trabalho final de graduação u n ive r s i d a d e m a c ke n z i e
isabella s. f. rosa orientação: ricardo ramos
são paulo, dezembro de 2018
a g ra d e c i m e n to s
Caco, por me permitir dividir esse trabalho com você e me inspirar com sua sensibilidade e dedicação. Quando nos encontramos pela primeira vez, há quase cinco anos, lembro de você dizer que com algumas alterações no meu projeto, eu havia começado a fazer arquitetura. Desde então eu soube que era precisamente aquilo que eu queria fazer pelo resto da minha vida. Belleza, por todo o suporte em projeto durante essa trajetória. Daniel Corsi, Ana Paula Pontes e Lizete Rubano, por terem sido figuras decisivas na minha formação e tornarem fácil amar o que faço. Larissa, Marcello e Mirângela, pelo apoio incondicional e por sempre fazerem do impossível realidade pela minha educação e pela minha alegria. Meus amigos, por relevarem minhas ausências e estarem sempre disponíveis para ouvir minhas inquietações. Gabriel, por ser o grande companheiro que é e por disputar tantos finais de semana com meus livros e meu computador. Juliana, por ser tamanha inspiração, tamanha paciência e tamanho senso de justiça e igualdade.
Todas as mulheres, parte ou não da minha vida, por lutarem comigo.
A flor e a nรกusea Carlos Drummond de Andrade
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias, espreitam-me. Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me?
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim. Ao menino de 1918 chamavam anarquista. Porém meu ódio é o melhor de mim. Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima.
Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera. O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse.
Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos. O sol consola os doentes e não os renova. As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor.
Vomitar este tédio sobre a cidade. Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado. Nenhuma carta escrita nem recebida. Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi. Alguns achei belos, foram publicados. Crimes suaves, que ajudam a viver. Ração diária de erro, distribuída em casa. Os ferozes padeiros do mal. Os ferozes leiteiros do mal.
01 ser
atravessar
ensaiar
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171
69
25
05
intro
referĂŞncias
conclusĂŁo
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
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imagem 1: ponto de Ă´nibus na Rua Augusta. fonte: autoria prĂłpria
É o medo da cantada pela saia no dia quente e pela calça no dia frio. É o medo do ônibus ou do metrô no horário de pico. É o medo do fiu-fiu durante a caminhada. 03
É o medo do passo que vem logo atrás. É o medo da rua sem iluminação. É o medo do olhar que atravessa. É o medo.
A inquietação deste trabalho toma forma nas tentativas de ser, simultaneamente, cidadão e mulher. A cidade não pertence às mulheres; e a consequência disso é que seus corpos tampouco. Ao colocarem os pés na rua, parecem ter que assumir o risco e a obrigação de tornarem seus corpos tão públicos quanto o espaço em que se inserem. A observação dos equipamentos urbanos públicos voltados às mulheres desencadeia a pesquisa. Considerando a existência da Casa da Mulher Brasileira, criada pela Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres (com um programa de acolhimento, assistência psicossocial, delegacia, juizado, defensoria pública, entre outros), da Delegacia da Mulher, de ONGs, assistências sociais, abrigos e Centros de Atendimento às Mulheres, é fácil constatar que o apoio oferecido é sempre parte de uma tentativa de remediação de situações de violência previamente enfrentadas. Se nas pautas da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres1 figuram os tópicos: “Violência contra a mulher”, “Direitos sexuais e reprodutivos”, “Mulher e trabalho”, “Poder e participação política”, “Educação, cultura e ciências”, “Diversidade das mulheres”, “Mulheres do campo, da
1. disponível em: www.spm.gov.br
floresta e das águas” e “Saúde integral da mulher”, porque apenas o primeiro e o último contam com espaços físicos de atuação nas cidades? Para que a violência de gênero deixe de possuir tamanha notoriedade na realidade brasileira é necessário que todos os aspectos da desigualdade que antecedem o extremismo da violência física sejam levados em consideração. Como resposta aos tópicos levantados, é necessário que a mulher tenha direito ao aborto em clínicas seguras, receba salários equivalentes aos dos homens, tenha mais representatividade no âmbito político e nos ambientes educacionais, seja livre nos espaços públicos e privados ou, em casos de transposição de gênero, seja reconhecida como mulher-trans. É necessário ser, além de cidadão, cidadã.
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imagem 2: mulher em SĂŁo Paulo. fonte: autoria prĂłpria.
SER
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1.1 INTRO Este capitulo pretende explicar, através de considerações sociológicas, como constrói-se o ser mulher.
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Ao analisar a formação das sociedades ocidentais europeias, há a lógica patriarcal como cerne da composição social e política. Ao discorrer sobre essa instituição, Freyre (apud BRUSCHINI, 1993) a caracteriza como um sistema que dá importância à autoridade masculina, sendo o homem dono do poder econômico e mando político. Bruschini (1993) também afirma que a família patriarcal se baseia na exploração do homem sobre a mulher; enquanto sua sexualidade é estimulada, a dela é reprimida. Num recorte temporal e territorial, o homem em questão é o homem branco europeu heterossexual. Se pensamos na personagem antagônica, ser mulher representaria um grau de oposição; ser mulher e negra, um duplo grau de oposição; ser mulher, negra e homossexual, um triplo grau de oposição; assim, entende-se porque o papel social da mulher sempre foi colocado em segundo plano na história das sociedades.2
tiveram seus corpos hiperssexualizados. Muitos aspectos dessa mentalidade, ou os frutos dessa mentalidade, ainda são sentidos nos dias de hoje. A ordem masculina de domínio da sociedade é de difícil desconstrução porque se expressa como neutra e natural. Para de Simone de Beauvoir (2016)3 os próprios corpos, com suas diferenças biológicas entre o sexo masculino e o sexo feminino, mostram-se como justificantes da imposição de papeis de gênero e divisão social do trabalho (um pensamento que exclui os indivíduos portadores de ambos os órgãos sexuais). Ainda, quando a mentalidade de homens e mulheres é desenvolvida desde a infância dentro de uma estrutura de dominação masculina, a submissão feminina é ainda mais dura de ser percebida e combatida. É importante traçar um panorama temporal sobre as origens e implicações dessa realidade social para entender a posição social atual da mulher na sociedade.
Durante séculos da história dessas sociedades, as mulheres não foram reconhecidas como cidadãs; foram impedidas de votar e posicionar-se ativamente na política; foram tidas como frágeis em relação ao sexo masculino; ou foram privadas de sua sexualidade ao mesmo tempo em que
2. ideia desenvolvida por Márcia Tiburi no livro “Feminismo em Comum” 3. filósofa e ativista política do século XX
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imagem 3: VĂŞnus de Milo. fonte: WikipĂŠdia.
1.2 A HISTÓRIA CONTADA
“O esc ravo é in tei ra m e n te de s p rov i d o d a lib e rda de de de lib e rar ; a mul h er a p o s s u i , m a s é f ra c a e i n e f i c i e n te .” (ARISTÓTELES apud BEAUVOIR, 2016)
“O es cravo é i n te i ra m e n te des provid o d a l i b e rda de d e delibera r ; a mu l h e r a p os s u i , ma s é f ra ca e in e f i c i e n te .” (ARISTÓTELES apud BEAUVOIR, 2016)
“ Só há dois dias na vida em que n ossa mulh er n os dá prazer : n o dia de núpcias e n o dia do enterro dela.” (HIPONAX apud BEAUVOIR, 2016)
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“A mulh er é proprieda de que se a dq u ire p o r con t ra to; e l a é m obiliária porque sua posse vale co m o título; a m u l h e r, enf im, nã o é, propriam ente fa lan d o, s en ã o u m a n exo do h om em.” (BALZAC apud BEAUVOIR, 2016)
“Há um prin cípio bom que criou a ordem, a luz e o h o m em, e um prin cípio mau que criou o c a os , a s trevas e a m u lh e r.” (PITÁGORAS apud BEAUVOIR, 2016)
“ H á e n t re o s sexo s “dife re n ças ra di c a i s, co n co m itan te m e n te f í s i c a s e m o rais q u e , e m to das as espécies e prin cipalm ente n a ra ç a h u m an a, o s se param p rof u n dam e n te u m do o u tro.” (COMTE apud BEAUVOIR, 2016)
“E da costela que o Senh or Deus to m ou do h o m em, fo rm ou uma mulh er, e trouxe -a a Adã o. E disse Adã o: Esta é a gora ossos dos m eus ossos, e carn e da minha carn e; esta será chama da de mulh er, porquanto do h om em fo i to m a da .” (GENESIS, 2:21-23)
1.3 ORIGENS Todas estas frases, proferidas por homens ao longo da história da humanidade, levam à conclusão: “Toda a história das mulheres foi feita pelos homens.” (BEAUVOIR, 2016, p. 186). Ainda, como colocado pelo filósofo Poullain de La Barre: “Tudo o que os homens escreveram sobre as mulheres deve ser suspeito, porque eles são, a um tempo, juiz e parte” e “Os que fizeram e compilaram as leis, por serem homens, favoreceram seu próprio sexo, e os jurisconsultos transformaram as leis em princípios.” (DE LA BARRE apud BEAUVOIR, 2016). Consciente dos valores universais que, além de estabelecerem o binarismo homem-mulher, posicionam a figura masculina num patamar de superioridade física, moral e intelectual em relação à figura feminina, primeiro serão expostas as origens dessa conceituação de superioridade e, em outro momento, as implicações contemporâneas do estabelecimento dessa ideologia dos papeis sociais de gênero.
Costuma-se atribuir o destaque masculino nas relações entre gêneros a questões naturais e biológicas. Ou seja, a mulher, por nascer de determinada maneira e com determinadas características distintas aos dos homens (como a menstruação, a capacidade de gestação ou o corpo menos robusto), já nasce inferiorizada em relação a estes (referindo-se, essencialmente, à distinção entre órgãos sexuais). Esse conceito tira vantagem de aspectos biológicos para validar e naturalizar comportamentos de dominação, que surgiram única e exclusivamente por imposições culturais estabelecidas em momentos distintos (pontuadas nas próximas linhas), dando origem às estruturas sociais que regem a sociedade. Segundo Pierre Bourdieu4: O mundo social constrói o corpo como realidade sexuada e como depositário de princípios e de visão e de divisão sexualizantes. Esse programa social de percepção incorporada aplica-se a todas as coisas do mundo e, antes de tudo, ao próprio corpo, em sua realidade biológica: é ele que constrói a diferença entre os sexos biológicos, conformando-a aos princípios de uma visão mítica do mundo, enraizada na relação arbitrária de dominação dos homens sobre as mulheres, ela mesma inscrita, com a divisão do trabalho, na realidade da ordem social. A diferença biológica entre
4. sociólogo francês
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os sexos, isto é, entre o corpo masculino e o corpo feminino e, especificamente, a diferença anatômica entre os órgãos sexuais, pode assim ser vista como justificativa natural da diferença socialmente construída entre os gêneros e, principalmente, da divisão social do trabalho. (BOURDIEU, 2018, p. 24)
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Ao pensar nas características específicas dessa diferenciação entre homens e mulheres, Simone de Beauvoir procura entender quais diferenças biológicas existentes inibiram a elaboração dessa ideologia. Em seus estudos5 ela afirma que isso surge na capacidade de gestação feminina. Sendo a mulher uma espécie fértil durante todo o ano - desde a puberdade à menopausa - na Antiguidade, uma época de inexistência de métodos contraceptivos e opção sobre a gestação: “[...] a gravidez, o parto, a menstruação diminuíam sua capacidade de trabalho e condenavam-nas [as mulheres] a longos períodos de impotência.” (BEAUVOIR, 2016, p. 96).
Assim Beauvoir confirma que, juntamente ao privilégio masculino da maior força física, as mulheres foram incumbidas de trabalhos agrícolas fixados num determinado local, mais leves e de menor esforço, enquanto os homens foram incumbidos da guerra, das batalhas e da caça.
5. ainda na obra “O Segundo Sexo: Fatos e Mitos”
Essas condições adquirem sentido quando os homens conceituam a atividade agrícola ou a maternidade como inferiores às atividades de caça e batalhas, e sobre isso Beauvoir afirma: A desvalorização da mulher representa uma etapa necessária na história da humanidade, porque não era de seu valor positivo, mas de sua fraqueza que ela tirava seu prestígio; nela encarnavam-se os inquietantes mistérios naturais: o homem escapa de seu domínio quando se liberta da natureza. (BEAUVOIR, 2016, p. 110)
Dessa maneira, ainda com base nessas teorias, entende-se que a mulher, pela gravidez, era intimamente relacionada à natureza e à passividade frente a forças dela vindas, de maior escala. O homem, por sua vez, representaria o antinatural, aquele que batalha, molda suas ferramentas e vence as forças da natureza, posicionando-se como dominador da natureza e consequentemente, das mulheres.
imagem 4: obra “A Origem da Vida” ao lado da obra “A Origem da Guerra”. fonte: blog Politica Femminile
1.4 A PROPRIEDADE E AS INSTITUIÇÕES Outro momento importante para a história feminina é o do surgimento da propriedade privada, desde as civilizações gregas ou romanas. Para Beauvoir: Particularmente, quando se torna proprietário do solo, é que reinvidica também a propriedade da mulher. [...] Quer que o trabalho familiar que utiliza em proveito de seus campos seja totalmente seu e, para isso, é preciso que os trabalhadores lhe pertençam: escraviza a mulher e os filhos. Precisa de herdeiros através dos quais se prolongará a sua vida terrestre – pelo fato de lhes legar seus bens – e que lhe renderão, além-túmulo, as honras necessárias ao repouso de sua alma. ( B E AU VO I R , 2016, p. 114)
Ou seja, quando a propriedade privada se torna relevante e também um sinônimo de poder, o senhor das terras tenta garantir
com que seus bens perdurem por longo tempo. Dessa maneira, as mulheres e sua possibilidade de geração de herdeiros tornam-se instrumento econômico do homem, e ela passa a representar uma verdadeira serva. Beauvoir conclui: Destronada pelo advento da propriedade privada, é a ela que o destino da mulher permanece ligado durante os séculos: em grande parte, sua história confunde-se com a história da herança. (BEAUVOIR, 2016, p. 115)
É através do casamento e das instituições religiosas que o papel da mulher sofre manutenção. Aproveitando-se de discursos maniqueístas anteriormente citados, onde o homem está ligado ao bem e a mulher ao mal e sabendo da necessidade da mulher para a da mulher sofre manutenção. Aproveitando-
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se de discursos maniqueístas anteriormente citados, onde o homem está ligado ao bem e a mulher ao mal e sabendo da necessidade da mulher para a continuidade de seu poder, o homem estabelece o casamento como uma maneira de redenção feminina. Dessa forma garante seus interesses ao mesmo tempo em que insere a mulher na sociedade, ação tida quase como uma benevolência a elas. O homem então torna-se proprietário de suas terras e sua mulher e assim é formada a lógica patriarcal.
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a compra sob todas suas formas – tributo pago, prestação de serviços – manifesta com menos evidência a mesma significação. (BEAUVOIR, 2016, p. 109-110)
É dessa maneira que as grandes instituições como a Igreja, a Família e o Casamento, validam a alienação feminina a partir da construção de uma ideologia de desigualdade. Tem-se a mulher como um objeto conquistado pelo homem e tal posse adquirida vira motivo de orgulho e afirmação da virilidade masculina.
O casamento primitivo fundase, por vezes, num rapto real ou simbólico. Isso porque a violência cometida contra outrem é a afirmação mais evidente da autoridade desse outrem. Conquistando a mulher pela força, o guerreiro prova que soube anexar-se uma riqueza alheia e derrubar as barreiras do destino que seu nascimento lhe designara;
imagem 5: casamento na Antiguidade. fonte: blog O Diário.
1.5 A SOCIEDADE CIVIL E A SUJEIÇÃO FEMININA Em sua obra “O Contrato Sexual”, Carole Pateman6 fala sobre o processo de formação da sociedade civil a partir do estabelecimento de um contrato: A teoria do contrato social convencionalmente é apresentada como uma história sobre a liberdade. Uma interpretação do contrato original é a de que os homens no estado natural trocaram as inseguranças dessa liberdade pela liberdade civil e equitativa, salvaguardada pelo Estado. (PATEMAN, 1993, p. 16)
imagem 6: casamento na Idade Média. fonte: blog MeM
imagem 7: casamento na Idade Média. fonte: História do Mundo
Segundo ela, “a nova sociedade civil criada através do contrato original é uma ordem social patriarcal” (PATEMAN, 1993, p. 16) e, por essa carga patriarcal no estabelecimento desse contrato, ele pode ser definido em aspectos sociais e sexuais. O aspecto social garante a liberdade de uns, enquanto o aspecto sexual garante a sujeição de outros. Se numa lógica patriarcal a figura masculina é superior à figura feminina, fica evidente a quem cabe a liberdade e a quem cabe a sujeição. Esse componente sexual do contrato que coloca as mulheres em sujeição, cria também o direito político dos homens sobre o corpo das mulheres. Elas são objeto do contrato, e não indivíduo. O indivíduo é o homem que transforma “seu direito natural sobre as mulheres na segurança do direito patriarcal civil” (PATEMAN, 1993, p. 21). Esse raciocínio
6. filósofa britânica
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1.6 MUDANÇAS também traz a importante questão da mulher vinculada ao espaço doméstico e do homem ao espaço público. O contrato não simplesmente exclui as mulheres porque isso iria contra o princípio de liberdade que ele propõe, por isso:
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As mulheres são incorporadas a uma esfera que ao mesmo tempo faz e não faz parte da sociedade civil, mas que está separada da esfera civil. A antinomia privado/público é uma outra expressão das divisões natural/ civil e mulheres/homens. A esfera privada, feminina (natural) e a esfera pública masculina (civil) são contrárias, mas uma adquire significado a partir da outra, e o sentido de liberdade civil da vida pública é ressaltado quando ele é contraposto à sujeição natural que caracteriza o domínio privado. (PATEMAN, 1993, p.28)
Importante ressaltar que a lógica patriarcal não se restringe ao ambiente privado, uma vez que os homens transitam entre a realidade pública e a realidade privada, assim o direito sexual masculino é estendido a ambos os domínios (PATEMAN, 1993). Por meio dessa teoria, é possível iniciar a discussão acerca da sujeição feminina. O contrato, de maneira dissimulada, cria as relações de subordinação; e por essas relações serem estabelecidas por meio desse contrato, que é caracterizado como uma atitude voluntária e de livre acordo, são tidas como relações gozadoras de liberdade.
É a partir da Revolução Industrial, no século XIX, que a mulher passa a ter uma liberdade mais significativa. Isso porque o movimento liberta-as do trabalho no lar para o trabalho nas fábricas; e há uma validação de sua dignidade e participação na economia. No entanto, muitas vezes as mulheres eram mais exploradas que os homens, ainda que ganhassem menos. A situação é mais agravada pela não organização das mulheres em sindicatos e a tardia regulamentação de seu trabalho. Além disso, a respeito da função geradora feminina, apenas no século XVIII iniciouse uma preocupação sobre o controle da natalidade, a consequente diminuição do número de gestações da mulher e a maior disponibilidade dela para outras atividades. Dentro da burguesia, praticava-se o coito interrompido como método contraceptivo e a partir de 1840 o preservativo assume a mesma função7. Desse momento em diante diversas conquistas femininas relacionadas à igualdade entre gêneros nos campos político, social e econômico foram concretizadas. O que perduram ainda são os efeitos de tantos séculos de desigualdade.
7. informações retiradas da obra de Beauvoir “O Segundo Sexo: Fatos e Mitos”
imagem 8: mulher operรกria. fonte: Jornal Mulier. imagem 9: mulheres operรกrias. fonte: Reamp.
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1.7 ATUALMENTE Quando os dominados aplicam àquilo que os domina esquemas que são produto da dominação, ou, em outros termos, quando seus pensamentos e suas percepções estão estruturados de conformidade com as estruturas mesmas da relação de dominação que lhes é imposta, seus atos de conhecimento são, inevitavelmente, atos de reconhecimento de submissão. (BOURDIEU, 2018, p. 27)
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Bourdieu explora bastante o conceito de dominação simbólica. Esse conceito é importante porque explica como, mesmo com a flexibilização das estruturas sociais e a garantia dos direitos da mulher na sociedade, as situações de desigualdade continuam intactas em muitos aspectos. Em seguida, alguns dados brasileiros que exploram essa realidade:
As mulh eres dedicam 18 ,1 h ora s se m an ais a o trabalh o dom é s t ico. E n q u an to os h om e n s, 10,5 h o ras. (IBGE, 2016)
As mulh eres ganham, em m é d i a , 1.764 reais. Os h o m e n s, 2 . 3 0 6 reais. (IBGE, 2016)
A p e n a s 10,5% do s asse n to s da c â mara do s de p u ta do s sã o oc u pa d o s p o r m u lh e re s. (IBGE, 2016)
Apenas 3 9,1% do s cargo s ge re n c i ais sã o o cu pa do s p o r m u l h e res. (IBGE, 2016)
N o B rasil, 12 m u lh e re s a s s a s s i na das p o r dia.
sã o
(Atlas da Violência, 2017)
N o B rasil, 135 m u lh e re s e s t u p ra das p o r dia.
sã o
(Fórum Brasileiro de Segurança Pública)
O B ra s i l o c u pa o 9 0 º l u g a r num rankin g mun dial dos pa í s e s so b re a igu alda de e n tre gê n e ros. (Global Gender Gap Report, 2017)
Apesar dos avanços sociais no estabelecimento da igualdade entre gêneros - como o artigo da Constituição Federal Brasileira de 1988, que diz que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”8 - comportamentos fortemente enraizados na sociedade são dificilmente superados. É por isso que, mesmo tendo índices maiores de escolaridade que os homens, as mulheres seguem ganhando menos e ocupando menos cargos de poder. Mesmo inseridas no mercado de trabalho como os homens, enfrentam sozinhas a jornada de trabalho doméstica de cuidados do lar. Mesmo livres e donas de seus próprios corpos, sofrem assédio, abuso e assassinatos apenas por serem mulheres. Judith Butler9 descreve esses esquemas de subordinação e apresenta uma perspectiva diferente sobre a manutenção da sujeição a partir de influências externas e internas: Estamos acostumados a pensar no poder como algo que pressiona o sujeito de fora, que subordina, submete e relega a uma ordem inferior. Essa é certamente uma descrição justa de parte do que faz o poder. Mas, consoante a Foucault, se entendemos o poder também como algo que forma o sujeito, que determina a própria condição de sua existência e a trajetória de seu desejo, o poder não é apenas aquilo a que nos
opomos, mas também, e de modo bem marcado, aquilo de que dependemos para existir e que abrigamos e preservamos nos seres que somos. (BUTLER, 2017, p. 10)
Entende-se assim que, além do agente dominante, o dominado também contribui para a perpetuação das relações de hierarquia e desigualdade. Por isso torna-se ainda mais difícil romper com esses esquemas, uma vez que é necessário vencer a resistência de ambos os participantes dessa relação. Butler (2017) descreve o processo da sujeição no indivíduo como o poder imposto que enfraquece e em seguida é interiorizado e aceito. 18
A autora também cita a teoria da Fenomenologia do Espírito, de Hegel10, que descreve a conquista da liberdade por um escravo. O senhor, antes figura externa dominadora, aparece na condição livre do escravo como sua própria consciência, a “consciência infeliz”. Ela representa a autocensura, a dominação senhorial que retorna como realidade psíquica. A análise de Judith Butler demonstra que a subordinação forma o sujeito e possibilita sua continuidade. Ou seja, o poder torna o sujeito possível e é reiterado no próprio agir do sujeito. (BUTLER, 2017). Essa incorporação da subordinação na ação do sujeito sugere que ele tenha apego à sua
9. filósofa estadunidense de destaque na elaboração de teorias e discussões sobre gênero 10. teoria da formação da consciência de Hegel, teórico alemão
1.8 O PODER, A DOMINAÇÃO E A VIOLÊNCIA posição de inferioridade e é, de maneira perigosa, “evocada cinicamente por quem tenta desacreditar as reivindicações dos subordinados” (BUTLER, 2017, p. 15), tentando transferir a responsabilidade da subordinação ao subordinado. Butler derruba esse discurso: Em oposição a essa ideia, eu diria que o apego à sujeição é gerado pelo poder, e parte dessa operação do poder se esclarece nesse efeito psíquico, uma de suas produções mais insidiosas. (BUTLER, 2017, p. 15)
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[...] o assédio sexual nem sempre tem por fim exclusivamente a posse sexual que ele parece perseguir: o que acontece é que ele visa, com a posse, a nada mais que a simples afirmação da dominação em estado puro. (BOURDIEU, 2018, p. 37)
O advento da propriedade privada e do casamento transformou também a mulher em propriedade e objeto de posse. A força física do homem alinhada aos estímulos, desde o nascimento, do cultivo dessa qualidade biológica, favoreceram-no. Atividades esportivas, por exemplo, são sempre mais valorizadas no desenvolvimento masculino. As meninas, por sua vez, são estimuladas a brincar de boneca ou atividades ditas femininas, delicadas, inseridas no ambiente doméstico, afim de cultivar a sua feminilidade. Como colocado por Bourdieu: C o m o s e a fe m i n i l i d a d e s e medisse pela arte de “se fazer pequena”, mantendo as mu l h e re s e n c e r ra d a s e m u m a e s p é c i e d e c e rc o i nv i s íve l (do qual o véu não é mais q u e a m a n i fe s t a ç ã o v i s íve l ) , limitando o território d e i x a d o a o s m ov i m e n t o s e aos deslocamentos de seu corpo – enquanto os homens ocupam maior lugar com seu c o r p o, s o b re t u d o e m l u g a re s p ú bl i c o s. ( B O U R D I E U, 2 0 1 8 , p. 4 7 )
Além disso, o incentivo à virilidade dos homens e à feminilidade feminina – desde a Antiguidade, a partir da dicotomia homem-guerreiro/mulher-g eradora
e a atribuição maniqueísta de qualidades a cada um - condicionou a sociedade a distinguir as obrigações femininas das masculinas, tornando comportamentos estabelecidos em espécie de leis sociais. A respeito do processo de incorporação dessas obrigações, Bourdieu diz:
O privilégio masculino é também uma cilada e encontra sua contrapartida na tensão e contensão permanentes, levadas por vezes ao absurdo, que impõe a todo homem o dever de afirmar, em toda e qualquer circunstância, sua virilidade. (BOURDIEU, 2018, p. 75-76)
A força simbólica é uma forma de poder que se exerce sobre os corpos, diretamente, e como que por magia, sem qualquer coação física; mas essa magia só atua com o apoio de predisposições colocadas, como molas propulsoras, na zona mais profunda dos corpos. (BOURDIEU, 2018, p. 60)
O poder e a virilidade masculinos inseridos no sistema patriarcal tem efeito direto nas mulheres. Para Helena Safiotti12:
Ao mesmo tempo que o sistema patriarcal fornece o poder ao homem, também cobra sua manutenção e afirmação do papel masculino, sempre atrelado à virilidade. Hannah Arendt analisa os aspectos do poder11 e, para ela, o poder é um instrumento de dominação (ARENDT 2009) e ela passa pela definição de diversos autores para defini-lo. Para Voltaire (apud ARENDT, 2009), “o poder consiste em fazer com que os outros ajam como eu quero”. Para Jouvenel (apud ARENDT, 2009), “um homem sente-se mais homem quando se impõe e faz dos demais instrumentos de sua vontade” e “a sua essência (a do poder) é o domínio”. A cobrança da virilidade como resposta ao acesso ao poder dos homens acaba os desfavorecendo também, pois segundo Bourdieu:
11. Sobre a Violência 12. socióloga brasileira
[...] as mulheres são objetos da satisfação sexual dos homens, reprodutoras de herdeiros, de força de trabalho e de novas reprodutoras. Diferentemente dos homens como categoria social, a sujeição das mulheres, também como grupo, envolve prestação de serviços sexuais a seus dominadores. (SAFIOTTI, 2015, p. 105)
Ainda, na descrição do contrato original de formação da sociedade civil, definido por Pateman, já existe no direito masculino a garantia de “um acesso sistemático dos homens ao corpo das mulheres” (PATEMAN, 1993, p. 17). A combinação da redução da mulher a uma posse, da concretização do poder em dominação e da necessidade de afirmação da virilidade masculina, faz nascer o abuso e a violência sexuais. O fato dessa combinação dar origem à
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violência pode ser explicado pela teoria de Hannah Arendt. Para ela, “a violência nada mais é do que a mais flagrante manifestação do poder” (ARENDT, 2009, p. 22) mas, por sua vez, o poder pode existir sem a violência, enquanto a violência não pode existir sem o poder. A violência se mostra como um instrumento de poder – sendo o poder sempre o fator fundamental e predominante -, mas ela só é utilizada quando o poder é ameaçado.
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O poder e a violência se opõem: onde um domina de forma absoluta, o outro está ausente. A violência aparece onde o poder esteja em perigo, mas se se deixar que percorra o seu curso natural, o resultado será o desaparecimento do poder. (ARENDT, 2009, p. 35-36)
Arendt tece essa análise ao falar sobre poderes políticos e a manifestação da violência como guerra. O raciocínio, porém, pode ser aplicado da mesma maneira nas relações políticas e sociais entre gêneros e na concretização da violência sexual. Rita Laura Segato13 também escreve sobre os esquemas de dominação e violência que permeiam as relações de gênero. Para ela, esse direito masculino de acesso ao corpo da mulher passa a ser visto como um tipo de violação apenas a partir da transição das sociedades prémodernas para as sociedades modernas.
13. antropóloga argentina
Antes o abuso sexual era tido como um direito masculino não violador da figura feminina, e só a partir da conquista de seus direitos e do seu reconhecimento como cidadã na modernidade que a violência sexual passa a ser encarada como um delito, uma violação individual (SEGATO, 2003). A autora enumera as principais motivações masculinas ao cometer a violação ao corpo feminino. A partir de entrevistas com detentos acusados de violência sexual, ela destaca três principais determinantes: castigo ou vingança contra uma mulher que saiu de seu lugar ou de sua posição de subordinada; como agressão ou afronta a outro homem; ou como demonstração de virilidade frente a outros homens. Ou seja, todos os motivos demonstram o não entendimento do corpo feminino como detentor de sua autonomia e uma necessidade de afirmação da posição masculina. Segato resume a violação como sendo: [...] uma forma de restaurar o status masculino infringido, aflorando a suspeita de uma afronta e a ganância (fácil) de um desafio a outros homens e à mulher que cortou os laços de dependência da ordem do status [...] (SEGATO, 2003, p. 37)
Ou seja, qualquer resistência feminina à manutenção do poder masculino gera violência. A problemática reside no
1.9 OBJETIFICAÇÃO DOS CORPOS momento da construção desse poder, quando o acesso ao corpo feminino era institucionalizado, diferente de como é (ou deveria ser) encarado atualmente. Novamente, é possível citar Hannah Arendt. Ao narrar o julgamento de um alemão condenado pela morte de milhares de judeus durante o Holocausto14, ela estabelece o conceito de mal administrativo. Se, naquela época, o governo instituía a morte dos judeus como ordem, errado ou contrário a lei seria o cidadão que não apoiasse esse posicionamento. Rebatido às relações entre gêneros: se o patriarcalismo e o machismo figuram como esse mal administrativo, transgressor é o cidadão que não obedece essas ordens. É assim que a afirmação da virilidade masculina é legitimada na sociedade.
Se nas sociedades pré-modernas o corpo feminino já havia sido estabelecido como objeto de posse dos homens, esse conceito agravou-se quando a transição para o sistema capitalista transformou muitos aspectos da vida em sociedade em objetos de consumo. Baudrillard15, ao analisar essas novas sociedades, define o corpo como sendo o objeto de consumo mais belo (BAUDRILLARD, 1970). Ao mesmo tempo em que a mulher se emancipou de algumas amarras de antigos sistemas que colocavam seu corpo como politicamente disponível aos outros (homens), essa nova organização social voltada ao consumo utiliza esse mesmo corpo como produto de venda através de revistas, televisão ou jornais. É dessa maneira que, mais uma vez, o corpo feminino é reduzido a um bem desejado pelos homens, representado midiaticamente de maneira a agrada-los e a incentivar uma falsa necessidade de posse.
imagem 10: objetificação do corpo feminino. fonte: Uol. 14. na obra Eichmann em Jerusalém 15. sociólogo e filósofo francês
22
1.10 TRANSSEXUALIDADE Além das consequências imediatas do assédio e do abuso cometidos contra mulheres, há também efeitos desencadeados a longo prazo. Especialistas afirmam sobre a possibilidade de desenvolvimento de distúrbios como ansiedade, depressão, transtorno do estresse pós-traumático, perda ou ganho de peso, dores de cabeça, estresse, problemas no sono, aumento da pressão arterial e, em último caso, comportamentos suicidas16.
23
Ao longo deste trabalho, o uso dos termos “gênero feminino” ou “mulher”, não está obrigatoriamente relacionado ao indivíduo que nasce portador do órgão sexual feminino. As ideias de Beauvoir não levaram em consideração a transsexualidade na discussão de gênero. Neste trabalho, no entanto, ela é admitida a todo momento em que se faz possível. Judith Butler faz algumas considerações a respeito da performatividade de gênero e do não binarismo homem-mulher17. Para ela “O próprio sujeito das mulheres não é mais compreendido em termos estáveis ou permanentes” (BUTLER, 2016, p. 18) e por isso seria muito falho acreditar numa constituição de sujeito que “se dá mediante a exclusão daqueles que não se conformam às exigências normativas” (BUTLER, 2016, p. 25). “Mulheres” não é uma categoria a ser preenchida com componentes de raça, classe ou idade que pode ser estendida universalmente, e por isso é importante que a incompletude dessa definição seja mantida afim de não “uniformizar a identidade do gênero por via da heterossexualidade compulsória” (BUTLER, 2016, p. 67). O “ser mulher” engloba todos aqueles e aquelas que se identificam como mulher em algum aspecto ou que, de alguma maneira, sofrem algum tipo de discriminação e violência de gênero por assim se reconhecerem.
16. disponível em www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2017/03/assedio-afeta-saude-fisica-e-emocionaldas-mulheres 17. na obra Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade
imagem 11: transsexualidade fonte: Cami Falcão.
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imagem 12: transsexualidade fonte: Cami Falcão. imagem 13: transsexualidade fonte: Cami Falcão.
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ATRAVESSAR
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imagem 14: mulheres caminhando. fonte: autoria prรณpria.
2.1 INTRO Este capitulo pretende abordar de que maneiras a desigualdade social e política entre gêneros manifesta-se nas cidades brasileiras. Assim, leva em consideração a composição social e política nas origens dos espaços urbanos do Brasil e os estudos recentes sobre Arquitetura e Urbanismo com enfoque em gênero.
27
2.2 FORMAÇÃO DAS CIDADES BRASILEIRAS 18 O Brasil, até meados do século XX, tinha sua economia baseada nas atividades rurais estruturadas no campo e a exportação dos produtos agrícolas. Até a década de 60, como consequência desse modelo econômico, a população rural brasileira superava a população urbana, e isso só começou a mudar a partir da intensificação do processo de industrialização estabelecido no país. O caráter industrial ganhou força especialmente através do governo de Juscelino Kubitscheck, que durou de 1956 a 1961, e levava o lema “cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo”. Com esse objetivo, o então presidente criou o Plano de Metas, que visava acelerar o crescimento econômico através da indústria (em especial, a automobilística) e a abertura do mercado estrangeiro. O estabelecimento desse caráter industrial permitiu que o país assumisse um novo modelo econômico, que foi de agrárioexportador a urbano industrial. Com a fragilização das atividades rurais pela modernização das técnicas de produção e a grande oferta de emprego na área urbana devido à instalação de indústrias, iniciou-se um grande deslocamento populacional do campo às cidades. Se, em 1960, 55% da população brasileira residia no campo, em 1970, 56% da população já vivia nas cidades.
18. tópico desenvolvido a partir de informações disponíveis em https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/a-industrializacao-brasileira.html https://brasilescola.uol.com.br/brasil/urbanizacao-no-brasil.html
imagem 15: JK em indústria automobilística. fonte: blog Big Bear. 28
imagem 16: a construção de Brasília. fonte: Alto Astral.
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imagem 17: mapa da Capitania de São Vincente, com aVila de São Paulo aos fundos, 1631. fonte: Retratos de Família.
imagem 18: São Paulo Railway. fonte: blog Por Falar em História.
2.3 SÃO PAULO, CIDADE MASCULINA 19 A Vila de São Paulo foi fundada em 1554 e, até o século XIX, não tinha importância econômica no país. A situação da cidade mudou a partir da expansão da economia cafeeira e por ser a conexão entre as regiões produtoras e o porto de Santos. A cidade desenvolveu-se nas margens da ferrovia Santos-Jundiaí, onde inúmeras indústrias se instalaram, atraíram trabalhadores e, consequentemente, foram estabelecidas as vilas operárias. Esse período, entre 1908 e 1930, representou o primeiro surto de urbanidade de São Paulo, com a implantação de serviços de água encanada, bondes elétricos, iluminação pública e pavimentação de vias. Já nessa época, os investimentos públicos foram concentrados na região central, enquanto as áreas periféricas careciam de infraestrutura. Nessa época também, período de governo da República Velha (1890-1930), participavam das decisões públicas apenas os homens, brasileiros, maiores de 21 anos e alfabetizados. Em 1938, quando Prestes Maia assume o governo da cidade de São Paulo, é implantado o modelo rodoviarista em 1924. Com isso estabeleceu-se na cidade a lógica de deslocamento através de pneus, a construção de grandes avenidas e a possibilidade de expansão territorial da cidade. Em 1940, a partir do surto rodoviarista e a pavimentação de vias importantes que ligavam São Paulo a outros estados, aconteceu o segundo
surto industrial com o estabelecimento das indústrias ao longo dessas novas rodovias. Dali em diante, São Paulo passou a crescer exponencialmente em população e território. Desde o governo de Prestes Maia, que definiu muitas diretrizes a respeito da configuração espacial urbana de São Paulo, podemos citar José Vicente Faria Lima, Paulo Maluf, José Carlos de Figueiredo, Brasil Vita, Miguel Colasuonno, Olavo Setúbal, Reinaldo de Barros, Antônio Salim, Francisco Altino, Mário Covas, Jânio Quadros, Luiza Erundina, Celso Pitta, Marta Suplicy, José Serra, Gilberto Kassab, Fernando Haddad, João Dória e Bruno Covas como os governantes seguintes da cidade. Dentre 19 prefeitos ao longo de 73 anos, apenas duas mulheres como representantes políticas ao longo de 8 anos somados. Nos outros 55 anos como cidade urbano-industrial, São Paulo foi governada, discutida, sistematizada e desenvolvida por figuras masculinas.
19. tópico desenvolvido a partir do livro São Paulo, de Raquel Rolnik
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imagem 19: vila operĂĄria Maria Zelia. fonte: SĂŁo Paulo Antiga.
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imagem 20: o modelo rodoviarista de Prestes Maia. fonte: Vitruvius.
2.4 MULHER-CIDADE O momento de construção das cidades e consolidação da vida urbana no país corresponde a um momento da história onde as mulheres tinham pouca ou nenhuma representação e participação políticas. Em 1932, conquistaram o direito ao voto. Em 1934, foi eleita a primeira deputada. Em 1979, a primeira senadora. Apenas em 2010, a primeira presidenta. Assim, fica evidente que as decisões públicas e as diretrizes urbanísticas em momentos decisivos para a configuração da vida urbana foram idealizadas majoritariamente por homens. Nas décadas 50, 60, ou 70, quando nessa última, no Brasil, a população urbana superou a população rural brasileira, os movimentos a favor da igualdade entre gêneros em aspectos sociais, políticos, trabalhistas e sexuais ganhavam espaço. Ainda, no entanto, as mulheres continuavam essencialmente vinculadas aos estereótipos de gênero que as condenava aos cuidados do lar, fixadas aos espaços domésticos e privados das cidades. Os homens, por sua vez, eram legitimados como participantes da classe trabalhadora e, consequentemente, tinham um contato mais íntimo com os espaços públicos das cidades, dominandoos. Como colocado por Terezinha de Oliveira Gonzaga, arquiteta brasileira: “As normas estabelecidas pelo Estado estão impregnadas de ideologia.” (GONZAGA, 2011, p. 26). Ideologia, esta, que desconsidera a relação das mulheres com a cidade.
Hoje em dia, no entanto, o panorama mudou. As mulheres conquistaram mais espaço político, são mais reconhecidas no mercado de trabalho e passaram a vivenciar cada vez mais os espaços públicos das cidades. No entanto, se tais espaços foram concebidos num momento em que apenas os homens tinham participação nas decisões administrativas e na vivência dos espaços urbanos, os conflitos dessa extensão de uso e apropriação da cidade às mulheres são evidentes. Como concluído por Zaida Muxí, arquiteta, pesquisadora e escritora argentina, a partir da análise de uma experiência arquitetônica sob a perspectiva de gênero em Viena: “[...] no processo convencional de planejamento urbano e construção, mal se levavam em conta suas necessidades (das mulheres) e problemas específicos. Grande parte dessas necessidades específicas deriva da imposição de papeis e responsabilidades de gênero: o cuidado do lar e da família. A “mulher ideal” de hoje já não é a dona de casa recatada de antigamente, mas aquela que trabalha e, ao mesmo tempo, cuida eficazmente da casa. [...] Os conflitos espaciais surgem em decorrência da ruptura dos domínios tradicionais do homem e da mulher, e, para evita-los e conseguir a repartição igualitária do tempo do trabalho e da família, são necessárias estruturas urbanas que permitam e facilitem que ambos escolham livremente como organizar suas vidas. ” (MONTANER; MUXÍ, 2014, 205)
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imagem 21: mulheres votando pela primeira vez no Brasil, 1932. fonte: Jornal GGN.
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imagem 22: Carlota Pereira de Queirós na Câmara dos Deputados, 1934. fonte: Jornal GGN.
imagem 23: participação feminina na Passeata dos Cem Mil, contra a Ditadura Militar Brasileira, 1968. fonte: Curso de Redação.
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imagem 24: Câmara dos Deputados, 2015. fonte: O Sul.
2.5 ATRAVESSAR Ao discutir a cidade, é possível fazer nascer o raciocínio a partir do conceito de atravessar. A cidade, afinal, é um território que permite e favorece (ao menos deveria) a travessia de corpos no espaço. Corpos atravessam o território e o território, por sua vez, atravessa os corpos. Essa última travessia produz corpografias, que nada mais são que inscrições urbanas nos corpos daqueles que experimentam a cidade. Como colocado por Paola Berenstein Jacques20:
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Uma corpografia urbana é um tipo de cartografia realizada pelo e no corpo, ou seja, a memória urbana inscrita no corpo, o registro de sua experiência da cidade, uma espécie de grafia urbana, da própria cidade vivida, que fica inscrita, mas também configura o corpo de quem a experimenta. (BERENSTEIN, 2008)
A respeito desse conceito, Paola (2008) afirma sobre a possibilidade de diferentes corpos acumularem diferentes corpografias como resultado de diferentes experiências urbanas vivenciadas em diferentes espaços. Quanto a isso, podese imaginar que variações em condições de gênero, idade e raça em pessoas, e variações de localização, horários ou configuração espacial em territórios, acarretariam em diferenças na produção destas corpografias. Ao considerar a experiência vivenciada por
20. arquiteta e urbanista brasileira
uma mulher, jovem, negra e pobre, tarde da noite numa região periférica da cidade, assertivamente ela seria absolutamente contrastante à da experiência vivenciada por um homem, jovem, branco e rico, durante o dia numa região de classe alta dessa mesma cidade. Mas, aproximando mais as duas situações e imaginando uma comparação entre essa mesma mulher e um homem, dessa vez negro, pobre, tarde da noite numa região periférica da cidade, as experiências e as corpografias delas resultantes, ainda que com apenas um fator de oposição, continuariam em extremo contraste. A partir desse momento, recorda-se o conceito de travessia. Ao considerar diversas possibilidades de corpografias, considera-se diversas possibilidades de travessias. Ao pensar no corpo feminino como o agente do atravessar a cidade, deve-se também considerar que a ação contrária, da cidade como agente do atravessar corpos femininos, se dá de maneira muito mais brusca, invasiva e violadora que quando ao atravessar corpos masculinos. Isso porque a cidade responde corpos através de seus próprios corpos. E quando esses outros corpos são de homens pertencentes a uma sociedade patriarcal, quando os objetos urbanos são produzidos, em sua maioria, por homens pertencentes a uma sociedade patriarcal, quando as ideias que predominam são advindas de homens pertencentes a
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imagem 25: mulheres caminhando na Rua Augusta. fonte: autoria própria.
uma sociedade patriarcal e quando as situações são reflexos de uma sociedade patriarcal, resta pouco ou inexiste espaço ideológico e físico em concordância ao corpo feminino.
Dessa maneira, a partir da identificação da assimetria na travessia feminina em comparação à masculina, faz-se necessária a ação projetante que aproxime e neutralize essas experiências. Antes, porém, deve-se identificar os aspectos urbanos que viabilizam essa desigualdade em gênero na vivência das cidades.
2.6 MANIFESTAÇÕES URBANAS DA DESIGUALDADE A desigualdade entre gêneros se expressa nos espaços públicos, privados, comerciais, residenciais ou institucionais. Em se tratando dos espaços públicos, alguns dados podem exemplificar a manifestação da desigualdade:
9 8%
da s m u l h e re s j á re ce b e u u m c a n t a da n a r u a . (Think Olga)
37
ul h eres nã o a cha 83% dl eagsa l mouv i r um a ca nta d a. (Think Olga)
81% das mulh eres já deixou de fazer algo por m edo do assédio. (Think Olga)
m ul h eres j á trocou de rou pa para ir 9 0 % da aasl gum l ugar por m ed o do asséd io. (Think Olga)
Ao trazer o foco para a cidade de São Paulo, mais dados enfatizam a desigualdade:
593
d o s ca sos d e v iol ên ci a s exua l na c i d a de n o a n o de 2017 se d e ram em v i a p ú b l i ca. (SSP)
A s e gu ran ça e a p e rce p çã o da c i d a de sã o m u ito dife re n te s pa ra a s m u lh e re s e para o s h om e n s, de m an e ira q u e é i m p or t an te q u e se co n h e çam suas experiên cias ao p l a n e j ar o s e spa ço s p ú b lico s. (MONTANER; MUXÍ, 2014, 208)
S ã o Pa u lo é t i da com o a m eg aló p o le m u n di a l com m a i or poten cial de risco de violên cia sexua l co n tra mu l h e re s . (Thomson Reuters Foundation)
Estima-se que apenas dos crim es de violên cia co n t ra a m ul h er s ejam, d e fa to, denun ci a dos . (IPEA)
10%
38
39
2.7 VITALIDADE
Um tema que figura entre os mais importantes dessa problemática, é a perda da vitalidade urbana. Ana Falú discorre sobre ela:
comportamento se manifesta como roubos ou assaltos, nas mulheres se faz através de assédio, abuso ou violência sexual.
Outro tema a se atentar, é de que os espaços públicos como ruas, praças, lugares de lazer, especialmente em determinadas horas, perdem a vitalidade urbana potencializadora das interrelações, da socialização, do tecido social e do exercício de cidadania. Essas transformações e o abandono do espaço público das cidades afetam em particular as mulheres, que vivem o medo independentemente de sua condição social ou sua condição residencial, porque o sentimento precede ou acompanha a violência. Ainda assim, as mulheres saem para trabalhar, arriscando-se em territórios que se tornam armadilhas para sua integridade. (FALÚ, 2014, p. 23)
Por isso a importância da adoção de fachadas ativas ao nível do pedestre, como bares ou restaurantes. A presença desses estabelecimentos garante que mais pessoas estejam em contato com as calçadas, e o conceito de “olhos da rua” seja exercido.
Em 1961, Jane Jacobs já concluía sobre o mesmo assunto21. Sem o enfoque em gênero, – mas que hoje em dia mostra-se essencial - a autora debateu a importância do conceito dos “olhos da rua”. Segundo ela, a existência de diversas pessoas transitando nas calçadas e sendo parte dos espaços públicos, garante a segurança dos indivíduos por atuarem como uma espécie de vigilância natural (JACOBS, 2011). A presença dessas pessoas e a ação de tornar atos individuais públicos, desinibe comportamentos agressivos e depreciativos. Se para os homens esse
21. em “Morte e Vida das Grandes Cidades”
40
41
imagem 26: muro alto monofuncional, SĂŁo Paulo. fonte: autoria prĂłpria.
imagem 27: muro alto monofuncional, SĂŁo Paulo. fonte: autoria prĂłpria.
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imagem 28: tĂŠrreo residencial, SĂŁo Paulo. fonte: autoria prĂłpria.
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imagem 29: tĂŠrreo ativo, SĂŁo Paulo. fonte: Viagem e Turismo. 44
imagem 30: térreo ativo, Barcelona. fonte: autoria própria. 45
imagem 31: térreo ativo, Madrid. fonte: autoria própria.
imagem 32: tĂŠrreo ativo, Barcelona. fonte: autoria prĂłpria.
46
47
2.8 EXTENSÃO DAS QUADRAS
A maioria das quadras deve ser curta; ou seja, as ruas e as oportunidades de virar esquinas devem ser frequentes. (JACOBS, 2011, p. 197)
Jane Jacobs expõe a necessidade de as quadras urbanas comportarem um desenho de pequena extensão. Um maior número de vias ativas cortando as quadras implica em mais oportunidades de lugares para comprar, comer, beber e passear. Consequentemente, favorece a interação entre as pessoas e a apropriação dos espaços públicos por elas. Nas quadras muito extensas, não há cruzamento de usos urbanos ou a possibilidade de interação social, dificultando a ação de fuga ou alarde em situações de vulnerabilidade. A fala de Jacobs é comprovada a partir da análise do desenho urbano de algumas metrópoles ao redor do mundo. A pesquisa da Thomson Reuters Foundation22 categorizou as megalópoles mundiais com maior potencial de risco de violência sexual contra mulheres. São Paulo teve o pior resultado. Paris, o melhor. A mentalidade cultural de cada um dos povos, evidentemente, deve ser levada em consideração. Mas ainda, é importante pensar de que maneira o urbanismo e a configuração das cidades influencia nessa realidade.
22. disponível em http://poll2017.trust.org/
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imagem 33: esquema de ativação do térreo a partir da dimensão das quadras. fonte: Medium.
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imagem 34: esquema de ativação do térreo a partir da dimensão das quadras. fonte: Medium.
imagem 35: esquema de ativação do térreo a partir da dimensão das quadras. fonte: Medium.
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imagem 36: o Plano Cerdรก, em Barcelona, de quadras de aproximadamente 100mx100m. fonte: Urbanidades.
imagem 37: mapa Rua Augusta. fonte: Geosampa.
mapa explicitando as quadras de grande extensão da Rua Augusta, via com seis denúncias de violência sexual no ano de 2017.
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imagem 38: mapa Rua dos Pinheiros. fonte: Geosampa.
mapa explicitando as quadras de pequena extensão da Rua dos Pinheiros, via com uma denúncia de violência sexual no ano de 2017.
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544
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2.9 CALÇADAS
Muxí associa o homem ao automóvel e ao protagonismo dos elementos viários na cidade, enquanto as mulheres não usufruem desses benefícios na mesma medida. Num recorte na cidade de São Paulo, a pesquisa Origem-Destino de 2012 do Metrô23 da cidade confirma esses dados:
Mulh e res us a m tra ns p o r te co letivo.
mais
domésticos - além do trabalho fora de casa - são incumbidas de ir a supermercados, farmácias, creches e escolas ou postos de saúde. Esses deslocamentos, por sua vez, nunca ganham destaque no planejamento dos trajetos dos transportes públicos; por isso, muitas vezes, são feitos a pé e, consequentemente, limitados a distâncias mais curtas, fazendo com que a cidade seja menor para as mulheres.
o
(Metrô São Paulo, 2012)
Mulh e res a n d a m m a i s a p é . (Metrô São Paulo, 2012)
As motivações de deslocamento para homens e mulheres são as mesmas: trabalho e estudos. Porém, as viagens das mulheres têm razões mais diversificadas, como tarefas como fazer compras e levar familiares ao médico. A partir desses resultados, o relatório ainda frisa que as mulheres são atores centrais para o planejamento urbano já que vivenciam de maneira mais próxima e orgânica essa dimensão do espaço público e seus equipamentos.
Como também acentuado por Zaida Muxí (2014), as mulheres são testemunhas da má qualidade das calçadas pela responsabilidade em acompanhar quem precisa de ajuda ou em transportar carrinhos de bebê, cadeiras de rodas ou carrinhos de compras. A partir dessas considerações, torna-se clara porque a melhoria das condições das calçadas afeta diretamente as mulheres.
A mobilidade das mulheres diferencia-se na medida em que, como são designadas, dentro de seu papel social de gênero, como responsáveis pelos espaços e assuntos
23. disponível em http://www.metro.sp.gov.br/metro/arquivos/mobilidade-2012/relatorio-sintese-pesquisamobilidade-2012.pdf
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imagem 39: calçada em São Paulo. fonte: Mobilize. 57
imagem 40: calçada em São Paulo. fonte: Zap Imoveis.
imagem 41: calçada em São Paulo. fonte: São Paulo.
imagem 42: calçada em São Paulo. fonte: Mobilize.
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2.10 MOBILIÁRIO E ILUMINAÇÃO
Ao concluir que as mulheres andam mais a pé que os homens, conclui-se também que uma maior estruturação do mobiliário presente nas calçadas reverberaria diretamente nelas. Por isso, é importante pensar em postes de iluminação proveitosos para as calçadas, pontos de ônibus devidamente sinalizados, bancos para descanso ao longo das caminhadas ou elementos de separação entre a rua e a calçada. A iluminação pública das cidades é de extrema importância no planejamento urbano inclusivo. A priorização da iluminação do trecho carroçável, a disposição falha dos postes ou sua ausência e a falta de manutenção deles são agravantes da sensação de insegurança enfrentada pelas mulheres ao caminhar nas ruas. Ao dizer que algo é trazido à luz, propõese dizer que esse algo é revelado ou escancarado, e essa é justamente a função da iluminação pública nas cidades: tornar explícito e visível o que se passa nas ruas e calçadas. A claridade permite, além de denunciar à própria mulher se há perigo iminente, denunciar a outras pessoas situações abusivas, o que também desencoraja a ação de possíveis agressores pela não certeza da impunidade.
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imagem 43: mobiliรกrio urbano. fonte: Landezine.
imagem 44: mobiliรกrio urbano. fonte: Landezine.
imagem 45: mobiliรกrio urbano. fonte: Via Bizzuno. 62
imagem 46: mobiliรกrio urbano. fonte: Naver.
imagem 47: iluminação priorizando o trecho carroçável, São Paulo. fonte: Prefeitura de São Paulo.
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imagem 48: iluminação priorizando o trecho carroçável, São Paulo. fonte: Associação ABCIP.
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imagem 49: iluminação adequada ao pedestre. fonte: Pini MG.
imagem 50: iluminação adequada ao pedestre. fonte: Decor Fácil.
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2.11 TRANSPARÊNCIA
A cidade deve ser honesta e não pode causar dúvida naqueles que já se sentem em constante ameaça. Barreiras visuais como muros altos, materiais opacos ou poucas aberturas em edificações impedem o contato do ambiente externo com o interno, tornando inviável a interação entre pessoas que poderiam efetuar ou receber denúncias.
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imagem 51: fachada opaca sem relação com a calçada, São Paulo. fonte: autoria própria.
imagem 52: fachada visualmente permeável, estabelecendo relação interior-exterior. fonte: autoria própria.
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ENSAIAR
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imagem 53: mulher caminhando na Rua Augusta. fonte: autoria prรณpria.
3.1 INTRO
3.2 EQUIPAMENTOS PÚBLICOS
A inquietação projetual nasce na condição de ser mulher dentro dos espaços urbanos.
Os equipamentos públicos limitam-se a Casa da Mulher Brasileira, Delegacia da Mulher, ONGs, abrigos, assistência social, órgãos de defensoria pública e serviços de saúde. Todos mostram-se necessários, mas carregam falhas em seu funcionamento e, principalmente, em sua temática.
A investigação, por sua vez, surgiu na observação dos equipamentos públicos existentes voltados às mulheres e, num segundo momento, na avaliação dos dados referentes à violência sexual na cidade de São Paulo no ano de 2017, além da análise específica desses endereços e das condições presentes relacionadas aos tópicos urbanos anteriormente expostos.
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Quanto ao funcionamento, podemos citar a Delegacia da Mulher. Além de funcionar somente em horário comercial e dias de semana, somam apenas nove unidades em toda a cidade de São Paulo – segundo a norma técnica24, deveria haver duas delegacias a cada 300 mil habitantes, isso significa, traduzido ao número populacional paulistano, aproximadamente 40 unidades. Ainda, diversos relatos de mulheres25 denunciam hostilidade no atendimento, falta de estrutura e culpabilização das vítimas. Todas essas condições desestimulam as mulheres a efetuarem as denúncias. A delegacia e os outros equipamentos também parecem reforçar a condição feminina que a relaciona à violência. É evidente que é necessário aceitar e encarar o problema, mas esses serviços propõem um isolamento temático numa tentativa de remediação sem que haja medidas urbanas preventivas da violência de gênero ou de qualquer outro tópico
24. disponível em http://www.spm.gov.br/lei-maria-da-penha/lei-maria-da-penha/norma-tecnica-depadronizacao-das-deams-.pdf 25. disponível em https://azmina.com.br/especiais/dossie-das-delegacias-da-mulher/
relacionado às mulheres. A Casa da Mulher Brasileira - com programa voltado ao apoio à mulher vítima de violência - deveria conter, segundo cartilha divulgada pelo Governo Federal: acolhimento e triagem, apoio psicossocial, delegacia, juizado ou vara especializada, Ministério Público, Defensoria Pública, promoção da autonomia econômica, central de transportes, brinquedoteca, alojamento de passagem e serviços de saúde.
Em 2013, foi anunciada a construção de 27 unidades em todo o país. Em 2018, apenas 7 unidades foram construídas, 4 delas estão fechadas e apenas 2 funcionam com a estrutura completa. A unidade paulistana, de inauguração prevista para outubro de 2016, abriu as portas apenas em março de 2018. Até julho desde ano, ainda não havia iniciado os atendimentos.
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imagem 54: delegacia da mulher da Zona Sul de São Paulo. fonte: G1.
imagem 55: Casa da Mulher Brasileira no Cambuci, São Paulo. fonte: Metrópoles.
imagem 56: mapa das unidades da Delegacia da Mulher por distrito de SĂŁo Paulo. fonte: Geosampa.
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3.3 DADOS DA VIOLÊNCIA SEXUAL Os dados referentes às denúncias de violência sexual na cidade de São Paulo no ano de 2017 foram obtidos através da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Em toda a cidade, foram 2.790 casos. Inseridos em via pública, 593. O mapeamento das denúncias indica que a violência não é territorializada. Acontece em todos os distritos da cidade. Entre os distritos com o maior índice de violência, está o da Consolação. Em sua maioria, os dados mais alarmantes localizam-se em distritos periféricos da cidade, onde, em geral, os investimentos na infraestrutura pública são menores; por isso é possível entender que os aspectos urbanos dessas
áreas são menos planejados e, como resultado, geram mais desconforto, insegurança e violência. Por outro lado, o distrito da Consolação, localizado numa área central da cidade, não está inserido nessa mesma categoria. É por isso e pela proximidade pessoal com a localidade que optou-se por esse local de atuação. As denúncias registradas nesse distrito em 2017, somam 11. Entre endereços distintos, um deles aparece repetidamente na contagem: a Rua Augusta, com 6 dos 11 casos. Assim essa via, particularmente entre o centro e a Avenida Paulista – no chamado Baixo Augusta, torna-se o eixo experimental de intervenção. 74
imagem 57: manifestação Mulheres contra o estupro. fonte: USP.
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água rasa alto de pinheiros anhanguera aricanduva artur alvim barra funda bela vista belem bom retiro brás brasilândia butantã cachoeirinha cambuci campo belo campo grande campo limpo cangaíba capão redondo carrão casa verde cidade ademar cidade dutra cidade líder cidade tiradentes consolação ermelino matarazzo fazenda da juta fazenda do carmo freguesia do ó grajaú guaianazes iguatemi ipiranga itaim bibi itaim paulista itaquera jabaquara jaçanã jaguará jaguaré jaraguá jardim ângela jardim colina jardim helena jardim paulista jardim são savério jardim são geraldo jardim são luís josé bonifácio
lajeado lapa liberdade limão mandaqui moema mooca morumbi parelheiros pari parque do carmo pedreira penha perdizes perus pinheiros pirituba ponte rasa raposo tavares república rio pequeno sacomã santa cecília santana santo amaro são domingos são lucas são mateus são miguel são rafael sapopemba saúde sé socorro tatuapé tremembé tucuruvi vila andrade vila curuca vila formosa vila guilherme vila jacuí vila leopoldina vila maria vila mariana vila matilde vila medeiros vila prudente vila sônia
76
imagem 58: mapa das denúncias de violência sexual por distrito em São Paulo. fonte: Geosampa.
77
3.4 HISTÓRICO DA RUA AUGUSTA 26 A Rua Augusta surge num momento de intenção de expansão das elites paulistanas na cidade de São Paulo; entre as opções, a expansão a oeste mostrava-se mais vantajosa em aspectos econômicos. Com a ocupação pelas elites das áreas de Higienópolis e da Paulista, a Rua Augusta torna-se meio de conexão entre ambas. A via, por sua vez, aparece pela primeira vez nos mapas em 1895. Ela é criada a partir do arruamento de chácaras naquele eixo. Em 1910, o bonde elétrico 45, de conexão entre a rua Martinico Prado e a Avenida Paulista, é inaugurado, marcando o início da valorização da Rua Augusta. Junto com o bonde é criada uma casa de transformadores e armazenamento dos bondes, que hoje dá lugar à Subestação AES Eletropaulo.
mais simples, principalmente na década de 80, que trouxe público para os prostíbulos. Em 1990, porém, o trecho do centro à Paulista volta a receber atenção a partir da denominação do eixo Baixo Augusta e das atividades culturais e boemias que lá se desenrolaram. Em 2000, a Prefeitura começa a agir no combate aos prostíbulos.
De 1940 a 1960, a Rua Augusta vive seu auge e é caracterizada como a principal área de comércio de luxo na cidade. Nesse período, são construídos muitos edifícios de uso misto, de maneira que seus térreos comerciais incentivavam o caráter da via. A partir de 1970, porém, inicia-se o declínio da Rua Augusta; principalmente pela inauguração de shoppings, como o Iguatemi, que desviaram o movimento dos clientes e das elites. Com isso, começam a instalar-se na via, principalmente entre o centro e a Avenida Paulista, prostíbulos, cortiços e comércio ilegal. Tal movimento foi permitido pelo surgimento de hotéis 26. tópico inteiro baseado na dissertação de pós graduação Transformações recentes na paisagem construída da cidade de São Paulo: O eixo da Rua Augusta, do Centro à Marginal Pinheiros, de Ana Carolina Ferreira Mendes
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imagem 59: mapa 1930, SARA. fonte: Geosampa.
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imagem 60: mapa 1954, Vasp Cruzeiro. fonte: Geosampa.
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imagem 61: mapa 1988. fonte: Geosampa.
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imagem 62: Rua Augusta, 1958. Fonte: Pini MG.
imagem 63: Rua Augusta, anos 60. fonte: SĂŁo Paulo Antiga.
imagem 64: Rua Augusta, anos 60. fonte: Antigos Verde Amarelo.
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imagem 65: Rua Augusta, anos 70. fonte: Eng. Vagner Landi.
3.4 A RUA AUGUSTA ATUALMENTE 27 Desde 2009, a via recebeu inúmeras casas noturnas que ajudaram a retomar as atividades não vinculadas à prostituição. Com isso, também, inúmeros imóveis desse tipo passaram a ser demolidos para a construção de grandes empreendimentos imobiliários residenciais, mudando a paisagem da via através da descaracterização do nível do térreo, a partir da ausência de unidades comerciais.
87
Além disso, a rua carece de mobiliário urbano e calçadas adequados, com postes de iluminação que servem apenas para o trecho carroçável, ausência de bancos ou sinalização, e pontos de ônibus pouco visíveis e destacados. Ainda, algumas quadras possuem uma configuração muito extensa, o que aumenta a sensação de insegurança do pedestre.
Os imóveis do Baixo Augusta caracterizam-se por uma alternância entre estacionamentos, antigas casas térreas ou sobrados, antigos edifícios de baixo gabarito, galpões térreos que abrigam as casas noturnas e, mais recentemente, os empreendimentos residenciais ou comerciais, de 15 a 25 pavimentos. Esses edifícios mais recentes, por conta de seu altíssimo gabarito, prejudicam a experiência do pedestre ao caminhar na via. A Rua Augusta possui 10m de largura, enquanto suas calçadas variam de 1,5m a 3m; a presença de tais edifícios, em calçadas tão estreitas, proporciona uma sensação de enclausuramento e desconforto. As casas noturnas, apesar de seu extenso horário de funcionamento na via, não contribuem para a segurança dos pedestres. Isso porque, especialmente nessa localidade, tratam-se de galpões fechados para a rua, sem nenhum contato com o exterior. 27. parte do tópico baseada na dissertação de pós graduação Transformações recentes na paisagem construída da cidade de São Paulo: O eixo da Rua Augusta, do Centro à Marginal Pinheiros, de Ana Carolina Ferreira Mendes
3.5 ANÁLISE DAS DENÚNCIAS
88
89
0 e 10
Ambos os endereços se localizam em frente à Praça Roosevelt. O local, apesar da presença da Guarda Civil Metropolitana, gera insegurança, principalmente à noite, pela falta de iluminação e de atividade no térreo dos edifícios ao redor. Além disso, um grande trecho que fornece vista ao Minhocão fica completamente isolado, sem edifícios e iluminação apropriada. Uma das denúncias foi registrada às 23 horas e 59 minutos. A outra não teve horário informado.
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imagem 66: Praรงa Roosevelt. fonte: autoria prรณpria.
imagem 67: Guarda Civil Metropolitana. fonte: autoria prรณpria. 91
imagem 68: entorno Praรงa Roosevelt fonte: autoria prรณpria.
imagem 69: entorno Praรงa Roosevelt. fonte: autoria prรณpria.
imagem 70: entorno Praรงa Roosevelt. fonte: autoria prรณpria.
92
93
430
Endereço correspondente a uma casa noturna faceada a um estacionamento. A casa noturna é um exemplo da tipologia de galpão fechado, impossibilitando qualquer contato dos visitantes com o exterior. Mesmo que em um dia de funcionamento, não fornece atividade para a rua. O estacionamento, a partir de seu horário de fechamento, também não oferece nenhum atrativo à rua e facilita atos de violência. A denúncia foi registrada às 4 horas da manhã.
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imagem 71: casa noturna. fonte: autoria prรณpria.
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imagem 72: entorno da casa noturna. fonte: autoria prรณpria.
imagem 73: entorno da casa noturna. fonte: autoria prรณpria.
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97
486
A localização se dá em frente a um galpão abandonado vizinho a um lado de uma casa noturna e do outro de um estúdio de tatuagem. Tanto a balada quanto o estúdio propõem um térreo ativo em um edifício residencial, mas a característica de fechamento para a rua da casa noturna e de horário reduzido de funcionamento do estúdio contribuem para situações de abuso. A denúncia foi registrada às 00 horas e 50 minutos.
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imagem 74: galpĂŁo. fonte: autoria prĂłpria.
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imagem 75: entorno do galpĂŁo. fonte: autoria prĂłpria.
imagem 76: entorno do galpĂŁo. fonte: autoria prĂłpria.
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101
999
Novamente, o endereço se dá em frente a um grande estacionamento. À sua esquerda está um pequeno restaurante desativado e um edifício da FAM. À direita, outro edifício da FAM. Os três estabelecimentos, com exceção do antigo restaurante, durante seu funcionamento e a partir de seu fechamento, pouco contribuem para a cidade. A denúncia foi registrada às 2 horas da manhã.
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imagem 77: o estacionamento. fonte: autoria prรณpria.
imagem 78: entorno do estacionamento. fonte: autoria prรณpria.
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imagem 79: entorno do estacionamento. fonte: autoria prรณpria.
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1.450
A última denúncia acontece no trecho correspondente à portaria de um edifício residencial, uma bomboniere e o Espaço Itaú de Cinema. Os primeiros dois usos não contribuem com a calçada da via, mas o Espaço Itaú poderia até seu horário de fechamento. Sua fachada, porém, aparece como uma barreira em relação à rua. O horário da denúncia não foi registrado.
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imagem 80: Espaço Itaú de Cinema e bomboniere. fonte: autoria própria.
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imagem 81: Espaço Itaú de Cinema. fonte: autoria própria.
imagem 82: fachada residencial. fonte: autoria prĂłpria.
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3.6 O RIZOMA Deleuze e Guattari desenvolveram a teoria filosófica do Rizoma. Ela iniciase a partir da descrição de dois sistemas importados da biologia: a raiz e a raizfasciculada. O sistema raiz, como o de uma árvore, corresponde a um raciocínio clássico e hierarquizado, que desconsidera multiplicidades e exige uma forte unidade principal. O sistema da raizfasciculada pode ser chamado de rizoma e corresponde a uma multiplicidade de raízes secundárias que se ramificam em todos os sentidos.
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O rizoma é feito de platôs. Estes estão sempre no meio da estrutura e podem ser definidos como regiões contínuas de intensidades que vibram sobre elas mesmas (Deleuze e Guattari, 1995). Segundo os autores: Chamamos “platô” toda multiplicidade conectável com outras hastes subterrâneas superficiais de maneira a formar e estender um rizoma. (Deleuze e Guattari, 1995, p.15)
O que realmente importa, no entanto, são as hastes, as conexões entre eles. As linhas que se formam, rompem-se, estabelecemse e atravessam. Deleuze e Guattari, ao fim do texto, sintetizam o rizoma e a importância de tais linhas: É que o meio não é uma média; ao contrário, é o lugar onde as coisas adquirem velocidade. Entre as coisas não designa uma correlação localizável que vai de uma para outra e reciprocamente, mas uma direção perpendicular, um movimento transversal que as
carrega uma e outra, riacho sem início nem fim, que rói suas duas margens e adquire velocidade no meio. (Deleuze e Guattari, 1995, p.18)
O raciocínio dos autores pode ser comparado à tipologia pretendida do projeto. A violência de gênero comportase como o rizoma: está espalhada e enraizada na sociedade e nos mais diversos territórios. A Rua Augusta figura como uma experiência inicial deste trabalho, mas a igualdade só será alcançada quando atingir o maior contingente imaginável de pessoas, áreas e realidades. Se a intervenção assume uma tipologia pulverizada e cada aspecto cumpre parte das propostas de intervenção e só representam um todo quando enxergados como um eixo de projeto ao longo da Rua Augusta, o mesmo pode ser refletido na cidade, no estado, no país ou no mundo. É por isso que a proposta, que inicialmente desenvolve-se na Rua Augusta, deve ser estendida a mais Ruas Augustas, mais bairros da Consolação e mais cidades de São Paulo. O caráter de uma Operação Urbana, com possibilidade de atuação em mais de um local, garante que os ideais de igualdade sejam distribuídos através de pequenos equipamentos urbanos e intervenções que, ao final das contas, beneficiam todas as pessoas que usufruem do projeto, não apenas as mulheres. A intenção não pode e não deve ser fixa; e só será efetiva quando for capaz de contribuir com todas as mulheres e em todos os territórios.
3.7 ESTUDOS DE CASO
110
O projeto urbano para a cidade de Paris foi desenvolvido pelo escritório MVRDV. Trata-se de uma série de 17 intervenções urbanas de larga escala desenvolvidas a partir do tecido existente da cidade, suas necessidades programáticas e possibilidades espaciais. As intervenções localizam-se em espaços disponíveis e factíveis. 111
GRAND PARIS, MVRDV
O programa varia entre equipamentos de transporte, programas habitacionais e infraestrutura cultural, social e educacional, sempre com enfoque no adensamento da cidade e no caráter ambiental e sustentável. Esses equipamentos estão espalhados por todo o território de Paris e, funcionando em conjunto, pretendem transformar a cidade numa das mais densas, compactas e sustentáveis do mundo.
imagem 83: Grand Paris. fonte: MVRDV. 112
imagem 84: Grand Paris. fonte: MVRDV.
A expansão do museu localizado na cidade de Kansas, nos Estados Unidos, foi projetado pelo escritório Steven Holl Architects. São seis volumes, sendo um deles o edifício original do museu, e outros cinco anexos dispostos ao longo de um percurso no jardim do complexo.
113
MUSEU DE ARTE NELSON-ATKINS, STEVEN HOLL
Esses novos volumes contrastam com o edifício preexistente de 1933. Eles abrigam programas expositivos e são revestidos por material translúcido, enquanto edifício anterior é inteiramente opaco. As galerias, além de permitirem contato exterior-interior pelo uso do vidro e a consequente permeabilidade visual, também funcionam como grandes luminárias ao percurso do visitante através da iluminação interna que vaza por toda a fachada.
imagem 85: Museu Nelson-Atkins. fonte: ArchDaily.
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imagem 86: Museu Nelson-Atkins. fonte: ArchDaily.
imagem 87: Museu Nelson-Atkins. fonte: ArchDaily
PRAÇA DAS ARTE S, BRASIL ARQUITETURA
115
A Praça das Artes trata-se de um complexo cultural de música e dança desenvolvido pelo escritório Brasil Arquitetura no centro da cidade de São Paulo. O projeto tem implantação num miolo de quadra e proporciona uma ligação ao nível do pedestre entre a Rua Conselheiro Crispiniano e a Avenida São João. Os autores do projeto, em descrição própria, o definem como “um espaço de música e dança para a requalificação do centro de São Paulo”, frisam a necessidade do complexo em “criar novos espaços de convivência” e destacam o importante papel do projeto “uma vez que o rico e complexo programa de uso, focado nas atividades profissionais e educacionais de música e dança, está fortemente marcado por funções de caráter público, convivência e vida urbana”. O programa divide-se entre as sedes das insituições de música e de dança, galerias de exposições, áreas administrativas, restaurantes, cafés, espaços de convivência e estacionamento subterrâneo. Esses usos espalham-se em volumes que encostam nas empenas dos edifícios vizinhos aos limites dos terrenos, liberando um eixo central de deslocamento no terreno, ora descoberto, ora coberto pelo descolamento de volumes do térreo. A conexão entre as ruas ao nível do pedestre é um grande acerto no projeto, proporcionando fruição pública e permeabilidade urbana dentro da quadra. Por sua vez, a maneira como essa conexão foi trabalhada mostra falhas hoje em dia. Foi dito na descrição dos autores
que a instalação de pontos comerciais e de serviços foram previstos ao longo dessa passagem no térreo, mas isso nunca foi aplicado. Talvez por questões administrativas ou financeiras, talvez por questões projetuais (falta de enfoque no programa fixo do térreo, que varia entre paredes do concreto ou halls dos edifícios), a Praça das Artes muitas vezes se mostra vazia, sem vida e sem ativação, incapaz de cumprir as premissas de incentivo à vida pública ou de reprodução da urbanidade presente na região. Além disso, a constante opacidade no revestimento dos edifícios, proporcionada pelo uso do concreto e das pequenas aberturas dispersas e irregulares (que são justificados pela necessidade de isolamento acústico), desestimula as trocas urbanas internas e externas, e pouco apreende-se desses volumes que se fecham para a rua e para o público. O projeto perde na honestidade com a cidade e talvez fizesse mais sentido num contexto estrangeiro, onde aspectos referentes à segurança pública e ao aproveitamento dos espaços urbanos são mais evoluídos e superados. Para proporcionar o sentimento de pertencimento aos indivíduos e a consequente apropriação desses espaços seria necessário abrir mais, ativar mais e conversar mais com tanta diversidade e tanta vida características do centro de São Paulo.
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imagem 88: Praรงa das Artes. fonte: autoria prรณpria.
imagem 89: Praรงa das Artes. fonte: autoria prรณpria.
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imagem 90: Praรงa das Artes. fonte: autoria prรณpria.
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BIBLIOTECA SANT-ANTONI, RCR
A Biblioteca Sant-Antoni, em Barcelona, projetada pelo escritório vencedor do Pritzker RCR Arquitectes, propõe uma implantação semelhante ao projeto da Praça das Artes. Ela também se dá num miolo de quadra e o volume do programa é colado na frente e numa das laterais do terreno, enquanto no lado oposto e aos fundos ergue-se apenas um muro que delimita o terreno. O volume também está virado para a rua onde, quando transita da calçada para o lote, descola-se do térreo criando um portal de transição do exterior para o interior do projeto através do próprio edifício. Não há saída para outra rua e no interior do terreno é criada uma grande praça pública descoberta aos pedestres. O tratamento das divisas do terreno também deixa a desejar, dando espaço ao programa da própria biblioteca ou a programa algum. Mas essa decisão projetual é menos comprometedora numa realidade espanhola, onde as questões de segurança pública e apropriação dos espaços urbanos, anteriormente citadas, são melhores resolvidas e estimuladas que no Brasil. Essa extensão do espaço público ao interior da quadra também é limitada em alguns períodos, quando o portal é fechado à rua através de um portão ao nível do térreo.
imagem 91: Biblioteca Sant-Antoni. fonte: autoria prรณpria.
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imagem 92: Biblioteca Sant-Antoni. fonte: autoria prรณpria.
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imagem 93: Biblioteca Sant-Antoni. fonte: autoria prรณpria.
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imagem 94: Biblioteca Sant-Antoni. fonte: ArchDaily.
O Mercat Encants, também em Barcelona, projetado pelo escritório b720 Fermín Vázquez Arquitectos, é um mercado de rua aberto. Está implantado numa quadra triangular e segue seu formato; além disso, fornece acessos pelas três ruas que delimitam a quadra. Ele se dá em diferentes níveis que evoluem sutilmente a partir do térreo, simulando uma caminhada como extensão da calçada e da cidade.
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MERCAT ENCANTS, B720 FERMIN VAZQUEZ ARQUITECTOS
O mercado todo é visualmente e fisicamente permeável, propondo uma relação interessante entre a cidade e o projeto, não estipulando limites entre o exterior e o interior. O programa abriga diversas lojas, vendas, quiosques e espaços de comércio situados em módulos independentes que preenchem as lajes livres do edifício. Uma grande cobertura suspensa garante a unidade visual e espacial do mercado, além de proteger os usos e usuários das intempéries naturais. Ela é composta por planos revestidos por um material reflexivo, capazes de estimular e destacar ainda mais as relações internas e externas do mercado.
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imagem 95: Mercat Encants. fonte: autoria prรณpria.
imagem 96: Mercat Encants. fonte: ArchDaily. 125
imagem 97: Mercat Encants. fonte: autoria prรณpria.
imagem 98: Mercat Encants. fonte: ArchDaily.
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A Galeria Nova Barão, também no centro de São Paulo, é uma galeria a céu aberto que permeia uma quadra da Rua 7 de Abril à Rua Barão de Itapetininga. Segue também a lógica de ocupação das divisas do terreno e liberação de um eixo central para circulação de pedestres.
127
GALERIA NOVA BARÃO
Ela tem implantação longitudinal e cria um pátio central um pouco mais largo que o resto do percurso. Os usos comerciais se estendem por dois níveis, e a partir do primeiro pavimento inicia-se o volume dos edifícios comerciais, também limitados ao perímetro das laterais do terreno estabelecido no térreo. Ou seja, o eixo central de deslocamento é aberto, criando marquises para o térreo que, no segundo andar, são os corredores de circulação dos usos superiores. Esse andar é acessado por meio de escadas rolantes externas abertas ao público. O estabelecimento desse eixo de deslocamento a céu aberto simula as condições urbanas e cria uma permeabilidade visual muito interessante entre térreo, primeiro pavimento e os edifícios. É possível observar, em todos os pontos da galeria, a dinâmica urbana conquistada e estimulada pelo projeto. O térreo também tem um tratamento diferenciado a partir do uso de mosaico português no piso, enfatizando a continuidade da calçada na galeria, além de contar com mobiliário urbano como lixeiras, postes de iluminação, floreiras e bancos.
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imagem 99: Galeria Nova BarĂŁo. fonte: autoria prĂłpria.
imagem 100: Galeria Nova Bar찾o. fonte: autoria pr처pria.
129 imagem 101: Galeria Nova Bar찾o. fonte: autoria pr처pria.
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imagem 102: Galeria Novas BarĂŁo. fonte: autoria prĂłpria.
Com base na identificação das características gerais de desfavorecimento da mulher na cidade relacionando-as às características específicas da Rua Augusta, foi possível desenvolver uma intervenção projetual a partir de três eixos de atuação. 131
3.8 O PROGRAMA Todos os eixos configuram-se ao redor dos pontos de destaque estabelecidos anteriormente ao relacionar gênero e cidade: vitalidade, extensão das quadras, calçadas, iluminação e mobiliário, transparência.
imagem 103: falta de vitalidade no térreo, Rua Augusta. fonte: autoria própria. 132
imagem 104: falta de vitalidade no térreo, Rua Augusta. fonte: autoria própria.
imagem 105: falta de vitalidade no térreo, Rua Augusta. fonte: autoria própria.
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imagem 106: calçadas em mau estado, Rua Augusta. fonte: autoria própria.
imagem 107: poste de iluminação falho, Rua Augusta. fonte: autoria própria.
imagem 108: ponto de ônibus mal sinalizado e muro opaco. fonte: autoria própria.
134
135
3.9 EIXOS DE INTERVENÇÃO
a ru da co
implantação
av .p
au l
ist a
ão aç ol ns
1366
memória estabelecimento de condicionantes de uso e ocupação para os terrenos memória e outros potenciais terrenos de configuração similar
percurso melhoria das calçadas e implementação de mobiliário urbano com foco na iluminação em todo o eixo augusta
av. 9
de
julh
o
travessia implantação de dois edifícios destinados a programas de conscientização sobre a igualdade entre gêneros e incentivo à participação popular nas decisões urbanas
0
100m
137
3.10 EIXO MEMÓRIA
zoneamento ZEU, permitindo usos residenciais e não residenciais e obrigatoriedade do térreo de uso comercial
Parece indispensável atuar da mesma maneira que a violência se dá: dispersa. Assim, os seis números espalhados pela Rua Augusta, símbolos de violação, foram ressignificados. As situações de violência devem ser lembradas como exemplo do que não é mais tolerável. Nesses terrenos, diretrizes de ocupação foram definidas. Além disso, em agosto de 2018, encerrouse a disputa em torno da apropriação do terreno do Parque Augusta e ele foi oficializado como bem público. Por isso, também foi incorporado ao projeto e sugere-se o uso dos elementos de mobiliário urbano desenvolvidos em seu planejamento.
fechamentos ao nível do pedestre em materiais permeáveis visualmente
implementação do mobiliário urbano proposto no trecho da calçada correspondente ao edifício
138
139
3.11 IDENTIDADE
A iluminação e a transparência dos elementos urbanos fazem muita diferença na discussão da mulher na cidade. Isso é comprovado através dos horários registrados nas denúncias de violência (quase sempre a noite) e no caráter de uso dos estabelecimentos situados nos endereços, sempre opacos e fechados em relação à rua. Uma outra premissa era a de que os eixos de intervenção conversassem entre si para que fossem entendidos como um. Por isso, definiu-se um material comum ao fechamento dos elementos de mobiliário urbano e do edifício (explicados em seguida). Esse material deveria ser translúcido tanto para manter a honestidade das intervenções com os pedestres quanto para permitir que a iluminação interna delas chegasse nas calçadas como grandes luminárias urbanas. Também deveria ser eficiente como elemento de mobiliário e como revestimento externo de um edifício. Inicialmente foram consideradas três opções: u-glass, policarbonato translúcido e chapa metálica perfurada. Os dois primeiros seriam ideais para o fechamento do edifício, mas pouco eficientes para o mobiliário urbano. Pela chapa metálica reunir as características necessárias a todas as intenções, ela foi o elemento escolhido.
Tudo parte de um módulo de 50cmX50cm que subdividiu-se em outros cinco tamanhos: 50cmX30cm, 50cmX20cm, 25cmX50cm, 25cmX30cm e 25cmX20cm. Cinco tipos de perfuração foram definidos para a chapa inicial: 2cm, 3cm, 4cm, 5cm e 6cm. Posteriormente, um elemento base foi estabelecido: já que o trabalho trata da busca pela igualdade, o símbolo matemático de igual (=). A partir dele, foram feitas subtrações em cada tipo de chapa, permitindo ritmo e diferenciação entre elas, além de adequação à pauta do projeto como um todo. Assim, todos os elementos de mobiliário variam de acordo com os seis tamanhos das chapas e a combinação delas em elementos maiores definem os tamanhos das grandes chapas da fachada do edifício.
140
chapas m etálicas
A 50cmX50cm
B 50cmX25cm
50cm
25cm
25cm
30cm 141
C 30cmX50cm
50cm 20cm
D 30cmX25cm
chapa mãe
divisões
E
20cmX50cm
F
20cmX25cm
variações
01 diâmetro 2cm
02 diâmetro 3cm
03
1 142
diâmetro 4cm
04 diâmetro 5cm
05 diâmetro 6cm
perfurações
subtrações
negativo
143
3.12 EIXO PERCURSO
Se as mulheres andam mais a pé que os homens e encontram as principais dificuldades urbanas em seus percursos diários, alguns aspectos das ruas ou calçadas são responsáveis pelo desconforto gerado. Por isso essa intervenção diz respeito ao mobiliário urbano da Rua Augusta. Como também exposto no capítulo anterior, aspectos como iluminação, calçadas e mobiliário, se não projetados e implantados corretamente, tem impacto negativo na vivência dos pedestres e, principalmente, das mulheres. Dessa forma, módulos de bancos, postes de iluminação, balizadores, pontos de ônibus e memoriais foram desenvolvidos, além de reforma das calçadas em geral e aterramento da fiação. Há dois tamanhos de bancos: o módulo simples, de 45cmx50cmx50cm e o módulo triplo, de 45cmx50cmx150cm. O poste de iluminação, afim de favorecer tanto a calçada quando o trecho carroçável, tem 8m de altura e projeção de iluminação a 8m de altura para a rua e a 4m de altura para a calçada. São dispostos de 35m em 35m, alternadamente a cada lado da rua. O balizador tem 60cmX20cmX20cm. É disposto de 2,5m em 2,5m.
O ponto de 210cmX50cmX10cm.
ônibus
tem
O memorial tem 50cm de largura e varia em comprimento. A ideia é que seja instalado no trecho da calçada onde localiza-se um terreno memória. Trata-se de um rasgo no chão com iluminação
144
m obiliรกrio
100cm 50cm
50cm
50cm 40cm 800cm 400cm
+5cm base
50cm
150cm
145
40cm
+5cm base
3
4
2 1
corte urbano rua augusta
20cm 50cm 10cm
50cm
200cm
10cm
50cm varia
5
6
146
147
3.13 EIXO TRAVESSIA
Ciente da carga cultural e social da posição da mulher na sociedade, faz sentido que a manifestação de um projeto com enfoque no gênero trate de ações de conscientização e participação populares aliadas aos aspectos arquitetônicos para que atinja os resultados esperados. Ainda, sabendo da maior demanda territorial de um programa cultural e comunitário e da existência de quadras de grande extensão na Rua Augusta – que são desfavoráveis ao pedestre, como exposto no capítulo anterior -, a terceira e última modalidade de intervenção instala-se no terreno de um atual estacionamento, dois galpões que abrigam casas noturnas e uma residência térrea, tendo duas entradas: uma na Rua Augusta e outra na Rua Frei Caneca. Por isso, o terreno cumpre o papel de romper com a extensão da quadra e permitir a fruição pública dos pedestres, aumentando a sensação de segurança de quem transita pela região. Esse edifício divide-se em dois programas: um centro cultural e educacional voltado à conscientização sobre a igualdade entre gêneros e um centro comunitário, propondo a participação e o debate populares nas decisões urbanas. Os volumes elevam-se do térreo e abrigam, nesse nível, o programa de ativação da rua. Além do vazio que permite a travessia de uma rua à outra, os espaços
são preenchidos por estabelecimentos comerciais como bares, restaurantes ou cafés, favorecendo a ocupação das calçadas ao nível do pedestre. Entre os volumes, um voltado à Rua Augusta e outro à Rua Frei Caneca, há uma praça pública que figura como um dos poucos espaços desse caráter na Rua Augusta. A Rua Frei Caneca encontra-se em desnível em relação à Rua Augusta. Esse desnível de 2m é aproveitado para a circulação vertical entre volumes: o programa cultural eleva-se 2m em relação ao programa comunitário e, a partir da definição do pé-direito de 4m, os as escadas dispostas no vazio entre os volumes vencem meios níveis de um edifício ao outro. Todos os pavimentos possuem aberturas nas lajes, assegurando a permeabilidade visual vertical e a interação entre níveis do térreo ao último pavimento.
148
imagem 109: terreno a partir da Rua Augusta. fonte: autoria prรณpria.
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imagem 110: terreno a partir da Rua Augusta. fonte: autoria prรณpria.
imagem 111: terreno a partir da Rua Frei Caneca. fonte: autoria prรณpria. 150
imagem 112: terreno a partir da Rua Frei Caneca. fonte: autoria prรณpria.
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imagem 113: empenas das divisas do terreno. fonte: autoria prĂłpria.
imagem 114: empenas das divisas do terreno. fonte: autoria prĂłpria.
imagem 115: empenas das divisas do terreno. fonte: autoria prĂłpria. 152
imagem 116: empenas das divisas do terreno. fonte: autoria prĂłpria.
platôs
d i a gram as de anális e
d i a gram as d e con cep ç ã o
terreno original
circulação vertical simulação de volumetria
eixo de deslocamento
153
recuos opacidade
permeabilidade do mateiral
aberturas na fachada
chapa metálica
implanta çã o com té rreo
AA
rua augusta
10
11 1
0m
2
BB
BB
3
4
154 5 5
6
7 8
CC CC
9
AA
-2m
rua frei
1. restaurante/bar 2. restaurante/bar 3. hall cultural 4. restaurante/bar 5. praça 6. restaurante/bar
7. restaurante/bar 8. hall comunitário 9. restaurante/bar 10. entrada automóveis 11. saída automóveis
caneca
0
10 10m
AA
p lantas
BB
BB
1
2
3 4m
155
2m
4
6 5 CC
CC
AA
1. administração 2. biblioteca 3. hall 4. hall 5. administração 6. salas de reunião
planta 1o pavimento
0
5m
AA BB
BB
1
2
3
4
8m
156
6m
5
6 CC
CC
7
AA
1. oficina 2. oficina 3. oficina 4. hall 5. hall 6. cozinha comunitรกria 7. refeitรณrio
planta 2o pavimento
0
5m
AA
p lantas
BB
1
BB
2
3
4 12m
157
10m
5
6
CC
CC
AA
1. exposição 2. exposição 3. exposição 4. hall 5. hall 6. brinquedoteca
planta 3o pavimento
0
5m
AA BB
BB
1 16m
158
14m
2
3 CC
CC
AA
1. hall 2. hall 3. ĂĄrea de convivĂŞncia
planta 4o pavimento
0
5m
AA
p lantas
1
2
BB
BB 3
4
5
20m
159
18m
6
7
8
planta 5o pavimento
CC
CC
AA
1. camarim 2. cozinha 3. auditรณrio 4. foyer 5. hall 6. hall 7. foyer 8. teatro arena
0
5m
AA BB
BB
2 1
24m
160
3 22m
4
CC
AA
1. acesso à cobertura 2. casa de máquinas 3. acesso à cobertura CC 4. casa de máquinas
planta 6o pavimento
0
5m
AA
p lantas
BB
BB
1 2
28m
3
161
4
26m
5 6
1. reservatório superior 2. máquinas de ar-condicionado 3. acesso à cobertura 4. reservatório superior 5. máquinas de ar-condicionado CC 6. acesso à cobertura
AA
CC
planta cobertura
0
5m
AA BB
BB
1 -5m
2
4
3
162
6
7
-3m
5
CC
CC
AA
1. garagem 2. hall 3. reserva técnica 4. vestiário 5. vestiário 6. hall 7. depósito
planta subsolo
0
5m
fa ch a d a
A fachada do edifício é dupla, sendo composta por vidro e chapa metálica. Entre o fechamento em vidro - de trecho fixo até aproximadamente 1,20m e pivotante até o forro – e a chapa metálica – que segue o mesmo dimensionamento em altura do vidro – há um espaçamento de 80cm onde foram dispostas horizontalmente chapas metálicas perfuradas. Essas chapas servem para circulação em caso de necessidade de manutenção das chapas verticais da fachada e, principalmente, para ventilação entre andares e efetividade do desempenho térmico dessa estratégia. Essas grandes chapas estendem-se por oito tamanhos de dimensões: 163
2,70mX1,75m 2,70mX1,50m 2,70mX1,25 2,20mX1,75 2,20X1,50m 1,30mX1,75m 1,30mX1,50m 1,30mX1,25m
Em alguns trechos da fachada as chapas metálicas se ausentam para permitir maior incidência de luz solar e ritmo nas elevações. Além disso, dispostos na própria estrutura metálica que sustenta as chapas, estão elementos de LED para que a iluminação noturna da fachada funcione independente da iluminação interna do edifício em horários não comerciais. Isso assegura a intenção dos edifícios como grandes luminárias urbanas.
150
C1 270
150
C2 220
150
C3 130
125
C4 270
125
C5
130
175
C6 270
175
C7 220
175
C8 130
d etalh e
chapa metálica perfurada viga metálica 20x10 viga metálica 20x15 ventilação viga metálica 20x10 insolação perfil metálico vertical para sustentação da chapa 10x5 vidro fixo 120x75
perfil metálico horizontal para sustentação da chapa 0,75x10
piso de madeira
chapa metálica perfurada 120x150 forro e=5 viga principal 80x30
chapa metálica perfurada 270x150
viga de borda 100x20
detalhe fachada pé direito simples com chapa
164
d etalh e
chapa metálica perfurada 130x150 ventilação
insolação tirante metálico para fixação da chapa perfil metálico horizontal para fixação da chapa 165 chapa metálica perfurada 130x150
vidro fixo 120x150
vidro pivotante 155x150
perfil metálico vertical para fixação do vidro a cada 1,5m
detalhe fachada pé direito simples sem chapa
d etalh e
ventilação
insolação perfil metálico vertical para sustentação da chapa 10x10 chapa metálica perfurada 270x150 vidro fixo 160x75
chapa metálica perfurada 130x150
vidro fixo 130x75
perfil metálico horizontal para sustentação da chapa 10x10
vidro pivotante 270x75
estrutura metálica secundária para reforço estrutural de vencimento pé direito duplo
vidro fixo 120x75
chapa metálica perfurada 130x150
detalhe fachada pé direito duplo com chapa
166
co r te s 167
corte AA
0
5m
co r te s
168
corte BB
0
5m
eleva ções 169
elevação rua augusta
0
2,5m
eleva ções
170
elevação rua frei caneca
0
2,5m
171
CONCLUSÃO
O projeto, como a flor do poema de Drummond, tenta furar o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio da cidade. A violência contra as mulheres nesses espaços, mais do que um problema de segurança pública, trata-se de um problema social que só será solucionado quando a cidade for concebida a partir de uma ótica de gênero e quando a sociedade for incentivada ao respeito pelos mais diversos indivíduos. Enquanto for razoável haver uma Secretaria Federal de Políticas para Mulheres ou, na Secretaria de Segurança Pública do Estado, uma categoria de violência contra mulheres que figura ao lado de categorias genéricas como roubo ou homicídio - significa que não há igualdade. Enquanto o Estado negligenciar seu papel, mulheres serão desrespeitadas, vulnerabilizadas, violentadas, estupradas e assassinadas por assim terem nascido ou se reconhecido. Este trabalho, através de análises sociológicas, arquitetônicas e urbanísticas, pretendeu oferecer uma das inúmeras respostas disponíveis para expandir a vivência feminina nos espaços públicos. A Arquitetura não pode limitar-se a discussões técnicas e normas construtivas. Arquitetos devem posicionar-se ativamente a respeito de aspectos sociais e políticos, especialmente em períodos de emergência de ideologias e governos excludentes. Se as decisões políticas são impregnadas de ideologias e as cidades são reflexos da sociedade, os espaços urbanos podem perder muito em se tratando do respeito aos direitos humanos se a crítica arquitetônica for negligenciada.
A Arquitetura será resistência. Será luta. Será mulher.
172
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REFERÊNCIAS
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DISSERTAÇÕES E TESES
ARTIGOS
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FALÚ, A. El derecho de las mujeres a la ciudad: Espacios públicos sin discriminaciones y violências. Revista Vivienda y Ciudad, Córdoba, Volume 1, p. 10-28, Dezembro, 2014.
IMAG ENS Imagem 3: Vênus de Milo. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%AAnus_de_Milo Imagem 4: obra “A Origem da Vida” ao lado da obra “A Origem da Guerra”. Disponível em: https:// politicafemminile-italia.blogspot.com/2014/12/lorigine-della-guerra.html Imagem 5: casamento na Antiguidade. Disponível em: http://blogs.odiario.com/fernandonande/2013/10/26/ veu-grinalda-bolo-e-vestido-branco-no-casamento-romano/ Imagem 6: casamento na Idade Média. Disponível em: http://sosweet2013.blogspot.com/2014/10/umpouquinho-de-historia.html Imagem 7: casamento na Idade Média. Disponível em: https://historiadomundo.uol.com.br/curiosidades/ casamento.htm Imagem 8: mulher operária. Disponível em: http://jornalmulier.com.br/mulheres-operarias-do-seculo-xviiaos-dias-atuais/#!prettyPhoto Imagem 9: mulheres operárias. Disponível em: http://reamp.com.br/blog/2017/03/diadamulher/ Imagem 10: objetificação do corpo feminino. Disponível em: https://noticias.bol.uol.com.br/ultimasnoticias/entretenimento/2015/12/03/marca-de-joias-e-acusada-de-retratar-mulher-como-propriedade-empropaganda.htm Imagem 11: transsexualidade. Disponível em: https://camifalcao.com/abaixa-que-tiro/ Imagem 12: transsexualidade. Disponível em: https://camifalcao.com/abaixa-que-tiro/ Imagem 13: transsexualidade. Disponível em: https://camifalcao.com/abaixa-que-tiro/ Imagem 15: JK em indústria automobilística. Disponível em: http://bigbearurso.blogspot.com/2011/04/ historia-da-industria-automobilistica_08.html Imagem 16: a construção de Brasília. Disponível em: https://www.altoastral.com.br/50-anos-em-5-entenda/ Imagem 17: mapa da Capitania de São Vincente, com aVila de São Paulo aos fundos, 1631. Disponível em: http://retratosdefamiliabh.blogspot.com/2013/04/um-dificil-caminho.html Imagem 18: São Paulo Railway. Disponível em: https://porfalaremhistoria.wordpress.com/2014/08/23/aprimeira-estrada-de-ferro-paulista-sao-paulo-railwayImagem 19: Vila Operária Maria Zelia. Disponível em: http://www.saopauloantiga.com.br/vilamariazelia/ Imagem 20: o modelo rodoviarista de Prestes Maia. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/ read/arquitextos/07.082/259 Imagem 21: mulheres votando pela primeira vez no Brasil, 1932. Disponível em: https://jornalggn.com.br/ noticia/a-conquista-do-voto-feminino-em-1932 Imagem 22: Carlota Pereira de Queirós na Câmara dos Deputados, 1934. Disponível em: https://jornalggn. com.br/noticia/a-conquista-do-voto-feminino-em-1932 Imagem 23: participação feminina na Passeata dos Cem Mil, contra a Ditadura Militar Brasileira, 1968. Disponível em: https://www.cursoderedacao.net/passeata-dos-cem-mil/ Imagem 24: Câmara dos Deputados, 2015. Disponível em: http://www.osul.com.br/camara-dos-deputadosrejeita-cota-para-mulheres-no-legislativo/ Imagem 29: térreo ativo, São Paulo. Disponível em: https://viagemeturismo.abril.com.br/materias/ pinheiros-o-renascimento-do-bairro-mais-cool-de-sao-paulo/ Imagem 33: esquema de ativação do térreo a partir da dimensão das quadras. Disponível em: https:// medium.com/@cabnob/jane-jacobs-e-a-diversidade-afeb05ff01c Imagem 34: esquema de ativação do térreo a partir da dimensão das quadras. Disponível em: https:// medium.com/@cabnob/jane-jacobs-e-a-diversidade-afeb05ff01c Imagem 35: esquema de ativação do térreo a partir da dimensão das quadras. Disponível em: https:// medium.com/@cabnob/jane-jacobs-e-a-diversidade-afeb05ff01c Imagem 36: o Plano Cerdá, em Barcelona, de quadras de aproximadamente 100mx100m. Disponível em: http://urbanidades.arq.br/2015/04/patios-internos-em-barcelona/ Imagem 37: mapa Rua Augusta. Disponível em: www.geosampa.com.br Imagem 38: mapa Rua dos Pinheiros. Disponível em: www.geosampa.com.br Imagem 39: calçada em São Paulo. Disponível em: http://www.mobilize.org.br/noticias/3357/um-ano-aposlei-calcadas-de-sao-paulo-continuam-esburacadas.html
178
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Imagem 40: calçada em São Paulo. Disponível em: revista.zapimoveis.com.br/prefeitura-de-sp-aprova-leique-aumenta-multa-para-calcadas-danificadas/ Imagem 41: calçada em São Paulo. Disponível em: http://www.saopaulo.com.br/novas-calcadas-seraoconstruidas-pela-prefeitura-de-sao-paulo/ Imagem 42: calçada em São Paulo. Disponível em: http://www.mobilize.org.br/noticias/2127/calcadas-desao-paulo-problemas-do-tamanho-da-megalopole.html Imagem 43: mobiliário urbano. Disponível em: http://www.landezine.com/index.php/2013/10/pitt-streetmall-by-tony-caro-architecture/pitt_street_mall-by-tony_caro_architecture-08/ Imagem 44: mobiliário urbano. Disponível em: http://www.landezine.com/index.php/2016/06/vanke-cloudcity-phase-2-by-lab-dh/ Imagem 45: mobiliário urbano. Disponível em: https://www.viabizzuno.com/en/home/page/progetti/ idProgetto/804/ Imagem 46: mobiliário urbano. Disponível em: https://m.blog.naver.com/PostView. Imagem 47: iluminação priorizando o trecho carroçável, São Paulo. Disponível em: https://www.prefeitura. sp.gov.br/cidade/secretarias/inovacao/noticias/?p=181591 Imagem 48: iluminação priorizando o trecho carroçável, São Paulo. Disponível em: http://associacaoabcip. com.br/noticias/prefeitura-assina-ppp-da-iluminacao-publica/ Imagem 49: iluminação adequada ao pedestre. Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/5e/ c7/03/5ec703c60396d7834716a674b1bdf5e9.jpg Imagem 50: iluminação adequada ao pedestre. Disponível em: https://www.decorfacil.com/iluminacao-dejardim/ Imagem 54: delegacia da mulher da Zona Sul de São Paulo. Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/ SaoPaulo/0,,MUL779718-5605,00-AMEACADAS+DE+MORTE+MULHERES+AGREDIDAS+NAO+CO NSEGUEM+FAZER+BO+EM+DPS+DE+SP.html Imagem 55: Casa da Mulher Brasileira no Cambuci, São Paulo. Disponível em: https://www. metropoles.com/brasil/casa-da-mulher-brasileira-investimento-milionario-e-portas-fechadas Imagem 56: mapa das unidades da Delegacia da Mulher por distrito de São Paulo. Disponível em: www. geosampa.com.br Imagem 57: manifestação mulheres contra o estupro. Disponível em: http://www.imagens.usp.br/?p=29872 Imagem 58: mapa das denúncias de violência sexual por distrito em São Paulo. Disponível em: www. geosampa.com.br Imagem 59: mapa 1930, Sara. Disponível em: www.geosampa.com.br Imagem 60: mapa 1954, Vasp Cruzeiro. Disponível em: www.geosampa.com.br Imagem 61: mapa 1988. Disponível em: www.geosampa.com.br Imagem 62: Rua Augusta, 1958. Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/60/ a1/63/60a1639cba9fed697445b464753c7d8f.jpg Imagem 63: Rua Augusta, anos 60. Disponível em: http://www.saopauloantiga.com.br/rua-augusta-anos60-e-2012/ Imagem 64: Rua Augusta, anos 60. Disponível em: http://antigosverdeamarelo.blogspot.com/2011/04/ruaaugusta-nos-anos-60.html Imagem 65: Rua Augusta, anos 70. Disponível em: https://engvagnerlandi.com/2014/04/05/sao-paulohistoria-em-fotos-antigas-old-photos-of-sao-paulo/ Imagem 83: Grand Paris. Disponível em: mvrdv.nl/projects/421-grand-paris Imagem 84: Grand Paris. Disponível em: mvrdv.nl/projects/421-grand-paris Imagem 85: Museu Nelson Atkins. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/624107/museu-de-artenelson-atkins-steven-holl-architects?ad_medium=gallery Imagem 86: Museu Nelson Atkins. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/624107/museu-de-artenelson-atkins-steven-holl-architects?ad_medium=gallery Imagem 87: Museu Nelson Atkins. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/624107/museu-de-artenelson-atkins-steven-holl-architects?ad_medium=gallery Imagem 94: Biblioteca Sant-Antoni. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/806350/bibliotecasant-antoni-joan-oliver-rcr-arquitectes Imagem 96: Mercat Encants. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-158036/mercado-encantsslash-b720-fermin-vazquez-arquitectos Imagem 98: Mercat Encants. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-158036/mercado-encantsslash-b720-fermin-vazquez-arquitectos
APÊNDICES APÊNDICE 1: perspectiva axonométrica do projeto APÊNDICE 2: corte perspectivado do projeto APÊNDICE 3: perspectiva axonométrica explodida do projeto APÊNDICE 4: perspectiva 1 APÊNDICE 5: perspectiva 2 APÊNDICE 6: perspectiva 3 APÊNDICE 7: perspectiva 4 APÊNDICE 8: foto da maquete
180
181
apĂŞndice 1
182
183
apĂŞndice 2
184
185
apĂŞndice 3
186
187
apĂŞndice 4
188
189
apĂŞndice 5
190
191
apĂŞndice 6
192
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apĂŞndice 7
194
195
apĂŞndice 8
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