Manifesto de estudos em glitch (rosa menkman)

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MANIFESTO DE ESTUDOS ////EM GLITCH



manifesto de estudos em glitch (por rosa menkman)

1a edição


traduzido por Ă­talo dantas



A CONTÍNUA E DOMINANTE BUSCA POR UM CANAL SEM RUÍDO TEM SIDO E SERÁ SEMPRE UM LAMENTÁVEL DOGMA FADADO AO FRACASSO.


Ainda que a busca constante pela absoluta transparência traga mídias mais novas e “melhores”,

cada

uma

dessas

novas

tecnologias sempre terá suas próprias marcas de imperfeição. Enquanto a maioria dessas pessoas lida com essas marcas de forma negativa (e em alguns casos, até tratando-as como acidentes) eu enfatizo a consequência positiva dessas imperfeições mostrando as novas oportunidades que elas trazem.

No início, havia apenas o ruído. E então o artista passou do grão de celuloide para a distorção magnética e o escaneamento de


linhas de tubos de raios catódicos. Ele vagou por planos de monitores queimados, apagou

pixels

mortos

e

agora

faz

performances baseadas na destruição de telas de LCD.

O discurso elitista do upgrade1 é um dogma largamente seguido pelas vítimas ingênuas de uma persistente cultura do upgrade. Basta ao consumidor discar #1-800 para se manter no topo da curva tecnológica, uma onda de euforia e decepção. É comum que no futuro o consumidor pague menos por um aparelho que realize mais funções. O 1

Melhoramento; constante substituição de tecnologias obsoletas por tecnologias novas e supostamente melhores


usuário deve se dar conta de que o aperfeiçoamento é apenas um protocolo proprietário, um mito do consumidor sobre o progresso ao santo graal da perfeição.


QUESTIONE OS MOLDES DA PRÁTICA CRIATIVA COMBATENDO GÊNEROS E EXPECTATIVAS


Sinto-me

presa

às

membranas

do

conhecimento, governado por convenções sociais e adequações. Como artista, eu luto para alterar essas membranas; não me sinto ligada

a

um

meio

específico

ou

a

contradições como real vs. virtual ou digital vs. analógico. Eu navego pelas ondas da tecnologia, a arte dos artefatos.

A busca pela completa transparência tem transformado o sistema de computador em uma

máquina

impenetrável,

altamente às

vezes

complexa

e

completamente

fechada. Esse sistema consiste em camadas de protocolos ofuscados que têm origem em ideologias, ideais econômicos, hierarquias


políticas e convenções sociais, que são subsequentemente operadas por diferentes atores.

Alguns

artistas

tentam

elucidar

e

desconstruir as hierarquias desses sistemas. Eles não trabalham em oposição (binária) ao que está de acordo com o fluxo (usos comuns do computador), eles trabalham na fronteira desse fluxo. Às vezes eles usam os princípios intrínsecos dos computadores como uma de suas faces, apenas para fazer o público crer em uma expectativa que será rapidamente quebrada pela obra de arte. Como resultado, o espectador é forçado a reconhecer que o uso do computador é


baseado numa genealogia de convenções, quando na realidade o computador é uma máquina que pode ser distorcida e usada de variadas formas. Com a criação de rupturas nas

convenções

sociais,

políticas

e

econômicas, o público pode começar a perceber padrões pré-programados. Nesse momento, uma consciência compartilhada de uma nova gestalt interacional pode tomar forma.


DISTANCIE-SE DE ROTEIROS INSTITUÍDOS E JUNTE-SE À VANGUARDA DO DESCONHECIDO. TORNE-SE UM NÔMADE DOS ARTEFATOS DE RUÍDO.


Há três ocasiões em que a noção estática e linear de transmissão de informações pode ser quebrada. Eu uso essas instâncias para explorar os artefatos de ruído, que divido como glitch, encoding/decoding (sendo a compressão a forma mais comum) e os artefatos de feedback

Etimologicamente, o termo ruído refere-se a estados de agressão, fenômenos de som poderosos na natureza (rauschen), tais como tempestades, trovões e o mar revolto. Mas quando o ruído é explorado num contexto social, o termo é frequentemente usado como figura de linguagem, e como tal pode ter uma gama de significados. O


ruído significa, às vezes, sons não aceitos: não-música, informação que não é válida ou que não contém qualquer mensagem. O ruído também pode ser tido como um distúrbio (frequentemente indesejável ou desordenado), uma quebra ou adição ao sinal com dados relevantes. Aqui, o ruído existe dentro de um vazio oposto àquele que contém significação. De qualquer forma que definamos o ruído, qualquer definição negativa terá uma consequência positiva, pois ajuda a (re)definir o seu oposto (o mundo do sentido, a norma, regulação, o “bem”, a beleza, entre outros). Logo, o ruído existe como paradoxo; enquanto ele é frequentemente definido de maneira negativa, também ele apresenta


uma qualidade gerativa e positiva (que é presente

em

qualquer

meio

de

comunicação). Os vazios gerados por uma ruptura não existem apenas como falta de sentido,

eles

apresentam

forças

que

empurram o espectador para fora do discurso tradicional sobre a tecnologia, consequentemente expandindo-o. Através desses vazios, artistas e espectadores podem entender a ideologia por trás do código e da voz como uma crítica à mídia digital. Esse entendimento pode servir de fonte a novos padrões, antipadrões e novas possibilidades que estão situadas em uma fronteira ou camada específica da linguagem.


USE O GLITCH COMO UM EXOESQUELETO DO PROGRESSO


O glitch é uma maravilhosa experiência de uma interrupção que remove um objeto de sua forma e discurso usual. Por um momento, eu — espectadora — estou em choque, maravilhada, perguntando-me que expressão é esta, como ela foi criada. Será, talvez, um... glitch? Assim que eu a nomeio, porém, o momentum — glitch — não mais existe.

Mas em algum lugar nas ruínas do sentido há esperança; uma sensação triunfal de que há algo mais do que devastação. O sentimento negativo dá lugar à experiência pessoal e íntima de uma máquina (ou programa),

um

sistema

exibindo

seu


maquinário, suas falhas e formações. Mais como uma celebração holística do que uma perfeição particular, o glitch pode revelar uma nova oportunidade, uma centelha de energia criativa que indica algo novo prestes a ser criado.

O glitch não apresenta uma forma sólida ou estado através do tempo; ele é geralmente percebido como um inesperado e anormal modo de operar, a quebra de um fluxo (dentre muitos) de expectativa em um sistema tecnológico. Mas assim como o entendimento do glitch muda quando ele é nomeado, também muda sua simetria: a experiência

original

de

uma

ruptura


ultrapassa o seu impulso (momentum) e se perde em uma gama de novas condições. O glitch torna-se algo novo, uma experiência pessoal e efêmera.


USE DISTORÇÕES E QUEBRAS COMO UMA METÁFORA PARA A DIFERENÇA


Como artista, eu encontro a catarse na desintegração, em fendas e rupturas. Eu manipulo, torço e quebro um meio até que ele se torne algo novo. Isso é o que chamo de glitch art. Ainda, a meu ver, a palavra glitch

em

glitch

art

significa

algo

levemente distinto do termo glitch por si.

O gênero da glitch art se move como o clima; às vezes evolui lentamente, ou pode ser como um raio que cai súbito. Os trabalhos de arte nesse domínio podem ser perturbadores

e

provocantes.

Graciosamente perigosos, de uma só vez eles podem eliminar toda a tensão presente em outras possíveis composições. Esses


trabalhos alargam fronteiras e geram novas formas; eles revelam ideologias antes fechadas

e

forçam

uma

catarse

de

convenções, normas e crenças.

A glitch art é sobre reformatar as membranas do comum, criar um novo protocolo logo depois de destruir um anterior. O glitch perfeito mostra como a destruição pode resultar na criação de algo original. Uma vez que o glitch é entendido como uma alternativa de representação ou nova linguagem, seu momento crítico já passou, e sua essência desapareceu. O glitch não mais é uma arte da rejeição, e sim uma forma ou aparência que é reconhecida como


nova — na arte. Os artistas que trabalham com processos de glitch, logo, estão frequentemente buscando a simetria mais frágil; eles buscam o ponto exato em que uma nova forma nasce das cinzas de sua precursora.

Ainda assim, a glitch art nem sempre é percebida como uma arte do impulso (momentum); muitas obras já se encontram além de seu ponto de quebra. Isso é porque a glitch art existe em diferentes sistemas; o sistema de produção e o sistema de recepção. Não apenas o artista que cria a obra de glitch art é responsável pelo glitch.


O

input2

“estrangeiro”

(sintaxes

erroneamente codificadas que resultam em vazamento e instabilidade de dados), o hardware

e

o

software

(o

canal

“funcional”? Colisões) e o público (que se encarrega da recepção, da decodificação) também podem ser responsáveis.

Todos

esses atores se posicionam em diferentes — e às vezes sobrepostos — fluxos em que o produto

final

pode

ser

descrito

ou

reconhecido como glitch art . Por isso um erro intencional pode ser considerado glitch art, e também por isso ela não é apenas uma experiência pessoal ou choque, mas também (como gênero) uma metáfora para

2

Sinal de entrada


um modo de expressĂŁo, que depende de mĂşltiplos atores.


PERCEBA QUE O EVANGELHO DA GLITCH ART TAMBÉM TRATA DE NOVAS NORMAS IMPLEMENTADAS PELA CORRUPÇÃO


Com o passar do tempo, alguns glitches feitos

por

mim

transformaram-se

em

arquétipos pessoais; Sinto que eles se tornaram modelos — ou exemplos ideais — do meu trabalho. Além do mais, algumas das técnicas que eu (e outros) usei tornaram-se facilmente reproduzíveis para outras pessoas, tanto pela exposição do meu processo quanto pelo desenvolvimento de algum

software

ou

plugin

que

automaticamente simula ou recria um método de glitch (e pois se torna um “efeito”). Tenho notado que esses modos de normatização frequência.

acontecem Logo,

para

com mim,

certa a

popularização e cultivação da vanguarda


dos acidentes se tornaram predestinadas e inevitáveis.

A essência processual da glitch art se opõe à conservação: a chocante experiência, percepção e entendimento do que é o glitch em um lugar no tempo não pode ser preservada para o futuro. A criação de um glitch é estranha e sublime; o artista tenta capturar algo que é resultado de um equilíbrio incerto, uma utopia volátil, não realizada e impossível de se capturar, conectada à aleatoriedade e desintegração idílica. A essência da glitch art é, pois, melhor entendida como uma história do movimento e uma atitude de geração


destrutiva. É a arte processual da não conformatividade, de relações ambíguas.

Ainda assim, algumas artistas não focam na entidade processual do glitch, eles ignoram o processo da criação-por-destruição e focam diretamente na criação de um design formalmente

novo,

criando

um

novo

produto final ou desenvolvendo uma nova maneira de recriar o último arquétipo. Por ora, isso pode resultar em um plugin, um filtro ou um novo software.

Essa forma de glitch art conservativa foca mais no design e no produto final em detrimento da quebra processual dos fluxos


e políticas. Há uma crítica óbvia: fazer3 um glitch significa domesticá-lo. Quando o glitch torna-se domesticado, controlado por ferramenta

ou

tecnologia

(manuseio

humano) ele perde seu encanto, torna-se previsível. Ele deixa de ser uma quebra do fluxo de uma tecnologia ou um método para desvelar o discurso, em vez disso, torna-se um cultivo. Para diversos agentes, ele não mais é um glitch, mas um filtro que consiste de uma pré-programação ou um padrão (default): o que já foi entendido como glitch torna-se uma nova commodity.

3

to design


Mas para alguns, principalmente para o público receptor, esses erros desenhados4 ainda são experienciados como a quebra de um fluxo e, portanto podem também ser considerados glitches. Eles não sabem que esses trabalhos são construídos através do uso de filtros. Trabalhos do gênero glitch art consistem, portanto, em uma colagem de percepções e do entendimento de múltiplos agentes. Logo, os produtos desses novos filtros que vêm a existir após o momentum do glitch — ou apesar dele — não podem ser excluídos do campo da glitch art.

4

designed errors


Mesmo assim, a fantasia utópica de “democracia tecnológica” ou “liberdade” a que a glitch art está frequentemente associada pouco tem

a ver com

o

colonialismo desses “designs” e filtros. Se existe coisa tal como liberdade tecnológica, isso pode apenas ser encontrado no momentum processual da glitch art, — quando um glitch está prestes a retransmitir um protocolo.


CELEBRE A ESTÉTICA DE TRANS-MÍDIA CRÍTICA DOS ARTEFATOS DA GLITCH ART


Eu uso a glitch art para avaliar a política inerente de qualquer meio trazendo-o a um estado de hipertrofia.

Na

arte

de

software,

o

glitch

é

frequentemente usado para desconstruir o mito do progresso linear e para acabar com a busca pelo santo graal da perfeição tecnológica. Nestes trabalhos, o glitch enfatiza o que é normalmente classificado como falha e subsequentemente mostra que acidentes e erros podem ser adotados como novas formas de usabilidade. O glitch não apenas invoca a morte do autor, mas também a morte do aparato, meio ou ferramenta

(ao

menos

através

da


perspectiva

de

um

determinista

da

tecnologia) e é frequentemente usado como uma forma antideterminista do software.

Esse trejeito fatal do glitch apresenta um problema

para

a

mídia

e

para

os

historiadores da arte, que tentam descrever a nova e velha cultura como um continuum de diferentes nichos. Para lidar com essas quebras, historiadores têm criado gêneros e formas midiáticas para lidar com essas formas obtusas dentro desse continuum. Como resultado, uma porção de termos como

databending,

datamoshing

e

circuitbending passou a existir, que de fato refere-se a práticas similares de fluxos de


quebra

em

diferentes

tecnologias

ou

plataformas.

Teóricos também têm sido confrontados com esse problema. Para eles, termos como pós-digital ou estética pós-mídia não obstante oferecem solução. Infelizmente, esse tipo de termo parece ser dúbio porque o prefixo pós, na glitch art, insinua resposta/reação a uma primeira forma. Agir contra

algo,

distanciar-se

contudo,

não

completamente

significa da

coisa

primeira — efetivamente, uma reação também prolonga certo modelo (ao menos como referência).


Penso que uma resposta para os problemas dos historiadores e teóricos poderia ser encontrada na descrição de que a glitch art é

uma

atividade

processual

que

se

demonstra dentro de múltiplas tecnologias e contra elas. Algo que eu descreveria como uma estética de trans-mídia crítica. O papel dos artefatos de glitch como estética de trans-mídia crítica é duplo5. Por um lado, essa mídia de estéticas mostra um meio em estado

crítico

(arruinado,

indesejável,

irreconhecível, acidentado e horrendo). Essas estéticas transformam o modo como o consumidor percebe o usual (cada acidente transforma o “usual”) e descrevem a passagem de um ponto de ruptura depois 5

twofold


do qual o meio (pode) tornar-se algo novo. Por outro, essas estéticas criticam o meio (gênero, interface e expectativas). Elas desafiam sua política inerente e seu modelo estabelecido de prática criativa enquanto produzem uma teoria de reflexão.


O NÔMADE DO RUÍDO VIAJA POR VIDEOPANORAMAS ACUSMÁTICOS


Eu sou uma viajante dos videopanoramas: eu crio obras de arte conceitualmente sinestésicas, que usam ao mesmo tempo artefatos visuais e aurais de glitch (ou outras formas de ruído). Esses artefatos obscurecem a caixa preta como uma nébula da

tecnologia

e

seu

funcionamento

intrínseco.

O que acontece quando o glitch ocorre é desconhecido. Eu visualizo o glitch como um vácuo de conhecimento; uma dimensão estranha onde as leis da tecnologia são subitamente muito distintas do que se espera e conhece. Eis o purgatório; um estado intermediário entre a morte da velha


tecnologia e um “julgamento” para sua possível continuidade em uma nova forma, um novo entendimento, um panorama, um videopanorama.

Quando eu uso uma tecnologia transparente “normal”, eu vejo apenas um aspecto da máquina. Eu aprendi a ignorar a interface e seus componentes estruturais para poder entender uma mensagem ou usar uma tecnologia o mais rápido possível.

Os glitches que por mim são “ativados” fazem a tecnologia voltar a seu estado de caixa

preta.

Eles

ocultam

seu

funcionamento interno e a fonte do seu


resultado6 como um sublime véu negro. Eu reconheço os glitches sem saber de onde eles se originam. Isso me dá a oportunidade de focar em sua forma — interpretar suas estruturas e absorver mais do que aquilo que

enxergo.

Os

glitches

criam

um

videopanorama acusmático em que eu possa enfim entender seus resultados fora de

minhas

lentes

de

velocidade,

transparência e usabilidade. As novas estruturas que se revelam podem ser interpretadas como um portal para uma utopia, um paraíso — como dimensão, mas também como um buraco negro que ameaça destruir a tecnologia como eu a conheço.

6

output


O videopanorama, portanto, usa a estética da trans-mídia crítica para teorizar o pensamento humano sobre a tecnologia; isso

cria

uma

autorreflexão, individual.

O

oportunidade

autocrítica

e

para

expressão

videopanorama

usa

a

sinestesia não apenas como metáfora para transcodificar um meio sobre outro (com um novo algoritmo), mas como um encontro — motivado conceitualmente — daquilo que é visual e sônico dentro dos novos quadrantes da tecnologia. http://videoscapes.blogspot.com.br/ Eu fui curadora de um grupo no Vimeo sobre artefatos conceituais sinestésicos: https://vimeo.com/groups/artifacts


FALE A LINGUAGEM TOTALITÁRIA DA DESINTEGRAÇÃO


Eu acredito que a “linguagem do glitch” pode

democratizar

a

sociedade.

7

A

linguagem do glitch é um vocabulário de novas expressões; uma linguagem que sempre se desenvolve. Essas expressões ensinam ao “falante” algo sobre suas presunções e expectativas, bem como sobre suas normas imanentes. Elas ensinam sobre o que não está sendo dito, o que é deixado de fora.

Glitches não existem à parte da percepção humana. Já não é mais um glitch aquilo que o foi há dez anos. Essa contingência ambígua

do

glitch

depende

de

sua

materialidade constantemente mutável; O 7

glitchspeak


glitch existe como um conjunto instável cuja materialidade é influenciada, por um lado, pela construção, operação e conteúdo do aparato (meio), e por outro lado pelo trabalho, o autor e a interpretação do espectador/usuário (significado). Assim, a materialidade da glitch art não é (apenas) a máquina onde a obra se mostra, mas um construto

mutável

interações

entre

que

depende

dinâmicas

das

sociais,

econômicas, estéticas, textuais e certamente de perspectivas a partir das quais os diferentes atores atribuem significado.


ESTUDE O QUE ESTÁ FORA DO CONHECIMENTO, COMECE COM OS ESTUDOS EM GLITCH. COM A TEORIA GLITCH VOCÊ PODE PASSAR DESPERCEBIDO!


Assim como Foucault disse que não pode haver a razão sem a loucura, Gombrich escreveu que não pode existir a ordem sem o caos, e Virilio descreveu que não há progresso tecnológico sem seus próprios acidentes. Eu partilho da opinião que o fluxo não pode ser entendido sem a interrupção, ou o funcionamento sem o glitching.

Eis

o

motivo

pelo

qual

precisamos dos estudos em glitch.

Os estudos em glitch tentam balancear o absurdo e o conhecimento. Ele busca aquilo que

não

é

familiar

enquanto

tenta

desfamiliarizar o familiar. Esses estudos podem mostrar o que é o comportamento


aceitável e o que está fora da aceitação ou da norma. Capturar e explicar um glitch é um mal necessário que permite a geração de novos modelos de pensamento e ação. Quando estes se normalizam, os estudos em glitch mudam seu foco ou tópico de estudo para achar o atual forasteiro de uma nova tecnologia ou discurso. O estudo em glitch é uma verdade perdida, é uma visão que se destrói, optando em permanecer no vazio. As melhores ideias são perigosas porque geram conscientização. Com a teoria glitch você pode passar despercebido.

Alguns enxergam o glitch como uma coisa tecnológica apenas, enquanto outros o


percebem como um construto social. Eu penso que é inútil colocar uma perspectiva sobre a outra. Os estudos em glitch precisam tomar espaço entre, ambas, em nenhuma ou além. Precisa haver mais pesquisa na arte dos artefatos. Para o futuro, eu gostaria de propor o desenvolvimento de uma historiografia do glitch e uma teoria sobre a estética de trans-mídia crítica, que pode incluir o uso artístico de outros artefatos digitais.


la bodeguita edições – outubro de 2017 “feito com carinho e muito rancor”


la bodeguita


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