrita na Ordem Jônica.
faixa superior
12 11
ENTABLAMENTO COMPÓSITO
faixa média faixa inferior
66
arquitrave
friso
cornija
1.elevação do entablamento compósito 2.modelos eletrônicos do entablamento compósito 3.imagem original do tratado
2 3
67 há ainda outro exemplo de Entablamento fornecido por Serlio cuja descrição não está no texto, mas retrata-a em sua prancha principal.
3 21
cimácia scima frisos
4
corona
5
cimatie zóforo
6
zóforo
7
cimatie arquitrave
8
faixa superior
9
1
faixa média
10
A lógica de construção da Arquitrave segue o segundo exemplo descrito na Ordem Coríntia (pág 59) sendo que tanto o Zóforo como a Cornija são 1/4 menores cada, de modo que se obtém Mútulas mais robustas. A Scima passa a ser cerca de 1/6 da altura do entablamento e deve ser dividida em 3 partes iguais, uma delas será sua Cimácia e outra, a inferior, deve ser dividida em 3 partes, cada uma delas será um Friso. A Corona terá o mesmo tamanho da Scima e sua projeção terá um “dente” trapezoidal com dimensões proporcionais ao conjunto. Ela não terá a usual Cimácia. As projeções dos elementos são as já descritas.
faixa inferior
arquitrave
friso
cornija
68
1 2
3 2
69 CANELURAS
A Ordem Dórica pode ou não apresentar caneluras em seu fuste. Se for o caso elas devem ser feitas 20. Para tanto divide-se a projeção do fuste em 20 partes iguais criando diversos pontos ao longo da circunferência, mais a frente esses pontos serão as linhas de divisão dos canais. Ligam-se dois desses pontos e a partir do segmento de reta gerado constrói-se um quadrado externamente à circunferência e que deverá ter suas diagonais traçadas. Com uma ponta do compasso no centro desse quadrado traça-se um arco compreendido entre os pontos utilizados para a construção do segmento de reta. O arco gerado dará a profundidade do canal. Pode-se fazer esse procedimento para o diâmetro do topo e o da base do fuste e ligar as projeções obtidas resultado nas caneluras. Entretanto elas não devem tocar nem o capitel nem a base da coluna, parando a uma pequena distância deles com um formato arredondado, não há especificações sobre esses limites.
1
70 3
2
3
1.seção transversal do fuste dórico 2.modelo eletrônicos da Ordem Dórica com caneluras 3.imagem original do tratado
71
º 3º
4
15
Os fustes das Ordens Jônica, Coríntia e Compósita podem ou não apresentar caneluras. Se for o caso elas devem ser feitas no total de 24. Se o fuste for muito grosso – sem uma especificação do que “grosso” é – devem ser feitas 28. Para fazê-las pode-se dividir a circunferência do fuste em 24 partes, ou seja, 15º para cada. Dentro desses 15º faz-se uma divisão de 5 partes, uma delas será a Canelura, as outras 4 o Canal. Obtém-se a profundidade do Canal traçando-se uma reta entre as pontas de Caneluras vizinhas e marcando-se o ponto médio do segmento resultante. Esse ponto será o centro de uma circunferência. O arco compreendido internamente entre as Caneluras será o Canal. Na ordem Coríntia as caneluras do 1/3 inferior da coluna devem ser externos.
72 6a
6b
5
Apesar de nãoo demonstrar graficamente, Serlio aponta o jogo entre as caneluras internas e externas ao fuste que pode acontecer na Ordem Coríntia. No terço inferior do capitel ao invés de os canais serem para dentro do fuste, eles se voltam para fora, pela extensão externa do círculo mostrado no esquema gráfico da página anterior. 4.seção transversal do fuste das ordens Dórica, Coríntia ou Compósita 5.modelo eletrônicos da Ordem Coríntia com caneluras internas e externas 6.imagem original do tratado (a)Jônica (b)Coríntia
73 BIBLIOGRAFIA
SERLIO, Sebastiano. I Sette libri dell'architettura. Veneza: Francesco Marcolini, 1537. SERLIO, Sebastiano. The Five Books of Architecture - an unabridged reprint of the english edition of 1611. New York: Dover, 1982.