Victor Palla

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VICTOR PALLA



1. ARTISTA Arquiteto, fotógrafo, pintor, designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico.


1.1 BIOGRAFIA

Victor Palla, anos 50

Filho de um caracterizador de Teatro e fotógrafo amador, Victor Palla nascido em Lisboa, em 1922.Palla é considerado um artista completo,este longo da sua carreira. Palla desde sempre viveu com diversas experiências como ilustrador, pintor, arquitecto,tradutor,escritor,designer gráfico,ceramista e fotógrafo. Palla era, portanto, extremamente multifacetado, como também era cinéfilo, bibliófilo. Apesar do Portugal dos anos 50 e 60 ser um período particularmente interessante no que ao design gráfico diz respeito, oferece bastantes dificuldades em termos de análise histórico-crítica, devido à natureza dispersa e pouco fundamentada da actividade e dos seus protagonistas. É de destacar, que a ilustração teve uma importância tremenda na divulgação da nova corrente estética.


Victor Palla, anos 70

“Felizes os que não sabem o que vão fazer. Procuram apreender as relações essenciais entre o meio que os formou e os circunda, e a linguagem que têm ao seu dispôr.” Victor Palla in“Arquitectura”, 1949.



2. OBRA Victor Palla, que tanto faz um pic-nic como faz uma boa capa. É um arquitecto, um autor móvel e mutável, tira uma fotografia, monta uma exposição e faz não-sei-o-quê. Pode, assim, na nossa gramática, ser considerado uma espécie de “tudo feito”. Naqueles tempos, aprendia-se a fazer tudo e fazia-se um pouco de tudo. O autor conciliou um conjunto de experiências diversificadas chegando mesmo a marcar a sua posição como « totalmente contra a especialização».


Cidade Triste e Alegre,1982, p.121

(...) Outra vez te revejo, Cidade da minha infância pavorosamente perdida... Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui... (...) à lvaro de Campos, 1926


2.1 FOTOGRAFIA Seria com a fotografia que o seu nome correria mundo, quando um dos seus trabalhos foi premiado por um júri internacional, em 2001. Trata-se de Lisboa, Cidade Triste e Alegre, livro fotográfico que compôs em conjunto com o arquitecto e fotógrafo Manuel Costa Martins, em 1959. O livro, que demorou 3 anos a preparar, exibindo uma selecção de cerca de 170 fotografias, de entre mais de 6000, foi distinguido, por Martin Parr e Gerry Badger, como um dos melhores livros fotográficos europeus do período pósguerra. É um hino visual à Lisboa da época, figurando as pessoas, as ruas, os trabalhos, a noite, concebendo um retrato afectivo, assumidamente parcial e incompleto. As fotografias cinematográficas estão conjugadas com textos e poemas de personalidades da época, como Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Eugénio de Andrade, David Mourão-Ferreira e Alexandre O’Neill. As imagens não percorrem uma sequência específica, rearranjam-se,contraem-se, multiplicam-se e sobrepõem-se originando uma visão da cidade revisitada e sonhada, pontuada pelo carácter experimental das técnicas de registo. Quando foi inicialmente publicado, em 1959, foi um fracasso editorial. Voltou a ser redescoberto e redistribuído, em 1982, quando António Sena propôs uma exposição inaugural intitulada “Lisboa e Tejo e Tudo”.


Cidade Triste e Alegre,1982, p.138


Cidade Triste e Alegre,1982, p.139

Cidade Triste e Alegre,1982, p.140


Cidade Triste e Alegre,1982, p.140

Cidade Triste e Alegre,1982, p.141


Cidade Triste e Alegre,1982, p.144


Snack-bar, Tique-Taque, anos 50

(...) Talentosos e criativos, Victor Palla/Bento Almeida desenvolveram durante perto de uma década as mais interessantes propostas de cafés e restaurantes da cidade, com um apurado sentido gráfico de intervenção artística total, explorando novas formas que impõem novos hábitos, como o balcão corrido do snack-bar “Pique-Nique” Ana Tostões,1997

Snack-bar, Pam Pam, anos 50


2.2 SNACK-BAR Podemos deste modo caracterizar, desde já, Victor Palla como um dos pioneiros do design moderno português. Contudo, a os seus estudos começaram, em 1939, no curso de Arquitectura, em Lisboa, diplomando-se, todavia, em 1948, no Porto. Juntamente com Bento de Almeida projectou fábricas, apartamentos e escolas. Introduziram, também, em Portugal, o conceito de snack-bar, um estabelecimento caracterizado por refeições rápidas. Um dos exemplos mais particulares foi o snack-bar Pique-Nique, que aparece na década de 50, no Rossio. A construção de vidro permitia atenuar a diferença entre o exterior e o interior, prolongando a ideia de rua, visto que o sítio era pavimentado com a típica calçada portuguesa. A imagem arquitectónica inspirou o material de merchandising, com uma estrutura triangular que foi aplicada a revestimentos, paramentos, logótipo e sacos de papel. Vários outros snackbares foram criados, alguns com base em onomatopeias, entre eles, Pam-Pam, TiqueTaque, Pisca-Pisca, Zigue-Zague, Pica-Pau, Buzina, Noite e dia, Tip-Top, Términus e Tarantela.


2.3 CAPISTA A sua obra gráfica também é notável. A sua sensibilidade espacial, decorrente das práticas arquitectónicas, influenciou grandemente as capas das revistas e livros que produziu, evidenciando-se nos enquadramentos, na sincronia de escalas e nos planos de cor que rompem com os limites bidimensionais da página, conferindo tridimensionalidade. É também notório, a nível estético, o seu olhar fotográfico, nas composições e escolhas pictóricas, onde trabalha a luz, cor e sombra. Há, também, tendência para uma simplificação formal, através da acentuação geométrica e da utilização de superfícies de cores lisas, estritamente definidas e contrastantes. Victor Palla acrescenta: “Fui ouvindo dizer que estava a criar um «estilo», tudo isto percebi depois, porque na altura, estava a cumprir um dos trabalhos (honestamente é certo) que me ofereciam. E isto de conseguir trabalhar numa coisa que se gosta é muito importante. Não sabia que estava a criar um papel tão ponderoso que até inventaram uma palavra «capista». Para mim era uma das muitas coisas, quase um subproduto, do que tinha de fazer e que fazer”. Victor Palla, além de capista, também foi editor de colecções literárias, como Os Livros das Três Abelhas, da Editorial Gleba. Sendo um pioneiro em muitos campos, pode dizer-se que conseguiu com sucesso ligar as diversas formas de expressão. É importante relembrar que era totalmente contra a especialização, daí que se manifestem na sua obra várias influências advindas de diferentes experimentações com diversos media.


Victor Palla, 1999

Capa do livro,Terra de Ninguém, Manuel de Seabra, 1959

“A fotografia aparece nas capas, o grafismo na pintura, tudo está ligado até no que escrevo”. Revista Arquitectura,n.o 27, outubro-dezembro, 1948

Capa de livro Domingo à Tarde,Fernando Namora,1962


Capa do livro,A Mosca Verde e Outros Contos,Natália Nunes,1957

Capa do livro, Ana Seghers, «Antologia do Conto Moderno»,1954

Capa do livro,Miguel de Unamuno,1956

Capa do livro,Terra de Ninguém,Manuel de Seabra,1959


Capa do livro,O Livro das Sombras,Mรกrio Braga,1960

Capa do livro,Caminhada,Leรฃo Penedo,1956

Capa do livro,O Cais das Colunas,Tomaz Ribas,1959

Capa do livro,Bastardos do Sol,Urbano Rodrigues,1959-1960



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