Personalidade e caráter em psicanálise

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Personalidade e Caráter De acordo com Reis, o termo personalidade deriva de persona que significa máscara. Está em relação estreita com as noções de pessoa e personagem, ao passo que caráter origina-se do grego kharasséin ou kharakter significando gravação e marca.” Em psicanálise, personalidade “é usada no sentido de compreender os interesses gerais da pessoa e o jogo conflitivo desses interesses enquanto se acordam ou se opõem. Personalidade é sinônimo de aparelho psíquico ou mental.” (REIS, 2010, p.24) Caráter “implica na aquisição e estruturação de um certo número de traços ou marcas, deixadas no sujeito ao longo de seu processo de desenvolvimento, e que determinam, no interior da personalidade, uma postura típica face aos diferentes acontecimentos e situações da vida.” (REIS, 2010, p. 24) De acordo com a psicanálise, tudo o que acontece na vida de um sujeito permanece inscrito no inconsciente sob a forma de traços mnêmicos indestrutíveis. O caráter se constrói sobre os traços primários. Mas, como ocorre essa construção do caráter? Existem mecanismos de defesa diferentes do recalcamento, a sublimação e a formação reativa, são eles que determinam a formação do caráter. Sublimação: Ocorre na formação do caráter normal, é o derivado da pulsão sexual a um objetivo não sexual, de valor social. O mecanismo da sublimação é um desvio de trajeto da pulsão mudando o seu objetivo. Exemplo: “realizações culturais e artísticas, as relações de ternura entre pais e filhos, os sentimentos de amizade e os laços sentimentais do casal são expressões sociais das pulsões sexuais.” (NASIO, 1999, p.55) De acordo com Reis citando Freud: “As pulsões sexuais pré-genitais que não participam da sexualidade genital são, posteriormente, sublimadas e irão constituir a gama de comportamentos estável e estruturada que nós denominamos caráter.” (FREUD apud REIS, 2010, p.25) Formação Reativa: É uma atitude ou hábito de sentido oposto a um desejo inconsciente. O caráter revela uma certa organização patológica. Neste caso, caráter passa a designar toda neurose assintomática. O caráter reativo distingue-se do caráter normal por seu aspecto rígido, acentuadamente estático, forçado e, por isso mesmo frágil, o qual pode romper-se diante de uma situação particularmente intensa, deixando a personalidade à mercê das forças incontroláveis (livres) do inconsciente. A formação reativa exclui da consciência tanto a representação sexual inaceitável quanto a condenação que ela suscita, por meio de aparecimento dos sintomas. Sexualidade e Caráter (ps 26 e 27 do livro Teorias da personalidade em Freud, Reich e Jung) O comportamento do indivíduo face a seus objetos de amor ou objetos sexuais, é critério central na avaliação do desenvolvimento do caráter humano.

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Os objetos sexuais do indivíduo transformam-se de maneira sucessiva. Essa transformação ocorre tanto nos objetos de satisfação sexual quanto no tipo de relação que o indivíduo entretém com seu objeto sexual. Para Freud, existem três grandes momentos que revelam os aspectos essenciais das relações com os objetos sexuais no curso do desenvolvimento. Primeiro Momento: Autoerotismo coincide com o primeiro momento da fase oral Ø Refere-se ao comportamento sexual infantil precoce, a satisfação é obtida sem que haja recurso a um objeto exterior. A criança não possui uma imagem unificada de seu corpo. Ø Protótipo do auto erotismo: a sucção do seio materno. Ø Do ponto de vista da criança, o seio materno é parte do seu corpo. Segundo Momento: Narcisista abrange a parte final da fase oral, a fase anal e a fase fálica. Ø Caracterizado pela emergência de uma imagem unificada do corpo. Esta imagem é investida pela libido e torna-se objeto de amor da criança. O importante a ressaltar é que o objeto assimila-se ao Ego, tomado como objeto de amor. Terceiro momento: Relações Objetais refere-se a fase genital Ø A relação objetal só é alcançada quando o indivíduo é capaz de amar e obter prazer através de um objeto percebido como exterior, total e independente dele. Trata-se do amor genital adulto. Os três momentos descritos, acima, envolvem as fases psicossexuais relacionadas às pulsões sexuais, que pontuam o desenvolvimento de nosso corpo de criança. Sua evolução começa desde o nascimento e culmina entre os três e cinco anos, com o aparecimento do complexo de Édipo. Veremos cada fase e os tipos de caráter relacionados a elas. 1. Fase Oral (0 a 6 meses): No primeiro momento desta fase temos um modo de satisfação prevalente: a sucção. O prazer que o bebê tem é em sugar o seio, o polegar, leva os objetos a boca e experimenta um grande prazer sexual. Desta forma, caracteriza-se o autoerotismo. No segundo momento desta fase, o modo de satisfação é a devoração, o morder, às vezes, com raiva, completa o prazer de sucção. Freud e Abraham denominaram de fase oral sádica, que aparece com o surgimento dos dentes. O modo de relação com o objeto implica que o sujeito, ao obter o prazer do objeto (incorporação), é levado simultaneamente a destruí-lo. Exemplo no adulto: o crime passional, em que o sujeito destrói o seu objeto amado ao querer conservá-lo em si. Caráter oral: “Possuir um objeto significa incorporá-lo, ou seja, introduzi-lo no interior do corpo.” (REIS, 2010, p.28) Um dos traços mais marcantes do caráter oral é a certeza de possuir tudo que é necessário para sua sobrevivência. Pessoas que têm o caráter oral enfrentam a vida com um otimismo imperturbável e ingênuo. Este otimismo reveste-se na espera, tida como certa, de um ser protetor e continente que cuidará do sujeito e lhe proverá tudo

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que lhe é necessário. Esta crença otimista condena o indivíduo a uma inatividade, na medida em que ele não realiza nenhum esforço e desdenha de ocupações concretas que lhe permitam ganhar a vida. Otimismo, generosidade, despreocupação, desprezo pela realidade e confiança cega no futuro constituem os traços deste caráter. Quando a sucção é insatisfatória, predomina um caráter oral do tipo sanguessuga, representando o apego infantil em experimentar uma gratificação oral, transforma-se em desejo de tudo obter. A impaciência nessas pessoas é típica. Tratase de uma intensa urgência de falar, de um fluxo aparentemente inesgotável de pensamento. Este tipo de caráter apresenta, na esfera social, uma característica precisa: estar sempre apto para absorver novas ideias e valores. A derivação do prazer de sucção para esfera intelectual possui grande interesse prático. A grande capacidade mental para absorver transforma-se em especial inclinação para a observação científica. Caráter oral Sádico: O prazer de sucção é substituído pelo prazer de morder quando a criança começa a ter dentes, assim inicia-se o período sádico da fase oral. A coexistência do prazer de: incorporação e destruição configura o sadismo na relação afetiva. Traços de caráter sádico oral: inveja, hostilidade, ciúmes impossibilitam a preponderância de sentimentos de gratidão e comportamentos generosos em relação ao objeto amado. Os sentimentos positivos podem surgir como formações reativas. Socialmente, o caráter sádico apresenta-se como agressivo, mal-humorado e inacessível. Sexualidade Anal e caráter “A libido que provocava a sucção lúdica da fase oral, provocará agora a retenção lúdica das fezes ou da urina.” (Dolto apud REIS, p. 31) “A fase anal desenvolve-se durante o segundo e o terceiro anos. O orifício anal é a zona erógena dominante, e as fezes constituem o objeto real que materializa o objeto fantasiado das pulsões anais. O prazer orgânico de defecar é separado do prazer sexual de reter as fezes para em seguida, expulsá-las bruscamente. A excitação da mucosa anal é provocada, antes de mais nada, por um ritmo particular do esfíncter, quando ele se contrai para reter e se dilata para evacuar.” (NASIO, 1999, p.62) Caráter anal Decorre do prazer infantil experimentado na evacuação intestinal e na manipulação fecal. Deriva-se do prazer anal duas vias: - a sublimação: prazer de pintar ou modelar. - a formação reativa: obsessão por limpeza. Traços do caráter anal: ordem, parcimônia ou economia e obstinação. Na vida prática: dividir todas as coisas, em termos de parcimônia – a pessoa que retêm economia exagerada, guardar bens e possuir coisas, ausência de generosidade; obstinação: prazer em dominar os outros, acompanhado do medo de se deixar influenciar pelo outro. Também, o hábito de adiar decisões, conclusões e ações. Interrupção de toda tarefa iniciada. Sexualidade fálica e caráter Inicia-se ao término do segundo ano de vida O desenvolvimento da organização da libido em ambos os sexos ocorre de forma idêntica, ou seja, do ponto de vista psicológico não há diferença sexual.

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Mas, o que acontece? Para a criança, na fase fálica só existe um órgão: o falo. Na antiguidade, o falo em ereção traduzia o poder soberano e mágico, não o poder do macho. O falo não é o pênis. Significa, em psicanálise, um órgão genital comum. A sexualidade da criança associa-se às fantasias de poder mágico, de realizações imaginárias que desconhecem barreiras. Por ser um órgão imaginário possui na mente da criança a característica de ser destacável do corpo, presenteado, retirado. Ocorre a unificação das diferentes pulsões sexuais (orais, anais, escópicas), a mãe passa a ser percebida como um objeto total de satisfação geral. “A relação da criança com a mãe é uma relação inscrita sob o signo do narcisismo: sob a influência de fantasias onipotentes, a mãe é percebida como mera extensão do Ego infantil.” (REIS, 2010, p. 34) Caráter fálico Corresponde a fixação na fase fálica. Constitui uma das expressões do narcisismo. Pode ser descrito pelos seus aspectos de segurança, arrogância e vigor. “Para o homem de caráter fálico, o pênis não se encontra a serviço do amor: é utilizado enquanto instrumento de ataque e vingança contra a mulher. As mulheres de caráter fálico são predominantemente motivadas pelo desejo de tornar o homem impotente ou de fazê-lo parecer impotente. Em ambos os sexos, o caráter fálico revela-se também pela poligamia neurótica e o ativo esforço em causar decepções ao outro.” (REIS, 2010, p. 36) Complexo de Édipo e personalidade Para Freud, o complexo de Édipo constitui-se no menino como uma relação com a mãe “calcada sobre um investimento dirigido ao objeto, cujo ponto de partida é o próprio seio materno. (...) Já frente ao pai, o menino logra se apoderar da figura deste por meio de uma identificação” (FREUD, [1923] 2007, p. 42). Estes relacionamentos duram muito tempo, até que o menino percebe o pai como um obstáculo para seus desejos sexuais referidos à mãe. Então, o complexo de Édipo compõe-se, no menino, de um caráter ambivalente para com o pai e de anseios totalmente ternos dirigidos à mãe. Quando ocorre o desmoronamento do complexo de Édipo, o menino tem que renunciar aos investimentos dirigidos à mãe. Nesse lugar do investimento objetal, o desfecho considerado normal seria a intensificação da identificação do menino com o pai. Já na menina, ocorreria a intensificação da identificação com a mãe. Este seria considerado um esquema simples por Freud. De acordo com Freud, o complexo de Édipo mais completo se constituiria “de um complexo duplo, positivo e negativo, que depende da bissexualidade original da criança” (FREUD, [1923] 2007, p. 43). Ou seja, tanto o menino quanto a menina teriam posições ambivalentes e ternas com os progenitores, dependendo de suas inclinações masculinas e femininas, de acordo com a bissexualidade. O complexo de Édipo é considerado um divisor da sexualidade humana em dois períodos, um referente ao domínio das pulsões eróticas e outro relacionado ao período de latência.

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Em “A dissolução do Complexo de Édipo” (1924), Freud elabora o complexo de castração relacionado à repressão da sexualidade, tanto nos meninos quanto nas meninas. Nos meninos, o complexo de castração é muitas vezes acompanhado da fantasia de perder o pênis. Essa aceitação da castração é verificada na condição de as mulheres não possuírem o pênis; com isto, as duas maneiras possíveis de obter satisfação do complexo de Édipo – a forma ativa, masculina, de ser como o pai e ter relações com a mãe, ou a passiva, feminina, assumir o lugar da mãe e ser amado pelo pai –, ambas acarretavam a perda de seu pênis: a masculina como uma punição resultante; e a feminina como pré-condição. Para Freud: Se a satisfação do amor no campo do complexo de Édipo deve custar à criança o pênis, está fadado a surgir um conflito entre seu interesse narcísico nessa parte do corpo e o investimento libidinal de seus objetos parentais. Nesse conflito, triunfa normalmente a primeira dessas forças: o eu da criança volta às costas para o complexo de Édipo. (FREUD, [1924 b] 1976, p.221)

O complexo de Édipo representa a última fase do processo de separação, a partir da interdição dos desejos incestuosos, realizados pela instância repressiva na autoridade do adulto, referida no complexo de castração. A partir deste momento, o sujeito vai se identificando ao objeto que no triângulo amoroso edipiano se opõe a ele, defende-se narcisicamente da castração; no entanto, este narcisismo mencionado é o narcisismo secundário, no qual o objeto se situa como obstáculo ao desejo, mas ao mesmo tempo visto como um ideal. Este ideal, segundo Lacan “fornece o protótipo da sublimação, tanto pelo papel da presença mascarada que nele desempenha a tendência, quanto pela forma como reveste o objeto” (LACAN, 1938, 2008, p.52). A Segunda tópica freudiana Em 1923, Freud elabora uma nova concepção da estrutura da personalidade, a segunda tópica freudiana. Freud não abandona a primeira tópica, integra-a à segunda tópica. A segunda tópica divide a personalidade em três regiões que estabelecem relações mútuas: O Id, o Ego e o Superego. Id = Es (em alemão) = Isso O Id é a parte inacessível de nossa personalidade. O ID é concebido como repleto de energias que lhe chegam das pulsões e que querem ser satisfeitas. Orientase unicamente pelo princípio do prazer, não conhece nenhum julgamento de valor, ignora o bem e o mal e a moralidade. “Impulsos plenos de desejos, que jamais passaram além do Id e, também, impressões que foram mergulhadas no Id pelos recalcamentos, não virtualmente imortais, depois de se passarem décadas, despertam como se tivessem ocorrido há pouco,” (FREUD apud REIS, 2010, p. 48) Segundo Freud, o ID significa as paixões indomadas. Ego = Eu Não está presente no início da vida do indivíduo, devendo ser desenvolvido. Uma parte do Id é adequadamente modificada pela proximidade e contato com o mundo externo, sendo este fator decisivo na formação do Ego. O Ego é a parte que

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está apta tanto a receber estímulos como a funcionar como escudo protetor contra tudo aquilo que ameaça o aparelho mental. Função básica do Ego: destrona o princípio de prazer ( que domina sem qualquer restrição o curso dos eventos do Id), cumprindo sua atribuição ao descobrir as circunstâncias em que tais intenções podem ser realizadas com um mínimo de conflito. O Ego precisa retirar energia do Id para exercer a função básica, para que isso ocorra, o Ego se identifica com o objeto de desejo libidinal desviando a libido do Id. O Ego tem características predominantemente conscientes, mas existem partes inconscientes nele. Como por exemplo os mecanismos de defesa, que são instrumentos do Ego para lidar com os conflitos emanados dos interesses e exigências contraditórias entre o Id, o Ego, o Superego e a realidade. Mecanismos de defesa do Ego Têm por objetivo auxiliar o Ego na tarefa de enfrentar os assaltos do Id, as injunções do Superego e as limitações impostas pela realidade. Pertencem à zona inconsciente do Ego, são eles: o recalcamento, a repressão, a regressão, a formação reativa, a sublimação, o isolamento, a anulação retroativa, a denegação, a projeção, a introjeção, a volta contra si e a inversão da pulsão. Recalcamento: operação que exclui o representante ideativo (ideia, ato psíquico) da pulsão é excluído do consciente em mantido no inconsciente, por força de um contra-investimento. Repressão: mecanismo consciente realizados por motivações morais que desempenham um papel importante, são exteriores ao individuo, por exemplo a cultura. Regressão: retorno do sujeito a etapas passadas de seu desenvolvimento libidinal (regressão temporal), ou a um modo de funcionamento arcaico (regressão tópica). Formação reativa: diz respeito ao aparecimento, sob forma de traços de caráter ou alterações permanentes do Ego, de uma posição rígida contra um impulso psíquico. Sublimação: derivação da pulsão sexual em direção a modo de satisfação não sexual, que passa a visar objetos socialmente valorizados. Isolamento: isolar um comportamento ou um pensamento, a fim de romper suas conexões com outros pensamentos, ou com o restante da existência do sujeito. Denegação: estabelece uma relação negativa com a verdade. Exemplo: um paciente relata o seguinte: Ontem sonhei com uma margarida, não era a minha irmã”, fica evidente que o fato de desmentir assinala que o sujeito pelo menos pensou que tal elemento representasse afirmativamente sua irmã. Projeção: indica a operação, através da qual o sujeito coloca no exterior certas qualidades, desejos ou sentimentos que ele ignora e recusa em si mesmo. Introjeção: operação em função da qual o sujeito faz entrar em seu Ego partes do mundo exterior (objeto, situações ou pessoas), transformando-as em objeto de suas fantasias inconscientes.

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Superego, Ideal do ego e Ego Ideal A respeito da instância “Super-Eu”, Freud apresenta duas faces: uma que “em sua relação com o Eu não se esgota na advertência: Você deve ser assim (como o seu pai), mas engloba também a proibição: Você não pode ser assim (como seu pai)” (FREUD, [1923] 2007, p.44). Desta forma, Freud afirma que essa dupla face do EuIdeal serve para ajudar no processo de recalque do complexo de Édipo, uma vez que os pais eram vistos como obstáculo à realização dos desejos edípicos, principalmente, o pai. O Super-Eu reterá o caráter do pai e quanto mais intenso tiver sido o complexo de Édipo e quanto mais acelerado tenha sido o seu recalque (sob a influência de alguma autoridade, de dogmas religiosos, de aulas na escola, de leituras), tanto mais o Super-Eu dominará o Eu com extrema severidade, assumindo a forma da consciência moral, ou talvez de sentimento de culpa inconsciente. (FREUD, [1923] 2007, p. 45)

Tanto o Ideal do Eu como o Super-Eu representam a finalização da crise edipiana. Então, segundo Freud, o Super-Eu é o herdeiro do complexo de Édipo; mas, ao mesmo tempo em que o Eu se apoderou do complexo de Édipo, submeteu-se ao Id. “Enquanto o Eu é, em essência, o representante do mundo externo e da realidade, o Super-Eu contrapõe-se a ele como o advogado do mundo interno e do Id.” (FREUD, [1923] 2007, p. 46) Assim, o Eu-Ideal “é capaz de corresponder a todas as expectativas que se tem em relação ao que há de mais elevado no homem”, ele é uma formação substitutiva que entrou no lugar do sentimento de nostalgia e anseio pelo pai. Quanto à moral, ao longo do desenvolvimento, o papel do pai foi rendido por professores e autoridades, de modo que as regras e proibições proferidas por estes irão manter seu poder no Eu-Ideal e exercer a censura moral na forma de uma consciência moral. Veremos, então, que a tensão que se formará entre as exigências da consciência moral e o desempenho do Eu acabará por ser vivenciada como sentimento de culpa. Finalmente, os sentimentos sociais que se calcam em nossas identificações com outros semelhantes também se baseiam no Eu-Ideal compartilhado em comum. (FREUD, [1923] 2007, p. 47)

Ideal do eu é tudo aquilo que o sujeito deve ser para responder as exigências do Superego. Forma a base de todo ideal elevado (ético, estético e religioso) Eu- Ideal corresponde ao que o próprio sujeito espera de si a fim de responder, favoravelmente, às exigências de uma ilusão infantil de onipotência. É de origem arcaica.

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Relações entre a realidade externa, o Id e o Superego O Ego pressionado pelo Id, confinado pelo Superego, repelido pela realidade, luta para exercer eficientemente sua incumbência de conciliar as forcas que atuam nele e sobre ele. Entretanto, se o Ego fracassa no exercício dessa função, ele irrompe em angústia que se manifesta através de intensos sentimentos de culpa e de inferioridade (por comparação ao Ideal do Ego, dotado de todas as perfeições) – e ansiedade moral referente às forças das paixões do Id. Freud procurou ilustrar como se configuram as relações entre as diferentes estruturas da realidade. Referências Bibliográficas: NASIO, J. D. Para ler Freud, 1999

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REIS, MGALHÃES, GONÇALVES – Teorias da personalidade em Freud, Reich e Jung. São Paulo: EPU, 1984

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