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RUDOLF ROTCHILD: malotecazine@gmail.com— PROJETO GRÁFICO/textos verbais e visuais.
CONTEXTO Inter-relação de circunstâncias que acompanham um fato ou uma situação. Conjunto de palavras, frases, ou o texto que precede ou se segue a determinada palavra, frase ou texto, e que contribuem para o seu significado; encadeamento do discurso.
RAFAEL ALVARENGA: maisumrafa@gmail.com - Textos verbais
do cabrito, da ovelha e de outros animais. pero. Grito, rugido, bramido. A voz do boi, do burro, A voz humana quando emitida em tom elevado e ás-
BERRO BERRO CONTEXTO #1
BERRO CONTEXTO #1
BERRO CONTEXTO #1
Nós somos como dentes cariados – podres – cheio de bactérias – sem destino – pelo amor de Deus, protejam as crianças – que querem se matar – escovem a língua para ela dormir – língua morta não é útil – viva a fofoca tecnológica – o ar que respiramos é poluído – alguém
se habilita a atirar a pedra no primeiro? – Ouço a batida do meu coração e paro para pensar se existe vida após a morte – sorte do paraquedas que não abre – sinto o absinto causar azia na minha alma – onde está o olho que tudo vê?
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BERRO CONTEXTO #1
BERRO CONTEXTO #1
Maus professores grafitam palavras sujas em paredes frias e serias. Motivam, cedo ou tarde, os alunos a serem pichadores da escola. Bons professores participam de todas as reuniões de trabalho. Desenvolvem competências e habilidades pedagógicas. Maus professores modelam máscaras horrendas de barro. Uma verdadeira blasfêmia à Deus, o nosso grande modelador do Universo. Bons professores fazem e entregam os diários de classes em dia.
São referências disciplinares para os outros. Maus professores rasgam papéis em sala-de-aula em busca de origamis desconexos e imprestáveis. Os alunos podem se tornar inconscientes ambientais. Bons professores dão notas, põem centenas de atividades na louça e corrige rigorosamente as avaliações. O resultado são alunos intolerantes, mas corretos e racionais.
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BERRO CONTEXTO #1
BERRO CONTEXTO #1 Lava a louça
A palavra tem voz. É dotada de uma estrutura fonadora completa. A palavra tem lábios. Para acentuar beijos e muxoxos. A palavra tem dentes. E por isso morde quando precisa. A palavra tem língua. E lambe sorvetes e feridas.
e canta. Sem romantismo. Não lava a louça
Também são eximias nadadoras as palavras. Mergulham nas profundezas de dicionários abissais; de livros cujas ficções causam medo, pois parecem reais. As palavras afundam até nas cores das coisas; e perigosamente fazem apneias longas nas qualidades e quantidades do mundo sensível. Os poetas dizem haver palavras até nos altos mares solitários da agonia.
para poder cantar.
Quando desembestam das profundezas gritam sua chegada. Para tanto, badalam os sinos da epiglote puxando atormentadamente as cordas vocais. À tona no canal respiratório arfam um cansaço silábico. A palavra tem voz e fala. No entanto não se compromete com sentido ou compreensão. Sua sanidade esfiapa-se quando ela sai das coisas, quando ela sai de nós. A única missão da palavra é falar ela mesma. Somente.
e canta.
Cantaria melhor se não lavasse a louça.
Mas lava a louça
Porque se não cantar não lava a louça.
Ainda assim cantaria melhor
O que pertence à palavra não é o sentido, é a voz. É o homem quem, através de uma áspera inseminação artificial, enfia o sentido no útero da palavra. Portanto a estupra. O significado é violento. Penetra intransigente e dá a palavra um filho, sem nem ao menos consultá-la antes. O sentido não é fruto do carinho.
se não houvesse louça. Mas não há jeito. Por isso canta e lava a louça que há.
A palavra tem voz e deseja falar livremente. 4
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