Guia da mulher refugiada: infográfico interativo sobre orientações para uma vida em Curitiba

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Universidade Federal do Paraná Rafaella Pereira Ferraro

Infográfico interativo sobre orientações para uma vida em Curitiba

Curitiba 2020



Guia da mulher refugiada: infográfico interativo sobre orientações para uma vida em Curitiba Rafaella Pereira Ferraro



Universidade Federal do Paraná Rafaella Pereira Ferraro

Guia da mulher refugiada: infográfico interativo sobre orientações para uma vida em Curitiba Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Graduação em Design Gráfico, Setor de Artes, Comunicação e Design, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Design Gráfico. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Carla Galvão Spinillo

CURITIBA 2020



Termo de aprovação

Rafaella Pereira Ferraro

Guia da mulher refugiada:

infográfico interativo sobre orientações para uma vida em Curitiba Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Graduação em Design Gráfico, Setor de Artes, Comunicação e Design, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Design Gráfico, aprovado pela seguinte banca examinadora:

Profª. Drª. Carla Galvão Spinillo Orientadora – Departamento de Design – UFPR

Profª. Drª. Stephania Padovani Departamento de Design – UFPR

Ma. Grace Maria Cavalcanti Sampaio Departamento de Design – UFPR

Curitiba, 01 de dezembro de 2020



Agradecimentos Aos meus pais, Nelmar e Laura, e às minhas irmãs, Fernanda e Marcella, pois sem eles e sem todo apoio, educação e incentivo, que me dão até hoje, eu não teria chegado até aqui. Aos meus amigos de longa data, especialmente às “Ragamigas”, por fazerem parte da minha jornada desde quando a graduação era uma realidade distante, por terem dividido comigo tantos momentos especiais, por serem sempre compreensivas e por estarem ao meu lado. Aos meus amigos da faculdade, em especial Arthur, Gabriel, Eileen, Juliana, Jonathan e Thalita, por terem topado se aventurar comigo nos últimos quatro anos. Sem as risadas, eu não teria sobrevivido a todas as loucuras. A todos os meus professores de Design Gráfico, principalmente minha orientadora, Carla Spinillo, por todos os ensinamentos, pela paciência e pelo esforço. Serei eternamente grata. Hoje sei que não errei ao escolher trilhar esse caminho. Ao projeto PBMIH, em especial à professora Maria Gabriel, pela oportunidade de fazer parte da equipe, o que me proporcionou grande aprendizado do tema de imigração e refúgio, e à Letícia Leonor e à Júlia Santos, por terem me auxiliado na parte do contato com as mulheres imigrantes. Ao Gabriel Spenassatto e a tantos outros que compartilharam essa fase comigo, com muita parceria e carinho.



Não deixar Leave ninguém no one para trás behind

Lema da Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável.



Resumo No contexto da crise de refugiados do Século XXI, o Brasil tem se destacado no cenário internacional como destino de muitos refugiados. No entanto, a adaptação no país é uma jornada repleta das mais diversas barreiras. Sendo assim, este trabalho se propõe a desenvolver um infográfico interativo voltado a mulheres refugiadas que vivem em Curitiba. O intuito é informá-las sobre seus direitos e deveres e disponibilizar orientações gerais para a sua vida no país. Para tanto, foi feita consulta a usuários e análise gráfica de similares, em paralelo à pesquisa para fundamentação teórica. Assim, foram obtidos alguns requisitos projetuais que, em conjunto com a conceituação, auxiliaram na criação do material. Depois de desenvolvido, o infográfico foi testado e refinado, seguindo o processo de Design de Simlinger (2007). Por fim, espera-se que o infográfico desenvolvido neste trabalho seja utilizado por organizações e projetos que atuam junto aos refugiados em Curitiba.

Palavras-chave: infografia, infográfico interativo, mulheres refugiadas, design social.



Abstract In the context of the 21st-century refugee crisis, Brazil has stood out on the international scene as a destination for many refugees. However, the adaptation in the country is a journey full of different barriers. Therefore, this work proposes the development of an interactive infographic aimed at refugee women living in Curitiba. The purpose is to inform them about their rights and duties and provide general guidelines for their life in Brazil. To this end, user consultation and graphic analysis of similar materials were carried out, in parallel with the research for the theoretical foundation. Thus, a few design requirements were obtained, which, along with the concept phase, helped create the material. Once developed, the infographic was tested and refined, following the Simlinger Design process (2007). Lastly, it is hoped that the infographic developed in this work will be used by organizations and projects that work with refugees in Curitiba.

Keywords: infographics, interactive infographics, refugee women, social design.



Lista de figuras Figura 1 - Organograma dos eixos teóricos do trabalho_________ 23 Figura 2 - Modelo de Twyman (1982)______________________________ 26 Figura 3 - Elementos morfológicos da Linguagem Visual de Horn (1998)_____________________________________________________ 28 Figura 4 - Propriedades primitivas de Horn (1998)._______________ 28 Figura 5 - Variáveis gráficas: fator e níveis________________________ 28 Figura 6 - “Diagrama das causas de mortalidade no exército no Leste”, de Florence Nightingale___________________________________ 31 Figura 7 - “Número de veículos motores no mundo”, do ISOTYPE___32 Figura 8 - Processo de design baseado em Simlinger (2007)_____ 46 Figura 9 - Apresentação de imagem no infográfico nº 5__________ 56 Figura 10 - Apresentação de elementos de infografia no infográfico nº 5____________________________________________________ 58 Figura 11 - Uso das figuras de linguagem nos infográficos nº 2 e 10____________________________________________________________ 59 Figura 12 - Apresentação do texto no infográfico nº 10__________ 59 Figura 13 - Controles de conteúdo e objetos sensíveis com interação nas ilustrações do infográfico nº 6_____________________ 60 Figura 14 - Painel semântico do conceito acolher.________________ 63 Figura 15 - Painel semântico do conceito empoderar____________ 64 Figura 16 - Paleta de cores do projeto ____________________________ 64 Figura 17 - Tipografia do projeto __________________________________ 65 Figura 18 - Referência de estilo para as representações visuais_____66 Figura 19 - Opções de layout ______________________________________ 66 Figura 20 - Tela inicial da primeira versão do infográfico, apresentado na qualificação______________________________________ 67 Figura 21 - Navegação pelo infográfico___________________________ 68 Figura 22 - Tela da aba Direitos____________________________________ 68 Figura 23 - Tela da apresentação da legenda_____________________ 69 Figura 24 - Tela da apresentação da informação complementar____69 Figura 25 - Tela da apresentação da rosa dos ventos_____________ 70 Figura 26 - Telas da abas “Direitos” e “Educação”_________________ 70 Figura 27 - Tela inicial da segunda versão do infográfico_________ 71 Figura 28 - Ícones nas abas, com “Moradia” selecionado________ 71 Figura 29 - Telas das abas “Deveres”, “Moradia”, “Finanças”, “Trabalho” e “Educação”___________________________________________ 72 Figura 30 - Tópico “Admissão universitária”_______________________ 74 Figura 31 - Tópicos da Rosa dos ventos___________________________ 74 Figura 32 - Ícones nas abas________________________________________ 75 Figura 33 - Ponto de exclamação__________________________________ 75 Figura 34 - Rosa dos ventos________________________________________ 75 Figura 36 - Escala enviada para aferir quanto o material ajuda ou atrapalha a compreensão do conteúdo_______________________ 76 Figura 35 - Escala enviada com a pergunta “Quão difícil foi achar


isso [Admissão universitária]?”____________________________________ 76 Figura 37 - Escala que acompanhou as 10 frases_________________ 77 Figura 38 - Exemplos das representações enviadas com a escala linear________________________________________________________ 77 Figura 39 - Respostas da pergunta “Pode me dizer onde ficamos telefones de emergência?_________________________________________ 78 Figura 40 - Ícone de “Deveres”, que teve um desempenho neutro_____ 80 Figura 41 - Ícone de “Moradia”, que teve o melhor desempenho____80 Figura 42 - Tela inicial em mockup________________________________ 83 Figura 43 - Tela inicial______________________________________________ 83 Figura 44 - Botão de “Ajustes” na tela inicial______________________ 84 Figura 45 - Tópicos dentro de “Ajuda” em “Moradia”______________ 84 Figura 46 - Telefones de emergência______________________________ 85 Figura 47 - Aba “Direitos”__________________________________________ 85 Figura 48 - Exemplo de legenda em “Atenção” em “Direitos”_____ 86 Figura 49 - “Saiba mais” sobre assistência jurídica gratuita______ 86 Figura 50 - Aba “Deveres”__________________________________________ 87 Figura 51 - Exemplo de legenda em “Deveres”____________________ 87 Figura 52 - Aba “Moradia”__________________________________________ 88 Figura 53 - Exemplo de legenda em “Moradia”____________________ 88 Figura 54 - Aba “Trabalho”_________________________________________ 89 Figura 55 - Exemplo de legenda com tópicos em “Trabalho”_____ 89 Figura 56 - Exemplo de tópico em legenda em “Trabalho”_______ 90 Figura 57 - Aba “Finanças”_________________________________________ 90 Figura 58 - Exemplo de legenda em “Finanças”___________________ 91 Figura 59 - Aba “Educação”________________________________________ 91 Figura 60 - Legenda de “Admissão universitária” em “Educação”___92 Figura 61 - “Atenção” em Admissão universitária”________________ 92 Figura 62 - Exemplo de simulação de conteúdo do tópico “Renda”____ 93 Figura 63 - Telas do tutorial________________________________________ 96

Lista de gráficos Gráfico 1 - Evolução do deslocamento forçado no mundo (“79,5 milhões deslocados de forma forçada no mundo no final de 2019 como resultado de perseguição, conflito, violência, violação de direitos humanos ou eventos perturbando seriamente a ordem pública”)____________________ 14 Gráfico 2 - Dados sobre deferimentos (1997-2018) e pessoas reconhecidas como refugiadas, solicitações de refúgio (2016-2018) e atendimentos para refugiados no Paraná (2019)_______________ 15 Gráfico 3 - Uma em cada cinco mulheres refugiadas são violentadas sexualmente no mundo______________________________ 16 Gráfico 4 - Solicitações de refúgio no Brasil entre 2018 e 2020______18 Gráfico 5 - Respostas da pergunta “Você acredita que as pessoas


em situação de refúgio no Brasil precisam de mais informação sobre:..” do questionário 1_________________________________________ 48 Gráfico 6 - Respostas da pergunta “Você acredita que as pessoas em situação de refúgio no Brasil ENCONTRAM informações sobre os temas abaixo:..” do questionário 1_____________________________ 48 Gráfico 7 - Respostas da pergunta “Caso você procure na internet, o que dificulta a compreensão das informações?” do questionário 1_________________________________________________ 50 Gráfico 8 - Respostas da pergunta “Pela sua experiência, quanto a materiais informativos digitais, os refugiados:..” do questionário 2_______________________________________________ 51 Gráfico 9 - Respostas da pergunta “Pela sua experiência, o que dificulta a compreensão de materiais informativos pelos refugiados” do questionário 2_____________________________________________ 52 Gráfico 10 - Respostas da pergunta “De 1 a 5, em que 1 significa que você ‘discorda totalmente’ e 5 que você ‘concorda totalmente’:..”______79

Lista de tabelas Tabela 1 - Amostra de infográficos estáticos______________________ 55 Tabela 2 - Amostra de infográficos interativos____________________ 55 Tabela 3 - Resultados da análise das variáveis de apresentação de imagens_________________________________________________________ 57 Tabela 4 - Resultados da análise das variáveis de apresentação dos elementos de infografia_______________________________________ 57 Tabela 5 - Resultados da análise das variáveis de retórica visual____58 Tabela 6 - Resultados da análise das variáveis de apresentação de texto____________________________________________________________ 59 Tabela 7 - Resultados da análise das variáveis de apresentação da interação________________________________________________________ 60

Lista de siglas ACNUR - Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados FAS - Fundação de Ação Social LabDSI - Laboratório de Design de Sistemas de Informação UFPR ONGs - Organizações Não-Governamentais ONU - Organização das Nações Unidas PBMIH - Português Brasileiro para Migração Humanitária PMUB - Programa Política Migratória e Universidade Pública TCC - Trabalho de Conclusão de Curso UFPR - Universidade Federal do Paraná UNRWA - United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente)


Sumário 1. Introdução________________________________________ 13 1.1. Caracterização do problema______________________________14 1.2. Delimitação do objeto_____________________________________17 1.3. Objetivos___________________________________________________19 1.4. Justificativa________________________________________________19

2. Fundamentação Teórica_________________________ 22 2.1. Design_____________________________________________________23 2.1.1. Design e Sociedade_______________________________________ 23 2.1.2. Semiótica e Cultura_______________________________________ 24 2.1.3. Linguagem Gráfica e Design da Informação______________ 26 2.1.4. Infografia_________________________________________________ 30

2.2. Refugiados_________________________________________________35 2.2.1. Aspectos histórico-geográficos___________________________ 35 2.2.2. Aspectos jurídicos_________________________________________ 36 2.2.3. Migração e gênero________________________________________ 38

2.3. Sumarização_______________________________________________41

3. Projeto_____________________________________________ 43 3.1. Processo de design________________________________________44 3.2. Compreensão do usuário_________________________________46 3.2.1. Consulta aos usuários____________________________________ 46 3.2.2. Resultados obtidos_______________________________________ 47 3.2.3. Requisitos obtidos________________________________________ 52

3.3. Análise_____________________________________________________53 3.3.1. Protocolo de análise gráfica______________________________ 53 3.3.2. Amostra de similares_____________________________________ 54 3.3.3. Resultados obtidos_______________________________________ 56 3.3.4. Requisitos obtidos________________________________________ 61

3.4. Proposta___________________________________________________61 3.4.1. Sumarização dos requisitos_______________________________ 61 3.4.2. Conceituação_____________________________________________ 62


3.5. Concepção_________________________________________________65 3.5.1. Atributos projetuais_______________________________________ 65 3.5.2. Primeira versão do infográfico____________________________ 67 3.5.3. Segunda versão do infográfico___________________________ 70

3.6. Avaliação___________________________________________________72 3.6.1. Teste com usuárias_______________________________________ 72 3.6.2. Ajustes a serem realizados________________________________ 80

3.7. Refinamento e versão final________________________________81 3.7.1. Ajustes realizados_________________________________________ 81 3.7.2. Terceira e final versão do infográfico _____________________ 82

4. Conclusão_________________________________________ 98 Referências___________________________________________________ 102 Apêndices____________________________________________________ 108 Anexos________________________________________________________ 118


Introdução

© UNHCR/Hazim Elhag

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© UNHCR/Paul Smith


Guia da mulher refugiada

1. Introdução

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Introdução

1.1. Caracterização do problema

Gráfico 1 - Evolução do deslocamento forçado no mundo (“79,5 milhões deslocados de forma forçada no mundo no final de 2019 como resultado de perseguição, conflito, violência, violação de direitos humanos ou eventos perturbando seriamente a ordem pública”). Fonte: UNHCR/2020.

Os números falam por si. 79,5 milhões. Mais do que a população forçada a se deslocar em todo o mundo até o ano passado ou um objeto de pesquisa, este número representa nomes, sobrenomes e identidades. É a maior quantidade de pessoas em situação de deslocamento forçado já registrada e representa cerca de 1% da população mundial (uma a cada 97 pessoas).1 Desse total, 26 milhões é a quantidade de pessoas consideradas refugiadas até o final de 2019 (UNHCR, 2020).2 Abaixo (gráfico 1), é possível visualizar a evolução do deslocamento forçado no mundo, que praticamente dobrou nas últimas décadas.

O Brasil é um dos países que se têm destacado neste cenário, principalmente nos últimos anos. Até dezembro de 2018, o Governo Federal havia reconhecido 11.231 pessoas em situação de refúgio desde 1997, ano da Lei nº 9.474, que implementou o Estatuto dos Refugiados no país. No entanto, a quantidade de solicitantes, apenas em 2018, era de 80.057 pessoas. Os dados e a evolução são consideráveis, já que no ano anterior eram 33.866 solicitações e, em 2016, 10.308 (BRASIL, 2018). Recentemente, houve a divulgação de novos dados sobre deferimento de solicitações. Hoje, o país possui cerca de 43 mil pessoas reconhecidas como refugiadas (VIDIGAL, 2020), praticamente quatro vezes as concessões dadas nos últimos vinte anos. Além disso, no Paraná, durante os primeiros cinco meses do ano passado, foi registrado um crescimento de 85% nos atendimentos para refugiados (PARANÁ, 2019). Mesmo com números bastante altos, a quantidade de pessoas que precisam de refúgio pode ser ainda maior na realidade, já que muitos não passam pelo procedimento formal de imigração. Todos estes dados podem ser visualizados abaixo (gráfico 2).

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Guia da mulher refugiada

Gráfico 2 - Dados sobre deferimentos (1997-2018) e pessoas reconhecidas como refugiadas, solicitações de refúgio (2016-2018) e atendimentos para refugiados no Paraná (2019). Fonte: elaboração da autora/BRASIL, 2018; VIDIGAL, 2020: e PARANÁ, 2019.

Seja por conta de conflito, seja em razão de perseguição política, religiosa, de gênero, orientação sexual, entre outras, 25 pessoas são obrigadas a deixar suas casas em busca de uma realidade melhor a cada minuto (ACNUR, 2019a). Este sonho, entretanto, não se concretiza ao chegar no destino. A pessoa que busca refúgio no aqui, por exemplo, passa por inconveniências logo ao desembarcar: [...] começa em uma sala conhecida como Conector, alocada na área de desembarque. É lá onde os refugiados ficam enquanto aguardam a permissão para entrar no país. Muitos chegam sem qualquer documento, apenas com a roupa do corpo. ‘Fiquei no Conector por duas semanas, isso porque já havia falado com uma entidade que me ajudou a entrar em contato com as autoridades certas, mas tem gente que fica bem mais do que isso’, afirma o bengali Partha Sarker, 37, há um ano e quatro meses no Brasil (ZYLBERKAN, 2015).

Mas esta não é a única adversidade. Quando estabelecidos, nem sempre conseguem se valer de suas competências profissionais (ACNUR, 2019b), já que muitos têm dificuldade em ter seu diploma validado. Dessa forma, mesmo que consigam emitir documentos necessários para trabalhar no país, como Registro Nacional de Estrangeiros, Carteira de Trabalho e Previdência Social definitiva e Cadastro de Pessoa Física, se sujeitam ao subemprego ou não chegam nem a ser contratados. Este último ponto se deve tanto à crise econômica que acontece no país (UOL, 2015), quanto a questões como a falta de domínio do idioma ou de recursos para buscar trabalho, o próprio fato de ser estrangeiro, o preconceito racial, bem como a necessidade de tomar conta dos filhos (ACNUR, 2019b). Sabe-se que os refugiados são, em sua maioria, pessoas em situação de vulnerabilidade social. Ainda assim, alguns subgrupos

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Introdução

Gráfico 3 - Uma em cada cinco mulheres refugiadas são violentadas sexualmente no mundo. Fonte: elaboração da autora/UMA, 2017.

são ainda mais suscetíveis à violência, ao abuso e à exploração, como crianças e, em especial, mulheres. Estima-se que uma em cada cinco refugiadas já sofreu violência sexual no mundo, número possivelmente subnotificado (UMA, 2017) (gráfico 3). Muitas são forçadas a recorrer ao trabalho sexual para suprir necessidades de suas famílias, são abusadas como estratégia de grupos milicianos, violentadas onde o Estado não possui fortes políticas de proteção, e assim por diante (PEREIRA; VIAL, 2020). Entretanto, elas têm demonstrado resiliência e forte ligação com o desenvolvimento da nossa sociedade (UMA, 2017). Dessa forma, faz-se necessária a criação de condições que estimulem o empoderamento, a independência e facilitem uma migração segura para as mulheres.

Além disso, após pesquisa de campo realizada no desenvolvimento da proposta de TCC, foi constatada falta de materiais para refugiados e falta de acessibilidade e usabilidade adequadas nos que já existem, além de não necessariamente considerarem a demanda por uma atenção especial voltada às mulheres. O ACNUR, principal organismo internacional para a proteção desse grupo, possui diversos materiais, muitos em parcerias com o governo brasileiro e outras entidades. No entanto, mesmo que tenham conteúdo rico e pertinente, cartilha é um formato de comunicação que não permite atualizações pontuais da mesma forma que um infográfico interativo. Ou seja, a vantagem do infográfico em relação cartilha é a facilidade com que pode ser ajustado e atualizado. Outro ponto é que, mesmo sendo disponibilizados em várias línguas e serem agradáveis esteticamente, podem não ser plenamente compreendidos pelas pessoas, pois existem diferentes níveis de compreensão, de alfabetização, entre outros. Já em Curitiba, temos a Fundação de Ação Social (FAS), um órgão importante na proteção de grupos em vulnerabilidade social. A FAS não parece fornecer produtos próprios na rede online; apenas disponibiliza os mesmos materiais do ACNUR.3 Mesmo promovendo orientação e apoio, a falta de materiais informativos pode reforçar 3  PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Refugiados e Migrantes - Organização das Nações Unidas/ONU. www.curitiba.pr.gov.br. [201-?]. Disponível em: https:// www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/refugiados-e-migrantes-organizacao-das-nacoes-unidasonu/2400. Acesso em: out, 2019.

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Guia da mulher refugiada

a dependência dos refugiados nos agentes da Fundação. A Universidade Federal do Paraná possui o Programa Política Migratória e Universidade Pública (PMUB), que se divide em múltiplos projetos, atuando através de atividades, serviços, orientações, entre outros. É uma ação imprescindível para a comunidade e necessita que mais alunos se interessem pelo tema para se fortalecer. Tampouco aqui se supre completamente a demanda por materiais que possibilitem que os refugiados, e especialmente as mulheres, possam se integrar em nossa comunidade de uma maneira melhor e com maior autonomia. Diante disso, o problema em torno do qual este trabalho se estrutura é: De que forma o Design Gráfico pode auxiliar no acolhimento e no empoderamento de mulheres refugiadas em Curitiba?

1.2. Delimitação do objeto O intuito deste TCC é desenvolver um infográfico digital interativo que promova o empoderamento de mulheres refugiadas através do acesso à informação, a fim de que se tornem protagonistas das próprias vidas e cidadãs conscientes. O conhecimento de seus direitos, questões trabalhistas e financeiras, além de outros aspectos que sejam do interesse delas, como serviços, educação e violência, é um passo importante para tanto. O conteúdo do infográfico foi adaptado de materiais pré-existentes e voltados para refugiados, sendo refinado de acordo com os resultados das pesquisas e análises. São eles: • A “Cartilha para Refugiados no Brasil”, criada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) com apoio da Associação Antônio Vieira (ASAV), Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro (CARJ), Cáritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP), Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Guarulhos (CDDH) e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) (ANEXO 01); • O “Guia De Informação Sobre Trabalho aos Imigrantes e Refugiados”, desenvolvido pelo Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), Irmãs Scalabrinianas e Sub Secretaria de Inspeção do Trabalho, com apoio do ACNUR (ANEXO 02); • A “Cartilha de Informações Financeiras para Migrantes e Refugiados”, lançada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Banco Central e ACNUR (ANEXO 03); • O site “Ajuda para refugiados e solicitantes de refúgio”, do ACNUR (ANEXO 04).

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Introdução

Considerando que, das 22.651 solicitações de refúgio feitas por mulheres entre 2017 e 2020 no Brasil, 90,76% tem idade entre 18 a 59 anos (CG-CONARE; ACNUR, 2020)4, como pode ser visto no gráfico abaixo, este foi o recorte utilizado para definição do público.

Gráfico 4 - Solicitações de refúgio no Brasil entre 2018 e 2020. Fonte: CG-CONARE; ACNUR, 2020.

Essas mulheres são provenientes de 77 países, mas, como as informações podem beneficiar qualquer uma delas, não houve recorte quanto à nacionalidade. É interessante evidenciar, também, que a integração local, mesmo dos refugiados que já estão há tempo no Brasil, é relativamente baixa (ACNUR, 2019b), o que pode denotar uma dependência intensa em serviços de cunho social e, por consequência, significar que enfrentam dificuldade na busca por autonomia. Faz-se, então, oportuno o desenvolvimento de uma estratégia que forneça os instrumentos necessários para conhecimento de aspectos básicos para uma vida digna no país. Pretende-se que o material seja compartilhado e utilizado pelos seis projetos de extensão da UFPR do PMUB (Programa Política Migratória e Universidade Pública) — Português Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH); Refúgio, Migrações e Hospitalidade; Capacitação em Informática para Imigrantes; Migração e Processos de Subjetivação; Migrantes no Paraná: Preconceito, Integração e Capital de Mobilidade; e Oficina de História do Brasil para Estrangeiros. Ainda, para que o infográfico chegue de fato às mãos dos refugiados, é interessante que também seja divulgado por agentes da FAS, ONGs, associações e casas de acolhimento curitibanas. Ademais, por ser um material veiculado no meio digital, pode facilmente ser compartilhado por instituições, organizações e pessoas de outras cidades e estados, mesmo que contenha informações específicas da capital paranaense.

1.3. Objetivos Este trabalho objetiva desenvolver um infográfico digital interativo para mulheres refugiadas no contexto curitibano e de acordo 4 Os dados da plataforma mudam constantemente e o último acesso foi feito em 29 jun. 2020.

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Guia da mulher refugiada

com as necessidades apresentadas pelo público. Mais especificamente, busca: • Entender as relações entre migração, gênero e informação; • Estudar parte da comunidade refugiada no Brasil; • Mapear suas dificuldades, necessidades e/ou problemas; • Propor requisitos através do Design da Informação.

1.4. Justificativa A crise humanitária dos refugiados é certamente uma questão global e ética, demandando o envolvimento de diferentes áreas do conhecimento. E não deve ser apenas objeto de preocupação da sociedade civil ou do Estado. É preciso aproximar a pauta e a academia, a fim de auxiliar na prevenção de problemas, desenvolver soluções, conscientizar a população em geral e integrar os refugiados em nossa comunidade. O Design, nessa linha, tem muito a contribuir para melhorar este cenário; por exemplo, propiciando visibilidade aos refugiados e as dificuldades por eles enfrentadas, bem como conferindo-lhes maior autonomia. Aliás, realizando revisão de literatura e outras produções acadêmicas, especialmente na área do Design, percebe-se escassez de análise e debate do tema. Além disso, tendo em vista a antiga e profunda preocupação com os direitos humanos, o presente trabalho também se coloca como uma forma de contribuir para o desenvolvimento local. Aqui, consegue nivelar-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), que em sua Declaração afirma no parágrafo 23: As pessoas que estão vulneráveis devem ser empoderadas. Aqueles cujas necessidades são refletidas na Agenda incluem todas as crianças, jovens, pessoas com deficiência (das quais mais de 80% vivem na pobreza), as pessoas que vivem com HIV/ AIDS, idosos, povos indígenas, refugiados, pessoas deslocadas internamente e migrantes. Decidimos tomar medidas e ações mais eficazes, em conformidade com o direito internacional, para remover os obstáculos e as restrições, reforçar o apoio e atender às necessidades especiais das pessoas que vivem em áreas afetadas por emergências humanitárias complexas e em áreas afetadas pelo terrorismo (ONU, 2015, grifo nosso).

Segundo o Diretório Nacional de Teses de Doutorado e Dissertações de Mestrado sobre Refúgio, Deslocamentos Internos e Apatridia (1987-2009), em mais de duas décadas “foram produzidas

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Introdução

61 dissertações de mestrado [...] O maior volume das pesquisas se deu em Direito (11), seguida por duas áreas, História e Relações Internacionais (sete, cada), num total de 22 áreas diferentes de Programas de Mestrado”. Soma 12% o que foi estudado na área da Comunicação, mas não há conhecimento de que haja participação do Design. Já no doutorado, nesse mesmo período, foram realizadas apenas 23 pesquisas, sendo as principais áreas de conhecimento também o Direito e a História, além de Letras. Aqui, não há presença da Comunicação (ACNUR, 2011). Quanto aos trabalhos de conclusão de curso, não é possível dimensionar a totalidade de conteúdo produzido, considerando a quantidade de estudantes que se formam no Ensino Superior todos os anos. No entanto, é possível confirmar a escassez de trabalhos relacionados ao tema, desenvolvidos dentro do nosso curso, nos últimos dez anos.5 Consequentemente, é o momento de aproximá-lo à área e, principalmente, ao curso de Design Gráfico da Universidade Federal do Paraná. Por fim, o trabalho também ostenta caráter capacitador para a autora, já que o TCC envolve áreas de interesse atual e futuro, como Design Centrado no Humano, Design da Informação e direito humanitário. Assim, serve como uma introdução à vida profissional, tendo em vista a intenção de envolver-se com organizações que batalham para garantir o básico e o indispensável, como a Organização das Nações Unidas, Amnistia Internacional e outras entidades.

5  Informação obtida a partir da análise das listas de TCC do Curso de Design Gráfico da UFPR, dos anos de 2009 a 2018, disponibilizadas pela Profª Drª Carolina Calomeno, em conjunto com o acervo da Coordenação do curso.

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Fundamentação Teórica

© UNHCR/Hazim Elhag

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© UNHCR/Hazim Elhag


Guia da mulher refugiada

2. Fundamentação Teórica

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Fundamentação Teórica

Quanto ao embasamento teórico, este trabalho traz dois eixos temáticos. O do Design, que abordará principalmente o vínculo design–sociedade, que diz respeito ao papel do design na construção de um mundo mais inclusivo e que trabalha com sua complexidade atual, e o dos Refugiados, assim como suas particularidades. Defende-se, aqui, que estes dois eixos estão interligados e entender as relações entre eles é fundamental para obter uma visão holística do assunto. Isto é, não basta apenas dominar os princípios básicos do Design Gráfico se não houver atenção aos aspectos que constituem os indivíduos que representam o público-alvo da presente proposta. O organograma abaixo (figura 1) contribui para a visualização da pesquisa e suas referências, sendo dividido nas duas grandes áreas, Design e Refugiados, que foram desmembradas em aspectos relevantes para este projeto. Figura 1 - Organograma dos eixos teóricos do trabalho. Fonte: elaboração da autora.

2.1. Design 2.1.1. Design e Sociedade O Design nasceu no contexto da Revolução Industrial e tinha, na época, o propósito de “conformar a estrutura e a aparência dos artefatos de modo que ficassem mais atraentes e eficientes” (CARDOSO, 2017, p. 15), em razão do intenso aumento produtivo, que fez com que muitos acreditassem que isto pioraria a qualidade e beleza dos produtos. Com estes avanços, a área sustentou, durante décadas, estudos e pesquisas que moldaram o Design na forma como o conhecemos hoje. No entanto, atualmente, constitui-se também de correntes menos preocupadas com o capital e mais humanizadas. Como idealiza Bonsiepe:

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O humanismo projetual seria o exercício das capacidades projetuais para interpretar as necessidades de grupos sociais e elaborar propostas viáveis, emancipatórias [...]. Por que emancipatórios? Porque humanismo implica a redução da dominação e, no caso do design, atenção também aos excluídos, aos discriminados [...], ou seja, a maioria da população deste planeta (2011, p. 21).

Em função disto, deveria ser compromisso do Design atuar nas mais diversas causas, especialmente as de natureza humanitária, como a crise dos refugiados, já que é uma área que possui maneiras e instrumentos para diminuir cargas cognitivas e melhorar a apresentação das informações (BONSIEPE, 2011). Neste cenário, ainda se pode salientar a importância da área na resiliência de grupos ou povos, já que fornece modos de equipar indivíduos com as ferramentas necessárias para a reconstrução da vida (CAREY, 2019). Ainda sobre o humanismo projetual e a dominação, Victor Papanek comenta, anos antes, algo muito similar. Afirma que a partir do “monopólio de conhecimento” por profissionais ou especialistas se dá a dependência — e sobrevivência — de marginalizados, o que estabelece “uma nova definição de necessidades básicas, aquelas que só podem ser atendidas pelas profissões internacionalizadas” (PAPANEK,19--?, apud OLIVEIRA; CAMPOS, 2012). São, em especial, nestas ideias em que se norteia e se fundamenta este trabalho, sobretudo o objeto delimitado. Ainda assim, é necessário entender que qualquer solução criada não deve apenas considerar tais necessidades, também se atentar aos aspectos individuais do público. É o caso do impacto de aspectos culturais na compreensão de informações, como será explicado a seguir.

2.1.2. Semiótica e Cultura De forma bastante enxuta, a Semiótica é a ciência que estuda os signos. Ou seja, toda e qualquer forma de linguagem, que não se atém apenas ao sentido da verbalização ou da escrita ocidental, e sim a todos os modos de se expressar — “modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido” (SANTAELLA, 1983, p. 02) —, sejam eles através de imagens, ideogramas, música ou outros. No Design, estuda-se, principalmente, a Linguagem Gráfica, que será abordada mais adiante. Antes, é preciso entender o que antecede essa Linguagem, como ela se dá, como a Verbal se transforma em Gráfica, entre outras questões. Assim, e também considerando a abordagem centrada no usuário, a confecção do presente trabalho também demanda considerar como o usuário interpreta o mundo, os objetos, as “coisas” de modo geral. Um signo (símbolo, ícone, pictograma) que

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representa uma ideia, no Brasil, pode não ter o mesmo significado na Síria ou na Venezuela, por exemplo. Por outro lado, Domingues (2011, p. 16) coloca que “pode haver convergência entre as formas como os indivíduos experimentam e entendem os objetos nas etapas de geração de signos e de significações, isso quando considerados indivíduos pertencentes a diferentes contextos culturais”. Sobre o assunto, diz Santaella que: [...] todo fenômeno de cultura só funciona culturalmente porque é também um fenômeno de comunicação, e considerando-se que esses fenômenos só comunicam porque se estruturam como linguagem, pode-se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer atividade ou prática social constituem-se como práticas significantes, isto é, práticas de produção de linguagem e de sentido (1983, p. 2, grifo nosso).

Assim, os aspectos culturais da linguagem devem ser traduzidos, considerando a identidade, a alteridade e a empatia, para que não só as pessoas se vejam ali, mas, para que também persista a totalidade dos elementos que contribuíram para suas formações, que as moldaram e as influenciaram. Nesse sentido, Brisolara coloca que não é só papel do designer dominar a linguagem (e seus códigos), mas também “conhecer e entender o contexto sociocultural no qual a informação será processada e no qual está inserido o usuário (sujeito receptor) dessa informação” (2009, p. 30). Mais à frente, conclui que: esses sujeitos (público-alvo, usuário, receptor da informação, dentre outras designações) também são, assim como o design (e os ‘designers profissionais’), reflexo e refletores da cultura onde se inserem [...]. Em se tratando da produção de linguagem gráfica, uma série de questões [...] vem à tona, como o entendimento de uma determinada articulação de signos, pressupostos e convenções seguidas, o papel da tecnologia, das ‘regras instituídas’, enfim, dos hábitos que envolvem tal produção (BRISOLARA, 2009, p. 39)

Ainda dentro dessa ideia cultural da Semiótica, Domingues (2011, p. 7) escreve que o Design ajuda a definir como os indivíduos se agrupam, comunicam-se e percebem a realidade, já que se manifesta através de objetos. Consequentemente, as relações estabelecidas entre indivíduos e objetos vão além de questões econômicas e materiais, podendo ser entendidas como fenômenos sociais complexos, nos quais os aspectos intangíveis ganham relevância. Nesse contexto,

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faz-se necessário o melhor entendimento das possibilidades de associação entre aspectos físicos e culturais simbólicos e sua inserção em processos de desenvolvimento e de adaptação de produtos (DOMINGUES, 2011, p. 7, grifo nosso).

O autor ainda pontua que o ser humano carece de representação simbólica, depende de signos que possibilitem a ele ser um “indivíduo inserido em sociedades estruturadas”; então, é ansiado que esses símbolos se materializem para que o objeto seja usufruído. Dessa forma, se ele precisa de “referenciais locais para sua própria orientação e é inerente ao ser humano afastar-se ante o desconhecido”, deve-se recorrer a “busca de aspectos culturais específicos, sobretudo indicadores de formas simbólicas que façam parte do nexus social” (DOMINGUES, 2011, p. 15). Com isto em mente, é importante entender alguns aspectos da Linguagem Gráfica, que é uma aplicação da semiótica ao Design.

2.1.3. Linguagem Gráfica e Design da Informação

Figura 2 - Modelo de Twyman (1982). Fonte: adaptado pela autora.

Em uma de suas definições, linguagem se caracteriza como o “conjunto de sinais falados, escritos ou gesticulados de que se serve o homem para exprimir esses pensamentos e sentimentos” (LINGUAGEM, 2019). No Design Gráfico, esse conceito se estende e concebe uma linguagem visual, como a Linguagem Gráfica, que engloba questões como o meio em que se dá a informação e considera mais do que apenas as palavras para se expressar. Segundo Twyman (1982), esta linguagem se desmembra em verbal, pictórica e esquemática, como abaixo (figura 2).

Esses três tipos de representação são caracterizados por Van Der Waarde (1993, apud SMYTHE et al, 2016) como:

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• Verbal: marcas que possam ser pronunciadas (e.g. palavras, números); • Pictórico: que são tidas como ilustração ou figura (e.g. fotografias); • Esquemático: que não são nem verbais nem pictóricas (e.g. formas, setas). A ideia deste trabalho era considerar esses três elementos durante o desenvolvimento do material, desde que estivessem de acordo com as necessidades do usuário, levando em conta sua percepção do mundo, a cultura em que está inserido, entre outros aspectos. Ademais, como também sugere Twyman (1985, p. 248-249), existem algumas: variáveis para compreender a questão operacional de linguagem gráfica: a) propósito: se, por exemplo, há a intenção de oferecer informação ou persuadir; b) conteúdo informacional: a essência da informação ou mensagem a ser transmitida; c) configuração: diferentes formas de organizar elementos gráficos espacialmente; d) modo: seja verbal, pictórico, esquemático ou a combinação de dois ou mais; e) meio de produção: seja produzido à mão ou por computador; f) recursos: habilidades, facilidades, fundos e tempos disponíveis; g) usuários: considerando fatores como idade, habilidade, formação, interesses e experiência; h) circunstâncias de uso: se o usuário se encontra em uma biblioteca bem equipada, ou está sob condições de estresse, como em um veículo em movimento (apud LIMA, 2009, p. 39-40).

Já Robert E. Horn (1998, p. 54) relata algumas questões sobre a organização de uma linguagem visual. Ela é composta pela parte: • Morfológica, que identifica os elementos básicos; • Sintática, que identifica como elementos visuais e verbais podem funcionar em conjunto e de que forma são combináveis; • Semântica, que estuda como junções específicas entre palavras e elementos visuais podem gerar significado; • Pragmática, que envolve predominantemente a aplicação da linguagem visual para a solução de “problemas humanos”, a fim de tornar a comunicação efetiva e eficiente; • Retórica e de composição, que, de forma mais prática, trabalha com questões, propósitos específicos e contextos particulares. Essas ideias são importantes, pois valorizam a experiência do usuário quanto às informações, de acordo com as suas particularidades, o que é imprescindível para o público deste trabalho, que vem

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de outros países, fala outras línguas e tem outros costumes. Isso significa um processo interpretativo que pode ser diferente dos brasileiros, como já comentado.

Figura 3 - Elementos morfológicos da Linguagem Visual de Horn (1998). Fonte: adaptado pela autora

Figura 4 - Propriedades primitivas de Horn (1998). Fonte: adaptado pela autora

Horn (1998, p. 71-72) ainda aponta os principais elementos morfológicos dentro da Linguagem Visual, que são palavra, forma e imagem e seus respectivos sentidos (figura 3), e as propriedades primitivas (figura 4), como visualizado a seguir, e que foram considerados na confecção do infográfico.

Já no nível pragmático, Goldsmith (1984, apud LIMA, 2009, p. 49-54) apresenta quatro fatores que se desdobram em três níveis semióticos, como esquematizado a seguir.

Figura 5 - Variáveis gráficas: fator e níveis. Fonte: retirado de Lima (2009).

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Algumas das variáveis vistas aqui, em conjunto com estudos de outros autores, foram adaptadas até a obtenção do protocolo utilizado para análise de similares, que será apresentado adiante e, em conjunto com a pesquisa com usuários, forneceu alguns requisitos projetuais para o desenvolvimento do material. Já no seu modo verbal, sintaxe e retórica do texto, existem alguns aspectos importantes da tipografia para a Linguagem Gráfica. A respeito disso, o verbal apresenta algumas articulações textuais que têm capacidade de condicionar a legibilidade. São elas, segundo Brisolara: (a) hierarquia – organiza um conteúdo enfatizando alguns dados e preterindo outros e, desse modo auxilia o leitor a localizar- -se no texto (através de recuos, entrelinhas, posição na página ou tamanho, estilo ou cor da fonte, por exemplo); (b) ênfase – destaque para determinadas partes do texto (há diversas alternativas como, por exemplo, o uso do itálico, negrito, versalete, mudanças de cor ou mudança de fonte tipográfica); (c) sequenciamento – indica a ordem e a direção de leitura (através da utilização de números e letras e da disposição do texto em colunas, por exemplo); (d) agrupamento/separação – divide o texto em partes menores e inter- relacionadas, indicando pausas e segregação entre os elementos (pode ser determinado através de recuos, espaços entre parágrafos, marcas tipográficas [parênteses, chaves], boxes, etc.) (BRISOLARA, 2010, p. 5).

Porém, não é apenas a legibilidade que assegura um bom projeto gráfico. Isso implica que o uso de certos recursos deve ser coerente com a retórica visual, isto é, como argumenta Schriver (1997, p. 283, apud BRISOLARA, 2010, p. 5-6), deve praticar “a relação entre a tipografia, a proposta do documento, seu gênero, a situação, e as necessidades, desejos e propósitos da audiência”. Entre essas e outras noções básicas da Linguagem Gráfica se concebe a totalidade do Design da Informação, que se singulariza ao definir, planejar e formatar os conteúdos de uma mensagem e o meio em que é apresentada, na intenção de satisfazer as necessidades informacionais dos pretendidos receptores.6 Seu papel é, também, garantir a legibilidade, compreensibilidade e a usabilidade de documentos, além de traduzir informações complexas, desorganizadas ou desestruturadas em informações significativas e valiosas (OVEN, 2016). O Design da Informação apresenta algumas precondições para sua existência (REDIG, 2004, p. 61-65), sendo: 6  Definição traduzida do International Institute for Information Design, disponível em: https://www.iiid.net/home/definitions/.

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• Quanto ao Destinatário a. Foco no Receptor: é quem determina o conteúdo da mensagem. • Quanto à Forma a. Analogia: coerente com o conteúdo; b. Clareza; c. Concisão: sem elementos supérfluos; d. Ênfase: mesmo sentido do que foi comentado por Brisolara anteriormente; e. Coloquialidade: utilizar expressões comuns; f. Consistência: signos devem representar sempre as mesmas coisas, dentro de um mesmo contexto; g. Cordialidade: respeito ao próximo. • Quanto ao Tempo a. Oportunidade: entender quando a informação deve aparecer e quando não deve; b. Estabilidade: utilizar códigos que não mudem de significado constantemente. Questões como as apresentadas aqui não devem servir apenas como base para o desenvolvimento do material informativo. Precisam ser tratadas como complemento à pesquisa com usuários e análise gráfica, sempre considerando as necessidades, dificuldades ou quaisquer outras especificidades do grupo ao qual o material é voltado. Dada essa discussão, é necessário aprofundamento em qualidades próprias da infografia.

2.1.4. Infografia A infografia é uma das várias áreas de aplicação do Design da Informação. O termo origina-se do inglês infographics, neologismo para informational graphics e, na literatura, há grande desacordo quanto a sua conceituação. Autores (DE PABLOS, 1999; RAJAMANICKAM, 2005; LIMA, 2009, apud MIRANDA, 2013, p.75) apresentam definições. Tais como: uma combinação entre imagens e textos; elementos visuais que podem ajudar a interpretação de conteúdo baseado em texto; e uma peça gráfica que utiliza os elementos de linguagem gráfica verbal (de Twyman, como mencionado anteriormente), visando à “explicação de algum fenômeno”. Será adotada neste trabalho a perspectiva de Lima, também utilizada por Miranda (2013), que afina o significado de infografia não a tomando como qualquer representação gráfica.

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Ainda que existam autores que consideram as expressões primordiais da infografia como as que se deram no início da civilização (as artes rupestres, mais especificamente os petróglifos), foi apenas nos séculos 18 e 19 que se teve grande avanço nesse campo (MIRANDA, 2013). Toma-se aqui como exemplo Florence Nightingale, enfermeira e estatística, que demonstrou pioneirismo na representação gráfica e visualização de dados sobre a mortalidade durante a guerra da Criméia (COSTA, 2009) (figura 6).

Figura 6 - “Diagrama das causas de mortalidade no exército no Leste”, de Florence Nightingale. Fonte: Wikipedia/ Domínio Público.

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Anos mais tarde, na década de 1920, Otto Neurath propõe, em Viena, a criação do Museu de Economia e Sociedade, o que mais tarde seria conhecido como o ISOTYPE (International System of Typographic Picture Education). O sistema buscava, de algum modo, a estandardização da comunicação visual através do uso de símbolos pictográficos (signos, para Neurath), e compôs a vanguarda do Design da Informação, também influenciando a infografia futuramente (LIMA, 2008). A forma como Neurath fazia uso dos signos na infografia pode ser entendida na próxima imagem (figura 7), em que utiliza automóveis como representação numérica. Embora Neurath acreditasse na “universalidade da linguagem visual”, pois “basear-se apenas na linguagem gráfica verbal poderia criar fronteiras culturais de compreensão”, Lima escreve que não significa que o sistema tenha “conseguido criar figuras verdadeiramente ‘neutras’” (p. 43).


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Figura 7 - “Número de veículos motores no mundo”, do ISOTYPE. Fonte: Isotype Revisited.

Mesmo assim, com a criação de um sistema de sinalização pictográfico pelo AIGA (American Institute of Graphic Arts), vê-se o surgimento do primeiro padrão internacional no uso de pictogramas, ou seja, certa concretização de uma linguagem que extrapola barreiras culturais. Acredita-se, aqui, que essa possa ser uma inspiração para o desenvolvimento do projeto, já que busca maneiras de aproximar as diferenças culturais e linguísticas de forma visual. Além disso, como evidenciado anteriormente, a infografia apresenta elementos da linguagem gráfica. Sancho (2001) os caracteriza como unidades gráficas elementares, sendo elas: • Texto: são títulos, gravatas, capitulares, legendas, rótulos, etc., que servem como orientadores ou complementos ao conteúdo pictórico; • Números: podem aparecer guiando informação sequencial, em notas explicativas laterais, tabelas, rótulos ou legendas; • Ícones: normalmente aparecem de forma abstrata e figurativa com o objetivo de representar ou simbolizar; • Adornos figurativos e abstratos: geralmente são pequenos desenhos decorativos que buscam ambientar em relação ao tema, mas não são necessários nem atrapalham; • Desenhos figurativos: representação aproximada utilizada como substituição de fotografia, que por motivo técnico não pode ser utilizada; • Fotografias: representação mais precisa e menos manipulada para identificar locais, pessoas ou situações; • Caixas, linhas e pontos de condução: são elementos de contorno, separação e condução; • Retículas e fundos: geralmente usados para demonstrar cores.

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Foi com o desenvolvimento de novas tecnologias e com a popularização do uso pela mídia impressa, principalmente com a proibição do acesso de jornalistas na Guerra do Golfo nos anos 90, que não apenas a infografia se consolidou, como também se viu em um novo meio — o digital. Tem como uma de suas especificidades o uso da linguagem auditiva, ou seja, sons podem ser utilizados para oferecer feedback ao usuário após uma interação com a interface, por exemplo (MIRANDA, 2013). Dessa forma, é importante mencionar alguns dos elementos inerentes à sua apresentação. Velho (2007) categoriza os elementos encontrados na web, mesmo que muitas vezes ainda sigam a lógica dos materiais impressos, da seguinte forma: • Estática: semelhante aos infográficos impressos, com blocos sem movimento. Foram os primeiros a aparecer na internet; • Hipertextual: narrativa feita pela ligação de vários quadros, que é feita por links. Alguns movimentos advêm do acionamento de links e a parte textual é praticamente estática; • Animado: apresenta movimento, não possui narração, apenas efeitos sonoros. A navegação é conduzida pelas caixas de texto contendo as informações; • Hipermídia: é sustentada por uma narração oral, como num audiovisual, mas permite que haja intervenção pelo usuário. Com isso em vista, percebe-se que a infografia digital fornece meios que permitem maior aproximação com o usuário, sendo um deles, justamente, a interação.

2.1.4.1. Infografia interativa A literatura apresenta diversas conceituações para interação. Foi considerada aqui a definição proposta por Miranda, como sendo a: Troca de mensagens entre usuário e sistema de informação mediada por uma interface digital, na qual ações seletivas do usuário acarretam respostas do sistema perceptíveis através da alteração na forma e/ou conteúdo da interface (2013, p. 61).

É um processo possibilitado pela apresentação de alguns elementos gráficos — os objetos de interação, como colocado por Cybis et al (2007, apud Miranda, 2013). Os encontrados atualmente na infografia digital são classificados por Miranda (2013) como: • Controles de narrativa: a forma mais simples de interação. São os botões de avançar, retroceder e escolher cenas; • Controles de seleção de conteúdo: parecidos com os de narrativa, mas não implicam em linearidade e sequência. Podem se

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apresentar em forma de botões, abas, ou links/hiperlinks; • Controles de andamento: controlam os vídeos e as animações, também conhecidos como players. São os botões de play, pause, avançar, retroceder, ajustar sons, dentre outros; • Barra de Rolagem: muitas vezes é desconsiderada por conta da sua onipresença. Há autores que acreditam ser um elemento problemático, já que parte do conteúdo fica oculta do usuário, por exemplo. • Controles de Zoom: possibilitam o aumento ou a diminuição de algum elemento visual. Aparecem principalmente como botões de mais (+) e menos (-) e lupas; • Objetos Sensíveis: podem acionar algo a partir da interação do usuário, subdividindo-se em: • Objetos sensíveis ao passar do mouse (mouse hover): incorre em mudança perceptível quando o cursor do mouse se posiciona sobre o objeto; • Objetos Clicáveis (mouse click): incorre em mudança perceptível a partir do clique no objeto; • Objetos Manipuláveis (mouse drag): é possível mudar características do objeto, como localização e dimensão. Ademais, pode-se classificar a interatividade, segundo Cairo (2008, apud MIRANDA, 2013), em três tipos: instrução, em que o usuário dá uma instrução simples para a interface; manipulação, em que o usuário pode manipular fisicamente os objetos; e exploração, em que o usuário pode explorar livremente as informações (não tão comum na infografia digital, pois demanda muitos recursos). Cada um é dependente do anterior e eles podem ou não aparecer em conjunto em um infográfico. Existem, ainda, princípios de Design da Interação que podem trazer novas perspectivas para a infografia interativa, além de potencializá-la. São eles (NORMAN, 1988; MIRANDA, 2013): • Visibilidade (visibility): as funcionalidades da interface são explicitadas, de forma que um botão se pareça com um botão, por exemplo; • Resposta do sistema (feedback): são retornos às ações do usuários, podendo se revelar em forma sonora, verbal e visual; • Potencialidade (affordance): os objetos da interface inferem a forma como eles devem ser utilizados, que ações podem ser realizadas sem rotular ou dar instruções. Pode ser reforçado através de convenções visuais; • Restrição (constraint): as ações que não são possíveis de se realizar são explicitadas pela interface. É possível também utilizar aqui convenções, como em potencialidade;

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• Consistência (consistency): a interface deve ser coerente. Se apresenta objetos parecidos, eles devem ter funções parecidas e desempenhar tarefas parecidas; • Mapeamento (mapping): interface assegura uma relação de causa e feito nos elementos, ou seja, clicar em uma seta que aponta para a direita faz um objeto se mover para a mesma direção. Faz-se necessário mencionar, por fim, que existem outros princípios, conceitos e elementos do Design da Interação, da Interação Humano-Computador e do Web Design que podem ser usados como referências para nortear o desenvolvimento do projeto gráfico (e.g. arquitetura da informação, breadcrumbs).

2.2. Refugiados 2.2.1. Aspectos histórico-geográficos Ocorreram, ao longo da história, diversas ondas migratórias de refugiados. No entanto, foi a partir dos conflitos do Século XX, com o grande número de refugiados da Europa, que iniciou-se o debate sobre a proteção dos indivíduos nesta condição. Em 1921, surgiu o Alto Comissariado para os Refugiados, por meio da Sociedade das Nações (precursora das Nações Unidas), dirigido por Fridtjof Nansen.7 Entretanto, foi apenas 30 anos depois que passaram a ser protegidos juridicamente, com o desenvolvimento do Estatuto dos Refugiados pelas Nações Unidas, em 1951. Para Jorge L. R. Braga (2011, p. 8), “a temática dos refugiados era tratada como um problema pontual e não como um assunto permanente”. O autor também aponta que: O número de pessoas perseguidas em seus Estados e em fuga aumentou drasticamente a partir da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais, tornando-se um caso de segurança para os Estados que recebiam grandes contingentes de refugiados. A intensificação dessa categoria na população mundial e a recusa de muitos Estados em conceder proteção a essas pessoas levaram a Organização das Nações Unidas (ONU) a institucionalizar o refúgio nas Relações Internacionais. Assim, em 1950 foi criado o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) que passou a sistematizar a proteção de tal “grupo social” a partir da Convenção de 1951 e do Protocolo de 1967 (BRAGA, 2011, p. 8).

Mesmo tendo sido, ao longo da História, um fenômeno global, atinge, hoje, de forma mais expressiva países que não haviam antes sido tão afetados com o seu fluxo, como é o caso do Brasil

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(DA SILVA, 2017). Por esse motivo, a necessidade de projetos que abarcam o tema. No cenário atual, caracterizam-se refugiados como: refugiadas as pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados (ACNUR, 2019c).

Estão, ainda, sempre em movimento: não apenas no sentido geográfico, mas, também porque “reconstroem sua relação com o espaço durante seu movimento forçado em busca de proteção e de novas possibilidades de reconstrução de suas vidas, ou seja, de uma reterritorialização” (DA SILVA, 2017, p. 168). É aí que surge a vulnerabilidade dessas pessoas, com a perda dos seus direitos mais básicos. Por consequência, a reconquista destes “depende, prioritariamente, de sua reintegração territorial” (MOULIN, 2011, p.148). Mesmo assim, segundo Da Silva (2017), são pessoas que trazem “uma territorialidade ‘extra’ [...] na esperança de conquistar outra, e seguir em frente criando novos laços” (p. 168). Além disso, cita que “eles recriam-se, reinventam-se aprendem novas línguas, culturas, desafiam-se, impõem velocidade e reflexão, questionam e movimentam, ao percorrem seu caminho, agora de geografias redesenhadas” (FARKAS; MARTINHO, 2013, apud DA SILVA, 2017, p. 168).

2.2.2. Aspectos jurídicos Para além do contexto internacional, com os estatutos criados por organizações de cunho humanitário, cada país possui legislação própria quanto aos direitos e deveres da população e, mais especificamente, dos imigrantes, grupo que engloba os refugiados. No Brasil, a legislação que vigia até recentemente era o Estatuto do Estrangeiro (Lei nº 6.815/1980), que não protegia estas pessoas de forma devida ao preferir certificar-se da segurança nacional. Em 2017, com a Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017), foram obtidos grandes avanços. No entanto, como afirmam Wermuth e Aguiar (2018), mesmo sendo o Brasil: um país acolhedor e solidário, o que se verifica na prática são políticas migratórias seletivas e arbitrárias, que objetivam a normalização dos indivíduos imigrantes transformando-os sujeitos sem direitos e garantias, submetidos constantemente ao controle e vigilância policial (WERMUTH; AGUIAR, 2018, p. 230)

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Dessa forma, sofrem “múltiplas formas da exploração e do abuso, como o preconceito, o racismo, a intolerância e a violência” (2018, p. 230). Embora a lei se preocupe com os Direitos Humanos, não se atenta, por exemplo, à inclusão política dos imigrantes, assim deixando-os em “posição inferior em relação aos demais cidadãos brasileiros” (WERMUTH; AGUIAR, 2018, p. 249). No entanto, a Lei n° 9.747/1997, que regulamenta especificamente a questão do refúgio no país, é considerada uma das mais abrangentes, já que concede a condição também em casos de grave e generalizada violação de direitos humanos, o que amplia o conceito de quem é refugiado (SERPA; FÉLIX, 2018). Mesmo assim, percebe-se a falta de políticas públicas que considerem a subjetividade das pessoas em situação de refúgio. Não existem políticas específicas para as mulheres, por exemplo, e o que existe não considera o viés transversal. Dessa forma, debate-se sobre a “transversalização das políticas públicas de gênero”, que é avaliar as consequências das políticas implementadas para os homens e para as mulheres, pois os problemas podem afetar as pessoas de forma diferente (SCHWINN; DA COSTA, 2016a, p.20). É importante ressaltar que, com o aumento dos fluxos migratórios nos últimos anos, segundo a Organização Internacional de Migração (OIM), o Brasil passou a ser um país receptor de imigrantes, ao invés de continuar sendo um produtor de emigrantes (WERMUTH; AGUIAR, 2018, p. 240), o que significa que, na “ausência de atribuição da questão migratória a um órgão especializado para o atendimento dos migrantes” (p. 249), vê-se no design uma oportunidade de coadjuvar no tratamento deste problema, com propostas amparadoras e inclusivas. Ainda, no Brasil, “muitos refugiados sobrevivem de favores e boas ações de instituições filantrópicas e religiosas” (SAVY, 2018, p. 124), o que também denota possível falta, por parte dos órgãos oficiais, de atendimento e orientação para essas pessoas, sendo assim pertinente a idealização de materiais que forneçam informações básicas e que possam ser compartilhados livremente. Ainda sobre as dificuldades, para Sayad (1998, apud WERMUTH; AGUIAR, 2018, p. 252), as discriminações de direito buscam respaldo nas discriminações de fato, que, por sua vez, procuram justificativa e legitimação nas discriminações de direito: Tal lógica circular, em que as situações de fato e de direito se sustentam mutuamente, encontra-se nas segregações como a escravidão, o apartheid, a colonização e a imigração, como também nas dominações do escravo, do negro, do colonizado, do imigrante, da mulher, etc., geradoras de racismo, denotando, em todos esses casos, a recusa à utili-

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zação da igualdade de direito como pretexto às desigualdades de fato e à igualdade de fato, por sua vez, tornando-se inviabilizada pela desigualdade de direito (WERMUTH; AGUIAR, 2018, p. 252).

Além disso, Wermuth e Aguiar (2018) também comentam que “o imigrante é concebido como mera ‘força de trabalho’, ou seja, mão de obra descartável para as necessidades do mercado” (2018, p. 252). Dessa forma, é interessante para muitos envolvidos, os “stakeholders”, que os imigrantes (e refugiados) desconheçam seus direitos, a língua e aspectos da cultura brasileira. Isto é, o empoderar através do conhecimento e incentivo da independência passa, aqui, de desejável para imprescindível. Diante disso, discursos oficiais colocando o Brasil como um país acolhedor de imigrantes, mas sem fornecimento de assistência legal básica, na verdade, são formas de “permitir à sociedade ser (ou parecer) coerente consigo mesma, com seus princípios morais de organização que são sempre, em todos os campos, princípios de justiça, de igualdade, de respeito dos direitos e das liberdades do indivíduo” (SAYAD, 1998, p. 59, apud WERMUTH; AGUIAR, 2018, p. 252). E aqui entra novamente o Design, especialmente o da Informação, já que, como ainda afirmam Wermuth e Aguiar (2018): Urge a necessidade de implementação de novos paradigmas de mobilidade humana baseados nos Direitos Humanos, que reconheçam as subjetividades dos migrantes como uma força criativa na luta por liberdade, e que considerem a dimensão política dos fenômenos migratórios, a fim de reconhecer efetivamente os migrantes como sujeitos de direitos – sem enveredar para a sua vitimização ou, no outro extremo, criminalização (WERMUTH; AGUIAR, 2018, p. 255).

2.2.3. Migração e gênero Embora hoje seja defendida a ideia de que a subjetividade dos migrantes precisa ser levada em consideração, por muito tempo a migração foi concebida como um fenômeno essencialmente masculino, desconsiderando possíveis perspectivas de gênero dentro de estudos acerca do assunto. Ao passo que hoje vemos uma “feminização da migração”, antigamente acreditava-se que a migração feminina era uma simples variação do então considerado padrão de deslocamento, o dos homens. Isso se deriva da ideia de que os fluxos aconteciam apenas por questões econômicas e trabalhistas, em que o protagonista era o homem e a mulher encenava um papel secundário, de mãe e esposa, omissa e dependente. Por conseguinte, já que não

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compartilhavam esse mesmo protagonismo, não eram merecedoras de análises sob a ótica das construções sociais, condicionadas histórica e culturalmente (MARINUCCI, 2007). Ou seja, considerar a subjetividade da migração é considerar as particularidades intrínsecas às mulheres migrantes. A “feminização das migrações” comentada pelo autor se dá em virtude do “aumento quantitativo, a maior visibilidade e a transformação do perfil da mulher migrante” (MARINUCCI, 2007, p. 2). É importante ressaltar que esta última mudança ocorre também com as mulheres nativas, a cargo dos novos papéis de gênero nos países de destino, com a inserção no mercado de trabalho e os movimentos feministas. O que acontece na prática, no entanto, não é o empoderamento das mulheres, migrantes ou nativas. A “emancipação da mulher nativa” não ocorre por causa de uma mudança nas relações de gênero no âmbito familiar, em conjunto com uma “renegociação da divisão do trabalho” entre os pais, ou através de “políticas públicas que valorizem o trabalho doméstico”. Esta responsabilidade é descarregada nas mulheres migrantes, o que muitas vezes as impede de cuidar de seus próprios filhos (PARREÑAS, 2002/5 apud MARINUCCI, 2007, p. 8). Então, o empoderamento da mulher nativa desenrola-se, muitas vezes, a partir da exploração da mulher migrante, o que, em primeiro lugar, beneficia “o capital globalizado que maximiza seus lucros [...] [e] a classe dos homens” (Hirata; Kergoat, 2007 apud, VILLEN, 2013, p. 6). Seguindo essa linha, para Bertoldo (2018), a exploração do migrante acontece de acordo com as demandas do mercado dentro do sistema capitalista, que sempre os sujeita aos cargos não desejados pela população, para os quais não se necessita mão de obra qualificada, que apresentam condições precárias e geralmente são informais. No fim das contas, a migração pode ser uma experiência ambivalente, em que é possível se empoderar, mas também ter os direitos fundamentais violados (MARINUCCI, 2007). Nesse sentido, o ACNUR também volta sua atenção para as experiências específicas das mulheres refugiadas. As experiências podem ser desempoderadoras, pois, muitas vezes, acabam sendo sobrecarregadas durante o deslocamento, já que, historicamente, são responsáveis pelas crianças, pelas pessoas mais velhas e pelo trabalho doméstico; são excluídas dos processos de decisão, tanto nos campos de refugiados quanto em decorrência da exclusão social nas área urbanas; e dependem frequentemente dos parentes do sexo masculino para acessar os serviços básicos fornecidos pelos campos, já que o trabalho doméstico é delegado a elas. Sabe-se, também, que, regularmente, a violência contra a mulher não é percebida, notificada ou debatida. Por outro lado, através dessa experiência, elas podem ser capazes de subverter os papéis de

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gênero tradicionais que determinam sua participação na política, na economia e no meio social, seja nos campos, na vida urbana ou nas comunidades de origem, caso retornem (UNHCR, 2008). Além disso, as migrantes são pessoas de maior vulnerabilidade, pois sofrem com a dupla discriminação, enquanto mulheres em uma sociedade patriarcal e enquanto estrangeiras em uma sociedade xenofóbica. Ainda, podem sofrer discriminação em razão da sua condição irregular no país8, cor, origem, religião, deficiência, dentre outros (MARINUCCI, 2007). Isso se agrava quando elas vêm de uma situação de deslocamento forçado, o que as diferencia de alguém que realiza a migração voluntária e planejada, que não acontece pela “insustentabilidade existencial”9 de onde vivem. O autor ainda coloca que, embora dependa das relações de gênero nos países de saída e de destino, no geral, elas sofrem com mais barreiras para migrar que os homens, e as políticas públicas, mesmo que pareçam neutras, podem tanto facilitar quanto prejudicar a chegada delas (MARINUCCI, 2007). Para Schwinn e da Costa (2016b), são múltiplas as violências sofridas pelas mulheres. Para as refugiadas, estas violências não acontecem somente por causa da dupla discriminação, da distância de suas origens e de pouca proteção do governo. Sofrem com a violência cultural, presente na opressão que acontece dentro da própria família, podendo ser uma das causas da busca por refúgio; com a violência social, se manifestando nas dificuldades de acesso aos serviços públicos, de moradia e garantia de direitos; com a violência psicológica, iniciada com a possível perseguição em seu país de origem, mas que se mantém com a condição de mulher e estrangeira no de destino; e com a violência sexual, uma das mais brutais, que se apresenta em forma de estupro como arma de guerra, exploração sexual, tráfico e abuso em campos de refugiados e no trabalho (SCHWINN; DA COSTA, 2016b). Ou seja, achar abrigo adequado no país, conseguir trabalhar, enfrentar preconceitos no âmbito social ou laboral, ter dificuldade para acessar serviços e para se integrar, já são todas essas adversidades que preocupam as mulheres refugiadas no Brasil, e elas ainda acabam sendo submetidas a situações degradantes de violência (SERPA; FÉLIX, 2018). Ademais, se já existem instrumentos internacionais de proteção à mulher, aplicáveis no Brasil, e eles são insuficientes para as mulheres nacionais na garantia de seus direitos, para as imigrantes a situação é ainda mais grave, já que, além de ficarem à deriva dessa proteção falha, são invisibilizadas (SCHWINN; DA COSTA, 2016b). 8  Perante a lei, pois a aluna acredita que nenhum ser humano é ilegal. 9  Expressão retirada de MARINUCCI, Roberto. Feminização das migrações?. Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, Brasília, v. 15, n. 29, 14p, 2007. Disponível em: https://www.csem.org.br/wp-content/uploads/2018/08/feminizacao_das_migracoes_roberto_marinucci2007.pdf. Acesso em: 12 jun. 2020.

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Dessa forma, cabe a nós, como sociedade democrática, buscar alternativas de empoderamento coerentes com a realidade delas. O acesso à informação possibilita que as mulheres tomem decisões informadas sobre suas vidas, direitos, papéis de gênero, relações de poder, situação atual e futura, entre outros, permitindo-lhes a validação de seus próprios interesses (UNHCR, 2008). Desconcentrar e pulverizar as informações é um desafio, mas, auxilia nesse empoderamento das pessoas que são marginalizadas e discriminadas. Muitas vezes, não damos valor às informações que sabemos nem às que as outras pessoas não sabem. A desinformação aumenta tensões, cria confusão e frustração, podendo incitar a violência, já que os indivíduos se sentem impotentes e sem controle sobre o futuro. Para as mulheres, as informações podem ser mais difíceis de acessar por serem preteridas na educação e na alfabetização, além de raramente serem líderes de suas comunidades, posto que facilita o compartilhamento de informação. Sendo assim, acabam dependendo dos parceiros, pais e outras pessoas em posição de poder, que nem sempre comunicam o que elas necessitam ou se interessam. A dependência nos maridos pode resultar na aceitação da violência doméstica, pois elas não acreditam que têm direito individual ao refúgio, a assistência e/ou a documentação (UNHCR, 2008). É um direito humano, reconhecido pela ONU, a “liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras” (UNIC RIO, 2009, p. 10).

2.3. Sumarização Nessa seção, foi feita uma breve discussão acerca dos temas que competem esse projeto, abordando questões mais abrangentes do Design até características específicas das mulheres refugiadas. Tratou-se do Design como ferramenta emancipatória e capaz de tornar informação em algo acessível, o que pode se concretizar, nesse projeto, com a transformação de conteúdos densos em um infográfico interativo. Além disso, comentou-se sobre a compreensão de aspectos culturais e suas traduções visuais, o que foi considerado na uso das cores, na confecção das representações visuais e termos utilizados. Já a Linguagem Gráfica, o Design da Informação e a Infografia auxiliaram tanto na análise gráfica quanto no desenvolvimento do infográfico em si. As discussões sobre pessoas refugiadas são importantes para compreensão das usuárias e do tema, bem como para escolha, filtragem e adaptação do conteúdo, já que versam sobre questões jurídicas, vivências, a realidade brasileira, entre outras.

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© UNHCR/Felipe Irnaldo

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© UNHCR/Lilly Carlisle


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3. Projeto

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3.1. Processo de design O plano projetual deste trabalho foi baseado no modelo de Peter Simlinger (2007), com algumas alterações que serão detalhadas mais adiante. É um processo iterativo para projetos de Design da Informação, divido em 6 etapas, e são elas, originalmente: • Compreensão do tema e seu valor para o(s) usuário(s) a. Desbloquear a informação que precisa ser projetada; b. Se familiarizar com o significado da informação e o ambiente onde ele pretende ser apresentado/divulgado, permite uma melhor compreensão do propósito da informação. • Compreender o(s) usuário(s) a. Definir o(s) usuário(s), através de métodos apropriados, como observação, entrevistas e desenvolvimento de personas (controladas em laboratório e na vida real); b. Desenvolver cenários onde “personas” realizam as atividades/ações que a informação deveria facilitar; c. Estar ciente de que as atividades nunca existem isoladamente, sempre existe um antes e um depois, devendo-se considerar a “corrente de atividades.” • Proposta ou Estratégia a. O infodesigner está pronto para fazer a sua proposta que delineia o resultado a ser alcançado, onde padrões técnicos e legais devem ser ressaltados, e quanto tempo e dinheiro será investido; b. Definir objetivos. • Projeto a. Composição da informação utilizando elementos verbais, pictóricos, acústicos, haptics e/ou olfativos, que são moldados e estruturados de acordo com os princípios da psicologia cognitiva e perceptiva; b. Definição, planejamento e modelação do conteúdo da mensagem e dos ambientes em que ele será apresentado. • Avaliação a. Os objetivos das tarefas relacionadas com a transferência de conhecimento foram alcançadas? Renderam o efeito desejado? b. Utilizar insights da psicologia cognitiva para conduzir entrevistas com usuários, aplicar métodos de avaliação e saber interpretar o resultados;

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c. Teste de conceito, grupo focal, teste de usabilidade, design participativo e teste de design. • Refinamento e Implementação da informação a. Com base nos insight adquiridos através dos testes: otimizar o conteúdo do design, considerar alternativas ou identificar obstáculos que podem ser superados com uma mudança de direção. b. Posteriormente ajudar na implementação do(s) design(s) e, se necessário, realizar ajustes e modificações em resposta a mudanças de requisitos. As duas primeiras etapas podem ocorrer paralelamente e consistem em: (1) familiarizar-se com o tema (e entendê-lo — “if you don‘t understand it, don‘t design it”), os significados das informações e dos ambientes em que serão inseridas, assim como com seu valor para o usuário, e desbloquear as informações a serem usadas (a partir de entrevistas com especialistas, imersão em contexto...); e (2) compreender os usuários para definir o que é crítico para eles (através de observações, entrevistas, imersão em contexto e outras), o que facilita o cumprimento do projeto de forma satisfatória ao atender as expectativas de quem usa e de quem provê as informações. A terceira etapa, estabelecida por Simlinger como a fase de proposta, foi modificado para “análise e proposta”. Sendo assim, os dados obtidos nas etapas anteriores serão analisados e, em seguida, a delimitação do que precisa ser feito e/ou atingido será proposta (o que pode ser feito com auxílio de brainstorming, análise gráfica ou outras ferramentas). Os padrões técnicos e legais, tempo e dinheiro poderão aí ser considerados. Embora as etapas sejam planejadas, por depender dos resultados obtidos em cada uma delas e por ser um processo pautado no feedback, era possível avançar e fazer ajustes em retrospectiva se necessários. Na quarta etapa, que será chamada de "concepção", se inicia, de fato, a parte projetual, a partir dos requisitos já aprovados. É quando se definem, se planejam e se moldam os conteúdos da mensagem e as formas como será apresentada; tem-se a geração e definição de alternativas. Simlinger sugere que, caso o nível de complexidade se torne muito alto, seja utilizado o método Six Thinking Hats, o qual fornece uma forma mais tangível de traduzir intenção em execução, mas não foi aplicado neste trabalho. Avaliar a efetividade do que foi criado é responsabilidade da quinta etapa. É preciso entender se os objetivos foram atingidos, o que pode ser realizado através de testagens com as usuárias (entrevistas, métodos de avaliação). O sexto e último passo consiste em refinamento, com base nos

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insights e feedbacks buscando otimização do material, e implementação, que é não possível englobar neste trabalho, não por falta de esforços, mas de recursos. Assim, esta etapa será a de refinamento e versão final do infográfico. Além disso, inicialmente, a aluna gostaria de realizar, também, a validação do objeto (imersão do material em contexto real, sem influência da designer), o que não foi possível por conta da pandemia. Figura 8 - Processo de design baseado em Simlinger (2007). Fonte: adaptado pela autora.

O processo adaptado pela aluna pode ser visualizado abaixo (figura 8).

3.2. Compreensão do usuário O objetivo desta etapa não é apenas entender essas pessoas de forma demográfica: de onde vêm, qual a idade e assim por diante. É, também, obter resultados que possibilitem “desbloquear” o conteúdo e entender quais são os pontos críticos para os usuários e quais as necessidades e dificuldades que estes pontos proporcionam. Assim, é possível propor um material que, além de atender expectativas, promove real contribuição. Para esse fim, foi feita uma consulta aos usuários, que será explicada a seguir.

3.2.1. Consulta aos usuários Dois questionários foram desenvolvidos pelo Formulários Google, contendo, essencialmente, as mesmas perguntas, mas para públicos diferentes: o nº 1, voltado para aqueles que se consideram refugiados (APÊNDICE A), e o nº 2, para pessoas que, embora não sejam refugiadas, têm ou já tiveram contato com refugiados (APÊNDICE B). Ambos os questionários foram divulgados no Facebook e compartilhados em grupos com tema de migração e refúgio. Na mesma plataforma, foram enviados para páginas voltadas a este mesmo tema, mas que em geral são de associações, casas de acolhimento e organizações. Foram também encaminhados para as regionais da Cáritas Brasileira, para a FAS, para o Conselho

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Estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas do Paraná (CERMA) e para estudantes, voluntários e coordenadores dos projetos de extensão do PMUB. O Museu do Holocausto de Curitiba compartilhou os questionários em sua conta oficial no Instagram. O nº 1 obteve 8 respostas (após uma ser descartada, pois não se enquadrava dentro do público) e o nº 2 obteve 22, sendo 30 o total de respostas válidas. É importante ressaltar que os respondentes que se consideram refugiados são pessoas que possuem os meios e o conhecimento para responder a um formulário em português na internet. O que, possivelmente, não é a realidade da maioria.

3.2.2. Resultados obtidos A nacionalidade dos respondentes do questionário de nº 1 é diversificada. O país de origem mais mencionado foi a Venezuela (n=3), enquanto o restante é da América Central (Cuba e Haiti, n=2), África (Senegal, n=1) e Oriente Médio (Palestina e Síria, n=2). O perfil é predominantemente masculino, com respostas de apenas duas mulheres. Todos são maiores de idade e há somente uma resposta de uma pessoa considerada idosa. O nível de escolaridade deles é alto, já que metade possui pós-graduação completa (n=4) e outra parte possui ensino superior completo (n=2) e incompleto (n=1). Isso não indica que seja um aspecto do perfil socioeconômico dos refugiados no geral, mas que os respondentes possuem os meios e o conhecimento para responder a um formulário em português na internet. Em relação aos direitos e como exercer a cidadania em geral, acreditam que as pessoas em situação de refúgio no Brasil não estão bem informadas. Alguns responderam, também, que as pessoas estão mal informadas (n=4) e até desinformadas (n=1). Sendo assim, pode-se perceber que um material informativo é realmente necessário. O questionário também trouxe perguntas sobre os seguintes temas: • Seus direitos e deveres; • Documentação (carteira de registro, de trabalho, de motorista...); • Finanças (conta bancária, empréstimos, câmbio...); • Trabalho (jornada de trabalho, contrato, salário...); • Moradia (abrigo, aluguel, casa própria...); • Educação (ensino gratuito, matrícula, validação de diploma...); • Saúde (atendimento médico, vacinação, emergências...); • Violência contra a mulher (o que fazer, quem procurar...). Os respondentes deveriam avaliar o quanto consideravam importante cada um dos tópicos apresentados. Quase todos refugiados respondentes afirmam que são necessárias mais informações so-

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bre direitos e deveres (n=7). Logo em seguida, moradia e educação foram escolhidas (n=6, cada). Depois, trabalho, finanças e violência contra a mulher (n=4, cada). Documentação e saúde ficaram por último (n=3, cada).

Gráfico 5 - Respostas da pergunta “Você acredita que as pessoas em situação de refúgio no Brasil precisam de mais informação sobre:..” do questionário 1. Fonte: elaboração da autora.

Gráfico 6 - Respostas da pergunta “Você acredita que as pessoas em situação de refúgio no Brasil ENCONTRAM informações sobre os temas abaixo:..” do questionário 1. Fonte: elaboração da autora.

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No geral, os respondentes acreditam que informações sobre estes temas são encontradas com dificuldade. Direitos e deveres (n=3), finanças (n=2), moradia (n=3), educação (n=1) e violência contra a mulher (n=1) foram os colocados como bastante difíceis de achar. Saúde, no entanto, é visto por cinco pessoas como facilmente encontrável. Finanças e moradia foram os únicos que nenhum respondente acredita ser fácil de encontrar. Diante disso, é possível determinar que o conteúdo gire em torno de questões consideradas difíceis de encontrar, sempre objetivando o empoderamento e a independência da mulher. Uma pergunta similar foi feita para entender o que os respondentes achavam sobre o entendimento de informações sobre estes mesmos temas. Entretanto, seria necessário realizar um teste com os usuários para aferir corretamente o nível de compreensão. Como isto não feito, o resultado dessa questão foi desconsiderado na construção dos requisitos.


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Quando perguntados sobre quais informações eles tinham dificuldade em descobrir ou gostariam de saber, mencionaram documentação, moradia e educação. Ou seja, são temas que estas pessoas já procuraram ou procurariam informações sobre. Como houve poucas respostas em relação a informações específicas para mulheres e baixa participação delas nas respostas, não é possível extrair requisitos satisfatórios. Diante disso, será necessário considerar as ponderações feitas no questionário nº 2. Os respondentes do questionário nº 1 desconhecem materiais voltados para refugiados, mas citam falta de apoio governamental, ONGs descoordenadas e problemas com a língua. A maioria pesquisa na internet (n=7) e alguns perguntam para alguém (n=5) quando têm dúvidas sobre os temas mencionados anteriormente. Nesse sentido, é possível confirmar a lógica de criação de um material digital para estas pessoas. O infográfico pode ser acessado tanto pelos refugiados quanto por conhecidos ou terceiros, que são capazes de se informar e compartilhar o que aprenderam ou repassar o material ao público-alvo. Dos que pesquisam na internet quando têm dúvidas, a maioria informou que o conteúdo em idioma diferente de sua língua materna (n=6) é um aspecto que dificulta a compreensão das informações, de modo que a tradução do infográfico para outras línguas poderá ser um desdobramento do presente projeto. Acham, também, que precisar consultar diferentes páginas (n=4) também dificulta a compreensão, o que evidencia mais ainda a pertinência de um material único que reúna informações de fontes diversas. Quantidade de texto e presença de vídeo explicativo também foram pontuados. Para entender a preferência dos refugiados em relação à forma de tratamento, foram usadas duas frases de exemplo: "Na conta corrente, o dinheiro que você deposita fica à sua disposição para ser sacado a qualquer momento. Para abri-la, você pode solicitar diretamente ao banco" e "Na conta corrente, o dinheiro depositado fica à disposição para ser sacado a qualquer momento. Para abri-la, pode-se solicitar diretamente ao banco". O grupo se dividiu na metade, entre os que preferiam a linguagem pessoal (n=4) e os que preferiam a impessoal (n=4), mas sabe-se que a literatura recomenda uma linguagem mais simples e direta. As respostas também indicaram que os refugiados podem ter meios para acessar o material por conta própria, visto que possuem celular (n=7), computador (n=6) e/ou acesso à internet (no celular, n=5; em casa, n=7).

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Gráfico 7 - Respostas da pergunta “Caso você procure na internet, o que dificulta a compreensão das informações?” do questionário 1. Fonte: elaboração da autora.

Já no questionário nº 2, a maior parte dos respondentes teve contato com refugiados através do trabalho (n=11), seja prestando atendimento ou enquanto colega. Para os demais, o contato se deu via convívio social (n=8), atividade voluntária (n=8) e escola/universidade (n=6). Os respondentes prestaram auxílio a refugiados em diferentes áreas, como orientações gerais (locomoção, informações sobre a cidade...), saúde e bem-estar e língua, entre outras. Embora duas pessoas acreditem que os refugiados sejam bem informados, o restante das respostas indica certo grau de desinformação sobre direitos e como exercer a cidadania, variando entre razoavelmente informados (n=9), mal informados (n=6) e completamente desinformados (n=5). Entre os temas sobre os quais os respondentes acham que os refugiados no Brasil precisam de mais informações estão: documentação (n=17), trabalho e educação (n=16, cada), moradia (n=15) e saúde (n=14). No geral, acreditam que os refugiados encontram informações sobre os temas com dificuldade ou até bastante dificuldade, em casos como finanças (n=6), trabalho (n=7), educação (n=7) e violência contra a mulher. No entanto, eles acreditam, de modo geral, que os refugiados conseguem entender as informações com mais facilidade do que encontrá-las. Nas perguntas de resposta aberta sobre as dificuldades dos refugiados para entender as informações, os respondentes mencionam barreiras como língua, tecnologia, burocracia, não entender como as “coisas” funcionam, diferença dos procedimentos em cada país e mudanças de políticas. Acreditam, também, que os refugiados gostariam de saber sobre: contratos de aluguel, crédito para adquirir moradia, fiança, denúncia de violência doméstica, tratamento de doenças crônicas, acesso a serviços básicos universais, custo de vida, cadastro de currículo para emprego formal, conta bancária, jornada de trabalho, direitos, quais os documentos eles podem emitir e onde devem ir para os retirar, estudos, validação de diploma e regularização migratória.

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Mencionaram, ainda, que são escassas as informações que interessem às mulheres, como: saúde feminina, da gestante, SUS, acompanhamento ginecológico, psicológico ou jurídico (violência), serviços de assistência e denúncia, controle de natalidade, amamentação, machismo nas comunidades, nutrição adaptada à alimentação brasileira, núcleos de preservação da sua cultura, questões sobre seus filhos, abrigos e acesso a benefícios assistenciais (Bolsa Família, Tratamento Fora do Domicílio...). Os respondentes sentem falta de materiais voltados para refugiados e muitos não conheciam algum para recomendar. Os que conheciam, apontaram baixa acessibilidade (informações em português ou em vocabulário muito complexo).

Gráfico 8 - Respostas da pergunta “Pela sua experiência, quanto a materiais informativos digitais, os refugiados:..” do questionário 2. Fonte: elaboração da autora.

Em relação à apresentação textual nos materiais informativos para refugiados, uma metade dos respondentes acredita que deve se dar de forma curta e objetiva (n=11) e outra metade, com explicações detalhadas (n=11). Dessa forma, entende-se que a construção do texto depende de seu conteúdo, mas se acredita que se deve dar preferência a explicações mais concisas, seguindo também a recomendação da literatura mencionada anteriormente. Já na representação visual, mais pessoas acreditam na eficiência das ilustrações (n=13) do que das fotografias (n=5). A grande maioria crê que uma linguagem com tratamento pessoal (n=17) é a mais adequada. Quanto a materiais informativos digitais, a maioria dos respondentes acredita que eles têm interesse (n=17), têm condições de acesso (n=11) e têm autonomia para acessá-los (n=10).

Novamente, percebe-se que o fato de não estar na língua materna (n=17) é o que mais acreditam dificultar a compreensão do material. Depois, ter muito texto (n=10) (o que reforça a ideia sugerida pela aluna de as informações serem concisas, mas contradiz parte dos respondentes em relação à apresentação textual), bem como

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precisar consultar diferentes páginas (n=10). Por fim, quando perguntados se indicariam algum material informativo, não recomendaram materiais que a aluna não conhecesse.

Gráfico 9 - Respostas da pergunta “Pela sua experiência, o que dificulta a compreensão de materiais informativos pelos refugiados” do questionário 2. Fonte: elaboração da autora.

3.2.3. Requisitos obtidos O objetivo era estabelecer alguns requisitos a partir da análise destes resultados que, posteriormente e em conjunto com a análise gráfica e a literatura, gerassem as diretrizes que de fato nortearão o projeto gráfico e que serão vistos mais adiante. Sumarizando as necessidades percebidas, entende-se que, do ponto de vista da pesquisa com usuários, o infográfico deve: • Ser digital e projetado para o formato mobile, já que celular é o equipamento que mais possuem e traz mais flexibilidade para o uso (acesso através de Wi-fi ou dados móveis; em casa, na rua ou outro local), podendo ser adaptado para o desktop, posteriormente;

• Compilar várias informações, já que a dispersão afeta a compreensão; • Evidenciar as informações específicas para as mulheres; • Abordar os temas que apresentaram dificuldade ou bastante dificuldade para serem encontrados, assim como o que os respondentes acreditam ser necessário saber; • Permear questões sobre: direitos e deveres (que engloba documentação, acesso à saúde e violência), moradia, finanças, educação e trabalho; • Considerar as pontuações do questionário nº 2 como informações complementares ao conteúdo determinado pela pesquisa com os refugiados, podendo até serem colocadas como tópicos secundários; • Conter linguagem direta, pessoal, clara e objetiva.

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3.3. Análise A primeira parte da terceira etapa é o momento de fortalecer, com a análise gráfica de similares, as informações compreendidas e os resultados obtidos até este momento. Desta forma, é possível propor requisitos projetuais que guiarão a quarta etapa, assim delimitando o que precisa ser feito.

3.3.1. Protocolo de análise gráfica O objetivo desta análise é identificar tendências dentro do universo das peças analisadas e assim estabelecer requisitos gráficos para o desenvolvimento do projeto. O protocolo de referência para a análise de similares foi o de Lopes (2017), com pequenas adições feitas pela autora (em negrito). Como, originalmente, também serviu de instrumento para análise de infográficos animados no contexto da saúde, o que não é proposto neste trabalho, desconsideram-se aqui os aspectos de imagem em movimento. Para facilitar a visualização do protocolo, pode-se consultar uma tabela no apêndice C. As variáveis utilizadas para a análise são: 1. Apresentação de imagens 1.1. Natureza 1.1.1. Elucidativa 1.1.2. Decorativa 1.2. Técnica de ilustração 1.2.1. 2D 1.2.2. 3D 1.2.3. Manipulação de foto/vídeo 1.2.4. Fotografia/vídeo/animação 2. Apresentação dos elementos de infografia 2.1. Ocorrência dos elementos 2.1.1. Texto 2.1.2. Ícone 2.1.3. Adornos 2.1.4. Desenho 2.1.5. Caixa 2.1.6. Fundo 2.1.7. Linha 2.2. Orientadores de leitura 2.2.1. Números 2.2.2. Setas 2.2.3. Letras 2.2.4. Indicador de etapas 2.2.5. Bullets 2.3. Elementos enfáticos 2.3.1. Cor

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2.3.2. Tamanho 2.3.3. Linhas 2.3.4. Caixas 3. Retórica visual 3.1. Figuras de linguagem 3.1.1. Metonímia 3.1.2. Metáfora 4. Apresentação do texto 4.1. Componentes 4.1.1. Título 4.1.2. Subtítulo 4.1.3. Rótulo 4.1.4. Legenda 4.1.5. Número 4.2. Elementos enfáticos 4.2.1. Variação tipográfica 4.2.2. Cor 4.2.3. Tamanho 4.2.4. Peso tipográfico 4.2.5. Caixa 5. Apresentação da interação 5.1. Ocorrência de interação 5.1.1. Texto 5.1.2. Imagem 5.2. Elementos de interação 5.2.1. Controles de narrativa 5.2.2. Controles de conteúdo 5.2.3. Controles de andamento 5.2.4. Controles de zoom 5.2.5. Barra de rolagem 5.2.6. Objetos sensíveis

3.3.2. Amostra de similares Foram selecionados 10 infográficos. Este recorte é composto apenas por similares indiretos, visto que materiais de mesma forma e conteúdo que o proposto neste projeto não foram encontrados. A amostra se divide em dois grupos: cinco são infográficos estáticos e cinco são infográficos interativos. Considerou-se como critérios para seleção: • Que os estáticos (tabela 1) fossem veiculados digitalmente e de acesso livre na internet; tratassem obrigatoriamente de assuntos como direitos, denúncia, trabalho, finanças, documentação ou violência e questões de gênero; e, se possível, indicassem algum passo a passo, "como fazer" e afins;

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Infográficos estáticos nº 1

Voo atrasado: o que devo fazer?

https://bit.ly/2MqEpzt

nº 2

Como abrir sua Conta Fácil pelo celular

https://bit.ly/2AxpCAq

nº 3

Seus nudes vazaram?

https://bit.ly/3duDbyV

nº 4

Como filmar em São Paulo?

https://bit.ly/2Xw24Vv

nº 5

6 dicas de finanças para universitários conquistarem a estabilidade

https://bit.ly/2Mwyt7T

Tabela 1 - Amostra de infográficos estáticos. Fonte: elaboração da autora (imagens retiradas dos respectivos sites).

Tabela 2 - Amostra de infográficos interativos. Fonte: elaboração da autora (imagens retiradas dos respectivos sites).

• Que os interativos (tabela 2) apresentassem, se possível, os mesmos assuntos do critério anterior; que as informações principais não fossem apenas dados numéricos ou históricos; e não fossem disponibilizados em uma plataforma jornalística, de preferência. Infográficos interativos

nº 6

Inequality is real, personal, expensive, and it was created

https://bit.ly/3eYHR0D

nº 7

Bleeding for equality

https://bit.ly/3dyCTqM

nº 8

Vitamin Atlas

https://bit.ly/2XZMroe

nº 9

C20th British Novelists: Making the connections

https://bit.ly/303ZDLu

nº 10

Violence Against Women

https://bit.ly/3duV2pJ

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3.3.3. Resultados obtidos Como a amostra foi composta por infográficos essencialmente diferentes (estáticos e interativos), algumas variáveis foram consideradas apenas nos materiais adequados, o que será evidenciado nas explicações a seguir. Os resultados e requisitos obtidos a partir da análise serão dispostos e discutidos ao final.

3.3.3.1. Variáveis de apresentação de imagens Todas eram de natureza elucidativa (n=10), mas, alguns, também apresentavam imagens decorativas (n=3). Acredita-se que é uma tendência a ser seguida, pois imagens com função de elucidação conseguem reforçar uma mensagem sem aumentar a carga informativa do material. É um aspecto muito relevante, considerando que existem refugiados que não são alfabetizados nem na língua materna, ou seja, uma imagem assim pode facilitar a compreensão do conteúdo, ao passo que uma com função de decoração é capaz de atrapalhar. A figura a seguir é um exemplo do que não deve ser seguido quanto a apresentação de imagem. A representação simultânea de vários conceitos torna a ilustração muito complexa. A grande quantidade de elementos praticamente a converte de elucidativa para decorativa. Isto também acontece porque não reforça a ideia do texto que está próximo. Figura 9 - Apresentação de imagem no infográfico nº 5. Fonte: Universia.

A técnica predominante foi a ilustração 2D (n=10). Apenas um infográfico apresentou fotografia, ao passo que vídeo/animação apareceu em quase todos os interativos (n=3/5). É importante evidenciar que, mesmo acreditando-se que a animação seja um elemento facilitador, não deve tornar o material pesado e complexo, já que muitos indivíduos não possuem internet adequada para reprodução. Dessa forma, imagens estáticas ou animações simples podem ser uma solução.

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1.1. Natureza 1. Apresentação de imagens 1.2. Técnica de ilustração

Elucidativa

10

Decorativa

3

2D

10

3D

2

Manipulação de foto/vídeo Fotografia/vídeo/animação

Tabela 3 - Resultados da análise das variáveis de apresentação de imagens. Fonte: elaboração da autora.

Tabela 4 - Resultados da análise das variáveis de apresentação dos elementos de infografia. Fonte: elaboração da autora.

4

3.3.3.2. Variáveis de apresentação de elementos da infografia Todos apresentaram texto e fundo (n=10). Grande parte apresentou ícone (n=6) e desenho (n=5). Acredita-se que uma representação esquemática simplificada, como os ícones (teoricamente classificados como pictogramas), facilita a compreensão do conteúdo e, inclusive, já é utilizada em outros materiais para refugiados, embora estes não atendam os critérios de seleção desta amostra. As menores ocorrências foram de caixa (n=4) e adornos (n=2).

2.1. Ocorrência dos elementos

2. Apresentação dos elementos de infografia 2.2. Orientadores de leitura

Texto

10

Ícone

6

Adornos

2

Desenho

5

Caixa

4

Fundo

10

Linha

6

Números

4

Setas

1

Letras Indicador de etapas Bullets

2.3. Elementos enfáticos

Cor

8

Tamanho

5

Linhas

2

Caixa

2

Os orientadores de leitura foram pouco usados, sendo apenas números (n=4) e setas (n=1), e acredita-se que essa seja uma das deficiências dos materiais analisados, já que um infográfico deve apresentar os recursos adequados para a ocorrência de uma leitura satisfatória. A cor (n=8) foi a principal forma de enfatização e, na sequência, tamanho (n=5). Estes são elementos que não devem ser utilizados de forma arbitrária, sendo a melhor saída

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Projeto

Figura 10 - Apresentação de elementos de infografia no infográfico nº 5. Fonte: Universia.

o desenvolvimento de diretrizes de uso durante a fase de conceituação. A figura abaixo é um exemplo em que a apresentação dos elementos de infografia é penosa. O infográfico possui uma paleta de cores muito limitada. Desse modo, o vermelho é usado tanto para destaque quanto para enfeite. Isso dá a impressão de que um elemento remete ao outro, o que não pode acontecer, visto que eles têm qualidades diferentes — orientação de leitura, enfatização e decoração. Em um material com carga informativa muito maior, isso pode se tornar um problema que afeta a apreensão do conteúdo.

3.3.3.3. Variáveis de retórica visual

Tabela 5 - Resultados da análise das variáveis de retórica visual. Fonte: elaboração da autora.

3. Retórica visual

A maioria apresentou figuras de linguagem, tanto a metáfora (n=7) quanto a metonímia (n=6). Mesmo que os elementos metafóricos estejam em 70% dos infográficos, é ponto que deve ser considerado com muito cuidado, pois nem sempre uma ideia pode funcionar em outras culturas e/ou línguas.

3.1. Figuras de linguagem

Metonímia

6

Metáfora

7

Exemplos de uso das figuras de linguagem podem ser visualizadas a seguir (figura 11). A hipérbole não foi considerada na análise, mas pode ser utilizada, já que é um exagero de função enfática.

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Guia da mulher refugiada

Figura 11 - Uso das figuras de linguagem nos infográficos nº 2 e 10. Fonte: Juros Baixos e UN Women.

Figura 12 - Apresentação do texto no infográfico nº 10. Fonte: Inequality Is.

Tabela 6 - Resultados da análise das variáveis de apresentação de texto. Fonte: elaboração da autora.

4. Apresentação do texto

3.3.3.4. Variáveis de apresentação do texto Todos possuíam título (n=10) e legenda (n=10), mas o rótulo foi colocado em poucos infográficos e deve ser considerado conforme o conteúdo textual. Uma apresentação interessante desses elementos é a da figura abaixo. As subseções são rotuladas e a partir da interação do cursor do mouse com a imagem surge legenda contendo breve explicação sobre o assunto. Ao clicar, os objetos se afastam e se tem acesso ao conteúdo completo.

Tamanho (n=10), cor (n=9), variação tipográfica (n=8) e peso tipográfico (n=7) são os elementos enfáticos predominantes. Acredita-se que esses são os principais elementos a serem trazidos para o projeto. Podem destacar ações e nomes ou expressões que não podem ser traduzidos, separar seções, dentre outras funções, sem ter que adicionar uma imagem referente ao descrito, por exemplo.

4.1. Componentes

Título

10

Subtítulo

4

Rótulo

4

Legenda

10

Número

3

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Projeto

4. Apresentação do texto

4.2. Elementos enfáticos

Variação tipográfica

8

Cor

9

Tamanho

10

Peso tipográfico

7

Caixa

2

3.3.3.5. Variáveis de apresentação de interação Só foram observadas nos infográficos de número 6 a 10 da análise, desta forma a quantidade total é 5. A maioria apresentou interação na imagem (n=4) ou no texto (n=4), sendo ambos válidos e dependentes do contexto e conteúdo. Os controles de conteúdo (n=5) foram amplamente utilizados, assim como os objetos sensíveis (n=5).

5.1. Ocorrência de interação

5. Apresentação da interação 5.2. Elementos de interação

Tabela 7 - Resultados da análise das variáveis de apresentação da interação. Fonte: elaboração da autora.

Figura 13 - Controles de conteúdo e objetos sensíveis com interação nas ilustrações do infográfico nº 6. Fonte: UN Women.

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Texto

4

Imagem

4

Controles de narrativa

2

Controles de conteúdo

5

Controle de andamento

1

Controles de zoom

1

Barras de rolagem

4

Objetos sensíveis

5

É possível observar na figura abaixo o uso desses elementos de forma associada, em que os controles são apresentados conjuntamente com uma ilustração, uma boa forma de reforçar os assuntos e a divisão das seções, e há mudança de cor e posição a partir do mouse hover. Os controles de narrativa (n=2) podem ser uma alternativa para facilitar a navegação dos usuários.


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3.3.4. Requisitos obtidos A partir desta discussão, é possível resgatar e reformular algumas tendências de representação visual, que poderão servir como requisitos no desenvolvimento deste projeto. Dessa forma, o infográfico deve: • Usar, preferencialmente, imagens de forma elucidativa, pois reforçam uma mensagem sem aumentar a carga informativa do material; • Utilizar ilustrações que representem uma única ideia, ação ou conceito, buscando a baixa complexidade; • Utilizar imagens estáticas ou animações simples como solução para internet deficiente; • Utilizar ícones, pois facilitam a compreensão do conteúdo; • Considerar orientadores de leitura na disposição de elementos textuais; • Utilizar cor, tamanho e outros elementos enfáticos de infografia de forma intencional, conforme indicações prévias à etapa de projeto; • Utilizar cor, tamanho, variação e peso tipográfico para enfatizar os elementos textuais necessários; • Dispor legenda e rótulo em conjunto para representação de seções, subseções e afins, ou com os elementos de interação; • Apresentar controles de narrativa e de conteúdo para facilitar a navegação do usuário, assim como objetos clicáveis.

3.4. Proposta A segunda parte da terceira etapa auxilia a execução do projeto com requisitos e conceito embasados pelas pesquisas realizadas até então. Aqui, foi possível realizar alguns ajustes no que havia sido proposto até a qualificação, já que o processo é iterativo.

3.4.1. Sumarização dos requisitos Os pontos a seguir são um apanhado dos requisitos obtidos a partir da análise gráfica de similares e da pesquisa com o público, alinhados entre si e com a literatura, visando a harmonia e a coerência das ideias para o projeto. São os requisitos finais e que de fato guiarão o desenvolvimento do infográfico. Primeiro, o material deverá compilar informações diversas, abordando temas que foram tidos como difíceis de encontrar pelos respondentes na etapa de compreensão dos usuários. Na intenção de combater a explo-

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Projeto

ração laboral, a violência, o abuso, entre outras desumanidades, é importante que sempre seja evidenciado o que for específico para mulheres. Para isso, serão abordadas questões sobre direitos e deveres (que menciona documentação, acesso à saúde e violência e outros pontos abordados na pesquisa com refugiados, mas que não serão colocados como seções do material), moradia, finanças, educação e trabalho, considerando as respostas do questionário nº 2 como informações complementares. Pensando no público e nas diferenças culturais e linguísticas, é coerente que representações visuais simbolizem uma única ideia, ação ou conceito. Com essas e outras necessidades em mente, o infográfico deve: • Ser digital e projetado para o formato mobile, podendo ser adaptado para o desktop, posteriormente; • Focar nas mulheres refugiadas; • Compilar informações sobre os temas: direitos e deveres, moradia, finanças, educação e trabalho; • Apresentar linguagem direta, pessoal, clara e objetiva; • Apresentar representações visuais, preferencialmente, de forma elucidativa, considerando aspectos culturais do público durante o desenvolvimento; • Conter imagens estáticas ou animações simples, dando preferência ao uso de ícones; • Empregar orientadores de leitura e elementos enfáticos como cor e tamanho; • Utilizar cor, tamanho, variação e peso tipográfico para enfatizar os elementos textuais necessários. • Utilizar rótulos em conjunto com ícones para representação de seções, subseções e afins, além de elementos de interação; • Apresentar controles de narrativa e conteúdo para facilitar a navegação do usuário, assim como objetos clicáveis.

3.4.2. Conceituação Este trabalho propõe o desenvolvimento de um infográfico interativo para mulheres refugiadas no Brasil, com o objetivo não apenas de informar, mas, empoderar através do acesso à informação. Para isso, reúne vários assuntos, criando um núcleo de informações para que as usuárias não precisem despender de tempo e energia com várias pesquisas para esclarecer suas dúvidas. Além disso, aborda questões que as conscientizam, que promovem a autonomia e possibilitam que elas tenham papéis mais ativos na sociedade. Dessa forma, é um infográfico que transforma conteúdos complexos em uma visualização da informação eficiente. A intenção é que ele seja

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Guia da mulher refugiada

compartilhado nas redes de apoio dessas mulheres e fique sempre à disposição delas, podendo ser consultado em casa, na rua, no trabalho, ou seja, em qualquer momento e em qualquer lugar. Inicialmente, esperava-se tirar a estratégia para a proposta projetual de características do público, como aspectos culturais, vestimenta, culinária. No entanto, percebeu-se que quando falamos sobre mulheres refugiadas, mesmo considerando o menor dos recortes, é quase impossível obter ideias que não sejam superficiais ou estereotipadas. São culturas, vivências e pessoas muito diferentes para um projeto que não almeja apenas um “tipo” de mulher. Tendo isso em mente, foi pensado no que se gostaria que o material alcançasse ou passasse, também resgatando o problema inicial do TCC, para obter os conceitos da proposta do projeto. A primeira palavra escolhida foi "acolher" — pensando no próprio significado de refúgio, no ver, proteger, considerar e amparar. Aqui, a ONU e seus órgãos tiveram bastante importância.

Figura 14 - Painel semântico do conceito acolher. Fonte: montagem da autora (imagens retiradas do Google, Pinterest e Behance).

A segunda palavra foi "empoderar", que coloca em perspectiva o equilíbrio entre desigualdades, voz aos marginalizados e protagonismo feminino. Nesse sentido, projetos sobre o Dia Internacional da Mulher e produtos voltados para mulheres foram os mais relevantes. Alguns dos termos que ajudam a entender os conceitos e também auxiliaram na pesquisa para a criação dos painéis semânticos também podem ser vistos nas figuras 14 e 15.

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Projeto

Figura 15 - Painel semântico do conceito empoderar. Fonte: montagem da autora (imagens retiradas do Google, Pinterest e Behance).

Figura 16 - Paleta de cores do projeto. Fonte: elaboração da autora.

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Com a criação dos painéis, foram identificadas algumas cores presentes nas imagens e para a escolha das que iriam compor o projeto, foi considerada a predominância de tons. O primeiro painel apresenta vários tons de azul mais esverdeados e o segundo, de salmão. A partir disso, as duas cores escolhidas foram ajustados para obtenção de uma paleta mais completa para o desenvolvimento do infográfico. Os tons de cinza servem como complemento e serão usados na tipografia e em elementos secundários.


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3.5. Concepção Com os requisitos já aprovados, deu-se início ao desenvolvimento de fato do material. Aqui, é definido a forma como o conteúdo será moldado, a hierarquia as informações, a aplicação do que foi aprendido, entre outros. Todas as escolhas, desde o início do trabalho, mas especialmente a parte projetual, foram pautadas nas orientações, e, desta forma, foi possível criar diferentes versões do infográfico, buscando um material mais afinado e condizente com as necessidades do trabalho.

3.5.1. Atributos projetuais A fonte escolhida para os títulos e subtítulos foi a Solway10, pois a serifa slab com cantos suaves e arredondados evoca um caráter amigável e acolhedor aos tipos, trazendo um dos conceitos do projeto também para a tipografia. A fonte para os rótulos, legendas e outros textos é a Noto Sans11, que foi desenvolvida tendo a leiturabilidade e a legibilidade como preocupações, além de ser otimizada para telas.

Figura 17 - Tipografia do projeto. Fonte: elaboração da autora.

Para os ícones, foi escolhido o estilo flat para simplificar as representações visuais, também considerando as habilidades de ilustração da aluna. Essas ilustrações foram desenvolvidas de forma mais orgânica que geométrica, como a referência abaixo, porque um estilo de ilustração manual e livre se relaciona fortemente ao conceito de acolher, aproximando o material da usuária.

10  Criada por Mariya V. Pigoulevskaya disponível sob a licença Open Font License. GOOGLE FONTS. Solway.https://fonts.google.com/. [201-?]. Disponível em: https:// fonts.google.com/specimen/Solway. Acesso em: jun, 2020. 11  Desenvolvida pelo Google e disponível sob a lincença SIL Open Font License. GOOGLE. Google Noto Fonts.https://www.google.com/. [201-?]. Disponível em: https://www.google.com/get/noto/. Acesso em: jun, 2020.

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Projeto

Figura 18 - Referência de estilo para as representações visuais. Fonte: Kirk Wallace/Behance.

A criação do layout teve como ponto de partida um brainstorming que buscou identificar aspectos comuns entre os refugiados. As ideias que emergiram nesta etapa ajudaram a construir a metáfora base do infográfico. Alguns termos registrados foram viagem, passaporte, avião, barco, mundo, fronteira, destino, futuro e, o escolhido, caminho. Esse conceito representa tanto o percurso físico que eles fazem, do país de origem ao país de destino, quanto a jornada contra as várias adversidades, sempre em direção a uma vida melhor.

Figura 19 - Opções de layout. Fonte: elaboração da autora.

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Com isso em mente, duas opções foram desenvolvidas: uma na horizontal, em que uma ilustração contextual seria utilizada, e outra na vertical, em que predominaria o uso de elementos esquemáticos (figura 19). A primeira foi preferida, pois uma solução mais pictórica diminui a carga cognitiva do material e também segue, principalmente, a tendência sobre apresentação das imagens, vista na etapa Análise. Além disso, possibilita uma fácil adaptação para a versão desktop, já que têm a mesma orientação.


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Outro ponto importante é a disposição das abas. Enquanto na primeira elas estão uma ao lado da outra, na segunda opção, por falta de espaço horizontal, elas precisaram ser “empilhadas”. Isso poderia dificultar o toque nas abas, já que elas ficam muito próximas. Para solucionar este problema, seria necessário aumentar consideravelmente a altura delas, mas desta forma ocupariam grande parte da tela, espremendo o restante do conteúdo. Por fim, a orientação horizontal possibilita a visualização de mais elementos na tela, evitando que seja necessário deslizar muito para ver o que está “escondido”. No entanto, a alternativa 1 tinha alguns problemas. Os elementos não estavam bem integrados e a linguagem de aplicativo era muito forte. Logo, foi necessário refinar o uso da metáfora e, com as orientações, chegou-se em uma proposta mais elaborada para a apresentação do infográfico, que se apropria de elementos de mapas, como a base cartográfica, a rosa dos ventos e o ponto localizador. A seguir, será apresentado o infográfico mostrado na etapa de Qualificação e o utilizado nos testes com as usuárias.

3.5.2. Primeira versão do infográfico Figura 20 - Tela inicial da primeira versão do infográfico, apresentado na qualificação. Fonte: elaboração da autora.

A tela inicial continha o título e o subtítulo, que identificam o que é o material, um botão para iniciar a navegação, a rosa dos ventos e as abas (figura 20).

O infográfico foi dividido em 6 seções, seguindo os requisitos projetuais, que podiam ser acessadas com o toque nas abas, dispostas na parte inferior. Um ponto localizador ficava em cima da aba atual, que também mudava de aparência quando selecionada (figura 21). Além disso, a ideia era que o fundo mudasse conforme

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Projeto

Figura 21 - Navegação pelo infográfico. Fonte: elaboração da autora.

a usuária navegava de uma para a outra, gerando disposições mais dinâmicas. O centro de Curitiba foi utilizado como base para criação do fundos.

Figura 22 - Tela da aba Direitos. Fonte: elaboração da autora.

As ilustrações seriam encaixadas dentro do formato das quadras, com as adaptações necessárias para isso funcionar (figura 22). Ícones do site Flaticon foram utilizados para marcação e compreensão das ideias, para que mais tarde a autora fizesse a inserção das ilustrações.

Para visualizar todos os tópicos, era necessário deslizar a tela e tocá-los para acessar o conteúdo, que se apresentava como uma legenda ligada ao ícone por uma linha tracejada (figura 23), que também foi usada em conjunto com o fundo para conectar as ilustrações, integrando os elementos e reforçando a ideia de caminho.

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Figura 23 - Tela da apresentação da legenda. Fonte: elaboração da autora.

Figura 24 - Tela da apresentação da informação complementar. Fonte: elaboração da autora.

Um ícone ficava próximo aos tópicos que necessitassem informar a usuária de que ali havia uma informação adicional que é importante (figura 24). Por ser uma camada informacional diferente, não teria o mesmo formato das legendas dos tópicos principais. Alguns tópicos apresentam a possibilidade de ler mais informações sobre o assunto clicando no ponto de exclamação (figura 24).

Por fim, o intuito da rosa dos ventos é de guiar a usuária para informações complementares ao infográfico. Ou seja, informações que podem ser de interesse dela, mas devem estar disponíveis para consulta a qualquer momento (telefones de emergência) ou que não se encaixam nos tópicos apresentados no material (projetos e ações para refugiados) (figura 25).

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Projeto

Figura 25 - Tela da apresentação da rosa dos ventos. Fonte: elaboração da autora.

Após a qualificação do trabalho, acompanhados por orientações, foram feitos ajustes no projeto para obtenção da versão 2 do material, mais adequada para utilização no teste com as usuárias previsto para a quinta etapa. A seguir, é possível entender quais foram os pontos ajustados.

3.5.3. Segunda versão do infográfico

Figura 26 - Telas da abas “Direitos” e “Educação”. Fonte: elaboração da autora.

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Logo após a qualificação, foi feita a primeira mudança no projeto: a adição de mais uma cor à paleta, como mencionado na Conceituação. Depois, ao longo das orientações semanais, foi possível melhorar mais elementos. Foram designadas cores diferentes para as abas, assim potencializando a distinção visual entre elas, que apresentam dois tipos de informação: direitos gerais (Direitos e Deveres) e orientações práticas (Moradia, Trabalho, Finanças e Educação). O conteúdo de cada aba segue a sua cor, ou seja, os pontos localizadores e as linhas pontilhadas ficam em vermelho ou azul. Os elementos secundários, como a rosa dos ventos, o fundo e os pontos de exclamação, ficam nos tons de amarelo (figura 26).


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Figura 27 - Tela inicial da segunda versão do infográfico. Fonte: elaboração da autora; fotos originais de Jorge Salvador, Eye for Ebony e Fahmi Riyadi/Unsplash

Ademais, foi preciso desenvolver uma tela inicial mais atrativa graficamente. Para isso, algumas fotografias de mulheres, que pudessem representar origens diferentes, foram estilizadas e colocadas junto ao título, subtítulo e botão de iniciar (figura 27). A intenção do uso dessas imagens é fazer as usuárias se verem no material, aproximando-o delas.

Outra mudança foi a substituição das ilustrações que ficavam no mapa por pontos de localização, pois, considerando a quantidade de conteúdo que já estava presente no infográfico, não seria possível desenvolver todas dentro do cronograma do TCC. Além disso, é mais simples de replicar os pontos do que desenvolver mais ilustrações, caso o material seja expandido. Sendo assim, ainda seguindo os requisitos projetuais, os ícones foram realocadas para as abas, passando a representar as “seções” do infográfico e não os tópicos (figura 28).

Figura 28 - Ícones nas abas, com “Moradia” selecionado. Fonte: elaboração da autora.

Por fim, todas as seis abas foram desenvolvidas (figura 29). Entretanto, para o teste com as usuárias, apenas os tópicos “Expulsão” (em Direitos), “Admissão Universitária” (em Educação) e “Telefones de Emergência” (na rosa dos ventos) continham o conteúdo definitivo. No restante, o texto padrão “Lorem Ipsum” foi utilizado para preenchimento dos espaços, simulando um conteúdo real, o que agilizou bastante o processo de criação do protótipo.

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Projeto

Figura 29 - Telas das abas “Deveres”, “Moradia”, “Finanças”, “Trabalho” e “Educação”. Fonte: elaboração da autora.

3.6. Avaliação O intuito da quinta etapa, de avaliação, é conversar com as usuárias e tentar compreender se os objetivos do infográfico foram cumpridos. Nesse sentido, é importante buscar avaliar a usabilidade, o entendimento das usuárias sobre as tarefas e possíveis pontos críticos do material, entre outros.

3.6.1. Teste com usuárias Em primeiro lugar, é necessário fazer algumas considerações sobre os testes. Originalmente, essa parte do projeto seria realizada com visitas às aulas, atividades e ações da UFPR das quais imigrantes e refugiados participam. Com a pandemia de coronavírus, o distanciamento social e a suspensão dessas atividades, foi necessário adaptar essa etapa para uma testagem remota, como será comentado adiante. Sendo assim, é importante ressaltar as dificuldades enfrentadas aqui. Por mais que essas mulheres tenham acesso à internet, ela é limitada, impossibilitando, por exemplo, a realização de vídeos, o que possivelmente poderia ser realizado com outro tipo de público.

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Além disso, pelas diferenças culturais e domínio da língua portuguesa, algumas não se sentem confortáveis em realizar uma chamada, mesmo que apenas de áudio, para responder às perguntas. Diante disso, foi feita uma entrevista pós-tarefa por mensagens, procedimento que também será explicado posteriormente. Dessa forma, aferiu-se apenas a percepção da usabilidade e do entendimento das mulheres sobre o material, já que não houve observação do uso.

3.6.1.1. Participantes A pesquisa foi feita com mulheres imigrantes e alunas do projeto de extensão PBMIH da UFPR. Foi feito contato com seis no total: uma não chegou a ver a mensagem, pois o celular havia sido furtado; uma não iniciou o teste; uma respondeu metade; uma, quase todas as perguntas; e duas completaram o teste. O número baixo de respostas se deve, principalmente, pela especificidade do perfil das respondentes. Embora não precisassem ser refugiadas, deveriam, ao menos, ser mulheres imigrantes no Brasil. Ademais, como era troca de mensagens, as entrevistas demoravam muito, levando até dias, porque as respostas não eram imediatas. É possível, também, que a entrevista fosse muito longa para as participantes, fazendo com que elas desistissem de responder. Além disso, é preciso considerar aspectos da vida particular das respondentes. A pandemia não afetou apenas a pesquisa de TCC, mas também o dia a dia destas mulheres. Ou seja, às dificuldades pelas quais passavam em razão da condição de imigrante se somaram desemprego, dificuldades financeiras, preocupações com a saúde e muito mais. Este pode ser um dos motivos para os problemas com as respostas. Com as dificuldades mencionadas e também devido à necessidade de cumprir o calendário de TCC, o número de respostas ficou abaixo do inicialmente esperado. Tentando compensar este fato, foi postado um convite para participação na pesquisa em grupos do Facebook com a temática de migração e refúgio, mas apenas uma mulher, que não se encaixava no perfil de respondente, se voluntariou.

3.6.1.2. Material Para aferir a usabilidade e compreensão do material, foi desenvolvido um protótipo da segunda versão do infográfico com auxílio da ferramenta Adobe XD, que está disponível em https://adobe. ly/2Su6RmZ. A ideia era possibilitar que a usuária interagisse livremente com o material, então o protótipo apresenta abas e objetos clicáveis ativos. O protocolo utilizado foi baseado em um documento (Anexo 5)

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disponibilizado pelo Laboratório de Design de Sistemas de Informação UFPR (LabDSI) durante a disciplina de Infografia ministrada pela Profª Drª Carla Galvão Spinillo. As adaptações feitas consideraram o público e o meio em que a entrevista seria feita. O protocolo se divide, essencialmente, em três partes. A primeira diz respeito aos dados sobre as participantes e alguns aspectos que podem interferir na compreensão do material: nacionalidade, faixa etária, nível de escolaridade e conhecimento do Português escrito (Básico, se entende pouco, traduz sempre/quase sempre; Intermediário, se entende bastante, traduz às vezes; e Avançado, se entende muito, traduz nunca/quase nunca).

Figura 30 - Tópico “Admissão universitária”. Fonte: elaboração da autora.

A segunda tinha a intenção de entender a receptividade, usabilidade e compreensão dos elementos e do infográfico de forma geral. Em primeiro lugar, foi pedido que as participantes explicassem o que era o material, para medir o entendimento do que se tratava. Depois, que acessassem a aba “Educação”, dissessem o que viram na página, e então acessassem “Admissão universitária” (figura 30) e informassem, de 1 a 5, o grau de dificuldade para localizar o serviço em questão, de forma a compreender como era a navegação a partir de um comando. Já para descobrir como seria o entendimento da rosa dos ventos, foi perguntado se elas poderiam dizer onde ficavam os telefones de emergência, o primeiro tópico dentro deste item (figura 31). Se a resposta fosse “sim”, ela deveria informar onde os localizou. Em caso de resposta negativa, era perguntado onde o ícone deveria estar, idealmente.

Figura 31 - Tópicos da Rosa dos ventos. Fonte: elaboração da autora.

No primeiro teste, foi perguntado à participante onde ficavam as informações que mereciam mais atenção para entender se as usuárias compreendiam os pontos de exclamação. No entanto, a questão foi mal interpretada, o que demandou uma reformulação para uma frase mais direta, indagando o que elas achavam que os pontos de exclamação indicavam. A nova pergunta também foi feita à participante do primeiro teste.

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Além disso, foi perguntado se havia algo que dificultava a compreensão do material; quanto, de 1 a 5, ele ajuda ou atrapalha a entender o conteúdo; se outras pessoas teriam facilidade ou dificuldade para entender; e o que poderia ser melhorado. Foi avaliado, também, o grau de concordância com 10 frases sobre: • A impressão geral sobre a infográfico: • Achei o material complicado à primeira vista; • Achei os elementos simples e fáceis de entender; • Fiquei satisfeita com a experiência de ver o material. • Ao conteúdo: • Achei que a apresentação do conteúdo faz sentido; • Achei a relação entre os desenhos e os textos fácil de entender; • Achei o conteúdo do material confuso. • A organização das informações: • Achei a quantidade de informações adequada; • Fiquei confusa com a ordem das informações. • A interação: • Achei fácil de entender o que podia fazer no material; • Achei que as interações fazem sentido.

Figura 32 - Ícones nas abas. Fonte: elaboração da autora.

Por fim, a terceira parte serviu para verificar o nível de representatividade dos ícones utilizados nas abas (figura 32) e de outras representações visuais, como o ponto de exclamação (figura 33) e a rosa dos ventos (figura 34). Foram enviadas as imagens desses elementos e seus respectivos significados no material para realizar a aferição.

Figura 33 - Ponto de exclamação. Fonte: elaboração da autora.

Figura 34 - Rosa dos ventos. Fonte: elaboração da autora.

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Projeto

O protocolo completo pode ser conferido no APÊNDICE D. A seguir, será apresentado como o teste foi aplicado e, logo depois, os resultados obtidos.

3.6.1.3. Procedimentos A solução encontrada para aplicação do teste foi usar o aplicativo WhatsApp para realizar as entrevistas. Sendo assim, elas foram feitas por mensagem, tanto as perguntas quanto as respostas. Primeiro, entrou-se em contato com as mulheres imigrantes, foi explicado o que estava sendo feito e perguntado se elas gostariam de participar da pesquisa. Quando elas confirmaram o interesse em participar, foi elucidado que seria enviado um link no qual elas deveriam entrar e, depois de usar o material, deveriam responder algumas perguntas. Foi ressaltado, também, que não havia resposta certa nem errada e que elas poderiam ser sinceras. A ideia era deixá-las confortáveis e clarificar que não elas que estavam sendo testadas, mas o material. Conforme elas respondiam, preenchia-se um formulário feito para armazenar as respostas, facilitando a visualização dos resultados posteriormente. Caso a participante não respondesse o que havia sido pedido, a questão era reformulada e enviada novamente. Se, ainda assim, houvesse dificuldade, a pergunta era traduzida pelo Google Tradutor para a língua materna daquela mulher, buscando facilitar ao máximo sua participação na pesquisa.

Figura 35 - Escala enviada com a pergunta “Quão difícil foi achar isso [Admissão universitária]?”. Fonte: elaboração da autora.

No caso das perguntas que demandavam uma resposta em escala de 1 a 5, foram enviadas imagens com essa escala linear para auxiliar as participantes. Desta forma, era mais simples de visualizar o que deveria ser feito. Na primeira parte da entrevista, a escala foi enviada para as perguntas “Quão difícil foi achar isso [Admissão universitária]?” (figura 35) e “Quanto o material ajuda ou atrapalha a compreensão do conteúdo?” (figura 36) .

Figura 36 - Escala enviada para aferir quanto o material ajuda ou atrapalha a compreensão do conteúdo. Fonte: elaboração da autora

Já na segunda parte, em que foram enviadas 10 frases, a escala era

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Figura 37 - Escala que acompanhou as 10 frases. Fonte: elaboração da autora.

parecidas às anteriores, mas foi medida a concordância ou discordância com as sentenças (figura 37).

Na última parte, que aferiu o entendimento das representações visuais, a escala linear foi colocada junto às ilustrações (figura 38). Esta imagem foi enviada com uma palavra para identificar se a participante achava que o desenho representava o termo. A escala usada foi de 1 (não representa) a 5 (representa muito) e, caso a resposta fosse 1 ou 2, seria perguntado o que a participante achava que poderia representar aquela palavra.

Figura 38 - Exemplos das representações enviadas com a escala linear. Fonte: elaboração da autora.

Por fim, em relação às respostas incompletas (quando as participantes deixavam de responder), foram feitas tentativas de continuação da entrevista. No entanto, as respondentes não demonstraram interesse.

3.6.1.5. Resultados As mulheres entrevistadas vieram do Haiti e da Venezuela. Possuem idade entre 18 e 51 anos, nível de escolaridade variando do Ensino Médio ao Superior e conhecimento básico ou intermediário do Português escrito. Elas entenderam que se trata de um material sobre benefícios para as mulheres migrantes em Curitiba, um guia para as mulheres refugiadas e um sobre deveres e direitos do imigrante. Uma das respondentes não explicou muito bem, possivelmente por ter nível básico do Português, além de ter sido necessário auxiliá-la a tocar no botão de play para visualizar o material.

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Todas conseguiram acessar a aba “Educação”, mas, as respostas sugeriram que elas entenderam que era sobre o processo de entrar na universidade, como se pode observar com as respostas “Educação me fala sobre a ajuda que posso obter para concluir os estudos universitários” e “Os processos para ir na universidade”. Isso pode indicar que os tópicos ligados pelas linhas pontilhadas foram interpretados como uma sequência de passos. Como esta não é a intenção, o adequado é retirá-las. Conseguiram, também, acessar “Admissão universitária” e acharam, no geral, muito fácil de realizar essa ação. Por outro lado, nenhuma das participantes achou os telefones de emergência (figura 39). Isso mostra que um baixo nível de compreensão da rosa dos ventos. Três informaram que achavam que eles deveriam ficar em “Direitos” e uma em “Educação”. Dessa forma, será necessário reformular a rosa dos ventos ou redistribuir as informações englobadas por ela.

Figura 39 - Respostas da pergunta “Pode me dizer onde ficam os telefones de emergência?. Fonte: elaboração da autora.

Em relação aos pontos de exclamação, houve interpretações bastante diversas: acreditaram que representam atenção, informações em inglês, a possibilidade de poder fazer ou não as coisas e um pedido ou obrigação. Sendo assim, uma boa alternativa para melhorar a compreensão deles é organizá-los de outra maneira, como dentro de cada tópico em vez de ao lado, ou com um rótulo. Elas não mencionaram nada que havia dificultado a compreensão do material, com exceção de uma respondente que citou os pontos de exclamação, pois ela não tinha certeza de que sua resposta anterior estava correta. Todas acharam que o infográfico ajuda muito a entender o conteúdo, porque, segundo elas, é um material fácil que ajuda de forma rápida, auxilia a pessoa que chega no país e não sabe por onde começar, pelas informações e por mostrar o caminho que a mulher refugiada deve percorrer.

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Em relação às 10 frases enviadas (figura 40), duas respondentes discordaram totalmente que o material parecia complicado à primeira vista, uma não concordou nem discordou e uma concordou totalmente. Todas acharam os elementos simples e fáceis de entender, que a apresentação do conteúdo faz sentido e ficaram satisfeitas com a experiência de ver o material. Três delas acharam a relação entre os textos e os desenhos fácil de entender, ao passo que uma não achou. Essa proporção foi a mesma quando perguntadas se acharam o conteúdo do material confuso: 3 discordaram totalmente e uma concordou totalmente. Todas acharam a quantidade de informações adequada e nenhuma ficou confusa com a ordem delas. A maioria concordou totalmente que achou fácil de entender o que podia fazer no material e apenas uma não concordou nem discordou. Quando perguntadas se as interações faziam sentido, uma concordou com a frase e 3 concordaram totalmente.

Gráfico 10 - Respostas da pergunta “De 1 a 5, em que 1 significa que você ‘discorda totalmente’ e 5 que você ‘concorda totalmente’:..”. Fonte: elaboração da autora.

Segundo duas entrevistadas, outras pessoas poderiam ter dificuldade para entender o material porque “nem todo mundo pensa da mesma maneira” e por causa da língua, já que o material está em Português, que é muito similar ao Espanhol (a respondente é venezuelana), mas outros idiomas são bem diferentes. Como a intenção do projeto é que o material seja disponibilizado em várias línguas, o que ela mencionou não é tão problemático no momento. O restante acha que outras pessoas teriam facilidade, pois é fácil de acessar e por falar “[d]a vida até a [...] universidade”. Não houve

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sugestões relevantes para melhorar o infográfico, salvo a usuário que disse para incluir os telefones de cada item, que, se houver, fica disponível dentro do elemento “Atenção!”.

Figura 40 - Ícone de “Deveres”, que teve um desempenho neutro. Fonte: elaboração da autora.

Metade das perguntas da última parte da entrevista teve uma resposta a menos e metade teve apenas duas. As questões serão identificadas adiante. Duas acharam que o ícone usado para “Direitos” representava bem a palavra. Uma achou que não representa, pois parece luta/resistência, e uma mão totalmente aberta representaria melhor. O de “Deveres” (figura 41) teve um desempenho mediano, já que uma achou que não representa o termo, uma teve opinião neutra e outra achou que representa muito. A sugestão foi de utilizar "uma pessoa com sonrriso (sorriso) e atitude positiva”, como se estivesse aceitando os imigrantes. O melhor desempenho foi o do ícone de “Moradia” (figura 42), pois todas acreditaram que representa muito a palavra. Apenas duas disseram que o de “Finanças” representa bem e uma que representava pouco, e seria melhor se tivesse algum elemento financeiro com uma pessoa, como o empregador dando o dinheiro para ela.

Figura 41 - Ícone de “Moradia”, que teve o melhor desempenho. Fonte: elaboração da autora.

O restante das perguntas foi respondido por apenas duas das participantes. Tanto “Trabalho” quanto “Educação” e “Atenção” foram visto como bem representados por ambas. Já quanto ao ícone de "Informações", uma colocou como indiferente e outra que representa muito, o que é surpreendente, já que nenhuma achou os telefones de emergência que estão dentro da rosa dos ventos. Por conta do número baixo de respostas e como nenhum ícone teve interpretação inteiramente problemática, além de as participantes não terem mencionado nada em relação à eles em outros momentos, não achou-se necessário fazer alterações nesta parte do material na próxima etapa. A partir desses resultados, percebe-se que o material foi bem recebido e que, no geral, as respondentes conseguiram usá-lo. Mesmo com poucas respostas, foi possível entender e afirmar quais são os pontos fracos do infográfico e quais seriam as dificuldade de futuras usuá-

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rias. Ainda assim, um desdobramento imprescindível para o sucesso do projeto seria uma segunda aplicação do teste, de preferência com observação do uso e com um número maior de participantes.

3.6.2. Ajustes a serem realizados As alterações que devem ser feitas no infográfico possibilitarão que ele se torne um material mais refinado e que faça sentido para o público que deverá utilizá-lo. Com base nos resultados do tópico anterior e comentários das participantes, compreendeu-se, principalmente, que alguns dos pontos críticos do material são a rosa dos ventos, os pontos de exclamação e as linhas pontilhadas. Desta forma, os ajustes, não desconsiderando adaptações necessárias, devem incluir: • Reformulação da rosa dos ventos, tornando-a mais identificável como objeto clicável, ou redistribuição de seus tópicos, a depender do que for mais adequado; • Retirada das linhas pontilhadas, considerando possível redistribuição dos pontos localizadores nas telas a fim de obter melhor aproveitamento do espaço; • Adição de rótulo no botão da tela inicial para facilitar a compreensão inicial do material e do que é possível fazer de forma mais imediata; • Remanejamento dos pontos de exclamação de forma a melhorar a interpretação deles e do que devem conter; • Adição de um elemento que indique a possibilidade de definição de preferências, que englobe a troca de idioma.

3.7. Refinamento e versão final A partir dos resultados obtidos através dos testes, na sexta e última etapa se busca otimizar o material, adequando-o às necessidades apresentadas pelas usuárias. Com os ajustes, chega-se à última versão do infográfico interativo, que será apresentado adiante.

3.7.1. Ajustes realizados Seguindo os requisitos obtidos na testagem com as usuárias, foram feitas alterações que geraram a versão final do infográfico. Em primeiro lugar, ao botão da tela inicial foi adicionado o rótulo “começar” para diminuir a carga cognitiva, simplificando a compreensão da tarefa que a usuária pode realizar naquele momento. Além disso, foi adicionado um botão de “Ajustes”, onde estão as preferências de idioma e acessibilidade, que também fica disponível no canto superior no restante das telas.

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A rosa dos ventos foi substituída por um ponto de interrogação (que chamarei de “Ajuda”, mesmo que não contenha um rótulo ou título no material), tornando mais evidente a natureza do conteúdo interno. Além disso, é um elemento mais familiar do que uma rosa dos ventos. Os tópicos que ficam dentro deste elemento tiveram a fonte trocada para parecerem mais com objetos clicáveis, além de as siglas “ACNUR”, “CONARE” e “ONGs” terem sido escritas por extenso para facilitar a interpretação. Ademais, foram retiradas, também, as linhas pontilhadas e feitos alguns ajustes de disposição dos tópicos nas telas. Já os pontos de exclamação, que indicavam uma informação importante acerca do assunto, foram trazidos para dentro da legenda do respectivo tópico e foi adicionado um rótulo à esse símbolo. Desta forma, as informações ficam mais agrupadas e mais fáceis de interpretar. Foi mantida a mesma estrutura do “Saiba mais”, mas foi adicionado um título ao topo para facilitar a localização da usuária no infográfico. Na versão final do infográfico, assim como no protótipo disponibilizado, todas as abas estão disponíveis e possuem um tópico com conteúdo definitivo (em “Direitos”, o tópico “Expulsão”; em “Deveres”, o tópico “Respeito às leis e pessoas”; em “Moradia”, o tópico Programas sociais”; em “Trabalho”, o tópico “Repouso e férias”; em “Finanças”, o tópico “Tarifas”; e em “Educação”, o tópico “Admissão universitária”). Para respeitar o cronograma do TCC, o restante dos tópicos, tanto os textos quanto o uso dos pontos de exclamação, foram simulados para possibilitar sua ativação no protótipo (o que também havia sido feito na etapa de teste com as usuárias) e facilitar a visualização de como será o material. Desta forma, no protótipo, é possível acessar todas as abas e tópicos livremente, assim como “Ajuda” e “Ajustes” em todas as telas, que são 70 no total. Por fim, além dos ajustes previstos na etapa anterior, também foi adicionado um tutorial ao material. Isto se deve à especificidade do público, às diferenças culturais e possíveis limitações que estas diferenças possam causar, dificultando o acesso. Sendo assim, é uma forma de preparar a usuária e otimizar sua experiência de uso. É dada a possibilidade de pular o tutorial, podendo ser acessado em “Ajuda”, e ele mostra as principais funcionalidades do guia.

3.7.2. Terceira e final versão do infográfico A seguir, é possível visualizar a última versão do material (figuras 44 a 63), depois do refinamento baseado nos resultados dos testes com as usuárias. O protótipo final pode ser acessado em https:// adobe.ly/3n5pB9C. A imagem abaixo é uma simulação de como seria o infográfico em um celular (figura 43).

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Figura 42 - Tela inicial em mockup. Fonte: elaboração da autora (mockup gratuito de Daniel Bolyhos).

Figura 43 - Tela inicial. Fonte: elaboração da autora.

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Figura 44 - Botão de “Ajustes” na tela inicial. Fonte: elaboração da autora.

Figura 45 - Tópicos dentro de “Ajuda” em “Moradia”. Fonte: elaboração da autora.

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Figura 46 - Telefones de emergência. Fonte: elaboração da autora.

Figura 47 - Aba “Direitos”. Fonte: elaboração da autora.

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Figura 48 - Exemplo de legenda em “Atenção” em “Direitos”. Fonte: elaboração da autora.

Figura 49 - “Saiba mais” sobre assistência jurídica gratuita. Fonte: elaboração da autora.

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Figura 50 - Aba “Deveres”. Fonte: elaboração da autora.

Figura 51 - Exemplo de legenda em “Deveres”. Fonte: elaboração da autora.

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Figura 52 - Aba “Moradia”. Fonte: elaboração da autora.

Figura 53 - Exemplo de legenda em “Moradia”. Fonte: elaboração da autora.

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Figura 54 - Aba “Trabalho”. Fonte: elaboração da autora.

Figura 55 - Exemplo de legenda com tópicos em “Trabalho”. Fonte: elaboração da autora.

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Figura 56 - Exemplo de tópico em legenda em “Trabalho”. Fonte: elaboração da autora.

Figura 57 - Aba “Finanças”. Fonte: elaboração da autora

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Figura 58 - Exemplo de legenda em “Finanças”. Fonte: elaboração da autora.

Figura 59 - Aba “Educação”. Fonte: elaboração da autora

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Figura 60 - Legenda de “Admissão universitária” em “Educação”. Fonte: elaboração da autora.

Figura 61 - “Atenção” em Admissão universitária”. Fonte: elaboração da autora.

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Figura 62 - Exemplo de simulação de conteúdo do tópico “Renda”. Fonte: elaboração da autora.

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Figura 63 - Telas do tutorial. Fonte: elaboração da autora.

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Conclusão

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© UNHCR/Andrew McConnell

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Rafaella Pereira Ferraro


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4. Conclusão

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Conclusão

O número de refugiados no mundo tem crescido nos últimos anos, e o Brasil é o país de destino para grande parte deles, conforme pontuado na Introdução. É possível afirmar que esse grupo, que se encontra nesta condição em razão de perseguição política, religiosa, por gênero, orientação sexual, ou outros, está em situação de vulnerabilidade social. Entretanto, as mulheres refugiadas são ainda mais suscetíveis à violência, ao abuso e à exploração. Dessa forma, é preciso desenvolver formas de estimular o empoderamento, a independência e a migração segura para elas. Neste trabalho, partiu-se do pressuposto de que o acesso à informação dá às mulheres refugiadas condição para que tomem decisões informadas em relação a suas vidas, direitos, papéis de gênero, relações de poder e situação atual e futura, entre outros, fazendo com que consigam validar os próprios interesses. Por esta razão, foi proposto o desenvolvimento de um infográfico digital interativo que aborda as mais diversas questões, de direitos básicos à orientações práticas específicas. É uma forma de empoderá-las dando-lhes mais autonomia, já que a partir do acesso à informação podem desempenhar papéis mais ativos em suas próprias vidas e na sociedade. Para auxiliar no acolhimento e no empoderamento das que encontram refúgio em Curitiba, o trabalho procurou entender a relação entre temas como migração, gênero e informação; estudar uma parte da comunidade de refugiados no país; mapear dificuldades, necessidades e/ou problemas pelos quais passam essas pessoas; e propor requisitos através do Design da Informação. A aluna acredita que estes objetivos foram alcançados satisfatoriamente. Na Fundamentação Teórica, foram abrangidos dois eixos temáticos. Um sobre Design, abordando assuntos de interesse à sociedade, o papel do design, além de aspectos sobre áreas que serviram de pilares para a parte projetual, como o Design da Informação e a Infografia. O outro eixo discorreu sobre os refugiados, desde questões históricas sobre a migração até o papel do acesso à informação na vida de mulheres refugiadas. Essa seção foi essencial para a etapa de compreensão do tema e o que ele significa para os potenciais usuários do infográfico. Na segunda etapa deste processo, adaptado do modelo de Simlinger (2007), foi possível compreender os usuários por meio de uma consulta. Em seguida, na terceira, em conjunto com a análise gráfica, foi possível obter os requisitos que nortearam a criação do material, que, com a conceituação, formaram a proposta dos atributos do projeto. Na etapa seguinte, o infográfico, que posteriormente seria usado na testagem da etapa cinco, foi elaborado. Com os resultados obtidos, o projeto pôde ser refinado de forma a se tornar um material mais adequado para uso, na sexta e última etapa.

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Acredita-se que este processo foi adequado para o trabalho, visto que contribuiu para o desenvolvimento de um projeto bem estruturado e bem fundamentado, possibilitando um desfecho positivo e relevante para o tema de pesquisa. É válido, ainda, mencionar dificuldades enfrentadas durante a realização deste TCC. Todas as adaptações exigidas pelo contexto pandêmico desafiaram, de alguma forma, a realização do trabalho. Porém, a validação do infográfico com as usuárias, foi, até o momento, o teste mais complexo feito pela aluna e muito significativo para seu desenvolvimento como pesquisadora e profissional. Em contrapartida, os comentários coletados mostraram grande satisfação com o material, o que denota que o infográfico seria realmente capaz de beneficiar as mulheres refugiadas — possibilidade que supera qualquer problema. Dessa forma, deseja-se que o infográfico desenvolvido neste trabalho se concretize, podendo ser utilizado por organizações e projetos que atuam junto aos refugiados em Curitiba. Por fim, independentemente da execução do projeto fora do âmbito acadêmico, espera-se que ele amadureça e se multiplique. Assim, os principais desdobramentos seriam a reaplicação do teste com usuárias; a adaptação para idiomas como o Inglês, Espanhol, Francês, Árabe e outros falados pelas mulheres refugiadas; estudos tipográficos para as línguas com alfabetos não latinos; adição de outros assuntos ao material, como saúde e mobilidade, e aviso sobre a utilização horizontal do infográfico na versão mobile; e inserção de informações para outras modalidades de migração, como a de imigrantes voluntários ou solicitantes de refúgio.

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Conclusão

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Referências

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Guia da mulher refugiada

Apêndice A

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Apêndices

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Guia da mulher refugiada

121


Apêndices

Apêndice B

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Guia da mulher refugiada

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Apêndices

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Guia da mulher refugiada

Apêndice C

1.1. Natureza

1. Apresentação de imagens

1.2. Técnica de ilustração

Elucidativa Decorativa

3. Retórica visual

3.1. Figuras de linguagem

Metáfora

2D

Título

3D

Subtítulo

Manipulação de foto/vídeo

4.1. Componen- Rótulo tes

Fotografia/vídeo/ animação Texto

Legenda 4. Apresentação do texto

Número Variação tipográfica

Ícone Adornos 2.1. Ocorrência dos elementos Desenho

4.2. Elementos enfáticos

Cor Tamanho

Caixa

Peso tipográfico

Fundo

Caixa

Linha

5.1. Ocorrência de interação

Números Setas 2. Apresentação dos elementos de infografia 2.2. Orientadores Letras de leitura Indicador de etapas Bullets

2.3. Elementos enfáticos

Metonímia

Texto Imagem Controles de narrativa

5. Apresentação da interação

Controles de conteúdo 5.2. Elementos de interação

Controles de andamento Controles de zoom

Cor

Barra de rolagem

Tamanho

Objetos sensíveis

Linhas Caixas

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Apêndices

Apêndice D

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Guia da mulher refugiada

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Apêndices

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Guia da mulher refugiada

Anexo 01 Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/wp-content/uploads/2018/02/Cartilha-para-Refugiados-no-Brasil_ACNUR-2014.pdf

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Anexos

Anexo 02 Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/wp-content/uploads/2019/04/Cartilha-ESPANHOL-PORTUGUES-MIOLO_V4-WEB.pdf#_ga=2.75971740.843277483.1590410564659963028.1590410564

130


Guia da mulher refugiada

Anexo 03 Disponível em: https://www.novo.justica.gov.br/news/cartilha-de-informacoes-financeiras-para-migrantes-e-refugiados

131


Anexos

Anexo 04 Disponível em: https://help.unhcr.org/brazil/

132


Guia da mulher refugiada

Anexo 05

Disciplina: Infografia

Carla G. Spinillo, Lais Sanseverino

Equipe: Tema: Conteúdo retirado de (fonte): Instruções para o pesquisador 1. Faça sua apresentação a/o participante: diga seu nome, que você é estudante de graduação em Design da UFPR e que está fazendo um trabalho da disciplina Infografia, para o qual gostaria de ter a colaboração da pessoa 2. Em seguida, explique que ela irá ver um infográfico sobre XXXXX e que após isto você irá fazer algumas perguntas para ver se o infográfico comunica bem a mensagem intencionada 3. Mostre o infográfico 4. Depois faça as perguntas do protocolo a seguir e anote as respostas no mesmo 5. Ao final agradeça a/o participante sua colaboração em seu trabalho ☺

Protocolo de teste de compreensão Participante Nº: ________ Sexo: ( ) M ( ) F

Faixa etária: ( ) 18-28 anos ( ) 29-39 anos ( ) 40-50 anos ( ) mais de 51 anos

Escolaridade: Ensino Fundamental [ ] Ensino Médio[ ] Completo [ ] Incompleto [ ]

Ensino Superior [ ]

1. Poderia me explicar o que está representado neste material? [ [ [ [

] Explicou corretamente ] Explicou parcialmente O quê: _________________________________________________________ ] Explicou errado. O quê: ______________________________________________________________ ] Não soube explicar

Para responder, o/a participante: [ ] Reviu todo material [ ] Consultou para checagem [ ] Não consultou 2. O que lhe ajudou a compreender? [ ] As imagens

[ ] O texto [ ] Ambos

3. Houve algo que considere ter dificultado a compreensão? [ ] Não

[ ] Sim. O quê? ___________________________________________________________

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Anexos

4. Em sua opinião, em uma escala de 1 a 5, o quanto este infográfico auxilia ou atrapalha a compreensão da mensagem, onde 1 = Atrapalha muito compreensão e 5 = Auxilia muito a compreensão. 1

Atrapalha muito a compreensão

2

3

Atrapalha a compreensão

Neutra

4

5

Auxilia a compreensão

Auxilia muito a compreensão

Por quê?

5. Por favor, indique o grau de concordância com as afirmações a seguir, em uma escala de 1 a 5 onde 1 = Discorda totalmente e 5 = Concorda totalmente.

1. Impressão geral sobre a infográfico Achei o infográfico complicado à primeira vista Achei as imagens simples e claras Fiquei satisfeito/a com a experiência de ver o infográfico 2. Conteúdo Achei a apresentação do conteúdo coerente Achei clara a relação entre o conteúdo das imagens e os textos/narrações explicativo/as Achei o conteúdo do infográfico confuso 3. Organização das informações Achei adequada a quantidade de informações Fiquei confuso/a com a sequência das informações

Discordo totalmente

1

2

3

4

5

Concordo totalmente

6. Em sua opinião o quanto você acha que outras pessoas teriam dificuldade/facilidade em compreender este infográfico, em uma escala de 1 a 5, onde 1 = Teriam muita dificuldade e 5 =Teriam muita facilidade 1

Muita dificuldade

2

Dificuldade

Neutro

3

4

Facilidade

Por quê?

7. Em sua opinião, o que poderia ser melhorado neste material para explicar o tema?

Obrigado/a por sua participação!

134

5

Muita facilidade


Como referenciar este trabalho: FERRARO, Rafaella Pereira. Guia da mulher refugiada: infográfico interativo sobre orientações para uma vida em Curitiba. 2020. 135f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Design Gráfico) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2020.



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