Aรงores
Faial
Azores
Fรกbrica da Baleia
Porto Pim
Whaling Station
Fรกbrica da Baleia de Porto Pim Whaling Station
Fotografia de Rodrigo Sรก da Bandeira
Textos de Mรกrcia Dutra Pinto
Fรกbrica da Baleia de Porto Pim Porto Pim Whaling Station Fotografia/Photography de Rodrigo Sรก da Bandeira Textos/Essay de Mรกrcia Dutra Pinto
FICHA TÉCNICA AUTORES/AUTHORS Márcia Dutra: © Texto/ Rodrigo Sá da Bandeira: © Fotografia TÍTULO/TITLE Fábrica da Baleia de Porto Pim EDIÇÃO/EDITION ©OMA - Observatório do Mar dos Açores DESIGN E PAGINAÇÃO Rodrigo Sá da Bandeira TRANSLATION TO ENGLISH Ruth Higgins IMPRESSÃO/PRINTED BY 1ª Edição Julho de 2008/1º Edition July 2008 Tiragem: 1000 exemplares Depósito legal: 279606/08 ISBN:978-989-95558-2-2
Dedicado a todos os que nesta fรกbrica trabalharam. Dedicated to all the whaling station workers
Os autores/About the authors: Márcia Dutra Pinto Natural de Viseu e residente na Cidade da Horta, é licenciada em Antropologia, com especialização em Gestão do Património e Acção Cultural, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (Universidade Técnica de Lisboa). Possui pós-graduação em Ciências da Documentação e Informação (variante Arquivo), pela Universidade dos Açores. Desde 2006 que trabalha no projecto de demografia histórica “História das Populações da Ilha do Faial” (Universidade do Minho, Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta e Câmara Municipal da Horta). Colaborou, em 2007, na elaboração da obra “Portugal Património” (sob a coordenação de Álvaro Duarte de Almeida e editada pelo Círculo de Leitores). Trabalha no OMA desde Maio de 2008. Márcia was born in Viseu and is currently living in Horta. She has a degree on Antropology and Management of Cultural Heritage, by the Universidade Técnica de Lisboa and has recently post graduated on Information and Documentation Sciences, by the Universidade dos Açores. Since 2006, she has been working on historical demography of the Azores, through the program “Population History of the Faial Island”. During 2007, Márcia worked on the book entitled “Portuguese Heritage,” edited by the Círculo de Leitores. She works at OMA since May 2008. Rodrigo Sá da Bandeira Nasceu em Moçambique em 1972. Fez o curso de Fotografia no Centro de Arte e Comunicação Visual (AR.CO) em 1994. Em 2001 frequentou a Washington School of Photography (EUA) , onde mais tarde a leccionou cursos de iniciação à fotografia e diversos workshops. Leccionou também na University of Maryland na área de laboratório a preto e branco. Durante a sua carreira trabalhou nas áreas de fotografia comercial e institucional.Vive actualmente no Faial. Rodrigo was born in Mozambique in 1972. He studied Photography at Centro de Arte e Comunicação Visual (AR.CO) in Lisbon. In 2001 he moved to the USA to study at the Washington School of Photography, where he later taught introductory photography courses and several workshops. He also taught black and white photography and darkroom techniques at the University of Maryland. During his career he worked as a freelance photographer for advertising, architecture and design companies. He lives in Faial since 2007.
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Prefácio O OMA – Observatório do Mar dos Açores, é uma associação sem fins lucrativos criada em 2002, por 23 sócios fundadores ligados à Universidade dos Açores – Departamento de Oceanografia e Pescas. Desde 2004, o OMA passou a utilizar a Fábrica da Baleia de Porto Pim no âmbito das suas actividades, por protocolo com a actual Secretaria Regional do Ambiente e do Mar (SRAM). Paralelamente, o OMA cresceu em número de associados, com a adesão de pessoas ligadas ao ambiente e ao mar, atingindo actualmentre cerca de uma centena de sócios. Desde o início da nossa actividade pareceu-nos óbvia a necessidade de dar maior utilização pública à Fábrica da Baleia, acentuando a sua vertente museológica. Nos últimos anos, o crescimento no número de visitantes tem sido notório, tornando-se evidente a falta de um documento de apoio sobre a Fábrica. Como em muitas situações, a oportunidade surgiu através de uma série de coincidências. A qualidade artística das fotografias que o Rodrigo Sá da Bandeira foi fazendo de forma despreocupada, os textos que a Márcia Dutra foi compilando no decurso de um trabalho mais profundo que está em preparação e as funções estatutárias de editor do OMA, confluiram para produzir esta primeira obra, essencialemente fotográfica. Esperamos assim dar uma nova visão sobre esta infraestrutura ímpar na ilha do Faial. Preface The Sea Observatory of the Azores (“OMA – Observatório do Mar dos Açores”) is a non-profit organization created in 2002 by 23 founder members connected with the University of the Azores – Department of Oceanography and Fisheries (DOP). Since 2004, OMA has used the Porto Pim Whaling Station for its activities under a statement agreement with the Environment and Sea Secretary (SRAM). During this time OMA has gained new members including individuals concerned with the environment and the sea, attaining a current membership of about one hundred affiliates. Since the beginning of our activities it has been our priority to enhance public use of the whaling station, improving the museological component. The marked increase in visitors in recent years has highlighted the need for a document about the whaling station. As often happens, the opportunity came about through a series of coincidences. The artistic quality of the photos taken casually by Rodrigo Sá da Bandeira, the texts compiled by Márcia Dutra for another more thorough work in progress, and the editorial mission of OMA, combined to produce this photographic book. We hope, in this way, to provide a new vision of this unique Faialense building. Horta, 16 de Julho de 2008, 16 July 2008.
A Direcção/The Management, João Manuel Gonçalves
Filipe Mora Porteiro
José Nuno Gomes Pereira
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“Desde os tempos mais recuados, que os cetáceos exercem no homem um misto de temor e atracção, de fascínio e sedução. As baleias fascinaram, fascinam e sempre fascinarão o Homem.” João A. Gomes Vieira1 A baleação no Faial O início da baleação açoriana data de finais do século XVIII, período que marca a chegada aos portos açorianos das primeiras barcas baleeiras americanas vindas de New Bedford, de Nantucket e outros locais de Nova Inglaterra. A captura dos cachalotes tinha como principal objectivo a extracção de óleos para comercialização. A primeira exploração, realizada nos Açores em 1765, mostrou desde logo que a caça à baleia era uma actividade rentável, de tal modo que, em 1768, D. Antão de Almada, Governador e Capitão-Geral dos Açores, em carta ao ministro do Reino, Francisco Furtado, descreve a presença dos baleeiros de Nova Inglaterra nos Açores. O governador relaciona o uso do óleo de baleia nas habitações açorianas com a grande abundância de cetáceos nos mares da região, destacando o interesse para a Fazenda Real e para os Açores de introduzir esta actividade nas ilhas. Durante o século XIX, o número de barcas baleeiras que aportavam nas ilhas açorianas foi aumentando e as ilhas dos Grupo Central e Ocidental tornaram-se importantes entrepostos de abastecimento, recrutamento de baleeiros e troca comercial do óleo de cachalote. A ilha do Faial era a mais importante no que dizia respeito ao fornecimento de provisões. Este facto deve-se a Jonh Bass Dabney, que se fixou na cidade da Horta em 1806, e que se tornou no primeiro cônsul dos Estados Unidos da América nos Açores, fundando uma casa comercial de abastecimentos, de reparação naval (importando velas, mastros, arpões, lanças, etc.), e de exportação do óleo de cachalote para os E.U.A.. Em 1875, os açorianos começaram a aparelhar os seus próprios navios para a baleação em alto mar, mas a deficiente disponibilidade financeira desencorajaram estes armadores, que se voltaram para a baleação costeira, que entretanto se iniciara em 1851. Segundo Robert Clarke2 , a baleação costeira nos Açores terá começado no Faial, possivelmente com a família Dabney (pois a esta se deve a importação das duas primeiras canoas que operaram nos Açores), por volta de 1832. No entanto, como a actividade não prosperou de imediato foi abandonada e apenas retomada, na década de 1850, pela família Dabney com a montagem da estação de traióis2 (corruptela do inglês Try-works3) de Porto Pim, e pela família Bensaúde com a aquisição de uma frota de botes baleeiros. A partir desta data, foram fundadas, em diversas ilhas, armações baleeiras que operavam a partir de estações costeiras. No final do século XIX, os açorianos tornaram-se independentes dos americanos no que diz respeito à importação dos botes baleeiros. Por esta altura, um antigo baleeiro da ilha Pico, Francisco José Machado, conhecido como “Mestre Experiente”, decidiu, a partir de um bote baleeiro velho e desmontado peça a peça, construir uma nova embarcação, introduzindo modificações que a tornariam mais flexível, sólida, leve e veloz para a baleação 7
costeira praticada nas ilhas. Estava, portanto, criado o primeiro bote baleeiro açoriano. Em 1900, os botes eram já todos construídos nos Açores, assim como toda a palamenta necessária, apenas se importando madeiras para a sua construção e a “linha de baleia” americana, com superior resistência e duração. Na primeira década do século XX, a baleação açoriana sofreu inovações com a introdução da lancha a motor e, mais tarde, da radiotelefonia. A lancha a motor permitia rebocar mais rapidamente os botes até à proximidade dos cachalotes, permitia rebocar os cachalotes capturados até aos locais de processamento, auxiliando na caça com mais linha ou em situações de emergência. As comunicações radiotelefónicas, entre as vigias e as lanchas, permitiam manter os rumos dos cachalotes avistados, e ainda permitia o acompanhamento do desenrolar da caça pelos proprietários das frotas baleeiras. Em 1930, a descoberta de novas utilidades para o óleo de cachalote e para o espermacete em indústrias química e têxtil, assim como o aparecimento de novos mercados para exportação, provocou a industrialização da actividade baleeira açoriana, com a construção de unidades fabris, que usavam métodos mais modernos para o processamento do cachalote. A primeira fábrica moderna funcionando a vapor foi construída em 1934 em S. Vicente, na ilha de S. Miguel. Seguiram-se as do Faial (1943), S. Roque do Pico (1946), Santa Cruz das Flores (1944) e Lajes do Pico (1954). A indústria baleeira dos Açores, acompanhava as tendências do mercado mundial, passando por épocas de recessão, causadas pela saturação no mercado dos óleos, seguidas de épocas de prosperidade, resultantes da abertura de novos mercados e de novas utilidades para os óleos. A partir de 1960, e depois de uma época de prosperidade, a actividade das empresas ligadas à exploração da baleia iria entrar em declínio, até ser extinta nos anos 80 do século XX. Assim, à saturação de mercado e ao interesse pela pesca do atum, que começava a tornarse mais rentável e mais vantajosa para os armadores, seguiu-se a adesão de Portugal à Comissão Internacional para o Transporte e Venda de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora (CITES), em 1980, e à Convenção de Berna em 1981, no sentido de conservar a Vida Selvagem e os Habitats Naturais da Europa. Nesta altura, já só laborava nos Açores a fábrica de S. Roque na ilha do Pico, que viria a encerrar em 1984, e com ela a baleação nos Açores. Esta indústria constituiu o maior ciclo económico das actividades marítimas nos Açores, e contribuiu, em muito, para o equilíbrio da balança de pagamentos do arquipélago. Deu origem a milhares de postos de trabalho, constituindo para muitos açorianos um modo de vida, que constituiu um elemento marcante da sua identidade cultural. A bravura e coragem dos homens que, desde tempos remotos, embarcaram nas barcas baleeiras americanas ficaram para sempre registadas no clássico da literatura mundial, Moby Dick de Herman Melville, como é amplamente referido pelos autores que se debruçaram sobre o assunto. Refere Melville quando descreve a tripulação da baleeira americana “Pequod”, que “Um não pequeno número de baleeiros provém dos Açores, onde os navios de Nantucket fazem frequentemente escala para aumentar as suas equipagens com os robustos camponeses dessas ilhas rochosas. [...] Não se sabe porquê, mas é dos ilhéus que saem os melhores baleeiros.3”
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Os ilhéus tornaram-se marinheiros ambicionados para as tripulações dos navios baleeiros americanos. Mais de uma centena de açorianos embarcavam anualmente nesta frota durante as épocas de campanha; muitos fixaramse em terras americanas, e os que regressaram trouxeram consigo as técnicas tradicionais de baleação americana, a arte do scrimshaw e um novo vocabulário, constituído por corruptelas de palavras em inglês, constituindo assim o vocabulário baleeiro açoriano.. A fábrica Os factos relativos à construção e inauguração desta Fábrica da Baleia são ainda pouco claros. Muitos relatos orais não encontram eco na imprensa local da época, ou nas actas da empresa proprietária SIMAL- Sociedade Industrial Maritíma Açoriana, Lda. Contudo, essas fontes não devem ser descuradas. De seguida, relatam-se os factos históricos apurados, de acordo com as fontes escritas e orais consultadas, até à elaboração deste texto.. Numa época em que a exportação do óleo da baleia se encontrava no seu auge, fruto em parte do novo mercado de Hamburgo, emergente no início da Segunda Guerra Mundial, fundaram-se, em 1939, na cidade de Horta, duas Sociedades ligadas à actividade baleeira e respectiva indústria: a Reis & Martins, Lda.- Armação Baleeira e Exportadores de Óleo, e a Sociedade Industrial Marítima Açoriana, Lda. – Indústria Transformadora, ou SIMAL, como era denominada. Estas duas sociedades por quotas tinham vários sócios, entre os quais se destacam Francisco Marcelino dos Reis, industrial lisboeta, e a empresa local Costa & Martins, Lda., que detinha uma posição maioritária. Em Março de 1939 era autorizada, pela Direcção Geral das Âlfandegas, “a construção de uma fábrica para o derretimento e aproveitamento de resíduos de cetáceos, em Porto Pim4” . O processo de construção da fábrica deparou-se com diversas dificuldades, tal como se encontra lavrado na Acta da Sessão de 13 de Novembro de 1941 da SIMAL5 e que vale a pena transcrever: “[...] passou o Sr. Reis a expor a sua acção em Lisboa para resolver os inúmeros obstáculos que tem surgido primeiramente para conseguir das instâncias oficiais as necessárias autorizações, diligências que se arrastaram por mais de dois anos de uma luta constante; conseguidos estas surgem as dificuldades resultantes do actual estado da guerra internacional para aquisição dos materias e maquinismos de toda a espécie, dificuldades que dia a dia aumentam tanto para a obtenção como para a relação dos preços [...]. A não ser a iniciativa que tomou de encomendar e comprar no estrangeiro alguns maquinismos logo que se assentou na organização desta sociedade, entre ele e alguns sócios aqui presentes, não seria possível a montagem da fábrica, enquanto durasse a actual guerra, por falta dos maquinismos que ainda não se fabricam no nosso país. Passou depois a Direcção a historiar e explicar a marcha dos trabalhos em curso para a instalação da fábrica e as dificuldades que tem encontrado para o desempenho da sua missão desde o começo. A primeira ideia foi adquirir uma parcela de terreno no Monte da Guia no prédio do falecido Sr. Alberto Leal; o preço que os proprietários exigiam pelo prédio todo, visto que só vendiam todo, foi considerado inaceitável, além de que absorveria uma grande parte do capital da sociedade, quase a terça parte; o que lhe viria causar, desde logo, embaraços económicos para a execução das obras e instalação da fábrica; restava o recurso de se obter uma concessão de terreno do 9
Estado no areal da praia de Porto Pim [...]. Requerida e conseguida a concessão [...] surgem outras dificuldades levantadas pelas Companhias dos, digo, telegráficas estrangeiras proprietárias dos cabos submarinos amarrados naquela baía, tendo-se gasto novamente bastante tempo para os remover e conseguir que o governo em complemento da concessão feita nos fixasse definitivamente o local. Fixado este iniciaram-se os trabalhos para a construção do edifício no mes de Abril de 1940; Por fim de Setembro um temporal de sudoeste inutilizou por completo todo o trabalho feito no areal para fundação dos caboucos, levando uma parte da pedra que durante todo o verão se tinha extraído e carregado para o dito areal, enterrando a restante a uma profundidade que variava de um metro, metro e meio. Este desastre de inicio que muito nos desanimou, hoje devemos classifica-lo de providencial porque mostrou os perigos a que ficava exposto a instalação da fábrica naquele local; esses perigos acrescidos da condição de que as construção feitas em terreno do Estado passados dez anos são propriedade do Estado contribuiu para desistirmos definitivamente da construção no areal e voltarmos à ideia primitiva, de aquisição do terreno no Monte da Guia. [...] Começados os trabalhos para a construção do edifício para instalação da fábrica, não deixaram de surgir constantemente novas dificuldades [...] falha de recursos, acrescidas, presentemente, com as resultantes do estado da guerra, constantes exigências do respectivo pessoal operário, de todas as categorias, justificadas com o sucessivo aumento dos custos de vida.[...]” A tradição oral refere que um engenheiro alemão, de quem se desconhece o nome, se terá deslocado ao Faial, durante este perído, a fim de montar os maquinismos da fábrica, tendo sido estabelecido um contrato de venda exclusiva de óleo de cachalote à Alemanha. Terá sido esta a solução encontrada por Francisco Marcelino dos Reis para resolver o problema da aquisição da tecnologia? A data de inauguração da fábrica permanece incerta. Robert Clarke2 refere o ano de 1943 como a data em que ela começou a laborar mas, segundo a imprensa local da época6, da terá iniciado a sua actividade, ainda em fase experimental, a 30 de Agosto de 1942. Consultadas as actas da SIMAL, a única referência encontrada refere que, em Janeiro de 1943, a instalação da fábrica ainda não estava concluída7. Até à conclusão deste texto, aceita-se 1943 como a data em que a fábrica terá sido inaugurada. A fábrica laborou durante cerca de trinta anos mas, devido ao declínio da indústria baleeira internacional, encerrou a actividade em 1974. Em 1977, iniciavam-se as negociações entre os sócios da SIMAL e o Governo Regional dos Açores - Direcção Regional das Pescas, para a venda do edifício, que viria a ser adquirido em 1980. Em 1984 a antiga fábrica seria classificada como Imóvel de Interesse Público (IIM). Depois de quase duas décadas de abandono e de degradação do edifício e maquinaria, sem dúvida atenuados pela acção persistente de Manuel Rosa Correia, mais conhecido como Patrão Manuel, e Manuel de Medeiros, conhecido por Sr. Amaral, o edifício da fábrica, que serviu entretanto como armazém da Direcção Regional das Pescas, foi finalmente alvo de obras de restauro e de beneficiação. Viria a ser oficialmente inaugurado em 2000, pela ocasião da 2ª edição da Expopescas, e passou a designar-se como Centro do Mar, com o objectivo de se tornar num espaço de divulgação cultural e científica. Desde 2004, a fábrica passou a ser utilizada pelo Observatório do Mar dos Açores (OMA), por protocolo efectuado com o Governo Regional dos Açores. 10
O processamento A obtenção de subprodutos comerciais do cachalote, fazia-se em duas fases: o desmancho ou esquartejamento e a obtenção de óleo (a partir dos ossos, toucinho e espermacete) e das farinhas (de carne, ossos e sangue). Depois de caçados os cachalotes eram rebocados pelas lanchas a motor até à baía de Porto Pim, onde depois de amarrados a uma bóia, eram varados. O primeiro passo consistia em arrastar lentamente o cachalote até à plataforma do pátio de desmancho através de um sistema de guinchos, constituídos por cadernais gornidos por cabos de aço. O cachalote era de seguida decapitado, e a cabeça era arrastada até uma das extremidades da plataforma. Entretanto os operários concentravam-se no esquartejamento do corpo do cachalote. Este processo seguia uma ordem de operações defenidas que se iniciava pela desarticulação e desprendimento dos membros, seguida do desmantamento do toucinho, da descarnagem da massa muscular e do esvaziamento das massas viscerais. Para a operação de esquartejamento, os operários usavam as espelhas (corruptela do inglês spade), cortadeiras com uma lâmina de 11 cm de largura e 18 cm de comprimento e um cabo com cerca de 3,6 metros2. Terminado o desmancho do corpo, os operários dedicavam-se então à cabeça. Esta operação, mais simples, começava com a separação da mandíbula, a que se seguia o arranque dos toucinhos, o chamado janco (corruptela do inglês junk2), o esvaziamento do óleo e dos tecidos moles internos e o descarnamento das bases ósseas. Por último procedia-se à serragem dos ossos, que era efectuada com uma serra de lenhador por dois homens. As vísceras, constituídas pelos intestinos e por uma parte da cabeça, eram reservadas durante 4 a 5 dias, para levedarem, e assim boiarem, para de seguida serem rebocadas e largadas em alto mar. O toucinho, parte do espermacete (massa adipóide da cabeça) e os ossos forneciam o óleo e a sua extracção por acção do vapor sob pressão era a operação que se seguia ao desmancho. As autoclaves eram carregadas até metade ou três quartos da sua altura. Para isso, um sistema elevatório, existente no pátio de desmancho, permitia transportar as matérias primas para o piso superior da fábrica, onde se encontram as tampas das autoclaves. As autoclaves do toucinho distinguem-se das dos ossos, por possuirem uma grelha que impedia a flutuação ou o arrastamento do material, aquando do escoamento do óleo, e permitia também a maior eficácia da extracção do óleo. De seguida, fazia-se chegar o vapor produzido nas caldeiras, de forma gradual, durante cerca de 8 horas. Terminada esta operação, as autoclaves eram esvaziadas. Primeiro, escoava-se o óleo para tanques, onde arrefecia, e posteriormente era medida a quantidade produzida. Depois retiravam-se os líquidos que resultavam da condensação do vapor e da desagregação dos tecidos moles e, por fim, retiravam-se os resíduos do toucinho. A medição do óleo em tanques próprios era realizada pelo gerente da fábrica. Quando a quantidade de óleo alcançava os 200 litros, marca que se encontrava gravada nas paredes dos tanques, este era depois armazenada em tanques e bidões. As farinhas de carne, ossos e sangue, eram os subprodutos que se obtinha de seguida. Por meio de dispositivos mecânicos, o processo compreendia a cozedura a vapor, a prensagem (para expulsão dos líquidos em excesso), a secagem (num secador rotativo aquecido a vapor) e a moagem. Todo o procedimento era automático, contínuo, 11
sendo a velocidade da produção regulada segundo o grau de secagem que se pretendia para o produto final. A obtenção da farinha de ossos compreendia, apenas, o processo de moagem, pois os ossos, depois de passarem nas autoclaves para extracção do óleo, eram secos ao ar livre. O sangue, escorrido no esquartejamento do cachalote, era colectado para dentro de tanques, através de um sistema de condutas. Nesses tanques o sangue era misturado, sob agitação constante, com cal em pó, para coagulação, obtendo-se uma borra muito firme, que depois de esfarelada era submetida a secagem e moagem. No interior da fábrica, existe o misturador automático movido a vapor mas, segundo fontes orais, nunca terá funcionado satisfatoriamente8. Os subprodutos O óleo de cachalote era o produto principal da indústria baleeira açoriana. Este consistia numa substância líquida, extraída dos tecidos adiposos e dos ossos do animal, sendo o toucinho o mais importante a nível fabril e económico. O toucinho, só por si, fornecia cerca de dois terços do total de óleo de cada animal, o espermacete fornecia outro terço do óleo, distinguindo-se do óleo do corpo, por ser mais grosso, menos fluido, menos transparente e de melhor qualidade. As primeiras explorações do cachalote nos Açores tinham como objectivo extrair óleo para satisfazer as necessidades de iluminação. O óleo de baleia era então o melhor combustível para as candeias de pavio, e era o iluminante doméstico e público por excelência. O óleo de espermacete era utilizado para fabricar velas. No século XIX o óleo do cachalote passou a ter um substituto, o petróleo, que posteriormente, já durante o século XX, foi adoptado definitivamente.. O petróleo veio a fornecer uma grande variedade de combustíveis (a gasolina, gasóleo, gás, etc.) e lubrificantes mais baratos. A procura dos subprodutos do cachalote foi sempre diminuindo, incluindo o óleo de espermacete que também viu a sua utilização perder valor com o aparecimento da parafina. Mas, investigações de prospecção química, permitiram descobrir novas utilizações para estes produtos, como por exemplo para a indústria farmacêutica, de perfumaria e cosmética (em especial o óleo de espermacete), para a indústria de fabricação de tintas ou como amaciante no fabrico de peles. O espermacete, depois de rectificado, era ainda fortemente competitivo como lubrificante de maquinaria delicada e científica. Em Portugal, o óleo de cachalote era apenas usado como lubrificante. Tanto a farinha de ossos, rica em fosfato de cálcio, carbonatos de cálcio e magnésio, como a farinha de carne, rica em proteínas, eram consideradas excelentes como adubos agrícolas e como complemento para a alimentação do gado. A exportação era, no entanto, o objectivo principal desta indústria. Na ilha do Pico, por seu lado, o óleo de cachalote era considerado uma “matéria-prima nacional,” ao qual eram atribuídas múltiplas aplicações: “no reumatismo, nas dores, nas entorses, no gado, nas cordas, nos gonzos, na madeira, nos cabedais, nas candeias, nas ferramentas, etc., etc...” 9 O novo ciclo A exploração das baleias nas ilhas açorianas entrou num novo ciclo a partir de 1993, com o surgimento da observação de cetáceos (whale watching), actividade que atrai anualmente milhares de viajantes aos Açores. Esta 12
“nova baleação” permitiu que os conhecimentos sobre o comportamento destes animais, adquiridos pelos baleeiros açorianos ao longo de gerações, não se perdessem. Ainda hoje, passados mais de vinte anos sobre o fim da baleação, são os antigos vigias da baleia que, directa ou indirectamente, nos guiam em direcção a esses gigantes dos mares, para que toda a sociedade os possa conhecer no seu meio ambiente.
Referências 1
VIEIRA, João G. O Homem e o Mar – Embarcações dos Açores. Edição Intermezzo-Audiovisuais, Lda. 2002.
2 CLARKE, Robert; SILVA, Fernando J.F. (trad.). Baleação em Botes de Boca Aberta nos Mares dos Açores. História e Métodos Actuais de uma Indústria- Relíquia. 2ª ed. Edição do Autor e Tradutor dedicada ao Museu da Ilha de Santa Maria. 2001. 3
MELVILLE, Herman. Moby Dick. A Baleia Branca. Publicações Europa América. p.141, s/d.
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“O Telégrafo”, N.º 11.868 de 4 de Março de 1939.
5 Acta da Sessão de 13 de Novembro de 1941, Livro de Actas da SIMAL- Sociedade Industrial Marítima Açoriana, Lda. (1941 – 1958) na posse da empresa Costa & Martins, Lda. 6
“O Telégrafo”, N.º 12.880 e “Correio da Horta”, N.º 3089 de 31 de Agosto de 1942.
7 Acta da Sessão de 2 de Janeiro de 1943, Livro de Actas da SIMAL- Sociedade Industrial Marítima Açoriana, Lda. (1941 – 1958) na posse da empresa Costa & Martins, Lda. 8 Figueiredo9 explica que a aplicação de vapor na coagulação não dava resultados ao que suponha devido à mistura acidental do sangue com água salgada, durante a captura do animal, este realizava numerosas e desordenadas inspirações e com as feridas da parede torácica, era inevitável a entrada de água salgada na cavidade pleural do cachalote. Poderá ser esta a explicação para o não funcionamento de tal máquina. 9
FIGUEIREDO, J. Mousinho. Introdução ao Estudo da Indústria Baleeira Insular. Edição do Museu dos Baleeiros. Pico. 1996.
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“From the most distant times, man has reacted to cetaceans with a mixture of fear and attraction, fascination and seduction. Whales have fascinated, and continue to fascinate us.” João A. Gomes Vieira1 Whaling in Faial Azorean whaling dates from the end of the XVIII Century, a period that marked the arrival of the first American whaling boats from New England and Nantucket to Azorean ports. The main objective of capturing sperm whales was the extraction of oil for commercial purposes. Initial exploitation carried out in the Azores in 1765 proved whaling to be a profitable venture. In 1768, D. Antão de Almada, Governor and Captain-General of the Azores, described in a letter to the Prime Minister, Francisco Furtado, the presence of New England whalers in the Azores, associating the consumption of whale oil by Azorean households and the abundance of whales in Azorean waters, and detailing the interest such a business could have for the Royal Treasury and for the Azores region. During the XIX Century, the number of whaling boats docking in the Azores islands increased, and the Central Island Group along with the Western Island Group became important waypoints for supply, recruitment of whalers, and commercial trade of sperm whale oil. Faial Island was one of the more frequented islands, being the most important in terms of supply of provisions. This was due to the fact that, Jonh Bass Dabney, who settled in the city of Horta in 1806, became the first Consul of the United States of America in the Azores, establishing a commercial warehouse for fresh provisions, naval equipment (importation of sails, masts, harpoons, lances, etc.), and exportation of sperm whale oil to the U.S.A.. In 1875, locals began to equip their own vessels for whaling in the high seas, but without financial resources the costs of maintaining those vessels discouraged Azorean whalers. They instead showed greater interest in coastal whaling, which had begun in the meantime in 1851. According to Robert Clarke2, coastal whaling in the Azores began in Faial around 1832, possibly with the Dabney family (to which was accounted the importation of the first two whaling canoes to the area). Coastal whaling had previously been abandoned since it was not immediately prosperous, but was relaunched in the 1850’s due to the construction of a traióis station (a corruption of the English word Try-works2) in Porto Pim by the Dabney family and the acquisition of a fleet of whaling canoes by the Bensaúde family. From that point onwards, similar facilities were established in various islands where whaling operated from coastal stations. By the end of the XIX Century, Azoreans had become independent from the Americans with respect to importation of whaling boats. Around this time and old whaler from the island of Pico, Francisco José Machado, known as “Experienced Master”, decided to disassemble an old whaling canoe piece-by-piece to build a new vessel, incorporating modifications that made coastal whaling boats more flexible, solid, light and fast. Thus, the first boats 15
designated as Azorean whaling boats were created. By 1900, all whaling vessels in the Azores were constructed locally, so with all the necessary accoutrements, the only materials imported were wood needed for construction and American “whaling line”, with superior resistance and durability. In the first decade of the XX Century, Azorean whaling experienced several innovations with the introduction of motorization and, later, radio communication. Motorization allowed whaling canoes to be towed more quickly towards the sperm whales and captured whales to be towed to processing facilities; it also enabled the hunt to be assisted with more line when necessary and provided better support for canoes in emergency situations. Radio communication between lookouts and launches permitted the bearings of sperm whales to be constantly monitored, and even allowed the owners of the whaling fleets to observe the hunt. In 1930, the discovery of new uses for whale oil and spermaceti in chemical and textile industries, along with the appearance of new markets for exportation, aided the introduction of factory facilities to the Azorean whaling industry. These factories used more modern techniques for processing sperm whales. The first modern factory, operating on steam power, was built in 1934 in S. Vicente on the island of S. Miguel. More factories were to follow: in Faial (1943), S. Roque do Pico (1946) Santa Cruz das Flores (1944) and Lajes do Pico (1954). The whaling industry of the Azores, influenced by the trends in world markets, experienced periods of recession caused by the saturation of the market with oil, succeeded by periods of prosperity due to the opening of new markets and the development of novel uses for oil. From 1960 onwards, following an era of prosperity, business activities linked with the exploitation and hunting of whales entered into decline, eventually becoming extinct in the 1980’s. Due to saturation of the market and an increased interest in tuna fishing, in addition to the fact that Portugal had signed up to the Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora (CITES) in 1980 and had signed the Berna Convention in 1981, aiming to conserve wildlife and the natural habitat of Europe, it became more advantageous and profitable to invest in fishing vessels. By this time, the only whaling factory in the Azores still in operation was that at S. Roque on the island of Pico and this was eventually closed in 1984, bringing an end to whaling in the Azores. The whaling industry constituted the greatest economic cycle of marine activity in the Azores, and contributed significantly to the balance of payments in the archipelago. It created thousands of jobs and was a way of life for many Azoreans, a way of life that was a distinct part of the Azorean cultural identity. The bravery and courage of the men that, from times past, embarked on American whaling boats will always be remembered in classic world literature. Moby Dick by Herman Melville, is a source that is amply referred to by authors that are inclined to the subject. The author describes the crew of the American whaling vessel Pequod, “No small number of these whaling seamen belong to the Azores, where the outward bound Nantucket whalers frequently touch to augment their crews from the hardy peasants of those rocky shores. [...] How it is, there is no telling, but Islanders seem to make the best whalemen.” 3 The islands of the Azores were an excellent source of labour for the crews of American whaling boats. More 16
than one hundred Azoreans set sail annually on American whaling vessels during the peak of activity: many settled in the Americas, and those who returned brought with them traditional American whaling techniques, the art of scrimshaw, and new terminology, containing corruptions of English words that eventually entered the vocabulary of the Azorean whaler. The whaling station The details relating to the construction and inauguration of the steam-powerd whaling station are still unclear. Much of the anecdotal information was not recorded in the local press at the time or in the documents of the proprietors, SIMAL- “Sociedade Industrial Maritíma Açoriana”, Lda. Nevertheless, these sources should not be dismissed. The information that follows relates pure historical facts in addition to other written and oral accounts. In 1939, an era when the exportation of whale oil was at its peak, due in part to the new market in Hamburg at the beginning of the Second World War, two societies involved in whaling activities were founded in Horta. These two societies, Reis & Martins, Lda.- Armação Baleeira e Exportadores de Óleo (Reis & Martins, Ltd.- Whaling Tackle and Oil Exporters), and the Sociedade Industrial Marítima Açoriana, Lda. – Indústria Transformadora (The Azorean Industrial Maritime Society) also known as SIMAL, constituted various shareholders, amongst whom Francisco Marcelino dos Reis, a Lisbon industrialist, was prominent. The company Costa & Martins, Lda. held the majority share. In March 1939 the General Customs Administration (Direcção Geral das Âlfandegas) authorized, “the construction of a factory for the melting and utilization of whale residues, in Porto Pim”4. The process of constructing the factory met with various difficulties, such as those documented in the Act of the Session of 13th April 1941, SIMAL5, which is worth transcribing: “[...] Mr Reis attended to reveal the steps taken in Lisbon to resolve the innumerous obstacles that have arisen primarily regarding official persistence to obtain the necessary authorizations, diligences that were delayed for more than two years of constant struggles; once these were obtained, then arose difficulties due to the current state of the international war in the acquisition of materials and mechanisms of every kind, difficulties that grow day by day both in respect of attainment as well as in relation to prices [...].Not being our initiative to order and buy some mechanisms in a foreign country the organization of this society, in and of itself and with other partners here present, later settled that it would not be possible to build a factory while the current war was ongoing, due to the lack of mechanisms that are not, as yet, manufactured in our country. It passed then to the Administration to recount and explain the progress of works underway for the installation of the factory and the difficulties that have been encountered in the fulfilment of their mission since the outset. The first proposal was to acquire a portion of land on Monte da Guia on the property of the late Mr. Alberto Leal; the price that the owners were demanding for the whole building, since they would only sell it in its entirety, was considered unacceptable, beyond which it would absorb a large portion of the society’s capital, almost one third, eventually leading to financial embarrassment in the execution of the works and the installation of the factory, leaving 17
the option only to obtain a concession of land from the State in the area of Porto Pim beach [...].Requesting and successfully obtaining a concession [...] other difficulties arose brought by the foreign proprietors of underwater cables moored in that bay, considerable time being spent, once again, to remove those structures and secure the support of the government in granting us a permanent concession in the area. Resolving this, construction work on the building began in the month of April 1940; By the end of September a storm from the south-east completely destroyed the work carried out on the beach for the foundation of the gutters, taking some of the stone that was extracted all summer and transported to that area, burying the rest at a depth varying from one meter to a meterand-a-half. This disaster from the beginning that disheartened us greatly, today we should consider as opportune because it showed us the dangers to which the factory installation was exposed in that location; these dangers in addition to the fact that construction made on State land will be the property of the State after ten years contributed to the definitive discontinuation of construction in that area and we returned to the original proposal, the acquisition of land on Monte da Guia. [...] When works began for the construction of the new factory new difficulties never ceased to arise [...] failure of resources, in addition to forces resulting from the current state of the war, constant demands of the respective personnel of all categories, justified by the successive increase in costs of living.[...]” Oral tradition refers to a German engineer, whose name is unknown, who settled in Faial during this period to install the machinery of the factory, having established a contract for the exclusive sale of whale oil to Germany. Could this have been the solution, found by Francisco Marcelino dos Reis, to resolve the issue of technology acquisition? The date of inauguration of the factory remains uncertain. Robert Clarke2 refers to the year 1943 as the date that the factory began operating but according to a local printer at the time6, the factory had begun activity, perhaps in an experimental capacity, on 30th August 1942. Consulting the documents of SIMAL, the only reference found mentioned that in January 1943 the construction of the factory had still not reached conclusion7. It is accepted, however, that 1943 was the year in which the facility was instated. The factory operated for approximately a further thirty years. Owing to the decline in the international whaling industry, it ceased activity in 1974. In 1977, negotiations began between SIMAL and the Fisheries Authority of the Regional Government of the Azores for the sale of the building, which was eventually secured in 1980. In 1984 the old factory was designated as a listed building, classified as Imóvel de Interesse Público (IIM) (a property of public interest). After almost two decades of abandonment and degradation of the building and machinery, the building, which had meanwhile been used as a storage facility for the Regional Fisheries Authority, was finally targeted for restoration and other benefactions. Its degradation had, without doubt, been lessened by the persistent actions of Manuel Rosa Correia, best known as Patron Manuel, and Manuel de Madeiros, also known as Mr. Amaral. In 2002, to coincide with the 2nd Expopescas exhibition, the factory was officially designated as the Centro do Mar (The Sea Centre) with the objective of becoming a space for the dissemination of culture and science. Since 2004 the centre has been the base of the Observatório do Mar dos Açores (Marine Observatory of 18
the Azores) (OMA) under the auspices of the Regional Government of the Azores. Processing Obtaining commercial sub-products from sperm whales involves two processes, break-down or quartering, and the retention of oil (from the bones, blubber and spermaceti) and floury meal (from the flesh, bones and blood). Whales were towed by motorized launch boats to the bay of Porto Pim, where once they were tied to a floating buoy, they were pierced. The first step consisted in slowly hoisting the sperm whale to the platform of the disassembly yard using a system of winches consisting of pulleys housing steel cables. The whale was then decapitated and the head dragged to one of the edges of the platform. Meanwhile, operatives concentrated on quartering the body of the whale. This followed a protocol that began with the disarticulation of the members followed by removal of the blubber, detachment of the muscle mass and removal of the viscera. For the quartering procedure, workers used “espelhas” (a corruption of the English word spade), cutters that possessed a blade about 11cm wide and 18 cm long, with a handle of about 3.6 metres2 . Following dismemberment of the body, workers turned their attention to the head. This operation was simpler and began with the separation of the mandible, to which was attached layers of blubber, called “janco” (a corruption of the English word junk2), and was followed by draining the oil from the soft internal roof of the head and stripping of flesh from the bony structures. Finally they proceeded to saw the bones, by means of a saw operated by two men. The viscera, consisting of intestines and part of the head, were stored for 4 to 5 days, to ferment, and were subsequently towed out and dumped in the high seas. Following dismantling of the body, oil was extracted from the blubber, spermaceti (a waxy substance derived from the fatty oil from the head) and bones using steam pressure. The autoclaves were filled to half or three quarters their height. For this reason, an elevator system was used in the disassembly yard, allowing the transport of raw materials to the upper floor of the factory, where the lids of the autoclaves were located. Separate autoclaves were used for blubber and spermaceti, and for bone, the latter possessing a grill that impeded floatation and facilitated movement of the material, while at the same time allowing the drainage of oil, and better efficiency in extraction of the oil. One autoclave was reserved for the spermaceti. This autoclave permitted the gradual addition of steam produced by a boiler, over a period of about 8 hours. At the end of this process, the ovens were emptied. First the oil was drained into tanks where it was allowed to cool and the quantity produced was later measured. Subsequently, liquids were retained that derived from the condensation of the steam and the breakdown of soft tissues, and finally, the blubber, spermaceti and bone residues were retrieved. Measurement of the oil in tanks was performed by the factory managers. When the quantity of oil reached 200 litres, indicated by a mark on the walls of the tanks, it was then stored in tanks and metal barrels. Meal derived from the flesh, bone and blood was a sub-product that was obtained in the subsequent stage of 19
processing. A mechanised system was used, involving steam cooking, pressing (to expel excess liquids), drying (in a cylindrical dryer heated by steam), and grinding. The whole processes was automated, continuous, with the speed determined by the degree of drying required for the final product. Obtaining meal from the bones required grinding only, so bones, having been autoclaved for the extraction of oil, were dried outdoors. Blood drained during the quartering of the sperm whale was collected in tanks via a system of drainage gutters. In these tanks the blood was churned constantly with added powdered calcium oxide, in a steam powered automated mixer located inside the factory , in order to coagulate, producing a very solid paste that having been turned into heavy meal was later dried and ground. According to anecdotal accounts, this mixer had never functioned satisfactorily8. Sub-products Sperm whale oil was the main product of the Azorean whaling industry. This consisted of a liquid substance extracted from various fatty tissues as well as from the bones of the animal, with fatty tissues being more important in terms of manufacture and economy. Blubber itself supplied around two thirds of the oil from each animal, spermaceti provided a further third, distinguished from the oil of the body by being thicker and more viscose, more opaque and of better quality. The objective of initial exploitation of sperm whales in the Azores was to extract oil to satisfy illumination needs. Whale oil was the best fuel for oil lamps, which were the preferred type of domestic and public lighting at the time. Oil from the spermaceti was used to manufacture candles. In the XIX Century, sperm whale oil was substituted with petroleum, which later became definitively established during the XX Century. Petroleum was manufactured as a wide variety of fuels and lubricants that were cheaper than whale oil. The demand for subproducts of sperm whales for fuel was diminished forever following the arrival of new petroleum-based substitutes, including petrol, alcohol, gasoline and electricity. The use of spermaceti oil also lost value with the arrival of paraffin. Chemical exploration, however, opened the way for new uses of whale products in other industries during the XX Century, such as the pharmaceutical industry, perfumes and cosmetics (especially spermaceti oil), paint manufacturing, and the production of skincare products especially hair conditioner. This, once refined, was highly sought after as a lubricant for delicate scientific machinery and for industrial lubrication. In Portugal, however, whale oil was only used as a lubricant. Bone meal, being rich in calcium phosphate, calcium carbonate and magnesium, and the meal from flesh, being rich in protein, were considered to be excellent agricultural fertilizers and dietary supplements for livestock. Exportation was, however, the main aim of the industry. On the island of Pico, sperm whale oil was considered to be a “national raw material” to which were attributed multiple uses: “in rheumatism, in aches, in sprains, in cattle, in ropes, in hinges, in wood, in leather goods, in oil lamps, in tools, etc., etc...”9
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A new cycle Whale related business in the Azores entered a new cycle after 1993 with a surge in whale watching, an activity that attracted thousands of tourists to the archipelago annually. This “new whaling” made use of the knowledge regarding the behaviour of these animals, gathered by Azorean whalers over the generations. Even today, after more than twenty years, it is still the old whale watchmen that guide us, directly or indirectly, towards these great giants of the sea, so that we might all have the opportunity to know them in their own environment. Notes 1
VIEIRA, João G. O Homem e o Mar – Embarcações dos Açores.
Edition, Intermezzo-Audiovisuais, Lda. 2002.
2 CLARKE, Robert; SILVA, Fernando J.F. (trad.). Baleação em Botes de Boca Aberta nos Mares dos Açores. História e Métodos Actuais de uma Indústria- Relíquia. 2ª ed. Author’s Edition dedicated to the Ilha de Santa Maria Museum. 2001. 3
MELVILLE, Herman. Moby Dick. Publicações Europa América. p.141, s/d.
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“O Telégrafo”, N.º 11.868 , 4th of March 1939
5 Act of the Session of 13th of November 1941, SIMAL Book of Acts - Sociedade Industrial Marítima Açoriana, Lda. (1941 – 1958) property of Costa & Martins, Lda. 6
“O Telégrafo”, N.º 12.880 and “Correio da Horta”, N.º 3089, 31st of August 1942.
7 Act of the Session of 2nd of January 1943, SIMAL Book of Acts - Sociedade Industrial Marítima Açoriana, Lda. (1941 – 1958) property of Costa & Martins, Lda. 8 Figueiredo9 explains that the application of vapour in the coagulation process did not give the results it was supposed to give due to the accidental mixture of blood with salt water during the capture of the animal. With the whale breathing rapidly and irregularly and with wounds in the thoracic wall, it was inevitable that salt water would enter the pleural cavity of the sperm whale. This could explain why the machine did not function well. 9
FIGUEIREDO, J. Mousinho. Introdução ao Estudo da Indústria Baleeira Insular. Edição do Museu dos Baleeiros. Pico. 1996.
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Agradecimentos Agradeço ao Sr. Manuel Rosa Correia (Patrão Manuel) e ao Sr. Manuel Garcia Tavares Júnior (Manuel do Pico), pela valiosa colaboração que prestaram na recolha de informação sobre a actividade da baleação. Ao Sr. Tomás Duarte, da empresa Costa & Martins, agradeço o interesse que demonstra em preservar o património baleeiro que tem em sua posse, permitindo assim a reconstituição da História da indústria baleeira na Ilha do Faial, e a posterior transmissão desse conhecimento às gerações futuras. Ao Sr. João A. Gomes Vieira, agradeço a disponibilidade para rever os aspectos históricos. Ao Dr Filipe Porteiro, ao Dr João Gonçalves e a Gilberto Carreira, agradeço a revisão de texto e as inúmeras sugestões seguidas com consideração.” Márcia Dutra Pinto Ao Dr. João Gonçalves por me ter autorizado a fotografar este espaço, pelo tempo que perdeu nas reuniões que teve comigo e pelo apoio a este projecto. À Sara Luís pelo empenho, dinamismo e vontade que sempre teve de fazer esta exposição e catálogo. Tu puseste a máquina a andar e só havia uma direcção (para a frente). À Márcia que conseguiu toda a informação necessária para os textos da fábrica em tempo recorde, e que sem saber bem como, se viu envolvida neste projecto. Este livro também é teu, sem ti não teria sido possível. Ao Patrão Manuel por todas as explicações, visitas guiadas, pelas histórias e sobretudo pelo amor que demonstra ter por este espaço que será sempre um bocadinho seu. A todo o staff do Centro do Mar pela simpatia. À Ruth Higgins pela disponibilidade e rapidez de execução na tradução do texto para inglês. Ao João Decq pela aula tardia sobre como paginar um livro. Ao Manu pela ajuda técnica. À minha mulher e filhos pela paciência que tem para me aturar nas alturas de maior stress. Rodrigo Sá da Bandeira Márcia wishes to thank: Manuel Rosa Correia, Manuel garcia Tavares Júnior, Tomás Duarte, João Gomes Vieira, Filipe Porteiro, João Gonçalves e Gilberto Carreira. Rodrigo wishes to thank: Dr. João Gonçalves (OMA), Sara Luís (OMA), Márcia Dutra, Patrão Manuel (OMA), all the staff from OMA, Ruth Higgins, João Decq, Manu, my wife and kids.
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Legendas/List of images Pag.23 Portão de entrada das baleias./ Whale entrance gate.
Pag.38 Corredor de acesso às caldeiras./ Access hallway to the boilers.
Pag.24 Pátio de desmanche./ Dismembering area.
Pag.39 Porta para limpeza das autoclaves./ Autoclave cleaning door.
Pag.25 Pormenor do pátio de desmanche./ Detail of dismembering area. Pag.26 Chaminé das caldeiras/ Boiler chimney. Pag.27 Detalhe de válvula da caldeira./ Detail of boiler valve. Pag.28 Portas de protecção da caldeira./ Boiler’s protection doors. Pag.29 Luz projectada na parede da caldeira./ Light projected into boiler’s wall.
Pag.40 Portas para limpeza das autoclaves./ Autoclaves’ cleaning doors. Pag.41 Pormenor de tubo na sala das autoclaves./ Pipe detail at the autoclaves’ room. Pag.42 Pormenor do veio do elevador./ Elevator shaft detail. Pag.43 Rodas de transmissão das correias./ Transmitting belt wheels.
Pag.44 Luz projectada na parede das autoclaves./ Light Pag.30 Luz projectada na sala das caldeiras./ Light pro- projected into the autoclave wall. jected into boiler’s room. Pag. 45 a 48 Pormenores e efeitos das rodas de transmissão das correias./ Details and effects on the transPag.31 Portas das fornalhas./ Furnace doors. mitting belt wheels. Pag.32 Fornalhas e tubos de água./ Furnaces and water Pag.49 Misturadora de sangue e cal./ Blood and lime pipes. mixer. Pag. 33, 34 Tampas das autoclaves./ Autoclave covers. Pag.50 Detalhe da misturadora de sangue e cal./ Blood and lime mixer detail. Pag.35 Detalhe da autoclave./ Autoclave detail. Pag.36 Pormenor de janela do primeiro andar./ First floor window detail.
Pag. 51 a 57 Espremedora e pormenores da espremedora./ Press and details of press.
Pag.37 Válvula das autoclaves./ Autoclave valve.
Pag.58 Torneira suspensa para limpeza./ Suspended tap for cleaning. 89
Pag.59 a 62 Rodas dentadas do cozedor de carne./ Steam machine sprockets.
Pag.80 a 84 Motor para as peneiras e trituradora./ Meat processor and sieve engine details.
Pag.63 Vรกlvula do cozedor de carne. / Steam machine valve.
Pag.85,86 Exterior da fรกbrica. / Outside views. Pag.87 A fรกbrica. / The factory.
Pag.64 Cozedor de carne./ Steam machine. Pag.65,66 Pormenores do motor do moinho de carne, bomba de รกgua e cozedora./ Meat processor, water pump and steamer engine details. Pag.67,68 Bomba de รกgua./ Water pump. Pag.69 Motor do secador./ Drying machine engine. Pag.70 Luz projectada no secador. / Light projected into the drying machine. Pag.71 Secador. / Drying machine. Pag.72 a 74 Rodas dentadas do secador. / Drying machine sprockets. Pag.75 Luz projectada por baixo do secador./ Light projected beneath the drying machine. Pag.76 Trituradora. / Meat processor. Pag.77 Elevadores da carne. / Meat elevator. Pag.78 Rampa de transporte da carne para a trituradora./ Meat delivery ramp to the meat processor. Pag.79 Peneira. / Sieve.
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Índice / Table of contents Prefácio - Preface ...............................................
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Resumo histórico ...............................................
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Historical summary ............................................
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Fotografias / Photos .............................................
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Agradecimentos .................................................
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Legendas - List of images ...................................
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Aรงores
Faial
Azores
Fรกbrica da Baleia
Porto Pim
Whaling Station
Fรกbrica da Baleia de Porto Pim Whaling Station
Fotografia de Rodrigo Sรก da Bandeira
Textos de Mรกrcia Dutra Pinto